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“Sempre haverá amanhã!” EDUCAÇÃO: MISSÃO DO P ROFESSOR T EODORO PARA EMANCIPAÇÃO DO SER HUMANO Luís-Sérgio Santos (ORGANIZADOR)

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Educação: missão do Professor Teodoro para emancipação do ser humano / Luís-Sérgio Santos, organizador — Fortaleza: Omni Editora, 2015

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“Sempre haverá amanhã!”EDUCAÇÃO: MISSÃO DO PrOfESSOr TEODOrO PArA EMANCIPAÇÃO DO SEr HUMANO

Luís-Sérgio Santos(OrgANIzADOr)

teodoro capa 005.indd 1 23/11/2015 17:53:24

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“Sempre haverá amanhã!”

EDUCAÇÃO: MISSÃO DO PROFESSOR TEODORO PARA EMANCIPAÇÃODO SER HUMANO

Luís-Sérgio Santos(ORGANIZADOR)

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Educação: missão do Professor Teodoro para emancipaçãodo ser humano / Luís-Sérgio Santos, organizador — For taleza: Omni Editora, 2015

1. Educação — Brasil. 2. Educação — Europa. 3. Educação — . 4.Educação – . I. Santos, Luís-Sérgio

CDD: 370

2015 © Copyright LSS

F I C H A T É C N I C A

COORDENAÇÃO EDITORIAL Luciano CléverREVISÃO DE TEXTO Norma Soares e Teobaldo Campos MesquitaDESIGN Jon RomanoFOTO DA CAPA José LeomarIMPRESSÃO Premius Editora

www.omnieditora.com.br [email protected]

professorteodoro.com.br Professor Teodoro

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Sumário9. Introdução “Sempre haverá amanhã!”

LUÍS-SÉRGIO SANTOS

33. Capítulo 1 DE RERIUTABA PARA O MUNDO

35 Como é bom ser bom IÁ SOARES

39 José, seu prazer é servir! ZENEIDE SOARES

44 As melhores lembrançasCONCEIÇÃO MEMÓRIA

53 Assim nasce um líderJOSÉ ABNER MELO CARVALHO

56 Reriutaba-Sobral, 1960FRANCISCO ROCHA

61. Capítulo 2OS SEMINÁRIOS: SOBRAL,

FORTALEZA, OLINDA E ROMA

63. Da Betânia à UVAFRANÇOIS MARTINS

69 Um depoimento de irmão na fé VICENTE TORRES MOURÃO

79 Teodoro, um homem de féANTONIO FERNANDES VIEIRA

83 José Teodoro, arauto da educaçãoALARICO ANTÔNIO FROTA MONT’ALVERNE

88 Teodoro Soares e os betanistasFRANCISCO JOSÉ AGUIAR MOURA

93. Capítulo 3O SEMINÁRIO MAIOR:

FORTALEZA, OLINDA E ROMA

98 A escolha romana de SoaresJOSÉ ROSA ABREU VALE

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106. Professor José Teodoro Soares. Um líder exemplarPE. JOÃO BATISTA FROTA

110 Relembrando fatos e fotosANTÔNIO INOCÊNCIO LIMA

120. Uma fábrica de amigosANTÔNIO JORGE SIQUEIRA

128. Um homem de açãoJOSÉ JACKSON DE CARVALHO

135. A bondade compartilhada DAMIÃO RAMOS CAVALCANTI

139. Testemunhando uma liderança VICENTE DE PAULO CARVALHO MADEIRA

144. Alguns traços da personalidade de TeodoroNEREU FEIX

150. Companheiros de jornada PEDRO HENRIQUE CHAVES ANTERO

155. Capítulo 4 PARIS, MAIO DE 1968! — NO OLHO

DO FURACÃO

160. Um amigo fraternoMARIA ADÉLIA APARECIDA DE SOUZA

165. Um amigo com certificado de qualidade

LÉLIO FABIANO DOS SANTOS168. Teo, meu amigo de muitos anos

CLÁUDIO RUARO174. Professor Teodoro: um nome para a história

ELIAS DE OLIVEIRA MOTTA180. Insculpindo um perfil

JOÃO TEÓFILO PIERRE185. Gestão estratégica na Universidade Regional do

Cariri (Urca) – 1987-1997 MANUEL EDMILSON DO NASCIMENTO

195. Capítulo 5DE VOLTA AO BRASIL

200. A arte da política no verdadeiro sentido da palavraSOCORRO MELO TAJRA

205. Um homem fundador

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JOSÉ MAFRENSE DE SOUZA208. José Teodoro Soares

211. O Teodoro que conheço ANTONIO DE ALBUQUERQUE SOUSA FILHO

215. Capítulo 6A EXTRAORDINÁRIA REVOLUÇÃO

PELA INCLUSÃO

220. O artífice da interiorização da UVAIDUINA MONT’ALVERNE BRAUN CHAVES

226. A expertise no processo de interiorização da educação universitária ENOQUE GOMES CAVALCANTE

230. Um otimista invencívelROBERTO SÉRGIO FARIAS

236. Uma figura de transiçãoVALDOMIRO MARQUES DAS NEVES

239. Um homem à frente de seu tempoVICENTE MAIA

247. Pesquisa científicaJOÃO AMBRÓSIO DE ARAÚJO FILHO

251. O educador incansávelIARA MARIA LINHARES

255. Teodoro e o Rio Grande do NorteHUDSON BRANDÃO DE ARAÚJO

ANA MARIA VIANA DE SOUSA ARAÚJO258. Teodoro e a mudança no cenário da Educação

no ParáSUELY MENEZES

265. Professor Teodoro: um semeadorJOSÉ FERREIRA PORTELLA NETTO

269. A Personalidade do Professor TeodoroAROLDO LINS

273. MagníficoMARIA LUCIA CASTRO MARTINS

277. Tudo é uma questão de Educação FRANCISCO LIDUINO R. DE SÁ

281. Teodoro: olhar à frente dos fatosMARCONDES ROSA DE SOUSA

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286. Um exemplo de empreendedorismo JOÃO EDISON ANDRADE

291. Um conjunto de habilidades denominado liderançaMODESTO SIEBRA COELHO

297. Uma convivência benéficaPEDRO RIBEIRO DA SILVA

299. Sobre o Professor TeodoroROBERTO CLÁUDIO

303. Capítulo 7A REVOLUÇÃO TEM QUE CONTINUAR

306. Parceria: uma boa experiênciaCID FERREIRA GOMES

309. Deputado Professor Teodoro: um perfilARNALDO SANTOS

315. Teodoro, o cosmopolitaMARIA HELENA CARVALHO DOS SANTOS320. Apóstolo da educação

ARTUR BRUNO323. Teodoro: vocação ensinarCÂNDIDO BITTENCOURT DE ALBUQUERQUE

328. Teodoro SoaresLUSTOSA DA COSTA

333. Um educador no parlamentoMESSIAS PONTES

338. Teo: em Sobral, em Olinda, em Paris, no Mundo...PADRE JOSÉ LINHARES

341. Professor Teodoro e a políticaSIMON NOBRE

347. Professor Teodoro, da UVA ao ParlamentoJOSÉ OSMAR VASCONCELOS FILHO

357. Com Teodoro, um constante aprendizadoVANDA MARIA COELHO

361. Capítulo 8 UM OLHAR PARA O FUTURO

363. No ritmo do Teo MARIA NORMA MAIA SOARES

367. Memória Iconográfica

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INTRODUÇÃO

“Sempre haverá

amanhã!” Luís-Sérgio Santos 1*

“EDUCAÇÃO É A ARMA MAIS poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, disse, certa vez, Nelson Mandela, o ex-presidente

da África do Sul e Prêmio Nobel da Paz de 1993. Estava sendo lançado ali um projeto de infraestrutura tecnológica para po-tencializar e universalizar o acesso à Educação, a rede Mindset. A frase completa de Mandela, naquele emocionante momento foi esta: “Educação é a arma mais poderosa que você pode usar

*Luis-Sérgio Santos é professor de Curso de Jornalismo na Universidade Federal

do Ceará, em Fortaleza

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para mudar o mundo, e a Mindset Network é uma poderosa parte deste arsenal de mudança global.”

Anos antes, em 1947, outro ardoroso líder, Martin Lu-ther King, destacava o caráter revolucionário e emancipador da educação: “A função da educação é ensinar alguém a pensar intensamente e a pensar criticamente. Inteligência mais cará-ter — estas são as metas da verdadeira educação”, escreveu ele no jornal do campus universitário.

São dois momentos diferentes e ambos ressaltam o papel estratégico da Educação como ferramenta de emancipação, mudança e desenvolvimento do homem e da civilização.

Um outro obstinado pela Educação, porque não via saída sem ela, foi o inquieto recorrente Darcy Ribeiro para quem “o livro, bem sabemos, é o tijolo com que se constrói o espírito”.

Tudo isso que sai dos espíritos emocionados de Nelson, Martin e Darcy, e mais outras tantas situações expressas por pensadores e obstinados operadores da Educação, cabe na tentativa relativamente utópica de desenharmos um perfil no mínimo razoável do professor José Teodoro Soares. Sua fleug-ma espiritual, sua formação humanística e seu conhecimento acadêmico como educador e como gestor, transformaram-no em ferramenta de mudança, motivação e realização. Ele vem da linhagem de um Antônio Martins Filho, com quem conviveu e aprendeu, o merecidamente chamado “reitor dos reitores”, homem que construiu as universidades do Ceará, com a mão e com o cérebro porque nunca se conteve em ser apenas um usuário do seu gabinete de trabalho. É certamente de Martins Filho sua maior inspiração para encarnar o reitor que elevou a Universidade Estadual Vale do Acaraú a patamares de eficiência

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e qualidade acadêmica preservadas até hoje. José Teodoro lide-rou, ali, o maior programa de qualificação e atualização de pro-fessores conferindo a milhares deles um título acadêmico. Isto, certamente, pavimentou uma fantástica infraestrutura que po-tencializou os indicadores de Educação do Ceará e, em especial, de Sobral, a partir do centro cultural da Zona Norte do Estado, berço fundador da Universidade Estadual Vale do Acaraú. O gosto pelos livros certamente também foi consolidado a partir da convivência com o arrojado mestre Antônio Martins Filho que nunca descuidou da sua Imprensa Universitária.

Não há dúvida de que a cidade de Sobral tem uma ener-gia cósmica acima da média regional. A cidade é um polo de convergência de uma região de intenso fluxo e foi entreposto estratégico da era de ouro do Porto de Camocim quando fun-cionava como centro de distribuição de tudo o que entrava e saía por ali devido principalmente às bifurcações da estrada de Ferro. “Com o incremento da ferrovia ligando Camocim a Sobral, propiciou-se um maior número de transações co-merciais, tornando mais eficiente as atividades do porto”, re-lata Carlos Augusto Pereira dos Santos, em sua dissertação de mestrado no Curso de História da UVA. Sobral era a capital da civilização do couro, produto de exportação em crescen-te demanda. Além de produtos manufaturados que vinham do litoral, Sobral recebia e distribuía a produção agrícola da Serra da Meruoca e da Serra Grande. O comércio, eferves-cente, consolidou a liderança regional que se refletiu também na Educação, principalmente a partir da influência da Igreja. Dom José Tupinambá da Frota, o sobralense que é referên-

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cia na formação de muitas gerações, foi o primeiro bispo de Sobral e dirigiu com firmeza e extrema disciplina o Seminá-rio Diocesano. A disciplina rígida é apreciada ainda hoje por quem lá estudou, como o famoso advogado José Feliciano de Carvalho: “o estudo era duríssimo. O sistema era ‘draconia-no’, tipo militar, internato. Tinha hora para acordar, quatro e meia da manhã. Entre você acordar, trocar de roupa, arrumar a cama e estar na fila para descer eram exatamente dez mi-nutos. O dia, ainda escuro, começava com exercícios físicos.” Dom José, emblemático, contundente e cioso de sua autori-dade eclesial viu seu sobrenome “Tupinambá” ser anexado, como homenagem e reverência, ao sobrenome de centenas de famílias sobralenses e da região. Dom José estudou em Roma, onde fez doutorado em Filosofia e Teologia. No seu retorno, queria fazer de Sobral uma nova Roma. E ele queria fazer de Sobral essa referência cosmopolita consolidada na fé e na dis-ciplina cristã onde a Educação desempenhava papel central.

Em uma reportagem do jornal O Estado, de 24 de se-tembro de 1955, vemos o iniciante jovem repórter João Ciro Saraiva deslumbrar-se ante a figura eletrizante de Dom José. Escreve ele: “Antes de ser a Princesa do Norte, antes de figurar entre as cidades mais importantes do Ceará, Sobral é a terra desta personagem querida e amiga: Dom José Tupinambá da Frota. E qual a pessoa que já visitou Sobral que não teve oca-sião de conhecer este velhinho de cabeça branca que encerra no seu íntimo, o retrato da própria juventude? Não há um só sobralense que não admire o seu chefe espiritual, o pastor que apesar de no ocaso da vida, continua vivendo aquela mesma vida dos tempos da mocidade. Suas Bodas de Ouro Episcopais

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serão comemoradas este ano [1955]. Todos se preparam, da maneira mais carinhosa e sincera, para parabenizá-lo por fato de tão alta significação. Dom José na verdade bem merece essa manifestação partida do mais recôndito do coração da gente de sua terra. Enfim, Sobral é Dom José e Dom José é Sobral.

Não por acaso, portanto, Sobral formou tantos líderes seja na política seja em dezenas de profissionais liberais, com de-zenas de grandes expoentes. Um desses, o escritor Lustosa da Costa, mantinha uma relação atávica e passional com a cidade que amava em demasia. Sua oferenda foi motivar uma frente ampla em torno da formação da primeira biblioteca pública com enorme acervo o que, de fato, aconteceu, com o apoio da gestão municipal, à época do prefeito Cid Gomes, em 2005.

Essa energia ganhou uma força retumbante quando a cidade virou referência mundial ao receber a expedição in-glesa que veio confirmar a Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Em 29 de maio de 1919, a Teoria da Relatividade foi comprovada por um eclipse no céu do Nordeste — o dia virou noite, seria o fim do mundo? — a partir de Sobral, anos depois, marcou o feito ao inaugurar o Museu do Eclipse. Mais uma vez o conhecimento superou a superstição potencializan-do o lugar como polo do saber.

Sobral se diferenciava em suas várias esferas de civiliza-ção, e foi ali que o professor José Teodoro Soares escreveu sua maior obra, uma construção coletiva, sem dúvida, porque não seria possível fazê-la de outro modo— mas, essencialmente, uma construção que tinha como motor um educador com formação de gestor que conseguiu aliar o conhecimento aca-

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dêmico e gerencial à operação política da articulação e da ani-mação cultural. Um intelectual operacional ao gosto dos que pensam e fazem, como Darcy Ribeiro, como Antônio Martins Rodrigues — e, como tais, com a capacidade de acionar as esferas pública e privada sem as quais ficaria impossível mo-ver as pedras no caminho. As maiores instituições de ensino, no Brasil e no mundo, só ganharam forma porque tinham à sua frente obstinados e visionários que viam na assertiva de Mandela o seu leitmotiv — correndo todos os riscos dos que fazem e conseguem fazer dos eventuais revezes fator de pro-pulsão. “Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis”, nos disse René Descartes. “Eleva a tal ponto a tua alma, que as ofensas não a possam alcançar”.

O outro JoséJosé Teodoro Soares nasceu em Reriutaba, Ceará, no dia 28 de dezembro de 1940. Mas se considera também sobralense, já que aos doze anos de idade foi morar em Sobral, para estudar — o mesmo percurso de centenas de jovens da região. Sobral sempre teve um ar cosmopolita, com uma aceitação natural do papel de vanguarda. Anos depois, Teodoro constatava essa vocação geopolítica do lugar que assumia naturalmente seu papel de guia — Sobral consolidada regionalmente uma he-gemonia política, social e econômica, tornando-se influente polo de poder no Ceará.

Teodoro consolidou-se como educador, mas também é sociólogo, teólogo e político com presença atuante na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará com manda-tos desde 2006. Por um triz não seguiu a carreira religiosa.

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Estudou nos seminários São José, em Sobral, no Seminário da Prainha, em Fortaleza, e no Seminário de Olinda, em Per-nambuco, onde concluiu Curso de Filosofia. Em seguida foi para Roma, onde se pós-graduou em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Na iminência de ordenar-se padre acabou mudando a rota, decidiu ir para Paris, onde concluiu licenciatura em Ciências Políticas no Institut d’Études Politi-ques de Paris. Licenciou-se, também, em Ciências Sociais pelo Institut Catholique de Paris. Sua intensa fase de estudos na França consolidou-se no mestrado em Administração Públi-ca no Instituto Internacional de Administração Pública. Foi testemunha ocular das barricadas e confrontos que sacudiram o movimento estudantil de maio de 1968 e influenciaram o mundo todo, inclusive o Brasil, que a partir de dezembro de 1968, vivia sua fase de “ditadura escancarada” com a decreta-ção do sombrio AI-5.

A formação na Europa foi um divisor de águas na cabe-ça do jovem José Teodoro Soares. Além de sólida formação acadêmica, construiu ali grande relações pessoais como sua amizade com o filósofo Michel Maffesoli, professor da Uni-versidade de Sorbonne, que já esteve em Sobral várias vezes. Teodoro estudou em Paris em um momento crítico para a vida universitária do mundo. Estudou em Roma de 1962 a 1966 e em Paris de 1966 a 1970. Aqui, participou desde a eclosão do movimento de maio de 1968 até seu desfecho. O que começou como um protesto de estudantes pedindo abertura e reformas na política educacional francesa ganhou um volume tão grande que acabou se transformando em uma

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greve de trabalhadores que colocou o governo do presidente Charles de Gaulle em xeque. A série de enfrentamentos entre os estudantes e as autoridades acadêmicas da Universidade de Paris, em Nanterre, se espraiou para todo o país, quando a di-reção da instituição de ensino resolveu fechar suas portas. Te-odoro constata: “A universidade era tão fechada, a sociedade francesa era tão fechada. E houve uma ruptura dos estudantes, acompanhada da classe média e dos operários, para transfor-mar a universidade francesa”. E isso se propagou para o resto do mundo como um rastilho de pólvora, inclusive no Brasil onde a França sempre exerceu uma influência muito positiva. Quando a Universidade de São Paulo foi fundada, boa parte de seus professores era da chamada “Missão Francesa”, entre eles o icônico Claude Lévi-Strauss. “Foram os professores es-trangeiros que trouxeram a semente correta para o desenvol-vimento científico do país”, avaliou, anos depois, o renomado físico Oscar Sala. A França, portanto, exercia uma enorme in-fluência notadamente no mundo acadêmico. Nos anos 1960 estima-se uma população de cerca de cinco mil brasileiros na França, sobretudo refugiados e exilados políticos, fugitivos do golpe de Estado. Entre eles, o ex-ministro da Educação Cris-tóvam Buarque, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra. “Uma quantidade enorme de quadros que depois da abertura se abrigaram em vários partidos”, lem-bra Teodoro. Os refugiados acabaram sendo objeto de uma influência estrutural muito positiva.

De volta ao Brasil, iniciou carreira acadêmica como pro-fessor da Universidade Federal do Ceará e não parou mais, passando por várias experiências gerenciais e acadêmicas até

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ser nomeado reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú, onde permaneceu, em sucessivos mandatos, de 1990 a 2006.

Era o homem certo no lugar certo. Até então centrada na capital Fortaleza, a educação superior viu o surgimento de um polo robusto em Sobral.

Suas ações como gestor, ampliando a infraestrutura física, levou para a Zona Norte do Estado um centro de referência na área de educação superior. Fator decisivo para a eficiên-cia econômica do Estado, a Universidade interiorizada viu na UVA uma ponta de lança na quebra do paradigma que, anos depois, viria a ser traduzido pela interiorização da Universida-de Federal do Ceará. À época, no início dos anos 2000, um especialista em tecnologia e desenvolvimento, João Pratagil, nos lembrava que “a competitividade depende de dois fatores. O fator visível, que são as edificações, os portos, aeroportos etc. E o fator invisível, que é a forma de pensar do cidadão. E a escola e a Universidade são os dois elementos transforma-dores dos paradigmas das pessoas”. Ampliação da capacidade instalada, como fez o reitor Professor Teodoro, transformou UVA em um alavancador desse capital invisível, que é o co-nhecimento, a informação.

Eivado pela ação enfática do reitor Teodoro, o então bispo diocesano de Sobral, dom Aldo Pagotto destacava a importân-cia de levar para o interior do Estado um centro de excelência em ensino superior. “Há, em todos os estados do Nordeste, uma hipercefalia. Tudo acontece na capital. Temos que carrear recursos para as zonas, os polos de crescimento, para que haja um crescimento harmônico”.

Com o apoio da Prefeitura, foi a Universidade Estadual

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Vale do Acaraú quem criou as condições objetivas para So-bral receber o Curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará. “Hoje, o Curso de Medicina de Sobral tem a melhor estrutura de todo o Estado do Ceará”, assegurava o prefeito de Sobral, Cid Gomes, para enfatizar a grandeza da estrutu-ra educacional que estava sendo montada na Zona Norte do Estado, na parceria interinstitucional entre a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e a Universidade Federal do Ceará (UFC) além do apoio estratégico do governo do Estado e a Prefeitura de Sobral. Para o então governador do Ceará, médico Lúcio Alcântara, a iniciativa [de interiorização] é ain-da mais importante por se tratar de um Curso de Medicina. “É um curso que tem sempre uma demanda muito grande e é um curso caro, que requer muitos recursos. Tanto recursos financeiros quanto recursos humanos. Graças a Deus, aqui em Sobral nós conseguimos montar isso de maneira satisfatória”.

O reitor da Universidade Federal do Ceará, René Bar-reira, lembrava que o Curso de Medicina em Sobral iria mu-dar uma tendência regional. “Metade dos profissionais que se registravam no Conselho Regional de Medicina vinha de outros estados. Uma situação que começou a ser reverti-da, garantindo profissionais de saúde não só na capital mas também no interior”.

De fato, o Curso de Medicina da UFC, recepcionado pela UVA que cedeu inclusive área física, foi uma total quebra de paradigmas. Desde há muito, o Curso voa com suas próprias asas, ganhando autonomia.

Mas o que pensa esse outro José, catalizador, que trouxe

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para si tarefas hercúleas e delas se desincumbiu com enorme talento? Estávamos em 2003, e Teodoro já atestava que podia trabalhar sozinho, como de resto, as pessoas naquele cenário que hoje está mais arraigado. “Cada vez mais, o mundo se tor-na mais próximo, aldeizado. Você tem que trabalhar de forma integrada, de forma parceira. E nós tivemos a felicidade, so-bretudo nos últimos oito anos, de ter, em Sobral, três agentes que trabalham integradamente. O prefeito Cid Gomes vem fazendo uma administração exemplar não só para o Ceará, mas também para todo o Nordeste. A diocese de Sobral, com o novo bispo, dom Aldo Pagotto, que também é um ator im-portantíssimo, tendo em vista as características de Sobral. E a UVA, com seu reconhecimento, com sua expansão, hoje, é uma presença marcante.

Um exemplo da capacidade de aglutinação e de articula-ção do professor Teodoro está no processo de formação e im-plantação do Curso de Direito da Universidade Vale do Aca-raú. É o próprio Teodoro quem revela sua estratégia para a im-plantação do Curso, em um arranjo deveras original: “Direito é um curso importante para toda e qualquer sociedade. E, ao chegar a Sobral, eu, formado que sou também em Direito, defendia que esse curso fosse levado para lá. Mas havia forte reação: ‘É difícil!’, diziam. Era preciso fazer concurso — uma dificuldade, certa pressão. Alguns alegavam que o mercado já estava cheio de advogados. Eu defendia o contrário. ‘Eu acho que tem pouco’, dizia. Eu acho que devia ter muito mais. Por-que quanto mais pessoas formadas em Direito, melhor para os direitos civis e para a sociedade. Então, começamos um

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trabalho. Assim, uma comissão foi constituída pelo prefeito Cid Gomes, por mim, reitor, juntamente com o professor Clodoveu Arruda. Fomos ao então reitor da Universidade Federal do Ceará, professor Roberto Cláudio, demandando que ele criasse em Sobral uma turma do Curso de Direito da UFC. Ele aceitou nossa exposição. Tivemos, também, o apoio decisivo dos tribunais. Naquela oportunidade, o presidente o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará era o desembargador José Maria de Melo. Ele e os demais desembargadores deram apoio regular e continuado e se alinharam à Universidade. O compromisso inicial era que esse curso deveria depois ser in-tegrado à UVA. O prefeito, então, ficou pagando as despesas do Curso. A Universidade construiu um belo prédio para a Faculdade de Direito. E o Tribunal ajudou, inclusive, a mon-tar parte da biblioteca. E o curso foi criado. O projeto foi en-caminhado à OAB Nacional que aprovou 50 linhas de ensino e pesquisa. Naquela oportunidade, a única Universidade a ter curso aprovado foi a UVA devido à característica sui generis. Era um curso a quatro mãos. Uma federal, uma universidade estadual, a prefeitura ajudando e o tribunal. E, no primeiro Provão, tirou nota A. Um exemplo de parceria que deu certo”.

O projeto de parceria deu tão certo que inspirou a implan-tação do Curso de Medicina. Foi constituída uma comissão, composta pelo bispo Dom Aldo Pagotto, pelo prefeito Cid Gomes e pelo reitor Teodoro. O grupo foi ao então governa-dor Tasso Jereissati solicitar apoio para levar a Sobral a Facul-dade de Medicina. O reitor da Universidade Federal do Ceará somou-se à comitiva que ouviu do governador a promessa de apoio. “Acho importantíssimo não somente interiorizar o mé-

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dico mas, principalmente, interiorizar o ensino”, disse o gover-nador, comungando com a ideia do reitor Teodoro. O apoio governamental veio a passos rápidos, e a Faculdade de Medici-na foi criada, em Sobral, vinculada à Universidade Federal do Ceará. O prefeito construiu o prédio, doou à Universidade. E a UVA doou o terreno. No intervalo da construção do prédio Teodoro Soares colocou à disposição da Universidade várias salas e laboratórios para abrigar os primeiros alunos do Curso de Medicina. A diocese, através do bispo dom Aldo Pagotto e do padre José Linhares, colocou à disposição o Hospital da Santa Casa e o Instituto do Coração que passaram a receber os alunos em aulas práticas e estágios. O curso rapidamente converteu-se em sucesso. A ideia de integração e convergência foi uma das principais bandeiras do gestor Teodoro à frente da UVA. Nos dois episódios de fundação dos cursos de Di-reito e de Medicina, a UVA funcionou como continuidade da Universidade Federal do Ceará, uma tradução literal da visão de Teodoro que concebia a Universidade de forma integrada. O próprio Ministério da Educação destacou, na inauguração do prédio da Medicina, a singularidade da faculdade. Certa-mente se o reitor da UVA quisesse ter criado tudo sozinho, nenhum dos dois cursos teria ganho forma.

A parceria estratégica da UVA com a Universidade Fede-ral do Ceará fez Sobral caminhar a passos largos para se tornar um centro de excelência no ensino superior. O reitor ampliou o modelo e construiu parcerias com outras prefeituras da zona norte do Ceará, estendendo o conceito de campi avançados. Naquele momento o interesse era potencializar e expandir as ações da Universidade através das parcerias estratégicas am-

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pliando o apoio à sociedade. Campi avançados começaram a funcionar em Camocim, Tianguá, Santa Quitéria, Nova Rus-sas, Reriutaba, Acaraú e Canindé. Nesses polos passaram a funcionar turmas dos cursos de graduação, cursos de pós-gra-duação e cursos rápidos de extensão. Essa abertura espetacular passou por amplo processo de negociação junto ao Conselho Estadual de educação, uma verdadeira “operação de guerra”. Sem essa visão gerencial arrojada, a Universidade ficaria para-da, ficaria na camisa de força do orçamento público com bai-xo crescimento e expansão. José Teodoro, consciente de que a expansão do ensino superior é uma necessidade premente, sempre defendeu que é por intermédio da educação superior que o desenvolvimento local é alavancado.

Sem dúvida, José Teodoro é um workaholic. “Eu gosto muito do que faço. Aliás, amo muito o que faço. Eu gosto de trabalhar, realmente”. Ele trabalhou vida toda na área da educação. Em mais de 10 anos em várias funções no Ministé-rio da Educação, nunca tirou férias. Dez anos! Porque os mi-nistros não deixavam. Uma dessas funções foi a de secretário geral adjunto do Ministério da Educação e Cultura de 1981 a 1985 e a de subchefe de gabinete do ministro Eduardo Por-tela, entre tantas outras.

Em 1986, retornou de Brasília para o Ceará quando tra-balhou no plano do primeiro governo Tasso. Em seguindo o reitor Antônio Martins Filho o convidou para ir implantar a Universidade Regional do Cariri — Urca. Ficou três anos como reitor da nova Universidade até ser transferido para So-bral. Em 16 anos de trabalho intenso transformou Sobral em

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uma cidade universitária.Defensor da educação como alavanca do desenvolvimen-

to, Teodoro costuma dizer que todo curso é muito importan-te. “Se a pessoa souber português, falar bem e escrever bem, a pessoa vence na vida. Imagine se você acrescentar o inglês, acrescentar o francês. Melhor ainda!”

O professor produziu dezenas de livros e centenas de ar-tigos, defendendo suas teses. Entusiasta da imprensa como meio essencial para a difusão da informação, estimulou a im-plantação de jornais em Sobral bem como uma presença mais efetiva dos jornais de Fortaleza naquela cidade.

No livro de Teodoro, publicado em 1999, Crônica para uma Sobral moderna, prefaciado pelo então prefeito de Sobral Cid Ferreira Gomes, este já atestava quão impressinante era a visão que o reitor “manifesta acerca dos mais variados assun-tos respeitantes à Princesa do Norte e a todo o raio desenvol-vimentista que infunde progresso à nossa Região”. Naquele livro, Teodoro discorre sobre a conjuntura — “Há dez anos, algo de novo, diferente, ocorre no Ceará” — e enfatiza o papel estratégico da Educação — “o Estado do Ceará jamais sairá do seu subdesenvolvimento e de sua pobreza se a Educação não for tomada como prioridade absoluta”.

“Com Educação, sempre haverá um amanhã melhor”, va-ticina Jose Teodoro Soares.

Esta coletânea de artigos, ensaios e depoimentos, dá uma visão ampla da presença de Teodoro no cenário contemporâ-neo e sua influência como gestor e educador.

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Vejamos alguns pequenos trechos da farta coletânea que se segue. Uma reverência e uma consagração à obra do Professor José Teodoro.

O padre João Batista Frota diz que o Teodoro “é um farol para todos os seus amigos e para aqueles com quem convive ou o conhecem”.

Pedro Henrique Antero: “entre tudo o que fez, Teodoro vai ficar na história do Ceará, como o reitor que soube multi-plicar por cem o tamanho de uma instituição pública de en-sino, levando-a por toda parte e arrancando do meio em que se inseriu o sustento da organização. Foi um tapa no rosto de quem continua dizendo a bobagem de que todo ensino públi-co deve ser gratuito”.

O padre José Linhares vê Teodoro “como um peregrino que se põe a caminho e vai vencendo as pedras que se opõem aos seus passos, a ardência do sol que queima a sua pele, as montanhas que se antepõem aos seus objetivos”.

De Vicente Madeira, “em cerca de meio século de co-nhecimento, impressiona-me em Teodoro, sua capacidade de relacionar-se, como diz o povo — com Deus e o mundo. Isto é uma marca pessoal de sua liderança... Mais do que um in-divíduo, ele é um polo de relações... Ele agrega e aproxima. Pertransit benefaciendo”.

De Nereu Feix, vemos que “Teodoro tem quatro caracte-rísticas: fidelidade a si mesmo; intuição relativa à importância

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da formação; realismo; fidelidade às suas raízes, à terrinha, aos amigos, ao passado”.

De Cláudio Ruaro: “o Téo é uma pessoa de muitas quali-dades: sua generosidade e desprendimento, sua dedicação aos objetivos que se propõe, sua capacidade de aglutinação para trabalhos em equipe. Muito prestativo, sabe cultivar as ami-zades criadas ao longo da vida. Tem um temperamento que facilita o cenário... Conserva a alegria de viver”.

Modesto Siebra assegura que “Onde quer que o Teodoro localizasse um amigo (Paris, Teresina, Roma, Itapipoca, Ale-manha, Natal, China ou João Pessoa) a abordagem era dire-ta, sem arrodeios: amigo velho, está na hora de você dar sua contribuição a Sobral; de devolver parte do que recebeu aqui. Larga isso aí, e vem trabalhar comigo”.

Aguiar Moura observa que Teodoro “é um homem di-nâmico, inquieto, a produzir os frutos da sua privilegiada e fértil imaginação. Tem uma capacidade ímpar de trabalho e de delegação de poderes”.

Para Alarico Mont’Alverne, Teodoro tem “fácil poder de comunicação, de convencimento, a sempre pronta e solícita disposição em servir”.

Para João Edison Andrade, “Deus foi por demais genero-so para com ele [Teodoro] na concessão de talentos”.

Manoel Edmilson do Nascimento lembra que Teodoro “sempre esbanjou simpatia; pensou grande. O otimismo do futuro professor, reitor e deputado transbordava por todos os poros”.

Antônio Vieira lembra que “desde cedo, o Teodoro des-pertava a nossa atenção, por ser comunicativo, alegre, atencio-

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so. Gostava de rezar bem mais do que os outros.”François Martins recorda que no seminário de Sobral, en-

tre os colegas prefeitos de disciplina, “o Teodoro foi o melhor prefeito que tivemos. Ele não era caridoso nem generoso. Era um prefeito justo. Comandava-nos com liderança”.

Vicente Mourão vê em Teodoro “um dos mais atuantes parlamentares do Ceará”. Antônio Jorge Siqueira, relembra que conheceu um Teodoro “magrinho, conversador, figura simpática de cearense desinibido e pessoa amável. Gostava muito de falar em política da Europa, do Brasil e, evidente-mente, do seu Ceará interiorano”.

José Jackson de Carvalho diz que o “seu estimado amigo tem muito em comum com célebre jesuíta, o padre Antônio Vieira. De modo particular, ambos, além da sólida formação religiosa e intelectual, sempre foram e são homens de ação”.

Damião Ramos Cavalcanti destaca “seu largo sorriso... sua sombra acolhedora... sua afetividade à flor da alma e a dá-diva de ter conhecido essa pessoa inspiradora da boa amizade, que é uma das formas oblativas do amor”.

Contemporâneo no seminário de Sobral, José Abner Melo, recorda que “na infância, em Reriutaba, era o aluno aplicado, bom de tabuada; nas sabatinas, nunca saía com as mãos avermelhadas pela palmatória de dona Heloísa [...] A obstinação pelos estudos, a determinação, o bom caráter e a fé em Deus, que herdara dos pais, indicavam a trajetória de um homem iluminado”.

Lustosa da Costa com sua verve narrativa conta que “So-bral viveu período de retomada do brilho de outrora, com a presença de Teodoro na reitoria da UVA, voltando a ser,

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de novo, o importante polo cultural da região noroeste do estado, com reflexos na preparação da juventude de dezenas de municípios, para a vida profissional e pela qualificação de professores para o melhor desempenho do ofício”.

Cid Gomes, na condição de prefeito de Sobral e parcei-ro de muitos sonhos, acompanhou “as dezenas das conheci-das etapas de inauguração, com a instalação de novos cursos, posse de novos professores, construção e reformas de novas instalações físicas, aquisição de equipamentos, bibliotecas e laboratórios. Cid assegura que houve “uma profunda transfor-mação; praticamente, se fez uma outra Universidade, durante o mandato do reitor, Professor Teodoro”.

Maria Helena Carvalho, professora e ex-secretária de Educação em Portugal, ex-deputada constituinte daquele país, vê em Teodoro o “cosmopolita”: “A sua enorme bagagem cul-tural faz parte de sua personalidade, herdeira da filosofia, dos mais profundos sentimentos religiosos a par das ciências que lhe deram o sentimento do rigor e que o formaram nos bancos das escolas, também elas, cosmopolitas, de Roma a Paris”.

Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra, ex-deputado estadu-al e prefeito de Fortaleza, diz “ter aprendido com seu pró-prio pai que para o Professor Teodoro não existem obstáculos. Trata-se de uma daquelas raras figuras que não mede esforços, quando a causa é de interesse público”.

Cândido Albuquerque entende que “no Ceará e no Nor-deste é também possível identificar um homem público que pensa e concretiza na área de educação: o Professor Teodoro, dotado de grande capacidade de realização e invejável amor aos livros. Ele representa o que temos, no Brasil contemporâ-

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neo, de mais promissor no campo da educação”.Roberto Sérgio o classifica como “um otimista invencível,

cheio de qualidades marcantes de sua personalidade: coragem, generosidade, otimismo”

A professora Maria Adélia Aparecida o tem como um ir-mão: “com concordâncias tantas, com discordâncias algumas, mas cheios de eterno respeito um pelo outro”.

Lélio Fabiano dos Santos: “Teo é aquele cearense do sorriso largo, só menor que a sua generosidade, que nos transmitia sabedoria e simpatia. Tornou-se implantador de universidades, reformador de ensino, formulador de políti-cas, realizador de sonhos”.

Messias Pontes se refere a ele dizendo que “o mestre dei-xou a reitoria da UVA, mas não deixou a Educação, que foi fazer em outra praia, no parlamento estadual”.

Socorro Melo Tajra vê o Teodoro como “dono de uma cultura brilhante. Sua presença é extremamente agradável. Conquista a gente pela segurança e serenidade. Nunca uma ordem; mas sempre uma sugestão, facilmente acatada pela sua capacidade de persuasão, própria dos líderes”.

Valdomiro Marques escreve: “O Professor Teodoro é uma figura emblemática da educação cearense. Com determina-ção, ousadia e muita criatividade, promoveu uma revolução na educação superior do Ceará”.

Simon Nobre diz que Teodoro foi movido pelo lema “tudo é uma questão de educação — marca registrada de toda a sua trajetória de vida”.

Marcondes Rosa de Souza vê um Teodoro “possuidor de um olhar revolucionário sobre a educação e a vida, de sorte

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que dele guarda a imagem de alguém sempre à frente, e jamais a reboque dos fatos”.

Antônio de Albuquerque Sousa Filho nos diz que “o Teo-doro que conheço sempre aceitou enfrentar situações e desafios novos” como bem o demonstrou à frente da Urca e da UVA.

Arnaldo Santos, jornalista e sociólogo, destaca em Teo-doro a sua “sólida formação acadêmica, pelo acúmulo de sa-ber e experiências como matérias-primas de uma construção inacabada, razão pela qual nunca parou de estudar. Ressalte-se que essa formação sempre foi temperada com uma orientação cristã, fruto dos conhecimentos e experiência adquiridos no seminário e, posteriormente, com a formação universitária em matérias humanísticas, em cursos feitos no Brasil e na Europa”.

O professor Enoque Gomes Cavalcante afirma que o “Professor Teodoro acreditou na educação como alavanca es-tratégica para o verdadeiro desenvolvimento social e do nosso meio ambiente sustentável”.

O professor Osmar Vasconcelos, que o acompanha há muito tempo, escreve que o deputado Professor Teodoro “con-seguiu o seu espaço no legislativo cearense. É bem posiciona-do e articulado junto aos demais parlamentares e, sobretudo, junto às grandes lideranças políticas do Ceará. A educação é a sua bandeira número um”.

