Lugar de Memória e Turismo Cultural

download Lugar de Memória e Turismo Cultural

of 17

description

RESUMOPrática econômica e fenômeno social, o turismo figura-se como um dos principais agentesinterventores da apropriação do espaço urbano, adaptando-o sob a forma de roteiros, produtos eatrações. A promoção e a comercialização de destinos turísticos tornam-se uma oportunidade de seanalisar o planejamento urbano e suas interfaces com o turismo, considerando o imperativo deconservar e potencializar as especificidades dos espaços urbanos no mercado de consumo cultural,ao tempo em que se faz míster a incorporação das comunidades ao processo de desenvolvimento daatividade turística, consoante às diretrizes da sustentabilidade. Dessa forma, a partir de umapesquisa exploratória de caráter bibliográfico, o presente artigo tem como objetivo analisar acategoria lugar de memória como instrumento para o planejamento sustentável da atividadeturística, aqui entendido como alternativa possível para enriquecer a relação entre turistas eresidentes, baseando-se na vivência dos elementos representativos da cultura local.

Transcript of Lugar de Memória e Turismo Cultural

  • CULTUR, ano 04 - n 01 - Janeiro/2010 www.uesc.br/revistas/culturaeturismo Licena Copyleft: Atribuio-Uso no Comercial-Vedada a Criao de Obras Derivadas

    LUGAR DE MEMRIA E TURISMO CULTURAL: APONTAMENTOS TERICOS

    PARA O PLANEJAMENTO URBANO SUSTENTVEL

    Karoliny Diniz Carvalho1

    1 Mestranda em Cultura e Turismo pela UESC. Email [email protected]

    RESUMO Prtica econmica e fenmeno social, o turismo figura-se como um dos principais agentes interventores da apropriao do espao urbano, adaptando-o sob a forma de roteiros, produtos e atraes. A promoo e a comercializao de destinos tursticos tornam-se uma oportunidade de se analisar o planejamento urbano e suas interfaces com o turismo, considerando o imperativo de conservar e potencializar as especificidades dos espaos urbanos no mercado de consumo cultural, ao tempo em que se faz mster a incorporao das comunidades ao processo de desenvolvimento da atividade turstica, consoante s diretrizes da sustentabilidade. Dessa forma, a partir de uma pesquisa exploratria de carter bibliogrfico, o presente artigo tem como objetivo analisar a categoria lugar de memria como instrumento para o planejamento sustentvel da atividade turstica, aqui entendido como alternativa possvel para enriquecer a relao entre turistas e residentes, baseando-se na vivncia dos elementos representativos da cultura local. PALAVRAS-CHAVE: Espao Urbano; Lugar de Memria; Turismo Cultural; Planejamento Turstico; Sustentabilidade. ABSTRACT Economic practice and social phenomenon, tourism has been included as one of the main parties involved the appropriation of urban space, adapting it in the form of scripts, products and attractions. The promotion and marketing of tourism destinations become an opportunity to review the planning and its interface with the tourism, considering the need to conserve and enhance the characteristics of the urban market of cultural consumption, the time when you do mister the incorporation of communities in the process of development of tourism, according to the guidelines of sustainability. Thus, from an exploratory character of literature, this article aims to analyze the category instead of memory as a tool for planning sustainable tourism, viewed as a possible alternative to enrich the relationship between tourists and residents, based in the experience of representative elements of local culture. KEY-WORDS: Urban Space, Place Memory, Cultural Tourism, Tourism Planning, Sustainability

    1. INTRODUO

    A cidade enquanto espao de construo social abrange elementos alusivos dinamicidade

    dos diferentes grupos sociais, em termos de materialidade - representada pelos prdios, casares,

    ruas, igrejas, esculturas, monumentos, e de imaterialidade cultural, manifestada nas tradies

    Recebido em 22/08/2009 Aprovado em 22/02/2010

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 16

    populares, destacadamente as danas, folguedos, a culinria, a musicalidade, dentre outros

    elementos que integram o patrimnio cultural de uma determinada coletividade.

    Tais atributos constituem-se importantes recursos agenciados pelo turismo sob a forma de

    roteiros, produtos e atraes. Nas reas de intenso fluxo de visitantes, essa atividade contribui para

    o revigoramento do patrimnio cultural, ao mesmo tempo em que provoca alteraes nos locais

    onde se desenvolve e, em alguns casos, altera o sentido e o significado do espao urbano e a

    dinmica especfica das comunidades receptoras.

    A partir da incorporao das cidades no mercado de consumo cultural e das ingerncias da

    prtica turstica no espao urbano, novos valores, princpios e diretrizes incidem-se no planejamento

    urbano, enfatizando o desenvolvimento de aes integradas, envolvendo diversos segmentos sociais

    de forma participativa e pr-ativa, no intuito de assegurar ou garantir a sustentabilidade local em

    suas mltiplas dimenses.

    Dentre esses novos preceitos, destaca-se a necessidade de incorporar os espaos de vivncia

    e convivncia comunitria ao processo de desenvolvimento do turismo cultural, no sentido de

    promover maior integrao entre turistas e comunidades, estimular o sentimento de pertena dos

    residentes em relao ao patrimnio cultural, bem como a interpretao da cultura para grupos de

    visitantes.

    Diante do exposto, e mediante a realizao de uma pesquisa exploratria de carter

    bibliogrfico, baseada nas consideraes de Dencker (1998) e Oliveira (1998) o presente artigo

    possui o objetivo de analisar a categoria lugar de memria como ferramenta para o planejamento

    sustentvel dos espaos urbanos, na perspectiva de contribuir para a insero da populao local na

    gesto turstica, bem como para o aproveitamento equilibrado do legado cultural das comunidades

    pelo turismo, vislumbrando novas possibilidades nas relaes entre turistas e residentes, baseada na

    vivncia dos aspectos representativos da cultura local.

