LPV 506 A01 - Amendoim Apostila Agronegocio
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM1
Gil Miguel de Sousa Cmara2
1. INTRODUO
A cultura do amendoim feita visando a obteno de gros, destinados
principalmente alimentao humana. Os gros podem ser consumidos na forma
in natura, torrados ou empregados na arte culinria da confeco de doces.
Industrialmente, o gro processado para a extrao do leo, sendo este de
qualidade nobre e rico em cido olico, tambm utilizado na indstria de conservas
(alimentos enlatados) e de produtos medicinais. Presta-se ainda, para fins
carburantes, tendo sido includo em proposta de um programa de leos vegetais
para fins energticos no Pas (Pr-Diesel), no incio dos anos oitenta.
Na nutrio animal, as ramas das plantas (hastes + folhas) em culturas bem
conduzidas, representa excelente alimento para ser usado como forragem na forma
de feno. A torta ou farelo, subproduto da extrao do leo, possui elevado valor
comercial. Devido a sua riqueza em protena indicada para a alimentao animal,
principalmente bovinos de corte, sob a forma de farelo. Entretanto, devido ao
problema da aflatoxina, tem sido mais comum a sua utilizao como adubo
orgnico em culturas perenes, principalmente em caf e citros.
De 1996 a 2005 a cultura do amendoim passou por uma nova fase de
evoluo tecnolgica, efetivando a transio de uma tecnologia de produo
semimecanizada para totalmente mecanizada. Essa transio tecnolgica surgiu da
necessidade de adaptao da cultura aos atuais moldes de gerenciamento tcnico e
empresarial da produo vegetal, voltada conquista de novos mercados, tanto
internos como externos. Mercados estes, cada vez mais exigentes em qualidade do
produto obtido.
1.1. Origem e Difuso Geogrfica
O amendoim cultivado planta originria do continente sul americano.
Justifica-se esta origem pelo fato de no mundo, espcies selvagens serem
encontradas em abundncia, apenas na regio compreendida entre o sul do estado
1 Texto bsico da disciplina optativa LPV 506: Plantas Oleaginosas, do curso de graduao em Engenharia Agronmica da USP/ESALQ.
2 Professor Associado do Departamento de Produo Vegetal da USP/ESALQ e Professor Responsvel pela disciplina LPV 506: Plantas Oleaginosas.
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 2
do Amazonas, no Brasil, e o norte da Argentina, aproximadamente entre as
latitudes de 10 e 30 Sul. Atualmente, admite-se que o local referente regio dos
vales dos rios Paran e Paraguai (antigo lago do Gran Chaco), seja o principal
centro de origem gentica do amendoim (Gillier & Silvestre, 1970).
Os indgenas foram os responsveis pela difuso inicial do amendoim s
diversas regies da Amrica do Sul, sendo levado s ilhas do mar das Antilhas e,
possivelmente, Amrica Central e Mxico. Sua introduo na Europa ocorreu no
sculo XVIII, sendo cultivado inicialmente no Jardim Botnico de Montpellier e, ao
final deste sculo, proveniente da Amrica, foi introduzido em Valena na Espanha,
onde sua cultura se propagou (Peixoto, 1972).
A primeira referncia escrita sobre o amendoim data de 1578 e foi registrada
por Jean De Lery, a partir de relatos de viagens de franceses pelo Nordeste do
Brasil, compilados no texto Voyage au Brsio.
Existiram duas rotas de distribuio da cultura do amendoim pelo mundo. No
incio do sculo XIX, os portugueses levaram o amendoim do Brasil para a costa
ocidental da frica. Ao mesmo tempo, os espanhis o disseminaram do Peru para
as costas do Oceano Pacfico, chegando posteriormente s Filipinas, de onde foi
transportado para a China, Japo e ndia. A sua entrada nos Estados Unidos
corresponde ao perodo de escravatura, quando do comrcio de escravos negros a
partir da costa ocidental africana.
1.2. Importncia da Cultura
O gro de amendoim, seja in natura, seja semi ou totalmente processado
industrialmente, proporciona uma srie de produtos e subprodutos que atendem a
mercados especficos, gerando empregos e rentabilidade econmica, desde os
pequenos grupos familiares, que manufaturam os gros nas chamadas fabriquetas
de fundo de quintal, at as grandes agroindstrias nacionais e multinacionais.
A importncia scio-econmica da cultura reside na comercializao e
utilizao dos produtos e subprodutos descritos a seguir.
1.2.1. Produtos derivados dos gros de amendoim
O gro de amendoim pode ser consumido in natura (cru) ou,
preferencialmente, torrado. Inicialmente de produo caseira, cada vez mais tem
sido industrializado, devido ao seu largo consumo como aperitivo. So
comercializados em diferentes embalagens por vrias empresas, na forma de gros
despeliculados e salgados, amendoim japons, pralins e outros. Os gros devem
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sofrer uma torrao parcial para liberar a pelcula que os recobre, sendo destinados
a amendoim torrado sem pelcula. Tambm podem ser utilizados no recheio de
bolos, bombons, chocolates, sorvetes e em inmeras outras formas.
A utilizao do gro em confeitos rotineira no Brasil, principalmente para a
confeco das paocas e ps-de-moleque, tradicionais doces brasileiros de paladar
e aroma agradveis. Estes produtos so obtidos tanto em grandes empresas do
ramo alimentcio, como em micro empresas caseiras, gerando renda para
considervel segmento da economia informal. As diferenas entre os produtos
residem nos padres de qualidade que cada estrutura capaz de estabelecer e
manter. Alm do amendoim torrado e modo, os seguintes ingredientes entram na
composio das paocas: sal, acar, mel, xarope de glicose, gua e aditivos
conservadores.
Pastas e cremes de amendoim so produtos derivados dos gros
desintegrados e finamente divididos, de textura suave, podendo ou no ser
adicionados de outros ingredientes como: sal, acar, mel, gordura e aditivos. Os
cremes so elaborados para consumo direto no po, por exemplo, ou para uso em
confeitarias. As pastas so mais usadas em bolos, biscoitos, sorvetes, bolachas,
produtos de confeitaria e em batidas de aguardente.
