lutam por Livres, Eseravo Acordos aceleram votações..."Parlamentarismo" é hoje, no Brasil, uma pa...

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J I ________________.... 1 I -i Volume 378 Oficial de Divulgação da Assembléia Nacional Constituinte Livres, lutam por igualdade A liberdade, os negros alcançaram há cem anos. Por isto, não mais se lê anúncios com os que eram publicados fartamente na imprensa do fim do século passado. Mas a igualdade, esta eles continuam buscando. São milhões de homens e mulheres, crianças, jovens, adultos e velhos que sabem que são livres. Mas se sentem presos aos grilhões enferrujados do preconceito e da discriminação. A Constituinte de 1988 dá mais um passo no rumo do aperfeiçoamento da lei, ao qualificar o - racismo como crime inafiançável. Mas não bastam , as leis. E preciso mudar a mentalidade. O Centenário da Abolição vem aí. Por que não fazer do 13 de Maio um marco para o começo dessa mudança? (Páginas 10 e 11) ADIRP/Guilhetme Rangel Eseravo Vende-se por eommodo preço um escravo, preto, de 45 lIRDOS pouco mais ou menos, cxcellente aUlcia) de pedreiro. Trata-se á rua do Constituição D. 3 c. 3-3 Correio Paulistano, 23/4/1878*- ilLUGllDil. Alugll-se uma escrava que lava, e cosi- nba, Pari tratar no largo do Paysandü n, 19 3-2 Correio Paulistano, 8/1/1878* ESCRAVA Vende-se uma escrava, no pateoJoe S. Ben- t(l, quarta casa do canto da rua da Boa. Vis ta. 3-3 Corf!3ioPaulistano. 23/4/1878* Excellente escravo Yeude-seum creoulo de- 22 suaos, sem vi- cio e muito bom e sceado cozinheiro, copeiro .. balíeiro, Faz tc.r.do o EerTiço de ar- ranjo de cus com presteas, e é o mf'lhor trabalhador de roça \lU8 fe póde desejar; humilde, obediente e bonita figura. l'ara tratar na ladeira de S. Francisco D. 4. 6-3 Província de São Paulo, 19/2/1878* Brasília, de 14 a 20 de março de 1988 - 39 Acordos aceleram votações Foi uma semana de recordes na Constituinte. Em mais de uma centena de votações, o Plenário aprovou os artigos de 22 a 45, graças à presença maciça dos parlamentares e às negociações entre os líderes, sob a cordenação do presidente Ulys- ses Guimarães. Trabalhando inclusive no sábado e domingo, com sessões diárias que avançaram até às 23 horas quase sempre, foram aprovados quase 200 dispositivos. O novo texto coloca os recursos naturais e o subsolo sob controle .da União, que fica responsável também pelos servi- ços públicos de telecomunicações, que poderá ex- plorar diretamente ou mediante concessão a em- presas estatais. A atividade nuclear ficará sujeita à aprovação e controle do Congresso Nacional. E matéria política, foram estabelecidas eleições em dois turnos para presidente, governador e pre- feito de municípios com mais de 200 mil habitan- tes. O Distrito Federal conquistou autonomia po- lítica e administrativa e foi instituída total liber- dade de organização partidária. Esta semana, de- cide-se sobre o direito de greve e de sindicalização do servidor público. A votação do mandato presi- dencial está se aproximando. (Páginas 3 a 9) .. .. - ... -" . O plenária daConstituinte manteve-se lotado durante toda a semana, permitindo a votação acelerada da nova Carta

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J

l[UI-II[~

I________________.... 1

I-i Volume378

Ór~ão Oficial de Divulgação da Assembléia Nacional Constituinte

Livres,lutam porigualdadeA liberdade, os negros

alcançaram há cemanos. Por isto, não

mais se lê anúncios comos que eram publicadosfartamente na imprensa

do fim do séculopassado. Mas a

igualdade, esta elescontinuam buscando.

São milhões dehomens e mulheres,

crianças, jovens,adultos e velhos

que sabem que sãolivres. Mas se sentem

presos aos grilhõesenferrujados

do preconceito eda discriminação.A Constituinte de

1988 dá maisum passo no rumo do

aperfeiçoamento dalei, ao qualificar o

- racismo comocrime inafiançável.

Mas não bastam, as leis.

E preciso mudara mentalidade.

O Centenário daAbolição vem aí.

Por que não fazerdo 13 de Maio

um marco parao começo

dessa mudança?(Páginas 10 e 11)

ADIRP/Guilhetme Rangel

EseravoVende-se por eommodo preço um escravo, preto,

de 45 lIRDOS pouco mais ou menos, cxcellente aUlcia)de pedreiro. Trata-se á rua do Constituição D. 3 c.

3-3Correio Paulistano, 23/4/1878*-

ilLUGllDil.Alugll-se uma escrava que lava, en~omma e cosi­

nba, Pari tratar no largo do Paysandü n, 193-2

Correio Paulistano, 8/1/1878*

ESCRAVAVende-se uma escrava, no pateoJoe S. Ben­

t(l, quarta casa do canto da rua da Boa. Vista. 3-3

Corf!3ioPaulistano. 23/4/1878*

Excellente escravoYeude-seum creoulo de- 22 suaos, sem vi­

cio e muito ti~l; bom e sceado cozinheiro,copeiro.. balíeiro, Faz tc.r.do o EerTiço de ar­ranjo de cus com presteas, e é o mf'lhortrabalhador de roça \lU8 fe póde desejar;humilde, obediente e bonita figura. l'aratratar na ladeira de S. Francisco D. 4. 6-3

Província de São Paulo, 19/2/1878*

Brasília, de 14 a 20 de março de 1988 - n~ 39

AcordosaceleramvotaçõesFoi uma semana de recordes na Constituinte.

Em mais de uma centena de votações, o Plenárioaprovou os artigos de 22 a 45, graças à presençamaciça dos parlamentares e às negociações entreos líderes, sob a cordenação do presidente Ulys­ses Guimarães. Trabalhando inclusive no sábadoe domingo, com sessões diárias que avançaramaté às 23 horas quase sempre, foram aprovadosquase 200 dispositivos. O novo texto coloca osrecursos naturais e o subsolo sob controle .daUnião, que fica responsável também pelos servi­ços públicos de telecomunicações, que poderá ex­plorar diretamente ou mediante concessão a em­presas estatais. A atividade nuclear ficará sujeitaà aprovação e controle do Congresso Nacional.E matéria política, foram estabelecidas eleiçõesem dois turnos para presidente, governador e pre­feito de municípios com mais de 200 mil habitan­tes. O Distrito Federal conquistou autonomia po­lítica e administrativa e foi instituída total liber­dade de organização partidária. Esta semana, de­cide-se sobre o direito de greve e de sindicalizaçãodo servidor público. A votação do mandato presi­dencial está se aproximando. (Páginas 3 a 9)

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O plenária daConstituinte manteve-se lotado durante toda a semana, permitindo a votação acelerada da nova Carta

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Entenda o parlamentarismoSonho jovemA autonomia política legislativa, ad­

ministrativa e financeira do Distrito Fe­deral é uma medida que se impõe nocontexto democrático da Nova Repúbli­ca.

O sonho de todo brasiliense e a lutada Bancada de Brasília foram plenamen­te reconhecidos quando a Comissão deSistematização, na memorável sessão dodia 27 de outubro de 1987, aprovou por83 votos a favor, 8 contra e 2 abstenções,a tão sonhada autonomia política parao Distrito Federal. Agora, o Plenárioda Constituinte vem de aprovar definiti­vamente essa autonomia.

Novamente mobilizaram-se o povo deBrasília e a sua bancada na Constituinte,para que, finalmente, fosse concretizadoo sonho da tão almejada emancipaçãopolítica. '

Brasília é uma cidade jovem, formadaem sua maioria por jovens que agoravão votar ao completarem 16 anos.

Vai, assim, pelas mãos de seus pró­prios filhos, buscar as suas raízes e rei­vindicar melhores oportunidades nocontexto nacional.

O fato de o Distrito Federal sediaro Governo da União não impõe a neces­sidade de se limitar o direito da sua po­pulação, que quer determinar-se na ad­ministração de seus problemas e insti­tuir, pelos seus próprios órgãos, o direitolocal.

Agora, a nova Constituição estabele­ceu a autonomia político-administrativapara o Distrito Federal, que se afirmacom a instituição do Poder Legislativolocal e eleição do governador para exer­cer o Poder Executivo.

Vencida esta primeira etapa pela auto­nomia do Distnto Federal, estamos nospreparando agora para outra batalhaque também interessa de perto ao povode Brasília e da região do Entorno, queé a criação da Região Integrada do Pla­nalto Central, formada pelo Distrito Fe­deral e suas áreas de inffuência nos Esta­dos de Goiás e de Minas Gerais e dispon­do de um fundo de desenvolvimento,com recursos obtidos da arrecadação doImposto de Renda.

A sua criação permitirá a integraçãode Brasília com o seu Entorno, sem per­der as características de unidade da Fe­deração, e será gerida por um conselhocomposto de representantes da União,do Distrito Federal e dos Estados de Mi­nas Gerais e Goiás.

Em nosso entender a integração deBrasília com sua região é fundamental,de um lado, para impedir o crescimentovertiginoso da capital federal, hoje jáem proporções inconcebíveis para a in­fra-estrutura aqui existente, e de outro,em virtude do desnível da" capital como seu Entorno.

ConstituinteMárcia Kubitschek(PMDB-DF)

\ EXPEDIE·'T.~.",---

Um totem.Não um tabu

Na Assembléia Nacional Constituinteprosseguem as votações. A nova Consti­tuição Já tem as linhas do corpo. Não estápronta, mas dos andaimes da época dascomissões se converteu em uma obra maisdefinida. Ninguém duvida que as novasleis fundamentais inovam, mudam costu­mes e estruturas, reorientam tendênciasna direção da justiça social e das liberda­des, introduzem modernas instituições.

São tantas as matérias aprovadas: intro­duzidas aqui nas páginas do JC, que nospermitem anunciar para breve a promul-gação da Carta Magna. ,

A Constituição é o novo E o progresso.Seu destino é varar o tempo. Sua sina,o respeito e a simpatia do povo. Sem issonão é totem, é tabu. Não se sacraliza e,ao invés de habitar soberana o altar dapátria, vaga ao desamparo da descrençapopular e sangra, a todo instante, na as­sembléia das baionetas.

Os brasileiros estão fazendo uma Cons­tituição durável. As votações atestam ocaráter consensual de suas decisões. Aaceitação do povo plebiscita sua vigênciafutura.

A Assembléia Nacional Constituinteso­breviveu, com serenae conscientedetermi­nação, a todas as investidascontra sua so­berantae. principalmente, traduziu em tra­balho construtivoe lúcido sua razão histó­rica de ser.

Concluído o Título IH, definida a orga­rnzaçãogeral do Estado, da administraçãopública, inclusive das instituições milita­res, ingressamos, agora, em uma questãoque está no coração do organismo nacio­nal: o sistema de governo. Em crise, opresidencialismo invoca o direito de mu­dar, através de emendas como as de Hum­berto Lucena, Manoel Moreira e outras,que introduzem inovações significativasno sistema presidencialista brasileiro. Ogoverno parlamentar, de gabinete, ressur­ge no debate político-jurídico com o vigorque não conheceu nos tempos de RaulPilla, o inspirado defensor deste sistema:o parlamentarismo pode estar a caminho,pOIS a opção se põe entre reformar o velhopresidencialismo, originado na Repúbli­ca, ou introduzir o sistema parlamentarde decisões.

Nesta edição o JC, motivado pelo cen­tenário da Abolição da Escravatura quese comemora a 13 de maio próximo, pro­move uma ampla investigação do proble­ma racial brasileiro e recebe a contribui­ção de Carlos Alberto Caó, constituintedo RIO de Janeiro, nascido, todavia, naBahia, dos atabaques, da aristocracia de­mocrática do Recôncavo

ConstituinteMarcelo Cordeirolo-Secretário da ANC

"Parlamentarismo" é hoje, no Brasil, uma pa­lavra cada vez mais repetida. Todo mundo seinteressa por saber o que significa ou por darsua opinião sobre o assunto. Esse pode ser umbom tema para entusiasmar uma conversa demesa de bar, ou para puxar assunto com aquelapessoa simpática que por sorte se sentou ao seulado. Se você é do tipo que gosta de causar polê­mica ou gosta muito de um bom bate-papo, tenhocerteza que já andou falando por aí sobre parla­mentansmo. Mas, sobretudo, se você, como ci­dadã ou cidadão brasileiro, quer estar a par doque acontece no País e participar das grandesdiscussões que hoje são travadas na AssembléiaConstituinte e que vão definir a vida do Brasilno futuro, o melhor mesmo é também entrarno debate e se familiarizar com a nova palavra.

No jornal do fim de tarde, no noticiário daTV, ou no banco da escola, "parlamentarismo"deixou de ser um termo geralmente empregadopara caracterizar a forma de governo dos princi­pais países da Europa, ou para lembrar a crisepolítica criada com a renúncia de Jâmo Quadrose a posse de João Goulart, em 1961. A palavraassume agora um sentido mais próximo e maispresente na realidade de todo brasileiro: o parla­mentarismo será, muito provavelmente, a novaforma de Governo do Brasil, por decisão legítimae soberana da Assembléia Nacional Constituin­te.

Por isso eu, enquanto Deputada Constituinte,que defende na Assembléia o parlamentarismocomo a melhor forma de Governo para o Brasil,não posso deixar de conversar também sobreo que significa a idéia que está por detrás dessapalavra e a opnuão que tenho sobre o assunto.

Antes de mais nada, vamos começar com umapergunta que muitos estão fazendo: o que é afinalparlamentarismo? Embora haja muitas e dife­rentes formas de regimes parlamentares, o essen­cial é que, no parlamentarismo, há uma distri­buição de funções entre o Chefe de Estado ­representado, numa República, pelo Presidente,e, numa Monarquia, pelo Rei ou Rainha - eo Chefe de Governo - representado pelo Pri­meiro Ministro. Esta distribuição de funções im­plica numa descentralização do poder, com umaparticipação maior do Parlamento - isto é, doCongresso Nacional-na administração do País.

Mas, o que isto Significaem termos de mudan­ças concretas e, pnncipalmente, que vantagenspoderá trazer para o povo brasileiro? Em primei­ro lugar, não é preciso entender muito de políticapara ver que, neste País, o Presidente da Repú­blica sempre acumulou um poder muito grande,desproporcional ao princípio de participação po­pular nos processos de decisão. Uma vez eleito,o Presidente torna-se o único a decidir sobreos. caminhos do País; é ele quem nomeia, semprecisar consultar ninguém, todos os Ministrosde Estado; é ele quem controla as verbas daUnião; é ele quem decide sobre a condução dapolítica econômica, etc. Por outro lado, o povo,que o elegeu, fica sem mecanismos de cobrança,sem ter como fazer para que ele cumpra o progra­ma que apresentou quando era ainda candidato.Os deputados e senadores, que em razão do pró­prio processo político estão em contato mais per­manente com o povo, sentindo melhor suas difi­culdades e suas opiniões, ficam, por sua vez,sem qualquer tipo de amparo legal para influen­ciar o curso das decisões, para apontar novoscaminhos ou corrigir os erros que porventurao povo veja nas ações do Presidente.

Tem gente por aí afirmando, por ignorânciaou má-fé, que se for implantado o parlamen-

tarismo no Brasil o povo não vai votar no Presi­dente, ou então, que o Presidente vai se tornarum tipo de "Rainha da Inglaterra", que "reinamas não governa". Não é nada disso. Tenhocerteza que, basta ficar bem claro o que repre­senta a nossa proposta de parlamentarismo, parase constatar que ela tem o apoio da grande maio­ria do povo brasileiro.

