LONA 726 - 30/05/2012

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[email protected] @jornallona Ano XIII - Número 726 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, quarta-feira, 30 de maio de 2012 O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil lona.redeteia.com ESPECIAL COMPORTAMENTO TECNOLOGIA Jovens usam tecnologia para desenvolver aparelhos benéficos à sociedade Pág. 6 Nova lei pode prejudicar a privacidade de clientes de bares e restaurantes Pág. 7 AIDS preocupa em número de mortos e coloca o Sul entre as regiões com maior incidência Págs. 4 e 5 Enem tem 600 inscrições por minuto Jessica Rossignol Segundo Geraldo Peçanha de Almeida, professor de Ciência da Edu- cação, os alunos estão mais seguros com as novas regras. Esse é um dos motivos para o elevado número de inscrições já no primeiro dia. Pág. 3

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALSIMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO

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Curitiba, quarta-feira, 30 de maio de 2012

[email protected] @jornallona

Ano XIII - Número 726Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade PositivoCuritiba, quarta-feira, 30 de maio de 2012

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

lona.redeteia.com

ESPECIAL COMPORTAMENTOTECNOLOGIA

Jovens usam tecnologia para desenvolver aparelhosbenéficos à sociedade

Pág. 6

Nova lei pode prejudicar aprivacidade de clientes de

bares e restaurantes

Pág. 7

AIDS preocupa em número de mortos e coloca o Sul entre as regiões com maior incidência

Págs. 4 e 5

Enem tem 600 inscrições por minuto

Jessica Rossignol

Segundo Geraldo Peçanha de

Almeida, professor de Ciência da Edu-

cação, os alunos estão mais seguros

com as novasregras. Esse é um

dos motivos para o elevado número de

inscrições já noprimeiro dia.

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ExpedienteReitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Admi-nistração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Se-bastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jorna-lismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editora-chefe: Suelen Lorianny |Repórter: Vitória Pe-luso | Pauteira: Renata Pinto| Editorial: Gustavo Vaz

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Univer-sidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conec-tora 5. Campo Comprido. Curitiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.

Nunca antes na história o Brasil esteve tão forte economi-camente como agora. Desde a crise financeira de 2008, na qual o país saiu praticamente ileso, o Brasil se colocou dentre as principais economias do mundo e se tornou uma das nações mais promissoras para ser a “bola da vez” no cenário mundial em curto prazo.

Porém, o crescimento financeiro do país parece não se re-fletir como deveria na vida do cidadão, já que ainda há proble-mas dignos de lugares subdesenvolvidos, como precariedade na saúde e educação, desigualdade social muito acentuada e um “mar de lama” na política.

Pode parecer paradoxal para muitos, mas, infelizmente, ser uma economia “Top 10” mundialmente não resolveu, por hora, os problemas mais costumeiros da nação, como se esperava an-tigamente que aconteceria.

O brasileiro ainda não está acostumado com a posição de destaque que ocupa atualmente, e por isso, práticas obscuras e incompatíveis com um país de primeira linha ainda são feitas. Não há maturidade, principalmente na cabeça dos “mandachu-vas” do Brasil, para entender o momento que o país passa e para começar uma reforma estrutural de pensamento que seria o salto de qualidade desta nação para que ela se torne um país realmente representativo e respeitado.

É necessário frisar que a boa posição da nossa economia no cenário mundial não se deve apenas ao trabalho feito pelos governos desde meados da década de 1990, mas também ao enfraquecimento de países antes fortes, muitos deles europeus. Com isto, a evolução foi muito abrupta, o que não permitiu uma evolução no modo de pensar e de se guiar o país, como é neces-sário num lugar que almeja ser de “primeiro mundo” (usando uma expressão já antiquada).

No fim desta equação, chegamos a um país de economia forte, mas onde a população sofre, e absurdos como mortes em hospitais por mau atendimento ou uma justiça inoperante acon-tecem.

Não por coincidência, estes fatos não são exclusividade nos-sa. Nações que acompanham o Brasil, na evolução econômica e que são: Índia, Rússia, China e África do Sul também vivem problemas idênticos, além de outros piores (como o totalitaris-mo chinês).

Ou seja, ainda falta pensar em um nível desenvolvido, para que estes países, onde o Brasil se inclui realmente se tornem desenvolvidos.

OpiniãoEditorial

Trabalhadores: as eternas vítimasOscar Cidri

Recentemente vimos cenas raras por boa parte dos grandes telejornais. Foram pou-cas e curtas, em matérias menores ainda, mas não teve como o cartel da informação no Brasil deixar de mostrar um pouquinho que fosse as intensas manifestações populares contra os cortes de verbas sociais e o achatamento salarial na Grécia.

Tudo para salvar o sistema financeiro, à beira do colapso, usando como chantagem a ameaça de tirar o país da zona do Euro. Outros grandes países europeus parecem trilhar o mesmo caminho, Espanha, Portugal e Itália.