O uso mais tradicional dos gros tem sido a extrao do leo, originando,
como subproduto, o farelo ou torta de amendoim. Entretanto, o maior destino
comercial dos gros de amendoim tem sido a agroindstria alimentcia,
especificamente a de confeitaria, seja na linha doce ou salgada. Atualmente, a
produo de leo est condicionada ao que exceder para uso como alimento, ou
sobra de gros inapropriados para consumo humano.
1.2.2. Produtos derivados do leo de amendoim
O leo de amendoim refinado possui as propriedades exigidas pelo
consumidor, sendo utilizado tanto para alimentao, quanto para usos
farmacuticos e medicinais. um leo de belo aspecto, sabor agradvel, aroma
suave, fluido, pouco solvel em lcool e pouco suscetvel ao rano. Do leo podem-
se obter os seguintes produtos derivados:
Maionese: emulso cremosa obtida com ovos e leo vegetal, adicionada de
condimentos e outras substncias comestveis. No pode ser adicionada de
corantes e deve ter, no mnimo, duas gemas de ovo por litro de leo e 65% de leo
vegetal comestvel em sua composio. No mximo, pode ter 0,5% de amido e
conter alguns aditivos das classes dos acidulantes, conservadores e acidificantes,
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 4
de acordo com a legislao brasileira.
Gordura hidrogenada: elaborada a partir da hidrogenao parcial do leo,
sob condies controladas e especficas, para originar um produto com plasticidade
desejada que atenda as mais variadas necessidades da indstria de panificao,
confeitaria e para frituras.
Margarina: emulso de gua em leo, onde a fase gordurosa uma mistura de
leos e gorduras vegetais, s vezes, animais, em quantidade e proporo suficientes
para assegurar sua solidificao em temperaturas ambientes normais. A fase
aquosa constituda por leite magro, ou gua, ou uma mistura de ambos.
Como todo leo vegetal, o leo de amendoim possui elevado valor energtico
para fins carburantes, visando a substituio total ou parcial do leo diesel. Foi o
prprio Rudolph Diesel, na Alemanha, quem props o uso de leos vegetais como
combustveis de motores, ao usar leo de amendoim in natura para funcionar, com
sucesso, um motor Elko. Entretanto, ainda existem alguns obstculos a serem
considerados, como: alta viscosidade, ausncia de volatilidade nas temperaturas
normais de trabalho dos motores e tendncia deposio de gomas e vernizes.
Atualmente, poucas agroindstrias processam amendoim visando a extrao e
exportao de leo bruto, cujos principais compradores so os Estados Unidos e a
Unio Europeia. Alm dos usos apresentados, o leo de amendoim pode,
potencialmente, ser utilizado como substituto do silicone em prteses mamrias.
1.2.3. Produtos derivados do farelo de amendoim
Aps a extrao do leo, sobra uma massa parcialmente desengordurada
denominada de torta (leo residual > 1%) ou farelo (leo residual < 1%) de
amendoim. O farelo de amendoim foi muito utilizado at 1961/62, quando se
constatou o problema da presena da aflatoxina em raes para animais. Nessa
poca, houve significativa mortalidade de perus ingleses, cujo fato foi atribudo
rao elaborada a partir de farelo de amendoim importado do Brasil. Desde ento, o
farelo de amendoim brasileiro sofre com esse estigma e foi, gradativamente,
substitudo pelo farelo de soja.
A torta, resduo da extrao do leo por prensagem, contm de 7 a 12% de
leo. No utilizada em raes e nem em outras finalidades, pois o teor de leo
deve ser recuperado, possuindo maior valor econmico que o farelo. O uso do farelo
com torta desaconselhvel, pois o leo pode ranar, originando sabor
desagradvel e rejeio pelos animais.
O farelo, com teor de leo de 0,5 a 0,8%, comercializado de acordo com o
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seu valor protico, exigindo-se no mnimo, 45% de protena em sua composio.
A qualidade do farelo funo direta do processo de obteno e da qualidade
do amendoim processado. Podem-se encontrar dois tipos de farelo: a) farelo
proveniente do processamento do amendoim descascado: neste caso, de melhor
qualidade, contendo 45% de protena, mdia de 8,5% de matria graxa e no
mximo 9,5% de celulose; b) farelo obtido a partir do processamento de amendoim
em vagem: neste caso de qualidade inferior (Tasso Junior et al., 2004).
Farelos de qualidade inferior, com presena de areia e com risco de aflatoxina,
devem ser direcionados ao mercado de fertilizantes orgnicos, onde so utilizados
na adubao de caf e citros.
1.2.4. Subprodutos derivados do processamento do amendoim
Borra: no processo de extrao do leo, resta um subproduto constitudo por
gua, leo residual e pequena quantidade de glicerdeos, denominado de borra.
Esta tem aplicao direta na confeco de sabes, aps sofrer um processo de
saponificao e lavagem.
Cascas: o amendoim vem do campo em vagens, que so debulhadas para a
retirada dos gros, sobrando assim as cascas. Estas so lignificadas e ricas em
carboidratos, normalmente encontrando-se as seguintes utilizaes: a)
combustvel sendo queimadas nas caldeiras da prpria indstria extratora de
leo; b) rao animal onde, aps triturao, as cascas so misturadas em raes
para ruminantes, embora os valores energtico e nutritivo sejam baixos;
entretanto, este uso no comum, devido ao problema da aflatoxina; c)
fertilizante, isolada, ou em mistura (compostagem) com outros produtos
orgnicos, inclusive o farelo, destinada adubao orgnica de culturas perenes.
1.3. Conjuntura Atual: Brasil e Mundo
O continente asitico o que mais produz amendoim no mundo. A produo
de amendoim em vagem se concentra em 10 pases, que representam mais de 80%
da produo mundial. A China o principal pas produtor, com cerca de 41% do
volume produzido. Juntos, China e ndia produzem 55% do volume mundial de
amendoim (tabela 1). Os maiores importadores mundiais de amendoim so
Holanda, Reino Unido, Canad, Japo e Singapura.