    2. ESPAO URBANO, LUGAR DE MEMRIA E PLANEJAMENTO TURSTICO

    SUSTENTVEL

    A diversidade das relaes humanas, a produo cultural, as simbologias, representaes e

    imaginrios conferidos pelos distintos grupos sociais e que revestem de sentido e significado a uma

    dada poro do territrio est no cerne das discusses sobre o conceito de espao urbano e, por

    extenso, de cidade. Criao coletiva e lcus privilegiado de compartilhamento das experincias

    humanas, o espao urbano caracteriza-se pelo entrelaamento do social, lugar onde se desenvolvem

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 17

    as aes dos agentes locais e os processos histricos e culturais de modo articulado e

    interdependente, sendo permeado por objetos, formas e contedos.

    As cidades por seu turno surgem como a materializao do urbano, de concentrao de

    pessoas, do desenrolar de atividades produtivas, tornando o espao urbano dinmico e polissmico

    (SIVIEIRO, 2006). Alm da disposio de elementos tais como ruas, bairros, avenidas, caminhos e

    logradouros, os espaos urbanos evocam diferentes narrativas sobre o patrimnio cultural de uma

    determinada sociedade. Na viso de Meneses (2006, p. 86):

    A cidade passa, assim, a ser vista como construo histrico-cultural, como patrimnio de seus moradores, como espao de memria. A cidade enfim monumento e documento [...] Ela o lcus continuum de cultura, onde natureza, construo material, smbolos e significados e representaes se constroem em diversidade e em harmonia.

    O patrimnio cultural diz respeito sua construo fsica - prdios, monumentos,

    edificaes, acervos arquitetnicos- edificada em um determinado tempo e espao, e dimenso

    simblica das diversas formas de agir, sentir e viver dos grupos sociais enquanto membros

    partcipes de uma comunidade: os ofcios e manifestaes populares tradicionais, a gastronomia, as

    artes populares, o artesanato, os quais estabelecem processos de identificao (HALL, 2000) e

    vinculao comunitria em relao a uma dada cultura.

    Essa concepo ampla de patrimnio cultural aproxima-se do conceito de legado cultural

    (BONFIM, 2005), aqui entendido como construo coletiva, inserido numa rede de relaes

    dinmicas que sofrem constantes processos de transformao e recriao, seja por meio da

    criatividade dos diversos segmentos sociais, seja pela intensificao dos contatos culturais, pela

    influncia dos mass media, pelo advento de novas tecnologias da comunicao e informao que

    caracterizam as sociedades contemporneas.

    O patrimnio cultural se vincula memria e identidade dos grupos sociais, os quais

    estabelecem, atravs do repasse ou da transmisso de saberes e fazeres, importantes elos de

    continuidade espao-temporal, alm de mecanismos de afirmao e reposio identitrias. A

    apropriao e a coletivizao do patrimnio cultural produzem ainda nos espaos urbanos lugares

    significantes, com os quais a comunidade local se afeioa e se identifica, pois cristalizam fatos ou

    acontecimentos pessoais, podendo vincular-se infncia, s atividades corriqueiras, aos encontros

    sociais e familiares e, consequentemente, fazem-se presentes na memria de indivduos e grupos

    sociais especficos. Na viso de Gastal (2002, p. 77):

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 18

    As diferentes memrias esto presentes no tecido urbano, transformando espaos em lugares nicos e com forte apelo afetivo para quem neles vive ou para quem os visitam. Lugares que no apenas tm memria, mas que para grupos significativos da sociedade, transformam-se em verdadeiros lugares de memria.

    Alm de constructos tangveis conjunto de edificaes, monumentos, objetos e colees,

    incluem-se na categoria lugar de memria os saberes e fazeres populares, as lendas, simbologias,

    imaginrios e valores, ou seja, todos os elementos que representam a trajetria de uma comunidade,

    suas rupturas e permanncias, nos quais se descortinam vozes, silncios, experincias, conflitos,

    sensaes, cores, que eternizaram geraes e permanecem vivos nas subjetividades e nas prticas

    cotidianas dos seus habitantes e que os (re) constroem permanentemente.

    Ao propiciarem o compartilhamento de experincias entre grupos sociais distintos, os

    lugares de memria recriam identidades e reafirmam o sentido de territorialidade e de pertena

    cultura local. Impregnados de lembranas, reminiscncias, acontecimentos factuais ou ficcionais,

    transitam no imaginrio coletivo, reelaborando e fortalecendo as identidades em meio s

    interferncias de um mercado de consumo turstico globalizado.

    Nesse nterim, a noo de lugares de memria conceptualizada por Pierre Nora (1993)

    identifica-os enquanto espaos impregnados de um forte contedo simblico e de referncias

    culturais, elos de continuidade em relao a um passado socialmente construdo, sendo aportes de

    referncias culturais. Os lugares de memria constituem-se espaos de sociabilidade e reciprocidade

    cultural, aglutinadores e definidores da identidade de diferentes grupos sociais, sendo dotados de

    simbologias e valores atribudos pelas pessoas que neles habitam, trabalham, ou desenvolvem

    algum tipo de vnculo afetivo.

    Possuem ainda um sentido emocional, visto que atravs deles a comunidade sente-se

    integrada ao meio onde vive, estabelece relaes de reconhecimento e de troca, posto que os lugares

    de memria tambm delimitam fronteiras culturais, relacionando-se guarda de marcos histricos

    significativos para os membros de uma sociedade. Ao mesmo tempo, transcendem o valor

    meramente esttico e visual comumente associado aos lugares de lazer, entretenimento ou de

    fruio turstica; so espaos evocadores da historicidade e do desenvolvimento comunitrio, em

    suas mltiplas dimenses.

