LUZ E ONDAS ELETROMAGNÉTICAS TÓPICO · De tudo o que é concreto ao nosso redor, ... energia que...

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LUZ E ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 1 TÓPICO Luiz Nunes de Oliveira 1.1. Introdução 1.2 Velocidade 1.3 Natureza 1.4 Origem 1.5 Características 1.5.1 Velocidade 1.5.2 Frequência e cor 1.5.3 Polarização 1.5.4 Intensidade 1.5.5 Energia e quantidade de movimento LICENCIATURA EM CIÊNCIAS · USP/ UNIVESP

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  • LUZ E ONDAS ELETROMAGNTICAS1 TPICO

    Luiz Nunes de Oliveira

    1.1. Introduo1.2 Velocidade1.3 Natureza1.4 Origem1.5 Caractersticas

    1.5.1 Velocidade1.5.2 Frequncia e cor1.5.3 Polarizao1.5.4 Intensidade1.5.5 Energia e quantidade de movimento

    Licenciatura em cincias USP/ Univesp

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    Objetivos do tpico Compreender como a velocidade da luz foi deduzida inicialmente.

    Identificar o valor atual da velocidade da luz.

    Compreender a natureza da luz.

    Compreender as caractersticas da luz: velocidade, frequncia, polarizao, intensi-

    dade, energia e quantidade de movimento.

    Calcular os valores correspondentes da velocidade, frequncia, comprimento

    de onda, energia e quantidade de movimento da luz.

    1.1 IntroduoDe tudo o que concreto ao nosso redor, nada to importante quanto a luz. Sem ela, no

    haveria vida, animal ou vegetal. A vida, para se manter, precisa de energia. Os animais retiram

    energia de uma cadeia alimentar, em cuja base esto as plantas, que extraem diretamente da

    radiao do Sol a energia de que precisam para crescer. Sem luz, as plantas morreriam por falta

    de fotossntese, os animais herbvoros morreriam por falta de alimentao e, em seguida, os

    carnvoros tambm morreriam de fome.

    A radiao provinda do Sol tambm essencial porque aquece o nosso planeta. Sem ela,

    em pouco tempo, a Terra se converteria em uma esfera recoberta de gelo, mais fria do que o

    inverno antrtico que conhecemos.

    Alm disso, da energia hoje consumida pela humanidade, quase 94% se deve luz solar. As

    principais fontes de energia o petrleo, o gs natural e o carvo provm principalmente

    de vegetais que se desenvolveram luz do Sol e foram fossilizados em material rochoso acu-

    mulado abaixo da superfcie. E tambm a lenha provm da fotossntese. A chuva, que alimenta

    as hidreltricas, resulta da evaporao da gua aquecida pela luz do Sol. Os ventos, que movem

    moinhos, se devem ao desigual aquecimento das diferentes regies da Terra pela luz solar. Em

    suma, exceo feita a usinas nucleares, geotrmicas e movidas por mars ocenicas, toda a

    energia que movimenta veculos e mquinas, e aquece e ilumina ambientes, nasceu no Sol e foi

    transportada para a Terra pela luz.

    A luz, ademais, ativa o sentido da viso, sem o qual toda a vida animal seria muito diferente da que

    conhecemos. E, por fim, a luz nos oferece instrumentos para estudar o universo em que vivemos.

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    O mais importante desses instrumentos o olho. Por meio dele, desde a Antiguidade remota,

    o homem se familiarizou com as estrelas e os planetas mais prximos de ns, assim como se

    acostumou com o ambiente ao seu redor. Depois, a Cincia desenvolveu o telescpio, que traz

    para perto o que est distante demais, o microscpio, que torna visvel o que pequeno demais

    para ser visto a olho nu; o espectroscpio, que divide a luz em cores e determina a intensidade de

    cada componente cromtica; e o laser, fonte de luz monocromtica, intensa e regular.

    Na Antiguidade, a luz permitiu que a humanidade desenvolvesse um ento revolucionrio

    meio de comunicao a escrita. Mais recentemente, o cinema, a televiso, os monitores de

    computadores e depois todo um conjunto de acessrios vieram juntar-se ao papel e tinta

    para permitir que imagens e dados fossem transmitidos e armazenados em velocidades que, h

    cem anos, pareceriam infinitamente grandes. A luz, em resumo, permite que vivamos e agrega

    enorme riqueza s nossas vidas.

    Podemos imaginar que, desde o alvorecer

    da humanidade, houvesse curiosidade sobre

    a natureza da radiao luminosa. Pouco se

    conhecia sobre ela at que a Cincia moder-

    na comeasse a tomar corpo, mas a urea de

    mistrio que a cercava comeou a ser remo-

    vida ao mesmo tempo em que a Mecnica se

    desenvolvia.