O projeto de Constituição que defendemosé muito claro ao especificar as funções do Presi­dente é do Primeiro-Ministro: o Presidente daRepública será eleito, em eleição direta, pelamaioria absoluta dos votos e a ele cabe nomearo Primeiro-Ministro; ao Primeiro-Ministro, porsua vez, cabe exercer a função superior da admi­nistração federal, elaborar o programa de gover­no e submetê-lo à aprovação da Câmara dos De­putados. O projeto de Constituição que estáatualmente sendo votado define o seguinte: apósconsultar os partidos políticos que compõem amaioria da Câmara dos Deputados, o Presidenteda República nomeia o Primeiro-Ministro, que,então, indica os demais integrantes do Conselhode Ministros (formado por todos os Ministrosde Estados: o Ministro do Trabalho, da Fazenda,da Saúde, da Justiça, etc.). Após sua nomeação,o Primeiro-Ministro submete, dentro de no máxi­mo dez dias, seu programa de governo à aprova­ção da Câmara dos Deputados. Se o programade governo for aprovado, está constituído o Ga­binete; se for rejeitado, o Presidente deve entãonomear um novo Primeiro-Ministro, que sub­mete um novo programa de governo à Câmarados Deputados. Se o programa de governo dessenovo Primeiro-Ministro também for rejeitado,então o Presidente pode dissolver a Câmara dosDeputados e convocar a eleições extraordinárias,ou tentar novamente escolher outro Primeiro­Ministro, cujo programa seja aceito pela maioriada Câmara dos Deputados. A Câmara dos Depu­tados pode também forçar a demissão de umPrimeiro-Ministro já empossado, através do quese chama "moção de censura", que nada maisé do que uma forma de desaprovação dos atosdo Primeíro-Mimstro,

Para finalizar, vamos responder àqueles queandam afirmando que a implantação do parla­mentarismo não passana de um "golpe branco"do PMDB para chegar logo ao poder, já quetem maiona na Câmara, mas não tem a Prési­dência. Não é nada disso. Quando eu e vãnosdeputados do PMDB e de outros partidos defen­demos o parlamentarismo, não estamos pensan­do apenas na atual crise política que angustiao País, mas sim numa perspectiva de mais longoprazo, num futuro que esperamos venha brevee que traga, com o parlamentarismo, mais demo­cracia e mais estabilidade política para o Brasil.Pensamos, isto sim, na descentralização do po­der, com o fim das prerrogativas de "quase-impe­rador" de que sempre gozaram, ao longo de nos­sa história, os presídentes da República. Por ISSOmesmo, eu defendo inclusive que, caso a Assem­bléia Constituinte aprove o parlamentarismo, se­jam convocadas eleições gerais, pois ao elegeros atuais deputados constituintes, o povo nãopodia prever que seria implantado um regimeparlamentar. Assim, para que o parlamentans­mo ~asça de forma verdadeiramente legítima éprecrso que, ao votar nos novos deputados, opovo saiba que caberá a eles, em nome dessemesmo povo que o elegeu, votar no Primeiro-Ministro. ' .

ConstituinteAnna Maria Rattes(PMDB-RJ)

Jornal da Constituinte- - Veículo semanal editado sob aresponsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia N' cionalConstituinte.MESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

Presidente - Ulysses Guimarães;Primeiro-Vice·Presidente­Mauro Benevides; Segundo -Vice-Presldente - Jorge Arbage;Prímetre-Secretãrío - Marcelo Cordeiro; Segundo-Secretário- Mário Maia; Tercetro-Secretãrío - Arnaldo Faria de Sá.Suplentes: Benedita da Silva, Luiz Soyer e Sotero Cunha.APOIO ADMINISTRATIVO

Secretário-Geral da Mesa - Paulo Affonso M. de OliveiraSubsecretáríe-Geral da Mesa - Nerione Nunes CardosoDtretor-Geral da Câmara - Adelmar Silveira SabinoDiretor-Geral do Senado - José Passos PôrtoProduzido pelo Serviço de Divulgação da Assembléia Na­

cional Constituinte.

2 Jornal da Constituinte

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Moura da Silva, Vladimir Meireles de Almeida, Maria Apare­cida C. Versiani, Marco Antônio Caetano, Eurico Schwinden,Itelvina Alves da Costa, Luiz Carlos R. Unhares, HumbertoMoreira da S. M. Pereira, Clovis Senna, Luiz Cláudio Pinheiro.Marlise I1hesca e Domingos Mourão Neto.

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Composto e impresso no Centro Grâfico do Senado Federal-CEGRAF

Redação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP- 70160 - Brasília - DF - Fone: 224·1569- Distribuição gratuita

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CARTA ::: ACOMPANHE O_ TüNA.NOVACA< _::: ACOMPANHE·O TEXTO NA NOVA C

Nacionalismo não perde espaçoOs temas econômicos prevaleceram nas

deliberações da semana passada, na ANC, pe­lo menos nas votações mais polêmicas. Umdos embates mais difíceis, se travou em tomoda propriedade dos recursos minerais, espe­cialmente os do subsolo, que continuou sendoexclusiva da União, resguardados, por acordo,os concessionários que já detêm o direito delavra..Também o pagamento de royalties por.exploração, pela União, de recursos naturaisdos estados, fica agora definido constitucio-

nalmente. A medida vale para a construçãode usinas hidrelétricas ou exploração de petro­léo por exemplo. Outra questão bastante con­troversa - o monopólio estatal dos meios decomunicação - acabou sendo resolvida emfavor dos defensores das teses nacionalistas.O monopólio é mantido e estendido ao setorde transmissão de dados, como é o caso dossatélites. A problemática da energia nuclearfoi resolvida de acordo com os princípios hojevigentes, de utilização para fins pacíficos, mas

com um um adendo importante: o Congressoagora, passa a fiscalizar tudo.

Alguns temas políticos igualmente mere­ceram destaque: foi aprovada a eleição emdois turnos dos prefeitos de cidades com maisde 200 mil habitantes, o que leva a supor quemedida idêntica será adotada com relação aosgovernadores. O Distrito Federal ganha a tãoalmejada autonomia política e administrativae poderá, finalmente, ter governante a repre­sentantes distritais eleitos.

ADIRPlReynaldo Stavale

339334

23

Mesmo que as posições sejam divergentes, é possível votar, descontraidamente: isto é democracia

Quatro emendas em tornodeste dispositivo foram retira­das pelos seus atuares.

COMPETÊNCIADA UNIÃO'

Art. 22 ,- Compete àUnião:

I - manter relações com es­tados estrangeiros e participarde organizações internacio­nais;

II - declarar a guerra e ce­lebrar a paz;

Ill - assegurar a defesa na­cional;

IV - permitir, nos casosprevistos em lei complemen­tar, que forças estrangeirastransitem pelo território nacio­nal ou nele permaneçam tem­porariamente;

380331

Votaram:Sim:

O texto é resultado de umafusão de emendas dos consti­tuintes Sergio Spada (PMDB- PR), Dionísio Hage (PFL- PA), Renato Johnsson(PMDB - PR), Gil César(PMDB - MG), Osvaldo Ma­cedo (PMDB- PR), MaurícioFruet (PMDB - PR), JoséCarlos Grecco (PMDB - SP),com destaque requerido p-elosconstituintes Roberto D'Avila(PDT - RJ) e Eraldo Tinoco(PFL-BA).

FAIXA DE FRONTEIRA§ 29 - A faixa interna de

até cento e cinqüenta quilôme­tros de largura, ao longo dasfronteiras terrestres, designa­da como faixa de fronteira, éconsiderada fundamental paraa defesa do território nacional,e sua ocupação e utilização se­rão regulamentadas em leicomplementar.

INDENIZAÇÃOX - os bens que atualmente

lhe pertencem ou que lhe vie­rem a ser atribuídos;

§ 10 - É assegurada, nostermos da lei, aos estados, aoDistrito Federal, aos municí­pios e a órgãos da administra­ção direta da União compen­sação financeira ou participa­ção no resultado da exploraçãode recursos hídricos para finsde geração de energia, de pe­tróleo ou gás natural e de ou­tros recursos minerais em seusterritórios, bem comona pTãta­forma continental e na zonaeconômica exclusiva respecti­va.

Votaram: 415Sim: 393Não: 14Abstenção: 8

Votaram: 404Sim: 387Não: 11Abstenção: 6

o texto acima é de autoriado constituinte Sigmaringa Sei­xas (PMDB - DF) em co-au­toria com o constituinte Wal­deck Ornélas (PFL - BA).

Estes dois dispositivos foramvotados a partir de um acordofirmado entre todas as lideran­ças, com o compromisso de sefixar no capítulo da "OrdemEconômica" o seguinte dispo­sitivo: "Garantida ao autoriza­do ou concessionário aproprie­dade do produto da lavra".

TERRA DOS íNDIOSIX - as terras ocupadas

permanentemente pelos ín­dios.

Título III - Da Organização doEstado (continuação)

Com esta votação foi apro­vado o capítulo inteiro, ressal­vados os destaques da emendasubstitutiva do Centrão.

CAPÍTULonDA UNIÃO

Art. 21 - Incluam-se entreos bens da União:Votaram:Sim:Não:Abstenção:

TERRAS DEVOLUTASI - as terras devolutas in­

dispensáveis à defesa das fron­teiras, das fortificações e cons­truções militares, das viasfede­rais de comunicação e à preser­vação ambiental por ela defini­das em lei;

II - os lagos, rios e quais­quer correntes de água em ter­renos de seu domínio, ou quebanhem mais de um estado,constituam limites com outrospaíses ou se estendam a territó­rio estrangeiro ou dele prove­nham, as terras marginais e aspraias fluviais;

UI - as ilhas fluviais e la­custres nas zonas limítrofescom outros países; as praiasmarítimas; as ilhas oceânicas eas marítimas, excluídas as jáocupadas pelos estados e muni­cípios;

IV - os recursos naturais daplataforma continental e da zo­na econômica exclusiva;

V - o mar territorial;VI - os terrenos de mari­

nha e seus acrescidos;

Para os seis dispositivos aci­ma não houve qualq.uer emen­da, sendo mantido o texto origi­nal da Comissão de Sistemati­zação, coincidente com o doCentrão.

Votaram: 400Sim: 392Não: 5Abstenção: 3

SUBSOLOVU - os potenciais de ener­

gia hidráulica;VIII - os recursos mine­

rais, inclusive os do subsolo; .

Jornal da Constituinte 3

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c " .. a.... HEOT frONAN CARTA: :: AC01~PANHE O

Votaram: 400Sim: 392Não: 4Abstenção: 4

O monopólio estataldas tele­comunicações foi mantido gra­ças a um acordo entre as váriaslideranças, a partir da fusão deemendas dos constituintes JoséCosta (PMDB-AL), CristinaTavares (PMDB - PE), Os­waldo Lima Filho (PMDB­PE), Nelson Wedekin (PMDB- SC), Manoel Ribeiro(PMDB - PA), Moema SãoThiago (PDT - CE), Fernan-

Com este resultadofoi altera­do o texto com uma emendado constituinte Manoel Castro(PFL- BA).

TELECOMUNICAÇÕESX - manter o serviço postal

e o Correio Aéreo Nacional;XI - explorar diretamente

ou mediante concessão a em­presas sob controle acionárioestatal, os serviços telefônicos,telegráficos, de transmissão dedados e demais serviços pübli­cos de telecomunicações. E as­segurada a prestação de servi­ços de informações por entida­des de direito privado, atravésda rede pública de telecomu­nicações explorada pelaUnião.

XII - explorar diretamenteou mediante concessão, autori­zação ou permissão:

a) os serviços de radiodifu­são sonora, de sons e imagense demais serviços de telecomu-nicações: .

Não: 41Abstenção: 8

Com esta votação foi apro­vada emenda do constituinteOsvaldo Sobrinho (PMDB­MT), com destaque requeridopelo constituinte Raimundo Be­zerra (PMDB - CE).

ESTADO DE SÍTIOV - decretar o estado de sí­

tio, o estado de defesa e a inter­venção federal;

VI - autorizar e fiscalizar aprodução e o comércio de ma­terial bélico;

VII - emitir moeda;VIII - administrar as reser­

vas cambiais do país e fiscalizaras operações de natureza fi­nanceira, especialmente as decrédito, câmbio e capitaliza­ção, bem como as de segurose de previdência privada;

PLANOS NACIONAISIX - elaborar e executar

planos nacionais e regionais deordenação do território e dedesenvolvimento econômico esocial aprovados pelo Congres­so Nacional;

3297

3166

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

XXI - competência da po­lícia federal e das polícias rodo­viárias e ferroviárias federais;

XXII - seguridade social;XXIII - diretrizes e bases

da educação nacional;XXIV - registro público;XXV - atividades nuclea­

res de qualquer natureza;XXVI - normas gerais de

licitação e contratação em to­das as modalidades, para a ad­ministração pública, direta eindireta. nos três níveis de go­verno, inclusive para as funda­ções e empresas sob seu con­trole;

XXVII - defesa territorial,defesa aeroespacial, defesa ci­vil e mobilização nacional.

Não houve qualquer emendapara os dispositivos acima, per­manecendo o texto substitutivodo Centrão.

COOPERAÇÃOParágrafo único. Lei com­

plementar fixará normas paraa cooperação, tendo em vistao equilíbrio do desenvolvimen­to e do bem-estar em âmbitonacional.

Com um destaque para vota­ção em separado, o constituuueMário Covas (PMDB - SP)conseguiu derrubar o texto doCentrão.

COMPETÊNCIACOMUM ,

Art. 24 - E competênciacomum da União, dos estados,do Distrito Federal e dos muni­cípios:

I - zelar pela guarda daConstituição, das leis e das ins­tituições democráticas e con­servar o patrimônio público;

II - cuidar da saúde e assis­tência pública, bem como daproteção e garantia das pessoasportadoras de deficiência;

III - proteger os documen­tos, as obras e outros bens devalor histórico, artístico e cul­tural, os monumentos e as pai­sagens naturais notáveis, bemcomo os sítios arqueológicos;

IV -impedir a evasão, adestruição e a descaracteriza­ção de obras de arte e de outrosbens de valor histórico, artís­tico ou cultural;

V - propocionar os meiosde acesso à cultura, à educaçãoe à ciência;

VI - proteger o meio am­biente e combater a poluiçãoem qualquer de suas formas;

VII - preservar as flores­tas, a fauna e a flora;

VIII - fomentar a produ­ção agropecuária e organizar oabastecimento alimentar;

Com a votação acima, oconstituinte Lezio Sathler(PMDB - ES) conseguiu in­troduzir na nova Carta a exi­gência de educação de trânsito.

JAZIDASXII - jazidas, minas, ou­

tros recursos minerais e meta­lurgia;

XIII ~nacionalidade, cida­dania e naturalização;

XIV - populações indíge­nas;

XV - emigração, imigra­ção, entrada, extradição e ex­pulsão de estrangeiros;

Não houve emendas para es­ses itens, permanecendo o textodo Centrão.

PROFISSÕESXVI - organização do sis­

tema nacional de empregos econdições para o exercício denrofissões;

Votaram: 372Sim; 363Não: 2Abstenção: 7

Votaram: 345Sim: 296Não: 35Abstenção: 14

EDUCAÇÃODE TRANSITO

XI -trânsito, transporte debens e pessoas nas rodovias eferrovias federais; estabelecere implantar política de educa­ção para a segurança do trân­sito;

Não houve qualquer emendasobre esses itens constitucio­nais, prevalecendo o texto daemenda substitutiva do Cen­trão.

VIII - política de crédito,câmbio, seguros e transferên­cia de valores, comércio exte­rior e interestadual;

IX - diretrizes da políticanacional de transportes;

X-regime dos portos, na­vegação lacustre, fluvial, marí­tima, aérea e aeroespacial;

O dispositivo acimafoi intro­duzido na Carta por iniciativado constituinte Paes de Andra­de (PMDB - CE)

ESTATÍSTICAXVII - organização judi­

ciária, do Ministério Público eda Defensoria Pública do Dis­trito Federal e dos territóriose organização administrativadestes;

XVIII - sistema estatísticoe sistema cartográfico e de geo­logia nacional;

XIX - sistemas de poupan­ça, consórcios e sorteios;

XX - normas gerais de or­ganização, efetivos, materialbélico e garantia das políciasmilitares e corpos de bombei­ros militares, bem como as nor­mas de sua convocação e mobi­lização;

389356

1617

GARIMPAGEMXXIV - organizar, manter

e executar a inspeção do traba­lho, na forma do que dispusera lei;

XXV - estabelecer a área eas condições para o exercícioda atividade de garimpagem,em forma associativa;

Votaram: 389Sim: 298Não: 83Abstenção: 8

Com esta votação foi apro­vado destaque do constituinteAdemirAndrade (PSB - PA),pelo qual prevaleceu o texto daComissão de Sistematização.

LEIS DA UNIÃOArt. 23 - Cabe privativa­

mente à União legislar sobre:I - direito civil, comercial,

penal, processual, eleitoral,agrário e do trabalho;

II - direito marítimo, aero­náutico e espacial;

III - desapropriação;IV -requisições civis e mi­

litares, caso de iminente perigoe em tempo de guerra;

V - águas, telecomunica­ções, radiodifusão, informáti­ca e energia;

VI - serviço postal;VII - sistema monetário e

de medidas, títulos e garantiasde metais;

XXI - estabelecer princí­pios e diretrizes para o sistemanacional de transportes e via-ção; .

XXII - executar os serviçosde polícia marítima, aérea e defronteira;

ENERGIA NUCLEARXXIII - explorar os servi­

ços e instalações nucleares dequalquer natureza e exercer omonopólio estatal sobre a pes­quisa, a lavra, o enriquecimen-:to e reprocessamento, a indus­trialização e o comércio de mi­nérios nucleares e seus deriva­dos, atendidos os seguintes re­quisitos:

a) toda atividade nuclearem território nacional somenteserá admitida para fins pacífi­cos e mediante aprovação doCongresso Nacional;

b) sob regime de concessãoou permissão é autorizada autilização de radioisótopos pa­ra a pesquisa e usos medicinais,agrícolas, industriais e ativida­des análogas;

c) a responsabilidade civilpor danos nucleares independeda existência da culpa:

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

Com esta votação foi apro­vado este último dispositivo deautoria do constituinte ViniciusCansanção (PFL - AL).