Com relao produo nacional de amendoim em casca, dez estados da
federao so produtores, destacando-se o estado de So Paulo como o maior
produtor, respondendo por cerca de 90% da produo brasileira (tabela 2).
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 6
O Brasil j foi um grande produtor de amendoim. Na segunda metade do
sculo XX, a cultura se expandiu a partir dos anos 50, quando as gorduras animais
comearam a ser substitudas pelos leos vegetais, especialmente de amendoim e
algodo, em decorrncia do processo crescente de urbanizao do pas. Em funo
disso, a produo aumentou ano a ano, at atingir o volume de 1,7 milhes de
toneladas em 1972. Porm, com o crescimento da cultura da soja, mais barata e
abundante, as reas de cultivo e a produo foram diminuindo gradativamente,
estabilizando-se na faixa atual de 85 mil a 95 mil hectares cultivados, com volume
de produo entre 300 mil e 350 mil toneladas por ano.
Tabela 1. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de amendoim em
vagem dos principais pases produtores em 2012
Pases 1 Produo
(t)
Relao (%)
rea Colhida
(ha)
P. A. 4
(kg ha-1) P/M 2 A/M 3
01 China 16.800.000 40,8 - 4.700.000 3.574
02 ndia 5.779.000 14,0 54,8 4.900.000 1.179
03 Nigria 3.070.000 7,5 62,3 2.420.000 1.269
04 EUA 3.057.850 7,4 69,7 650.740 4.699
05 Myanmar 1.371.500 3,3 73,0 880.000 1.559
06 Sudo 1.032.000 2,5 75,5 1.619.520 637
07 Tanznia 810.000 2,0 77,5 839.631 965
08 Indonsia 712.874 1,7 79,2 559.532 1.274
09 Argentina 685.722 1,7 80,9 307.166 2.232
10 Senegal 672.803 1,6 82,5 708.986 949
Sub-Total 33.991.749 - - 17.585.575 -
Outros 7.194.184 17,5 100,0 - -
17 Brasil 334.224 0,8 - 110.366 3.028
Mundo 41.185.933 - 100,0 24.709.458 1.667 1 Pases classificados por volume de produo. 2 P/M = participao percentual do pas em relao ao Mundo. 3 A/M = participao percentual acumulada dos pases em relao ao Mundo. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: FAOSTAT (2014).
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Tabela 2. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de amendoim em
vagem (total duas safras) dos principais estados brasileiros produtores.
Safra 2012/2013
Estados 1 Produo
(t)
Relao (%)
rea
(ha)
P.A. 4
(kg ha-1) E/P 2 A/P 3
01 SP 293.000 89,8 - 80.500 3.640
02 MG 9.800 3,0 92,8 2.900 3.379
03 PR 6.800 2,1 94,9 2.400 2.833
04 TO 6.000 1,8 96,7 1.500 4.000
05 RS 5.200 1,6 98,3 3.400 1.529
06 BA 3.100 1,0 99,3 3.000 1.033
07 SE 1.400 0,4 99,7 1.100 1.273
08 PB 400 0,1 99,8 500 800
09 CE 300 0,1 99,9 1.100 273
10 MT 300 0,1 100,0 200 1.500
Brasil 326.300 100,0 - 96.600 3.378 1 Estados classificados por volume de produo. 2 E/P = participao percentual do estado em relao ao Brasil. 3 A/P = participao percentual acumulada dos estados em relao ao Brasil. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: CONAB (2014).
Historicamente, os principais fatores que explicam a reduo da atividade
econmica com amendoim no Brasil so:
a) a concorrncia crescente da soja, cujo processo de produo sempre foi
totalmente mecanizado, desde a semeadura at a colheita;
b) a baixa produtividade por rea em alguns anos, devido a adversidades
climticas e ou ocorrncia de doenas foliares para as quais h carncia de
gentipos resistentes;
c) baixa qualidade do produto quanto aos nveis permitidos de ocorrncia de
aflatoxina nos gros;
d) variao sensvel nos preos, principalmente quando da comercializao;
e) escassez, em alguns anos, de sementes de boa qualidade, refletindo-se na
elevao dos preos das sementes, e consequentemente, encarecendo o custo de
produo;
f) custo elevado do arrendamento da terra, variando de 15 a 20%, conforme a
regio produtora;
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 8
g) dificuldade de captao de crdito em virtude de ser considerada cultura de
alto risco e de produo incerta pelos agentes financiadores;
h) desvalorizao cambial da moeda nacional, encarecendo os insumos,
aumentando os custos de produo e a descapitalizao dos produtores de
amendoim.
Tradicionalmente, o amendoim em vagem sempre foi beneficiado e os gros,
debulhados, destinados indstria extratora de leo bruto e ou pequenas
indstrias, geralmente caseiras, para a fabricao de confeitos. Entretanto, a partir
de meados da dcada de oitenta, uma nova linha de processamento industrial
cresceu no estado de So Paulo, caracterizada pela utilizao de gros grados de
amendoim na fabricao de diversos produtos alimentcios, tanto na linha de doces
como na de salgados. Mais exigente em qualidade, este novo tipo de produto gerou
forte competitividade na rea agrcola e do pr-processamento. Em conseqncia,
forou a seleo de produtores, de maneira que, os mais cuidadosos com a
tecnologia da produo e com a qualidade do produto colhido, permaneceram no
mercado.
Atualmente, no estado de So Paulo, a produo ocorre em duas regies
distintas: a regio Norte, antigamente conhecida como Alta Mogiana,
representada, pelos municpios de Ribeiro Preto, Jaboticabal, Sertozinho e
Dumont e a regio Sudoeste, antigamente conhecida como Alta Paulista,
representada pelos municpios de Marlia, Tup, Lins, Pompia e Oswaldo Cruz.
