MAÇONARIA E TEMPLÁRIOS

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Trata-se de estudo sobre três histórias e quatro fantasias que transitam historicamente na Maçonaria, envolvendo-a com a Ordem dos Cavaleiros Templários da Idade Média. Após uma incursão no panorama humano da Era Medieval, sua educação e cultura, é descrita a pré, a proto e a história da Maçonaria Operativa, sua transição para a Especulativa, com sua evolução histórica. Também a proto-história e história da Cavalaria Templária.

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Aquiles GArciA, 33°

MAçonAriA e TeMplários: reAlidAdes e FAnTAsiAs

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Aquiles GArciA, 33°

MAçonAriA e TeMplários: reAlidAdes e FAnTAsiAs

SÃO PAULO - 2011

editora

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© Editora Lexia Ltda, 2011. São Paulo, SPCNPJ 11.605.752/0001-00

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consentimento do autor.Impresso no Brasil. Printed in Brazil.

editora

Editores-responsáveisFabio Aguiar

Alexandra Aguiar

Projeto gráficoFabio Aguiar

Diagramação e capaEquipe Lexia

Revisão Bianca Briones

G216m

GArciA, AqUiLeS

mAçOnAriA e temPLáriOS: reALidAdeS e fAntASiAS / AqUiLeS

GArciA 33. -- SÃO PAULO: LexiA, 2011.

592 P.

iSBn 978-63557-50-6

1. mAçOnAriA. i. títULO

cdd – 366.1

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PREFÁCIO

Os Templários estão marcados na história pelo seu começo humilde, seu crescimento maravilhoso e pelo seu fim trágico. Teriam os seus conceitos e experiências se perpetuado entre os Livres Pensadores?

Qual instituição ignora em sua gênese um ponto de partida, um tronco único de início, mas que surgiu “totipotente”, como geração espontânea, germinada em muitas latitudes e em diferentes épocas?

Qual instituição convive com as culturas mais diversificadas, sem preconceito de crenças, nem de raças?

Qual instituição consegue mesclar de forma harmônica a fé com a razão, o profano com o sagrado, o fato histórico com a lenda?

Assim, é a Maçonaria.A periodização tradicional divide a história da Maçonaria nor-

malmente em duas épocas: a maçonaria operativa, período obscuro, ca-rente de documentação histórica, em virtude do distanciamento tem-poral e tradicionalmente de transmissão oral dos arcanos iniciáticos e a

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maçonaria especulativa, a partir da fundação da Grande Loja de Lon-dres, em 1717, prenhe de registros desse determinado tempo e espaço.

Maçonaria e Templários: Realidades e Fantasias remete o leitor à maçonaria operativa e busca encontrar pontos de convergência na historiografia tradicional e maçônica. Obra ricamente embasada em extensa bibliografia, para explicar a origem dos maçons operativos no velho continente. Esse trabalho não surgiu de um impulso momentâ-neo, ele foi embrionado em anos de pesquisas, no Brasil e na Europa, e fundamenta-se em autores renomados, sob o raciocínio clarividente de um Inspetor Geral da Ordem, calejado e experiente, que tem como determinação a busca da verdade.

A organização estrutural da Maçonaria, sobre tudo o Rito Es-corces Antigo e Aceito, e sua correlação com as Ordens Militares da Idade Média leva aos mais atentos a compreensão dos múltiplos fatores determinantes do surgimento da Maçonaria Operativa. A contextuali-zação da época com análise antropológica e cultural anuncia os primór-dios da Instituição.

Este livro conduz o leitor ao entendimento das razões que trans-portaram para a Europa, através da Maçonaria Operativa, dos funda-mentos da arquitetura gótica oriunda do Oriente Médio, onde estive-ram os Templários.

Merece exame especial a questão da autoria. Aquiles Garcia, ma-çom afeito a leitura e a ensinância é obreiro regular da Grande Loja de Santa Catarina, onde ensina e aprende, autor de outras obras, escreve com desenvoltura, minudência e clareza conduzindo quem lê ao enten-dimento e ao deleite.

Maçonaria e Templários: Realidades e Fantasias segue uma sequência evolutiva, com informações que se somam e gradativamente vão compondo o momento do ”gran finale”.

José Linhares de Vasconcelos FilhoEx-Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado do Ceará

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À minha esposa Lurdinha pelo incondicionado apoio, pelo incessante estímulo que me deu em todos os momentos, mormente naqueles de desânimo; e também à neta Karine, por sua inestimável colaboração desde a seleção bibliográf ica, quando na Espanha, e agora no en-cerramento, aqui no Brasil, com a devida humildade ofe-reço este estudo em forma de livro.

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AGRADECIMENTOS E CRÉDITOS

Cumprimos aqui o prazeroso dever de externar à Madras Edito-ra Ltda. e à Ícone Editora Ltda., como também ao jovem e culto escritor português Pedro Silva – erudito investigador tomarense da Ordem dos Cavaleiros Templários -, as permissões que nos concederam para cita-ções, transcrições e reproduções fotográficas de suas obras.

Para todas as demais citações, transcrições de pequenos trechos e reproduções de imagens de outras editoras e autores, seguimos fiel-mente as disposições inseridas nos artigos 46, III e VIII, e 48, da Lei Federal n° 9.610, de 19.02.1998, que atualizou e consolidou a legislação sobre direitos autorais, com os seguintes textos: “Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: ...III – a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra. (...) VIII – a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexisten-tes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova

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e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cau-se um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores. (...) Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais”.

As citações e transcrições têm seus respectivos autores e editoras indicados via-de-regra em notas de rodapé, mas também na bibliografia final; as reproduções de imagens mostram o direito autoral dos seus ti-tulares, quando conhecidos, através do signo © (copyright).

O Autor.

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À GUISA DE PRÓLOGO

Se hoje fôssemos arguidos sobre “O que é ser Maçom?”, respon-deríamos ao arguente, com toda a tranquilidade, sem o receio de estar cometendo algum delírio expressional ou conceptual: “Ser Maçom é ser um perpétuo buscador e investigador da Verdade, em todas as suas acep-ções.”. Nessa tão simples resposta subjaz toda a filosofia pura e iniciá-tica, como também toda a doutrina, toda a simbologia e simbolismo, todo o misticismo que estão estruturando, explicando e justificando “O que é a Maçonaria?”, eis que, sem o trânsito largo e profundo nessa Gnose, não se encontra outra senda capaz de levar ao alcance de tão magno e sublime objetivo, que é o de buscar e investigar a Verdade, em toda a sua extensão e profundidade, em todos os seus escaninhos, pois só assim é que ela, a Maçonaria, poderá terçar armas contra a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros, fazendo loas ao Direito, à Justiça e à própria Verdade que tão incessantemente busca.

Em parte, é esse árduo e extenuante caminho que modestamen-te iremos palmilhar no estudo que a seguir será exposto e decomposto, dedicado à busca e investigação das realidades em torno das gênesis de

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quatro fantasias maçônico-templárias que foram criadas e se prestaram à formação do título desta obra, como serão mais adiante expostas.

Ao longo do ano 2003 e primeiro semestre de 2004, tivemos oportunidade de desenvolver um trabalho literário-maçônico onde se espelhava um estudo singelo sobre o Escocismo, o Rito Escocês Antigo e Aceito e as Raízes Históricas das Grandes Lojas do Brasil.