O professor Aroldo Lins, lembra que Teodoro “sempre foi muito seguro e determinado, ao mesmo tempo, flexível; mui-to atencioso e educado ao mesclar, em toda a sua caminhada, a singeleza com a eloquência, a humildade com a coragem intelectual, a amabilidade com a perspicácia”.

Hudson Brandão e Ana Maria Brandão lembram a ação

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de Teodoro no Rio Grande do Norte onde “já formou mais de 7.000 professores, em sete anos, graças à tranquilidade do trabalho educacional”.

A professora Iara Linhares diz que “ele não repete as roti-nas. Gosta de enfrentar e vencer desafios. Contribuiu e con-tinua contribuindo para mudar as feições dos professores e, porque não dizer, da educação brasileira”.

Elias de Oliveira Motta destaca que “Teodoro Soares um nome para a história... É uma pessoa flexível, de mente aberta, sensibilizado pelos problemas sociais da humanidade e entu-siasmado com a vida.”

Jose Mafrense escreve: “Em 27 anos de parceria... percebi que o Teodoro era um tecnocrata, na melhor acepção da pala-vra: deu régua e compasso aos diversos gabinetes e cargos que assumiu. Ele transformou não só uma Universidade, mas deu a ela o verdadeiro valor que a sua etimologia carrega, cheia de sentidos e funções”.

Vanda Maria Coelho que trabalha com Teodoro há mais de 20 anos vê nele “o executivo e docente de extraor-dinária competência”.

Maria Lúcia Castro Martins “demonstra toda a sua felici-dade em dividir o seu esforço, o seu trabalho, com alguém da estirpe do Professor José Teodoro Soares, capaz de transformar as dificuldades em oportunidades e de se integrar em seus so-nhos com tamanha realidade que a leva a confundir a UVA com seu próprio ser”.

Francisco Liduino de Sá destaca que “sua maneira de pedir ou de determinar se confunde, pois tal é a delicade-za como ele solicita que, nas duas hipóteses, o empenho de

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quem as cumpre é o mesmo”. Sérgio Mário Pasquali: “Trabalhamos juntos na expan-

são do Projeto Rondon, instalando vários campi avançados na região amazônica. Com uma missão político-estratégica, escolhemos as universidades, discutimos a localização com os governos de diferentes regiões, para integrarmos brasileiros de diferentes áreas, motivando as universidades a participarem do desenvolvimento de nosso país”.

O deputado e professor Artur Bruno o chama de “após-tolo da educação”.

A professora Iduína Mont’Alverne nos diz que “Teodoro colocou a UVA à frente de seu tempo e, como não deixaria de ser, espraia seu espírito empreendedor, dinâmico e revo-lucionário, em primeiro lugar, no seu lócus, para atingir, em seguida, a circunvizinhança e além-fronteiras, vencendo as di-ficuldades que surgem, mas sem perder de vista sua missão de formadora, por excelência, dos seres humanos e do desenvol-vimento do nosso Ceará.”

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De Reriutabapara o Mundo

1.

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Reriutaba é minha terra natal, onde nasci no dia 28 de dezembro de 1940.

Quinto filho de Agripio Soares, comerciante, chefe político local, dirigente do PSD (Partido Social Democrático), prefeito durante o Estado Novo (1937-1945), e de Maria Palmira Soares, de acentuada religiosidade, responsáveis pela minha formação, notadamente nos 13 primeiros anos de minha vida. De meu pai, líder atuante de minha cidade, recebi principalmente influência política. Reriutaba significa para mim o ponto de referência na minha vida. É o lugar de reencontro com minhas origens, de onde retiro forças para continuar lutando a fim de desempenhar minha missão na trajetória existencial.”

“A convivência com minha família sempre é lembrada com alegria,

repleta de belas recordações dos meus familiares e da própria

cidade pequena, pacata e ordeira, onde todo mundo se conhecia.

Diria mesmo que era um ambiente cercado e protegido por amigos,

sempre solidários uns com os outros. Nesta fase, fui influenciado

por duas professoras primárias: dona Alaíde Ramos e dona Heloísa

Mesquita, além do vigário, monsenhor Otalício Carneiro Vasconcelos,

de quem fui coroinha.”

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Como é bom ser bom

Iá Soares1*

N ESTE MOMENTO eu queria voltar o tempo para aproveitar cada momento que vivi naquela casa. Tudo passou tão depressa, tão rápido, que não

pude perceber as maravilhas de uma família de muita paz e muito amor. Muito obrigada meu Deus!

Nossa família: papai, mamãe e nós, os filhos, Messias, Ed-son, Nadir e eu, Iá.

Naquela época Reriutaba, ou Santa Cruz, era uma cidade pequena. Poucas famílias, mas existia amizade e respeito. Era um paraíso. O meio de transporte era o trem, que fazia o per-curso de Crateús a Sobral e de lá para Fortaleza ou Camocim. A passagem do trem era motivo para irmos à estação esperar os passageiros e as novidades.

*Iá Soares de Mesquita é sua irmã mais velha. Professora, reside no distrito de

Amanaiara, município de Reriutaba. Viúva de Vicente Pinto de Mesquita, ex-prefeito.

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Para que nossa família ficasse mais feliz, no dia 28 de de-zembro de 1940 recebeu um grande presente: a chegada de mais um filho: José. Todos muito satisfeitos, mas eu fiquei muito triste. Pois todas as vezes que olhava para o enxoval, eu queria que fosse uma menina. Fiquei triste e custei a me acostumar com a realidade.

Poucos dias depois, passou a tristeza, coisa de me-nina mimada.

Com o tempo, o José tornou-se meu grande amigo; eu o adorava. Tudo que fazia era motivo de alegria. Foi uma criança muito sadia e muito bem cuidada. A Dadá quase se aposenta da cozinha para cuidar só dele.

José, sempre alegre, com 4 anos já tinha amigos para suas brincadeiras. Gostava muito de tomar banho de chuva, até de roupa e sapatos. Aos 6 anos já acompanhava mamãe para assistir à missa na igreja matriz.

Aprendeu a rezar muito cedo e fez a primeira comunhão aos 6 anos. Ele estava lindo, com uma roupa de linho, com uma vela muito bonita, enfeitada pela Stela, nossa prima.

Aprendeu as primeiras letras sentado comigo ou com a Dadá ou a nossa avó Mãinha. Ela sempre dizia que ele não ia dar trabalho para aprender, pois era muito inteligente. Depois foi para a escola particular de dona Heloiza Macedo Mesquita, com quem fez o curso primário.

Ele sempre se preocupava com as águas das chuvas que iam embora. Fazia paredes para prender as águas, mas não tinha jeito. E ficava triste no dia seguinte, que já estava tudo seco.

Aos 8 anos ele tinha time de futebol com os meninos de nossa rua; o campo era lá de casa para a casa do seu Juvêncio.

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Naquela mesma época o papai deu-lhe de presente uma bici-cleta, e como ele ficou alegre! O papai queria que a bicicle-ta fosse só dele. Não deu. Todo dia, quando vinha das aulas, trazia dois amigos para merendar e depois aprender a andar de bicicleta. Com estas aulas de bicicleta foi difícil. Todo dia aparecia mais um aprendiz e a bicicleta começou a apresentar defeitos. Passava dias na oficina para consertos. Os próprios colegas se encarregavam de trazer a bicicleta da oficina. O pa-pai reclamou, mas não deu jeito. Ele dizia:

— Papai nesta rua só tem a minha bicicleta que é peque-na, e eles precisam.

Quando ele estava com 10 anos já não tinha mais bicicle-ta. Ela não resistiu. Eu comprei uma bicicleta grande, verde, para dar de presente de aniversário. Pedi ao José Randal para comprar em Sobral e deixar na loja dele para mandar só no dia do aniversário. Qual não foi a surpresa! E ele ficou muito feliz.

Ainda hoje ele guarda o retrato com a bicicleta.O José não me surpreendeu com estes grandes desafios da

UVA, pois desde criança demonstrava muita inteligência e mui-ta habilidade para lidar com as situações. Sempre esteve cercado de amigos. José é um ser social, humano e muito solidário.

Poderia, finalmente, destacar alguns aspectos de que me recordo e que foram marcantes em sua vida até hoje.

José era uma criança muito alegre e gostava muito de jogar bila ou apostar as castanhas. Sempre vencedor. Era um líder.

Tinha muitos amigos de infância. Lembro-me: Edílson – Nem — Zé Dina, Aquiles, Simão, Erasmo, Petan e Eduardo. E não podemos deixar de lado suas amigas: Eridan Castro, Maria Cândida, Enilda, Rita Rêgo, Ida Aragão, Lenir Vale.

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Por incrível que pareça, ainda hoje quando se encontram é aquela recordação, pois o tempo passou mas a amizade deles continua, e eu admiro muito isso.

Ele sempre aproveitava as oportunidades para brincar, soltar pipa, jogar bila. Brincava com o cachorro chamado Japi. Mas quis que o seu cachorro tivesse sobrenome e o cha-mava de Japi Bertuegua. Ele também gostava muito de jogar bola, dominó...

Seus professores foram: dona Maria Cleonice, sua avó, eu e dona Heloisa Macedo Mesquita. Ele tinha um vínculo de amizade muito grande com seus irmãos.

Nossos pais sempre tiveram cuidado com os nossos estu-dos. Minha mãe teve uma preocupação com a continuidade dos estudos do José porque o colégio Sobralense não era mais internato, e ele precisava estudar. Com o papai ela foi a Sobral e falou com D. José e ele pediu para que ele fosse estudar no Seminário São José. Quando papai e mamãe trouxeram a no-tícia, ele aceitou andar de batina.

O José sempre se comportou muito bem nas férias. A co-munidade passou a acreditar mais que ele seria um padre, de-pois que ele foi pra Roma.

Ele continua com a mesma característica de quando era menino, pois tratava todos como iguais e não tinha preconceito.

A relação dele com Reriutaba continua do mesmo jeito. Sempre teve muito carinho por sua terra. Ele passou oito anos na Europa e escrevia quatro vezes por mês, perguntando por tudo o que acontecia, e sempre pensava em ajudar Reriutaba.

Este era o José! Este é o José.

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José, seu prazer é servir!

Zeneide Soares2 *

Q UANDO O JOSÉ SAIU pra estudar fora, a gente se correspondia toda semana. Assim aconteceu desde sua saída para estudar no seminário de Sobral, de-

pois em Fortaleza e no Recife. Quando ele foi pra Roma, do mesmo jeito. De Roma ele foi estudar em Paris, e a gente con-tinuou no mesmo ritmo, escrevendo toda semana. Em Paris, quando ele foi fazer as especializações na área da política, as minhas tarefas aqui aumentaram. Ele precisava de material de pesquisa e eu tinha que providenciar. Para isto, tive que fazer contatos com importantes autoridades intelectuais e da po-lítica cearense da época: Jader de Carvalho, Parsifal Barroso, Virgilio Távora, Marcelo Linhares e muitos outros.

Ao enviar o material de pesquisa, como a despesa no cor-

* Irmã mais nova, dentista.

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reio era a mesma, aproveitava para mandar feijão, rapadura, castanha e até uns vidrinhos com cachaça e caju dentro. Uma espécie de licor que fazia muito sucesso na França.

De certa forma, eu fazia a ponte entre o José e a famí-lia. Tínhamos, e ainda temos, grande afinidade. Como eu estudava Odontologia, até já o consultava por telefone, ele em Paris, com a orientação de meus professores, como o Dr. Lóscio Botelho.

Mas a tarefa mais difícil foi no período em que o José desistiu de ser padre. Aquele, na época, era o grande sonho de todas as famílias: um filho padre. E o José já estava prestes a ordenar-se. Já havia concluído os cursos de Filosofia e Teolo-gia. Quando chegou a carta dele comunicando sua desistência do sacerdócio, meu pai não gostou, mas dizia que era a mamãe que ia sofrer com aquela decisão. Mas era ele mesmo. Ele leu a carta, mas não quis entendê-la. Pediu-me que fizesse a leitura. Pela sua reação, demonstrava que eu já soubesse da decisão do José e não lhe havia dito. Tive que explicar que, se o José não havia recebido tonsura, ordens menores, subdiaconato e diaconato, era porque não estava decidido a ser padre. Com o tempo, todos se acostumaram com a ideia e até aceitaram bem.

Mais recentemente, a questão de nossa afinidade ficou comprovada com a doação do rim. Ele não me pediu. Ele mesmo não já não acreditava na própria sobrevivência, mas não queria o rim de alguém que já tivesse morrido. Ofereci-me. Os médicos disseram que jamais haviam visto tamanha compatibilidade.

O que me motivou para a doação do rim é que nós éra-mos seis irmãos. Já foram embora três — Messias, Edson e

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Nadir — e só restamos nós três: Iá, José e eu. Já foram pai e mãe, então a gente fica muito só. E daí, o José indo embora, ía-mos ficar só eu e a Iá. Aí eu fiz isso, e graças a Deus, já faz mais de nove anos, está tudo bem, tanto para ele quanto para mim.

A vinculação do José com a família sempre foi muito grande. Aliás, ele tem muita facilidade de estabelecer laços. Desde os seus tempos de escola, aqui em Reriutaba, como aluno de dona Heloísa Mesquita, sempre teve bons amigos. Poderia citar muitos de seus amigos. Mas como o José passou muito tempo estudando fora do estado e do país, criou-se um distanciamento normal entre os amigos. Mas, apesar disto, ele sabe cultivar bem as amizades. Está sempre procurando saber onde estão os seus ex-colegas e, sempre que possível, procura trazê-los para perto dele.

A sua relação com Reriutaba também é algo impressio-nante. Ele não mede esforços para ajudar a nossa terra, acima de quaisquer posições políticas dos eventuais dirigentes. Pou-cas pessoas são capazes de entender a grandiosidade de suas ações em relação a Reriutaba. Há até quem manifeste algum ciúme, como se ele estivesse voltado por algum interesse de ordem pessoal. Ele está muito acima das intrigas.

Sempre que foi possível, encontrou oportunidade de vir a Reriutaba. Está presente através de inúmeras obras aqui re-alizadas. Além disso, há benefícios que não são mensuráveis, como a oportunidade para que muitas pessoas chegassem ao curso superior, estudando aqui mesmo em Reriutaba. Muitos jamais concluiriam a graduação, se os cursos não tivessem che-gado aqui. Há os que reconhecem isto e lhe são gratos.

Esta vocação para ajudar a cidade, certamente, vem de

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nossos antepassados que fundaram este município. Nosso avô, que foi o fundador da cidade, foi o primeiro prefeito. Papai foi prefeito. E o papai foi chefe político ativo. Papai não aguenta-va muita coisa, se tinha um problema errado com o delegado, o papai passava um telegrama, num instante vinha a resposta. Todos temos a política no sangue.

O meu avô veio pra cá pra trabalhar na construção da estrada de ferro. A primeira casa é aquela onde mora hoje a prima Conceição Memória. Não era casa, era um arma-zém, mas depois virou moradia. E quando eles terminaram a obra, alguém disse:

— E agora, como é que vamos botar o nome deste povoado? Aí outro disse:— Ora, já tem uma Cruz, vamos botar Santa Cruz! Foi o primeiro nome. Anos depois trocaram para Reriu-

taba, em homenagem aos índios reriús, que tinham habitado aqui. Mais tarde, quando emancipou-se de Campo Grande, hoje Guaraciaba do Norte, foi consagrado o dia 25 de setem-bro como data oficial, que coincide com a data do aniversário do meu avô.

José, ele mesmo, nunca se havia engajado na política por-que optou pelo estudo e pela educação. Mas nunca se desvin-culou do que aqui acontecia. Procurava informar-se de tudo. Somente agora, depois de desenvolver trabalhos importantes no campo da educação, está dando continuidade através da política, como deputado estadual.

Ele nunca deixou de atender às pessoas de Reriutaba. Sempre que alguém recorre a ele, de alguma forma, ele aten-de. Isso ele já faz há muitos anos. Em Brasília, arranjou muito

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emprego pra reriutabenses; isto ele fazia porque lá havia mui-tas oportunidades.

A vocação pelo serviço ao povo, pode-se dizer, é uma tra-dição de família. Porque nossos pais ajudavam a todo mundo. Nossa mãe, por exemplo, aplicava injeção. Naquela época não tínhamos médico por aqui, e era ela quem prestava os pri-meiros socorros. Havia duas farmácias na cidade. Nossa casa era um local para onde muitos acorriam. Vivíamos de portas abertas. Este espírito permanece, e o José, em toda a sua traje-tória, encarna esta vocação. Quem o conhece sabe disto.

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As melhores lembranças

Conceição Memória3 *

A Infância

T ENHO DO JOSÉ AS MELHORES lembranças. Lem-brar-me dele, em qualquer momento de sua vida e de nossa convivência, é sempre muito agradável. A

gente lembra com muito gosto, com muita alegria, porque o José é uma pessoa com quem a gente gosta de estar, de conver-sar. Isto vem desde os nossos tempos de criança.

Brincamos muito juntos. Eram brincadeiras sadias, bem diferentes das de hoje. Brincavam meninos e meninas. Todos juntos. Ele não era muito de correr, de brincar de esconde-es-conde. Brincávamos mais na calçada da case dele. José nunca foi menino de correr na rua. Ali ficavam o Aquiles, o Toinho, que brigavam muito. O Toinho Furtado, que ainda é muito

*Prima e amiga de infância, reside em Reriutaba.

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amigo do José. O Toinho até chorou quando José saiu daqui.A gente ficava lá na calçada, toda noite. Tudo que ele pen-

sava em fazer, o pai fazia. Primeiro porque tudo era possível. Ele passeava toda tarde num carneiro que era a coisa mais lin-da do mundo. Mas nunca me deixou subir naquele carneiro. E eu tinha vontade, era um carneiro lindo! Não se vê mais um carneiro bonito daquele jeito.

Outra lembrança: ele sempre tinha dinheiro. Desde pe-queno tinha intimidade com o dinheiro. O pai dele dava mui-to dinheiro a ele. Não era muito dinheiro em quantidade, mas eram muitas moedas. Diariamente, quando Agrípio, seu pai, chegava do armazém, trazia-lhe moedas. Eu sempre via por-que quase sempre estava lá para a madrinha Nadir me ensinar alguma coisa, das minhas tarefas. Nós ficávamos deitados na-quela sala ampla e ali o José gostava de contar o dinheiro que ele tinha. Ele tinha três latas de dinheiro, e eu dizia assim:

— Ô José, me dá, me dá só dois cruzados? E ele respondia:— Porque? ora mais! se eu vou te dar dois cruzados!Contar o dinheiro que tinha nas três latas era um dos seus

divertimentos. Ele não gastava. Nem tinha com que gastar. Mas ele jamais contava aquele dinheiro para se mostrar mais rico que os outros.

A EscolaNós éramos muitas crianças, entre meninos e meninas,

mas nunca vi ninguém ter alguma briga com ele. José não brigava. Todos gostavam dele. À noite nós ficávamos brincan-do de uma coisa ou de outra. Ele sempre foi muito querido

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de todos. A Dadá fazia tudo por ele. Por ele ser bom, por ele ser um menino carinhoso. Ele foi crescendo assim. Nunca foi menino de andar fazendo o que não devia.

Ele foi sempre assim. Ia para a escola, fazia as tarefas dele. Era muito estudioso. A dona Heloísa, sua professora, era louca por ele (muitos anos depois ele fez uma homenagem a ela, lá em Sobral). Ela foi uma pessoa que ensinou a muita gente. Os outros meninos que estudaram com ela, todos saíram daqui e se deram muito bem, porque saíram daqui muito preparados.

Mas não era só Dona Heloisa, tinha outras professoras. Tivemos aqui o professor Zé Arteiro, não sei se o José foi alu-no dele. O professor Zé Arteiro, um rapaz de fora, que veio pra cá. Como sempre, as pessoas de fora, aqui, são bem aco-lhidas. O professor Zé Arteiro, muita gente se lembra dele. Foi muito bom.

A ReligiãoEle foi estudar em Sobral e agora eu digo porquê. A famí-

lia toda era muito religiosa. A religião e Deus estavam sempre em primeiro lugar. Eu fui criada vendo assim todo mundo ligado à religião. Talvez ele se lembre, porque eu não esqueço nada não, até hoje. Nós tínhamos um terço pra rezar toda noite na casa da tia Maria Palmira.

Ali, toda noite, nós íamos rezar aquele terço, e era de joe-lhos. Ai, meu Deus!, em pé e de joelho, em pé e de joelho, em pé e de joelho. Eu ia, ficava na porta, e eu ia me encostando, pra me sentar, aí uma vez ele disse que eu tava sentada. Ai! mas eu tive raiva! Ele me entregou! ... Então era o José, eu, Zeneide, a Sofia, todo mundo, diariamente, tinha um terço,

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às 6 horas da tarde. Depois nós saíamos, correndo, brincando. Também era só aquilo mesmo.

Então ele foi ser coroinha na igreja. Era muito religio-so. Ajudava na celebração das missas. Tinha aquela roupinha própria, eles tinham um roquetezinho, uma roupinha especial que vestiam sobre a batina. Logo, ele foi embora. Acho que foi em 52, 53... 54, mais, início de 54. Diminuiu o meu contato com ele. E daí para a frente, só nas férias.

A ida para o seminárioO José foi estudar no seminário de Sobral. Lá ele ficava

durante seis meses. Voltava nas férias de julho e de dezembro. E nas férias era bom, era muito animado... Havia muitos se-minaristas que vinham passar férias aqui em Reriutaba. Era uma festa, era bom demais! Tinha um que tocava sanfona, era muito bom, muito animado, muito alegre. Muitos diziam as-sim: será que este menino vai ser padre, porque naquele tem-po, pra ser padre, tinha que ser muito compenetrado, não é?

Ele era muito alegre. Aquela calçada ali, toda noite, era muito animada. Era boa demais. Nas férias? Ele nunca vinha só. Tinha um menino que vinha pra cá também, que era do Cariré. Outro que era lá de Fortaleza. Vinha o José Teles, do Cariré, era afilhado do José de Sá. As férias do José eram uma maravilha.

Aí ele inventa de ir pra Europa. Eu, pelo menos, não que-ria, mas não podia dizer nada. Se tinha que ser padre, porque não fica aí mesmo, em Sobral? Não era a mesma coisa? Tinha toda a amizade de dom José, que era da mesma família. Ti-nham muita afinidade, toda vida tiveram; com isso, parece

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que ajudou mais. Quando ele foi pro seminário, ele não foi assim, como qualquer outro, já foi àquele parente. E dom José tomou de conta, e cuidou. Eu acho que foi assim, que foi tudo muito bom.

E ficamos aqui todos esperando por este padre. Todos fa-zendo mil planos. Eu tenho uma irmã que falava tanto nesta festa dele de padre. Era a Mariene. Ave-Maria! Era louca pra que este padre chegasse, pra cantar missa. Ela tocava harmô-nio. Tinha um maestro, de Sobral, Zé Wilson Brasil, que vi-nha pra cá, ele ficava nesta sala, aí a Mariene e ele iam conver-sar. Acho que se preparavam para a missa dele.

As férias do José eram uma maravilha. Uma animação. Era tão alegre que tinha gente que dizia: Será que este meni-no do Agrípio vai ser padre? Naquele tempo o povo achava que para ser padre tinha que ser muito sério. Uma coisa que eu sempre admirei nele era que em todas as férias ele nunca deixou de visitar os parentes e amigos. Quando chegava, no dia seguinte, ia à casa de todo mundo. Foi uma coisa que eu nunca esqueci. E quando ia embora, ele tinha uma obrigação de visitar a todos. Saía de manhã, saía de tarde.

Olinda e EuropaMas depois ele foi para Olinda. Mas antes de ir, veio con-

versar com o papai. Papai estava doente. Ele sempre vinha ver o papai. Veio dizer ao papai e pedir a opinião dele. Aí o papai foi dizer para ele o que era bom demais. Disse o que ele de-via conhecer em Olinda, porque o papai estudou em Olinda. Naquele tempo, lá da Guaraciaba, o meu avô botou ele pra

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estudar lá. Ele foi dizer aqueles lugares que ele achava mais bonitos e que o José devia conhecer. Aí, conversaram muito tempo, que aquilo o marcou.

Pra mim, naquela época, Olinda era muito longe, e aí, naquele dia eu senti saudade. Achei ruim. Outra minha irmã chorou quando o papai disse que ele fosse, só lamentava não estar vivo quando ele voltasse, pra ver o sucesso dele. Muito difícil esquecer isto. E na verdade, foi um sucesso. Sempre eu me lembro o que o papai dizia com ele, daí ele ficou muito satisfeito e saiu.

Naquele dia eu achei ruim, José ir pra Olinda; aí, fui até pro aeroporto de Fortaleza com a tia Palmira, a tia Ataíde e o tio Aderson muito feliz, porque ele tava melhorando. Era uma ascensão. Mudar de Reriutaba para Sobral. De Sobral para Fortaleza. De Fortaleza para Olinda. De Olinda para a Europa. Era uma coisa melhor, não era?

Em Olinda ele demorou pouco. Aí, vem a história de ir pra Europa. Não demorou muito em Olinda. Foi aí que eu de novo estava lá, estava no aeroporto com a minha tia Maria Palmira e o tio Aderson e a tia Ataíde. Todo mundo feliz e aconselhando ele. Todos se admiravam da tia Maria. “Eu nun-ca vi gente como a Maria! como é um negócio desse? Ela não chorava. Dizia: Oh, meu filhinho! vá com felicidade. E nem uma lágrima! Ela estava feliz.

E aí, o menino foi danado pra Europa. E nós ficamos esperando o padre. Ficamos esperando esse padre e era muito programa para quando o padre voltasse.

Fulano vai casar quando o Zé chegar, fulana vai casar com fulana. O Zé vai fazer o casamento de fulano. Era tanta gente,

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pra este Zé fazer o casamento!

A surpresa da volta da EuropaUm dia chega a tia Palmira, aqui em casa, e disse: “Eu vim

falar uma coisa pra vocês: eu tô muito feliz e ao mesmo tempo preocupada, porque meu filhinho chega hoje...”

— O quê, quem? o José vem hoje?— Vem... E o José já estava em Fortaleza, vindo da Europa. Era o

tempo da abertura da Igreja. Eu chamo aquilo de abertura, o que a Igreja deu. Era o Concílio. Foi uma mudança da-nada! E lá vem o José. Foi em 1966. Se não me engano, 13 de julho, por aí ... se não for 13, é 14, mas é aí, juntinho, juntinho. Aí, mas não é possível um negócio desse! Ia che-gar no ônibus da Horizonte. E a história se espalhou. E era tanta gente esperando.

Aí, a Zeneide chegou, disse: — Conceição, o José tá vindo no Expresso Horizonte. Eu disse:— Não é mentira, não? é verdade?. Vieram dizer aqui, a

mãe, e eu não tô acreditando. Ah ... eu não tô acreditando... é verdade? E o que que aconteceu, Zeneide?

— Ninguém sabe. Ninguém sabe o que aconteceu, só se sabe que ele vem.

Aí, já tudo tão armado pra esperar este José, a impressão era que vinha quase padre, e ele já noutra. Mas, olha, foi uma ... eu não sei dizer, uma procissão, uma peregrinação, de tanta gente. Desse ônibus, ele deve se lembrar disso, se ele tem boa memória ... chegou umas 7 horas da noite. A casa da tia muito

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clara, parece que botaram muita luz, ficou tudo muito claro, esperando o Zé, mas era gente, era muita gente. Um mestre de linha, novato, que vinha assumir aqui, o Manoel Cosmo, ficou impressionado. Queria saber qual daqueles homens era o que vinha chegar, e quem era. Tanta gente que veio deste ônibus até a casa. Foi uma festa. Aquela festa que se arrumava na hora, sabe? O Zé veio, ninguém sabia de nada. Depois é que contou que não ia mais ser padre. Daí, depois dessa vinda da Europa, lá vai o José voltando de novo. E aí nós ficamos sabendo. Não era o que o Agrípio queria, mas era o que o José queria, e deram todo apoio. Ai, o José voltou para a Europa.

Voltando para ficarAí depois retornou em 70, já foi pra ficar, pra trabalhar,

aí também convivi, fiquei sempre junto dele, em Fortaleza. E coincidiu que ficou trabalhando lá no Limoeiro. Eu morava com a minha tia, a Ataíde, que era minha madrinha, e ele também se hospedava lá. Um lugar em que eu não estive com ele foi no Piauí. Muita gente pensava que eu era irmã dele, não era, porque toda vida a gente esteve assim, foi criado junto.

Eu gosto muito do José, a maneira dele falar, tratar as pes-soas, você, o ser humano. São poucas pessoas, eu vejo, como o Zé. Não que não tenha igual a ele, talvez porque eu não tenha contato com outras pessoas, mas com as que eu tenho, só conheço o José.

Porque, olha, gostar de reunir os amigos, gostar de ajudar, viu? Eu acho que na minha família só ele, só ele. Não estou dizendo que os outros não gostem de ajudar, eu sei que ele tem chance, ele tem oportunidade, mas podia não ajudar. Em

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Brasília, bom, aí ele foi, como falei, pro Piauí, do Piauí foi pra Brasília, aí lá em Brasília, a Zeneide foi fazer um curso em Bauru, aí ele trouxe a Zeneide pra Brasília, pra conhecer, passar uns dias e tal, e nesse negócio de passar uns dias, leva a Zeneide pra lá. E eu como sempre acompanhando. A tia Maria disse:

— A Zeneide está lá. Tu vai. Tá lá minha filhinha sozi-nha... tu vai.

— Pois eu vou. Ai eu fui. Fui pra passar uma semana, passei... sei lá, bem

16 anos. Por aí ... que eu fui, que fui em 74, em janeiro de 74, voltei em 89.

Eu perguntava:— José, cadê fulano? Aquele, rapaz que tu falou... — Ah ... cadê ele?... traz ali minha agenda. Liga pra

fulano, pergunta se me dá notícia de sicrano. O que que está fazendo?

O José é assim. Quer sempre saber onde estão os seus amigos e se puder trazê-los para perto, ele os traz. Já fez isto com muita gente.

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Assim nasceum líder

José Abner Melo Carvalho 4*

R AIMUNDO DA JOANINHA, Chico Pinguim, Matulão, Lóla e Zé Abner éramos alguns dos me-ninos das ruas que margeiam a linha do trem em

Reriutaba nos anos 40. Lá perto da estação do trem, por onde passava a famosa

“Maria Fumaça”, originária da lenha que consumia, onde o rio faz a curva, estava imponente a casa grande de cor amarela e muitas janelas. Era o solar dos Soares.

Personalidade importante, daquela família importante, era um garoto de olhar profundo, compenetrado, educado e com aparência de menino rico; contudo estava sempre que-rendo brincar de bila, papagaios, pião ou jogar bola com bola de meia, como fazia a meninada da rua, porém era contido

* Amigo de infância e contemporâneo no Seminário de Sobral.

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com veemência por dois guardiões de grande porte: Edson e Messias, pois sabiam que seu irmão Teodoro nascera para coisas mais elevadas.

Nossos instintos de criança não permitiam ressentimen-tos, porque sabíamos que a distância entre nós certamente contribuiria para o crescimento moral, espiritual e intelec-tual do Teodoro, que seria no futuro o expoente maior de nossa geração.

Invejado por muitos pais que o tinham como exemplo, o menino crescia sob todos os aspectos, aluno aplicado, bom de tabuada, nas sabatinas nunca saía com as mãos avermelhadas pela palmatória de dona Heloísa. Seu Agrípio e dona Palmira, casal temente a Deus e de muitos bons princípios, antevia o futuro do filho que seria o orgulho daquela cidadezinha ao pé da serra da Ibiapaba, onde o menino Teodoro passava mo-mentos felizes no sítio da família. A obstinação pelos estudos, a determinação, o bom caráter e a fé em Deus, que herdara dos pais, indicavam a trajetória de um cidadão iluminado.

O Seminário São José de Sobral, através de seus compe-tentes professores, plantou no Teodoro a semente que nasceu nele para florescer também nos outros.

A Europa o chamou para garantir-lhe o aprimoramento religioso, intelectual, vivência no primeiro mundo e outras maravilhas, generosamente divididas com os que o cercam.

O seu olhar fixo no horizonte, trilhando por caminhos às vezes difíceis, mas primando pelo bem proceder, Teodoro gal-gou sempre posições nas alturas. A ética, a honestidade, que o berço lhe impôs, dão a Teodoro o grande prazer de ser um líder de ações limpas e dignas. Os ditames cristãos que regem

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os seus costumes privados e públicos o tornam um político que difere de seus pares pelas qualidades morais e humanas que lhe são inerentes. Oxalá o brilho da estrela que o guia ilumine seus caminhos até ao Planalto Central, tão carente de políticos de sua marca. O Brasil agradecerá.

O Teodoro tem inúmeros motivos envaidecedores, pois é um vitorioso em tudo o que faz; porém o maior orgulho de sua vida é de ser mestre, é ser professor, pois como patriota é convencido de que o futuro de seu país depende tão somente de Deus e da educação.

Raimundo da Joaninha, Chico Pinguim, Matulão, Lóla e Zé Abner, a turma das ruas da linha do trem dos anos 40, tem imenso orgulho de ter brincado muitas vezes com o menino Teodoro, hoje nosso líder maior, fazendo faquinha de prego nos trilhos da estrada de ferro da agradecida Reriutaba.

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Reriutaba-Sobral, 1960

Francisco Rocha5 *

E M FEVEREIRO DE 1960, cheguei a Reriutaba como seminarista jesuíta, com o objetivo de tra-balhar como professor nos dois colégios da paró-

quia, Colégio JK e Nossa Senhora das Graças; encontrei tam-bém em Reriutaba o professor Edson, que veio de Fortaleza para lecionar inglês.

Durante minha temporada naquela cidade, acontece-ram fatos políticos desagradáveis. Foi justamente no auge dos acontecimentos políticos que conheci a família de José Teodoro. Dois meses depois da minha chegada, comecei a perceber que pairava no ar reriutabense um clima político

* Ex-professor em Reriutaba, depois colega de seminário. É padre casado.

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horrível, envolvendo o juiz da Comarca, Dr. Cid, e o vigário da paróquia, Pe. Otalício.

O juiz da Comarca, Dr. Cid, com seus capangas, invadiu a casa paroquial, agrediu o Pe. Otalício, o professor Edson e a mim. No momento da agressão, tive a ideia de convocar os paroquianos, através do som da paróquia, para nos ajudar em defesa do pe. Otalício.

Minutos depois, a multidão já se fez presente, em frente à casa do padre. Foi justamente nessa hora que apareceu o pai de José Teodoro, homem corajoso, decidido e cristão.

Pouco tempo depois, tive o prazer de conhecer a famí-lia de Teodoro. Outro objetivo da minha ida a Reriutaba foi realizar um trabalho de pastoral com a juventude. Nesse trabalho, recebi apoio das irmãs de Teodoro, principalmen-te no dia de um encontro de jovens, colocando à minha disposição um local belíssimo, próximo à Bica do Ipu, no município do mesmo nome.

No período que passei em Reriutaba, foram poucos os contatos com Teodoro, isso porque ele já estava no Seminário Regional do Nordeste, em Olinda, Pernambuco.

Em 1961, deixei Reriutaba, voltei para o seminário, não dos jesuítas, mas Regional do Nordeste em Olinda. Lá conta-tei com José Teodoro de uma maneira muito mais profunda e objetiva. Nessa casa de formação religiosa comecei a perceber em Teodoro um respeito enorme pelo ser humano, princi-palmente para com os humildes. Descobri também que para ele “sem Deus não podemos fazer nada”. Uma outra grande preocupação sua era pela educação no Brasil.

Anos depois, em 1962, viajou para a Europa, com o obje-

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tivo de concluir seus estudos. Eu me ordenei padre e Teodoro não se ordenou, mas continuou como um grande educador, persistente em tudo que deseja realizar em prol do povo.

Termino dizendo: tudo que escrevi é fruto de convivência com meu irmão e amigo José Teodoro.

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Os Seminários:

Sobral, Fortaleza,

Olinda e Roma

2.

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A forte influência de minha mãe Maria Palmira e do vigário, bem

como do trabalho que desempenhava como coroinha na igreja matriz, motivaram-me a estudar no Seminário São José de Sobral, onde obtive minha educação básica de 1954 a 1959. Já naquela época, Sobral exercia uma influência muito grande na zona norte. Era, e continua sendo, a metrópole, diria mesmo a “capital” da zona norte. Ao chegar a Sobral, no dia 8 de fevereiro de 1954, fiquei deslumbrado com o tamanho da cidade, com suas belas igrejas, os seus palácios e casarios.”

“ No Seminário São José de Sobral, onde realizei meus estudos

de educação básica (1954/1959), a melhor escola daquela época,

tive ótimos professores, muitos deles formados na Universidade

Gregoriana de Roma. Sendo uma escola de tempo integral, nós

tínhamos em média oito a nove horas de aula por dia. Além do

estudo intenso diário, o seminário primava pela disciplina de

seus alunos. A vida em comunidade, a leitura e a disciplina, sem

dúvida alguma, marcaram todos aqueles que passaram pelo velho

casarão da Betânia, bairro onde se situa o seminário”

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Da Betânia à UVA

François Martins 6*

C ONHECI O TEODORO QUANDO de minha che-gada ao seminário menor de Sobral, em 1957. Ele de Reriutaba, eu de Crateús. Fizemos então muitos

amigos em comum, amizades que mantemos ainda hoje. A convivência comunitária no internato fazia-nos viver

mais tempo com nossos colegas de seminário do que com os nossos próprios irmãos consanguíneos. Com nossos colegas passávamos todo o ano letivo. Com nossos irmãos, só os perí-odos de férias. Éramos meninos felizes e amigos uns dos ou-tros. As animosidades e as intrigas eram para nós desvalores. Aprendíamos com os padres o valor da amizade e da convi-vência fraterna.

Passado o tempo de nossa juventude, hoje nas atividades

* De Crateús, ex-contemporâneo nos Seminários de Sobral e Olinda.

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profissionais, na vida cidadã do dia a dia e nos encontros de ex-alunos do Seminário São José de Sobral, é patente a de-monstração de que aprendemos as lições que os velhos padres nos ensinaram. Pois bem, foi neste ambiente de educação e formação que eu e o Teodoro nos conhecemos.

O sexto ano do Teodoro era uma turma numerosa. Mui-tos deles foram nomeados nossos prefeitos de disciplina. Os prefeitos tinham a função de atribuir notas educativas ao nos-so comportamento. Distintas das notas pedagógicas aplicadas pelos padres mestres e professores leigos. Os prefeitos nos da-vam notas em regulamento, aplicação, urbanidade, asseio e capela. Parece-nos que valiam mais as notas dadas pelos pre-feitos. A nossa conduta correta e o nosso caráter ético eram valores que sobrepujavam a nossa capacidade intelectiva. Era o que nos demonstravam os padres. Daí a importância das notas dos prefeitos. Lembro-me bem quando o Teodoro foi nosso prefeito. Com ele nossas notas eram discutidas no dia a dia. Ele chegava junto. Apontava-nos os erros. Mas também aceitava justificativas. Ser um prefeito justo não era uma tarefa fácil. Eles precisavam ter equilíbrio, capacidade de liderança, comportamento exemplar e competência na observação de comportamentos humanos. Tinham que ter capacidade de fa-zer análises criteriosas e avaliações justas.

