Magníficos canyons esculpidos nas escarpas Aparados da...

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SIGEP Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil SIGEP 050 Itaimbezinho e Fortaleza, RS e SC Magníficos canyons esculpidos nas escarpas Aparados da Serra do planalto vulcânico da Bacia do Paraná Wilson Wildner *1 Vitório Orlandi Filho *2 Luís Edmundo Giffoni *3 (*) CPRM - Serviço Geológico do Brasil 1 - [email protected] 2 - [email protected] 3 - [email protected] © Wildner,W.; Orlandi Filho,V.; Giffoni,L.E. 2006. Itaimbezinho e Fortaleza, RS e SC - Magníficos canyons esculpidos nas escarpas Aparados da Serra do planalto vulcânico da Bacia do Paraná. In: Winge,M.; Schobbenhaus,C.; Berbert-Born,M.; Queiroz,E.T.; Campos,D.A.; Souza,C.R.G.; Fernandes,A.C.S. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 01/07/2006 no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio050/sitio050.pdf [atualmente http://sigep.cprm.gov.br/sitio050/sitio050.pdf ] [Ver versão final do CAPÍTULO IMPRESSO em: Winge,M. (Ed.) et al. 2009. Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Brasília: CPRM, 2009. v. 2. 515 p. il. color.]

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SIGEPStios Geolgicos e Paleontolgicos do Brasil

SIGEP 050

Itaimbezinho e Fortaleza, RS e SC

Magnficos canyons esculpidos nas escarpas Aparados da Serra do planalto vulcnico da Bacia do Paran

Wilson Wildner*1

Vitrio Orlandi Filho*2

Lus Edmundo Giffoni*3

(*) CPRM - Servio Geolgico do Brasil 1 - [email protected] 2 - [email protected] 3 - [email protected]

Wildner,W.; Orlandi Filho,V.; Giffoni,L.E. 2006. Itaimbezinho e Fortaleza, RS e SC - Magnficos canyons esculpidos nas escarpas Aparados da Serra do planalto vulcnico da Bacia do Paran. In: Winge,M.; Schobbenhaus,C.; Berbert-Born,M.; Queiroz,E.T.; Campos,D.A.; Souza,C.R.G.; Fernandes,A.C.S. (Edit.) Stios Geolgicos e Paleontolgicos do Brasil. Publicado na Internet em 01/07/2006 no endereo http://www.unb.br/ig/sigep/sitio050/sitio050.pdf [atualmente http://sigep.cprm.gov.br/sitio050/sitio050.pdf ] [Ver verso final do CAPTULO IMPRESSO em: Winge,M. (Ed.) et al. 2009. Stios Geolgicos e Paleontolgicos do Brasil. Braslia: CPRM, 2009. v. 2. 515 p. il. color.]

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Itaimbezinho e Fortaleza, RS e SC Magnficos canyons esculpidos nas escarpas Aparados da Serra

do planalto vulcnico da Bacia do Paran SIGEP 050

Wilson Wildner*1 Vitrio Orlandi Filho*2

Lus Edmundo Giffoni*3

A expresso Aparados da Serra aplicada, popularmente, ao trecho mais recortado das escarpas baslticas sub-litorneas da Serra Geral, que se situa entre o sudeste do estado de Santa Catarina e o nordeste do estado do Rio grande do Sul. Para os que querem conhecer a regio e procedem do altiplano basltico ondulado da regio posi-cionada entre as cidades de Gramado e Cambar do Sul, a chegada beira do planalto equivale ao encontro de inusitados desfiladeiros, cados para o imenso vazio em direo ao Oceano Atlntico. Ao inverso, para os que vm da plancie litornea em direo ao continente, o encontro com as vertentes verticais e retilneas da Serra Geral equivale a um contato visual com a mais extensa muralha rochosa de todo o extenso Planalto Brasileiro. Na viso popular dos primeiros desbravadores, existiu realmente a idia de que ali a natureza recortou e aparou caprichosamente a pilha de rochas duras da Serra Geral, formando os Aparados da Serra. Para algumas das gargan-tas estreitas e profundas dos vales que entalham a elevada frente das escarpas foram concedidos nomes locais e hbridos, como Itaimbezinho, designao que deriva da lngua tupi-guaran, onde o radical ita representa qualquer tipo de ocorrncia de pedras ou rochedos, independentemente de lugar ou escala, somado ao nome itaimb reser-vado para rebordos rochosos de altiplanos e chapadas, e Fortaleza, que leva este nome pela configurao de suas paredes entalhadas verticalmente na rocha e de formas sinuosas ao longo de sua frente, lembrando uma imensa fortaleza. Estes so dois dos maiores e mais espetaculares acidentes ligados eroso de talvegue que os muitos cursos de rios obseqentes regionais efetuaram transversalmente s escarpas baslticas, expondo o ventre rocho-so contnuo da extraordinria pilha de rochas vulcnicas datadas do Trissico Superior. Na concepo geral, os Aparados da Serra constituem o mais elevado e imponente sistema de escarpas de todo o territrio brasileiro, e em tudo que diz respeito s condies geolgicas, geomorfolgicas e fitogeogrficas, tem sido caracterizado co-mo o mais alto degrau tectnico, relicto dos eventos distensivos que se produziram na fachada atlntica, durante o mega-processo de gerao do oceano Atlntico e separao do Brasil em relao ao continente Africano. Ape-nas os basaltos dos morrotes de Torres constituem um documento concreto das deformaes mais antigas que atingiram a rea situadas a leste dos gigantescos Aparados, invocando-se a longevidade do tempo decorrido entre o soerguimento do campo de lavas do Planalto Nordeste do Rio Grande do Sul e os processos erosivos mutan-tes da era terciria, podendo-se aceitar a idia de uma generalizada remoo dos antigos testemunhos dos blocos falhados, outrora localizados a leste da escarpa principal.

