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LUCIANO ARAUJO AZEVEDO RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA “Trabalho acadêmico apresentado à Faculdade de Veterinária da UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, como um dos pré- requisitos para obtenção do título de Médico Veterinário.” Orientador acadêmico: Prof. Dr. Marcio Nunes Corrêa Pelotas, 2011

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LUCIANO ARAUJO AZEVEDO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

EM MEDICINA VETERINÁRIA

“Trabalho acadêmico apresentado à

Faculdade de Veterinária da UNIVERSIDADE

FEDERAL DE PELOTAS, como um dos pré-

requisitos para obtenção do título de Médico

Veterinário.”

Orientador acadêmico: Prof. Dr. Marcio Nunes Corrêa

Pelotas, 2011

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AGRADECIMENTOS

A Deus por toda saúde e pelo dom da vida.

Aos meus pais, Hélio Bernardes Azevedo e Elena Catharina Araujo

Azevedo, por todo apoio durante a trajetória da minha vida. Sei das

dificuldades que passamos e vocês nunca mediram esforços para me

proporcionar o melhor. Agradeço pelo exemplo de pai e mãe, exemplo de

casal, cidadãos, família e acima de tudo pelos conselhos, incentivos,

recriminações e todo suporte que tive durante toda a minha vida.

A minha irmã Rafaela Araujo Azevedo, ao meu irmão Felipe Araujo

Azevedo e minha cunhada Misleine Azevedo, que sempre estão ao meu lado

nos momentos que preciso.

Sou muito grato as tias Maria Silveira Moraes e Dilma Silveira Moraes

que tenho a liberdade de considerá-las como minha segunda mãe. Agradeço-

as pelo exemplo de humildade, bondade, seriedade, honra e principalmente por

terem participado de boa parte de minha criação.

A todos os tios, tias e primos pelo amor de família, companheirismo e

pelo incondicional apoio em todas as situações.

Agradeço a minha orientadora e amiga Dra. Eliza Simone Viegas Salles

que me orientou durante minha graduação na Patologia Veterinária da UFPel.

Obrigado pelos conhecimentos transmitidos, conselhos dados e pelas

chamadas de atenção quando necessário.

Ao meu orientador acadêmico e amigo Dr. Marcio Nunes Corrêa, sou

muito grato pela confiança, orientação e apoio durante a graduação e

principalmente durante o período de estágio curricular supervisionado.

Ao meu orientador de campo Marco Antônio de Pádua Carvalho e

demais técnicos da empresa MCA GESTÃO PECUÁRIA por terem me dado a

oportunidade de realizar meu estágio curricular na empresa e adquirir

experiência e conhecimento para atuar como Médico Veterinário.

Ao professor e amigo Sérgio Silva da Silva, professora Dra. Fabiane

Grecco, demais professores acadêmicos e ao Médico Veterinário Paulo

Augusto Braga, agradeço pelos conhecimentos e ensinamentos compartilhados

durante a graduação e estágios.

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A todos meus amigos, colegas e pessoas especiais que certamente me

acompanharão para o resto da minha vida independente da distância e do

tempo.

Um agradecimento especial aos meus amigos e colegas Amir Sessim,

Barbara Mallmann, Bruna da Silva, Eduardo Fontoura, Giovane Gil, Henrique

Pestano, Laís Oliveira, Leonardo de Castro, Luciana de Castro, Luis Gustavo

da Silva, Mariângela Gil, Natália de Castro, Pablo Estima e Sérgio Vargas

Junior. Obrigado pelo companheirismo, alegrias, críticas, conselhos e vivências

que certamente me moldaram e devido a isso fazem parte de mais essa

conquista da minha vida.

Obrigado a todos!

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RESUMO

O estágio curricular obrigatório foi realizado na empresa MCA GESTÃO

PECUÁRIA na cidade de Passos-MG, no período de 31 de janeiro a 20 de

abril, onde foram cumpridas 40 horas semanais, sendo efetuado um total de

460 horas de estágio curricular supervisionado.

O estágio foi realizado sob orientação acadêmica do professor Dr.

Marcio Nunes Corrêa e orientação de campo do Médico Veterinário Marco

Antônio de Pádua Carvalho, onde foram realizadas atividades na área de

gestão, nutrição, clínica, reprodução e sanidade em pecuária leiteira.

O período de estágio contribuiu para um maior aprendizado e

possibilitou praticar os conhecimentos adquiridos durante o período de

graduação em pecuária de leite.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa do estado de MG com a localização de Passos. ........................ 11

Figura 2: Gráfico de relação do rebanho bovino quanto a aptidão. .................... 12

Figura 3: Avaliação dos lotes. .................................................................................... 16

Figura 4: Manejo de vacina. ....................................................................................... 17

Figura 5: Vermifugação dos animais. ....................................................................... 18

Figura 6: Vacas passando no pedilúvio. .................... Erro! Indicador não definido.

Figura 7: Técnico da MCA GESTÃO PECUÁRIA acompanhando manejo de

ordenha. ........................................................................................................................ 21

Figura 8: Realização do teste da caneca de fundo preto...................................... 23

Figura 9: Interpretação do teste cervical comparativo em bovinos. .................... 24

Figura 10: Tuberculinização dos animais. ............................................................... 25

Figura 11: Coleta de leite para cultura bacteriana. ................................................ 27

Figura 12: Protocolo de IATF gado holandês. ........................................................ 28

Figura 13: Protocolo IATF gado gir e girolando. ..................................................... 28

Figura 14: Avaliação dos animais por palpação retal. ........................................... 29

Figura 15: Sexagem de feto por ultrassonografia. ................................................. 30

Figura 16: Vaca doadora de embrião. ...................................................................... 32

Figura 17: Receptoras de embrião com cria ao pé. ............................................... 33

Figura 18: Protocolo de superovulação das doadoras de embriões. .................. 34

Figura 19: Lavagem uterina para coleta de embriões. .......................................... 35

Figura 20: Avaliação e seleção de embriões. ......................................................... 36

Figura 21: Protocolo de sincronização de receptoras. .......................................... 37

Figura 22: Inovulação de embriões a fresco. .......................................................... 37

Figura 23: Congelamento de Embriões. .................................................................. 38

Figura 24: Coleta de oócitos para FIV. ..................................................................... 39

Figura 25: Avaliação e seleção de oócitos. ............................................................. 40

Figura 26: Tratamento de Hipocalcemia. ................................................................. 42

Figura 27: Caso clínico de Acidose Ruminal. ......................................................... 45

Figura 28: Administração de Drench no tratamento de Cetose. .......................... 48

Figura 29: Caso clínico de Retenção de Placenta. ................................................ 50

Figura 30: Caso clínico de Endocardite. .................................................................. 53

Figura 31: Exame clínico em terneira com Pneumonia Aspirativa. ..................... 55

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Figura 32: Avaliação dos potreiros. .......................................................................... 58

Figura 33: Disco medidor de forragem. .................................................................... 59

Figura 34: Técnico da Semex Brasil avaliando animais para o acasalamento. 62

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LISTA DE TABELA

Tabela 1: Relatório de agrupamento. ............................................................... 15

Tabela 2: Relação de atendimentos clínicos realizados durante o estágio. ..... 41

Tabela 3: Itens avaliados durante o acasalamento dos animais. ..................... 61

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SUMÁRIO

Conteúdo

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10

2. APRESENTAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PASSOS ..................................... 11

3. EMPRESA: MCA GESTÃO PECUÁRIA .................................................... 13

4. VISITAS TÉCNICAS .................................................................................. 14

5. MANEJO DOS LOTES .............................................................................. 15

6. MANEJO SANITÁRIO................................................................................ 16

6.1. VACINAS ............................................................................................ 16

6.2. ANTIPARASITÁRIOS .......................................................................... 17

6.3. PEDILÚVIO ......................................................................................... 18

6.4. MANEJO DE ORDENHA .................................................................... 20

6.5. CONTROLE DE MASTITE .................................................................. 22

6.6. EXAME DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE ................................... 23

6.7. QUALIDADE DO LEITE ...................................................................... 25

7. MANEJO REPRODUTIVO ......................................................................... 27

8. TRANSFERÊCIA DE EMBRIÃO (TE) E COLETA DE OÓCITOS PARA

FECUNDAÇÃO IN VITRO (FIV) ....................................................................... 30

8.1. TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO (TE) ............................................... 30

8.1.1. SELEÇÃO DAS DOADORAS ....................................................... 31

8.1.2. LOCAL PARA A COLETA DE EMBRIÕES ................................... 32

8.1.3. SELEÇÃO DAS RECEPTORAS DE EMBRIÕES ......................... 32

8.1.4. REALIZAÇÃO DA TÉCNICA ........................................................ 33

8.2. COLETA DE OÓCITOS PARA FECUNDAÇÃO IN VITRO (FIV) ........ 38

9. ATENDIMENTOS CLÍNICOS .................................................................... 40

9.1. HIPOCALCEMIA ................................................................................. 41

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9.2. ACIDOSE RUMINAL ........................................................................... 44

9.3. CETOSE ............................................................................................. 47

9.4. RETENÇÃO DE PLACENTA .............................................................. 49

9.5. ENDOCARDITE .................................................................................. 51

9.6. PNEUMONIA ASPIRATIVA ................................................................ 54

10. MANEJO NUTRICIONAL ....................................................................... 56

11. MANEJO DE PASTAGEM ...................................................................... 57

12. ATUAÇÃO NA ÁREA COMERCIAL ....................................................... 60

13. CONCLUSÃO ......................................................................................... 63

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 64

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1. INTRODUÇÃO

Este relatório tem por objetivo descrever as atividades realizadas no

estágio curricular supervisionado, que foi realizado na empresa MCA GESTÃO

PECUÁRIA.

O estágio foi efetuado sob orientação acadêmica do professor Dr. Marcio

Nunes Corrêa, e orientação de campo do Médico Veterinário Marco Antônio

Pádua Carvalho.

As atividades desenvolvidas na MCA GESTÃO PECUÁRIA, que

totalizaram 460, foram realizadas através do acompanhamento dos técnicos da

empresa às propriedades assistidas pelos mesmos. Isto me proporcionou

conhecimentos práticos na área de gestão, nutrição, clínica, reprodução e

sanidade em pecuária leiteira. Além disso, devido a visitas em diversas

propriedades de Minas Gerais e de outros estados, pude ter uma noção da

realidade da pecuária leiteira nacional. Também, devido ao contato diário com

novos produtores, novos funcionários e novas propriedades cada um(a) com

suas peculiaridades, me possibilitou desenvolver uma grande capacidade de

relacionamento pessoal e análise crítica de cada situação.

