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ESCOLA_________________________________________________________________
ANO LETIVO_________ /_________
EXERCCIO DE ESCUTA ATIVA
Mdulo 3 Textos dos media I
Excertos da entrevista televisiva ao escritor Mrio de Carvalho
1 Excerto
Ana Sousa Dias: Mas como que se sabe se uma histria um conto ou se tem asas
para ser um romance?
Mrio de Carvalho: H um nico caso h um nico caso em que aquilo que comeoupor ser uma novela, e que eu pensava que ia ser relativamente curta, se foi ampliando e deu em
romance. Foi na Paixo do Conde de Fris que eu lembro-me que a pouco e pouco iam
acontecendo coisas e portanto a histria ia crescendo. Nos outros eu tenho logo partida a
ideia de que pode vir a ser um romance, ou pode vir a ser um conto e no sei dizer-te
exatamente porqu, talvez porque no conto no haja uma multiplicao de enredos, talvez
porque no conto no haja, digamos, esta escala, se queres que te diga, de personagens no ?
Pode ser por isto mas sim sei logo partida, e at mais e at mais isto um pouco
misterioso, sei quase o nmero de pginas que vai ter.
ASD: A srio?
MC: Sim
ASD: E como que essa histria aparece? Donde que aparecem essas vidas prprias
dos
MC: A histria aparece atravs de uma transfigurao. Pode ser algum que tu
encontres, ou personagens ou uma personagem que tu compes atravs de vrios
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personagens da da vida real atrs ns alm de termos a nossa vida e os nossos contactos e
pessoas que encontramos todos os dias e que vemos nos transportes pblicos ou em vrias
circunstncias, bom tambm temos os media, tambm temos depois toda a literatura at
ns, e tudo aquilo que lemos, no ? Alm daquilo que vivemos, h aquilo que lemos ou o
cinema que vemos, etc. Tudo isso nos fornece, de certa maneira, matria-prima para
construirmos as nossas personagens, bom, tudo remetido para uma espcie de laboratrio
interior est nas suas retortas, nos seus crisis. H aqui processos misteriosos que ns
ignoramos tambm. Mas um belo dia a personagem aparece. Ainda no completamente feita,
ainda tosca, digamos assim, mas apresenta-se. E est pronta a entrar est pronta a ser
trabalhada, digamos assim.
ASD: E depois a histria a histria como que aparece? assim tambm? Vai vai
aparecendo. Tens a personagem, tens a ideia
MC: Essa histria aparece atravs daquilo que uma espcie de ssssse se mgico, no
? E se isto ocorrer? Aquilo que os anglo-saxes falam em What if? No ? E se acontecer
isto? E h de facto essa penso eu que tenho essa capacidade de imaginar, e de propor,
situaes, intrigas, enredos, etc.
2 Excerto
Ana Sousa Dias: H h nos teus livros uma outra outra coisa muito curiosa que :
s capaz de escrever em pocas e pocas completamente diferentes diferentes umas das
outras. J falei aqui do do Deus Passeando pela Brisa da Tarde que no tempo dos Romanos
em Portugal. Fantasia para Dois Coronis uma coisa atual. O Os Casos do Beco das
Sardinheiras um um dos primeiros livros que tu escreveste
Mrio de Carvalho: Sim. o segundo, acho eu.
ASD: um e um livro de histrias populares de histrias de bairro popular de
Lisboa, no ? O Era Bom que Trocssemos umas Ideias sobre o Assunto, s para dizer aqueles
que eu que eu trouxe hoje, tem um um tema muito especfico que que tem que ver
com a tua passagem pelo Partido Comunista.
MC: Hum Hum
ASD: E a est. L estavas tu nas reunies e a observar as pessoas que estavam nas
reunies.
MC: Mas olha que no fazia nenhum esforo para isso.
ASD: No?
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MC: No fao nenhum esforo para isso.
ASD: Mas engraado porque tu tens um ponto de vista
MC: Nem sequer tenho um um caderninho para anotar.
ASD: No?
MC: No, no, no, no. De forma nenhuma.
ASD: Isso fez-me imensa curiosidade, de facto, se tu no tens uma
MC: Nunca portanto nunca tive, e nunca usei nunca tomei uma nota. E no estou
especialmente orgulhoso disso. S que enfim no
ASD: Isso vem tudo, vem
MC: No tem que ver com o meu feitio. No no no enfim no tenho essa
perseverana de tomar notas de de guard-las arrum-las. No, no tenho.
ASD: No entanto, tambm no tens uma grande memria. Isto foi porque eu h
bocado antes de comearmos a conversa, disseste-me eu eu no me lembro, no tenho
memria das pessoas. Mas tens memria das situaes, quer dizer, s capaz digamos de
recriar situaes, ambientes, que podem ter acontecido que podem acontecer, no ?
MC: Pois. No h memria das situaes em concreto, e no, no tenho memria de
caras. Fao figuras terrveis fao figuras terrveis porque no conheo as pessoas, e as pessoas
pensam que podem pensar, eventualmente, que por descaso ou por indelicadeza ou tal. No
. No conheo mesmo. E no me lembro de muitas outras coisas. Mas provavelmente hsituaes, h intrigas, se tu quiseres, enredos, que ficam fixados em qualquer lado, e que saem
para c para fora com dispositivos, com mecanismos que que so usados depois. muito
curioso quer dizer, quando por exemplo, nessas reunies em que tu falas, e que aparecem
no livro eu no estou a ver ningum em concreto, no ? Mas consigo reproduzir a partir da
uma coisa que se parece muito com a e que as pessoas reconhecem as tais reunies.
