Louvor em Ação | Matéria

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34 Revista Adventista I MARÇO • 2012 Liane Prestes e Willian Vieira Colaboradores Nos últimos anos, a música ad- ventista brasileira experimentou um crescimento que é atestado pelo volume de produções, núme- ro de intérpretes que vivem desse trabalho e a consolidação das gra- vadoras institucionais. Tudo isso faz com que o cenário atual seja bem diferente do encontrado há 30 anos, quando os músicos co- nhecidos no País se limitavam a poucos nomes, como Arautos do Rei, Sonete, Luiz Cláudio e Prisma. Hoje, a possibilidade de pro- duzir um material com melhor qualidade técnica, com custos re- lativamente baixos e em curto pe- ríodo de tempo, proporcionou um boom do mercado fonográfico ad- ventista. Depois de gravado o CD, o caminho para o músico de autos- sustento é rodar o Brasil cantan- do em igrejas e eventos religiosos e, com o tempo, ter seu trabalho divulgado e legitimidado pela mí- dia denominacional e evangélica. Mas esse crescimento trouxe também alguns riscos: o de pen- sar que qualquer trabalho musical é um ministério só porque o mes- mo acontece no ambiente religio- so e com a linguagem cristã; e que os cantores adventistas são os res- ponsáveis pelo entretenimento nos eventos para jovens. Afinal, o que faz do músico um ministro, e de sua arte um ministério? Serviço – A formação espiritual de líderes de adoração é o tema da pesquisa doutoral do pastor Ede- milson Cardoso na Andrews Uni- versity (EUA). Pianista por for- mação e líder religioso da Capital Brazilian Temple, uma igreja ad- ventista de brasileiros próxima de Washington D.C, Jimmy, como é conhecido, acredita que produ- zir e interpretar música é apenas uma parte do ministério musical. “A música precisa ser bem condu- zida e bem dirigida; do contrário ela pode ser apenas um show”, ad- verte. Para Jimmy, todo ministé- rio se traduz em glória a Deus e serviço ao próximo. No caso da música, seu pa- pel é chamar, confortar e animar as pessoas, servindo como meio eficaz de comunicação da Palavra de Deus. Quem também pen- sa assim é Ronnye Dias. Formado em música pela USP e com pas- sagem em várias ins- tituições adventistas, agora ele tem a mis- são de desenvolver essa consciência de música como serviço nas igrejas paulistanas, especial- mente na Nova Se- mente. “Não é apenas com nossos lábios que louvamos a Deus, mas também com nossas mãos, ao servirmos uns aos outros. Mi- nistro é quem louva a Deus através do servi- ço”, ressalta o músico. Adoração ou espe- táculo? – Quando o foco está em Deus e não na vaidade pessoal, não há espaço no mi- nistério musical para a formação da figura do “ídolo” e de “fã-clubes”. É verdade que a iden- tificação e admiração são senti- mentos naturais, e não necessa- riamente pecaminosos, ainda mais se tratando de formadores de opinião, como músicos, prega- dores e comunicadores. Mas a tie- tagem não cabe para os cristãos. Nesse contexto, os responsáveis pela formação de uma cultura do espetáculo não são apenas os in- térpretes, mas o público também. Por isso, ao se apresentar, o cantor Robson Fonseca procura retirar o peso de suas costas quando pen- sa na exigência das pessoas. “Lou- vor não tem nada a ver comigo e sim com Deus”, define. Apesar de entender a expectativa do públi- co em relação à qualidade técnica, Robson procura estar focado no ministério que lhe foi dado por Deus. “Oro e peço a Deus que transforme aquele momento para a honra e glória dEle”, relata. Talvez um dos caminhos para se corrigir essa equivocada vi- são sobre o ministério da músi- ca, é trabalhar a questão na igreja local, com aqueles que dedicam seus dons na adoração. “O jovem precisa ter o coração aberto para cantar, visitar os doentes, os en- fermos, as creches e asilos. Preci- sa colocar o ministério da música nas mãos de Deus, para que este não se limite à igreja, só no sába- do”, argumenta o pastor Jimmy. Fazer a diferença – Alguns cantores têm se despertado para o fato de que sua missão não se res- tringe à música e às apresentações intramuros. Eles têm colocado a mão na massa, dando uma ênfase missionária e social para seu tra- balho. Com o projeto “Faça a Di- ferença”, a cantora Tatiana Costa é um exemplo. Ela tem ajudado crianças carentes com o dinhei- ro arrecadado com a venda de seus dois CDs, que levam o mes- mo nome do projeto. A ideia surgiu quando ela e o marido descobriram que a ins- tituição que atendia duas crian- ças que eles ajudavam, estava com sérias dificuldades financei- ras. “Fizemos a gravação do CD, decidimos presentear os clien- tes de nossa empresa e também vender o material. Doamos o re- torno da venda e da bilheteria de um concerto de lançamento para o núcleo de crianças, para ajudar a amenizar as dificuldades que eles vinham tendo”, relembra Tatiana. Além do Núcleo Infantil Vin- de a Mim, em Hortolândia, SP, Louvor em ação Músicos rejeitam o assédio da cultura do espetáculo e pautam seu trabalho pelo engajamento missionário e social MÚSICA A venda dos dois CDs da campanha Faça a Diferença, de Tatiana Costa, já ajudou núcleos infantis, crianças de Moçambique e da Rocinha, além de missionários na África Robson Fonseca liderou a arrecadação de doações para a construção de duas igrejas na Amazônia

