LUZ ETERNA

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POESIAS DE ESIOPOETA

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LUZ ETERNA

Sonetos de Esio Antonio Pezzato2009

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Pequeno comentário do Autor

Luz Eterna. Um título apenas, nada mais do queisso.Mas eis aqui mais uma coleção de Sonetos, quepor certocontinuará inédito. Vale apenas comoregistro de minha poética. Sei muito bem, mais doque ninguém, que a Poesia deveria ter ou ser umaLuz Eterna em nossa vida, mas bem sei que hoje,ou melhor, nos dias de hoje, poucos leem umPoema, uma Quadra, um Soneto, um verso mesmoqualquer. O título aqui não foi procurado. Surgiu poracaso. Do montante que possuo digitado, perto de 1200inéditos, esse título era o primeiro da lista.Gostei. E eu nem havia antes percebido que eraum título atraente... Mas isso já não é importante. Importa commais uma dose de tristeza para mim, quedificilmente esse livro um dia será publicado. Tantos devem continuar a ficar no ostracismo,a ficar inéditos... e eu já tive a sorte de vir a

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público com 12 livros, e ainda tenciono logo maispublicar “Os Caipiras”. Mas é isso. O comentário apenas aqui servepara encabeçar esses Sonetos, quase todosdecassílabos.

Esio Antonio Pezzato

Julho de 2009

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Luz eterna

Essa dor tão insana que maltrataE ao coração traz mágoa e penitência,Como dói essa dor chamada ausênciaEssa dor que nos vem de forma ingrata.

Sonolenta ela vem, traz resistência,Mil castelos construídos desbarata,Sentinela redige lívida ataE fere, fere, fere, sem clemência.

Releio o velho livro da memóriaE ao ver a sua dor doendo tantoTambém recordo a minha triste história...

A mesma dor da solidão paternaQue molda máscaras de angústia e pranto,Em minh’alma também tem luz eterna.

02.05.2006

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Eterna dama

Distante estás porém nossa distânciaNão pode ser de léguas de deserto.Deverias tomar o rumo certoPara viver o amor em cada Estância.

Mesmo distante sinto-te a fragrânciaQue me chega com timbres de concerto.Distante estás, porém te quero pertoPara tudo te dar com mais constância.

Mas foges e te escondes... e te escondes...Patéticos chamados não respondesE ignoras o teu Dono que te chama.

Vem que te espero e tanto e tanto e tanto!Quero-te rima para um novo canto,Vem deste Poeta ser a eterna Dama!

08.05.2006

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Lembrança

Relembro com saudade o velho sítioOnde passei minha dourada infância.E à minha Mãe que hoje me diz: “Visite-o!Que ele há de ainda ter mágica fragrância!”

Digo não com firmeza. Embora cite-oEm mil recordações e cheio de ânsiaAquele sonho azul do velho sítioÉ uma lembrança apenas de constância.

Lá vivi alegrias, com certeza,Pés descalços, feliz eu contemplavaMil espetáculos da Natureza.

Viver era a esperança mais dourada,Que minha mente ainda treme escravaSe ouve um galo a cantar na madrugada.

10.05.2006

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Poço da derrota

Ás vezes a saudade me apavoraE planta desesperos em meu peito.De tal maneira que minh’alma choraE eu este pranto amargo não aceito.

Pouco importa se é justo e se é perfeitoO pranto que me fere e me devora.Esse pranto me deixa insatisfeitoEssa mágoa em meu peito já não mora.

Penso já ter vivido o suficienteE penso ter controle da saudadeMas ela assim do nada à vida brota.

Fere e castiga o coração que sente,Nos deixa presos na perpétua gradeCavando em nós o poço da derrota.

10.05.2006

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Ana Maria

É uma pequena flor cheia de graçaQue vive me encantando dia a dia.Em honra desse encanto eu ergo a taçaE teço um brinde em timbres de Poesia.

Ana Maria um nome que adelgaçaE penetra-me n’alma e me extasia.Nome de flor é flor e a flor me enlaçaPara viver comigo em fantasia.

Uma flor no jardim da minha vidaNão pode ter a vida de abandonoPois que senão desmaia e jaz ferida.

Uma Rosa fulgura em meu Outono,Muda-me em Primavera colorida,Desta Rosa mulher passo a ser Dono!

12.05.2006

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Soneto sem fim

Todo Soneto tem quatorze versos,E deve ter as rimas bem cuidadas.Rimas pobres, assim como as em “adas”,Devem ser evitadas. Bem diversos

Os temas devem ser. Boas tiradasDão ao Soneto glórias. Mas se a rimaPor exemplo quebrar abaixo e acima,Ele será atirado nas calçadas.

São os ossos do ofício do Poeta!E se a rima também for imperfeita,Não haverá no mundo borboleta

Que ao Soneto dê luz pura e direta,E nele só verei falta e defeito........................................................

25.05.2006

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Sonhos doentes

Somos todos doentes, de maneira,Que iremos falecer um certo dia.Pois não há descoberta uma alquimiaQue deixe a Vida nossa prisioneira.

A certeza da Morte é verdadeira.E o porvir, pode ter curta valia.A Esperança é uma bruxa, assaz vadia,Entanto é nossa eterna prisioneira.

E vivemos sonhando – enlevo doce! –Enquanto vamos vendo bons amigosPartindo sem retorno da viagem.

Sonhar longo futuro é um tredo alcouce.Porque no cemitério mil jazigosEstão nos esperando com voragem.

11.06.2005

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A minha história

Como velho fantasma peregrino,Moldo no chão da velha e antiga estradaOs passos que procuram um meninoQue viveu bela história abandonada.

De velhas amizades me iluminoE por elas, a força é renovada.Tantas se unem num único destino,Que a Vida se renova em alvorada.

Como errante Poeta moldo os passos,Que vão buscando cúmplices abraçosVelhos fatos retidos na memória.

A cada encontro os versos vou compondo,Se aos anseios de luz não correspondo,Não esqueço, jamais, a minha História.

15.06.2006

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Virás!

Estás distante... sei que estás distanteFisicamente apenas, mas um dia,(Que breve seja!) tu, toda poesia,Virás para entregar-se ao sonho amante.

E ouvirei cada jura sussurrante.Cada gemido em pura fantasiaIrá nos abraçar feito magiaE irá nos envolver num sonho ebriante.

Virás! Virás! E permanentementeHei de domar teus sonhos, tua mente,E te fazer a minha terna amante.

E no corpo terás, como verdade,Para mostrar de forma delirante,Que sou teu Dono e és minha propriedade!

13.11.2006

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Teresa

Teresa é um sonho bom, uma saudadeQue povoa a minha alma noite e dia.Um misto de paixão e de ansiedade,Desejo de poder que me extasia.

Teresa é a alma submissa que me invadeE enche meu coração de fantasia.Um sonho para a minha realidade,Delírio de viver toda a magia.

Teresa é um sonho e dentro deste sonhoSou-lhe Dono e Senhor e ela, cativa,Ajoelha-se aos meus pés em rendição.

Na distância onde ausente os olhos ponho,Sempre de forma silenciosa e viva,Teresa é minha sombra de paixão.

21.11.2006

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Tola ilusão

Ilusão... ilusão... tola ilusão...A vida é um louco acumular de diasQue vão perdidos junto às fantasiasE cremos nós que tenham servidão.

Fosforescente bolha de sabãoQuando nos pomos a fazer sangriasFantasmagóricas alegoriasAos nossos sonhos vão dizendo não.