Palavras-chave: vulcanismo, Bacia do Paran, Aparados da Serra, Canyon Itaimbezinho, Canyon Fortaleza, Rio Grande do Sul, Santa Catarina.

Itaimbezinho and Fortaleza, States of Rio Grande do Sul and Santa Catarina Magnific canyons sculpted in the Aparados da Serra scarps of the volcanic plateau of the Paran Basin

Aparados da Serra is a popular designation to the Serra Geral basaltic escarpment that faces the Atlantic Ocean, in the southeastern part of Santa Catarina and northeastern part of Rio Grande do Sul states. For those who want to visit the basaltic plateau from Gramado to Cambar do Sul towns, the canyons are an unforgettable landscape, and those who come from the flat coastal plain to the continent meet one of the most expressive and longest cliffs in Brazil. Some canyons have a particular name such as Itaimbezinho, that comes from the native Tupi-Guarani language, meaning sharp (imb) rocks (ita), and Fortaleza, that got its name from the vertical canyon front, that looks like a huge fortress wall. These are two of the

biggest escarpments formed on the basaltic rocks that could be visited in the Upper Triassic volcanic sequence. In a broad sense, Aparados da Serra is one of the highest escarpment sys-tems in the Brazilian coastal area. Taking into account the geological conditions, geomorphology and physiographic situation, this is one of the most important relicts from the Atlantic split-ting that created the South American and African continents. In Torres beach it remains one of the last testimonies of the escarpment retraction and of the faulting system that uplifted the basalts, which regressed due the erosional processes along the geological time, shaping the present sandy coastal line.

Keywords: volcanism, Paran Basin, Aparados da Serra, Itaimbezinho Canyon, Fortaleza Canyon, Rio Grande do Sul, Santa Catarina.

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INTRODUO

Os canyons do Itaimbezinho e Fortaleza constitu-em a paisagem mais espetacular da regio conhecida como Aparados da Serra, situada no rebordo litorneo da Serra do Mar, extremo sudeste do Brasil, entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde se deslumbra um formidvel conjunto de canyons esca-vados no plat vulcnico da Serra Geral voltados para a plancie litornea quase mil metros abaixo. Esta denominao deriva da notvel feio geomorfolgica formada pelo corte abrupto do planalto dos Campos de Cima da Serra, formado por rochas vulcnicas da For-mao Serra Geral, cuja estruturao geolgica possi-bilitou a formao de paredes verticalizados, que por uma extenso de cerca de 250 km mostram uma for-midvel sucesso de canyons de at 900 metros de altu-ra que se contrapem plancie do litoral atlntico.

Esta regio apresenta aspectos ambientais e infra-estrutura qualificados que a transformaram num plo turstico dos mais procurados do sul do Pas, abrigan-do um precioso ecossistema cuja preservao levou criao de dois Parques Nacionais, o primeiro criado em 1959 - Parque Nacional de Aparados da Serra - e o segundo, criado em 1992 - Parque Nacional da Serra Geral, ambos administrados pelo IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis. Nestas Unidades de Conservao desta-cam-se os objetivos de preservao da flora e fauna, paisagens naturais e demais recursos biticos e abiti-cos associados. A cobertura vegetal predominante caracterizada pela transio dos Campos de Cima da Serra para a Floresta Pluvial Atlntica.

Esta paisagem de grandes canyons e espiges em direo ao litoral estende-se ainda ao norte da regio abordada, com admirveis feies, como no Monte Negro, no municpio de So Jos dos Ausentes, que com seus 1.403 metros de altitude constitui o ponto mais elevado do Rio Grande do Sul, prosseguindo at Urubici, em Santa Catarina, onde a Pedra Furada um deslumbrante espetculo paisagstico. LOCALIZAO

Estes Parques Nacionais situam-se na regio compreendida entre o nordeste do estado do Rio Grande do Sul e o extremo sul de Santa Catarina, cuja divisa interestadual acha-se definida justamente pela quebra do gradiente topogrfico do terreno (Fig. 01), abrangendo parte dos municpios de Cambar do Sul e So Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, e Praia Grande e Jacinto Machado, em Santa Catarina.

O Parque Nacional de Aparados da Serra possui uma rea de 10.250 ha e abriga o Canyon do Itaimbezinho, o mais visitado desta regio, com cerca de 5,8 km de extenso e paredes verticalizados com at 720 me-tros de profundidade, atravs dos quais se lana o Arroio Perdizes em uma cascata de cerca de 200 me-

tros. Este parque conta com infra-estrutura disponibi-lizada pelo IBAMA, incluindo cerca de 8,5 km de trilhas demarcadas e acessveis com guias credencia-dos, onde ainda encontra-se o Canyon do Faxinalzinho.

