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Notícias do Interior do Estado do Rio de Janeiro, Cabo Frio, Búzios.

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Maio, 2009 Número 36

www.revistacidade.com.br

Capa: Pescadores artesanais na praia da Baleia (São Pedro da Aldeia/RJ) - Foto de Jorge Martins

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C A PA

Panorama .............................08

Dívidas como herançaDesentendimento entre prefeito e ex-prefi to de Araruama sobre dívidas deixadas .......................14

Mais Ar Oxigenoterapia chega a Cabo Frio ................................. 16

Angela ...................................19

CABO FRIO MAIS VERDE?Governo anuncia a criação de dois parques municipais ...................20

Macaé realiza A Feira de Responsabilidade Social .....................................22

Desenvolvimento sustentávelEntrevista com o pesquisador Manuel Carvalho Gomes .........25

Gente .....................................34

Ensino excepcional .........35

25 BPM troca de comando ............................... 37

10 perguntas para o novo presidente da ACIA ..................42

Livros ..................................... 47

Resumo .................................49

O PROBLEMABúzios encara o desafi o do saneamento

Barra do Furado

Novo polo de desenvolvimento para o interior do estado

Com quantos paus se faz uma canoaRoberto Menescal conta a história do barquinho

VELAS NA RAIA

Transararuama reúne 66 embarcações e inaugura novo um percurso

Governo quer saber quem é quem na pesca

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ENTREVISTA B e n e d i t a d a S i l v a

Tomás Baggio

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Queremos que o presidente Lula faça o seu sucessor, e aí está a importância de termos o apoio do PMDB, que antes era tímido. Hoje não há nenhuma mudança que nos tire desse objetivo de respeitar e expandir essa articulação

secretária estadual de Assistência So-cial e Direitos Humanos, Benedita da Silva, é um exemplo de vida pública em sintonia com sua base eleito-ral. Assistente social por formação acadêmica, Bené, como também é

conhecida, viveu durante 57 anos no Morro do Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro, onde começou sua militância na Associação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro, que logo abriu as portas para que se tornasse vereadora da capital carioca. Em seguida, foi eleita deputada federal por dois mandatos (no primeiro, entre 1987 e 1991, participou da Assembléia Nacional Constituinte, onde atuou como titular da Subcomissão dos Negros, das Populações Indígenas e Minorias). Em 1992, tida como favorita para vencer as eleições para a prefeitura do Rio, terminou o primeiro turno na frente, mas foi derrotada no segundo turno por César Maia. Em 1994, tornou-se a primeira mulher negra a ocupar uma va ga no Senado Federal.Eleita vice-governadora do Rio em 1998, na chapa de Anthony Garotinho, assumiu o go-verno em 2002, quando Garotinho renunciou para concorrer à Presidência da República. As-sim, tornou-se também a primeira mulher negra a governar um estado brasileiro. Com a vitória de Luis Inácio Lula da Silva na eleição presiden-cial e o término de seu “mandato-tampão”, foi alçada no ano seguinte à Secretaria Especial da Assistência e Promoção Social, com status ministerial. Deixou o cargo após uma polêmica viagem com recursos públicos à Argentina, em que foi acusada de participar apenas de um evento religioso. Devolveu o valor das diárias e das passagens. Desde janeiro de 2007, colabora com o governo Sérgio Cabral Filho (PMDB) e, nesta entrevista, defende o apoio à reeleição do governador como forma de manutenção da aliança entre PT e PMDB no Rio, além de se declarar pré-candidata ao Senado, no ano que vem.

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BENEDITA DA SILVASecretária Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos

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B e n e d i t a d a S i l v aENTREVISTA

É claro que o Brasil tem uma dívida muito grande com esses grupos e, ainda hoje, as conquistas estão aquém do que as minorias precisam

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O que houve ali foi uma condenação midiática, e não podia ser diferente, já que esconderam as imagens em que eu participava dos compromissos políticos

Sua carreira política sempre foi pautada na luta pelas minorias e pelas classes sociais menos favorecidas, especialmente os negros e pobres. O que mudou no cenário brasileiro desde a sua primeira eleição para vereadora do Rio, em 1982?

Muita coisa mudou após a nossa Cons-tituição Cidadã, de 1988, quando muitos direitos foram conquistados pelas minorias. Esse processo culminou agora com o go-verno do presidente Lula, que consolidou esses direitos e está fazendo valer o que diz a nossa Constituição. Aos poucos, estamos vendo diminuir o preconceito contra os negros, homossexuais, enfi m, com os ci-dadãos que sempre foram desrespeitados neste país. É claro que o Brasil tem uma dívida muito grande com esses grupos e, ainda hoje, as conquistas estão aquém do que as minorias precisam. Mas aos poucos isso vai mudando.

De todos os cargos que a senhora ocupou, qual foi aquele que mais lhe permitiu desenvolver políticas que infl uenciaram diretamente a vida da população?

Olha, eu digo que todas as vezes que disputei um cargo eletivo, não foi só por uma vontade individual, sempre foi um compromisso coletivo. Quando fui verea-dora, eu era uma negra favelada, estava me apresentado ao mundo. Depois, no primei-ro mandato de deputada federal, fui a voz do morro na Assembléia Constituinte. Lá tivemos a oportunidade de travar uma bela disputa dentro do contraditório, em que ti-vemos muitas conquistas. Lembro-me bem que muitos deputados não queriam, por exemplo, conceder os direitos trabalhistas às empregadas domésticas, e isso foi uma grande conquista. Já no segundo mandato de deputada, tivemos a responsabilidade de regulamentar a nova Constituição. Em 92 fui candidata a prefeita do Rio, em que colocamos o discurso da cidade partida, já vislumbrando os problemas que hoje afe-tam a cidade, como a falta de uma política para saneamento, a desordem urbana. De-pois fui eleita senadora, e defendi questões que hoje são uma realidade, como a política de segurança alimentar implementada atu-almente pelo governo brasileiro através do Fome Zero. Enfi m, posso dizer que a única coisa que eu ainda não consegui até hoje, que é, digamos assim, o meu sonho de consumo político, é ser prefeita da cidade (Rio de Janeiro).

Durante o seu curto tempo de gestão como governadora, o estado viveu um período

de turbulência na segurança pública e alguns projetos tiveram que ser tocados às pressas. Como avalia este período?

Foi um período duro, complicado, mas de muita competência. Costumo dizer que foi um parto a fórceps, porque não tínhamos orçamento, faltava apoio polí-tico, havia uma eleição pela frente. Quer dizer, foi praticamente uma transição. Mas percebo que o que fi zemos naquela época

outro lado, tem a crítica que é feita pelos ambientalistas. Eu espero que se chegue a um consenso para o desenvolvimento do turismo sem a depredação do meio ambiente.

A senhora foi responsável pela criação dos primeiros programas sociais do governo Lula, mas, para a opinião pública, o que fi cou daquele período foi o episódio da viagem que motivou a sua saída. Essa história já foi absorvida pelo seu eleitorado?

Bem, para o meu eleitorado, na verdade, essa história não pesou em absolutamente nada. Porque quem conhece Benedita da Silva sabe que aquele episódio não poderia prejudicar a minha credibilidade. Sabia que até hoje essa causa não foi julgada? O que houve ali foi uma condenação midiática, e não podia ser diferente, já que esconderam as imagens em que eu participava dos compromissos políticos. Esconderam a parte do café-da-manhã, que foi um evento semelhante ao que eu fui agora nos Estados Unidos para me encontrar com o presidente Obama. Esconderam as imagens da visita que fi z ao ministério argentino. Meu elei-torado é critico e me trata de forma crítica, mas sem hipocrisia.

Quais são os principais projetos tocados pela Secretaria Estadual de Assistência Social?

Não consigo determinar um programa que tenha maior ou menor importância, porque se eu deixar de tocar algum deles, viro manchete na mesma hora (risos). A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos é uma pasta de muita capilari-dade. Tratamos do dependente químico, mantemos abrigos para moradores de rua, implantamos os Centros de Referência para a Juventude, fazemos políticas pú-blicas pela igualdade racial, para o idoso, a criança e o adolescente, para a comuni-dade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). Quer dizer, é muita coisa para escolher uma só.

Duas correntes já estão postas dentro do PT para as eleições ao governo do estado no ano que vem. De um lado, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, tenta ser candidato. No outro lado está a ala que pretende apoiar a reeleição do governo Sérgio Cabral, ao qual a senhora faz parte. Como a senhora se coloca nessa disputa interna?

Eu acho que ainda está bem prematura essa questão, mas a conjuntura política

ainda existe e, agora participando do go-verno Sérgio Cabral, tive a oportunidade de tocar projetos que foram criados naquela gestão, em um curto período de tempo. A segurança foi a nossa grande difi culdade, sem dúvidas. Mas a corporação sabe, e a própria imprensa registrou, que tivemos uma atuação fi rme. Enfrentamos rebeliões, fechamento de comércio. Quer dizer, não foi só a morte do (jornalista) Tim Lopes. Mas usamos a técnica e, principalmente, a inteligência. Posso dizer sem dúvidas que saímos vitoriosos desses nove meses.

Durante este governo, a senhora assinou a lei de criação da APA do Pau Brasil, em Cabo Frio, onde está sendo tocado o projeto de construção do Club Med, uma grande polêmica entre ambientalistas e empresários. A senhora está por dentro desta celeuma? Qual a sua opinião sobre a construção de resorts em APAs?

Tenho notícias do que vem aconte-

cendo, sei dos projetos que existem para o Reserva Peró, mas não estou por dentro a ponto de opinar sobre o assunto. Dizem que a Região dos Lagos vai ganhar mais suporte para o turismo com a chegada do Méditerrane, os governantes apostam nesse empreendimento para que haja uma maior oportunidade de trabalho na região. Por

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vem antecipando o debate. Não podemos fugir da defesa à nossa aliança, que passa por interesses maiores do que a minha candidatura ao Senado Federal, que eu vou disputar internamente no partido para ser candidata. Hoje temos uma base de sustentação maior do que aquela que costumávamos ter, apenas com o PC do B e o PSB, que sempre nos acompanharam. Queremos que o presidente Lula faça o seu sucessor, e aí está a importância de termos o apoio do PMDB. Precisamos manter a aliança que está dando certo e aproveitar a enorme popularidade do presidente Lula, que vai terminar o mandato com uma aprovação “como nunca antes na história deste país” (risos). Então temos, hoje, uma política de alianças mais ampla, e temos claramente o apoio do PMDB, que antes era tímido, todo mundo fi cava perguntando se essa aliança devia ser feita, se não devia. Hoje não há nenhuma mudança que nos tire desse objetivo de respeitar e expandir essa articulação.

m setembro de 1998 foi criada a Área de Proteção Ambiental das praias Azeda e Azedinha, também

por ação do prefeito Mirinho BragaPropriedade de Luiz Honold Reis,

brasileiro, falecido em 1996, a área da Azeda e Azedinha passou para sua es-posa Giselle Lise Zucco Reis, francesa (falecida, com 95 anos em 23 de maio de 2001), representada no Brasil por Raphael Gilbert Paul Lange, brasileiro, casado, banqueiro.

Inicialmente ven-dida em 1991 ao ita-liano Giovani Battista Cappiali, de passagem por Búzios, a venda da Azeda causou uma forte reação popular na cidade. No dia 15 de junho de 1991, uma grande manifestação liderada pela FAP- Frente de Ação Popu-lar, uma organização alternativa de ambien-talistas, resultou num abaixo assinado com 451 assinaturas pedindo ao gover-nador do Estado do Rio a preservação daquela área.

Na Azeda e Azedinha pretendia-se desenvolver um mega complexo turís-tico, projeto do arquiteto Octávio Raja Gabaglia, compreendendo um hotel de 46 apartamentos, um condomínio com 78 casas, 28 apartamentos de 2 quartos e 12 lojas, além de piscinas, quadras de esportes, ruas e praças.

A manifestação popular teve ampla cobertura na mídia nacional, chegando ao Presidente da República Fernando Collor, que determinou que o IBAMA investigasse a venda de duas praias em Búzios.

À cargo do superintendente do IBAMA RJ, José Cláudio Cardoso

CONHEÇA um pouco da história da Azeda e Azedinha

Visite o blog da prefeitura para saber mais sobre a Azeda e Azedinha.www.comunicabuzios.wordpress.com

Enfrentamos rebeliões, fechamento de comércio. Quer dizer, não foi só a morte do (jornalista) Tim Lopes

A senhora esteve, no começo de fevereiro, em um café-da-manhã que reuniu o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com líderes negros de todo o mundo. Como foi este encontro e o que representa, em sua opinião, a ascensão de um negro a chefe da nação mais poderosa do planeta?

Vou dizer dele a mesma coisa que ele disse do Lula: esse é o cara! É um homem com uma trajetória brilhante, que deu espe-rança ao povo americano e a todo o mundo. Quando Obama foi eleito, eu estava na Argentina e, no caminho para o aeroporto as pessoas me davam parabéns, todos es-tavam felizes. E eu só fi cava babando na televisão. Ele trouxe esperanças ao mundo inteiro porque não é só nos Estados Unidos que os negros eram oprimidos. O dia do café-da-manhã, para mim, foi mágico. Eu só fi cava olhando e admirando o presidente e sua esposa Michelle, que é um mulher linda, inteligente, que merece estar onde está. Não tenho dúvidas de que um novo tempo está surgindo com a presidência de Obama nos Estados Unidos.

Ururahy, foi criado um grupo de tra-balho para emitir parecer conclusivo sobre o projeto de empreendimento turístico para a ocupação da área Azeda e Azedinha. No dia 5 de junho de 1992, por coincidência Dia Mundial do Meio Ambiente, o relatório divulgava a se-guinte conclusão:

“Tendo em vista que o local apre-senta particularidades não encontradas em outras regiões do país, abrigando in-

clusive algumas espécies ameaçadas de extinção e endêmicas, e também por ser um sítio de excepcional beleza cênica, o Grupo de Trabalho sugere, com fulcro no artigo 3º do Código Florestal, seja a região compreendida entre Arraial do Cabo e Armação dos Búzios, onde ocorra esse tipo de vegetação ‘Estepe Arbórea Aberta’, declarada como Área de Preservação Permanente”.

A partir deste relatório, as autori-dades foram informadas ser o IBAMA contrário à implantação do projeto de empreendimento turístico pretendido na área da Azeda e Azedinha.

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F Ó R U M

Pelos menos dez entida-des já confi rmaram partici-pação no Fórum Permanente de Saneamento e Saúde Ambiental da Região dos Lagos, criado no mês passa-do na sede da 20ª subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-Cabo Frio). O colegiado, que deverá ter regimento e membros da co-ordenação escolhidos dentro de um mês, terá o objetivo de manter em constante dis-cussão os aspectos políticos de saúde e saneamento.

Partiu da Associação dos Arquitetos e Engenheiros da Região dos Lagos (Asaerla), através do engenheiro sani-tarista Juarez Lopes, a expo-sição do modelo de gestão proposto para o novo fórum. Além do presidente da sub-seção da OAB, Eisenhower Dias Mariano, acompanha-ram a fala os representantes do Conselho Estadual de Engenharia e Arquitetura (CREA-RJ), Associação de Moradores e Amigos de Cabo Frio (AMA), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), Capitania dos Portos e a concessionária de água e esgoto da região, Prolagos. Mureb de Aze-vedo Mureb representou a

Saneamento em discussão permanente

secretaria de Meio Ambiente de Cabo Frio, e Ana Maria Nunes, a de Arraial do Cabo. O presidente da Câmara Muni-cipal de Armação dos Búzios, Messias Carvalho, também esteve na mesa de debates.

O fórum deverá ter três en-tidades na coordenação. Não há limite fi xado para entidades que farão parte do corpo de trabalho, o que quer dizer que, durante a atuação do fórum, outros órgãos poderão entrar na lista de participantes. As reuniões serão mensais e aber-tas ao público. A próxima será no dia 11 deste mês, às 18h na 20ª subseção da OAB.

“Além de uma ótima opor-tunidade para realizar uma fi scalização conjunta, o fórum poderá encontrar alternativas para a melhora do saneamento na região”, frisou Juarez.

Reunião contou com representantes de dez entidades da Região dos Lagos

JUAREZ LOPES: “Alternativas para a melhora do saneamento”.

Por seis votos a três, os vereadores de Búzios rejeita-ram no mês passado as contas do ex-prefeito Antônio Carlos Pereira da Cunha, o Toninho Branco (PMDB), relativas ao exercício de 2007. O relatório da Comissão de Orçamento, Finanças e Licitação da Casa Legislativa, presidida pelo vereador Lorram da Silveira, manifestou-se contrário à aprovação, seguindo relatório do Ministério Público e do corpo instrutivo do Tribunal de Contas do Estado (TCE), ratificado pelo revisor do TCE, o conselheiro Júlio Rabello.

Submetida à apreciação plenária, votaram pela rejei-ção das contas os vereadores Lorram Silveira, Walmir Nobre, Messias Carvalho, João Carrilho, Felipe Lopes e Joice Costa. Pela aprovação das contas votaram Leandro Pereira, Evandro Oliveira e Genilson Drumond.

O processo com as contas do ex-prefeito segue agora para o Ministério Público, que dará continuidade às medidas legais cabíveis.

