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Estrutura das Palavras I

Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Prof. Ms. Celso Antônio Bacheschi

Revisão Textual:Profa. Ms. Silvia Augusta Albert

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•Introdução

•Sincronia e Diacronia

•Os Elementos Mórficos

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

Nesta Unidade, conheceremos a diferença entre análise sincrônica e diacrônica e iniciaremos a classificação dos elementos mórficos em língua portuguesa.

Para um bom aproveitamento na disciplina, é muito importante a interação e o compartilhamento de ideias para a construção de novos conhecimentos.

Estrutura das Palavras I

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Unidade: Estrutura das Palavras I

Contextualização

Antes de iniciarmos nossos estudos da disciplina Língua Portuguesa – Morfologia, convidamos você a ler o trecho a seguir, retirado da crônica “Antigamente”, de Carlos Drummond de Andrade:

“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé de alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia.”

Carlos Drummond de Andrade In: Quadrante (1962), obra coletiva reproduzida em Caminhos de João Brandão. José Olympio, 1970.

(Disponível em http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond07.htm. Acesso em 19 set. 2013.)

Esse texto trata da mudança da linguagem no tempo. Você deve ter reparado que ele contém expressões estranhas para os dias de hoje. Por exemplo, a expressão “fazer pé de alferes” foi substituída por “paquerar” e, mais tarde, por “azarar”; “janota” passou a “playboy”, “mauricinho” e, atualmente, “coxinha”; “levar tábua”, hoje, é o mesmo que “levar o fora”. Interessante, não é? Logo, você vai perceber a relação desse trecho com esta unidade do nosso curso.

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Introdução

O termo “morfologia” (dos elementos do grego morfo + logia – “estudo da forma”) surgiu no século XIX. Ele é compartilhado com outras ciências, como a Biologia. Em se tratando dos estudos linguísticos, a Morfologia é o estudo dos elementos que formam as palavras e dos processos por meio dos quais eles se combinam. Aliás, cada um desses elementos é chamado morfema1 , que é a unidade mínima significativa da língua. Vamos ver um exemplo?

Tomemos a palavra “pedreiro”. Agora, vamos formar um par dessa palavra com outra menor, que tenha um significado que associamos a “pedreiro”: “pedreira”. Formando esse par, podemos perceber que “pedreiro” é constituído por, no mínimo, dois elementos: “pedreir-” + “-o”, correto? Ora, então, isso quer dizer que a palavra “pedreira” também pode ser dividida em “pedreir-” + “-a”. Vamos formar outro par? Tomando o par “pedreiro” e “pedra”, vemos que as palavras têm um elemento em comum, que é “pedr-”.

Resumindo, percebemos que a palavra “pedra” é formada por dois elementos, ou seja, dois morfemas:

“pedr-” + “-a”

A palavra “pedreiro” é formada por três morfemas:“pedr-” + “-eir-” + “-o”.

E a palavra “pedreira” também é formada por três morfemas:“pedr-” + “-eir-” + “-a”.

Vamos ver, num quadro, quantos elementos nós já distinguimos?

Pedra Pedra

eiro Pedreiroa Pedreira

Para termos certeza de que entendemos, vamos ver outro exemplo. Tomaremos, agora, a palavra “cachorrinho”. Repetindo o que fizemos no primeiro exemplo, vamos formar um par entre essa palavra e outra da mesma “família”: “cachorrinha”. Esse par permite-nos dividir “cachorrinho” em “cachorrinh-” + “-o”, assim como “cachorrinha” em “cachorrinh-” + “-a”. Podemos formar mais um par: tomando “cachorrinho” e “cachorro”, chegamos ao elemento comum dessas palavras, que é “cachorr-”.

Assim, concluímos que “cachorro” (e, portanto, “cachorra”) são divisíveis em dois morfemas:

“cachorr-” + “-o” / “cachorr-” + “-a”.

1 Algumas palavras que estão em negrito no texto compõem um glossário que está disponível ao final do texto. Consulte-o durante a leitura, caso tenha necessidade, para uma melhor compreensão do tema de que se está tratando.