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Publicada na Revista Adventista: março de 2012.

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Liane Prestes e Willian VieiraColaboradores

Nos últimos anos, a música ad-ventista brasileira experimentou um crescimento que é atestado pelo volume de produções, núme-ro de intérpretes que vivem desse trabalho e a consolidação das gra-vadoras institucionais. Tudo isso faz com que o cenário atual seja bem diferente do encontrado há 30 anos, quando os músicos co-nhecidos no País se limitavam a poucos nomes, como Arautos do Rei, Sonete, Luiz Cláudio e Prisma.

Hoje, a possibilidade de pro-duzir um material com melhor qualidade técnica, com custos re-lativamente baixos e em curto pe-ríodo de tempo, proporcionou um boom do mercado fonográfico ad-ventista. Depois de gravado o CD, o caminho para o músico de autos-sustento é rodar o Brasil cantan-do em igrejas e eventos religiosos e, com o tempo, ter seu trabalho divulgado e legitimidado pela mí-dia denominacional e evangélica.

Mas esse crescimento trouxe também alguns riscos: o de pen-sar que qualquer trabalho musical é um ministério só porque o mes-mo acontece no ambiente religio-so e com a linguagem cristã; e que os cantores adventistas são os res-ponsáveis pelo entretenimento nos

eventos para jovens. Afinal, o que faz do músico um ministro, e de sua arte um ministério?

Serviço – A formação espiritual de líderes de adoração é o tema da pesquisa doutoral do pastor Ede-milson Cardoso na Andrews Uni-versity (EUA). Pianista por for-mação e líder religioso da Capital Brazilian Temple, uma igreja ad-ventista de brasileiros próxima de Washington D.C, Jimmy, como é conhecido, acredita que produ-zir e interpretar música é apenas uma parte do ministério musical. “A música precisa ser bem condu-zida e bem dirigida; do contrário ela pode ser apenas um show”, ad-verte. Para Jimmy, todo ministé-rio se traduz em glória a Deus e serviço ao próximo. No caso da música, seu pa-pel é chamar, confortar e animar as pessoas, servindo como meio eficaz de comunicação da Palavra de Deus.

Quem também pen-sa assim é Ronnye Dias. Formado em música pela USP e com pas-sagem em várias ins-tituições adventistas, agora ele tem a mis-são de desenvolver essa consciência de música como serviço nas igrejas

paulistanas, especial-mente na Nova Se-mente. “Não é apenas com nossos lábios que louvamos a Deus, mas também com nossas mãos, ao servirmos uns aos outros. Mi-nistro é quem louva a Deus através do servi-ço”, ressalta o músico.

Adoração ou espe-táculo? – Quando o foco está em Deus e não na vaidade pessoal, não há espaço no mi-nistério musical para a

formação da figura do “ídolo” e de “fã-clubes”. É verdade que a iden-tificação e admiração são senti-mentos naturais, e não necessa-riamente pecaminosos, ainda mais se tratando de formadores de opinião, como músicos, prega-dores e comunicadores. Mas a tie-tagem não cabe para os cristãos.

