LONGEVIDADE E CRESCIMENTO DE ÁRVORES TROPICAIS: SUBSÍDIOS PARA O MANEJO FLORESTAL Diogo Selhorst...

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LONGEVIDADE E CRESCIMENTO DE ÁRVORES TROPICAIS: SUBSÍDIOS PARA O MANEJO FLORESTAL Diogo Selhorst o do curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais-UF UFAC - Parque Zoobotânico/SETEM Apoio : UFAC, CENA-USP, UC-Irvine, Projeto LBA (LC-02, CD Orientador: Marcos Silveira

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LONGEVIDADE E CRESCIMENTO DE ÁRVORES TROPICAIS: SUBSÍDIOS PARA O MANEJO FLORESTAL

Diogo SelhorstAluno do curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais-UFAC

UFAC - Parque Zoobotânico/SETEM

Apoio :

UFAC, CENA-USP, UC-Irvine, Projeto LBA (LC-02, CD-08)

Orientador: Marcos Silveira

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Principais produtores de madeira tropical serrada Principais consumidores de madeira tropical serrada

Principais produtores tropicas em toras

Fonte: ITTO, 2003

● Produção mundial de madeira tropical em tora em 2003 = 133 milhões de m3.

INTRODUÇÃO

● Brasil também é o maior consumidor de madeira tropical.

● Brasil é o maior protutor de madeira tropical em tora ou serrada.

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Adaptado de Lutz et al., 2001 (Nature)

Produção e consumo de madeira tendem a aumentar até o final do século se usarmos como indicador as projeções de aumento da população mundial.

8 - 11 bilhões

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Na escala nacional pretende-se até 2010 implementar 50 milhões de hectares na foma de novas FLONAS na região amazônica.

Fonte: Veríssimo et al. 2002 (Science)

~ 3 vezes mais que a área do Estado do Acre

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O manejo florestal é sustentável?

No Brasil o manejo florestal é obrigatório em florestas públicas ou particulares (Código Florestal Brasileiro - Lei N o 4.771, de 15 de set. de 1965).

● O conhecimento necessário para execução de bons planos de manejo (que promovam a sustentabilidade em diferentes escalas) ainda está em construção.

● Esse estudo tem a intenção de contribuir para a ampliação desse conhecimento.

(Sim - não - não sabemos)

O manejo florestal é praticado?

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OBJETIVO GERAL

Investigar a distribuição etária e padrões de crescimento arbóreo em regiões tropicais, com ênfase em duas espécies madeireiras (Dipteryx spp. e Torresea acreana) e fornecer informações para o fortalecimento das técnicas de exploração direcionadas à sustentabilidade produtiva e a conservação das espécies.

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Variáveis importantes para o manejo florestal:

estrutura populacional;

regeneração;

mortalidade;

crescimento.

recrutamentoidade

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Indivíduos de duas espécies foram estudados em detalhe para avaliar, além do crescimento, as suas idades:

● Dipteryx spp. (cumaru-ferro) e Torresea acreana (cerejeira).

MATERIAIS E MÉTODO

Para entender o crescimento arbóreo em florestas tropicais naturais e após a exploração de madeira foram realizados:

● Um Experimento de campo no suldoeste da Amazônia;

● Levantamento bibliográfico.

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O experimento de campo:

-100

-75

-50

-25

0

25

50

75

100

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500

X

Y

10 cm ≤ DAP < 35 cm DAP ≥ 35 cm

Parcela permanente de 10 ha

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O crescimento foi monitorado em 300 árvores (DAP > 10 cm) com dendrômetros metálicos na Faz. Catuaba, durante 4 anos.

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As datações com 14C foram realizadas em duas partes das árvores:

1) - Datação da medula (decaimento radioativo);

2) - Datação das ultimas camadas de crescimento (~50 anos região do carbono pós-bomba).

-200

0

200

400

600

800

1000

1950 1960 1970 1980 1990 2000

±1

4C

Concentração de 14C na atmosfera nas últimas décadas

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Datação 14C:(crescimento e idade)

Procedimentos de coleta para datação:

Área de estudo: Faz. São Jorge I, Estado do Acre, Município de Sena Madureira.

