Magia Secular

4
MAGIA SECULAR: UMA INTRODUÇÃO Diego Rafael Deckmann Ramírez; Celso Vianna Bezerra de Menezes (orientador) e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Centro de Letras e Ciências Humanas/Londrina, PR. Área e sub-área do conhecimento: 7.03.00.00-3 - Antropologia Palavras-chave: teatro, performance, ilusionismo Resumo: O presente trabalho tem como objetivo trazer à academia um novo tema que se insere na área da antropologia da performance e do teatro: a magia secular. A mesma, normalmente conhecida como mágica e/ou ilusionismo, será analisada desde perspectivas teóricas dos trabalhos publicados por magos reconhecidos como Burger e Neale (2009), Ortiz (1999) e outros. As referências puramente acadêmicas que também sustentarão o trabalho serão Richard Schechner (2007) e Eugenio Barba (2006) no que se refere à área do teatro e da performance, e os trabalhos de Simon During (2002) e Michael Mangan (2007) estarão à frente no debate da arte mágica. Sendo um tema completamente novo à academia latina, o trabalho se apresentará mais como uma introdução do que como uma problematização. Serão estudados os elementos teatrais que compõem o ato do mago secular, o personagem do mago secular, história do mesmo, significados, o impacto na audiência, elementos religiosos, entre outros tópicos. Introdução A magia é um tema que está nos paradigmas da antropologia desde seus inícios. É um tema que se resguardou nessa área das Ciências Sociais durante muito tempo. Obras como O ramo dourado de James Frazer e Uma teoria geral da Magia de Henri Hubert e Marcel Mauss são alguns dos clássicos tratados do início da abordagem da magia que priorizavam a sistematização da estrutura religiosa de seus objetos de estudo, isto é, as etnias estudadas. É leitura obrigatória para quem deseja desenvolver algum escrito sobre o campo da magia. A magia passou por considerações de várias correntes de pensamento, não somente pela escola evolucionista e francesa (funcionalismo). Ela também foi tratada como ligada à religião, ao parentesco e, principalmente considerada pedra angular de certos sistemas culturais. No desenvolvimento da antropologia social, as diferentes escolas tomaram posicionamentos sobre o conceito de magia. Até hoje, os acadêmicos não chegaram a um consenso sobre a conceitualização da mesma. Mas este não é mais um trabalho sobre magia, pelo menos não da magia que estamos acostumados a ler, a magia ligada à religião, ou também Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

Transcript of Magia Secular

Page 1: Magia Secular

MAGIA SECULAR: UMA INTRODUÇÃO

Diego Rafael Deckmann Ramírez; Celso Vianna Bezerra de Menezes (orientador) e-mail: [email protected]

Universidade Estadual de Londrina/Centro de Letras e Ciências Humanas/Londrina, PR.

Área e sub-área do conhecimento: 7.03.00.00-3 - Antropologia

Palavras-chave: teatro, performance, ilusionismo

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo trazer à academia um novo tema que se insere na área da antropologia da performance e do teatro: a magia secular. A mesma, normalmente conhecida como mágica e/ou ilusionismo, será analisada desde perspectivas teóricas dos trabalhos publicados por magos reconhecidos como Burger e Neale (2009), Ortiz (1999) e outros. As referências puramente acadêmicas que também sustentarão o trabalho serão Richard Schechner (2007) e Eugenio Barba (2006) no que se refere à área do teatro e da performance, e os trabalhos de Simon During (2002) e Michael Mangan (2007) estarão à frente no debate da arte mágica. Sendo um tema completamente novo à academia latina, o trabalho se apresentará mais como uma introdução do que como uma problematização. Serão estudados os elementos teatrais que compõem o ato do mago secular, o personagem do mago secular, história do mesmo, significados, o impacto na audiência, elementos religiosos, entre outros tópicos.

Introdução

A magia é um tema que está nos paradigmas da antropologia desde seus inícios. É um tema que se resguardou nessa área das Ciências Sociais durante muito tempo. Obras como O ramo dourado de James Frazer e Uma teoria geral da Magia de Henri Hubert e Marcel Mauss são alguns dos clássicos tratados do início da abordagem da magia que priorizavam a sistematização da estrutura religiosa de seus objetos de estudo, isto é, as etnias estudadas. É leitura obrigatória para quem deseja desenvolver algum escrito sobre o campo da magia. A magia passou por considerações de várias correntes de pensamento, não somente pela escola evolucionista e francesa (funcionalismo). Ela também foi tratada como ligada à religião, ao parentesco e, principalmente considerada pedra angular de certos sistemas culturais. No desenvolvimento da antropologia social, as diferentes escolas tomaram posicionamentos sobre o conceito de magia. Até hoje, os acadêmicos não chegaram a um consenso sobre a conceitualização da mesma. Mas este não é mais um trabalho sobre magia, pelo menos não da magia que estamos acostumados a ler, a magia ligada à religião, ou também

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

Page 2: Magia Secular

chamada de magia religiosa. Esta é uma pesquisa da magia não religiosa, isto é, do show de mágica. Ao estudar a magia religiosa, têm-se o estudo do mago ou xamã, feiticeiro, bruxo, sacerdote, etc. - a nomeação varia dependendo da sociedade. Existem magos reconhecidos historicamente como Hermes (Grécia), Merlim (Ocidente) e inclusive a enigmática figura do mago que se encontra nas cartas de tarô. Os magos existem desde tempos remotos e ainda hoje estão presentes em certas sociedades. Esta é a figura que quero destacar. O mago. Mas, sobretudo, o que ele faz. A presente pesquisa tenta dar uma nova abrangência aos estudos do teatro, da performance e da teoria antropológica mediante o estudo da magia, porém, não mais ligada às estruturas religiosas, mas ao entretenimento, ao teatro e à arte da mesma.