Câmara de Búzios rejeita contas de Toninho Branco

Nomeação a perigo

Raúl Gazollaem Cabo Frio

Fotos: Mariana Ricci

Acusado pela Polícia Militar de envolvimento com as milícias e com a máfi a do transporte alternativo na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o ex-sargento da PM Francisco César de Oliveira, conhecido como Chico Bala, é o centro de uma nova polêmica, desta vez envolvendo o governo de São Pedro da Aldeia. Anunciado, durante audiência pública sobre transportes, pelo prefeito Carlindo Filho (PMDB) como novo subsecretário de Transportes da cidade, a suposta nomeação causou reação imediata do Ministério Público Estadual, que instaurou inquérito civil público e recomendou ao chefe do Executivo a sua exoneração. Diante da confusão, o prefeito garantiu, em entrevista para uma TV local, que não havia assinado a nomeação do ex-policial.

“No Ar”. Este é o novo es-pe táculo interpretado pelo ator Raúl Gazolla, que, na companhia de Marcos Veras e Alexandra Richter, faz estreia nacional no Teatro Municipal de Cabo Frio, no início de maio. Sob a direção de Duda Ribeiro, a peça tea tral faz uma homenagem bem-humorada aos progra-mas e comunicadores do rá dio brasileiro, contando episódios marcantes e fa-lan do dos bastidores das notícias, sátiras e rádio-no-velas que marcaram a vida de milhões de ouvintes.A produção do espetáculo fica por conta da recém-criada F7 Entretenimento, comandada pelo produtor cultural Jerson Farofa.

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Acontece mesmo

“Um Olhar para o Universo”Que tal experimentar o

entusiasmo que Galileu Galilei teve ao ver as crateras da lua, as luas de Júpiter, as manchas solares e a compreender os mecanismos que regem os astros? Para celebrar o Ano In-ternacional da Astronomia, que comemora os quatro séculos desde as primeiras observações telescópicas do céu feitas por Galileu, Búzios recebeu no mês passado, no maior observatório particular da América Latina, a exposição Um Olhar Para o Universo.

Dividida em módulos, a exposição apresentou escul-turas gigantes que remetem a astronomia, fi guras mitoló-gicas e símbolos de culturas

Caramujos africanos no loteamento Novo portinhoQuem passa pelo calçadão do loteamento Novo Portinho, em Cabo Frio, nas primeiras horas da manhã, precisa ter cuidado para não atropelar os caramujos africanos que circulam pelo local.Moradores colocaram placas e jogam sal sobre os bichos na tentativa de controlar a praga.

Iniciantes e amantes da fotografi a têm ótimas oportunidades de especialização, este mês, em Cabo Frio. A partir do dia 6 de maio, o premiado fotógrafo Marcos Homem ministra curso básico no segundo andar do prédio do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), na Rua José Bonifácio 224. O curso terá duração de dois meses, sempre às quartas-feiras a partir das 19h, e o aluno não precisa ter câmera fotográfi ca, uma vez que

o equipamento será fornecido pelo curso. As inscrições podem ser feitas pelo telefone (22) 8801-2922.Outro curso, também de fotografi a básica, será ministrado pelo fotógrafo Ricardo Valle na Casa dos 500 Anos, no Portinho, a partir do dia 16, aos sábados e domingos, que terá pouco menos de dois meses de duração. De acordo com Valle, as aulas são inteiramente práticas. Contatos pelo (22) 2648-8940.

O distrito de Monte Alto, em Arraial do Cabo, foi palco no mês passado de um fenômeno já previsto pelas autoridades municipais. A “cabeça d’água” é resultado de uma enorme ressaca das águas da Praia da Massambaba (extensão da Praia Grande), que inunda a restinga e chega até a Lagoa de Araruama. Como a área sofre com a ocupação irregular, a água entrou em diversas casas da localidade. A “cabeça d’água” foi tema de reportagem publicada na edição de junho do ano passado de

quase desconhecidas, como as colunas de Stonehenge, na Inglaterra, vídeos, e uma série de efeitos multimídias sonoros e luminosos.

“A exposição buscou a atenção, principalmente, das crianças e dos jovens e apostou no resgate da observação e do relacionamento com o Univer-so”, afi rmou Bernardo Sabino, diretor executivo da mostra.

Quatro monitores guiaram os visitantes durante o passeio que por uma linha cronológica de tempo, mostrando desde o homem primitivo até a atu-alidade, sempre destacando sua curiosidade, instinto de preservação, fascínio pela vida, imaginação, estudos, teorias,

ciência e tecnologia. Dez mil livros, com informações sobre o tema, foram distribuídos para os visitantes. Seis mil foram para as escolas municipais de Búzios, através de uma parce-ria com a Prefeitura, que cedeu um ônibus para que os alunos da rede pública de ensino pudessem visitar a exposição durante o horário de aula.

Famosos como o casal Hans Donner e Valéria Valensa prestigiaram a exposição e foram recebidos por Bernardo Sabino

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CIDADE, quando o biólogo Davi Aguiar, atual secretário de Meio Ambiente cabista (assumiu em janeiro deste ano), disse que o fenômeno havia acontecido pela última vez há quase dez anos.

Fotos: Divulgação

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A cidade está viva

O Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ) tem nova diretoria. O prefeito de Araruama, Andre Luiz Mônica e Silva, foi escolhido para presidente do consórcio; o vice-presidente é o prefeito de Arraial do Cabo, Wander-son Cardoso de Brito, o Andinho; o secretário executivo Mário Flávio Moreira se reelegeu para o cargo.

O CILSJ é formado por Governo do Estado do Rio de Janeiro, 12 prefeituras, 54 ONGs e sete empresas da Região dos Lagos, incluindo os municípios entre Araru-ama e Arraial do Cabo, além de Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Rio Bonito, Rio das Ostras e Silva Jardim. Foi criado em 2000 com o objetivo defi nir ações que contribuam para a conservação, recuperação e uso sustentado do meio ambiente local.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a secretá-ria estadual de ambiente, Marilene Ramos, e o presidente do Inea, Luiz Firmino Martins Pereira, compareceram à reunião. Em seu discurso, o ministro fez questão de des-tacar a trajetória de sucesso do consórcio e afi rmou que o grupo é um exemplo a ser seguido em todo o país.

“Falo da experiência bem sucedida alcançada pelo Consórcio Lagos São João em todos os lugares que visito. Ela deve ser replicada em todo país. A união desses muni-cípios é a razão para uma série de avanços conquistados na área ambiental nos últimos anos”, ressaltou Minc.

Consórcio Lagos São Joãoelege nova diretoria

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Ministro Carlos Minc elogiou as inciativas do CILSJ

O Circo Nacional da China, maior espetáculo de uma trupe estrangeira em atividade no Brasil, confi rmou uma série de três apresentações em Rio das Ostras. Os espetáculos estão marcados para os dias 17, 18 e 19 de julho, no Ginásio Benedito Zarour.O Circo Nacional da China é reconhecido no mundo inteiro pela excelência na apresentação e pela grandiosidade dos seus shows que misturam dança, acrobacias, som e muitos efeitos visuais.

Circo Chinês em Rio das Ostras

Desvio de ‘royalties’

Investigação da Polícia Fe de ral, desbaratada no mês passado, colocou em xeque a distribuição dos royalties do petróleo a municípios do inte-rior do Rio de Janeiro. Um dos investigados é Victor Martins, diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), irmão do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins. Victor Martins, de acordo com a denúncia, estaria envolvido numa negociação para facilitar o pagamento de R$ 1,3 bilhão em royalties para determinado município. A negociação renderia uma comissão de R$ 260 milhões à sua empresa Análise Con-sultoria e Desenvolvimento. A empresa tem entre os sócios Josenia Bourguignon Seabra, mulher de Victor Martins.

Abril foi um mês especial para o jornal “Folha dos Lagos”, de Cabo Frio. Além de completar 19 anos de história com um café-da-manhã em sua sede, o diário também promoveu, no início do mês, o lançamento do projeto Cidade Viva.O Cidade Viva é um fórum que está discutindo soluções para os problemas de desenvolvimento de Cabo Frio. Temas como a geração de emprego e renda, a universidade pública e os serviços públicos estão sendo tratados em reuniões com políticos e entidades de classe.A abertura do fórum, no Tamoyo Esporte Clube, contou com a presença do deputado estadual Paulo Melo (PMDB), que fi rmou compromisso de lutar pela instalação de um núcleo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) na Região dos Lagos. A coordenação do projeto Cidade Viva está sob o comando do professor Paulo Cotias.

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Casa de Wolney

Apesar da mobilização da sociedade e de uma ordem ju-dicial obrigando a restauração da casa histórica em que viveu o fotógrafo Wolney Teixeira de Souza, a prefeitura de Cabo Frio e os proprietários ainda não se manifestaram, nem de-ram início às obras. Desde o ano passado, artistas e agitado-res culturais tentam transformar o imóvel em museu da imagem, abrigando o acervo fotográfi co de Wolney. Durante a campa-nha eleitoral, o prefeito Marcos Mendes prometeu transformar a casa em museu, mas depois não voltou a se pronunciar sobre o assunto.

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Melhores do Samba abre exposição permanente de fotografi as

A entrega do troféu Melhores do Samba, premio oferecido a pessoas e entidades que particiaparam do Carnaval de Cabo Frio, teve uma novidade este ano. Além de 60 troféus confeccionados pelo artista plástico Zé de Canô, a festa na Morada do Samba abriu uma exposição permanente de fotos do Carnaval cabo-friense. Setenta imagens registradas pelos fotógrafos Marcos Homem, Tatiana Grynberg, Mariana Ricci, W. Costa e Walmor Freitas fi carão no local. No mesmo dia, tomou posse a nova diretoria da Liga das Escolas de Samba de Cabo Frio, que tem João Gomes como presidente.

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Portinho Bohemio tem novidades

Na contramão da crise

O Aeroporto Internacio-nal de Cabo Frio começou a receber, no mês passado, voos cargueiros semanais vindos de Miami (EUA), pela companhia Centurion. A cada voo são transpor-tadas cerca de 65 tonela-das de equipamentos, com valor estimado em US$ 5 milhões. Todo o processo de “desembaraço” da carga, realizado pela Polícia Fe-deral, acontece no próprio terminal. A movimentação do TECA responde por 95% da receita média mensal do aeroporto.

Um dos eventos mais char-mosos de Cabo Frio, o Porti-nho Bohemio, está passando por mudanças. Sob organiza-ção da Flash, do publicitário Marcel Figueira, o evento está tomando a forma de um “Mo-vimento Cultural Urbano”, e já começou a ultrapassar a fronteira da música, dando espaço para outras artes.

Daqui pra frente, novas manifestações, como artes plásticas, cênicas e outras, estarão se apresentando no Espaço Cultural Vip inaugurado com festa no dia 30 de abril, no Condomínio Casagrande, tradicional reduto da boemia cabo-friense.

O Portinho Bohemio acontece na

primeira sexta-feira de cada mês, sem-pre apresentando uma temática musical diferente. Na última edição, o tema foi “Rock Brasil”, com apresentação de Léo Barreto e da banda Carbono 40.

A artista plástica Natalie nonono expôs seus trabalhos na inauguração do Espaço Vip

Fotos: Marcos Homem

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A r m a ç ã o d o s B ú z i o s

A falta de saneamento tem sido apontada pela população de Búzios como sendo o maior problema da cidade em todas as sondagens e pesquisas feitas até hoje no balneário. A primeira vez que o problema mostrou a sua dimensão, foi no ano de 1995, quando da formulação do Plano Estratégico de Búzios. A pesquisa de então apontou que 95% da população considerava a falta de saneamento o maior problema da cidade. Depois disso, a Fundação Getúlio Vargas confi rmou o índice nos estudos para o Plano Diretor de 2004. Políticos em campanha, useiros e vezeiros das artes das pesquisas de campo, têm identifi cado o problema sistematicamente em suas pesquisas, e abusado dele, ganhando votos ao prometer resolvê-lo.

Niete Martinez

o primeiro mês de seu mandato, o prefeito Mirinho Braga (PDT), em entrevista a CIDADE, disse que o problema de saneamento de Búzios

era uma “vergonha nacional”, afi rmando: “Não podemos pensar em turismo de

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qualidade sem saneamento, não podemos pensar em meio ambiente sem saneamento, não podemos pensar a cidade sem sanea-mento”.

Ninguém sabe exatamente a situa-ção real do esgoto em Búzios. As con-sequências, porém, estão no dia-a-dia dos moradores e visitantes. Alagamentos,

tubulações transbordando, deslizamentos, esgoto correndo a céu aberto, mau cheiro, fuga do turismo de qualidade.

Medidas paliativas como a criação da Lei de Esgoto, de autoria do ex-vereador Fernando Gonçalves, uma espécie de medida compensatória para a obtenção do Habite-se em novos projetos, acabaram

N

PROBLEMA

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13CIDADE, Maio de 2009

por se transformar em mais problemas para a cidade.

“Vários sistemas estão incompletos. Existem trechos que não ligam nada a lugar nenhum. Houve uma total falta de controle, que é o que estamos retomando. Ninguém sabia exatamente o que estava sendo executado. Existem lugares onde nem a Prolagos nem a prefeitura sabia que já tinha rede”, esclarece o secretário de Obras e Saneamento, Wilmar Mureb.

“A Lei de Esgoto foi criada para dilatar os limites do crescimento em Búzios. E a contrapartida nunca se dava no próprio empreendimento que pagava a medida, e sim em locais determinados pelo antigo secretário de Planejamento. O exemplo mais gritante e evidente está aqui no Forno, onde um condomínio que ele projetou, e aprovou, foi benefi ciado”, complementa Ruy Borba Filho, chefe do gabinete de Planejamento, Gestão e Orçamento.

Com a mão na massa“Precisamos ligar a rede urgentemente.

Não poderemos mais suportar derrama-mento de esgoto em praias e vias públicas”, sentenciou a secretária de Meio Ambiente, Adriana Saad, em recente encontro com ambientalistas.

Como primeira medida, a prefeitura realizou, junto com a concessionária Pro-lagos, um mapeamento para identifi car ligações irregulares, ao mesmo tempo em que fi scais da prefeitura promoveram uma campanha de conscientização com os moradores do centro, onde todas as ruas já contam com rede coletora. Paralelamente, vistorias na rede instalada também come-çaram a ser executadas por técnicos das secretarias de Obras e Meio Ambiente, com o objetivo de identifi car problemas.

Outro grave problema é a desinforma-ção. Muitas pessoas não sabem que são elas próprias as responsáveis por solicitar a ligação de suas casas à rede de esgoto. Várias reuniões foram realizadas com o objetivo de conscientizar a população. “Além das reuniões abertas também fi -zemos reuniões pontuais nos bairros para entender melhor o problema de cada local”, diz Wilmar.

O secretário adianta que tão logo a rede esteja concluída, a prefeitura vai exigir que os moradores façam suas ligações. “Vamos ser duros, rígidos e fi scalizar inten-samente”, diz, esclarecendo que isso não representará nenhum acréscimo na conta de água “A taxa de esgoto já está incluída

na cobrança da água, então os moradores não precisam se preocupar em receber contas mais altas depois que se ligarem à rede”, afi rma.

Oh Geribá! Com esgoto correndo a céu aberto e

todo tipo de ambulante ilegal perambulan-do ou estacionado na praia, Geribá viveu um clima de vale-tudo nos últimos anos. Desordem, lixo e muito esgoto num dos principais cartões postais da cidade.

A recuperação começou com uma medida drástica. Todas as licenças de am-bulantes do município foram canceladas. Na praia de Geribá, apenas aqueles que assinaram o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público estão permitidos, e não podem mais deixar seu material de trabalho sobre a areia. A prefeitura distribui kits desmontáveis que devem ser retirados diariamente, deixando a praia livre e limpa à noite. E as obras de saneamento e drenagem do bairro, reivin-dicação antiga dos moradores, fi nalmente começaram: “É uma obra complicadíssima e que vai servir como exemplo, pois será uma obra defi nitiva”, afi rma Wilmar.

Com investimento em torno de R$ 1,5 milhão, e executada com recursos próprios, a obra envolve o rebaixamento do lençol, construção de uma estação elevatória, rede de recalque, drenagem e pavimentação em todo o trecho do canto esquerdo de Geribá. Depois de concluída, todas as residências e estabelecimentos comerciais existentes no local deverão ser ligados ao sistema de

coleta, saneando completamente o bairro. Outros pontos críticos do balneário

também estão sendo sanados, segundo o secretário. É o caso do Bosque de Geribá, cuja rede de esgoto está sendo fi nalizada, e da Ferradura, com a conclusão das obras de três elevatórias. A lagoa dos Ossos já está recebendo obras de dragagem, através de parceria com a Serla (Superintendência Estadual de Rios e Lagoas) e deverá ter seu espelho d’água completamente recuperado. Além disso, a prefeitura está concluindo 60 metros restantes da tubulação de esgoto, que estava incompleta, e a dragagem da travessa Ângela Diniz.

“Até o fi nal de 2009 esperamos ter grande parte do problema de esgoto da cidade resolvido”, fi naliza Mureb.

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Vamos ser duros, rígidos e fi scalizar intensamente

WILMAR MUREBSecretário de Obras e Saneamento

Parceria com a Serla para recuperar a lagoa dos Ossos

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Dívidas como her aR$ 70 milhões em dívidas. Esse é o combustível do combate entre o prefeito de Araruama, André Mônica, e seu antecessor, Chiquinho da Educação. Em meio à polêmica, o atual governo chegou a cogitar a decretação de Estado de Emergência.