Essa grande experiência acumuladaNão serve para nada, para nada,Porque o ineditismo do amanhã

Com força irá mostrar a sua sorte:E o homem mais fraco e mesmo o homem maisforte,Irão cair por terra em tal afã.

29.11.2006

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Soneto para véspera de aniversário

Assim a vida passa... assim a vidaDesenfreada e veloz, rápida passa.Passamos nós na transversal corridaNa mais terrível e constante ameaça.

Assim à vida, tenebrosa traçaA ânsia de dias mais deixa corroída.Tomba o futuro em nuvens de fumaçaCega a esperança azúlea e colorida.

Quem antes se fazia num sorrisoPresente aos nossos sonhos mais festivos,Hoje se torna ausente sem aviso.

De incertezas assim a vida aflora...Dos adeuses sem fim somos cativos,– Logos nós estaremos indo embora...

29.11.2006

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Teresa

Mais que um sonho, Teresa é uma ansiedade:Avalanche em insana correnteza.Um delírio de sonho e de vontade,Paixão que a alma fremente deixa presa.

Mais que um sonho, Teresa é a atroz verdadeQue me prende em correntes de certeza.Desvario e loucura – insanidadeQue em turbilhão a idéia fere tesa.

Mais que um sonho, Teresa é o amor oculto,Que revela e rebela a naturezaDe labaredas num estranho culto.

Mais que um sonho de príncipe e princesa,Teresa é luz diáfana, aéreo vultoVerso que fico a declamar... Teresa...

14.12.2006

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Roca mole

Trôpego tento conduzir os passosContrariando severa ordem imposta.Se a voz que urra sacode amplos espaços,Em silêncio darei minha resposta.

Essa que pensa ter poder nos Paços,Pelo ridículo se faz exposta.Grita, tortura, traça tortos traços,Mas à sua vitória é sem aposta.

Se almeja ainda galgar pompas e glória,Não terá um só voto na eleiçãoPois nefasta será sua memória.

Continua a gritar com urros de orca,Que o Natal se aproxima e com razãoGritarás como em vão, grita uma porca.

19.12.2006

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Os quatro elementos em saudação

Faço versos de amor. O amor mereceSer louvado nos versos que fabrico.Cada verso de amor lembra uma preceOnde meus lindos sonhos glorifico.

A alma da minha vida os versos teceE em honra deste amor de joelhos fico.O amor na minha vida é flórea messe,Desse amor me abasteço e sou mais rico.

O amor! ventura d’alma, sonho etéreo,Que asas me dá para voar, voar,A vastidão de todo o espaço aéreo.

Canção feliz que engloba o verbo amar,Que me faz ser Poeta tão sidério,Saudando o Fogo, a Terra, a Água e o Ar!

19.12.2006

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Sonho distante

A vida por viver ainda é segredo;Nem sabemos se iremos desvendá-la.Por isso nossa angústia e nosso medoTambém nosso tremor e nosso abalo.

A vida por viver é um sonho ledo:Traz cantigas que dão-nos doce embalo.Também pode trazer num arremedoO desespero em simples intervalo.

A vida que ainda em êxtase procuroFará florir em festas o futuro,– Tem sido assim minha constante meta.

A vida amanhecer num sonho alado,E eu, pelos Deuses sacros – inspirado,Possa compor um verso de Poeta!

20.12.200610:15h.

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Alguns Sonetos

Sonetos! À medida que eu os façoDebato-me com métricas, cesuras...Compô-los é viver entre aventuras,Perambulando olhares pelo espaço.

Domar o pensamento em grades de aço,De o pântano evitar cruéis agruras...Tecer as rimas como iluminuras,E jamais se quedar frente ao cansaço.

Meus Sonetos! Assim eu os componho!É alegoria cúmplice de um sonho,Criá-los sem ranhuras, sem defeitos.

Glória ao Grande Arquiteto do Universo,Que deu-me o Dom de urdir verso após verso,Alguns Sonetos justos e perfeitos!

08.02.2007

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Velhos sonetos

Velhos sonetos, velhos e esquecidos.Sonetos... nesta imensa caminhadaEles foram amados e queridos,E compostos com a alma apaixonada.

Velhos sonetos, sonhos coloridos:– Uns em forma de carta à bem-amada,Outros chorando sonhos destruídos...Em todos uma história bem tramada.

Agora que releio tais sonetos,Os olhos trago em lágrimas banhado,Sinto pulsar mais forte o coração.

Da vida são meus doces amuletos:Por eles sinto estar apaixonado,Poeta – amo-os com a força da Ilusão.

16.02.2007

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Consulta ao ortopedista

De repente... um Soneto pé-quebrado!Como pude compô-lo, sendo artista?O Arayr como bom ortopedistaO meu soneto deixará curado?

Talvez precise sim, ser engessado!Não é fratura exposta, assim à vista.Mas na ânsia da batalha não prevista,Quebrei o verso que ficou errado.

Sempre justo e perfeito em cada verso,Rompi tendões de métricas e rimas,Sem querer veio o tombo na cesura.

Arayr, bom Amigo, fui disperso!Tal dispersão irei juntar com ímãs?Diga, Doutor, meu verso ainda tem cura?

16.02.2007

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Solitário silêncio

Solitário silêncio. SolitárioMomento onde o Poeta em transe, escreve.Breve momento muito breve. BreveÉ o canto e ao canto é longo o itinerário.

Lá fora brandamente cai a neve.Dentro do coração há um denso estuário.A inspiração tem passos de calvário,Pesada embora, se mostrando leve.

Silêncio solitário. SolitárioDentro do coração em transes cantaEm ecos de tristezas, um canário.

De tanta solidão teço esta manta:Para o Poeta já não há cenário,E o silênciolitário me acalanta.

27.02.2007

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Frente ao imprevisto

Podemos todos fenecer. PodemosPartir sem que a partida esteja pronta.Frente a desejos mórbidos, supremos,Bem podemos ficar com a alma tonta.

Esse poder estranho me amedronta;Pois poderes de vida, nós não temos.Um dedo em riste do destino apontaUm barco em alto mar... e as mãos por remos.

Sabemos nós que não podemos nada!Temos somente permissão a sonhosMas frente a pesadelos somos vistos.

Talvez não haja, após a madrugada,Um sol brilhante, corações risonhos,Que a realidade é feita de imprevistos.

02.03.2007

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Obreiro

Em versos me desnudo novamenteNeste infernal e celestial Ofício.Se o verso um dia à Vida for semente,Terá valido a pena o sacrifício.

A caminhada é longa e permanenteE é penoso demais cada exercício.Mas vou seguindo destemido em frente,Na ânsia de construir meu Edifício.

E os versos são tijolos na labuta,As rimas são a massa dando ligaE dos Mestres procuro usar o exemplo.

Que o verso seja adocicada fruta!E a rima seja terna e doce amiga,E que eu consiga edificar meu Templo!

13.03.2007

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Ofício

O Ofício da Poesia me fascinaE me sacia o coração fremente.Cada verso que sai da minha menteSe parece uma estátua purpurina.

Como se fosse mesmo uma semente,O verso lembra airosa bailarina;Que sensualmente o dorso altivo inclinaNuma ternura doce, amena, ardente.

Justo e perfeito crio assim meu verso,E sem defeito quero-o belo e altivo,Um monumento à glória do Universo.

Por essa perfeição bem sei que vivo,Se o coração em transe vai disperso,Mais pelo amor me sinto estar cativo.