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Concluímos, também, que “cachorrinho” (assim como “cachorrinha”) são divisíveis em três morfemas:

“cachorr-” + “-inh-” + “-o” / “cachorr-” + “-inh-” + “-a”

Vamos ver os elementos no quadro?

Cachorr

o Cachorro

a Cachorra

inho Cachorrinhoa Cachorrinha

Lembre-se de que, ao formarmos os pares, tomamos palavras que têm uma ligação de significado, que também podemos chamar de ligação semântica. Essas palavras são chamadas de cognatas, isto é, pertencem a uma mesma “família” de palavras. Não podemos formar pares com palavras como “sábado” e “sabão”, porque, mesmo que exista uma semelhança na sonoridade das palavras, elas não têm ligação semântica, não são de uma mesma “família”.

Sincronia e Diacronia

O interesse pelos segmentos que compõem as palavras não ocupou o interesse dos gramáticos da Antiguidade nem da Idade Média, que se dedicaram principalmente às palavras ou “partes do discurso”. Nas palavras de Rosa (2006: 44-45),

não se procurava, no modelo gramatical que nos foi legado pela tradição greco-latina, decompor palavras em unidades mínimas de som e significado, em busca da sequência sonora específica que corresponde a tal ou qual significado e vice-versa.

Com a descoberta de semelhanças entre línguas como o latim, o grego e o sânscrito, desenvolveu-se, nos séculos XVIII e XIX, o chamado método histórico-comparativo, que visava a estabelecer as famílias linguísticas. Até o início do século XX, as preocupações dos linguistas estavam voltadas para as mudanças que as línguas sofrem ao longo do tempo. Até que um linguista suíço, chamado Ferdinand de Saussure, estabeleceu a divisão dos estudos linguísticos em sincrônicos e diacrônicos, defendendo a ideia de que a Linguística deveria seguir uma abordagem sincrônica. Vamos entender em que essas abordagens diferem?

A sincronia refere-se ao estudo que tem por base um determinado estado da língua, não importando o que ocorreu anteriormente a ela. Por exemplo, se fizermos uma descrição dos tempos e modos dos verbos no português atual, estaremos fazendo um estudo sincrônico. Um estudo sincrônico, no entanto, não deve necessariamente abordar a língua atual. Assim sendo, se fizermos o mesmo estudo com base nos verbos do português do século XIV, por exemplo, esse também será um estudo sincrônico, porque estamos abordando apenas uma fase da língua.

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A diacronia consiste em uma abordagem da língua ao longo do tempo, ou seja, considerando as mudanças pelas quais essa língua passou. Vamos a um exemplo: vamos tratar das mudanças por que passou o pronome “você”. No português arcaico – uma variante do português falada na Idade Média –, havia a forma de tratamento “vossa mercê”. Essa forma foi progressivamente contraindo-se até a forma “você”. Veja:

Como esse estudo envolve diferentes fases do português, a abordagem é diacrônica. Com base nessa e em outras mudanças, os especialistas em Linguística Diacrônica podem estabelecer, por exemplo, o ano em que um documento foi escrito.

Neste momento, você pode estar curioso sobre uma questão: por que é importante diferenciar a análise sincrônica da análise diacrônica? Resposta: porque cada análise pode conduzir a uma conclusão diferente. Para ilustrar, vamos tomar duas palavras: “ourives” e “vinagre”. Considerando apenas o português atual, podemos dizer que essas palavras são substantivos simples, porque a primeira, “ourives”, nomeia o artesão que trabalha com metais preciosos, como ouro e prata; e a segunda, “vinagre”, nomeia uma espécie de tempero. São simples, porque são formados por um só elemento.

Em análise diacrônica, no entanto, observa-se que “vinagre” tem origem no latim vinum acre – “vinho azedo” –, e “ourives” nos chegou a partir da forma latina aurifex – de aurum + facere, “ouro” + “fazer”. Como você percebeu, tanto “vinagre” quanto “ourives” têm, em sua origem, mais de um elemento. Considerando essa análise, portanto, essas palavras são substantivos compostos, como, por exemplo, “guarda-chuva”.