Nós éramos mais de uma centena. Vínhamos de muitos lugares e de condições muitas vezes adversas. Procedíamos de quase todas as paróquias da diocese de Sobral, que abrangia, na época, um grande território. Muitos de nós descendíamos de famílias rurais. Éramos um caldeirão cultural de comporta-mentos. Portanto, para ser prefeito de disciplina do seminário

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eram necessárias muitas qualidades nos escolhidos. A leitura das notas fazia-se na presença de toda a comuni-

dade. Era um momento tenso e cheio de expectativas para to-dos. A disciplina era algo muito sério e valioso. Eu me lembro que o Teodoro foi o melhor prefeito que tivemos. Ele não era caridoso nem generoso. Era um prefeito justo. Comandava--nos com liderança. Não nos impunha medos. Pelo contrário, gostávamos dele. Suas atitudes para conosco eram educativas e instrutivas. Foi nessas condições que eu comecei a admirar o Teodoro como pessoa capaz e amiga.

Os anos 60 foram anos difíceis e polêmicos, tempos de muitas mudanças no cenário político, econômico, social e fi-losófico do mundo. Eram tempos ideologizados. Exigiam dos jovens muita ação política e compreensão das concepções so-bre os sistemas sociais vigentes. Era tempo de ler, divergir, argumentar, persuadir e dialogar também. Foi nesta época que nosso grupo de amigos se dissipou. Saímos pelo meio do mundo. Ficamos em Fortaleza, Olinda, Brasília, Recife, Rio de Janeiro e Europa.

Deixamos os seminários. Mas a nossa amizade permane-ceu a mesma. Sempre todos interessados por notícias uns dos outros. Isto fez com que não houvesse uma diáspora entre nós. Este interesse pelas notícias e os encontros de ex-seminaristas da Betânia que aconteceram foram instrumentos muito im-portantes para que não nos perdêssemos uns dos outros. Com o passar do tempo, aos poucos, fomos nos localizando e nos agrupando novamente.

Muitos de nossos colegas lutaram muito para que isto acontecesse. No entanto, o grande incentivador, apoiador e

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o ideólogo do projeto que mais permitiu a nossa aglutinação foi o Teodoro.

Não conheço, até hoje, ninguém que, sendo interessado na questão da educação do País, e tendo sido apresentado ou se aproximado do Teodoro, não tenha recebido convite para ajudar a repensar a interiorização do ensino superior acessível a todos aqueles que queriam, precisavam, mas não podiam.

Foi em torno desta causa que o Teodoro e sua equipe se uniram para pensar e agir, com uma referência desafiante, a partir de uma Universidade encravada no meio do semiárido, a universidade Estadual Vale do Acaraú — UVA.

Quem assim age precisa ser visionário e não ter medo de correr riscos. Virtude própria daqueles que são líderes. O Te-odoro teve esta fé e esta coragem, de apostar no que não via, a utopia, e de não acreditar no que via, as dificuldades.

É disto que é feita a UVA, da garra de seus reitores. Para fincar uma universidade em pleno semiárido nordestino, com poucos recursos humanos e financeiros, era necessária muita determinação, e o Teodoro teve esta virtude e este mérito.

Sua atitude é uma lição de vida e de coragem para todos nós que somos sertanejos e muitas vezes duvidamos de nos-sas possibilidades.

Promover intercâmbio de culturas e de pessoas em busca de efetivas soluções, tomar atitudes práticas e bem sucedidas é tarefa difícil.

Intercambiar relações humanas, influenciar vontades po-líticas em busca de políticas públicas justas, só faz quem é ca-paz de estimular pessoas para pensar e agir de maneira criativa. O Teodoro fez isto, com maestria, como reitor da UVA.

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Assim que cheguei a Sobral, recordo-me que fiz algumas viagens com o Teodoro e a professora Norma, entre Forta-leza e Sobral.

Durante a viagem, a maior preocupação dele era avisar as pessoas que ia haver reunião. Quando conseguia falar com al-guém, ele pedia para ligar para fulano de tal e tal. Ele provoca-va um jogo cruzado de telefonemas entre a equipe, de maneira que as reuniões eram feitas com muita gente e tinham um ar de encontro entre pessoas. Saber trabalhar com sua equipe de maneira coletiva foi a grande sacada de Teodoro.

Ele fez um “meio campo” unindo pessoas, instituições, poderes públicos e acabou provocando uma ação civilizatória que resultou na consolidação de um sonho da população de uma região: ter a sua própria universidade.

Ter percepção fácil, compreensão dos relacionamentos humanos e crença no diálogo e decisões coletivas de pessoas comprometidas com causas foram os fatores que permitiram ao Teodoro formar uma equipe de trabalho que acredita que ele não é um líder falastrão e infalível, dono da verdade e das consciências. E por isto mesmo foi capaz de unir pessoas em torno da causa da educação. O Teodoro, quando reitor, sem-pre teve consciência de que o produto de seu trabalho e de sua equipe era educar o homem.

Hoje o Teodoro é deputado estadual pelo estado do Ce-ará. Faz parte de um grupo de parlamentares brasileiros de-nominados de educacionistas, que defendem a tese de que a educação é mais importante do que a economia. E lá está o Teodoro no parlamento, batendo na mesma tecla, educação, educação e educação. “Tudo é uma questão de educação”, seu

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slogan de campanha. Por estas razões, acredito que a história da educação no Brasil vai reconhecer o Teodoro como um dos grandes educadores do país.

Teodoro, muito obrigado por me convidar para participar com você deste projeto que muda a vida. Você contribuiu de muitas maneiras para a minha vida, e lhe serei sempre profun-damente grato, e os meus também, por isto.

Um abraço grande e fraterno do amigo.

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Um depoimento de irmão na fé

Vicente Torres Mourão 7*

C ONHECI TEODORO NO SEMINÁRIO São José, na Betânia, onde hoje funciona a reitoria da Universida-de Estadual Vale do Acaraú.

Teodoro vestiu batina no dia 8 de fevereiro de 1954 e eu, só um ano depois. Nasci na zona rural do município de Nova Russas, no Ceará, e ele, na cidade de Reriutaba, terra natal do então reitor do seminário e apóstolo dos sertanejos pernambucanos padre Francisco Austregésilo de Mesquita, o dom Francisco dos pernambucanos. Descende ele de uma fa-mília abastada, de grandes extensões de terra no sertão, no carrasco e até no Planalto da Ibiapaba. Teodoro, para custear seus estudos, não recorreu à Obra da Vocações Sacerdotais.

Fomos educados num ambiente de muita disciplina, não

* De Ararendá, é padre casado, ex-colega nos seminários de Sobral e Olinda.

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nos falávamos, nem na hora do recreio, pois Teodoro perten-cia à turma dos maiores e eu à dos menores. Não havia comu-nicação entre as turmas, a não ser em raras ocasiões. Dormía-mos de camisola e, ao despertar por uma sineta, rezávamos o Te Deum em voz alta, e em latim. Durante os seis anos de se-minário menor, usávamos batina, meia e sapatos pretos, num clima de 40 graus centigrados. Praticávamos esportes com um calção abaixo do joelho. Assistíamos diariamente à missa em latim, celebrada de costas para nós.

Rezávamos todas as orações em latim. Uma das primeiras tarefas, após vestir a batina, era aprender as orações em latim. O Pai Nosso e a Ave Maria eram rezados em latim. Fazía-mos meditações todos os dias. Durante as refeições, era lido o “Martirologium Romanum”, que narrava histórias de vida dos santos, algumas bem fantasiosas. A capela era consagrada ao “Preciosíssimo Sangue”, que nos ensinava que Jesus havia dado seu sangue pelos pecadores.

Embora não houvesse as torturas com cilício, a espiritua-lidade era baseada numa concepção de pecado e de culpa. Os pecados eram classificados em original, mortal e venial, sendo que os mortais eram aqueles que os teólogos achavam que eram grandes ofensas a Deus, e os veniais podiam ser expiados num lugar chamado purgatório. Era-nos ensinado que no inferno havia fogo que ardia. Fazíamos também grande controle sobre nossos pensamentos, principalmente sobre os devaneios sexuais. A mulher era considerada a grande inimiga de nossa vocação. Era comparada à serpente do Paraíso. Namorar uma prima nas férias era causa de expulsão do seminário. As cartas de nossos familiares eram primeiramente lidas pelos superiores.

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De volta das férias, para ser readmitido no seminário, ha-via a obrigação de apresentar uma carta do vigário que atesta-va não terem sido cometidas infrações graves, como andar sem batina ou ter deixado de assistir à missa diariamente.

O bispo era dom José Tupinambá da Frota, que parecia ser mais um príncipe da Igreja do que um sucessor apostóli-co de pescadores do Mar da Galiléia. Grande empreendedor, construiu colégios, hospitais, com recursos próprios e dos fi-éis. Morava num palácio e até para ir celebrar missa pontifi-cal ia de automóvel para a catedral. Entrava solenemente na catedral, enquanto cantávamos o “Ecce Sacerdos”, canto que proclamava ser o bispo descendente da ordem de Melquise-dec, um certo sumo sacerdote do Antigo Testamento. Vive-mos os últimos anos de seu episcopado. Já muito debilitado, passou praticamente o comando da diocese para o padre José Palhano de Saboya, seu secretário particular. Este enveredou pela política, tornou-se prefeito de Sobral, deputado federal, cassado pela ditadura militar, por causa de suas ligações com o governo João Goulart.

Palhano era opositor ferrenho das oligarquias sobralenses, representadas pelo deputado federal Chico Monte, cujo genro era o futuro governador Parsifal Barroso. Palhano foi aliado político de Virgílio Távora, no momento apenas um jovem coronel do Exército que ainda não fazia parte da tríade de co-ronéis que tanto atrasou o desenvolvimento do Ceará. Quan-do um candidato a presidente da república visitava Sobral, os seminaristas iam recebê-lo no campo de aviação da Betânia.

Aconteceu quando da visita de Ademar de Barros, aquele que roubava, mas fazia. O próprio Plínio Salgado visitou, em

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campanha, o seminário, e usando seu livro “Vida de Jesus”, defendeu suas ideias integralistas.

Quando passávamos férias no seminário da Meruoca, o vigário local, padre José Furtado, em conversa, defendia o in-tegralismo como forma de governo mais condizente com o catolicismo.

Aliás, vestir camisa verde foi uma grande tentação do cle-ro cearense na primeira metade do século XX, já não muito em moda em nosso tempo de seminário. Foi neste ambiente que nasceu em Teodoro sua vocação política, chamada pelo reformador Calvino de bendita. Hoje Teodoro é um dos mais atuantes parlamentares do Ceará. Em 2007 foi o deputado que mais fez discursos na Assembleia, quase sempre em defesa dos educadores do seu estado. Embora seu partido defenda a educação para o mercado, Teodoro defende como educador e político a educação para todos. Ao criar na UVA licenciatura de curta duração para os professores leigos, ao instalar cam-pus avançados em pequenos municípios, deu oportunidade aos filhos e filhas do povo de receberem o diploma de nível superior, que possibilita a educação continuada.

Teodoro reza todos os dias o terço de Nossa Senhora. Como a prática de uma devoção bélica, de origem islâmica, adaptada por São Domingos para combater os “hereges”, in-fluenciou as nossas vidas do seminário a ponto de continuar como prática até hoje?

No seminário era ensinada a devoção a Nossa Senhora, misto de mãe de Deus e deusa pagã, muito diferente da Maria do Magnificat, que abate os poderosos e eleva os humildes, muito pouco parecida com a jovem da galileia, solidária com

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os noivos de Caná. De quinze em quinze dias, todos nós, em fila indiana, visitávamos uma igreja de Sobral que possuísse uma imagem da Virgem. Ora era a igreja do Menino Deus, ora a igreja do Patrocínio, ora a catedral. Diante da imagem da Mãe de Deus, rezava-se uma dezena do terço e se cantava o hino “Dai-nos a bênção”.

Nossa vida era preenchida pela oração, pelo estudo e pela prática de esportes. Ao contrário da regra de São Bento – Ora et labora, não fazíamos trabalho manual. Não era permitido varrer as dependências do seminário, nem cozinhar, nem plantar ou regar jardins. Afinal de contas, éramos prepara-dos para pertencer a uma fração de classe social — o clero — com muitos privilégios, onde o trabalho intelectual era o único digno. Daí porque o exercício conjunto do sacerdócio e professorado seria o mais condizente com o pertencimen-to ao status de clero.

Nossos professores eram os melhores do Ceará. Alguns deles fizeram cursos com Lauro de Oliveira Lima, que na época desenvolvia um método muito parecido com o cons-trutivismo. Podemos citar o padre Austregésilo, professor de português e matemática, padre Gerardo Ferreira Gomes, pro-fessor de latim, padre Osvaldo Chaves, professor de literatura e de latim no quinto e sexto anos, padre Moésio, professor de francês, padre Lira, professor de história, padre Marconi Montezuma, professor de geografia, padre Edson, professor de latim, padre Sadoc, professor de latim, padre Luizito, pro-fessor de física e química, padre José Linhares, prefeito do se-minário e professor de boas maneiras, e padre Edmílson Cruz, professor de português.

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Foi o padre Albani Linhares quem nos introduziu no es-tudo da Bíblia. Os estudos eram predominantemente volta-dos para as letras clássicas. Fazíamos o curso clássico. Tradu-zimos as Fábulas de Isopo, as Catilinárias de Cícero e até as obras de Virgílio e Ovídio. Quase nada estudávamos de Física e Química. O seminarista que estudasse muito matemática poderia ter crise vocacional, e em vez de padre, se tornar fun-cionário do Banco do Brasil, um dos mais cobiçados empre-gos da região.

Na biblioteca havia livros de literatura nacional e inter-nacional. Líamos tanto as obras de Machado de Assis quanto as obras de escritores russos anteriores à Revolução de 1917. Como é óbvio, não líamos as obras inscritas no index proibi-torum da Igreja Católica, como, por exemplo, o “Conde de Monte Cristo”. Havia também as obras de ficção científica de Júlio Verne.

Em nosso tempo de seminário não tínhamos conheci-mento de homossexualismo nem de padres pedófilos. Recru-tados que fomos numa sociedade machista, onde homem é homem, mulher é mulher, não havia lugar para outro gênero. Alguns poucos padres que não aguentaram a lei do celibato e se juntaram a uma mulher foram excomungados e deviam ser evitados pelos fiéis. Lembro-me de um vigário que fugiu com a esposa de seu irmão para a cidade de Feira de Santana. Lá passou muitas necessidades, foi abandonado pela mulher e acolhido por um monsenhor do clero local, que conseguiu au-las para ele num colégio municipal. Excomungado não podia dar aula em estabelecimentos católicos, e por algum tempo este monsenhor forneceu o que hoje chamamos de cesta bá-

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sica. Não consta que D. José, devido à sua grandeza de alma, tenha publicado no Correio da Semana a bula papal de exco-munhão. A tradicional e católica família da qual era membro o padre fujão, teve sérias dificuldades em conviver com este fato doloroso. Sua irmã, entretanto não o abandonou jamais.

Este fato não nos chocou tanto quanto o assassinato de dom Expedito Lopes, por um padre da sua diocese de Ga-ranhuns, Pernambuco. D. Expedito era filho de Sobral, des-cendia de uma família humilde. Estudou na Universidade Gregoriana de Roma e era doutor em Direito Canônico. Ao participar do congresso comemorativo das bodas sacerdo-tais de D. José, em 1955, se hospedou na humilde Casa dos Oblatos, fundada pelo Padre Arnóbio. Não vestia batina com frisos vermelhos, como era costume de todos os bispos. Na época, em Sobral não havia televisão, mas já existiam o jornal Correio da Semana, a Rádio Educadora do Nordeste, funda-da por monsenhor Sabino Loiola para transmitir as Escolas Radiofônicas, e a Rádio Iracema de Sobral, a mais antiga. Foi através das ondas das rádios Clube e Jornal do Comércio de Recife que tomamos conhecimento deste triste fato. O que mais nos impressionou foi a oração de perdão ao assassino e as suas últimas palavras tiradas da Carta do apóstolo Paulo. “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé”, ditas em latim.

Em 1959, Teodoro terminou o sexto ano; em 1960 foi para o seminário da Prainha, em Fortaleza. Em 1962, por apenas um semestre, voltamos a nos encontrar no Seminário Regional do Nordeste, em Olinda. No segundo semestre da-quele ano, Teodoro foi para Roma estudar na Universidade

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Gregoriana. Para lá iam aqueles seminaristas que se prepa-ravam para ocupar cargos de destaque na igreja do Brasil. Melhor preparados intelectualmente, com conhecimento da Igreja de Roma e das diretrizes de governo da Cúria, adqui-riam condições de implantar no Brasil um modelo de igre-ja romanizado. Isto só não aconteceu devido à realização do Concilio Vaticano II, que deu a estes seminaristas o privilé-gio de serem espectadores do maior acontecimento da Igreja Católica Romana do século XX. Muitos, inclusive Teodoro, mudaram o rumo de suas vidas. Teodoro, em vez de voltar para sua diocese e exercer as funções sacerdotais em Sobral, preparando-se para o episcopado, foi estudar Ciências Sociais na Universidade de Sorbonne em Paris.

Foi em Roma que Teodoro conheceu o padre Ratzinger, então professor da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, um padre muito ligado as idéias de renovação do Concilio. Foi até perito conciliar, e na época não dava sinais de se tornar o terrível Cardeal, praticante dos métodos da inquisição em pleno século XX e o ultraconservador papa Bento XVI.

No Seminário Regional do Nordeste, em Olinda, Teodo-ro passou um ano e meio. O Seminário Regional do Nordeste funcionou no antigo prédio do Colégio dos Jesuítas, doado à igreja após a expulsão dos mesmos por Pombal. Foi o berço tradicional de ensino libertário e de adesão às ideias do ilumi-nismo. Para se ter uma ideia, no ano seguinte à revolução de 1824, o seminário não funcionou, pois padres e seminaristas estavam presos ou foragidos.

Foi em 1961 que padres oriundos do Colégio Pio Brasi-leiro, em Roma, sob as bênçãos de dom Carlos Coelho, arce-

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bispo de Olinda e Recife, e com o patrocínio de dom Hélder Câmara, fundaram esta instituição que abrigou seminaristas do Norte e Nordeste do País. No Nordeste se respirava clima de revolução. Os camponeses, em sua quase totalidade fieis católicos, davam os primeiros passos para se tornar sujeitos da história, organizavam-se em ligas camponesas e sindicatos, ora apoiados por padres, ora por militantes do Partido Comunis-ta Brasileiro. Miguel Arrais de Alencar se tornou prefeito do Recife e em seguida governador de Pernambuco. A ideia ori-ginal era fundar um seminário que formasse padres para essa nova realidade. No Seminário Regional do Nordeste, Teodoro foi aluno do teatrólogo Ariano Suassuna, da educadora Anita Paes Barreto, então secretária de Educação do governo Miguel Arraes, do professor Vamireth Chacon, do filosofo Newton Sucupira, do psicanalista Zeferino Rocha Vaz, do padre Alme-ri Bezerra. Seu diretor espiritual foi o padre Arnaldo Cabral, responsável pela formação do clero pernambucano.

Deste tempo, lembro-me de dois fatos que envolveram Teodoro. No seminário foi encenada uma peça sobre a vida de Sócrates, com a direção do colega e diretor de teatro Benja-mim Santos. Teodoro era o personagem principal. A peça era respeitosa à memória do filósofo da Maiêutica, mas em certos momentos provocou risos na plateia, o que levou a um pro-testo público do então professor da História da Filosofia, pa-dre Zeferino Rocha Vaz. O outro fato foi que, precisando de dólares para sua viagem a Roma, Teodoro me chamou para ir ao bairro de prostituição do Recife e na boite Chantecler com-prar das vítimas da prostituição os dólares que elas recebiam das noitadas com os marinheiros. Apesar de toda abertura do

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seminário, isto não era aconselhado. Marcou muito a Teodoro e a mim termos convivido com

colegas que ingressaram adultos no seminário, oriundos dos movimentos de Ação Católica. Eram pessoas que no mundo deram testemunho da fé e sabiam aliar cristianismo e política. Lembro-me do antropólogo Roberto Mota, do economista Romeu Padilha, do comunicólogo Araquém Tabajara e do ba-charel em direito Roldão Joaquim dos Santos.

Teodoro e eu fomos contemporâneos de um mártir da fé, o padre Henrique Pereira Neto, morto pela polícia em 1969, porque esta não podia fazer o mesmo com dom Hélder Câma-ra. Quem sabe se, com esta onda de canonização que invade a Igreja Católica Romana, não poderemos dizer no futuro que convivemos com um santo; basta que ele faça pelo menos um milagre e tenha um patrono influente na hierarquia.

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Teodoro, um homem de fé

Antonio Fernandes Vieira8 *

E U VINHA DA SERRA DA MERUOCA. Ele do pé da Serra Grande, Reriutaba, que naquele tempo ainda era mais conhecida como Santa Cruz. Dois

meninos de origens bem diferentes. Ele urbano, filho e neto de políticos abastados. Eu vinha da zona rural, da labuta com a agricultura. De pontos diferentes saímos para um encontro no Seminário São José de Sobral. Éramos 23 que chegávamos com a intenção de ser padres. Tudo, para nós, era novidade, menos a missa a que estávamos acostumados a assistir em nossas paróquias e que, certamente, nos despertou para aque-le caminho.

Tudo, para nós, parecia grande demais: salas, corredores,

* De Meruoca, ex-colega de turma em Sobral, Fortaleza e Olinda

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capela, refeitório, dormitórios. Éramos muitos, vindos das di-versas paróquias da diocese de Sobral.

O desejo de todos era descobrir sua vocação, ser padre em primeiro lugar. Para isso era fundamental a fé em Deus, oração, missa diária, estudo, disciplina etc.

Quando nos preparávamos para vir para o seminário, um par de chuteiras estava incluído no rol de coisas que faziam parte do enxoval. Para quem jogava uma vez na vida, a pos-sibilidade de jogar todos os dias era um sonho. Para quem vinha de um sítio, jogar num campo de futebol de verdade era demais. E jogávamos muito felizmente.

Desde cedo o Teodoro despertava a nossa atenção, por ser comunicativo, alegre, atencioso. Gostava de rezar bem mais do que os outros. Como fazíamos, coletivamente, muitos deslocamentos internos, em fila, ele aproveitava o tempo da caminhada para rezar. Enquanto estávamos na fila, a cami-nho da capela ou do refeitório, todos tínhamos que andar de braços cruzados. E lá estava o Teodoro com o terço na mão. Não perdia tempo.

Teodoro se dedicava intensamente a tudo que lhe cabia fazer. Na capela rezava, no salão de estudo debruçava-se sobre os livros, na sala de aula anotava tudo, no campo de futebol exercia a defesa ferrenha. Todos o temiam, por ser bem forte e maior que a maioria. Não era um aluno brilhante, apegado às notas, mas desincumbia-se bem de todas as suas tarefas.

Pelo seu comportamento cordial, sempre era nomeado “prefeito” da divisão dos menores. O prefeito era encarregado de cuidar de uma parte dos alunos. Havia a divisão dos maio-res e a divisão dos menores. Também exerci esta função várias

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vezes. Cabia-nos, inclusive, atribuir notas de comportamento aos alunos sob a nossa responsabilidade.

Teodoro sempre se destacava pela generosidade. Jamais perseguia. Sempre estava disposto a compreender as eventuais fraquezas dos seminaristas menores. Tornou-se amigo de todos.

No seminário de Sobral, por ocasião das visitas, aos do-mingos, alguns alunos recebiam merendas especiais, trazidas por seus familiares. Teodoro era um deles. Tinha até um “se-cretário” para guardar os queijos e doces que lhe chegavam. Como o “secretário” não era uma pessoa abastada, ninguém desconfiava de que possuísse merenda. Mas o Teodoro sabia repartir com os colegas.

Mesmo sem ser beneficiário dos recursos da Obra das Vocações Sacerdotais, não media esforços em participar das campanhas para arrecadação de donativos, através da reali-zação de leilões. O dinheiro arrecadado servia para ajudar os alunos mais pobres.

Agora deputado, não perde oportunidade de fortalecer os laços com ex-colegas, e especialmente com a Igreja, berço de nossa formação humana e cristã.

Esta generosidade o acompanha até hoje. Anda sempre procurando saber onde e como estão os ex-colegas. Faz tudo para trazê-los para perto dele. Assim fez como reitor da Uni-versidade Regional do Cariri — Urca. Na UVA — Universi-dade Estadual Vale do Acaraú — cercou-se de ex-seminaristas. Sua intenção sempre foi ajudar, seja criando oportunidade de trabalho, seja abrindo perspectivas para projeção profissional.

Na UVA, por exemplo, estive por alguns anos, atenden-do a seu convite. E lá exerci a função de prefeito do campus

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da Betânia. Vários outros ex-seminaristas foram convidados. Outra demonstração de sua ligação com os ex-colegas foi o apoio que sempre deu à realização dos encontros dos beta-nistas. Oportunidades de rever o prédio da Betânia, que nos acolheu em momentos importantes de nossas vidas e que hoje é a sede da UVA.

O Teodoro é assim. Um cidadão que nasceu para grandes projetos, sem perder a simplicidade e sem esquecer os que es-tiveram com ele nos primeiros momentos de sua caminhada. Nesta revolução que tem feito na criação de oportunidades para formação de professores, não esquece velhos colegas. Ge-ralmente, nos lugares pelo país afora, onde a UVA está presen-te, há sempre um ex-colega de seminário.

Está sempre à procura de desenvolver projetos de apoio às ações da Igreja. Há quem o denomine de bispo auxiliar da diocese de Sobral, tamanha tem sido a sua atividade.

Sinto-me orgulhoso de seu sucesso. Muito ainda fará pelo Ceará e pelo Brasil.

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José Teodoro, arauto da educação

Alarico Antônio Frota Mont’Alverne 9*

D AS LEMBRANÇAS QUE GUARDAMOS na me-mória, algumas são esmaecidas com o tempo; outras, no entanto, permanecem indeléveis, pois

se afiguram como pedras angulares de relevante importância no embasamento da construção de nossa história de vida e de nossa formação moral e intelectual. O presente é o refle-xo do passado, e o futuro é uma projeção da interação destas duas fases.

De minha juventude, vivida intensa e prazerosamente em nossa querida Sobral, guardo, com orgulho, com carinho e com respeito os seis anos passados no seminário da Betânia, entre fevereiro de 1954 e dezembro de 1959, onde adquiri

* Sobralense, colega de turma do Teodoro.

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conhecimentos em diferentes áreas, aprofundei o hábito pelos estudos, pela pesquisa e, principalmente pela leitura, veícu-los fundamentais e imprescindíveis para a abertura de novos e diversificados horizontes, nos vários campos de atividades humanas. Ali aprendi a conviver em comunidade, respeitan-do e aceitando o outro, nossa imagem e semelhança, com as suas peculiaridades e individualidades, com as suas virtudes e os seus defeitos, admitindo que o espírito prevalece sobre a matéria e que os valores humanos nunca devem sobrepujar os valores espirituais; aprendi, ainda, que a disciplina e o res-peito à hierarquia são os princípios que norteiam e vivificam as diversas instituições, e que a prática democrática é o único caminho capaz de promover a convivência harmônica e res-peitosa da sociedade.

O Seminário São José de Sobral, como “escola de forma-ção de líderes”, foi o celeiro inesgotável e forjador de cida-dãos dignos, de profissionais competentes nos vários setores de atividades, de bispos e padres verdadeiros continuadores da missão evangelizadora de Cristo. Dom José Tupinambá da Frota foi o grande artífice desta majestosa, poderosa e liber-tadora obra que tanto bem tem proporcionado à região norte do estado do Ceará.

O convívio fraterno no seminário da Betânia criou e for-taleceu amizades indestrutíveis, as quais prezo e cultivo com todo o carinho e desvelo, apesar de o destino nos haver, na grande maioria dos casos, dispersado por vários rincões des-ta vasta e majestosa nação. Dentre os demais contemporâne-os, merece destaque especial o colega de turma José Teodoro Soares, egresso de Reriutaba, e que, como tantos outros, mi-

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graram para Sobral, epicentro cultural e econômico do norte cearense, em busca de uma formação humanística, especifica-mente direcionada para o sacerdócio, o que, de modo geral, era o sonho acalentado pelas tradicionais famílias da região — ter um filho padre.

Muitas afinidades nos aproximaram bastante, como o pa-rentesco familiar, o profundo sentimento religioso de nossas famílias, o gosto pelos estudos. Destacavam-se em sua perso-nalidade o fácil poder de comunicação e de convencimento, a sempre pronta e solícita disposição em servir, o jeito alegre e descontraído de encarar a vida, a determinação na busca e consecução dos objetivos pretendidos e colimados e a liderança inata que espargia confiança e incentivo a todos os seus pares.

Outra vertente estruturadora desta amizade foi a nossa casa em Sobral, localizada na então Praça João Pessoa, 377, de portas abertas a receber amigos, parentes e agregados. Família numerosa, onze irmãos, que tínhamos em nossa querida mãe, Maria Yêdda Frota Mont’Alverne, educadora por excelência, o esteio de nossa formação humana, cívico-patriótica, inte-lectual e religiosa. O seu rigor na educação doméstica e a exi-gência para com o progresso nos estudos eram compensados pela receptividade e pela satisfação em receber os colegas de seus queridos filhos seminaristas. Por estar localizada próxima à estação ferroviária, onde desembarcavam os seminaristas ad-vindos das cidades situadas nas linhas férreas Sobral-Crateús e Sobral-Camocim, era a nossa residência ponto de parada para muitos dos que chegavam ou saíam em férias. As gran-des malas de madeira eram transportadas em carroças puxadas por burricos, conduzidas de maneira zelosa e organizada pelo

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carreteiro nº 7, o “Estação”, como era conhecido. Dalí os se-minaristas seguiam para a Betânia ou para pegar o trem, após animadas conversas, enriquecidas pela presença de minhas ir-mãs, primas e parentes próximos, sempre regadas a guloseimas e o tradicional cafezinho.

Desde que a casa é o retrato fiel de uma família, segundo estudos sociológicos, sua rotina e seus hábitos, seus diversos cômodos, sua organização espacial, suas portas abertas ou fe-chadas, revelam por si só o perfil dos que nela habitam, egoís-tas ou generosos, introspectivos ou expansivos, participativos ou individualistas. Sem ela o homem seria um ser disperso. A casa, pois, é a expressão mais acabada das relações sociais.

José Teodoro, sempre muito dedicado aos estudos e ao aprofundamento do conhecimento científico, buscou, tam-bém, em outras plagas, na Europa, o aprimoramento do saber adquirido e amealhado nos seminários da Betânia, da Prainha em Fortaleza e no Regional do Nordeste em Olinda, sempre direcionado à educação, condição indispensável para a liber-tação do povo cearense, principalmente o interiorano, dos grilhões do subdesenvolvimento e da miséria, o que adotou como paradigma de suas ações.

O dinamismo de José Teodoro, fato conhecido por todos, associado à liderança inconteste e à dedicação total ao traba-lho, tornaram-no um dos “Arautos da Educação” no estado do Ceará, principalmente. A prova inequívoca de tudo isto se concretizou no excelente e profícuo trabalho realizado como reitor nas universidades estaduais do Cariri e do Vale do Aca-raú, promovendo, nesta última, a sua expansão extramuros sobralenses. E atualmente como deputado estadual, cargo que

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vem desempenhando com desenvoltura e brilhantismo, para gáudio de todos nós, tem como apanágio a educação em seus vários e diversos setores, aspectos e nuances.

Por tudo isto é que a figura ímpar de José Teodoro merece de todos nós a devida reverência, o respeito e o reconhecimen-to por tudo o que tem feito em benefício da coletividade, e mais precisamente do povo cearense, o que muito me orgulha e envaidece como seu amigo e colega de bancos escolares.

Parabéns, caro amigo! Que siga em frente com o denodo e a galhardia que lhe são peculiares, na benemérita missão de promover a educação em nosso país.

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Teodoro Soares e

os betanistasFrancisco José Aguiar Moura10*

N OS PRIMEIROS ANOS da década de 1960, no Se-minário São José de Sobral, já não tínhamos mais a companhia de José Teodoro Soares. Cursava o

seminário maior. No entanto, algumas vezes tivemos oportu-nidade de vê-lo nos corredores da Betânia, em álacres rodas, sempre com aquele sorriso peculiar estampado no rosto, dis-tribuindo-o gratuitamente a quem encontrava pelo caminho. Talvez já estivesse em gestões junto à diocese para seguir em direção a Roma, onde passaria a estudar.

Pós seminário, exerceu várias e importantes atividades na área da educação, fazendo retomar mais forte nosso convívio

* Seminarista de 1962 a 1967 em Sobral e Fortaleza (Prainha), é o organizador dos

encontros dos betanistas.

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ao assumir a reitoria da Universidade Vale do Acaraú. Foi aí que conhecemos de perto o homem dinâmico, inquieto, a produzir os frutos da sua privilegiada e fértil imaginação. Capacidade ímpar de trabalho e de delegação de poderes, mostrou sua gratidão ao passado ao convocar para junto de si, na árdua tarefa, precisamente os colegas dos bons tempos de seminário.

Surgiu, então, o movimento do Encontro de Betanistas em 30 de maio de 1987, por ocasião do lançamento do li-vro “Exíguas”, do nosso mestre maior Pe. Osvaldo Carneiro Chaves, que tinha por objetivo promover o reencontro dos ex-alunos do Seminário São José de Sobral, já saudosos dos velhos tempos. Por feliz coincidência, Teodoro, um betanista, era reitor da UVA de Sobral, que exatamente ocupava o espa-ço do antigo seminário. Nascia aí um grande incentivador e promotor desses eventos.

Dos 15 encontros realizados, num espaço de 21 anos, sete o foram em Sobral, por convocação e patrocínio do Teodoro, destacando-se encontros em comemoração aos 70 anos do Pe. Osvaldo; 30 anos da UVA; jubileu de ouro sacerdotal de dom Austregésilo Mesquita, ex-reitor, padres Osvaldo e Lira, ex--professores, e Tarcísio, pároco de Ubajara; 80 anos do Pe. Osvaldo; 100 anos da ordenação de dom José, 90 anos da diocese de Sobral, 80 anos do seminário.

Deixando a UVA e seguindo a carreira política, bem elei-to que foi deputado estadual, aonde sua liderança natural-mente o levaria, continuou prestigiando os colegas betanis-tas, seja comparecendo a todos os encontros realizados, seja disponibilizando seu gabinete na Assembleia para quaisquer

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assuntos de interesse da classe, na educação, cultura, religião, meio ambiente, onde podem ser realizados debates, audiên-cias públicas e utilizados os demais meios de que dispõe um mandato parlamentar.

Ao hoje deputado Teodoro, betanista de escol, o nosso reconhecimento pelo muito que fez e continua fazendo pelos ex-colegas do Seminário São José de Sobral, o querido semi-nário da Betânia.

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O Seminário maior:

Fortaleza, Olinda e Roma

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Quando alguém termina o ensino fundamental e médio, ou melhor,

quando se muda do seminário menor (educação básica) para o seminário maior, há um salto de qualidade. O ensino superior muda a cabeça do jovem universitário. Seu horizonte passa a ser bem mais largo, mais aberto. Isso acontece quando você começa estudando filosofia, que é o caso do seminário da Prainha, onde ingressei em fevereiro de 1960 no 1° ano. Foi um ano de transição, para mim e do próprio seminário da Prainha, que passou por uma crise. Mesmo assim, foi para mim um momento positivo, quando fiz novas amizades conheci colegas de todas as dioceses do Ceará. Além de ter vivido um ano nesta maravilhosa Fortaleza”.

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“ Em 1961 um grupo de 24 seminaristas do seminário maior

da Prainha deixou Fortaleza e ingressou no recém-criado

Seminário Regional de Olinda e Recife, que abrigava alunos

de todo o Nordeste.

Seminário moderno e com novas perspectivas de formação

intelectual e bem mais adequado à nova realidade do mundo. A

maioria de seus professores estudou em Roma, na Universidade

Gregoriana. Entre eles, podemos destacar Pe. Marcelo

Carvalheira, posteriormente sagrado bispo, Pe. Luiz Senna, Pe.

Almeri, Pe. Zildo, Pe. Zeferino, Pe. Luis Carlos, além de alguns

leigos de renome nacional que foram nossos professores:

Newton Sucupira, Vamireh Chacon e Ariano Suassuna.

Naqueles primeiros anos da década de 60, Recife vivia uma

grande efervescência cultural e política. O trabalho da igreja

era muito presente. A ação da juventude católica se fazia

presente por intermédio da JUC (Juventude Universitária

Católica), posteriormente da Ação Popular (AP), bem como

da Juventude Agrária Católica (JAC), sem falar das Ligas

Camponesas, de Francisco Julião, que agitavam a vida

cotidiana de Recife e Olinda.

Naquela oportunidade, Miguel Arraes iniciara o trabalho

que o projetou durante décadas em todo o Nordeste brasileiro”.

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Quem estudou em seminário menor ou maior em qualquer lugar do

Brasil sabe da importância da Universidade Gregoriana para a Igreja Católica e da vontade daqueles que desejam estudar Teologia no centro da Igreja.Além do mais, no meu caso, desde o quarto ano do seminário menor em Sobral, no episcopado de dom José Tupinambá da Frota, oriundo que fora da Universidade Gregoriana, onde realizou seus estudos filosóficos e teológicos e se doutorou, ele primava pela formação de seus padres. Já naquela época ele me prometera mandar estudar em Roma a fim de fazer Teologia. Promessa esta cumprida por dom João José da Mota Albuquerque, sucessor de dom José Tupinambá.”

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“ Cheguei a Roma no dia 26 de setembro de 1962, para fazer

Teologia na Universidade Gregoriana, onde permaneci até

1966, concluindo meu curso, oportunidade em que o Papa

João XXIII convocou os bispos de todo o mundo para participar

do Concílio Vaticano II. Momento vital de renovação da Igreja

Católica. O mérito do Papa e do próprio Concílio foi repensar

a Igreja de Deus para os tempos modernos, adequá-la à nova

realidade do mundo atual.

Naquela ocasião, grande número de seminaristas resolveu

deixar o seminário para melhor refletir sobre a sua própria

vocação de ser padre ou dedicar-se a um trabalho social.

Foi neste ambiente que resolvi deixar o seminário, logo

que terminei meus estudos teológicos, decidindo não me

ordenar e seguir minha vida como leigo, dedicando-me à

profissão de professor. .”

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A escolha romana

de SoaresJosé Rosa Abreu Vale 11*

U M GRUPO DE SEMINARISTAS de diferentes esta-dos do Brasil, desembarcados no porto de Gênova, chega à estação Termini de Roma no alvorecer do

dia 26 de setembro de 1962. À sua espera, um ônibus fretado para levá-los ao Colégio Pio Brasileiro. O itinerário passa pela Piazza dei Cinquecento, a Praça da República, a Via Nazio-nale, o Corso Vittorio Emanuele II. O outono está de volta, trazendo a suavidade do clima que tempera o calorão insupor-tável do ferragosto do mês anterior.

Os membros do grupo, um tanto ansiosos, mal podem imaginar a riqueza que se esconde nos monumentos à direita e à esquerda do percurso. Pouco importa. Cada um terá a opor-tunidade, nos dias vindouros, de saborear a intimidade his-

* Professor, ex-secretário de Educação e Ação Social do Estado.

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tórica do Capitólio, do Altar da Pátria, de Santa Maria sopra Minerva, do Campo dei Fiori, da Piazza Navona e da Fontana di Trevi, esta situada a poucos passos da Pontifícia Universida-de Gregoriana, onde estudarão.