Vanessa Campos

s cem primeiros dias de governo, na maior parte dos municípios da Região dos Lagos foram de difi cul-dade, em função da crise fi nanceira

internacional e da queda do valor referente ao repasse dos royalties de petróleo (be-nefício do qual os orçamentos municipais dependem consideravelmente). Dentre as cidades litorâneas, Araruama vem se destacando ao protagonizar um cenário de R$ 70 milhões de dívidas, bloqueio de re-cursos federais e troca de acusações entre o atual prefeito, André Mônica (PMDB), e o gestor anterior, Francisco Carlos Fernandes Ribeiro (PR), o Chiquinho da Educação, que esteve à frente do Executivo Municipal por oito anos.

Passados menos de dois meses de gestão, no início de fevereiro o prefeito André Mônica desabafou, na mídia local, que “não calculava receber o quadro admi-nistrativo que o ex-prefeito Chiquinho da Educação entregou”.

“Era de conhecimento geral que a administração anterior não priorizava o pagamento de dívidas. Durante a transi-ção do governo, tomamos conhecimento de que existiam dívidas além daquelas que eram de conhecimento público. Mas, sinceramente, não imaginávamos que o endividamento fosse nessas proporções. O nosso FPM (Fundo de Participação dos Municípios) que é o maior recurso livre que o município recebe, foi bloqueado inte-gralmente, e por conta do endividamento o município está cadastrado no CADIN (Ca-

dastro de Inadimplentes) o que faz com que não consi-gamos receber repasses do governo federal”, declarou André Mônica.

O débito total revelado pelo atual prefeito e seu vice, Anderson Moura, chega a R$ 70 milhões. Dentre alguns documentos revelados pelo atual go-verno, estão discriminados R$ 6.725.682,36 de dívidas com a Ampla Serviços S.A.; R$ 4.117.592,83 com Pre-catórios; R$ 22.113.414,14 com o Ibasma (Instituto de Benefícios aos Servidores Municipais de Araruama); R$ 30.369.642,45 com a Receita Federal do Brasil; cerca de R$ 950.000,00 de dívidas com o Ibama (Instituto Brasi-leiro de Meio Ambiente); e o total de R$ 163.100,17 com ECT-Correios. Com tamanho endividamento, o atual prefeito já afi rmou que, com um orçamento inicial de R$ 138 milhões previsto para este ano, a re-alidade é que a arrecadação deverá chegar a R$ 120 milhões.

“As dívidas que temos em Araruama correspondem a mais da metade deste orçamento. Agora, temos que escolher as prioridades. Araruama tem contrastes absurdos. Encontramos uma situação de caos”, desabafou o prefeito.

Estado de Emergência Em meados do mês de março, o prefeito

chegou a emitir uma nota, por meio de sua assessoria, afi rmando que o agravamento

das fi nanças era tal que a única solução seria decretar estado de emergência no município. De acordo com André Mônica, a seu favor, existe o “bom relacionamento com os governos estadual e federal”.

“Nossa campanha foi pautada nas par-cerias e isto estamos tendo. Já recebemos aqui o secretário nacional de Turismo, Airton Pereira, a secretária estadual de Assistência Social, Benedita da Silva, e o ministro Carlos Minc. Eu também já fui a Brasília duas vezes e fui recebido por todos os senadores, por vários deputados e ministros, e todos se dispuseram a ajudar Araruama. Também tenho mantido contato constante com o governo do estado e tenho conseguido muitas coisas com a ajuda dos amigos que fi z durante o tempo que trabalhei no Governo do Estado”, explicou o prefeito, destacando que as viagens ao Distrito Federal podem gerar um parcela-mento da dívida que, mesmo assim, está longe de dar alívio no ano de 2009.

A r a r u a m a

As dívidas que temos em Araruama correspondem a mais da metade deste orçamento

OANDRÉ MÔNICAAtual prefeito

Divulgação

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15CIDADE, Maio de 2009

r ança

“Teremos que usar os recursos livres para sanar as dívidas do município e cal-culamos que conseguiremos fazer alguma coisa para chegar a um parcelamento em torno de R$ 800 mil por mês, mas este ainda será um ano de muitas difi culdades”, polemizou ele, amparado pelo discurso do vice, Anderson Moura, que colocou mais lenha na fogueira que alimenta a briga entre Chiquinho da Educação e André Mônica ao falar sobre “a nova fase” da política araruamense, representada pela mudança da cor adotada nos prédios pú-blicos da cidade.

“A cor da cidade era amarela. Todo governo adota uma característica. Contudo, ninguém está comprando tinta para pintar tudo de num dia só. Nós vamos mostrar o caminho e o reconhecimento e não é em dois meses. De acordo com a necessidade, só não vamos mais pintar tudo de amarelo. Essa cor já foi. Agora é azul celeste, de paz, momentos novos”, declarou o vice-

prefeito, referindo à coloração usada pelo ex-prefeito nas repartições municipais.

“Acusações são resultado da incompetência para administrar”

Ao tomar conhecimento das declara-ções do atual prefeito de Araruama e seu vice, o ex-prefeito Chiquinho da Educação chamou os administradores municipais de “um bando de mentirosos”. De acordo com Chiquinho, “a acusação sem fundamento é resultado da incompetência de quem não sabe administrar”.

“Ele tem que apresentar estas dívidas de que ele fala. Quero que ele prove o que ele fala, dívida por dívida. Se houvesse tanta dívida assim, ele não teria aumentado o salário de secretário de R$ 5 mil para R$ 8 mil e não teria pintado a cidade toda de azul”, destacou o ex-prefeito, procuran-do explicar alguns débitos apontados por André Mônica.

“O que existe é um acerto de contas de outros prefeitos que passaram, com o Instituto da Previdência e eu não pude sal-dar. Mas o Chiquinho não deixou dívidas para ninguém. Se eu deixei alguma coisa para ele pagar, não chega a R$ 8 milhões”, argumentou.

Para colocar “tudo em pratos limpos”, conforme destacou o ex-prefeito, Chiqui-nho da Educação chegou a propor um de-bate público com André Mônica, em uma rádio local, quando, segundo ele, o atual prefeito deveria comprovar para a popu-lação as acusações. Em resposta, André Mônica enviou à Câmara Municipal a lista completa das dívidas da municipalidade.

“Não pretendemos fazer um governo de grandes queimas de fogos, shows com grandes camarotes com serviços de buffet e ornamentação para o privilégio de meia dúzia de amigos, nem gastar o dinheiro público para comprar carros ofi ciais de último modelo ou com diárias de R$ 3 mil em viagens para cidades vizinhas. Isso tudo fez parte do passado”, ironizou o prefeito André Mônica.

Se houvesse tanta dívida assim, ele não teria aumentado o salário de secretário de R$ 5 mil para R$ 8 mil e não teria pintado a cidade toda de azul

Se houvesse tanta dívida assim,

CHIQUINHO DA EDUCAÇÃOEx-prefeito

Jornal de Sábado

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16 CIDADE, Maio de 2009

Mais Arovidade em Cabo Frio, a oxigeno-terapia hiperbárica, uma técnica oriunda da atividade de mergulho,

ganhou espaço na medicina e hoje é am-plamente recomendada para uma série de doenças, muito especialmente para os portadores de Diabetes.

O médico hiperbarista e diretor técni-co da Clinica OHLagos, Cristiano Alon-so, explica que o tratamento consiste em simular um mergulho. No caso, o padrão da clínica está em torno de 14 metros de profundidade, onde o paciente respira oxigênio puro, através de uma máscara, por 90 a 120 minutos.

“Na verdade o paciente faz uma hiper oxigenação tecidual. Depois de comprimida a molécula de oxigêncio fi ca tão pequena que é dissolvida no plasma. Com isso é possivel levar o oxigênio até tecidos que não têm boa vascularização, como ossos, tecidos infectados e queima-dos”, explica o médico.

O tratamento reforça o sistema imu-

SAÚDE

nológico melhorando a produção de células ósseas e de colágeno. Cristino explica que com isso “se consegue potencializar muito a cicatrização”, lembrando que 70% dos paciente que procuram o tratamento são diabéticos.

Instalada desde março de 2008 em Cabo Frio, o OHLagos é uma das três únicas clínicas no interior do estado espe-cializadas no tratamento.

Segundo o médico, é necessário um mí-nimo de cinco sessões para que o paciente seja considerado em tratamento. “Cada sessão custa em torno de R$ 250,00”, informa.

Apesar dos benefícios, o SUS ainda não oferece cobertura para o tratamento, e a clínica ainda não consegui seu cre-denciamento junto à Unimed Cabo Frio. “Estamos tentando há um ano”, conta Cristiano.

A oxigenoterapía hiperbárica é um procedimento médico reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina desde 1995. “Não é um achismo. E tem resultados muito bem documentados, com redução no custo fi nal do tratamento do pacinete”, esclarece o médico. Niete Martinez

CRISTIANO ALONSOMédico Hiperbarista

Câmara Hiperbárica

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Pacientes são monitorados durante o procedimento

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17CIDADE, Maio de 2009

N U T R I Ç Ã O

DANUZA LIMA é [email protected]

Que cheiro é esse?

á reparou que muitas vezes ficamos com

água na boca quando sentimos o cheiro de alguma comida que gostamos? Ou que os alimentos parecem “perder o sabor” quando fi camos resfriados?

Isso acontece porque, ao decifrar o cheiro, o cérebro estimula as glândulas salivares e prepara o organismo para re-ceber esse alimento. O olfato e paladar são dois sentidos sempre ligados: é difícil sentir um sabor sem usar o olfato.

Sentir sabor é função da língua. Quan-do saboreamos um alimento, sabemos se ele é doce, amargo, salgado ou azedo. Podemos distinguir o gosto de uma pêra facilmente pela língua, mas uma feijoada é muito semelhante a uma bacalhoada, porque os dois são salgados. O que faz com que separemos tão bem esses ali-mentos é o aroma que possuem.

A língua é a responsável por sentir grande parte dos sabores dos alimentos porque há nela maior concentração de quimiorreceptores, que são os respon-sáveis pela “identifi cação” dos vários gostos. No entanto, parte do gosto que sentimos dos alimentos é resultado do cheiro emitido por eles.

A redução ou a perda do paladar (ageu-sia) e a distorção do paladar (disgeusia) podem ser causados por fatores como boca muito seca, tabagismo intenso, al-coolismo, radioterapia da cabeça, efeitos colaterais de alguns remédios, depressão, queimaduras da língua.

A falta de vitaminas leva a alterações nas papilas gustativas, e o cálcio é fun-damental no processo de “tradução” da reação química causada por moléculas odoríferas em impulsos elétricos. A perda total do olfato (anosmia) e a dimi-nuição do olfato (hiposmia) também têm sido associadas ao consumo de alguns medicamentos, como os quimioterápicos e alguns antidepressivos.

Os distúrbios do olfato e do paladar raramente constituem uma ameaça à vida. Entretanto, eles podem incomodar muito uma vez que afetam a capacidade de desfrutar de comidas, bebidas e aro-mas agradáveis.

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18 CIDADE, Maio de 2009

C a r t a s

www.revistacidade.com.brMaio, 2009

Cartas para o EditorPraia das Palmeiras, 22 - Palmeiras, Cabo Frio/RJ - Cep: 28.912-015E-mail:[email protected]

QUERO DAR OS PARABÉNS A VOCÊS por essa bonita revista que tantas informa-çõe nos traz todo mês. Tem um assunto que acho que seria muito bom da revista mostar. Já viram o tipo de “turista” que chega nos navios? um bando de gente que invade a cidade e não toma nem cafezinho! Quem é que está ganhando dinheiro com isso? Acho que só o navio, porque o comércio da cidade não vende nada para eles. Minha mãe tem uma lojinha na Gamboa e por isso acho que tem alguma coisa errada com esse turista que não compra nada.muito obrigadoAna Cristina de Toledo (Gamboa - Cabo Frio/RJ)

PARABÉNS PELA ÓTIMA REPORTA-GEM sobre os royalties do petróleo. Visito essa região com frequencia e vejo o grande desperdício de dinheiro das prefeituras. Usaram mal os recursos e agora vão ter que correr atrás do prejuízo. Parabéns pela revista, um abraço.Roger W.Simas (Rio de Janeiro/RJ)

GOSTARIA DE EXPRESSAR MEU TOTAL repudio à criação deste pedágio na BR-101. Como é possível que, além de pagarmos R$ 8,90 ou R$ 13,50 (fins de semana) para ir ao Rio de Janeiro, Via Lagos, ainda temos que pagar R$ 2,50. Isso demonstra apenas que nossos direitos cada vez estão sendo desrespeitados. O que adianta tantas promessas se o cidadão ainda precisa pagar IPVA, Seguro, impostos e ainda mais essa! A respeito do que vem ocorrendo em Bú-zios é lamentável que ainda a política tenha uma infl uência maior do que a educação, pois estamos presenciando vários cargos de adjunta serem preenchidos por pessoas que não possuem ao menos um curso superior, de preferência Pedagogia. Para onde nos leva essa nova administração que lutei tanto para eleger? Sou concursada e estou desde 2001 sugerindo eleições diretas para Diretor Geral e adjuntos. De nada adianta cursos se não existe um compromisso da comunidade acadêmica e da sociedade. A vida em Búzios é muito cara e até hoje nossos honorários estão defasados. Vivemos uma anarquia em que a fi losofi a não existe, somente a fi losofi a do QI (quem indique).Carla da Silveira (por e-mail)

SÓ MESMO UM XARÁ PARA TER A mesma impressão que eu a respeito da lor-pice reinante. Infelizmente o colunista tem toda razão. Criticando implacavelmente mas sem perder seu impagável senso de humor o professor nos brinda a cada número com delícias como essa. Parabéns!Ernesto de Barros (Balneário - São Pedro da Aldeia /RJ

MORO EM NITERÓI E VOU SEMPRE para Cabo Frio e fi co com minhas primas que moram no bairro do Peró. Vi a revista e achei muito maneira. E queria dar uma idéia para voces fazerem uma matéria sobre a falta de uma programação para os jovens. Eu e as minhas primas e mais os amigos dela, acabavamos fi cando em casa a noite porque a cidade não tem programação para os jovens, que são muitos e fi cam sem fazer nada depois da praia. Bom, e só uma ideia para vocês, porque gostei muito da revista.Marcela de Oliveira (Niterói/RJ)

Publicação Mensal NSMartinez Editora MECNPJ: 08.409.118/0001-80Redação e AdministraçãoPraia das Palmeiras, nº 22 Palmeiras – Cabo Frio – RJCEP: 28.912-015 [email protected] ResponsávelNiete [email protected] de ReportagemTomás [email protected]ão Phelipe SoaresLoisa MavignierGuimarães NetoGustavo AraújoPedro Paulo CamposRenato SilveiraTati BuenoViviane RochaFotografi asMariana RicciMárcia PlácidoMarcos HomemPapiPressPedro Paulo CamposTatiana GrynbergSérgio QuissakVinícius CondeixaColunistasAngela BarrosoErnesto LindgrenDanuza LimaOctavio PerellóProdução Gráfi caAlexandre da [email protected]ãoEdiouro Gráfi ca e Editora S.ADistribuiçãoSaquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Búzios, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Quissamã, Campos, Macaé, Rio de Janeiro e Brasília.

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores

A CADA DIA QUE PASSA FICAMOS mais assutados com o que está acontecxendo com a nossa cidade. E não é só em Cabo Frio que a violência tomou conta. A cidade de São Pedro já é reduto de bandidos que vem descansar do “trabalho” por aqui. Quando alguém vai tomar alguma providência? depois que todos os turistas sumirem por causa da violência e assaltos em plena luz do dia? Fica a minha pergunta, com os meus agradecimentos.Antônio Carlos Coutinho (São Cristóvão- Cabo Frio/RJ

ONDE ESTÁ O DINHEIRO? A PREFEITU-ra de Cabo Frio parece que foi à falência! Estou ouvindo dizer que a culpa é dos royal-ties. Será? Isso acontecer logo depois de uma campanha onde foi preciso gastar muito dinheiro com advogados é muito esquisito. Onde estão os vereadores, pagos para fi sca-lizar o dinheiro do povo, que SUMIU?Marcelino Goes de Andrade (morador do Rio de Janeiro e veranista do Braga/ Cabo Frio)

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NGELABarrosoA

[email protected]

No altar montado no jardim da residência dos pais do noivo e diante de 500 convidados,os noivos Melissa e Ignácio prestaram seus votos religiosos ao Frei Franciscano Marco Túlio. Foram seis anos de romance que culminou em uma das mais bonitas celebrações que já aconteceu no balneário.

Maria Elvira Salles Ferreira e Prata Neto, pais do noivo, receberam os convidados para a recepção,na Pousada Ferradura Resort do empresário Nelson Xavier. Tudo com muito requinte e elegância.

Foram poucos os buzianos presentes, mas Alexia e sua mãe Renata Dechamps não poderiam faltar. Eram só elogios para a festa da de Melissa Cruz e Ignácio Ferreira Prata.

Melissa desfi lou modelo assinado pela estilista mineira Danielle Benício que fez questão de trazer de Paris as fl ores que enfeitavam o cabelo e o vestido da noiva. Belíssimo.

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CABO FRIO MAIS VERDE?

á se vão quase 19 anos após a aprovação da Lei Orgânica Municipal de Cabo Frio e somente agora a municipalidade começa a se movimentar no sentido de demarcar e proteger, através da criação de parques municipais, algumas áreas de preservação já visualizadas em 1990. Ofi cialmente, existem

na cidade cinco espaços protegidos nesse formato, entre eles o famoso Parque do Mico Leão Dourado, na fronteira com Casimiro de Abreu (há também o das Dunas, Dormitório das Garças, da Gamboa e da Praia do Forte). Agora, o governo municipal inicia os trabalhos de criação e demarcação dos Parques da Boca da Barra e do Morro do Mico, mas tudo indica que isso não é para já.

