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O PENSAMENTO RELIGIOSO DO PADRE MATEUS PINHO GWENJERE Mateus Pinho Gwenjere nasceu na “aldeia de Gwenjere” em Caia, Província de Tete, em 19 de Novembro de 1933. É o filho mais velho do chefe tradicional, Pinho Ventura Gwenjere, e de Raquel Mazalale N’Saica. A sua mãe pertencia a uma das famílias mais respeitadas e ricas da região – a família N’Saica – também de chefes tradicionais. Na sua juventude, tal como outros rapazes ao longo do vale do Zambeze, dedicou-se à caça que, na altura, era uma das principais actividades dos rapazes na área para demonstrarem a sua bravura. Ele também ia à pesca e ajudava os seus pais com actividades agrícolas e pecuárias. Caça bem sucedida ao longo das margens do rio Zambeze. Fonte: © 2019 Missionários da África Não se sabe ao certo onde e em que ano, em particular, Mateus Gwenjere começou a frequentar a escola. Numa carta a este autor, o seu contemporâneo Tomé Mbuya-João de Chindio, Mutarara, escreveu que quando conheceu Mateus Gwenjere em Mutarara em 1947 ele já era regente na Escola de Chirembwe em Inhangoma. Isso significa que Gwenjere começou a estudar muito antes de 5 de Junho de 1946, quando os Missionários da África (“Padres Brancos”) se estabeleceram pela primeira vez em Magagade. Segundo o padre Nolan, os Padres Brancos não construiram de raiz a Igreja Católica em Magagade. Eles obtiveram-na dos Missionários Franciscanos, sugerindo assim que Mateus Gwenjere começou a estudar com os Missionários Franciscanos. Tendo completado o mais alto nível de educação para os “indígenas”, a “educação rudimentar”, Mateus Gwenjere partiu para Mutarara onde 1

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O PENSAMENTO RELIGIOSO DO PADRE MATEUS PINHO GWENJEREMateus Pinho Gwenjere nasceu na “aldeia de Gwenjere” em Caia, Província de Tete, em 19 de Novembro de 1933. É o filho mais velho do chefe tradicional, Pinho Ventura Gwenjere, e de Raquel Mazalale N’Saica. A sua mãe pertencia a uma das famílias mais respeitadas e ricas da região – a família N’Saica – também de chefes tradicionais.Na sua juventude, tal como outros rapazes ao longo do vale do Zambeze, dedicou-se à caça que, na altura, era uma das principais actividades dos rapazes na área para demonstrarem a sua bravura. Ele também ia à pesca e ajudava os seus pais com actividades agrícolas e pecuárias.

Caça bem sucedida ao longo das margens do rio Zambeze. Fonte: © 2019 Missionários da ÁfricaNão se sabe ao certo onde e em que ano, em particular, Mateus Gwenjere começou a frequentar a escola. Numa carta a este autor, o seu contemporâneo Tomé Mbuya-João de Chindio, Mutarara, escreveu que quando conheceu Mateus Gwenjere em Mutarara em 1947 ele já era regente na Escola de Chirembwe em Inhangoma. Isso significa que Gwenjere começou a estudar muito antes de 5 de Junho de 1946, quando os Missionários da África (“Padres Brancos”) se estabeleceram pela primeira vez em Magagade. Segundo o padre Nolan, os Padres Brancos não construiram de raiz a Igreja Católica em Magagade. Eles obtiveram-na dos Missionários Franciscanos, sugerindo assim que Mateus Gwenjere começou a estudar com os Missionários Franciscanos.Tendo completado o mais alto nível de educação para os “indígenas”, a “educação rudimentar”, Mateus Gwenjere partiu para Mutarara onde se tornou professor. Alguns anos depois, regressou à Murraça, onde se tornou catequista. A consolidação da sua educação religiosa, sob o padre Charles Pollet, que era o Padre Superior da Missão da Murraça e o seu mentor espiritual, despertou nele a vocação de sacerdote. Assim, apesar da sua idade relativamente avançada, o Padre Pollet selecionou-o para ir ao recém-fundado Seminário de Sao Joao de Brito de Zóbuè, na Província de Tete.

Depois de cinco anos no Seminário Menor de Zóbuè, o primeiro grupo de seminaristas, incluindo Mateus Pinho Gwenjere, partiu em 1955 para o Seminário Maior de Namaacha na então Lourenço Marques, a capital de Moçambique. O seminário maior de Namaacha ministrava cursos de Filosofia

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e Teologia durante sete anos, com três anos de estudos filosóficos e quatro anos de teologia. Mateus Pinho Gwenjere concluiu os seus estudos teológicos no Seminário Maior de Namaacha em Julho de 1963. Após a sua formação, foi ordenado sacerdote pelo Dom Sebastião Soares de Resende, juntamente com Manuel Mucauro, na Paróquia de Macuti, na Beira, a 15 de Agosto de 1964.