Urge, agora, continuar até a Ponte Vittorio, atravessar o Tibre, adentrar a Via della Conciliazione, parar na praça Pio XII, sair do ônibus, deixar-se abraçar pela colunata de Bernini e mergulhar no fausto da Basílica de São Pedro. Então, sim, os moços reconhecem ter chegado a Roma. Agora, podem rela-xar e prosseguir até a Via Aurélia, onde os aguardam os cerca de 100 veteranos do Pio Brasileiro e os seus superiores jesuítas para os primeiros abraços, o farto café da manhã e o civilizado trote de boas-vindas.

Nos primeiros dias, e pouco a pouco, os novos alunos tomarão consciência das muitas realidades ligadas ao espaço e ao tempo em que viverão por um mínimo de quatro anos: Roma, o Colégio Pio Brasileiro, a Gregoriana, a ambiência conciliar. A imersão física no cenário da Urbe se faz acom-panhar do solitário mergulhar em si, na busca de traçar o caminho pessoal a percorrer. Na cultura de seus seminários de origem, Roma era vista como centro de uma unidade históri-ca, espacial e institucional e ponto de referência em relação ao qual se custodiavam as formas de expressar a fé, suas figura-ções, seus símbolos, seus valores e suas emoções. O convívio com os colegas de diferentes recantos do país, no dia a dia do Colégio, e na Gregoriana, com os estudantes oriundos de um sem número de nações, o elevado perfil intelectual dos professores, as aulas ministradas em latim, os diálogos em diferentes línguas e sotaques, as normas e procedimentos aca-

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dêmicos de não fácil assimilação, tudo isso formava o quadro de uma experiência extraordinária.

Mas as coisas se complicam quando cada um percebe que deve estruturar em sua pessoa o alicerce capaz de acatar as rupturas embutidas no anúncio e na preparação do Concílio. O período anterior a 1962 vinha de alimentar, em toda parte, sonhos e anseios de mudança a operar-se numa igreja ainda estática, forte, fechada ao que então se chamava o mundo, num sentido peculiar à visão eclesiástica. Duas semanas de-pois de chegarem a Roma, no dia 11 de outubro, os rapazes ouvem uma voz — a voz corajosa do bom papa João – que anuncia em seu discurso de abertura do Concílio: “Nós es-tamos aqui não para condenar, definir ou repetir o que os outros Concílios já disseram. Mas para expor a verdade da fé hoje, da fé que deve ser vivida pelo mundo e por isso deve ser uma verdade adaptada”.

Essa palavra de João XXIII inaugura o que veio a cha-mar-se aggiornamento, termo que correu o mundo. Segundo nosso saudoso dom Aloísio, “a intenção do aggiornamento era destacar algumas ideias que o mundo de então vivia e nas quais a Igreja podia ver algo positivo. [...] aggiornamento não significa só atualização. É um conceito que tem implicação teológica”. Trata-se, na verdade, do esforço permanente — individual, coletivo e institucional — de expressar aquilo em que se crê de maneira compreensível ao homem e à mulher dos dias de hoje.

O clima conciliar teve forte impacto sobre o Colégio Pio Brasileiro. O padre José Oscar Beozzo, primoroso cronista do Concílio (que, como o autor desta nota, foi aluno do Pio de

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outubro de 1960 a setembro de 1964), lembra alguns fato-res que concorreram para fazer do Colégio um dos lugares de Roma onde se viveu o Concílio “com entusiasmo e co-nhecimento de causa”. Primeiro, a afinidade psicológica de muitos bispos que estudaram em Roma: alguns no Pio Latino Americano (fundado por Pio IX em 1858), outros no próprio Pio Brasileiro, construído em terreno da antiga Villa Marfei, graças ao aporte (inclusive financeiro no valor de 1 milhão de liras) do papa Pio XI ao episcopado brasileiro. O Colégio abriu suas portas em 3 de abril de 1934, com a presença de 35 alunos deslocados do Pio Latino.

Depois, a proximidade física entre o Colégio (Via Aurélia, 527) e a Domus Mariae (Via Aurélia, 485), local de hospe-dagem dos bispos brasileiros durante as sessões do Concílio. Essa proximidade tornava “fácil o trânsito de uma residência a outra sem mesmo trocar de calçada na rua”. Além disso, os bispos contavam com o apoio direto de um ou outro aluno vindo de suas dioceses para estudar em Roma. Cabe tam-bém recordar o fato de o Colégio ter abrigado como hóspede permanente (até o fim de seus dias em novembro de 1968) o cardeal alemão Agostinho Bea, dirigente de um dos mais importantes órgãos criados no clima conciliar: o Secretaria-do para a União dos Cristãos. A ação do discreto cardeal foi de fundamental importância. O Colégio tornou-se um en-dereço de referência para inúmeros cardeais e personalidades de distintas igrejas e religiões. Impossível esquecer o convite de Bea para que os alunos do Pio recebessem na portaria, “à brasileira”, em 2 de dezembro de 1960, o primaz da Igreja da Inglaterra, arcebispo anglicano de Canterbury, Geoffrey

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Fisher. O encontro de Bea com Fisher foi um fato histórico que contribuiu para melhorar as relações entre a Confissão Anglicana e a Igreja Católica Romana.

Outro ponto a destacar foram as concorridas conferên-cias realizadas, apesar de alguma resistência do Vaticano, na Domus Mariae. Segundo anotações de dom Hélder Câmara (cuja influente ação no Concílio não será possível descrever nos limites desta nota), houve ao todo 80 conferências em que eram dissecados pontos doutrinários, culturais e pastorais dentro ou além da pauta do Concílio. Impossível citar, entre os palestrantes, personalidades tão diversas como os cardeais Lercaro (de Bolonha), os belgas Suenens e Cardjin, os teólo-gos Hans Küng, Ratzinger, Karl Rahner,Yves Congar, Henri de Lubac, Chenu, Oscar Culmann, Diez Alegria e muitos ou-tros. Era curioso observar como alguns professores da Grego-riana avançavam em suas palestras na Domus ou no próprio Pio Brasileiro além do que propunham em sala de aula.

Mas é hora de voltar aos alunos chegados a Roma duas se-manas antes da abertura do Concílio. Entre eles, José Teodoro Soares, Manfredo Araújo de Oliveira e Pedro Henrique Cha-ves Antero, pessoas hoje de marcante presença na sociedade cearense. José Teodoro Soares, de Reriutaba, trazia no mato-lão, entre as muitas expectativas, a lembrança de uma primei-ra conversa com dom José Tupinambá da Frota no seminário menor de Sobral. Dom José pressentiu no adolescente possí-vel parentesco via uma ancestral comum, da estirpe dos Soa-res. Conviria, aliás, verificar se esse parentesco não remonta a um Francisco Soares que aparece em 19º lugar numa relação de famílias pernambucanas chegadas à região no século XVII

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como beneficiárias de áreas destinadas ao criatório de gado. Na conversa, dom José teria prenunciado a possibilidade de o adolescente ir mais tarde para Roma, em busca da culminân-cia em sua formação sacerdotal. Teodoro alude a essa conversa com certa discrição, mas sem negar de todo que estivesse na mente de dom José a ideia de que, quem sabe, um dia, pudesse ele seguir as pegadas do bispo-conde de Sobral.

Em Roma, pois, Teodoro vivenciou a ambiência esboçada acima. Do Colégio conserva imagens fortes da convivência com outros brasileiros. Lembra ter exercido por alguns meses função de vice-prefeito junto ao titular Virgílio Uchoa, minei-ro que, ao retornar ao Brasil, muito contribuiu para fortalecer a organização e o funcionamento da CNBB. Dos professores da Gregoriana, releva René Latourelle, canadense, decano da Faculdade de Teologia; o italiano Bortolotti, professor de Di-reito, que dominava o anfiteatro de quase 300 alunos com a eloquência latina de um Cícero, e o austríaco Kirchbaum, especialista em arqueologia cristã e história da arte. Guarda também a lembrança de suas incursões nas conferências da Domus Mariae, tentando intuir para onde sopravam os ventos das novas e variadas tendências que ali se debatiam.

Mas Roma foi também para ele a arena de um drama in-terior. A acompanhá-lo no deslindar do dilema, a sábia figura do orientador espiritual do Colégio, o suíço Oscar Müller. Te-odoro deixou-se fascinar pelo fausto de Roma, centro da cris-tandade, centro de arte, encontro do tradicional e do moder-no, do Foro Itálico e EUR, obras estas concebidas por Musso-lini para expor ao mundo os seus sonhos expansionistas. Além disso, trazia de Olinda, fixados no imaginário, a abertura ao

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social e alguns experimentos de novas formas de celebração comunitária dos atos litúrgicos. Mas em Roma percebeu que para aderir de fato ao aggiornamento era preciso ir mais lon-ge: sobretudo ter condições de dominar novos instrumentos de análise para aprofundar o conhecimento do “mundo” e de suas realidades.

Como fazê-lo? Imaginou acumular com o curso de teo-logia da Gregoriana um curso de política em outro instituto de Roma. Constatou que não seria possível. Pensou então em renunciar à teologia, mas foi aconselhado pelo Pe. Müller a concluir o curso e ver depois como e onde realizar outro e só então pensar na ordenação. O amigo gaúcho Nereu Feix juntou-se a ele na busca de uma bolsa de estudos na Alema-nha, Bélgica e França. Teodoro obteve resposta positiva dos três países. Mas não podendo escolher os três, optou por Paris. Concluído o curso na Gregoriana, foi para a França e de lá voltou, ao cabo de um ano, para comunicar ao Pe. Müller que renunciava ao sacerdócio, ou seja abandonava as perspectivas de uma carreira eclesiástica, sem contudo romper com a fideli-dade aos ideais eclesiais que absorvera na temporada de Roma.

Essa decisão coincidiu com a de outros companheiros que vivenciaram a tensão “do clerical eclesial com o ministerial eclesial”, fórmula de um seu contemporâneo, o caririense Vi-cente Madeira. Sem se ter integrado ao “sonho (então difun-dido no ambiente conciliar) de uma Igreja servidora e pobre, anunciadora da salvação, em contraposição a uma religião for-te, poderosa, dominadora, triunfalista”, Teodoro optou pela linha eclética da mediação política, a política entendida como arte nobre de acomodar os contrários. Daí não ter sido Roma

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para ele o término de um processo de formação, uma culmi-nância, como teria imaginado dom José. Foi, sim, uma etapa a mais de um processo meândrico que o traria de volta a For-taleza, Teresina, Brasília, ao Cariri, ao Sobral de dom José, aos braços da política cearense, e por que não dizer, a ele mesmo, José Teodoro Soares, filho de Agrípio Soares, neto de outro José: o coronel José Teodoro Soares, tido como fundador do município de Reriutaba.

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Professor José Teodoro

Soares.Um líder

exemplarPe. João Batista Frota12 *

M INHA CAMINHADA COM o Prof. José Teodo-ro vem de muito longe, dos idos de 1953, quan-do ele entrava para o seminário menor de Sobral

e eu como “prefeito” dos menores, o acolhia e o levava a dona Conceição Carneiro, mãe do Monsenhor José Osmar, para que ela fizesse a sua batina!

Foi um período de convivência tranquila, em que Teo-doro demonstrava rigorosa submissão à rígida disciplina dos

* De Massapê, padre, foi colega em Sobral, Fortaleza e na Europa.

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tempos de dom José e de Mons. Sabino, quando os seminaris-tas, apesar do calor de Sobral, deviam andar sempre de batina, sapato e meia, conforme o figurino da época, e construiu laços de amizade com inúmeros companheiros, convivendo de ma-neira alegre e fraterna!

Terminado o seminário menor, vou fazer Filosofia em Fortaleza, Teodoro fica ainda uns dois anos por aqui, indo depois cursar Filosofia no seminário maior de Olinda–Recife. Concluindo o curso filosófico, Teodoro vai com outros cole-gas para Roma. Ele mora no Colégio Pio Brasileiro, onde eu já estava, há três anos.

Éramos uns 75 seminaristas, entre filósofos e teólogos, de quase todos os estados do Brasil, e estudávamos na Universi-dade Gregoriana. Teodoro, com seu jeito alegre, acolhedor e prestativo, logo conquistou a simpatia e amizade dos colegas do Pio Brasileiro — do gaúcho ao paraense, sendo, após curta permanência, escolhido pelos companheiros como represen-tante deles junto à direção do Colégio – era o prefeito da casa. Cargo que ele exerceu com maestria, graças à capacidade de se relacionar bem com todos os seminaristas, padres, irmãos e com eles dialogar graças ao espírito de serviço, seu jeito alegre e descontraído de conviver, criando no Colégio um ambiente agradável, uma comunidade fraterna.

No ano de 1964, decidimos ele e eu passar a Semana San-ta em Assis. Partimos no dia 31 de março, fomos de carona — a primeira foi de Roma a Foligno. Na segunda conseguida, o “caroneiro” foi logo nos perguntando: “de onde são vocês?” Ao responder: somos brasileiros! Ele foi logo nos dizendo: “vocês estão sabendo que no Brasil houve um golpe de estado

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e que assumiu o poder um general chamado Castelo Branco?” Foi a primeira notícia que tivemos sobre o golpe de 64, im-plantando a ditadura militar no Brasil.

O impacto inicial da notícia foi amenizado pelo fato de estarmos chegando a Assis, terra de Francisco – mensageiro da paz! Confiamos a ele a nossa pátria e durante a Semana Santa rezamos muito por ela! Em Assis procuramos descobrir as pe-gadas de Francisco e os seus recados de paz!

Será que a notícia da implantação da ditadura e o sonho de um mundo de irmãos de Francisco contribuíram para re-acender a “chama política” herdada de seu pai Agrípio Soares — líder político de Reriutaba por tantos anos, e que estivera adormecido neste tempo de seminário?...

A convivência com Teodoro em Sobral, em Roma, em As-sis e em Paris, onde cursamos juntos Ciências Sociais, fez-me descobrir cada dia mais o seu carisma.

Em Paris, morando na casa do México, depois na do Bra-sil, e cursando Ciências Sociais e Ciências Políticas, construiu uma rede de amizades que continua bem viva até hoje.

Teodoro tem sido este companheiro sempre pronto para servir aqueles que o procuram ou que encontra em seu cami-nho, não medindo esforços ou sacrifícios, transpondo obstá-culos e barreiras, demonstrando uma solicitude especial para com os colegas dos seminários por onde passou. Isto faz de Teodoro o verdadeiro líder espelhado em Jesus Cristo e em Francisco de Assis.

Isto lhe proporciona uma energia interior que lhe dá for-ças para enfrentar com “astral elevado” as intempéries, sejam internas — da saúde, sejam externas — advindas das suas

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múltiplas iniciativas e atividades, como educador e político.Nisto, ele é um farol para todos os seus amigos e para

aqueles com quem convive ou o conhecem.Que este farol nos ilumine por muitos anos!

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Relembrando fatos e fotos

Antônio Inocêncio Lima 13*

F EZ-ME BEM O CONVITE para participar da co-letânea de homenagem a Teodoro, e o faço relem-brando apenas amenidades, niente di più. Revi

tudo que tenho de fotos e cartões, e até o famoso “Efemérides do Pontifício Colégio Pio Brasileiro de 1963”, onde nosso Teo tem matricula n° 491, número de roupa 75, diocese Sobral, data de ingresso 26.09.1962. Revirei tudo para rememorar tempora et mores, focando um amigo que ao longo da vida tanto valoriza os amigos.

Para esse trajeto, evoco a companhia de um poeta con-temporâneo nosso, Pablo Neruda, em seu “As Uvas e o Ven-to”, para uma primeira foto, síntese do Teo:

* Professor, advogado, ex-presidente do Conselho de Educação de Pernambuco.

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“Dormi sob todasas bandeirasreunidas como debaixo dos ramosde um só bosque verdee as estrelaseram minhas estrelas”

De Reriutaba para Roma, via Rio de Janeiro, Ilhas Caná-rias, Barcelona, Nice e Genova: uma segunda foto.

Um jovem levita, envergando uma “sottana” preta, desfi-la em alguma “avenida” imaginária de Reriutaba... Ia rumo à igreja matriz, claro, é o que lhe era recomendado, desde que sempre olhando para baixo, mirando os pés para não cair em tentação... Seu caminhar é solene, cadenciado, sem pressa, pressentindo feliz os olhares curiosos de admiração e respeito dos conterrâneos, que intuitivamente percebiam no “hábito” a singularidade daquele “monge”: prata da casa. Havia uma sintonia entre a pessoa e a sua imagem social, tal o afinco com que o bem intencionado Teodoro se dedicava ao cultivo das virtudes cristãs, sobretudo àquelas próprias do múnus sacer-dotal, como a castidade perfeita, que haveria de lhe exigir ja-culatórias setenta vezes sete mil vezes repetidas, cumulativas de considerável número de indulgências plenárias, sine pecú-nia, mas bem merecidas, por conta das muitas mortificações, sem cilícios, como há de se pensar pelo seu a posteriori em Roma, Paris e alhures, no velho e no novo continente.

Mas nosso Teo, sertanejo forte, sicut erat in principio, et nunc et semper permaneceu o mesmo: uma pessoa simples,

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afável, de uma bondade natural, espontânea, cativante, buona gente: bonum est difusivum sui. Ainda hoje ele é assim. Se você olhar para ele, já recebe um sorriso, de primeiro agrado. Levou essa herança, graças a Deus, para os seminários da vida, onde, naqueles tempos, era consuetudinário aos “chamados” uma generosidade imensa, autêntica, tranquila como a melo-dia-prece de um arrastado hino de motivação vocacional que era cantado após as missas diárias, pelos futuros sacerdotes: mitte, Domine, operarios in messem tuam; messis quidem multa, operarii autem pauci. E lá se foi nosso Teo para Roma, estudar com o papa, diziam as beatas de sua terrinha...

Oh Roma Eterna, dos mártires e dos santos, acolhe o nos-so canto: fotos de A a Z.

Corria o dia 26 de setembro do Ano da Graça do Se-nhor de 1962, quando a bordo do transatlântico Federico “C” chegavam a Gênova e depois a Roma, o “civis reriutabensis” e vários outros espantados clérigos de diferentes regiões do Brasil. Ibimirim batia presença na comitiva. Foram 13 dias de viagem, de céu e mar, muito sol e muita lua bonita. Por trem chegara o grupo de 16 seminaristas a Roma, de manhã cedo, alla Stazione di Termini e depois de rápida passagem pelo Pio Brasileiro, logo mais estavam na basílica de São Pedro, a maior do mundo, para participar de uma audiência com o Papa João XXIII. Ocuparam lugar privilegiado, perto do altar de Bernini. Pense-se no deslumbramento, no êxtase! No alto da basílica, apareciam em grandes letras douradas: Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam. Tibi

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dabo claves regni coelorum, et quidquid alligaveris in terra, alligatum erit in coelo et quidquid non... Estavam eles pela multidão, esticando os pescoços a mais não poder, para ter a felicidade de ver o papa pela primeira vez! E lá vem, na cadeira gestatória, abrindo os braços e abençoando a todos, a bondosa figura do Papa Giovanni XXIII. Era um belíssimo espetácu-lo de fé, carregado de emoção: a grandiosidade do templo, a beleza das pinturas, as vozes harmoniosas do coral da Capella Sixtina, o milagre da Pietà, de Michelangelo, e o multicolo-rido das vestes de pessoas de todas as partes do mundo! Tudo aquilo nos deixou transportados para um outro mundo, ines-quecível, superior, atemporal, eterno como Roma.

Um pouco mais tarde, no mesmo dia, o Sir Nereu Feix, apresentado como cientista político americano, capitaneando um trote no Colégio, fazia uma conferência propondo estan-car a inflação brasileira e a pobreza do Nordeste, vendendo o Ceará para os Estados Unidos. E dizia: assim, Ceará salvar Brasil e Ceará salvar paus-de-arara Nordeste. Foi aí que o Teo soltou o primeiro palavrão na Europa, atingindo a genitora do falso gringo. Mas, nada grave. Um simples pecado venial a ser devidamente absolvido pelo pe. Giuseppe Dante S.J., já velhinho, confessor preferido de todos os seminaristas do Pio, porque quase surdo, não ouvia mais nada.

Os tempos de Roma foram de muito estudo e desbrava-mento de fronteiras: o Concílio abria a Igreja para o aggiorna-mento; os questionamentos às formas de existência sacerdotal começaram a ser postos; a Europa estava ao nosso alcance, com sua história, seus tesouros artísticos, suas universidades e uma visão laica da vida, das ciências e das filosofias. O escolástico

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Teo tinha a Summa Theologica como livro base, e se definia aristotélico-tomista ma non troppo, porque sua criatividade era incontrolável. A metafísica era insuficiente para enquadrar o pensamento do jovem cearense. Era uma ideia por cima da outra, e não podia dormir, que já acordava inventando coisa, galopando para o futuro. pe. Paulo Pedreira, muito conserva-dor, começou a ficar de olho nele... Mas, dialético, catedrático em relacionamentos humanos, ninguém sabe como o Teo era amigo do Pe. Monnerat, reitor — Teo sempre gostou desse magnífico titulo —, que inventou de fazer uma estátua, ta-manho natural e de bronze, do glorioso São José, de quem era grande devoto. Se Teo apoiou ou não essa ideia era quaestio disputata. Colocou S. José num dos pátios do colégio. Assim, imaginava o padre reitor, os seminaristas, passeando por ali, poderiam se deter um instante per fare una preghiera. Come-çou uma grande polêmica no Pio, pelo desperdício. Achou pouco, o piedoso reitor fez construir também uma capela mo-derna dentro do Colégio, quebrando totalmente a estética da obra existente. E tome mais crítica ao devoto jesuíta. Aí o Teo começou inteligentemente a se afastar do magnífico. Nereu e Tilden, os primeiros seminaristas-operários da história do Brasil, discípulos do père Gauthier no Oriente Médio, nos dias livres trabalhavam como serventes de pedreiro na grande obra do Monnerat. Quando agora, em 2006, estive em Roma, o padre que me recebeu no Pio confessou que as duas obras realmente estavam sem serventia.

Ah, que rotina gostosa, Teo, aquela do Pio, fixada nas Efemérides: 05:25 – Levantar; 05:52 – Recitação de Prima. Meditação; 07:00 – Missa. Café; 08:00 – Gregoriana; 12:50

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– Exame de consciência. Angelus; 13:00 – Almoço. Recreio; 14:00 – Repouso. Et ita porro... Saíamos para a Gregoria-na, na Piazza della Pilotta, nos ônibus militares americanos da 2ª. Guerra Mundial que haviam sido doados ao Colégio. Tome aula em latim, livro em latim, provas escritas e orais em latim: era uma babel de tantos sotaques. Ali estávamos aprendendo desde o que era “dogma de fide definitum”, até o que era simplesmente classificado como “doctrina tuta”, para sair pelo mundo afora proclamando a Boa Nova, tesouro de onde se tira “nova et vetera”. No meio de tanta rigidez, no intervalo das aulas, saíam os gregorianos rumo à Fontana di Trevi, pela estreita Via dei Lucchesi, cada um com a faixa de identificação dos “colleggi” atacando as batinas, sempre na expectativa, não confessa, claro, “di vedere le inglesine e tutte quante, non importa”, jogando as moedinhas na fonte, para um dia voltarem a Roma.

Havia no Pio uma tradição para quando alguém ia sair do Colégio: na hora do último almoço, com a presença do risonho irmão Zandonà à mesa, cantava-se a canzonetta “Arri-verderci Roma”, com esta letra em português, própria do Pio: “amigo que ansioso vieste / e a Roma os teus sonhos trouxeste / e aqui ao contato estiveste/ com as cousas mais santas /que o mundo contém./ Por certo que na despedida / tu trazes tua alma ferida / sentindo que já te pervade / a dor da saudade e da separação/. E enquanto a última vez por Roma giras / suspira bem de leve esta canção/. Arriverderci Roma ...”. Num dos versos lembrava-se para também atirar a moedinha na Fontana de Trevi, porque existia aquela “roxa via” ...

O Teodoro de Roma continuou o mesmo de Reriutaba,

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deve-se reconhecer. A “glória” não lhe subiu, aliás, nunca lhe subiu à cabeça. Sempre foi a pessoa que preza muito os ami-gos, é leal, busca contatos, promove reuniões, ajuda, apoia. Um cara legal. Em Roma, cresceu nas virtudes cristãs, até onde o cordão bento do angélico Santo Tomás deu jeito, mas progrediu muito nas virtudes humanas (competências e habi-lidades humanas): revelou-se muito criativo, dinâmico, líder, arrojado e de mente aberta para a inovação. Louve-se-o. Mas, mas..., com tudo isso, cadê a “coragem” do Teo para receber pelo menos a tonsura ? E por que não enfrentar um subdiaco-nato, como o Valdemar Colonetti, nosso famoso “sconfitta”? Ah, no sub já começava a obrigatoriedade canônica do celiba-to! Tudo bem, deixa prá lá, não vamos questionar nosso dia-conato homenageado. O certo é que terminei acompanhando o Teodoro nas embaixadas, procurando bolsa para continuar estudando na Europa, e pedirmos “tempo” aos bispos. Era se-tembro de 1966, e lá fomos para Paris...

De Paris ao Ceará, passando Teodoro por várias reitorias etc. e tal

Após um ano em Paris, a vida afastou nosso caminhar. Eu me embrenhei no interior de Pernambuco e Teo, oh tempora, oh mores, continuou em Paris. Em pouco tempo estava na grande articulação de maio/68, tornando-se um dos heróis das barricadas para derrubar De Gaulle e com ele toda a “ordem” existente. Imagino-o gritando para os transeuntes no Boule-vard Saint Michel: Messieurs, Mesdames, allez tous à la Place Denfert-Rochereau! Ça será la nouvelle Bastille. Donner un cri

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de liberte! Être libre ou mourir! Mas o Teodoro de maio de 1968 já era diferente do de 66-

67. Evoluiu rápido. Ali chegamos em setembro de 1966 para uma experiência extra muros seminarii e estávamos atônitos diante da rudeza do mundo laico. A religião era objeto mais da história passada, não da presente. Que choque! Estávamos desafiados a viver num mundo meio agnóstico, meio ateu, in-diferente à religião, onde o laissez-faire nos costumes pouco tinha a ver com a nossa Theologia Moralis apud Jus Canonicum.

Vivíamos muito juntos, por sobrevivência social e finan-ceira e para guardar a fé. Tivemos todos um ataque de timi-dez. As primeiras baladas nas casas de estudantes, era aquele empurra-empurra para convidar uma jovem para dançar, de-centemente, é claro: era um vá você; não, vai tu, tu tens mais jeito; vá agora e eu vou depois, garanto; não, bicho, você não convidou, como é que agora farrapa... Olhe, era uma con-fusão! E pior, nenhum sabia dançar. Mas sobrevivemos, co-mendo muita língua de vaca nos restaurantes universitários, muita baguette com queijo e vinho de mesa, compensando o sofrimento, aqui e acolá, tomando vagarosamente um café nas calçadas do Boulemich. Fugíamos aqui e acolá para Orléans, onde as amigas de Teo e de Cláudio Ruaro nos amparavam. Teo em Paris, com saudade, cantarolava: l’important, Orlénas, c’ést la rose; l’important c’est la rose et pas moi ...

Encontrei nosso homenageado depois, já como reitor da Urca e logo da UVA. Abraçado com a educação, seu ideal de vida, voltado para as periferias e para o interior, para as peque-nas cidades. Avançado, arrojado, dinâmico, colocou o Ceará na vanguarda em educação no Nordeste, pela sua criatividade

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e inconformismo com as estruturas arcaicas de nosso país. A ideia da interiorização das licenciaturas em pedagogia no Ceará e sua extensão para outros estados do Nordeste foi uma oportu-nidade rara para milhares de professores, experiência que levou muitos sistemas a serem mais ousados e abertos, para vencer o atraso. Custou-lhe, porém, muitas incompreensões, por muita inveja e ciumeira, mas também por contrariar interesses priva-dos e tentativas de manipulação política. Por vezes fico a pensar na pobreza científica e política dos muitos dinossauros da buro-cracia brasileira, enclausurados nos grandes privilégios salariais e nos interesses corporativos, garantidos pelo Estado, mas de olhos vendados para a situação social da população mais pobre e a ca-rência de oferta educacional, reproduzir os privilégios das classes dominadoras de nosso país.

Enquanto isso, a sociedade do conhecimento e da infor-mação do século XXI, mundializada e pragmática, em plena revolução da física quântica, das tecnociências e da nanobio-tecnologia, nos coloca diante de questionamentos radicais como a da “criação” da matéria, pela aceleração das mais ínfi-mas partículas físicas, e como a da fabricação da própria vida humana, abrindo um grande debate sobre a bioética nesse mundo novo, em mutações, que está surgindo como um apo-calipse, pretendendo por fim à própria finitude do homem e vencer a morte. A ficção científica já encontra concretude nas tecnologias das supermáquinas criadas, que começam a tor-nar real um mundo transumano, pós-cristão e pós-humano. Enquanto a ciência-poder já descobriu fio de DNA com al-guns milionésimos de milímetro, existem ainda pessoas que pensam para trás, sem imaginar que nem os valores universais

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e nem as concepções filosóficas conseguem compreender e ex-plicar o mundo que está saindo da ficção para a materialidade das tecnologias. Esse é o mundo da ciência-poder, que exige mais e não menos educação, garantida com qualidade avança-da para todos os brasileiros.

Teodoro, diante dos entraves gigantescos ao desenvolvi-mento do país e principalmente do Nordeste, você escolheu a causa da educação, corajosamente, como se fora uma guerra de vida ou de morte, um compromisso de vida, intrinsecamente religioso-cristão, de fraternidade, justiça e igualdade. O mun-do novo de ficção científica que começamos a descortinar cla-reia ainda mais seu sonho, utópico, como o de nosso Neruda:

“Que o amor nos defenda.Que levante suas novasVestiduras a rosa. Que a terra continue sem fim, florida florescendo”.

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Uma fábrica

de amigosAntônio Jorge Siqueira 14*

V IM CONHECER O TEODORO definitivamente em Paris, no calor das barricadas de maio de 68. An-tes já o vira de relance, em Roma, no Colégio Pio

Brasileiro, onde, naquela época, fui hóspede por alguns dias, contando com a cumplicidade de meus colegas da diocese de Pesqueira Inocêncio Lima e Oswaldo Oliveira, estudantes de teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Eu vinha de Fribourg, na Suíça, aonde fora mandado estudar teologia, na década de 1960, mais precisamente em 1964, a fim de com-pletar a formação eclesiástica.

A solidão na Suíça foi inicialmente algo que me fez sofrer. Viver o cotidiano de uma comunidade religiosa na Suíça não

* Professor. da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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é coisa fácil para um brasileiro. Depois, até que esta solidão amainou um pouco com a vinda de alguns colegas meus do Brasil: Francisco Brito, do Ceará, Valmon Oliveira, de Sergi-pe e Geraldo Castelli, do Rio Grande do Sul, todos ex-colegas do seminário de Viamão, onde juntos cursamos a Filosofia por mais de três anos. Quando batia a saudade do Brasil e dos colegas brasileiros, meus conterrâneos, aproveitava as fé-rias de Páscoa e, vez por outra, ia até Roma para rever vários colegas, matar as saudades, falar português, botar em dia as notícias da pátria distante.

Para mim, rever Roma era um colírio para os olhos de um sertanejo desgarrado de suas plagas. Era a época de realização do Concílio Vaticano II, e em Roma a gente via muitas pesso-as do Brasil: bispos, padres, leigos, amigos, velhos conhecidos e gratas amizades. Acrescente-se a tudo isto a receptividade dos padres jesuítas do Pio Brasileiro, que fechavam os olhos para desgarrados da pátria mãe, como eu, oferecendo, além de tudo, uma farta mesa italiana. Era hora de aproveitar para tirar a barriga da miséria diante de tanta fartura de vinho, frutas saborosas, pães diversos e sobretudo boas conversas. Dentre outros tantos colegas brasileiros, nesta época conheci o Teodoro: magrinho, conversador, figura simpática de ce-arense desinibido e pessoa amável. Gostava muito de falar em política, da Europa, do Brasil e, evidentemente, do seu Ceará interiorano. Teodoro ali, naquele momento, era o filho longínquo de sua Reriutaba natal que, como outros alunos seminaristas do seu tempo, fora enviado para o maior centro de formação de padres da igreja, a Universidade Gregoriana de Roma, dirigida pelos jesuítas. Foi aí, portanto, que eu vim

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a conhecer a sua pessoa. Os tempos passaram: dias, meses e anos. Já no final da dé-

cada dos anos 1960 havia decidido que não mais me ordenaria padre. Apesar disto, concluí, em julho de 1968, minha licen-ciatura em Teologia, numa das mais ortodoxas e exigentes es-colas de teologia da Europa, a Universidade Cantonal Católi-ca de Fribourg, que tinha à frente os padres dominicanos. Por esta época já havia ali uma numerosa colônia de estudantes e alguns professores brasileiros, dentre os quais o dominica-no Frei Carlos Josaphat, fundador do jornal “Brasil Urgente”, que tanto agitou os dias que antecederam o golpe de 1964. Decidi mudar de ares e dar continuidade aos meus estudos em Paris, a despeito de uma precária segurança financeira. Mudar, sim: de rumos, estudos e, principalmente de vida.

A metrópole parisiense bem que se prestava para tantas exigências. Deixei a Suíça para trás. Comecei a ver Paris com os olhos e, em seguida, com o coração, e essa seria uma viagem sem volta. Logo naquele momento em que na Europa e, mais ainda em Paris, mal se desfaziam dos rescaldos das barricadas estudantis do grande acontecimento que foi maio de 68.

Em pleno outono de outubro do ano de 1968, lá estava eu no velho Quartier Latin, reencontrando José Teodoro Soares, velho conhecido meu de Roma. Acabávamos de empreender uma rápida viagem com mais três colegas, visitando de car-ro os países da Europa do Leste, visita esta que naturalmente incluiu Praga no seu roteiro, àquela altura em plena primave-ra de um “socialismo com rosto humano”, como se dizia na época. Foi uma viagem fantástica. Compramos uma barraca de camping em Munique e, com algumas garrafas de vodka

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e vinho para enfrentar frias noites, fazendo nossas próprias refeições, fomos ao ponto fulcral de nossas curiosidades so-bre aquele socialismo canhestro, já quase em decomposição. Conhecer Budapeste e Praga já valeu a viagem. Naquele dia a dia de viagem, o dia todo dentro de um carro, comendo e dor-mindo numa mesma barraca, deu para sentir os defeitos e as virtudes de cada um de nós. Posso estar cometendo injustiça com os demais, mas o Teodoro era o mais light de nós. E como era um dos mais abonados financeiramente, sempre se revelou magnânimo e generoso. Essa, posso dizer sem medo de errar, é a marca de Teodoro: amável, generoso e otimista. Sempre o vi assim e continua dando provas de que não mudou.

De volta a Paris, nos primeiros dias e meses do pós-maio de 68, pude perceber que não apenas eu mudara, todos nós mudáramos, e o Teodoro, aluno da elitista École des Sciences Politiques, também mudara. Novos estudos e novos planos de vida. Em lugar da teologia, frequentava os cursos na École de Sciences Politiques, a mais tradicional sala de aula da Sorbon-ne, na “cidade-luz”.

Toda a nossa geração assumia novos ares de opção pela mudança de vida e releitura do mundo, embalando sonhos profissionais para um Brasil futuro e distante, sorvendo com sofreguidão tudo o que de bom Paris nos oferecia. E era muita coisa. Diria mesmo que, ao menos para mim, de um certo modo a vida começava ali, naquela cidade, naquele momen-to, naquelas circunstâncias altamente específicas e auspiciosas. E foi nestas condições, nestes momentos decisivos da minha vida social, afetiva e acadêmica, que uma pessoa como Teodo-ro tornou-se importante e marcante para o meu futuro. Re-

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pito que Teodoro, sendo um pouco mais abonado do que a maioria de nós que vivíamos com magras bolsas na Europa, sempre se mostrou generoso, especialmente na hora de pa-gar uma conta, seja num daqueles bistrôs do velho Quartier Latin, seja mesmo numa daquelas pizzarias menos italianas e muito mais parisienses do Boulevard St. Michel ou mesmo da Place d’Italie. Outro detalhe importante. Impressionava--me como o Teodoro conhecia tanta gente e anotava tan-tos compromissos. É, ainda hoje, o seu permanente jeito de fazer amigos. Dizia-nos sempre que precisava “fazer con-tatos”. Realmente Teodoro era movido por contatos, e sua agenda era pequena para os seus intermináveis compromis-sos... Também acredito que, neste ponto, o nosso “prezado” pouco ou nada mudou. Que bom!

No verão de 1969, de novo empreendemos uma viagem através da Escandinávia, Rússia e retornando à França pela Po-lônia e Alemanha do Leste. Desta feita éramos quatro casais, utilizando uma Kombi e mais duas barracas de camping. Não posso esquecer dos dias ensolarados daquele verão, que nos revelaram o esplendor dos fjords da Noruega e Dinamarca, bem como dos lagos e baías da Finlândia. Foi uma grande curtição, cujo ponto alto foi assistir a espetáculos de balé nas tardes mornas de St. Petersburg — naquele tempo, Lenin-grado — e visitar o Kremlin e a Praça Vermelha de Moscou. Lembro-me que, particularmente na Rússia, éramos constan-temente assediados para vender nossos sapatos, tênis, camisas polo e calças jeans. Como não podíamos ter excesso de rublos soviéticos com tal comércio, o negócio era espantar aqueles comerciantes de araque. E o Teodoro tinha uma frase infalível

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para cada uma dessas investidas naquelas ocasiões: “perhaps tomorrow!”. Como se vê, um jeito muito polido e suficiente-mente político de dizer não. Coisas do Teo.

A gente terminou voltando para o Brasil. Cada um em circunstâncias diferentes e para diversos pontos do país. Eram os difíceis anos de chumbo da ditadura militar. Uns mais ame-drontados do que outros. E em termos profissionais, iniciar uma vida nova, no país, naqueles idos iniciais dos anos 1970, era um pesadelo que se sobrepunha a outros pesadelos. O Teo-doro foi trabalhar no MEC, ajudando a implantar a Universi-dade Federal do Piauí e, teria permanecido em Brasília, a par-tir daí. O Teo, que sempre foi boa praça e um grande fazedor de amigos, mesmo em situações adversas e difíceis, manteve o contacto conosco. Por um longo período ficou lá por Brasília, no planalto do poder político, fazendo uso de sua habilida-de, competência e cacife de aluno estudioso da Universidade Gregoriana de Roma e das Sciences Politiques da Sorbonne. Creio que foi aí também, neste momento, que Norma entrou em sua vida. Quando o reencontrei, já era casado com Norma.

Quando do meu retorno ao Brasil, no início dos anos 1970, vim para o Recife, onde pretendia iniciar minha vida profissional ao lado de Edilnete, que conheci nas margens do Sena, em Paris daqueles anos, e que gozava também da amiza-de e do coleguismo de Teodoro.