Figura 01 - Mapa de localizao apresentando os limites do Parque Nacional Aparados da Serra e do Parque Nacional Serra Geral (fonte: IBAMA). Figure 01 Location map showing the limits of the Aparados da Serra National Park and Serra Geral National Park.

O Parque Nacional da Serra Geral, criado em 1992, possui uma rea de cerca de 17.300 ha e abriga o espe-tacular Canyon Fortaleza, destacando-se outros canyons como o Malacara, Churriado, Josafaz, ndios Coroa-dos, Molha Coco, Leo, Ps de Galinha, das Bonecas e Macuco, que se encaixam nesta paisagem constituda por 63 gigantescas escarpas.

O acesso ao Canyon Fortaleza se faz a partir de Cambar do Sul por 23 km da rodovia municipal (no pavimentada) CS-08, enquanto o Canyon Itaimbezinho dista 18 km de Cambar do Sul pela rodovia CS-360 e cerca de 22 km de Praia Grande - SC, pela rodovia SC-450 e pela mesma CS-360 (percursos no pavi-mentados).

Cambar do Sul acha-se a cerca de 180 km de Porto Alegre, enquanto Praia Grande acha-se a 21 km da BR-101 e a cerca de 36 km de Torres, na divisa com o Rio grande do Sul.

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DESCRIO DO STIO As formas de relevo da regio dos Aparados da

Serra foram esculpidas em rochas efusivas cidas da Fcies Palmas da Formao Serra Geral, que nesta posio ocupa o topo da seqncia de derrames. A maior resistncia ao intemperismo e a degradao fsica destas litologias reforam o processo de regres-so da escarpa por queda de blocos, enquanto em reas onde os processos de dissecao do relevo se desenvolvem em rochas efusivas bsicas, predominam formas mais dissecadas, desenvolvendo um escarpa-mento mais rebaixado e festonado, gerando um conta-to gradacional, onde o limite inferior dos basaltos com os sedimentos da Bacia do Paran se d atravs de uma ruptura de declive.

A regio dos Aparados da Serra foi objeto de tra-balho dos autores em 2004, sob a forma de uma ex-curso virtual, englobando os aspectos geolgicos (http://www.cprm.gov.br/Aparados/index.htm) e tursticos, num roteiro de 21 pontos na regio (Wild-ner et al., 2004).

Os Patamares da Serra Geral correspondem ao prolongamento da regio de escarpamento remanes-centes do recuo da escarpa, que formaram espores interfluviais de formas alongadas e irregulares que se estendem sobre as regies geomorfologicamente mais baixas, especialmente a plancie costeira. Alguns destes prolongamentos encontram-se isolados da regio dos aparados, formando morros testemunhos residuais como os da regio de Torres, Morro do Farol e Pedra da Guarita (Fig. 02).

Figura 02 - Ilustrao dos principais canyons da regio. Montagem 3D a partir de imagem de radar do Projeto SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) - 2000. Figure 02 Principal canyons of Aparados da Serra region. Bird eyes view based on a radar image of the SRTM Project (Shuttle Radar Topography Mission) - 2000.

O controle morfolgico do terreno dos Aparados

da Serra dado por um denso sistema de lineamentos tectnicos que seccionam a regio, possibilitando o profundo entalhamento do sistema de drenagens, um

dos agentes exgenos mais importantes para o desen-volvimento dos paredes rochosos e o conseqente recuo da escarpa, caracterizando o escarpamento a-brupto das vertentes com facetas triangulares e o de-senvolvimento de vales em V apertados (Figs 03 e 05). De um modo geral o sistema de drenagem e o desenvolvimento do entalhamento dos canyons desen-volvem-se segundo trs direes fundamentais (U-mann, 2001), as quais esto associadas a sistemas de falhamentos e fraturamentos conectados a grandes processos de rompimento da crosta:

a) a primeira direo, com caractersticas regionais de grande porte, segue um padro geral N30-50W, acompanhando a direo dos arcos de Rio Grande, So Gabriel e Ponta Grossa, direo esta em que esto posicionados os rios Tainhas, Camisas e o alinhamen-to principal da abertura do Canyon do Itaimbezinho; b) a segunda acompanha grosseiramente a linha de costa, posicionada entre N10-30E, e que provoca profundos entalhamentos que delimitam o planalto com as escarpas do Planalto dos Campos Gerais,

c) um terceiro padro estrutural de direo N60-70E responsvel pelo entalhamento do Canyon Forta-leza e pelos recortes do Itaimbezinho. Canyon do Itaimbezinho

O Canyon do Itaimbezinho est localizado entre as cidades de Cambar do Sul e Praia Grande, sendo considerado como o mais famoso dos canyons que compem os Aparados da Serra. Estende-se por cerca de 5.800 metros com uma largura mxima de 2.000 metros, onde as paredes rochosas erguem-se a uma altura mxima de 720 metros, cobertas por uma vege-tao rasteira e pinheiros nativos sobre o Planalto dos Campos da Serra Geral. Para quem nunca se debruou beira de um canyon, a sensao realmente indescri-tvel.