    Neste mdulo, veremos o que a luz,

    como ela se comporta e como a humanida-

    de descobriu as equaes matemticas que

    descrevem a produo e a propagao da

    radiao luminosa.

    1.2 VelocidadeMesmo quem no tem noo de que o Sol uma estrela sabe que ele produz luz e calor.

    Mais difcil decidir se a radiao solar chega at ns instantaneamente ou se ela avana pelo

    espao e leva algum tempo at nos atingir. At o sculo XVII, essa questo foi assunto de debate.

    Em particular, (1596-1650), que estudou metodicamente a luz e chegou a

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    explicar o arco-ris, argumentou tenazmente que a propagao instantnea.

    (1564-1642), por entender que a resposta teria de ser dada pela Natureza, props posicionar

    observadores no alto de montanhas separadas por grandes distncias para medir a velocidade de

    propagao. Essa experincia pde ser feita, mas, uma vez que, na poca, era impossvel medir

    um intervalo de tempo com erro menor do que alguns dcimos de segundo, ela apenas permi-

    tiu mostrar que, se no fosse instantnea, a propagao deveria ter velocidade superior a uma

    centena de quilmetros por segundo.

    Algumas dcadas depois, o astrnomo dinamarqus (1644-1710) realizou uma

    das primeiras faanhas da Cincia ao concluir que a luz se movia no espao dez mil vezes mais

    rpido do que a Terra. Rmer trabalhava no observatrio astronmico de Paris, inicialmente

    sob a superviso do genovs Giovanni Cassini, que havia medido o tempo que o satlite Io leva

    para completar uma rbita em torno de Jpiter, encontrara irregularidades e sugerira que estas

    se deviam ao tempo que a luz leva para viajar do satlite at a Terra.

    Figura 1.1a: Medidas do perodo orbital do satlite Io, de Jpiter. Quando a medida feita na poca do ano em que a Terra se aproxima de Jpiter, o perodo parecer menor, porque a luz levar menos tempo para percorrer a distncia Io-Terra no final do perodo do que no comeo. (Clique na imagem para visualizar a animao)

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    Rmer resolveu explorar essa ideia. Jpiter leva quase 12 anos terrestres para completar uma

    volta em torno do Sol e, por isso, roda em torno do Sol bem mais lentamente do que a Terra.

    Assim, durante seis meses, a Terra se aproxima do grande planeta e, durante os outros seis meses,

    ela se afasta. O astrnomo dinamarqus observou sistematicamente a rbita de Io ao longo

    de vrios anos e verificou que o satlite levava alguns minutos menos do que a mdia para

    completar uma volta quando a Terra se aproximava de Jpiter e alguns minutos mais do que a

    mdia quando a Terra se afastava.

    A explicao de Rmer para essa variao simples. Suponhamos que no dia 1 de janeiro

    de um dado ano, s 5 horas da manh, Io esteja em um dado ponto de sua rbita, enquanto

    Jpiter est a uma certa distncia da Terra. Se a velocidade da luz for c, um raio de luz refletido pelo satlite levar cerca de 45 minutos, para vir de Jpiter at aqui, e um astrnomo posicio-

    nado na Terra ver Io no respectivo ponto s 5h45.

    Figura 1.1b: Medidas do perodo orbital do satlite Io, de Jpiter. A medida feita quando a Terra se afasta de Jpiter, assim, o perodo parecer maior do que realmente, porque a luz levar mais tempo para percorrer a distncia Io-Terra no final do perodo do que no comeo. (Clique na imagem para visualizar a animao)

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    Quarenta e trs horas depois, meia-noite entre o dia 2 e 3 de janeiro, Io ter completado

    uma volta em torno de Jpiter e estar de novo no mesmo ponto. Enquanto isso, a Terra ter

    avanado vrios milhes de quilmetros em sua rbita e estar a uma distncia maior ou menor

    de Jpiter. Se a distncia for menor, a luz levar menos tempo para chegar Terra. Digamos que

    leve 44 minutos e 50 segundos. Nesse caso, o astrnomo ver o satlite completar a rbita

    12h, 44 minutos e 50 segundos do dia 3 de janeiro e registrar em seu caderno que Io levou 42

    horas, 59 minutos e 50 segundos para completar uma rbita em torno de Jpiter.