A primeira caracteriza-se pelo predomnio de solos mais argilosos, com
fertilidade varivel de mdia a alta, onde predomina o cultivo do amendoim das
guas em reas de reforma de canaviais. Nesta regio, as reas cultivadas variam
de 90 a 1.450 hectares (40 a 600 alq.), com maior diversificao de cultivares.
tambm, nesta regio, que se observam maiores esforos no sentido de evoluir a
tecnologia da produo de amendoim. Na tabela 3 so apresentados os principais
estados da federao, responsveis pela produo da 1 safra de amendoim, mais
conhecida como amendoim das guas.
Na regio norte do estado de So Paulo, o amendoim cultivado nas reas de
reforma de canaviais. Feito o ltimo corte econmico da cana-de-acar, o solo
preparado e corrigido quimicamente para receber um novo ciclo canavieiro.
Normalmente, a rea de reforma liberada pelas usinas e destilarias em setembro
ou outubro, para o cultivo do amendoim das guas. Este deve ser colhido
preferencialmente, at meados de fevereiro, ou no mais tardar, at a primeira
semana de maro, quando feito o plantio da cana-de-ano-e-meio.
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Tabela 3. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de amendoim em
vagem, primeira safra (amendoim das guas), nos principais estados
brasileiros produtores. Safra 2012/2013
Estados 1 Produo
(t)
Relao (%)
rea
(ha)
P.A. 4
(kg ha-1) E/P 2 A/P 3
01 SP 284.900 92,9 - 77.600 3.671
02 MG 9.800 3,2 96,1 2.900 3.379
03 PR 6.800 2,2 98,3 2.400 2.833
04 RS 5.200 1,7 100,0 3.400 1.529
Brasil 306.700 100,0 - 86.300 3.554 1 Estados classificados por volume de produo. 2 E/P = participao percentual do estado em relao ao Brasil. 3 A/P = participao percentual acumulada dos estados em relao ao Brasil. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: CONAB (2014).
Na regio Sudoeste, predomina solos mais arenosos, com fertilidade varivel
de mdia a baixa, onde era mais freqente o cultivo do amendoim das guas
seguido pela cultura do amendoim da seca, principalmente nas antigas fazendas
de caf com problemas de nematides formadores de galhas. Tambm era comum o
arrendamento de terras de pastagens degradadas para produtores de amendoim.
Neste caso, o produtor de amendoim assumia os custos das operaes de calagem
e adubao da cultura. O tempo mnimo de arrendamento era de dois anos, aps o
qual, o proprietrio recebia a terra de volta com resduos minerais e orgnicos
provenientes das duas safras de amendoim, podendo reinstalar a pastagem.
Hoje, a regio Sudoeste se caracteriza pela consolidao da expanso da
atividade canavieira, iniciada a partir de meados dos anos noventa. Tambm se
observa maior participao do amendoim das guas em relao ao amendoim da
seca, em reas cultivadas que variam de 25 a 1.200 hectares (10 a 500 alqueires).
Das guas e da seca so terminologias de mercado, prprias da cultura do
amendoim, e referem-se s pocas de colheita das vagens. Assim, quando a
colheita do produto se concentra nos meses de janeiro e fevereiro, tem-se a colheita
do amendoim das guas, devido a maior freqncia das chuvas nesses meses.
Quando a colheita do amendoim ocorre nos meses de junho a julho, tem-se a safra
do amendoim da seca, devido ao predomnio de ambiente mais seco nessa poca do
ano. Atualmente, veem sendo adotadas as terminologias amendoim primeira safra
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 10
e amendoim segunda safra em substituio aos termos amendoim das guas e
amendoim da seca, respectivamente.
Em ambas as regies, a produo agrcola realizada por produtores que
cultivam o amendoim em terras prprias e ou arrendadas, sendo o arrendamento
mais comum.
1.4. A Rede Agroindustrial do Amendoim
Independente da regio de produo, a unidade bsica de comercializao no
mercado a saca de 25 kg de amendoim em vagem. Normalmente, o amendoim
avaliado pelo comprador, denominado cerealista, que d preferncia ao produto
que no tenha tomado chuva (amendoim chuvado), livre de aflatoxina (micotoxina
causada por Aspergillus flavus) e que apresente, no mximo, 12% de umidade na
vagem e renda mnima de 16 a 17 kg de gros para os cultivares de porte ereto e
de 18 a 19 kg de gros para os de hbito rasteiro.
Renda a terminologia prpria do comrcio de amendoim utilizada pelos
cerealistas e se refere relao percentual, em massa, de sementes para frutos,
para designar a quantidade de gros que todas as vagens rendem ou produzem.
Em mdia, os cultivares nacionais apresentam uma renda de 70%, isto , de
cada 100 kg de amendoim em vagem, retiram-se 70 kg de gros, ou, trs sacas de
25 kg de amendoim em vagem rendem, aproximadamente, uma saca de 50 kg de
gros HPS. Com estas caractersticas, o produtor recebe o melhor preo pelo
produto.
Como cerealista ou maquinista compreende-se a pessoa jurdica
(particular, agroindstria, cooperativa, etc.) ou seu representante comercial, que
possui a infraestrutura de beneficiamento. Ele recebe o produto em vagens
ensacadas ou a granel, armazenando-o em pilhas ou a granel, enquanto no
encaminhado para a pr-limpeza (ventilao).
A seqncia bsica de beneficiamento para produo de sementes :
a) recepo das vagens (em sacas ou a granel);
b) ventilao das vagens a granel (ou aps a abertura das sacas);
c) separao das impurezas (tocos de cana-de-acar, torres de solo, pedras,
pedaos da prpria planta, alm de outras);
d) debulha das vagens (abertura da vagem e retirada das sementes);
e) classificao das sementes por tamanho em peneiras de crivos circulares e
em mesas densimtricas;
f) tratamento qumico das sementes com fungicida e inseticida;
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g) acondicionamento em sacas com capacidade para 40 kg, seguido do
armazenamento.