    A existncia de marcos simblicos e referenciais identitrios define a personalidade do

    lugar (YZIGI, 2001) constituindo-se num dos principais agenciadores do trnsito turstico para as

    diversas localidades. Enquanto prtica econmica e fenmeno social, o turismo apresenta mltiplas

    possibilidades de consumo do lugar, variando de acordo com as preferncias intrnsecas de cada

    grupo de visitantes e das vivncias que estes elegem como prioritrias durante o seu perodo de

    lazer.

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 19

    No campo de abrangncia do turismo cultural insere-se o turismo tnico, o gastronmico, o

    religioso, alm de uma diversidade de experincias passveis de serem realizadas pelos visitantes

    durante a sua estadia em um dado destino. Dessa forma, ampliam-se as oportunidades de

    arregimentao do legado cultural para o turismo, sob a forma de atraes, roteiros, eventos e

    produtos. Conforme observa Ydice (2004, p. 12):

    A cultura hoje vista como algo que hoje se deve investir, distribuda nas mais diversas formas, utilizada como atrao para o desenvolvimento econmico e turstico, como mola propulsora das indstrias culturais e como uma fonte inesgotvel para novas indstrias que dependem da propriedade intelectual.

    Com o maior desenvolvimento e integrao das sociedades e a ampliao do conceito de

    patrimnio, o turismo cultural foi assumindo novos contornos, adquirindo um vis integrador, uma

    vez que esse segmento, ao possibilitar o contato dos visitantes com a herana cultural reelaborada

    no cotidiano de comunidades especficas, contribui para a difuso das culturas e para uma maior

    compreenso intercultural (ASCANIO, 2003).

    Considerando-se que o produto turstico abrange uma srie de elementos necessrios para o

    atendimento das necessidades de consumo dos visitantes - atrativos, facilidades de acesso,

    equipamentos e servios, ao apropriar-se do espao urbano, a atividade turstica torna-se um dos

    principais agentes intervenientes da dinmica das relaes sociais estabelecidas, engendrando um

    processo dialtico de produo de novas territorialidades.

    O turismo implica rearranjos espaciais, adaptao de elementos e reconfiguraes da

    paisagem, por meio da revitalizao de prdios e casares, do desenvolvimento de atividades

    culturais, melhorias na infra-estrutura urbana e de servios, e da formatao de roteiros e atraes

    que geram oportunidades efetivas de valorizao do legado cultural:

    Muda-se a concepo de cidade de centro cultural especfico e herana histrica para centro cultural dinmico, no qual convivem no apenas as artes, mas tambm a indstria cultural. Com isso, a cidade deixa de ser espao racional e reestilizada, continuamente como um no-lugar, isto , como espao de rpida circulao interligado por diferentes meios de transporte, grandes cadeias de entretenimento e pessoas de diferentes camadas da populao convivendo com modos diferentes de vida. (PINTO, 2002, p.14).

    Se, por um lado a mobilidade de turistas e o usufruto da infra-estrutura urbana e cultural

    tende a se refletir no aumento da percepo dos moradores em relao ao significado do patrimnio

    enquanto lugar de memria e de experincia cotidiana, por outro, o turismo cultural sem o devido

    planejamento pode contribuir para a privatizao de reas urbanas, para a segregao geogrfica

    entre os turistas e a comunidade receptora, para a formao de espaos descontextualizados da

    dinmica social, bem como para a perda do significado simblico do patrimnio cultural por parte

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 20

    dos residentes.

    Esses desdobramentos contribuem para mitigar a qualidade da experincia turstica e limitar

    as possibilidades de desenvolvimento econmico e social para a populao local. Diante desse

    contexto, o planejamento da atividade turstica deve incorporar os valores e princpios inerentes

    sustentabilidade em suas vrias dimenses.

    A adoo de um novo modelo de planejamento e gesto no turismo cultural sinaliza uma

    nova perspectiva visando o aproveitamento sustentvel do patrimnio cultural. Nesse sentido, a

    noo de lugar de memria pode se constituir importante elemento mantenedor da identidade e

    personalidade do destino turstico, aumentando seu potencial de competitividade no mercado.

    2.1 Sustentabilidade e Lugar de memria: um novo enfoque para o planejamento turstico local

    As noes de sustentabilidade no mbito do turismo so recentes e esto condicionadas aos

    efeitos negativos em virtude da massificao dessa atividade. Emergem como tentativa para alar

    um desenvolvimento sustentado dos atrativos naturais e culturais dos destinos tursticos, alm de

    potencializar as economias locais a partir do envolvimento integral das comunidades nesse

    processo.

    Segundo Sachs (1994), a sustentabilidade compreende um conjunto de dimenses (social,

    ecolgica, cultural, econmica, tecnolgica) capazes de promover a integralidade do meio ambiente

    em que as prticas sociais e econmicas se manifestam, mantendo as especificidades locais e

    minorando os efeitos negativos das atividades produtivas; a insero social atrelada melhoria da

    qualidade de vida dos segmentos populares, a viso ao longo prazo e compartilhada em nveis de

    co-responsabilidade e integrao entre os agentes e a manuteno da dinmica das culturas e valores

    locais.

    Vislumbra-se que as dimenses da sustentabilidade devem ser incorporadas em todas as

    prticas engendradas pelos grupos sociais na sua interao com o meio ambiente fsico e cultural,

    dentre as quais se destaca o turismo. Essa atividade necessita ser concebida e gerenciada tendo

    como instrumento balizador o planejamento. O planejamento turstico pode ser compreendido, nos

    termos de Bissoli (2002, p.34) como prtica ou processo que: Analisa a atividade turstica de um determinado espao geogrfico, diagnosticando o seu desenvolvimento e fixando um modelo de atuao mediante o estabelecimento de metas, objetivos, estratgias e diretrizes com os quais se pretende impulsionar, coordenar e integrar o turismo ao conjunto macroeconmico ao qual est inserido.

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 21

    Interpreta-se o planejamento turstico como o conjunto de atividades previamente

    concebidas com o objetivo de promover o atendimento das necessidades de consumo dos visitantes,

    por um lado, e do outro, a gerao de benefcios sociais e econmicos para o ncleo receptor

    decorrentes do intercmbio cultural. O planejamento turstico envolve um processo contnuo de

    tomada de decises mediante a anlise da realidade local, em termos de potencialidades e projeo

    de cenrios.

    Nesse particular sobressaem-se o estmulo para a criao de produtos e servios

    competitivos, a adoo de estratgias de visibilidade e posicionamento mercadolgico; a elaborao

    e execuo de planos de comunicao e distribuio do produto no mercado, alm do

    estabelecimento de indicadores de avaliao e controle das atividades desenvolvidas, garantindo a

    lucratividade e a conservao do patrimnio cultural.

    A partir dessa viso mais abrangente e da necessidade de ampliar a atividade turstica por

    meio do uso racional dos atrativos inseridos em uma localidade, que emerge a concepo de um

    planejamento inter-relacionado com as demais esferas econmicas, culturais e ambientais de uma

    regio.

    Essa acepo apresenta similitudes em relao aproximao do turismo enquanto sistema

    holstico e interdependente, proposto por Mrio Beni (2001). Para esse autor, a atividade turstica

    configura-se como o resultado de inmeras variveis que interagem entre si e entre o meio fsico e

    social no qual esta se desenvolve.

    Nesse caso, o planejamento do turismo est inserido dentro de uma perspectiva sistmica,

    cujo resultado incide na consolidao de um planejamento turstico integrado, com procedimentos

    metodolgicos capazes de ampliar significamente a participao de segmentos da sociedade civil no

    processo de implantao e encadeamento tursticos racionais, a partir da distribuio de tarefas e

    fomento a iniciativas empreendedoras, objetivando dinamizar o turismo e o desenvolvimento scio

    econmico local.

    interessante atentar que para atingir tal desenvolvimento, primeiramente deve-se buscar

    reduzir os impactos negativos do turismo sobre o meio-ambiente e a cultura locais, bem como

    atender aos anseios dos moradores e visitantes. O planejamento turstico que inicialmente tinha

    como principal objetivo maximizar a rentabilidade do setor, em meio s mudanas contemporneas,

    passa a busc-lo respeitando os princpios da sustentabilidade e ampliando seus efeitos que no

    mais se limitam ao mbito econmico, mas referem-se tambm s melhorias no meio ambiental e

    social.

    A aplicabilidade desses pressupostos permite situar o turismo numa anlise macroambiental,

    ou seja, proferir um estudo acerca dos aspectos polticos, econmicos, sociais, geogrficos e

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 22

    culturais gerais, em conformidade com as caractersticas das regies alvos da gesto turstica. A

    planificao do turismo prescinde do estabelecimento de projetos compatveis com a capacidade de

    carga do destino turstico, seguindo uma perspectiva integral e holstica da atividade e considerando

    as inter relaes que esta estabelece com outros setores da realidade social, conforme nos explicita

    Molina (2001, p.12):

    Atualmente, este fenmeno alcanou conotaes, significados e conseqncias altamente complexas, que transcendem elementos quantitativos e de crescimento numrico. Em nossa poca o turismo resultado de processos sociais e culturais no inteiramente quantificveis, e que so imprescindveis para a sua compreenso e para implementar aes que permitam obter dele os melhores rendimentos globais, sejam estes financeiros ou no.

    A ampliao da conscincia ambiental considerando-se, sobretudo, a relao tica nas

    relaes entre atividades humanas e o meio socioambiental, reflete-se num novo direcionamento do

    planejamento turstico, pautado numa preocupao com suas possveis interferncias negativas nas

    comunidades receptoras e no respeito s tradies e valores locais. O argumento atual de

    desenvolvimento demonstra que o princpio formal de ao prima pelo planejamento, com modelos

    ampliados para serem aplicados no uso dos espaos urbanos e naturais e na operacionalizao de

    aes com objetivos sustentveis.

    nesse contexto que emerge o conceito de turismo sustentvel cunhado a partir da

    expresso desenvolvimento sustentvel, e que se apia em algumas nuances principais, tais como

    equilbrio de oportunidades e uso racional da base de recursos naturais, considerando sua limitao,

    as geraes futuras e a sobrevivncia humana numa sociedade mais justa. Ruschmann (1997)

    conceitua o turismo sustentvel como sendo: Aquele que desenvolvido e mantido em uma rea (comunidade, ambiente) de maneira que, e em uma escala que, se mantenha vivel pelo maior tempo possvel, no degradando ou alterando o meio ambiente de que usufrui (natural e cultura), no interferindo no desenvolvimento de outras atividades e processos, no degradando a qualidade de vida da populao envolvida, mas pelo contrrio servindo de base para uma diversificao da economia local.

    A promoo do turismo sustentvel consiste tambm em garantir a qualidade dos produtos

    oferecidos aos visitantes, seja pela ambincia urbana, manuteno permanente dos equipamentos e

    servios urbanos, qualificao dos prestadores de servios tursticos, e desenvolvimento da

    hospitalidade no destino.