O estágio curricular tem como objetivo por em prática os conhecimentos

adquiridos durante o período de graduação e adquirir experiência prática para

atuar como Médico Veterinário.

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2. APRESENTAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PASSOS

Passos é um município localizado no estado de Minas Gerais, tendo início

em meados do século XVIII, com as primeiras fazendas sendo implantadas

entre 1780 e 1830, sendo que a Vila propriamente dita, inicia em 1850.

No século XVIII, a descoberta de ouro em Jacuí e faiscagens nas suas

redondezas motivou acirradas questões de limites entre São Paulo e Minas

Gerais. Para assegurar a posse, foi incentivada fixação de casais na região. Os

paulistas vieram da região de Moji, os mineiros da região de São João del-Rei

e Lavras do Funil. Muitos outros vieram diretamente das ilhas portuguesas.

Por volta de 1780, tendo morrido o pai, o jovem Padre José de Freitas e

Silva fixou-se em Jacuí e implantou a Fazenda Bonsucesso, ao pé do morro de

São Francisco, onde instalou a mãe viúva e outros familiares. Dona Faustina

Maria das Neves, daí pra frente, dirigiu os destinos da fazenda, de cujo a

colônia, junto às faisqueiras do Bonsucesso, se originou a cidade de Passos,

meio paulista meio mineira.

Fundado em 14 de Maio de 1858, o município localiza-se na região

sul/sudoeste de Minas Gerais (Fig. 1), a uma latitude 20º43'08" sul e longitude

46º36'35" oeste, a uma distância de 343 Km de Belo Horizonte, ocupando uma

área de 1.339.199 Km2 e apresenta um clima tropical chuvoso, com

temperatura média anual de 18 °C.

Figura 1: Mapa do estado de MG com a localização de Passos.

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A economia do município baseia-se principalmente no agronegócio, em

pequenas indústrias de confecções e móveis, além de um forte setor de

serviços, por ser um pólo regional. Dentre as atividades do agronegócio, se

destacam os setores de agroindústrias (açúcar e álcool, fermento, laticínios e

frango), agropecuária (principalmente pecuária leiteira com grande destaque no

município), cana de açúcar, café, milho, avicultura e suinocultura. A pecuária

leiteira, assim como a produção de cana de açúcar e as indústrias de

confecções são as principais fonte de renda do município. O rebanho bovino do

município é composto por 116.394 animais, sendo 69.836 bovinos de corte e

46.558 bovinos leiteiros. Como demonstrado na Fig. 2.

Figura 2: Gráfico de relação do rebanho bovino quanto a aptidão.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no ano

de 2009, em Passos/MG, foram ordenhadas 34.900 vacas com uma produção

anual de 84.034.000 litros de leite.

Bovinos de corte60%

Bovinos de leite40%

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3. EMPRESA: MCA GESTÃO PECUÁRIA

A MCA GESTÃO PECUÁRIA foi fundada no ano de 2009 pelo Médico

Veterinário Marco Antônio Pádua Carvalho. Hoje a empresa conta com quatro

veterinários. Além do sócio fundador, a empresa conta com os Médicos

Veterinários Ricardo Rosique Lara, Fernando Cardoso e Marcio Henrique

Viana.

A empresa localiza-se em Passos-MG e trabalha com pecuária leiteira,

atuando nas áreas de gestão, nutrição, clínica, reprodução e sanidade. Apesar

de a MCA GESTÃO PECUÁRIA estar localizada em Passos-MG, os técnicos

da empresa atuam em outros municípios da região e em outros estados do

Brasil como Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Hoje, com exceção do Médico Veterinário Marcio Henrique Viana que

trabalha com qualidade de leite, cada veterinário da empresa tem suas

propriedades de atuação, porém, o objetivo do sócio fundador, é de no futuro

tornar a MCA GESTÃO PECUÁRIA uma empresa de consultoria veterinária,

onde a empresa contará com mais técnicos para atuar em diversas áreas do

campo veterinário (gestão, nutrição, clínica, reprodução e sanidade).

O objetivo de tornar a MCA uma empresa de consultoria veterinária é

tentar ampliar a área de atuação da empresa, ou seja, com isso cada Médico

Veterinário não ficaria restrito apenas as propriedades onde atua, e sim atuaria

em todas as propriedades que estarão sob a supervisão da empresa.

A MCA GESTÃO PECUÁRIA conta com a parceria de algumas empresas

que atuam na área veterinária. Entre as empresas parceiras se encontram a

Pfizer, Nutron, QJN, Elanco, Semex Brasil e Rancho Grande Embriões. A MCA

não tem fidelidade a estas empresas, porém devido à aproximação destas aos

técnicos da MCA, estes dão preferência aos produtos dessas empresas.

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4. VISITAS TÉCNICAS

Os técnicos da MCA GESTÃO PECUÁRIA realizam visitas periódicas (15-

15 dias, 20-20 dias, 30-30 dias; conforme o interesse do produtor) nas

propriedades as quais são responsáveis, onde realizam reuniões com os

produtores discutindo custos de produção (onde devem investir, porque

investir, onde devem reduzir custos) e sobre melhora nos manejos (pastagens,

reprodutivo, sanitário, nutrição, qualidade do leite). Para isso, os técnicos da

empresa contam com o auxilio de alguns sistemas de gestão pecuária

(Agenda, Dairy Plan C21, Congado, Ideagri). Estes têm por objetivo auxiliar no

gerenciamento do rebanho, registro, análise e acompanhamento da atividade.

Ao chegar às propriedades para a realização da visita técnica, os

veterinários da empresa recebiam uma série de relatórios contendo dados da

fazenda. Dentre os dados contidos nesses relatórios podiam-se observar a

pesagem de leite do mês anterior, dias em lactação das vacas (DEL), o número

de inseminações, os dias pós-parto, os dias de gestação, e a ultima pesagem

de leite (tab. 1).

As vacas que estavam com 35 dias pós-parto eram avaliadas (exame

ginecológico) e se o sistema reprodutivo se apresentava hígido, os animais

eram liberados para inseminação. As vacas com mais de 45 dias de

inseminação ou com 30 dias de inovulação recebiam diagnóstico de gestação.

As vacas que estavam com previsão de parto para os próximos 60 dias,

recebiam diagnóstico de gestação e se confirmada a prenhez deveriam ser

secas e encaminhadas para o lote de vacas secas.

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Tabela 1: Relatório de agrupamento.

BRINCO NOME BST NIA LOTE DPP DEG UP PESO SECAGEM OBSERVAÇÕES

1105 DENGOSA

3 159 0 37,5 42,9 1106 MIMOSA

3 119 0 31,2 31,5

1109 ESTRELINHA

3 154 107 29,5 56,1 1110 CAÇAPA S

3 164 107 32,3 32,8

1123 MADONA

3 119 0 29,4 20,4 1127 SOFIA S

3 225 0 29 40,8

1135 LINDAÇA

3 102 0 51,6 51,2 1136 MOIRA S

3 262 0 37,8 43,5

1137 PRINCESA

3 101 0 51,5 56,9 1138 TROPEIRA

3 145 84 46,9 46,9

1139 FORMOSA S

3 171 0 33,2 33,7 1140 XUXA S

3 155 85 24,1 34,1

1142 BIGORNA

3 109 0 31,1 46,8 1143 MILENA S

3 498 147 28,1 42,2

1147 SERENATA

3 97 0 42 52 1148 INDIA

3 71 0 27,9 40,8

1149 TROCHADA

3 98 0 45,1 53,2 1150 PONTEIRA S

3 124 0 38,4 37,7

1155 PIPOCA

3 168 0 33,5 41,2 1156 MORENA 3 107 0 33 41,8

BST= Somatotropina Recombinante Bovina. NIA= Não Inseminar. DPP= Dias Pós-Parto. DEG=

Dias em Gestação. UP= Último Peso de leite.

5. MANEJO DOS LOTES

Os lotes eram divididos nas propriedades conforme a produção diária de

cada animal, respeitando a estrutura de cada propriedade (Free-Stall, manejo a

pasto, confinado, semi-confinado). Com base nas pesagens anteriores era

analisado se a vaca estava aumentando a produção, diminuindo ou se estava

com a produção estagnada. Os animais que estivessem com a produção

estagnada ou diminuindo, com condição corporal igual ou superior a 2,5

(escala de 1-5), e não apresentavam nenhuma injúria clínica, recebiam

Somatotropina Recombinante Bovina (BST). Essa avaliação era realizada

pelos veterinários da empresa (Fig. 3), e estes levavam em consideração

condição corporal, dias pós-parto, dias em lactação e se o animal estava

apresentando alguma injúria.

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Figura 3: Avaliação dos lotes.

6. MANEJO SANITÁRIO

6.1. VACINAS

Um dos aspectos pouco valorizado pelos produtores, mas de suma

importância para a MCA, é a sanidade do rebanho, e, dentro do aspecto

sanitário, a empresa possui um calendário de vacinação. O manejo sanitário

depende da realidade e situação de cada propriedade, porém o calendário de

vacinação conta com a utilização de algumas vacinas consideradas essenciais

pelos técnicos da empresa como Raiva, Febre Aftosa, Brucelose, Clostridioses,

Leptospirose, Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR), Diarréia Viral Bovina

(BVD), Diarréia Neonatal, Mastite. As vacinas de Febre Aftosa e Brucelose

eram realizadas conforme as campanhas nacionais. Os técnicos

recomendavam uma vacinação anual para Raiva (Fig. 4) e Clostridioses, e a

vacinação de IBR e BVD era recomendada que fosse efetuada de 6-6 meses.

A recomendação para as vacinas de Leptospirose e Mastite era para que fosse

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realizada de 3-3 meses, podendo variar um pouco de uma propriedade para

outra. A vacinação para Diarréia Neonatal era realizada em novilhas e vacas

que estivessem amojando.

Figura 4: Manejo de vacina.

6.2. ANTIPARASITÁRIOS

A recomendação dos técnicos da empresa era para que a vermifugação

fosse realizada mensalmente para os animais com até 10 meses de idade, de

2-2 meses para os animais com idade entre 11-24 meses e de 5-5 meses para

os animais adultos.

Devido à região ter uma infestação considerada alta de carrapato, os

técnicos recomendavam a utilização de carrapaticidas de 21-21 dias em todo

rebanho adulto e novilhas, e de 15-15 dias nas terneiras, com exceção das

terneiras que estavam no bezerreiro que eram observadas diariamente para

evitar qualquer problema com Tristeza Parasitária.