A entrada do Parque situa-se a cerca de 18 km da cidade de Cambar do Sul, pela rodovia RS-360 (em estrada de terra) e cerca de 22 km da cidade de Praia Grande (SC), atravs das rodovias SC-450 e a mesma RS-360, num belssimo trajeto em estrada de terra atravs da borda sul do Canyon Malacara, atravs da Serra do Faxinal.

Os Parques Nacionais dos Aparados da Serra e Serra Geral pertencem ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina, visto que a 1 metro abaixo da borda dos canyons j Santa Catarina, sendo que os parques en-globam tambm as encostas, rios e matas abaixo das serras, sendo o visual pela parte de baixo dos canyons de rara beleza.

O rio Perdizes desce as paredes rochosas forman-do a Cascata das Andorinhas e no fundo do canyon o Rio do Boi se move preguiosamente entre as pedras, formando uma srie de caprichosas cachoeiras, desli-zando para o vizinho Estado de Santa Catarina.

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http://www.cprm.gov.br/Aparados/index.htm

Figura 03 - Imagem LANDSAT 7 (1999) dos rebordos da Serra Geral e a designao dos principais canyons, evidenciando

os fraturamentos (fonte da imagem: INPE). Figure 03 - LANDSAT 7 satellite image (1999 ) showing the Serra Geral border and the principal canyons, distinguishing the fracture

systems. (image source: INPE).

Figura 04 - Vista da Trilha do Vrtice, com a Cascata das Andorinhas direita

Figure 04 A sight of the Andorinhas Fall(right), seen from the Vrtice trek.

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So 3 trilhas dentro dos limites do parque: A Trilha do Vrtice - de onde se visualiza a Cas-

cata das Andorinhas (Fig. 04), que caindo de uma altura de 700 metros em direo ao fundo do canyon, produz uma nvoa antes de atingi-lo. A trilha permite uma tima vista das cascatas das Andorinhas e Vu da Noiva. To impressionante quanto as cascatas a sensao de caminhar na borda do canyon. A trilha comea no Centro de Visitantes (Fig. 05) e em menos de 1 hora pode-se percorrer 1,4 km pelas bordas do canyon.

Figura 05 - Vista area do Itaimbezinho, mostrando a via de acesso principal sede do IBAMA (pelo norte) e as trilhas do Vrtice (acima, contornando o vrtice do canyon) e do Cotovelo, se dirigindo para o sul. (foto de Renato Grimm - www.acaserge.org.br/fotos/album04) Figure 05 Itaimbezinho aerial view, showing the main access to the IBAMA office (north), the Vertice Trek (top, contouring the canyon vertex) and the Cotovelo Trek, towards the south (photo by Renato Grimm - www.acaserge.org.br/fotos/album04).

A Trilha do Cotovelo - vista imperdvel dos pa-

redes do Canyon Itaimbezinho. Caminhada fcil por estrada at um mirante com a maior viso geral do canyon (Fig. 06), percurso de 6,3 quilmetros que leva em torno de 3 horas.

A Trilha do Rio do Boi - por dentro do abismo, para aqueles que gostam de atividades mais radicais. Esta trilha uma caminhada entre os paredes de 700 m que formam o canyon, seguindo o leito do Rio do Boi. So 8 km (ida e volta) que podem ser percorridos em 7 horas. Trilha longa, com muitas pedras e diver-sas travessias do rio do Boi (dependendo do nvel do rio a gua pode estar acima do joelho), com timas piscinas naturais para um banho gelado. a nica via de acesso liberado ao interior dos canyons, saindo de sua poro basal, a partir da cidade de Praia Grande.

Na sada do Parque Nacional dos Aparados da Serra pela estrada que passa pelo acesso ao Canyon do Itaimbezinho e desce os Aparados da Serra at a loca-lidade de Praia Grande, rodovia RS-360/SC-450 (Fig. 07), a cerca de 27 km de Cambar do Sul e a 15 km de Praia Grande/SC, encontra-se a divisa entre os esta-dos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Na desci-da do planalto em direo plancie costeira tem-se uma vista fantstica da faixa entre a superfcie de cu-

meeira dos canyons no topo da Serra do Faxinal, a 1.007 metros de altitude, e a transio para o nvel do mar. A partir deste local descortina-se um espetacular panorama, abrangendo desde o vale do Rio do Boi (a partir do Canyon do Itaimbezinho) at o oceano, avis-tando-se em dias lmpidos a cidade de Torres e o lito-ral sul de Santa Catarina, descendo sobre os Patamares da Serra Geral. Estes patamares correspondem aos terminais rebaixados da rea serrana que avana sobre a Plancie Costeira, sendo o que resultou da eroso dos terrenos vulcnicos aps o recuo da encosta que forma os aparados.