Nesse contexto, os responsáveis pela formação de uma cultura do espetáculo não são apenas os in-térpretes, mas o público também. Por isso, ao se apresentar, o cantor Robson Fonseca procura retirar o peso de suas costas quando pen-sa na exigência das pessoas. “Lou-vor não tem nada a ver comigo e sim com Deus”, define. Apesar de entender a expectativa do públi-co em relação à qualidade técnica,

Robson procura estar focado no ministério que lhe foi dado por Deus. “Oro e peço a Deus que transforme aquele momento para a honra e glória dEle”, relata.

Talvez um dos caminhos para se corrigir essa equivocada vi-são sobre o ministério da músi-ca, é trabalhar a questão na igreja local, com aqueles que dedicam seus dons na adoração. “O jovem precisa ter o coração aberto para cantar, visitar os doentes, os en-fermos, as creches e asilos. Preci-sa colocar o ministério da música nas mãos de Deus, para que este não se limite à igreja, só no sába-do”, argumenta o pastor Jimmy.

Fazer a diferença – Alguns cantores têm se despertado para o fato de que sua missão não se res-tringe à música e às apresentações intramuros. Eles têm colocado a mão na massa, dando uma ênfase missionária e social para seu tra-balho. Com o projeto “Faça a Di-ferença”, a cantora Tatiana Costa é um exemplo. Ela tem ajudado crianças carentes com o dinhei-ro arrecadado com a venda de seus dois CDs, que levam o mes-mo nome do projeto.

A ideia surgiu quando ela e o marido descobriram que a ins-tituição que atendia duas crian-ças que eles ajudavam, estava com sérias dificuldades financei-ras. “Fizemos a gravação do CD, decidimos presentear os clien-tes de nossa empresa e também vender o material. Doamos o re-torno da venda e da bilheteria de um concerto de lançamento para o núcleo de crianças, para ajudar a amenizar as dificuldades que eles vinham tendo”, relembra Tatiana.

Além do Núcleo Infantil Vin-de a Mim, em Hortolândia, SP,

Louvor em açãoMúsicos rejeitam o assédio da cultura do espetáculo e pautam seu

trabalho pelo engajamento missionário e social

MúsicA

A venda dos dois CDs da campanha Faça a Diferença, de Tatiana Costa, já ajudou núcleos infantis, crianças de Moçambique e da Rocinha, além de missionários na África

Robson Fonseca liderou a arrecadação de doações para a construção de duas igrejas na Amazônia

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a cantora conseguiu beneficiar outras instituições com o di-nheiro de suas gravações: Casa da Criança Feliz, Indiozinhos de Dourados e o Hospital do Cân-cer de Porto Alegre. Os recur-sos foram direcionados também para campanhas como o Pro-grama Educacional de Resistên-cia às Drogas (Proerd) da Policia Militar, e para grupos específicos, como missionários adventistas da África, surdos-mudos, dez crian-ças de Moçambique que precisa-vam de patrocínio para os estudos e menores da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.

“Quando pensamos em fazer algo pelo próximo, imagináva-mos que poderíamos estar parti-lhando um pouquinho de tantas bênçãos que Deus nos dá, além de saciar nosso desejo de servir”, ex-plica Tatiana. “É uma sensação in-tangível que só quem faz algo pelo próximo pode sentir”, garante.

Plantar igrejas na selva – Robson Fonseca é outro músico que tem mostrado engajamento evangelístico. Com a gravação do seu DVD Missão Amazônia, ele li-derou as pregações e a captação de recursos para o estabelecimento

de duas igrejas na Amazônia: Vila de Samauma e de Paricatu-ba. Além do dinheiro levantado com a venda da produção, Rob-son conseguiu doações de pessoas comuns e empresários. Agora, o plano dele é realizar um proje-to semelhante em um dos Esta-dos mais pobres do Brasil e que tem pouca presença adventista, o Piauí.