Hoje o Teo é um profissional que tem toda uma vida e larga folha de serviços ligados ao trabalho na área da educa-ção superior. Anos atrás no MEC, onde atuou como subse-cretário de mais de um ministro; recentemente como reitor em mais de uma universidade do estado do Ceará — Urca e

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UVA -, num trabalho desbravador e incansável, lutando pela qualidade e pela socialização dos benefícios da formação do ensino do terceiro grau. Agora, na Assembleia Legislativa do Ceará, como deputado tem focado nos problemas da educa-ção o seu trabalho de militância política parlamentar. Alguém assim, com tanto zelo e dedicação, mereceria ser chamado, na expressão de amigos comuns, não apenas de “magnífico” mas de “estupendo” reitor. Um grande caráter, um humanista abalizado e um empreendedor nato.

Para finalizar, devo confessar, com muita alegria e liber-dade, que foi ao voltar para o Brasil, nos idos de 1970, que me dei conta de uma importante ajuda que o Teodoro me propiciou para a vida profissional quando, na França, insistiu para que eu não ficasse restrito aos estudos de sociologia do desenvolvimento que eu cursava no IRFED, o famoso institu-to fundado pelo Pe. Lebret, e que ainda não tinha a chancela do reconhecimento oficial do governo francês. Estimulou-me a fazer o Diplome d’Etudes Avancés na VIª Secção da Sorbon-ne, — o Collège Coopératif — sob orientação do Prof. Henri Desroche. Cursei os dois, simultaneamente. Sem este diploma da Sorbonne, na volta para o Brasil, não teria podido iniciar minha vida acadêmica na Universidade Federal de Pernam-buco. Foi um alerta e um conselho dado no momento certo. Coisa de amigo, dizemos. Conselho, diz-se, não se dá a todo mundo. E uma vez dado, ouve quem quer. No meu caso, teve endereço certo e ouvidos atentos.

Ainda hoje o Teodoro adora reunir e visitar os amigos, mostrando-se feliz com as notícias deles — especialmente as boas notícias —, sempre disposto a ir longe ou mesmo trazer

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de longe, e não importa a distância, para ver ou rever um amigo. E nos reencontros, fala-nos de todos eles e de cada um como se fosse hoje, em Paris, em Roma, em Olinda, em Bra-sília, no Crato, em Sobral, em Fortaleza. Sempre com a afabi-lidade e a alegria de uma amizade feita, preservada e cultivada num eterno presente.

A alegria da amizade que o Teodoro passa para cada um dos seus amigos não se deixa desgastar pelo tempo. Hoje em dia a gente tem a sensação de se sentir apenas um pouco mais velho, mais experiente, mais pragmático e menos arrojado nos projetos e sonhos da vida. Até certo ponto, acredito eu. Por-que, daqueles dias e daqueles sonhos que, com entusiasmo, construímos e compartilhamos com o Teodoro, nada arrefe-ceu com os embates da vida. Os frutos da amizade compar-tilhada por este grupo de amigos de Teodoro no qual eu e Edilnete nos incluímos são um verdadeiro penhor de vida. Afinal, como diziam os romanos, “viver é estar entre amigos”.

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Um homem de ação

José Jackson de Carvalho 15*

L OGO QUE RECEBI O HONROSO e gratificante convite para redigir um depoimento sobre José Te-odoro Soares, veio-me à memória a figura do Padre

Antônio Vieira. O meu estimado amigo tem muito em co-mum com o célebre jesuíta. De modo particular, ambos, além da sólida formação religiosa e intelectual, sempre foram e são homens de ação.

No famoso Sermão da Terceira Dominga do Advento, o maior de todos os oradores sacros da língua portuguesa foi explícito e claro sobre a sua visão pragmática da vida e da rea-lidade: A verdadeira fidalguia é a ação. O que fazeis, isso sois, nada mais. Na verdade, como o Prof. José Teodoro, Vieira foi

* Ex-reitor da UFPB, ex-secretário estadual de Educação do Estado da Paraíba,

membro da Academia Paraibana de Letras, fundador e presidente da Academia

Paraibana de Filosofia, membro honorário da Academia Brasileira de Filosofia.

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sempre e, antes de tudo, um homem de ação.Mesmo sem ocupar posição formal de poder no Império

Português, sempre propôs à Corte iniciativas muito pragmáti-cas e eficazes para resolver os grandes problemas econômicos e sociais da Metrópole e das colônias. Assim, por exemplo, foi a sua pertinácia que levou dom João IV a criar a Companhia das Índias Ocidentais, assentada principalmente em capitais judaicas. Enfrentou, inclusive, nesse caso, o obscurantismo da Inquisição, que discriminava, com violência, tudo que se rela-cionava com os judeus. Em contrapartida, a visão de Vieira foi sempre a de horizontes mais amplos e substantivos.

A empresa começa a funcionar em novembro de 1694, quando larga do Tejo a primeira frota. Lançava-se, através da-quela empreitada, uma ponte atlântica regular entre Lisboa e os portos da Bahia e do Rio de Janeiro, entregando-se à Com-panhia o monopólio de certos alimentos de alto consumo na Colônia: vinho, azeite, farinha, bacalhau. Em contrapartida, obrigava-se a nova empresa a escoltar as frotas carregadas de açúcar e tabaco que corriam perigo de assalto, quando se diri-giam para o Reino.

Esse é apenas um exemplo de um tipo de iniciativa con-creta do Padre Antônio Vieira, voltada para o progresso eco-nômico e social no universo em que se sentia inserido de cor-po e alma. Não têm sido diferentes os ideais sociais e políticos de nosso homenageado.

A vida inteira de José Teodoro Soares tem sido de dedica-ção integral e altamente criativa à descoberta de novos cami-nhos, de novas alternativas, de novas soluções para os proble-mas com os quais tem se defrontado na vida pública.

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Quando se voltou, com responsabilidade e determinação, ao estudo e ao aprofundamento intelectual em Olinda, em Roma e em Paris, estava, conscientemente e com a devida pa-ciência, construindo uma competência que, através do tem-po, foi e tem sido decisiva para que o serviço que, de modo especial, veio a prestar aos seus irmãos cearenses fosse tão bem sucedido e socialmente tão inovador.

O caráter destemido e inovador das ações propostas e implantadas pelo nosso homenageado, não raro foram consi-deradas fantasiosas e impossíveis. Felizmente, a realidade dos fatos e o sucesso dos empreendimentos, mais do que pala-vras, desmentiram aquelas desconfianças improcedentes. Seus sonhos nunca foram alimentados por fantasmas imaginários. Inadvertidamente, aqueles que, mesmo bem intencionados, consideraram as ações e iniciativas de Teodoro como fantasias abstratas, para novamente citar o Pe. Antônio Vieira, agiram com a desconfiança injustificável que, um dia, demonstraram os apóstolos diante da firmeza e da força da ação do Mestre:

Andavam os apóstolos na barquinha de São Pedro lu-tando com as ondas; parte de terra Cristo a socorrê-los; e eles começaram a temer cuidando que era um fantasma. Fantasma? Pois como assim? Não era Cristo que os ia livrar do perigo? Pois como lhes pareceu que era um fantasma? Porque assim como há fantasmas que parecem remédios, assim há remédios que parecem fantasmas. Coisa notável, que o mesmo que lhes metia medo como perigo, os livrou da tempestade como remédio.

Naturalmente, como acontece com todo homem público, involuntariamente, Teodoro, em sua ação à frente de órgãos e

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instituições que dirigiu com tanto sucesso, também deve ter cometido equívocos. Quem não os cometeu? Todavia, nunca se acomodou diante de desafios, não raro prementes e gigan-tescos, e das limitações dos meios disponíveis para solucioná--los. De um pecado o nosso homenageado jamais pode ser im-putado: o pecado da omissão. Pecado que, segundo Pe. Vieira, que mais uma vez ouso citar, é o mais grave que um homem público pode cometer. Veja-se o que o célebre orador sacro diz a respeito do profeta Elias, no Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real, em 1650:

O salteador, no deserto, com um tiro mata um homem; o príncipe e o ministro com uma omissão matam, de um gol-pe, uma monarquia. Estes são os escrúpulos que não se faz nenhum escrúpulo; por isso mesmo são os mais perigosos de todos os pecados. A omissão é um pecado que se faz não fa-zendo [...]. Estava o profeta Elias em um deserto metido em uma cova, aparece-lhe Deus e diz-lhe: “Que fazes aí, Elias”? Ele responde: Não estou aqui, Senhor, metido em uma cova? Não estou sepultado em vida? Não estou retirado do mundo? Não estou me disciplinando, não estou jejuando, não estou contemplando e orando a Deus? Assim era. Pois se Elias esta-va fazendo penitência em uma cova, como o repreende Deus e lho estranha tanto? Porque ainda que eram boas as obras que fazia, eram melhores as que deixava de fazer. O que fazia era devoção, o que deixava de fazer era obrigação. Deus tinha feito de Elias profeta do povo de Israel, tinha-lhe dado ofício público; e estar Elias no deserto, quando havia de andar na corte; estar metido em uma cova, quando havia de aparecer na praça; estar contemplando o Céu, quando havia de estar

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emendando a Terra; era muito grande culpa.Diante do conjunto de depoimentos que compõem este

livro de homenagem ao professor José Teodoro Soares, parece absolutamente repetitivo e, em consequência, dispensável que passe a analisar, pontualmente, as principais ações e iniciativas que nasceram de seu dinamismo e de sua criatividade. Por isso, desse ponto de vista serei o mais sintético possível.

Conheço o amigo há nada menos de 50 anos. Lá se vai quase meio século de convivência, de mútua estima e, de modo particular, de mútuo respeito. Encontramo-nos pela primeira vez nos idos de 1960, no velho Seminário Regional do Nordeste, em Olinda, uma das obras marcantes da visão de outro notável homem de visão larga e ação lúcida, dom Hel-der Câmara. Um ano depois da conclusão do curso de Filoso-fia, em terras pernambucanas, reencontramo-nos no Colégio Pio Brasileiro e na Universidade Gregoriana, em Roma. Qual a imagem que guardo em meu espírito do, hoje, doutor e de-putado José Teodoro Soares? Vou procurar ser direto e claro: tratava-se e, através do tempo, continua tratando-se de uma das figuras humanas espiritualmente mais ricas, mais solidá-rias, mais verdadeiras e leais que conheci, ao longo de meus 70 de vida. Todos que com ele conviveram e convivem sabem de sua notável capacidade de agrupar, de somar, de respeitar e de confiar nas pessoas, bem como de conviver com a pluralidade e com o diálogo.

Somente aqueles que, por lamentáveis circunstâncias, vi-venciaram a dolorosa experiência de conviver com pessoas que pautam suas condutas por padrões éticos e humanos diferen-tes, sabem o quanto é valioso encontrar nos caminhos da vida

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uma figura da estatura moral e da dignidade do nosso, hoje, brilhante parlamentar cearense.

Depois da convivência em Roma, fui reencontrar o amigo em Brasília, ocupando funções de elevada responsabilidade no Ministério da Educação. Mais uma vez, dele recebi todo o apoio e incentivo quando, circunstancialmente, exerci as fun-ções de reitor da Universidade Federal da Paraíba e secretário da educação do meu Estado. Recordo, com particular satisfa-ção, o fato de ter ele presidido, em nome do Sr. Ministro da Educação, General Rubem Luduwig, a solenidade de minha posse no cargo de reitor. Foram sete anos nos quais, mais uma vez, de maneira muito concreta, experimentei e desfrutei da lealdade e da solidariedade do velho e estimado amigo.

Depois de aposentado, criei e implantei, em João Pessoa, o Instituto de Ensino Superior da Paraíba. Nessa oportunidade, Teodoro era o reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú, onde realizou notável trabalho. Tomei conhecimento de que ele estava implantando um avançado e arrojado programa de qualificação de professores para o ensino fundamental. En-tendo que a implantação desse programa em todo o Nordeste representa a ação mais importante e socialmente mais signifi-cativa dentre todas as que realizou. Através de convênio entre a UVA e a Instituição que dirigia, o IESP, tenho a satisfação de ter feito da Paraíba o primeiro estado da região no qual o curso de Pedagogia da UVA, no nível de graduação, foi im-plantado fora do Ceará. Permito-me também esclarecer que, igualmente dentro de minhas limitações, colaborei de maneira efetiva para a implantação do mesmo programa nos estados de Sergipe e do Rio Grande do Norte, contando com o sempre

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decidido e lúcido apoio do Prof. Teodoro.Infelizmente, por circunstâncias alheias à minha vontade

e aos meus sonhos e, para ser justo, à revelia da vontade do amigo, então reitor, em 2003 desliguei-me do Instituto que criei e dirigi e, consequentemente, da execução do convênio com a UVA.

Hoje, com a maior satisfação, vejo o quanto o programa de capacitação criado pela larga visão educacional do nosso deputado está sendo importante para o desenvolvimento do Nordeste, e que sem um ensino fundamental universalizado e de qualidade, o Nordeste jamais terá uma sociedade justa e economicamente desenvolvida.

Teodoro, parabéns pelo seu aniversário. Deus cubra-o de bênçãos e faça-o cada vez mais feliz ao lado de Norma, sua estimada esposa e grande figura humana.

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A bondade compartilhada

Damião Ramos Cavalcanti16 *

D ESDE QUE O VI PELA primeira vez, continua com o largo sorriso. Basta pressentir sua presença, já imagino a sombra acolhedora de José Teodoro,

mostrando afetividade à flor da alma. Uma das dádivas com que meus estudos em Roma e em Paris presentearam-me foi ter conhecido essa nobre pessoa, inspiradora da boa amizade, que é uma das formas oblativas do amor.

A verdadeira amizade torna-se um natural hábito de dedi-cação recíproca, originada em circunstância familiar ou social. Quando essa amizade, por algum motivo, fenece ou se atenua, experimenta-se um sacrifício pacífico. Atenua-se quando na-

* Escritor, poeta, cronista e membro das academias paraibanas de Letras, de

Cinema e de Filosofia.

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turalmente acontecem as paragens, rupturas, revoltas e tam-bém sonos e languidez no cansaço da convivência. Non potes esse sine dolore et [...] sine via non itur; sine veritate non cog-noscitur; sine vita non vivitur. Assim aprendi que sine dolore, non vivitur in amicitia. Mas tudo pode se restabelecer porque a amizade é a forma do amor que atinge o homem no estado mais vivo do seu ser. É, ao mesmo tempo, o melhor remédio para as feridas serem mais suaves e cicatrizáveis.

Qualquer vestígio de equívoco provem da falta de maior conhecimento entre as pessoas, do que resulta uma situação revestida de uma falsa excelência ou da imaginação do prová-vel. É o desgaste da essência, que carece de ser “ressubstancia-da”. Em Teodoro essas situações são desconhecidas. Ele parece possuir um poder digestivo dessas circunstâncias conflitantes. Raramente se sabe de alguma amizade que ele perdeu ou de algum conhecido seu que deixou de ganhá-la.

Teodoro está sempre preparado e disponível a aceitar o exercício de altas funções, para as quais é sempre solicitado por suas qualidades de tirocínio e liderança. Sua ordem é um pedido que se impõe pela clareza e necessidade de realização. Das pessoas que com ele trabalham comumente se escuta: “Dá gosto trabalhar com Teodoro, é uma pessoa humana e com-preensiva. Ninguém pode se negar a realizar as tarefas que nos distribui. Ele não pede trabalho, mas cooperação”.

Quando falo em realização, relembro o seu saber e saber--fazer, que crescem na sua mansa coragem. Dizia François Mitterrand, nas suas últimas campanhas vitoriosas, que tinha adquirido na luta do dia a dia o fascínio de uma “force tran-quille”. As determinações de Teodoro são resultantes de suas

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reflexões e de consulta aos seus pares. Talvez, alguém reclame ter sido apenas ouvido: “E depois ele faz como quer”. Isso acontece quando, tendo escutado uma rica diversidade de opi-niões, demonstra seu poder de síntese, aproveitando partes até das sugestões mais diferentes. Daí surge uma nova opinião, não semelhante às que lhe foram apresentadas, mas sendo, dialeticamente, o resultado das melhores conclusões.

Mesmo lidando com coisas materiais, Teodoro não per-deu o fascínio que lhe proporcionam sua fé e sua praticante re-ligiosidade. Por acreditar em um Ser superior numa suprema dimensão, reza o “credo niceno”, que assim professa: “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, de toda coisa visível e invisível”. Do Deus visível à intimidade do seu “ego”; do Deus invisível, mas manifesto no “alter”.

Convidado por ele para falar na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará sobre o tema: “Há quarenta anos em Paris – O movimento de maio de 1968 na França”, ouvi, pelos corre-dores daquela Casa, ser José Teodoro o deputado da educação. Isso ele comprova na tribuna ao fazer, quase que diariamente, substanciosos pronunciamentos sobre a educação naquele Es-tado, relacionando-a com teorias atuais e práticas educacio-nais que acontecem pelo mundo afora.

Não poderia ser diferente. Desde que terminou seus estu-dos pela Europa, Teodoro vem se dedicando aos serviços do ensino. Ganhou vasta experiência no Ministério da Educação, em Brasília. Posteriormente, assumiu a reitoria da Universi-dade Regional do Cariri - Urca, no Crato, e com seu dina-mismo, ampliou os horizontes daquela instituição de ensino superior. Em seguida, também como reitor, foi um marco na

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Universidade Estadual Vale do Acaraú, em Sobral. Todas as categorias que constituem aquela IES são unânimes em dizer que a UVA, em Sobral, define-se pela sua gestão como reitor: “Sabe-se o que foi e o que é a UVA ao se analisar sua história antes e depois do marcante reitorado do professor Teodoro”.

Esteja onde estiver, ouve-se dos seus auxiliares: “Teodoro está sempre antenado a tudo que se passa com tudo e com todos”. Sua operante “weltschauung” (visão de mundo) o favorece como um educador ativo, empreendedor, perspicaz e dinâmico. É, sobretudo, honesto com os outros e autêntico consigo mesmo; assim também se comporta com o povo que representa, na sua luta incessante, para que se concretize a conceituação do sentido mais puro e nobre da política: servir ao bem comum.

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Testemunhando uma liderança

Vicente de Paulo Carvalho Madeira 17*

A PESSOA É UM SUJEITO de relações. Ser pessoa é ser capaz de estabelecer e de aprofundar as relações com o outro e com o mundo, na imanência do en-

contro imediato e na transcendência da busca do absoluto. Ser gente é isto aí. Nem todo indivíduo é pessoa. A história da humanidade é a história das pessoas em processo de homini-zação e de humanização. Aonde terão chegado os bilhões de habitantes do planeta?

Na rede das relações, os indivíduos se destacam com a marca de sua personalidade. Há aqueles que simplesmente passam por nossos caminhos e há os que deixam a impressão duradoura do encontro ou da relação de pessoa.

Em nossa vida escolar e acadêmica, desde a infância, hou-

* Professor aposentado da UFPb onde também, foi pró-reitor.

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ve docentes professores e docentes mestres, como houve tam-bém mestres sem terem sido docentes. Na trajetória de nossa formação, não são apenas as relações hierárquicas de docente a discente, mas ainda as relações vivenciadas entre os discentes que vão construindo e estruturando a pessoa de cada um.

Pergunto-me aqui e agora sobre a personalidade de um conhecido, de um colega, de um companheiro, de um amigo: José Teodoro Soares. Eu o conheci, no final dos anos 50, em uma viagem em que ele atravessava o sertão no rumo de Paulo Afonso. Era um grupo de seminaristas de Sobral que excur-sionava pelo interior do Nordeste para conhecer a famosa ca-choeira que redimia a região com a energia elétrica que gerava. Teodoro parecia o chefe do grupo, numa relação de liderança com os companheiros.

Depois nos encontraríamos como colegas, no seminário da Prainha. Mais tarde, a permanência no Pio Brasileiro, em Roma, nos fez companheiros de uma jornada especial em que exploramos o mundo pelos roteiros da Europa, num clima marcante de abertura do Concílio Vaticano II. No ano de 1964, estávamos nós em Lyon, numa das famosas Semanas Sociais da França, evento que muito contribuía para o desen-volvimento do pensamento social cristão. No ano seguinte, estivemos juntos também na Alemanha, numa época em que visitar Berlim era testemunhar a história da guerra e da tensão dos grandes blocos.

Fazíamos parte do grupo de nordestinos no Pio. Além dessa característica, tínhamos a identidade de cearenses. Isto nos aproximava mais ainda. Ali desfrutávamos a convivência fraterna de Batista Frota, Benedito Genésio, José Cândido,

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José Rosa, Ernani Pinheiro, João Bosco, Salatiel, Rogério Matos, Antônio Colaço e tantos de outros estados ou provín-cias eclesiásticas, como especialmente as turmas da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Fizemos juntos incursões de es-tudos e excursões de férias pela França, Alemanha, Bélgica e Inglaterra, onde fui encontrá-lo em curso de inglês. Fizemos amizades comuns que ainda hoje cultivamos, como a de Ni-coletta del Rosso.

Selou-se uma relação que nada poderá apagar. Conviver em condições comuns já faz uma vinculação. Mas o convívio nas circunstâncias da distância da própria terra parece com-prometer mais aqueles que se relacionam.

Teodoro passou a ser uma referência de companheirismo para todos nós que com ele convivemos em alguma fase da tra-jetória de sua vida. Tem um carisma de aglutinador. Ele reúne e agrega. Todas as vezes que nos encontramos em qualquer parte, lá está ele reunindo pessoas e relacionando-as, tendo sempre um endereço a indicar, uma apresentação a fazer. Nos seus tempos de serviço no MEC, nossas idas a Brasília eram marcadas pela hospitalidade do “Prezado”. Em todos os cargos porque passou sempre encontrou uma maneira de integrar co-legas dos velhos tempos a novos companheiros, estimulando a participação competente nas funções.

Em cerca de meio século de conhecimento, impressiona--me em Teodoro sua capacidade de relacionar-se, como diz o povo, “com Deus e o mundo”. Isto é uma marca pessoal de sua liderança. Aonde chega, há sempre alguém que ele já conhece a quem vai apresentar outrem e de quem vai obter atenção para um outro. É um criador de elos de uma rede. Mais do

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que um indivíduo, ele é um polo de relações. Fecho os olhos e rememoro tantas situações vividas com este amigo, nos mais diversos lugares e tempos diferentes. O relacionamento se tor-na um permanente serviço à composição de um grupo que se expande. Trata-se de uma atenciosa preocupação com a rela-ção das pessoas. É um ministério, no sentido teológico, para o qual a Providência o preparou e o desenvolveu em todos os lugares por onde passou. Pertransit benefaciendo. Ele agrega e aproxima. Se tomarmos as suas preciosas cadernetas de ende-reço que vêm se acumulando, vamos ter um instrumento de avaliação deste fenômeno de relações humanas.

Neste cearense da gema, há uma afirmação da personali-dade do amigo, do líder e do político. Isto não se dá sem certas condições ou requisitos. Refletindo sobre o perfil do Teo, me apercebi da importância de alguns “apelidos” que frequente-mente lhe empregávamos no nosso grupo em Roma: “preza-do”, “amigo velho” e “simpaticone”.

O Prezado sempre foi aquele colega querido e estimado por todos: a figura do amigo, sempre disposto a ouvir e sobre-tudo a compreender. Quem tiver tido a experiência de algum choque com o Teodoro terá tido também a demonstração de sua capacidade de perdão. Não sabe guardar ressentimentos. No cotidiano da vida em comum, as tensões e conflitos são normais. Mas há pessoas como este reriutabano, capazes de manter compreensão e estima até por quem não o tenha com-preendido ou por quem se lhe tenha contraposto em seus pro-jetos, em suas orientações ou deliberações de chefe.

Desde nossos tempos de Prainha, observava-se como Teo-doro gostava da política. Havia em Fortaleza um largo círculo

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de relações políticas de seu pai. Ele cultivava estes contatos. Mas o político nele não se tem como uma simples herança paterna ou como uma visão partidária do jogo das elites. Ele sempre foi uma personalidade política no sentido mais alto do termo. Nosso velho diretor espiritual em Roma comentava que a política era para Teodoro uma vocação, e foi por esta orientação que se fez a opção pelos estudos de ciências políti-cas na Sorbonne. Hoje, lá do céu, o padre Mueller deverá estar acompanhando a realização desta vocação em ministério.

Foram tantos os indivíduos que passaram por mim nos 70 anos de vida. Alguns realmente se foram como simples conhecidos. De outros, guardei o nome e a lembrança, em alguma recordação. Houve os que foram uma interação pas-sageira numa relação de companheiros ou de colegas, por in-teresses comuns de determinados momentos. Amigos, estes são como Teodoro. Alguém de quem se tem a certeza de que nem tempo, nem distância desfaz a marca profunda da rela-ção, mesmo quando, por circunstâncias, os dias passam sem qualquer contato.

Hoje é muito comum ver-se o adesivo em carros procla-mando “Deus é fiel”. Parece que se descobre a grandeza da verdadeira fidelidade. Ela é a autenticidade daquele que per-manece sempre na sua identidade. Em Teodoro vejo refletir--se este raio da grandeza do Pai. Nós, os antigos conhecidos, amigos, colegas e companheiros sabemos que podemos contar com ele. Este é um amigo fiel.

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Alguns traços da

personalidade de Teodoro

Nereu Feix 18*

ANTES DE INICIAR A LEITURA deste artigo, gos-taria que o leitor deitasse os olhos sobre a fotografia ao lado. É o Teodoro no dia de nosso casamento,

com aquele sorriso anunciador de confiança no futuro e de-clarador de satisfação e otimismo. A história pessoal do meu amigo Teodoro comprovou que o seu otimismo tinha toda a sua razão de ser. Nesta ocasião estava praticamente acabada a fase integral de formação, e para o Teodoro começavam a esboçar-se as perspectivas de seu futuro profissional.

Gostaria de alinhavar, no presente artigo, alguns traços da

* Nereu Feix-Jahnstr é ex-colega de seminário e da Universidade Gregoriana

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personalidade do amigo Teodoro que o levaram a dar passos de gigante na sociedade cearense. O que foi decisivo para que aquele jovem cheio de otimismo chegasse a ser reitor, deputa-do, editor, escritor? Vamos lá.

Uma das características da sua personalidade sempre foi a fidelidade a si mesmo. Ele soube e sabe manter alguns prin-cípios de ética, de cristianismo, de humanismo de maneira indelével. Parece um Ottaviani no bom sentido da palavra: Semper idem. Esta segurança de foro íntimo que fornece a estrutura psíquica para as tarefas cotidianas deverá ter ajuda-do muito no enfrentamento do cotidiano. Temos uma missão na terra. E ela nos transcende. A sua fidelidade de foro ínti-

Nereu Feix com Françoise (de branco), Teodoro Soares e Cláudio Ruaro

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mo nunca o levou a ser intransigente com terceiros. No seu relacionamento nunca pediu atestado de comportamento ou de pensamento para amigos, colegas, companheiros ou adver-sários. Contrariamente ao Ottaviani, porém, o nosso amigo sempre foi um apaixonado do “aggiornamento” que vem de nossos tempos de Itália.

Uma curiosidade em busca de novidades no setor das es-truturas universitárias, do mundo estudantil. Quando conver-samos por telefone ele sempre insiste: “há alguma novidade na Alemanha no setor universitário? As universidades são esta-tais? Podem receber financiamento privado? Qual é a função do chanceler? E do reitor? Para onde vai a universidade alemã? E a francesa? Novidades? Manda um artigo.”

Creio que esta força vital também faz o amigo Teodoro vencer as vicissitudes do momento, seus próprios problemas de saúde, as críticas negativas, as insuficiências locais e pesso-ais. A fidelidade a si mesmo comporta em sua pessoa a necessi-dade do “aggiornamento”, do interesse permanente sobretudo pelo futuro da universidade.

Outra característica básica de sua vida parece ter sido a intuição relativa à importância da formação para o futuro do indivíduo e da sociedade. Timeo hominem unius libri. O Teodoro nunca se dispersou em milhares de ideias e em milhares de realizações. Nada de construir um açude hoje, de distribuir remédios amanhã e de construir casas depois de amanha. Nada disto. Parece que depois de ter entrado na Universidade ele nunca mais abandonou a universidade. A sua carreira profissional gira e girou em torno da formação universitária. As primeiras atividades já foram no Ministério

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da Educação. A Reitoria. A própria carreira de deputado gira em torno da universidade.

É impressionante. Não deixa passar um momento impor-tante da vida estudantil sem subir no pódio da Assembleia e manifestar-se a respeito do mundo estudantil. Em minha última ida ao Ceará, constatei novamente a presença do meio estudantil nas suas manifestações na Assembleia do Estado.

Certa vez me telefonou porque queria absolutamente um artigo sobre a primavera de Paris e de Praga. Sempre preocu-pado em refletir sobre a importância e a repercussão do mo-vimento estudantil de 1968 nos dias de hoje. Os estudantes ontem, hoje, e sobretudo os estudantes no dia de amanhã pa-recem ser o seu “livro único” sempre aberto.

Quem vive ou viveu mais na intimidade e no cotidiano da vida do amigo Teodoro poderá quantificar esta minha afir-mação qualitativa. Com recursos reduzidos, com “insumos” a serem captados, para não dizer literalmente “catados” no ser-tão, os resultados obtidos são impressionantes. O sonho da fe-deralização da UVA não foi possível realizar. Poucos políticos cearenses se engajaram e Brasília sempre preferiu as regiões ricas ou as regiões de políticos influentes para criar universi-dades federais. Sem recursos fixos ou institucionalizados e sem Midas ou Ford na redondeza, creio que praticamente deve-se considerar tudo como mais uma obra milagrosa ou milagreira do Padre Cícero.

Os resultados são impressionantes. A própria UVA po-derá apresentar as suas estatísticas comprovando de maneira cabal esta minha afirmação sobre os resultados obtidos com a intuição do amigo Teodoro. Com o Teodoro o sertão não

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virou mar mas virou universidade para milhares e milhares de estudantes espalhados pelo interior do estado, bem como pelos estados vizinhos. Houve muita inteligência no aprovei-tamento da inteligência local, dos recursos locais na busca do objetivo de formação de universitários e na busca da profis-sionalização. Não se trata de comparar Sobral com Harvard, Oxford ou Sorbonne (a comparação, na vista de muitos so-bralenses pareceria humilhante para as três universidades...), mas de constatar que foram descobertos talentos locais, foram canalizadas forças locais e que muito sonho profissionalizante ou acadêmico foi realizado. A contribuição do reitor José Te-odoro Soares foi primordial. A geração atual que constate as deficiências e que abra novos caminhos.

Uma terceira característica da personalidade do deputado Teodoro é o seu realismo. Não se trata de um sonhador. Trata--se de uma pessoa que não fica amaldiçoando o Brasil e o Nor-deste, suas forças políticas e econômicas, sua corrupção, e que por outro lado não é sonhador, ufanista, cantador de glórias. É um realista. Mão na massa e trabalho. Nada de construções fa-bulosas ou mirabolantes. É muito importante ser realista num mundo circundante surrealista. Aproveita-se o que a terrinha tem otimizando os recursos físicos e humanos disponíveis e aproveitando todas as boas ocasiões que se apresentam para o desenvolvimento da formação acadêmica ou profissionalizan-te. O amigo Teodoro domina o que nós chamamos na econo-mia de otimização de alocação de recursos humanos.

Uma quarta característica impressionante é a sua fidelida-de às suas raízes, à terrinha, aos amigos, ao passado. Um grande mestre de história dizia que uma personalidade se caracteriza

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não por ter nascido numa cidade importante, mas pelo fato de tornar uma cidade pequena importante por ter nascido nes-sa cidade. Muitas pessoas gostam de apagar o passado ou de borrá-lo parcialmente. O Teodoro é uma dessas personalidades que tem todo o passado, todas as raízes, todas as amizades no presente. Alzheimer nunca será sua companhia.

Quanta alegria tive em Fortaleza vivendo o esforço que ele empreendia para que eu pudesse pelo mínimo rever alguns colegas. Eu sempre cheguei meio de imprevisto. Mas uma re-feição de amizade sempre foi possível encaixar em sua agenda. A sua disponibilidade para acolher um amigo não tem limites.

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Companheiros de jornada

Pedro Henrique Chaves Antero 19*

F OI EM SETEMBRO DE 1962 que Teodoro, eu, Manfredo Araújo e alguns outros brasileiros parti-mos para uma Europa distante, à busca de conheci-

mentos e de realização pessoal. Era uma época de forte transi-ção de mentalidade, e tudo levava a crer que o velho continen-te guardava as respostas para as interrogações do momento.

O embarque ocorreu no Rio de Janeiro, em um navio de companhia italiana, Eugenio C. Foram cerca de duas semanas até o porto de Gênova. Tudo era novo e esplendoroso para os jovens cearenses de 20 anos, criados no Nordeste e educados em seminários, mas com referenciais de muitos professores que haviam estudado por lá.

O Concílio Vaticano II foi o grande evento que se iniciou naquele ano. Bispos e Teólogos de todo o mundo encontra-ram-se em Roma para discutir exatamente as questões que * Cientista político, colega da Universidade Gregoriana.

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geravam os conflitos de doutrina e originavam a crise porque passavam a Igreja e a sociedade ocidental. É verdade que a crise não era somente religiosa, mas também política. Comu-nismo e capitalismo, embora convivessem numa guerra cha-mada “fria”, já encontravam, no Brasil, sérios entraves para uma convivência pacífica. As esquerdas, a exemplo de Cuba, precipitavam pouco a pouco os acontecimentos, imbuídas da convicção de que a ditadura socialista era o remédio para a

Os anos se passaram e o sacerdócio não foi a opção do Teodoro nem a minha. Depois de quase dois anos distan-tes um do outro, voltamos a nos reunir em Paris, em 1968, após os “acontecimentos de maio” que deixaram a Europa numa grande ressaca. As estruturas sociais, entretanto, não se destruíram com a avalanche da violência, mas abriram es-paço para uma longa discussão e consequente agravamento das dificuldades que se arrastam até os dias de hoje. A eleição recente do atual presidente da França ainda foi marcada por temas recorrentes daquela época.

Fomos, portanto, companheiros de jornada por quase uma década, tendo Teodoro regressado ao Brasil certo tempo antes de mim. Aqui estivemos juntos na Universidade Federal do Piauí e no Ministério do Interior, em Brasília, quando, em seguida, percorremos caminhos diversos, mas não tão distan-tes. Como diretor do jornal O Povo, acompanhei a trajetória do Teodoro como reitor da Urca e da UVA e fui fiador, inicial-mente, em caráter sigiloso, a pedido do saudoso Demócrito, no convênio que ele firmara com a UVA, para publicação de uma página do jornal sobre a responsabilidade do reitor. Logo em seguida, a fiança foi desnecessária, pois Demócrito per-

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cebeu a seriedade do trabalho, tendo sido o mesmo coroado com a edição de alguns tomos, contendo artigos que ilustram a história da Universidade e da cidade de Sobral.

O ingresso de Teodoro, finalmente, na vida política, após 12 anos de reitoria na UVA, é, talvez, a estação desembarque, em que ele chega com toda a bagagem acumulada nos últimos anos à frente das universidades cearenses. Agora, terá levado para a Assembleia, também, um pensamento que deva ser co-erente com aquilo que ouviu de sensato durante seus anos de Europa. À época, se exigia uma sociedade mais igual e mais justa, sem nepotismo e sem corrupção, bem como uma maior liberdade de pensamento e de ação.

Essa estação a que me refiro não é uma estação qualquer. É uma estação da qual não se volta, mas se parte indefinida-mente para a frente, uma vez que a vida do político é uma luta contínua, na tentativa de galgar novos espaços. Entre tudo o que fez, Teodoro vai ficar na história do Ceará como o reitor que soube multiplicar por cem o tamanho de uma instituição pública de ensino, levando-a por toda parte e arrancando do meio em que se inseriu o sustento da organização. Foi um tapa no rosto de quem continua dizendo a bobagem de que todo o ensino público deve ser gratuito.

Não acreditava que tivesse a oportunidade de um dia po-der condensar essas informações e levá-las a público. A inicia-tiva dessa homenagem ao deputado é louvável e oportuna, pois a sua chegada à estação desembarque já pode ser comemorada, haja vista sua participação atuante na Assembleia Legislativa, para onde levou sua experiência de gestor, sua determinação no trabalho e sua vocação pelo contato com as pessoas.

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Esperamos para o Brasil uma revolução dos costumes, bem diferente daquele movimento maluco ocorrido em maio de 68, na Europa, bem como oposta às revoluções antiquadas dos marxistas. Mas, a saudável utopia que é a força motriz do desenvolvimento da comunidade dos homens está, infeliz-mente, ausente dos nossos discursos. Em seu lugar, plantaram a corrupção política e a imoralidade pública, acarretando a destruição dos valores até então cultivados em nossa socieda-de. A realidade, mais uma vez, supera qualquer ficção.

O parlamento brasileiro, do qual faz parte o professor Teodoro, tem a responsabilidade de gritar, em nome de um povo sufocado pelos desmandos políticos, contra a destruição da família brasileira. Essa, formada ao longo do Império e da República, com a presença da Igreja, é ainda a base em que se apoia a nossa organização política. E é nessa direção que pode-rão agir aqueles comprometidos com os valores fundantes da comunidade brasileira, certos de que contarão com os aplau-sos dos companheiros de jornada que sempre propugnaram pela democracia, pela ética e pela convivência cristã.

Unidos por mais de quatro décadas, o deputado Teodoro e eu continuamos próximos um do outro no trabalho e no ideal de uma sociedade que possa ser mais igual e mais humana.

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Paris, Maio de 1968!

— No olho do furacão

4.

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A continuidade de meus estudos em Paris, onde estudei Ciências

Sociais no Institut Catholique, e Ciências Politicas, na Universidade de Paris, veio de certa forma completar minha formação acadêmica. Vivi uma experiência muito marcante não só em Paris, como em toda a Europa, tendo acompanhado e participado das mudanças ocorridas notadamente nas universidades francesas em maio de 68, que tiveram repercussão em todas as universidades do mundo.

Naquele dia 3 de maio, estávamos indo para a aula no Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Paris, quando fomos surpreendidos com o comunicado do Diretório Central. Dava conta da adesão à greve iniciada pelos estudantes da Sorbonne em solidariedade aos universitários que sofreram repressão em Nanterre, frequentada pelo judeu alemão Cohn-Bendit, um dos principais nomes do movimento da França. Dali mesmo,

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fomos para um encontro na Sorbonne, logo após evacuada pela polícia, que resultou em atos violentos no Quartier Latin.”

“ Paris vivia uma efervescência contagiante, com a participação

Planfletagem nas ruas de Paris, em 1968: protestos contaminantes

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de cerca de 5 mil brasileiros que estavam lá para estudar ou como

exilados da ditadura. Estivemos algumas vezes em barricadas e

em outras manifestações de rua, mas, particularmente, gostava

mesmo era dos debates que se realizavam nos teatros e anfiteatros

das universidades, notadamente na Sorbonne, que funcionava

como quartel-general do movimento. Salas lotadas, muita gente

acomodada até no chão.

Sartre, Alain Touraine, Edgar Morin, Simone de Beauvoir

brilhavam nesses encontros e nas salas de aula, a plateia vibrava.

Exercia-se ali a revolução da palavra, a liberdade de expressão,

onde os assuntos não sofriam censura e o conflito das ideias

era sempre bem-vindo. Aquele movimento foi mesmo uma onda

repentina, um tsunami que arrebatou todo um país. De repente,

os franceses se viram sem suas referências e começaram

a se revoltar contra toda forma de poder e de instituições

estabelecidas. Contra todo e qualquer autoritarismo, viesse de

onde viesse. O grito de guerra que ecoava era: é proibido proibir.