No desenvolvimento desse estudo alguns aspectos se revelaram de trato complexo, enquanto outros se mostravam polêmicos, muito mais situados no campo das lendas do que naquele dos fatos verdadei-ros, o que impunha uma incursão na História da Maçonaria, também sabidamente bastante acidentada.

Tivemos nossa atenção mais fortemente atraída para dois fatos que já eram e ainda são amplamente divulgados na literatu-ra maçônica, e até tidos como pacíficos. O primeiro, proclamando uma “fusão” entre o que foi a Maçonaria Operativa e as Ordens de Cavalaria egressas das Cruzadas. E aí estava a raiz da expressão co-mumente usada “Maçonaria Templária” ou “Templarismo Maçônico”. O segundo, afirmando que os Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, em suas doutrinas e filosofias, estavam impregnados pelo hermetismo templário. Ambos os fatos estavam mostrando e con-duzindo ao desdobramento de outros, concomitantes ou colaterais, igualmente passíveis de questionamentos.

Na decomposição do primeiro fato percebemos que era indis-pensável também a abordagem da questão relacionada à independência da Escócia do jugo inglês com a alardeada participação dos Cavaleiros Templários, alguns ou até muitos deles refugiados naquele país após 1314; como também vinha a superfície esta outra questão unida às ca-tedrais góticas, já que na historiografia dessa Ordem Monástico-Militar também é argumentado que esse estilo arquitetônico foi o fruto do saber essencialmente templário, haurido à custa do que aprenderam na área da Arquitetura com os muçulmanos ao longo das Cruzadas, e que o seu surgimento repentino na França também era devido a tais Cavaleiros. Mas essas duas questões extrapolavam o âmbito do trabalho endereçado

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àquele conclave maçônico. Além disso, o segundo fato estava situado es-tritamente na seara do Supremo Conselho do Grau 33° do Rito Escocês Antigo e Aceito, inconfundível com os Graus Simbólicos ou ‘Maçona-ria Azul’, que concernem às Grandes Lojas brasileiras confederadas.

Esse temário desafiava um exame bem mais esmiuçado em outro trabalho, que prometemos a nós mesmos realizar após sujeitá-lo a um período de maturação e muita pesquisa, do qual está emergindo e que ora vai submetido ao crivo de nossos leitores, pois não só estávamos, como estamos, investidos não apenas na condição maçônica de Grande Inspetor Geral da Ordem, mas também na de iniciado, desde 1982, na Ordem Templária. Logo, sentíamo-nos portadores, sem falsa modéstia, de bagagens mínimas para as pesquisas e conclusões, obviamente não definitivas, que o epílogo refletirá.

Por manifesto, estará o leitor, tanto o maçom quanto o não-ma-çom, à frente de um estudo completamente despido de outras pretensões que não aquelas destinadas a um exame mais detalhado dos temas enfei-xados nos apertados limites das quatro questões por serem expostas, sem desprezar as outras havidas como desdobramento de cada uma delas.

No curso dos anos de estudo dessas duas Ordens já tínhamos tido alguma referência de natureza literária e histórica, conquanto pou-co densa, de que as proclamadas ‘fusão’ das Ordens Militares vindas das Cruzadas com a Maçonaria de então – a “Operativa” -, assim também a ‘participação’ templária na refrega militar entre Escócia e Inglaterra; a autoria do surgimento e evolução das catedrais góticas creditadas a esses Cavaleiros, como também a presença do esoterismo dessa Ordem de Cavalaria na configuração da doutrina e filosofia dos Altos Graus da Maçonaria Escocesa, tudo isso não ia além de uma tradição de caráter fantasioso, de sensacionalismo rançoso, despido de um só resquício de verdade fatual, principalmente à míngua de uma documentação idônea que a respaldasse. E ainda mais: o pior de tudo é que todas essas quatro fantasias não passavam de fruto da fecunda, porém tumultuosa, ima-ginação dos próprios Maçons, todos eles posteriores ao nascimento da Maçonaria Especulativa, a partir de 1717!

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Aquele amadurecimento do temário a que antes nos referimos estava mostrando, enfim, que havia chegado o momento de examinar mais circunspectamente toda essa matéria, agora vindo à tona na evolu-ção do estudo que as páginas seguintes irão registrar.

Numa ‘dissecação anatômica’ primária e preambular deste traba-lho, ter-se-á o seu conteúdo assentado sobre estas seis indagações, tão simples quanto básicas:

Teria essa Ordem de Cavalaria, quando de sua debandada a par-tir de 1314, se fundido com a Maçonaria na Escócia e nela se perpetuado?

A Ordem do Templo, a partir de sua completa dispersão em 1314, efetivamente desempenhou alguma atividade junto à Maçonaria Opera-tiva, em particular a Maçonaria Escocesa?

Os Cavaleiros Templários, logo após sua dispersão na França, em março de 1314, se juntaram às tropas de Roberto Bruce e participaram ativamente, em 24 de junho daquele ano, da Batalha de Bannockburn na libertação da Escócia do jugo inglês?

Levando em consideração que a Ordem do Templo de Jerusalém só veio a existir no primeiro quartel do Século XII, isto é, em 1118 (ou 1120), indaga-se se, na passagem do estilo de arquitetura românico para o gótico, o refinamento arquitetural e escultural deste último estilo de-veu-se primacial e unicamente ao conhecimento artístico dos arquitetos Operativos, na França, ou ao dos Templários, que o teriam absorvido junto aos árabes no curso das Cruzadas e repassado a tais Operativos? Ou se deveu às duas Ordens, a um só tempo e sem dependência entre elas? Ou então: deveu-se apenas aos mestres-arquitetos e pedreiros não filiados a qualquer das Ordens?

Quando a Maçonaria Operativa foi convertida em Especu-lativa, tornou-se ela a “herdeira” testamentária da gnose templária, inclusive a esotérica, haurida pelos Cavaleiros Templários ao longo das Cruzadas?

No desenrolar da história polêmica do Rito Escocês Antigo e Aceito, e nele a formação sucessiva do seriado de seus Graus, é pos-sível a af irmação justif icável de que em suas f ilosof ias histórica e

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iniciática se faz presente, direta ou indiretamente, todo o hermetismo templário, no sentido de conjunto de doutrinas que abrange astro-logia, alquimia e magia (hermetismo popular), bem como teologia e f ilosof ia (hermetismo erudito)?

Não apenas insistimos, mas também permitimo-nos sublinhar, que são esses os seis temas ou assuntos que são perfeitamente passíveis de ser enfrentados com independência entre si; não obstante, pareceu-nos que a compreensão deles será melhor formada se tiverem sido tra-tados como mutuamente entrosados, daí porque, diante do conteúdo amplo, intrincado e polêmico que transparece nessas investigações, exibe-se e justifica-se a razão de ser do título e subtítulo deste estudo – “Maçonaria e Templários: Realidades e Fantasias”. São elas que aca-baram revelando a necessidade de prospecção na pré, proto-história e nascimento da extinta Maçonaria Operativa e também, como não poderia deixar de ser, na que lhe sucedeu como Maçonaria Especulativa. ‘Pari passu’ e por igual, porque se tornou indissociável nesse complexo problemático, também na proto-história e na breve história dos Cava-leiros Templários. Em continuação, na Arte relacionada à Arquitetura, partimos para a busca da resposta àquelas duas questões condizentes com (1) a paternidade do estilo gótico catedralício e (2) sua espontanei-dade de surgimento. Porém, incursões circunscritas aos termos e limites como vão detalhados a seguir neste Prólogo.