    Se ele refizer a medida seis meses depois, a Terra estar afastando-se de Jpiter, e a distncia

    entre a Terra e Jpiter ser maior. Nesse caso, no final da rbita do satlite, a luz levar mais do

    que 45 minutos para vir de Io at a Terra, e o astrnomo registrar que Io levou 43 horas e 10

    segundos para completar uma volta em torno de Jpiter. Assim vemos que a variao aparente

    no perodo orbital do satlite se deve velocidade finita da luz. A variao proporcional

    velocidade da Terra em sua rbita e inversamente proporcional velocidade da luz.

    Como o raio da rbita da Terra era desconhecido, Rmer no pde calcular a velocidade

    orbital de nosso planeta e nem obter uma estimativa para a velocidade da luz. Ele concluiu, no

    entanto, que a luz leva 22 minutos para atravessar o dimetro da rbita terrestre, um intervalo de

    tempo que cerca de 30% maior do que o resultado de medidas modernas. Mais importante,

    ele demonstrou que a velocidade finita e assim ps fim a uma controvrsia milenar.

    A partir da, tcnicas progressivamente mais sofisticadas foram introduzidas para medir a

    velocidade da luz no vcuo. Em 1983, as medidas mais precisas indicavam um valor prximo de

    300.000 km/s, mas chegou-se concluso de que era mais fcil medir a velocidade da luz do

    que empregar um padro concreto para definir o metro. Assim, o metro passou a ser definido

    como a distncia que a luz percorre em 1/299.792.458 segundo.

    Em outras palavras, por definio, a velocidade da luz no vcuo c = 299.792.458 m/s.

    Exerccio ResolvidoNo tempo de Rmer, a distncia entre a Terra e o Sol era desconhecida, mas hoje sabemos que ela

    de aproximadamente 1,5108 km. Sabemos tambm que a distncia do Sol a Jpiter aproxima-

    damente 7,8108 km. Suponha que os dois planetas girem em rbitas circulares em torno do Sol e

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    que as rbitas estejam no mesmo plano. medida que os dois planetas giram, h um momento em

    que distncia mnima e outro em que a distncia mxima. Qual o tempo que a luz leva para vir

    de Jpiter at ns quando a distncia mnima e quando a distncia mxima?

    Convm lembrar que a luz leva cerca de 500 s para vir do Sol Terra.

    Resoluo:

    A distncia Jpiter-Sol 5,2 vezes maior que a distncia Terra-Sol. Se a luz leva 500 s para viajar do

    Sol Terra, ento ela levar 5,2500 = 2600 s para viajar do Sol Jpiter. Vamos considerar os dois

    casos em questo, quando a distncia entre os planetas mnima e quando mxima.

    Quando a distncia mnima, a luz percorre 4,2500 = 2100 s = 35 min.

    Quando a distncia mxima, a luz percorre 6,2500 = 3100 s 52 min.

    O diagrama a seguir ilustra cada uma dessas situaes.

    Mn. Mx.

    5,2 500s

    500s

    J T S

    4,2 500 s = 2.100 s

    = 35 min

    500s5,2 (500s)

    J S T

    6,2 500 s = 3.100 s

    52 min

    1.3 NaturezaA luz uma onda. At o sculo XVII, a maioria dos filsofos acreditava que, como a tem-

    peratura ou a umidade, a claridade fosse uma propriedade do ar e dos materiais transparentes,

    que crescia subitamente ao nascer do Sol ou ao se acender uma fogueira. Quando Rmer

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    mostrou que a luz avanava com velocidade finita, surgiram duas alternativas. O grande fsico

    ingls (1643-1727) entendia que um raio luminoso era um conjunto muito

    grande de partculas pequenas demais para serem vistas, as quais avanariam pelo espao com

    velocidade c. J, para o holands (1629-1695), a luz era uma onda que se propagava no vcuo com velocidade c.

    Para comparar uma explicao com a outra, precisamos de algumas noes de ondulatria.

    Conceitos bsicos sobre ondasUma onda uma perturbao que oscila continuamente enquanto avana, com velocidade v. Em outras palavras, uma onda uma perturbao que oscila no tempo e no espao. O seu perodo T o tempo que ela leva para completar uma oscilao, e o seu comprimento de onda a distncia que ela avana durante um intervalo de tempo T, isto , a distncia necessria para ela completar uma oscilao. Assim,

    Figura 1.2: Comprimento de onda . O perodo T o tempo que a ondulao leva para percorrer a distncia . (clique na imagem para iniciar a animao e no cone ao lado para iniciar a atividade interativa)

    A frequncia , normalmente expressa em Hertz (Hz), o nmero de oscilaes por segundo. Uma vez que a onda completa uma oscilao no intervalo de tempo T, a frequncia simplesmente o inverso do perodo:

    Multiplicamos agora, membro a membro, as Equaes (1.1) e (1.2) para encontrar uma

    relao entre comprimento de onda e frequncia:

    1.1 = v

    1.21 . =

    = v 1.3

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    Nos sculos XVII e XVIII, faltavam instrumentos capazes de medir distncias inferiores a

    um mcron, e assim a disputa entre Newton e Huygens somente pde ser arbitrada no sculo

    XIX. Em 1802, por meio de uma experincia que discutiremos no tpico Ondas eletro-

    magnticas, o ingls Thomas Young (1773-1829) encontrou resultados que comprovaram a

    hiptese ondulatria de Huygens.

