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  • 7/30/2019 Maieutica_Socrates

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    O filsofo grego Scrates viveu entre 470 399 a.C. Pelo testemunho de toda a antiguidade, foi

    considerado o mais virtuoso e esclarecido dos filsofos. Estudou filosofia, inicialmente, sob a

    orientao de Anaxgoras, e, em seguida, de Arquelau, o mdico. Foi o fundador da filosofia moral

    entre os gregos.

    Scrates dedicou-se exclusivamente ao estudo da filosofia relativa aos costumes, abrangendo todas

    as pocas e condies de vida.

    O pai de Scrates, Sofrnico, era escultor e Scrates, mesmo tendo aprendido essa arte, dedicou-se meditao e filosofia, sem recompensa alguma, apesar de sua pobreza material. Valorizou a

    descoberta do homem feita pelos sofistas, orientado-a para os valores universais, segundo a via real

    do pensamento grego.

    Inteiramente absorvido pela sua vocao, no se deixou distrair pelas preocupaes domsticas nem

    pelos interesses polticos.

    A virtude de Scrates lhe valeu a estima universal de seus concidados e atraiu para ele muitos

    discpulos, de todas as idades. A primeira coisa que ensinava aos jovens era a piedade e o respeito

    aos deuses. Em seguida, ele os incitava o quanto podia temperana e ao afastamento da

    voluptuosidade, mostrando como esta priva o homem do mais rico tesouro: a liberdade.

    Scrates dizia que a filosofia conduzia a dois objetivos: contemplar Deus e subtrair a alma

    dominao dos sentidos, sendo essa alma, segundo ele afirmava, imortal, porque tudo imortal em

    essncia.

    Ele era muito austero e exigente consigo mesmo, mas particularmente gentil e complacente com os

    demais.

    Scrates dizia que praticava a mesma arte que sua me, Fenaretes, que era parteira. Esta arte a

    Maiutica, que tem as mesmas caractersticas da arte das parteiras, na medida em que faz parir

    os homens, e no as mulheres, e vigia as almas, ao invs de vigiar os corpos.

    O mtodo da arte maiutica o mtodo socrtico consiste em levar o interlocutor descoberta da

    verdade mediante uma srie de perguntas e mediante as perplexidades a que as respostas vo dando

    origem. Na maiutica, acha-se implicada a idia da reminiscncia (VER) que se manifesta no

    reconhecimento da verdade, quando se apresenta alma. Dicionrio de Filosofia.

    A maiutica a arte de fazer chegar verdade e s evidncias, que, de acordo com Scrates, eram

    os princpios ou as verdades eternas; neste caso, o dilogo, como um parteiro de idias o

    ingrediente essencial a essa arte.

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    Artigo A Maiutica de Scrates 2

    No mtodo maiutico, a primeira etapa corresponde s dores do parto, sendo o momento em que

    o filsofo, partindo da premissa de que nada sabia, levava o interlocutor a apresentar suas opinies.

    Em seguida, fazia-o perceber as prprias contradies ou ignorncia para que procedesse a uma

    depurao intelectual. Mas s a depurao no levaria verdade chegar a ela constitua a segunda

    etapa do processo, na qual ocorria o parto das idias (expresso pela palavra maiutica), momento

    em que ocorria a reconstruo do conceito, em que o prprio interlocutor ia polindo as noes at

    chegar ao conceito verdadeiro por aproximaes sucessivas. O processo de formar o indivduo para

    ser cidado e sbio devia comear pela educao do corpo, que permite controlar o fsico.

    De acordo com Scrates, o objeto da cincia no era o sensvel ou o particular ou o indivduo que

    passa e sim o inteligvel ou o conceito que se conhece pela definio, obtido atravs da induo e

    que consiste em comparar vrios indivduos da mesma espcie, eliminar-lhes as diferenas

    individuais, as qualidades mutveis e reter-lhes o elemento comum, estvel e permanente, que era a

    natureza, a essncia.