A participação dos brasileiros, como de qualquer estrangeiro,

tinha de ser muito discreta, mesmo com a presença de nomes

como Fernando Henrique Cardoso, Miguel Arraes, Celso Furtado,

Betinho e tantos outros. Lembro da angústia de um colega, da

preocupação com o risco de se ferir nas ruas e nas barricadas,

que não era pequeno. Mas o atendimento era imediato, pois

mesmo em meio àquela baderna toda, o Estado funcionava a

contento. Havia muitas ambulâncias. O medo não era a falta

de atendimento, mas a possibilidade de deportação. Uma vez

identificado, de imediato já seria encaminhado para além das

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fronteiras, largado na Espanha, por exemplo.

Mas o movimento de maio de 68 na França ia além das

ideologias, criticava os políticos à esquerda e à direita, era

claramente anti-stalinista. Fui testemunha de que a utopia

é o que muda o mundo, são os sonhos que propulsionam os

acontecimentos históricos. Com a perspectiva de mudança

radical, vinha às ruas o reino da utopia.

Maio de 1968 foi um ano enigmático, emblemático, diria

mesmo eletrizante para aqueles que participaram de alguma

maneira dos seus acontecimentos. A revista Nouvel Observateur

sintetiza bem: a falsa revolução que tudo mudou.

Durante o período em que estudei em Paris, 1966-1970,

sobretudo tendo vivenciado o movimento de maio de 68, o Brasil

esteve sob regime militar e, naquele período, estimava-se que mais

de cinco mil brasileiros estavam no exílio e muitos aproveitaram

para estudar. Muitos brasileiros, hoje atuando no cenário político

mundial, estavam em Paris àquela época: Fernando Henrique

Cardoso, Cristovam Buarque, Betinho, Miguel Arraes, Violeta

Arraes, Marcos Guerra, Pe. Luiz Senna, ex-dirigente da JUC, Maria

Adelia Aparecida, Dalmo Nogueira e tantos outros.

Esta presença significativa de brasileiros em Paris de certa

forma facilitava o contato com o Brasil. Todos sonhavam em

retornar para um Brasil democrático, onde existisse mais

igualdade entre as pessoas e as regiões, notadamente no caso

do Nordeste brasileiro além de poder exercer livremente e

com chance de êxito sua profissão e de poder contribuir para

diminuir o grande fosso entre os brasileiros.”

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Um amigo fraterno

Maria Adélia Aparecida de Souza 20*

H Á MUITO QUE RELEMBRAR sobre esta ami-zade que, daqui a poucos anos, completará seu jubileu de ouro. Décadas e décadas na constru-

ção de uma amizade fraterna que se inicia em Paris em me-ados da década de 60.

Lembro-me, com saudades, de um jovem cearense, com ar de seminarista, que efetivamente o era, mas que acabara de deixar as lidas eclesiais, que me procurava na Embaixada do Brasil em Paris, onde eu fazia “um bico”, no setor cultural da Embaixada, chefiada pelo escritor Guilherme de Figueiredo (irmão do ex-presidente Figueiredo e autor de um clássico que todos deveriam ler — Tratado Geral dos Chatos). Trabalhei na Embaixada com Sergio Nabuco de Castro e com a incrível

* Professora titular de Geografia Humana da USP. Cátedra de Direitos Humanos da

Universidade Católica de Lyon. França.

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Gilda Alvim, tia de Chico Buarque. Cuidava eu de atender os estudantes brasileiros que viviam e estudavam em Paris. Este era o contexto em que nos conhecemos, Teo – como o chama-vam desde então — e eu.

Há muito que relembrar desse princípio de “vida civil” do nosso hoje deputado Professor Teodoro. Saudades imen-sas dos passeios do nosso grupo, que incluía Cleide e Eliete Ramos, irmãs paraenses por quem até hoje nutrimos uma fra-terna e insistente amizade, Cláudio Ruaro, que Teo sempre me faz reencontrar em eventos em Fortaleza, e tantos outros...

Teodoro é uma dessas pessoas que conserva amigos. Sem-pre dizemos isto dele. Não se esquece de nenhum, sempre so-lidário e adivinhando quando precisamos de um gesto seu. Com sua enorme sensibilidade, é capaz de adivinhar quando necessitamos de algo. Logo o telefone toca: Adélia? É Teodoro! Tudo bem? Espanto-me sempre do lado de cá, especialmente nestes últimos tempos em que a vida tem me testado ao limi-te. Lá está sempre presente. Teo: Adélia, você precisa de algo? Quer vir para cá? Coragem!

Teodoro não é meu amigo, é meu irmão. Faz-me lembrar um belíssimo texto de Pedro Nava, em Beira-Mar, quando diz: Aparentar-se pelo coração é ser amigo. É preciso dons ina-tos de solidariedade, bondade, compreensão, a que se juntam também o momento especial de superposição e coincidência de interesses, opiniões, princípios, regras, desregras – momen-to que pode ser fugaz ou transformar-se em duração da vida inteira. Este é o retrato fiel da nossa amizade: nossas concor-dâncias tantas, nossas discordâncias algumas, mas nosso eter-no respeito um pelo outro.

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Uma das qualidades que mais estimo em Teodoro, ho-mem público e político, é sua humildade. Independentemen-te do cargo ou função em que esteja, jamais esquece os ami-gos: atende telefone, lembra-se de telefonar, não se esconde de modo algum das pessoas. Uma paciência infinita, uma tolerância sem limites. Tenho idade suficiente para ter visto amigos fraternos que em cargos públicos se esquecem e igno-ram os amigos. Tristes pessoas, tristes caracteres... esquecem que somos todos sempre iguais e que a humildade e a genero-sidade são atributos que jamais as pessoas poderiam esquecer. Estas são qualidades contidas no DNA de Teodoro.

Eu posso dizer, como a fabulosa Rachel de Queiroz, cearense e amiga de Teo, em uma das suas Cem Crônicas Escolhidas: Pode haver nada mais confortável nesse mundo do que um amigo velho? Não tem surpresas conosco, mas também não espera de nós o que não podemos dar. Não se escandaliza com o que fazemos, não se irrita, ou se se irrita, é moderadamente... Não precisa a gente lhe explicar nada, o mecanismo de novos interesses e até mesmo de novos amores, porque o velho amigo conhece todos os nossos mecanismos. Mas, além dessa capacidade de compreensão quase infinita, se o amigo velho nos é acima de tudo precioso é porque precio-sos também somos para ele. É como se Rachel falasse de Teo e da amizade que temos um pelo outro.

Mas o que ainda me surpreende é a eloquência com a qual Teodoro fala de seus amigos, nas pequenas rodas ou em público, revelando as caminhadas feitas juntas, as dificulda-des e sabores experimentados vida afora. E essa amizade se torna uma marca, uma grife. Ah! Você é amiga do professor

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Teodoro, aquele que fez a UVA? Assim se diz dele aqui em São Paulo também. A genialidade e a coragem de Teodo-ro em batalhar pela criação de uma universidade pública, quase que com seus próprios recursos e seu talento para formular projetos e viabilizá-los, é algo de que todos nós brasileiros, e não apenas cearenses, precisamos nos orgu-lhar. Precisamos ser gratos a Teodoro pelos seus feitos pela educação pública brasileira.

Somos um grupo de amigos que Teodoro junta e nos mantém unidos. Aqui e ali, um e outro vão se juntando... Recentemente, nas celebrações de maio de 68 na França, em evento organizado pelo mandato do deputado Professor Teodoro na Assembleia Legislativa do Ceará, novos amigos, novos encontros se deram... Convergimos todos para Paris, cidade que amamos, a que devemos muito da nossa for-mação intelectual, política e humanista. Em Paris, muito cedo aprendemos sobre cidadania, conhecimento, direitos humanos... Vimos Paris nos anos 60, ainda se livrando de dois fantasmas: a limpeza ainda das imagens da guerra e dos processos de colonização. Assistimos Notre Dame e vá-rios quarteirões de Paris serem limpos da pintura negra do tempo para oferecer trabalho aos migrantes que vinham das colônias libertas e de todas as partes do mundo. Estar em Paris com pouco mais de vinte anos é marcar para sempre, com essa juventude, toda uma vida.

E, por incrível que pareça, essa juventude permanece em cada um de nossos encontros. Falamo-nos como se nos vísse-mos todos os dias... Continuamos a conversar com o mesmo entusiasmo e alegria dos anos 60.

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Brindo a nossa juventude, sempre. Brindo a juventude de meu querido amigo e de uma amizade longa e duradoura.

Que Deus lhe dê saúde e vida longa! E, que continue a iluminar os seus caminhos.

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Um amigo com certificado de qualidade

Lélio Fabiano dos Santos 21*

COMO AS GALÁXIAS NO COSMOS, são bilhões as pes-soas se movimentando em nosso planeta. Algumas se encontram em determinados momentos e paragens.

Possuidoras de razões e de intencionalidades, de emoções e de vontades, elas são movidas pela atração que fortalece e pereniza vínculos, que fixa e torna sempiternas as amizades, os relacio-namentos, a solidariedade. O tempo não para e os espaços que as abrigam se tornam continuamente outros e diversos.

É assim que penso e sinto quando, daqui de Belo Hori-zonte, recebo o convite para contar de um amigo de tantos anos, de Paris-Sobral-Fortaleza. Menos de três anos de con-vivência na Paris do final dos anos 60 bastaram para projetar

* Professor e jornalista em Minas Gerais.

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uma relação que se solidificou, que atravessou século e milê-nio, mares, quilômetros e geografias. Teodoro, o Teo, o amigo cearense permaneceu referência para aquele grupo de jovens que, como ele, deixara o Brasil e fora buscar no velho conti-nente uma inspiração nova para sustentar uma travessia nacio-nal adversa que se prometia longa, viu-se.

Éramos um grupo de ex-seminaristas originários de várias regiões do Brasil. Eu era jornalista de Belo Horizonte, conclu-íra o curso de Direito, depois de deixar o seminário no Rio de Janeiro no começo da década. Com uma bolsa do governo francês, fazia mestrado no Instituto Francês de Imprensa da Universidade de Paris. Teodoro cursava o Instituto de Estu-dos Políticos, também da Universidade de Paris. Teo vinha de Roma, onde estudara Teologia na mítica Universidade Grego-riana, berço intelectual de milhares de cardeais, bispos e pa-dres em todo o mundo e até alguns papas.

Todos tínhamos vivido o clima do aggiornamento da Igreja de João XXIII e de Paulo VI em nossos respectivos seminários. Mas a Paris profana e cosmopolita, culta e política começava a nos seduzir. E a Europa era ali, mais perto que Sobral, menos distante que Belo Horizonte. E foi viajando e acampando por quase todas as capitais das democracias liberais ocidentais e dos países comunistas do leste que a amizade de nosso grupo foi sendo aprofundada. E o Teo era o nosso pontífice!

Hoje, 40 e poucos anos depois de um mês de maio de 68, quase encerrando nossa imersão parisiense e europeia, eu re-lembro e constato: aquele cearense do sorriso largo, só menor que sua generosidade, que nos transmitia sabedoria e simpa-tia, tornou-se implantador de universidades, reformador de

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ensino, formulador de políticas, realizador de sonhos.A reminiscência me leva a buscar numa analogia enose-

mântica um modo de classificar a amizade, a trajetória do pro-fessor e deputado José Teodoro Soares, o mestre do inovador modelo de gestão da UVA — Universidade Estadual Vale do Acaraú. Teodoro tem appellation d’origine contrôlée (deno-minação de origem controlada), o certificado que atesta a qua-lidade dos vinhos franceses, que leva em conta a localização geográfica, as normas estritas de produção e as condições de envelhecimento. A primeira classificação de AOC é a denomi-nação Superior. A origem familiar, a formação religiosa e edu-cacional, a experiência profissional e socioafetiva do Teodoro atestam e comprovam essa superioridade e essa liderança, seu idealismo e suas vitórias.

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Teo, meu amigo demuitos anos

Cláudio Ruaro 22*

C ONHECI O TEODORO EM PARIS, no mês de outu-bro de 1966. Ele vinha de Roma, onde passara vários anos estudando na Universidade Gregoriana. Resol-

vera dar um tempo na carreira eclesiástica para se dedicar aos estudos de sociologia e ciências políticas e adquirir uma visão do mundo mais abrangente. Isto possibilitaria uma decisão de vida mais madura e segura. Não precisou de muito tempo para ver qual seria seu caminho.

Eu chegara de Curitiba, onde concluíra a Faculdade de Filosofia na Universidade Federal do Paraná, após ter feito três anos de Filosofia no seminário de Viamão-RS. Antes disso, eu tinha passado sete anos no seminário de Caxias do Sul-RS. Também havia dado um tempo para amadurecer

* Sociólogo e administrador de empresas.

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minha decisão de vida.Em Paris, conhecemo-nos no Institut Catholique, onde

tanto o Teodoro como eu estávamos inscritos para fazer uma licença em Ciências Sociais. Nos primeiros dias de aula co-meçamos a conversar sobre nosso passado nos seminários e o que planejávamos fazer na França. Houve uma identificação grande entre nós e daí nasceu uma amizade que se estendeu pelos três anos e meio de convivência em Paris.

As dificuldades iniciais que enfrentamos num país estra-nho fazem com que nos aproximemos das pessoas de uma for-ma mais estreita. As aulas no Institut eram todas em francês, que até então não dominávamos. Num primeiro momento ouvíamos em francês e anotávamos em português. Em seguida as anotações já eram uma mistura de português e francês, para só mais tarde escrevermos tudo em francês. Uma lembrança associada a nosso início no Institut Catholique foi uma gran-de nevasca, o que era raro em Paris. Tínhamos como colega nesta ocasião o Pe. João Batista Frota.

O Teodoro conseguira um lugar na Cité Universitaire e eu estava num quartinho alugado de uma velhinha na Rue Moscou, perto da Place Clichy, num isolamento de dar dó. O Teo (era assim que o chamávamos) procurou me ajudar a en-contrar também um lugar na Cité. Depois de vários pedidos e preenchimento de algumas formalidades, consegui me mudar no início de 1967 para a Maison de l’Agro (casa destinada a estudantes franceses que faziam o curso de agronomia).

A proximidade permitiu um convívio maior. Nessa época juntamos uns trocados para comprar em sociedade um carro usado (Ford Cortina) que seria nosso companheiro de muitas

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viagens por toda a Europa. Já nos primeiros meses de Paris, tanto o Teo como eu pro-

curamos outras instituições para desenvolver nossos estudos. O Teo conseguiu ingressar nas Sciences Politiques (o que já dava uma ideia de seus interesses profissionais) e eu entrei na Sorbonne para uma licença e mestrado em Sociologia. Fize-mos dois cursos ao mesmo tempo, tendo em vista que con-tinuamos no Institut Catholique. Isto nos obrigou a estudar muito. Muito mesmo. Tínhamos obrigação de ler vários livros sobre os quais seríamos questionados em exames de final de ano, além das matérias nas quais já estávamos inscritos. Prepa-ramos muitos exames e avaliações estudando juntos.

Não sobrava muito tempo para o lazer. Mas sempre que possível procurávamos nos distrair com pequenas viagens nos feriados prolongados ou no período do Natal ou Páscoa. Ou-tra distração era procurar algum lugar para ouvir música e dançar. A Romeo era uma das preferidas. Comer um prato italiano na Pizza Pino uma vez por semana também fazia parte de nossas pequenas extravagâncias. Eram prazeres simples que a vida de estudante com pouco dinheiro ainda permitia.

Compartilhamos muitas experiências de vida naquela época: as dificuldades com o idioma, a distância dos familia-res, a falta de comunicação com o Brasil, as novas amizades, a reconstrução da vida afetiva com a presença feminina. Os anos de seminário haviam “sublimado” a libido e a sexuali-dade. Em nossos horizontes de vida tínhamos de lançar uma ponte sobre esta lacuna. Tudo isto foi assunto de muitas con-versas e confidências.

Outro ponto importante de nosso convívio foi a realiza-

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ção de algumas viagens inesquecíveis. No verão de 68, muni-dos com uma barraca e nosso Cortina da Ford, convidamos o Lélio, o Jorge Siqueira e o Chaves para uma viagem pela Su-íça, Alemanha, Tchecoslovaquia, Hungria, Romênia, Bulgá-ria, Turquia, Grécia, Iugoslávia, Itália e novamente Suíça. Em alguns destes países conhecemos muito da realidade socialista conversando com estudantes, operários e famílias comuns. Na Tchecoslováquia testemunhamos a vibração da população pela abertura política da primavera de Praga somente trinta dias antes da invasão soviética, com seus pesados tanques. Na fronteira da Romênia com a Hungria ficamos hospedados numa família simples, exemplar típico da realidade socialista. Em outras regiões tivemos a oportunidade de admirar a beleza natural de paisagens, como na Turquia e na Grécia.

No verão seguinte (julho-agosto de 1969) andamos pela Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia, Polônia e novamente a Alemanha. Foi outra experiência mui-to interessante. A beleza natural da Noruega nos impressio-nou muito. Em cada curva de estrada descobríamos uma nova paisagem. Na Rússia, país fechado para o ocidente, estivemos em teatros, frequentamos restaurantes, visitamos a Universi-dade Patrício Lumumba, assistimos a uma partida de futebol do Dínamo de Moscou, onde jogava no gol o lendário Yashin, visitamos uma fábrica de artigos hospitalares, onde fomos recebidos formalmente pelo comitê de gestão formado por membros do partido comunista. Havia no grupo um interesse muito grande em conhecer a realidade vivida pela população local. Nesta viagem foram nossos companheiros o Jorge Si-queira, a Edilnete, o Lélio, a Leila, a Lúcia e a Sandra. Com

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uma Kombi e duas barracas percorremos todos estes países. Não poderia deixar de citar outra grande experiência de

vida que foi participar dos acontecimentos de maio de 68. Acompanhamos tanto na Cité como no Quartier Latin todas as mudanças deste período único na história. Frequentamos as barricadas, vimos o Teatro Odeon ser aberto à palavra de quem quisesse se manifestar, presenciamos os movimentos es-tudantis com as mais diversas tendências, acompanhamos o desenrolar da crise política dentro do governo francês. Obser-vamos a explosão espontânea de um movimento, sobretudo entre os jovens, em busca de novos ideais de vida. Constata-mos a repentina solidariedade entre os franceses, algo que até então não tínhamos presenciado no dia a dia. Este período único que vivemos juntos também contribuiu para o cresci-mento de nossa amizade.

Retornando ao Brasil, cada um de nós seguiu seu pró-prio caminho, separados por distâncias continentais. O Teo no Ceará e em Brasília e eu em Curitiba. Sempre que tivemos a oportunidade de nos encontrar, senti que continuava exis-tindo uma sintonia natural e espontânea, resultante dos anos vividos intensamente em Paris.

O Teo é uma pessoa de muitas qualidades. Quero ressaltar sua generosidade e desprendimento, sua dedicação aos obje-tivos que se propõe, sua capacidade de aglutinação para tra-balhos em equipe. Muito prestativo, sabe cultivar as amizades criadas ao longo da vida. Tem um temperamento que facilita o convívio. Apesar de algumas dificuldades de saúde, conserva a alegria de viver. Não posso esquecer suas gostosas gargalhadas.

À distância, acompanhei seu brilhante trabalho nas reito-

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rias de Crato e Sobral, e agora como representante popular na Assembleia Legislativa. Lembro que em Paris, por diver-sas vezes ele me confidenciou que tinha o ideal de se tornar deputado em seu estado natal. E conseguiu. Faço votos que mais uma vez este espírito de liderança e de dedicação ao bem comum se manifestem em seu atual trabalho como de-putado estadual do Ceará.

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Professor Teodoro: um

nome para a história

Elias de Oliveira Motta 23*

E M MEADOS DO ÚLTIMO semestre de 1968, no Brasil, já se sentia o aumento da tensão no clima político, indicando a possibilidade de mais repres-

são para quem discordasse do governo. Era o prenúncio de um

* Presidente do Instituto de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação — IPDE;

advogado, conferencista e escritor, com especialização em Planejamento Educacional

e doutorado em Sociologia pela Sorbonne; é consultor da UNESCO e foi consultor

legislativo do Senado Federal e da Confederação Nacional de Estabelecimentos de

Ensino; assessor do MEC, secretário de Educação de Maranguape, secretário de

Estado de Mato Grosso do Sul e professor da Universidade Federal do Ceará e da

Universidade Católica de Brasília.

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novo Ato Institucional para diminuir ainda mais as poucas franquias democráticas que restavam aos oposicionistas, que ainda tinham a coragem de resistir contra a ditadura militar implantada em 1964.

Naquela época, como militante do Movimento Demo-crático Brasileiro — MDB, único partido de oposição que os militares toleravam para manter alguma aparência de de-mocracia, eu dava assessoramento ao líder oposicionista na Assembleia Legislativa do Ceará, deputado Mosslair Cordeiro Leite, e colaborava com o vereador também do MDB, de For-taleza, Seridião Montenegro, além de ser secretário de Educa-ção e Cultura de Maranguape, única prefeitura no estado com um prefeito do MDB.

No final de setembro de 1968, o deputado Mosslair infor-mou-me que a extrema direita estava preparando “um golpe dentro do golpe”, por meio de um novo Ato Institucional, e que meu nome estava em uma relação das primeiras pessoas que seriam presas no Ceará. Comunicou-me também que, por intermédio do jornalista cearense Fausto Neto, que estava em Paris, havia obtido um documento da França concedendo-me uma bolsa de estudos (o que me permitiria licenciar-me da Universidade Federal do Ceará, da qual era professor). Aceitei, assim, o conselho insistentemente dado por ele para deixar imediatamente o País.

No dia 10 de outubro de 1968, pela manhã, o tempo estava fechado em Paris e a temperatura não passava de 10 graus centígrados. Foi nessa data que lá cheguei e encontrei Fausto Neto me esperando. Para minha surpresa, Fausto havia convidado três cearenses e outros brasileiros que lá residiam

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e que eu ainda não conhecia, para me recepcionarem em seu apartamento. Dentre eles, estava o jovem José Teodoro Soa-res, demonstrando solidariedade e calor humano a uma pessoa que ele nunca havia visto antes.

Naquele dia, começou minha amizade com o então estu-dante, e depois professor, magnífico reitor e deputado Teodo-ro Soares, a qual logo procurei cultivar, pelos valores humanos e qualidades morais e intelectuais que o fazem merecedor do carinho, estima e admiração de tantas pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.

Descobri logo que o Teo, como sempre carinhosamente o chamei, era uma pessoa flexível, de mente aberta, sensibili-zado pelos problemas sociais da humanidade e entusiasmado com a vida, bem como humilde para procurar ajuda no seu permanente e rápido desenvolvimento pessoal e profissional. Com efeito, estando ele com uma minuta de sua dissertação de mestrado pronta, apesar de sua experiência ser muito mais rica do que a minha e de ter uma sólida formação acadêmica (adquirida nos seminários de Sobral e de Olinda e em tra-dicionais universidades da Alemanha, da Itália e da França), pediu-me que a lesse e oferecesse críticas, sugestões e obser-vações. Lendo seu trabalho, constatei ser ele um profundo conhecedor da história do Ceará, principalmente da história política, e muito aprendi a respeito.

Com o tempo, nossa amizade foi se consolidando ao des-cobrirmos que tínhamos formação de berço muito parecida e muitos ideais em comum, especialmente o anseio de uma democracia com mais justiça social para o Brasil. Não éramos nem de direita nem de extrema esquerda e não estávamos fi-

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liados a nenhum partido comunista, mas também não nos omitíamos na defesa de um mundo melhor pregado pelas en-cíclicas papais. Éramos contra o autoritarismo militar vigente no Brasil e não tínhamos medo de dizer o que pensávamos, justamente por não sermos nem conservadores nem subversi-vos. Por isso, algumas vezes, éramos mal interpretados e fomos objeto de fofocas, o que, infelizmente, era comum entre brasi-leiros que residiam na França, onde o clima político de medo, desconfiança, insegurança e polarização gerado pela ditadura brasileira tinha seus reflexos.

Entre 1969 e 1970, ainda em Paris, enquanto alguns con-terrâneos de direita, que não me conheciam bem, comenta-vam que eu poderia ser um perigoso guerrilheiro, outros, da esquerda, diziam que provavelmente eu era um espião do SNI.

Teodoro Soares, homem de princípios que sabe valorizar os amigos e ser solidário a eles, mesmo tomando conhecimen-to dessas falsidades a meu respeito, em nenhum momento afastou-se de mim, assim como outros grandes amigos cearen-ses que estavam na Europa naquela época, como Pedro Hen-rique Chaves Antero, José Rosa e Fausto Neto, fazendo valer mais a amizade do que o medo que os comentários desairosos procuravam infundir.

Depois que retornamos ao Brasil, mesmo tendo passado anos sem nos encontrarmos, sendo o Prof. Teodoro reitor da UVA e membro do Conselho de Reitores das Universidades do Brasil — CRUB, apoiou ele a eleição de meu nome para a lista tríplice que foi indicada pelo CRUB para o Conselho Nacional de Educação.

Já no ano 2008, como deputado estadual da Assembleia

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Legislativa do Ceará, o Prof. Teodoro, demonstrando mais uma vez sua amizade, que tanto prezo, pronunciou, no ple-nário daquela casa, um discurso destacando minhas ativida-des como educador (desde a Universidade Federal do Ceará e a Secretaria de Educação de Maranguape até a UNESCO) e tecendo comentários sobre o livro de minha autoria Direito Educacional e Educação no Século XXI.

Posso, portanto, depois de 40 anos de relacionamento com este grande cearense e educador, que tanto engrandece sua terra natal, testemunhar a sua profunda formação cris-tã, bem como o amor que ele dedica à família, aos amigos, à Política com “P” maiúsculo, à educação nacional e às muitas instituições de ensino que tanto já devem a ele. Posso salientar também que, nestas quatro décadas de amizade, nunca vi o Prof. Teodoro reclamando de alguma condição adversa de sua saúde ou de alguma decepção com companheiros ou amigos, apesar de elas terem ocorrido. Sempre se apresentou para mim como um homem sereno, de mentalidade positiva e disponí-vel para atender aos amigos, apesar das grandes responsabili-dades de suas elevadas funções e atividades.

O Ceará já destacou muitos nomes ilustres de sua histó-ria, que servem de exemplos para as novas gerações, e o nome do Prof. Teodoro Soares merece estar entre eles. A iniciativa de editar este livro merece, portanto, os parabéns, pois ele per-mitirá que sejam divulgados aspectos importantes da vida, da dignidade e da integridade do Professor Teodoro, bem como sua luta apaixonada pelo desenvolvimento nacional com base na valorização do professorado e em uma educação de quali-dade voltada para a inserção do povo brasileiro na sociedade

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da informação, do conhecimento e do lazer.Meu desejo, ao escrever esta memória, é de que o Profes-

sor Teodoro aproveite o conteúdo deste livro para fortalecer em seu interior a chama de esperança que o inspira a continu-ar lutando por dias melhores, bem como para renovar sua pai-xão permanente por tudo o que faz. Esta é a minha mensagem para o meu querido e inesquecível amigo Teodoro Soares, e peço a Deus para que ele tenha uma longa vida, para aumen-tar os serviços que presta à comunidade cearense.

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Insculpindo um perfil

João Teófilo Pierre 24*

E M 1987, A COMUNIDADE universitária da Uni-versidade Regional do Cariri recebia, en état de sur-prise, o seu segundo reitor, indicado pelo Dr. Anto-

nio Martins Filho e nomeado pelo governador Tasso Jereissati.Notícias fragmentais sobre o professor José Teodoro Soa-

res precediam sua chegada a Crato. Sabia-se que ocupara car-gos relevantes no Ministério da Educação, com destaque para o de Secretário Geral Adjunto, no qual granjeara louvores das instituições de ensino.

O Cariri permanecia en état de surprise, porque ele era um nome desconhecido e a região vivia, ainda, os foros da sua mais recente conquista, que era a criação de sua universida-

* Assessor da Reitoria da UECE; sócio acadêmico do Instituto Cultural do

Cariri — ICC.

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de regional, obra da teimosia, da competência e do prestígio do grande Martins Filho. Dada por completada sua obra, o Rei-tor dos Reitores, como era cognominado o ilustre fundador da Urca, decidiu partir para outras empreitadas e deixar a outrem a incumbência de consolidar nossa Instituição. Nos conciliábulos dos meios educacionais, a expectativa era de que seria um filho da região o escolhido para dirigir a novel instituição no quadriê-nio seguinte. Daí, a surpresa com o nome do novo reitor.

Após tomar posse e escolher o corpo de auxiliares e as-sessores, no que se houve com rara felicidade, e tendo tido o cuidado de auscultar o Dr. Martins Filho, o professor José Teodoro Soares procurou conhecer a moldura geoeducacional de abrangência da universidade que lhe era confiada, e que se estendia por um raio de cerca de 300 quilômetros a partir do campus sede, em Crato. Nas primeiras reuniões com seu staff de administração superior, percebemos sua preocupação em colocar a Urca como eixo motivador dos programas de desenvolvimento municipais, integrando-os numa visão parti-cipativa, na qual todos seriam agentes e instrumentos do pro-gresso das estruturas sociais e da promoção do homem, num contexto de cidadania, utilizando as potencialidades naturais e a riqueza humana dos municípios envolvidos. Ficou, então, claro que o novo reitor concebia a presença da Universidade Regional do Cariri como principal polo vetor das esperadas mudanças políticas, econômicas, sociais e educacionais pelas quais clamava a opinião pública.

Conquistada a comunidade universitária para a necessi-dade de fazer nossa Instituição respeitada, no contexto das coirmãs nordestinas, colocando-a num patamar de ensino,

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pesquisa e extensão consoante os ideais que motivaram suas cartas constitutivas e, também, na fidelidade às expectativas de quantos se consagraram à tarefa de criá-la, o reitor Te-odoro afrontou a grave incumbência de consolidá-la junto ao Governo das Mudanças, pois tal apoio era essencial para a efetivação desse sonho que fora acalentado durante tantos anos e que a teimosia e a dedicação de Martins Filho tornara realidade. E, nesse capítulo do esforço em prol da recém-ins-talada Universidade, o segundo reitor emulava-se em palmi-lhar os passos do criador da Urca. Nada o desanimava e tudo o incentivava a, teimosamente, fazer da criação da Universi-dade Regional do Cariri um divisor de águas ou de tempos que se medisse em duas etapas, como antes e depois de seu desempenho institucional.

Assegurada a consolidação da Urca, o reitor Teodoro vol-tou-se para seu programa administrativo que se desdobrava em vários planos, nenhum fácil, todos desafiadores e claman-do pela adesão decidida da comunidade da Urca.

Em primeiro lugar, urgia tratar do enquadramento do pessoal docente e técnico-administrativo das instituições in-corporadas ex vi da lei Nº 11.191, de 9 de junho de 1986, obedecendo instruções do secretário de Educação, Dr. Pau-lo Elpídio de Menezes Neto. Nomeada a comissão ad hoc, coube-nos a tarefa de harmonizar cargos e funções de diferen-tes denominações, classes e níveis, constantes dos planos de carreira das faculdades de Filosofia, da faculdade de Direito, da faculdade de Ciências Econômicas, em Crato, e do Centro de Tecnologia, em Juazeiro do Norte, o que foi possível após exaustivas negociações com os interessados.

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Em segundo lugar, o reitor Teodoro dedicou-se ao qua-dro de pessoal da Urca, montando sua assessoria superior e ampliando as condições de promoção e ascensão dentro da carreira docente e técnico-administrativa.

Em terceiro lugar, e aqui o reitor revelou-se um negociador muito hábil, foram criadas parcerias com muitas prefeituras do distrito educacional da Urca, visando à formação de mão de obra qualificada, através de cursos extensionais, e a qualificação dos corpos docentes das redes pública e particular.

Internamente, iniciou-se o tombamento dos bens móveis e imóveis da Universidade e a recuperação e ampliação das dependências físicas dos câmpus do Pimenta, de São Miguel e do Pirajá. As bibliotecas setoriais e a central mereceram es-pecial atenção, com o aumento e modernização do acervo e o estabelecimento de regras de acesso e empréstimo. O reitor Teodoro criou também um Setor de Cerimonial e uma Asses-soria de Comunicação Social, dinamizando os contatos entre a Universidade e a comunidade extramuros.

A formação intelectual e seus contatos com pensadores, fi-lósofos e sociólogos , principalmente das universidades france-sas e belgas, levou o reitor Teodoro a promover os Seminários Internacionais sobre a Questão Padre Cícero e as Romarias de Juazeiro do Norte, com a presença de renomados professores e estudiosos do assunto, com larga repercussão na comunidade acadêmica do Brasil e do exterior. Os Anais desses Encontros de Altos Estudos constituem autorizada fonte de pesquisas so-bre tema tão apaixonado e apaixonante e reportam artigos, ensaios e testemunhos de autores consagrados e respeitados.

Enfim, a Urca encontrava seu caminho e se mostrava vi-

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toriosa, correspondendo às esperanças nela depositadas pela região de sua atuação. E foi, parece-me, a competência da ges-tão do reitor Teodoro que motivou sua escolha para se desin-cumbir de novo desafio na heráldica Sobral, dessa feita para assumir a reitoria da Universidade Estadual Vale do Acaraú.

Hoje, na Assembleia Legislativa do Ceará, faz questão de ser chamado de deputado Professor Teodoro, como sinal de sua permanente dedicação aos problemas educacionais e cultu-rais do Estado. E, embora fisicamente afastado de Sobral e de Crato, a essas duas cidades se reporta sempre com carinho, ex-ternando as valiosas ligações com sua gente e suas instituições.

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Gestão estratégica

na Urca, 1987-1997

Manuel Edmilson do Nascimento 25*

Um breve depoimento

F ALAR SOBRE O COLEGA de seminário, Professor Teodoro, quer no período de sua estadia em Paris ou, mais tarde, sobre nossos encontros em Brasília

e Rio de Janeiro, parece algo muito natural; algo que contém memórias de muitos episódios ao longo de um tempo razoá-vel: quinze, vinte anos de convívio, às vezes geograficamente próximo, às vezes distante.

No entanto, quando se trata de evocar nosso “encontro”

* De Bela Cruz, colega de turma no seminário de Sobral, ex-reitor da Urca.

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no Crato, ou melhor dizendo, no Cariri, tudo muda. Estamos às voltas com um universo diferente, onde não houve convi-vência local. Com efeito, nossa convivência ficou circunscrita ao mundo das ideias ou à apreciação de fatos objetivos perten-centes à história local que não podemos interpretar livremen-te, como se fossem relações de pura amizade.

Refiro-me ao processo histórico de criação e instalação da Universidade Regional do Cariri – Urca que teve início na década dos oitenta, do século passado, mais precisamente, em 7 de março de 1986, e no qual tivemos participação como atores centrais.

A Urca foi inicialmente um projeto do Dr. Martins Fi-lho que, com sua experiência de semeador de universidades, se propusera a tornar realidade um antigo sonho cratense: a criação de uma universidade no interior do estado, no polo econômico e cultural do Cariri, cujo objetivo maior seria par-ticipar na promoção do desenvolvimento econômico e social da região, através da formação e capacitação de recursos hu-manos de nível superior.

O governo Tasso Jereissati adotou a proposta e foi assim que, instalada em 7 de março de 1986, a Urca teve início com o Dr. Martins como primeiro reitor, no período de 16 de mar-ço de 1986 a 31 de março de 1987. Integrava sua equipe em lugar de destaque o professor Teodoro, que o sucederia após al-guns meses, em 6 de abril de 1987, quando permaneceria inte-gralmente responsável pela implantação final do projeto Urca.

Distintamente do professor Teodoro, que trabalhou como membro da equipe do Dr. Martins, minha participação no projeto Urca, à frente de toda a equipe deixada no Crato por

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Teodoro, deu-se após a saída dele do cargo de reitor e mu-dança para Sobral, onde assumiu a reitoria da Universidade Estadual Vale do Acaraú — UVA.

Primeiros passos da nova universidade

É esta coesão de pessoas e ideias fiéis a um mesmo projeto que desejamos sublinhar aqui. Com efeito, embora oriundos de horizontes distintos e submetidos a conjunturas políticas e econômicas que nos impulsionavam para diferentes ideologias e visões de mundo, nos foi possível trabalhar praticamente com uma mesma equipe e mantê-la unida durante uma déca-da na construção do projeto Urca.

Porque mencionar este fato agora? Confesso que se trata de um preito de gratidão ao colega de seminário que se em-penhou com tanto afinco a trazer-me de volta ao Ceará para assumir aquela missão de reitor da Urca, depois de 27 anos de ausência de minha terra natal.

É sem dúvida oportuno revelar aqui um diálogo que tive com o professor Teodoro, dias antes de assumir a reitoria da Urca. Perguntei-lhe: “Como é que você ousa me trazer do Rio de Janeiro para exercer o papel de reitor num estado onde não tive qualquer experiência de trabalho antes, ou seja, onde praticamente, do ponto de vista profissional, não conheço ninguém”? A surpreendente resposta de Teodoro foi: “Em pri-meiro lugar porque você é meu amigo. Em segundo e terceiro lugares porque você é meu amigo. Em quarto lugar, porque julgo-o competente para o cargo. Além disto, minha equipe o ajudará a superar as dificuldades neste contexto”.

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Não poderia haver maior demonstração de confiança numa relação de amizade. Confesso que, mesmo sendo eu uma pessoa ousada para enfrentar o novo, o desconhecido, não me deixava tranquilo a ideia de suceder, em linguagem direta, ao Dr. Martins Filho e Teodoro na direção de uma universidade que era, sem dúvida, a “menina dos olhos” da sociedade cratense.

Gostaria de tomar como fio condutor deste depoimento as linhas estratégicas do trabalho que nos coube desempenhar na nova universidade do Cariri, realçando as questões centrais com as quais tivemos que lidar em nossos períodos respectivos como reitores da Urca.

Reitorado do professor Teodoro — 1987-1989

A estratégia adotada para criar a Urca foi a mesma co-nhecida em todo o Brasil, quando o poder público decide criar uma nova universidade: agregar ao projeto universi-tário os cursos superiores existentes na área geográfica de influência da nova IES.

No caso da Urca, foram encampados os cursos de Direito, Economia e Tecnologia da Uece existentes no Cariri, os dois primeiros no Crato, bem como os dois cursos de Tecnologia existentes em Juazeiro do Norte. Mediante negociação com a Diocese, foi adquirida a faculdade de Filosofia e Letras do Crato, com os cursos superiores de que dispunha, tendo sido igualmente absorvidos na nova estrutura funcional os profes-sores e funcionários existentes.

As questões de infraestrutura e mobiliário foram resol-

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vidas com recursos do governo e aproveitamento do mobiliá-rio e instalações preexistentes.

A bem verdade, convém esclarecer que os cursos superio-res acima mencionados foram fundados por cratenses ilustres, luminares em suas respectivas áreas de atuação profissional, o mesmo acontecendo com os cursos de Tecnologia do Juazeiro. Assim, tanto os cursos mencionados quanto a Faculdade Ca-tólica de Filosofia e Letras da Diocese do Crato precederam a criação da Uece em 1975, em Fortaleza.

Passada a etapa de negociação, aquisição e incorporação dos cursos mencionados à Urca, a gestão do professor Teodoro teve início não apenas com a mera instalação das atividades acadêmicas de ensino, pesquisa e extensão, mas igualmente com promoção de eventos que colocaram a Urca em evidência no cenário universitário cearense e brasileiro. O mais notável desses eventos foi o Seminário Internacional sobre o “Milagre de Juazeiro”, amplamente conhecido através dos trabalhos do pesquisador estadunidense Ralph Della Cava.