    Figura1.3: Difrao da luz por um disco compacto (CD). A separao entre as marcas hori-zontais, na superfcie do CD, uniforme e pouco maior do que o comprimento de onda da luz. Quando o ngulo de incidncia tal que a distncia entre frentes de onda refletidas , os raios refletidos se reforam e resultam em um feixe de grande intensidade.

    Quando a luz se propaga no vcuo, como j vimos, sua velocidade c 300.000 km/s.A Equao (1.3) pode ento ser escrita c = , uma igualdade que permite encontrar o comprimento de onda sempre que a frequncia for conhecida, ou, ao contrrio, determinar

    a frequncia a partir de uma medida do comprimento de onda.

    Sabe-se hoje que a frequncia da luz visvel muito alta, da ordem de 1 1015 Hz e costuma-se

    express-la em THz (1THz = 1 1012 Hz). Assim, encontramos frequncias de centenas de

    THz. Resulta da Equao. (1.3) que uma frao do mcron (1 = 103 mm = 106 m). Para

    comparao, bom lembrar que o dimetro tpico de um fio de cabelo 50 . O comprimento

    de onda da luz, portanto, 100 vezes menor do que a menor distncia que podemos ver a olho nu.

    Isso muito importante, porque define uma escala de distncia. Quem for capaz de ver dis-

    tncias da ordem de poder observar as oscilaes da onda. Quem for capaz de ver distncias

    muito maiores do que ser incapaz de perceber os altos e baixos da ondulao e ver apenas

    uma perturbao contnua, da mesma forma que a passageira de um avio que examina um

    canavial somente consegue ver uma massa verde, porque no distingue um p de cana do

    espao vazio entre ele e as plantas vizinhas.

    Assista videoaula para compreender melhor o conceito de onda.http://midia.atp.usp.br/video/lic/modulo01/tema_04/Capitulo1.flv

    http://midia.atp.usp.br/video/lic/modulo01/tema_04/Capitulo1.flv

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    Seis dcadas depois, o fsico terico escocs (1831-1879), aps sistematizar

    e aperfeioar o que se conhecia sobre a eletricidade e sobre o magnetismo, derivou de seus prprios

    resultados uma equao equivalente que descreve a propagao das ondas sonoras no ar. Ao resol-

    ver a equao, ele encontrou uma velocidade de propagao dependente do meio e que chegava a

    cerca de 300.000 km/s no vcuo. Maxwell concluiu que havia encontrado a expresso matemtica

    que descreve a radiao luminosa e proclamou que a luz uma onda eletromagntica.

    1.4 OrigemAntes de Maxwell mostrar que a luz resulta de uma combinao entre a eletricidade e o magne-

    tismo, uma pergunta embaraava os que defendiam a hiptese ondulatria. Na primeira metade do

    sculo XIX, vrios tipos de onda j haviam sido descobertos: o som, as ondas martimas, as oscilaes

    de uma corda, as vibraes do solo durante um terremoto e muitos outros tipos. Todas essas ondas

    so mecnicas e necessitam de um meio para se propagar. No existe som, por exemplo, no vcuo.

    A luz, no entanto, avana no vazio. Sabemos disso porque conseguimos ver o Sol e as estrelas.

    at mais fcil ver as estrelas do alto de uma montanha, com menos ar acima de ns, do que ao nvel

    do mar. Muito bem, perguntavam os que no gostavam da teoria ondulatria, digamos que a luz

    seja uma onda. Nesse caso, alguma coisa precisa oscilar. Como entre o Sol e a Terra no existe nada

    para vibrar, a luz solar no deveria chegar at ns. Se ela chega, porque constituda de partculas,

    que avanam com mais facilidade no vcuo do que no ar.

    A descoberta de Maxwell eliminou essa objeo. Apesar de ser uma onda, a luz no precisa

    de um meio fsico para se propagar, porque ela resulta da oscilao de campos eltricos e

    magnticos, no da vibrao de partculas materiais.

    Os campos so gerados pela acelerao de cargas eltricas, no

    espao ou na superfcie de materiais que conduzem a eletricidade.

