Mademoiselle's Bow interview - May 2014

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Correio da Feira 26.MAI.2014 12 Daniela Castro Soares [email protected] “Em busca de um futuro melhor”, Silvana Santos partiu para França, em 2010, levando consigo o marido e deixando para trás a terra natal de Gião. “Um futuro que, na altura, Portugal não conseguia oferecer” – descreve. Dois anos depois, surge a pequena Lara, filha do casal, que vem dar à mãe um duplo presente, inspirando-a para um novo projecto. “Numa fase inicial, comecei com a criação de objectos decorativos para quarto de bebés/crianças, mas cedo percebi que não era a área que mais me cativava. Decidi, então, arriscar na criação de aces- sórios femininos direccionados para o público mais pequeno. Foram mui- to bem aceites e dei-me conta que este era um “mundo” que eu tinha curiosidade em explorar” – conta Silvana Santos. A 13 Fevereiro de 2014, nasce a página do Facebook “Mademoiselle’s Bow” “e, com ela, a certeza de que este era o caminho”. Com estudos na área da educação de infância, Silvana Santos sempre teve um lugar especial no coração para as artes manuais. “A disciplina de Educação Visual era das minhas favoritas nos tempos de escola, principalmente quando eram aulas de desenho livre, de invenção” – re- corda. A “Mademoiselle’s Bow” per- mitiu-lhe desenvolver esta paixão, através do fabrico de acessórios de cabelo para bebés e crianças. “Tenho laços, headbands, bando- letes e ganchos. Recentemente, apostei na criação de um lenço de pescoço unisexo” – diz Silvana Santos. A artesã inspira-se em vá- rios estilos, mas elege o boho chic e o hippie como preferidos. “São caracterizados pela descontrac- ção, pela leveza, pela cor e pelos padrões. Transmitem simplicidade e conforto” – descreve. Mas não só. Silvana Santos retira também ideias de modas passadas. “As rendas e os bordados estão muito presentes nas minhas peças. Costumo carac- terizar este lado da marca como um “passado no presente”. No fundo, a Mademoiselle’s tem dois lados: o descontraído e alegre e o chique e romântico” – afirma. Grande parte das peças são feitas em tecido, podendo depois ser conjugado com elásticos, cordões, cetim, pérolas. “Quando penso numa peça, penso também que materiais serão mais adequados para conseguir o re- sultado que pretendo. A partir daí, surge a fase do “testar”, em que se coloca em prática e se percebe se é mesmo possível dar vida a tal criação” – revela. Fotografia é outra paixão Aliada à criação dos acessórios, está a mostra através da fotografia, outra grande paixão de Silvana Santos. “Nos últimos meses, tenho lido e estudado alguns princípios fundamentais que me têm ajudado bastante. Sou completamente ama- dora mas tento conseguir boas fo- tografias através dos poucos meios que tenho, dentro da minha sala e usando a minha filha e as filhas de amigos como modelos” – conta a artesã. Todas as peças exibidas nas fotografias são personalizáveis a nível de tamanho, cor e, nalguns casos, de modelo. “São peças que podem ser usadas tanto por bebés como por adultos, excepto os arti- gos feitos especialmente para de- terminadas idades” – refere Silvana Santos. Mas quem quiser uma peça à sua medida também pode pedir. “Se me pedirem para fazer uma peça totalmente diferente, aceitarei com todo o gosto” – afirma, dando como exemplo um caso concreto. “Uma mãe gostou dos meus arti- gos e queria algo especial para a filha usar no baptizado do irmão. Forneceu-me a cor do vestido e dos sapatos a usar naquele dia e falou-me nos seus gostos, dando- me liberdade para criar. Dá-me um certo nervosismo e medo (que a pessoa não aprove a peça) mas tem um gosto especial!” – relata Silvana Santos. As encomendas, para já, têm vindo somente de Portugal, mas a artesã está entusiasmada. “Este início tem sido tão bom e com tanto trabalho que, sinceramente, não tive tempo para pensar no mercado francês. Para dizer a verdade, os portugue- ses são o meu público-alvo. Mas obviamente que, se aparecerem oportunidades em França, não as rejeitarei” – declara. Com mais de 1500 gostos na página do Face- book, os clientes vão-se tornando regulares. “Tenho alguns que já vão na segunda e terceira encomendas. Tenho inclusive uma cliente que no mesmo dia em que recebeu a sua primeira encomenda, fez pe- dido para a próxima” – adianta. Os acessórios que mais têm saído são a headband “Boho Chic” e a “Coroa de flores”. “A primeira foi a que me ajudou a crescer pois foi partilhada por muitas páginas no Facebook e a segunda recebeu um aumento de encomendas neste