    Na exposio polmica e didtica de suas idias, Scrates adotava o dilogo revestido de uma dupla

    forma, conforme se tratasse de um adversrio a contestar ou de um discpulo a ser instrudo. Quando

    se tratava de um adversrio, Scrates assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia

    multiplicando as perguntas at colher o adversrio em contradio, obrigando-o confisso

    humilhante de sua ignorncia, o que caracterizava a ironia socrtica. Quando se tratava de umdiscpulo, Scrates multiplicava ainda mais as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por

    induo dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definio geral do objeto em questo,

    que ele denominava de maiutica que podemos, sem prejuzo da significao, chamar de

    obstetrcia do esprito que facilitava o parto das idias.

    Podemos tomar como exemplo do mtodo maiutico de Scrates, o dilogo platnico entre Menom

    e Scrates. Atravs de perguntas e respostas submetidas s leis da dialtica, o discpulo poderia ser

    conduzido a uma realidade objetiva, absoluta e perene (GOTTSCHALK, s.d.)

    De acordo com a autora, no s no dilogo Mnon, mas em outros de Plato, o personagem de

    Scrates pressupe a existncia de essncias por trs das mltiplas manifestaes de nossosconceitos, como os de virtude, justia, temperana, coragem, etc. cujos significados precisos e

    exatos so investigados por ele atravs de conjecturas e refutaes, sempre partindo de crenas

    iniciais de seus interlocutores para, em seguida, obrig-los a reformul-las, passo a passo, com o

    objetivo de irem aproximando-se de seus significados essenciais.

    A fora do mtodo maiutico est no discurso, que precisa ser fundamentado na investigao, para

    que seja estabelecida sua correspondncia com os fatos e com o uso preciso das palavras, evitando-

    se a ambiguidade. Atravs de perguntas precisas, Scrates tentava demonstrar a fraqueza dos

    argumentos de seu interlocutor, e, utilizando-se da ironia, mostrava as falhas contidas naquele ponto

    de vista criticado, cujo objetivo era auxiliar o interlocutor a parir a verdade, ou seja, chegar ao

    conhecimento verdadeiro, esquecido pelo simples mortal, a partir da reminiscncia e da idia de que

    a alma imortal, e, nesta condio, teria contemplado todas as verdades possveis em outrasencarnaes.

    A sentena do orculo de Delfos para Scrates: Conhece-te a ti mesmo o objetivo da dialtica

    fundada por ele, que disse em sua defesa: uma vida sem exame no digna de ser vivida. Scrates

    procurava esculpir o carter humano pelo exerccio das virtudes e da verdade, que deveriam nortear

    todas as nossas aes, exortando a razo como julgadora dos nossos atos e pensamentos. De acordo

    com ele, nada podia ser contrrio conscincia e foi justamente este apelo liberdade de

    pensamento que contm a conscincia e a sensibilidade como unidades formadoras do esprito

    que o condenou morte.

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    Artigo A Maiutica de Scrates 3

    Ao contrrio da maioria dos filsofos, Scrates no ensinava a um crculo limitado de discpulos.

    Seu objetivo era fazer evoluir a conscincia do maior nmero possvel de indivduos.

    O estado de nimo hostil contra Scrates concretizou-se, tomou forma jurdica, na acusao movida

    contra ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a juventude e negar os deuses da ptria,

    induzindo outros. Scrates desdenhou defender-se diante dos juzes e da justia humana,

    humilhando-se e desculpando-se mais ou menos.

    A liberdade de seus discursos, a feio austera de seu carter, a sua atitude crtica, irnica e a

    conseqente educao por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular,

    inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos

    elementos reacionrios, aparecia como chefe de uma aristocracia intelectual.

    Contra o filsofo grego pesavam duas graves denncias para a poca: atentar desfavoravelmente

    contra a religio oficial e a corrupo dos jovens. Tendo que esperar mais de um ms a morte no

    crcere pois uma lei vedava as execues capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos

    o discpulo Crton preparou e props a fuga ao Mestre Scrates, que, porm, recusou, declarando

    no querer absolutamente desobedecer s leis da Ptria; durante a espera, preparou-se para o passo

    extremo em palestras espirituais com os amigos e neste perodo, destaca-se o dilogo sobre aimortalidade da alma que ele teria realizado antes da morte e que foi descrito por Plato no Fdon,

    de forma incomparvel.