Coleta de discos da base das árvores

Coleta de amostras na região do carbono pós-bomba

Coleta de material da medula e corte dos discos para armazenar

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0

100

200

300

400

500

600

700

Dias julianos (1 = 09nov2000)

Pre

cipi

taçã

o ac

umul

ada

(mm

)

-0,1

0,1

0,3

0,5

0,7

0,9

1,1

1,3

1,5

1,7

Incr

emen

to d

iam

étric

o (m

m)

Precipitação acumulada entre leituras

incremento diametrico médio absoluto entre as leituras (mm)

Incremento diamétrico médio da floresta em 4 anos: 0,36 cm/ano

Crescimento é sazonal e correlacionado com a precipitação (correlação de Pearson, r = 0,91; p < 0,01).

RESULTADOS

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0,00

0,25

0,50

0,75

1,00

1,25

1,50

1,75

2,00

2,25

2,50

incr

emen

to d

iam

étric

o m

édio

(cm

/ano

)

espécies madeireiras

O incremento diamétrico foi diferente entre as espécies madeireirascom n > 10 indivíduos: breu vermelho, andiroba e castanheira.(teste Kruskal-Wallis, p = 0,0042).

IC 95%

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intensidade de corte

(m3/ha)componente medido (cm)

tempo de avaliação (anos)

incremento diamétrico médio em parcelas testemunhas (cm/ano)

incremento diamétrico médio da floresta pós-exploração (cm/ano)

incremento diamétrico de sp comerciais pós-exploração (cm/ano)

estimulo geral no incremento diamétrico médio

a - 34 a 67 DAP ? 10 9 0.15 0,25 a 0,28 0,29 a 0,3 67 a 87%b - 75 DAP ? 5 13 0,2* 0.3 0.4 50%c - - DAP ? 10 3 0,33** - 0,63** 91%**d - 69 e 78 DAP ? 5 8 0.2 0,35 e 0,37 0,47 e 0,43 75% a 85%

Referencias e localização:a - Higuchi, 1997 (Brasil-Manaus)b - Silva, 1995 (Santarém-PA, FLONA Tapajós, Brasil)c - Vidal et al, 2002 (Paragominas-PA, Brasil)d - Carvalho, 2004 (Santarém-PA, FLONA Tapajós, Brasil)* O autor apenas cita como referencia a testemunha do trabalho de Carvalho (1992) que correspondem aos mesmos dados publicados em Carvalho (2004).** Dados apenas para espécies comerciais.

Resumo de alguns estudos sobre o crescimento e rendimento de florestas amazonicas após a extração de madeira.

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Dataçõesde cumarus-ferro (Dipteryx spp.) DAP

(cm)

idade da medula ±

IC 95% (anos)

incerteza relativa

(%) com relação as

idades

incremento diamétrico médio =

DAP/idade ± IC 95% (cm/ano)

incremento diamétrico médio dos ultimos 50

anos (cm/ano)

idade projetada

(anos)

CF 328 63 452 ± 080 18 0,14 ± 0,03CF 574 60 192 ± 150 78 0,31 ± 0,24 1,00 68CF 430 66 437 ± 075 17 0,15 ± 0,03CF 529 60 192 ± 150 78 0,31 ± 0,24 1,29 57CF 667 74 187 ± 145 78 0,40 ± 0,31 1,85 62CF 190 129 462 ± 090 19 0,28 ± 0,05CF 330 63 472 ± 090 19 0,13 ± 0,03CF 272 117 462 ± 090 19 0,25 ± 0,05CF 179 120 427 ± 075 18 0,28 ± 0,05CF 114 101 447 ± 085 19 0,23 ± 0,04CF 126 66 182 ± 130 71 0,36 ± 0,26 0,53 136CF 52 101 777 ± 045 6 0,13 ± 0,01*CF a 120 1170 0,1*CF b 100 710 0,14*CF c 110 360 0,31**CF d 38 445 0,09**CF e 48 465 0,10***CF-Catuaba 51 ***0,22 ***232média 83 461 0,22 0,98 112

* Árvores datadas por Chambers et al., 2001.** Árvores datadas por Vieira, 2003.*** Indivíduo monitorados por 4 anos na Faz. Experimental Catuaba.