O atraso para a regulamentação dessas áreas chama a aten-ção. Se as regras fossem seguidas, o prazo estipulado era de no máximo cinco anos, mas a cota estourou faz tempo. Até agora, foram demarcados cerca de 700 mil metros quadrados, referentes apenas aos parques do Mico Leão Dourado e Dormitório das Gar-ças. Com a falta de regras claras, embora boa parte desses locais já sejam Áreas de Preservação Ambiental, muitos se encontram ameaçados por ocupações irregulares e visitação sem controle.

O secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Cabo Frio, Carlos Victor Mendes, tem uma resposta na ponta da língua para explicar o enorme atraso. Segundo ele, nesse intervalo, o município preparou também o seu Plano Diretor e áreas que serão transformadas em parques, como a Boca da Barra, foram transformadas em APA, mudando as regras para a sua criação.

“Tudo isso fez com que o cronograma para a regulamentação dessas áreas municipais sofressem esse atraso. Mas agora, a secretaria está envolvida diretamente nesse processo e acredito que no segundo semestre desse ano, já estaremos bem adianta-dos”, afi rmou.

Mas o processo pode não ser tão simples como o secretário acredita. Há, tanto no Morro do Mico como na Boca da Barra, áreas privadas que terão de ser desapropriadas, gerando custos em um momento de crise como o vivido pelo atual governo. Ou-tra difi culdade está na própria gestão do espaço, que terá de ser monitorado pelas autoridades para seu bom funcionamento.

Na verdade, esse processo já deveria ter sido iniciado, sob pena de pouca coisa restar de locais como o anunciado Parque do Morro do Mico. Localizado entre o Jacaré e a Estrada do Guriri, próximo ao centro da cidade e imprensado pelo processo de favelização dos bairros, já há sinais de ocupação desordenada por ali.

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MEIO AMBIENTE

Renato Silveira

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Ali encontra-se resquícios geológicos de um tempo em que os continentes América do Sul e África eram um só, chamado Gondwana

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MORRO DO MICOPressão imobiliária

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Carlos Victor garante que o governo está atento ao problema e manda regularmente ao local equipes de fi scais com a missão de impedir obras e ocupações irregulares. Porém, ainda não há regras claras para a enorme área verde, que abriga uma rica fauna, inclusive com os ameaçados micos-leões-dourados.

Boca da BarraQuando se fala na histórica Boca da Barra, local de entrada

dos primeiros portugueses nos idos de 1503, o problema muda de foco. Ali, a questão é regulamentar a enorme visitação pública, principalmente na Ilha do Japonês, ampliada na alta temporada com a chegada dos transatlânticos. Passar por lá numa manhã de segunda-feira implica em encontrar restos do churrasquinho de fi m de semana promovido por moradores ou turistas mal educados.

Com a criação do Parque, que vai da Ilha do Japonês até a Praia Brava, a área, que faz parte da APA do Pau Brasil, criada em 2001 pela ex-governadora Benedita da Silva, terá, segundo o secretário, a visitação limitada e controlada para evitar excessos e abusos.

“O fl uxo de visitantes passará a ser controlado, evitando o impacto ambiental da visitação desenfreada. A Guarda Marítima e Ambiental, que já realiza um trabalho por lá, fi cará responsável por esse controle”, explicou Mendes.

Para Kátia Mansur, diretora do Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro, órgão vinculado ao governo Esta-do, a criação do Parque da Boca da Barra é de vital importância para a preservação de um espaço que ajuda a explicar a origem geológica do planeta.

“Ali encontram-se resquícios geológicos de um tempo em que

os continentes América do Sul e África eram um só, chamado Gondwana. Todas aquelas ilhas, costões rochosos e vegetação só são encontrados nessa área e no outro lado do oceano, na África. A preservação vai auxiliar na continuidade desses estudos que podem explicar a origem de nosso planeta”, comentou.

Segundo ela, o uso indiscriminado do local pode acelerar seu processo de erosão natural, principalmente nas trilhas por onde os visitantes costumam passar durante suas incursões às praias locais.

“Com a passagem das pessoas pelas trilhas, criam-se novas áreas de erosão, misturando o barro às rochas já sedimentadas. Isso acaba criando um novo cenário diferente do original. As pes-soas devem poder visitar a área, mas com controle”, adverte.

Parque estadualEmbora a legislação diga que a gestão de áreas denominadas

parques devam ser realizadas pelos municípios, o Instituto Estadu-al do Meio Ambiente (Inea) pretende delimitar uma enorme área envolvendo sete municípios no entorno da Lagoa de Araruama, criando o Parque Estadual da Costa do Sol. De acordo com o presidente do Instituto, Luís Firmino, o estado seria o responsável pelo decreto e desapropriações, e cuidaria dos espaços em regime de cogestão com os governos municipais.

“São 32 áreas que valem a pena serem transformadas em parque. Se cada município fosse criar um decreto sozinho, teria de arcar com a desapropriação e uma série de outros itens que difi cultariam o processo. O Inea coloca a criação desse parque como prioridade e pretende discuti-lo com a sociedade ainda esse ano”, garantiu.

Ernesto GaliottoErnesto Galiotto

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BOCA DA BARRANatureza ainda preservada

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22 CIDADE, Maio de 2009

Em busca do tempo perdidoII Feira de Responsabilidade Social vai discutir um desejo coletivo que os mais de 30 anos de exploração petrolífera na Bacia de Campos não conseguiram concretizar: o desenvolvimento regional sustentável

m pé no planeta, outro na região. Com essa proposta e um monte de desafi os, a segunda edição da Feira de Responsabilidade Social Empresarial

Bacia de Campos (Feira de RSE Bacia de Campos), acontecerá nos dias 19, 20 e 21 de maio, no Centro de Convenções Jor-

nalista Roberto Marinho (Macaé Centro), em Macaé. Com o tema “Construindo Cidades Sustentáveis”, o evento terá feira de exposições, fórum com palestras, mesas-redondas e painéis, além das Ofi cinas do Conhecimento – onde a produção acadê-mica das universidades presentes na região, relacionada à RSE e à sustentabilidade, será mostrada, discutida e, posteriormente,

entregue às autoridades locais – e a Rodada de Negócios Sustentáveis.

De acordo com a publicitária Bernadete Vasconcellos, da revista Visão Social, or-ganizadora da Feira, esta contará com em-presas, prefeituras, ONG´s, universidades, entidades de classe e outras instituições envolvidas em ações nas áreas de Respon-sabilidade Social e Sustentabilidade.

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Guimarães Neto*

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23CIDADE, Maio de 2009

Nesta segunda versão, a Feira de RSE Bacia de Campos coloca um desafio a mais: como buscar o desenvolvimento sustentável em um momento econômico tão difícil para os municípios da região, que sofrem com a signifi cativa diminuição dos recursos oriundos da exploração de petróleo e gás natural?

Para debater esta e outras questões, foram convidadas importantes personali-dades das áreas de RSE e Sustentabilidade. Também está prevista uma mesa-redonda com jornalistas, economistas e prefeitos da região, sobre um tema bastante opor-tuno: a criação de mecanismos, como, por exemplo, fundos municipais de desenvol-vimento sustentável que garantam um teto mínimo de recursos para as prefeituras em períodos de “vacas magras”, como este em que o preço do barril de petróleo despencou de US$ 130 para menos de U$ 50.

Como na feira de 2008, serão dispo-nibilizados estandes gratuitamente para as 20 primeiras ONG´s da região que se inscreverem, devendo estas apresentar releases com informações cadastrais e seus projetos.

PresençasVárias personalidades nas áreas de

RSE e Sustentabilidade vão participar das palestras e painéis do Fórum “Construindo Cidades Sustentáveis”, na versão 2009 do evento. Entre elas, o ambientalista,

consultor e fundador da ONG SOS Mata Atlântica, Fábio Feldmann, a jornalista Amélia Gonzalez, editora do suplemento “Razão Social”, de O Globo, o consultor e especialista em turismo sustentável, José Wagner Fernandes, presidente do Instituto de Hospitalidade e gestor do Comitê Brasi-leiro de Turismo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o diretor executivo do Movimento Viva Rio, Rubem César Fernandes, que fará uma abordagem diferenciada sobre a violência urbana.

Também estarão no fórum de palestras e debates o diretor do Laboratório de Me-teorologia da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) e estudioso das mu-danças climáticas, prof. Valdo Marques e o ambientalista Aristides Soffi ati Neto.

Quanto à mesa-redonda que discutirá o desenvolvimento regional sustentável, foram convidados, além de prefeitos da Bacia de Campos, o reitor da Uenf, prof. Almy Júnior, o sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense, José Luiz Vianna da Cruz, o gerente regional da Onip (Organização Nacional da Indústria do Petróleo) e do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Bicombustíveis), Al-fredo Renault.

FortalecimentoPara o secretário de Meio Ambiente de

Macaé, Maxwell Vaz, a II Feira de Res-ponsabilidade Social Empresarial Bacia de

Campos “fortalece o processo de adesão, que deve envolver toda a comunidade e é importante para o fortalecimento do traba-lho, já que poder público não conseguirá resolver os problemas sozinho”.

Também organizador do evento, o jornalista Martinho Santafé falou sobre a importância da feira para a mobilização da sociedade em prol de assuntos importantes para diminuir as desigualdades sociais. “As contradições que vivemos na nossa região nos motivou a criar a feira. Nós sentimos que temos um papel a cumprir, é uma obrigação como cidadão”, disse.

Para o coordenador da área de Res-ponsabilidade Ambiental da Petrobras na Bacia de Campos, William Oliveira, o evento é uma ferramenta de articulação que contribui para que o tema seja discutido pela sociedade. “Para a Petrobras e outras empresas, o assunto ainda é novo e precisa ser bastante debatido. É um processo que precisa ser contínuo”, explicou. Segundo William, a Responsabilidade Social tem que estar intrínseca na identidade da em-presa, que não deve começar aderir por questões de competitividade.

Todas as palestras e eventos da feira são gratuitos. O credenciamento pode ser feito através do site www.feirarsebaciade-campos.com.br.

Evento inédito na forma e no conceito, que inseriu os mu-nicípios da área de infl uência da Bacia de Campos na grande discussão planetária sobre Sustentabilidade, a I Feira de Res-ponsabilidade Social Empresarial Bacia de Campos, realizada no município de Macaé em maio de 2008, foi considerada um sucesso, apesar do caráter pioneiro e da complexidade dos temas abordados. Para isso, a Revista Visão Social contou com bons parceiros que acreditam no desenvolvimento com qualidade de vida para os cidadãos e preservação dos recursos naturais.

O êxito da iniciativa foi reconhecido durante a Conferência Ethos 2008, realizada no mês de maio, em São Paulo, um dos eventos mais importantes de RSE da América Latina. Também refl etiu positivamente junto aos palestrantes convidados.

A I Feira de RSE Bacia de Campos teve por objetivo con-tribuir para a disseminação de conceitos, indicadores e ações pontuais de Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabi-lidade junto às empresas e ONG´s que atuam na região, princi-palmente nos municípios de Macaé, Campos dos Goytacazes,

Quissamã, Carape-bus, Rio das Ostras, Cabo Frio, Casimiro de Abreu e Armação de Búzios.

Participaram do evento universidades, instituições e entida-des de classe, poder público e várias outras empresas oriundas de estados brasileiros, como São Paulo, Mi-nas Gerais e Espírito Santo, que apresentaram projetos de apro-veitamento de materiais recicláveis e de energias renováveis.

O evento também cumpriu a finalidade de aproximar empresas interessadas em desenvolver ações de RSE e Orga-nizações Não Governamentais (ONGs) que possuem projetos nesta área, viabilizando a concretização dessas ações, além de dar visibilidade às empresas que já têm atuado nesta área, servindo de exemplo para as demais.

* Com assessoria de Imprensa do evento.

Uma ideia sustentável

MARTINHO SANTAFÉ diretor da revista “Visão Social” e idealizador da Feira

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português Manuel Carvalho Go-mes é um dos pesquisadores mais respeitados da europa, quando o assunto é o desenvolvimento sus-

tentável. Doutor em Ensino da Geografi a pela Universidade de Lisboa e presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental, Gomes participa de fóruns da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e da Universidade de Kingston, na Ingla-terra. Seu principal foco de pesquisa é a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS), cuja proposta foi tema de sua tese de doutorado.

Admirador das belezas naturais da Região dos Lagos, que visitou no passado, o pesquisador alerta para o crescimento desordenado e aposta na participação da sociedade para a preser-vação do meio ambiente.

“Não podemos nos esquecer que o desenvolvimento sustentável depende do equilíbrio entre a preservação do ambiente, o crescimento econômico e a justiça social. Assim, todas as partes interessadas, desde os políticos à popu-lação local, passando pela mídia e pelas empresas, deverão ter em conta que a qualidade de vida da população cabo-friense hoje não deve pressupor que os seus fi lhos e netos tenham as mesmas possibilidades de desenvolvimento. E, por favor, não destruam a beleza natural que ainda existe na Região dos Lagos”, conclama o lusitano.

Em sua caminhada para divulgar a DEDS, Gomes palestrou recentemente na Universidade da Paz, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na Costa Rica. Para ele, a Década é uma oportunidade de tornar possível o ideal

de “um mundo em que todos tenham a oportunidade de receber educação e apren-der os valores, comportamentos e modos de vida necessários para se alcançar um futuro sustentável e uma transformação positiva da sociedade”.

“Penso que os diferentes Estados-membros da ONU, ao terem assumido a proclamação da DEDS, deveriam, de acor-do com o Plano de Aplicação Internacional da Década, ter criado nos últimos anos os mecanismos necessários à sua divulgação e implementação, o que não parece ter acontecido, pois a DEDS continua a ser desconhecida para muitos. Até ao momen-to, nos relatórios de avaliação da Unesco, os exemplos dos países que se envolveram de forma signifi cativa no processo de apli-cação da DEDS são bastante reduzidos, tendo em conta que a ONU é constituída por 192 países”, afi rma o professor.

Para mudar esse quadro, Manuel Go-mes considera imprescindível a partilha de experiências entre as nações, além de uma maior qualifi cação dos profi ssionais e entidades envolvidas na aplicação das diretrizes da DEDS.

“É importante que as ações de for-mação nestas áreas se multipliquem, por

exemplo ao nível local, onde as autar-quias (prefeituras) têm uma responsabili-dade acrescida no âmbito da Agenda 21, como ‘pensar global e agir local’, mas também ‘pensar local e agir global’, diz o especialista.

Em sua peregrinação mundo afora, Gomes tem como principal mensagem a mudança de comportamento por parte de cada cidadão do planeta Terra.

“Todos sabemos que o ambiente está cada vez mais degradado, cada vez há mais pobreza, as doenças não param de matar pessoas, e, a continuar assim a nossa qualidade de vida vai ser cada vez menor. Por isso é fundamental mudar, mudar para melhor. Assim, aquilo que eu peço é que cada um de nós pense: como é que eu estou disposto a contribuir para a mudança? Vou separar os lixos! Vou andar menos de carro! Nas eleições vou votar nos políticos mais justos! Vou estar com atenção para não destruírem o ambiente que me rodeia! Vou procurar estar mais informado para poder agir e exigir! Vou respeitar o ambiente, vou respeitar as outras pessoas, vou respei-tar os animais. Vou respeitar a vida e o mundo”, conclui.

as belezas da Região dos Lagos”

Tati Buenode Lisboa

Divulgação

MANUEL CARVALHO GOMES Pesquisador

DESENVOLVIMENTO SUS TENTÁVEL

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A profi ssão é bíblica. Na Região dos Lagos a arte da pesca artesanal reúne técnicas ancestrais passadas de gerações para gerações desde os primórdios da colonização. A infl uência das comunidades pesqueiras nas praias dos balneários regionais é inegável. Eles sempre estiveram ali aos milhares, colorindo o horizonte com seus barcos ao sabor da maré. Depois chegou o turismo. A arrecadação com os royalties do petróleo passou a ser a muleta na economia dos municípios praianos. A pesca industrial foi dominando o cenário no litoral fl uminense, abocanhando os melhores cardumes e acuando cada dia mais os pescadores tradicionais. Uma queda de braço de tubarão com sardinha. Uma realidade socioeconômica que a partir de agora deixará de ser meramente parte da paisagem para entrar nas estatísticas ofi ciais dos governos federal, estadual e municipal.

QUEM É QUEM Governo quer saber

na pesca

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turismo desordenado, a pesca predatória, o crescimento urbano, a falta de políticas públicas e de in-vestimentos, aliados à inexistência de estatísticas globais e localizadas,

estão contribuindo para a perda da iden-tidade cultural dos pescadores artesanais em Cabo Frio, Búzios e Arraial do Cabo, com refl exos também na pesca na Lagoa de Araruama.

Os dados existentes sobre a pesca vêm de iniciativas acadêmicas isoladas e informações pulverizadas de alguns ór-gãos governamentais. Hoje, ninguém sabe exatamente quem pesca, quantos pescam e o que a atividade gera para a economia dos municípios na Região dos Lagos. Mas agora o governo quer saber quem é quem nessa realidade. Até porque, o Brasil tem um território marítimo de 4,5 milhões de quilômetros quadrados, a chamada Zona Econômica Exclusiva; e o estado do Rio de Janeiro está entre os maiores produtores de pescado do país. Cabo Frio está entre os primeiros do ranking estadual, além de ocupar a posição extraofi cial de maior produtor de sardinha do Brasil.