Os antiparasitários utilizados pelas propriedades variavam muito de uma

propriedade para outra, mas os principais vermífugos utilizados eram a base de

ivermectina (Fig. 5) e se utilizava muitos produtos a base de cipermetrina para

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o controle de carrapato.

Figura 5: Vermifugação dos animais.

6.3. PEDILÚVIO

A recomendação dos técnicos da empresa era para que todos os animais

adultos e novilhas passassem duas vezes por semana pelo pedilúvio. Era

recomendada a utilização de duas soluções (formol 5% e sulfato de cobre

2,5%). Um dia da semana os animais passavam no pedilúvio com solução de

formol a 5% e no outro dia da semana os animais passavam pelo pedilúvio com

solução de sulfato de cobre 2,5%.

O formol quando hidratado recebe o nome de formalina, e geralmente

está disponível no mercado na concentração de 37% e 40%. Este produto atua

inativando as proteínas e os ácidos nucléicos e em baixas concentrações,

causam lise da parede celular dos microorganismos. A solução de formol pode

ser utilizada nas concentrações de 3% e 5%, não devendo ser usado em

lesões abertas e em ambientes com temperaturas inferiores a 13°C. Este

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produto promove uma desidratação do casco, tornando-o mais rígido, sendo

uma possível opção para lugares úmidos (BORGES & GARCIA).

Com relação ao sulfato de cobre, o cobre é um agente oxidante atuando

como germicida. Apesar de possuir ação secante, com boa penetração nas

lâminas da muralha do casco, tornando-a mais dura, sua eficácia fica bastante

reduzida em contato com a matéria orgânica. Um aspecto importante é a

contaminação ambiental promovida por este produto, aumentando a

porcentagem de cobre nas forragens, podendo alcançar níveis tóxicos. O

sulfato de cobre pode ser utilizados nas concentrações variando de 2% a 5%

(BORGES & GARCIA).

Recomenda-se a utilização de pedilúvio (Fig. 6) com intuito de reduzir um

dos maiores problemas existentes na pecuária leiteira, que são os problemas

com afecções podais. As lesões de casco reduzem consideravelmente a

produtividade dos animais, pois devido às lesões podais os animais passam

boa parte do tempo deitados, reduzindo a sua ingesta, e, consequentemente, a

produção diária. Além disso, para tratar do problema muitas vezes tem-se a

necessidade da utilização de medicamentos, os quais levam ao descarte do

leite dos animais doentes, e, menor vida útil da vaca. As lesões levam,

inclusive, a redução da taxa reprodutiva das vacas doentes, uma vez que as

mesmas permanecem mais tempo em balanço energético negativo que as

demais no período pós-parto, em que o animal está gastando mais energia

para a produção de leite, e não consegue ingerir a quantidade de alimento

suficiente para repor este gasto. Assim, não conseguem voltar ao escore

corporal adequado para reiniciar o ciclo reprodutivo no mesmo tempo das

demais, aumentando o intervalo entre partos.

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Figura 6: Vacas passando no pedilúvio.

6.4. MANEJO DE ORDENHA

Durante as visitas técnicas, os veterinários da empresa acompanhavam a

ordenha de pelo menos uma das equipes de ordenhadores da propriedade

(Fig. 7). O objetivo era analisar como estava sendo efetuada a ordenha e

melhorar alguns procedimentos se necessário fosse.

Um esquema utilizado pelos técnicos da empresa para organizar a linha

de ordenha era priorizar a passagem dos lotes de vacas sem mastite, deixando

para o final da ordenha as vacas colostrais e em tratamento. Esse

procedimento ajuda a evitar que uma vaca com mastite contamine o

equipamento de ordenha aumentando o desafio da glândula mamária das

demais vacas a serem ordenhadas (MARQUES et al., 2006).

Em propriedades onde o desafio ambiental era muito alto, os técnicos da

empresa indicavam a realização de dois pré-dipping. Realizava-se o primeiro

pré-dipping, secava-se os tetos e em seguida era realizado outro pré-dipping

com posterior secagem dos tetos. O objetivo da realização desse manejo era

diminuir as incidências de mastites do rebanho e consequentemente um

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aumento de contagem de células somáticas (CCS) (RODOSTITS et al., 2002).

Outro detalhe que os técnicos davam atenção durante o manejo de

ordenha, era o tempo que os ordenhadores levavam deste o início do estímulo

da glândula mamária até a colocação das teteiras. Este não deve ultrapassar 2

minutos, pois se esse tempo for excedido pode passar o tempo de atuação da

ocitocina na glândula mamária, e, com isso, ficar leite residual na glândula

mamária vindo a aumentar a incidência de mastite no rebanho.

Um fator importante que os veterinários salientavam durante a ordenha é

uma condição conhecida como sobre ordenha. Considera-se que esta

ocorrendo sobre ordenha quando o fluxo da cisterna do teto é menor que o

fluxo para fora do teto. A sobre ordenha pode afetar negativamente a condição

dos tetos e a ocorrência de mastite. Muitas vezes o vácuo dentro da cisterna do

teto é maior que o vácuo aplicado na sua extremidade. O resultado disso é o

fluxo de leite contaminado com agentes causadores de mastite para partes

superiores do úbere (SANTOS et al., 2011).

Os técnicos da empresa não deixavam de salientar também a importância

do pós-dipping. O pós-dipping evita a entrada de patógenos ambientais na

glândula mamária (RODOSTITS et al., 2002). Por essa razão que esse manejo

não pode deixar de ser realizado.

Figura 7: Técnico da MCA GESTÃO PECUÁRIA acompanhando manejo de ordenha.

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6.5. CONTROLE DE MASTITE

Os técnicos da empresa recomendavam que fosse realizado o teste da

caneca de fundo preto diariamente previamente a ordenha (Fig. 8). As vacas

que apresentassem mastite clínica ao teste da caneca de fundo preto eram

tratadas, recebiam uma fita no membro posterior direito e eram encaminhadas

para o lote de vacas com mastite e colostrais.

Os veterinários da empresa classificavam a mastite em três graus. O

tratamento indicado dependia grau em que cada animal se enquadrava.

Grau 1: Grumos no leite;

Grau 2: Grumos no leite, sangue e glândula mamária inflamada;

Grau 3: Grumos no leite, sangue, glândula mamária inflamada e

comprometimento sistêmico.

Os animais que apresentavam grau 1 de mastite, eram tratados com

infusão intramamária de antibiótico. Os que apresentavam grau 2 de mastite,

eram tratados com infusão intramamária de antibiótico e antiinflamatório. Os

animais que se enquadravam no grau 3 de mastite, eram tratados com infusão

intramamária de antibiótico, antibióticoterapia parenteral e intravenosa e

antiinflamatório.

Os antibióticos utilizados variavam de propriedade para propriedade,

porém os princípios ativos mais utilizados para a infusão intramamária eram a

base de Cefquinoma (Sulfato de Cefquinoma 11%). Como antibióticoterapia

parenteral e intravenosa, era preconizada a utilização de Sulfa com

Trimetoprim (15 mg/Kg). No tratamento antiinflamatório, era indicado a

utilização de antiinflamatórios não esteroidais sendo o mais utilizado pelas

propriedades o Flunixin Meglumine (2,2 mg/Kg).

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Figura 8: Realização do teste da caneca de fundo preto.

6.6. EXAME DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE

O exame de Brucelose e Tuberculose era realizado de 3-3 meses (até as

propriedades se tornarem certificadas) nas propriedades onde a empresa atua,

pois se trata de duas zoonoses importantes e o controle dessas enfermidades

está cada vez mais rígido.

O exame de Brucelose e Tuberculose era realizado conforme os padrões

do Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose

(PNCEBT) criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA). Esse programa tem como objetivos específicos, baixar a prevalência e

a incidência de novos casos de Brucelose e Tuberculose, bem como, criar um

número significativo de propriedades certificadas ou monitoradas que ofereçam

ao consumidor produtos de baixo risco sanitário.

Para a realização do teste de Tuberculose os técnicos da empresa

adotavam como padrão o Teste Cervical Comparativo. Eram realizadas duas

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tricotomias (uma cranial e outra caudal) de mais ou menos 3x3 cm na região da

escápula. Após tricomizar era realizada a medição da prega cutânea (com

cutímetro) dos animais. Em seguida era realizada a inoculação das

tuberculinas (tuberculina aviária e tuberculina bovina). A tuberculina aviária era

inoculada na tricotomização cranial e a tuberculina bovina na tricotomização

caudal (Fig. 10). Após 72 horas de inoculação os técnicos da empresa

retornavam a propriedade para fazer a leitura. Essa leitura respeitava os

padrões de medidas do PNCEBT (Fig. 9).

ΔB - ΔA (mm) Interpretação

ΔB < 2,0 - Negativo

ΔB < ΔA <0 Negativo

ΔB ≥ ΔA 0,0 a 1,9 Negativo

ΔB > ΔA 2,0 a 3,9 Inconclusivo

ΔB > ΔA ≥4 Positivo

Figura 9: Interpretação do teste cervical comparativo em bovinos.

Para a realização do exame de Brucelose era coletado sangue dos

animais em tubos de vacutainers estéreis. Era utilizado uma agulha estéril e um

tubo vacutainer por animal coletado. O local de eleição para a coleta de sangue

era a veia mamária ou a coccígea. O sangue era armazenado em uma caixa

térmica com gelos recicláveis. Até ser encaminhado ao laboratório da

Cooperativa CASMIL (Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro LTDA).

No laboratório da CASMIL era realizado pelos técnicos habilitados o teste do

Antígeno Acidificado Tamponado (AAT). Se algum animal reagisse ao teste de

triagem (AAT), o soro deste animal poderia ser encaminhado para algum

laboratório de referência para a realização do teste de confirmação (2-

Mercaptoetanol), caso o produtor exigisse.

O exame de Brucelose e Tuberculose era realizado por dois Médicos

Veterinários da empresa que estavam habilitados para realizar os testes de

diagnóstico de rotina.

Os animais reagentes positivos ao teste diagnóstico de Brucelose e

Tuberculose eram isolados do resto do rebanho na propriedade e os técnicos

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da empresa comunicavam os técnicos do MAPA. Os animais positivos eram

marcados com ferro candente do lado direito da face com um P contido num

círculo de oito centímetros de diâmetro e deveriam ser sacrificados no prazo

máximo de trinta dias.

Os animais que davam resultado inconclusivo ao teste de Tuberculose

eram isolados do resto do rebanho e era realizado a retuberculinização num

prazo mínimo de sessenta dias. Os animais que apresentavam dois resultados

inconclusivos consecutivos eram classificados como reagentes positivos.