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Datações de cerejeiras (Torresea acreana)

DAP (cm)

idade da medula ±

IC 95% (anos)

incerteza relativa

(%) com relação as

idades

incremento diamétrico médio =

DAP/idade ± IC 95% (cm/ano)

incremento diamétrico médio dos ultimos 50

anos (cm/ano)

idade projetada

(anos)

CRJ 4141 62 192 ± 150 78 0,32 ± 0,25 0,85 80CRJ 834 70 182 ± 130 71 0,38 ± 0,27 0,86 116CRJ 16 67 182 ± 130 71 0,37 ± 0,26 0,71 93CRJ 316 65 182 ± 130 71 0,36 ± 0,25 0,24 237CRJ 3533 40 277 ± 085 31 0,14 ± 0,04 0,51 108CRJ 5331 64 182 ± 120 66 0,35 ± 0,23 1,20 70CRJ 118 76 187 ± 145 78 0,41 ± 0,32 0,57 120CRJ 123 70 182 ± 130 71 0,38 ± 0,27CRJ 556 57 0,88 64CRJ 674 60 0,28 220média 63 196 0,34 0,68 123

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0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00

CRJ-118

CRJ-316

CRJ -4141

CRJ-834

CRJ -16

CRJ -3533

CRJ-556

CRJ-674

CRJ -5331

C F- 126

C F- 574

C F- 667

C F- 529

incremento rad ial (cm)

Incremento entre A e B (cm) Incremento entre B e C (cm)

medula

a bc

0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00

CRJ-118

CRJ-316

CRJ -4141

CRJ-834

CRJ -16

CRJ -3533

CRJ-556

CRJ-674

CRJ -5331

C F- 126

C F- 574

C F- 667

C F- 529

incremento rad ial (cm)

Incremento entre A e B (cm) Incremento entre B e C (cm)

medula

a bc

a bc

Incremento radial entre pontos coletados nas ultimas camadas de crescimento (carbono pós-bomba).

cumarus-ferro(Dipteryx spp.)

cerejeiras(Torresea acreana)

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CONCLUSÕES

● A floresta da Faz. Catuaba apresentou incremento diamétrico médio de 0,36 cm/ano com comportamento sazonal e forte correlação positiva com a precipitação. Esse valor é um dos maiores encontrados em florestas naturais da Amazônia, que variam de 0,1 a 0,4 cm/ano.

● Houve diferença significativa no incremento diamétrico médio de algumas espécies madeireiras mais abundantes da Faz. Catuaba.

● Os cumarus-ferro (Dipteryx spp.) adultos (DAP entre 40 e 130 cm) comumente alcançam centenas de anos de idade (> 400 anos). Consideranto todos os dados disponíveis o incremento diamétrico médio encontrado foi de 0,22 cm/ano e a idade média de 460 anos.

● As cerejeiras (Torresea acreana) foram em media mais jovens que os cumarus-ferro. Não foram encontrados indivíduos com mais de 350 anos e com menos de 50 anos. O incremento diamétrico médio foi de 0,34 cm/ano e idade média de ~ 200 anos.

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● Quatro indivíduos de cumaru-ferro (DAP entre 60 e 70 cm) com estudos do carbono pós-bomba, apresentaram incremento diamétrico médio nos últimos 50 anos de 2 a 8 vezes maior que a média de toda a vida calculada pela datação da medula (máx. 1,85 cm/ano).

● Para as 9 cerejeiras (40 a 80 cm de DAP) com analises do carbono pós-bomba os incrementos recentes (~ 50 anos) tiveram média de 0,68 cm/ano, sendo até 3 vezes maior que os valores médios (máx. 1,2 cm/ano).

● O estímulo no crescimento comum nas áreas manejadas pode ser muito diferente se analizado na escala de espécies.

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● As diferenças nos padrões de crescimento entre as espécies madeireiras reforçam a necessidade de planos de manejo na escala de espécies ou grupos de espécies. Para isso é preciso a ampliação dos esforços de pesquisa dando preferência para as espécies mais exploradas.

● Com planos de manejo na escala de espécie a capacidade de previsão da produção de madeira e da conservação das espécies pode ser alcançada ou melhorada.

Diogo [email protected]