No Brasil, país no qual o tsunami da crise mundial chegou feito “marola”, as pre-ocupações preventivas começam a se tornar mais sérias. Semana passada a revista The Economist publicou 2 matérias dedicas ao Brasil, e o maior partido da oposição sistemática à presidente Dilma Rousseff, a revista Veja, reverberou – exclamando de forma pessimista - os temas.

O periódico inglês alerta para a rampa descente da economia brasileira e tece alguns elogios à política econômica de Dilma, contudo, não deixa de enfatizar a necessidade de reformas tributárias e trabalhistas, para que o país não retroceda na “onda de pros-peridade”.

Coincidentemente, ou não, nossos parlamentares retiram das gavetas projetos que, há tempos, visam flexibilizar e mitigar os direitos trabalhistas assegurados pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Muda-se o nome dos proponentes, dos números de processo parlamentar, renovam-se alguns itens no texto, mas o núcleo da questão é: diminuir os direitos dos trabalhadores para atrair investimentos e desonerar o expiató-rio “custo Brasil”.

Desde a Revolução Burguesa e o começo do capitalista, a fórmula básica continua a mesma, subtrair dos mais fracos (trabalho) para garantir os ganhos dos mais fortes (capital). E assim, a estrutura do sistema perdura por mais de dois séculos.

Rico financeiramente, maspobre de espírito

Recentemente, os governos de Brasil e Portugal divulgaram o vencedor do Prêmio Camões de 2012: o contista Dalton Trevisan, autor de Em Busca de Curitiba Perdida, entre outros.

A láurea, que entrega 100 mil euros (aproximadamente 260 mil reais), é o reco-nhecimento máximo da trajetória de um escritor em língua portuguesa. A premiação é inédita para um escritor paranaense, situa a literatura de Dalton para além de seu perímetro afetivo e trouxe à mídia destes dias um outro tipo de faceta do Vampiro de Curitiba, muito conhecida por aqui, mas pouco difundida em nível internacional, a do escritor arredio e avesso às entrevistas. (Desde os anos 1970, Dalton mantém uma reclusão severa: não aparece em público e não se deixa fotografar. Nem a sua própria editora, a Record, tem seu contato pessoal.)

Neste último domingo, porém, o Globo News Literatura, programa ancorado pelo jornalista Edney Silvestre, mandou o repórter Claufe Rodrigues para desvendar a mi-tologia trevisânica. Como era de se esperar, Dalton não aceitou ser filmado, mas as câmeras da reportagem conseguiram uma imagem dele se dirigindo ao portão de sua casa antes de se evadir da possibilidade de entrevista. O registro, inédito, mostra um Dalton claramente aborrecido dentro de sua casa depois de ser flagrado, andando em meio às árvores.

Se o registro talvez seja válido pelo aspecto jornalístico, há uma óbvia invasão de privacidade, um autor impedido de se “esconder”, que optou somente pela faceta pú-blica de sua obra.

Tempos assim.

Limites da invasão de privacidadeDaniel Zanella

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Oscar Cidri

Novas regras na redação dãocredibilidade ao EnemMEC espera participação de 6,1 milhões de candidatos até o final da inscrição

O Ministério da Educa-ção (MEC) registrou no pri-meiro dia de inscrições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) uma média de 600 inscrições por minu-to. Procurada pelo LONA, a assessoria do MEC não confirma a informação que a mídia está divulgando, mas não deixa de acrescen-tar que isso pode ter ocor-rido . O esperado para este ano é de 6,1 milhões de candidatos.

Segundo o professor de

Ciência da Educação Ge-raldo Peçanha de Almeida, “o Enem, mesmo com os problemas ocorridos nos últimos três anos, vem am-pliando sua credibilidade”. Isso, segundo ele, é o fator responsável pelo número de inscritos no primeiro dia, pois os candidatos estão mais seguros.

A partir deste ano, dois corretores irão dar nota. A correção será com notas de 0 a 200 pontos em cinco competências, totalizando um máximo de 1.000 pon-tos. Caso haja discrepância de mais de 80 pontos nas notas dos dois corretores

Jessica Rossignol em uma competência, um terceiro corretor irá avaliar a redação.

De acordo com Almei-da, as novas regras trazem de volta a credibilidade ao Enem, mas o problema pode ficar maior ainda. Isso por-que o pedido dos candida-tos por um terceiro corretor pode ser grande, e o MEC não conseguir dar conta da demanda.

A estudante do terceiro ano do ensino médio Ana Carolina Silva fez sua ins-crição no primeiro dia para não correr o risco de per-der o prazo. “Não gosto de deixar as coisas para última

hora, o Enem é muito con-corrido”, explica.

O prazo segue até 15 de junho, e o processo é feito exclusivamente pela inter-net. As provas serão apli-cadas nos dias 3 e 4 de no-vembro. A taxa de inscrição permanece em R$ 35. A divulgação do gabarito está prevista para o dia 7 de no-vembro, e o resultado final deve sair em 28 de dezem-bro.

De acordo com o MEC, no ano passado o exame recebeu mais de 6 milhões de inscrições. Desde 2009, o Enem ganhou mais im-portância porque passou a

ser usado por instituições públicas de ensino superior como critério de seleção em substituição aos vestibula-res tradicionais.