A seqncia bsica de beneficiamento para produo de gros HPS :
a) recepo das vagens (em sacas ou a granel);
b) ventilao das vagens a granel (ou aps a abertura das sacas);
c) separao das impurezas (tocos de cana-de-acar, torres de solo, pedras,
pedaos da prpria planta, alm de outras);
d) debulha das vagens (abertura da vagem e retirada dos gros);
e) classificao dos gros por tamanho em peneiras de crivos circulares e em
mesas densimtricas;
f) seleo eletrnica dos gros com descarte automtico daqueles que se
encontram fora de padro (despeliculados, ardidos, manchados, quebrados);
g) seleo manual dos gros para retirada daqueles que ainda se encontram
fora de padro, aps passagem pela seleo eletrnica.
h) acondicionamento em sacas com capacidade para 50 kg, seguido de
armazenamento.
Paralelamente ao beneficiamento, o cerealista determina o grau de umidade
do amendoim e a presena ou no de aflatoxina. Para tanto, possui laboratrio
prprio com tcnico devidamente treinado, ou contrata servios de terceiros.
Grandes cerealistas possuem o seu prprio laboratrio de avaliao de aflatoxina
em amendoim.
A classificao por qualidade para o mercado mais exigente da agroindstria
alimentcia feita em duas seqncias bsicas de seleo: eletrnica e manual.
Nesta ltima, os gros maiores so encaminhados por meio de esteiras rolantes at
as mquinas de ensacamento. Em ambos os lados das esteiras, funcionrias
devidamente treinadas, retiram, literalmente com as mos, todos os gros fora de
padro. Este produto conhecido como amendoim HPS (Hand Picked up
Selected). Atualmente, todo processo de beneficiamento e classificao
mecanizado e informatizado.
O amendoim do tipo HPS o que recebe maior remunerao, pois vendido
s grandes indstrias de alimentos nacionais e multinacionais. Estas avaliam em
laboratrio prprio os nveis de aflatoxina nos gros. Se no estiverem de acordo
com o padro nacional e ou internacional (tipo exportao) de toxicidade, o lote do
produto devolvido ao cerealista. Uma vez aprovado, o produto encaminhado
para a torrao com despeliculamento simultneo. Em seguida, entra nas linhas de
produo de confeitos doces e salgados, que sero adquiridos pelo consumidor
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 12
final, normalmente mais exigente.
Os gros menores, porm, de razovel qualidade, so vendidos aos pequenos
empresrios que produzem as paoquinhas e ps-de-moleque de fundo de
quintal, enquanto os ardidos, despeliculados e quebrados, muito pequenos, so
vendidos para a indstria extratora de leo bruto. Nesta, o rendimento industrial
da ordem de 41% para a extrao de leo e de 57% para a produo de farelo, ou
seja, de cada 100 kg de gros, obtm-se 41 kg de leo e 57 kg de farelo.
A semente de amendoim representa um insumo relativamente oneroso para o
produtor de amendoim. Na figura 1 encontra-se, de maneira sumarizada, a rede
agroindustrial do amendoim.
1.5. Fatores que Influenciam o Preo do Amendoim
Basicamente, so quatro os fatores que interferem no preo do amendoim no
campo:
1.5.1. Clima
As chuvas constituem o principal componente do clima que determina o preo
do amendoim. A gua disponvel no solo e a umidade no ambiente so importantes
durante todo o ciclo da cultura. A falta no incio determina a perda ou o atraso na
semeadura do amendoim das guas, reduzindo a produo e sugerindo a
elevao do preo no mercado. A seca durante os estdios da granao da vagem
resulta no chochamento destas, dando origem ao amendoim bombinha, isto , ao
ser pressionado pelos dedos da mo estoura, produzindo um som caracterstico de
vagem vazia. Isto se reflete em frustrao de safra e elevao de preos. Por outro
lado, chuvas na poca da colheita, seja amendoim das guas ou da seca,
acarretam em perda de qualidade do produto, risco de aflatoxina e com certeza,
reduo do preo pago ao produtor.
1.5.2. Preo da cana-de-acar
Se o preo da cana-de-acar diminui, a tendncia do fornecedor que sabe
cultivar amendoim aumentar o cultivo desta espcie nas reas de reforma e
buscar a compensao na venda do amendoim em vagem. O mesmo raciocnio
adotado pelas usinas, ofertando mais terras para arrendamento.
Conseqentemente aumenta a oferta do produto com a inevitvel reduo de preo.
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Figura 1. Resumo da rede nacional do agronegcio amendoim.
1.5.3. Poltica de exportao
No momento no interfere tanto, pois o amendoim produzido no Brasil
consumido internamente, sendo muito pouca a quantidade exportada. Entretanto,
se for pensada uma poltica de produo visando o mercado externo, h que se
tomar cuidado sob trs aspectos bsicos: a) a Argentina, mais agressiva no
mercado internacional, possui maior quantidade de terras em cultivo com
amendoim, com volumes de produo, conforme o ano safra, duas a trs vezes
maiores que a produo brasileira; alm disso, o custo de produo do amendoim
argentino tem sido menor que o do correspondente brasileiro; b) no se pode abrir
total e repentinamente o mercado de exportao, sem antes preparar o nosso
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 14
produtor para enfrent-lo; caso contrrio, corre-se o risco de alijar bons
agricultores do sistema produtivo; c) estimular a estruturao e ou reestruturao
de todo o setor produtivo, de maneira a estabelecer anualmente, um fluxo contnuo
e de grande escala, para atender a demanda do mercado internacional liderada
pelos pases asiticos, especialmente China.
1.5.4. Taxa de cmbio
A taxa de cmbio influencia diretamente nos preos dos insumos utilizados na
instalao e conduo da cultura, aumentando as relaes de troca, o custo de
produo e reduzindo a margem de lucro do produtor. Portanto, atua mais nos
custos de produo do que propriamente no preo do produto.
2. O INCENTIVO DA COPLANA CULTURA DO AMENDOIM
2.1. Introduo
Localizada no municpio de Jaboticabal, SP, a Cooperativa dos Produtores de
Cana da Regio de Guariba (COPLANA), possui toda a infraestrutura necessria
recepo, beneficiamento, armazenamento e comercializao do amendoim
produzido nas reas de reforma de cana-de-acar e provenientes de todas as
regies abrangidas pela cooperativa.