Como vimos, as duas análises, sincrônica e diacrônica, conduzem a conclusões diferentes. Não só diferentes, mas também incompatíveis. Uma vez que nosso interesse, neste curso, é o português atual, optamos por utilizar apenas análises sincrônicas. Além disso, como ressaltava Mattoso Câmara (2005), toda análise histórica é incompleta, porque não se conhece toda a história da língua, mas apenas uma parte dela, que se obtém nos documentos históricos.

Os Elementos Mórficos

Agora que você já tem uma noção de qual é o objeto de estudo da Morfologia e da abordagem que vai guiar nossa análise, vamos iniciar o estudo dos elementos mórficos ou morfemas.

Formas livres e formas presas

Segundo a doutrina do linguista norte-americano Leonard Bloomfield, os elementos mórficos dividem-se em formas livres e formas presas. Para ilustrar, imagine o seguinte diálogo:

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Locutor A: Que você vai comprar no mercado?Locutor B: Açúcar.

A palavra “açúcar” está formando, sozinha, o enunciado do locutor B. Essa palavra sozinha é suficiente para que o enunciado tenha sentido de modo que os interlocutores se entendam. Por isso, ela é uma forma livre. Uma forma presa, ao contrário, nunca forma um enunciado sozinha. Por exemplo, o plural dos substantivos em português é feito com acréscimo de -s (batata, pl.: batatas). Esse -s do plural, no entanto, nunca forma um enunciado sozinho2, tratando-se, portanto, de uma forma presa.

O linguista brasileiro Mattoso Câmara (2005) incluiu um novo conceito, que comporta formas como o artigo em português. Em “o açúcar”, o artigo “o” não é uma forma livre, pois não ocorre sozinha, mas também não é uma forma presa, pois é possível intercalar um elemento entre ele e o substantivo, como em “o puro açúcar”. Daí surgiu o conceito de forma dependente.

RadicalVamos retomar nosso primeiro exemplo: “pedreiro”. Entre os elementos que compõem essa

palavra – “pedr-” + “-eir-” + “-o” –, podemos notar que aquele que contém a significação básica, ao qual se acrescentam os demais, é “pedr-”. Podemos comprovar essa afirmação, tomando outras palavras da mesma “família”, como “pedra”, “pedreira”, “pedraria”, “pedregulho”, “pedrisco”, “pedrinha” etc. A esse elemento básico, que dá origem a várias palavras de uma mesma família, dá-se o nome de radical.

Algumas palavras são formadas apenas pelo radical, como “luz”, “mar”, “mel” etc. Há radicais, ao contrário, que só se apresentam ligados a um afixo (elemento que veremos a seguir), como “carpint-”, que ocorre em “carpinteiro” e “carpintaria”.

Agora, vamos tomar outro exemplo: “normalmente”. Para chegarmos ao radical, vamos repetir o método de formar um par: “normalmente” / “normal”. Por meio desse par, entendemos que “normalmente” é formado por “normal” + “-mente”. Como o elemento que possui a significação básica é “normal”, concluímos que esse é o radical. Podemos, no entanto, formar outro par: “normal” / “norma”, a partir do qual chegamos a “norm-” + “-al” (compare com “braçal”, de “braç-” + “-al”).

2 A única exceção é um enunciado metalinguístico (que trata da própria linguagem): como Locutor A: O que marca o plural em português? Locutor B: -s.

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Agora, temos um problema: o radical é “norm-”, “normal-” ou os dois? Para não ficarmos em dúvida, vamos diferenciá-los. O elemento que não podemos mais dividir – “norm-” – chamaremos de radical primário, pois ele serve de base à formação de “normal”, e o outro elemento “normal-” chamaremos de radical secundário e assim por diante. Vamos ver um quadro-resumo?

Radical Primário + Radical Secundário + =Norm al Normal mente Normalmente

Alguns autores também chamam o radical primário de raiz, mas vamos evitar esse termo, porque ele tem significados diferentes na análise sincrônica e na diacrônica.