A prova também é pré-requisito para quem quer participar de programas de acesso ao ensino superior, como o Fundo de Finan-ciamento Estudantil (Fies), o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Ci-ência sem Fronteiras.

Serviço:

Inscrição do Enem 2012www.enem.inep.gov.br

Informações Enem 2012

Dólar opera com desvalorização0,58 % no país

Iara Machado

Número de famílias endividadas com o cartão de crédito cresce. O endividamento pode causar transtornos a quem deseja viajar no exterior

Nesta terça-feira, uma das moedas mais importantes do mundo, o dólar passa a operar em baixa no período da tarde. Este declínio deve-se à pressão das construtoras, que devol-viam lucros ainda ganhos nesta data.

“Com essa situação em bai-xa, o dólar é cotado em R$ 2, já que no período da tarde houve desvalorização de 0,58

% na Ibovespa”, explica Silvia Alencar, secretária do Banco do Brasil.

Em compensação, o dólar comercial teve crescimento de 0,28 %, podendo ser compra-do por R$1,89. “A maioria das bolsas internacionais fechou o dia em alta, em especial na Eu-ropa, com exceção da cidade de Madri, que obteve um ruim de-sempenho”, acrescentou Silvia. Contudo, na bolsa de Londres a valorização foi de 0,66 % ao contrário da Espanha que teve queda de 2,34 %.

É preciso ainda ter caute-la no momento das compras, principalmente para aquelas pessoas que adoram aprovei-tar os dias em que o dólar está com baixa cotação no mercado financeiro, segundo Silvia.

“Muita atenção redobrada, e pesquisa – esse comporta-mento é fundamental para evi-tar o endividamento”, ressalta Silvia. Segundo pesquisas do Banco do Brasil, cerca de 74% das dívidas não saldadas estão acumuladas no cartão de crédi-tos, pois a maioria das famílias

brasileiras não estão mais con-seguindo honrar suas dívidas de maneira correta.

Na mesma problemática do endividamento da população brasileira, a ferida ainda conti-nua aberta e exposta.

Segundo pesquisa divulga-da pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC), 74,8 % das famílias que possuem renda de até 10 salários mínimos estão com problemas para pagar o cartão de crédito.

Há ainda um último item

que contribui significativamen-te para piorar o contexto das dívidas. Trata-se do carnê de lojas. Eles não vêm sendo pa-gos em dia e, por isso, causam desgastes ao consumidor e à economia.

A economia da população brasileira não está com boa saú-de. “É preciso avaliar se há um montante disponível para pode viajar para o exterior, já que não há tanto crédito sobrando no bolso das pessoas, o preço do dólar varia conforme o dia da semana”, explicou Silvia.

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Aumenta o número de óbitos por Aids no Paraná

Não é de hoje que a AIDS (síndrome da imunodeficiên-cia adquirida) assusta. A do-ença causada pelo HIV (vírus da imunodeficiência) ataca células do sistema imunológi-co, fragilizando o organismo e deixando a pessoa exposta a outras infecções e doenças.

As formas de transmissão do vírus são: sexual e san-guínea - a troca frequente de parceiro, o não uso de preser-vativo, a utilização constante do sangue, o uso de agulhas e seringas que não foram esteri-lizadas e a gravidez são exem-plos práticos de possibilidade de contração. É importante lembrar que em gestos, como os de contato familiar (beijos e abraços), por exemplo, não há transmissão.

Em 2010 houve 559 mor-tes por AIDS no Paraná, 13 a mais que em 2009, quando foram registradas 546 mor-tes. O índice é o maior desde 1995, só perdendo para o ano de 2008, quando foram regis-

Juliano GondimMarcelo Fontinele

trados 571 óbitos. Do total de mortes de 2010, 14 eram jo-vens entre 15 e 24 anos.

De acordo com o Boletim Epidemiológico divulgado no final do ano passado pelo Mistério da Saúde, houve que-da no número de novos casos entre jovens de 15 a 24 anos no estado. Em 2008 foram no-tificadas 304 incidências, nú-mero que caiu para 257, 214 e 119 nos anos de 2009, 2010 e 2011 respectivamente. Isso devido à intensificação de campanhas ao uso de preser-vativo.

Apesar da notável queda, a taxa paranaense de infecta-dos (por cem mil habitantes) nesta faixa etária foi de 11,7 em 2010. Taxa maior do que todos os estados do Nordes-te e do Centro-oeste, onde as médias foram de 6,9 e 7,9 res-pectivamente. A mesma taxa, levando em consideração to-dos os estados do Brasil, foi de 9,5.

Em todo Brasil, foram re-gistrados 1.401 novos casos da doença em 2011. Menos da metade do que em 2010, quan-do foram registrados 3.238 novos casos. De acordo com as Interpretações do Boletim Epidemiológico 2011, as re-giões Sul e Sudeste apresen-

taram maiores números por serem mais populosas: foram 181 casos no Norte, 259 no Nordeste, 466 no Sudeste, 383 no Sul e 112 no Centro-Oeste.