2.2. Histrico
A tecnologia adotada pelos cooperados no era diferente daquilo que
tradicionalmente se fazia ao longo dos anos 60, 70 e at 80, ou seja, predomnio do
cultivar Tatu, que apresenta hbito de crescimento indeterminado, limitando a
produo devido aos problemas que ocorrem nas operaes manuais de arranquio
e chacoalhamento das plantas e vagens de amendoim arrancadas e no subsequente
enleiramento manual das plantas, para secagem no campo e posterior
recolhimento mecanizado. Havendo descuido nas operaes relacionadas
colheita, principalmente o chacoalhamento e enleiramento, ocorria o contato
indesejvel do solo com as vagens midas, possibilitando assim, o desenvolvimento
do fungo Aspergillus flavus e a ocorrncia de aflatoxina em nveis totalmente fora
do admissvel pelo mercado consumidor. Face situao crtica a que chegou a
atividade durante os anos 90, agravada ainda mais pela reduo na oferta de mo-
de-obra qualificada para as operaes manuais de colheita e perante a importncia
econmica do amendoim para os produtores da regio, a COPLANA assumiu a
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posio pioneira de programar estudos avanados e aplicados na cultura do
amendoim para que a atividade adquirisse um novo conceito profissional e
competitivo, de acordo com os atuais padres da economia globalizada.
2.3. Pesquisa
Por meio de convnios e parcerias com pessoas e instituies afins, a partir de
meados dos anos noventa a COPLANA deu incio busca de conhecimentos sobre
os sistemas de produo de amendoim em uso nos Estados Unidos da Amrica e
na Argentina, para, a partir de uma viso mais ampla, direcionar os estudos
bsicos que possibilitassem a aplicao de uma nova tecnologia de produo de
amendoim no Brasil, porm, acessvel tcnica e economicamente ao produtor
brasileiro. Paralelamente, em reas de produo sob sua influncia, a COPLANA
passou a avaliar novos cultivares de hbito prostrado (argentinos e brasileiros, com
destaque ao IAC-Caiap), de ciclo mais longo e com dormncia de sementes, de
maneira que pequenos atrasos de colheita no resultassem em germinao de
sementes nas vagens dentro da terra como acontece normalmente com o cultivar
Tatu. Da mesma forma, passou a estudar, por meio da utilizao de mquinas e
implementos agrcolas importadas dos EUA e da Argentina, a mecanizao total da
cultura, principalmente das operaes de colheita, o que facilitado pelo porte
prostrado dos desses novos cultivares. Alm disso, avaliou e continua avaliando a
tolerncia e a resistncia gentica dos cultivares s principais doenas do
amendoim, resultando na confirmao do cultivar IAC-Caiap como resistente
verrugose e tolerante s cercosporioses.
2.4. Mecanizao Total do Sistema de Colheita de Amendoim
Em reas de reforma de canaviais, o amendoim cultivado quase que
exclusivamente sem adubao, semeando-se, preferencialmente para mecanizao
total, um cultivar que apresente porte mais decumbente (prostrado), em linhas
espaadas entre si de 90 cm, com densidade de semeadura de 14 sementes/m.
Cultivares argentinos e o prprio IAC Caiap foram avaliados nessas condies,
obtendo-se inicialmente, rendimentos comerciais da ordem de 100 sacas de 25 kg
por hectare ou 2.500 kg de amendoim em vagem por hectare. Lagartas e larva
alfinete so as principais pragas que demandam vigilncia e controle. As principais
doenas so as tradicionais manchas preta e parda, a verrugose e a ferrugem.
Devido significativa crise de deficincia de mo-de-obra no ano agrcola
1997/98, a COPLANA importou quatro implementos arrancadores dos EUA,
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 16
provenientes da Gergia, maior estado norte americano produtor de amendoim.
O implemento denominado no Brasil de Arrancador Invertedor de
Amendoim ou Arrancador Enleirador de Amendoim oferecido,
predominantemente, no modelo de duas linhas. Trata-se de implemento com
massa bruta varivel de 950 a 1050 kg, tracionado por trator traado de 80 a 90 HP
de potncia recomendada (engate de trs pontos), cuja TDP trabalhando entre 540
e 1000 rpm aciona os componentes ativos que promovem, em uma nica passada
sobre fileiras duplas de amendoim, o corte da raiz, arranquio e enleiramento das
plantas (Figuras 2 e 3). Em plena operao, esse implemento arranca e enleira 7 ha
de amendoim por dia de 8 horas de trabalho, o que equivale a substituir 120
homens-dia no campo.
Esse implemento utilizado h mais de quarenta anos nos EUA e o princpio
de funcionamento reside nos seguintes aspectos: a) sistema de corte da raiz
principal do amendoim; b) sistema de elevao e chacoalhamento das plantas; c)
sistema de inverso e enleiramento das plantas.
O sistema de corte da raiz principal constitudo de duas lminas, que podem
trabalhar em profundidades variveis de acordo com o tipo de solo e cultivar.
Assim, para cultivares que frutificam mais superficialmente ou para solos arenosos
ou pouco argilosos a profundidade de corte de 10 cm; j para cultivares cuja
frutificao seja mais profunda ou para solos mais argilosos as facas aprofundam a
15 cm no solo.
O sistema de elevao e chacoalhamento das plantas constitudo de uma
esteira metlica vibratria que capta as plantas arrancadas, elevando-as e
chacoalhando-as de maneira a retirar o excesso de terra e promover uma rpida
secagem no campo.
O sistema de inverso e enleiramento constitudo por duplo jogo de discos
(tambores) giratrios e aletas (varetas) metlicas. Ao atingirem o topo da esteira
elevatria, as plantas caem por gravidade sobre os discos giratrios e as varetas
metlicas dispostas lateralmente na parte posterior do implemento, promovem a
inverso das plantas e a sua deposio de cabea para baixo ou com as vagens
para cima em leiras uniformes sobre o solo (Figuras 4 e 5).