    Como a frequncia muito alta, da ordem de 1015 Hz, a maneira

    mais fcil de se produzir luz aquecer um material a temperaturas

    muito altas: nessas condies, os tomos que compem o material

    se agitam, e a oscilao dos eltrons que os acompanham gera luz.

    assim que o Sol, cuja superfcie est a cerca de 6.000 C, nos ilumi-

    na. Da mesma forma gerada a luz em uma fogueira, na cabea de

    um palito de fsforo, na chama de um fogo, em um ferro em brasa

    ou no filamento de uma lmpada incandescente.

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    A luz pode tambm ser produzida por uma descarga eltrica

    em um gs, que acelera o movimento dos eltrons nos tomos que

    compem o gs. Os raios e as lmpadas fluorescentes so exemplos

    desse mecanismo de gerao.

    Um terceiro mecanismo foi sugerido pela descoberta de

    Maxwell. No final do sculo XIX, a humanidade comeou a con-

    trolar a dinmica dos eltrons para aceler-los e produzir radiao

    eletromagntica. Produziu inicialmente ondas eletromagnticas

    invisveis, com frequncias bem menores (ondas de rdio, por

    exemplo) ou bem maiores (raios X) do que a luz. No sculo XX,

    a Cincia e a Tecnologia avanaram rapidamente para explorar as

    outras frequncias e para transformar as ondas eletromagnticas

    em um componente essencial de nossas vidas.

    1.5 CaractersticasAps a descoberta de Maxwell, vieram a Relatividade e a Mecnica Quntica. Com base

    nesses trs avanos tericos, a Cincia adquiriu domnio completo sobre as caractersticas e a

    natureza da radiao luminosa. Sabemos assim que a luz uma onda que pode propagar-se

    tanto no vcuo quanto em meios materiais.

    1.5.1 Velocidade

    No vcuo, como j sabemos, a velocidade da luz c = 299.792.458 m/s. Em outros meios, a velocidade menor. A Tabela 1.1 mostra vrios

    exemplos, junto com o ndice de refrao n do material, definido como a razo c/v, entre as velocidades no vcuo e no meio. O ndice de refra-o de um material transparente pode ser facilmente medido, porque ele

    define o desvio que um raio de luz sofre ao passar do vcuo para o meio.

    Meio v (1000 km/s) nAr 299,7 1,0003gua 225 1,33Vidro 170-200 1,5-1,75Diamante 124 2,4

    Tabela 1.1: Velocidade v da luz e ndice de refrao n de vrios meios.

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    Exerccio ResolvidoQual o comprimento de onda da luz vermelha em um vidro com ndice de refrao n = 1,5, dado que o seu comprimento de onda no vcuo vale = 700 nm.

    Resoluo:

    A relao entre os comprimentos de onda da luz vermelha no vidro () e no vcuo () vale

    700 nm 467 nmn 1,5

    = =

    1.5.2 Frequncia e cor

    A luz ocupa uma minscula frao do espectro eletromagntico, o conjunto de radiaes ele-

    tromagnticas que vo desde ondas de rdio com frequncias baixas demais para despertar interesse

    prtico at raios gama com frequncias superiores a 1020 Hz, gerados em exploses nucleares.

    Cor Comprimento de onda (nm)Vermelho 650Laranja 600Amarelo 570Verde 510Azul 475Violeta 400

    Tabela 1.2: Comprimento de onda das vrias cores, em nanmetros (1nm = 109m).

    A faixa de luz visvel vai de 400 THz a 700 THz, intervalo que corresponde a comprimen-

    tos de onda entre 700 nm e 400 nm. A frequncia da luz percebida por nossos olhos como

    cor, o limite inferior definindo o vermelho, enquanto o superior define o violeta. A Tabela

    1.2 mostra o comprimento de onda correspondente a cada cor. Nas pontas do intervalo, a

    viso humana se torna menos eficiente. O comprimento de onda = 700 nm, por exemplo,

    percebido como um vermelho muito escuro. Abaixo de 400 nm (ultravioleta) ou acima de

    750 nm (infravermelho), os olhos so totalmente insensveis radiao eletromagntica.

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    Figura 1.4: Espectro eletromagntico e a faixa do comprimento de onda da luz visvel.

    Para compreender melhor os comprimentos de onda da luz vis-vel, acesse o ambiente virtual e faa a atividade interativa.

    Exerccio ResolvidoA luz azul tem comprimento de onda de 475 nm. Supondo que o meio o vcuo, qual o valor

    de sua frequncia?