Aqui neste passo torna-se intuitivo que não alimentamos a mí-nima pretensão em exaurir os temas objetivados, propondo-nos apenas traçar os principais enfoques que neles se encontram, pois sempre es-tiveram inçados pelas mais agudas dificuldades de diversas ordens, já pela apoucada documentação autêntica1 existente respaldando os fatos aos quais a História se reporta; já pelas inúmeras e variadas tradições tidas como sérias e iterativas, malgrado algumas delas relacionadas a acontecimentos não documentados; já, também, pelo acervo lendário e

1 Para um detalhamento mais circunstanciado, veja-se o Capítulo I na “In-trodução”.

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mitológico que cerca os acontecimentos, onde até poderá estar embu-tido algum resquício de verdade, até mesmo suficientemente capaz de emprestar uma certa dose de credibilidade a eles, muito embora não se ignore que muitas das lendas existentes sobre Maçonaria e Templários, como já dissemos, têm origem na fertilidade imaginativa de quem as criou, onde e quando tudo aquilo que teria ocorrido fica bastante com-prometido em sua realidade, se não despojado da seriedade com que deveria ser encarado e estudado.

Ainda quando as respostas por serem dadas aos questionamentos e seus desdobramentos não se revistam com caráter de definitividade, a nós fica bem claro que elas, mesmo convictamente havidas como provi-sórias, de um modo geral surgirão como fruto sazonado de uma relativa análise extraída do fato incontestável de que os Maçons Operativos, oriundos remotamente das confrarias de pedreiros dos romanos, fo-ram os efetivos mestres construtores dos edifícios religiosos medie-vais; mas também levando no devido apreço que alguns escritores, não só templaristas como também maçônicos, imputam à Ordem Templá-ria, ainda que inspirados na magia de certa lenda de cunho bíblico, o conhecimento hermético necessário para dar nascimento e desenvolvi-mento arquitetural às colossais catedrais góticas surgidas no Século XII, já que, como dizem tais historiadores, também eram “construtores”, embora assim não os vejamos no aperto conceptual dessa qualificação. De outro lado, mas simultaneamente e apesar dessa nossa restrição, essa identificação profissional na arte de construir aqueles edifícios é que te-ria contribuído para a proclamada simbiose entre aquelas duas Ordens naqueles idos do Século XIV.

O desdobramento planejado e projetado para toda essa matéria não demorou em evidenciar que ele em muito se assemelha à função que desempenha uma “Rosa dos Ventos”, tal a multiplicidade de prismas que desencadeia e o leque de repercussões que cada um deles suscita, indu-zindo à utilidade de seu exame, ao menos no que têm de essencial os que são havidos como principais. Por essa razão, toda a problemática versada neste trabalho estará situada simultaneamente no espaço geográfico e

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no tempo, com as suas correspondentes delimitações; assim, espacial-mente ele se circunscreve, na sua amplitude, à Inglaterra, à Escócia, à França e à Península Ibérica. Ligeiramente, à Alemanha e à Itália. Tem-poralmente, na arte da construção e da decoração propriamente ditas, vai o problema projetado com marcante recuo no passado, objetivando facilitar a progressiva compreensão dos leitores, ou seja, recuando aos povos celtas, avançando para a conquista romana da Inglaterra, passan-do pela efetiva emancipação do clero cristão sequente à queda do Im-pério Romano do Ocidente, no Século V, e daí para frente até o final do Século XIV (anos 1300).

Ao girar-se a “agulha” daquela “rosa dos ventos” para a direção que conduz a alguns dos Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, vem à baila não só a característica peculiar de que se revestem, como também o conteúdo doutrinário e filosófico de alguns deles, que se diz estarem estruturados, no todo ou em parte, pelo hermetismo templário. É esse fato que, em última e derradeira consideração, acaba assentado no palco da História da Maçonaria, embora já passados mais de quatrocentos anos da extinção daqueles Cavaleiros do Templo de Jerusalém, contados até o surgimento da Maçonaria Especulativa, em 1717. E nesse palco histórico desdobram-se diversos cenários que precisam ser conhecidos pelo leitor, mormente o não maçom, o que acaba impondo também uma retrospec-tiva histórica, não apenas da Maçonaria, mas igualmente do próprio Rito Escocês Antigo e Aceito, envolvendo uma descrição fático-cronológica que desagua como consectário na gênese das Constituições de 1786. E na origem dessas Constituições, o imperativo de uma apreciação, não profunda, mas bastante destacada, sobre certo personagem maçônico – o Baronete e Cavaleiro André Michel Ramsay -, que, intencional ou não intencionalmente, diante do desempenho de uma intensa atividade junto às nobrezas inglesa e francesa, acabou produzindo reflexos na formação de alguns dos Altos Graus da Maçonaria do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Projetamos este trabalho, ora subcrítica dos cultos leitores laicos e maçônicos, em Partes ou Blocos distintos, com suas subdivisões, confor-me a densidade e extensão da matéria a ser tratada em cada uma delas,

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pretendidamente voltadas para a formação lógica de um conjunto que possa ser havido como um todo necessário ao desiderato que este estu-do pretende chegar. Enfim, de tal modo que cada Parte ou Bloco reflita um mínimo de informações que, aglutinadas entre si, possam ser vistas como um todo que o seu respectivo Título pretende traduzir.

Sumária e conclusivamente: na Primeira Parte, objetivando in-formar mínima e principalmente o leitor não-maçom, abrimo-la com uma “Introdução Básica” na qual, de modo bem simplificado, fixamos um posicionamento nosso frente à História e, em particular, frente à História da Maçonaria e sua documentação, tecendo considerações em torno do problema da documentação na historiografia maçônica. Na sequência, mostramos em termos preliminares a organização básica e periférica dessa Instituição, que adotou na sua doutrinação e prática ini-ciática o Rito Escocês Antigo e Aceito, tal como praticada nas vinte e sete Grandes Lojas do Brasil. Em seguida, a amostragem de três his-tórias e quatro fantasias, bem como as origens fantasiosas da Ordem Maçônica, que explicam a razão de ser do título deste Estudo; e, por fim, a complexidade polêmica dessa discutida “fusão” ou “simbiose” entre si e os Cavaleiros Templários, extintos e dispersos da França, em 1314, bem como algumas alusões à Batalha de Bannockburn, na Escócia.

A Segunda Parte versa matéria destinada a informar o panora-ma humano na Idade Média, inclusive descrevendo alguns traços distin-tivos de certos tipos medievos e o mundo cultural em que viviam naque-la Era, objetivando desenhar em ligeiros traços a figura do profissional engajado na arte de construir, esculpir e pintar no transcurso da Idade Média, como também a do Cavaleiro Templário, que com essa classifi-cação também somava a de monge. Encerra-se com algum trânsito na evolução da educação e da cultura medieval.

A Terceira Parte apresenta o cenário da Maçonaria Operativa, envolvendo a pré, a proto-história, e a história, propriamente dita, inclu-sive com informações conceptuais quanto à Franco-Maçonaria e o papel dos Velhos Manuscritos, que tanto tocou àquele estágio maçônico.

A Quarta Parte envolve-se exaustivamente, ao longo de treze

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capítulos, com a proto-história e a história da Ordem de Cavalaria Templária no que uma e outra registram como fatos mais destacados.

A Quinta Parte ocupa-se com a Maçonaria Especulativa, ape-nas versando o período de transição, seus distúrbios e, em seguida, o seu nascimento, objetivando meramente destacá-los para, na Parte seguinte, emprestar um pouco mais de ênfase à sua evolução e ao Rito que abra-çou no Continente Europeu.