Agora, vamos ver outro exemplo a partir da palavra “gasoso”. Formando um par com uma palavra da mesma família, obtemos “gasoso” / “gás”. Daí, podemos dividir a palavra “gasoso” em “gas-” + “-oso”. O elemento que contém a significação básica é o primeiro, portanto o radical é “gas-”. Teremos um caso diferente, porém, se considerarmos a palavra “medroso”, porque, ao formarmos o par “medroso” / “medo”, a segmentação do primeiro não resulta em “med-” + “-oso”, mas em “medr-” + “-oso”.

Esse problema nos leva a outra pergunta: podemos dizer que “med-” e “medr-” são dois radicais? A resposta é não, porque ambos estão ligados semanticamente à ideia de “medo” (são da mesma “família”). A solução, então, é lançar mão de outra explicação: o radical “med-” possui uma forma variante “medr-”, que ocorre em “medroso”, mas não em “medonho”. Essa forma variante recebe o nome de alomorfe, que significa exatamente “outra forma”. Não é só o radical que pode apresentar formas variantes, outros elementos que veremos mais tarde também podem possuir alomorfes.

Para ajudar a visualizar a explicação, vamos usar mais um quadro.

Radical + =Med onho Medonho

Medr (Alomorfe) oso Medroso

Alguns radicais só ocorrem em conjunto com outro(s), formando substantivos compostos, como “ensiforme” (em forma de espada), de ensi (espada) + forme (forma) e “fonoaudiologia”, de fono- (som) + -audio- (ouvir) e -logia (estudo). Estes radicais, geralmente, são próprios da linguagem culta ou científica.

AfixosOs afixos são elementos mórficos que se acrescentam ao radical. São, portanto, formas presas.

Em português, há dois tipos de afixos: os prefixos e os sufixos. Enquanto os radicais pertencem a um inventário aberto (que pode expandir-se), os afixos são constituídos por um inventário fechado, ou seja, não surgem novos afixos. “Em português, por exemplo, são pouco mais de cinquenta prefixos e aproximadamente cento e quarenta sufixos” (Petter, 2003: 71).

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PrefixoChama-se prefixo o morfema que se acrescenta antes do radical. Veja o quadro:

Prefixo Radical =Des Leal Desleal

Sub Total Subtotal

Nos exemplos, acrescenta-se o prefixo des-, com sentido de negação, antes do radical “leal”, formando-se “desleal” (= não leal); e o prefixo sub-, com sentido de posição inferior, é acrescentado antes de “total”, formando-se “subtotal” (= abaixo do total).

Como podemos notar, combina-se o significado de um prefixo (des-, sub-) com o de uma palavra já existente na língua (leal, solo), tendo como resultado uma palavra que combina o significado dos dois elementos.

Agora, vamos pensar no funcionamento da língua: poder combinar elementos já existentes (como prefixo + radical), para obter uma palavra nova, é muito mais prático do que criar uma palavra nova “do nada”, porque se parte de significados que as pessoas que conhecem a língua já possuem na memória. Esse princípio permite ampliar o léxico da língua (o vocabulário) a partir do material que já existe.

Os prefixos, em geral, não alteram a classe gramatical de uma palavra, ou seja, a partir de um adjetivo, como “leal”, forma-se outro adjetivo, “desleal”, a partir de um substantivo, como “solo”, forma-se outro substantivo, “subsolo”. Há algumas exceções. Alguns poucos prefixos podem formar adjetivos a partir de substantivos. Por exemplo, em “período pós-guerra”, com o acréscimo do prefixo pós- ao substantivo “guerra”, forma-se o adjetivo “pós-guerra”, com significado de “posterior à guerra”.

No endereço a seguir, você pode encontrar uma lista de prefixos do português: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf7.php.

Com base na lista, vamos fazer um teste. Tente deduzir o sentido das palavras “preconceito” e “hipoderme”. Você encontrará a resposta no final desta unidade.

SufixoChama-se sufixo o morfema que se acrescenta depois do radical. Veja o quadro:

Radical Sufixo =Pedr eiro PedreiroGás oso Gasoso

No primeiro caso, acrescenta-se o sufixo -eiro ao radical pedr-, formando-se “pedreiro”. No segundo caso, acrescenta-se o sufixo -oso ao radical gás, formando-se “gasoso”.

