Luta e Resistência

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Alexsander Ohnesorge

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UERJ-Universidade do Estado do Rio de Janeiro F.F.P. Faculdade de Formao de Professores Curso: Geografia Disciplina: Organizao do Espao Geogrfico Mundial II Turma: 2 Professor: Denlson Arajo de Oliveira Aluno: Alexsander OhnesorgeLuta e ResistnciaA histria da humanidade sempre foi marcada por algumas caractersticas que so peculiares, como a opresso, controle, submisso, escravido, servido e explorao. E essas caractersticas sempre tiveram presentes na maioria dos povos, das sociedades, das civilizaes e de vrias culturas. No entanto, aonde h opresso, h tambm luta e resistncia. E para esboar melhor esse assunto, foram escolhidos os textos Entre Amrica e Abya Yala Tenses de Territorialidades de Carlos Walter PORTO-GONALVES. E o texto O fim das descobertas Imperiais de Boaventura de Sousa Santos. Contudo, o que h de divergente e de convergente nesses dois textos?A ideia central do texto de PORTO-GONALVES (2009), fala basicamente de algumas questes fundamentais como descrito no trecho destacado abaixo que:Pretende configurar as tenses de territorialidades ambientais, sociais e culturais que se apresentam nas designaes lingusticas Abya Yala, Amrica e Amrica Criolla, com significaes prprias e implicaes de carter eminentemente poltico. A primeira se inscreve, recentemente, no lxico poltico dos chamados povos originrios, que, em luta contra processos histricos de cunho colonial e neocolonial, afirmam sua prpria identidade como sujeitos polticos; A segunda refere-se a uma designao eurocntrica (Amrica); e a terceira, Amrica Criolla, a expresso com sentidos diferenciados nos pases andinos, caribenhos e brasileiros. (PORTO-GONALVES, 2009, p.25). Portanto, h um conflito pelo territrio que se estende, em princpio, a algo simples como o nome. No entanto, deixa de ser simples quando ela generaliza e ignora os povos originrios que habitavam essa regio, com seus nomes prprios e designao prpria aos seus territrios. Resgatar a expresso original usada pelos povos que j habitavam esse territrio, uma maneira de se autodesignar, de se firmar e de romper essa generalizao eurocntrica de povos indgenas. Observando esses fatos, a outra questo que gostaria de destacar nesse texto a luta e a resistncia que os povos originrios tem feito contra o opressor nessa relao de poder estabelecida.No texto O fim das descobertas Imperais, Santos (2004), traz consigo a idia do opressor no que se refere s descobertas imperiais. E ele nos diz que o descoberto assumiu trs formas principais: O Oriente, o selvagem e a natureza. E falando sobre a descoberta imperial ele afirma que: A descoberta imperial constituda por duas dimenses: uma, emprica, o ato de descobrir, e outra, conceitual, a ideia do que se descobre.Ao contrrio do que pode parecer, a dimenso conceitual precede a emprica: a ideia que se tem do que se descobre comanda o ato da descoberta e o que se lhe segue.O que h de especfico na dimenso conceitual da descoberta imperial a ideia da inferioridade do outro.A descoberta no se limita a assentar nessa inferioridade, legitima-ae aprofunda-a.O que descoberto est longe, abaixo e nas margens, e essa "localizao" a chave para justificar as relaes entre o descobridor e o descoberto aps a descoberta.A produo da inferioridade , assim, crucial para sustentar a descoberta imperial.Para isso, necessrio recorrer a mltiplas estratgias de inferiorizao.Neste domnio pode dizer-se que no tem faltado imaginao ao Ocidente.Entre tais estratgias podemos mencionar a guerra, a escravatura, o genocdio, o racismo, a desqualificao, a transformao do outro em objeto ou recurso natural e uma vasta sucesso de mecanismos de imposio econmica (tributao, colonialismo, neocolonialismo, e, por ltimo, globalizao neoliberal), de imposio poltica (cruzadas, imprio, estado colonial, ditadura e, por ltimo, democracia) e de imposio cultural (epistemicdio, missionao, assimilacionismo e, por ltimo, indstrias culturais e cultura de massas) (Santos, 2004, p.1). Falando ainda sobre essa viso do opressor, Santos (2004) afirma:Identifiquei as trs grandes descobertas matriciais do milnio: o Oriente enquanto lugar da alteridade; o selvagem, enquanto lugar da inferioridade; a natureza, enquanto lugar de exterioridade.So descobertas matriciais porque acompanharam