O eco de uma corrente defl agrada pelo governo federal, com várias frentes de trabalho, chegou ao estado e municípios. De repente, mas não por acaso, todo mundo despertou para a importância cultural e econômica da pesca industrial e artesanal fl uminense. A meta é que as prefeituras façam censos, com a cooperação técnica da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República (Seap), e da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), para traçar o perfi l do setor pesqueiro em estatísticas que ser-virão de base para as políticas públicas para o setor. Pelo peso na economia e por ser a única atividade que não sofre com sazona-lidade do turismo, a tendência agora é que a pesca, antes ligada ao meio ambiente, passe para o âmbito das secretarias de Indústria e Comércio, a exemplo de Cabo Frio que já criou um Departamento de Pesca ligado à Coordenadoria de Indústria e Comércio; e que os municípios criem os seus Conselhos Municipais de Pesca.

Marconi Castro

“Hoje a pesca está no escuro. Traçar uma política de pesca nos municípios é importantíssimo. Temos estimativas de 60 mil pescadores artesanais e industriais no estado, mas sabemos que isso está longe da realidade. Somando esses dados com a visão da Seap, iremos transformar isso numa minuta para fazer a estatística para o Programa de Monitoramento da Pesca Industrial do Estado do Rio de Janeiro, in-cluindo os principais produtores de pesca-do como Cabo Frio, Niterói, Rio de Janeiro e Angra dos Reis”, explica o diretor-técnico da Fiperj, Augusto da Costa Pereira.

AdequaçãoCabo Frio e Arraial do Cabo já estão se

mobilizando para a criação dos Conselhos Municipais de Pesca. A meta da prefeitura de Cabo Frio é criar também um Fundo Municipal de Pesca que permita gerir ações de fomento ao setor. Para isso, o secretário de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente cabo-friense, Carlos Victor da Rocha Mendes, e o coordenador de Indús-tria e Comércio, Ricardo Azevedo, estão se reunindo com os principais segmentos pes-queiros, entre eles os armadores locais que integram o Sindicato da Indústria de Pesca do Estado do Rio de Janeiro. A orientação da prefeitura é que os empresários criem uma associação com sede em Cabo Frio. Para Carlos Victor, os números referentes à pesca no município podem infl uenciar no aumento do Índice de Participação dos Municípios (IPM), e abrir as portas para as linhas de crédito existentes na Seap.

Em Arraial do Cabo onde existe uma reserva extrativista marinha (ResexMar) criada em 1997 para preservar o “modus vivendi” do pescador tradicional, o chefe da reserva e analista ambiental do Insti-tuto Chico Mendes, Álvaro Braga, está empenhado em homologar o Conselho Deliberativo da Resex e aguarda apenas o desfecho burocrático em Brasília para trabalhar o plano de manejo na reserva.

Búzios, por exemplo, reduto tradicio-nalmente pesqueiro, não possui quase nada descrito sobre as comunidades de pesca. A secretária municipal do Meio Ambiente e Pesca, Adriana Saad, acredita que existam de 1 mil a 1,5 mil pescadores nas praias de Manguinhos, José Gonçalves e Rasa.

Loisa Mavignier

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Muitos, porém, também interagem com o turismo. “Iniciamos um levantamento para diagnosticar a pesca em Búzios. Vamos fazer a estatística em parceria com a Fiperj. Também queremos resgatar as tradições dessas comunidades e para isso contamos com o apoio da Colônia de Pesca”, garante a secretária.

A pesca na lagoa também não possui dados ofi ciais até hoje. De acordo com o secretário do Meio Ambiente e Pesca de São Pedro da Aldeia, Luciano Pinto, a pre-feitura, com apoio da Fiperj, começaria em março a fazer o diagnóstico sobre a pesca para saber qual a produção média de pesca-do na Lagoa Araruama e quantos realmente têm registro de pescador profi ssional, já que muitos fazem bicos na pesca.

Uma das metas desse ordenamento é a inclusão social do pescador artesanal, que vem perdendo espaço para as grandes empresas pesqueiras. Embora organizados em colônias e associações de classe, um quê de informalidade sempre predominou na pesca tradicional. O objetivo é preparar e incentivar essas comunidades para a ma-ricultura, a psicultura e o benefi ciamento de pescado. O superintendente da Guarda Marítima e Ambiental de Cabo Frio, o biólogo Eduardo Pimenta, avalia que os pescadores artesanais estão fadados à adequação, e a maricultura é uma boa al-ternativa. “Na visão do município a pesca

Grandes traineiras da pesca industrial dominam o cenário no litoral da Região dos Lagos

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VICENZO SQUOTTO, 25 anos no mercado, exporta peixes para Itália, Portugal, França, Alemanha e EUA

industrial é rentável, gera emprego e muita renda. Estima-se que existam pelo menos 12 mil pescadores engajados na captura e nos serviços indiretos. O Rio de Janeiro é terceiro produtor de pescado do Brasil, e de Cabo Frio sai mais de 18% dessa

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Na onda de ordenamento da pesca, Arraial do Cabo poderá ser a primeira da região a elaborar o Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro (PMGC). Num trabalho paralelo à homologação do Conselho Deliberativo da Reserva Ex trativista Marinha de Arraial do Cabo (ResexMar) e do seu Plano de Manejo, o chefe da reserva e analista ambiental do Instituto Chico Mendes, Álvaro Braga, com apoio do professor de Recursos do Mar do Departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Sérgio Anníbal, estão dando apoio técnico para que a prefeitura cabista edite o seu plano e, no futuro, crie uma Guarda Marítima Ambiental.

Sancionada em 1988 pelo presidente da República, a lei federal nº 7.661, de 16 de maio, que orienta os estados e municípios a criar os seus Planos de Gerenciamento Costeiro, fi cou na geladeira por todo esse tempo. O Plano visa a utilização racional dos recursos na Zona Costeira, de forma a contribuir para elevar a qualidade de vida de sua população, e a proteção do seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural.

“Com o Plano, a gestão dessa área de verá passar, em médio prazo, para o município. A gestão federal hoje é para arrumar a estrutura, mas 90% do Conselho Deliberativo da ResexMar é do município. Isso é importante para que haja um esforço concentrado de todos”, explica Álvaro Braga.

“Uma vez implantado, o gerenciamento pode se constituir numa peça importante do Plano Diretor do município. É o fortaleci-mento do sistema federativo. Cria sinergia entre os órgãos públicos”, esclarece Sérgio Anníbal.

Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro

Wanderson Cardoso de Brito, o Andinho, prefeito de Arraial do Cabo:

1ª Guarda Marítima do BrasilCabo Frio, por exemplo, criou a pri-

meira Guarda Marítima Ambiental (GMA) fundamental para operacionalização do Plano Municipal de Gerenciamento Cos-teiro, mas ainda não elaborou a sua lei. Com poder de polícia, a GMA tem 150 funcionários com a missão de fi scalizar, ordenar as operadoras que prestam serviços náuticos, cuidar da emissão de alvará de funcionamento, da qualidade do serviço prestado e seguridade das embarcações e dos banhistas. Além disso, tem um programa de investigação e segurança da atividade pesqueira.

Sobre a criação da Guarda Marítima de Arraial do Cabo, o prefeito Wanderson Cardoso de Brito, o Andinho, diz que depende da situação fi nanceira do muni-cípio, até porque uma guarda tem custos elevados. “A pesca é muito representativa na economia de Arraial. Sabemos da ne-cessidade, mas estamos indo com cautela”, explicou. Macaé já tem um projeto para a criação de sua GMA; e Búzios já discutiu essa possibilidade no governo passado, mas o projeto não evoluiu.

produção. Juntos, Angra dos Reis e Cabo Frio são responsáveis por 40% da produção estadual”, explica.

Além de abastecer os municípios, o pescado regional é comercializado por grandes mercados em Niterói, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e até no exterior. Em Cabo Frio, existem sete empresas de pesca industrial, sendo as três maiores Brasfi sh, Pescado Magalhães e Da Hora. Com dez barcos e mais as embarcações agregadas, a Brasfi sh está há 25 anos no mercado e exporta daqui uma média mensal de 70 a 80 toneladas de pescado para a Itália, Portugal, França, Alemanha e Estados Unidos. O diretor proprietário, Vicenzo Squotto, afi rma que a empresa gera 100 empregos diretos e cerca de 300 indiretos. Ele garante que a pesca industrial hoje é feita a 50/70 milhas da costa. “A produção reduziu a partir de 2006. Exportamos peixes que aqui não têm valor de mercado. Também compramos peixes dos pescadores artesanais e traze-mos dinheiro de fora para circular aqui”, ressalta Vicenzo.

Extrair até esgotarDe acordo com o biólogo Paulo Sérgio

de Albuquerque Lacerda, do Departamento de Aqüicultura e Pesca de Cabo Frio, exis-tem 48 embarcações de pesca industrial no município, isso sem contar as de outros estados que extraem pescado no litoral da Região dos Lagos, já que rota da sardinha vem de Itajaí (RS) até Cabo Frio e Búzios. Em Arraial do Cabo, a extração de sardinha só é permitida fora da Resex.

Lacerda acredita que os estoques de sardinha, que já esteve em risco de ex-tinção, estão se recuperando. Dados da prefeitura mostram que apenas três grandes empresas de pesca industrial de Cabo Frio produziram em 2007 um total de 15.045 mil toneladas de pescado; em 2008 esse número saltou para 27.413 mil toneladas. A sardinha encabeça o topo das espécies mais capturadas.

“O que se nota no Brasil é que alguns estoques pesqueiros estão estagnados. Não estão tendo condições de se recuperar. Al-gumas espécies estão regredindo e outras totalmente esgotadas porque a pesca in-dustrial só dá trégua quando há diminuição do cardume e não é mais economicamente viável. Aí partem para outra. A aquicultura está suprindo essa defi ciência”, analisa Lacerda. Na avaliação dele, a pesca arte-sanal, embora em menor volume, também é predatória porque é feita perto da costa nos redutos de desova das espécies.

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A pesca é muito representativa na economia de Arraial.

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O turismo desenfreado está sufocan-do a bacia pesqueira de Arraial do Cabo, onde a Reserva Extrativista Marinha (ResexMar) existe exatamente para ga-rantir a exploração auto-sustentável dos pescadores artesanais e a conservação dos recursos naturais renováveis. Nas 200 mi-lhas de costa da unidade de conservação, a pesca industrial é proibida. No entanto, a sobrecarga de embarcações - cerca de 450 em plena atividade, contrariam as regras preservacionistas da reserva marinha, o que preocupa as autoridades. O litoral cabista também é alvo de grandes traineiras de pesca industrial, que utilizam sonar para localização dos peixes, dizimando cardu-mes inteiros e impedindo-os de chegarem próximo à praia, onde as comunidades tradicionais tiram o seu sustento. A captura de algumas espécies está cada vez mais difícil, afi rmam os pescadores.

Guardiã de todas as artes tradicionais de pesca e um dos núcleos pesqueiros fl u-minenses mais ativos e com incontestável importância socioeconômica, Arraial do Cabo surpreende pelas 15 entidades que representam a pesca artesanal de acordo com redutos e modalidades de captura. A pesca já chegou a representar 70% da economia cabista, e hoje cerca de cinco mil pessoas ainda vivem direta ou indi-retamente da atividade. As comunidades tradicionais, juntas, produzem em média de 1,5 mil a 2 mil toneladas de pescado/ano, pelos dados da Fundação Instituto de Pesca de Arraial do Cabo (Fipac), que, em gestão compartilhada com a Colônia de Pesca Z-5, administra a Marina Pública dos Pescadores do município.

Na pesca artesanal o trabalho é árduo. Exige domínio do mar em canoas e barcos de pequeno porte. Depende do vento, da chuva, da lua e do sol, de força física no arrasto da rede, de precisão na pesca de apnéia (mergulho), e de paciência para capturar o peixe na linha ou sorte para acertar o cardume próximo à praia. Muitos herdaram a profi ssão de pai para fi lhos, mas não querem mais os seus descendentes nessa luta. Na alta temporada turística, um grande número de pescadores se dedica a passeios náuticos e à pesca esportiva. Ou-tros, com apoio da iniciativa privada, estão partindo para o cultivo de ostras e vieiras, já que os mexilhões naturais das encostas acabaram com a extração sem controle ao longo dos anos.

Herança indígenaÉ em Arraial do Cabo que o sistema

indígena de vigia de cardume no alto do morro é usado há mais de 200 anos. O vigia Alex José Teixeira, 78 anos, começou trei-nar o olhar para o peixe na adolescência. De longe orienta os pescadores na canoa para a captura do mogote (200 peixes), cardume (cerca de 500) ou manta (três a quatro mil exemplares). A habilidade do vigia é a garantia de sustento para 20 famí-lias em média. “A pesca aqui mudou muito. Tem muitos peixes que não vêm mais aqui na beira da costa. Os barcos grandes não deixam”, lamenta ele.

Joaquim Rodrigues de Carvalho, o Quinzinho, presidente da Associação de Pescadores de Arraial do Cabo, com 530

Turismo desordenado sufoca Resex

Arrastão na Praia Grande Arraial do Cabo

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associados, explica que na Praia Grande são 42 canoas, que só vão ao mar de 21 em 21 dias para dar tempo dos recursos de renovarem. A comunidade não quer uma superpopulação de pescadores devido a escassez do pescado.

“A pesca artesanal é muito sofrida. Não somos motorizados. Esperamos que o cardume venha ao nosso encontro. Meus fi lhos já pescaram muito, hoje, graças a Deus, estão embarcados como marinheiro e em trabalho de plataforma. O pescador tradicional não tem licença da Seap para pescar sardinha. Só o industrial pode matar. Na época da sardinha não recebemos de-feso e não podemos pescar. Se pegar é en-quadrado em crime ambiental. Isso é uma injustiça. Para cumprirmos nosso dever temos que ter nossos direitos”, reclama.

Vantagem científi caO biólogo e diretor técnico da Fipac,

Paulo José de Azevedo Silva, reúne dados sobre a pesca na ResexMar desde 92, dan-do uma vantagem estatística ao município. Num trabalho contínuo que começou com a tese de mestrado “Onze anos de produção pesqueira na região de Arraial do Cabo”, defendida e publicada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2004, ele alimenta o banco de dados em Arraial do Cabo. Na reserva o mar é piscoso e já foram catalogadas 82 espécies de valor comer-cial entre peixes, moluscos e crustáceos. “Criou-se a reserva, fez-se um modelo, tudo lindo, mas tem que ter fi scalização permanente. Não é questão local, mas nacional. É uma questão de logística. A

PAULO DE CARVALHO, presidente Fipac

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ner saída seria criar a Guarda Marítima e o

Plano de Gerenciamento Costeiro”, avalia Paulo José.

De 1990 para cá a pesca artesanal em Arraial caiu 50% em razão das grandes traineiras industriais com capacidade para armazenar até 130 toneladas de pescado/cada. “Na reserva é proibido, mas eles vêm no peito e na raça. Isso dizimou nosso ca-ção e o dourado diminuiu muito. Grandes barcos que vêm de fora arrastam aqui na nossa cara”, reclama o vice-presidente da Fipac, Paulo Henrique Sodré Cordeiro, ex-pescador e biólogo.

Arma de guerraO presidente da Fipac, Paulo de Car-

valho, classifi ca o sonar usado na pesca industrial como uma arma de guerra contra peixes. “São redes muito grandes. Eles têm denotado os recursos pesqueiros do país. É uma covardia. Ficam dia e noite no mar com sonar rastreando os cardumes. O pescador artesanal, não tem embarcação para ir longe da costa. O sonar deveria ser extinto da pesca brasileira”, defende ele.

Se não cuidar, acabaO presidente da Associação da Reserva

Extrativista Marinha de Arraial do Cabo (Aremac), Eraldo Teixeira da Cunha, avalia que a difi culdade de adaptação às regras de uso da unidade de conservação é o maior problema enfrentado no muni-cípio. Ele lembra que a reserva fi cou sem comando por quase oito anos. “O desequi-librio está grande. Estamos cadastrando as embarcações para saber quem está irregular, e são muitos. Vai chegar uma hora que vamos ter que fazer rodízio na navegação”, diz.

De 2.160 pescadores que já integraram a Colônia de Pesca Z-5 em Arraial do Cabo, o presidente da entidade Manoel Félix de Mendonça (Maneque), 76 anos, calcula que tenham sobrado de 800 a mil pescadores vinculados à colônia, refl exo da falta de dados. A inadimplência dos associados é um problema crônico nas entidades de pesca como ocorre em outras colônias - a Z-4 de Cabo Frio, e a Z-23 de Búzios. “Antes a pesca da Lula em Arraial era uma festa. Numa noite chegávamos a pegar até 11 toneladas. Hoje uma noite rende mil quilos. Isso porque o próprio pescador usa lâmpada fluorescente no fundo para atrair a lula e prejudica a sua reprodução. Que os nossos governantes façam lei para dar valor a pesca. Ainda tem muito peixe, mas se não cuidar aca-ba”, alerta.