Portanto houve qualquer coisa de que que ficou impressionada, em qualquer lado, e depois
aparece transfigurada dessa maneira. Mas que no vem conscincia facilmente.
ASD: No. E no no vem com a cara de ningum?
MC: No, no vem com a cara de ningum.
ASD: Mas imagino que te acusaram
MC: Acabam por vir
ASD: Que acharam que estavas aqui a caricaturar algum.
MC: Bom, mas nesse caso, quer dizer, preciso dizer como o Ea ao Bulho Pato: Faz
favor de sair da minha personagem porque porque porque, de facto, ningum pode
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portanto, dizer, com verdade, que est que est dentro das personagens. No. So
personagens que so compsitas, so formadas de muita gente e vm de ambientes
inteiramente diferentes, no ? As componentes da
ASD: Sim, sim, sim
MC: Da personagem, que do esta fuso, no ? E que no ningum que ningum
se pode reconhecer nelas, no ?
ASD: Pois
MC: Porque mesmo que haja um trao dominante de algum sempre completado com
outro
ASD: Com outro
MC: Contrariado por outro, no ?
ASD: E esta histria de que eu te estava a dizer de de tu conseguires escrever em
pocas to completamente diferentes?
MC: Sabes eu penso que a histria tem
ASD: Porque h coisas que so que so permanentes eternas.
MC: Sim, a histria est ainda a acontecer. Ns por vezes, pensamos que as coisas dos
Romanos no tinham importncia nenhuma e que enfim que so coisas antigas, velhas,
velharias que esto ultrapassadas. Mas no. Esto, de facto, a acontecer ainda. E ns somos
ainda o fruto disso. Porque ns estamos a falar em Latim. Estamos a falar uma lngua latina.Porque os Romanos estiveram c, e deixaram-nos esta herana. Mas deixaram-nos outras
tambm. Os autores desse tempo ainda nos esto ainda nos esto a falar. E ns somos feitos
daquilo tambm. Somos o mesmo homem. No h grandes diferenas entre com o homem
daqueles tempos e portanto e o homem de hoje. Somos, na essncia, os mesmos. por isso
que conseguimos ler as obras do passado e elas nos podem entusiasmar tanto, no ?
Portanto, essa essa noo de que o passado est morto pode ser at at perigosa, porque
pode-nos levar concluso de que s interessa s interessa o presente e de no
aprendermos nada no aprendermos nada com aquilo que que est para trs e aquilo que
nos conformou e nos enformou, no ? um pouco como o apelo amnsia. E isso para
cada pessoa muito muito mau, no ? Ns no sabemos o que que se passou antes, e
no temos ideia do que foi o nosso passado, e no temos no podemos evocar a nossa
experincia. Com as civilizaes a mesma coisa e com os pases a mesma coisa. No
sabermos aquilo que est para trs, aquilo de que somos formados, de que somos feitos, a
criao uma espcie de amputao, no ? De uma parte importante de ns.
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ASD: Por isso, disseste no incio desta conversa que o escritor fundamental para
a a criao de um de uma de uma identidade nacional, tambm.
MC: Ah! Sem dvida. Porque o escritor lida com a lngua, no ? Com os traos
identitrios mais fortes e penso eu quer dizer, dificilmente falars numa fsica portuguesa,
no ? Ou numa astronomia portuguesa. Mas podes falar vontade numa literatura
portuguesa, porque ela tem uma tem uma individualidade muito muito prpria que lhe
dada pelo prprio pela matria-prima com que se ocupa. A lngua portuguesa e a literatura
portuguesa esto completamente ligadas. E portanto e isso est completamente est muito
ligado tambm nossa prpria identidade enquanto Portugueses. por isso que muito mal
anda quem tenta cindir no ensino, o ensino da literatura do ensino da lngua. Porque uma das
utilizaes mais altas e mais elevadas da lngua precisamente a sua expresso literria.
ASD: Obrigada, Mrio de Carvalho.
MC: Muito obrigado.
ASD: Por teres vindo aqui e pelos livros que tens escrito.
MC: Obrigado, eu. Adeus.
Por Outro Lado, Canal 2 RTP, 2004
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GUIO DE ESCUTA
A. Escuta / visionamento global e escuta / visionamento seletivo
Nome do Programa:_____________________________________________________
Data da Emisso:_______________________________________________________
Identificao:_____________________________________________________
do entrevistador / do apresentador
do entrevistado / dos convidados
B. Escuta / visionamento global
1 Sequncia de temas tratados
2 Identificao dos temas mais extensamente tratados
3 Factos relatados
4 Ttulos de obras referidas
5 Preenchimento das grelhas de avaliao relativas ao entrevistador e ao entrevistado ouconvidados
6 Opinio sobre o interesse da entrevista ou do programa
C. Escuta / visionamento seletivo
Levantamento das opinies e testemunhos do escritor sobre temas abordados na
entrevista, nomeadamente, e a ttulo de exemplo, as relativas aos seguintes tpicos:
importncia social do escritor (e do artista em geral)
papis do autor e do leitor na interpretao de uma obra
opes do escritor por conto, novela ou romance: como e quando
processos de criao da histria e das personagens
importncia do conhecimento do passado de uma civilizao / de um pas
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Atividades complementares:
elaborar, aps pesquisa, uma ficha biobibliogrfica do escritor Mrio de Carvalho,
integrando, desde que significativos para o objetivo visado, elementos resultantes do
visionamento da entrevista realizada por Ana Sousa Dias
escolher e ler uma obra do escritor
apresentar na turma uma obra do escritor e / ou elaborar a respetiva ficha de leitura
(a inserir, eventualmente, no porteflio)