todo o milnio, ou boa parte dele, e tanto que, no final do milnio, e apesar de alguns questionamentos, permanecem intactas na sua capacidade para alimentar o modo como o Ocidente se v a si prprio e tudo o que no identifica consigo. A descoberta imperial no reconhece igualdade, direitos ou dignidade ao que descobre.O Oriente inimigo, o selvagem inferior, a natureza um recurso merc dos humanos.Como relao de poder, a descoberta imperial uma relao desigual e conflitual. tambm uma relao dinmica. (Santos, 2004, p.7). E para complementar a fala de Santos (2004), ele destaca que: sob o efeito desta urgncia e da desordem que ela provoca que os lugares descobertos pelo milnio ocidental do sinais de inconformismo. Na intimidade, esse inconformismo coincide em tudo com o autoquestionamento e a autoreflexividade do Ocidente. possvel substituir o Oriente pela convivncia multicultural? possvel substituir o selvagem pela igualdade na diferena e pela autodeterminao? possvel substituir a natureza por uma humanidade que a inclua? (Santos, 2004, p.7).Portanto, Santos (2004) traz em seu texto a ideia do opressor, que se v no centro do mundo, como sendo superior a qualquer outro povo ou civilizao. No respeitando os seus direitos, seu territrio, a sua cultura, a sua religio, a sua lngua, as suas riquezas, a sua humanidade. Vendo estes, como sendo seres inferiores, podendo ser discriminados, explorados e mortos.E essas questes me leva a pergunta feita inicialmente nessa resenha: O que h de divergente e de convergente nesses dois textos? Confesso que no encontrei nada de divergente nos textos. Contudo, encontrei semelhanas, complementos e igualdade neles. Apesar de abordarem temticas diferentes, e trilharem caminhos distintos, os dois autores falam basicamente do mesmo assunto e acaba por se encontrarem no mesmo ponto.Porm, vale ressaltar que Santos (2004), traz quase que a ideia da teoria. E PORTO-GONALVES (2009) a prtica. Deixe-me explicar melhor. Ao fazer a leitura de Santos (2004), ele em seu texto vai descrevendo e explicando a viso eurocntrica de mundo, apesar de narrar fatos j ocorridos, e o comportamento ocidental (europeu), diante dos outros povos e continentes. E PORTO-GONALVES (2009), descreve a consequncia dessa viso e prtica. Ou seja, apesar dos fatos j terem acontecidos, ele passa a ideia das consequncias do que aconteceria a esses povos em relao imposio dos invasores europeus frente aos povos originrios dos continentes invadidos e explorados. Portanto, a viso eurocntrica de mundo se materializou, na hoje chamada Amrica Latina, que tem por nome originrio Abya Yala.O que nos leva a outra questo que vale ressaltar no texto de Santos (2004), que o inconformismo desses povos anti essa viso eurocntrica de mundo. E esse inconformismo, essa insatisfao de ser oprimido leva, como afirma PORTO-GONALVES (2009) a um conflito, no s pelo territrio em si, mas como uma autoafirmao, uma autodesignao e um rompimento com essa generalizao eurocntrica.O que temos ento, que os dois autores, de formas diferentes, falam em seus textos sobre inferiorizao, imposio, desqualificao, discriminizao, racismo, escravatura, domnio, disputa de territrio, generalizao dos povos, conflitos, relaes de poder e colonialismo.Contudo, Est incutido nos textos o inconformismo, a luta, a resistncia, o sentimento de unidade e pertencimento. Vemos, portanto, um povo que ao longo de sua histria foram inferiorizados, tiveram seus nomes mudados, seu territrio invadido, usurpado, escravizado, oprimido. Teve sua religio proibida, sua cultura esquecida, sua lngua mudada. Tiveram seus filhos mortos, suas mulheres estupradas. No entanto, ao longo de sua histria, tambm foram povos que no se deram por vencidos, que lutaram e que resistiram. E que ainda hoje lutam pelo seu territrio, pela sua lngua, pela sua cultura, pela sua religio, pelo seu nome, pela sua autoafirmao. Ainda hoje resistem a essa generalizao e viso de mundo eurocntrica que usurpa o seu espao. Pois, enquanto existir imposio, enquanto existir racismo, discriminao, inferiorizao, colonialismo e opresso. bem certo que tambm existir luta e resistncia.

BibliografiaPORTO-GONALVES, Carlos Walter. Entre Amrica e Abya Yala tenses de territorialidades In: Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 20, p. 25-30, jul./dez. 2009. Editora UFPRSANTOS, Boaventura de Souza. O fim das descobertas Imperiais, Jornal da AGB, 2004.