    De acordo com Scrates, o papel do filsofo o de ajudar o discpulo a caminhar despertando sua

    cooperao para que ele consiga por si mesmo, iluminar sua inteligncia e sua conscincia,

    redefinindo o papel do mestre, que no era mais um provedor de conhecimentos, mas algum que

    desperta os espritos e que deve admitir a reciprocidade ao exercer sua funo iluminadora

    permitindo que os discpulos contestem seus argumentos da mesma forma que contesta os

    argumentos de seus discpulos. Para o filsofo ateniense, s a troca de idias d liberdade ao

    pensamento e a sua expresso, que se constituem em condies essenciais para o aperfeioamento

    do ser humano.

    Scrates professava a espiritualidade e a imortalidade da alma, fazendo uma clara distino entre o

    conhecimento sensitivo e o conhecimento intelectual; acreditava na existncia de Deus, de acordo

    com o seguinte argumento teolgico: tudo o que adaptado a um fim efeito de uma inteligncia;

    com base nesse argumento, concluiu: se o homem inteligente, tambm inteligente deve ser a causa

    que o produziu; e por fim, com a seguinte argumentao moral: a lei natural supe um ser superior

    ao homem, um legislador, que promulgou a moral e a sancionou. Deus no s existe, como

    tambm Providncia, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propici-lo com sacrifcios

    e oraes, aceitando tambm os conceitos da mitologia que a filosofia aspirava reformar.

    A filosofia de Scrates teve um enfoque moral muito forte, pois ensinava a bem pensar para bem

    viver, em que o nico meio de alcanar a felicidade (ou semelhana com Deus) seria atravs daprtica da virtude, que se adquiria com sabedoria, ou antes, era a prpria sabedoria. O erro desta sua

    concepo foi no ter distinguido a vontade da inteligncia, bem como ter desconsiderado o livre-

    arbtrio.

    Scrates interessou-se pelo mundo espiritual do homem buscando finalidades prticas e morais;

    como os sofistas, era ctico a respeito da cosmologia e da metafsica e limitou-se a gnosiologia e

    tica, sem a metafsica. Sua gnosiologia se concretizava no seu ensinamento dialtico e dialgico,

    baseado nos seguintes princpios: ironia, maiutica, introspeco, ignorncia, induo e definio.

    Para ele, era primordial desembaraar o esprito dos conhecimentos errados, preconceitos e opinies

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    equivocadas, quando utilizava-se da ironia (que pode ser entendida perfeitamente como sinnimo

    de crtica). Ele reivindicava a independncia da autoridade e da tradio, em detrimento de uma

    reflexo livre e racional, para, ento, poder realizar o conhecimento verdadeiro, a cincia, mediante

    a razo. Essa intimidade com o saber, puramente objetivo, confirma o orculo conhece-te a ti

    mesmo que, para Scrates, significa literalmente, que preciso ter conscincia racional de ns

    mesmos para que possamos organizar racionalmente nossa prpria vida.

    O mtodo maiutico de Scrates provocou uma verdadeira revoluo na Filosofia, mesmo que ele

    no tenha elaborado um sistema filosfico acabado nem tenha deixado nada escrito. Foi atravs das

    obras de Plato e Xenofonte que nos foi possvel julgar a base e a forma de sua filosofia. Hoje,

    vemos que o principal objetivo da filosofia socrtica era ensinar o homem a cuidar da prpria alma,

    que a psyche, imortal e fadada a reencarnar tantas vezes quantas forem necessrias at que a se

    aperfeioe a tal ponto que no seja mais necessrio voltar a este planeta. Ao se perguntar o que a

    natureza ou a realidade ltima do homem Scrates concluiu que o homem era sua alma e era

    essa alma que distinguia o homem de qualquer outra coisa, dando-lhe, em virtude de sua histria,

    uma personalidade nica.

    Dicionrio de Filosofia. 3 (K-P), Volume 3. Disponvel em:http://www.books.google.com.br/books?isbn=8515020068

    GOTTSCHALK, Cristiane Maria Cornlia. Maiutica Socrtica ou terapia Wittgensteiniana?

    Disponvel em:

    http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT17-3043--Int.pdf

    MADJAROF, R. Scrates. Disponvel em:

    http://www.mundodosfilosofos.colm.br/socrates.htm