Figura 10: Tuberculinização dos animais.

6.7. QUALIDADE DO LEITE

Outro serviço prestado pela MCA GESTÃO PECUÁRIA era a coleta de

leite para posterior análise dos resultados (Fig. 11). Esse serviço era realizado

pelo Médico Veterinário Marcio Henrique Viana. As amostras coletadas eram

enviadas para a Clínica do Leite – Esalq, e as análises a serem realizadas pelo

laboratório eram a Contagem de Células Somáticas (CCS) e Contagem

Bacteriana Total (CBT).

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Segundo o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNQL)

criado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, a partir do dia

01/01/2011 os níveis máximos aceitáveis de CCS e de CBT no leite cru

refrigerado passariam a ser de 400.000 células/ml e 100.000 UFC/ml,

respectivamente (DÜRR et al., 2005).

As análises laboratoriais eram realizadas baseadas nos níveis de CCS de

cada animal. O Médico Veterinário avaliava os resultados das amostras e dava

um parecer a respeito dos tratamentos de mastite que vinham sendo utilizados

(taxa de cura, evolução, reincidência) e poderia informar o percentual de

mastite ambiental e contagiosa que estava acometendo o rebanho.

Também era exigido que o laboratório avaliasse os níveis de gordura,

proteína e uréia do leite coletado. As concentrações de uréia láctica são

indicadores do estado nutricional de proteínas e podem ser empregados como

auxílio à implantação de estratégias de alimentação de bovinos leiteiros

(MOORE & VARGA, 1996; BRODERICK & CLAYTON, 1997; JONKER et al.,

2002). Apesar disto, a avaliação da uréia láctica não vem sendo rotineiramente

utilizada no Brasil, principalmente devido ao desconhecimento dos

nutricionistas e a falta de dados nacionais.

O objetivo da realização desse manejo era gerar e analisar dados com

intuito adotar medidas eficientes, minimizando os problemas de cada

propriedade. Algumas fazendas realizavam esse manejo, porém a freqüências

de análises variavam de uma propriedade para outra. Em algumas

propriedades a análise era realizada mensalmente, em outras de 3-3 meses e

algumas propriedades só realizavam a coleta de leite para análise quando os

níveis de CCS apresentavam-se elevados.

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Figura 11: Coleta de leite para cultura bacteriana.

7. MANEJO REPRODUTIVO

Ao chegar às propriedades onde iria ser realizado o manejo reprodutivo,

os técnicos da empresa recebiam um relatório com a relação de animais a

serem avaliados. As vacas com mais de 45 dias de gestação ou com 30 dias

de inovulação deveriam receber diagnóstico de gestação, e as vacas com 30

dias pós-parto também eram avaliadas. Por palpação retal (Fig. 14) ou por

ultrassonografia (dependia da estrutura de cada propriedade), os animais não

gestantes eram avaliados. Aos 30 dias pós-parto se avaliava a involução

uterina das vacas. Caso o útero ainda se apresenta distendido e com presença

de liquido, as vacas recebiam uma aplicação de prostaglandina e cipionato de

estradiol e era recomendado que se reavaliasse essa vaca na próxima visita

técnica na propriedade para avaliar se o animal poderia ser liberado para a

reprodução. As vacas com 30 dias pós-parto e que apresentavam o sistema

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reprodutivo hígido eram liberadas para reprodução. As vacas não gestantes e

que apresentavam corpo lúteo, era recomendado a aplicação de uma dose de

prostaglandina, e se fosse observado cio nos próximos dias, deveriam ser

inseminadas. Vacas com presença de folículos ovarianos, com cistos ovarianos

e vacas não gestantes com DEL (dias em lactação) elevado, era recomendado

que estes animais entrassem no protocolo de IATF (Inseminação Artificial em

Tempo Fixo) ilustrados nas Fig. 12 e 13.

D₀ Implante com progesterona + Benzoato de Estrodiol (2ml)

D₇ Prostaglandina (2ml)

D₈ Retirar implante de progesterona e administrar Cipionato de Estradiol (0,5ml)

D₁₀ Inseminação

Figura 12: Protocolo de IATF gado Holandês.

D₀ Implante com progesterona + Benzoato de Estrodiol (2ml)

D₇ Prostaglandina (2ml)

D₉ Retirar implante de progesterona e administrar Cipionato de Estradiol (0,5ml)

D₁₁ Inseminação

Figura 13: Protocolo IATF gado Gir e Girolando.

As vacas que apresentavam condição corporal igual ou menor que 2,75

(escala de 1-5), recebiam uma aplicação de ECG no D₈ (gado holandês) ou no

D₉ (gado gir e girolando).

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Figura 14: Avaliação dos animais por palpação retal.

Outra técnica reprodutiva efetuada pelos técnicos da empresa era a

realização da sexagem fetal. A sexagem fetal era realizada através da

utilização de ultrassonografia identificando-se a posição final do tubérculo

genital (Fig. 15). A identificação do sexo fetal em bovinos pode ser realizada

entre 50-60 dias de prenhez (CURRAN et al., 1989; STROUD et al., 1996;

BARROS & VISINTIN et al., 2001).

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Figura 15: Sexagem de feto por ultrassonografia.

8. TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO (TE) E COLETA DE OÓCITOS PARA

FECUNDAÇÃO IN VITRO (FIV)

Os técnicos da MCA GESTÃO PECUÁRIA não trabalhavam com

aspiração de oócitos para realização de fecundação in vitro (FIV) e nem com

coleta de embriões. Porém a empresa possui uma parceria com a empresa

Rancho Grande Embriões, na qual tive a oportunidade de acompanhar a

realização dessas técnicas.

8.1. TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO (TE)

Devido aos baixos índices reprodutivos obtidos na pecuária leiteira,

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muitos produtores estão aderindo a uma técnica chamada de “embrião terapia”.

“Embrião terapia” é um programa utilizado pelas propriedades para melhorar a

eficiência produtiva e os índices reprodutivos do rebanho. Essa técnica é

utilizada quando os fatores de produção de leite e manejo afetam a fertilidade

natural e acabam dificultando a reprodução.

O objetivo da utilização dessa técnica é aumentar os índices reprodutivos,

e, com isso, tentar minimizar um grande problema existente na pecuária leiteira

(taxa de descarte de animais > taxa de reposição de animais). Além disso, se

na TE se utilizarem de material genético de alta e comprovada qualidade, um

expressivo aumento no ganho genético será obtido (FERRAZ et al., 2001).

Durante o período de estagio, tive a oportunidade de acompanhar a

realização de 10 coletas e transferências de embriões auxiliando os técnicos da

empresa Rancho Grande Embriões.

8.1.1. SELEÇÃO DAS DOADORAS

O primeiro passo adotado pelos técnicos da empresa Rancho Grande

Embriões para a realização da TE era a seleção de doadoras. As doadoras

(Fig. 16) podiam variar de vacas a novilhas, desde que estas apresentassem

alto desempenho reprodutivo, fertilidade comprovada, ausência de patologias

uterinas e ovarianas, controle sanitário efetivo (exame de Brucelose e

Tuberculose, testes regulares de IBR, BVD, Leptospirose), bom nível de

resposta à superovulação e que fossem vacas provadas genéticamente.

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Figura 16: Vaca doadora de embrião.

8.1.2. LOCAL PARA A COLETA DE EMBRIÕES

O local para a realização da coleta deveria ser coberto, dispor de energia

elétrica, água corrente, tronco para a contenção da doadora e receptora e

possuir uma boa condição de higiene.

8.1.3. SELEÇÃO DAS RECEPTORAS DE EMBRIÕES

Um detalhe que muitas vezes é dado pouca importância, porém

considerado de extrema importância para os técnicos da empresa Rancho

Grande Embriões é a seleção das receptoras, pois são elas que farão com que

o embrião implantado se desenvolva durante o período da gestação. As

receptoras (Fig. 17) deveriam ter exame negativo para Brucelose e

Tuberculose e também deveriam ser regularmente vacinadas para IBR, BVD,

Leptospirose.

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Figura 17: Receptoras de embrião com cria ao pé.

8.1.4. REALIZAÇÃO DA TÉCNICA

Após a seleção das doadoras a serem superovuladas, era realizado o

exame ginecológico das mesmas para se fazer uma avaliação do sistema

reprodutor. Se a doadora estivesse vazia e com o sistema reprodutor em

perfeitas condições, esta recebia aplicação de GnRH (3 dias antes de iniciar o

protocolo de superovulação). Os técnicos da empresa utilizavam a preparação

hormonal mais utilizada para a realização da superovulação, o FSH. Porém

não existe um padrão de dosagem e a dose deve ser adequada a cada animal.

A dose do produto comercial utilizado pelos técnicos variava entre 200-400

UI/animal. Este era diluído em 45 ml de Solução Fisiológica 0,9% para posterior

aplicação durante a superovulação conforme ilustra a Fig. 18. A administração

do FSH era realizada durante 4 dias durante o protocolo de sincronização (D₅,

D₆, D₇ e D₈).

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D₀ Implante com progesterona + Benzoato de Estradiol (3ml) D₅ 7ml de FSH às 7:00 horas; 7ml de FSH às 17:00 horas D₆ 6ml de FSH às 7:00 horas; 6ml de FSH às 17:00 horas D₇ 5ml de FSH às 7:00 horas; 5ml de FSH às 17:00 horas

D₈ 4ml de FSH às 7:00 horas; 4ml de FSH às 17:00 horas; retirar implante de progesterona e aplicar Prostaglandina (1ml)

D₉ Aplicar GnRH às 7:00 horas; inseminar às 17:00 horas D₁₀ Inseminar às 7:00 horas D₁₇ Coletar embriões

Figura 18: Protocolo de superovulação das doadoras de embriões.

No D₁₇ era realizada a lavagem uterina para a coleta de embriões. Antes

de realizar a coleta, os técnicos avaliavam por palpação retal ou

ultrassonografia como a doadora havia respondido ao protocolo de

superovulação. A avaliação era realizada observando a resposta ovariana de

cada vaca, isto é, observando a quantidade e a qualidade dos corpos lúteos

apresentado por cada animal. Se a doadora não obtivesse uma boa resposta, a

lavagem uterina nem era realizada.