No País, o grupo de maior risco são os homossexuais, que em 2011 representaram 21,9% dos casos entre jovens de 15 a 24 anos do sexo mas-culino. Foram 181 incidên-cias, número que, quando so-mado aos de bissexuais, chega a 237 (esta porcentagem refe-re-se apenas aos casos em que

foi levada em consideração a sexualidade do portador).

Entre os heterossexuais, foram 131 incidências, o que representa 15,8% dos casos. O número de infectados entre os homossexuais é alarman-te, tendo em mente que entre 1998 e 2007 era inferior ao de heterossexuais. Em 2009 os números foram os mesmos para os dois grupos (448 casos e 24,3% cada).

Levando em consideração esta mesma faixa etária, a

ESPECIAL

tabela mostra 236 casos, em todo Brasil, entre jovens do sexo feminino e não apon-ta dados para bissexuais e homossexuais deste gênero. Ainda levando em considera-ção a categoria de exposição, o número de jovens de 15 a 24 anos que contraíram o vírus pela utilização de drogas in-jetáveis é de 27 para homens e de 11 para mulheres. A ca-tegoria de exposição foi um fator ignorado ao realizar o registro em 746 casos.

Boletim Epidemiológico aponta crescimento do número dehomossexuais infectados pelo vírus. No mapa da doença, RegiãoSul levanta bandeira de alerta

Região Sul está em estado de alertaO Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão entre os 10 estados com maior taxa

de incidência, por cem mil habitantes. No ano de 2011, a taxa gaúcha foi de 37,6, a maior do Brasil. A catarinense foi a quarta colocada, atrás de Roraima e Amazonas, 30,2. E o Paraná ficou em oitavo, atrás do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pará, com 19,0. Os números que apontam o Sul como região de risco são ainda mais agressivos quando levados em consideração os dados das capitais.

Porto Alegre aparece na primeira posição do ranking com taxa 99,8 casos/ 100 000 habit-antes em 2010. Florianópolis é a segunda colocada com taxa de 57,9. Curitiba está em quinta, atrás de Manaus e Boa Vista, com taxa de 41,8 (oscilou entre 33,4 e 49,1 de 1998 a 2010). A última colocada do ranking é Rio Branco, 9,8.

O boletim divulgou também os 100 municípios com maior taxa de incidência e com mais de 50 mil habitantes no Brasil. Os 14 primeiros colocados são do sul do Brasil (1º Porto Ale-gre, 2º Alvorada/RS, 3º Balneário Camboriú/SC, 4º Uruguaiana/RS, 5º Sapucaia do Sul/RS, 6º Criciúma/SC, 7º Biguaçu/SC, 8º Pinhais/PR, 9º Florianópolis, 10º Canoas/RS, 11º São José/SC, 12º São Leopoldo/RS, 13º Esteio/RS e 14º Itajaí/SC), o que solicita um sinal de alerta para estes três estados.

Outros municípios paranaenses (e suas respectivas taxas por 100 000 habitantes no ano de 2010) que figuram nesta lista são: 17º Paranaguá (52,7), 31º Curitiba (41,8), 50º Foz do Iguaçu (34,4), 68º Piraquara (30,0) e 91º Colombo (27,7).

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A AIDS não tem cara, todo mundoestá sujeito a ela

Hoje, o número de casos de pessoas com AIDS é bastante expres-sivo. Abigail Fernandes de Oliveira, de 46 anos, é um exemplo. Ela é aposentada, tem três filhos, é a coordenadora da ONG “Raio de Luz”, que oferece apoio aos portadores do vírus.

Abigail contraiu a doença no ano 2000 e quando descobriu que ti-nha o vírus ficou desesperada. “Descobri em estado terminal, quando já estava passando mal por diversos motivos. Meu cabelo caía e eu fui emagrecendo. Passei por três hospitais, nenhum me pediu o teste de HIV. No quarto hospital em que passei, eles, enfim, pediram o teste, e deu positivo. Lembro que o médico avisou minha família que eu só tinha mais dois dias de vida, de tão mal que estava”.

A vida Abigail mudou drasticamente depois que ela descobriu que tinha o vírus, os mais diversos problemas de saúde começaram a apa-recer, ela foi ficando cada vez mais debilitada. Perdeu peso, ficou muito tempo em uma cadeira de rodas, quase que em estado vegetati-vo. “Os efeitos colaterais dos remédios são impressionantes. Tive que mudar toda a minha alimentação. Meu corpo mudou e eu sei que nunca mais será o mesmo”, ressalta.

Mas sua família esteve ao seu lado ininterruptamente, nos primei-ros quatro meses que ela ficou internada, sempre tinha algum parente por ali, apoiando. Mesmo assim as dificuldades eram grandes. “Foram dias terríveis, eu não sabia se estava viva ou se estava morta. Se bem que, do jeito que eu estava eu não me importava mais se ia viver ou morrer”, desabafa.

O tratamento é algo bastante complicado de se fazer, principal-mente no começo. Abigail confessa que não queria admitir que tinha a doença, não tomava todos os remédios, a maioria ela jogava fora. E ainda era alérgica, o que prejudicou mais seu tratamento.