A Sexta Parte, como acabou de ser dito, trata da evolução da Ma-çonaria Especulativa, bem como do Rito Escocês Antigo e Aceito, até chegar às Constituições de 1786, que a ele deu toda a sua estruturação, não sem antes, em Capítulo específico, cuidar do Cavaleiro Ramsay e seu famoso “Discurso”. Depois, como veio a nascer o Grande Oriente da França, e, por fim, o surgimento e proclamação das Constituições Maçô-nicas de 1786, que até hoje regem o Rito Escocês Antigo e Aceito.

A Sétima Parte, para fechar o bloco de informações com que se preocupou este Estudo, vai exposto um cenário relativamente amplo da Arquitetura na Idade Média com vistas inteiramente voltadas para nela situar as duas mais notáveis Arquiteturas – a Românica e a Gótica -, onde estarão envolvidos os Maçons-pedreiros e os Cavaleiros Tem-plários. No seu curso e em fluxo resumido, transitamos pela Arquitetu-ra desde a Grécia Helênica, pelos Celtas, Romanos, Cristãos, Bizâncio, Bárbaros, arrematando esse fluxo com a soberba Arquitetura Islâmica. Na sequência, examinamos alguns assentamentos históricos da Arqui-tetura Medieval, suas técnicas, as estruturas fundamentais do românico e do gótico, comparando os pedreiros operativos e os Cavaleiros Tem-plários, não sem deixar de trazer ao leitor o significado histórico, mís-tico e simbólico de uma catedral medieval. O arremate dessa parte está na apresentação das principais características da arquitetura românica, em seguida o extraordinário papel que desempenharam as Abadias de Cluny e Cister, principalmente na Arte Gótica.

A Parte Final, destinada a encerrar este nosso Estudo, trata ex-clusivamente das “Realidades e Fantasias” de que ele se ocupou com alguma extensão, oferecendo as respostas àqueles seis questionamentos

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que nos pareceram minimamente razoáveis, quando então apresenta-mos um capítulo conclusivo sobre “A Realidade Histórica sobre Maçona-ria Operativa e Templários”, pondo termo ao Estudo realizado.

Estes, em lineamento geral, os limites que traçamos para o traba-lho. As eventuais e sinceras críticas, ainda quando sejam ou possam ser severas, ou mesmo contestações, vindas dos cultos leitores, serão aquelas e estas sempre muito bem-vindas e convenientemente ponderadas.

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SUMÁRIO

PRIMEIRA PARTE ............................................................... 33

TITULO ÚNICO – INTRODUÇÃO BÁSICA ....................... 34

CAPÍTULO I – Um posicionamento frente à História em geral ..................................................................... 35

Seção 1 – Generalidades ......................................................... 35

Seção 2 – As Escolas de História e do Pensamento Maçônico .................................................................................... 39

Seção 3 – O problema da documentação na His-tória da Maçonaria ......................................................... 42

CAPÍTULO II – Preliminares sobre a Maçonaria do R∴E∴A∴A∴ e sua organização no Brasil ........................... 43

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CAPÍTULO III - Três histórias e quatro fantasias ..................... 49

Seção 1 – As três histórias ....................................................... 49

Seção 2 – As quatro fantasias .................................................. 50

Seção 3 – As origens fantasiosas da Maçonaria ....................... 52

Seção 4 - A complexidade polêmica dessa “fusão” e da Batalha de Bannockburn ................................................... 59

SEGUNDA PARTE ............................................................... 65

TÍTULO I - QUEM FORAM, NA IDADE MÉDIA, O PEDREIRO, O MONGE, O CAVALEIRO, O CITADINO, O INTELECTUAL E O ARTISTA? .................... 66

CAPÍTULO ÚNICO – O panorama humano na Idade Média ............................................................................ 67

Seção 1 – Características gerais da Era Medieval .................... 67

Seção 2 – O pedreiro dentro do perfil do Homem da Idade Média ............................................ 77

Seção 3 – Cultura e Profissionalismo ...................................... 87

Seção 4 – O Monge e o Monastério ....................................... 89

Seção 5 – Educação e Cultura monacal .............................. 103

Seção 6 – O Cavaleiro ........................................................... 109

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Seção 7 – O Citadino, o Intelectual e o Artista ..................... 113

TÍTULO II - A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO E CULTURA MEDIEVAL ..................................................... 123

CAPÍTULO I – O cenário até o advento carolíngeo ................ 125

CAPÍTULO II – De Carlos Magno às Universidades .............. 129

TERCEIRA PARTE ............................................................. 133

TÍTULO ÚNICO - A MAÇONARIA OPERATIVA ............ 134

CAPÍTULO I – A pré-história ................................................. 135

CAPÍTULO II – A proto-história ............................................ 139

Seção 1 – Primórdios ............................................................ 139

Seção 2 – Os povos Celtas Continentais e Insulares ............. 142

Seção 3 – A lenta evolução dos construtores e seus Colégios ............................................ 147

CAPÍTULO III – A história .................................................... 153

Seção 1 – A “certidão de nascimento” da Maçonaria ............. 153

Seção 2 – A Franco-Maçonaria ............................................. 157

Seção 3 – As “Old Charges” .................................................... 160

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Seção 4 - Síntese conclusiva sobre a Maçonaria Operativa .... 174

QUARTA PARTE ............................................................... 177

TÍTULO I - PROTO-HISTÓRIA DA ORDEM DE CAVALARIA TEMPLÁRIA ...................... 178

CAPÍTULO ÚNICO – A Primeira Cruzada como raiz mais próxima ............................................................. 179

Seção 1 – Alerta sobre o alvorecer da Ordem dos Templários ............................................................................. 179

Seção 2 – Causas e concausas históricas de suafundação ...................................................................... 181

TÍTULO II - A HISTÓRIA .................................................. 191

CAPÍTULO I – Época e lugar da fundação da Ordem ............ 193

CAPÍTULO II – As duas histórias dos CavaleirosTemplários ....................................................................... 197

CAPÍTULO III – Riqueza, Política e Diplomacia Templária ................................................................................... 201

CAPÍTULO IV – Lenda ou Verdade: Tinham os Templários uma história secreta? ....................................... 209

CAPÍTULO V – A Segunda Regra dos Templários ................. 211

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CAPÍTULO VI – Investigando o “segredo” Templário (I): Regra velada? ....................................................................... 215

CAPÍTULO VII – A Arca da Aliança ...................................... 221

CAPÍTULO VIII - Investigando o “segredo” Templá-rio (II): Quando os Templários chegaram no Oriente ............... 231

CAPÍTULO IX – Investigando o “segredo” Templário (III): Os Ismaelitas-Xiitas e os Templários ................................ 235

CAPÍTULO X – Investigando o “segredo” Templário (IV): Cátaros, Druzos, Cagots e os Templários .......................... 245

CAPÍTULO XI – Investigando o “segredo” Templário (V): As duas partes hipotéticas da “missão secreta” .................... 253

CAPÍTULO XII – O destino do tesouro e dos arquivos templários até 1314 .................................................................... 265

CAPÍTULO XIII – A controvertida dispersão dos Tem-plários após 14 de março de 1314 .............................................. 269

QUINTA PARTE .................................................................. 277

A MAÇONARIA ESPECULATIVATÍTULO I - A TRANSIÇÃO ................................................. 278

CAPÍTULO ÚNICO – O declínio da Maçonaria Operativa ................................................................................... 279