As vacas que respondiam bem ao protocolo eram coletadas. Antes de

introduzir a sonda para coleta, era realizada uma anestesia epidural baixa com

lidocaína. Após a anestesia, se realizava o esvaziamento do reto para evitar

haver algum problema com contaminação fecal. A anestesia facilita a

manipulação dos equipamentos, pois provoca uma paralisia nas contrações

retais e auxilia na contenção do animal. Realizada a limpeza do reto, em

seguida era introduzido o cateter de Foley em um dos cornos uterinos e era

inflado o balão. Com o cateter na posição correta se iniciava a lavagem do

corno uterino que era feito com o meio PBS de Dulbecco (Fig. 19). Após a

lavagem, o liquido era drenado pelas mangueiras para um filtro. Eram

realizadas ± 8 lavagens por corno uterino.

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Figura 19: Lavagem uterina para coleta de embriões.

Após a realização da coleta dos embriões, um selecionador com auxilio

de um Estereomicroscópio (lupa com aumento de 40 a 60x) avaliava os

embriões (Fig. 20) para posteriormente ser realizado a inovulação.

A avaliação morfológica é muito subjetiva, e cada profissional acaba

desenvolvendo um critério próprio de avaliação, pois nem sempre as estruturas

que se encontram na literatura são iguais as encontradas na prática. Os

embriões podem ser classificados por categorias e por qualidade de acordo

com a Sociedade Brasileira de Transferência de Embriões (SBTE). De acordo

com a SBTE os embriões são classificados por categorias em: Mórula (Mo),

Mórula compacta (Mc), Blastocisto inicial (Bi), Blastocisto expandido (Bx),

Blastocisto em eclosão (Bn) e Blastocisto eclodido (Be). Quanto a qualidade

dos embriões a SBTE os classifica em: Embrião I (Excelente), Embrião II

(Bom), Embrião III (Regular), Embrião IV (Pobre), Embrião degenerado (Dg) e

Embrião não fecundado (Nf) (SILVA et al., 2007).

Enquanto o selecionador avaliava e envasava na palheta com PBS os

embriões coletados, o veterinário fazia a avaliação das receptoras, já

protocoladas, que iriam ser inovuladas.

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O número de embriões coletados durante as lavagens uterinas variavam

de um animal para outro. Pórem em animais da raça Holandês se conseguia

ter uma média de 7 embriões coletados por animal. Levando-se em

consideração todos os custos que se tem até a realização da coleta do

embrião, tendo uma média de 7 embriões por vaca coletada, o produtor arcaria

com um custo total de aproximadamente R$ 150,00 por embrião coletado.

Figura 20: Avaliação e seleção de embriões.

As receptoras protocoladas (como ilustra a Fig. 21) e avaliadas deveriam

ser inovuladas. Para facilitar a manipulação do útero e diminuir as contrações

retais, era realizada uma anestesia epidural baixa. O embrião era implantado

no corno uterino ipsolateral com o corpo lúteo bem desenvolvido (Fig. 22), ou

seja, do lado que tenha o ovário com o folículo ovulado, devendo-se ainda

avaliar o tamanho desse corpo lúteo, que é critério utilizado para determinar a

dispensa da receptora.

Em bovinos, verificou-se que as inovulações realizadas no corno

ipsilateral ao corpo lúteo funcional resultaram em um aumento significativo nas

taxas de prenhez em relação às realizadas no corno uterino contralateral ao

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corpo lúteo (SREENAN et al.,, 1976; TERVIT et al., 1977 e SIEDEL et al.,

1980). Tal situação foi atribuída à ação antiluteolítica dos fatores luteotróficos

produzidos pelo embrião que, quando depositado no corno contralateral, têm

que migrar pelo útero até chegar ao ápice do corno contendo o corpo lúteo

para exercer sua função. Também foi descrito que as transferências devem ser

realizadas no corno ipisilateral ao CL devido ao fato da migração intra-uterina

ser considerada rara em embriões bovinos (TERVIT et al., 1977).

D₀ Implante com progesterona + Benzoato de Estradiol (2ml)

D₇ Benzoato de Estradiol (2ml)

D₈ Retirar implante de progesterona e aplicar Cipionato de Estradiol(0,5ml)

D₁₇ Inovulação

Figura 21: Protocolo de sincronização de receptoras.

Figura 22: Inovulação de embriões a fresco.

Quando o número de embriões viáveis excedia a quantidade de

receptoras sincronizadas, não possibilitando a implantação de todos os

embriões a fresco, o congelamento de embriões era o recurso utilizado (Fig.

23). Para a realização do congelamento convencional, os embriões eram

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colocados numa solução concentrada de glicerol ou etilenoglicol e em seguida

eram envasados em palhetas de 0,25 ou 0,5 ml para o posterior congelamento.

Primeiramente os embriões eram imersos no nitrogênio líquido a -6°C por 6

minutos com objetivo de haver uma cristalização do embrião. Em seguida a

temperatura começava a baixar gradualmente até que o embrião atingisse uma

temperatura de -36°C. Posteriormente o embrião era armazenado em um

botijão contendo nitrogênio líquido.

Figura 23: Congelamento de Embriões.

8.2. COLETA DE OÓCITOS PARA FECUNDAÇÃO IN VITRO (FIV)

Outra técnica realizada pelos técnicos da empresa Rancho Grande

Embriões e que tive a oportunidade de acompanhar era a coleta de oócitos

para realização da fecundação in vitro (FIV).

Essa técnica era muito utilizada na região por produtores da raça gir e

girolando, pois nessas raças era possível a realização dessa técnica sem a

necessidade de arcar com custos de superovulação, pois as mesmas obtinham

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uma boa resposta ovariana (presença de folículo ovariana) sem utilização de

protocolo de superovulação.

A empresa Rancho Grande Embriões utilizava a técnica de punção

folicular guiado por ultra-som (Fig. 24). A coleta de oócitos era realizada

através da punção folicular de doadoras não superovuladas.

Os oócitos eram aspirados para um tubo estéril contendo um meio com

PBS, Soro fetal bovino e Heparina. Após a aspiração o tubo contendo os

oócitos era entregue para um selecionador que fazia a lavagem desses oócitos

e avaliação dos mesmos.

Figura 24: Coleta de oócitos para FIV.

Após a aspiração de oócitos, estes eram lavados com Soro Fetal Bovino,

eram selecionados e posteriormente eram colocados em tubos contendo meio

de transporte (Fig. 25). Em seguida os tubos com os oócitos eram colocados

em uma incubadora a ± 38°C, onde permaneceriam até chegarem ao

laboratório onde seriam maturados e posteriormente fecundados.

A quantidade de oócitos aspirados por animal era variável, e tive a

oportunidade de acompanhar a aspiração de animais com a produção de 100

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oócitos viáveis por aspiração. Porém, durante as aspirações que acompanhei,

pode-se notar uma média de aproximadamente 50 oócitos viáveis por vaca

aspirada.

Figura 25: Avaliação e seleção de oócitos.

9. ATENDIMENTOS CLÍNICOS

Os técnicos da empresa MCA GESTÃO PECUÁRIA, atuavam pouco na

área clínica. Porém, nas propriedades as quais os técnicos da empresa

atuavam em outras áreas (gestão, reprodução, sanidade, nutrição, qualidade

de leite), às vezes durante as visitas técnicas eram solicitados para realizar

algum atendimento clínico de emergência na propriedade.

Uma das queixas dos Médicos Veterinários da região era exatamente a

deficiência de bons profissionais atuando na realização de diagnóstico e

tratamento na área clínica.

Durante o período de estagio na empresa, o número de casos clínicos

(tab. 2) foi relativamente pequeno em relação ao tamanho do rebanho leiteiro

da região. Isto possivelmente se deve ao fato da falta de diagnóstico na região,

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mas também ao fato de as propriedades trabalharem em cima de medidas

preventivas de manejo e sanitárias.

Tabela 2: Relação de atendimentos clínicos realizados durante o estágio.

Casos Clínicos Número

Hipocalcemia 10

Cetose 8

Acidose 6

Pneumonia Aspirativa 3

Broncopneumonia 1

Endocardite 1

Retenção de Placenta 15

Partos Distócicos 11

Total 55

9.1. HIPOCALCEMIA

Caso Clínico

Fêmea bovina de terceira cria da raça Holandês. A vaca estava com 32

horas pós-parto, e anteriormente ao parto estava no lote pré-parto com mais 21

vacas. Este lote estava na pastagem de tifton e recebia suplementação com

silagem de milho. Os animais estavam recebendo 0,8% do peso vivo de ração

aniônica pré-parto.

Durante a anamnese o funcionário da propriedade relatou que 12 horas

após o parto, a vaca começou a apresentar tremores musculares, dificuldade

ao respirar (dispnéia) e apresentava emboletamento dos membros posteriores.

Ao chegarmos para realizar o atendimento clínico, a vaca apresentava-se

em decúbito esternal e mantinha a cabeça voltada para o lado, encostada no

flanco esquerdo. Ao exame clínico observou-se que o animal estava

hipotérmico (36,8°C), batimentos cardíacos diminuídos e movimentos ruminais

atenuados.

O diagnóstico foi realizado pela epidemiologia, histórico do animal e sinais

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clínicos característicos de hipocalcemia. A confirmação do diagnóstico foi

realizada através do diagnóstico terapêutico.

Como tratamento foi recomendado a administração de 500 ml de

Borogluconato de Cálcio (1g de Ca para cada 45 Kg de peso vivo), 500 ml de

Complexo Energético e reposição de eletrólitos e vitaminas) e 10 ml de

Dexametasona (2 mg/ml) como ilustra a Fig. 26.

Ao final do tratamento, a vaca posicionou-se em estação apresentando

andar cambaleante.

Foi recomendado que se ordenhasse normalmente a vaca e qualquer

sinal de reincidência que o animal viesse a apresentar, que entrassem

imediatamente em contato com os técnicos da empresa.

Figura 26: Tratamento de Hipocalcemia.

Discussão

Segundo Riet-Correa et al., 2007, a hipocalcemia é um distúrbio

metabólico que ocorre geralmente em animais de alta produção. A doença

acontece porque, durante a gestação, as necessidades de Cálcio são

relativamente baixas e no final da gestação e início de lactação a necessidade

desse mineral aumenta consideravelmente. A hipocalcemia ocorre, geralmente,

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nas primeiras 48 horas após o parto, mas pode ocorrer imediatamente antes do

mesmo ou até 72 horas após.

As principais causas da hipocalcemia estão ancoradas em uma

alimentação incorreta. Excesso de Cálcio e Fósforo no pré-parto, deficiência de

Magnésio durante todo o período de vaca seca, excesso de proteína

degradável no pré-parto, alta relação carboidratos solúveis/carboidratos

estruturais, excesso de cátions fixos na dieta pré-parto e insuficiente ingresso

de Cálcio, Fósforo e Magnésio no pós-parto são alguns dos fatores

predisponentes para a ocorrência da doença (Corbellini et al., 1998).