O resultado são palavras que combinam o significado do radical e do sufixo. Há, no entanto, uma diferença entre os dois casos. No primeiro, do radical da palavra “pedra”, que é o substantivo, formou-se “pedreiro”, que também é um substantivo. A combinação do radical

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com o sufixo originou, portanto, uma palavra da mesma classe gramatical (um substantivo) com uma significação nova. No segundo caso, houve a formação de um adjetivo (“gasoso” – que contém gás) a partir do substantivo “gás”. Daí, podemos deduzir que os sufixos têm uma dupla função: o acréscimo semântico (de significado) e a mudança de classe gramatical3.

Alguns sufixos têm como única função a mudança de classe gramatical. Os sufixos que formam substantivos e adjetivos são chamados nominais, como o sufixo -al, que forma adjetivos a partir de substantivos: “braço” + -al = “braçal”. Outros, ao contrário, formam substantivos a partir de adjetivos, como o sufixo -eza: “claro” + -eza = “clareza”. Também é possível formar substantivos e adjetivos a partir de verbos. Do verbo “sustentar”, forma-se o substantivo “sustentação” (ação de sustentar) e o adjetivo “sustentável” (que pode ser sustentado). Vamos visualizar isso no quadro?

Radical Sufixo =

Sustenta(r)ção Sustentação

vel Sustentável

Também é possível formar verbos a partir de substantivos e adjetivos. Por exemplo, do substantivo “árvore” + -ecer, forma-se “arvorecer”; e, do adjetivo “ameno” + -izar, forma-se “amenizar”.

O único sufixo que forma advérbios a partir de adjetivos, em português, é o sufixo -mente: “fácil” + -mente = “facilmente”.

Outros sufixos não servem à mudança de classe gramatical, como os sufixos diminutivos -inho(a),- ito(a), -ilho(a),- im,- ete(a), -ulo(a), -culo(a), que figuram em “passarinho”, “cãozito”, “sapatilha”, “camarim”, “carreta”, “óvulo” e “película”, e os aumentativos, como -ão, -aço(a), -arro(a), que figuram em “caldeirão”, “barcaça” e “bocarra”.

Alguns sufixos são polissêmicos, isto é, têm vários significados. O sufixo como -eiro(a) pode acrescentar o significado de “agente” em “pedreiro” e “carpinteiro”, de recipiente em “açucareiro”, de gentílico, em “brasileiro” e “mineiro” (este também com significado de “agente”), de coletivo em “formigueiro”, de indivíduo que possui certa peculiaridade de comportamento em “bagunceiro”, de árvore que produz determinado fruto em “abacateiro”, de equipamento com certa finalidade ou que produz efeito semelhante a algo em “britadeira” e “chuveiro” etc.

GlossárioPolissemia é a propriedade de um morfema, palavra ou expressão de possuir diversos sentidos.

Martins (1989: 80) observa que “o elemento avaliativo pode ser acrescentado a um lexema por um sufixo ou prefixo” (destaques da autora). Os sufixos aumentativos, por exemplo, podem expressar uma ideia de valorização, como em “carrão” e “golaço” ou de ridículo, como em “dentuço”. Tomando-se, por exemplo, o vocábulo “gente”, nota-se que todos os substantivos formados a partir dele, como “gentalha”, “gentaça”, “gentama”, “gentinha”, “gentarada” e “gentuça”, possuem, em geral, valor pejorativo, sendo equivalentes a “ralé”. Pode-se afirmar o mesmo dos substantivos derivados de “povo”, como “povão”, “povinho”, “povaréu” e “poviléu”.

3 A esse respeito, ver BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1987.

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Lapa (1975: 106) afirma que a ideia de pequenez “anda ligada geralmente em nosso espírito à ideia de ternura, simpatia, graciosidade”, de modo que, segundo o autor, livrinho “pode não ser um livro pequeno, pode ser um livro com as dimensões vulgares; mas é certamente coisa querida e apreciada”.

O estudo desses fenômenos expressivos da linguagem cabe a uma disciplina chamada Estilística, que fará parte do seu curso de Letras.