Padre Mateus Gwenjere no Seminário de Zóbuè em 1964. Fonte: © 2019 Dr. Josef PampalkNo seu depoimento na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, em 6 de Novembro de 1967, o Padre Gwenjere disse à sua audiência que a Igreja Católica em Moçambique estava dividida em duas partes: a Igreja Católica “Salazarista”, liderada pelo Cardeal-Arcebispo Teodósio Clemente de Gouveia e o seu sucessor Dom Custódio Alvim Pereira da Arquidiocese de Lourenço Marques; e a Igreja Católica “Romana”, liderada pelo Bispo da diocese de Beira Dom Sebastião Soares de Resende. De acordo com ele, a Igreja de Dom Gouveia defendia os interesses do regime colonial português, enquanto que a Igreja de Dom Sebastião Soares de Resende defendia os direitos do povo moçambicano à autodeterminação.No seu testemunho nas Nações Unidas, o Padre Gwenjere explicou que, quando o regime de Salazar assinou a Concordata e o Acordo Missionário que permitiam à Igreja Católica exercer livremente o seu apostolado nos territórios portugueses, a sua intenção não era a mesma que a de Roma. Tudo o que o regime de Salazar queria era usar a Igreja como um “instrumento político de exploração”. Segundo ele, a Igreja Católica “Salazarista” em Moçambique não “observava os ensinamentos de Cristo”; era “reacionária”; e contradizia “os princípios morais delineados nas Sagradas Escrituras”.O Padre Gwenjere observou ainda que, enquanto os missionários católicos romanos desfrutavam de vários benefícios do regime colonial português, as seitas não-católicas não recebiam nenhuma ajuda e eram constantemente perseguidas. Ele acusou a Igreja “Salazarista” do Cardeal-Arcebispo De Gouveia de apoiar a exclusão dessas seitas. Segundo o Padre Gwenjere, o Cardeal-Arcebispo De Gouveia escrevia artigos que menosprezavam outras igrejas.De Gouveia morreu em 6 de Fevereiro de 1962. A Santa Sé propôs o Bispo da Beira, Dom Sebastião Soares de Resende, para substituí-lo. No entanto, esta proposta foi vetada pelo regime de Salazar. Dom Custódio Alvim Pereira, que foi designado para o cargo em 3 de Agosto de 1962, tornou-se um firme aliado do regime de Salazar em Moçambique. Ele era conhecido por defender mais os interesses do regime colonial português do que os da Igreja Católica. Todas as vezes que a Igreja Católica “profética”, liderada por Dom Sebastião de Resende e depois por Dom Manuel Vieira Pinto, denunciava os crimes e as injustiças do regime colonial português, ele negava todas as provas, agindo como se fosse um porta-voz do governo colonial.

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Segundo o Padre Gwenjere, o promotor da Igreja Católica “Romana” (“Profética”) em Moçambique era o Bispo da Beira Dom Sebastião Soares de Resende. Dirigindo-se às Nações Unidas em Nova Iorque, o Padre Gwenjere disse que a Igreja Católica “Romana” de Dom Sebastião Soares De Resende lutava pela “plena aplicação da doutrina da Igreja Católica, apesar de encontrar inúmeros obstáculos do regime colonial português”.

Bispo da Beira Dom Sebastião Soares de Resende conversando com paroquianos na Missão de

Murraça em 1963 com o Padre Yvo Chouvinard ao lado e o Padre Jean Ribeaud atrás. Fonte: © 2019 Dr. Josef Pampalk

Através das suas cartas pastorais anuais, Dom Sebastião Soares De Resende criticava com firmeza o trabalho forçado e outras violações dos direitos humanos pelo regime colonial português. Nas palavras de Morier-Genoud, ao longo dos anos, o Bispo evoluiu para se tornar mais “ultramontano” do que nacionalista, colocando os objectivos da Igreja Católica acima dos do Estado nacional. Dom Sebastião Soares de Resende embarcou numa expansão maciça da sua Igreja no centro de Moçambique, criando numerosas missões e instituições educacionais. Realizou visitas constantes a países estrangeiros, especialmente aos Estados Unidos e ao Brasil, para obter ajuda alimentar, bem como para arrecadar fundos para a sua diocese. Para intensificar a evangelização, fundou novas paróquias e missões, bem como o Seminário Menor de São João de Brito de Zóbuè. Preocupado com a falta de cobertura mediática para a sua mensagem do Evangelho, fundou o jornal Diário de Moçambique em 1950 e a Radio Pax em 1954. Para o seu trabalho pastoral, contava com diferentes congregações de missionários, principalmente os “Missionários da África” comummente conhecidos como os “Padres Brancos”. Contava igualmente com os padres “De Burgos” e os Missionários dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, os padres “Picpus”. Em 1952, o Bispo da Beira, Dom Sebastião Soares de Resende, escreveu o seguinte:

“Recebi um sacerdote chamado Pollet, o melhor dos “Padres Brancos” em Moçambique. Ele é zeloso, activo, etc. Se eu tivesse uma dezena de padres como ele, revolucionariam a minha diocese em pouco tempo”.