TÍTULO II - O NASCIMENTO ........................................... 283

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CAPÍTULO ÚNICO – O alvorecer da Maçonaria Especulativa ..................................................................... 285

SEXTA PARTE ..................................................................... 289

EVOLUÇÃO DA MAÇONARIA ESPECULATIVATÍTULO I - O ROSACRUCIANISMO ................................. 290

CAPÍTULO ÚNICO – Rosacruz e Rosacruciano. Rosacruzes e Maçonaria ........................................................... 291

TÍTULO II - O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO ............ 301

CAPÍTULO I – O ponto de partida do Escocismo e do REAA ................................................................................... 303

CAPÍTULO II – Um retrospecto quanto ao REAA ................ 307

CAPÍTULO III – Escorço histórico-evolutivo do Escocismo e do REAA ............................................................... 315

CAPÍTULO IV - Rito Escocês… “Antigo e Aceito” ................. 321

CAPÍTULO V – O Baronete e Cavaleiro André Michel Ramsay. Traços biográficos. Seu Discurso e os Altos Graus do REAA ................................. 325

TÍTULO III – O GRANDE ORIENTE DA FRANÇA ......... 337

CAPÍTULO ÚNICO – Como veio a nascer. Harmonia e dissensões ............................................................... 339

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TÍTULO IV - AS CONSTITUIÇÕES DE 1786 ...................... 343

CAPÍTULO ÚNICO – Acontecimentosantecedentes e os 33 Graus do REAA ....................................... 345

SÉTIMA PARTE ................................................................. 351

A ARQUITETURA GÓTICA E OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOSTÍTULO I - O CENÁRIO DA ARQUITETURA NA IDADE MÉDIA ................................. 352

CAPÍTULO ÚNICO – Introdução panorâmica à sensível evolução da Arquitetura ................................................. 353

TÍTULO II - FLUXO RESUMIDO DA ARQUITETURA ............................................................ 357

CAPÍTULO I – Arquitetura e Arte Pré-Cristã ........................ 359

Seção 1 - Os diversos períodos da Grécia helênica ................ 359

Seção 2 – A Arquitetura Romana ......................................... 363

CAPÍTULO II – A Arquitetura Cristã ..................................... 369

CAPÍTULO III – A Arquitetura Bizantina .............................. 373

CAPÍTULO IV – A Arquitetura Bárbara ................................. 379

CAPÍTULO V – A Arquitetura Islâmica ................................. 381

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TÍTULO III - ASSENTAMENTOS HISTÓRICOS NA ARQUITETURA MEDIEVAL ....................................... 405

CAPÍTULO I – As Artes e a Arquitetura no limiar e evoluir da Idade Média .............................................................. 407

CAPÍTULO II – As técnicas construtivas medievais ................ 411

CAPÍTULO III – A instalação das novas formas e téc-nicas na Europa Medieval ........................................................ 417

CAPÍTULO IV – Os prelúdios do românico e do gótico ................. 423

TÍTULO IV - OS ESTILOS ARQUITETÔNICOS ROMÂNICO E GÓTICO ................................................ 435

CAPÍTULO I – Descortinando os dois estilos ......................... 437

CAPÍTULO II – O significado histórico, místico esimbólico de catedral medieval .................................................. 443

CAPÍTULO III – Características gerais da arquitetura românica .................................................................................... 459

CAPÍTULO IV – A presença e o desempenho de Cluny e Cister na Arte Gótica .............................................................. 467

CAPÍTULO V - Características gerais da arquitetura gótica ......................................................................................... 473

TÍTULO V - PEDREIROS OPERATIVOS E A OR-DEM DO TEMPLO ............................................................. 495

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CAPÍTULO ÚNICO – A Cavalaria e o Pedreiro ..................... 497

Seção 1 - As Cavalarias laica e cristã ..................................... 497

Seção 2 – Pedreiros e Monges ............................................... 499

Seção 3 – Comparações profissionaisa partir do ano 1118 .............................................................. 500

Seção 4 – Assentando preliminares às comparações .............. 501

Seção 5 – O que e como construíram os Templários e os Operativos ...................................................................... 504

PARTE FINAL .................................................................... 511

ENCERRANDO O ESTUDOTÍTULO ÚNICO - REALIDADES E FANTASIAS .............. 512

CAPÍTULO I – Maçonaria e Templários: Uma sim-biose histórica? ........................................................................... 513

Seção Única - Após 1314, teria ocorrido uma sim-biose ou fusão entre a extinta e dispersa Ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém e a Maçonaria Operativa, então já existente? ................................................ 513

CAPÍTULO II – O “desempenho templário” e a Bata-lha de Bannockburn ................................................................... 525

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Seção 1 – A Ordem do Templo, a partir de sua com-pleta dispersão em 1314, efetivamente desempenhou alguma atividade junto à Maçonaria Operativa, em particular a Escocesa? ................................................................ 525

Seção 2 - Os Cavaleiros Templários, logo após sua dispersão na França, em março de 1314, se juntaram às tropas de Roberto Bruce e participaram ativamen-te, em 24 de junho daquele ano, da Batalha de Banno-ckburn na libertação da Escócia do jugo inglês? .................... 531

CAPÍTULO III – As Catedrais Góticas e os Templários ............... 535

Seção Única - Na Arquitetura, levando em consideração que a Ordem do Templo de Jerusalém só veio a existir no primeiro quartel do Século XII, isto é, em 1118 (ou 1120), indaga-se se, na passagem do estilo de arquitetu-ra românico para o gótico, o refinamento arquitetural e escultural deste último deveu-se primacial e unicamen-te ao conhecimento artístico dos arquitetos Operativos, na França, ou ao dos Templários, que o teriam absor-vido junto aos árabes no curso das Cruzadas e repas-sado a tais Operativos? Ou deveu-se às duas Ordens, a um só tempo e sem dependência entre elas? Ou en-tão: deveu-se apenas aos mestres-arquitetos e pedreiros não filiados a qualquer das Ordens? ................................. 535

CAPÍTULO IV – A gnose templária e os Altos Graus do REAA ................................................................................... 549

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Seção 1 - Quando a Maçonaria Operativa foi con-vertida em Especulativa, tornou-se ela a “herdeira” testamentária da gnose templária, inclusive a esoté-rica, haurida pelos Cavaleiros Templários ao longo das Cruzadas? ................................................................. 549

Seção 2 - No desenrolar da história polêmica do Rito Escocês Antigo e Aceito, e nele a formação sucessi-va do seriado de seus Graus, é possível a afirmação justificável de que em suas filosofias histórica e ini-ciática se faz presente, direta ou indiretamente, todo o hermetismo Templário, no sentido de conjunto de doutrinas que abrange astrologia, alquimia e magia (hermetismo popular), bem como teologia e filosofia (hermetismo erudito)? ........................................................... 552

CAPÍTULO CONCLUSIVOA realidade histórica sobre Maçonaria Operativa e Templários ............................................ 577

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................................ 583

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PRIMEIRA PARTE

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TÍTULO ÚNICO

INTRODUÇÃO BÁSICA

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CAPÍTULO I

uM posicionAMenTo FrenTe à HisTóriA eM GerAl

Seção 1Generalidades

Sumário: O objeto da História no conceito de Vavy Borges. Os três ângulos para estudo da História. A documentação histórica. A índole dos documentos. A Heurística e seu papel na documentação histórica. A concepção filosófica do histo-riador frente à História. A tradição oral, os mitos e as lendas.

