Mais Luz! Mais Luz! Mais Luz!

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    1. O selêucida Antíoco IV Epifânio tinha profanado o Templo de Jerusalém,introduzindo lá cultos pagãos. Contra esta helenização e paganização do judaísmolutaram os Macabeus, e, em 164 a.C., Judas Macabeu procede à purificação do Temploe à sua Dedicação ao Deus Vivo. Este acontecimento deve ser celebrado todos os anos,durante oito dias, com a Festa da Dedicação, a partir de 25 do mês de Kisleu, que, noano em curso de 2016, corresponde ao nosso dia 25 de dezembro, coincidindo assimcom a nossa festa de Natal.

    2. É no ambiente desta Festa anual da Dedicação do Templo que se situa a perícope doEvangelho de João 10,27-30 (veja-se 10,22), proclamada neste Domingo IV da Páscoa,também Domingo do Bom Pastor e 53.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Este

    Dia de Oração remonta à radiomensagem de Paulo VI, de 11 de Abril de 1964, que deuinício a este Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que são um indicador seguro davitalidade da fé e do amor de cada comunidade paroquial e diocesana, bem como otestemunho da saúde moral e espiritual das famílias cristãs, num mundo carente demãos sacerdotais.

    3. A Festa da Dedicação, em hebraico hanûkkah, celebra-se durante oito dias, e temcomo símbolo o candelabro de oito braços. Relata o Talmude que, quando os judeusfiéis entraram no Templo profanado pelos pagãos helenistas, encontraram uma únicaâmbula de azeite puro (kasher ) de oliveira para reacender o candelabro de sete braços,em hebraico menôrah, que é um dos símbolos de Israel, e que deve arder diante do Deus

    Vivo. Todavia, uma âmbula de azeite duraria apenas um dia, e eram precisos oito diaspara preparar novo azeite puro. Pois bem, o azeite daquela única âmbula duroumilagrosamente oito dias! Daí que, na Festa da Dedicação, se acenda um candelabro deoito braços, chamado hanûkkiah. Mas acende-se apenas uma luz por dia, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até estarem acesas as oito luzes. Além disso, e aocontrário das luzes da menôrah e do Sábado, que alumiam o interior do Santuário e dacasa de família respetivamente, as Luzes do candelabro da Dedicação, refere o ritual,devem ser vistas cá fora: devem alumiar o ambiente social, político, comercial ecultural. E também ao contrário das luzes da menôrah  e do Sábado, não se acendemtodas de uma vez, mas progressivamente uma por dia, porque, quando as condições sãoadversas (paganismo helenista e escuro), não basta acender uma luz e mantê-la; é

    preciso aumentar constantemente a luz… Mais luz! Mais luz! Mais luz!

    4. Como este simbolismo é importante para os dias de hoje! Está escuro cá dentro e láfora, o mundo parece descontruir-se, o paganismo é galopante! Mais do que nunca, épreciso, portanto, não apenas manter a luz, mas aumentá-la progressivamente. E está emmaravilhosa sintonia com o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que salientasempre a importância da fé e da esperança.

    5. O resto é a força e a beleza da imagem do Bom e Belo Pastor, que dá a Vida Eternaàs suas ovelhas, que as segura pela mão, que as conhece, enquanto elas escutam a vozdo Bom Pastor e o seguem. Maravilhosa Comunhão.

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    6. Maravilhosa Comunhão também entre este Bom e Belo Pastor, que é o Filho, e o Pai.Texto imenso e intenso, de grande alcance trinitário: «Eu e o Pai uma Realidadesomos». Deixem-me pôr aqui o texto grego: egò kaì ho patêr hén esmen. O verbo estáno plural: somos. Junta «Eu» e «o Pai», duas Pessoas. O predicativo, porém, não está naforma masculina, mas na forma neutra: uma Realidade (hén). Donde: o Filho e o Pai

    não são uma só Pessoa (hypóstasis), mas são uma única Realidade (não coisa!, como sevê em algumas pobres traduções), uma única Substância (ousía), como diziam bem osPadres gregos. Ó música insondável do Amor de Deus, ó admirável comunhão de trêsPessoas iguais, mas distintas, ó Vida Plena e Verdadeira a nós acessível por graça!Basta, para tanto, conhecer, escutar e seguir o Bom e Belo Pastor.