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Padre Pollet visitando aldeias durante estação chuvosa em 1963. Visto a atravessar uma área pantanosa, carregando a sua cama de acampamento e altar portátil. Fonte: © 2019 Dr. Josef Pampalk

Na Missão de Murraça, o Padre Charles Pollet passava a maior parte do seu tempo a visitar as famílias a pé, de bicicleta ou de motorizada, chegando às zonas mais recondidas de Gumançanze, Zimba, Marra, Magagade, Mulema, Mulambe, Nsona, Macualo, Checha, Sombreiro, Chipende, Chipongoloa, Nharugué, e Camba. Ele tinha contactos directos com as famílias, buscando conhecer os seus problemas, o seu estado de saúde, assim como a escolaridade e a educação de seus filhos.

Padre Pollet era abertamente contrário à dominação portuguesa, favorecendo a independência de Moçambique. Entre 1964 e 1966, enviou muitos jovens moçambicanos à FRELIMO na Tanzânia. Devido às suas actividades “subversivas” em meados de 1966, foi transferido para a Missão de Gorongosa. Logo depois da morte do seu protector, Dom Sebastiao Soares de Resende, em 1967, ele foi expulso de Moçambique por causa de “actividades altamente prejudiciais contra a soberania nacional”.

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Padre Charles Pollet fotografado com jovens na Missão Murraça em data desconhecida. Fonte: © 2019 Irmã Helena Soares

De acordo com Vilas-Boas, depois da Conferência de Todos os Povos Africanos em Acra, Gana, em Dezembro de 1958, o Bispo observou no seu diário que o caminho para Moçambique era a independência. E em Novembro de 1963, Dom Sebastião Soares de Resende escreveu: “Outros territórios estão a caminho da independência. Aqui em Moçambique, ainda estamos num impasse. O Dr. Salazar diz: “Vamo-nos segurar”. Mas segurar-nos até quando? Esta não é uma solução definitiva. Moçambique tem os seus direitos e, assim que for possível, tem que se tornar independente. . .” .Sobre a censura do governo, Dom Sebastião Soares de Resende escreveu em 15 de Fevereiro de 1965: “Hoje é um dos dias mais tristes para a Igreja em Moçambique. O governo censurou um comunicado da Conferência Episcopal e o Arcebispo Dom Custódio aceitou o comunicado censurado e publicou-o, sem ouvir outros bispos! Esta é uma atitude de arrogância por parte do governo e de fraqueza por parte do Arcebispo! Eu vou protestar e alguns Bispos estão do meu lado”. Dom Sebastião Soares de Resende foi um dos poucos bispos dos países de língua portuguesa e do continente africano que participou activamente no Concílio Vaticano II, aberto pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI. Participou de todas as quatro sessões do Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965. Segundo Barros, ele destacou-se de todos os outros prelados portugueses não apenas pela quantidade, mas também pela qualidade dos seus discursos.Nos seus discursos no Concílio Vaticano em 1965 ; condenou a discriminação racial e apoiou os esforços destinados a promover a igualdade, a justiça social, e a dignidade das mulheres. Convidou o Conselho a condenar “regimes que oprimem os cidadãos quando eles discordam da ordem política, económica ou social estabelecida, ou mesmo quando se recusam a reconhecer a ordem actual como a melhor possível”. Continuando a falar a favor da Igreja “Profética” de Dom Sebastião Soares de Resende, o Padre Gwenjere disse que, embora o regime colonial português se concentrasse na sua “missão civilizadora”, esta política não era aplicada pelo Bispo da Beira. Para ilustrar o seu caso, referiu-se à visita do Governador de Manica e Sofala, Sousa Teles, à sua paróquia de Murraça em 1967. O Padre disse que quando o Governador visitou a sua paróquia encontrou um grupo de 117 nativos a receber aulas de catecismo na sua língua local, CiSena, em preparação para o seu baptismo. O Governador