Por si só e sem necessidade de esclarecimentos suplementares, o Prólogo e o Sumário deste estudo revelam a larga incursão que irá ser feita na História da Civilização, em particular num de seus períodos mais marcantes e acidentados, como foi a Era Medieval.

Tenha-se como “norte” o muito bem assentado conceito de Vavy P.Borges: “A História procura especif icamente ver as transforma-ções pelas quais passaram as sociedades humanas. As transformações são a essência da História; quem olhar para trás, na História de sua própria

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vida, compreenderá isso facilmente. Nós mudamos constantemente; isso é válido para o indivíduo e também é válido para a sociedade. Nada permanece igual e é através do tempo que se percebe as mudanças”1.

É muito antiga, mas sempre atual a sabedoria cervantesca expressa em “Dom Quixote” quando o imortal romancista e poeta espanhol assentou que “o poeta pode descrever ou cantar coisas, não como elas eram, mas como deveriam ter sido; mas o historiador tem de escrever sobre as coisas, não como elas deveriam ter sido, mas como elas foram, sem nada acrescentar nem tirar nada da verdade”.

Consabidamente, são conhecidos os três ângulos sob os quais é comum ao historiador o estudo da História: (a) Despregando-se de toda e qualquer metodologia aplicada às Ciências Sociais, e por-tanto, mera descrição dos fatos, completamente descomprometida com a verdade deles. É a chamada “História Narrativa”. (b) Pela segunda angularidade, o historiador posiciona-se com detalhamen-tos dos costumes sócio-políticos, aponta seus acertos e desacertos desde o passado, procurando consertá-los para re-direcioná-los ou readaptá-los à atualidade. É uma “História Pragmática”. (c) Enfim, pelo terceiro ângulo, o históriador busca incessantemente encontrar o que de verdade o fato histórico encerra em si, e para tanto se vale do recurso metodológico, isto é, científico, de modo a que o narrador possa cômoda e acertadamente realizar uma análise crítica e inter-pretativa das causas e conseqüências derivadas do fato ou fatos por serem enfrentados no espaço e no tempo em que eles aconteceram. É a chamada “História Científ ica”.

Para o trato científico da História da Humanidade o instru-mento básico de pesquisa está na documentação histórica que sur-giu ou foi produzida em momentos certos e lugares bem definidos, de modo a que possa ser vista como um auxiliar indispensável para a análise do historiador. Essa documentação é constituída não apenas por papéis públicos ou privados onde se gravam textos, mas também quaisquer objetos, imagens, esculturas, pinturas, todos comprovan-

1 “O que é história”, p.47.

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do, dando testemunho do fato ou fatos que eles espelham. No dizer bem analítico de Cássia Marconi e Ricardo Dreguer2, “São cartas, li-vros, relatórios, diários, pinturas, esculturas, fotograf ias, f ilmes, músicas, mitos, lendas, falas, espaços, construções arquitetônicas ou paisagísticas, instrumentos e ferramentas de trabalho, utensílios, vestimentas, restos de alimentação, habitações, meios de locomoção, meios de comunicação. São, ainda, os sentidos culturais, estéticos, técnicos e históricos que os objetos expressam, organizados por meio de linguagens (escrita, oralidade, nú-meros, gráf icos, cartograf ia, fotograf ia, arte). [...]”

É através dessa documentação que o historiador passa a ter con-dições de análise e interpretação dos acontecimentos em dado período e em certo espaço, podendo assim chegar ao que ele realmente objetiva: o encontro da verdade que o fato ou fatos fazem transparecer.

Não se deve deixar à margem de consideração que também in-tegra o rol da documentação histórica a coleta e seleção de testemu-nhos desinteressados de pessoas, quando elas se fizeram presentes aos acontecimentos, mas impondo ao analista deles o máximo de cautela e ponderação ante a natural fragilidade humana.

Numa linguagem simples e objetiva, despregada de jargão téc-nico, fazem observar aqueles mesmos dois autores antes citados em relação à índole dos documentos, com estas palavras: “Os documentos são fundamentais como fontes de informações a serem interpretadas, ana-lisadas e comparadas. Nesse sentido, eles não contam, simplesmente, como aconteceu a vida no passado. A grande maioria não foi produzida com a intenção de registrar para a posteridade como era a vida em uma deter-minada época; e os que foram produzidos com esse objetivo geralmente tendem a contar uma versão da História comprometida por visões de um mundo de indivíduos ou grupos sociais. Assim, os documentos são enten-didos como obras humanas que registram, de modo fragmentado, pequenas parcelas das complexas relações coletivas. São interpretados, então, como exemplos de modo de viver, de visões de mundo, de possibilidades constru-

2 “A Imagem como Documento Histórico”.

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tivas, específ icas de contextos e épocas, estudados tanto na sua dimensão material (elementos recriados da natureza, formas, tamanhos, técnicas empregadas), como na sua dimensão abstrata e simbólica (linguagens, usos, sentidos, mensagens, discursos).”

A autenticidade dessas fontes, tanto as documentais quanto as testemunhais (e outras que poderão ser tidas como acessórias), o historiador verifica e conclui através de outra ciência-auxiliar – a Heurística3. Somente após esse exame é que ele passa ao desen-volvimento de sua crítica, que será sempre objetiva e subjetiva; na primeira, consta a originalidade do documento e o seu valor ex-trínseco; na segunda, examina o seu valor íntrínseco, valendo-se de variadas ciências auxiliares, como a Sociologia, a Antropologia, a Arqueologia, a Genealogia.

Mas ainda não é tudo para aquele que se dedica ao estudo da História, pois é necessário – no mínimo, útil – conhecer a con-cepção filosófica que o historiador adota em relação a essa Ciência Social, isto é, se para ele, tanto a natureza dos fenômenos históricos como a própria a História se resumem numa enorme seqüência de fatos, de acontecimentos totalmente dependentes e originários da Providência Divina, tal como expressou Santo Agostinho na sua concepção teológica da História, quando escreveu “A Cidade de Deus”; ou se os fatos históricos são decorrentes da própria evolução inata do ser humano, equivalendo a dizer que são as idéias as ge-radoras da realidade dos acontecimentos. É a concepção idealista hegeliana. Por fim, se as transformações vividas e vivenciadas pela História são regidas não somente pelo fator econômico, como tam-bém pelas condições que determinam a vida material dos indivídu-os em convivência social. É a concepção materialista marxista.

3 Ramo da História que se dedica à pesquisa de fontes. Método de investi-gação com base na aproximação progressiva de um problema, de modo que cada etapa é considerada provisória.

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Seção 2As Escolas de História e do Pensamento Maçônico

Sumário: Considerações preliminares. As correntes de pen-samento. Exegese, hermenêutica e a formação de Escolas. As Escolas de Pesquisa da História Maçônica. A Escola Autêntica ou “Escola Histórica”. A Escola Antropológica. A Escola Iniciática ou “Escola Mística”. A Escola Oculta.§ único: O posicionamento deste autor frente aos fatos his-tóricos tratados neste Estudo. As dúvidas e as incertezas.

É cediço que as teses e, de um modo geral, as dissertações, são frutos de estudos mais ou menos profundos que as pessoas desenvol-vem em todos os campos do conhecimento humano, de acordo com os seus interesses particulares. Para esse mister, valem-se os estudio-sos de exegese dos textos que pesquisam para que possam formular e emitir raciocínios em torno do assunto ou assuntos objetivados em suas pesquisas. Como é comum existir muitas pessoas dedicadas a um mesmo tema ou a vários, é natural e compreensível que os seus silogismos possam ser conclusivamente convergentes ou divergentes entre si. Precisamente a essas convergências e divergências é que se aplica o termo “Correntes ou Linhas do Pensamento”.