    Resoluo:

    Sabemos que o produto da frequncia () pelo comprimento de uma onda () constante e vale v = .Como o meio o vcuo, temos c = . A velocidade da luz no vcuo constante (c = 310 8 m/s). Assim, a frequncia da luz azul vale, aproximadamente, 632 THz.

    1.5.3 Polarizao

    Como j vimos, a luz resulta da oscilao de campos eltrico e magntico. Os dois campos

    esto inter-relacionados: das equaes de Maxwell resulta que a variao do campo eltrico

    produz um campo magntico, ao mesmo tempo em que a variao do campo magntico gera

    um campo eltrico. Assim, mais fcil fixar a ateno em um deles, e escolhemos o campo

    eltrico, cujos efeitos so mais facilmente visualizados.

  • 14Licenciatura em Cincias USP/Univesp

    Dizemos que existe um campo eltrico

    em um ponto P se

    uma carga eltrica muito pequena q, posicionada naquele ponto, ficar sujeita a uma fora F

    proporcional a q, isto , se F q=

    . Assim como

    as foras, o campo eltrico um vetor: tem direo e intensidade. Por

    isso, h sempre duas direes associadas radiao eletromagntica em

    um dado ponto do espao: (1) a direo do campo eltrico E e (2) a direo em que a radiao avana.

    Como mostra a Figura 1.5, o campo eltrico sempre per-

    pendicular propagao. Se a propagao for vertical, por exem-

    plo, o campo eltrico ser horizontal. Assim como a direo de

    propagao, a direo do campo depende da origem da radiao.

    As fontes luminosas, normalmente, produzem radiao com campos eltricos igualmente distri-

    budos em todas as direes perpendiculares propagao, isto , produzem luz despolarizada.

    Para saber mais assista ao vdeo:http://youtu.be/2or84FgFxkA

    Certos materiais conhecidos como polarizadores, no entanto, somente deixam passar a com-

    ponente do campo eltrico paralela a uma dada direo. A luz que emerge do polarizador

    dita polarizada, porque o seu campo eltrico tem a direo definida pelo polarizador. Se mais

    frente encontrar outro polarizador com a mesma direo de polarizao, a luz polarizada ir

    atravess-lo. Se encontrar outro polarizador com direo de polarizao perpendicular do

    campo eltrico, a luz ser absorvida e no conseguir atravessar o meio. Nos cinemas 3D, as

    imagens filmadas de dois pontos de vista diferentes so projetadas juntas, com polarizaes dife-

    rentes. As lentes dos culos que cada espectador utiliza so polarizadores que filtram a projeo,

    de forma que o olho esquerdo veja a imagem filmada de um ponto de vista e o olho direito veja

    a imagem filmada do outro. O resultado o semelhante ao que se v ao vivo: o olho direito v

    o mundo a partir de um ponto de vista ligeiramente deslocado em relao ao do olho esquerdo.

    Assim, o espectador tem a impresso de estar vendo uma imagem tridimensional.

    Figura 1.5: Campo eltrico devido a uma fonte de radiao eletromagntica. O campo eltrico transversal, isto , perpendicular reta que o une fonte.

    http://youtu.be/2or84FgFxkA

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    Figura 1.6: Polarizao da luz. No raio incidente, o campo eltrico est igualmente distribudo em todas as direes perpendiculares propagao. O polarizador elimina as componentes perpendiculares direo de polarizao, de forma que na luz emergente o campo eltrico aponta em uma s direo. A luz polarizada consegue atravessar um segundo polarizador paralelo ao primeiro, mas bloqueada por um terceiro polarizador orientado perpendicularmente ao primeiro.

    1.5.4 Intensidade

    A intensidade ou mdulo do campo eltrico controla a intensidade da radiao eletro-

    magntica. Uma vez que o campo oscila rapidamente, o seu mdulo varia cerca de 1015 vezes

    por segundo entre um valor mximo e zero. Na maioria dos casos, essa variao rpida demais

    para ser observada, e o que se mede o valor mdio do mdulo do campo eltrico.

    A intensidade luminosa proporcional ao quadrado desse valor mdio. Assim, no final da tarde,

    quando o Sol desaparece no horizonte, o campo eltrico devido radiao solar se torna muito

    fraco e somos obrigados a acender uma lmpada para restaurar o campo eltrico em torno de ns e

    poder enxergar. Em uma mquina fotogrfica digital, quando se aciona um boto, a luz focalizada

    em uma clula no fundo da cmera. O campo eltrico resultante em cada ponto da clula ativa um

    mecanismo que registra na memria da mquina um nmero proporcional ao quadrado do campo

    eltrico. No final do processo fica gravada na memria uma sequncia de nmeros, cada um dos

    quais proporcional intensidade da luz que alcanou um ponto da clula no momento da foto,

    isto , fica gravada uma imagem digitalizada do que estava frente da mquina naquele instante.