último mês, sendo bastante requisitada para baptizados” – refere. O feedback tem sido muito positivo. “O retorno tem sido espectacular, principal- mente tendo em conta que esta “viagem” começou há apenas três meses!” – diz Silvana Santos, que, citando alguns dos seus internautas, refere palavras como “fantástica”, “diferente”, “única”, “profissional”, “inovadora” e “original” para carac- terizar a Mademoiselle’s Bow. “Acho que é tudo o que qualquer marca gostaria de ouvir. É muito bom sentir reconhecimento pelo nosso trabalho, independentemente do que se faz” – declara. Inovação e muito amor O factor-chave para este sucesso é a inovação. “Quando criei a Mademoiselle’s Bow, tinha como objectivo marcar a diferença por- que, no fundo, acessórios bons e bonitos já existem. As minhas peças são simples, porém, os modelos utilizados são (ou eram), na sua grande maioria, pouco utilizados por bebés e crianças. As headbands “Boho Chic” e “Princesse” são mo- delos normalmente escolhidos para adultos. Eu “peguei” neles e dei-lhes o toque infantil e o modernismo que me pareciam necessários” – conta, sublinhando que “a originalidade de alguns artigos é o que chama a atenção das pessoas”. “Comecei a utilizar bordado em peças que não eram roupa, como por exemplo, nas faixas de cabelo” – acrescenta. Além de tentar introduzir algo novo no mercado, Silvana Santos coloca muito amor em cada artigo que faz. “Tento que cada peça transmita o amor com que foi feita. Eu não en- vio peças que, aos meus olhos, me pareçam imperfeitas. Sou capaz de fazer e refazer vezes sem conta, até obter o resultado desejado, mesmo que isso envolva custos adicionais. Sou insatisfeita por natureza e, mais do que dinheiro, é paixão” – comenta. Começou pelo Facebook por ser “uma das maiores plataformas a nível de publicidade que existe neste momento”, onde “é possível chegar a uma grande quantidade de pessoas de forma rápida e sem custos”, mas Silvana Santos não quer parar por aí. “É um objectivo abrir loja em Portugal” – revela, frisando, contudo, “ter plena cons- ciência dos muitos obstáculos pelo caminho”. “Sonho e penso nisso mas estou focada no presente. Sou uma pessoa com muitos sonhos mas todos eles são pensados ao pormenor. Não gosto de “voar” sem ter a certeza que terei asas suficien- temente fortes para me segurarem durante o caminho. Até lá, existe muito a provar, especialmente a mim mesma” – reforça, salientan- do que, para já, há que investir no negócio actual. “Ainda existe muito a trabalhar, a melhorar, a aprender. Estou focada na criação de novos modelos e em dar a conhecer a Mademoiselle’s Bow. Aos poucos vão surgindo propostas por parte de outras pessoas e a marca vai crescendo, mas está longe de ser aquilo que pretendo” – comenta. Num nicho de mercado com ainda muito por explorar, Silvana Santos não é mulher de desistir. “Penso que já não existe muito a inventar mas sim a inovar. Actualmente, pas- samos pelo uso e abuso de laços. Conhece alguma menina que não use laços? São bonitos, cada vez mais originais (eu mesma os ven- do) mas os acessórios de crianças são muito mais que laços. Acho que está na altura de deixarmos as nossas crianças bonitas com outro tipo de adornos” – refere. A artesã planeia realizar cursos avançados de costura para que, “um dia, a Mademoiselle’s Bow seja mais do que uma marca de acessórios”. “A única certeza é que continuarei a trabalhar para conseguir alcançar o verdadeiro sucesso!” – realça. Por ora, o projecto vai dando para matar as saudades do país que nunca sai do seu coração. “De certa forma, a Mademoiselle’s Bow ajuda-me a esquecer um pouco as saudades e faz-me sentir mais perto do meu país. Voltar a Portugal é uma priori- dade, provavelmente das primeiras na minha lista de desejos. Não há dinheiro que substitua a presença dos que mais amamos. E, mais do que antes, sinto que Portugal tem muito para me oferecer” – remata. Gião // Página do Facebook mais de quase 1500 gostos O mundo cor-de-rosa dos acessórios para pequenas princesas O projecto saiu da cabeça de Silvana Santos, emigrada em França mas natural de Gião, que viu na filha recém-nascida a sua maior fonte de inspiração. A página Mademoiselle’s Bow tem pouco mais de três meses mas os acessórios coloridos e originais lá presentes, como fitas e elásticos, estão a fazer sucesso entre os internautas portugueses. Este é um nicho de mercado ainda por explorar e a artesã já sonha em voltar a Portugal para abrir uma loja. A Mademoiselle’s Bow ajuda-me a esquecer um pouco as sau- dades e faz-me sentir mais perto do meu país