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ALEX TEIXEIRA, vigia A pesca mudou, muitas espécies não chegam mais na praia

Sonar deveria ser extinto da pesca brasileira

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Jiddu Saldanha é o que se pode chamar de artista multimídia. Mestre na mímica e amante da poesia, ele agora está focado em dois projetos pra lá de especiais: é diretor artístico do grupo teatral Bicho de Porco (criado pelo ator Bruno Peixoto), e comanda o “Cinema Possível”.“Minha grande paixão, sem dúvidas, é o cinema. No Cinema Possível, fazemos fi lmes em baixa resolução, trabalhamos com equipamentos simples e fazemos a edição em programas caseiros, o que torna tudo mais fácil”, explica ele, orgulhoso dos frutos que já estão sendo colhidos. Este mês, por exemplo, o fi lme Fluxos, interamente rodado em Cabo Frio e estrelado pela cabo-friense Barbara Moraes, será exibido na Universidade de Santo Domingo, na República Dominicana.“Apesar da simplicidade do projeto, diversos artistas renomados no cinema nacional incentivam e fazem questão de participar como

Multimídia

G e n t e

O turismólogo Marco Simas tem uma grande responsabilidade pela frente. Atual secretário de Turismo e Cultura de Arraial do Cabo, ganhou do prefeito Wanderson Cardoso de Brito, o Andinho, a responsabilidade de mudar o perfi l de turismo praticado na cidade, fazendo com que o setor impulsione a economia cabista. Para isso, começou

a fazer um inventário das atrações turísticas, além de ter organizado eventos que fi zeram sucesso de público e crítica, como os shows de Geraldo Azevedo, Luis Melodia, Chico César e Paulinho Moska, entre outros, durante o Fest Verão, no início do ano.“Arraial tem um potencial turístico fascinante, mas precisa de um planejamento adequado, e é nisso que estamos nos empenhando nesse primeiro momento. As pessoas vão sentir uma diferença mais forte em dois ou três anos”, afi rma.Uma das novidades é a elaboração do calendário de eventos da cidade, que prevê, já para este ano, a realização de um festival de cinema. No ano que vem, uma novidade será a feira de Música Popular Brasileira.“Estamos tratando a cultura como potencial turístico, como forma de desenvolver o turismo de qualidade”.

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vonluntários”, ressalta.Natural de Curitiba (PR), Jiddu veio para o Rio de Janeiro durante a conferência Eco 92, apresentando sua arte de mímica. Ficou na capital até 2004, quando se mudou para Cabo Frio em busca de uma cidade menos violenta.“Pelo menos essa era a intenção”, brinca.

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Turismo de qualidade

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I N C L U S Ã O

Ensino excepcionalEm todo o Brasil, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) atende a mais de 250 mil pessoas portadoras de defi ciências intelectuais e múltiplas em mais de duas mil unidades de ensino. O “movimento apaeano”, como é chamado, é o maior movimento social do Brasil e do mundo na sua área de atuação.

instituição está presente em todas as cidades da Região dos Lagos, e em Cabo Frio, onde foi fundada em 1980 pela fi lantropa Joelma Pereira

Fidalgo, já atende a nada menos do que 190 portadores de defi ciência. Eles recebem, diariamente, atendimento em diversas áre-as como clínica ambulatorial e odontológi-ca; pediatria, neurologia, fi sioterapia (com hidroterapia), orientação psicopedagógica, fonoaudiologia, psicologia e assistência social. Fazem parte do programa também

as ofi cinas pedagógicas protegidas, como artesanato, informática e culinária, pintura em tecido, dança, cartonagem, bijuteria, entre outras, que são oferecidas a todos os atendidos com idade acima de 14 anos.

De acordo com a atual diretora da unidade, Nilza Miqueloti, todas as ofi -cinas têm como objetivo criar uma certa independência nas pessoas portadoras de defi ciência.

“Nosso trabalho é adaptá-los à reali-dade exterior e tudo é feito no sentido de criar independência como, por exemplo, ensiná-los a comer à mesa em um restau-rante, abrir a porta de um carro, cuidar da

sua roupa. São coisas elementares, mas que vão ajudá-los no dia-a-dia”, explica.

A Apae-Cabo Frio também é pioneira no projeto Terapia Comunitária, que come-çou em 2008 e que faz parte do Programa de Saúde Mental. O trabalho, que é coor-denado pela assistente social Rosimeire Winter, especializada no método pela Universidade Federal do Ceará (UFCE), reúne familiares das pessoas assistidas pela Apae todos os meses, e também é aberto a comunidade. Nessas rodas, são debatidas as difi culdades e os desafi os de quem tem uma pessoa especial na família.

A diretora educacional Jane Mello lem-

Viviane RochaFotos: Mariana Ricci

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Aulas de dança e exercícios físicos na Apae-Cabo Frio

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36 CIDADE, Maio de 2009

APAE de Búzios tem nova diretora

NILZA MIQUELOTIDiretora da APAE Cabo Frio

bra do papel fi scalizador da instituição.“A Apae faz parte de uma rede de

apoio às pessoas especiais e de cobrança dos direitos delas. Temos um regulamento, um estatuto, uma cláusula de acompanhar e fi scalizar a sociedade em relação aos direitos dos especiais”, afi rmou Jane.

E nessa empreitada, a Apae não está sozinha. Há três anos, uma pesquisa feita a pedido da Federação Nacional das Apaes mostrou que a Apae é conhecida por 87% dos entrevistados e considerada confi ável por 93% deles. Essa credibilidade se refl ete na participação ativa da sociedade. Um exemplo disso é a campanha de doação de recursos através da conta de luz. Quem qui-ser, pode fazer sua doação através da fatu-ra, e o dinheiro é retirado automaticamente mediante autorização do contribuinte.

Inclusão socialA educação pública também tem seu

dever com esses cidadãos tão especiais:

adaptar as escolas para receber em seu con-texto alunos considerados diferentes por suas limitações é uma obrigação que deve ser cumprida pela lei de inclusão social, que determina que os portadores de defi -ciência precisam ter assegurados os seus direitos mais básicos, como o de ir e vir, de estudar, de lazer. Neste sentido, a Apae tem feito a sua parte, encaminhando às escolas municipais adaptadas crianças em idade escolar (7 a 14 anos) e que apresentam condições de frequentar o colégio:

“Algumas crianças já estão relativa-mente adaptadas, mas sabemos que isso não acontece de uma hora para outra. Elas vão para a escola mas continuam sendo assistidas aqui na Apae”, garante a diretora Nilza.

Ajuda prática em Arraial do CaboJá em Arraial, a prefeitura

da cidade encontrou uma ma-neira prática e efi ciente de re-

forçar o orçamento da instituição: entregou a Apae o direito de exploração dos estacio-namentos localizados na Prainha, na Praia Grande e na Praia dos Anjos. Cada turista que estaciona o seu carro em um desses espaços, paga a taxa de R$ 5, que é rever-tida integralmente para a Apae. Segundo o presidente da Apae-Arraial, Elço Vieira dos Santos, essa ajuda representa 70% da sobrevivência da instituição que atende 80 pessoas, e que também recebe algum recurso do governo federal e do governo estadual. A meta, agora, é montar uma en-fermaria para o atendimento de primeiros socorros, mas falta o mobiliário.

“Estamos abertos para receber ajuda de voluntários. Se algum empresário se sensibilizar, estamos precisamos de móveis para a enfermaria”, diz Elço.

I N C L U S Ã O

A NOVA DIRETORIA: Carmem, Janice, Marli, Paulo, Ana, Angela Barroso, Adriana Piotto, Fernanda Quin-tanilha, Maria José, Alfredo Rainho, Rosângela, Elenice, Vilani, Suzana e Mônica.

Já em Búzios, onde a Apae atende 92 especiais, a diretora Ângela Barroso acabou de tomar posse. Ângela, que já foi diretora da mesma instituição entre 2000 e 2005, foi também diretora social da Federação das Apae’s do estado do Rio Janeiro, e nesse novo mandato, que vai até 2010, quer trazer de volta antigos funcionários afastados.“Nos últimos meses, a Apae não funcionou como deveria, e a minha meta agora é readmitir esses profi ssionais que não estão mais conosco. Além disso, em parceria com a prefeitura, quero construir uma quadra de esportes e realizar a ampliação de um espaço para que as mães possam participar da terapia ocupacional junto com os fi lhos. Já temos a nossa piscina aquecida para a hidroterapia, mas a quadra de esportes é um sonho que precisa ser realizado”, declarou Ângela.

Nosso trabalho é adaptá-los à realidade exterior

Alunos fazem atividades manuais orientados por professores

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37CIDADE, Maio de 2009

Troca de comando no 25º Batalhão

m cerimônia realizada no último dia 30, o coronel Adílson Nascimento deixou o comando do 25º Batalhão de Polícia Militar (BPM), e para o

seu lugar foi nomeado o coronel Carlos Henrique Alves de Lima, que comandava o Batalhão de Policiamento em Vias Es-peciais na capital carioca. De acordo com o comandante-geral da PM, Gilson Pitta Lopes, “as movimentações são rotineiras no serviço militar”. O coronel Adilson foi transferido para a Diretoria Geral de Pessoal (DGP), na capital carioca.

Adilson Nascimento foi o único militar a comandar por duas vezes o 25º Batalhão, que, sediado em Cabo Frio, atende aos

municípios de Arraial do Cabo, Armação dos Búzios, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande, Araruama e Saquarema. Em sua última passagem, o coronel diminuiu os ín-dices do crime conhecido como “Saidinha de Banco” ao aumentar o policiamento no centro de Cabo Frio. No entanto, teve que lidar com a ousadia de bandidos perten-centes a facções criminosas, que chegaram a ordenar o fechamento do comério em bairros com Jacaré e Manoel Corrêa.

Sua última ação como comandante foi a prisão de policiais acusados de participar de assalto a pousadas em Búzios.

O coronel Carlos Henrique assumiu promentendo restaurar a imagem da cor-poração perante os moradores e visitantes da Região dos Lagos.

Rafael Peçanha

Mar

iana

Ric

ci

O coronel Carlos Henrique Alves de Lima e, ao fundo, o seu antecessor, coronel Adílson Nascimento

S e g u r a n ç a

E

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38 CIDADE, Maio de 2009

oi quando o governo federal resol-veu construir dois piers de pedra na localidade - mais precisamente na foz do Canal das Flechas - para

facilitar a entrada e saída dos barcos de pesca. O que seria uma solução, no en-tanto, acabou se tornando um problema ainda maior: a obra inacabada provocou uma alteração nas correntes marinhas. No lado de Campos, o mar avança a cada ano, já tendo destruído prédios e estradas. No lado de Quissamã, o que avança é a faixa de areia. A tal ponto que, de um palanque fi xo construído há alguns anos para assistir às competições de surfe, já não se avista as ondas da praia. Nos próximos meses, a Barra do Furado vai virar nas páginas de economia dos principais jornais do país. Este cenário pacato deve dar lugar a um dos maiores complexos portuários do litoral brasileiro, onde se projeta a construção de um porto de apoio offshore e dois estaleiros - investimentos calculados em 700 milhões de dólares e capazes de gerar pelo menos 5 mil empregos diretos e indiretos.

No lado de Campos, o Estaleiro Ilha S/A quer ocupar uma área de 1,43 milhão de metros quadrados (o equivalente a 240 campos de futebol). Outros 500 mil metros quadrados seriam reservados a empresas parceiras, fabricantes de produtos voltados à indústria naval. A outra empresa interes-sada em se instalar em território campista - a americana Edison Chouest - já adquiriu seu terreno às margens do Canal das Fle-chas e tem pronto um projeto para construir 11 berços de atracação para navios, uma área de inspeção de tubos e outra de reparo de equipamentos submarinos. Haverá, ain-da, estrutura de hotelaria, dois helipontos,

Barra do Furado

armazéns e tanques de armazenagem de combustível e água. Quissamã atraiu o in-teresse do grupo coreano STX Europe, que também planeja construir um estaleiro no local. Uma quarta empresa já manifestou interesse em se instalar na região, apro-veitando o clima favorável aos negócios que surge em torno dos setores naval e portuário. Trata-se da Alusa, que pretende investir R$ 250 milhões na instalação de um terminal de estoque de combustíveis e derivados de petróleo.

Por enquanto, a transformação da Barra do Furado em complexo portuário, o que deve multiplicar por cinco a população

local, esbarra justamente naquele velho problema: os piers construídos pelo go-verno federal na década de 70. Além de redesenhar o litoral, as correntes marinhas assorearam a entrada do Canal das Flechas, cuja profundidade, em vários trechos, che-ga a apenas alguns centímetros. Se o canal mal comporta a passagem de pequenos barcos de pesca, o que dizer da entrada e saída de navios?

A solução do problema pode estar na parceria entre as prefeituras de Campos e de Quissamã, governo federal e governo estadual. Juntos, eles pretendem levantar um montante de R$ 120 milhões que serão

ROSINHA GAROTINHOPrefeita de Campos

Se você não mora em Campos ou em Quissamã, provavelmente nunca ouviu falar na Barra do Furado, uma comunidade pesqueira com cerca de 2 mil habitantes nascida no limite entre os dois municípios. Até a década de 1970, este lugarejo de mar agitado era o paraíso dos pescadores e dos surfi stas.

Gustavo Araújo

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ANTIGO PARAÍSO de surfi stas deverá se transformar num dos principais pólos de desenvolvimento do interior do estado

D e s e n v o l v i m e n t o

F

Tenho certeza que este é um projeto que não tem volta

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39CIDADE, Maio de 2009

usados na dragagem do leito do canal, cuja profundidade terá de chegar a 7 metros, e na instalação de um sistema de by pass, com tecnologia australiana, que possibili-tará a retirada permanente de areia da foz do canal. A prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, e o prefeito de Quissamã, Ar-mando Carneiro, já se reuniram em Brasília com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e com o ministro da Secretaria Especial dos Portos, Pedro Brito, que se comprometeram a destinar R$ 50 milhões através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Outros R$ 20 milhões virão do governo do estado. Campos en-trará com R$ 35 milhões e Quissamã, com R$ 15 milhões.

“Tenho certeza que este é um projeto que não tem volta; não só pelos nossos es-forços, mas também porque os empresários já adquiriram áreas para começar a cons-

truir”, avalia a prefeita Rosinha Garotinho, que já pensa num investimento igualmente importante: a melhoria do acesso à Barra do Furado, onde as estradas estão em pés-simo estado de conservação.

Na segunda quinzena de março, o dire-tor de Planejamento Portuário da Secretaria Especial dos Portos, Eduardo Zuma, visitou a Barra do Furado, acompanhado dos dois prefeitos, e afi rmou que o governo federal tem pressa na dragagem do canal, cujo es-tudo de impacto ambiental já foi realizado. Zuma acredita que as obras devem começar no início do segundo semestre. As etapas seguintes virão quase que simultaneamen-te. “Vamos começar a construir assim que a dragagem do Canal das Flechas tiver começado”, garante o gerente de projetos da Edison Chouest, Matheus Vilela, que considera o complexo portuário de vital importância para todo o país.

DESCARTÁVEIS

CONFEITARIA & SORVETE

FESTAS

PAPELARIA

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CENTRO - CABO FRIO

LSopeDIS

K

Fique Tranquilo !!! Nós entregamos para você ...