Simon During, na sua obra Modern Enchantments (2002), irá nomear a magia não religiosa como secular. “A magia que eu quero dizer não é a magia das bruxas ou xamãs da Sibéria (…) mas aquela magia tecnicamente produzida apresentadas como shows e efeitos especiais. Esta magia, que não se preocupa em proclamar contatos com o sobrenatural, eu chamarei de 'magia secular'” (DURING, 2002, p. 1). O nome veio integrar a pesquisa através da sua obra, mas a nomeação foi adaptada para a realização do trabalho em torno da área da performance. É importante deixar claro que embora utilizemos o mesmo nome, não significa que concordemos com as interpretações de During sobre a magia secular. Na esfera daquilo que consideramos como entretenimento, embora certos aspectos de drama social - rituais, para ser mais específico - estejam contidos na formação e performance do mago secular – como veremos do decorrer do trabalho -, encontraremos intensas conexões com a religião, embora não à crua vista. Sim, os shows de magia secular carecem de elementos religiosos num sentido geral, mas não se encontram totalmente fora do campo filosófico-religioso. Todo espetáculo de magia secular é sempre e em primeiro lugar, objetivamente falando, entretenimento secular; mas isso não quer dizer que ele se eleve a um nível mais abstrato, que interfira na sociedade contemporânea, pois essa é uma das funções subjetivas que ela possui. Este será nosso objeto de estudo, uma ampla perspectiva por certo, e que não nos permitirá abordar todos os elementos que carrega. Assim, abrimos as portas para o mago secular: sua história, sua caracterização, sua arte e sua magia.

Revisão de Literatura

Nesta pesquisa, foram utilizados autores do ramo da arte mágica considerados como autoridades pela sua experiência na área. Autores tais como Eugene Burger, Robert Neale e Darwin Ortiz constituem a base da filosofia da arte mágica no presente trabalho. Na abordagem exclusivamente acadêmica da arte mágica, trabalharemos exclusivamente com dois autores que já publicaram trabalhos com fins de análise da arte mágica, Simon During e Michael Mangan. Finalmente, no que se refere à análise do teatro e da performance, teremos o apoio de Eugenio Barba e do americano Richard

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

Page 3: Magia Secular

Schechner, que nos proporcionaram as ferramentas para delinear o espetáculo mágico; não obstante, também faremos alguns aportes à teoria de Schechner que ficaram de fora devido ao fato do espetáculo de magia secular sair dos seus pressupostos teóricos do teatro clássico.

Também lembramos que serão utilizados aportes da pesquisa de campo feita no Paraguai (com a Irmandade Mágica Paraguaia) e no Brasil (durante a estadia em congressos), como também meu próprio labor, pois eu também, trabalho com a arte mágica.

Resultados e Discussão

Levando em conta que o trabalho tem a característica de “Introdução”, a diferença da maioria dos trabalhos que trazem alguma problemática. O trabalho não contém nenhum tipo de resultado final. Ao contrário, ao se propor como uma introdução, ele termina com várias perguntas, isto é, deixando aberta a problemática para outras áreas. Questões como as discussões sobre as origens da magia secular, as suas ligações com a dimensão religiosa, a filosofia da arte mágica, a revisão dos elementos teatrais que compões o show de magia secular, entre muitas mais que se encontraram no decorrer do trabalho. O propósito da pesquisa foi apresentar um objeto à academia e ao fazer isto, inevitavelmente pulularam questões ao redor desse objeto, questões que não podem ser todas respondidas num só trabalho, questões que ficaram em aberto para as Ciências Humanas explorarem.

Conclusões

Podemos afirmar que o trabalho resultou numa tentativa de análise da arte mágica e do mago secular, onde foi discutida a sua origem, visão de mundo, nexos com a religião, a atuação na contemporaneidade e a estrutura interna do espetáculo desde o ponto de vista do teatro e da performance. O trabalho não possui uma conclusão fechada afirmando nem negando nada, mas ao contrário, como foi mencionado acima, o trabalho se afirma como uma introdução à um objeto de estudo, não uma problemática e sendo assim, deixa-se em aberto para futuras pesquisas. Mesmo assim, encontram-se conclusões no decorrer dos capítulos e esboços. Grosso modo poderíamos concluir que apresentei o mago secular como um personagem que tem suas origens no xamanismo, que possui uma filosofia na sua arte que reflete no público e na sociedade, que seu espetáculo é uma forma de teatro que foge dos pressupostos básicos do teatro pelo fato do mago ser seu próprio diretor, roteirista, figurinista, ator principal, etc. Que carrega drama estético e que não se encontra separado das dimensões religiosas. E finalmente, esta introdução da magia secular que apresento, representa somente a ponta do iceberg pelo fato de ser um tema completamente novo à academia e pelo fato da arte mágica ter apenas mais de um século vigente.

Referências

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

Page 4: Magia Secular

BARBA, E. A dictionary of theater anthropology: The secret Art of the Performormer. UK: Scotprint, 2006.

BURGER, E.; NEALE, R. Magic and Meaning (Expanded). Seattle: Hermetic Press, 2009.

DURING, S. Modern Enchantments: The cultural power of secular magic. Cambridge: Harvard University Press, 2002.

MANGAN, M. Performing the dark arts: A cultural history of Conjuring. UK: Intellect Ltd, 2007.

ORTIZ, D. La buena Magia. Madrid: Laura Avilés, 1999.

SCHECHNER, R. Performance Theory. Great Britain: TJ International, 2007.

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.