23.03.2007

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Meus versos

Meus versos necessitam de carinho.Não podem e não devem, com certeza,Ser maltratados. Como um passarinhoMeus versos voam pela natureza.

E se alguém os ferir com rude espinho,Eles irão perder fulgor, realeza,E viverão largados no caminhoOnde o lodo do pus e da impureza

Irão feri-los todos, maltratá-los,Causar cismas, causar traumas, abalos,É por isso que digo, bem mansinho,

Com voz baixa, em sussurros feitos prece,E bem repito, assim ninguém se esquece:Meus versos necessitam de carinho.

28.03.2007

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Doce exaltação

Procuro em cada verso, a melodia,A doce exaltação do sentimento.O acorde manso, a lírica magia,O gosto de sorver, sentir o vento.

Poeta – vou tramando no momentoA rima para cálida poesia.O verso é meu altar, é meu unguento,Razão para viver um novo dia!

Suspiro estrofes – lírico me faço,Escaldo sonhos, tanjo pelo espaçoManadas de Silêncio e de Ternura.

Com a avena da Esperança urdo meus hinos,Carrego n’alma sonhos purpurinos,E sonho a vida cada vez mais pura.

11.04.2007

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Andresa(apenas uma rima, nada mais)

Andresa em minha vida é mais que um sonho;É um desejo de posse alucinado.É o coração pulsante, é o olhar risonho,É a ânsia de extravasar-se apaixonado.

Andresa é o amplo caminho onde os pés ponho,É o delírio da posse em todo o estado.– Sendo ausência o viver é mais tristonho,Sendo presença é um dia iluminado.

Andresa é uma canção que rimo e canto,E com felicidade e terno encantoSoletro letra a letra com firmeza.

Andresa é etéreo som de suavidade,Tua presença a minha vida invade,Canção que canto com prazer – Andresa.

25.04.2007

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Prisão

Ânsia de possuir-te em fúria imensa,Dominar o teu corpo, os teus sentidos,E após ouvir, como se fosse crença, Teus lúbricos gemidos.

O teu corpo violado, a alma suspensa,Os desejos insanos, incontidos.Minha vontade feita atroz sentença, E os êxtases vividos.

Minh’alma assim te quer, assim te busca,A minha tara mesmo sendo brusca, Será firme e secreta.

E tu’alma submissa, à minha presa,Verá que mais que teu Senhor, princesa, Serei o teu Poeta!

26.04.2007

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Tormenta

Às vezes o passado me atormentaE grita em polvorosa em minha mente.Parece até que a antiga dor violentaComo herança deixou sua semente.

O fel da angústia – baba atroz, sangrenta,No coração escorre, de repente.Minha manhã de sol fica cinzenta,E só delírios a minha alma sente.

Parece que um demônio em ira estranha,Baba sua vileza em minha entranhaSua ironia escarra no caminho.

Feroz delírio é tudo o quanto sinto,Se desta vida o amor se fez extinto,É natural que em fel mude-se o vinho.

02.05.2007

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Posse

Quando o chicote em tua pele vibra,E escuto os teus gemidos lancinantes,Demonstras ser a amante das amantes,E mostras que és escrava e que tens fibra.

Submissa escrava em todos os instantesNa paixão meu desejo se equilibra.Quando um vergão na tua pele libra,Meus prazeres se tornam mais constantes.

Humilde vens, silente, vens ao dono,Que te espera no afago e no castigo,Para que possas mais e mais viver.

Faz teu amor feliz, vela-lhe o sono,Faz de teu corpo o mais ardente abrigoPara viver em ti o meu prazer.

03.05.2007

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Retiro

Às vezes a minha alma se entristecePor motivos banais, tolos e chulos.Uma palavra à toa me aborreceQue até os meus prazeres deixam nulos.

As más notícias chegam como arrulos;Fazem cochicho em meio da quermesse.Mas em alto-falantes soltam pulosComo frutos ruins de podre messe.

E a palavra mordaz meu peito fere,E todos riem frente ao sangramento,Ninguém falando de onde o fato veio.

O silêncio feroz é um miserere.Porém, enquanto em ondas vai o vento,Em meu retiro fico em devaneio.

07.05.2007

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Primaveril

A primavera cicatriza o invernoQue n’alma congelou os meus desejos.E vai compondo com prazer eternoA sinfonia mágica dos beijos.

Nos jardins rubras rosas em cortejosParecem um turíbulo do inferno.Há um bulício de vidas, de festejos,E um delírio de gozo denso e terno.

Contemplo esse espetáculo ridente!Vibra a harmonia de um violino ardente,E a primavera, no jardim da vida

Sangra em rosas de pétalas vermelhas,Também meu coração chispa centelhasPondo a alma na esperança colorida.

11.05.2007

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Distância

Sinto que pouco a pouco distanciasAté a separação tornar completa.Não serás mais a Musa do Poeta,Não mais e comporei minhas poesias.

Afastas-te de forma bem discreta,Foges mansa nas sombras dos meus dias.No silêncio de tantas fantasias,Até que a ausência seja, enfim, concreta.

Mas me engano... em ternuras me apareces,Iluminas meus sonhos, iluminasMinha alma e tua voz em doces preces

Pede afagos e pede mil carinhos.Ah, doce amor, nas mais remotas minas,Não iremos, jamais, viver sozinhos.

24.05.2007

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Sumiço

Apareces, depois desapareces,E minha angústia aumenta, aumenta, aumenta...Chamo-te com carinho em minhas preces,Contudo tua ausência me atormenta.

Esqueces o prazer vivido... esquecesA loucura da posse assaz violenta.Teu corpo serpenteante em dóceis SSs.Os gemidos da posse mais sedenta.

Apareces em sonhos tão-somente,E em delírios escuto o gozo arfanteTeus ais, teus uis e tua dor latente.

Submissa aos meus desejos tu ficavas,E mais que minha predileta amante,Eras a mais escrava entre as escravas.

24.05.2007

Page 37: LUZ ETERNA

Invocação

Invocas o Silêncio em tuas preces.O Silêncio nos traz traumas e medos.Desejos escondidos em segredos,Em atalhos sinistros cheios de esses.

Invocas o Silêncio enquanto tecesCobertas para as noites de degredos,Açúcares a chás acres e azedos,E silos para os frutos de áureas messes.

Invocas o Silêncio e depois somes,E não tens rosto muito menos nomes,És a verdade envolta na mentira.

Não podes traduzir minha palavra,O silêncio é somente em tua lavra,Enquanto é fruto para a minha Lira.

01.06.2007

Page 38: LUZ ETERNA

Três Luzes

Mais um dia estafante de trabalho.Em silêncio o labor é mentalmente.Entranho ao Verso a rima em minha mente,Tal fosse a rima ao Verso, um agasalho.

Um Soneto sem rimas, certamente,Lembra espantoso e tétrico espantalho.Lembra as cartas difusas de um baralhoQue deitou sua sorte num repente.

Portanto o meu trabalho é literário.E tento por nos versos que fabricoAs três Luzes perfeitas da harmonia.

Com a Força o exercício é-me diário!Na Beleza o meu verso glorifico,Mas busco as luzes da Sabedoria!

06.06.2007

Page 39: LUZ ETERNA

A Ana Maria, meu amor

Todos os sonhos que sonhamos são– Cega certeza! – os sonhos mais bonitos.Desbastamos os largos infinitosMudos ficamos em contemplação!