“Quando a pessoa tem AIDS, o corpo fica muito sensível e sem defesa. Isso implica na combinação de comprimidos que a pessoa vai tomar. Hoje tomo três comprimidos a cada 12 horas, e é só nesta hora que eu lembro que tenho a doença”. A combinação destes medicamen-tos é o chamado coquetel. Existem casos que a pessoa tem que tomar o remédio antes de comer. Em outros casos toma o remédio depois da alimentação. São muitas combinações diferentes, elas dependem do organismo do paciente.

Abigail diz que nunca se importou dos outros saberem que ela tem AIDS; nunca viu problema nisso, a opinião dos outros não a influen-ciou em nada. “O meu bairro inteiro soube antes que eu própria, eu estava no hospital e as pessoas perguntavam de mim, querendo saber. Mas no geral, elas me mandaram força e não me trataram com precon-ceito. Mas também eu não me importo com o que os outros pensam. A minha família me aceitando é o que importa”.

As pessoas devem entender o que realmente é a AIDS, que não se trata de uma brincadeira: “Hoje eu levo a vida da forma mais normal possível: vivo, viajo, namoro, cuido dos meus filhos, tomo uma cerve-ja, é claro, tudo em seu limite. Faço minhas palestras para alertar ou-tras pessoas sobre este perigo. Faço a minha parte” , finalizou Abigail.

O PRECONCEITO permanece como um CAUSADOR

DOS RISCOS

Aumentou o número, entre jovens homossexuais, de portadores do vírus do HIV. O preconceito e a discriminação, aliados à violência físi-ca e psicológica, acabam por colocar esse segmento populacional mais exposto à infecção e outras doenças sexualmente transmissíveis, isso é o que se chama de vulnerabilidade social. A exclusão e falta de apoio dentro e fora de casa acabam por fazer com que o indivíduo fique com uma baixa autoestima, dessa forma adotando um comportamento de maior exposição a riscos.

Existem diversos grupos e instituições que ajudam pessoas que so-frem com esse vírus e de outros problemas. O grupo “Dom da Terra” é um deles. O projeto existe desde 29 de agosto de 2002 e atua na defesa dos direitos humanos, combate ao racismo e a homofobia em nível regional e nacional. O responsável pela instituição é Márcio Marins.

Segundo ele, hoje a AIDS não preocupa os jovens: “O HIV e a AIDS, apesar de ainda não haver cura, não assombram a população, em especial a juventude, como no final dos anos de 1980 e início dos anos 90, os avanços no tratamento e a facilidade no acesso aos medi-camentos fazem com que uma considerável parcela da nossa juventude não adote práticas de sexo mais seguras”, revela.

Marins acredita que a diminuição do preconceito pode ser refletida positivamente no número de homossexuais infectados, tendo em mente que a liberdade da expressão sexual viabiliza práticas mais seguras. A exclusão é um elemento chave que explica os números dramáticos.

Hoje já existem vários projetos dedicados à conscientização das pessoas, seja na esfera municipal, estadual ou federal. A sociedade ci-vil está trabalhando com parceiros e fazendo convênios, tanto na pre-venção, quanto na busca de novas ferramentas que façam com que a população adote o uso do preservativo.

“Os programas, divisões e coordenações específicas para o enfren-tamento ao HIV e AIDS nas secretarias municipais e estaduais de saú-de, assim como no Ministério da Saúde, que trabalham sempre em par-ceria com as organizações não governamentais, estão mais próximas da população alvo das campanhas como a última que foi direcionada à população geral, criada para atingir de forma horizontal todas as comunidades LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e travestis) e heteros-sexual, mas com foco em toda juventude”, completou Marins.

Além da prevenção, lembra ele, as pessoas devem se preocupar com o acesso ao diagnóstico. “É muito importante, pois se você é soro ne-gativo você pode seguir sua vida se prevenindo sempre. Mas se for soro positivo tem a oportunidade de começar o tratamento e acompa-nhamento cedo, aumentando consideravelmente as possibilidades de uma vida tão normal quanto a de qualquer pessoa, e ainda usando pre-servativos de modo a evitar que mais pessoas sejam infectadas”.

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Brincadeira de criança

Gustavo [email protected]

Tecnologia

Muita gente diz por aí que a infância de hoje não é como a infância de an-tigamente. Principalmente aqueles jo-vens há mais tempo, e mais nostálgicos também, que não cansam de lembrar das tardes e noites de brincadeiras na rua, sem qualquer preocupação.

Hoje as ruas são mais movimenta-das, os prédios crescem em andares e as crianças brincam protegidas, muitas vezes dentro de casa e cada uma com um videogame ou computador. Não existe nem uma folga assistindo Karatê Kid ou E.T. na sessão da tarde.

Há quem diga ainda que toda essa tecnologia é prejudicial e que as crian-ças estão cada vez mais sedentárias e preguiçosas. Não há exercício da criati-vidade e a capacidade de relacionamen-to interpessoal desses pequenos gafa-

cer no pâncreas 28 vezes mais rápido, 28 vezes mais barato e 100 vezes mais sensível que os métodos atuais existen-tes. O estudo resultou em mais de 90% de precisão. Jack Andraka recebeu o maior prêmio do concurso; 75 mil dó-lares para o adolescente desenvolver e aprimorar a pesquisa.