Cultivares com porte prostrado e frutificao mais superficial permite melhor
eficincia do sistema mecanizado de arranquio e enleiramento, de maneira que as
leiras formadas so uniformes em altura e largura. Quando se trabalha com o
cultivar Tatu ou outro que apresente porte mais ereto, h necessidade de se roar
parcialmente a parte area para que o implemento promova uma boa inverso e
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enleiramento das plantas. Apesar da vantagem dos cultivares de porte decumbente,
imprescindvel o acompanhamento e monitoramento da fase de maturao do
amendoim, para que no se perca o ponto de colheita, pois, caso contrrio, poder
ocorrer a germinao de sementes na vagem (cv. Tatu) ou desenvolvimento dos
fungos Sclerotinia minor ou Sclerotinia sclerotiorum causadores da doena Mofo
Branco, que causar perdas de vagens, independente do cultivar (Figura 6). Essa
doena favorecida por baixas temperaturas (18C), umidade relativa do ar elevada
(95% a 100%) e solo mido (Barreto, 1997).
Uma vez enleiradas as plantas de amendoim, finaliza-se a primeira etapa da
colheita mecanizada. No momento do arranquio das plantas, o amendoim colhido
com cerca de 45% de umidade nos gros. No havendo chuvas, o amendoim
enleirado seca no campo, reduzindo a umidade para cerca de 16% a 10% em 2 a 6
dias, conforme as condies de insolao, temperatura e ventilao do ambiente.
Aps a secagem do amendoim no campo, realizada a segunda etapa da
colheita mecanizada, conhecida como recolhimento. No sistema tradicional, o
recolhimento das leiras secas (11% a 10% de umidade no gro) feito por
implementos recolhedores que tambm so tracionados por tratores de mdia
potncia (engate de trs pontos) e cuja TDP aciona o molinete captador ou
recolhedor de plantas na leira, elevador de correia que conduz as plantas at o
cilindro batedor, onde as vagens sofrem o despencamento mecnico, isto ,
separao fsica das vagens em relao planta me. Esta picada e direcionada
ao saca palhas, retornando na forma de palha ao solo agrcola. Nos implementos
antigos, as vagens eram encaminhadas para o sistema de ensacamento e
acondicionadas em sacos de polietileno de malha grossa com capacidade para 25
kg. Atualmente, aps o despencamento, as vagens so encaminhadas ao tanque
graneleiro de tela metlica do implemento. Atingida a plena carga, o conjunto trator
+ implemento desloca-se para fora do talho, onde por meio de bscula lateral,
abastece um veculo de transporte, que conduz as vagens a granel para o sistema
de beneficiamento.
No sistema COPLANA, as leiras de amendoim so recolhidas quando a
umidade nos gros encontra-se em 16%. Desta forma, reduz-se o tempo de
secagem de 5 a 6 dias, quando se quer 11% a 10% no campo, para 2 a 3 dias
apenas. Posteriormente as vagens sofrem duas pr-limpezas, retirando-se as
impurezas grosseiras. Em seguida, as vagens so encaminhadas para a secagem
artificial.
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 18
2.5. Determinao da Renda e do Teor de gua
Quando o amendoim mido chega do campo, retirada uma amostra
homognea desse material para ser analisado em laboratrio. A amostra
constituda por 500 gramas de vagens onde retirado e calculado o percentual de
impurezas. Em seguida, as vagens so debulhadas, isto , abertas para a retirada
dos gros. Estes so separados em bons, brocados e ardidos, calculando-se o
percentual em peso de cada categoria. Por exemplo: se 500 g de vagens
corresponderam a 375 g de gros de boa qualidade, isto significa que a amostra
revelou renda de 75% ou seja, o lote de amendoim representada pela amostra de
500 g rende 17,5, isto , 25 kg de amendoim em vagem do campo rendero 17,5
kg de gros no beneficiamento.
Para determinao da umidade, utilizado o mtodo de Brow Duwel, que
consiste na retirada de 100 g de gros provenientes da mesma amostra. Estes so
colocados em um erlenmeyer, no qual se adiciona leo at cobrir o nvel dos gros
de amendoim. Em seguida, o sistema aquecido a 180C, de maneira que o vapor
dgua a 100C volatiliza e passa por um condensador. Aps 10 minutos a gua
condensada coletada e seu volume medido. Por exemplo: se a mesma amostra
considerada anteriormente resultou em 17 ml de gua, isto significa que o lote de
amendoim amostrado contem 17% de umidade no gro. Como a umidade desejada
de 8%, aplica-se um valor de correo, que reverter em certa penalizao ao
produtor daquele amendoim. Lembrar que o produto remunerado com base na
sua renda e umidade no gro.
2.6. Secagem
Aps as duas operaes de pr-limpeza, as vagens so depositadas em
carretas secadoras, isto , carretas que possuem sistema de captao de ar quente.
O ar aquecido em pressurizadores que a cada 15 segundos queimam gs
liquefeito de petrleo (GLP) e injetam ar quente no interior da carreta. Esta
secagem deve ser feita a baixa temperatura (41C), para que no haja quebra dos
gros durante o beneficiamento posterior secagem. O ar quente insuflado na
parte inferior da carreta, onde passa de maneira ascendente pela massa de vagens
e gros. Cada carreta comporta cerca de 250 sacas de 25 kg de amendoim em
vagem, cuja umidade inicial nos gros situa-se entre 18% e 16%. Aps 16 a 20
horas de secagem, a umidade nos gros diminui para 8%. Neste nvel de umidade e
aps ser beneficiado, o amendoim pode ser armazenado sem risco de ser
contaminado pelo fungo Aspergillus flavus, cujo desenvolvimento favorecido por
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umidade no gro acima de 8% (Figuras 7 e 8).
2.7. Beneficiamento e Classificao
Na COPLANA e em muitas outras beneficiadoras, o beneficiamento do
amendoim era ou ainda feito por mquinas adaptados do caf. Primeiramente o
amendoim proveniente do campo passa por um processo de pr-limpeza e secagem
(item anterior).