Em tais momentos fala o coraçãoA linguagem melódica dos ritos.Os nossos olhos mudos e contritos,Declamam em silêncio, uma oração.

De mãos dadas, nós dois, e só nós dois,Preenchemos a amplidão com nossas calmas,Nada necessitamos do depois.

As nossas vidas pulsam hoje e aqui!Juntas até são plenas nossas almas,Já que vives em mim e eu vivo em ti!

14.06.2007

Page 40: LUZ ETERNA

Rosa com espinhos

Muitos momentos tenho em vão vividoSonhando sonhos, simplesmente sonhos.Muitos momentos bons tenho esquecidoBuscando apenas pântanos medonhos.

Muitos momentos meus tenho sofridoAssim meus dias vivem mais tristonhos.Muitos momentos meus tenho perdidoBuscando ataques claros e bisonhos.

Devo permanecer neste compasso,E o tempo agora torna-se de esperaPara o confronto hei de travar o passo.

Haverá de romper a Primavera,E eu hei de ver ruir todo o fracassoDe quem só por prazer me dilacera.

15.06.2007

Page 41: LUZ ETERNA

Vontade de viver

Morrem meus sonhos... e tristonhos morremOs meus desejos loucos, delirantes.Pelos dedos das mãos frias, escorremÂnsias e taras e ilusões amantes.

Desvarios sutis não me socorremE as esperanças tornam-se distantes...Morrem meus sonhos e tristonhos morremVontades e momentos excitantes.

Vivi sonhos, delírios, vivi dias,Horas de espera, instantes de ansiedades,E mil momentos mágicos vivi...

E restam por viver mil fantasiasOlhares plenos, loucos de vontades,Vontade de viver junto de ti.

22.06.2007

Page 42: LUZ ETERNA

Inesquecível

O dia amanheceu todo nublado.Falta-me o sol e sua luz brilhante.Cinza caminho a passo torpe e errante,Desconsolado e só... desconsolado.

Ausento-me de mim e sem passadoMarco passadas num vagar distante.Lerdo lirismo, fantasia adiante,Realidade feroz me faz parado.

Absorto, cismo o olhar alhures, vago,Nada levo de mim e nada trago,Nada ofereço a quem nada oferece.

Vou só. Incógnito. A vida é úmida e fria.A solidão sem tua companhiaO coração sofrido não esquece.

29.06.2007

Page 43: LUZ ETERNA

Silêncio

Invocas o Silêncio em tuas preces.O Silêncio nos traz traumas e medos.Desejos escondidos em segredos,Em atalhos sinistros cheios de SSs.

Invocas o Silêncio enquanto tecesCobertas para as noites de degredos.Açúcares a chás acres e azedos,E silos para os frutos de áureas messes.

Invocas o Silêncio e depois somes,E não tens rosto, muito menos nomes,És a verdade envolta na mentira.

Não podes traduzir minha Palavra.O Silêncio é semente em tua lavra,Enquanto é fruto para a minha Lira.

01.08.2007

Page 44: LUZ ETERNA

Velhos amigos

Nesta vida encontrei alguns amigosLeais, sinceros, justos, verdadeiros.Prontos para livrar-me de perigos,De armadilhas sinistras, de atoleiros.

Muitos desses amigos tão antigosForam da minha infância, companheiros.Usando o mesmo teto por abrigos,Da água e do pão nós éramos parceiros.

Hoje que a vida traça estrada estranha,Traz distâncias, silêncios, vida oculta,Vejo-os preenchendo sonhos de um passado.

Neles me vejo unidos nesta sanha,E quanto mais esta saudade avulta,Mais trago n’alma um coração magoado.

28.12.2007

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Soneto com Mote

(Oh! Flor do céu! Oh Flor cândida e pura)(Perde-se a vida, ganha-se a batalha!) Machado de Assis

Oh Flor do céu! Oh Flor cândida e pura,Delírio de visão que me entorpece,Sonho maior que exalto numa preceQue me leva ao delírio da loucura.

És tu um paraíso da Ventura,Que da alma o olhar que vê jamais esquece,E o olhar do corpo em frêmito estremeceQuando sente o prazer dessa candura.

E dia a dia na loucura imensaO pensamento é lava de fornalhaQue pétalas transmuda em áurea crença.

Machadiano prazer que me atrapalha!Que ao te roubar é fera a recompensa:Perde-se a vida, ganha-se a batalha! 31.01.2008

Page 46: LUZ ETERNA

Há 50 anos

Da minha infância a rua é uma lembrançaEsquecida no tempo já distante.Que agora traz saudade anavalhanteAo adulto que nela foi criança.

A vida sepultou toda a esperançaQue era bela, qual rútilo diamante.As estações se foram num instanteNum vendaval fazendo sua dança.

Hoje há um eco perdido no passadoE uma sombria voz que vem ao ventoImpiedosa selando esse destino.

No peito o coração bate magoado,E parece trazer em seu lamento,Lembranças desse tempo de menino.

31.01.2008

Page 47: LUZ ETERNA

Inocência infantil

Meu coração tem sonhos de criança,Acredita nas bruxas e nas fadas,Sonha, e nos sonhos faz uma aliançaPara crer nas histórias encantadas.

Meu coração é cheio de esperança,E brinca nas manhãs ensolaradas.Com os raios de sol ansioso dança,Brinca com as borboletas encarnadas.

Crê no “pé de feijão” – se faz Joãozinho,Ama, cria e recria muitas lendas,Tem as duas mãos juntas, numa prece.

Meu coração de histórias faz seu ninho,Porque a crer nas histórias estupendas,O meu Pequeno Príncipe não cresce!

29.02.2008

Page 48: LUZ ETERNA

Soneto com mote

(Todo o maná sagrado da montanha) Miguel Torga

Rasgo o peito co’as mãos e dentro buscoA Inspiração para compor um verso.Insano desvario, sonho brusco,O tempo da Poesia hoje é adverso.

A meu redor é grande o lusco-fusco:Luzes e trevas duelam no Universo.– O amor que brota – alucinado ofusco,E para a vida tenho o olhar perverso.

Porém, a ânsia do Sonho ainda é mais forte,E uma força Divina o peito arranhaE não consigo divisar tal sorte.

É a Poesia que rompe minha entranha,E traz-me com vigor maior que a morte,Todo o maná sagrado da montanha!

06.03.2008

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Livro de Receitas

Para compor meus versos necessitoDo Livro de Receias de Vovó.Pois só ela sabia, num agito,Fazer bolos do tipo pão-de-ló.

Quituteira das boas, era um ritoPara a fabricação do Mocotó.Pasteis de carne, queijo ou de palmitoEra a boa a Vovó, como ela só.

Uso açúcar e sal, trigo e fermento,Para o Verso sair justo e perfeitoE a métrica jamais erros conter.

Cozinheiro do Verso – no momentoEu ficarei bastante satisfeitoSe o conteúdo agradar ou der prazer.

26.03.2008

Page 50: LUZ ETERNA

A Saudade

A saudade é um cometa peregrinoQue vive a navegar na órbita imensa.Caminha pelo espaço sem destinoSurgindo, às vezes, em fugaz presença.

Às vezes brilha de maneira intensaProvocando pavor e desatino.E o coração, numa sentida crençaQual da ermida badala um brônzeo sino.

Mas a saudade mil ações provoca,– Fera ferida entranha-se na tocaE o coração explode numa lira.