Este resultado fez prevalecera emenda do constituinte Fer­nando Velasco (PMDB ­PA) .

TRANSPORTES< c) a navegação aérea, ae­

roespacial e a infra-estruturaaeroportuária;

d) os serviços de transporteferroviário e aquaviário entreportos brasileiros e fronteirasnacionais, ou que transpo­nham os limites de estado outerritório;

e) os serviços de transporterodoviário interestadual e in­ternacional de passageiros;

f) os portos marítimos, flu­viais e lacustres;

XIII - organizar e manter oPoder Judiciário, o MinistérioPúblico e a Defensoria Públicado Distrito Federal e dos terri­tórios;

XIV - organizar e manter apolícia federal, a polícia rodo­viária e a ferroviária federais,bem como a polícia civil, a polí­cia militar e o corpo de bom­beiros militar do Distrito Fede­ral e dos territórios;

XV - organizar e manter osserviços oficiais de estatística,geografia, geologia e cartogra­fia de âmbito nacional;

XVI - exercer a classifica­ção, para efeito indicativo, dediversões -públicase de progra­mas de telecomunicações;

XVII - conceder anistia;XVIII - planejar e promo­

ver a defesa plenamente contraas calamidades públicas, espe­cialmente as secas e as inun­dações;

XIX - instituir sistema na­cional de gerenciamento de re­cursos hídricos e definir crité­rios de outorga de direitos deseu uso;

XX - instituir diretrizes pa­ra o desenvolvimento urbano,inclusive habitação, sanea­mento básico e transportes ur­banos;

do Santana (PCB - BA), Már­cio Lacerda (PMDB - MT),Antero de Barros (PMDB ­MT), Mansueto de Lavor(PMDB - PE), Eraldo Tino­co (PFL - BA), Rita Furtado(PFL - RO), Arolde de Oli­veira (PFL - RI), GonzagaPatriota (PMDB - PE), Per­cival Muniz (PMDB - MT),Aloísio Vasconcelos (PMDB- MG), Marco Maciel (PFL- PE), Antônio Britto(PMDB - RS), Carlos Alber­to Caó (PDT - RI) e MendesRibeiro (PMDB - RS).

ENERGIA ELÉTRICAb) os serviços e instalações

de energia elétrica e o aprovei­tamento energético dos cursosde água em articulação com osestados de situação de tais po­tenciais hidrenergéticos;

Votaram: 389Sim: 303Não: 69Abstenção: 17

378.366

93

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

4 Jornal da Constituinte

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OM NHE OTEXTO ~JAIX - promover programas

de construção de moradias efomentar a melhora das condi­ções habitacionais e de sanea­mento básico;

X - combater as causas dapobreza e os fatores da margi­nalização, promovendo a inte­gração dos setores 'desfavore­cidos.

Não houve emenda para osdispositivos acima, permane­cendo o texto da emenda substi­tutiva doCentrão.

CONCORRÊNCIAArt. 25 - Compete à

União, aos estados e ao Dis­trito Federal legislar concor­rentemente sobre:

I - direito tributário, finan­ceiro, penitenciário e econômi­co;

II - orçamento;lU - juntas comerciais;IV - custas dos serviços fo­

renses;. V -produção e consumo,

inclusive sua propaganda co­mercial;

o último item foi introdu­zido no texto por emenda doconstituinteAntonio CarlosMendes Thame (PFL - SP).

DEFESA DO SOLOVI -florestas, caça, pesca,

fauna, conservação da nature­za, defesa do solo e dos recur­sos naturais, proteção do meioambiente e controle da polui­ção;

VII - proteção ao patrimô­nio histórico, cultural, artísti­co, turístico e paisagístico;

VIU - responsabilidadepor dano ao meio ambiente,àoconsumidor, a bens e direitos

- de valor artístico, estético, his-tórico, turístico e paisagístico;

IX -educação, cultura, en­sino e desporto;

X - criação, funciona­mento e processo do juizadode pequenas causas;

XI - procedimentos emmatéria processual;

XII - previdência social,proteção e defesa da saúde;

XIII - assistência judiciáriae defensoria pública;

XIV - normas de proteçãoe integração das pessoas porta­doras de deficiência;

XV - direito urbanístico;XVI - normas de proteção

à infância e à juventude;

XVII - organização, ga­rantias, direitos e deveres daspolícias civis:

§ 1°-- No âmbito da legisla­ção concorrente, a competên-

Votaram: 462Sim: i 283Não: 164Abstenção: 15

A eleição e posse de gover­nador foi definida por uma fu­são de emendas dos constituin­tes Fernando Gomes (PMDB- BA), Percival Muniz

:NúMERODE DEPUTADOS

Art. 28. - O número dedeputados à Assembléia Legis­lativa corresponderá ao triploda representação do estado naCâmara dos Deputados e, atin­gido o número de trinta e seis,será acrescido de tantos quan­tos forem os deputados fede­rais acima de doze.

1°- O mandato dos depu­tados estaduais será de quatroanos, aplicadas as regras destaConstituição sobre sistemaeleitoral, inviolabilidade, imu­nidades, remuneração, perdade mandato, licença, impedi­mentos e incorporação às For­ças Armadas.

§ 29 - A remuneração dosdeputados estaduais será fixa­da, em cada legislatura para asubseqüente pela AssembléiaLegislativa, sujeita aos impos­tos gerais, inclusive os de rendae os extraordinãriosi

§ 39 - Compete às assem­bléias legislativas dispor sobreseu regimento interno, políciae serviços administrativos desua secretaria, provendo osrespectivos cargos.

ELEIÇÃO E POSSEArt. 29. - O governador e

o vice-governador serão eleitosaté quarenta e cinco dias antesdo término do mandato de seuantecessor, para mandato dequatro anos, e tomarão posseno dia primeiro de janeiro doano subseqüente, aplicando-sea regra do artigo 89.

Este dispositivo é oriundo deemenda do constituinte IbsenPinheiro (PMDB - RS) emco-autoria com o constituinteGerson Camata (PMDB ­ES).

BENS DOS ESTADOSArt. 27 - Incluem-se entre

os bens dos estados: .I - as águas superficiais ou

subterrâneas, fluentes, emer­gentes e em depósito, ressal­vadas, neste caso na forma dalei, aquelas decorrentes deobras da União;

II - as ilhas oceânicas e ma­rítimas já ocupadas.pelos esta­dos;

IH - as ilhas fluviais e la­custres não pertencentes à

'União; .IV - as terras devolutas

não compreendidas entre as daUnião;

V - as terras de extintos al­deamentos indígenas.

Não houve emendas a qual­quer um desses dispositivos.

445347

8711

mir Achoa (PMDB - SP) eJosé Mauricio (PDT - RJ).NOVOS MUNIcípIOS

§ 3°- A criação, a Incorpo­ração, a fusão e o desmembra­mento de municípios preserva­rão a continuidade e a unidade

. histórico-cultural do ambienteurbano, dar-se-ão por lei esta­dual, obedecidos requisitosprevistos em lei complementarestadual e dependerão de con­sulta prévia, mediante plebis­cito, às populações diretamen­te interessadas.

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

Todos esses dispositivos fo­ram mantidos iguaisao texto doCentrão.GÁS CANALIZADO

§ 2°- Cabe aos estados ex­plorar diretamente ou median­te concessão à empresa estatal,com exclusividade de distribui­ção, os serviços locais de gáscanalizado.Votaram: 422Sim: 325Não: 81Abstenção: 16

o texto acima é fruto de umafusão de emendas dos consti­tuintes Airton Sandoval(PMDB - SP), FernandoGasparian (PMDB - SP), Sa-

ADlRP/GuJlhcnnc Rangcl

tia da União limitar-se-á a es­tabelecer normas gerais.

§ 2°- Inexistindo lei fede­ral sobre matéria de competên­cia concorrente, os estadosexercerão a competência legis­lativa suplementar para aten­der às suas peculiaridades.

'" _'o _: ......

A agilização dos trabalhos da Constituinte chegou a produzir, num mesmo dia, 28 votações

CAPÍTULOITIDOS ESTADOS FEDERADOS

Art. 26 - Os estados orga­nizam-se e regem-se pelasConstituições ~ leis que adota­rem, observados os princípiosdesta Constituição.

§ 1°- São reservadas aosestados as competências quenão lhes sejam vedadas por es­ta Constituição.

324291

258

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

Jornal da Constituinte 5

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CA. ~ ::: ACOMPA~IHE oTEXTO NA NOVA CARTA .. " .... ,... ACOM NOVACAR.

o texto é de autoria da Cons­tituinte Lídice da Mata (PC doB - BA), que se diferencia da

Votaram: 437Sim: 421Não: 11Abstenção: 5

(P.MDB - MT) e Nion Alber­naz (PMDB - GO).

IMPEDIMENTOArt. 30. - Perderá o man­

dato o governador ou prefeitoque assumir outro cargo oufunção na administração públi­ca direta ou indireta, ressalva­da a posse em virtude de con­curso público, observado o dis­posto no art. 49.

CAPÍTULO IVDOS MUNICÍPIOS

Art. 31. -O município re­ger-se-á por lei orgânica, vota­da em dois turnos, com o in­terstício mínimo de dez dias,e aprovada por dois terços dosmembros da Câmara Munici­pal, que a promulgará, atendi­dos os princípios estabelecidosnesta Constituição e na Consti­tuição dos respectivos estados,observados os seguintes pre­ceitos:

451336105

10

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

Com esta votação foi apro­vado o destaque do constituinteMaguito Vilela (PMDB ­GO), recuperando o texto daComissão de Sistematização.

(Continua na próxima edtção.]

cia, bem como aplicar as suasrendas, sem prejuízo da obri­gatoriedade de prestar contase publicar balancetes nos pra­zos fixados em lei;

IV - criar, organizar e su­primir distritos, observada a le­gislaçáo estaduai;

V - organizar e prestar, di­retamente ou sob regime deconcessão ou permissão, osserviços públicos de interesselocal;

VI - manter, com a coope­ração técnica e financeira daUniáo e do estado, programasde educação pré-escolar e deensino fundamental;

VII - prestar, com a coope­ração técnica e financeira daUnião e do estado serviços deatendimento à saúde da popu­lação;

VIII - promover, no quecouber, o adequado ordena­mento territorial, medianteplanejamento e controle douso, parcelamento e ocupaçãodo solo urbano;

IX - promover a proteçãodo patrimônio histórico-cultu­ral local, observada a legisla­ção e ação fiscalizadora federale estadual.

Não houve qualquer emendaa estes dispositivos, sendo man­tido o texto da emenda substi­tutiva do Centrão.

FISCALIZAÇÃOArt. 37 - A fiscalização fi­

nanceira e orçamentária domunicípio será exercida pelaCâmara Municipal, mediantecontrole externo e pelos siste­mas de controle interno do Po­der Executivo municipal, naforma da lei.

§ 10- O controle externo

da Câmara Municipal seráexercido com o auxílio do Tri­bunal de Contas do estado oudo Conselho ou Tribunal deContas dos municípios, ondehouver.

§ 29 - O parecer prévio so­bre as contas que o prefeito de­ve prestar anualmente, emiti­do pelo órgão competente, so­

.mente deixará de prevalecerpor decisão de dois terços dosmembros da Câmara Munici­pal.

§ 30- As contas dos muni­

cípiosficarão, durante sessentadias, anualmente, à disposiçãodos contribuintes para examee apreciação. Qualquer cida­dão poderá questionar-lhes alegitimidade, nos termos dalei.

§ 49 - É vedada a criaçãode tribunais, Conselhos ou ór­gãos de Contas municipais.

464445

136

Votaram: 473Sim: 186Não: 280Abstenção: 7

A votação acima derrotou odestaque requerido pelo consti­tuinte Antonio Britto (PMDB- RS), que pedia a reposiçãodo texto da Comissão de Siste­matização. Foram realizadasoutras cinco votações para quefosse mantido o texto do Cen­trão. Observação: o artigo 89a que se refere o dispositivo aci­ma trata da eleição em dois tur­nos para presidente da Repú­blica, e que será votado no Títu­lo W - da Organização dosPoderes e do Sistema de Go­verno.

JULGAMENTOArt. 34 - O prefeito será

submetido a julgamento pe­rante o Tribunal de Justiça.

Art. 35 - A remuneraçãodo prefeito, vice-prefeito e dosvereadores será fixada pela Câ­mara Municipal, para cada le­gislatura, dentro de limites es­tabelecidos na ConstituiçãoEstadual e estará sujeita aosimpostos gerais, inclusive o derenda.

redação proposta pela Sistema­tização no sentido de que au­menta o número de vereadoresde 33 para 55 nas cidades compopulação acima de cinco mi­lhões de habitantes.

Parágrafo único. O man­dato de vereador terá a dura­ção de quatro anos.

Mesmo texto apresentado pe­la Sistematização e pelo Cen­trão, sendo que não houve pe­didos de destaque para a má­teria.

ELEIÇÃO E POSSEArt. 33 - O prefeito e o vi­

ce-prefeito serão eleitos aténoventa dias antes do términodo mandato de seu antecessor,para mandato de quatro anose tomarão posse dia trinta e umde janeiro do ano subseqüente,aplicadas as regras do artigo89, nos casos dos munícipiosde mais de duzentos mil elei­tores.

O texto acima é resultado de~' I uma fusão de emendas dos

constituintes Waldeck Ornéllas(PMDB - BA), Antonio Brit­to (PMDB - RS) e Harlan Ga­delha (PMDB - PEJo

COMPETÊNCIAArt. 36 - Compete aos

municípios:I -legislar sobre assuntos

de interesse local;II - suplementar a legisla­

ção federal e a estadual no quecouber;

III - decretar e arrecadaros tributos de sua competên-

Votaram:.: Sim:"; Não:

Abstenção:

. i

, , ,i

Ronan Tito, da tribuna, faz defesa da unicidade sindical

ADIRPlWilliam Prescott

368336

2210

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

Com esta votação foi apro­vado o capítulo inteiro daemenda do Centrão relativa aosmunicípios. Em seguida foram .votadas as emendas e os desta­ques.

I - eleição do prefeito, dovice-prefeito e dos vereadoresmediante pleito direto simul­tâneo realizado em todo o país;

II - inviolabilidade dos ve­readores por suas opiniões, pa­lavras e votos no exercício domandato, na circunscrição domunicípio:

III - proibições e incompa­tibilidades, no exercício da ve­reança, similares, no que cou­ber, ao disposto nesta Consti­tuição para os membros do.Congresso Nacional e, naConstituição do respectivo es­tado, para os membros da As­sembléia Legislativa;

IV - organização das fun­ções legislativas e fiscalizado­ras da Câmara Municipal;

V - cooperação das asso­ciações representativas debairro com o planejamentomunicipal;

Art. 32. - Respeitada aproporcionalidade com a po­pulação do município, o núme­ro de vereadores será de no mí­nimo nove e no máximo 21 nosmunicípios de até um milhãode habitantes; no mínimo de33 e no máximo de 41 nos mu­nicípios de até cinco milhõesde habitantes e no máximo de55nos municípiosacimade cin­co milhões de habitantes.

6 Jornal da Constítuínte

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Erradicação da miséria une 292ADIRPlReynaldo Stavale

DECISÃO FINAL

O objetivo fundamental do mo­vimento é o de consagrar na novaCarta do país, entre outros pontosbásicos, as seguintes questões: oplanejamento regional, inclusiveosinstrumentos e as instituiçõesde fomento regional; representa­tividade das regiões, tanto na Câ­mara dos Deputados como na elei­ção para presidente da República;o sistema tributário, que fortaleçaestados e municípios sem compro­meter a Federação e o combatedas desigualdades regionais; Or­çamento da União regionalizado,'segundo critério populacional, deforma a garantir as condições mí­nimas e necessárias ao desenvol­vimento das regiões.

É agora ou nunca. Preteridasem todas as Constituições anterio­res, as regiões Norte/Nordes­te/Centro-Oeste se ressente deuma política econômica e socialmais planejada. Com a criação domovimento, que reúne 292 parla­mentares, uma só vontade: a degarantir para as regiões' o que asoutras Constituições negaram poromissão, por desinteresse ou porfalta de coesão política. Foramomissas a Constituição do Impériodo Brasil (25 de março de 1824);a Constituição da República dosEstados Unidos do Brasil (24 defevereiro de 1891)e a Constituiçãoda iRepública dos Estados Unidosdo; Brasil (16 de julho de 1934).As Constituições de 1934, 1946,1967 e a de 1969, embora tenhamcontemplado as questões regio­nais, pecaram, depois, na sua apli­cação, contribuindo para que asregiões se transformassem em ver­dadeiros bolsões de miséria.