    1.5.5 Energia e quantidade de movimento

    No final do sculo XIX, quando no parecia mais haver qualquer dvida sobre a natureza da

    luz, o alemo (1858-1947) fez uma descoberta que acabou por trazer

    de volta as partculas de luz. Planck descobriu que, assim como a matria, a energia da radiao

    eletromagntica quantizada. Da mesma forma que, para aumentar a massa de um bloco de

    ouro temos de agregar um ou mais tomos porque uma frao de tomo no ouro , para

  • 16Licenciatura em Cincias USP/Univesp

    aumentar ou diminuir a energia da radiao temos de

    agregar um nmero inteiro de unidades, cada uma das

    quais chamada de um quantum de energia.

    Suponhamos que um certo volume V do espao seja ocupado por radiao eletromagntica de frequ-

    ncia . A energia nele contida depende do campo

    eltrico que constitui a radiao. At o final do sculo

    XIX, acreditava-se que o mdulo do campo eltri-

    co poderia ser variado arbitrariamente em qualquer

    ponto do espao e que, portanto, a energia contida no volume V poderia ser aumentada ou diminuda ao gosto de quem controlasse o campo eltrico. Planck contestou essa noo: ele

    mostrou que a energia somente pode ser incrementada ou diminuda em degraus. O degrau ou

    quantum de energia E proporcional frequncia:

    1.4h , =

    onde h = 6,63 1034 kgm2/s a constante de Planck.Algumas dcadas foram necessrias at que se compreendessem as implicaes da Equao

    (1.4). Nesse perodo, o fsico americano (1892-1962), ao estudar a

    acelerao de um eltron por raios X, chegou a um resultado igualmente surpreendente. Como

    esperado, verifica-se, experimentalmente, que o campo da radiao eletromagntica altera a

    velocidade da partcula carregada. Seria de se esperar, tambm, que a frequncia da radiao no

    fosse afetada pela interao com o eltron, mas a experincia mostra que a frequncia diminui

    e que a diminuio depende da direo em que o eltron ejetado.

    Compton mostrou que esse resultado facilmente explicado quando se supe que a luz

    carrega quantidade de movimento e que a variao da quantidade de movimento, assim como

    a variao da energia, quantizada.

    Suponhamos, para sermos especficos, que uma onda eletromagntica incida sobre um el-

    tron com velocidade inicial nula ou muito pequena. O eltron poder ser acelerado, de forma

    que sua velocidade passe a ser f

    v . Se a massa do eltron for denotada me , a variao de sua quantidade de movimento ser

    1.5e fp m , =

    v

    que determinada quando se mede a velocidade final do eltron.

  • 17 Licenciatura em Cincias USP/Univesp

    Se a radiao X incidente sobre o eltron tiver quantidade de movimento ip

    e se a quantida-

    de de movimento for conservada, a quantidade de movimento da radiao aps a interao ser

    1.6f ip p p= +

    Portanto, conhecida a quantidade de movimento ip

    , ficar determinada a quantidade de

    movimento fp

    .

    Embora a quantidade de movimento inicial no fosse conhecida, o cientista americano no

    teve dificuldade em obter seu mdulo da Teoria da Relatividade Especial, que, como veremos

    no prximo tpico sobre ftons, impe uma relao simples entre a energia e a quantidade de

    movimento da luz:

    1.7pc. =

    Assim, admitindo que a Equao (1.4) descreve a energia de uma partcula de luz, Compton

    combinou-a com a Equao (1.7) para chegar a:

    1.8hpc

    =

    Sabemos, por outro lado, da Equao (1.1), que c = . Assim a Equao (1.8) pode ser escrita na forma

    1.9hp ,=

    igualdade que determina o mdulo da quantidade de movimento ip

    na Equao (1.6).

    A)

    B)Figura 1.7: Descries clssica e quntica da intera-o entre a radiao eletromagntica e um eltron. (A) Na imagem clssica, o eltron acelerado pela fora que recebe dos campos eltrico e magntico da radiao. (B) No tratamento quntico, o eltron absorve um fton e assim recebe uma quantidade de movimento h/ e uma energia h.

  • 18Licenciatura em Cincias USP/Univesp

    O mesmo princpio quntico controla a transferncia de outras grandezas fsicas entre dois

    sistemas. Em particular, os autovalores da quantidade de movimento da radiao eletromag-

    ntica com comprimento de onda so dados pela Equao (1.9). A cada interao com a

    matria, a radiao somente pode perder h/ de quantidade de movimento. De novo, tudo se passa como se a luz fosse constituda de ftons com quantidade de movimento h/. A interao destri o fton e transfere h/ de quantidade de movimento e h de energia para a matria.