A pr-limpeza retira os pedaos de colmos e de touceiras de cana-de-acar e
funciona com base em trs princpios: vibrao, peneiramento e ventilao. Aps a
pr-limpeza, o amendoim passa por um catador de impurezas grosseiras,
separando pedras, torres, etc. Em seguida, as vagens so encaminhadas ao
debulhador, que consiste em um sistema de quatro facas que promovem a
abertura da vagem e a retirada dos gros. Na prxima etapa, os gros passam por
uma coluna de ar que separa os gros inteiros dos cotildones ou amendoim
banda e das impurezas mais leves (casquinha ou pelcula, pedacinhos de gros e
embrio). Em seguida, o amendoim passa por um classificador com peneiras
vibratrias, que os separam em diferentes classes de tamanho, conforme o
dimetro dos orifcios padronizados em dcimos de avos de polegadas. Por exemplo,
peneira 20 representa o dimetro dos gros de lotes de amendoins, que passaram
pela peneira 21, porm, foram retidos pela peneira 20, cujos orifcios possuem o
dimetro de 20/64 avos de polegada.
Os gros de tamanho inferior ao da peneira 16 vo para a indstria de leo.
Os gros de peneiras 16 e 17 so destinados para as indstrias de confeito. Os de
peneiras 18, 19 e 20 so os preferidos para semente, pois tm maior rendimento na
semeadura; por exemplo, usando amendoim da peneira 18, os produtores gastam
cerca de 200 kg de sementes por alqueire ou 83 kg/ha. Os cultivares de porte
rasteiro, do grupo Virgnia, como por exemplo, os cultivares Runner e IAC 886
apresentam mais de 60% dos gros classificados na peneira 24 ou acima.
Alm do classificador, o amendoim passa pelas mesas densimtricas, que
separam o amendoim com base no peso especfico dos gros. Nessas mesas
identificam-se os gros mais pesados que ficam na parte superior da mesa
densimtrica (cabea) e que so encaminhados ao seletor eletrnico para separao
de amendoins de melhor padro de qualidade para atender o mercado mais
exigente; a poro intermediria que destinada aos mercados menos exigentes e a
parte inferior (calda) que fica na parte mais baixa da mesa densimtrica e
constituda pelos gros mais leves e que so destinados s indstrias de leo. Os
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 20
gros quebrados correspondentes aos cotildones separados so denominados de
amendoim banda e so destinados a confeitaria mais caseira que produz as
famosas paoquinhas e ps-de-moleque.
O termo HPS (Hand Picked up Selected) significa em portugus o
amendoim catado e selecionado mo (Figura 9), correspondente ao amendoim
da peneira 18 e que, antigamente, era selecionado por mo-de-obra feminina.
Devido ao custo dessa mo-de-obra especializada, atualmente essa operao feita
atravs de uma mquina denominada seletora eletrnica, tambm adaptada do
produto caf, que substitui, aproximadamente, 20 funcionrias seletoras.
2.8. Seletora Eletrnica
Trata-se de um equipamento que classifica eletronicamente os gros de
amendoim com base em sua colorao. Nesse equipamento, os gros de amendoim
caem em forma de bica corrida, deslizando por dois roletes de metal. Em um
determinado ponto do trajeto, passam por um feixe de fibra tica, que promove um
reflexo da tonalidade da cor dos gros. O sistema reconhece quatro cores, a saber:
a) branco para os cotildones (banda); b) amarelo para os gros imaturos ou de
cultivares de colorao creme; c) preto para os gros ardidos e batatinhas de
tiririca; d) vermelho para os gros inteiros e desejveis. O seletor ajustado de
acordo com a cor do tegumento dos gros do cultivar em classificao. Por exemplo,
se este for vermelho como o cv. Tatu, o ajuste ser feito para a retirada dos gros
de outra cor; para isto, o ajuste da cor vermelha fica no nvel zero, enquanto os
demais nveis so determinados de acordo com o rigor da seleo. A capacidade da
mquina de 600 gros/segundo. O gro descartado recebe um jato de ar,
desviando-o para outra bica. Os gros descartados ou rejeitados so encaminhados
para outra mquina seletora eletrnica, de maneira a retirar somente os gros
ardidos. Estes vo para as indstrias de leo. Os demais, quebrados, bandas e
inteiros passam novamente por uma mesa densimtrica para separ-los.
A seleo eletrnica determina os defeitos dos gros e os classificam de
acordo com as especificaes que constam em uma tabela de padres de
amendoim, definidos pelo Ministrio da Agricultura. Segundo essa tabela os
amendoins classificam-se em HPS 1, HPS 2 e HPS 3. Aps a seleo eletrnica os
gros so acondicionados em sacas com capacidade de 50 kg ou em big bags com
capacidade para 1.000 kg. De cada 2 toneladas de amendoim ensacado retirada
uma amostra para anlise de aflatoxina.
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2.9. Anlise de Aflatoxina
Na prpria COPLANA existem laboratrio e tcnicos qualificados para
realizao da anlise de aflatoxina nos gros. Essa anlise consiste em
cromatografia de camada delgada. O Ministrio da Sade permite at 20 ppb de
aflatoxina, com exceo do tipo B1 que se for o nico presente no gro, no pode
ultrapassar o limite de 5 ppb. A amostra composta de vrias subamostras de 20 g
coletadas de sacas de 50 kg. Aps o preparo da amostra, esta comparada com o
padro, sob luz ultravioleta; o reflexo dessa luz identifica o nvel e o tipo de
aflatoxina.
Figura 2. Vista posterior do arrancador enleirador de
amendoim estacionado.
Figura 3. Vista posterior do arrancador enleirador de
amendoim, em operao.
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 22
Figura 4. Vista posterior dos componentes de
chacoalhamento, elevao e inverso das plantas de amendoim.
Figura 5. Leiras de amendoim distribudas mecanicamente pelo implemento
arrancador enleirador de amendoim.
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Figura 6. Doena mofo branco em plantas enleiradas
de amendoim, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum.
Figura 7. Pilhas de amendoim em vagem a espera da
pr-limpeza.
Figura 8. Carretas secadoras de amendoim em vagem.
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 24
Figura 9. Seleo de gros de amendoim pelo mtodo da
catao manual.
BIBLIOGRAFIA
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