A Constituição de 1967, porexemplo, ao extinguir o Fundo daSeca destinado ao Nordeste, des­viou recursos considerados essen­ciais para combater os problemasestruturais, decorrentes dos fenô­menos da estiagem. Além disso,enfraqueceu de forma arrasadora

,as instituições voltadas para o de­senvolvimento regional. Esta car­

'ta outorgava poderes abusivos àUnião, através, sobretudo, de umsistema tributário altamente cen­tralizador.

I

'\

'Oeste vêm discutindo, detalhada­mente, todas as emendas que afe­tam direta, e indiretamente, ou deforma positiva e negativa, os inte­resses políticos, econômicos e so­ciais dessas regiões. As preocupa­ções do Grupo, no momento, sãoquanto à aceleração dos trabalhosda Constituinte e à busca do con­senso entre as centenas de emen­das apresentadas pelos parlamen­tares na Assembléia NacionalConstituinte.

São mais decem emendas

que visamreduzir os

desníveis derenda e porfim aos doisbrasis para

criar um paísrico e Justo

Centro-Oeste (A'ditiva ao Proje­to). Voto: Sim I

- Recursos orçamentários pa-'ra a irrigação (art. 28 do Projetode art. 27 do Centrão). Voto: Sim

- Manutenção da Zona Francade Manaus (art. 36 do Projeto edo Centrão). Voto: Sim

Reunidos todos os dias, às 9 ho­ras, na biblioteca da Câmara dosDeputados, os parlamentares dasregiões Norte/Nordeste/Centro-

,~ , ~ ';.:;.:;.,...

Bancadas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste se reúnem com Ulysses Guimarães e pedem apoio

A mobilização extrapola os limites da assembléia, ganha as ruas e empolga os que não aceitam um país desigual

ADIRPlReyn~l~ Stavale

Chegou a hora. Agora é pra va­ler. Os 292 parlamentares quecompõem o movimento Norte/Nordeste/Centro-Oeste, unidos,começam a discutir e a votar, noplenário da Constituinte, as emen­das que, aprovadas, vão benefi­ciar, direta e indiretamente, umapopulação de cerca de 60 milhõesde brasileiros, espalhados por 7milhões de quilômetros quadra­dos.

O movimento, que se fortaleceucom o início dos trabalhos da As­sembléia Nacional Constituinte,tem como objetivo defender e fa­zer aprovar as propostas que, cer­tamente, reverterão o quadro depobreza e miséria secular dessasregiões. Suprapartidário, o movi­mento congrega parlamentares detodos os partidos.

À VOTAÇÃO, TODOSA partir desta semana, o Plená­

rio da Constituinte começa a dis­cutir cerca de 100 emendas de inte­resse do Grupo dos 292 constituin­tes do Norte, Nordeste e Centro­Oeste. Entre as emendas, estãoem pauta as seguintes propostasque, de acordo com um dos coor­denadores do Grupo dos 292,constituinte Albérico Cordeiro,vão receber os votos sim ou nãodo Grupo:

- Nova composição da Câmarados Deputados (art. 56, § 2°, doProjeto e art. 55, § 2°, do Cen­trão). Voto: Sim

- Voto ponderado, para a elei­ção presidencial (art. 91 do Proje­to). Voto: Sim

- Adicional de 5% do Impostode Renda (art. 184, § 19, do Pro­jeto e do Centrão). Voto: Não

-3% do Imposto de Rendamais IPIpara financiamento do se­tor produtivo, nas três regiões(art. 188, I, C, do Projeto e doCentrão). Voto: Sim

- Regionalização do 'Orçamen­to fiscal e das estatais, segundo ocritério populacional (art. 194, §5°, do Projeto e do Centrão). Vo­to: Sim

- Quorum de 2/3 do Senadopara fixação de alíquotas' interes­taduais do ICM (art. 184, § 5°, doProjeto e art. 184, § 6°, do Cen­trão). Voto: Não

-Fixação, pelo Senado, dasalíquotas mínimas e máximas dasoperações internas (art. 184, § 69,

do Projeto e art. 184, § 7°, do Cen­trão). Voto: Sim

- Restabelecimento do plane­jamento nacional equilibrado (art.203, § 4°, do Projeto. Omitido noCentrão). Voto: Sim

- Aplicação, pelas instituiçõesfinanceiras regionais, dos recursosdo Governo Federal voltados parao desenvolvimento regional (art.228, § 2°, do Projeto e art. 225,§ 2°, do Centrão). Voto: Sim

- Cumprimento da regionali­zação do Orçamento pelo critériopopulacional (art. 14, § 1°, dasDisposições Transitórias do Cen­do Centrão). Voto: Sim

- Imediata aplicação dos 3%do Imposto de Renda, mais IPI,nas Regiões Norte/Nordeste e

Jornal da Constituinte

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Pelo texto aprovado do projetoda nova Constituição, basta ao

partido conseguir eleger pelo me­nos um parlamentar para ter direi­to a essa representação no Con­gresso. A exigência de votaçõesmínimas, embora conste da Cons­tituição há vãnos anos, nunca che­gou a ser aplicada, uma vez quesempre, antes das eleições, houveacordos no sentido de suspendê­la.

No seu art. 18, a proposta apro­vada diz: "E livre a criação, fusão,incorporação e extinção dos Parti­dos Políticos, resguardados a so­berania nacional, o Regime De­mocrático, o Pluripartidarismo eos Direitos Fundamentais da Pes­soa Humana, e observados os se­guintes princípios: I) caráter na­cional; 11) proibição de recebi­mento de recursos financeiros deentidade ou governo estrangeiros,ou de subordinação a estes; 111)prestação de contas à Justiça Elei­toral, através do balanço financei­ro e patrimonial do exercício; IV)funcionamento parlamentar deacordo com o que dispuser a Lei".Seguem então quatro parágrafos,a saber: § 1°- "E assegurada aosPartidos Políticos autonomia paradefinir sua estrutura interna, orga­nização e funcionamento, deven­do seus estatutos estabelecer nor­mas de fidelidade e disciplina par­tidárias"· § 2°- "Os Partidos Po­líticos, após ~dquirirem persona- 'lidade jurídiéa, na forma da LeiCivil, registrarão seus Estatutosno Tribunal SUJ?erior Eleitoral";§ 3° - "Os Partidos Políticos têmdireito a recursos do Fundo Parti­dário e acesso gratuito ao rádioe à televisão, na forma da Lei"; ,§ 4°- "E vedada a utilização pe­los Partidos Políticos de organiza­ção paramilitar."

O caput desse art. 18 guardamuita semelhança com o art. 152da Constituição vigente, que tratado mesmo assunto. A diferençaé que o projeto da nova Consti­tuição fala em liberdade tambémpara a fusão, incorporação e extin­ção de partidos, enquanto a Cons­tituição atual fala apenas que é li­vre a criação de partidos. Os tex­tos das duas Constituições, ernbo­rã não sigam a mesma ordem, têmvários pontos em comum, comoa questão do caráter nacional dopartido e como a proibição para­militar. Mas, além da novidadeque é o § 1° do art. 18 da Carta,em elaboração que garante a auto­nomia interna dos partidos, háainda outras diferenças. Na Cartaatual, é proibida a subordinaçãodos partidos a entidade ou Gover­no estrangeiro. Na Carta em vota­ção além da subordinação, fica ve­dado também o recebimento derecursos financeiros. Na Cartaatual o Partido adquire persona­lidade jurídica através do registrono TSE. Na nova Carta, o Partidoadquire personalidade jurídica aose constituir, na forma da Lei Ci­vil, e o Registro no TSE passa aser mera formalidade, e não maiscondição prévia à obtenção depersonalidade jurídica. E o § 3°,que garante constitucionalmente oacesso dos partidos aos meios decomunicação de massa, é maisuma inovação de cunho democrá­tico.

ESTADO

Chegamos então ao Título 111,que trata da Organização do Esta­do. O Capítulo I deste Título IIIaborda a Organização Político­Administrativa e começa no art.19, cujo texto é o seguinte: "Aorganização político-administrati-

No Estado,nospartidos e

eleições, maismudanças

o primeiro turno de votação da futura Consti­tuição traz, entre muitas inovações, a garantia demaior liberdade e autonomia aos partidos políticos,inclusive para definir livremente sua estrutura, organi­zação e funcionamento. Além disso, os partidos nãomais estarão sujeitos à exigência de percentuais míni­mos de votação para que possam ter direito à represen­tação no Congresso Nacional. Outra importante ino­vação é o estabelecimento de dois turnos de votaçãonas eleições para governador de estado e prefeitosde cidades com mais de 200 mil eleitores. Tambémsurge como avanço a concessão da autonomia políticapara o Distrito Federal, que vai passar a eleger ogovernador e deputados distritais.

-=-

va da República Federativa doBrasil compreende a União, os es-'tados, o Distrito Federal e os mu­nicípios, todos autônomos, nostermos desta Constituição; § 19 ­

Brasília é a Capital Federal; § 2°- Os Territórios Federais inte-.-gram a União; § 3° - Os estadospodem incorporar-se entre si, sub­dividir-se ou desmembrar-se parase anexarem a outros ou forma­rem novos' estados ou TerritóriosFederais mediante aprovação dàpopulação diretamente interessa­

'da, através de plebiscito, e doCongresso Nacional, medianteLei Complementar; § 4° - LeiComplementar disporá sobre acriação de Território, sua transfor­mação em estado, ou sua reinte­gração ao estado de origem; § 5°- Os estados, o Distrito Federal,os territórios e os municípios po­derão ter símbolos próprios."

A grande novidade está no § 3°,que define a questão da criaçãode estados. A Constituição vigen­te dispõe, no seu art. 3°, que "acriação de estados e territórios de­penderá de Lei Complementar",e depois, no seu art. 44, inclui en­tre as competências exclusivas doCongresso Nacional "aprovar a in­corporação ou desmembramentode áreas de estado ou de territó­rios". Ou seja, pela Constituiçãovigente o Congresso Nacional de­tém plenos poderes para, atravésde Lei Complementar, decidir so­bre essa questão. A Constituiçãoem elaboração altera essa situa­ção, ao afirmar que qualquer tipode alteração da geografia política

dos estados brasileiros dependerá,antes de mais nada, da aprovaçãoda população diretamente interes­sada, através de plebiscito. Umavez que, em plebiscito, essa popu­lação tenha se manifestado favora­velmente, será a vez do CongressoNacional ratificar ou não a deci-.são. A última palavra, portanto,continuará sendo do CongressoNacional, mas nada poderá ser fei­to, nesse campo, sem a aprovaçãoinicial da população interessada.

No artigo seguinte, o 20, o Pro­jeto da Nova Constituição repetea Constituição vigente. Diz o art.20: "A União, aos estados, ao Dis­trito Federal e aos municípios évedado: I) estabelecer cultos reli­giosos ou igrejas, subvencioná­los, embaraçar-lhes o exercício oumanter com eles ou seus represen-,ta~tes relações de dependência oualiança, ressalvada a colaboraçãode interesse público, na forma dalei; 11) recusar fé aos documentospúblicos; 111) criar distinções entrebrasileiros, ou preferência em fa­vor de uma das pessoas de direitopúblico interno mencionadas nocaput deste artigo." O texto doart. 9° da Constituição vigente épraticamente igual.

Posses em1~ e 31 dejaneiroJEleiçãoldireta ,para 01

GovernodoDFeem aois;turnos,

nos Estados,sempre em

1~ de 'novembro

8 Jornal da Const

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Aos poucos, a nova Cartavai ganhando corpo, comdireitos, garantias e deveressendo estabelecidos nosmais variados campos deatividades. A semana quepassou contemplou, de modoparticular, a estrutura doEstado; definindo acompetência da União, dosEstados e Municípios. Ohomem, como ser político,habita todos esses espaçose deve geri-los sempre melhor.

BENS

o art. 21 da Carta em exametrata dos bens da União. A listadesses bens vai crescer, com a in­clusão dos seguintes itens: praias:(luviais e terras marginais dos la­gos e rios di domínio da União,ou que banhem mais de um Esta­do, ou' que constituam limites comoutros países, se estendam a terri­tório estrangeiro ou dele prove­nham; praias marítimas; ilhas ma­rítimas, excluídas as já ocupadaspelos estados e municípios; terre­nos de marinha e seus acrescidos;potenciais de energia hidráulica;recursos naturais, inclusive os dosubsolo; cavidades naturais sub­terrâneas de interesse científico outurístico, assim como os sítios ar­queológicos e pré-históricos, alémdisso, outros itens ficam melhorespecificados. A atual Constitui­ção fala, por exemplo, na "porçãode terras devolutas indispensávelà segurança e ao desenvolvimentonacionais". A futura Constituiçãoé mais objetiva: "As terras devo­lutas indispensáveis à defesa dasfronteiras, das fortificações econstruções militares, das vias fe­derais de comunicação, e à preser­vação ambiental". A atual Consti­tuição inclui também entre os bens

da União "os que atualmente lhepertencem". A Nova Constituiçãocompleta: "os bens que atualmen­te lhe pertencem ou que lhe víe­rem a ser atribuídos" .

A maior inovação deste artígç21, porém, está no seu § 1°: "Eassegurada, nostermos da Lei, âosestados, ao Distrito Federal, aosmunicípios e órgãos da Adminis­tração direta da União, compen­sação financeira ou participação.no resultado da exploração de re­cursos hídricos para fins de gera­ção de energia elétrica, de petró­leo ou gás natural e dé outros re­cursos minerais em seus Territó­rios, bem como na plataformacontinental, no mar territorial ena zona econômica exclusiva res­pectivos". Esse parágrafo assegu­ra o pagamento de royalties cor­respondentes a determinadas ati­vidades de exploração econômica,e vem ao encontro de aspiraçõesde muitos estados e municípios.A Constituição vigente é inteira­mente omissa a esse respeito.

COMPETÊNCIAS

A lista das competências daUnião, de que trata o artigo 22do Projeto da nova Constituição

sofreu algumas mudanças. Porexemplo pela Constituição vigen­te, entre as competências daUnião está a de "explorar, direta­mente ou mediante autorização,ou concessão: a) os serviços de te­lecomunicações; b) os serviços e'instalações de energia elétrica dequalquer origem ou natureza; c)a navegação aérea; d) as vias detransporte entre portos marítimose fronteiras nacionais ou quetransponham os limites de Estadoou Território". O novo texto in­troduz uma diferenciação entre ti­pos de serviços: "explorar direta­mente ou mediante concessão aempresas sob controle acionárioestatal os serviços ~elefônicos, te­legráficos, de transmissão de da­dos e demais serviços públicos detelecomunicações, assegurada aprestação de serviços de informa­ções por entidades de direito pri­vado através da rede pública detelecomunicações explorada pelaUnião". E, no item seguinte: "ex­plorar diretamente ou medianteautorização, concessão ou permis­são: a) os serviços de radiodifusãosonora, de sons e imagens; b) osserviços e instalações de energiaelétrica e os potenciais hidroener­Eéticos; c) a navegação aérea, ae­roespacial e a infra-estrutura por­tuária; d) o transporte ferroviárioe aquaviário entre portos brasilei­ros, em fronteiras nacionais ou

'lue transponham os limites de Es­tado ou "Território; e) os serviços.de transporte rodoviário interes­tadual e internacional de passagei-

°ros; f) os portos marítimos, flu­viais e lacustres".

Outro exemplo de alteração detexto neste artigo: a Constituiçãovigente fala em "fiscalizar as ope­rações de crédito, capitalização eseguros", enquanto a futura diz"administrar as reservas cambiaisdo País e fiscalizar as operaçõesde natureza financeira, especial­mente as de crédito, câmbio e ca­pitalização, bem como as de segu­ros e de Previdência Privada".

Além disso, várias outras com­petências novas estão sendo atri­buiídas à União, como: organizare manter os serviços oficiais de es­tatística, geografia,. Geologia eCartografia de âmbito nacional;exercer a classificação, para efeitoindicativo, das diversões públicase programas de telecomunicações;instituir sistema nacional de ge­renciamento de recursos hídricose definir critérios de outorga dedireitos de seu uso; instituir dire­trizes para o desenvolvimento ur­bano, inclusive habitação, sanea­mento básico e transportes urba­nos; explorar os serviços e instala­ções nucleares e exercer monopó­lio estatal sobre a pesquisa, lavra,enriquecimento, reprocessa­mento, industrialização e comér­cio de minérios nucleares e seusderivados, atendidos os requisitosde que toda atividade nuclear so­mente será admitida para fins pa­cíficos e mediante aprovação doCongresso Nacional, e de que, sobregime de concessão ou permis­são, é autorizada a utilização deradioisótopos para a pesquisa euso medicinais, agrícolas, indus­triais e atividades análogas; 'orga­nizar, manter e executar a inspe­ção do trabalho; e estabelecer áreae condições para o exércício degarimpagem, em forma associati­va".