Robson acredita que a influên-cia dos cantores sobre outras pessoas é um dom que pode ser melhor usado para o avanço da pregação do evangelho. “Os can-tores têm sido abençoados por

Deus a cada dia e individualmente realizam um lindo trabalho. Mas imagine todos juntos trabalhando para mudar a história de regiões de prioridade para a Missão Glo-bal? Seria maravilhoso!”, projeta.

E é esse foco que pode capaci-tar as congregações e os canto-res para usar o dom da música de acordo com o propósito pelo qual ele foi dado por Deus, ser um mi-nistério. “Espero que essas inicia-tivas se multipliquem, que mais cantores abracem causas como essas e que a comunidade cristã se envolva nesse processo”, sonha Ronnye Dias.

Da redação

De 4 a 14 de janeiro, milhares de fiéis ao redor do planeta aten-deram ao convite da sede mun-dial da Igreja Adventista para orar pelo reavivamento e reforma es-pirituais. Durante os dez dias de intercessão, os participantes en-contraram diversas maneiras para se unir em um só propósito. No Brasil, houve uma interessan-te mobilização pela internet, por meio de web conferência. Segundo Karyne Correia, uma das organi-zadoras e participantes da reunião virtual, meditações e orações espe-ciais foram realizadas, sempre às 19 horas (horário de Brasília).

Novo Tempo – Apesar de se tratar de um mês de férias, a Rede Novo Tempo de Comunicação também esteve engajada na di-vulgação da campanha por meio de comerciais e orações ao vivo na programação da rádio e TV. Uma

frente importante de promoção foram as redes sociais. Segun-do o diretor de inter-net da Novo Tempo, Carlos Magalhães, a utilização de três pá-ginas oficiais no Fa-cebook permitiram a interação com qua-

se 1.400 pessoas, sendo 34% de-las de 18 a 24 anos. Os conteúdos compartilhados sempre faziam referência ao site oficial da cam-panha: www.reavivamentoere-forma.com.

Um dos comentários posta-dos foi o de Andréia Matos: “Es-ses dez dias de oração foram uma bênção. A Igreja de Jardim Monte Verde, SP, costumava estar vazia nos cultos de quarta e domingo. Mas, assim que começaram os dias de oração, os membros se fi-zeram mais presentes e estamos cada vez mais calorosos com o Es-pírito Santo em nosso meio.” Ugo Naujokat, da Inglaterra, foi outro a testemunhar: “Esses dias nos uni-ram como irmãos e realmente nos tornamos uma família.”

Presencial – Em Belo Horizon-te, alguns fiéis optaram pela reu-nião presencial e contatos virtu-ais. Eles oraram pela plenitude espiritual. Para tanto, escolheram

os horários das 7h e 19h para falar com Deus. A funcionária pública Marisa da Conceição, por exem-plo, enviou mensagens de confor-to via e-mail para todas as pessoas da lista de intercessão do grupo. Além de orar, eles continuam se reunindo para ouvir hinos, pro-gramar visitas de atendimento a pessoas necessitadas e contar o que Deus tem realizado em favor da causa que abraçaram.

Dia Mundial de Oração – Essa iniciativa foi uma prévia da mobilização do dia 10 deste mês,

quando os quase 17 milhões de adventistas de todo o mundo se-rão desafiados a dedicar o sába-do para a oração e jejum. A data especial vai ser marcada por ora-ção intercessora, louvor e men-sagens bíblicas especiais, como o sermão do pastor Ted Wilson, presidente mundial da Igreja, que será veiculado pelo canal executi-vo da TV Novo Tempo. “O dia 10 de março é apenas um estímulo, mas a prática da oração e do je-jum deve ser constante em nossa vida”, comenta Wiliane Marroni, coordenadora do projeto em ní-vel sul-americano. No continen-te, a intercessão dos milhares de fiéis será especialmente em fa-vor da distribuição massiva de li-vros no dia 24 – Com reportagem de Mani Maria, Felipe Lemos e Marcelo Gomes.

Operação Chuva GlobalPresencial ou virtualmente,

adventistas de todo o mundo experimentaram durante dez dias

uma prévia do Dia Mundial de Oração

espiRituAlidAde

Grupo de Belo Horizonte participou do projeto mundial de dez dias de intercessão. Mas, para eles, as orações, testemunhos e visitações continuam o ano todo

A Igreja usou rádio, TV e as redes sociais para promover a campanha