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ficou chocado ao ver a catequese sendo ensinada aos nativos e estes orando na sua língua local. Informou a Polícia de Segurança Portuguesa, a PIDE, que, posteriormente, convocou os três padres da Missão de Murraça – Walther van der Hout, Yvo Chouinard e Mateus Pinho Gwenjere– para repreendê-los.Relatando o mesmo incidente no seu livro “A cruz e a espada em Moçambique”, o Padre Bertulli revela que o Governador de Manica e Sofala Sousa Teles não gostou nada da informação que recebeu da PIDE sobre o Padre Walther van der Hout que substituiu o Padre Charles Pollet como Padre Superior na Missão de Murraça. Este padre, de nacionalidade holandesa, que substituiu o Padre Pollet como Padre Superior da Missão de Murraça em 1966, foi acusado pela PIDE de ser pior do que seu antecessor, Padre Charles Pollet. Indo para a missão para repreendê-lo, ele não o encontrou. Entrando na Igreja, encontrou o catequista a ensinar o catecismo aos catecúmenos adultos na língua nativa, CiSena. Segundo Bertulli, o Governador acusou os “Padres Brancos” de forçar os catequistas a usar a língua nativa, e não a língua nacional (português), para ensinar a doutrina cristã. Também relatando este incidente, José Luís Cabaço escreve que um relatório interno da PIDE-Moçambique datado de Janeiro e Fevereiro de 1967 revelou que padres católicos em Murraça e Chemba celebravam a missa em língua vernacular, CiSena, em vez de Português, para o aborrecimento dos europeus locais:

“Tornou-se deveras chocante para os europeus, católicos tradicionalistas e conservadores, praticantes na sua totalidade ou quase totalidade, o facto de ter sido substituída a língua portuguesa pelo dialeto indígena da região – o chissenga(sic), acompanhado de batuque e bater de palmas”.

Padre Josef Pampalk visitando famílias em adeias de Charre em Mutarara. Fonte:

© 2019 Dr. Jose Pampalk

No seu depoimento na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, em 6 de Novembro de 1967, o Padre Gwenjere resumiu a doutrina da Igreja da seguinte forma:

“As normas fundamentais do Cristianismo são a caridade e a justiça. A Igreja não pode só ter preocupações místicas. Deve também preocupar-se com os problemas sociais. Isto é válido para Moçambique. A Igreja tem o dever de procurar e encontrar modo de equilibrar as relações humanas. Onde não existe caridade, não haverá justiça ... Assim, a injustiça social da qual a Igreja portuguesa se revela cúmplice não é apoiada pelas directrizes vindas de Roma, mas, sim, pelo nacionalismo português. Os missionários portugueses não cumprindo a missão confiada pela Igreja prejudicam-na.”

Concorrendo com o Padre Gwenjere, anos mais tarde, sobre a existência de uma Igreja Católica dividida em Moçambique está o conhecido escritor português Luís Salgado de Matos, que escreveu o seguinte:

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“A Guerra Colonial dividiu a Igreja em Moçambique, que foi o único episcopado de matriz portuguesa que não manteve a regra da unidade pública”. Continuando, Luís Salgado de Matos escreveu que uma parte da Igreja Católica, “cujo elemento mais vocal era o Arcebispo de Lourenço Marques, Dom Custódio Alvim Pereira, defendia expressamente a soberania portuguesa”, enquanto que a outra parte “atacava abertamente a identificação da Igreja com Portugal e preparava-se para defender o direito à independência”.

Apesar desta realidade, pouco depois de Moçambique ter atingido a independência em 25 de Junho de 1975, a Liderança da FRELIMO, ignorando o bom trabalho realizado pela “Igreja Profética” de Dom Sebastião Soares de Resende e Dom Manuel Vieira Pinto, fez um ataque generalizado à Igreja Católica, acusando-a de se ter aliado, como um todo, ao regime colonial português, conforme revelado na declaração do Presidente Samora Machel abaixo:

“A Igreja Católica em Moçambique foi historicamente aliada do colonialismo e do fascismo . . . estava profundamente envolvida na guerra colonial de opressão para impedir a libertação do povo. . . (agora) luta contra a vitória do povo e é porta-voz da luta contra o socialismo”.

Surpreendentemente, nas conversações com o Vaticano, a mesma Liderança da FRELIMO desejou para si o que não desejava para o regime colonial português: pediu que a Concordata “continuasse como dantes”, exigindo que a Igreja pedisse, inter alia, “a concordância da FRELIMO para qualquer nomeação de bispos”. No entanto, o bom Papa Paulo VI, adoptando uma postura independente, livre de relações de submissão aos governos, tomou uma decisão firme e anulou a Concordata de Salazar. Uma nova Concordata foi assinada, reconhecendo a independência de cada parte, especialmente o direito da Santa Sé de nomear bispos sem interferência política.

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