    7. A lição de hoje do Livro dos Atos dos Apóstolos (13,14.43-52) mostra-nos Paulo eBarnabé em Antioquia da Pisídia, antiga cidade situada no coração da Ásia Menor, atualTurquia, hoje reduzida a algumas ruínas junto da aldeia de Jalvaz. Entrando na sinagogaem dia de sábado, Paulo e Barnabé anunciaram aí, na longa perícope hoje não lida (vv.16-41), o kêrigma  tripartido da fé: a Promessa feita aos Pais, Cristo Ressuscitado, o

    Dom do Espírito Santo. O anúncio suscitou a fé em numerosos hebreus que, no final, seunem aos dois apóstolos (vv. 42-43). O círculo de ouvintes e crentes aumentou nosábado seguinte (v. 44), o que provocou a inveja dos judeus fiéis à sinagoga (v. 45).Vendo então que a Palavra de Deus era rejeitada pelos judeus da sinagoga, Paulo eBarnabé voltaram-se para os pagãos, que muito se alegravam e glorificavam a Deus, eabraçaram a fé (v. 48). Os dois apóstolos leem esta recusa dos judeus e a consequenteoferta da salvação aos pagãos como fazendo parte do Desígnio divino, e citam apropósito Isaías 49,6: «Eu te estabeleci como luz das nações pagãs, para que leves asalvação até aos confins da terra» (v. 47). E Isaías outra vez a confirmar esta oferta dasalvação a todos os povos, pondo-os todos sob a Bênção de Deus: «Bendito o Egito,meu povo, a Assíria, obra das minhas mãos, e Israel, minha herança» (Isaías 19,25). É oEvangelho sem peias nem fronteiras. Paulo e Barnabé acabaram naturalmente expulsosda cidade devido às perseguições dos judeus (v. 50). Mas o Espírito Santo ia enchendode alegria os novos discípulos (v. 52).

    8. A mesma realidade pode ver-se na lição de hoje do Livro do Apocalipse 7,9.14-17,onde a Jerusalém celeste congrega «uma multidão imensa de todas as nações, raças,povos e línguas» (v. 9). A lição é clara: os eleitos de Deus não pertencem a uma só raçaou cultura ou língua ou nacionalidade. Mas, neste povo «pentecostal», podemos logoidentificar outra característica, uma espécie de verso e reverso, viver em dois teclados,dois cenários sobrepostos: os fiéis experimentam a aflição, mas vivem na alegria, a

    perseguição, mas vivem na glória, são atormentados, mas vivem na serenidade. Outravez o episódio de hoje do Livro dos Atos dos Apóstolos como paradigma: em Antioquiada Pisídia levantou-se uma perseguição contra Paulo Barnabé e os primeiros crentes, e,não obstante, «os discípulos estavam cheios de alegria» (Atos 13,52) e «os pagãosalegravam-se e glorificavam a Deus» (Atos 13,48). Os eleitos do Apocalipse imitaramCristo também no martírio, «lavando as suas vestes no sangue do Cordeiro»(Apocalipse 7,14). Experimentaram a fome e a sede, o sol e o calor ardente. Agora,porém, seguindo o ritual da Festa das Tendas (cf. Levítico 23,40), levam palmas( phoínix) na mão (Apocalipse 7,9), símbolo de vitória e de festa e de vida nova e eterna( phoínix  tem o duplo significado de palmeira e fénix, a ave da imortalidade), e serãoapascentados e conduzidos pelo Cordeiro às fontes de água viva (Apocalipse 7,16), e o

    próprio Deus enxugará com carinho as lágrimas dos seus olhos (Apocalipse 7,17; cf.Isaías 25,8).

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    9. Na tradição judaica, o Salmo 100 constitui uma velha, pequena oração que ressoa nonosso coração como louvor ao Deus bom, cujo amor é eterno. Intitula-se «Um cânticopara a tôdah» (mizmôr letôdah), isto é, para a ação de graças ao Senhor. Este pequenohino articula gritos de alegria, louvor, conhecimento, súplica, bênção. Agostinhocomenta assim: «Deixa que a oração se transforme no teu alimento. Rezando, adquires

    novas energias, e Aquele a quem rezas torna-se mais doce para contigo». No centro dopequeno hino está uma profissão de fé no Senhor: o Senhor é Deus, nosso criador, queestabeleceu a aliança com Israel («nós somos o seu povo»), o amor do Senhor é parasempre, a sua fidelidade para todas as gerações (vv. 3 e 5).

    Senhor Jesus Cristo,

    Único Senhor da minha vida,

    Bom Pastor dos meus passos inseguros

    E do silêncio inquieto do meu coração,

    Cheio de sonhos, anseios, dúvidas, inquietações.

    Senhor Jesus,

    Faz ressoar em mim a tua voz de paz e de ternura.

    Eu sei que pronuncias o meu nome com doçura,

    E me envias ao encontro daquele meu irmão que Te procura.

    Fico contigo sentado junto ao poço.

    Alumia o meu pobre coração.

    Vejo que, de toda a parte, chega gente de cântaro na mão.

    Dispõe de mim, Senhor,

    Nesta hora de Nova Evangelização.

    Que eu saiba, Senhor,

    Interpretar bem a tua melodia.

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    Que eu saiba, Senhor,

    Dizer sempre SIM como Maria.

    António Couto