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Correio da Feira26.MAI.201412

Daniela Castro Soares [email protected]

“Em busca de um futuro melhor”, Silvana Santos partiu para França, em 2010, levando consigo o marido e deixando para trás a terra natal de Gião. “Um futuro que, na altura, Portugal não conseguia oferecer” – descreve. Dois anos depois, surge a pequena Lara, filha do casal, que vem dar à mãe um duplo presente, inspirando-a para um novo projecto. “Numa fase inicial, comecei com a criação de objectos decorativos para quarto de bebés/crianças, mas cedo percebi que não era a área que mais me cativava. Decidi, então, arriscar na criação de aces-sórios femininos direccionados para o público mais pequeno. Foram mui-to bem aceites e dei-me conta que este era um “mundo” que eu tinha curiosidade em explorar” – conta Silvana Santos. A 13 Fevereiro de 2014, nasce a página do Facebook “Mademoiselle’s Bow” “e, com ela, a certeza de que este era o caminho”. Com estudos na área da educação de infância, Silvana Santos sempre teve um lugar especial no coração

para as artes manuais. “A disciplina de Educação Visual era das minhas favoritas nos tempos de escola, principalmente quando eram aulas de desenho livre, de invenção” – re-corda. A “Mademoiselle’s Bow” per-mitiu-lhe desenvolver esta paixão, através do fabrico de acessórios de cabelo para bebés e crianças. “Tenho laços, headbands, bando-letes e ganchos. Recentemente, apostei na criação de um lenço de pescoço unisexo” – diz Silvana Santos. A artesã inspira-se em vá-rios estilos, mas elege o boho chic e o hippie como preferidos. “São caracterizados pela descontrac-ção, pela leveza, pela cor e pelos padrões. Transmitem simplicidade e conforto” – descreve. Mas não só.

Silvana Santos retira também ideias de modas passadas. “As rendas e os bordados estão muito presentes nas minhas peças. Costumo carac-terizar este lado da marca como um “passado no presente”. No fundo, a Mademoiselle’s tem dois lados: o descontraído e alegre e o chique e romântico” – afirma. Grande parte das peças são feitas em tecido, podendo depois ser conjugado com elásticos, cordões, cetim, pérolas. “Quando penso numa peça, penso também que materiais serão mais adequados para conseguir o re-sultado que pretendo. A partir daí, surge a fase do “testar”, em que se coloca em prática e se percebe se é mesmo possível dar vida a tal criação” – revela.

Fotografia é outra paixãoAliada à criação dos acessórios, está a mostra através da fotografia, outra grande paixão de Silvana Santos. “Nos últimos meses, tenho lido e estudado alguns princípios fundamentais que me têm ajudado bastante. Sou completamente ama-dora mas tento conseguir boas fo-tografias através dos poucos meios que tenho, dentro da minha sala e usando a minha filha e as filhas de amigos como modelos” – conta a artesã. Todas as peças exibidas nas fotografias são personalizáveis a nível de tamanho, cor e, nalguns casos, de modelo. “São peças que podem ser usadas tanto por bebés como por adultos, excepto os arti-gos feitos especialmente para de-terminadas idades” – refere Silvana Santos. Mas quem quiser uma peça à sua medida também pode pedir. “Se me pedirem para fazer uma peça totalmente diferente, aceitarei com todo o gosto” – afirma, dando como exemplo um caso concreto. “Uma mãe gostou dos meus arti-gos e queria algo especial para a filha usar no baptizado do irmão. Forneceu-me a cor do vestido e dos sapatos a usar naquele dia e falou-me nos seus gostos, dando-me liberdade para criar. Dá-me um certo nervosismo e medo (que a pessoa não aprove a peça) mas tem um gosto especial!” – relata Silvana Santos. As encomendas, para já, têm vindo somente de Portugal, mas a artesã está entusiasmada. “Este início tem sido tão bom e com tanto trabalho que, sinceramente, não tive tempo para pensar no mercado francês. Para dizer a verdade, os portugue-ses são o meu público-alvo. Mas obviamente que, se aparecerem oportunidades em França, não as

rejeitarei” – declara. Com mais de 1500 gostos na página do Face-book, os clientes vão-se tornando regulares. “Tenho alguns que já vão na segunda e terceira encomendas. Tenho inclusive uma cliente que no mesmo dia em que recebeu a sua primeira encomenda, fez pe-dido para a próxima” – adianta. Os acessórios que mais têm saído são a headband “Boho Chic” e a “Coroa de flores”. “A primeira foi a que me ajudou a crescer pois foi partilhada por muitas páginas no Facebook e a segunda recebeu um aumento de encomendas neste último mês, sendo bastante requisitada para baptizados” – refere. O feedback tem sido muito positivo. “O retorno tem sido espectacular, principal-mente tendo em conta que esta “viagem” começou há apenas três meses!” – diz Silvana Santos, que,

citando alguns dos seus internautas, refere palavras como “fantástica”, “diferente”, “única”, “profissional”, “inovadora” e “original” para carac-terizar a Mademoiselle’s Bow. “Acho que é tudo o que qualquer marca gostaria de ouvir. É muito bom sentir reconhecimento pelo nosso trabalho, independentemente do que se faz” – declara.