Porém, como o cometa vai-se embora,E ao vir do sol em fulgurante aurora,Ele mostra seu rastro de mentira.

29.03.2008

Page 51: LUZ ETERNA

Encontro

Poeta peregrino mil caminhosPara encontrar o amor sincero e puro.A marcha segue o rumo do futuroOnde soletram mil canções, os ninhos.

Os meus sonhos jamais seguem sozinhos,Pois de encontrar o amor estou seguro.Em loucas esperanças me aventuroSentindo o olor dos frescos rosmaninhos.

Não me canso jamais da caminhada,A cada passo que meu corpo avançaPara trás deixa a noite e a madrugada.

À frente o sol ardentes raios lança!E me percebo estar no fim da estradaEis que me encontro à rútila Esperança!

29.03.2008

Page 52: LUZ ETERNA

Inverno

A passos largos se aproxima o InvernoTrazendo neve aos fios de cabelos.Sonhos mudam-se em feros pesadelos,E o crepúsculo surge sempiterno.

A fulgor que sonhava ser eternoImpossível clamar em mil apelos.A cerzi-lo me faltam os novelosLã para agasalhá-lo em sonho terno.

O passado é uma estrada ampla e comprida,Das flores a Estação não tem atalhoE a esperança não brilha mais florida.

Do tempo que me resta me agasalho,E a contemplar no espelho a minha vida,Reflito-te num pálido espantalho.

02.04.2008

Page 53: LUZ ETERNA

Soneto em acróstico

(soneto em acróstico de Esio Poeta)

Sempre, sempre escrever......... InspiraçãoObriga-me a compor..................ConstantementeNa Poesia eu..............................Ouço o coraçãoEm delírios febris........................Divinamente.

Treme meu coração...................E na correnteO verso faço em.........................Êxtase... ilusão...Embora haja prazer....................Sinto na menteMorrer o verso em......................Ímpia maldição.

Ah, o meu verso é......................Ópio na minh’alma,Canção parar viver.....................Pétala abertaRoseiras no jardim.....................Oh, vida calma!

Oh! sonho de viver.....................Essa áurea vida,Sempre sincero........................Ter a estrada certa,Ter a seguir............................... A estrada colorida.

29.04.2008

Page 54: LUZ ETERNA

Saudade I(para os filhos do Curtinho)

Nas tradições perdidas no passadoQue à mente trazem lúcidas lembranças,Bem me lembro – nós éramos criançasE um mundo por viver era sonhado.

O tempo em suas corrosivas dançasSepultou esse sonho iluminado.E hoje esse tempo apenas é lembradoPois vivíamos cheios de esperanças.

Nas calçadas em filas de cadeirasAs famílias, vizinhos, conhecidos,Reunia-se em horas prazenteiras.

Hoje vivem vazias as calçadas,Esses tempos são tempos esquecidos,E as cadeiras estão abandonadas.

29.04.2008

Page 55: LUZ ETERNA

Saudade II(para os filhos do Curtinho)

A dor que agora deixa a alma feridaE sangra corações em agonia,É a dor que já senti também um dia,Quando meu Pai adeus disse a esta vida.

Como é desesperada a despedida!A alma se despedaça, a sinfoniaDa lágrima que cai nos asfixiaE como fere a dor de tal partida!

A saudade contudo, permanece,E ela ativa lembranças do passadoQue se confunde com a Eternidade.

E tudo se transmuda em terna prece:O ausente quando em fato é relembrado,Retorna à Vida em Hinos de Saudade!

29.04.2008

Page 56: LUZ ETERNA

Pensamento de Carmela

O homem – na sua vida transitória,Traz o sonho profundo e alucinado– Como se fosse sua imensa glória! –De ter tudo o que possa ser juntado.

E de maneira insana e merencória,Quer o ouro, como se fosse isso sagrado!Deseja assim mostrar sua vitóriaNum delírio cruel, desesperado.

E cheio de incoerência e de ganância,Descontrola-se em sua intolerânciaChegando a praticar horríveis atos.

E nem se atém na sua caminhada,Que para se vencer nesta jornada,O importante é ter pés, não ter sapatos!

02.05.2008

Page 57: LUZ ETERNA

Maximiliano Kolbe

No horror terrível da Segunda GuerraHitler, em seu desejo sanguinário,Vai espalhando sobre toda a TerraO seu ódio com jeito extraordinário.

Treme o povo judeu que sem Pátria erraE vai vivendo o seu letal Calvário.Em câmaras de gás a angústia berraE é inglória a luta contra atroz fadário.

Um prisioneiro foge... e em baba de ódioAcontece fantástico episódioImpossível narrar ou dar-lhe nome.

Com outros inocentes, condenadoNum porão Padre Kolbe é sepultadoAté que lhe dizime a sede e a fome.

09.05.2008

Page 58: LUZ ETERNA

O Amor

O amor! como exaltá-lo não me atrevo!É impossível, bem sei, tal tentativa.Porquanto mais de vida que ainda eu viva,Não saberei louvá-lo como devo.

Em seu louvor mil versos eis que escrevo,E Dele tenho mesmo a alma cativa.Sua seta, porém, meu peito criva,E passo a discorrer-lhe com enlevo.

Mas como descrever num simples versoSe o Amor em seu sentido figuradoMove montanhas com furor profundo?

Mas chega com seu jeito tão diverso,Que deixa o coração desesperadoNum sentimento que é maior que o mundo!

05.06.2008

Page 59: LUZ ETERNA

O Poeta frente a Deus

Eis o Poeta, nu em seu ofícioConstruindo versos ao sabor do vento.Ensaiando em dorido sacrifícioNa cadência da valsa, um movimento.

Ao seu sonho é demais o sacrifício,Que a vida desmorona em vão momento.E o verso, na cadência do exercício,Deve brilhar qual fosse um monumento!

À sua glória tudo é passageiro,A Vida voa com velocidade,Tudo é finito, a Lei é a do Silêncio.

Resta Deus em seu sonho aventureiro,E Deus mais que uma sombra é uma Verdade,Que nem a própria Eternidade vence-O!

30.07.2008

Page 60: LUZ ETERNA

Meu nascimento

Mil novecentos e cinquenta e dois!Dezembro, dia três. Nas ramas de heraTardia florescia a Primavera.Preludiando o Verão ardiam sois.

Aves trinavam cantos em bemóis.De nove meses tinha fim a espera.Brilhavam astros pela estratosfera,Dois olhos acendiam seus faróis.

Em casa minha Mãe, na vez terceira,Com cuidados atentos da parteiraParia sua cria predileta.

E Ela, na dor aguda, lancinante,Tenho certeza que em nenhum instantePensou dar luz à Vida a este Poeta.

31.07.2008

Page 61: LUZ ETERNA

Sobre a Inspiração

Busco a rima, a palavra, o verso, o estilo,Na ânsia de honrar o título de Poeta.As ideias confusas eu destiloPara gerar uma obra mais discreta.

O pensamento – caudaloso Nilo,Corre Vales buscando sua meta.Na Usina da memória não se aquieta,Sonhando a Perfeição – corre intranquilo.

Por vezes, uma rude e atroz estiagemForma praias desertas e esquecidas,E cuido estar ao término da viagem.

Outras vezes, porém, em ansiedades,Como Phöenix renasce em novas vidas,E tudo vibra em densas tempestades.

31.07.2008

Page 62: LUZ ETERNA

Genealogia

Como trazemos nós a semelhançaDe nossos pais, (ou isso é fantasia?)É natural que exista uma aliançaDe pensamentos, sim, nesta alquimia.