No caso clínico citado acima, por se tratar de uma vaca de alta produção

(45 litros/dia), a causa para o desenvolvimento do quadro tenha sido um

aumento exagerado nas necessidades de Cálcio no final da gestação e início

da lactação.

De acordo com Gonzales et al., 2000, a hipocalcemia apresenta etapas:

Primeira etapa (capacidade para incorporar-se). Segunda etapa (prostração,

decúbito esternal). Terceira etapa (fase comatosa, decúbito lateral). No caso

atendido, observamos a paciente na segunda etapa. Durante o período de

estágio foram atendidos 10 casos clínicos de hipocalcemia. Dentre os casos

clínicos atendidos a maior parte (7 casos clínicos) se caracterizavam por

apresentar sinais clínicos compatíveis com a segunda etapa da enfermidade e

o restante (3 casos) apresentavam sinais clínicos compatíveis com a primeira

etapa da doença.

Segundo Riet-Correa et al., 2007, os animais com hipocalcemia devem

ser tratados imediatamente com Gluconato de Cálcio pela via endovenosa.

Este indica a administração de 1g de Cálcio para cada 45 Kg de peso vivo.

Devido a cardiotoxicidade do Cálcio, a administração endovenosa do mesmo

foi realizada lentamente e acompanhada de auscutação cardíaca. O objetivo

deste procedimento é prevenir que ocorra uma parada cardíaca no animal, e,

consequentemente, uma morte súbita.

Sempre durante os atendimentos, os técnicos da empresa esclareciam

aos produtores as causas do distúrbio e faziam recomendações preventivas,

com objetivo de evitar novos casos na propriedade.

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9.2. ACIDOSE RUMINAL

Caso Clínico

Ocorreu um surto em 6 fêmeas lactantes da raça Holandês. Dos 6

animais acometidos, 1 era primípara, 2 estavam na segunda lactação e 3 eram

vacas de quarta lactação. As vacas eram criadas em sistema de free stall

100% confinadas. Os animais estavam sendo suplementados com um mix de

silagem de milho, concentrado, minerais e gordura protegida (Megalac ®).

Ao chegar na propriedade o funcionário relatou que os animais não

estavam se alimentando e estavam apresentando um quadro de diarréia fétida.

Ao realizar o exame clínico não foi observado nenhuma alteração nos

parâmetros cardíacos e respiratórios. Além disso, os animais não

apresentavam-se febris e a coloração das mucosas estavam normais (róseas).

Os animais apresentavam um quadro de diarréia bem aquosa e fétida, atonia

ruminal e estavam extremamente desidratados (Fig. 27).

Após a realização do exame clínico o técnico da MCA entrou em contato

com o nutricionista da propriedade para trocar informações, pois até o

momento não se tinha uma linha certa de raciocínio a respeito do caso. Uma

das suspeitas do Médico Veterinário da empresa é que pudesse ser algum

problema causado por micotoxinas. Durante a conversa com o nutricionista,

este relatou que estava sendo usado sequestrante de micotoxinas na silagem.

Quando perguntado se ele havia feito alguma alteração na dieta, o nutricionista

afirmou que há uns 20 dias havia terminado a polpa cítrica na propriedade e

então ele havia substituído a polpa cítrica por grão úmido nas mesmas

proporções.

Ancorado nessa informação o veterinário da empresa passou a desconfiar

de que ele poderia estar frente a um quadro de acidose ruminal.

Com o objetivo de chegar ao diagnóstico definitivo, foi realizado uma

coleta de líquido ruminal. Ao analisar o líquido ruminal dos 6 animais,

observou-se que estes apresentavam-se com o odor ácido, apresentava uma

coloração acinzentada e a taxa de sedimentação estava diminuída. Ao medir o

pH dos fluídos ruminais, estes se mantinham com pH entre 5,0 e 5,5. Além

disso, foi realizado a prova de redução do azul de metileno do líquido ruminal

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dos 6 animais, e todos estavam comprometidos.

Outro fato que pode ser considerado um sinal clínico, é que na ultima

análise de leite realizada pelo laticínio que recolhe o leite na propriedade, a

porcentagem de gordura havia diminuído no leite (de 3,2% para 2,9%).

O diagnóstico baseou-se na epidemiologia (enfermidade de rebanho),

anamnese, sinais clínicos dos animais e pela realização dos exames

complementares (análise de fluído ruminal).

A primeira medida de tratamento foi a retirada dos 6 animais do free stall

e orientou-se que estes fossem encaminhados para a pastagem de tifton.

Tratamento terapêutico:

- Ringer com Lactato; 48 litros por animal via intravenosa.

- Bicarbonato de Sódio; 200-450 g por animal via oral.

- Penicilina; 5-10 milhões de UI por via intravenosa.

Outra medida tomada pelo técnico da empresa foi entrar em contato com

o nutricionista da propriedade e indicar que fosse realizado o reajuste da dieta

com o objetivo de evitar a ocorrência de novos casos clínicos.

Como medida preventiva o técnico indicou a utilização de substâncias

tamponantes (Bicarbonato de Sódio na proporção de 1% da matéria seca

ingerida) e ionóforos na dieta.

Figura 27: Caso clínico de Acidose Ruminal.

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Discussão

A enfermidade surge quando ocorre mudança abrupta na dieta dos

animais, de uma alimentação volumosa para uma dieta concentrada rica em

carboidratos não fibrosos sem adaptação prévia. As ocorrências naturais dos

casos de acidose lática estão associadas ao consumo não intencional de

quantidades elevadas de grãos, tubérculos ou frutas ricas em amido ou

açúcares; entretanto, pode ser também induzida pelo rápido aumento na

quantidade de rações concentradas, ricas em carboidratos de fermentação

rápida, no início da lactação para se obter uma máxima produção de leite. O

processo de acidose está diretamente relacionado à quantidade e ao tipo de

alimento ingerido, estado nutricional do animal, e tempo de adaptação do

rúmen (CAO et al., 1987).

No caso clínico relatado, a provável causa do desencadeamento da

enfermidade tenha sido a substituição nas mesmas proporções de polpa cítrica

por grão úmido na dieta dos animais. Este é um alimento rico em amido e

energia. Com a adição de grão úmido na dieta pode ter havido uma elevada

produção de ácido lático e o aumento nas concentrações de ácidos graxos

voláteis, que alteram o perfil da população microbiana do rumem,

desencadeando, o quadro de acidose lática ruminal (AFONSO et al., 2007).

O fenômeno da acidose é iniciado pela alteração do equilíbrio existente

entre dois principais grupos de bactérias, as produtoras e as utilizadoras de

lactato; um conceito geralmente aceito para o acúmulo deste ácido no

ambiente ruminal é que o primeiro grupo de bactérias se sobrepõe em

crescimento ao segundo. O fator crítico para este desequilíbrio é a otimização

do pH (ácido) para o crescimento das bactérias produtoras de lactato, criado

no meio pelo substrato fornecido (AFONSO et al., 2007). Quando grãos ou

outros produtos facilmente fermentáveis são consumidos rapidamente e em

grandes quantidades, há alteração da microflora ruminal com predominância

das bactérias Gram-positivas, principalmente o Streptococcus bovis e

posteriormente Lactobacillus sp., e produção de grandes quantidades de ácido

lático.

O tratamento dessa enfermidade depende da severidade de cada caso

clínico, porém muitas bibliografias citam que o tratamento dos quadros de

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acidose lática ruminal consistem na correção da acidose ruminal por meio de

administração de antiácidos via oral (Bicarbonato de Sódio por exemplo) e a

remoção da fonte de carboidrato produtora de ácido lático no rúmem. Em casos

mais severos é indicado a remoção do alimento nocivo do rúmem (sinfonagem

ou rumenotomia) e a administração de uma terapia de suporte (Fluidoterapia,

Gluconato de Cálcio, Vitaminas do Complexo B) (AFONSO et al., 2007).

9.3. CETOSE

Caso Clínico

Fêmea bovina, da raça Holandês, 45 dias pós-parto, terceira lactação,

com uma média de produção de 36 litros/dia.

Durante a anamnese, o funcionário relatou que a vaca, durante o manejo

de ordenha, havia passado para o lote de vacas com produção de 20 a 30

litros/dia fazia uns 5 dias. O funcionário tinha visto que o animal estava no lote

trocado, porém ele estava ocupado com a elaboração da silagem e esqueceu

de trocar o animal de lote. O funcionário relatou que fazia 2 dias que a

produção da vaca havia diminuído, não estava se alimentando bem e que já

havia perdido condição corporal.

Durante o exame clínico notou-se que a vaca apresentava andar

cambaleante, incoordenação motora, baixa condição corporal (escore 2) e que

os movimentos ruminais estavam diminuídos. Os demais sinais vitais

apresentavam-se inalterados.

Para se chegar a um diagnóstico definitivo deveriam ser realizados alguns

exames complementares como a coleta de urina para avaliar níveis de corpos

cetônicos. Porém o diagnóstico baseou-se pela epidemiologia, sinais clínicos e

histórico do animal, sendo confirmado por diagnóstico terapêutico.

Como tratamento foi indicado a administração de 500 ml de Glicose 50%

via intravenosa; 10 ml de Dexametasona (2 mg/ml) via intravenosa; 10ml de

Vitamina B₁₂ (5-25 ml/animal) via intravenosa; 100ml de Antitóxico (20-100

ml/animal/dia) via intravenosa e 1 Kg de Propilenoglicol via oral 2 vezes ao dia

(Fig. 28).

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Figura 28: Administração de Drench no tratamento de Cetose.

Discussão

Cetose é uma doença metabólica que acomete vacas leiteiras de alta

produção, caracterizando-se por queda na concentração de glicose e aumento

excessivo dos corpos cetônicos no sangue.

No inicio da lactação, a vaca passa por um processo de elevada demanda

de energia, em decorrência do aumento da produção de leite. Entretanto, o

consumo de alimento pelo animal não acompanha tal exigência, culminando

num balanço energético negativo. Dessa forma, os animais em boas condições

de saúde utilizam suas reservas corporais para obtenção de energia. Contudo,

há um limite para a quantidade de ácidos graxos que pode ser metabolizado

pelo organismo e fígado. Quando se atinge esse limite, as gorduras não são

mais queimadas para fornecer energia, começam a se acumular nas células do

fígado como triglicerídeos, e alguns dos ácidos graxos são convertidos em

cetonas (Guard et al., 1996; Goff et al., 2006).