    Exerccio ResolvidoUma lmpada fluorescente emite 20 W de luz laranja ( = 600 nm). Quantos ftons so

    emitidos por segundo?

    Resoluo:

    A energia de 1 fton vale h. A energia de n ftons , portanto, nh. Lembrando que 1 W = 1 J/s, temos que, em 1 segundo, a energia emitida pela lmpada de 20 J. A partir da relao c=, pode-mos escrever a energia de n ftons como n

    nhc =

    . Assim, em 1 segundo, 61019 ftons so emitidos.

    Os clculos esto sumarizados a seguir.

    n

    n

    h 1 fton, nh n ftons

    c nhcc

    = =

    = = =

    J J1W 1 20W 20s s

    = =

    hcn 20J=

    34

    8

    n ?h 6,63 10 J sc 3 10 m/s

    = = =

    19n 6 10= ( )9600 nm 1n 1 10 = =

  • 19 Licenciatura em Cincias USP/Univesp

    Agora sua vez..Acesse o ambiente virtual e realize as atividades.

    Concluses do tpicoEncontramos neste tpico duas situaes em que convm visualizar a luz como con-

    junto de ftons. A primeira prevalece quando a luz se propaga em ambientes definidos por

    distncias muito superiores ao comprimento de onda. Estamos ento, no domnio da tica

    geomtrica, uma condio muito comum, mesmo na vida moderna. Um projetista que

    pretende desenhar um novo conjunto de lentes para uma mquina fotogrfica digital, por

    exemplo, pode esquecer que a luz constituda por ondas e trat-la como se cada feixe

    fosse composto de partculas com trajetrias retilneas em meios uniformes.

    Na segunda situao, quando a radiao interage com a matria e transfere pouca

    energia, o conceito de fton deixa de ser uma mera convenincia para emergir por im-

    posio da Mecnica Quntica. Desse conceito extramos rapidamente concluses a que a

    Mecnica Clssica no poderia conduzir.

    Considere, por exemplo, um turista deitado na praia sob o cu azul, de um meio-dia

    de vero. Sua pele est sendo bombardeada por um nmero muito grande de ftons cujas

    energias variam de Evermelho

    = hvermelho

    = 31019 J a Evioleta

    = hvioleta

    = 51019 J. Uma vez

    que a energia que prende os eltrons aos tomos na pele da ordem de 1019 J, esse raciocnio

    suficiente para mostrar que a luz do Sol pode arrancar alguns dos eltrons dos tomos da

    pele do turista, danificar processos bioqumicos fundamentais e provocar tumores.

    H uma terceira situao, no entanto, em que a radiao precisa ser vista como onda.

    Quando se analisa a propagao da radiao eletromagntica em regies com obstculos se-

    parados por distncias comparveis ou inferiores a indispensvel tratar a radiao como

    queria Huygens, pois a noo proposta por Newton conduzir a concluses incorretas.

  • 20Licenciatura em Cincias USP/Univesp

    O que vir depoisIsso tudo deixa uma dvida. Sabemos que distncias comparveis com exigem tratamento

    ondulatrio e que a interao da radiao com a matria recomenda que trabalhemos com

    ftons. E se as duas situaes prevalecerem, se a luz interagir com blocos de matria com dimen-

    ses comparveis ao comprimento de onda? Bem, nesse caso precisamos combinar ondas com

    ftons. Pode parecer impossvel, mas relativamente simples, como veremos no prximo tpico.

    1.1. Introduo1.2 Velocidade1.2 Natureza1.3 Origem1.4 Caractersticas1.4.1 Velocidade1.4.2Frequncia e cor1.4.3 Polarizao1.4.4 Intensidade1.4.5 Energia e quantidade de movimento

    SumPagImpar: Page 2: Page 4: Page 6: Page 8: Page 10: Page 12: Page 14: Page 16: Page 18: Page 20:

    Apresentao 6: SumPagPar: Page 3: Page 5: Page 7: Page 9: Page 11: Page 13: Page 15: Page 17: Page 19:

    Descartes: Descartes_box: descartes_x: Apresentao: Galileu: Ole: Galileu_box: Galileu_x: Ole_box: Ole_x: Newton: Huygens: Huygens_box: Huygens_x: Newton_box: Newton_x: Maxwel: Maxwell_box: Maxwell_x: Planck: Planck_box: Planck_x: Compton: Compton_box: Compton_x: