Lucius

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Capítulo único

uma pequena comunidade ao Norte de um país

chamado X, perto de um conjunto de montanhas

belas e imponentes, vivia um homem, cuja idade já

ultrapassava os 40 e ainda não havia se casado. Levava uma vida

solitária e não pensava em arrumar uma companheira para lhe

fazer companhia em seus dias de solidão.

Bem, este homem se chamava Lucius. Sua pele era clara,

olhos tão castanhos e enigmáticos que atraia todas as moças

daquela região. Ele tinha cabelos grisalhos e barba sempre por

fazer, gostava de ter barba porque ela dava a ele certa imponência

e uma aparência um pouco rústica e misteriosa.

O fato é que naquela pequena comunidade, também vivia

Padre Caio, um sacerdote que era amigo de todos. Cuidadoso de

suas ovelhas preocupava-se com cada uma delas. Vivia naquela

comunidade há 10 anos, participava da vida de cada morador, havia

batizado muitas crianças em sua Paróquia, e fizera incontáveis

casamentos. Todos até então, ainda permaneciam intactos,

coroados com a felicidade e as bênçãos de Deus.

Lucius era uma ovelha muito especial para Padre Caio, pois

sempre o ajudou na Paróquia, inclusive fornecendo verbas para a

manutenção da mesma.

Padre Caio não compreendia porque Lucius ainda não

arranjara uma noiva para se casar, pois sempre ouvia da

comunidade muitos falatórios sobre moças que eram desejosas de

se tornar a esposa de Lucius.

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Certo dia, Padre Caio percebeu que Lucius estava triste,

bastante pensativo, imaginou logo que a causa era a falta de uma

companheira. Resolveu que teria uma conversa com ele, mas

antes, tomou conhecimento de todas as candidatas possíveis de se

tornar a esposa de seu amigo e servo querido. Iria então arranjar

uma esposa para Lucius.

Já decidido, Padre Caio mandou chamar Lucius na Paróquia

para conversar. Ele prontamente atendeu seu chamado. Sentaram

em um dos bancos próximo ao altar da Igreja e começaram a

dialogar:

- Padre Caio, o senhor mandou me chamar? – perguntou

Lucius, ávido para saber o real motivo daquele convite.

- Sim filho. Tenho um assunto de grande importância a

tratar com você. – disse o Padre.

- Então fale Padre! Estou aqui pra isso.

- Você precisa se casar. – falou o Padre. Sem rodeios, indo

diretamente ao ponto.

- Casar?! Ficou doido Padre? Ah, desculpe Padre...

Desculpe. Não quis falar assim com o senhor, mas é... é que...

nunca havia pensado nisso, sabe! Imagine o senhor, que

casamento é uma coisa muito séria! Além do mais... – Lucius

silenciou.

- Além do mais... o que meu filho? Falta de candidatas não

é. Tem a Flaviana, a Henriqueta, a Gabriela, a Tereza, a Elda, a

Aninha, a... aquela... como se chama mesmo? A filha do

prefeito que estudava fora e retornou pra cidade há poucos

dias? – Lucius interrompeu o padre:

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- Não acredito Padre! Onde conseguiu arranjar tantas

candidatas pra se casar comigo?! Quem são essas moças?! –

perguntou Lucius bastante surpreso com as revelações do Padre.

- Ora Lucius, por favor! Confie em mim. Sei que todas elas

são apaixonadas por você. O que não lhe faltam são

candidatas pra ser sua esposa. Eu só quero ajudar você a ser

feliz, a ter uma família meu filho! Eu me preocupo mesmo com

você. E sabe de uma coisa; eu sonho celebrar seu casamento!

– disse o Padre, no intuito de convencer Lucius.

- Padre, Padre... Ouça bem o que vou lhe dizer: - só me

casarei por amor. Por amor! Entendeu Padre? Estas moças

podem até ser apaixonadas por mim, mas eu não as amo,

entende? Quero me casar com uma pessoa que eu realmente

ame com toda a força do meu coração. Que me faça sentir a

vontade de continuar vivendo e construindo na minha vida.

Que me encha de entusiasmo a cada amanhecer. Que me faça

desejar ter filhos, gerar vidas, deixar minha descendência, e

também, que deixe o meu coração mais leve. Sabe Padre, casar

não é só escolher uma bela companhia e levar para o altar, tem

que haver muito amor. – disse Lucius, expondo seu ponto de vista

ao Padre.

Depois de todas estas declarações, Padre Caio imaginou que

talvez Lucius já tivesse uma candidata que ninguém ainda havia

descoberto. Um amor secreto. Resolveu questiona-lo:

- Lucius...

- Pode falar Padre!

- Você tem alguma moça em mente, com quem gostaria de

se casar?

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- Como assim padre, alguma moça? Que moça?!

- É isso que eu quero saber, meu filho! Que moça?!

- Padre, na verdade eu amo uma moça sim, mas... – Lucius

silenciou e o Padre com toda a sua curiosidade aflorada, perguntou

com ânsia:

- Diga Lucius! Diga meu filho! Quem é essa moça e o que

o impede de falar sobre ela? Não me deixe nessa agonia!

- Sabe Padre, ela é...

- Vamos! Fale logo! Fale de uma vez homem!

- É Lívia. Pronto, falei.

- Meu Deus! Lívia?! Aquela mulher que tem um filho não

se sabe de quem? Aquela que trabalha na casa da Sra.

Margarida? Aquela que já tem quase a sua idade?! - o padre não

compreendia porque Lucius se apaixonara por uma mulher que já

não era tão nova, tinha quase a idade de Lucius, e ainda tinha um

filho de outro homem! Não era preconceito, mas ele, o Padre,

imaginava uma esposa mais jovem e que pudesse dar muitos filhos

a Lucius.

- Para com isso Padre! Porque esta cara de espanto? O

senhor não entende! É a Lívia que eu amo! Nunca disse isso

pra ninguém. Desde a primeira vez que a vi me apaixonei por

ela, e nunca mais deixei de pensar nela um dia sequer. Padre, a

vida é mesmo assim. O amor não se justifica pela vontade do

homem, mas pela vontade de Deus. O senhor como um

sacerdote sábio deveria saber que Deus possui uma maneira

muito especial de nos fazer feliz, de nos ensinar a amar e

aprender com as pessoas que Ele coloca em nosso caminho.

Eu chamo de destino, o fato de nos apaixonarmos por pessoas

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que nunca imaginávamos amar. Amei Lívia desde o primeiro

dia que a vi, e tenho certeza, ela é a mulher da minha vida. -

concluiu Lucius.

- Talvez você esteja certo filho, mas não me conformo.

Não me conformo mesmo. Se ao menos tentasse conhecer

melhor a filha do Sr. Juarez, aquela moça tão meiga.. – Padre

Caio foi interrompido.

- Padre! Padre, ouça bem; não é esse tipo de vida que eu

desejo viver! Não posso inventar um amor por alguém! Eu sei

que o senhor deseja o melhor para mim, mas eu não me

casarei se não for por amor. – ponderou Lucius.

- Desculpe meu filho. Você tem razão. Eu é que estou

sendo crítico e preconceituoso mesmo. São os pecados da

minha mente ainda em evolução. Talvez você, mesmo não

sendo um sacerdote como eu, tenha uma alma mais evoluída

que a minha. Estou errado e até começo a me sentir

envergonhado por suas palavras. Não se deve mesmo forçar

um casamento sem amor, porque isso somente lhe causaria

sofrimento na vida. Além do mais, Lívia é uma boa mulher sim!

Nunca a vi se comportando de forma errada. Porque você não

pede logo a mão de Lívia em casamento? Eu realizarei a

cerimônia com muita alegria. – o padre caiu em si e acabou

concordando com o pensamento de Lúcius.

- Sabe padre, eu até gostaria, mas nunca tive coragem de

dizer a ela que eu a amo. Temo que ela não acredite em mim.

Ela é uma moça muito sofrida Padre! Ela foi enganada pelo pai

do filho dela. Ele a fez sofrer muito...

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- Mas porque não acreditaria meu filho? Você precisa

tentar, entende? Tentar! – aconselhou o padre.

- Estou procurando coragem. Quando encontrar esta

coragem a pedirei em casamento, o senhor vai ver. Tem mais

uma coisa que quero lhe dizer: – será o casamento mais bonito

que o senhor celebrará aqui em sua Paróquia. – disse Lucius

com entusiasmo.

***

A vida de Lucius continuou na mesma rotina por mais algum

tempo, com a diferença de que as palavras de conforto e esperança

que Padre Caio lhe transmitia o deixava mais confiante. Já que

agora também, o Padre já sabia de seu amor por Lívia.

Padre Caio vez ou outra procurava aproximar Lucius de Lívia,

e aos poucos percebia uma mudança no humor de seu amigo.

Sentia que Lívia parecia realmente ser a mulher do destino de

Lucius, inclusive, já estavam se tornando bem mais próximos um do

outro. Isso já era uma grande esperança para que se cumprisse o

destino dos dois, que era de uma grande união e de um casamento

muito feliz.

***

Tempos depois, com mais serenidade, Lucius tomou coragem

e declarou seu amor a Lívia, e para a sua alegria, ela também

revelou que o amava e que era apaixonada por ele desde quando o

viu prestando serviços voluntários à Igreja, cheio de bom humor,

coisa que ela valorizava muito em uma pessoa. A certeza de que

ele era o homem de sua vida foi tão forte, que ela soube no mesmo

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instante que havia encontrado o seu verdadeiro amor, o homem do

seu destino. Ela sabia que era só questão de tempo, para se unir a

ele pelos laços do verdadeiro amor.

Assim Padre Caio finalmente concretizou seu maior desejo; o

de celebrar o casamento de Lucius, para que ele finalmente

formasse sua própria família e não vivesse mais tão sozinho.

Fim