    Ressalta-se ainda que o planejamento do turismo deve ser concebido em nvel de

    interdependncia e integrao entre os diversos setores da administrao pblica (YZIGI, 1999),

    com a criao de cenrios que atendam aos interesses e expectativas dos mais diversos grupos

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 23

    sociais, alm de ampliar a percepo dos moradores sobre a importncia dos espaos urbanos e seus

    elementos na formao da identidade local.

    A utilizao do patrimnio cultural como recurso ou atrao turstica explicita a necessidade

    de um planejamento turstico integrado ao planejamento urbano e territorial. O objetivo dessa

    articulao consiste em promover o desenvolvimento do espao urbano, em suas dimenses infra-

    estruturais, sociais, econmicas, tursticas e culturais, mantendo-se a harmonia e a funcionalidade

    de seus elementos integrantes, e elevando o bem-estar e a qualidade de vida dos residentes.

    O planejamento sustentvel das reas urbanas pressupe uma articulao entre todos os

    agentes intervenientes do processo (gestores pblicos, empresariado, operadores e agentes de

    receptivo, comunidade direta e indiretamente envolvida) por intermdio de aes compartilhadas e

    do desenvolvimento de projetos integrados de revitalizao e revigoramento do patrimnio cultural

    local. Nesse sentido, a aplicao da sustentabilidade no turismo cultural busca, nas razes endgenas, a diversidade e pluralidade cultural, pela preservao do patrimnio dos recursos culturais em respeito aos modelos autctones. Atravs da capacidade de autogesto das comunidades locais, participando na tomada de decises, procura sistemas alternativos de tecnologia e produo (RODRGUEZ, 1997, P.58).

    A gesto sustentvel do patrimnio cultural pressupe a utilizao equilibrada e racional dos

    espaos urbanos, por intermdio de um planejamento participativo no qual a comunidade local

    possa integrar-se aos benefcios sociais, econmicos e culturais inerentes s propostas de

    desenvolvimento turstico. O enfoque preservador de uma cidade no pode deter-se apenas esfera

    governamental, uma vez que a comunidade desempenha importante funo, no s por influir na

    manuteno do legado cultural a partir de suas aes, mas tambm por fazer parte da configurao

    do patrimnio de uma cidade.

    Ainda, a formalizao de parcerias torna-se primordial para a continuidade e funcionalidade

    de projetos tursticos sustentveis, elevando ou mantendo os benefcios para as comunidades locais.

    vila (2009) enuncia que o planejamento turstico implica a descentralizao do processo de

    tomada de deciso, mediante uma viso co-participativa dos atores locais. medida que ocorre a

    intensificao dos laos de solidariedade e reciprocidade entre os membros integrantes da cadeia

    produtiva, amplia-se a viso sistmica no mbito do turismo, direcionando-se os esforos coletivos

    em busca da diferenciao dos produtos e servios, elevando a competitividade e expandindo as

    perspectivas de negcios.

    A partir da criao de mecanismos visando participao da populao local no

    planejamento turstico pode-se evitar a formao de espaos desvinculados da realidade

    comunitria, alm de estimular o sentido de pertena ao patrimnio e promover maior integrao

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 24

    entre residentes e visitantes. A ampliao do conceito de sustentabilidade pressupe, portanto, que

    as comunidades estabeleam mecanismos de controle da capacidade de carga ambiental, social e

    cultural, monitoramento e avaliao das atividades desenvolvidas:

    Somente por este comprometimento total pode-se obter uma integrao de longo prazo de metas sociais, ambientais e econmicas, problemas que voltaro a surgir medida que avanamos pelas diversas dimenses e escalas da poltica e do planejamento turstico (HALL, 2001, p. 67).

    Essa viso compartilhada por Beni (2007) que advoga a necessidade do planejamento

    turstico incorporar as expectativas, anseios e necessidades da comunidade local propiciando, dessa

    forma, a socializao dos benefcios sociais e econmicos decorrentes dessa atividade,

    estabelecendo limites s interferncias do turismo na produo cultural e na dinmica dos espaos

    de vida e lazer do ncleo receptor.

    Ressalta-se ainda que a atividade turstica que se manifesta na contemporaneidade

    caracteriza-se pela emergncia de valores e estilos de vida especficos que imprimem novas

    adjetivaes para a produo e consumo dos espaos naturais e urbanos, diferenciando-se da prtica

    do turismo evidenciada em perodos antecessores.

    Essa nova configurao prenuncia um redirecionamento da economia dos servios para a

    economia da experincia (PINE II; GILMORE, 1998), a qual no mbito do turismo se manifesta

    atravs do planejamento e operacionalizao de atividades e eventos memorveis, com o objetivo

    de cativar, entreter ou fascinar os visitantes, ampliando assim, o potencial de atratividade dos

    destinos.

    A tendncia retrao da demanda turstica pelo consumo de produtos padronizados e

    desterritorializados social e culturalmente possibilita aos incentivadores tursticos adaptarem-se s

    novas necessidades da demanda, com a criao de roteiros, servios e atraes que adquirem maior

    proximidade com o cotidiano e a tradio dos lugares visitados (SWARBROOKE; HORNER,

    2002).

    Assim, em oposio tendncia espetacularizao dos lugares, celebraes e modos de

    vida, os turistas culturais tendero a buscar roteiros, destinos e produtos capazes de oportunizar

    experincias tidas como nicas e provocadoras dos sentidos, com base em motivos, sensaes e

    emoes, e na integrao com a cultura das comunidades visitadas.