Você pode encontrar uma lista de sufixos do português em http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf7.php.

Vimos, nesta unidade, que há duas abordagens de análise linguística: a sincrônica, que enfoca apenas uma fase da língua, e a diacrônica, que considera fases diversas.

Vimos, também, alguns dos morfemas do português, como o radical, que serve de base à palavra, o prefixo, que serve basicamente ao acréscimo semântico, e o sufixo, que serve ao acréscimo semântico e à mudança de classe gramatical. Na próxima unidade, continuaremos a estudar os elementos mórficos.

Resposta da atividade sobre o prefixo: A palavra “preconceito” é formada por pre- + “conceito”. O prefixo pre- significa “posição anterior”, logo “preconceito” significa “anterior ao conceito”. A palavra “hipoderme” é formada por hipo- + “derme”. O prefixo hipo- significa “posição inferior”, “derme” significa “pele”, logo “hipoderme” significa “abaixo da pele”.

Glossárioadjetivo: palavra que se liga a um substantivo para expressar uma característica: “dia quente”.

advérbio: palavra que modifica um verbo (acordar cedo), um adjetivo (bastante claro) ou outro advérbio (muito perto).

afixo: morfema que se liga a um radical. Em português, são os prefixos e os sufixos.

forma livre: forma que pode constituir um enunciado sozinha.

forma presa: forma que só pode constituir um enunciado quando presa a uma forma livre, como o -s do plural.

forma dependente: forma que, não sendo presa, se combina a outra em um enunciado, como o artigo em “a batata”.

prefixo: morfema que antecede o radical, como des- em “desleal”.

radical: morfema que contém o significado básico de uma palavra, como “leal” em “desleal”.

substantivo: palavra que nomeia seres, ações, características, sentimentos etc.

sufixo: morfema que se pospõe ao radical, como -eza em “clareza”.

sufixo adverbial: que forma advérbios. É o sufixo -mente em português: “felizmente”.

sufixo nominal: que forma substantivos ou adjetivos, como -eza e -oso(a).

sufixo verbal: que forma verbos, como -izar.

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Material Complementar

Para aprender mais a respeito das questões apresentadas nesta unidade, faça as seguintes leituras:

KEHDI, Valter. Morfemas do Português. 6. ed. São Paulo: Ática, 2004.

ROSA, Maria Carlota. Introdução à Morfologia. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2006.

Obras disponíveis on-line:

ALVES, Ieda Maria. et. al. Afixos marcadores de intensidade: sufixação versus prefixação. Os Estudos Lexicais em Diferentes Perspectivas. v. I. São Paulo: FFLCH/USP, 2009. http://www.fflch.usp.br/dlcv/neo/artigos.php. Acesso em 22 set. 2013.

LOPES, Carlos Alberto Gonçalves. Prefixos intensivos. Revista Philologus. v. 38. Disponível em http://www.filologia.org.br/revista/38/10.html Acesso em 2 dez. 2013.

SANDMANN, Antônio José. A expressão da pejoratividade. Revista Letras. v. 38. Curitiba: UFPR, 1989b. Disponível em http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/letras/article/viewArticle/19181. Acesso em 29 set. 2013.

SKORGE, Sílvia. Os sufixos diminutivos em português. Boletim de Filologia, t. XVII, Lisboa, 1958. Disponível em http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/lingua/boletimfilologia/17/boletim17.html. Acesso em 2 dez. 2013.

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Referências

BASÍLIO, Margarida. Teoria lexical. 8. ed. São Paulo: Ática, 2007.

LAPA, Manuel Rodrigues. Estilística da Língua Portuguesa. 8. ed. Coimbra: Coimbra, 1975.

MARTINS, Nilce Sant’anna. Introdução à Estilística: A Expressividade na Língua Portuguesa. São Paulo: T. A. Queirós, 1989.

MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim. Estrutura da Língua Portuguesa. 37. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

PETTER, Margarida Maria Tadoni. Morfologia. In: FIORIN, Luís Antônio (org.). Introdução à Linguística II: Princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2003.

ROSA, Maria Carlota. Introdução à Morfologia. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2006.

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Anotações

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