Figura 06 - Vista area ao longo da trilha do Cotovelo (quebra na direo do canyon, ao fundo), evidenciando as grandes linhas de fraturamento ortogonal. (foto de Renato Grimm - www.acaserge.org.br/fotos/album04) Figure 06 Aerial view in the Cotovelo Trek (evidence of the orthogonal fracturing) - photo by Renato Grimm - www.acaserge.org.br/fotos/album04 Canyon Fortaleza

O Canyon Fortaleza (Fig. 08) situa-se a cerca de 23 km da cidade de Cambar do Sul, pela rodovia RS-08 (estrada de terra), apresentando uma altitude mxima de 1.157 metros, com cerca de 7,5 km de extenso e paredes com desnvel de at 800 metros.

No h qualquer infra-estrutura turstica na rea; a Trilha do Mirante (Fig. 09) permite o acesso ao topo do Morro Fortaleza (cerca de 1.700 metros de cami-

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nhada a partir do estacionamento de veculos) , de onde se pode descortinar cerca de 95% do canyon e todo o litoral da regio limtrofe entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Outras trilhas permitem o

acesso Pedra do Segredo e Cascata do Tigre Preto, que com suas trs quedas atinge mais de 400 metros de altura.

Figura 07 - Canyons ndios Coroados (primeiro plano) e Malacara (ao fundo), vistos a partir da descida da Serra do Faxinal pela rodovia SC-450 Figure 07 - ndios Coroados (first plane) and Malacara (in the distance) canyons, seen from the SC-450 road, in the Serra do Faxinal.

Figura 08 - Vista area do Canyon Fortaleza, cujo pico est direita ao fundo. Em ltimo plano, o oceano (foto de Renato Grimm - www.acaserge.org.br/fotos/album01). Figure 08 Aerial view of the Fortaleza canyon, with the summit at right. The ocean is at background (photo by Renato Grimm - www.acaserge.org.br/fotos/album01).

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Figura 09 - Ao fundo, a escarpa que leva ao topo do Morro Fortaleza (1.157 m de altitude) pela Trilha do Mirante.

Figure 09 At distance, the scarp that leads to the summit (1.157 m), by the Mirante Trek.

Estacionamento Parque do Fortaleza

Cachoeira Fortaleza

Cambar 23 km

Figuras 10 e 11 - Fotomontagem da vista do Canyon Fortaleza a caminho do Mirante (acima) e diagrama (abaixo) desta-cando em tracejado as estruturas que demarcam a seqncia de 13 derrames cidos ali aflorantes. Figures 10 e 11 Sight of the Fortaleza Canyon where the access road to the Park and its parking lot can be seen. On the diagram the struc-tures in red mark the limits between the 13 acid flows that compose the canyon.

O canyon Fortaleza leva este nome pela configura-o de suas paredes, entalhadas verticalmente na rocha e de formas sinuosas ao longo de sua frente, lembran-

do uma imensa fortaleza que se estende por cerca de 5.800 metros de comprimento, por 2.000 metros de largura e uma profundidade de 800 metros. O ponto

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culminante na regio do canyon est a 1.157 metros de altura e em dias lmpidos pode-se avistar a linha de praia e a cidade de Torres.

Nas paredes do Canyon Fortaleza pode ser identi-ficado um conjunto de 13 derrames vulcnicos, de composio cida (riolitos - riodacitos), com limites perfeitamente tabulares e espessuras que variam entre 15 e 55 metros, com espessura mdia em torno de 25 metros (Figs. 10 e 11). O limite entre derrames res-saltado pela presena de horizontes vesiculares junto ao topo e disjuno tabular centimtrica junto base de cada derrame, o que possibilita um maior aporte de gua e o desenvolvimento de um perfil de alterao mais acentuado, possibilitando a instalao de uma

vegetao arbustiva mais densa ao longo da linha de contato e o surgimento de quebras de relevo, especi-almente nos horizontes superiores entre derrames (Fig. 12). A base do canyon est instalada sobre uma intercalao de derrames cidos e bsicos, passando para um pacote essencialmente de basaltos pertencen-tes Fcies Gramado. Esta diferena composicional tambm est caracterizada na transio geomorfolgi-ca entre a regio do planalto dos Campos de Cima da Serra (Campos Gerais) e os Patamares da Serra Geral, onde predominam basaltos at o limite inferior onde afloram as rochas sedimentares da Formao Botuca-tu, j a uma cota inferior aos 100 metros.

basalto amigdalide

basalto amigdalide

basa

lto g

ran

ular

Solo

zona de disjuno horizontal

zona de disjuno horizontal

Vulcnicas da Formao Serra GeralSedimentos Serra Geral

Zona de eroso (diastema)

Arenitos da Formao Botucatu

Intertrpico da Formao Botucatu

zona dedisjuno vertical

Talus

material de emprstimo,gemas

gemas

revestimentos, briquetes

brita, pedra de talhe, gua

material de emprstimo

Seo Geolgica Esquemtica de um DerrameSeo Geolgica Esquemtica Regional

Figura 12 - Representao esquemtica da estruturao dos derrames da Bacia do Paran. Figure 12 Schematic representation of the flow structures from Bacia do Paran volcanism.