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Com quantos paus se faz Roberto Menescal revela os segredos de um dos barquinhos mais famosos do mundo

João Phelipe SoaresFotos: Vinícius Condeixa

A Bossa Nova, marcada por um misto de ousadia e otimismo, revelou artistas pra lá de conhecidos aqui e do outro lado do oceano. Alguns se aventuraram como intérpretes, outros se arriscaram como compositores e sem a menor intenção fi zeram uma grande revolução no cenário musical nacional. No início foram muitos questionamentos sobre a nova maneira de se fazer música, mas a leveza do novo ritmo caiu no gosto popular e completou, no ano passado, 50 anos de história. São incontáveis as composições de sucesso que fi zeram e fazem parte do cotidiano. Doces e inconfundíveis melodias já serviram como pano de fundo de novelas, fi lmes e, principalmente, das cenas da vida cotidiana. “Chega de Saudade, “Benção Bossa Nova”, o que pouca gente sabe é que algumas dessas músicas, e outras, tiveram como fonte de inspiração a cidade de Cabo Frio dos anos 60. Para falar melhor sobre essa envolvente relação da música com a cidade, Roberto Menescal abre a porta do seu passado nos convidando para uma viagem musical.O compositor dispensa apresentações. É conhecidíssimo como um dos fundadores da bossa nova, que se apresentou ao mundo na década de 60. Dotado de uma versatilidade musical, o capixaba mais carioca de todos os tempos desenhou o seu destino ainda na adolescência. Foi tudo por um acaso - será? Aos 11 anos ganhou uma gaita do seu pai e tirou notas do instrumento sem o menor conhecimento técnico. Surpreendendo a todos pela precocidade, arrancou uma frase do seu pai que, segundo o

compositor, foi determinante na sua vida: “Você leva jeito para a coisa!”Depois de ter experimentado a gaita, o piano clássico e o acordeom, Menesca, como é carinhosamente chamado pelos seus amigos, caiu nos braços do violão e nunca mais a sua vida foi a mesma. Roberto Menescal começou a fazer composições, o que lhe rendeu, após alguns anos, fama internacional.Já dizia sua música, “Sem intenção nossa canção, vai saindo deste mar e o sol beija

o barco e luz, dias tão azuis”. E foi assim, sem pretensão, que nasceu, em 1961, uma das mais conhecidas composições da música brasileira: “O barquinho”.A música, que estourou nas rádios durante a tal época, foi fruto de uma tarde de passeio pelos mares de Arraial do Cabo, que na época era distrito de Cabo Frio. Saudoso, o compositor revela sua história. “Eu sempre ia à Cabo Frio. Meus amigos me cobravam, pediam para levá-los comigo. Até que

ROBERTO MENESCALCabo Frio dos anos 60 inspirou canções famosas

E S P E C I A L

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uma canoaum dia eu combinei e levei todo o grupo. Estávamos eu, Nara Leão, Ronaldo Bôscoli, Carlos Lyra, entre outros, passeando pela Ilha do Cabo (também conhecida como Ilha do Farol) quando, de repente, o barco enguiça por volta das 15h. Ficamos à deriva durante duas horas. E nesse meio tempo, eu comecei a brincar com a manivela do motor, que fazia um barulho do qual eu tirei a melodia da música, mas tudo de brincadeira! No fi nal da tarde, fomos resgatados por uma traineira que vinha da Bahia. E foi nesse momento que começamos a cantar: o barquinho vai, a tardinha cai...”Um dos primeiros intérpretes da música foi Pery Ribeiro, mas quem fez a canção cair de vez no gosto popular foi a cantora Maysa. Em janeiro o Brasil pode conferir na minissérie “Maysa, quando fala o coração” o estrondoso sucesso que a música fez naquela época. “Isso nos ajudou muito, porque a Maysa era um grande nome e deu o seu aval à Bossa Nova. Foi bom demais!”. E o barquinho passou a deslizar pelas ondas das rádios

A cidade proporcionou diversos momentos de sinestesia para os cariocas radicados pelas terras de Américo Vespúcio. A relação daquele grupo de amigos com a cidade foi intensa.“Cabo Frio foi inspiração de grande parte de nossas músicas, mas o pessoal de lá não acreditava”, explica o músico ao relembrar de um momento engraçado durante um dos passeios de barco pela cidade, onde o barqueiro perguntou à ele e ao Bôscoli sobre a profi ssão de cada um. “Eu não sabia o que falar para o Cecí, que sempre nos levou para pescar no seu barco. Quando o Ronaldo Bôscoli disse que éramos artistas, ele não acreditou. Mas de repente começou a tocar no rádio “Nós e o mar”, e o Ronaldo pediu para o Cecí prestar atenção na música. No fi nal, o locutor disse: ‘Nós e o mar, com Maysa, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli’. Foi quando o Bôscoli falou para o barqueiro: e aí, viu? Mas o Cecí não se deu por satisfeito e disse que no mundo poderia existir vários homens chamados Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Ele nunca acreditou, era muito distante da realidade dele ter dois artistas dentro do seu barco, em uma cidade pequena”.A relação de Roberto Menescal com Cabo Frio vai além das suas composições. Foi em uma das viagens à cidade, na década de 60, que ele conheceu sua esposa. A lua-de-mel não poderia ter sido em outro lugar. O casal permaneceu no local durante dois meses vivendo de pesca, cercado pela brisa inconfundível que percorria o vilarejo.Foram muitos anos de história, de trabalho intenso na construção de uma carreira bem sucedida, mas apesar do tempo de estrada e do sucesso, o músico deixou de compor e tocar durante 16 anos. Nesse tempo, ele atuou apenas como produtor musical de grandes nomes que variavam entre Sidney Magal a Chico Buarque, marcando a sua pluralidade musical. Falando em trabalho, o público pode conferir seu último DVD, cujo título não poderia ser mais adequado: “50 anos de Bossa Nova” contou com a participação de cantores como Pery Ribeiro, Wanda Sá e Leila Pinheiro, entre outros. Um frescor para a memória musical. O

próximo lançamento será o “Bossa Jam”, em parceria com o guitarrista do “The Police”, Andy Summers, acreditando em mais uma expansão para a música brasileira. Esse está sendo um ano um tanto quanto diferente para o músico, que não fará novos projetos para se dedicar aos afazeres da sua gravadora. E para além do universo das notas musicais, esse também foi o ano do reencontro com a cidade. Em janeiro, após uma rápida passagem para festejar o aniversário do seu irmão, aquele, segundo o próprio, que “foi o lugar mais lindo do mundo”, se “desconfi gurou”.“Já fi quei impressionado por não conseguir chegar fácil ao lugar que o meu irmão mora, onde já tive também uma casa. Para chegar ao local da festa, não tive uma grande sorte, pois peguei um daqueles dias em que a água do canal, que normalmente é cristalina, estava quase preta! Depois que soube que foi por causas não normais. À noite, passava num canal de TV local, uma vista do calçadão da Praia do Forte, aí então pirei, pois quando me lembro dali somente com dunas... não entendi mais nada. Resolvi então não passar por mais nenhum lugar e guardar na minha memória o que foi para mim o lugar “mais lindo do mundo” e que me deu inspiração para grande parte de minhas músicas.”

de todo o país. Aquele menino, que aos 11 anos começou a se envolver com a música, viu as portas do mercado fonográfi co se abrindo.Essa não foi a única composição feita nas terras da Região dos Lagos. O músico relembra um dos momentos em que, sentado nas dunas da Praia do Pontal (entre Cabo Frio e Arraial do Cabo), ao lado do seu amigo Ronaldo Bôscoli, fez nascer “Nós e o Mar”. “Lembro que eu e Bôscoli estávamos sentados na Praia do Pontal durante o entardecer. De lá, tinha-se visão de toda a extensão da Praia do Forte, mas à medida que o sol foi se pondo, a praia foi sumindo. E por isso, a primeira frase da música foi ‘Nossa praia que não tem mais fi m, acabou’”.

Menescal é precursor e ícone da Bossa Nova

grgrgrggrgrgrgrgrggggrrrgrgggggggg ananananaaana dedeededeedee n nnnn nnnn nnnn nnomomommmomommmmme e e e eeeee eee e ee deedededdeddedeuu uuu uuuu uu o ooo oo ooooNNoNoNoNoNoNNoNNNoNoNNNN vavavavaavvavavva.. .. ........ . FoFoFoFoFoFoFoFFFFFFoiiii iii i i bobobobobobobobobobobobobboooooom m m mmmmmmmmmmmmmm mmm m dedededededeedededdemamamamamamamamamamaaiiiiiiii

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42 CIDADE, Maio de 2009

O que signifi ca a vitória da oposição nas eleições da Acia?

Não considero como uma vitória da oposição. Digo que foi uma vitória do empresaria-do. A nossa oposição foi natu-ral, porque fi zemos as críticas que precisávamos fazer.

O que sentiu ao receber a confi rmação da vitória por apenas um voto de diferença para o segundo colocado?

Percebi que só precisava de um voto para ganhar deles todos (risos).

Quantas empresas estão fi liadas à entidade e quantas existem em Cabo Frio? A Acia consegue representar os empresários da cidade?

Filiados em dia temos entre 410 e 430, esse número varia um pouco a cada mês. Quer dizer, nem 10% das empresas estão fi liadas. Vamos fazer uma campanha de novas fi liações e, paralelo a isso, aumentar a quantidade de serviços presta-dos, porque senão o cara pensa: “pra que vou me fi liar?” Vamos criar produtos que tornem a entidade mais atraente. Nossa meta é chegar a duas mil em-presas fi liadas.

O senhor assumiu prometendo auditoria nas contas da Acia. Existe alguma suspeita?

Isso é um procedimento normal, já que a antiga gestão

passou dez anos no comando da entidade. Temos a obrigação de fazer um levantamento e prestar contas à sociedade. O que queremos fazer é uma ação corretiva.

O que o senhor encontrou ao assumir a presidência, do ponto de vista administrativo?

Um caminhão de erros. Há funcionários trabalhando em uma função e recebendo salário de outra função. Ou seja, isso precisa ser corrigido até mesmo para evitar que esses funcio-nários sofram alguma ação trabalhista, porque existe uma situação irregular. Mas não é uma coisa generalisada, posso dizer que 20% do funcionalis-mo está nessa situação.

A Feira Forte está em cima (será entre os dias 11 e 14 de junho). Como está o planejamento? Haverá tempo para mudanças?

Mudança não tem como fa-zer porque o tempo é curto. Vou conduzir a feira do jeito que ela foi implantada, mas vou buscar dar mais transparência com a divulgação dos gastos, dizer quanto e onde vamos empregar

o dinheiro, enfi m, vou buscar um espaço maior na mídia para isso. É preciso agir com trans-parência porque, se eu cometer algum erro, como vou corrigir? Alguem vai ter que me avisar, chamar a atenção para o que está acontecendo.

Qual será o estilo da gestão José Martins?

O mais simples possível. E também transparente.

O senhor apoiou o deputado Alair Corrêa durante a campanha para prefeito, e diversos correligionários do segundo colocado se empenharam na sua campanha à Acia. Qual a sua ligação com o deputado, e em que isso pode interferir na administração da entidade?

É muito importante escla-recer essa questão. Teve muita gente do atual governo que também caminhou comigo nesta campanha. Minha cam-panha esteve voltada para os empresários, e não para um grupo político. A política eu faço da porta para fora. Quando entro no meu restaurante, por exemplo, acaba a política e

Flávio Pettinichi

JOSÉ MARTINSPresidente da

Associação Comercial de

Cabo Frio

Depois de um processo eleitoral tumultuado, em que a votação chegou a ser adiada por

suspeita de irregularidades, o novo presidente da Associação Comercial, Insdustrial e

Turística de Cabo Frio (Acia), José Martins (Restaurante do Zé), diz que sua missão

agora é unir o empresariado e fazer com que a entidade se torne mais representativa.

Tomás Baggio

10 PERGUNTASJosé Martins

eu passo a administrar. Será a mesma coisa na Acia: da porta para dentro não existe grupo político. Meu grupo político é o empresariado.

Como está a relação com o governo municipal. Depois que assumiu a Acia, o senhor já esteve com o prefeito? O que discutiram?

A relação é ótima. Já estive com o prefeito algumas vezes para discutirmos a Feira Forte. Assim como nos outros anos, a prefeitura será parceira do evento.

Quais serão os projetos de maior destaque na sua administração?

Estamos montando uma assessoria de projetos especiais junto à presidência, e a princi-pal meta, a princípio, é desen-volver o primeiro núcleo de incentivo ao varejo da região. Vamos trabalhar com educação corporativa, dar cursos aos trabalhadores e empresários, fomentar novos negócios. En-fi m, antes de pensar em gerar novos empregos, temos que melhorar a qualidade do que existe em nossa cidade.

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43CIDADE, Maio de 2009

Ernesto Galiotto é empresário

A r t i g o

Iuri Guerrero

Fazendas Orgânicas na França

u estou cansado da cidade e quero ir pro mato. Cinco meses trabalhando de barman em Londres e minha conta

no banco continuava magra. Ao contrário dos planos. Próximo ano (2009) estava marcado na agenda: tempo de aprender Francês. Se estivesse em São Paulo, a passagem até Paris custaria algo em torno de R$ 3000. No meu caso, o percurso foi bem menor e bem mais barato.

A estratégia para França nasceu em um dia corriqueiro na terra da rainha. Lendo o suplemento de turismo do jornal inglês The Guardian (guardian.co.uk), o interior francês saltou aos olhos. Trabalho voluntário em fazendas orgânicas foi a forma encontrada de juntar o útil ao agra-dável. Nascido em 1971, na Inglaterra, WWOOF (‘World wide Opportunitties in Organic Farms’, em português, opor-tunidades mundiais em fazendas orgâ-nicas) já está pre-sente em mais de 30 países, dentre eles o Brasil.

Até a porta da fazenda, o processo é todo virtual. Destino escolhido, então é preciso fazer o primeiro investimento. A lista das fazendas participantes de um determinado país é vendida, 15 euros foi o preço francês. O próximo passo é entrar em contato com os participantes de algu-ma região. Aqui por essas bandas, nessa época do ano é bem frio, outro hemis-fério. A minha escolha foi óbvia então, vou para o sul da França. No entanto, há tempos que a lareira é o cantinho mais disputado da casa.

O endereço da fazenda anotado é apenas uma vaga ideia do destino fi nal. O trem apitou a estação e desembarquei assustado. Beziers é uma pequena cidade francesa que fi ca a 180km de Marseille. Ainda na metade do caminho, já foi pre-ciso praticar o francês. Onde posso pegar um ônibus para Saint Pons de Thomière? Esse era a vila mais próxima da fazenda e onde Rosalind estaria me esperando. O motorista do ônibus nao entendeu para onde eu estava indo e acabei perdendo

o ponto. Fui até o destino fi nal, no topo de uma montanha vizinha e a dona da fazenda estava quase desistindo de mim quando cheguei uma hora atrasado depois da odisseia.

Há mais de trinta anos que Rosalind abandonou sua terra natal, Inglaterra. Ela faz parte daquela categoria bastante invejada e pouco copiada: hippie-rodou-o-mundo-ja-fez-tudo. A fazenda foi comprada há uns dois anos e desde então ela vem recebendo wwoofers do mundo inteiro. Entre os 17 hectares de fl orestas de carvalho, um riacho, dois cavalos e dois cabritos, as possibilidades orgânicas são diversas. Hoje a horta esta coberta de neve, mas a última colheita de tomate, berinjela, cebola e batata ainda frequenta a mesa de jantar.

O maior objetivo é criar novas formas de vida ecologicamente sustentável. Des-de quando cheguei, já preparamos um

terreno para as ba-tatas, uma nova casa para as galinhas e cercamos uma área para os cavalos. Is-rael, EUA, Nova Zelândia ja tiveram seus representantes, além do brasileiro aqui. Todos em bus-ca de experiências e diferentes visões do

processo entre a semente e a colheita. Outra faceta dessa iniciativa é a pos-

sibilidade de estudar uma língua estran-geira. Viver em uma fazenda orgânica, participando do cotidiano de uma família francesa pode ser muito mais efi ciente que anos de escola de idiomas. Apesar de inglês ser a língua corrente onde estou atualmente, a próxima parada será com certeza francofone. O visto de turista para brasileiros, de três meses, é feito no aeroporto e a gramática pode vir na bagagem de mão.

O dia-a-dia na fazenda continua sendo determinado pelo clima. Ontem foi a neve que nao deu trégua. O trabalho se limitou a cortar lenha para a lareira. Ainda assim, outra lição da economia verde: a madeira vem de arvores mortas e o trabalho de um dia é sufi ciente para uma semana de aquecimento. Wwoof na França prome-te muito mais do que croissants e fotos com a Torre Eiffel. As batatas que foram plantadas já devem estar tomando corpo, assim como o meu francês. Au revoir.

E

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44 CIDADE, Maio de 2009

Texto e fotos:Pedro Paulo Campos

m dia de muitas nuvens manchando o céu azul e vento constante foi o palco da 28ª edição da regata Tran-sararuama, realizada no início do mês

passado. A competição que percorre toda a extensão da Lagoa de Araruama reuniu, este ano, 66 embarcações de diversas classes.

Os 48 quilômetros característicos do percurso (que ligava as sedes de Cabo Frio e Araruama do Camping Clube do Brasil - CCBB) foram, nesta edição, redu-zidos para 35 quilômetros, com a chegada sendo transferida para o Clube Náutico de Araruama.

“A mudança foi provocada por uma ação tresloucada, criminosa e irresponsá-vel da antiga administração da cidade de Araruama, em conjunto com a empresa Águas de Juturnaiba”, disparou o presi-dente nacional do CCBB, Luis Cláudio da Silva, referindo-se à desapropriação e destruição da sede do clube na cidade para a construção de uma Estação de Tratamen-to de Esgoto.

Com isso, a chegada da regata passou para o Clube Náutico, próximo ao centro de Araruma. Segundo os organizadores, a união um tanto forçada com o clube veio em benefcício do evento e deverá contribuir para aumentar o número de competidores na próxima edição, já que a proximidade com o centro conferiu maior visibilidade à regata, acreditam.

Transararuama reúne 66 embarcações e inaugura novo percurso.

O evento foi acompanhado de perto pelo prefeito de Araruama, André Mônica, que foi homenageado ao fi nal . O chefe do executivo fez questão de confi rmar o apoio da sua gestão aos esportes náuticos que, segundo ele, “é a melhor e mais saudável forma de mostrar ao país, e ao mundo, que as ações no intento de preservar a lagoa estão dando certo”. O prefeito também declarou pretender transformar a cidade num pólo de vela na região.

O percurso foi feito em pouco mais de quatro horas, e o primeiro lugar na classifi cação geral fi cou com o iniciante Breno Mendonça Francioli, que competia na classe Optmist. Ele recebeu das mãos do Comodorodo do clube náutico de Ararua-ma, José Alberto de Andrade, o troféu e a fi ta azul, prêmio máximo da edição.

Na Classe Laser, que largou de Cabo Frio, o vencedor foi o velejador Luiz Je-rônymo. Na Classe Hobby Cat, que largou de São Pedro da Aldeia, venceu Airton Von Sohsten de Medeiros na categoria 14, e Carlos Afonso Sodré na 16. Na Classe Dingue, que também largou de São Pedro venceu Jorge Cesar de Oliveira Guedes, tendo como proeiro José Paulo de Araujo

Na Categoria Catavento chegaram em primeiro Robson Conceição de Brito e seu proeiro Bernardo Bustamante. O jovem Marco Antônio Pinheiro confirmou o favoritismo, vencendo na categoria Laser standard junior

A Classe Optimist, que faturou o prê-mio principal, largou da praia do barbudo, já em Araruama.