    Nesse sentido, Gastal (2002) assinala que a incorporao da noo de lugar de memria no

    mbito do planejamento e gesto da oferta de turismo cultural insurge como fator capaz de

    promover uma maior integrao entre o tecido urbano e a sociedade, a problematizao dos

    contedos dos bens culturais para os visitantes, enaltecendo, assim, a experincia turstica, ao

    mesmo tempo em que fortalece os laos identitrios entre a comunidade e o seu patrimnio.

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 25

    Os lugares de memria tendem a enriquecer a experincia turstica, estreitando as relaes

    entre turistas e residentes, e permitindo a democratizao do acesso e o direito memria de grupos

    sociais distintos. Ao mesmo tempo em que podem se traduzir na criao de cenrios e ambientes

    inovadores, onde a criatividade e a interao com a comunidade transformam os visitantes em

    protagonistas da experincia turstica, gerando benefcios sociais e econmicos. Paralelamente,

    tendem a reforar o sentido de pertena da comunidade em relao cultura local, possibilitam a

    preservao do meio ambiente e o desenvolvimento sustentvel da atividade turstica.

    Manter as particularidades locais e inserir as comunidades no desenvolvimento do turismo

    emergem como requisitos que devem ser incorporados ao processo de reabilitao dos stios

    urbanos, enquanto elementos norteadores para a promoo de um desenvolvimento turstico

    balizado na sustentabilidade, ou seja, obteno de modelos tursticos integrados economia e

    sociedade que respeitem o patrimnio arquitetnico e o meio ambiente e que se preocupem com as

    novas demandas de acessibilidade e mobilidade que o turismo prope (VINUESA, 2004, p. 35).

    O planejamento da oferta cultural deve-se promover uma interlocuo permanente com os

    grupos sociais construtores do lugar turstico, incorporando os lugares mantenedores de sua

    identidade, no sentido de buscar uma maior integrao entre turistas e residentes nos espaos de

    vivncia comunitria, alm de possibilitar variadas leituras e interpretaes dos bens culturais.

    3. LUGAR DE MEMRIA COMO FERRAMENTA PARA O PLANEJAMENTO

    TURSTICO: POR UMA GESTO SUSTENTVEL DO PATRIMNIO CULTURAL

    A formatao de produtos culturais, em especial aqueles centrados na ambincia urbana

    necessita ser planejada de forma a valorizar o patrimnio cultural, objeto de interesse dos turistas e

    da comunidade. Se, de um lado, o olhar do turista detm-se nos aspectos mais espetaculares da

    paisagem, em modos de vida e costumes diferenciados do seu cotidiano (URRY, 1996), do outro,

    emerge a necessidade de realar as caractersticas sociais, histricas e culturais do espao urbano

    que particulariza sua vivncia coletiva (MURTA; ALBANO, 2002).

    Conforme exposto anteriormente, os lugares de memria podem conferir novas

    possibilidades de gesto do patrimnio cultural, considerando as diferentes representaes que ele

    encerra para a comunidade residente, no sentido de problematizar o contedo cultural da regio

    visitada tanto para os moradores, quanto para os visitantes. Sendo assim, de que forma a categoria

    lugar de memria pode ser til na formatao de um modelo sustentvel para o planejamento e

    gesto dos espaos tursticos urbanos?

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 26

    A tematizao da oferta de produtos e servios implica a utilizao de uma metodologia

    compatvel com a realidade social dos destinos urbanos, avaliando o nvel de desenvolvimento

    turstico existente e identificando os espaos representativos da memria e da identidade local.

    Baseado nesse delineamento, um conjunto de aes integradas de sensibilizao e participao da

    comunidade, valorizao, promoo e comercializao dos produtos culturais devem ser

    consentidas na perspectiva de promover novas experincias aos visitantes, aliada s estratgias de

    interpretao do patrimnio cultural (Figura 1):

    Figura 1: Aplicao da categoria lugar de memria no planejamento turstico Fonte: Elaborao prpria

    Busca-se nessa metodologia estabelecer um planejamento participativo, no qual os

    incentivadores tursticos possam ampliar os espaos de dilogo com a comunidade, a qual no

    apenas possui a funo de identificar e selecionar os espaos de visitao, mas de estabelecer quais

    aspectos ou elementos devem ser enfatizados, delimitando o grau de interferncia do turismo na

    dinmica local.

    Ressalta-se que a terminologia lugar de memria adquire diferentes representaes no

    interior de uma dada comunidade, o que sugere a adoo de critrios de eleio compatveis com o

    contexto scio cultural especfico. Nesse sentido, a utilizao de tcnicas diversificadas, tais como

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 27

    histria oral, pode ser utilizada para possibilitar a emergncia de diversas vozes no interior da

    comunidade, desvelando os lugares e manifestaes mantenedores da identidade local. Para

    Barquero (1999 apud Beni, 2004, p.20): As comunidades locais possuem identidade prpria que as impulsiona a tomar iniciativas que propiciam o desenvolvimento local [...] quando desenvolvem suas capacidades de organizao, podem evitar que as empresas e organizaes externas limitem suas potencialidades de desenvolvimento e amorteam seu processo de desenvolvimento prprio. A capacidade de liderar o prprio processo de desenvolvimento, unida mobilizao do potencial de desenvolvimento, o que permite dar a esta forma de desenvolvimento o qualitativo de endgeno.

    Mediante a identificao dos lugares de memria, faz-se necessria a realizao de estudos

    de potencialidade e viabilidade tursticas nas reas selecionadas na etapa anterior, com o

    mapeamento dos espaos urbanos e das prticas culturais indicados que se revestem de um forte

    carter identitrio em relao aos moradores. Torna-se necessria a hierarquizao dos lugares de

    memria selecionados, em termos de nvel de atratividade e capacidade de mobilizao de uma

    demanda turstica diferenciada.