Somos frutos genéticos da herançaQue em outras mentes palpitou um dia.Por isso, às vezes, brilha uma lembrançaQue nosso sonho, em medos, asfixia.

Somos frutos dos frutos de outros frutos!Nossa presença física de agoraÉ carne passageira tão-somente.

E o Espírito na carga dos tributosTem uma Eternidade a cada aurora,E traz, de nossos corpos, a semente.

01.08.2008

Page 63: LUZ ETERNA

Um certo sentimento

No coração existe um sentimentoQue às vezes, não sabemos definir.Chega de leve, no valsar do vento,Que a sensação, por certo, nos faz rir.

Se não tomarmos conta no momento,Se oculta pelos meandros do porvir.Transforma-se depois num mandamentoQue torna nosso lema de existir.

E não sabemos nós quando ele chega,Trava-se a voz, a própria vista cega,Pernas tremem, faz frio, faz calor...

Tão fácil é falar aqui seu nome,Mas vivê-lo... uma vida se consome,Que o sentimento tal, se chama – Amor!

29.08.2008

Page 64: LUZ ETERNA

Instante de criação

Às vezes, n’alma brota um arrepioQue decifrar a sensação, quem há de?Parece que um vulcão, num vozerio,Quer espalhar a sua atrocidade.

Ardores de calor, tremor de frio,Num céu azul flameja tempestade.Uma ânsia de buscar pelo vazio,Há um desespero e um misto de ansiedade.

À frente a folha branca e a vista cega,Um abismo de fogo há nessa entrega,O pensamento alhures, vai disperso.

Aos magotes as rimas vão surgindo,O desespero imenso vai sumindoE a mão vai decompondo cada verso!

29.08.2008

Page 65: LUZ ETERNA

Influências

Já fui Castro Alves e também fui Dante,Fui Petrarca, Guilherme e fui Varela.Com Gonzaga cantei Marília bela,Junto a Camões, tornei-me um navegante.

Igual a Guerra fui um protestante,Com Menotti fiz versos numa tela.De todos eles fui um sentinela,De cada verso fui um grande amante.

Com Augusto cantei mágoas e dores,Com Bilac cantei doidos amores,Fui Raimundo, Bocage e fui Cesário.

Disso tudo sobrou o meu caminho,Jamais por ele seguirei sozinho,Tendo a Poesia nesse itinerário!

31.08.2008

Page 66: LUZ ETERNA

Soneto Enigmático

Ronca que ronca, berra quanto berra,Santa mediocridade da cretina.Gérmen do asco provoca sua guerra,Lambe sabão e cheira a creolina.

Ridícula entre tantos ela emperra,Zomba tal bruxa, e cobra, sibilina,Lobregamente atira sobre a terraCaretices e gritos de suína.

Move-se como as múmias ambulantes,Leva e traz, solta, gritos arrogantes,Sei não como essa bruxa sanguinária

Caminha e cruza a vida deste Artista,Deve a energúmena baixar a crista,Lavando-se com água sanitária.

09.09.2008

Page 67: LUZ ETERNA

Loucura

Numa loucura insana o pensamentoTenta prender a ideia que flameja,A qual vive valsando pelo ventoSob acordes da viola sertaneja.

Na loucura feroz de tal momento,A idéia é uma semente que viceja,E como a borboleta que espanejaO pó das suas asas pelo vento.

Tão fácil agarrá-la, doido, penso...Tal desejo, porém, é duro e imenso,Que não vale a vontade ao que se quer.

Que a Inspiração, embora a gente a veja,Somente chega quando ela deseja,Pois sendo feminina – ela é Mulher!

15.09.2008

Page 68: LUZ ETERNA

Ritual diário

Todos os dias, num ritual sagrado,Tento condicionar o pensamento:Lanço meus olhos para o FirmamentoPara tentar prender um sonho alado.

Sonho tal vive em danças pelo vento,Bem parece um leão a ser domado.E ao desejo feroz de tê-lo ao lado,Sangro a idéia num rápido momento.

E al ânsia se forma atroz e brusca!Qual pedra lapidada de um diamante,Que, aos reflexos do sol, o olhar ofusca.

E é sobrenatural essa jornada!O pensamento torna-se distante,E a inspiração se faz tocha apagada.

15.09.2008

Page 69: LUZ ETERNA

Momento de Inspiração

A Inspiração que brota em nossa mente,Transforma em realidade o que é miragem;E através das Palavras, uma viagemFazemos na loucura do repente.

De forma tal, inesperadamenteQue surge o Verso com cadência e imagem.As métricas e as rimas vibram e agemDando forma ao que ainda é só semente.

É única a sensação de tal momento!Se não colhermos esse tal instante,E ele se vai na dança atroz do vento.

E não volta jamais, a ser o que era;E se torna esquecido, e segue errante,– Flor já morta de finda Primavera.

15.09.2008

Page 70: LUZ ETERNA

Patético arrepio

As palavras sopradas pelo ventoVagam soltas em doido rodopio.E muitas vezes, cheias de tormento,Chegam n’alma em patético arrepio.

Envolvido em arroubo e movimento,Mudam sentidos, causam calafrio.Por vezes, na mudança de um acento,O que era cheio faz ficar vazio.

Por isso quando escritas e fixadas,Podem ser lidas, ser interpretadas,Assim ajo no Ofício da Poesia.

Em cada verso deixo uma mensagemQue a Verdade jamais será miragemNos versos que compus dia após dia.

16.09.2008

Page 71: LUZ ETERNA

Sobre os sonhos

Sonhos são sonhos, sonhos simplesmente,Que acalentamos nessa nossa vida.Jamais devem deixar de ser semente,Nem brilhar numa estrada colorida.

Que o sonho em nossa mente nos convidaA perseguimos, continuadamente,O desejo e a ambição a toda brida,Para o amanhã chegar em glória ardente.

Se realizado, o sonho nos transmuda,Não precisamos mais pedir ajudaE nossas ambições perdem os freios.

Que os ideais surjam sempre às nossas vistas,Pois viver sem desejos e conquistas,Nossos dias se tornam maus e feios.

16.09.2008

Page 72: LUZ ETERNA

Doces frutos

Retiro de meu verso a rima pobreAfim que a estrofe toda fique rica.Como a água escorra pura junto à bica,E tenha uma aparência fina e nobre.

Que jamais o zircão, que mancha o cobreVenha tirar-lhe a glória tão pudica.Se a rima pobre no meu verso fica,De angústia e de pudor ela se cobre.

Assim pensando nos canteiros fartos,Busco a rima mais justa e mais perfeitaPara que meus poemas sejam hartos.

Porque se a semeadura for bem feita,Meus sonhos florirão em dóceis partos,E terei doces frutos na colheita.

17.09.2008

Page 73: LUZ ETERNA

Bobagem caseira

Ela chega. Seu jeito é calmo e manso,Passa as mãos com carícias em meu rosto,Aos seus carinhos fico todo exposto,Todo o corpo espreguiço num descanso.

Arfo as narinas, sinto um leve gostoDe seu perfume. Os olhos abro e lançoEspreitá-la de vez. Olhares trançoPor toda a sala para ver-lhe o posto.

O corpo treme, há sensações de frio.Delírio. Falta de ar. Leve dormência.Mal estar esquisito, calafrio.

– Querido, vamos logo para a cama.(É a Ana Maria.) Assim ela me chama:É normal na gripe essa sonolência.