Foi sem dúvida uma ótima estratégia para consolidar no mesmo campus universitário rivais históricos do quilate de Ju-azeiro e Crato. Outras iniciativas estratégicas foram tomadas, inclusive no campo da manutenção e estudo dos fósseis de Santana do Cariri. Na área da cultura, foi outorgado um dou-torado “honoris causa” a Patativa do Assaré.

A Urca assumia com Teodoro o perfil de uma universidade de vocação humanística, como era do agrado de seus promoto-res originais, principalmente daqueles oriundos da Faculdade de Filosofia. E se acomodava progressivamente aos padrões exi-gidos no contexto das políticas iniciadas pelos governos federal

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e estadual, com destaque para a influência do MEC, o Conse-lho Estadual de Educação do Ceará, e a CAPES.

O reitorado do dr. Edmilson — 1990-1997

O projeto Urca do Dr. Martins e Teodoro passara por ne-gociações detalhadas com as classes políticas e empresariais de Crato, Juazeiro e Barbalha. Um dos principais aspectos dessa discussão era a criação de cursos universitários nas respectivas cidades. Assim que, de certo modo, ao iniciar meu período como reitor, estavam fechadas as possibilidades de criação de novos cursos superiores, por exemplo, nas áreas de engenharia ou administração de empresa, até que aqueles negociados para adoção do projeto de criação da Urca fossem implantados; cursos de Enfermagem, Educação Física etc.

Quando Teodoro me convidou para assumir a reitoria da Urca, naturalmente estava obrigado a adotar este compromisso.

No entanto, quando cheguei ao Crato, no final de março de 1990, com Tasso governador e Sérgio Machado na Secreta-ria de Governo, em seu último ano de um primeiro mandato que seria sucedido por Ciro Gomes, as diretrizes e objetivos do governo do Ceará haviam alcançado um novo patamar, com novas expectativas para as universidades.

No plano federal, com o fim da ditadura militar e a insta-lação do governo civil comandado por José Sarney de 1985 a 1989, na chamada Nova República, o Brasil caminhava a passos largos para novos horizontes políticos, econômicos e sociais.

Um novo ministério, o da Ciência e Tecnologia, havia sido instalado e os estados brasileiros começavam a gerar novas es-

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truturas locais para integrar a política nacional de ciência e tec-nologia. Deste modo, a partir do governo Ciro Gomes, tinha início no Ceará uma série de iniciativas para a criação de um sistema de ciência e tecnologia. Com a criação da Secitece, em 1993, a Urca transformada em fundação passaria a integrar a nova secretaria de Ciência Tecnologia e Educação Superior.

Não faz sentido reproduzir aqui as diferentes iniciativas da nova secretaria e seus efeitos no contexto das universidades. Nos-so objetivo ao mencionar estes fatos é ilustrar como uma mesma equipe de trabalho, num curto espaço de tempo teve que adotar diferentes estratégias para levar adiante um mesmo projeto.

Assim como Teodoro tinha recorrido ao Pe. Cícero ten-tando dar coesão à Urca, nossa iniciativa consistiu em apelar para o caráter regional da universidade. Foi assim que inicia-mos a elaboração de um planejamento estratégico que levou mais de um ano, entre 1991 e 1992, para ser elaborado, com ajuda de especialistas vindos do Rio de Janeiro e Brasília, onde eu desfrutava ainda de uma rede de relacionamentos profissio-nais bastante ampla.

O próprio trabalho de elaboração do plano estratégico, envolvendo progressivamente todos os setores da universida-de, já era uma forma de dar maior coesão à estrutura admi-nistrativa e acadêmica da Urca. Muitos conflitos originados pela convivência de grupos antes pertencentes a diferentes instituições e formações municipais e ideológicas passaram a conviver no contexto de um novo espírito de cooperação. O pano de fundo para esta nova visão cooperativa era o conceito de uma universidade regional, abrangendo todo o Cariri, com uma visão nordestina de seu papel. Já então, estava plantada a

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semente de uma universidade federal para o Cariri.Provavelmente alguns dirigentes estaduais ainda insistiam

em ver na Urca a antiga Faculdade Católica de Filosofia e Le-tras do Crato. No momento, a nova Universidade do Cariri movia-se com uma desenvoltura cada vez maior no âmbito da nova Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ceará.

Vencendo inúmeros obstáculos, foi criado em 1995 o cur-so de Engenharia da Produção da Urca, instalado em Juazeiro do Norte, visando dar suporte à nascente indústria do Cariri, o único existente em todo o Estado e que se mantém atuante dada sua grande utilidade, até o presente momento.

Outros cursos que faziam parte do projeto inicial do Dr. Martins e Teodoro também foram criados com sucesso, ca-bendo citar Enfermagem, Educação Física e Matemática.

Conclusão

Outros reitores ilustres nos sucederam na gestão da Urca, todos eles, com exceção de Violeta Arrais, de uma ou outra forma ligados ao nosso esquema de administração da Urca.

Violeta Arrais, cratense da gema, ex-secretária de cultura do Estado do Ceará, foi sem dúvida a que maior notoriedade tinha no Brasil e exterior, particularmente na França, onde viveu por muitos anos, tendo proporcionado apoio a muitos exilados ilustres durante os anos de ditadura militar.

Em essência, entretanto, a Urca tem seguido o tratado ini-cial, estabelecido desde sua origem, o que reitera o acerto das estratégias de gestão por nós adotadas. É isto que caracteriza o bom trabalho em equipe. O acerto a longo prazo.

O mérito do professor Teodoro foi, a meu ver, além de

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sua participação individual, confiar numa equipe que tinha expressão própria e, particularmente, uma equipe que sempre colocou os interesses do projeto Urca acima de qualquer outro interesse, fosse ele político-partidário ou individual.

Optamos por não mencionar nomes neste breve depoi-mento, mas não gostaria de deixar de agradecer a contri-buição de tantos amigos caririenses e cariocas que nos au-xiliaram na construção da Urca e sem os quais nosso êxito teria sido impossível.

Obrigado mais uma vez ao professor Teodoro, que merece todo o nosso apreço e reconhecimento.

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De volta ao Brasil

5.

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Depois de quatro anos estudando em Roma e de mais quatro em

Paris, retornei ao Ceará com os diplomas de Filosofia, Teologia, Administração Pública, Ciência Política e Ciências Sociais. Daí, então, comecei minha carreira no magistério como professor de Sociologia do Desenvolvimento, na Escola de Serviço Social, e Introdução à Sociologia, na Faculdade de Filosofia do Ceará, bem como na Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, todas elas incorporadas depois à Universidade Estadual do Ceará – Uece. Fui, ainda, professor na Faculdade de Filosofia de Fortaleza, pertencente à diocese de Fortaleza, e professor de Introdução à Sociologia, no curso de Ciências Sociais da UFC, quando de sua implantação, tendo sido por vários anos representante do MEC junto ao Conselho Curador da UFC.”

“A minha passagem pelo MEC foi muito

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importante para a minha vida profissional”. Entrei no Ministério no inicio do governo João Batista de Figueiredo, como subchefe de gabinete do ministro Eduardo Portella, permanecendo no MEC até 1987 (1979/1987), onde exerci as funções de subchefe de gabinete, assessor do ministro, chefe de gabinete do secretário geral e secretário geral adjunto na administração dos ministros Rubem Ludwig, Ester de Figueiredo Ferraz e Marco Maciel, longo período em que pude conhecer todas as universidades brasileiras, exercendo trabalho em praticamente todo o Brasil.

“ Das pessoas que mais me ajudaram no MEC poderia

citar pelo menos três: ministro Eduardo Portella, de quem

fui subchefe de gabinete durante quase dois anos; ministro

Rubem Ludwig e Sérgio Mario Pasquali, secretário geral do

MEC, do qual fui secretário geral-adjunto. Neste período em

que estive em Brasília, também foi marcante minha passagem

pelo Projeto Rondon, instituição a que até hoje sou ligado,

exercendo atualmente a presidência do Projeto no Ceará.

O convite para trabalhar no Ministério do Interior, mais

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precisamente no Projeto Rondon, partiu do Coronel Pasquali,

àquela época seu coordenador geral e grande entusiasta.

Integrei-me à equipe pensante que viajava por todo o Brasil

difundindo a ideologia rondonista e acompanhando a execução

de seu programa. Fiquei tão impregnado da filosofia do

Rondon que cheguei a escrever o livro “Projeto Rondon e

sua dimensão atual”. Hoje, o Rondon tem em vários estados,

por persistência do Cel. Sergio Mário Pasquali. Eu mesmo

reativei o Projeto Rondon no Ceará, instalando em minha

cidade, Reriutaba, o Campus Avançado Marechal Rondon,

e sou atualmente o presidente da Associação Estadual dos

Rondonistas do Ceará — Projeto Rondon – CE. ”

“Era professor no curso de Ciências Sociais da Universidade

Federal do Ceará e da Escola de Serviço Social, hoje ligada

a Universidade Estadual do Ceará, quando fui convidado

por Helcio Uchoa Saraiva, professor de Sociologia da UNB,

para participar, juntamente com ele, de um grupo para

implantar a futura Universidade Federal do Piauí. Experiência

muito gratificante, pois me permitiu algo diferente, inovador e

enriquecedor para minha vida profissional.”

Em 1970, o professor José Teodoro

Soares retorna ao Brasil. Na foto na

página oposta ao lado da professora

Maria Norma Maia Soares

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A arte da política no verdadeiro sentido dapalavra

Socorro Melo Tajra 26*

E RA TEMPO DE REVOLUÇÃO (1971). Mas tam-bém tempo de uma revolução cultural em Tere-sina, estado do Piauí. Nascia uma universidade,

resultado da conjugação de alguns cursos de nível superior já existentes, como Medicina, Direito, Letras, História, Ge-ografia, Filosofia e Odontologia. Eram unidades separadas de ensino que se uniam para formar a Universidade Federal do Piauí — UFPI. Teresina ainda era considerada uma cidade re-

* Professora, ex-secretária da UFPI.

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lativamente pequena, onde quase todos se conheciam. Sua eli-te cultural, em grande parte constituída por muitos dos profes-sores destas instituições isoladas de ensino existentes, esperava a concretização da Universidade com anseios e expectativas, e naturalmente acreditava que dentre eles estivesse a equipe a ser escolhida para direcionar o destino da instituição que nascia.

Na vida social da cidade, ainda àquela época com carac-terísticas interioranas, a UFPI era sempre o assunto primeiro, e prognosticava-se quem seria o primeiro reitor. Até nomes já eram cogitados para o ambicionado cargo. Personagens da elite cultural local julgavam-se prováveis e naturais candidatos ao comando da instituição recém-criada.

Mas não foi bem assim, diga-se, graças à personalidade de um governador idealista, que sonhou a Universidade de seu estado nos moldes da moderna UnB, Universidade de Brasília, e lá foi buscá-la.

Quis então a História que viessem de outras terras aque-les que conduziriam a UFPI nos seus primeiros anos. E eles chegaram, técnicos, muitos técnicos, alheios a uma realidade política local e sem laços próximos com os teresinenses mas, com certeza, interessados em fazer o melhor e criar uma insti-tuição capaz de atender à formação superior do piauiense nos moldes da modernidade.

Começa então um período difícil para a equipe que as-sumia a administração da UFPI. A elite cultural de Teresina sentia-se injustiçada, críticas e comentários desagradáveis não eram poupados à administração da Universidade por jornalis-tas, intelectuais e políticos.

Era inevitável e previsível. Surgiram os conflitos. Os que

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se achavam prejudicados bradavam os seus direitos e através da forças políticas locais buscavam, de todas as formas, afastar os “estrangeiros” que ocupavam os cargos de direção da UFPI.

Foi nesse contexto que conheci o Prof. Teodoro. No pré-dio sede da reitoria o clima era sempre tenso. Como reitor, um mineiro, doutor em Sociologia, professor Hélcio Ulhoa Sarai-va. Eu respondia pelas secretarias do Conselho Diretor e Par-ticular do reitor. Pela chefia de gabinete respondia o professor, doutor em Ciências Políticas, José Teodoro Soares. Estávamos todos na faixa dos 30 anos e partilhávamos de um momento que deveria marcar nossas vidas pela validade da experiência. Buscávamos conciliar as medidas administrativas necessárias à instalação da Universidade com a satisfação dos professores das antigas faculdades, objetivo esse praticamente impossível dentro do quadro de decepção e insatisfação que gerou a esco-lha de um reitor fora dos tradicionais nomes piauienses.

A tarefa não era fácil, mas existem pessoas que em tais situações são decisivas, pelas qualidades que conseguem so-mar. Professor Teodoro é uma delas. Num momento mar-cado pela agressividade dos teresinenses em relação à admi-nistração universitária, ele deixou a sua marca conciliadora na história da UFPI.

Muitos eram os que buscavam chegar até a administração superior para demonstrar insatisfações, e cabia ao nosso pro-fessor Teodoro a difícil missão de recebê-los. Em sua maioria eram líderes políticos e antigos professores. Chegavam tensos e ansiosos, às vezes até mesmo agressivos. Eu observava preo-cupada. Ele os conduzia ao gabinete já com um sorriso aberto e sem nenhum ar de superioridade ou prepotência, escutava,

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ouvia atento e começava um diálogo tranquilo. O olhar manso e voz baixa e serena, nunca alterava seu tom de voz e maneira de falar. Essa talvez seja, até hoje, uma das mais fortes marcas de sua personalidade. A mansidão e o respeito às pessoas.

Aos poucos foi ganhando amigos. Dono de uma cultura brilhante, sua presença era extremamente agradável. As pesso-as iam percebendo que ali não estava simplesmente um técni-co, e sim um sociólogo dotado de um profundo respeito pelo ser humano onde quer que estivesse a prestar trabalho.

Voz baixa em quase sussurro e ideias persuasivas, olhar atento ao interlocutor, personalidade forte traduzia a postura da liderança que não grita, mas conquista o interlocutor pela segurança e serenidade. Nunca uma ordem, mas sempre uma sugestão, facilmente acatada pela capacidade de persuasão própria dos líderes. Na verdade ele utilizava algo que possuía — o poder de conquistar os que o cercam.

Assim pude ver, algum tempo depois, sua presença so-licitada nos encontros sociais da cidade, sempre com a mes-ma postura, uma presença alegre, riso solto. Muitos eram os que o procuravam, pois àquela época já possuía como amizades pessoas de influência em Brasília e procurava sempre uma forma de facilitar os contatos, fosse no campo da educação ou da política.

Foi nessa vivência social, como liderança, mediador de interesses, que ele desenvolveu o seu trabalho, junto não só a professores, mas também aos alunos, que tiveram oportunida-de de conviver de perto com o Prof. Teodoro.

Hoje sei que ali estava uma liderança política prestes a desempenhar o seu papel de líder na política institucional. Sua

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presença se impõe hoje na Assembleia Legislativa do Ceará, com o objetivo de dirigir os interesses sociais que representa, direção pelo convencimento e persuasão. O líder é o mesmo, professor José Teodoro.

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Um homem fundador

José Mafrense de Souza 27*

S EMPRE ACREDITEI NA FORÇA das palavras, e que delas nasce sempre uma forma diferente de se encarar o mundo. E é a partir destas que esboço a vida de um

homem dedicado à cultura, à educação e ao conhecimento.O perfil do professor Teodoro, hoje deputado estadual,

sempre foi de um homem guerreiro, de um homem à frente do seu tempo, com uma visão capaz de realizar uma verdadeira revolução social, e que o fez em cidades como Sobral e Crato.

Teodoro conta as vitórias e os percalços de um homem vi-sionário e defensor dos seus próprios ideais, que nunca deixou de praticar o otimismo em relação às suas obras e aos seus objetivos.

Já disse Vinicius em relação a JK, que ele tinha nos olhos a força de um propósito: permanecer, vencer as solidões e os horizontes; desbravar e criar; fundar e erguer. Era finalmente

* Advogado, ex-assessor do gabinete do Ministro de Educação

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um homem fundador. É esta a passagem que mais se asseme-lha ao reitor Teodoro: um humanista, autodidata, dono de um currículo invejável e um empreendedor dinâmico. Cabe plagiar o apelido de Juscelino e chamá-lo de “Reitor Furacão”, que ampliou, modernizou, recriou e concretizou a UVA como a mais bem sucedida universidade estadual do Ceará.

Teodoro é, sem sombra de dúvidas, além de um intelectu-al, um homem sensível às causas sociais, que se doa em tudo que realiza, com intuito de fazer sempre o melhor, ajudando com o mesmo carisma e energia a todos que o procuram.

Quando o conheci, em Brasília, por volta de 1981, en-tão subchefe de gabinete do ministro da Educação, logo percebi que Teodoro era um tecnocrata, na melhor acepção da palavra: deu régua e compasso aos diversos gabinetes e cargos que assumiu. Daí em diante, inicia-se uma amizade que perdura 27 anos.

Logo de seu retorno ao Ceará, sou convidado por ele para auxiliá-lo à frente da recém-inaugurada Universidade Regio-nal do Cariri. Fundado em princípios sólidos e ciente de sua capacidade administrativa, ele consolidou a Urca como um importante centro acadêmico na região. Exportou o nome e a cultura do Cariri, promoveu seminários internacionais sobre o Padre Cícero e entregou a reitoria da Universidade em ape-nas três anos, mas deixando sua marca de desenvolvimento e excelência no padrão de qualidade de ensino.

Em 1990, assume a Universidade Estadual Vale do Aca-raú, onde transformou as precárias bases e ultrapassadas meto-dologias de ensino em uma universidade inserida no mundo. As mudanças realizadas pelo então reitor Teodoro Soares foram

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de profunda importância para a consolidação desta instituição e para o desenvolvimento social da cidade como um todo.

Ele transformou não só uma universidade, mas deu a ela o verdadeiro valor que a sua etimologia carrega, cheia de sen-tidos e funções que ultrapassam a mera difusão do conheci-mento, mas também levou avanços sociais às regiões carentes ao redor do campus da Betânia e a cidades vizinhas de Sobral.

Depois de uma verdadeira revolução cultural, social e tec-nológica em Sobral, que contribuiu para configurá-lo como um dos educadores mais importantes e participativos do nosso estado, Teodoro dispôs de todas as suas forças transformado-ras, que o levaram à Assembleia Legislativa, onde permanece atuante e presente no cenário político do nosso estado, lu-tando pela democratização de um ensino de qualidade e pelo desenvolvimento social do Ceará.

Quero parabenizá-lo e dizer o quanto sou grato por tudo o que pôde realizar na minha vida e na de minha família. E como amigo, expressar meu grande apreço e admiração pelo professor, administrador, filósofo, educador, político, escritor, intelectual e principalmente o ser humano que ele é, dono de uma capacidade incrível de viver muitas vidas em uma só, enquanto a maioria de nós mal consegue viver uma.

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José Teodoro Soares

Sérgio Mário Pasquali 28*

N OSSO PRIMEIRO CONTATO FOI na reitoria da UFPI, creio que em 1971. Teodoro era chefe de gabinete do reitor Hélcio Saraiva e a nossa

conversa era referente ao Projeto Rondon, do qual eu era coordenador geral.

A atuação de Teodoro neste encontro impressionou-me, levando-me a pedir ao Reitor que permitisse a participação dele em um curso que seria realizado em Brasília para técnicos do Projeto Rondon. Destacou-se no curso, confirmando a im-pressão que eu tivera em Teresina, o que me levou a convidá--lo a compor uma assessoria especial com a missão de analisar e formular o que seriam as diretrizes do Projeto Rondon, em-basadas em uma filosofia própria e identificadas com o idealis-mo da juventude universitária brasileira, no seu encontro com a realidade deste país continental e multirracial.

* Presidente do Projeto Rondon Nacional.

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Trabalhamos juntos na expansão do Projeto Rondon, com a instalação de vários “campi avançados” na região amazônica. Com uma missão político-estratégica, escolhemos as universi-dades, discutimos a localização com os governos em seus três níveis e completamos o quadro, que o mapa anexo mostra, integrando brasileiros de diferentes regiões, motivando as uni-versidades a participarem do desenvolvimento de nosso País.

Após o convívio no Projeto Rondon, separamo-nos em 1976. Eu retornei ao Exército e ele prosseguiu na área pública federal em Brasília, exercendo importantes funções em órgãos de expressão nacional.

Mantivemos sempre um estreito contato e nos reencon-tramos no MEC, em 1980, quando assumi a secretaria geral do Ministério, e voltamos a trabalhar juntos, para tentarmos uma ação forte na base da educação, ele como secretário geral adjunto, emprestando sua inteligência e já grande conheci-mento na área do Ministério.

Foram cinco anos de intensa atividade, durante os quais plantamos algumas sementes nos diversos níveis da educação, principalmente no primeiro grau e no Nordeste.

Novamente, as circunstâncias da vida nos separaram. Ele retornou ao seu estado natal, assumindo a reitoria da Uni-versidade Regional do Cariri e, posteriormente, a reitoria da Universidade Vale do Acaraú — UVA.

Em ambas levou a contribuição de sua formação e expe-riência, realizando um extraordinário e reconhecido trabalho, que deu uma nova dimensão à educação no estado e lhe per-mitiu realizar algo que, acredito, estava entranhado em seu espírito realizador: apoiar o crescimento e a realização dos jo-

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vens do interior pobre de seu estado e, dentro do possível, de outras regiões do Nordeste.

Em Reriutaba, sua cidade natal, criou, com o apoio do Instituto de Desenvolvimento da Educação e Cultura do Ce-ará — IDECC, o campus avançado Marechal Rondon, que equipou e colocou em funcionamento, e passou a dar não só diversificado apoio, mas qualificação superior à juventude da-quela cidade. Era, acredito, a concretização de seu sonho de, retornando às origens, apoiar sua população.

O meu amigo Teodoro é um homem realizado. Conse-guiu, com sua qualificação e experiência, contribuir para mo-dificar as condições socioeconômicas de seu Nordeste e hoje preside o Projeto Rondon em seu estado.

Visualizemos sua trajetória: Reriutaba, Sobral, Recife, Roma, Paris, Teresina, Brasília e o retorno ao seu Ceará, onde ocupou duas reitorias e apoiou sua cidade natal.

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O Teodoro que conheço

                Antonio de Albuquerque Sousa Filho29*

M EU PRIMEIRO CONTATO PESSOAL com Teodoro deu-se quando ele exercia a chefia do gabinete do reitor da Universidade Federal do

Piauí, Prof. Hélcio, e eu era professor da UFC. Posteriormen-te, aproveitando oportunidade oferecida pelo coronel Sérgio Pasquali, Teodoro desloca-se para fazer um curso do Proje-to Rondon em Brasília, fixando-se na cidade como parte da equipe. Juntamente com outros colaboradores, foi responsável pela elaboração da filosofia do projeto, para o que sem dúvida contribuiu a sólida base filosófica adquirida em Roma, junto às faculdades eclesiásticas.

Com a ida de Eduardo Portella para o Ministério da Educação, Teodoro torna-se elemento chave do gabinete mi-nisterial, desempenhando um papel que exigia muita habili-

* Professor e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará.

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dade política. Tive então oportunidade de conviver mais frequentemente com Teodoro, em função de minha indi-cação para secretário de educação do segundo governo de Virgílio Távora. Efetuando-se a posse do novo ministro, Ru-bens Ludwig, o coronel Pasquali assume a Secretaria Geral do MEC, indicando Teodoro como um de seus adjuntos. E eu assumi o cargo de Secretário de 1º e 2º graus do MEC, a convite do ministro, passando daí em diante a ter uma convi-vência diária com Teodoro.

Posso, portanto, testemunhar que competência, dedica-ção e entusiasmo foram marcas que Teodoro sempre empre-endeu a todos esses cargos que ocupou. Dinâmico, sempre aceitou enfrentar situações e desafios novos. Como bom cea-rense, realizou enfim um dia o projeto de retornar ao Ceará, quando então assumiu a reitoria da Urca, exercendo a função com muita habilidade e destreza política. Posteriormente, assumiu a reitoria da UVA, onde mostrou brilhantemente seu dinamismo e espírito de iniciativa, criando novos cur-sos, qualificando o corpo docente e funcional, melhorando as instalações físicas e procedendo à aquisição de novos equipa-mentos, convênios com entidade nacionais e internacionais, bem como a notável ampliação do raio da ação da UVA na região Nordeste. Por essa época reitor da UFC, tive a oportu-nidade de criar, juntamente com Teodoro e outros reitores, o Conselho de Reitores do Estado do Ceará, instância funda-mental para a política de defesa da universidade e conscienti-zação acerca da importância do ensino público. Prosseguindo sua carreira de longos serviços prestados, Teodoro foi depois eleito deputado estadual, exercendo desde então, com o cos-

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tumeiro destaque, a representação e a defesa do interesse pú-blico, notadamente no que diz respeito à defesa da educação.

Só posso, portanto, endossar o coro de homenagens prestadas com muita justiça a esse empreendedor, educador, executivo, companheiro de lutas e amigo de longa data. Teo-doro, um abraço!

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A extraordinária

revolução pela inclusão

6.

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O desafio maior foi implantar o próprio projeto de uma

universidade regional para a região do Cariri, idealizada pelo professor Antonio Martins Filho, primeiro reitor da UFC.Ao chegar ao Crato tive de negociar com o bispo diocesano dom Vicente Matos a fim de adquirir para o Estado o acervo da Faculdade de Filosofia do Crato ligada à Fundação Pe. Ibiapina. Seus cursos foram incorporados à nova universidade, a Urca. Além dos cursos da Faculdade de Filosofia do Crato, foram também incorporados os cursos de Ciências Econômicas e o Curso de Direito, do Crato, e o Centro de Tecnologia de Juazeiro do Norte, integrantes da estrutura multicampi da Universidade Estadual do Ceará – Uece. Também os móveis e imóveis da Fundação Pe. Ibiapina foram transferidos para a Urca, além de todo o pessoal docente e administrativo da Fundação Pe. Ibiapina.”.

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“ Recebi três convites para ser o reitor da Fundação

Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Em primeiro

lugar, o então reitor cônego Francisco Sadoc de Araújo,

idealizador e primeiro reitor da UVA, depois de 23 anos à

frente da universidade e tendo dado entrada no seu pedido

de aposentadoria, me convidou para sucedê-lo, bem como o

então líder do governo Tasso Jereissati (1990), deputado Ciro

Gomes, insistiu para que retornasse à nossa terra sobralense.

A concretização desse convite foi a nomeação feita pelo

governador Tasso Jereissati para me transferir da Urca para a

reitoria da UVA de Sobral. ”

“A Universidade Estadual Vale do Acaraú é fruto de um

grande sonho. O sonho era tão alto à época que a iniciativa

de fundar a universidade foi tida como demagógica. Menos de

um mês depois de o prefeito Jerônimo Prado assinar a lei que

instituía a fundação Universidade Vale do Acaraú, no dia 23

de outubro de 1968, a atitude dos sobralenses era fortemente

criticada em artigo publicado no jornal O Povo.

O autor do artigo veiculado no dia 12 de novembro de

1968, Quixadá Felício, dizia que a UVA só deveria ser criada

50 anos depois, ou mais. O que Quixadá Felício chamou

de sonho ruim transformou a Princesa do Norte numa

cidade universitária, cuja efervescência cultural contamina

positivamente toda a zona norte do Estado.

Diz o ditado popular que o tempo é o senhor da razão. E o

tempo tem dado razão ao povo de Sobral. A UVA se consolida

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em seus 47 anos de fundação, com muita vitalidade e um

grande leque de serviços prestados à educação de Sobral, da

Zona Norte e de todo o Ceará.

Presente em mais de 140 municípios cearenses e em 10

estados brasileiros, a UVA faz a colheita de sonhos, mudando

a realidade onde está inserida e multiplicando outras utopias

que fazem a humanidade avançar.

É tão grande a importância da UVA, que o historiador

sobralense cônego Francisco Sadoc de Araújo destaca duas

datas marcantes de Sobral: a da sua emancipação política,

ocorrida em 5 de julho de 1773, e a da emancipação cultural,

que se deu com a fundação da UVA, em 23 de outubro de 1968.

“ A UVA foi forjada dentro de um ambiente criado em Sobral

por seu primeiro bispo, dom José Tupinambá da Frota. Uma

das faculdades encampadas, quando a UVA se estadualizou, foi

a de Filosofia, da diocese. A formação cristã e cultural, marca

deixada por dom José, foi a semente que fez brotar a UVA, que

tantos frutos deu e cuja colheita o Ceará não para de usufruir.

Aquele sonho cresceu, frutificou, deixando de lado as críticas

de quem apostava no pesadelo.

O reconhecimento da UVA é crescente. Agora mesmo,

outro sobralense ilustre sugeriu que a data de fundação

da UVA seja um dia cívico e festivo para Sobral. A ideia do

governador Cid Gomes foi exposta ao público em seu discurso

de agradecimento pelo título de Doutor Honoris Causa, que lhe

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foi outorgado pela UVA.

O governador Cid Gomes disse que a criação da UVA,

há 43 anos, renovou e fundou de novo Sobral com novos

paradigmas e novos valores que animaram as gerações

da nova utopia sobralense que vem se realizando. Por isso

sugeriu que além de 5 de julho, seja também comemorado,

como data cívica sobralense, o 23 de outubro — dia

da inauguração da UVA e dia da refundação da Sobral

contemporânea.

A UVA é o resultado deste esforço conjunto do povo

sobralense de transformar Sobral no maior centro de ensino

superior no interior do estado. É um sonho que se concretiza e

frutifica em outros.”

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O artífice da interiorização

da UVA

Iduina Mont’Alverne Braun Chaves 30*

F ALAR DE TEODORO é resgatar a história da edu-cação universitária da nossa querida Sobral. Eu poderia buscar muitas outras dimensões e facetas

de sua vida, mas escolhi a sua trajetória como reitor da UVA, o administrador admirável e de muitos feitos. Nes-sa caminhada, a nossa amizade se reafirmava sempre. As belas lembranças do convívio com os seminaristas, amigos de meus irmãos, foi sendo reavivada pelo grupo de pro-fessores ex-seminaristas que, vindos de vários estados do Brasil,  assumiam postos de destaque na UVA liderados por um deles, José Teodoro Soares, o novo reitor. Teodoro é um amigo digno de nota. Um educador de primeira grandeza.

* Doutora em Educação, é professora da Universidade Federal Fluminense

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Um gestor que marcou época no Ceará.Reitor por quase duas décadas, sua ação se estrutura num

modelo que se caracteriza pelo envolvimento com os pode-res públicos estaduais e municipais e com a sociedade, com vistas a transformar a universidade em um centro de referên-cia. Uma universidade que extrapola seu espaço-tempo, que se abre ao infinito, ao conhecimento, que se materializa no relacionamento com o seu entorno, com outras universidades, com outros mundos, com outros ambientes. Um reitor que fez a educação universitária de Sobral para além muros.

A sua carreira de professor foi iniciada na Universidade Federal do Ceará. No final dos anos 1960 foi convidado para compor o grupo que criou o curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Ceará. O espírito empreendedor, a competência, o dinamismo e a capacidade criativa foram logo evidenciadas e se tornaram emblemáticas de sua figura de edu-cador e, especialmente, de mentor intelectual e administrador de instituições educativas de ensino superior. Em 1971, des-locou-se para Teresina com a missão de criar a Universidade Federal do Piauí.  É importante ressaltar que a parceria com os governos e as dioceses foi uma marca permanente das suas ações no mundo do trabalho em prol de uma educação ética, solidária e de qualidade.

Em 1972, em Brasília assumiu, durante 13 anos, funções administrativas junto aos ministérios do Planejamento e da Educação. Período de grandes feitos e de aprendizado valiosos que se expressam, hoje e sempre, nas suas ações.

É chegada novamente a vez do Ceará. E o sul, a região do Cariri, recebe, no início de 1987, o professor José Teodoro So-

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ares com a função de implantar o projeto da Universidade Re-gional do Cariri - proposta que unia os cursos universitários, já lá instalados, da Universidade Estadual do Ceará em Juazeiro do Norte e os da Arquidiocese do Crato - com vistas a levar o en-sino superior a regiões distantes da capital, Fortaleza. Assim, os estados do Ceará, de Pernambuco e do Piauí foram beneficiados.

Sobral, em 11 de abril de 1990, a Princesa do Norte abre as portas da Universidade Estadual Vale do Acaraú  para o seu novo Reitor, o professor doutor José Teodoro Soares, pelo De-creto n. 20.586, do então governador Tasso Jereissati. 

A ação de Teodoro, administrador incansável e empreen-dedor notável, fez da UVA uma universidade  que se destaca no cenário nordestino, pela  brilhante trajetória no processo de formação humana e científica.  Espaço-tempo de lutas e conquistas educacionais.

Sinto a sublime e digna tarefa do reitor Teodoro, volta-da, com vigor e tenacidade, para o ensino, uma das funções da universidade, sem menosprezar as de pesquisa e extensão. Reconheço as ações extensionistas que estão expressas na ação da Pró-Reitoria de Extensão e Desenvolvimento Municipal nos seguintes programas: Alfabetização Solidária, Alfabetiza-ção é Cidadania, Núcleo de Educação, Cultura e Cidadania, Campus Avançado Marechal Rondon e o Programa Agir.  E o apoio ao trabalho, à produção científica dos professores. Lou-vo a criação das Edições UVA, importante veículo de divulga-ção da produção científica do professores e de sua divulgação para a sociedade mais ampla.

Teodoro colocou a UVA à frente de seu tempo e como não deixaria de ser, espraia seu espírito empreendedor, dinâ-

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mico e revolucionário, em primeiro lugar no seu lócus, para atingir, em seguida, a circunvizinhança e além fronteiras, ven-cendo as dificuldades que surgem, mas sem perder de vista sua missão formadora, por excelência dos seres humanos e do desenvolvimento do nosso estado do Ceará. É uma visão de interiorização que se manifesta em palavras e atos, e tudo in-dica, parece ser a menina dos olhos de sua (atu)ação. Ponto interessante para ser apresentado.

O reitor Teodoro buscou fazer a interiorização do ensino superior da UVA em parceria com o Estado, os municípios, a Diocese e as universidades públicas federais e estaduais. Esse entrelaçamento, essa ação integrada fez com que a própria Universidade crescesse e criasse, também, cursos em parceria com Universidade Federal do Ceará, para citar dois, o curso de Direito e o de Medicina. Visão de mestre arguto e sensível.

Assim, a universidade se tornou presente em todo o Esta-do e a repercussão foi de tal ordem que a experiência da UVA foi levada a outros estados: do Amapá, de Goiás, do Mara-nhão, do Pará, da Paraíba, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte e de Sergipe.

É digno de referência o diálogo entre a UVA  e a cidade de Sobral, num trabalho que  entrelaça o local e o universal pela sua presença reconhecida  através de seus campi espalhados pela cidade e por buscar atender às demandas da cidade e da circunvizinhança. A criação de 18 campi avançados é uma de-monstração do vigor e da dimensão do trabalho de uma admi-nistração viva e atuante. Mérito da luta incansável de Teodoro.

A exigência da publicação não permite que eu me de-tenha no trato de outras marcas do administrador Teodoro.

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Elas exigiriam incontáveis páginas e tempo para contar, cien-tificamente, um pouco mais, de tudo o que foi realizado e construído. Das lutas, das conquistas, dos encontros, dos de-sencontros, dos intercâmbios, do desbravamento, das vitórias, das alegrias. Admiro a determinação do meu amigo Teodoro. O seu respeito pela coisa pública. A sua alegria constante. A sua mente ligeira e criativa. A sua garra. O seu talento. E, especialmente, o forte respeito que ele guarda e mostra pelos amigos. Sempre.

Gosto dos simbolismos. E foi com eles que fiz algumas considerações sobre o que me foi contado numa entrevista realizada com Teodoro há quase dois anos. Quero reafirmar o dito, para que se eternize.

Começo pelo local, o Vale do Acaraú. O simbolismo do vale diz respeito ao equivalente a uma via espiritual, a uma passagem. O vale é vazio e aberto em cima, portanto receptivo às influências celestes, para o qual correm as águas vindas das alturas que o cercam para tornar-se ponto de convergência e são as vibrações primordiais na caverna do coração onde a va-cuidade se estabelece. Todo o simbolismo do vale reside nessa união fecunda das forças contrárias, na síntese dos opostos no centro de uma personalidade integrada.

Entendo a vacuidade do Vale do Acaraú sendo preenchi-da pelo dinamismo e criatividade de Teodoro, um reitor que buscou a integração da paisagem ambiental e cultural da cida-de para ampliar as fontes, os nascedouros dos “açudes cultu-rais” com suas comportas transbordantes de conhecimentos vitais para serem oferecidos e dedicados à formação do ho-mem cearense.

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Como um pastor, Teodoro foi cumprindo a sua missão nobre de promover essa formação. A imagem do pastor é su-gestiva. Deus é o pastor que conduz seu rebanho, vela sobre ele e protege-o. Por vezes delega uma parte de sua autoridade ao chefe temporal e religioso e este é igualmente chamado pas-tor do povo, digo da educação de um povo. O simbolismo do pastor comporta também um sentido de sabedoria intuitiva e experimental, ligada, de certa forma, ao conhecimento. O pastor simboliza, também, o exercício da constante vigilância. E Teodoro foi sempre um vigilante atento. Aberto para o trân-sito livre dos saberes, das parcerias, das inovações.

A imagem da porta faz sentido, aqui, ser lembrada.  A por-ta simboliza o local de passagem entre dois estados, entre dois mundos entre o conhecido e o desconhecido, a luz e as trevas. Ela não só indica passagem, mas convida a atravessá-la. A porta é a comunicação do instrumento oculto, do utensílio secreto.

A UVA, na pessoa de Teodoro, sempre manteve as suas portas abertas para novos empreendimentos.

Agradeço, como educadora sobralense, a dedicação de Te-odoro em prol da educação de nossa tão querida Sobral.

Teodoro, meu amigo, você cumpriu brilhantemente a sua missão. Ressignificou a cultura acadêmica da cidade de Sobral e da Universidade Estadual Vale do Acaraú.

Você cuidou bem da videira, para que germinasse e brotassem frondosas “UVAS”. Que os anjos digam Amém!

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A expertise no processo de

interiorização da educação universitária

Enoque Gomes Cavalcante 31*

O PROFESSOR JOSÉ TEODORO SOARES tem sua historia de vida identificada com a academia, par-ticularmente de nível superior. Seu sacerdócio e

missão foram implementar políticas públicas de expansão e melhoria no nível universitário nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Os seminários menor (médio) e maior (filosofia e teologia) foram os laboratórios de base para realizar com com-petência seus exercícios pedagógico e acadêmico. A filosofia

*Professor da UFPE/Ipespe.

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e a teologia (esta feita na Universidade Gregoriana de Roma, dirigida pelos rigorosos jesuítas) formaram uma sólida base para seu rico fundamento profissional a ser exercido em uni-versidades cearenses.

Sua formação pós-graduada na renomada e tradicional  Sorbonne, em Paris,  lhe serviu  para  fundamentar mais  ain-da  as  bases teóricas, metodológicas e gerenciais para constru-ção  do  sólido edifício  educacional  que ao longo dos  anos  dotou-se de  uma das  mais  ricas  experiências  pedagógicas e  profissionais. Realidade que tornou o professor José  Teodo-ro  um dos  mais  exímios  gestores da  educação  pública  da  nossa  região e também  do  nosso  país.

Sua vida profissional e política, exercida  com rigor éti-co,  constitui-se  num dos  mais  exemplares  modelos  de  gerenciador  da coisa pública (res publica) para as jovens gera-ções tão carentes de bons gestores públicos.