    A determinao da capacidade de carga ambiental e social de forma a diversificar a planta

    de atrativos existentes estimula a conservao dos espaos urbanos e aumentar o nvel de

    competitividade do produto no mercado. Posteriormente, a estruturao de roteiros e produtos

    culturais, contribui para agregar valor oferta cultural, fortalecendo as trocas culturais, o

    interacionismo, e desenvolvendo a hospitalidade no destino.

    Visando a ampliao das opes de lazer e entretenimento, o estmulo s atividades culturais

    nos espaos urbanos, tais como mostras de artesanato, festivas de cultura popular e eventos, alm de

    se constiturem elementos de atrao turstica, contribuem para a insero dos lugares de memria

    vida contempornea, permitindo a sua integrao e vinculao afetiva em relao aos membros da

    comunidade local (CAMARGO, 2002; SIMO, 2006).

    Destaca-se ainda que os eventos culturais tornam-se agentes promotores dos destinos

    tursticos, aumentando sua competitividade no mercado, uma vez que estes contribuem para a

    reduo da sazonalidade e para o enriquecimento da experincia dos turistas (SANCHZ E

    GARCA, 2003).

    A partir do conhecimento e compreenso do prprio lugar pode-se desenvolver polticas

    preservacionistas mais eficazes, alm de diferenciar e melhor aproveitar o patrimnio enquanto

    atrao turstica. Nesse aspecto, entende-se a educao patrimonial como um processo scio

    educativo que permite a descoberta, o reconhecimento e a valorizao dos significados histricos,

    culturais e simblicos dos bens materiais ou espirituais produzidos pelos diversos grupos sociais em

    contextos especficos.

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 28

    Utilizando-se de diferentes suportes de memria - monumentos e prdios histricos,

    conjuntos arquitetnicos, stios arqueolgicos, vestimentas, a educao patrimonial desperta

    sensibilidades e desenvolve o senso de preservao do legado cultural no interior das comunidades.

    Segundo Camargo (2002), para que haja o pleno desenvolvimento do turismo cultural em uma

    determinada regio, a populao local enquanto agente produtora do patrimnio deve ser

    conscientizada sobre a importncia dos bens culturais como suportes de memria, de continuidade

    de prticas scio-culturais, e enquanto fatores de desenvolvimento econmico.

    A partir disso, o desenvolvimento de programas de educao patrimonial em carter de

    transversalidade nos espaos de aprendizagem formal e informal, por meio de tcnicas diversas, tais

    como city-tours dramatizados, oficinas de fotografia, desenvolve a percepo do lugar pelos

    moradores, estimulando a busca pelo sentido afetivo e emocional das reas urbanas e do legado

    cultural.

    Nas reas relacionadas direta e indiretamente atividade turstica, a busca pela excelncia na

    prestao dos servios figura como um dos elementos que contribuem para o aumento da

    competitividade de um destino no mercado. A qualificao permanente dos proprietrios e agentes

    que atuam nos estabelecimentos comerciais deve ser adotada enquanto estratgia dos

    empreendedores locais no sentido de oferecer produtos e servios de qualidade, possibilitando a

    eficcia do relacionamento da empresa com os consumidores, e a universalizao de seu acesso

    para pblicos distinto.

    Diante da estruturao de produtos, roteiros e atraes tematizados com a anuncia da

    comunidade, integradas aos seus espaos de vida e de lazer, definem-se as estratgias de valorao

    do produto no mercado, envolvendo todos os agentes do setor de forma pr-ativa e inovativa,

    baseada na sinergia das aes e no esforo coletivo, definindo medidas de acompanhamento,

    controle e avaliao dos processos urbanos e tursticos.

    Assim, o lugar de memria como instrumento de planejamento turstico consiste em

    promover a articulao integrada e o protagonismo comunitrios, o fortalecimento da identidade, a

    valorizao do lugar e a sua capitalizao por meio do turismo, tendo como premissas fundamentais

    a proteo dos ambientes naturais e culturais, a qualidade dos produtos e servios, e a validade da

    experincia turstica local.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    A associao das cidades com locais de entretenimento e lazer refora a polarizao entre

    trabalho e lazer, e cria oportunidades para a comercializao de seus elementos e atributos atravs

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 29

    da atividade turstica, especificamente no segmento do turismo cultural. Os espaos urbanos,

    sobretudo os locais de valor histrico e cultural devem ser vistos como reas a serem descobertas e,

    portanto, compreendidas pelos turistas por meio de elementos interpretativos que possam valorizar

    a sua identidade, suas histrias, seus aspectos arquitetnicos, seus valores artsticos e tradicionais e

    sua importncia cultural.

    A forma como os indivduos identificam-se com determinadas pores do territrio,

    estabelecendo relaes de afetividade, edificando-os como lugares de memria, torna-se relevante

    na perspectiva de reorientar as polticas pblicas de preservao do legado cultural, possibilitando

    que as futuras intervenes nos stios histricos possam efetivamente resgatar, nos espaos

    inutilizados (ou subutilizados), os contedos simblicos a eles subjacentes, evitando-se a

    padronizao e a cenarizao da paisagem urbana e da cultura, possibilitando que a atividade

    turstica se desenvolva concernente s expectativas e anseios da comunidade local.

    A utilizao da categoria lugar de memria no planejamento sustentvel do turismo torna-se

    um importante instrumental para os gestores da atividade, na medida em que esses podero

    vislumbrar novas alternativas para a implantao de modelos de gesto sustentvel nos espaos

    tursticos, maximizando as potencialidades naturais e culturais da destinao, em prol de uma

    prtica de turismo capaz de agregar valor experincia dos visitantes.