Além da invenção de Jack, outra ga-nhou destaque dentre os premiados. O americano Ari Dyckvosky, de 18 anos, estudou e investigou a ciência do tele-transporte quântico. A tese dele é “sim-ples”; os átomos estão ligados através de um processo chamado de “entrela-çamento”. Assim, a informação de um átomo só vai aparecer no outro quan-do o primeiro for destruído. A ideia do garoto pode servir para empresas que queiram transmitir mensagens cripto-grafadas sem correr o risco de alguém poder interceptar a mensagem, por exemplo.

Independente do propósito que essas invenções possam ter, a conclusão de

Literatura

Alguns tentam negar, mas é fato que o ser humano, por natureza, é um ser estressado. Após ouvir uma afirmação desse tipo, muitos vão se defender com desculpas clássicas do tipo: “a gente tra-balha demais”, “tem muito com o que se preocupar”, “tem muita corrupção ro-lando por aí” e (talvez a mais aceitável delas) “a mídia não para de disseminar o sertanejo universitário!”. Mas a ver-dade é que se precisa de muito menos para deixar um indivíduo à beira de um ataque de nervos.

Um exemplo disso é o ECQ (Efei-to Cachorro-Quente, nome dado por um instituto tecnológico mundialmente conhecido que se você não conhece é porque não é inteligente o suficiente pra conhecer).

O nome ECQ foi dado pois o efeito é se-melhante ao de comer um cachorro-quente

Julio [email protected]

muito completo e com bastante molho. Funciona mais ou menos assim, você

está lá comendo seu cachorro quente com duas salsichas (isso mesmo, não são vinas) muito molho, bacon, milho, ervi-lha, tomate, pimentão, arroz, feijão... e em cada mordida você percebe que está cada vez mais complicado de manter o recheio dentro do cachorro-quente e uma catástrofe está se aproximando.

Então você percebe que a única saída é enfiar, de uma só vez, um pedaço ain-da enorme do seu lanche na boca para evitar que todo o conteúdo se espalhe por sua de sua camiseta branca novinha. E quando você toma a corajosa atitude, você percebe que o cachorro-quente não cabe na sua boca e então, além de se sujar, ganha fama de afobado. Isso tira qualquer um do sério.

Mas existe coisa pior que isso, é cla-

ro. Imagina a situação: você é um sujeito muito calmo, inteligente e assíduo leitor de jornais, então eis que se depara com um texto dizendo que todo ser humano é um poço de raiva e argumentado isso dizendo que você é um sujeito ignoran-te, que não sabe comer cachorro-quente sem se sujar inteiro e, ainda por cima, quer vir dizer que vina não é uma pala-vra de verdade.

Lendo os primeiros parágrafos, pode-se notar três ocasiões em que você estará xingando o autor. Uma delas é criticar seu gênero musical favorito (nesse caso, o sertanejo universitário), outra é insinu-ar que você não é inteligente o suficiente para conhecer o ECQ e, por último, in-sinuar que o jeito de falar de sua cida-de querida não está certo. Três ofensas a calma de qualquer um (gosto musical, inteligência e regionalismo).

E esses exemplos são poucos, nem falei aqui como é quando alguém fala mal do seu time, pisa no seu pé, tira o seu pendrive do computador sem segu-rança, conta o fim de um filme que você

Se irritar faz parte

quer ver... Só não vou dar mais um cami-nhão de exemplos por que a minha cama está fazendo um barulho insuportável e isso me deixou irritado demais pra con-tinuar escrevendo.

(Obs: textos que terminam com cli-chês como esse também são de dar nos nervos!)

nhotos é prejudicada. Não posso deixar de concordar com alguns fatores, mas alguém já parou para pensar nos bene-fícios que essa nova geração possui?

A resposta é sim. Já pararam para pensar nos benefícios e, inclusive, de-senvolveram um concurso para promo-ver as invenções de jovens cientistas ao redor do mundo. O prêmio é idealizado pela Intel, aquela mesma empresa que desenvolve chips para o computador que você usa diariamente. No mundo todo são mais de 400 feiras filiadas em cerca de 70 países que selecionam os jovens e suas invenções para a premia-ção oficial.

O grande feito desta última edição de 2012 foi a invenção de um garoto de apenas 15 anos. O projeto dele consiste em um método de identificação de cân-

tudo isso é que esse contato exacer-bado com a tecnologia e a facilidade à informação esteja despertando interes-ses muito maiores do que uma simples brincadeira de criança. Os benefícios, quem sabe, sejam a longo prazo e vão refletir diretamente na medicina avan-çada ou na física quântica.