19.09.2008

Page 74: LUZ ETERNA

Enigmas

Faço às vezes, meus versos ao acasoE sem querer de coisas chulas, falo.Lugubramente nesse sonho embaloInvenções de lirismo e pouco caso.

Secretamente no meu sonho vazoBanalidades vindas num estalo.Idiotices sem fim, sem intervalo,Numa parvoíce onde verdades caso.

O que falar assim neste soneto?Vou pensar mais um pouco... um corvo pretoEstacionou grasnando em meu juízo...

Agora devo por um fim a tudo.Depressa me calar e ficar mudo:O acróstico já vale o meu sorriso.

23.09.2008

Page 75: LUZ ETERNA

Cotidiano

A vida se repete diariamenteDentro de seu refrão imaginário.Os dias são patéticos e a menteAtola-se à ilusão desse calvário.

Que futuro maior é necessárioPara quem tem o coração doente?Qual sonho poder ter lindo canárioSe uma gaiola envolve-o tenazmente?

Caminhamos à beira do perigo.E jamais encontramos nessa estradaAlguém que às nossas dores seja amigo.

É longa e fútil essa caminhada!E o ideal, que, em vão, tanto persigo,A muita gente sei, não vale nada.

23.09.2008

Page 76: LUZ ETERNA

Pelos instintos

Fervilha a mente, estalam-se as ideias,A inspiração transborda mil sentidos.Pomposo, o verso estruge em epopeiasVibrando cintilantes, coloridos.

Como as abelhas tecem as colmeias,Os versos chegam cheios de alaridos.Unidos, lembram lindas centopeiasAndando em marcha nos jardins floridos.

Cega, porém, a sentimentos tantos,A inspiração engendra labirintosE se oculta em cavernas, becos, cantos.

E a página de luz lembra uma taça,Mas contrariando todos os instintos,A poesia é comida pela traça.

26.09.2008

Page 77: LUZ ETERNA

De peito aberto

A Poesia contém mistérios tantosQue a decifrá-los é uma luta imensa;É um abismo de tétricos espantosQue labirintos mil ela condensa.

Às vezes, são exóticos seus cantos,Mostrando as faces de maneira densa.Às vezes têm magias, traz encantos,Delírios suaves, colorida crença.

O Poeta nem sempre escuta atentoO que escreveu na inspiração sentidaQue lhe soprou os céus na voz do vento.

Eu, porém, de maneira colorida,Procuro expor em cada pensamento,Dentro dos versos, minha própria vida.

26.09.2008

Page 78: LUZ ETERNA

Flor e Poesia

Dentro da alma a Poesia às vezes brotaTal como por acaso, uma semente,Pelo vento, levada até uma grota,Desabrochando quase de repente.

Despercebida nasce e ninguém notaEnquanto broto frágil, quase doente,Que ela, se vendo perto da derrota,Vence intempéries sob um sol ardente.

Um dia, forte e firme, e ela floresce!E em seus encantos mil ela ofereceUm misto de perfumes recendentes.

E ao ir a primavera dessa vida,Como a Poesia, a Flor, descolorida,Passa a lançar ao céu, novas sementes.

26.09.2008

Page 79: LUZ ETERNA

Arte e mistério

Fazer Poesia é misto de mistérioQue o Poeta dentro da alma, ás vezes sente.É um delírio constante e persistenteQue, pensam muitos, ser um caso sério.

O ser Poeta requer senso e critérioPara não ser taxado de demente.O Poeta é o ser humano que mais senteQuando seu sonho vê no cemitério.

Poesia é luz, é sonho, é brilho, é glória,É apogeu delirante da vitória,Que se consegue após milhões de passos.

E a se viver tanto caminho incerto,O Poeta põe seus olhos no desertoE se afoga no mar de seus fracassos.

26.09.2008

Page 80: LUZ ETERNA

Pedras atiradas

De tantas pedras que atiram-me Hei de fazer um altar! (Tobias Barreto)

As pedras atiradas já são tantasQue hei de construir com elas, um castelo!Dentro dele porei um sonho belo,E o cobrirei com pedregosas mantas.

De injúrias escapar é doido anelo,Que dissabores prendem minhas plantas.Quantas angústias, quantas mágoas, quantasNoites e dias, e este pesadelo.

Quieto e calado, já não sou o mesmo.Sem ânimo caminho à toa, a esmo,Esperando passar a tempestade.

Mais quatro anos de imenso sofrimento,A aflição me cortando como o vento,E sequer mais eu creio na Verdade.

03.01.2009

Page 81: LUZ ETERNA

Busca

Procura a rima, a métrica, a cesura,E em cada verso, a musicalidade.E das palavras faz a semeaduraPara em glória buscar a Eternidade.

A Inspiração é impávida ventura,E a estrofe vai compondo em ansiedade.Doba o Sonho, e a Esperança fica pura,E o poema brilha a espiritualidade.

Cada palavra é um sonho que flamejaE a mensagem no verso heróico brilhaQual rutilante sol que tudo inunda.

E o Poeta em glória sua Musa beija,Mas seu mundo é somente insípida ilha,Onde a esperança geme moribunda.

17.02.2009

Page 82: LUZ ETERNA

Evolução

Se na sublime evolução da VidaOs fortes sobrepujam os mais fracos,Nós somos hoje um sonho de partidaE para a perfeição – apenas tacos.

Ao longo da existência já vividaFomos formados por pequenos cacos.Os ossos de uma estampa colorida,Mostra o muito que temos dos macacos.

Amanhã por ventura aqui na TerraOutra raça mais forte há de viverSabendo contornar trilhas e atalhos.

Mas que ela saiba dissipar a guerra,Ou por certo ela irá retroceder,E voltará a dar saltos entre galhos.

18.02.2009

Page 83: LUZ ETERNA

A Arte do Soneto

Na Poesia o Soneto é uma cadeia,14 grades tem essa prisão!E quando a inspiração a alma incendeia,Busca-se a Liberdade de expressão.

Mas o Poeta na cadência freiaAs borbulhantes bolhas do vulcão,Na métrica a medida escanhoteia,Na rima busca o brilho da paixão.

E o verso vai compondo em sua sanha,Feliz, ele se molda à sua cela,Que tem 14 passos de extensão.

Mas parece maior que uma montanha!Cada verso é infinita passarela,Onde reside o Deus da Perfeição!

20.02.2009

Page 84: LUZ ETERNA

Máscaras

Costuro minhas máscaras... costuroJunto ao rosto essas máscaras, e devoAparar cada aresta de relevoPara ao mundo mostrar que sou um puro.

O meu olhar, porém, se torna escuroE a multidão olhar, já não me atrevo.Por isso, no silêncio, absorto escrevoE a falsidade desta vida aturo.

Todos nós temos máscaras no rosto!E nos mostramos preferencialmenteAquilo que de nós, fazemos gosto.

Ah, bom seria de maneira clara,Que todos, de maneira pura e rara,As máscaras deixassem de repente.

04.03.2009

Page 85: LUZ ETERNA

Soneto filial

Ai, que saudade de seu colo, pai,Aquele colo amigo, aquele coloForte e sincero... eu hoje me consoloDe tais lembranças, soluçando um ai.

Essa lembrança em minha vida vaiE o coração em lágrimas – atolo...Com lágrimas de dor marco no soloUm tempo azul que de meus olhos cai.

Pai, foi-se o tempo lírico de outrora,O crepúsculo faz distante a aurora,Vibra a saudade seu amargo canto...