Inovação e muito amorO factor-chave para este sucesso é a inovação. “Quando criei a Mademoiselle’s Bow, tinha como objectivo marcar a diferença por-que, no fundo, acessórios bons e bonitos já existem. As minhas peças são simples, porém, os modelos utilizados são (ou eram), na sua grande maioria, pouco utilizados por bebés e crianças. As headbands “Boho Chic” e “Princesse” são mo-delos normalmente escolhidos para adultos. Eu “peguei” neles e dei-lhes o toque infantil e o modernismo que me pareciam necessários” – conta, sublinhando que “a originalidade de alguns artigos é o que chama a

atenção das pessoas”. “Comecei a utilizar bordado em peças que não eram roupa, como por exemplo, nas faixas de cabelo” – acrescenta. Além de tentar introduzir algo novo no mercado, Silvana Santos coloca muito amor em cada artigo que faz. “Tento que cada peça transmita o amor com que foi feita. Eu não en-vio peças que, aos meus olhos, me pareçam imperfeitas. Sou capaz de fazer e refazer vezes sem conta, até obter o resultado desejado, mesmo que isso envolva custos adicionais. Sou insatisfeita por natureza e, mais do que dinheiro, é paixão” – comenta.Começou pelo Facebook por ser “uma das maiores plataformas a nível de publicidade que existe neste momento”, onde “é possível chegar a uma grande quantidade de pessoas de forma rápida e sem custos”, mas Silvana Santos não quer parar por aí. “É um objectivo abrir loja em Portugal” – revela, frisando, contudo, “ter plena cons-ciência dos muitos obstáculos pelo caminho”. “Sonho e penso nisso mas estou focada no presente. Sou uma pessoa com muitos sonhos mas todos eles são pensados ao pormenor. Não gosto de “voar” sem ter a certeza que terei asas suficien-temente fortes para me segurarem durante o caminho. Até lá, existe muito a provar, especialmente a mim mesma” – reforça, salientan-do que, para já, há que investir no negócio actual. “Ainda existe muito a trabalhar, a melhorar, a aprender.

Estou focada na criação de novos modelos e em dar a conhecer a Mademoiselle’s Bow. Aos poucos vão surgindo propostas por parte de outras pessoas e a marca vai crescendo, mas está longe de ser aquilo que pretendo” – comenta. Num nicho de mercado com ainda muito por explorar, Silvana Santos não é mulher de desistir. “Penso que já não existe muito a inventar mas sim a inovar. Actualmente, pas-samos pelo uso e abuso de laços. Conhece alguma menina que não use laços? São bonitos, cada vez mais originais (eu mesma os ven-do) mas os acessórios de crianças são muito mais que laços. Acho que está na altura de deixarmos as nossas crianças bonitas com outro tipo de adornos” – refere. A artesã planeia realizar cursos avançados de costura para que, “um dia, a Mademoiselle’s Bow seja mais do que uma marca de acessórios”. “A única certeza é que continuarei a trabalhar para conseguir alcançar o verdadeiro sucesso!” – realça. Por ora, o projecto vai dando para matar as saudades do país que nunca sai do seu coração. “De certa forma, a Mademoiselle’s Bow ajuda-me a esquecer um pouco as saudades e faz-me sentir mais perto do meu país. Voltar a Portugal é uma priori-dade, provavelmente das primeiras na minha lista de desejos. Não há dinheiro que substitua a presença dos que mais amamos. E, mais do que antes, sinto que Portugal tem muito para me oferecer” – remata.

Gião // Página do Facebook mais de quase 1500 gostos

O mundo cor-de-rosa dos acessórios para pequenas princesasO projecto saiu da cabeça de Silvana Santos, emigrada em França mas natural de Gião, que viu na filha recém-nascida a sua maior fonte de inspiração. A página Mademoiselle’s Bow tem pouco mais de três meses mas os acessórios coloridos e originais lá presentes, como fitas e elásticos, estão a fazer sucesso entre os internautas portugueses. Este é um nicho de mercado ainda por explorar e a artesã já sonha em voltar a Portugal para abrir uma loja.

“A Mademoiselle’s

Bow ajuda-me a esquecer um pouco as sau-

dades e faz-me sentir mais perto

do meu país”