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Curitiba, quarta-feira, 30 de maio de 2012 7

Exposição e privacidade são os dilemas do projeto de lei aprovado pela Câmara

Amanda Bacilla

COMPORTAMENTO

Câmeras podem atrapalhar privacidade de clientes

Ontem, um projeto de lei foi aprovado na Câmara dos Vereadores de Curitiba, que obriga bares, restaurantes e casas noturnas, com capaci-dade a cima de 100 pessoas, a terem câmeras de seguran-ça instaladas.

De acordo com o site da Câmara, quem idealizou o projeto foi Juliano Borghetti (PP), com a intenção de fil-mar o comportamento dos clientes, flagrando possíveis brigas e atitudes violentas nesses locais. Mas será que os clientes estão gostando da ideia?

O estudante de veteri-nária Thiago Fagundes diz que se sente seguro com a medida. “Não me sinto des-confortável, porque mesmo que as câmeras não possam evitar possíveis problemas, supõe-se que há alguém da segurança monitorando es-sas filmagens”, afirma.

Fagundes conta que sem-pre foi de sair bastante, e já viu muitas brigas que pode-riam ser evitadas se alguém estivesse observando essas pessoas.

De acordo com o coorde-nador do curso de psicologia e psicólogo da Universidade Positivo, Raphael Di Las-cio, algumas pessoas se sen-tem bem quando existe esse monitoramento, pois sabem que há um registro dessas imagens, e alguém que está

as observando, consequente-mente as mantendo seguras.

“As pessoas estão cada vez mais preparadas para serem observadas, cada vez mais expostas, é só vermos o fenômeno Big Brother, se as pessoas não gostassem não assistiriam”, acredita Di Lascio.

Já o publicitário e estu-dante de jornalismo Ricardo Virmond diz que se sente to-talmente constrangido com a situação. Ele fala que são lugares onde as pessoas vão para relaxar, não para serem monitoradas.

Na saída, ou em lugares estratégicos Virmond diz que vale a pena, mas dentro não. “Com certeza se tem mais segurança, mas as pes-soas que puxam brigas num bar já estão descontroladas, saber que tem uma câmera ali não as faz parar”.

O psicólogo Di Lascio diz que a vigilância também pode atrapalhar. “Vai de pes-soa para pessoa, você ir a um barzinho para conversar, tomar uma cerveja e ser ob-servado não é tão confortá-vel”, fala. O psicólogo alega que existem pessoas mais tí-midas ou inseguras que não conseguem desfocar da câ-mera, assim, não conseguem se divertir indo a um lugar com câmeras.

A dona do bar Pety Fubá, Iverly Leonardo, em entre-vista, contou que existem bares que necessitam des-se monitoramento, porém o

dela não é um desses. “Eu nunca tive casos de brigas ou confusões no meu estabele-cimento, acho desnecessário ter que colocar essas câme-ras”, conta.

Ela que trabalha com uma clientela fixa há 13 anos em Curitiba, afirma que por ser um negócio da família, to-dos zelam pelo local. Quando existe alguém suspeito ou di-ferente, eles já ficam atentos. “Minha segu-rança faço eu, meus filhos e minha família que trabalham comigo”, afir-ma Iverly.

A média di-ária de clientes que ela recebe é de 150 pes-soas, e o bar fica aberto só até as 23h30, mas em estabe-lecimentos que funcionam de madrugada e recebem mais de 300 , Iverly diz que a medi-da é cabível.

“ T r a b a -lho com uma clientela fixa há anos, se eu colocar essas câmeras é ló-gico que eles vão ficar des-

confortáveis, mas se tiver que colocar, eu vou ter que colocar.”, finaliza.

Segundo Di Lascio, o su-cesso ou não do projeto de-pende do que os donos dos bares irão fazer com as ima-gens, não vai adiantar a justi-ça obrigar os estabelecimen-tos a terem essas câmeras e

os donos não usarem de uma forma justa, para melhorar a segurança da clientela.

“Se for só para invadir a privacidade das pessoas, não vale a pena sancionar, mas se é para identificar possíveis assaltantes ou traficantes, ai sim, veremos resultados”, fi-naliza.

Amanda Bacilla

Novo projeto de lei, que obriga bares e restaurantes a instalarem câmeras de segurança, pode ou não prejudicar o estabelecimento pelo fato de algumas pessoas se sentirem a vontade e outras não

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Curitiba, quarta-feira, 30 de maio de 20128

Remédios, Gastronomia e Leitura

Um bem-humorado recepcionista passa a mão no telefone e disca o número de um dos quartos do Hotel Rayon, no centro de Curitiba. Vinte minu-tos mais tarde, a porta do elevador que dá para o saguão do hotel se abre. De dentro dele surge um casal de idosos de aspecto elegante. Os dois cami-nham até o meio do saguão, param e conversam alguma coisa entre si.

Por volta das dez horas de uma manhã ensola-rada e aprazível, a mulher se despede do marido e parte em direção aos fundos do saguão para tomar o café da manhã em outro ambiente. Agora sozi-nho, o jornalista, escritor e cronista Luis Fernando Verissimo, 75 anos, se aproxima a passos lentos e me cumprimenta enquanto olha para os lados. De cabelos brancos e ralos, testa longa eventualmente franzida, óculos grandes e olhar sério e distante, Verissimo parece até sisudo. Dessa forma ele não aparenta ser o autor das divertidas crônicas que o consagraram como um fenômeno do mercado edi-torial brasileiro – e um nome quase onipresente em colunas semanais de jornais de todo o país.