    O desenvolvimento de estratgias de valorizao dos marcos urbanos referenciais da

    identidade local propicia o enaltecimento de suas qualidades ambientais e scio-culturais,

    conferindo uma urbanidade positiva no mercado turstico e facilitando a compreenso global do

    visitante em relao regio visitada. No mbito das relaes entre hspedes e anfitries, torna-se

    imprescindvel que a populao local reconhea a importncia e o significado que o patrimnio

    cultural adquire para a sua identidade e memria social, a fim de possibilitar que a atividade se

    desenvolva balizada nos princpios da sustentabilidade.

    REFERNCIAS

    AVILA, Marco Aurlio. Poltica e planejamento em cultura e turismo: reflexes, conceitos e

    sustentabilidade. In: AVILA, Marco Aurlio (org). Poltica e Planejamento em cultura e turismo.

    Ilhus: Editus, 2009. p.15-37.

    ASCANIO, Alfredo. Turismo La reestructuraccon cultural. In: Pasos: Revista de Turismo y

    Patrimnio Cultural. Volume 01, nmero 01, 2003. Disponvel em: http: < www.pasosonline.org>

    Acessado em 10 de maro de 2009.

    BENI, Mrio Carlos. Anlise Estrutural do Turismo. So Paulo: SENAC, 2001.

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 30

    ________________.Um outro Turismo possvel. In: MOESCH, Marustchka; GASTAL, Susana.

    Um outro Turismo possvel So Paulo, Contexto, 2004.

    ________________. Planejamento estratgico e gesto local/regional do turismo. In: SEABRA, G.

    Turismo de base local: identidade cultural e desenvolvimento regional. Joo Pessoa: UFPB, 2007.

    BISSOLI, M. A. M.A. Planejamento Turstico Municipal com Suporte em Sistemas de

    Informao. So Paulo: Futura, 2002.

    BOMFIM, Natanael dos Reis. O conceito de patrimnio numa perspectiva multidisciplinar :

    contribuies para uma mudana de enfoque. Revista Turismo & Desenvolvimento. So Paulo,

    2005, vol. 5, n.1, p. 27-35.

    CAMARGO, Haroldo Leito. Patrimnio Histrico e Cultural. So Paulo: Aleph, 2002.

    DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Mtodos e tcnicas de pesquisa em turismo. So Paulo:

    Futura, 1998.

    GASTAL, Susana. Lugar de memria: por uma aproximao terica ao patrimnio local. In:

    GASTAL, Susana (org). Turismo: investigao e crtica. So Paulo: Contexto, 2002.

    HALL, C. M. Planejamento Turstico: Polticas, Processos e relacionamentos. So

    Paulo: Contexto, 2001.

    HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz (org). Identidade e Diferena. 4

    ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. p.103-131.

    MENESES, Jos Newton Coelho. Histria e Turismo Cultural. Belo Horizonte: Autntica, 2004.

    MOLINA, Srgio. Planejamento do Turismo: um enfoque para a Amrica Latina. So Paulo:

    EDUSC, 2001.

    MURTA, Stela Maris; ALBANO, Celina. (orgs). Interpretar o patrimnio: um exerccio do olhar.

    Belo horizonte: Ed UFMG; territrio Brasilis, 2002.

    NORA, Pierre. Entre Memria e Histria: a problemtica dos lugares. So Paulo, 1993.

    OLIVEIRA, Slvio Luiz de. Tratado de Metodologia Cientfica. So Paulo: 1998.

    PINE II, B. Joseph; GILMORE, James H. Welcome to the experience economy. Harvard Business

    Review. Vol. 76 (4), 1998.

    PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhes (org). Lazer e estilo de vida. Santa Cruz do Sul:

    EDUNISC, 2002.

    RODRIGUZ, Jos Manuel Mateo. Desenvolvimento Sustentvel: nveis conceituais e modelos. In:

    CAVALCANTI, Agostino Paula Brito. Desenvolvimento Sustentvel e planejamento: bases

    tericas e conceituais. Fortaleza: UFC- Imprensa Universitria, 1997.

    RUSCHMANN, Doris Van de Meene. Turismo e planejamento sustentvel: a proteo do meio

    ambiente. So Paulo: Papirus, 1997.

  • CARVALHO / CULTUR / ANO 04 - N 01 - JAN (2010) 31

    SACHS, Ignacy. Estratgias de transio para o sculo XXI. Desenvolvimento e meio ambiente.

    So Paulo, Nobel, 1994.

    SANCHZ, A.G; GARCA, F.J. El turismo cultural y de sol y playa:Sustitutivos o

    complementarios? In: UNIVERSIDAD POLITCNICA DE CARTAGENA. Cuardernos de

    Turismo: 2003, 11; pp. 97-105.

    SIMO, M. C. Preservao do patrimnio cultural em cidades. Belo Horizonte: Autntica,

    2006.

    SIVIEIRO, Ana Paula. Os elementos do espao turstico urbano no processo de planejamento:

    reflexes tericas e articulaes. In: R.RAEGA, Curitiba, n.11, p.51-59, Editora UFPR.

    SWARBROOKE, John; HORNER, Susan. O comportamento do consumidor no turismo. So

    Paulo, Aleph, 2002.

    URRY, John. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporneas. So Paulo:

    EDUSC, 1996.

    VINUESA, Miguel ngel Troitio. Turismo e desenvolvimento nas cidades histricas Ibero-

    Americanas: desafios e oportunidades. In: PORTUGUEZ, Anderson Pereira. Turismo Memria e

    Patrimnio Cultural. So Paulo: Roca, 2004.

    YZIGI, Eduardo. Turismo: uma esperana condicional. So Paulo: Global, 1999.

    YDICE, Georges. A convenincia da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte:

    UFMG, 2004.