ELEIÇÕES

Mais adiante, no Capítulo quetrata dos Estados Federados, fo­ram adotadas algumas decisõesimportantes de cunho político. Aprincipal delas foi a de que o Go­vernador de Estado, assim comoo seu vice, será eleito através domesmo sistema usado na eleiçãodo Presidente da República, quedeverá ser o da eleição em doisturnos. A eleição em dois turnos,que nunca foi utilizada no Brasil,está sendo consagrada na vindou­ra Constituição, que a estende ain­da à eleição dos prefeitos das cida­des com mais de 200 mil eleitores..Por este sistema, caso nenhum doscandidatos obtenha maioria abso­luta dos votos válidos, os dois maisvotados vão para segundo turnode votação.

Além disso, ficou estabelecidoque o governador e o vice-gover­nador de estado serão eleitos até45 dias antes do término do man­dato do antecessor, para mandatode 4 anos, e tomarão posse no dia1°de janeiro do ano subseqüente.Atualmente, os Governadores to­mam posse no dia 15 de março,e são eleitos até 120 dias antes dotermino do mandato do seu ante­cessor no cargo. Já os Prefeitos,pela nova Constituição, passarãoa tomar posse no dia 31 de janeiro,e serão .eleitos até 90 dias antesdo fim do período do antecessor,para mandatos também de 4 anos.

Outra novidade é a relativa aonúmero dos Vereadores. A Cons­tituição vigente estabelece que,nos municípios com mais de ummilhão de habitantes, o númerode vereadores é de 33, enquantonos 'demais municípios o númeromáximo é de 21 e o mínimo de9, guardando proporcionalidadecom o eleitorado. Já a Constitui­ção em votação eleva o númeromáximo de vereadores para 55 nosmunicípios acima de 5 milhões dehabitantes. Os municípios entreum milhão e 5 milhões de habitan­tes, que hoje têm 33 vereadores,poderão ter entre 33 e 41. E, nosmunicípioscom menos de um mi­lhão de habitantes, fica tudo comoestá: mínimo de 9 e máximo de21 vereadores.

Outra novidade é que o impostode renda passará a incidir sobreo vencimento integral dos depu­tados estaduais e dos vereadores.E, sobre a questão da formaçãode novos municípios, ficou deci­dido o seguinte: "A criação, a in­corporação, a fusão e o desmem­bramento de Municípios preserva­rão a continuidade e a unidade his­tórico-cultural do ambiente urba­no, dar-se-ão por lei estadual,obedecidos requisitos previstos

I em lei complementar estadual, edependerão de consulta prévia,mediante plebiscito, às popula­ções diretamente interessadas".Outra inovação que merece men­ção é a relativa à iniciativa popularem âmbito estadual. O artigo 28da nova Constituição diz que "alei disporá sobre a iniciativa popu­lar no processo legislativo esta­dual" .

BRASÍLIA

Avanço de conteúdo democrá­tico foi adotado em relação ao Dis­trito Federal, que passará a gozarde autonomia política, legislativa,administrativa e financeira. O DFserá administrado por um gover­nador eleito diretamente, e teráuma Assembléia Legislativa com­posta 'por 24 deputados distritais.A eleição do governador e do seuvice seguirá o mesmo preceito es­tabelecidopara a eleição do presi­dente da República e dos governa­dores de Estado - ou seja, os doisturnos -, e coincidirá com a elei­ção dos governadores estaduais,para igual mandato de 4 anos, bemcomo coincidirá também com aeleição dos deputados distritais. Arealização da primeira eleição pa­ra governador e deputados distri­tais do DF ainda depende do quevier a ser aprovado a respeito noCapítulo das Disposições Transi­tõrias, onde pode ser incluído umdispositivo estabelecendo eleiçãoextraordinária em 88 para ummandato tampão de dois anos, jáque, em 1990, deverão ser realiza­das novas eleições, concomitantescom as dos demais Estados daFederação.

Luís Cláudio Pinheiro

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"A lei punirá como crime inafiançável qu~lquer discriminação atentatóridos direitos e liberdades fundamentais, A pratica do racismo constituí cnmeinafiançável e sujeito a pena de reclusão, nos termos da lei."

Livres, masem busca da

igualdade

A proposição que resultou na Lei Áurea, promulgada a 13 de mato de 1888, foi levada à Câmara dos Deputados cincodias antes

tro projeto, em 1850, extinguindoo comércio negreiro.

Seguiu-se então o projeto dodeputado Pedro Pereira da SilvaGuimarães, concedendo liberda­de a todos os nascidos de ventrede escravos no Brasil, e que aca­bou não sendo aceito em face dosaspectos progressistas que conti­nha. Mas os legisladores que de­fendiam o fim da escravidão nãodesanimaram. Em 1862, o sena­dor José Inácio Silveira da Matapropôs a proibição da venda deescravos em pregão e exposiçãopública, bem como a nulidade dasvendas que separassem o maridoda mulher e os filhos dos pais es­cravos, exceto os maiores de 21anos.

Em 1866, José Pimenta Buenopropõe ao Imperador cinco proje­tos tratando da emancipação dosescravos. E na Fala do Trono, a3 de maio de 1883, o Imperador,quebrando o silêncio de alguns

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llttençíloA l".quim de SaaJllaio Goel, ~on~eido

par Quilo de ~amp.io. m4.l.du- .. Campinas,fugif) no dia 2t de Dezembro de ~8;a o filtra.'0 Rofino, crcouJo da Bá'hiá, Idade 25fllnoosmlis ou menos, altura felullr, bem feito decorpo, c6r lula, quasi mulato, ~ermelho. ea­bellos greehes, pOutoa barbl, boa deDladura,teml o rosto bem heJlpso. &em o bneo direitoquebrado, perto dalDuDbeea, tem OI~I muitoI:Ir,08, 'OIJied(tI.paade. muiJo ,"rl.ol, é·beQlladino. gOlta dtt caour, e &em .bOa 901. Quemo -prender ~ Ie.,ar ao Ie~ llenbor, lerá gratifi­cado. PrOWSla·18 couU.queJl oti,er Icouta..do tom o riaor d. lei..

'Anúncios como este enchiam a imprensa há pouco mais de cem anos

A abolição da escravatura noBrasil, embora pacífica, resultoude um longo processo entremeadodas mais diversas iniciativas, de­núncias e apelos, envolvendo polí­ticos da época, pensadores e inte­lectuais.

A primeira iniciativa de caráterlegislativoe constituinte de que setem notícia a favor do fim da escra­vidão no país foi de autoria do Pa­triarca José Bonifácio de Andradae Silva. Mas não logrou êxito, emvirtude da dissolução da Assem­bléia Nacional Constituinte de1823pelo Imperador Pedro I. Masquase um século antes de Bonifá­CIO, o padre Manuel Ribeiro daRocha. em sua obra "Etíope Res­gatado", de 1757, já exigia quese concedesse liberdade aos ne­gros filhos de mães escravas.

O PROCESSOPromulgada a Constituição de

1824, recrudesceram os esforçoscom vistas ao fini do regime da .escravidão. A 18de maio de 1826,conforme registra Antônio Barre­to do Amaral, José Clemente Fer­reira apresentou um projeto de­terminando a suspensão do co­mércio de escravos, em todo o im­pério, a partir do último dia doano de 1840.Na mesma época sur­giu outra proposição, de AntônioFerreira França, que pretendiadar liberdade aos escravos que so­brevivessem aos seus senhoresquando estes viessem a falecersem deixar herdeiros. E, caso dei­xassem, seria dada liberdade à ter­ça parte dos escravos de sua posse.O mesmo Antônio Ferreira Fran­ça, em outro projeto, datado de1830, dava liberdade aos escravosdentro de 50 anos. E no ano se­guinte, 1831, outro projeto, domesmo autor, pretendia garantirtotal liberdade aos escravos desdelogo.

Outras iniciativasem defesa dosescravos, por essa época, foramtomadas por Francisco Xavier Pe­reira Brito, tornando obrigatóriaa libertação do escravo que ofere­cesse o seu valor, arbitrado emprocesso sumaríssimo, e pelo pa­dre Antônio João de Lessa, decla­rando livres todos aqueles negrosque, de qualquer modo, compro­vassemterem ingressado no Brasilatravés de contrabando, poste­riormente à época da suspensãodo comércio de escravos.

Foi então que, por iniciativa dodeputado Francisco Gê AcaiabaMontezuma, o Senado aprovouprojeto já adotado pela Câmara,declarando livres os escravos im­portados, e que se converteu emlei. O mesmo aconteceu com QU-

Cem anos transcorridosda promulgação da Lei Áu­rea, que libertou definitiva­mente todos os escravos noBrasil, a Constituinte de1988dá um novo passo, ago­ra não no sentido da liber­tação física, mas social, doelemento negro, ao estabe­lecer, de forma clara e am­pla, que racismo é crime,não tem fiança e provoca aprisão de quem o pratica.

O texto aprovado peloPlenário da Constituinte re­sulta de uma fusão da normaoriginalmente contida noprojeto da Comissão de Sis­tematização com emendaoferecida, respectivamente,pelo Centrão e pelos consti­tuintes Carlos Alberto Caó(PDT - RJ) e Benedita daSilva (PT - RJ).A inscrição, na Lei Maior

do País, do princípio de quenão pode haver qualquer ti­po de discriminação contrao negro, além de reforçar oprincípio constitucional deque "todos são iguais peran­te a lei" pode - e deve ­ser um passo, quiçá defini­tivo, no sentido da correçãodos preconceitos ainda hojeexistentes (embora muitasvezes negados) contra ho­mens, mulheres, crianças,jovens e velhos que diferemde outros apenas pela cor ~apele. E verdade que, hoje,não se lê mais anúncios nosjornais oferecendo recom­pensa pela captura de escra­vos foragidos, prática muitocomum na imprensa no finaldo século passado. Mas sub­sistem, sutilmente, algumasmaneiras de perseguiçãoaos negros, na medida emque se não lhes oferece asmesmas oportunidades detrabalho e de convivênciasocial, nem' mesmo de edu­cação e formação profissio­nal. Não fosse verdade essaobservação, teria sido des­necessária qualquer provi­dência .para garantir naConstituição a igualdadeentre os negros e os de qual­quer outra cor e raça.

10 Jornal da Constituinte

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anos sobre o assunto, se manifestapela gradual extinção da escrava­tura.

Em 1886, o conselheiro Dantasapresenta ao Senado um projetoque extinguia a escravidão no pra­zo de cinco anos. No mesmo ano,um outro projeto, de Afonso Cel­so Júnior, propunha o fim da es­cravidão em dois anos. No ano se­guinte, o conselheiro Dantas vol­tava a propor a abolição da escra­vatura a partir de 31 de dezembrode 1889.

ALEI ÁUREA

Na Fala do Trono, a 3 de maiode 1888, a Princesa Isabel, entãona Regência do Império, afirmavaque a abolição dos escravos eraum anseio da alma brasileira.

Quatro dias após, o ministroJoão Alfredo, apresentando-se àCãmara, julgou indispensável ex­planar seu programa por estar ex­presso na Fala do Trono. No diaseguinte, 7 de maio, dava entradana Câmara ofício do ministro daAgricultura solicitando "designa­ção de dia e hora para apresentaruma proposta do Poder Executi­vo".

Designado o dia imediato, às 14horas, ali compareceu ele, lendoo seguinte projeto de lei: "Art.1° - E extinta a escravidão noBrasil. Art. 2° - Revogam-se asdisposições em contrário."

Palmas esturgiram e manifesta­ções ruidosas de aplausos se fize­ram ouvir dentro e fora do recinto.Ainda seus ecos vibravam quandoo deputado Joaquim Nabucoapresentou requerimento paraque fosse nomeada uma comissãoespecial a fim de dar parecer sobrea proposta. Nomeada, reuniram­se imediatamente Duarte de Aze­vedo, Joaquim Nabuco, Gonçal­ves Ferreira, Afonso Celso Júniore Alfredo Correia, voltando, logoa seguir, com a conclusão: "A pro­posta satisfaz em tudo a longa as­piração do povo brasileiro, mere­cendo ser convertida em projetode lei. A 10 de maio era ela envia­da ao Senado. Ali, a requerimentode Sousa Dantas, uma comissãoemitiu parecer favorável e, empoucos minutos, foi o pareceraprovado, com dispensa de inters­tício, entrando na ordem do diada sessão imediata. No dia 13 demaio de 1888, era aprovada a re­dação final e sancionada pela prin-cesa Isabel a lei que recebeu o n°3.353. 'Estava concluída essa mis-são do Parlamento brasileiro. 1�o_ ...

Causa santa

A libertação dos escravos, coma incorporação de negros e índiosà sociedade brasileira, constava doprimeiro r.rojeto abolicionista deJosé Bonifácio de Andrada e Sil­va, o "Patriarca da Independên­cia".- O projeto foi elaborado para sersubmetido à Assembléia GeralConstituinte e Legislativa do Im­pério do Brasil, reunida em 1823.Mas nem chegou a ser discutido,em face da crise política que resul­tou na dissolução da Assembléiapelo Imperador D. Pedro 1.

O texto do projeto abolicionistade José Bonifácio era seguido deuma linguagem candente, emocio­nada, diferente do linguajar de ho­je em sua forma, mas perfeitamen­te compreensível no que tinha delibelo contra a privação das liber­dades fundamentais.

Dizia o patriarca, a certa alturada argumentação em defesa doprojeto: "Legisladores, não te­mais os urros do sórdido interesse:cumpre progredir sem pavor na-carreira da justiça (... )"

E, mais adiante: "Homens per­versos e insensatos! Todas essas ra­zões apontadas valeriam algumacoisa se vós fôsseis buscar negrosna Africa para lhes dar liberdadeno Brasil e estabelecê-los comocolonos. Mas perpetuar a escravi­dão, fazer desses desgraçadosmais infelizes do que seriam, sealguns fossem mortos pela espadada injustiça, e até dar azos certospara que se perpetuem tais horro­res, é de certo modo um atentadomanifesto contra as leis da Justiçae da religião."

O entusiasmo de Bonifácio nadefesa da liberdade aos negroscrescia à medida em que ele avan­çava na argumentação: "Não é odireito de propriedade que defen­deis mais o direito de força." -

E do verbo inflamado, passavaele quase que à prece serena paralembrar aos legisladores de entãoque libertar seres humanos do ju­go da escravidão era um impera­tivo divino. "Eu também sou cris­tão e filantropo, e Deus me animapara levantar minha fraca voz nomeio desta augusta Assembléia, afavor da causa da Justiça, e aindada sã política, a causa a mais nobree santa, que pode animar coraçõesgenerosos e humanos".

I

Para Caó, democracia só depois de resolvida a questão racial

O constituinte Carlos AlbertoCaó foi, por dois mandatos presi­dente do Sindicato dos JornalistasProfissionais do Rio de Janeiro,de onde somente saiu para inicial­mente tomar posse como deputa­do federal pelo Rio de Janeiro e,a seguir, ocupar o cargo de secre­tário do Trabalho do governo Leo­nel Brizola.

A sua emenda constitucionalque considera crime inafiançávela prática do racismo, sujeita a pe­na de reclusão, partiu de duas mo­tivações de natureza pessoal e po­lítica.

Do ponto de VIsta pessoal, Caóconhece, como de resto, a maioriada população brasileira, os efeitosperversos da drscrimmação racial,até mesmo quando é exercida deforma velada e disfarçada. Doponto de vista político, de mih­tante das lutas sociais, ele acredita

que, a proposta de construção deum Estado democrático e de umasociedade civilizada tem como umdos seus centros de gravidade asuperação das discriminações ra­ciais.

- Na minha opinião - diz orepresentante do Rio de Janeiro-, a resolução da questão racialbrasileira se confunde com um im­perativo histórico: é uma das facesda nação que tem que se expressare se representar dentro do próprioestado corno protagonista das de­cisões deste estado. Só se resolvea questão democrática resolvendoa questão racial.

Caó é também autor de uma ou­tra emenda, aprovada pela Consti­tuinte, que define como crime ina­fiançável a ação de grupos arma­dos, civis e/ou militares, contra oestado democrático.

- Tomei essa iniciativa por es-

-..Carlos Alberto Caó

tar convencido de que dentro deum sistema de convivência demo­crática é preciso assegurar que adisputa pelo poder e pelo prestígiodeve realizar-se de modo a assegu­rar a preservação da forma repre­sentativa de governo, do exercíciodo direito à cidadania, dos direitos

sociais dos trabalhadores, que sãoos primeiros afetados e atingidos,como demonstra a secular expe­riência brasileira, com a rupturada ordem constitucional.

É também co-autor da emenda,igualmente aprovada pela Consti­tuinte, dispondo que é livre a orga­nização dos trabalhadores e so­mente eles podem decidir sobrea base territorial das organizaçõessindicais, por categoria profissio­nal (Unicidade Sindical).