GEOLOGIA DA REGIO DOS CANYONS Posicionamento geolgico da regio

A Bacia do Paran-Etendeka, designao geolgi-ca da estrutura sobre a qual posiciona-se a regio dos Aparados da Serra, recobre toda a poro centro-oriental da Amrica do Sul, estendendo-se at o noro-este da Nambia, oeste do Continente Africano. Estas reas apresentam caractersticas geolgicas semelhan-tes nos dois continentes, sendo um dos argumentos utilizados como indicador da presena de um conti-nente nico, existente antes da abertura do Oceano Atlntico e da deriva continental, que foi denominado como Gondwana, cuja fragmentao iniciou-se ao redor de 120 Ma (milhes de anos) atrs.

A ruptura e separao do Gondwana durante o Cretceo Inferior foi acompanhada por um expressivo evento vulcnico, o qual recobriu com derrames de lavas a poro centro-sul da Amrica do Sul e o noro-este da Nambia. Um extensivo magmatismo ao longo das margens recm criadas gerou, entre outras feies, o Plat de Abutment e as cadeias vulcnicas de Walvis Ridge e Rio Grande (Gladczenko et al., 1997 - Fig.13), as quais constituem o trao fssil da migrao dos fragmentos do Continente Gondwnico. Este even-to, responsvel pela gerao da Provncia Paran - Etendeka, uma das maiores provncias vulcnicas de

basaltos de plat (LIPs) do planeta, est relacionado no tempo e espao com a fragmentao do oeste gondwnico e, mais especificamente, com a gerao e extrao de magmas relacionado dinmica mantlica da pluma de Tristo da Cunha (Hawkesworth et al., 1992; OConnor & Duncan, 1990; Gallagher & Haw-kesworth, 1994).

Testemunhos desta separao entre os continentes esto presentes tanto na Bacia do Paran quanto na de Etendeka, dos quais abordaremos apenas aqueles relacionados aos episdios finais do preenchimento destas bacias e suas conexes com o rompimento do supercontinente Gondwana, especialmente no que diz respeito ao Vulcanismo Serra Geral, um dos maiores eventos vulcnicos ocorridos no planeta e que so o substrato geolgico da regio dos Aparados da Serra.

A Bacia do Paran corresponde poro Sul-Americana desta grande entidade geolgica, cuja evo-luo pode ser entendida em quatro grandes episdios (Almeida, 1981), cada um sendo caracterstico de um ciclo tectono-sedimentar completo (Sloss, 1963). Os dois primeiros ciclos relacionados sedimentao em uma bacia sinforme subsidente, e os dois ltimos cor-respondendo a fases de soerguimento e extruso de grande quantidade de lavas toleticas relacionadas ao intumescimento da crosta ocorrido ao redor de 135 - 120 Ma (milhes de anos) atrs.

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Trist o d a Cunha

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Grandes estruturas tectnicas rela-cionadas abertura do AtlnticoAnomalia magntica

Bacias sedimentares

Provncias de basaltos continentais

3 Curvas batimtricas (profundidade em km)

AT Arco de TorresCunha de sedimentos plataformais

-20

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4

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Adaptado de Gladzenko, T.P. et al. (1997)

Figura 13 - Os continentes e as cadeias no assoalho atlntico (Gladczenco et al, 1997) Figure 13 - The continents and the mountain chains on the Atlantic floor (Gladczenco et al, 1997).

Cerca de 730.000 km2 da parcela brasileira da Ba-

cia do Paran esto recobertos pela Formao Botuca-tu e pelos derrames relacionados s lavas toleticas do Magmatismo Serra Geral, correspondentes s fases finais de preenchimento desta bacia, poro que atinge cerca de 1.700 metros de espessura junto ao seu depo-centro, posicionado no oeste do estado do Paran (Milani et al., 1998).

A designao de Formao Serra Geral (White, 1908), refere-se provncia magmtica relacionada aos derrames e intrusivas que recobrem a Bacia do Paran (Melfi et al., 1988), abrangendo toda a regio centro-sul do Brasil e estendendo-se ao longo das fronteiras do Paraguai, Uruguai e Argentina. Esta unidade est constituda dominantemente por basaltos e basalto-andesitos de filiao toletica que constituem cerca de 95% da rea recoberta por rochas vulcnicas da bacia, os quais contrastam com cerca de 5% de lavas riolti-cas a riodacticas aflorantes nos contrafortes da Serra Geral, especialmente na regio dos Aparados da Serra, caracterizando uma associao litolgica bimodal (basalto - riolito). Histria evolutiva dos canyons

A escarpa da Serra Geral , sem dvida, um dos mais imponentes acidentes geomorfolgicos do sul do Brasil, e a sua origem e seus magnficos canyons consti-tuem um captulo da geologia ainda pouco conhecido do pblico, que sempre causou curiosidade nas pesso-as que visitam estas majestosas esculturas geolgicas.

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Para uma melhor compreenso de como se for-mou este escarpamento da Serra Geral e os grandes canyons associados, importante voltarmos cerca de 225 milhes de anos atrs, ao perodo geolgico de-

nominado Permiano, quando os atuais continentes ainda estavam unidos e formavam um supercontinen-te denominado PANGEA, que mais tarde viria a se subdividir em dois grandes blocos denominados como EURSIA e GONDWANA.