No caso clínico atendido, a causa mais provável para a ocorrência da

Cetose tenha sido a ingestão de uma dieta insuficiente em energia, pois a

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fêmea havia passado para um lote de vacas de menor produção, e,

consequentemente, com dieta de menor aporte energético (balanço energético

negativo).

O uso de soluções glicosada a 5% ou 50% é o método mais comum para

o tratamento da cetose. Muitas vezes, associados ao uso de soluções

glicosadas, se faz a administração oral de precursores gliconeogênicos, como

o propilenoglicol, o propionato de cálcio ou o glicerol, estes produtos são, em

parte, fermentados a propionato no rúmen e fornecem carbonos para o ciclo de

Krebs (BERCHIELLI et al., 2006).

LUCCI et al., 1997 cita que medidas preventivas como evitar obesidade

pré-parto, aumentar moderadamente a ingestão de concentrados no periparto,

fornecer volumosos de boa qualidade, evitar mudanças abruptas na dieta e

evitar silagem rica em ácido butírico devem ser tomadas para evitar problemas

com a ocorrência dessa enfermidade nas propriedades.

9.4. RETENÇÃO DE PLACENTA

Caso Clínico

Fêmea bovina, raça Holandês, 24 horas pós-parto e quarta lactação. A

vaca estava no lote pré-parto recebendo ração desta categoria, porém o

piquete estava em péssimas condições devido a intensa chuva. O piquete

estava com muito barro, submetendo os animais a uma situação de

desconforto. Falhas de manejo como essas, predispõem o aparecimento dessa

afecções clínicas, pois as vacas estão sendo continuamente desafiadas.

A vaca apresentava retenção das membranas fetais 20 horas pós-parto

(Fig. 29), e uma pequena elevação na temperatura corporal (39,8°C). As

mucosas oculares e vulvar estavam levemente hiperêmicas e os demais sinais

vitais estavam inalterados.

Como tratamento foi indicado a administração de 100 ml de

Borogluconato de Cálcio (0,2g de Ca para cada 45 Kg de peso vivo) via

intravenosa, 2 ml de Prostaglandina via intramuscular, 2 ml de Cipionato de

Estradiol (2 mg/ml) e Oxitetraciclina (1 ml para cada 10 Kg de peso vivo, dose

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única (20 mg/ml)).

Figura 29: Caso clínico de Retenção de Placenta.

Discussão

A retenção placentária é a falha na separação das vilosidades da placenta

fetal (cotilédones) com as criptas maternas (carúnculas). O período médio de

eliminação fisiológica está em torno de 12 horas na vaca e 8 horas em

pequenos ruminantes (TONIOLLO & VICENTE et al., 2003). Na maioria dos

casos atendidos durante este estágio, a placenta estava retida de 24 a 48

horas, para então, o produtor recorrer a ajuda veterinária.

Segundo FERRAZZA et al., 2010, vários fatores contribuem para o

aparecimento dessa doença em vacas, tornando um pouco difícil o seu controle

e até mesmo o seu tratamento. A consangüinidade, o estresse da gestação,

limitações nutricionais neste período, abortos, partos gemelares, partos

distócicos, idade da vaca e gestações curtas são considerados fatores

predisponentes. Causas secundárias, como doenças infecciosas (Brucelose,

Leptospirose, Tuberculose), doenças metabólicas (hipocalcemia, esteatose

hepática e cetose), entre outras (torção uterina, placentites e neoplasias)

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também são apontadas como fatores que predispõe o rebanho a apresentar

problemas com retenção de placenta.

A conseqüência imediata é a queda na produção de leite, e conforme a

gravidade da infecção, ocasionada invariavelmente, os sintomas podem ser:

febre, toxemia e redução da ingestão de alimentos. Nos casos mais graves, a

infecção pode levar à morte. Outra conseqüência da retenção de placenta é a

demora do animal para recuperar a forma original do útero (involução uterina).

O tratamento utilizado pelos técnicos da empresa variou conforme os

casos clínicos. Conforme FERRAZZA et al., 2008, sem os conhecimentos

técnicos adequados, jamais se deve retirar (puxar) a placenta retida do útero

do animal. Isso pode complicar ainda mais o quadro de saúde das vacas. O

ideal é tratar os animais doentes com antibiótico de amplo espectro e terapias

adicionais.

Para manter afastado este problema o produtor precisa investir em

prevenção, a fim de minimizar os fatores de risco. Em primeiro lugar, é

necessário estruturar na propriedade um rigoroso programa sanitário de

prevenção e erradicação das principais doenças. Também é preciso adequar a

dieta dos animais em gestação, bem como das vacas em produção, com as

formulações nutricionais ideais para as respectivas fases. Por último, reduzir de

todas as formas possíveis o estresse diário com técnicas de lida gentis e

investimento em instalações adequadas

9.5. ENDOCARDITE

Caso Clínico

Fêmea bovina, raça Holandês,164 dias pós-parto, quinta lactação e era

manejada em sistema de free stall.

Ao chegar a propriedade, se observou que a vaca estava com uma baixa

condição corporal (condição corporal 2, escala de 1-5) e que esta possuía

edema de peito e de barbela. Na anamnese, o proprietário comentou que os

sinais clínicos começaram a se manifestar havia 3 semanas. O proprietário

notou que o animal estava com o peito e a barbela edemaciada (Fig. 30), não

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estava se alimentando bem, cansava ao mínimo esforço e que o animal estava

perdendo condição corporal. Além disso, o proprietário relatou que a vaca

sofria com mastite crônica. Durante o período seco a vaca curava, porém

sempre que voltava a lactar a mastite reincidia.

Ao realizar o exame clínico notou-se que o animal estava com taquipnéia

(70 movimentos respiratórios por minuto), taquicardia (100 batimentos

cardíacos por minuto), força de contração aumentada e ao auscultar entre o

terceiro e quarto espaço intercostal do lado direito, notava-se a presença de

sopro cardíaco. A vaca apresentava pulso da veia jugular positivo e

apresentava profunda depressão e letargia. As mucosas apresentavam

coloração normal (róseas).

A primeira suspeita clínica foi de Retículo Pericardite traumática, porém

ao realizarmos as provas de dor (prova do bastão, prova da cernelha, prova do

terreno inclinado), a vaca não manifestou reação alguma.

Baseado no histórico e sinais clínicos do animal chegou-se a suspeita de

se tratar de uma Endocardite Bacteriana de Válvula Tricúspide. Esta decorrente

de uma bacteremia devido aos persistentes quadros de mastite que a vaca

apresentava. Secundário a Endocardite, o animal acabou evoluindo para um

quadro de Insuficiência Cardíaca Congestiva Direita.

Como tratamento foi indicado a terapia dos 5 D’s (Diurético, Dilatador,

Dieta, Descanso e Digitálico) e a administração de antibióticoterapia. Foi

indicado a administração de Diurético (Furosemida 2 mg/Kg via intravenosa),

Vasodilatador (Nitroglicerina 5 mg/dia via intravenosa (administrar em Solução

Fisiológica 0,9%)), Digitálico (Digoxina 0,4 mg/100 Kg via intravenosa), Dieta

Hipossódica e Descanso para o animal. Além disso, foi indicada a

administração de Penicilina (30.000 UI/Kg, 2 vezes ao dia, por 3 semanas).

Por se tratar de um animal de baixo valor zootécnico, que já estava no

final de sua vida produtiva e pelo alto custo do tratamento, o proprietário iniciou

o tratamento, mas posteriormente optou pelo descarte do animal.

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Figura 30: Caso clínico de Endocardite.

Discussão

Segundo RADOSTITS et al., 2002, a inflamação do endocárdio pode

interferir com a ejeção do sangue do coração devido à insuficiência ou

estenose das válvulas. Os sopros associados às bulhas cardíacas representam

a principal manifestação clínica e, quando são suficientemente graves e

interferem no fluxo sanguíneo, desenvolvendo Insuficiência Cardíaca

Congestiva.

A maioria dos casos de endocardite é causada por infecções bacterianas,

porém não se sabe ao certo se a infecção se inicia por contato direto com o

endotélio sadio, por solução de continuidade da superfície valvar ou por via

hematógena pelos capilares da base da válvula. Os principais microorganismos

isolados de endocardites valvares em bovinos são Streptococcus sp.,

Actinobacillus pyogenes, Fusobacterium necrophorum, Pasteurela sp. e

Staphylococcus aureus.

A infecção pode ser embólica ou de lesões supurativas em outros locais

como: reticulite traumática, mastites e metrites. Porém algumas vezes a

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infecção parece ser primária. Em bovinos, as lesões ocorrem mais comumente

na válvula átrio-ventricular direita (Tricúspide) e a congestão venosa é mais

acentuada na circulação sistêmica geral.

No caso clínico relatado, chegou-se a suspeita de se tratar de uma

Endocardite Bacteriana de Válvula Tricúspide. Esta decorrente de uma

bacteremia devido aos persistentes quadros de mastite que a vaca

apresentava. Secundário a Endocardite, o animal acabou evoluindo para um

quadro de Insuficiência Cardíaca Congestiva Direita.

O tratamento não é muito satisfatório devido à dificuldade de controlar

completamente a infecção, principalmente, quando a sensibilidade do agente

etiológico não é conhecida e também devido ao local onde está ocorrendo a

infecção. Além disso, o tratamento possui um custo alto e restringe o uso do

mesmo apenas para animais valiosos (RADOSTITS et al., 2002).

9.6. PNEUMONIA ASPIRATIVA

Caso Clínico

Fêmea bovina, mestiça girolando e com 2 semanas de vida. O bezerreiro

que a terneira estava era muito úmido e muito sombreado.

O funcionário relatou que a terneira havia nascido de parto gemelar. O

parto foi complicado e teve que receber auxilio dos funcionários da

propriedade. O funcionário informou que a terneira veio a termo em

apresentação posterior e que provavelmente a mesma tenha aspirado liquido

amniótico durante o parto. Além disso, o funcionário comentou que a terneira

tossia muito e que estava com corrimento nasal bilateral intenso.

Ao realizar o exame clínico (Fig. 31), observou-se na auscultação

extertoração pulmonar bilateral. A temperatura corporal estava elevada

(40,5°C).

O tratamento indicado pelo técnico da empresa foi a administração de 15

ml de Sulfa com Trimetoprim (15 mg/Kg) via intramuscular dose única, 3 ml de

Flunixin Meglumine (2,2 mg/Kg) via intravenosa por 3 dias e 15 ml de

Bromexina (0,2 mg/ml) via intravenosa 1 vez ao dia por 7 dias.