DEPOIMENTO

Um dos instantes mais significa­tivos da Assembléia NacionalConstitumte - declarou o relatorBernardo Cabral - foi, indubita­velmente, a aprovação da emendade autoria do ilustre deputadoCarlos Alberto Caó (PDT - RJ).

O resultado maciço da votação- 520 votos favoráveis, dois con-

itrários e uma única abstenção ­realizada no dia 2 de fevereiro 'de1988, consagrou a figura do consti­tuinte, uma vez que a proposiçãoficou aí registrada como EmendaCaó. Dispõe que "a prática do ra­cismo constitui crime inafiançável,sujeito à pena de reclusão, nos ter­mos da lei".

- Devo colocar em relevo ­na qualidade de relator e por terdado parecer favorável à EmendaCaó - que, ao aprová-la, a As­sembléia Nacional Constituintetomou uma histórica decisão, umato de afirmação que abre reaisperspectivas de construção, emnosso país, de uma democraciapluri-racial, de um estado que in­corpora definitivamente à sua es­trutura de decisões a diversidadecultural, étnica e política que sin­gulariza e caracteriza a nação bra­sileira.

Jornal da Constituinte 11

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Socialismodemocrático

Srs. Constituintes,Sou a favor de um socialismo

democrãtico, com a estatização dosistemahabitacional, educacional,de saúde, do sistema de produção,transporte coletivo e sistema ban­cário. Sou favorável ao fim da livreiniciativa, da especulação imobi­liária e tributária, da lei de greve;autonomia sindical; aposentado­ria por idade e não por tempo deserviço, ensino gratuito até o nívelsuperior, prioridade para a saúdee educação (... ) que se controlea remessa de lucros para o exterior(...)

Luiz Pinheiro de GodoyMoji das Cruzes - SP

Partidose fundações

Srs. Constituintes,A transformação dos partidos

políticos em fundações, com me­canismos próprios prevendo anga­riação de recursos, dotação fixa eigualpara todos os partidos, abrin­do possibilidades de estes recebe­rem doações de militantes e sim­patizantes para a campanha doscandidatos, cabendo a seus mem­bros a sua manutenção. Publica­ção no Diário Oficial e dos estadosde origem do inventário, de bensconstantes do patrimônio de pes­soa que vai exercer mandato legis­lativo ou qualquer função execu­tiva de projeção no dia em quetomar posse e no dia em que dei­xar o cargo.

Ronaldo Salles VieiraJundiai>- SP

Teresim, 09 de llO'l"e:nbro de 1987.

Srs. Constituintes,No campo tributário, que os impostos sobre as mercadorias,

de um modo geral no comércio e na-indústria, fossem reduzidosa tal ponto que se reflita no preço final ao consumidor. Impostosmenores, para todos; todos contribuem, e o saco será maior e melhorpara todos nós. ( ...).

Humberto AndradeSão Paulo - SP, ,

Prezados Senhores:

Cordialmente ,

Construçãocivil

JUSTITICA.TIVA: Só assir.1 tornar-se-a mais i'ácil o po­

vo brasileiro ter acesso e lei constitucional para poder e:::!.gir O seu'cu::Jprioento, fiscalizar e denunciar quando for infrlgi.c1.:l..

Srs. Constituintes,Que se reveja o estatuto da mi­

croempresa, principalmente noque se refere à indústria da cons­trução civil e serviços auxihares,enquadrando-o dentro do contex­to, para que possa satisfazer umnúmero considerável de pessoasde baixa renda que dele depen­dem. (... ) Acabar com o descontosobre o trabalho assalariado. OImposto de Renda deverá ser pa­go no ano subseqüente, eliminan­do-se o desconto na fonte. (... )

Rosangela dos SantosBelo Horizonte - Mf)

Venho através deesta propor aos senhores constituin­tes que seja csbudade a possibilidade de colocar um paroGr:.fo na nova'Constituiç::lo, obr-í gandc o Governo a distribuir un exenpãur- da nova. Cal:ta grates, para tod.:ls as Entidades sãnâãcea.s e Associações de moradores

Assoc.i:lçõc.s profissioro.i:1 de qu~lGuc:l' lUtUI'CZa, cone t~:i~::l para as I

Igrejas católic:ls e pr-ote st.antes de todo O Brasil independente de ser'req,uerida, b~IJ CQr,;Q qualquer pessoa fisic3. individual ou cu grupo des­desde quando requerido o referido exemplar.

~aior arrecadação

Srs. Constituintes,A Justiça deve ter maior agili­

dade e maior acessibilidade, de­vendo, para tanto, ter ampla re­forma. Que o mandato presiden­cialista seja de cinco anos, comdireito à reeleição. Redução dosmandatos de deputados e senado­res, para que nenhum exceda aodo presidente da Repúbica. Fimdos jetons, do decreto-lei e do de­curso de prazo. (... )

Sérgio Amaral SilvaSão Paulo - SP

Reformada Justiça

Fim doanalfabetismo

Direitos. .iguais

Srs. Constituintes,A futura Constituição deve pre­

servar integralmente a liberdadeatravés do total respeito aos direi­tos dos homens. (... ) A Consti­tuição deve negar o voto ao analfa­beto, mas, antes de tudo, provi­denciar para que não exista maisanalfabetos no país. O voto deveser livre para que se possa concre­tizar a democracia. (... )

Srs. Constituintes,Que nenhum acordo internacio­

nal ou empréstimo possa ser reali­zado sem a prévia aprovação doCongresso Nacional por 2/3 dosseus membros. Que seja instituídalei de remessa de lucros para asmultinacionais, obrigando a apli­cação dos excessos de lucros emprojetos sociais, ou agropecuá­rios, de modo a aumentar a ofertade mão-de-obra, invertendo o flu­xo populacional das cidades parao campo. (... )Júlio Marcos de Souza Carvalho­

Cantagalo - RJ

Maria Nilsa Eliazar de CarvalhoCampo. Belo...,.... MG

Menorescarentes

Srs. Constituintes,Que todo país com 90% de cató­

licos possa estabelecer suas leis so­bre os princípios cristãos; que to­dos sejam iguais perante a lei; quea família constituída pelo casa­mento monogâmico seja indisso­lúvel. O Estado se responsabili­zará pela mãe que tenha filho me­nor de 7 anos e que trabalhe parasustentá-lo, bem como por todoos menores carentes em todas ascidades com mais de 5.000 habi­tantes; sendo necessária a criaçãode instituições responsáveis pelodesenvolvimento integral dessesmenores. (... )

Dulce OliveiraJoboatão - PE

Patrimônionacional

Srs. Constituintes,Conservar e guardar o patrimô­

nio nacional é uma obrigação edever de todo o cidadão brasileiro.Também, preservar o patrimôniogenético inserido nos mais varia­dos ecossistemas do país, para obem-estar dos nossos descenden­tes, é uma necessidade primordialpara caracterização e fixação daidentidade de um povo. (... )

Koso HinoBrasília - DF

Cargospúblicos

Srs. Constituintes,A nova Constituição deveria

propor uma total reformulação namaneira de distribuição e ocupa­ção dos cargos públicos. Porexemplo: ? ministro da Agricul­tura deveria ser uma pessoa quetivesse uma ligação direta com aagricultura. Ele deveria ser agri­cultor ou empresário rural. E as­sim por diante, em todas as outraspartes. (... )Luiz Felipe Campos de Rezende

Três Corações - MG

Prosado S.nhor,

Reeleições.proibidas

A Constituinte entrou em sua últimaetapa, a da votação do projeto deconstituição pelo plenário. Desdeo início a sociedade participou eopinou, por todos os meios. E ainda étempo de contribuir. Escreva a suacarta, dizendo que você pensa e quer.

Tnabalho com Grupos d. Jovens I BOU Pro!.s­sor.Smto-ml na reaponaabil1.dadt de colocar par& tOd08 ..z-eaponeaba.Ladade dos Const1tUl.nte perante o Povo Braaileiro.a sua. organ1zação e trabalho. -

OUtroBsl.m,Bolicito que me Invi. o :Boletim /Intormativo sobre a Cons'ti t U1.nt ll , psra qUI lU possa. r.h,!tlr m.Lltor sobre a mesma.

Tendo a certeza di qUI VOBSa exeeaencaa a­'tenderá Iste pequeno ,Pedl.do.Bubscr.vo-m8 at.nc1oaament••

JoinviU.,18 d. Junho 4. 1987.

José da Silva LimaSanta Margarida - MG

Exmo.Sr.Deputado Ul~BseB GuJ.l~arãoaD.D.Prlsid.nte da !saoUlbléia. Nac1.onal. ~onatltu.int••nrlls1l1l1 - Dl!'.

Srs. Constituintes,Acabar com a obrigatoriedade

do voto, passando, assim, a serfacultativo, diminuindo, dessa for­ma, o comércio entre político eeleitores, e este último passandoa votar com mais liberdade, cons­ciência, dando, assim, maior valora esse voto de máxima dignidadecívica. Que não sejam permitidasreeleições, em qualquer cargo po­lítico, de vereador a presidente daRepública, evitando-se, assim, oabuso da máquina estatal. (... )

12 Jornal da Constituinte

Page 13: lutam por Livres, Eseravo Acordos aceleram votações..."Parlamentarismo" é hoje, no Brasil, uma pa lavra cada vez mais repetida. Todo mundo se interessa por saber o que significa

Temer: decreto-lei nunca maisSupremo Tnbunal Federal, umaverdadeira corte constitucional,como salientei, e pleitear uma de­claração de inconstitucionalidadeem razão dessa omissão, ou seja,em razão da falha do legisladorinfraconstitucional, do legisladorque está abaixo da Constituição,do legislador comum, do legisla­dor ordinário. Ora, isso -podemperceber os que me lêem - daráuma grande Significação ao Supre­mo Tribunal Federal, porque, pe­lo projeto de Constituição, o Su­premo determinará, assinará umprazo para que aquelas medidassejam tomadas e, se não forem,o próprio Supremo Tribunal Fe­deral poderá suprir essa falha dolegislador. Em outras palavras,pelo controle da inconstituciona­lidade por omissão, as normasconstitucionais todas, sem exce­ção, ganharão eficácia plena.

Na base do Poder Judiciário-eeste é um outro ponto positivo- o projeto autoriza os chamadosjuizados especiais, que se desti­nam exatamente a atender a gran­de massa da população, porqueuma das grandes queixas é de quea Justiça é cara e morosa e, comos juizados especiais, haverá umaúnica instância que deliberá sobredeterminadas maténas, e a lei diráquais são essas matérias, mas ofato é que ainda que haja uma ins­tância recursal, a instância recur­sal será dentro do próprio juizadoespecial; portanto, isso deverá outenderá, pelo menos, a tornar aJustiça muito mais rápida na solu­ção de determinados litígios que,como disse, a lei estabeleceráquais venham a ser. E, ainda mais,é certo que o projeto de Consti­tuição prevê a hipótese da gratui­dade da Justiça, da distribuiaçãoda Justiça, o que também facilitao acesso ao Poder Judiciário.

JC - Que Constituição tere­mos, deputado?

Michel Temer - Uma Cons­tituição que será a média do pen­samento nacional; portanto, nãoserá nem extremamente radicalpor uma tendência, nem extrema­mente radical por outra tendência.Os próprios episódios da Assem­bléia Nacional Constituinte reve­lam que as forças que se antago­nizam neste cenãrio estão com­pondo os seus interesses, e as for­ças que se antagonizam aqui sãoaquelas que vieram representandoo povo brasileiro, que é um povonão radical, é um povo que desejaa harmonia, a concórdia, a mode­ração, o equilíbrio; portanto, naspalavras finais, eu posso dizer exa­tamente que a Constituição seráo reflexo do povo brasileiro e, porisso, l'autar-se-á pela idéia deequihbrio, de moderação e deponderação.

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Michel Temer - Acho quehá dois pontos básicos e funda­mentais positivos, sendo que umdeles diz respeito à cúpula do Po­der Judiciário e o outro diz respei­to à base do Poder Judiciário. Notocante à cúpula do Poder Judiciá­rio, eu devo registrar que o atualSupremo Tribunal Federal foi pra­ticamente convertido em corteconstitucional, ou seja, no atualprojeto de Constituição, o Supre­mo não exercita mais funções denatureza comum, de natureza or­dinária, mas exercitará, única etão-somente - e, daí, a grandio­sidade desta colocação - exerci­tará tão-somente a função de guar­da supremo da Constituição Fede­ral, ou seja, aquilo que nós aquiestamos fazendo e realizando seráobjeto de guarda, de preservação,por um tribunal especial, que éesse órgão em que foi convertidoo Supremo Tribunal Federal, ouseja, uma verdadeira corte consti­tucional.

Essa minha afirmação ganhamais força e significado quando severifica que, no projeto de Consti­tuição, é estabelecido o sistema decontrole da inconstitucionalidadepor omissão, ou seja, houve as leisordinárias, as leis comuns, os atosnormativos, todos que são produ­zidos em nível federal, estadual oumunicipal não sofrerão apenasuma impugnação em face de umaação positiva, ou seja, de uma leieditada, de uma norma prescrita,mas também sofrerão controleaqueles atos que a doutrina chamade atos omissivos, não somente osatos comissivos, mas os omissivos.Sendo assim, se a Constituição de­termina que a lei ordinária deveestabelecer determinadas prescri­ções, e o legislador ordinário nãoas prescrever, qualquer cidadãoou entidade catalogada no textoconstitucional poderá dirigir-se ao

l ' , '! J'

A Carta seráa média dopensamento

nacional: nemradical por

umatendência,

nem radicalpor outratendência.Vai ser oreflexo do

nosso povo.

produzida pelo Congresso Nacio­nal. Ora, isso é quase um absolu­tismo, isso é quase um sistema di­tatorial em matéria legislativa.

Esta é a razão pela qual apre­sentei um destaque supressivo daschamadas medidas provisóriasque, como salientei no início daminha manifestação, é um nomenovo para disfarçar um coisa anti­ga, que é o decreto-lei.

JC - No setor do Judiciário,que pontos positivos ou negativosapontaria na atual fase da Consti­tuinte?

~.;;.~-"

Michel Temer propõe a criação de juizados especiais, de pequenas causas, para atender os pobres.

pelo qual se expressa a chamadavontade geral, e a vontade- geralé a vontade do povo, e a vontadedo povo, historicamente, na ado­ção do Estado de direito, nos Esta­dos democráticos, é veiculada porum instrumento chamado lei, porum ato proferido, editado, escritopor representantes populares e es­tes, num sistema federativo, têmassento no Senado Federal e naCâmara dos Deputados; portanto,apenas eles, representantes popu­lares, estão, autorizados política­mente, historicamente, a veiculara chamada vontade geral) a cha­mada vontade popular. E exata­mente esta idéia que se antagonizacom aquela idéia de manifestaçãoda vontade individual. Num Esta­do ditatorial, num Estado autori­tário, num Estado absolutista, avontade do rei é a lei e, quandomuito, a sua vontade muda a lei.

Devo registrar até que não de­vemos nem mesmo impressionar­nos com a afirmação de um outroEstado, corno é o caso da Itália,que mantém o decreto-lei, por­que, na verdade, é preciso verifi­car quais os instrumentos que po­dem ser utilizados de acordo comcertas culturas políticas e, sabida­mente, a cultura política italianaé completamente diferente da nos­sa. Quando se entregou ao chefede Estado na Itália, ao chefe degoverno, a possibilidade da ediçãodo decreto-lei, na verdade, essaentrega deu-se num momento degrande democracia e, no Brasil,o decreto-lei é um instrumento uti­lizado nas fases de autoritarismo.Foi criado e utilizado de 1937 a1945, portanto, num período auto­ritário, e, depois, de 1964 para cá.E devo até registrar um fato assus­tador: de 1965 a 1982, 1983, foramexpedidos mais de dois mil e du­zentos decretos-leis, ou seja, maisdo que a Legislação Ordinária

Ao justificar emenda de sua autoria, que ex­tingue os decretos-leis, o constituinte Michel Te­mer (PMDB - SP) diz que o instituto, no atualprojeto de Constituição, recebe um novo nome,"uma forma até sub-reptícia, sutil de dar um numanova denominação a uma coisa velha - ganhao nome de medidas provisórias". Dessa maneira,segundo ele, o presidente da República terá a com­petência para editar decretos com a mesma forçade lei, "versarão, portanto, sobre a matéria queé tipicamente de lei".

Temer destaca também dois pontos que consi­dera positivos no que se refere ao Poder Judiciário.O primeiro, é a transformação do Supremo Tribu­nal Federal praticamente em corte constitucional,quer dizer, o Supremo não mais exercitará funçõesde natureza ordinária, mas a função de guardasupremo da Constituição. O segundo, é a criaçãodos juizados especiais, "que se destinam a atendera grande massa da população". Temer ressalta,ainda, que a Constituição refletirá o povo brasi­leiro e, por isso, vai se pautar pela idéia de equilí­brio e de moderação: não será radical por umatendência nem por outra tendência.