Como conseqncia do processo dinmico da crosta terrestre regido pelas regras da tectnica de placas, em um perodo de aproximadamente 135-110 milhes de anos, o supercontinente Gondwana come-ou a fragmentar-se. Esta fragmentao foi acompa-nhada de um amplo soerguimento de toda a borda leste do recm criado continente da Amrica do Sul e da borda oeste da frica (Fig. 14), fazendo com que os derrames vulcnicos e as rochas subjacentes fossem aladas, formando o que posteriormente denominou-se de Serra Geral e Serra do Mar, no continente sul americano.

Na continuao do processo, a Amrica do Sul foi progressivamente se separando da frica e a Amrica do Norte da Europa, dando origem ao Oceano Atln-tico e Cadeia Mesocenica, formada por derrames vulcnicos submarinos. A semelhana morfolgica entre as costas do Brasil e da frica fez com que, em 1912, Alfred Wegener elaborasse a teoria da deriva continental, comprovando, atravs de evidncias geo-lgicas e paleontolgicas, que a frica, a Amrica do Sul, a Austrlia e a ndia faziam parte de um super-contintente denominado Gondwana.

A fachada atlntica do litoral dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina tem sua histria defi-nida a partir da fase de intensas movimentaes tect-nicas ocorridas durante o Cretceo, perodo durante o qual, medida em que o Oceano Atlntico ia aumen-tando de tamanho e a Cadeia Mesocenica se con-substanciando, potentes falhamentos paralelos costa

faziam com que enormes pedaos da recm formada escarpa da Serra Geral afundassem nas guas do Oce-ano Atlntico. Este processo de falhamentos escalo-nados em forma de escada, onde os degraus descem em direo ao mar, o responsvel pela existncia de restos da escarpa original em diversas cotas topogrfi-cas da plataforma atlntica. A associao entre a tec-tnica de placas e os processos de eroso e flutuaes do nvel do mar que ocorreram posteriormente so os responsveis pela atual distncia entre os contrafortes da Serra Geral e as zonas de praias do Oceano Atln-tico.

Figura 14 - Esquema mostrando o adelgaamento da cros-ta e separao das massas continentais (adaptado de Topin-ka, USGS/CVO, http://vulcan.wr.usgs.gov/Glossary/ in Geologic Time Scale/Triassic - The Break-up of the

Continent Pangea. Figure 14 Sketch showing the crustal thinning and the continental

drift (adapted from Topinka, USGS/CVO, http://vulcan.wr.usgs.gov/Glossary/ in Geologic Time Scale/Triassic The Break-up of the continent Pangea).

Uma vez formada a escarpa da Serra Geral, as di-ferenas de composio entre derrames de basalto e riolito, as distintas velocidades de alterao entre ro-chas de diferentes composies, os profundos fratu-ramentos existentes e a atuao dos processos de ero-so fluvial atravs dos tempos, foram lentamente es-culpindo a paisagem, resultando na atual morfologia dos Aparados da Serra e seus canyons.

Fator preponderante no desenvolvimento dos can-yons a presena de descontinuidades tectnicas, onde a orientao dos principais canyons coincide com as principais direes de fraturas existentes nas rochas vulcnicas da regio. Como estas falhas e fraturas so zonas de fraqueza, onde existe uma maior percolao de gua, controlando a localizao dos cursos de gua e facilitando a eroso vertical, admite-se que estas fendas tenham exercido um papel preponderante na formao e localizao destas estruturas.

J nas eras geolgicas denominadas Tercirio e Quaternrio, os sedimentos que provinham da eroso da escarpa da Serra Geral foram depositados no fundo do Oceano Atlntico, formando espessos pacotes e franjas sedimentares ao longo da plataforma continen-tal. O mar avanava e recuava sobre o continente, atravs de transgresses e regresses alternadas, mo-delando progressivamente o litoral do Rio Grande do Sul e Santa Catarina at o seu estgio atual. Foi nestas eras que um sistema de grandes barreiras marinhas formou-se no litoral destes estados, aprisionando um grande volume de gua salgada, que posteriormente deu origem a um colar de lagoas e lagunas que se dis-tribuem por todo litoral do Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina, chegando sua forma atual. Como sabemos, os processos geolgicos so dinmicos e mutveis ao longo do tempo, e por isto a costa atln-tica continua numa lenta e progressiva sucesso de modificaes, s perceptveis aps longos perodos geolgicos.

Ao trmino de sua formao, o Planalto Basltico do Nordeste do Rio Grande do Sul resultou em um dorso geral com inclinaes para oeste, sudoeste e sul, entalhado por um leque de rios de tipo conseqente. Durante o processo de soerguimento do edifcio prin-cipal, formado pelo conjunto de derrames, acontece-ram encaixamentos importantes dos rios que se dirigi-am para oeste (rio Pelotas), rios que se dirigiam para o sul (afluentes da margem esquerda do rio Jacu), en-quanto os pequenos cursos que se dirigiam para leste tiveram dificuldades para sua migrao, festonando os aparados e entalhando canyons curtos e profundos em setores especficos das escarpas. Do lado continental o encaixamento dos rios, como o Pelotas e o Antas, refletiram os estmulos sucessivos de uma hipergnese que atuou por diversos ressaltos durante o decorrer da era terciria, fato que compartimentou o planalto ba-sltico e criou as magnficas paisagens na Serra Ga-cha.