Sua figura inspira um respeito imediato e es-pontâneo. De pronto aprumo os ombros, passo a escolher melhor as palavras que uso e aperto sua mão com uma firmeza maior do que a que costu-mo usar.

Poucos minutos após sentar-se em uma mesi-nha de madeira no fundo do saguão, um garçom traz um copo de leite puro para Verissimo, que com calma põe a mão no bolso do paletó e tira, com alguma falta de jeito, uma pequena caixinha com diversos tipos de remédios. Ele tem dificul-dades para abri-la. Quando finalmente consegue, faz força demais e comprimidos de diversas cores e formas acabam se espalhando pela mesa. Sem demonstrar qualquer irritação, ele cata um por um, divide-os em grupos e toma vários comprimi-dos de uma só vez, enquanto alterna goles de leite.

Filho de peixe

Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de se-tembro de 1936, em Porto Alegre. Filho do tam-bém escritor Érico Verissimo (autor de clássicos

Felipe Gollnick

ção”, explica. “Tanto que só comecei a escrever bastante tarde, aos 30 anos de idade.” A oportuni-dade surgiu no jornal porto-alegrense Zero Hora, onde Verissimo era copy-desk. Quando um dos principais colunistas do diário saiu de férias, Ve-rissimo foi convidado para ficar em seu lugar. E foi só aí que ele descobriu sua vocação – “um pouco tarde”, ele reitera.

Entre os anos de 1973 e 1980, Verissimo pu-blicou cinco livros de crônicas pelas editoras José Olympio, Globo e L&PM. “Meus primeiros livros não tiveram muita repercussão”, recor-da. “Até que em 1981 eu lancei ‘O Analista de Bagé’, e esse sim teve bastante reconhecimento.” Em 1999, Verissimo passou a ter seus livros pu-blicados pela Editora Objetiva, por meio da qual suas obras tinham agora um alcance nacional mais consolidado. Nela o autor publicou romances como “O Opositor” e “Clube dos Anjos” – cuja tradução para o inglês foi eleita pela New York Public Libra-

ry como um dos 25 melhores livros do ano de 2003.

Bom combate

Pela facilidade da leitura de suas crônicas, e pela identificação dos temas de muitas delas com o cotidiano dos jovens – a reunião de crônicas cha-mada “Comédias Para se Ler na Escola” (2000) como um exemplo clássico –, os textos de Ve-rissimo são reconhecidos como ótimos primeiros passos, para adolescentes, no mundo da literatura.

Apesar de admitir que esta não é uma das suas principais preocupações durante o ato de escrever, Verissimo fala em diversas entrevistas a respeito de um “bom combate”. Faz parte dele participar de palestras e debates, e o que mais lhe for possí-vel para ajudar nesse sentido. “É o mínimo que a gente pode fazer para ajudar nessa luta”, explica ele, “nesse bom combate que é criar hábitos de leitura. O que a gente puder fazer para promover o livro e a leitura, principalmente entre os jovens, a gente deve fazer.”

A Mesa Voadora

Ao lado do time do Internacional, a gastrono-mia e o turismo são duas das grandes paixões de Verissimo. Não é difícil encontrar alguma crônica do autor que fale sobre esses assuntos. Essas pai-xões estão sintetizadas em reuniões de crônicas como “A Mesa Voadora”, de 1982 (em que Ve-rissimo conta histórias e experiências suas com a gastronomia ao redor do mundo) e até no romance “Clube dos Anjos” – cujo enredo fala sobre um clube de culinária em que seus integrantes mor-rem envenenados após jantares esplêndidos.

“Infelizmente, por problemas de saúde, já não posso mais comer como antigamente”, lamenta o escritor, quase como um avô do qual você sente piedade. “Não posso mais comer açúcar e fritura... Então hoje eu tenho mais lembranças culinárias do que propriamente experiências”, complementa.

Mesmo sem poder comer o que quiser, Verissi-mo demonstra estar satisfeito com a vida. Já com a carreira, nem tanto. “Eu acho que ninguém se sente realizado [com o trabalho feito durante toda a vida]. Sempre tenho a ideia de querer fazer mais. Mas se tem alguém que não pode se queixar da vida sou eu: tive uma juventude ótima, uma família sen-sacional, uns filhos ótimos. Então, como pessoa, me sinto realizado. Mas como escritor não. Preciso fazer cada vez mais e melhor”, deixa claro.

como “Incidente em Antares” e a série de livros “O Tempo e o Vento”), Luis Fernando viveu desde pequeno em um ambiente de letras. “Convivi sem-pre com livros e escritores, por isso gostava de ler e sempre li muito”, relembra.

Verissimo conta que, no entanto, a influência do pai na sua formação como autor foi de maneira indireta: “Nem ele me disse que gostaria que eu fosse escritor como ele, e nem eu tive essa inten-