Se é verdade que a exegese é a ciência que ensina a interpre-tar os textos, a hermenêutica, por sua vez, leva a compreendê-los. As duas, quando associadas, é que conformam tais correntes ou linhas, vindo elas a serem exibidas no que se convencionou deno-minar “Escolas”.

Essas noções rudimentares têm especial aplicação no campo do Direito e da História, posto que ambas são Ciências Sociais.

A Maçonaria, na condição de instituição criada pelo homem, também tem a sua história, onde se espraiam as mais variadas linhas de pensamento, tanto as que são similares quanto aquelas que se mostram discrepantes entre si.

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Tanto as primeiras quanto as segundas refletem-se em Escolas de Pensamento, cujas estruturas não são iguais porque os seus objetivos não são sequer idênticos.

É costume apontar-se como sendo quatro essas Escolas, mas, em verdade, para o estudo da História da Maçonaria são apenas duas, ao passo que as outras são eminentemente lastreadas no misticismo que existe na Maçonaria.

São elas quatro denominadas: ESCOLA AUTÊNTICA ou HISTÓRICA, ESCOLA ANTROPOLÓGICA, ESCOLA MÍSTI-CA e ESCOLA OCULTA.

A primeira busca as origens e desenvolvimento da Maçonaria com base em toda espécie de documentação autêntica vinda desde os tempos mais antigos possíveis, e que digam respeito, de alguma forma direta ou indireta, a essa Instituição. Enfim, é uma Escola que prima pela efetiva realidade dos fatos, muito embora sofra limitações porque uma expressiva gama de acontecimentos levou muito tempo para ser testemunhada pela escrita, sendo eles conhecidos apenas através da relatividade das tradições orais, nem sempre homogêneas, nem sem-pre fiéis. Os principais seguidores dessa Escola encontram-se entre os historiadores ingleses e alemães.

Esta é uma Escola que teve seu nascimento na Inglaterra com o nome de “Escola Autêntica dos Historiadores Maçônicos”, tendo por filosofia nuclear a pesquisa apenas sobre evidências convenientes e ade-quadas, fazendo coro com Carl Christian Krause que, na Alemanha e logo no início dos anos 1700, já sustentava que a origem da Maçonaria haveria de ser pesquisada junto às corporações de arquitetos da Roma Antiga, e não nos longínquos mistérios de civilizações com passados muito distantes.

A segunda, toma por base os usos e costumes, as tradições de vá-rios povos, tanto antigos quanto medievos e modernos, inclusive povos indígenas dos Continentes. Os estudiosos dessa Escolas concentram-se profundamente no comportamento humano; por isso mesmo, mergu-lham fundo na História da Humanidade. Existem historiadores essen-

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cialmente maçônicos que perfilam seus estudos da História da Maçona-ria dentro do lineamento dessa Escola.

A terceira, sem ser essencialmente histórica, envolve-se com os chamados “mistérios”, e assim se envolvendo, parte para o estudo da espi-ritualidade do ser humano, em cujo campo dedica-se à exegese dos sím-bolos e do estado de consciência capaz de levá-lo à uma união íntima com a Divindade.

A quarta, por fim, também não sendo de caráter histórico, estuda os poderes naturais relacionados ao homem e que ainda não foram despertados, mas serão se forem aplicados corretamente ritos e liturgias cerimoniais pré-estabelecidas. E nesses ritos e liturgias aparecem as figuras invocadas de anjos, espíritos e outras entida-des transcendentais.

Frente à História de que se ocupará doravante este estudo, cer-tamente compreenderá o leitor a razão de ser deste nosso posicio-namento e de nossa exigência intransigente quanto à documentação autêntica em relação a certos fatos que um significativo número de es-critores narram em suas obras, mas sem a demonstração heurística de como eles foram verificados, o que compromete seriamente a verdade que repousa sobre eles.

Certas afirmações ou negações as incluímos no rol das tradi-ções orais, sérias e iterativas, passadas de geração a geração no curso de um longo tempo, quando então as reconhecemos como documentadas; também assim os mitos e as lendas, quando eles e elas, embora divor-ciados da realidade, foram construídos com intenção propositadamente instrutiva, doutrinária sobre determinados valores.

Outras, no entanto, são relegadas à seara da dúvida, da incerte-za, porque se apresentam ensombradas, envolvidas por uma penumbra; pelo menos até que possam ser cientificamente erigidas à condição que informa a realidade e a verdade do que estão narrando.

Era o que havia por deixar de sobreaviso o nosso leitor.

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Seção 3 O problema da documentação na História da Maçonaria

Sumário: Causas da ausência de documentos ou de sua precariedade. Fontes de pesquisa documental.

São bastante diversificadas as razões que mostram porque está faltando a documentação, ou porque ela está comprometida em sua au-tenticidade, quando está referida à Maçonaria e sua História.

Quando ela foi existente, mas já foi perdida, ou se danificou consi-deravelmente, a causa, via-de-regra, esteve assentada em diversos motivos, e entre estes, também na negligência de quem tinha o dever de conservação; ou então, na ausência de entendimento do seu inestimável valor. Essa consi-deração é particularmente válida quando o documento traduz-se em livros antigos e outros documentos escritos, como também objetos, entre estes os de cerâmica, de vidro, joias, pictóricos, inclusive os pré-históricos, etc.

Presentemente encontram-se locais onde é possível ao estudioso e ao investigador da História da Maçonaria encontrar documentos va-liosos, podendo ser citados:

A Grande Loja da Escócia, com museu fundado em 1807; o do Grande Oriente da França, sediado em Paris, instalado em 1889. Nos Estados Unidos encontram-se o George Washington Masonic National Memorial, em Alexandria, Estado da Virginia; o Museu Maçônico do Rito Escocês de Herança Nacional, em Lexington, Massachusetts; o Su-premo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos, em Washington, D.C., desde 1911; o Masonic Hall, em New York. Porém, o maior e mais apurado acervo documental maçônico encontra-se na Loja de Pesquisas “Quatuor Coronati”, em Londres. Outras tantas fontes de pesquisa docu-mental relacionadas á Maçonaria e sua história poderiam ser aqui indica-das, o que não ocorre, contudo, em nome da brevidade expositiva.

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CAPÍTULO II

preliMinAres sobre A MAçonAriA do r∴e∴A∴A∴ e suA orGAnizAção no brAsil

Sumário: A Maçonaria e sua organização. Definição de “Rito”. Potências, Ritos e rituais. As Grandes Lojas do Brasil e o Rito Escocês Antigo e Aceito. Composição do REAA. Divisão em classes. Chefia do Rito e delegações. Os paramentos maçônicos: “avental” e “colar” ou “fai-xa”. Outra classificação dos graus maçônicos no REAA. Graus filosóficos e seu conteúdo.

A Maçonaria, como Ordem ou Instituição criada pelo homem, é de caráter universal e ramificada em “Potências”, também chamadas “Obediências”, regidas fundamentalmente por “Ritos”, que são sistemas particulares de organização maçônica, ou seja, sistemas específicos que se traduzem num conjunto de regras, cerimônias e comportamentos que, sempre, invariável e estritamente sob o pálio da crença inabalável em Deus, ou Jeová, ou Alá, reduzidos todos os três à expressão maçônica “Grande Arquiteto do Universo”, devem ser observados em certas soleni-dades e ocasiões determinadas, destinados à consecução de alguma fina-

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lidade, de algum objetivo, vincado pela preeminência sócio-moral, tanto para o Maçom individualmente considerado, como para a sua família, ou para a comunidade em que vive.