JC - Por que o senhor apre­sentou proposta que extingue osdecretos-leis?

Michel Temer - O decreto­lei está previsto na atual Consti­tuição e, no projeto de Constitui­ção, ele ganha uma nova denomi­nação, uma forma até sub-reptí­cia, sutil de dar um nome novoa uma coisa velha. No atual pro­jeto de Constituição, como disse,o decreto-lei ganha o nome de me­didas provisórias, ou seja, o presi­dente da República poderá editardecretos que terão a mesma forçada lei, portanto versarão sobrematéria que é tipicamente de lei,é um decreto que tem eficácia evigência imediatamente, e comu­nicará essas medidas ao CongressoNacional, e o Congresso Nacional,no prazo de trinta dias, segundoo projeto de Constituição, deveráconverter essas medidas provisó­rias em lei. Ora, de acordo coma atual Constituição, o sistemaé o mesmo: o presidente da Repú­blica expede o decreto-lei que Vaiveicular as medidas que foram dodesejo administrativo do presi­dente da República e, no prazode sessenta dias, o Congresso Na­cional irá aprovar ou desaprovaro decreto-lei. Assim, seja com onome de decreto-lei, como está naatual Constituição, seja com o no­me de medidas provisórias, comoestá no projeto de Constituição,o instrumento é o mesmo; a únicacoisa que o projeto fez foi dar umnome mais simpático ao instru­mento chamado decreto-lei.

Devo registrar até, pelo que te­nho ciência, que o único destaquesupressivo dessa matéria foi aque­le que apresentei e até faço essaverificação com muito pesar, por­que é uma questão da maior rele­vância que passou incólume, quepassou sem nenhuma espécie deobjeção ou contestação, desde afase da subcomissão até a fase emque nos encontramos, a fase deapreciação pelo Plenário. Por queé que eu digo que esta ~ matériade grande relevância? E que, naverdade, a grande distinção entreo sistema democrático, o sistemaparticípatívo, ou, se quiserem, en­tre o chamado Estado absolutistaditatorial, e um Estado de direito,um Estado democrático, um Esta­do de participação, está no veículo

Jornal da Constituinte 13

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Rosenmann:osradicais não

A •tem mais vez

Max Rosenmann: pelo equillbrio de forças entre patrões e empregados

"De nada adianta manter­mos a relação capital-trabalhodesequilibrada, seja para o la­do dos trabalhadores, seja parao lado dos empregadores" ­afirma o deputado Max Rosen­mann (PMDB - PR), defen­sor intransigente do entendi­mento na Constituinte paraisolar os radicais e buscar oequilíbrio de interesses entreos vários segmentos da socie­dade contra o governo que, aseu ver, é hoje senhor absolutoe grande patrão do país. Parao parlamentar, o Estado é ummau gestor da riqueza nacio­nal, um mau fiscal e o granderesponsável pelas dificuldadeseconômicas atuais.

"Nós, os políticos, temosque nos unir para procuraruma melhor distribuição derenda para este país, unindoempresários e empregados pa­ra as grandes conquistas so­ciais, que devem incluir liber­dade sindical, direito de greve,entre outros, sem a interferên­cia do Estado", enfatiza MaxRosenmann. O diálogo naConstituinte, observa, está noslevando nesse sentido e isolan­do os radicais..

JC - Deputado, desde o iníciodos trabalhos da Constituinte; o se­nhor tem trabalhado na área dosdireitos dos trabalhadores. Comofoi e como serádaqui para afrente?

Max Rosenmann - Realmen­te, contribuímos com o nosso tra­balho desde o início, na subcomis­são dos Direitos dos Trabalhado­res e Servidores Públicos e tam­bém na Comissão da Ordêm So­cial, e durante esse período houveorganizadamente o posicionamen­to de muitos constituintes a favorda luta pelas propostas sindicais,o que radicalizou um pouco as po- .sições da relação capital-trabalho.Acho que nós, na vida, devemos'sempre procurar o equilíbrio.Mas, naquele momento, houveum desequilíbrio na luta pelas pro­postas que tinham sido colocadasa favor dos sindicalistas. Enten­demos as suas pretensões e com­preendemos a luta pela qual con­seguem suas conquistas mas, secolocarmos da forma como foi fei­ta, acabaríamos inviabilizando ointeresse da parte patronal no quese refere à geração de empregose de desenvolvimento, penalizan­do, também, o trabalhador. Denada adianta mantermos a relaçãocapital-trabalho desequilibrada,seja para o lado dos trabalhado­res, seja para o lado dos empre­gadores.

Durante o período do ditadore presidente Getúlio Vargas tive­mos uma luta em que o governoe os trabalhadores tentaram intro­duzir leis contra os empresários.Durante o período da revoluçãomilitar de 1964, aconteceu um ou­tro casamento: o governo e os em­presários contra os trabalhadores.Hoje, a grande solução, no meu

Com Vargas, ogoverno e osempregadosfizeram leis

contra ocapital. Na

ditadura, osempresários eo governo se

uniram contrao trabalhador.Temos, agora,

de nos unircontra ogoverno

entendimento, seria unir os inte­.resses e as posições dos trabalha­dores e empresários contra o go­verno, porque, hoje, o grande pa­trão e senhor do país é o Governofederal. Com esse gigantismo doGoverno federal, através dos défi­cits públicos e da má administra­ção pública - porque entende­mos que o Estado é um gestor,tendo a obrigação de ser um bomfiscal -, temos encontrado umdesvio da grande riqueza nacional.Nós, políticos, temos que nos unire procurar uma melhor distribui­ção de renda para este país, aunião dos interesses dos trabalha­dores e dos empregadores para asgrandes conquistas sociais.

E para que isso aconteça, pri­meiro teríamos que ter a liberdadesindical. A liberdade sindical é oprimeiro caminho. Em segundolugar, teríamos que ter asseguradoo direito de greve, o qual teria queser consolidado com muita clare­za, porque é um direito que deveser exercido pelo trabalhador nomomento em que ele se sentir pre­judicado ou em dificuldades nasnegociações. Da mesma formaque a terceira grande conquista­e acho que já a obtivemos naConstituinte -, é o reconheci­mento no texto constitucional dasconvenções e acordos coletivos: ostrabalhadores organizados numsindicato forte, com o direito degreve assegurado e num sindicatoem que não exista a interferênciado Governo federal cassando líde­res sindicais ou prejudicando qual­quer tipo de vida sindical, somadoào reconhecimento das negocia­ções coletivas. Seria por aí que tra­balhadores e empregadores en­contrariam a melhor forma paradistribuir a riqueza neste país.

ADIRPlBenedita Passos

JC - O deputado apresentouemenda restabelecendo a plenitudedo mandado de injunção. Porquê?

Max Rosenmann - O mandado 'de injunção é, talvez, uma das'maiores conquistas deste trabalhoconstituinte. Sem dúvida, muitaspessoas, mesmo políticos militan­tes, não sabem o que é mandadode injunção, até porque é uma no­vidade. E importante que a naçãoseja esclarecida a respeito do man­dado d~ injunção. Ele permite queos direitose as liberdades constitu­cionais previstos neste texto sejam ,

.validados e convalidados no sen-tido de sua exeqüibilidade, porquede nada adianta nós, a exemplode 1946, termos a melhor Consti­tuinte, a melhor Constituição domundo, dando direitos extraordi­nários, como hoje orgulhosamen­te temos visto o setor do meio am­biente dizer que seria o melhortexto mundial, pelas previsões dotrabalho que foi realizado naConstituinte, se ficar somente noI!apel e não for conseguido na prã­tíca.

O mandado de injunção permi­te que todos aqueles direitos e li­b~rdade~ constitucionais aqui pre­VIstos sejam executados, até mes­mo substituindo os desejados Tri­bunais Constitucionais, que se tor­nariam até desnecessários pelomandado, porque, nesse caso, oPoder Judiciário, em qualquer ins­tância, poderia consolidar os direi­tos constitucionais.

JC - O deputado é um doscoordenadores em plenário do"Centrão" e como tal participa dasnegociações. Houve um período deimpasses. Esses impasses estão, no

momento, sendo superados atravésde entendimentos?

Max Rosenmann - A práticademocrática para quem não estavaacostumado é muito difícil. Muitaspessç'as, muitos segmentos aindacontinuam com comportamentosditatoriais agressivos e até antide­mocráticos, como é o caso típicoda CUT e do PT, se bem que oPT mascaradamente se escondeu,mas é a CUT que está executando,através dos sindicatos, principal­mente dos bancários, a introduçãode uma campanha difamatóriaagressiva e antidemocrática nosentido de forçar a conduta e aliberdade dos constituintes. Istoocorreu porque os nossos traba­lhos demoraram muito, permitin­do que houvesse declarações, co­mo se alguns políticos não tives­sem ainda descido do palanque enão entendessem que a prática de­mocrática é feita através da con­versa e do entendimento. Sem dú­vida, a existência do "Centrão"equilibrou o jogo, evitando os ex­cessos da esquerda e, agora, atra­vés de tratativas, estamos encon­trando o verdadeiro caminho queirá consagrar o desejo da maioriada família brasileira.

Acho que se continuarmos comtodos os grupos da Casa, sejamos grupos liderados pelo senadorMário Covas, seja pelo "Centrão"e até mesmo pelos pequenos parti­dos, nos entendendo como esta­mos fazendo, evitando ao máximoo confronto no plenário, realmen­te faremos um extraordinário tra­balho em favor da Nação e de todoo povo brasileiro.

JC - Deputado, continuando esseritmo de votação, quando teremospromulgada a nova constituição e

que constituição será esta?

Max Rosenmann - Acreditoque em 90 dias, aproximadamen­te, terminaríamos o trabalho emmaio porque a nação não podemais aguardar uma demora naaprovação. Acho que foram im­portantes o pensamento, as dis­cussões ocorridas no ano passado,mesmo tendo perdido um ano detrabalho, em termos de tempo.Creio que não perdemos em ter­mos de trabalho, o que pudemosrepensar. Nem todos os consti­tuíntes que aqui vieram verdadei­ramente estavam ao par de todosos assuntos da Nação. Houveoportunidade de uma conscienti­zação. Alguns eram especializa­dos em algumas áreas, não conhe­ciam outras.

Isso pérmitiu uma conscientiza­ção de todos Os temas e acho queagora podemos caminhar para umtexto realmente moderno que tal­vez represente um novo tipo depaís em termos de convívio demo­crático, preparado para o ano2000. Eu diria que sena uma posi­ção mais ou menos centro-esquer­da, que seria o ideal que o textoapresentasse, mas que garantisserealmente o estímulo da geraçãode empregos, o estímulo dos em­presános e a convivência mais hu­mana com os trabalhadores. Achoque é isso que precisamos procu­rar, porque a União Soviética epaíses socialistas estão admitindoque só a estatização, só a vida so­cialista, desestimulou. Quem ven­ceu o prêmio Nobel de economiade 87, venceu no momento em queafirmou que a verdadeira riquezados povos não está nas reservascambiais, nem no dinheiro deposi­tado nos bancos e sim na tecno­logia. E nós, brasileiros, estamosmuito atrasados em questões tec­nológicas. Vamos ter que convivercom o mundo moderno.

Não temos o direito, nesta fasedo nosso desenvolvimento, de nosisolarmos e de espantarmos qual­quer investimento que traga tec­nologia que não temos, senão es­taremos atravancando o desenvol­vimento por falta de ambiente tec­nológico, exportando os nossoscientistas, quando deveremosrealmente dar condições para quenós brasileiros, e principalmentea ala de cientistas de desenvolvi­mento tecnológico permaneça noPaís desenvolvendo um trabalhoimportante para que possamoscompetir com o mundo, concorrercom o mundo e podermos com es­sa competição trazer os benefíciosque a Nação necessita. O mundohoje é uma aldeia global e nós sa­bemos que o desenvolvimento jáatingiu em alguma plenitude algu­mas nações e sabemos que essedesenvolvimento atingiu uma pe­quena camada brasileira. Entãotemos que preparar o País, ofere­cendo meios legais para que se de­senvolva esse trabalho justo. Ajustiça social tão propagada e àsvezes tão radicalizada, não no dis­curso da luta por uma justiça so­cial, mas no sentido prático comosolucionar, como dar realmente omodus faciendi das soluções dosproblemas brasileiros. Acho queo "Centrão" veio para colaborare está contribuindo. As posiçõesradicais de esquerda, de uma certaforma também contribuíram, por­que, no momento do acordo sebusca o equilíbrio e se não existis­sem essas posições radicais de es­querda, talvez prevalecessem te­ses direitistas. Então, todos con­tribuíram. O que precisamos é ra­pidamente achar o caminho e esta­mos achando, para darmos ao

_Brasil aquilo que a Nação espera.

14 Jornal da Constituinte

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Tavares pede rigor contra droga

Tavares: os crimes de tráfico de drogas. e de terrorismo devem ter penas mais severas

o saldo de um ano de funcio­namento da Constituinte é bas­tante positivo. Apesar de mui­to trabalho, já que ela não teveum projeto elaborado ante­riormente e que serviria de ba­se para a feitura da nova Carta,o processo, que é inovador,propiciou momentos gratifi­cantes. E o que pensa o consti­tuinte José Tavares (PMl)B­PR) quando analisa as diversasetapas percorridas pela Consti­tuinte. Na entrevista, Tavarescomenta ainda as emendas queapresentou para a última fase,a do plenário. Duas já foramaprovadas: a que proíbe a iden­tificação criminal de quem é ci­vilmente identificado e a quetorna o tráfico de drogas Im­prescritível e inafiançável e,também inafiançável, o crimede terrorismo.

JC -::- Deputado, que balançofaz da sua atuação na Constituinte?

José Tavares - O balanço quefaço tem como resultado um saldopositivo, na medida em que nós,nesses doze meses, trabalhamosmuito. Esta Constituinte foi dife­rente de todas as Constituintes'que o país já conheceu. Ela, aoinvés de iniciar o debate em cimade um projeto elaborado por umaComissão, fez exatamente o con­trário, num processo diferente, eudiria até revolucionãrío'e que, porisso mesmo, deu muito trabalho,mas também nos propiciou mo­mentos gratificantes. Como todossabem, a Constituinte foi divididaem quatro momentos: o primeirodas subcomissões; depois, das co­missões; em seguida a Comissãode Sistematização; e agora, final­mente, o plenário. Atuamos mui­to na primeira fase - eu presidi,por exemplo, a Subcomissão deDefesa do Estado, da Sociedadee de sua Segurança.

Foi uma subcomissão que teveumtrabalho muito grande, porqueenglobou os assuntos concernen­tes às Forças Armadas, à seguran­ça pública e também problemasrelacionados, dentro da própriasegurança interna, às próprias for­ças militares e também às polícias.Neste sentido abrimos para o de­bate, para a colheita de depoimen­tos, com inúmeros segmentos liga­dos a esse setor. As polícias fede­ral, civil e militar tiveram amplaoportunidade de aprofundar ques­tões relacionadas com a respecti­vas instituições. Isso tudo nos pro­piciou, em determinado momen­to, a elaboração do primeiro textoque eu poderia caracterizar comoum embrião de tudo que existeho­je dentro do projeto de Consti­tuição que saiu da Sistematizaçãonessas áreas. Todos sabem da im­portância hoje de se discutir o pro­blema da violência e da crimina­lidade. E você não podia, nummomento constituinte, ao discutiresseproblema, ignorar o papel dasinstituições encarregadas de pre­venir e reprimir o crime no país.

Na segunda etapa também tive­mos, na fase da Comissão Temá­tica, a repetição de tudo quantohavíamos debatido nas subcomis­sões. Só que, na Comissão Temá­tica, o trabalho já tomou um corporedacional, ou seja, já começamosa trabalhar em cima de textos, em

cima daquilo que colhemos nasubcomissãoe procuramos, então,redigir um esboço de um capítuloou de um título especificamentesobre aquelas áreas das Forças Ar­madas, das polícias federal, civile militar, também do Conselho deSegurança Nacional, da EscolaSuperior de Guerra, enfim, de to­das essas entidades que, de algu­ma maneira, têm o relacionamen­to com a nossa política de segu­rança externa e interna.

Já na fase da Comissão Temá­tica foi interessante o debate por­que ali já começou a discutiremendas, questionar a sua impor­tância ou a sua desimportâncía e,a partir da conclusão dos trabalhosna Comissão Temática, as coisascomeçaram a se clarear, porquecada comissão teve o papel de ela­borar textos articulados das trêssubcomissões a ela subordinadas.Então, a partir desse momento,é que realmente a nação começoua tomar conhecimento de textosarticulados a respeito dos mais di­ferentes assuntos dentro dessasvárias instituições.