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Figura 31: Exame clínico em terneira com Pneumonia Aspirativa.

Discussão

A Pneumonia Aspirativa é uma doença importante e comum na pecuária.

A maioria dos casos ocorre devido a um aleitamento artificial inadequado,

inalação de medicamentos líquidos, passagem inadequada de sonda,

alimentos farináceos, poeira (cama) e aspiração de mucosidades e/ou líquido

amniótico durante o parto.

No caso acima relatado, a terneira passou por um parto gemelar

complicado, e, provavelmente, tenha ingerido líquido amniótico durante o parto

o que levou a mesma a um quadro de Pneumonia por Aspiração.

Se grandes quantidades de líquidos forem aspiradas, a morte pode ser

quase instantânea, mas, se quantidades menores de líquidos forem aspiradas,

o resultado vai depender da composição da matéria que for aspirada. Com a

aspiração de substâncias insolúveis e vômito, a maior ocorrência é o

desenvolvimento de uma pneumonia com toxemia profunda, usualmente fatal

em 48-72 horas. A gravidade da Pneumonia Aspirativa depende muito das

bactérias introduzidas, embora, a infecção seja geralmente mista. Os animais

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geralmente sobrevivem aos estágios agudos, porém persiste um estágio

crônico, de saúde-doença, devido a presença de abscesso pulmonar.

Segundo RADOSTITS et al., 2002 se a lesão estiver bem avançada, o

tratamento não é eficiente. Porém a administração de antibiótico de largo

espectro ou sulfonamida pode prevenir o desenvolvimento da doença, desde

que seja administrada logo após a ocorrência da aspiração.

10. MANEJO NUTRICIONAL

O manejo nutricional variava muito entre propriedades. A empresa atendia

propriedades com produção de leite a pasto com suplementação a cocho

(semi-confinado) e propriedades com produção de leite 100% confinado (free-

stall).

Nas propriedades com produção a pasto com suplementação a cocho,

durante o período das águas (primavera, verão e parte de outono), se

conseguia reduzir bastante os custos com a formulação da dieta, pois o pasto

contribuía com uma boa parcela na dieta do rebanho. Já no período das secas

(parte de outono e inverno), diminuía a oferta de forragem e aumentava a

parcela de silagem e concentrado na formulação da dieta, aumentando,

consequentemente, os custos com a formulação da dieta e o custo da

alimentação por litro de leite.

Nas propriedades mais organizadas, os lotes eram separados conforme a

produção de leite de cada animal (por exemplo: < 15 litros/vaca/dia, 15-25

litros/vaca/dia, 26-35 litros/vaca/dia, 36-45 litros/vaca/dia) e a dieta era

formulada conforme as exigências nutricionais de cada lote. Para as vacas

secas, novilhas e terneiras a dieta era formulada com o objetivo de atender as

exigências nutricionais e se obter o ganho de peso esperado.

Para a realização da formulação da dieta, os técnicos da empresa

contavam com o auxilio de alguns programas de nutrição (Spartan, NRC, CPM

Dary). Estes possuem um banco de dados de alimentos, porém sempre que

fosse necessário o técnico poderia cadastrar um novo alimento no programa

para a formulação da dieta.

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As dietas eram formuladas nas propriedades conforme a disponibilidade

de alimentos. Os alimentos disponíveis na propriedade eram lançados no

programa e este, automaticamente, apresentava os percentuais de Proteína

Bruta (PB), Estrato Etéreo (EE), Fibra em Detergente Neutro (FDN), Fibra em

Detergente Neutro efetiva (eFDN), Nutrientes Digestíveis Totais (NDT), além de

outros componentes dos alimentos.

Outro fator importante era que esses programas informavam o custo da

formulação da dieta. As propriedades utilizavam os alimentos com custo mais

acessível e de melhor disponibilidade. Os técnicos da empresa tomavam o

cuidado de manter o custo da alimentação por litro entre 50-60 % do custo da

produção.

11. MANEJO DE PASTAGEM

Na maioria das propriedades a pastagem utilizada era tifton. Em algumas

propriedades a avaliação dos potreiros era realizada apenas de maneira visual

(Fig. 32). Os técnicos da empresa avaliavam os lotes e a disponibilidade de

forragem que existia em cada potreiro. Após a avaliação os técnicos

orientavam os proprietários a realizarem algum manejo quando necessário.

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Figura 32: Avaliação dos potreiros.

Em outras propriedades o manejo das pastagens era realizado com maior

eficiência. Todas as semanas eram realizadas medições da altura das

pastagens com um disco de medição de forragem (Fig. 33). Os funcionários

das propriedades realizavam a medição da altura da pastagem em no mínimo

80 pontos de cada potreiro. Para realizar a coleta de uma amostra para

verificar a quantidade de forragem por hectare, era utilizado um quadrado de

25 cm². A amostra coletada era posteriormente pesada. Assim poderia saber

quantos quilogramas de forragem havia por centímetro de pastagem.

Regularmente (30-30 dias, 45-45 dias, 60-60 dias) uma amostra de pastagem

era coletada e enviada para algum laboratório de referência para realização da

análise bromatológica. Através desta análise, poderia ser quantificada a

matéria seca da pastagem analisada e a composição da mesma em cada

centímetro.

A análise bromatológica das pastagens é de extrema importância para

que se tenha um melhor conhecimento da massa forrageira, composição

química e uma caracterização das espécies de pastagem (PALADINES, 1983).

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A qualidade de uma forrageira depende de seus constituintes e estes são

variáveis, dentro de uma mesma espécie, de acordo com a idade e parte da

planta, fertilidade do solo entre outros (VAN SOEST, 1994). É sabido que a

pecuária leiteira no Brasil tem nas pastagens o seu maior suporte na

alimentação para produção de leite. Assim, a utilização adequada de

pastagens por rebanhos leiteiros pode diminuir os custos de produção de leite,

com redução na utilização de alimentos concentrados, uso de combustíveis,

mão-de-obra e investimentos com instalações, isto quando se compara

sistemas a pasto com aqueles em confinamento (HOFFMAN et al., 1993;

VILELA et al., 1993; MATOS, 1999).

Na composição da dieta, estimava-se que as vacas em lactação ingeriam

4,5kg de matéria seca (MS) de pastagem de tifton por dia. Para propiciar essa

ingestão, os potreiros eram piqueteados de acordo com o número de animais

em cada lote, também levando em consideração o resíduo deixado na

pastagem. Nesse manejo preconizava-se a oferta de uma pastagem nova e

consequentemente com melhor qualidade nutricional, o que possibilita uma

maior lotação por área (BENEDETTI, 2002).

Figura 33: Disco medidor de forragem.

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Realizando esse tipo de manejo, os técnicos da empresa e as

propriedades poderiam criar um histórico do crescimento e composição da

pastagem de cada potreiro. Para se criar um histórico de pastagem de cada

piquete, estes devem ser analisados por no mínimo 1 ano. Com isso, poderiam

ser analisados os piquetes com maior e menor produção. O objetivo desse

manejo era tentar melhorar as áreas de menor produção, aumentando a massa

forrageira dos piquetes, possibilitando um aumento de unidade animal e

produção de leite por hectare. Outro detalhe que pode ser salientado é que

com a realização desse tipo de manejo, as propriedades saberão quais as

épocas do ano que terão menor oferta de forragem, possibilitando que estas

tenham um planejamento prévio evitando a queda na produção.

12. ATUAÇÃO NA ÁREA COMERCIAL

Além de atuar e adquirir experiência como Médico Veterinário de campo,

tive a oportunidade de conhecer um pouco da área comercial dentro da

profissão, pois o Médico Veterinário Marco Antônio Pádua Carvalho (orientador

de campo) é representante regional da Semex Brasil (central de sêmem). De

15-15 dias eram realizadas saídas de campo com o objetivo de apresentar a

empresa aos produtores e realizar venda de sêmem. Além das visitas

realizadas com o Marco Antônio Pádua Carvalho pela Semex Brasil, tive a

oportunidade de acompanhar o zootecnista Arthur de Campos Belo (técnico da

Semex Brasil), que realiza acasalamentos nos rebanhos de clientes especiais,

objetivando um melhor cruzamento genético (Fig. 34). O zootecnista utilizava

um programa para realização dos acasalamentos. Esse programa busca

salientar as características indesejáveis nos animais que serão acasalados

como mostra a tab. 3.

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Tabela 3: Itens avaliados durante o acasalamento dos animais.

Características Grave Moderado Leve

Estatura Nivelamento da Linha Superior Largura de Peito Profundidade Angulosidade Ângulo de Garupa Largura de Garupa Força de Lombo Ângulo de Casco Profundidade de Talão Qualidade Óssea Pernas Vista Posterior Pernas Vista Lateral Inserção Úbere Anterior Inserção de Tetos Anteriores Comprimento de Tetos Profundidade de Úbere Textura de Úbere Ligamento Médio Altura de Úbere Posterior Inserção de Tetos Posteriores

Durante a realização dos acasalamentos, o zootecnista procurava tomar

alguns cuidados. O primeiro cuidado era evitar que ocorressem

cosangüinidades durante o acasalamento. O segundo cuidado era tentar

atender as prioridades do produtor, isto é, saber do produtor que tipo de animal

ele pretende ter na propriedade (animais para pista, animais com vida produtiva

alta, animais com baixa CCS, animais com alta produção, animais com sólidos

altos). Por fim o técnico buscava corrigir os maiores defeitos morfológicos

presente em cada animal.

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Figura 34: Técnico da Semex Brasil avaliando animais para o acasalamento.

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13. CONCLUSÃO

Julgo o estágio curricular supervisionado um momento de extrema

importância para os acadêmicos, pois é nesse momento que podemos avaliar a

nossa capacidade técnica, adquirir conhecimentos ainda não adquiridos e

colocar em prática todo o conhecimento adquirido durante a graduação. Além

disso, tive a oportunidade de atuar com um profissional conhecido e atuante na

área técnica e comercial da veterinária. Por realizar o estágio curricular em

outro estado, pude ter uma visão nacional do que é o dia-a-dia da pecuária

leiteira.

As experiências em muitas propriedades leiteiras, atuando nas áreas de

gestão, nutrição, clínica, reprodução e sanidade, permitiram-me um melhor

entendimento da produção leiteira, além de um grande convívio com diferentes

pessoas e culturas, o que permite que façamos um exercício de análise frente

cada situação.

Portanto, julgo o estágio curricular supervisionado um período de grande

valia para nossas vidas, tanto profissional, quanto pessoal, pois o mesmo nos

ensina a lidar com diferentes situações, nos proporcionando um grande

crescimento.

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