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MEDIDAS DE PROTEO

Os canyons do Itaimbezinho e Fortaleza acham-se em reas demarcadas como PARQUE NACIONAL, administrados pelo IBAMA e sujeitos a uma legislao especfica. Os Parques Nacionais so reas geogrficas delimitadas, dotadas de atributos naturais excepcionais e de preservao permanente, destinados a fins cient-ficos, culturais, educacionais e recreativos, criados com a finalidade de resguardar caractersticas especiais como paisagens de extraordinria beleza, espcies de flora e de fauna raros, em perigo ou ameaados de extino, constituindo-se em bens da Unio.

O Parque Nacional de Aparados da Serra, onde se encontra o Itaimbezinho, o mais antigo, tendo sido criado como tal em 1959, sobre rea j protegida por decreto estadual de 1957, tendo sido ampliado em 1972. Possui Plano de Manejo desde 1984, que previa sua expanso de modo a englobar novas reas (canyons Fortaleza, Malacara, Churriado e outros), que vieram a constituir o Parque Nacional da Serra Geral, criado em 1992.

No Itaimbezinho o IBAMA implantou e mantm uma infra-estrutura administrativa do Parque Apara-dos da Serra, contando com Portaria, Centro de Visi-tantes e servios administrativos de apoio. H um horrio especfico de abertura do Parque (ingresso pago), o qual permanece fechado em determinados dias da semana por questes conservacionistas e ad-ministrativas. So disponveis guias particulares para acompanhamento nas trilhas liberadas para visitao. Na parte baixa do parque h muita presso antrpica, como a invaso do parque para caa, retirada de ma-deira, plantio e criao de gado. A situao fundiria permanece apenas parcialmente regularizada (58%), restando ainda superficirios interagindo na rea de preservao (http://www2.ibama.gov.br/unidades/parques/reuc/65.htm ).

No Canyon Fortaleza, rea do Parque Nacional da Serra Geral, a situao mais precria, contando ape-nas com a infra-estrutura de uma guarita que regula a entrada (gratuita) e cobe atividades no permitidas, como acampamento, fogueiras e trilhas no autoriza-das. Os problemas mais freqentes dizem respeito a atividades de caa, incndios e desmatamento. A situ-ao fundiria no est regulariza-da.(http://www2.ibama.gov.br/unidades/parques/reuc/67.htm ).

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< http://www.cprm.gov.br/Aparados/index.htm>

(*) CPRM - Servio Geolgico do Brasil 1 - [email protected] 2 - [email protected] 3 - [email protected]

http://www2.ibama.gov.br/unidades/parques/reuc/65.htmhttp://www2.ibama.gov.br/unidades/parques/reuc/65.htmhttp://www2.ibama.gov.br/unidades/parques/reuc/67.htmhttp://www2.ibama.gov.br/unidades/parques/reuc/67.htmhttp://www.ibama.gov.br/http://www.cprm.gov.br/Aparados/index.htmmailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]

CURRICULUM VITAE SINPTICO DOS AUTORES

Wilson Wildner - Graduado em Geologia pela UNISINOS (1977), mestrado em Geocincias pela UFRGS (1991), doutorado em Geocincias pela UFRGS (1999) e ps-doc no Institut fr Minera-logie und Kristallchemie (Stutt-

gart - Germany). Gelogo da CPRM - Servio Geol-gico do Brasil e professor nas reas de petrologia e geoqumica no departamento de geologia da UNISINOS. Trabalha com nfase em petrologia, geoqumica e metalogenia de seqncias vulcano-sedimentares e prospeco de depsitos de Cu-Ni (EGP). Atua fundamentalmente nos seguintes temas: magmatismo, estratigrafia e petrologia do Serra Geral; vulcano-plutonismo Neoproterozico relacionado Bacia do Camaqu, e identificao de texturas e estru-turas relacionadas a terrenos vulcano e metavulcano-sedimentares.

Vitrio Orlandi Filho . Gelogo (UFRGS-1967) - Especializao em sensoriamento remoto e fotointer-pretao no Panam e Estados Unidos. De 1970 a 2007 exerceu suas atividades junto ao Servio Geolgico do Brasil, onde desen-volveu projetos ligados ao mapea-

mento geolgico regional, prospeco mineral e ges-to territorial. Em 2006 participou da elaborao do Mapa de Geodiversidade do Brasil CPRM.

Lus Edmundo Giffoni - Forma-do em 1966 pela Escola de Geolo-gia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou a carreira no 1 Distrito do DNPM, em Porto Alegre, em atividades de mapea-mento geolgico nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e, posteriormente, no 5 Distrito,

em Manaus. Passou a trabalhar na CPRM em Belm em 1970, a partir de sua criao, em atividades de gerenciamento tcnico e administrativo, tendo se transferido posteriormente para o Escritrio do Rio de Janeiro desta empresa. Desde 1975 sediado na Superintendncia Regional da CPRM em Porto Ale-gre, onde foi Coordenador de Recursos Minerais, Superintendente Regional e, ultimamente, Supervisor da rea de Informtica, com atividades voltadas espe-cialmente para a coordenao da editorao eletrnica de relatrios tcnicos.

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