Na terceira etapa, ou seja, a pe­núltima, fomos paraa Comissãode Sistematização, que foi a maispolêmica de todas e a que gerouAD!~e~~~al':..-_ _ __~. •~ ',<'~r~'',,''''J~ ~'<""<~' " '~$

uma maior inquietação na socie­dade. E por que isso tudo aconte­ceu? Porque é natural que, numaComissão que faz parte da penúl­tima fase, quando se aprova umtexto que desagrada determinadosegmento, esse segmento se orga­niza e para contra-atacar aquiloque a Constituinte aprovou e vice­versa. Os segmentos beneficiadosou contemplados com a aprovaçãode um determinado -texto saíramem nossa defesa.

JC - Emenda de sua autoria es­tabelece que a União arque com50% das 'despesas das universida­des estaduais. Por quê?

José Tavares - O que me inspi­rou, por exemplo, a apresentar es­sa emenda é que eu sou do Estadodo Paraná, um dos estados -maísricos da Federação, mas tambémcom muitos problemas sociais ­tem quarenta mil alunos na redepública de ensino superior, ou se-

. Ja, nas nossas universidades esta-

Preocupei-mecom a redução

da idade deaposentadoriado trabalhador

rural. Adohomem seráaos 60 anos

e adamulher, aos55 anos deidade. É da

maior justiça

duais, que são três, e também nasfaculdades isoladas mantidas pelogoverno. Isso tudo custa, hoje, aogoverno do estado, 8% da sua re­ceita tributária, o que significaumvolume monstruoso de recursos.Isso chega à casa, hoje, dos cincobilhões de cruzados.

Como tradicionalmente no paístem sido responsabilidade daUnião a manutenção do ensino su­perior, nada mais justo que aUnião, já gue ela não pode arcarcom a totahdade das despesas des­sa área, arque, pelo menos, com50%. E a única forma que encon­tramos, legalmente, é a de colocarno texto da Constituição essa res­ponsabilidade, porque não seriaapenas o Paraná o beneficiado e,sim, todos os estados que mantêmuniversidades estaduais ou facul­dades estaduais.

JC - Outra emenda proíbe quequem seja civilmente identificado-seja também criminalmente identi­ficado .

José Tavares - Atualmente, noBrasil, não existe nenhuma normaque regule essa prática. As delega­cias, sem nenhum critério maior,tanto identificamo marginal, o cri­minoso - o que está muito cor­reto - como identificam o cida­dão comum que, por qualquer ra­zão, se viu às voltas, vamos assimdizer, com a lei, desde aquele queestá envolvido num mero acidentede trânsito sem grandes conse­quências até o cidadão que por de­corrência de uma crise econômicase viu às voltas com a emissão deum cheque sem suficiente provi­são de fundos. Então, acho quetemos de regular essa 'matéria.Acho que não podemos nivelaripor baixo.

Eu que sou advogado, que te­nho uma experiência antiga nessaàrea criminal, cfue sei que a Or­dem dos Advogados do Brasil vemlutando ao longo dos anos e ostribunais têm decidido muitas ve­zes concedendo habeas corpus pa­ra pessoas que batem às portas daJustiça para não sofrer esse tipode constrangimento, achei que de­veríamos regular isso. E para mi­nha alegria a minha emenda veiocomo se fosse um e-ntendimentoglobal do Plenário. Inclusive, pelo

que estou sabendo, foi se não aúnica, uma das poucas emendasque receberam 472 votos do Ple­nário de aceitação, de aprovação.Com isso nós vamos regularizaruma situação. Por quê? Porque so­mente aquele que não tiver cartei­ra de identidade é que terá quese submeter à identificação crimi­nal quando vier a delinqüir.

JC - Outra emenda que o se­nhor destaca é a que torna o crimede tráfico de-drogas imprescritívele inafiançável e, também, o crimede terrorismo, inafiançável, jáaprovada.

José Tavares - Perfeito. Essaminha emenda foi acolhida pelorelator e, num texto que o Plená­rio acabou aprovando como sendode autoria do "Centrão", foi con­templada. Por que isso? Porquequando discutimos na Sistemati­zação, eu lutei para que fosse man­tido isso no artigo. Infelizmente,só fiéou a imprescritibilidade e a

inafiançabilidade para o crime detortura. Então, eu me propus, nafase do plenário, que é exatamen­te nesta fase, trazer issoao debate.Como vi que outros colegas tam­bém se preocuparam, a minhaemenda foi acolhida juntamentecom as demais.

Isso tem uma razão de ser: ocrime de tráfico de droga tem queser apenado com mais rigor, por­que a cada dia que passa assistimosaos noticiários informando que aPolícia Federal apreendeu não seiquantos quilos de maconha, nãosei quantos quilos de cocaína, eapreende, e apreende... e as pes­soas continuam traficando, conti­nuam vendendo e continuam infe­licitando a família brasileira. Porissomesmo, eu, sentindo o clamorda sociedade brasileira, e tendo,como disse, hgação também naárea criminal, como advogado,achei que devíamos dotar a nossaConstituição de mecanismos maisseveros para o tráfico de drogase para o terrorismo.

No terrorismo eu mantive ape­nas a inafiançabilidade porque éum delito político e você não podefechar as portas de delitos políti­cos para alguns outros benefíciosque a lei processual penal brasi­leira estabelece. Eu, por exemplo,não concordo com o que está notexto que foi aprovado em plená­rio que torna o crime de terro­rismo insuscetível de anistia. Cri­me político tem que ser suscetívelde anistia.

JC - O senhor apresentou ain­da emenda que reduz o limite-i­dade aposentadoria dos trabalha­dores rurais.

José Tavares - Fiz isso porqueacho que o homem público temque honrar suas origens. Sou deorigem do campo, filho de microa­gricultor, e devo muito do meumandato aos trabalhadores ruraisdo norte do Paraná. Sempre quetive oportunidade nas minhascampanhas eu dizia que um diahaveríamos de alterar essa lei,porque acho que ela é injusta. Otrabalhador rural começa a traba­lhar muito cedo. E diferente dotrabalhador urbano. Ao começara trabalhar cedo, ele começa notrabalho pesado, e todos nós sabe­mos que o trabalhador rural, aolongo da nossa história, foi um es­quecido, um marginalizado. Demuito pouco tempo para cá é queele passou a receber uma aposen­tadoria, que é mais um favor doGoverno, de meio salário.

Aliás, por falar em arosentado­ria do trabalhador rura , a Consti­tuinte também está reparando es­sa injustiça. O trabalhador rural,com a aprovação da Constituinte,não vai mais receber uma aposen­tadoria de meio salário, sim de umsalário. Mas, além disso, como es­se valor de aposentadoria já estácontemplado, porque nós aprova­mos, eu me preocupei com a redu­ção da idade, porque acho que éalgo da maior justeza: reduzir aidade de aposentadoria do traba­lhador rural de sessenta e cincopara sessenta anos, e da esposado trabalhador rural de sessentae cinco para cinqüenta e cincoanos, porque ela também estavasendo nivelada pelo mesmo limitedo marido. E, o que é mais difícilainda, nem sempre ela também re­cebia a aposentadoria, se o seumarido já a tinha.

Jornal da Constituinte 15

Page 16: lutam por Livres, Eseravo Acordos aceleram votações..."Parlamentarismo" é hoje, no Brasil, uma pa lavra cada vez mais repetida. Todo mundo se interessa por saber o que significa

A hora e a vez das mulhereso Dia Internacional da Mulher foi comemorado na terça­

feira, dia 8, com sessão especial da Câmara dos Deputados.As mulheres dirigiram e secretariaram os trabalhos, ocuparama tribuna para pronunciamentos e apartearam as colegas, fala­ram da luta histórica do sexo feminino pela conquista de direitospolíticos, econômicos e sociais. Mas não foi o que se poderiachamar de uma sessão feminista: dezenas de deputados tambémdiscursaram, se solidarizando com a luta da mulher em todoo mundo e homenageando as colegas.

A sessão foi presidida pela deputada Irma Passoni (PT ~SP), suplente da mesa diretora, que também se integrou àshomenagens com pronunciamento em que alinhou as principaisconquistas da mulher brasileira já consagradas no texto da Cartaem fase de elaboração. Outras 14 deputadas ocuparam a tribunapara rememorar lances históricos da luta de emancipação femi­nina, para analisar a situação da mulher brasileira e avaliar osavanços obtidos pelas 25 constituintes no exercício do mandato.

Mais que simples homenagem, mais que festa, a sessãoespecial foi um momento de reflexão, de denúncia e de manifes­tações de esperanças.

!

Fazendo históri~ também na mesa diretora: Wilma, Irma, Tutu, Anná"Mari;;;Sandra e Lí ice

Moema São Thiago (PDT ­CE) destacou a necessidade de or­ganização das mulheres numa so­ciedade que é marginalizadora ediscriminatóna. Segundo a parla­mentar, a bancada feminina naAssembléia tem dado exemplosdessa união, procurando sempreo entendimento em uma luta queé suprapartidária e vai além dospartidos políticos.

Lúcia Braga (PFL - PB) tam­bém registrou o papel importantedesempenhado pelas mulheres naAssembléia Nacional Constitum­te, esperando que este trabalho re­sulte em conquistas significativaspara as mulheres. Já Benedita daSilva (PT - RJ) registrou que oDIa Internacional da Mulher é umdia de denúncia, de luta e não ape­nas um dia de comemorações. Be­nedita da Silva observou que asmulheres constituintes estão cons­cientes de que fazem a sua partena defesa dos direitos das mulhe­res e buscam o apoio de todos osconstituintes para fazer avançar oprocesso de conquistas dos traba­lhadores.

Cristina Tavares (PMDB ­PE) registrou também a atuaçãoespecífica da bancada feminina naAssembléia, notando que, a prin­cíPIO, as mulheres constituinteseram vistas por atributos comopretas, louras ou bonitas, e nãocomo filhas ou esposas de ex-go­vernadores e ex-presidentes.Acrescentou Cristina Tavaresque. agora. entretanto, elas exer­cem um poder original e não deri­vado, por sua marcante atuação,solidarizando-se ainda a parla­mentar com sua colega Dirce TutuQuadros, cujo mandato tenta-secassar em virtude de suas posiçõesindependentes e progressistas.Em nome da liderança do PMDB,Anna Maria Rattes (PMDB ­RJ) saudou todas as mulheres domundo pelo Dia Internacional daMulher, destacando a luta das bra-

sileiras em prol de direitos iguais.A grande conquista da bancada fe­minina na Constituinte, segundoa parlamentar, é justamente essaluta de igualdade, com a qual jáse conseguiu ter uma posição igua­litária em relação aos homensconstituintes. Estamos conscien­tes, disse ela, de que a realizaçãoda verdadeira democracia não sefará sem a incorporação da mulherna vida nacional.

Eunice Michiles (PFL - AM)salientou que há muito ruiu o mitoda inferiondade feminina e que asconquistas surgidas na Constituin­te modificarão, e muito, a vida damulher,' especialmente no que serefere ãs suas relações de traba­Iho.

PROGRESSISTAS

O Dia Internacional da Mulherfoi analisado por Wilma Maia(PDS - RN) que, segundo disse,antes de ser um dia de homena­gens este deve ser um dia de luta.Entende Wilma Maia que, nesteperíodo de transição, as mulherestiveram uma participação efetivana luta por uma Constituiçãoavançada e progressista.

Irma Passld'ni, (PT - SP) queexerceu durante este dia a presi­dência da Mesa, destacou as con­quistas que as mulheres têm con­seguido no texto da futura Consti­tuição. Outra parlamentar quetambém elogiou o trabalho dasvinte e cinco constituintes foi Ra­quel Capiberibe (PMDB - AP)que enumerou várias destas con­quistas.

Dirce Tutu Quadros (PTB ­SP) lembrou que muitas vidas fo­ram criminosamente sacrificadaspara que as mulheres pudessementrar no mundo social, econômi­co e político e nada mais justo doque apoiar os movimentos femi­nistas que direta ou indiretamen­te, vêm contribuindo para a redu­~ão das desigualdades entre ho-

Mineração,soberania da

Nação, aquestão

econômica são,entre outros,

temas deinteresse da

mulherconstituinte,sem deixarde lado o

feminismo

mens e mulheres ao longo do sécu­lo. Segundo Dirce Tutu Quadros,a camuflagem da sociedade pa­tnaical vem sendo identificada eassim será possível substituir aopréssão por um relacionamentohonesto e respeitoso das duas par­tes que integram qualquer socie­dade humana.

PARLAMENTARISMO

Sandra Cavalcanti (PFL - RJ)lembrou os exemplos de Marga­reth Tatcher, na Inglaterra, de In­dira Ghandi, na India, de GoldaMelr, em Israel, para afirmar quesomente no regime parlamentaris­ta as mulheres conseguem chegaraos primeiros postos do governo.Citou ainda a Noruega, Suécia,Dinamarca, Itália e Portugal comopaíses onde o sistema de gabinetepropicia maior participação femi­nina no poder para concluir coma observação de que o Brasrl pre­cisa trocar o presidencialismo ba­seado num poder pessoal e irracio­nal pelo parlamentarismo.

Em nome do PSB, Abigail Fei­tosa (BA) rendeu homenagens àsmulheres que vivem em favelas einvasões, às desempregadas e àsque vivem com o esgoto à portade suas casas e que agora desper-

tam para a defesa de seus direitos;organizando-se para tanto. "Epreciso dar força a essas mulherespara que se concretizem as pro­postas votadas na Constituinte emfavor das creches, do horário detrabalho adequado, da legalizaçãodo trabalho doméstico, da saúdee do ensino público.

AMAMENTAÇÃO

As 25 mulheres constituintes ­disse, por sua vez, em nome doPC do B, Lídice da Mata (BA)- representam a afirmação da ci­dadama da mulher brasileira. Elacitou os direitos trabalhistas dasempregadas domésticas e o direitoà amamentação de filhos de mãespresidiárias como exemplos dotrabalho cotidiano das mulheresna Constituinte e pediu a extra­dição da brasileira Lamia Maruf,condenada a prisão perpétua pelogoverno de Israel sob a acusaçãode terrorismo.

Maria de Lourdes Abadia (PFL- DF) reafirmou seu compromis­so de luta pelos direitos das mulhe­res, pela coragem na denúncia àsdiscriminações e pela construçãode uma sociedade mais justa, maislivre e mais humana. Ela fez umhistórico da luta das mulheres porseus direitos políticos e sociais esaudou o fato de a Constituinteestar avançando mais alguns pas­sos nesse sentido.

Também Lúcia Vânia (PMDB- GO) enumerou as conquistasconsagradas no texto da futuraConstituição, que reforçam a lutadas mulheres por conquistar maisespaço no meio social, aproveitan­do seu pronunciamento para cum­primentar as demais parlamenta­res e também as funcionárias daCâmara pelo transcurso do Dia In­ternacional da Mulher.

ADESÕESVários parlamentares aprovei­

taram o Dia Internacional da Mu-

lher para solidarizarem-se com aluta feminina.

José Genoíno (PT - SP), porexemplo, disse que este dia deveservir para que homens e mulheresreflitam sobre a nossa sociedadeque é patriarcal e machista.

Maurício Nasser (PMDB ­PR) também criticou a sociedadeconsiderando-a preconceituosa ecastradora. Disse ainda que se amulher invadiu com competênciae senso de responsabilidade o mer­cado de trabalho, cumpre à Cons­tituinte garantir-lhe as condiçõesde acesso.

Já Carlos Cardinal (PDT - RS)disse não reconhecer, ao menosem sua região, nenhum sentimen­to machista.

Vicctor Faccioni (PDS - RS)procurou ressaltar a necessidadede manutenção na nova Carta dedireitos femininos como os bene­fícios às donas-de-casa e às mulhe­res do campo. Arnaldo Faria deSá (PTB - SP) manifestou-setambém sobre a garantia da pen­são integral às mulheres.

A busca de uma ordem jurfdicabaseada no princípio de igualdadesocial foi levantada por PauloPaim (PT - RS). Fernando San­tana (PCB - BA) lembrou quea história do Brasil conta com aparticipação importante de váriasmulheres como Anita Garibaldi.Percival Muniz (PMDB - MT)salientou a combatividade dasconstituintes apesar de contaremcom um número reduzido de re­presentantes.

Também renderam homena­gens ao Dia Internacional da Mu­lher os constituintes FranciscoKüster (PMDB - Se). EdmílsonValentim (PC do B - RJ), VascoAlves (PMDB - ES), Assis Ca­nuto (PFL - RO), Oswaldo Tre­visan (PM;DB - PR), EduardoJorge (PT - SP), José Maria Ey­mael (PDC - SP) e Del BoscoAmaral (PMDB -SP).

Abigail Feitosa, Benedita da Silva, Lúcia Braga, Raquel Capiberibe, Maria de Lourdes Abadia, Cristina!Tavares, Lúcia Vânia e Moema São Thiago: as constituintes vão à tribuna para rememorar aslutas históricas de emancipação feminina e reafirmar, nas comemorações do dia Internacional da Mulher, a seriedade e a tenacidade de sua luta por.uma sociedade mais justa.

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