BRENO Mendonça Francioli, da classe Optmist, recebeu o troféu principal das mãos do comodoro José Alberto de Andrade

VELAS NA RAIA

E s p o r t e

U

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45CIDADE, Maio de 2009

Armação dos Búzios também foi palco de uma bela disputa de vela no mês passado. Na já tradicional Buzios Saling Week, o veleiro Touchet Super, do capitão Ernesto Breda, liderou a prova com 100% de aproveitamento, ganhando quatro das cinco regatas disputadas entre os dias 18 e 20 de abril.

“Todo o mérito desta vitória é da minha tripulação, estamos muito bem afi nados e o resultado é apenas fruto deste entrosamen-to. Estou muito Feliz”, comemorou Ernesto.

Em Cabo Frio, a Copa Pé de Vento teve a primeira de 10 etapas que serão disputadas no decorrer deste ano. A disputa foi na Praia das Palmeiras e reuniu amantes e iniciantes no esporte. Um grande sucesso, segundo os organizadores.

Búzios Saling Week foi destaque

Encontro de campeões em Búzios

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Primeira etapa da Copa Pé de Vento movimentou a enseada das Palmeiras

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ontinua a negar que sabia das ações dos “40 Ladrões & Associados”, aceitou o presidente do BC que

entrou com a recomendação de comprar Letras do Tesouro americano, acumulan-do 220 bilhões de dólares - e uns 30 já foram embora -, o que ajudou a encher a bolha imobiliária americana, o maior conto do vigário em todos os tempos. 50 trilhões de dólares (é isso mesmo, trilhões), equivalentes a 70% do Produto Mundial, desapareceram: só existiam nos livros de contabilidade. (Quem, em Cabo Frio e Búzios, por exemplo, com o valor da terra artifi cialmente valorizado - uma variação da vigarice que resultou na crise americana -, comprou à vista um imóvel por 300 mil entende isso: comprou um “bonde”. (CIDADE/Nov 07). Se con-seguir 150 mil numa revenda mandará rezar missa. Financiado, a mensalidade incide sobre um valor nominal que é o dobro do de mercado. Paga, sabe que se “casou” com o imóvel sem possibilidade de divórcio amigável, pode se tornar inadimplente e perdê-lo). A crise tem nome: ganância. Disse Lula: “Lá nos EUA ela é um tsunami; aqui, se ela che-gar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar” (26/10/08). Faturou na popularidade exigindo de Obama provi-dências, mas em março foi pedir arrego, Mãinha Dilma às fan-farronices acrescendo: “Os dois têm trajetórias políticas parecidas”. Barbaridade chê!

A festa foi ótima. No fi nal de 2003 tinham-se aqui 45 milhões de ce-lulares. Em 2008 che-gou a 150 milhões. O americano imprimiu dólar, o que só ele pode fazer, como se quisesse esgotar o estoque de papel, produzindo uma espetacular desvalo-rização da moeda que compensou o aumento

do preço do barril de petróleo. E mandou ver: exportou muito, particularmente hi-poteca de imóvel localizado em alguma cidadezinha no Arizona e que está com algum banco em algum lugar do mundo. O banco, que esperava receber até 15% a.a. de lucro, o comprador do imóvel tendo contraído a dívida nos Estados Unidos por 9%, já sabe que não vai receber um centavo. Resta-lhe pendurá-la na parede, como faz quem emoldura cheque sem fundos e coloca um aviso “Não aceito cheque”. Nunca o mundo se encontrou tão dependente do império americano. Se tosse vamos todos para a UTI com pneumonia dupla. O livro A Terceira Onda deve ser relido tendo em mente que Obama decidiu reativar a indústria siderúrgica, coisa da Segunda Onda, que é onde ainda estamos. Precisa criar empregos enquanto aqui a proposta é arrombar o “Cofrinho do Mantega”, o Fundo Soberano Nacional. Foi fácil prever que seria assim. (CIDADE/Jul 08). Lula repete “Não sei de nada”. Era o que Nixon dizia. É um brincalhão. Caso se matricule numa escolhinha de mer-gulho, por correspondência, quando for fazer a prova prática tentará se esquivar: “Não sei nadar!”. Capricha no sotaque: barbaridade chê!

Barbaridade, chê!Ernesto Lindgren (*)

P o n t o d e V i s t a

ERNESTO LINDGREN é sociólogo

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Livros

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Octavio Perelló

PÉROLAS DAS ESTANTES O homem adulto, cioso de seu pensamento e de sua consciência, acoberta-se no seu individualismo e olvida totalmente que este mesmo pensamento e esta consciência ele os deve à sociedade.(Paul Chauchard, A Linguagem e o Pen-samento, Difusão Européia do Livro, 1967, 134 páginas)

MÚSICA, ÍDOLOS E PODERDO VINIL AO DOWNLOAD (Nova Fronteira, 2008, 296 páginas), de André Midani.

Como o próprio autor avisa no Prólogo, irão decepcio-nar-se os leitores que forem buscar, nesta fantástica au-tobiografi a, considerações intelectuais sobre a música brasileira, revelações sobre as relações de intimidade com grandes artistas, ou projeções a respeito da indústria fonográfica. O sírio André Calixte Haidar Midani - um dos maio-res nomes da indústria fonográfica mundial, ex-presidente da Phonogram (atual Universal Music), com passagens marcantes por outras companhias

como a EMI-Odeon, Imperial Discos, Capitol Records e Warner Music -, optou por escrever a história de um homem de negócios fascinado pela personalidade dos artistas, que teve que conciliar o sagrado (a música) e o profano (o lucro). Trata-se do homem a quem podemos agradecidamente culpar pela repercussão da Bossa Nova, da Tropicália, da MPB e do rock nacional, que muito provavelmente não teria ocorrido da maneira como se deu, sem o empenho e o to-que de Midas desta personalidade sobre a qual o jornalista Zuenir Ventura afi rma que se não existisse, não poderia ser inventado, pois seria inverossímil demais. Escrito em lingua-gem clara e objetiva, narrando fatos que muitas vezes soam quase como improváveis, nos dando, contudo, a prazerosa impressão de estarmos em contato com as várias vidas de André Midani, este livro é uma enxurrada de descobertas, fundamental para o preenchimento de lacunas sobre a história da cultura musical brasileira a partir da fi nal da década de 1950. Entre muitos fatos curiosos que envolvem a universalização da música pop, destaca-se o lançamento no Brasil, com estrondoso sucesso, da canção francesa “Je t’aime moi non plus”, de Serge Gainsbourg - gravada por ele e Jane Birkin -, que foi censurada por ordem direta do Vaticano, que a considerava pornográfi ca, e teve seu registro cassado, culminando no inacreditável episódio em que o Exército comicamente cercou a fábrica da gravadora com o intuito de destruir todos os discos que encontrasse.

O PODER DOS BOATOS(Campus, 1ª. Edição, 2009, 304 páginas), de Nicholas Difonzo, tradução de Alessandra Mussi.

Neste livro encontramos interes-sante abordagem sobre o que são boatos, por que os espalhamos, damos ouvidos e acreditamos ne-les. Para o autor os boatos são um fenômeno intrínseco das pessoas e são gerados por aqueles que estão em situações incertas ou duvidosas e buscam uma explicação. Dentre os diversos tipos de boatos, os mais comuns são aqueles que expressam algo muito desejado e também os que denotam uma forma de propaganda. Segundo estudos das fofocas militares durante a Segunda Guerra Mundial, os boatos difun-diam as informações de forma precisa e mais rapidamente que os canais ofi ciais.

ELES FORAM PARA PETRÓPOLISUMA CORRESPONDÊNCIA VIRTUAL NA VIRADA DO SÉCULO(Companhia das Letras, 1ª. Edição, 2009, 264 páginas), de Ivan Lessa e Mario Sergio Conti.

Lançamento mais que oportuno em época onde o correio eletrônico via internet está mais que conso-lidado como meio de comunicação entre pessoas, este livro reúne os e-mails trocados entre os jornalistas Ivan Lessa e Mario Sergio Conti entre os anos 2000 e 2001. O detalhe sobre o material desta obra é que tal correspondência foi mantida publicamente.

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C l á u d i a S o u z a L i m a A z e ve d oO P I N I Ã O

Ao meu póstumo primo e grande amigo Democrinho

A PRIMEIRA CRÔNICA(com grande infl uência de Machado de Assis)

quela casa já não era a mesma dos meus tempos de menina.

Não tinha mais o cheiro gostoso dos bolos da tia Shirley, nem mesmo o seu sorriso largo, prazeroso, do olhar de quem via a molecada saboreando os seus qui-tutes. Já não tinha mais o verde vivo das plantas diariamente regadas e acarinhadas por ela. Ainda assim, aquela casa tinha um QUE inexplicável...

Aquele ar já não tinha mais os cânticos do meu primo, nem os seus sutis acordes ao violão, mas continuava tendo a canção no ar, a literatura de Machado e a melo-dia de Vinícius, porém, agora, um pouco desafi nadas.

A casa já não tinha as nossas carícias ingênuas, primos queridos, que apesar dos poucos encontros, eram autênticos e alegras, visto que a nossa felicidade era ver a felicidade de uns dos outros, mesmo que forçosa a nós mesmos. Eram momentos poucos e únicos, e, por isso mesmo, eram mágicos.

Nós, os primos, ouvíamos com olhos fi xos de interesse as histórias de nossos pais e tios, contadas detalhadamente, inú-meras vezes, com riquezas de improvisos; histórias lindas, que tinham por narrador, o maior especialista em Camões (perdoe-me, interessa leitor assim dizer, posto que é, orgulhosamente, o meu pai), o grande filólogo Leodegário; outras, narradas tão enfaticamente que podíamos sentir a presença de Elizete Cardoso cantando na rodas, com tio Demócrito compondo com seu largo e fácil sorriso... poemas sendo criados ali, na hora, por grandes poetas, quase que anônimos...

Naquele tempo, só pensávamos no quanto era bom estarmos juntos. Nas ruas divinas de terra de Cabo Frio, implorando por asfalto aos olhos dos políticos e tão confortáveis aos nossos pés sem sapatos.

Era só atravessar a rua que, logo ali, nos 15 passos dados descalços naquela ruela de terra, tínhamos, do outro lado, a maior diversão do planeta. A casa dos Tios. Nenhuma lição de casa, sem hora para dormir, sem nem mesmo ter que to-mar banho, sem cobranças... eram apenas duas famílias que, na verdade, era uma, a dos Azevedo, urgia interagir, integrar, produzir, fazer algo de bom, juntas.

Valia muito o velho dito popular, não importa ser desafi nado, o que importa é cantar! Eu, particularmente, adorava esta parte, pois o dom musical da família tinha fi cado todo com meu irmão. Eu era capaz de cantar altíssimo com potência de voz, da música mais moderna a mais antiga, sabendo as letras inteiras de cor, coisa de que os músicos, muitas vezes, se esque-cem, mas, a desafi nação era ruidosa e por algum tipo de milagre, só era audível aos que não eram parentes.

Não sei bem quando se fez a ruptura desta magia infanto-juvenil. Infelizmente temos esta estúpida obrigação de “cres-cer”.

Cabo Frio, antes terra de sonhos e qui-tutes, passou a ser uma província pequena. Penso que este novo conceito geográfi co foi adquirido quando de minha volta dos estudos nos Estados Unidos e junto com esta ruptura me fi z entediantemente adulta. Deixei de ver as metáforas que me eram espontaneamente tão autênticas e passei a ver os superlativos. Riquíssimo, poderosíssimo, inteligentíssimo (este, va go, nulo).

Com o passar dos anos, começamos a ir menos a Cabo Frio. A nossa casa foi invadida pelo mofo, apesar dos caprichos e cuidados de mamãe e o carinho pelos livros que meu pai tinha, os livros que lá estavam já não eram mais lidos por nós... E a tristeza dos livros... Ah, a tristeza dos livros... Não há nada de mais triste neste Mundo do que quando os livros começam a fi car tristes pelo nosso esquecimento é como se o “H” da HISTÓRIA começasse a desbotar. Se ninguém fi zer nada por ele, o H, o que será do I? Ninguém que ama a história quer que ela acabe. Caro leitor, não deixemos que a história chegue ao seu último A.

A casa dos Tios ainda está lá. A casa de chão de terra e Dó Maior, onde se fez a minha juventude. Poética, culta, descalça e desafi nada como, infelizmente, poucos Brasileiros podem ter, essa mistura espe-tacular de Camões e Vinícius de Moraes, onde, ainda hoje sentimos a presença do violão bem tocado de Democrinho que cantou e encantou o Mundo. (irmão da afi -nada Alessandra, fi lho de Tio Demócrito, parceiro de Elizete) onde agora me vejo adulta, sem o romantismo de ontem, sem o primo Democrinho, sem nenhum falso superlativo e com sapato nos pés.

Ah, que saudades dos bolos da tia Shirley...

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R E S U M O

Movimento das dunas é motivo de preocupação no PeróUm estudo do Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro está atento ao movimento das dunas do Peró. No último dia 29, uma equipe esteve em Cabo Frio para medir o avanço das dunas sobre as casas do bairro. O assunto é antigo e foi discutido pelos geólogos Francisco Dourado e Antônio Soares durante o 12º Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, em Goiânia, em 2005. Segundo Dourado, o Serviço Geológico do estado iniciou o trabalho depois que moradores da região tiveram bens soterrados pelo processo de movimentação das dunas. “Há cinco anos estive no local e uma coisa me chamou atenção, havia um poste que já estava com a base coberta pela duna. Desta vez procurei pelo poste e não achei, pensei que alguém pudesse tê-lo retirado de lá. Bastou procurar mais um pouco para localizá-lo, desta vez ele estava totalmente soterrado”, contou Francisco Dourado.De acordo com o geólogo, o que se pôde concluir é que as dunas do Peró continuam em movimento. “No futuro, a tendência é que a duna cobrirá tudo aqui”, previu Francisco Dourado durante visita ao Peró.

Mais uma prefeitura da Baixada Litorânea está apta a conceder licenças ambientais a empreendimentos de pequeno e médio porte. No mês passado, a Secretaria de Meio Ambiente de Rio das Ostras recebeu documentos e inciou o processo de licenciamento das atividades de uma retífi ca de motores, uma lavanderia e um condomínio residencial.Agora, as atividades serão vistoriadas por técnicos da Secretaria de Meio Ambiente e instruídas a reduzir a emissão de poluentes.

Congresso reúne 92 secretários de SaúdeSecretários de Saúde dos 92 municípios do Estado do Rio estiveram reunidos em Búzios, no segundo Congresso Estadual de Secretarias Municipais de Saúde, organizado pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde (COSEMS). O encontro serviu para aprofundar temas como a difi culdade de contratação de pessoal, a criação de consórcios intermunicipais e a regionalização dos serviços visando o fortalecimento do Sistema Único de Saúde. A regionalização é outro grande desafi o para a consolidação do SUS, possibilitando a ampliação do acesso, a garantia da integralidade e a diminuição das desigualdades regionais.“A regionalização é uma tendência sugerida e estimulada pelo Ministério da Saúde”, afi rmou o secretário de Saúde de Búzios, Alexandre Martins.“O estado não pode, sozinho, tomar todas as decisões relacionadas à saúde. Precisamos integrar todos os municípios para a realização de ações conjuntas”, completou o secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes.

Regata Lagoa Viva faz sucesso em MacaéA Lagoa de Imboassica, em Macaé, foi palco no mês passado da terceira Regata Lagoa Viva, “Velejar é Preservar!”. O evento contou com a participação de mais de 30 velejadores de Macaé, Cabo Frio, Rio das Ostras e São Pedro da Aldeia, com veleiros monotipos das classes Dingue, Laser, Laser 4.7, Laser Standart e Windsurf. A qualidade da raia da lagoa para a prática da vela foi unanimidade entre os participantes. O vento constante na lagoa contribuiu para tornar a velejada mais emocionante. Estavam presentes também outros esportistas e cidadãos ligados às questões ambientais.

Cerqueira expõe em MinasO artista plástico Jorge Cerqueira inaugurou, no início deste mês, sua mais nova exposição de gravuras, entitulada “Instantes”, na cidade mineira de Tiradentes. Os trabalhos de Cerqueira e Pachelli Gama estão na Galeria do Sobrado Ramalho, sede local do Iphan.

Cabo Frio tem um ano de homenagens a Teixeira e SouzaCom o fi m da “Semana Teixeira e Souza”, fi cou instituído, ofi cialmente, o “Ano Teixeira e Souza” em Cabo Frio. Com o tema: “O Poeta Cruza a Avenida e Redescobre Cabo Frio no Século XXI”, o ano de homenagens promete fazer o grande escritor cabo-friense, primeiro romancista brasileiro, ser lembrado em eventos como o “Curta Cabo Frio” e o “Prêmio de Comunicação”, além de festivais de teatro e literatura, entre outros. Representado pelo apresentador Vinícius Canisso, o personagem de Antônio Gonçalves Teixeira e Souza, que desfi lou pela cidade em março, vai visitar as escolas municipais da cidade durante todo o ano.

Rio das Ostras começa a conceder licença ambiental

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Galeria

Silvana Borges Formada em Arquitetura em 1989 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie, fez Pós-Graduação em Arteterapia pela Universidade Paulista, SP, em 2006. Iniciou profi ssionalmente como artista plástica em 1990 com a primeira exposição ao público. Há mais de uma década ministra aulas de pintura a óleo, técnicas mistas e workshops em seu atelier ou como convidada. Tem trabalhos em exposição permanente em Portugal e em coleções particulares. Já participou de mais de 60 exposições no Brasil e exterior.

“Congada”

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