E de saudade a vida vou levando,Em sonhos recordando, recordandoO colo de meu Pai em denso pranto.

05.03.2009

Page 86: LUZ ETERNA

Pequeno Soneto

Às vezes, com redondilhasEm meus versos me interpreto.E desarmo as armadilhasDo alexandrino correto.

Teço quadras com afetoE sigo mesmo outras trilhas.Pois o mundo está repletoDe outras tantas maravilhas.

Sete sílabas somente:A ideia presa se ajeitaComo espremida semente.

Trabalho penoso e bruto,Porém, na hora da colheitaSempre se colhe um bom fruto.

11.03.2009

Page 87: LUZ ETERNA

Os meus sonetos

Os meus Sonetos... quando eu os componho,Além da Inspiração, tomo cuidado:– Um verso só pode sair erradoOu pesadelo torna o que era sonho.

Na métrica e na rima sempre ponhoUm cuidado especial e redobrado.Se além disso estiver com pé-quebrado,No instante o lindo torna-se medonho.

Portanto em cada quadra a rima ajeito;Tudo deve sair justo e perfeitoNa mesma fonte de Parnaso pura

Onde Camões, Petrarca e outros mais tantos,Inspirados teceram os seus cantos,No País inspirado da Ventura.

11.03.2009

Page 88: LUZ ETERNA

Soneto do pecado

Os pecados são feitos em silêncioDentro do pensamento, na clausura.– O ato de cometê-los depois dissoÉ apenas a explosão do já traçado.

Não são tiros que fazem o pecado.Não são facadas extirpando membros,Dilacerando rubros corações,Ou vomitando vísceras vermelhas.

O pecado consiste-se em pensar,Porém muitos pecados praticadosSão espasmos de ataques e defesas.

Eu, pecador confesso, me redimo:Tenho pecado mais por pensamento,Muito menos por atos e omissões.

19.03.2009

Page 89: LUZ ETERNA

Palácio encantado

Velho Palácio EncantadoDa rua Governador!Estás em tão triste estado,Que ocultas o teu valor.

No ostracismo estás largadoCausando tristeza e dor,Vai perdido no passadoO seu glorioso fulgor.

Escuro, tétrico, frio,Abandonado e vazio,Medonho é te ver assim.

O teu passado é uma história,É relicário é uma glóriaQue marcou seu triste fim.

20.03.2009

Page 90: LUZ ETERNA

Atrás das esperanças

Atrás das esperanças, tolos, vamos,Na mais insana e colossal corrida.Nos ferem dos caminhos rudes ramos,Perdemos neste sonho a própria vida.

As esperanças fulgem em recamos,Parecendo uma estrela colorida.Mas nessa busca apenas encontramosA ilusão que nos deixa a alma ferida.

Os nossos passos fortes vão adiante,O sonho doido torna-se constante,Pensamos ser um marinheiro audaz,

Mas ao final de tanta insana busca,Por traz dos olhos uma luz chamusca:– À frente vemos a esperança atrás.

20.03.2009

Page 91: LUZ ETERNA

Em nome da Poesia

Em nome da Poesia eu te ofereçoEstes versos que fiz com muito amor.Compostos com carinhos, com apreço,Mas, talvez, desprovidos de valor.

Elogios bem sei que não mereço,Portanto não os faça de favor.Estes versos escritos não tem preço,São simples, e por certo não tem cor.

Porém, foram escritos com carinhos,Colhidos nos barrancos dos caminhos,Da longa estrada que não sei o fim.

São poemas vazios de esperança,Mas trazem os meus sonhos de criança,E o trinado de um bom papa-capim.

31.03.2009

Page 92: LUZ ETERNA

Dose homeopática

Um pouco de Poesia e o coraçãoSe fortalece para o dia a dia.A labuta transmuda-se em canção,Serenidade traz para a porfia.

Um pouco de Poesia em oraçãoE a amargura se molda em melodia.Surge o sorriso com satisfação,Chegam ao fim as horas de agonia.

Um pouco de Poesia nos traz calma,Tranquilidade para decidirAlento, alívio e encantos mil à alma.

Um pouco de Poesia em nossa vidaTorna mais leve o fardo do porvir,E a estrada pedregosa mais florida.

01.04.2009

Page 93: LUZ ETERNA

Reencontro

Às vezes n’alma sinto a sensaçãoQue a vida de Poeta nada vale.O olhar disperso fica olhando o valeE imagino vazio, o coração.

É imponderabilíssima a emoção!Ouço uma voz que pede que me cale!E antes que o desespero em mim se instale,Busco encontrar-me com a solidão.

Depois nós dois, bem juntos, num recanto,Em silêncio mortal, nós dois, a sós,E busco soletrar um novo canto.

E essa alucinação se faz feroz:Vejo brilhar no céu um novo encanto,E volto a ouvir a minha própria voz.

14.04.2009

Page 94: LUZ ETERNA

Passos perdidos

Os passos vão perdidos pela estradaBuscando um sonho azul, doida quimera.O Outono vai cobrindo a Primavera,Já vem chegando a fria madrugada.

Não mais a tarde quente, ensolarada,A cada passo uma letal panteraEsfomeada, na espreita, e além me esperaE pressinto o final dessa jornada.

Passos perdidos vão além, contudoVejo agora a Beleza, agarro a Força,E fito as luzes da Sabedoria.

Agora um passo certo, o Templo! E tudoPara esse Oriente Eterno em mim se esforçaPois para nova Vida, basta um dia.

16.04.2009

Page 95: LUZ ETERNA

Inverno

O Inverno se aproxima. Pelo chãoAs folhas rolam ao sabor do vento.O céu tinge-se a cinza de carvão,Minh’alma olha o incessante movimento.

À hora do almoço muda-se a Estação!Um sol festivo brilha, há esquentamento,Mas chega a tarde em fria procissão,E a névoa cobre todo o Firmamento.

Vagam passos; nas ruas vagam passos...A sensação é estranha, há um sonho absurdo,Há uma ânsia de galgar amplos espaços...

Mas a Verdade é fria, fria, fria...Para a Esperança o ouvido fica surdo.Silêncio. Solidão. Melancolia.

24.04.2009

Page 96: LUZ ETERNA

Em meu silêncio

Contra mim vale até gol impedido!Não tenho uma só chance de defesa!O árbitro nunca escuta o meu pedidoSou julgado em palavras sobre a mesa.

Quem me defende não se faz ouvido,Meu futuro é marcado de incerteza.Meu pedido de paz é indeferido,Sou jogado de encontro à correnteza.

Condenado ao degredo e ao ostracismoQualquer idiota lança a sua lavraDe atirar-me no vácuo contra o abismo.

Sou pássaro calado no meu canto.Em meu silêncio fecho-me à palavra,E vejo tudo com espasmo e espanto.

05.06.2009

Page 97: LUZ ETERNA

Lágrimas

Dos olhos desce a lágrima furtivaQue sulca a face igual rio prateado.Seria alguma dor n’alma cativaOu seria um momento relembrado?

A lágrima tem alma: pulsa e é viva.Carrega turbilhões em seu estado.Lateja, como força radioativa,Ou carrega um sorriso disfarçado?

A lágrima é a semente de um momento,As pétalas valsando vão ao ventoIndo pousar além da Eternidade.

Ah! Lágrima que escorre por meu rosto!Por que me deixa assim à vida expostoE da minh’alma expõe tanta Saudade?

03.07.2009