Como as “Potências”, nas suas organizações maçônicas, não são necessariamente iguais, também assim não são os Ritos por elas livre-mente adotados, o que implica reconhecer serem seus respectivos rituais acentuadamente diferenciados.

Apesar de estarem assentados rígidos Princípios filosóficos na Maçonaria Universal, no entanto a doutrinação maçônica é cons-truída normalmente com base no Rito que é adotado e praticado em cada Potência, havendo aquelas que admitem a prática de vários Ritos por suas Lojas jurisdicionadas. Embora existam mais de 250 Ritos envolvendo um considerável número de sistemas e filosofias diferenciadas, os mais conhecidos e praticados na Maçonaria Uni-versal são denominados: “Rito de Emulação”, “Rito de York”, “Rito Escocês Antigo e Aceito”, “Rito Francês ou Moderno”, “Rito Adonira-mita” e “Rito Schroeder”. De todos esses, é mundialmente mais exer-citado o Rito Escocês Antigo e Aceito.

As 27 “Grandes Lojas do Brasil”, constituídas como Potência Maçônica dentro da Maçonaria Universal e a elas indissoluvelmente integradas em regime de Confederação, adotaram como Rito para o sistema organizacional de cada uma o chamado “Rito Escocês Antigo e Aceito” – doravante denominado abreviadamente pela sigla REAA -, que é não só um Rito de origem histórica, mas também de índole ju-daico-cristã. Esse Rito também é adotado pela Maçonaria dos Estados Unidos subordinada ao Supremo Conselho de Charleston ( Jurisdição Sul dos Estados Unidos), e daí advém a sua metamorfose histórica, que, com a devida brevidade, merece ser descrita porque afeta diretamente os rituais dele decorrentes. Assim:

A pureza básica dos rituais originais como praticados no Rito Escocês da França, passou por uma conformação que a eles emprestou o notável e erudito Maçom Albert Pike, após a constituição do Supremo Conselho de Charleston, na Jurisdição Sul dos Estados Unidos.

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Como bem observa Ridgely Evans4, muito embora os Graus do Rito Escocês sejam divididos pelos ritualistas em “simbólicos”, “inefáveis”, “cavalei-rescos”, “históricos” e “filosóficos”, no Supremo Conselho da Jurisdição Norte daquele país eles são consideravelmente diferenciados daqueles praticados pelo Supremo Conselho da Jurisdição Sul, tanto na forma quanto no conteú-do, malgrado sejam conservadas as lendas dos velhos rituais franceses.

Essa diferenciação entre os rituais das duas Jurisdições norte-americanas está em que, na do Norte, é tributada uma grande atenção à apresentação dramática. Cada Grau é um drama em si mesmo, mas buscando ilustrar alguma verdade moral ou espiritual.

Na Jurisdição Sul, ou de Charleston, como é mais comumente conhecida, os Graus se constituem num estudo comparativo de religi-ões. Muitas delas estão pinçadas com a doutrina da Cabala Judaica e com aquelas do Hermetismo e do Rosacrucianismo, o que torna toda essa doutrinação inegavelmente revestida de Ocultismo.

Essa doutrina Cabalo-Hermético-Rosacruz prevalecente na Juris-dição Sul dos Estados Unidos é devida ao citado Albert Pike, que era um profundo estudioso da Cabala, de par com o status de filósofo, razão pela qual sustentava a indispensabilidade dos Rituais do REAA naquela Jurisdição de-verem estar revestidos de profunda significação filosófica e mística.

Para atingir esse objetivo, ele revisou e transformou aqueles anti-gos rituais franceses, convertendo-os em meros “esqueletos”, deixando-os à margem de aplicação nas Lojas, muito embora as Instruções tivessem se baseado neles, como também muitas delas tivessem sido reescritas.

Albert Pike, que além de filósofo, era jurista, militar e Maçom, foi o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Juris-dição Sul daquele país desde 2 de janeiro de 1859 até sua morte, em 22 de abril de 1891.

Essa filosofia, doutrinação e instruções, tais como ainda vigentes naquela Jurisdição norte-americana, é que vieram a dar conformação aos rituais brasileiros do R∴E∴A∴A∴.

4 “A History of the York and Scottish Rites of Freemasonry”.

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Também aqui no Brasil esse Rito é composto por uma série de “graus”, divididos em cinco classes ou categorias: simbólicos, inefáveis ou de perfeição, capitulares, filosóficos e administrativos.

A chefia do REAA é atribuída ao Supremo Conselho do Grau 33° do REAA para a República Federativa do Brasil. A administração homogênea dos três Graus Simbólicos, como assim chamados e que são os iniciais, é por ele delegada a cada uma das Grandes Lojas. Ficam adstritos à sua exclusiva competência e administração os demais Graus, isto é, do 4º ao 33º.

O público em geral sabe – porque já viu e vê quando acontecem de-terminados eventos promovidos pela Ordem – que os Maçons usam, junto a seus vestuários tradicionais, um “avental” sobre o ventre e um “colar” ou “faixa” sobre o peito, em geral coloridos e decorados, fato esse que leva a em-prestar denominações mais particulares e em número mais reduzido àquelas cinco classes de graus. Tem-se, assim, esta classificação, pouco comum:

Graus Azuis• , quando o último grau dessa série do simbolis-mo têm o avental e/ou colar com a cor azul predominante.Graus Vermelhos• , quando o último grau da série dos capi-tulares, neles incluídos os inefáveis, têm os paramentos com a cor vermelha prevalecente.Graus Negros, • quando o último grau da série dos graus filo-sóficos ou “kadosch” têm o avental e o colar com a cor negra preponderante.Graus Brancos• , quando o último grau da série dos adminis-trativos têm os paramentos com a cor branca dominante.

Por outro lado, numa linguagem maçônica bem informal, dema-siadamente ampla, tais graus também são conhecidos pelas expressões “Maçonaria Azul”, “Maçonaria Vermelha”, “Maçonaria Negra” e “Maço-naria Branca”.

Como nos graus que compõem a chamada Maçonaria Negra existam alguns deles inspirados em ações dos Cavaleiros Templários

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da Idade Média ao tempo das “Cruzadas”, é costume também chamá-los de “Graus Templários” ou “Maçonaria Templária”. Esta denomina-ção alternativa não implica, de nossa parte, reconhecimento antecipado de ter havido miscigenação entre as duas Ordens.

Todos os graus da Maçonaria Negra – que não é aquela conhe-cida como sendo a “Prince Hall” norte-americana, embora totalmente digna de estudo sério e de uma maior e melhor divulgação junto à Ma-çonaria brasileira - são eminentemente filosóficos porque estão estrutu-rados por doutrinas contendo uma alentada quantidade e qualidade de material histórico, tradicional, religioso, lendário, mitológico e tam-bém simbólico.

É o que basta referir para deixar o leitor laico, isto é, não iniciado na Maçonaria, em nível mínimo, mas suficientemente informado no que concerne a essa Instituição e ao Rito adotado, a fim de que possa melhor compreender todo o temário que irá ser explanado neste Estudo, envol-vendo alguns dos seus Altos Graus.

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