A  Universidade  Estadual  Vale do Acaraú — UVA  é  hoje  um bem  sucedido  exemplo de  um  processo  de  inte-riorização universitária  que  se  estendeu não só pelo estado do Ceará, mas também por outras  regiões do Norte e Nordes-te,  resgatando  a  dignidade  do  professor do  ensino médio  até  então  esquecido e  abandonado,  integrando-o ao  sistema e  nível universitário.

Esse  processo  é  o  resultado  de  uma  ótima  combi-nação de  fatores utilizados  com  competência,  seriedade trabalho árduo, otimismo, solidariedade e sobretudo  espírito  público  com  ações  coletivas  concretas.

A  UVA  constitui-se  hoje  num  belo  exemplo de  boa  alocação de  recursos  públicos  escassos  utilizados  com  es-

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pírito   sinérgico. A  projeção da UVA no cenário universitá-rio  regional do  nosso país  deve-se ao  gestor José  Teodoro Soares, que,  com  sua  equipe  competente e fiel,  não  media esforços  para  que o objetivo central  fosse  alcançado  com  êxito, qual  seja, a interiorização universitária  integrando os  professores  do ensino médio do  interior à elite universitária.

Este  líder do ensino superior  público  implementou  as  condições necessárias  para  um  salto  de  qualidade no  am-biente  acadêmico do  interior  pobre da  nossa  região.

O nosso ex-reitor da UVA e hoje  deputado estadual José Teodoro acreditou  na  educação  como  alavanca  estratégica  para o  verdadeiro desenvolvimento social  e do  nosso  meio  ambiente  sustentável.  Investiu  na  educação  como  instru-mento  de  geração  de  novos  conhecimentos  e  técnicas  para o  bem  coletivo. Difundiu a  importância  do  valor  do  conhecimento  como  um  bem  inextinguível, ao  alcance  de  todos em  todos os  tempos.

Tive  o  privilégio  de conhecer Teodoro não só nos  idos do Pio  Brasileiro, em  Roma, mas  também na Sorbonne, em Paris,  assim não só no  início da  nossa  formação aca-dêmica superior, mas  também  compartilhar  experiências  profissionais. A  implantação do mestrado de Gestão  Pública  em  parceria da  UVA  com  a  Universidade Internacional de  Lisboa, que contou pelo nosso  lado com  sábia  partici-pação do  competente  professor  Gregório  Maranguape, e pelo lado da UIL com a grande contribuição da  professora  Maria Helena Carvalho. Este novo  modelo de pós-graduação  trouxe importantes  inovações  no  gerenciamento  público já no  final  da  década  de 1990.

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Acredito  que nesta  nova  experiência  política, José  Teo-doro  Soares pode servir ainda  mais  para que o conhecimento já  adquirido  possa  se  tornar  mais  acessível à  maioria  da  população  cearense e  possa  incentivar  a  conquista  de  no-vos  conhecimentos  para um  maior  benefício coletivo  das  gerações  presentes e  vindouras.

Muito  obrigado  por   mais   esta  oportunidade de  ex-primir  meus  sentimentos e  desejar  novas  vitórias  para  o  bem  de  todos.

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Um otimista invencível

Roberto Sérgio Farias 32*

C ORRIA O ANO DE 1987. Nos corredores e salas da então Secretaria de Obras do Governo do Estado, no Centro Administrativo do Cambeba, um vai e

vem de gente. Conversas e reuniões entre figuras expressivas da vida econômica, cultural, técnica, científica e política do Ceará àquele tempo. Debatiam-se e construíam-se propostas para orientar e instruir o primeiro governo Tasso Jereissati, que tomaria posse no mês de março que se avizinhava.

Eu e mais alguns colegas nos instalamos, por mando do Ariosto Holanda, em uma das salas do primeiro andar, onde ficavam os diversos grupos de trabalho, para contribuir com o tema de Ciência e Tecnologia. De quando em vez aparecia na nossa sala um sujeito simpático, gordo, falante, que expressa-va dinamismo nos seus gestos, com ideias e propostas para o

* Professor, coordenador dos cursos da UVA em Amapá.

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desenvolvimento de nossa educação. Sempre muito otimista, lembro que falava com ênfase sobre a necessidade de expansão do ensino superior como suporte ao desenvolvimento da ciên-cia e da tecnologia, temática ainda embrionária nos governos da época, presente apenas na mente e no coração de alguns visionários de então. Foi assim que conheci o Teodoro.

Daí em diante desenvolvemos fraterna amizade. Ao me aproximar de sua pessoa e ao colaborar em alguns de seus pro-jetos, pude verificar e sentir, com mais acuidade, qualidades marcantes da sua personalidade: coragem pessoal, generosi-dade e um indomável sentimento de vitória, de que as coisas vão dar certo, que seus projetos vão se realizar. Coragem, pela proposição e defesa destemida de suas ideias e de novos proje-tos sempre à frente do nosso tempo. Generosidade, pela preo-cupação e coração sempre aberto aos seus amigos e colabora-dores. Otimismo, pela demonstração da certeza de que tudo vai sair como ele pensou, mesmo nos momentos mais difíceis.

Não fazia eu, no entanto, ideia de quanto o Teodoro seria capaz de superar as adversidades e estar sempre com a mente sintonizada com o melhor, pra frente. Diga-se de passagem que todos nós conhecemos pessoas otimistas, mas como nin-guém é de ferro, compreende-se que vez por outra, quando as nuvens carregadas dos fatos batem à porta, sobretudo por adversidades pessoais, muita gente boa se lamenta e se deixa mergulhar na tristeza e no pessimismo. O Teodoro mostrou ser diferente. O futuro nos provaria.

Passados os períodos dos governos Tasso, fui emprestar minha colaboração ao Conselho de Educação do Ceará, já no então governo Lucio Alcântara. Integrei-me à Câmara de

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Ensino Superior, coordenada pelo professor Edgar Linhares, tendo como colega de mesa o Teodoro Soares. Sua persona-lidade era a mesma de sempre. A UVA já contava com uma pujança de além-mar, realizando a missão para a qual se havia predestinado, aumentar a oferta de ensino superior, sobretudo àqueles de menor poder aquisitivo, tudo consequência do tra-balho incansável, destemido e do pensar positivo do Teodoro.

O que se comentava, no entanto, era que a saúde do Teo-doro não ia lá muito bem. Homem extremamente trabalhador, com jornada de trabalho que se inicia muito cedo, aprendida provavelmente nos seus tempos de seminário em Sobral, mui-tas vezes de mais de 12 horas por dia, de janeiro a dezembro, com raros períodos de férias, a saúde do Teodoro inspirava cuidados. Não me senti à vontade para saber diretamente com ele o que estava acontecendo com seu corpo. São coisas de foro muito íntimo e preferi não correr o risco de invadir sua privacidade e torná-lo triste ou, como se diz, “pra baixo”, com perguntas indevidas. Era torcer pelo melhor. Conversei com alguns amigos a respeito e todos me disseram que o Teodoro precisaria se tratar urgentemente e que sua enfermidade era séria. Por aqueles tempos ele, de quando em vez, pedia licença ao Conselho de Educação para fazer exames médicos. Sabia-se àquela altura que era um dos seus rins que teimava em não funcionar, e isto poderia comprometer sua vida e, na melhor das hipóteses, seu desempenho. Como seria o Teodoro sem trabalhar, ou trabalhando pouco? Difícil imaginar.

Recebi, logo em seguida, a notícia que o Teodoro iria se submeter a um transplante renal. Não poderia mais esperar.

Na semana da intervenção cirúrgica do Teodoro, realizada

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no Hospital Alemão Osvaldo Cruz, em São Paulo, estava acon-tecendo na Expocenter Norte a Feira Internacional de Educa-ção, evento anual a que procuro sempre comparecer, por conta da mostra que é feita das novidades mais recentes do setor. Viajei a São Paulo, tendo procurado antes saber onde o Teo-doro estava internado para, naturalmente, fazer-lhe uma visita.

Na tarde de uma quarta-feira, após confirmar o horá-rio em que seria possível visitá-lo, dirigi-me ao hospital. À proporção que o elevador subia, eu racionava como iria me comportar naquela situação. Ia triste, sentido. Hospital é um lugar onde não me sinto bem, vou “à força” como se diz. Para aumentar minhas dificuldades, iria ver um amigo doente que um dia atrás havia se submetido a uma delicada cirurgia. Che-guei ao seu apartamento e logo vi a Norma. Cumprimentei-a falando o mais baixo que pude, quase sussurrando, contrito, ante as circunstâncias do momento. Olhei para o leito e vi o Teodoro, olhos fechados, coberto por aparelhos de monitora-mento. Eu me sentia mal. A Norma em seguida disse:

— Teo, olhe quem está aqui. O Roberto Sergio veio visi-tar você.

Ele com voz segura: — E aí rapaz, o que você anda fazendo por aqui?Tomei um susto “positivo” pela forma de ele falar. Era o

mesmo Teodoro, animado. Eu falei sobre a Feira da Educação e ele começou logo a perguntar se havia novidades e o que eu tinha achado de bom. Respondi contando o que tinha visto e em seguida ele começou a perguntar sobre política. A essa altura eu estava mais calmo e muito surpreso. O homem es-tava do mesmo jeito! Passados alguns instantes, e tendo sido

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recomendado a não “puxar” conversa com o Teodoro, contei da minha admiração do estado dele à Gressy, sua sobrinha. Logo a seguir uma equipe de médicos e enfermeiros entrou para avaliá-lo, com o pedido de que eles ficassem a sós com o paciente. Aproveitando então disse:

— Teodoro já vou indo, tudo de bom pra você. Ao que ele indagou sempre de olhos ainda fechados:

— Quando você volta pra Fortaleza? — Na sexta respondi, às oito da noite. E ele emendou: — Aguardo você na sexta aqui novamente, depois das três

horas da tarde. Prometi voltar. Sai do hospital aliviado. A cabeça do Teo-

doro parecia a mesma. Na sexta voltei ao hospital, cumprindo minha promessa

da quarta feira anterior. Quando entrei no apartamento já encontrei o Teodoro sentado em uma cadeira, daquelas que possuem uma bandeja acoplada à frente, como se fosse uma carteira escolar. O homem não parecia que estava operado há quatro dias. Estava com dois celulares em cima da ban-deja, que chamavam de vez em quando com ligações, ao que parece, de Sobral. Retomamos a nossa conversa sobre a feira de educação e sobre os bastidores da política do Ce-ará. A Norma, sempre ao seu lado, em um dado momento dirigiu-se a mim pedindo:

— Roberto, fica um pouco com o Teodoro aí que vou aqui à enfermeira chefe do hospital e logo retorno.

Nossa conversa continuou, e o Teodoro falava sobre seus projetos e pedia notícias do Conselho de Educação. Parecia

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que estava na sala da reitoria da UVA e não em um aparta-mento de hospital. Em dado momento disse-me:

— Quer comer alguma coisa? Respondi:— Não, obrigado. Ele insistiu:— Olhe aí em cima dessa mesa tem uns sanduíches

muito bons. Olhei para o lado e vi uma bandeja com vários deles, e

pareciam mesmo muito apetitosos. Não prová-los achei ser a melhor atitude, em função de que estava na presença de uma pessoa que, naturalmente, naquele momento, era submetido a uma dieta alimentar severa. Disse novamente que não queria. E ele instantaneamente saiu-se com esta:

— Pois se você não quer, então me passe um. Eu reagi: — De maneira nenhuma Teodoro! Você está convalescente.

E a Norma? Se ela entrar por aquela porta não vai acreditar que você pegou o sanduíche sozinho... fui eu quem lhe ofereceu.

A Norma chegou, a conversa mudou e pouco tempo de-pois eu estava a caminho do aeroporto para voltar a Fortaleza, e pensava: inacreditável! O Teodoro não estava nem um pouco com o ânimo abatido. Parecia que estava em São Paulo resol-vendo alguns problemas por uns dias e retomaria tudo nova-mente. Foi o que aconteceu. Voltou, ficou bom e retomou sua vida de sempre. Nada o deteve. O homem é mesmo feito de um otimismo indomável.

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Uma figura de transição

Valdomiro Marques das Neves 33*

A HISTÓRIA DAS SOCIEDADES É MARCADA pela transformação da natureza, implementada por vezes pela própria ação humana. Na UVA experi-

mentamos, por 16 anos, uma mudança vertiginosa, tanto no plano físico, administrativo, quanto no pedagógico, coman-dada pelo professor Teodoro Soares, figura emblemática da educação cearense.

Com determinação, ousadia e muita criatividade, ele pro-moveu uma revolução na educação superior do Ceará. Rom-pendo os paradigmas dos cursos de graduação e atendendo às exigências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — LDB, a UVA realizou verdadeira “operação de guerra”, obje-tivando qualificar professores leigos e interferir diretamente na

* Professor, ex-diretor no MEC.

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melhoria da qualidade da educação básica, tão importante para o bom desempenho do aluno na educação em nível superior. Nessa perspectiva, não podemos negar que a UVA está cons-truindo gradativamente uma nova geração de professores que deverão chegar às salas de aula num curto espaço de tempo, mais capazes e competentes, porque tiveram experiências pe-dagógicas sólidas, com conhecimentos adquiridos através de profissionais atualizados e reflexivos.

A operação de formação de professores leigos, fincada no aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, que a UVA ainda realiza, é pioneira na sua pro-posta inclusiva e no seu resgate das práticas educativas que os professores desenvolvem, dando-lhes a fundamentação teórica tão necessária e urgente na relação que se estabelece entre o conhecimento, as práticas educativas e as práticas sociais.

O legado maior de qualquer homem, em sua existência temporal, é a projeção de suas ideias através de realizações e de seus seguidores. O prof. José Teodoro Soares contagiou a mui-tos, tanto na área educacional, quanto a políticos, empresários, pessoas simples, com suas ideias revolucionárias de educação superior na Sobral de dom José Tupinambá da Frota, transfor-mando-a numa cidade cosmopolita nestes anos em que esteve à frente da UVA.

Pelos atributos apresentados, o prof. Teodoro pode ser con-siderado uma figura de transição que, segundo Paulo V. Kretly, são pessoas com atitudes proativas que, diante dos maiores obs-táculos, continuam confiantes. Por mais intensa que seja a pres-são, elas não se rendem. E por suas ações e posturas, elas triun-fam, mudando para melhor suas vidas e as de muitos outros. Sua

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influência positiva pode, em muitos casos, ir além de seu círculo familiar, estendendo-se para a empresa, para a comunidade, para o país, para o mundo e até mesmo para gerações futuras.

A prova disso foi o Seminário de Integração da UVA, rea-lizado no final do seu reitorado, nos dias 17 e 18 de março de 2006, quando aqui estiveram representações de várias localida-des do Ceará e do Brasil, comitivas de Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Pará e Goiás, que demonstra-ram alegria, entusiasmo e orgulho para com a Universidade que acabavam de conhecer.

Nesses estados, a “operação de guerra” para formar profes-sores só está começando; com certeza, as populações dessas lo-calidades também ficarão gratas pelo banho de cultura, conheci-mento e educação proporcionado por essa experiência pioneira.

No entanto, a contribuição do professor Teodoro, nes-sa fase da UVA, completou seu curso. Penso que este grande paladino da educação continuará dando sua contribuição às populações de Sobral, da zona norte e de todo o País, a consi-derar sua vontade de servir enquanto cidadão e político que é hoje deputado estadual.

Com o perfil, a qualidade, a determinação, a ousadia, a in-trepidez e a energia positiva do prof. Teodoro, o povo cearense muito ganhou e muito terá a ganhar, pois esperamos que ele continue sua missão, recordando o que dizia Gandhi: “seja a mudança que você quer ver no mundo”. A convivência com o prof. Teodoro me autoriza a dizer que ele é mudança.

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Um homem à frente de seu tempo

Vicente Maia 34*

É ASSIM QUE VEJO O AMIGO, professor e agora deputado estadual José Teodoro Soares. E tenho sobejas razões que validam essa afirmativa, pois ao

longo de quase dois lustros de convivência, nutri uma crescen-te admiração por sua inesgotável capacidade de trabalho, fide-lidade aos amigos e pelo denodo com que sempre perseguiu a concretização de seus objetivos, a realização de seus ideais.

Durante o primeiro ano de seu terceiro mandato como reitor da UVA, em novembro de 1998, convidou-me para co-ordenar o escritório que a Universidade mantinha em Forta-leza para facilitar a expansão de seu projeto de interiorização

* Professor, ex-presidente do IDECC, ex-conselheiro no Conselho de Educação

do Ceará.

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do ensino superior.O começo foi difícil para mim. Acostumado a trabalhar

em instituições que exigiam rígido horário de trabalho, estra-nhei muito a completa indisciplina de Teodoro sobre o tema. Não conto as vezes em que me chamava a seu apartamento às 6:30 – 7:00h para despachar, e quando lá chegava, já estava saindo alguém para cumprir suas determinações. Estas sessões domiciliares, madrugadoras, invadiam a privacidade da prima Norma, sua mulher, cujas constantes e justas reclamações fize-ram com que passasse a receber-nos no escritório. Almoçar às 14, 15 horas era corriqueiro, e estender o expediente até às 19, 20 horas um fato normal. Quando eu olhava para o relógio, querendo cumprir meu horário, notava seu ar de insatisfação. Com o passar do tempo passou a compreender e aceitar a mi-nha disciplina originária da caserna, ao passo que eu, muitas vezes, por absoluta exigência do serviço, estourava voluntaria-mente o horário de trabalho.

Outra faceta de Teodoro que me deixava intrigado era o fato de ele passar a mesma tarefa para duas ou três pessoas executa-rem isoladamente. Reclamava eu que era perda de tempo, inefi-ciência, pois poderia dar o trabalho para um, cobrar a execução e utilizar os demais colaboradores para se dedicarem a outras atividades. Retrucava que havia aprendido essa tática no MEC e que ela lhe garantia que pelo menos um dos três iria concluir o serviço; se os três fizessem, teria três opiniões para escolher a melhor ou juntaria os pontos positivos de cada uma para formar um conjunto mais harmonioso. Nunca chegamos a um acor-do, pois ambas as posições têm pontos positivos e negativos.

Uma característica ímpar de Teodoro é a de despachar

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com várias pessoas ao mesmo tempo. Enquanto conversa com uma, as outras ficam esperando e, concomitantemente, atende a vários telefonemas e pede à secretária uma deze-na de ligações. Nessa azáfama, é importante esclarecer que ele tem ouvido seletivo, só escuta aquilo que lhe interessa ouvir, escolhendo entre as propostas das pessoas presentes na sala, os assuntos para discutir, de forma a não ferir e tampouco ignorar o interlocutor inconveniente. Creio que a justificativa para esse comportamento gregário seja o fato de ele sentir-se bem rodeado de amigos e de gente de sua confiança. Penso que Teodoro sofre da síndrome de soli-dão, pois não gosta de ficar sozinho.

Dentre os avanços tecnológicos que surgiram, nenhum agradou mais a Teodoro que o telefone celular. Possui várias linhas e aparelhos que hoje são parte de seu corpo. Deixá-lo sem um celular à mão é submetê-lo à tortura chinesa, largá-lo sem água no meio do deserto. A simbiose é tão grande que ao tornar da anestesia em uma delicada cirurgia de ponte de safena, a primeira coisa que pediu foi um celular para fazer ligações. É óbvio que os médicos proibiram, mas tão logo lhe permitiram, iniciou uma bateria de chamadas.

Sua capacidade de trabalho é tão impressionante que até lhe propiciou, como reconhecimento, a alcunha carinhosa de “trator”. Para ele não existe feriado, dia santo, sábado ou do-mingo. Todo dia é dia de trabalho. Quando viaja de férias fica ligando todos os dias para seus auxiliares mais diretos, solici-tando providências e inteirando-se das novidades. Disse-lhe várias vezes que as pessoas trabalham para viver, enquanto que ele vive para trabalhar. A resposta sempre foi a mesma: gosto

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de trabalhar, realizo-me trabalhando, sou feliz assim. Gostar de escrever e publicar os escritos é outra virtude de

Teodoro. Sempre diz que registra tudo o que faz, quer seja por meio de artigos, quer por intermédio de livros, para que não haja a perda da informação, a queda do feito no ostracismo. Algumas pessoas confundem essa característica com excesso de vaidade, mas quem o conhece de perto sabe que a compa-ração carece de fundamento. Há que se testemunhar o esforço e a insistência com que induzia aos professores e colaborado-res para que escrevessem e publicassem artigos. Entre meia centena de livros que publicou, ora como autor, ora como organizador, destaco “A história contemporânea de Sobral”, em que reuniu, ao longo de 10 anos, 1.176 trabalhos de sua autoria e de mais de duas centenas de articulistas, publicados nas páginas do jornal O Povo, em caderno especial dedicado à zona norte do Estado.

Dois traços da personalidade de Teodoro que muito ad-miro são a persistência e a capacidade de tratar bem os ad-versários. Quando traça um objetivo busca incessantemente todos os meios para concretizá-lo, não importando os obstá-culos que tenha de transpor. Por conta disso foi que a UVA tornou-se uma universidade de porte médio, extrapolou fron-teiras e é referência nacional na interiorização do ensino supe-rior. Somente quem acompanhou de perto esta evolução sabe dos desafios transpostos e dos opositores que foram vencidos pela pertinácia de Teodoro. Sabe lidar de forma desconcer-tante com seus detratores, acolhendo-os cavalheirescamente, sem agressões e até mesmo concedendo-lhes benefícios. Um exemplo ilustrativo: certa feita ligou para um parceiro sem se

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identificar e a atendente pediu para esperar, pois a figura esta-va em outra linha. O fone fora do gancho e Teodoro ouvindo tacitamente o parceiro falando mal dele. Quando foi atendi-do, conversou como se não tivesse ouvido nada. Encerrada a ligação contou o acontecido, dando uma sonora gargalhada. Se fosse outra pessoa talvez tivesse mandado o falastrão para o quinto dos infernos.

Teodoro se encanta facilmente com as pessoas e remove mundos e fundos para oferecer-lhes as melhores condições de trabalho. Quando correspondem às suas expectativas cria-se um vínculo indestrutível, uma nova e firme amizade. Caso contrá-rio, ao decepcionar-se, nasce uma ojeriza difícil de ser apagada.

Considero sua maior qualidade a arte de fazer e conservar amigos. Ao longo de sua vida, nos seminários da Betânia em Sobral, da Prainha em Fortaleza e de Olinda em Pernambuco, no Colégio Pio Brasileiro e na Universidade Gregoriana em Roma, na Universidade de Paris, no Ministério da Educação e no Projeto Rondon em Brasília, na Universidade do Piauí, na Urca, na UVA e na Assembleia Legislativa do Ceará foi um semeador de amigos. Por isso, possui um imenso e belo jardim de amigos, ornado com os mais diferentes tipos de flores: umas simples, modestas, descoloridas e que até murcharam para que ele crescesse, mas não menos queridas; outras são exuberantes, magníficas, que cultiva com grande carinho e procura dar-lhes ainda mais brilho. Mas existem também, embora que em pe-quena quantidade, aquelas que, apesar de formosas e bem cui-dadas, escondem na folhagem os espinhos da inveja, da traição, da ganância, da ingratidão e da maledicência.

Nunca ouvi dizer que Teodoro tivesse deixado um amigo

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a ver navios; pelo contrário, dou testemunho das inúmeras vezes em que ajudou os amigos que solicitavam seus présti-mos, procurando fazer com que a mão direita não visse o que a esquerda estava fazendo. Sei, sem falsa modéstia, que tenho um pequeno lugar reservado nesse jardim, e tenho a consciên-cia tranquila de que sempre procurei endireitar-lhe as veredas, aplainar seu caminho. Os espinhos, se os apresentei, não eram camuflados e cheios de falsidade. Eram, em verdade, gritos de alerta, de fidelidade ao amigo e ao preceito de que o bom assessor é aquele que tem coragem de dizer não, mesmo que possa vir a desagradar ao superior.

Não vou perder tempo escrevendo sobre as realizações de Teodoro. São sobejamente conhecidas de toda a comunida-de cearense. Quero apenas destacar aquele que considero seu maior projeto, hoje já reconhecido, mas que ainda haverá de ser louvado pelas gerações futuras: o processo de interioriza-ção do ensino superior.

Foi deflagrado, inicialmente, por intermédio dos cursos denominados de Esquema I e Esquema II e intensificado por meio dos cursos de Pedagogia em Regime Especial (PRE), que começaram por Sobral, trasladando-se depois para Fortaleza e sua Região Metropolitana e se espraiaram por mais de 140 municípios cearenses. Posteriormente, ultrapassaram fron-teiras, alcançando centenas de cidades de estados das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Tais cursos, além de ofere-cerem ao aluno a oportunidade de participação em um curso superior em seu próprio município, sem a necessidade de des-locamento para os grandes centros urbanos, promoveram a er-radicação quase que total da figura do professor leigo no Ceará

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e nos demais estados onde foram implantados. Permitiram, também, que a UVA alcançasse um grau de desenvolvimento sem precedentes na história universitária do País.

Essa atuação pioneira, corajosa e inovadora permitiu-lhe ampliar seu rol de amigos e admiradores e o reconhecimento da sociedade cearense, mas granjeou-lhe, também, uma ex-tensa lista de adversários e inimigos não declarados, tanto na esfera pública como na atividade privada, que movidos pela inveja ou interesses econômicos e políticos contrariados, pro-curavam desqualificar os cursos da UVA, denegrir a imagem e macular a honra de seu reitor, por meio de calúnias, in-sinuações maliciosas e até mesmo por infundados processos judiciais. A vitória é inquestionável, Teodoro passou incólume com sua caravana, e os cães ainda estão a latir.

À proporção que os professores leigos iam se graduando, sua visão de futuro indicava-lhe que boa parte deles e muitos bacharéis que militavam no ensino médio necessitavam de li-cenciatura para atender à insuficiência de oferta de mestres para esse nível de ensino, mormente nas áreas de Biologia, Física, Geografia, História, Matemática, Português e Quími-ca. Por sua inspiração, a UVA criou os Cursos de Licenciatura Específica (CLE) nessas áreas, os quais já formaram e conti-nuam formando milhares de professores para o ensino médio. Teodoro antecipou-se ao esforço ora desenvolvido pelos go-vernos federal, estaduais e municipais para suprir a carência de professores para o ensino médio, a qual, segundo dados divulgados pela imprensa, ultrapassava, no Brasil, a casa dos 130.000 docentes. Não foi um elogio enganoso quando ao intitular este depoimento afirmei que Teodoro era um homem

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à frente de seu tempo.Trabalhar 10 anos com Teodoro foi para mim um cons-

tante aprendizado e um grande privilégio. Sinto-me também um vencedor, pois embora modestamente, fui partícipe de seus projetos e de suas magníficas vitórias.

Desejo ao mestre e amigo Teodoro, que o Senhor, em sua divina providência, adicione muitos anos à sua laboriosa exis-tência, para que possa continuar lutando em defesa da moti-vação maior de sua vida: a educação do povo.

Um grande e afetuoso abraço do amigo.

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Pesquisa científica

João Ambrósio de Araújo Filho 35*

A PASSAGEM DO PROFESSOR TEODORO pela reitoria da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) constituiu verdadeiramente um marco his-

tórico que repercutiu nos mais diferentes setores da Universi-dade. Novas salas de aula foram edificadas, laboratórios foram construídos e equipados, uma fazenda experimental foi adqui-rida e equipada e novos cursos foram criados. A UVA esten-deu suas ações para muito além de suas fronteiras geográficas, alcançando o interior do estado, outros estados da União e, por fim, o exterior.

Mas isto já é do conhecimento e do reconhecimento de todos. O que queremos expor é o papel fundamental que essa gestão teve no estabelecimento e fortalecimento da pesquisa

* Professor da UVA

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científica, elevando a Universidade a patamares de igualda-de com outras universidades do país. Antes, com um corpo docente constituído praticamente por professores que não tiveram a oportunidade de treinamento em nível de pós-gra-duação stricto sensu, a produção científica da Universidade engatinhava em seus primeiros movimentos. Por outro lado, a UVA carecia de cursos superiores de carreiras técnicas e de cursos de pós-graduação stricto sensu, voltados para a geração e aprofundamento do conhecimento científico. Portanto, o primeiro passo foi a criação desses cursos.

No primeiro semestre de 1994, a UVA realizou um con-curso de seleção de professores, quando foram admitidos pro-fissionais com pós-graduação em nível de mestrado e de dou-torado. A partir de então, a UVA envidou enormes esforços para contratação de professores pós-graduados, para promo-ção de treinamento de membros de seu corpo docente, tanto em universidades nacionais, como no exterior, de tal maneira que em poucos anos a Universidade se encontrava com o seu corpo docente fortalecido por dezenas de mestres e doutores, equiparando-se a muitas universidades do país.

Em março de 1995, o recém criado curso de Zootecnia, um marco pioneiro na interiorização das Ciências Agrárias no Ceará, iniciou suas atividades. Graças à parceria vigorosa da Embrapa Caprinos, manifestada desde a preparação do curso de Zootecnia, foram oferecidos estágios para os alunos, usu-fruto de suas dependências de laboratórios, campos experi-mentais e biblioteca, bem como participação de pesquisadores como docentes da Universidade. Seguiu-se, então, a criação dos cursos de Biologia, Direito, Medicina e Odontologia.

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Com isto, a UVA começou a enveredar com largos pas-sos pelas sendas da pesquisa científica. A atuação do professor Teodoro foi decisiva, quer pelos incentivos, quer pelo apoio contínuo, entusiasmado e disponível em qualquer condição. Os pleitos levados pelos professores, relativos a equipamentos, instalações, treinamentos, participação em congressos científi-cos foram sempre atendidos no menor espaço de tempo.

O crescimento vertiginoso da pesquisa científica na UVA possibilitou então a captação de recursos financeiros via editais das instituições financiadoras, como CNPq, CAPES, BNB, FUNCAP e muito outros.

Os frutos deste enorme esforço começaram a surgir, ma-terializados na produção científica, promoção de eventos e participação de docentes e discentes em congressos científicos nacionais e internacionais e na criação do periódico Essentia para publicação de trabalhos científicos. E o nome da UVA foi então enquadrado e passou a ser conhecido no meio da comunidade científica brasileira.

Em 1998, teve lugar o primeiro encontro de iniciação científica promovido pela Universidade, com a apresentação de 18 trabalhos pelos alunos dos diferentes cursos. Presen-temente, os trabalhos publicados nos anais desses encontros são contados às centenas, numa demonstração inequívoca do envolvimento da UVA na geração do conhecimento científico e de novas tecnologias.

O crescimento da atividade de pesquisa científica em pouco tempo possibilitou a criação do primeiro curso de pós--graduação stricto sensu da UVA, o mestrado em Zootecnia, que mais uma vez conta com a valiosa parceria da Embrapa

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Caprinos. Mais uma vez, o pioneirismo que sempre marcou o reitorado do professor Teodoro se concretiza no primeiro curso de pós-graduação stricto sensu a ser criado no interior do Ceará. O curso, que tem o reconhecimento da CAPES, já conta com vários alunos titulados.

O resultado final de tudo isto foi o dinamismo que to-mou conta da Universidade, motivando docentes e discentes ao aprimoramento e aprofundamento do conhecimento, ao aperfeiçoamento do aprendizado baseado em nossa realidade e ao engajamento na busca de alcançar novas fronteiras do saber.

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O educador incansável

Iara Maria Linhares 36*

P OUCAS PESSOAS PODEM SE ORGULHAR de ter — como o professor José Teodoro Soares — uma tão ampla e diversificada folha de serviços

prestados à educação em nosso país. Por onde tem passado, esse educador cearense imprime a marca da sua inteligência, do seu compromisso e de sua disposição permanente para o trabalho incansável em favor das causas que abraça.

Com a vivência de tantos anos dedicados à educação e com a autoridade de quem construiu um saber, tem sempre algo novo a propor, na perspectiva de colocar em ação, avan-çar passo a passo rumo à concretização das propostas com uma paciência “impaciente”.

Nos anos que integrou os quadros da UVA, exercendo a

* Coordenadora dos cursos da UVA no Rio Grande do Norte. Ex pró-reitora da UVA.

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função de reitor, demonstrou competência e ousadia ao imple-mentar programas de formação de professores que vêm sendo desenvolvidos com sucesso em vários estados brasileiros, fa-zendo uma instituição com sede no sertão nordestino tornar--se conhecida nacionalmente. Em várias unidades federadas, como Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, estão sendo co-locados em prática os cursos de Pedagogia em Regime Espe-cial e as Licenciaturas Específicas, e com isto tem sido lançado um ataque frontal a uma das causas do grave problema da má qualidade do ensino fundamental, as carências intelectuais dos professores para ensinar.

É muito fácil continuar a repetir as rotinas, fazer as coisas como sempre têm sido feitas. Mas o professor Teodoro não se contenta com tão pouco; gosta de enfrentar e vencer desa-fios. Por isso, esteve à frente de uma verdadeira cruzada, que transformou escolas públicas do interior nordestino em salas de aula da Universidade para capacitar os professores leigos. E essa iniciativa pioneira contribuiu e continua contribuindo para mudar as feições dos professores e, por que não dizer, da educação brasileira.

Pessoas como o professor Teodoro me fazem lembrar o filósofo Rubem Alves que, em uma de suas obras, afirma que as pessoas carregam consigo duas caixas: uma de ferramen-tas e uma de brinquedos. Na primeira encontram-se objetos necessários para compreender e inventar, indispensáveis para a sobrevivência. Na outra, a de brinquedos, ficam os obje-tos que poderiam ser considerados inúteis, pois servem para proporcionar prazer e alegrias como sejam: livros, poemas, música, literatura ...

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Acredito que o professor Teodoro não só carrega as duas caixas, como faz com que as pessoas que com ele enfrentam os desafios também as carreguem com equilíbrio, pois além do trabalho pesado e sem hora para acabar, comemoram com ele os bons resultados participando de festas, de confraterniza-ções, de encontro com amigos.

Participar dessa cruzada durante sete anos — de 1997 a 2003, período em que atuei como coordenadora do curso de Formação de Professores e como coordenadora de ensino de pós-graduação da UVA em Sobral — foi, acima de tudo uma honra muito grande. Embora reconhecendo a minha atuação diminuta diante da dimensão da problemática rela-cionada à formação de professores e do quanto a UVA reali-zou nesse sentido, tenho a certeza de que dei minha parcela de contribuição e, principalmente, de que aprendi muito com esse grande mestre.

Relato apenas esses fatos e feitos da trajetória do profes-sor Teodoro, dentre inúmeros outros, como por exemplo a publicação de livros, atuação junto aos órgãos de imprensa, militância político-partidária, por ter sido o campo ao qual estive diretamente ligada. Mesmo assim, quero registrar que tamanha versatilidade me surpreendia, principalmente pelo modo criativo e concreto com que eram tratados os proble-mas do cotidiano.

Atualmente, tenho acompanhado à distância sua trajetó-ria e sei que continua pensando, agindo, produzindo, publi-cando, lendo, participando e se envolvendo com novos pro-jetos. Desejo que essa produção numerosa, rica e inovadora continue disseminando conhecimentos por incontáveis anos.

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Aproveito a oportunidade para registrar o mais sincero agradecimento por ter participado da equipe deste mestre, que mudou os rumos da educação do Ceará e fez renascer em muitos educadores uma esperança de vida.

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Teodoro e o Rio Grande

do NorteHudson Brandão de Araújo 37*

Ana Maria Viana de Sousa Araújo

N OSSO ENCONTRO COM O PROFESSOR José Teodoro se deu através de um colega comum: o Prof. José Jackson Carneiro que, em 2001, veio à

nossa procura com a proposta de minha esposa e eu assumir-mos o desafio de implementar no Rio Grande do Norte o cur-so de Pedagogia em Regime Especial da UVA, já que tínhamos experiência na área de educação, proprietários que somos do Instituto Brasil — escola com mais de 50 anos de existência e muito conceito em Natal, capital do Estado.

A proposta era ao mesmo tempo desafiadora e fascinante,

* Professor da UVA.

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porque rompia com a elitização do ensino universitário brasi-leiro e enfrentava o problema fundamental da escola, que é a qualificação dos professores.

Idealistas como somos, aceitamos o convite, e o Prof. Ja-ckson nos levou ao Prof. Teodoro, que de pronto confiou em nós. Desde o início, passamos a admirar seu gênio inovador, sua coragem e determinação de enfrentar desafios.

O primeiro desafio era procurar apoio no Conselho Es-tadual de Educação, que mesmo reconhecendo a importância do projeto, preferiu declarar-se incompetente, com o medo de ferir os interesses das faculdades locais. Como o Conselho não foi contra, o Prof. Teodoro autorizou o funcionamento do curso face às solicitações que tínhamos de várias prefeituras. Professor Teodoro não é daqueles que esperam ter tudo cer-tinho para fazer as coisas acontecerem. Como o compositor Vandré, é convencido também de que “quem sabe faz a hora”.

Em três anos a UVA já estava presente em mais de 30 municípios do Rio Grande do Norte, seus alunos chegavam a 3 mil, e a qualidade do curso era incontestável. Foi quando outras faculdades perceberam o fenômeno que estava aconte-cendo. Forças ocultas começaram a trabalhar contra nós. Du-rante dois anos, nós, eu e o Prof. Teodoro, sofremos investidas do Ministério Público alegando a ilegalidade do curso e a não validade do seu diploma.

Com o Prof. Teodoro, lutamos em muitas frentes: no pla-no jurídico, junto ao governo, prefeitos e educadores. Não compreendíamos porque, se estávamos fazendo tanto bem à educação do nosso Estado, estávamos sendo tão perseguidos. As forças ocultas eram poderosas.

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Felizmente sempre encontrávamos guarida no Tribunal de Justiça do Estado e na governadora Vilma de Faria, que mandou que a Secretaria de Educação celebrasse com a UVA um convênio de cooperação técnica, o que acabou definitiva-mente com as contestações.

Teodoro em nenhum momento nos deixou sós. Sua ex-periência de lidar com situações conflituosas nos encorajava.

Hoje podemos dizer que graças à inteligência, à ousadia, ao destemor, à tranquilidade de estar trabalhando por causas maiores do Prof. Teodoro, o IBRAPES e a UVA são vitoriosos no Estado, reconhecidos e valorizados, já tendo formado, em 7 anos, mais de 7 mil novos professores.

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Teodoro e a mudança no cenário da Educação no Pará

Suely Menezes 38*

N O INÍCIO DO SÉCULO XXI, o Censo Educa-cional fazia uma grave denúncia em relação aos professores atuantes na rede de ensino estadual do

Pará: mais de 50 mil possuía formação apenas em nível médio. Vale lembrar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-cional (Lei nº. 9.394/1996) traçou metas de formação, pre-ceituando que os professores em atividades na educação básica

* Professora, Curadora da UVA no Pará.

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necessitavam da graduação em nível superior.Naquela época, como presidente do Conselho Estadual

de Educação e representante do Pará no Fórum Nacional de Conselhos Estaduais, tinha conhecimento da carência edu-cacional à qual estava submetido o nosso estado, até mesmo em função da experiência profissional na área da educação, não apenas como pedagoga e diretora de escola, mas como diretora do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino — SINEPE.

O Sindicato dos Professores no Estado do Pará (SINPRO) já tinha se mobilizado em busca de alternativas que enquadras-sem seus associados às novas determinações legais, assim como o SINEPE. As universidades públicas instaladas em Belém já haviam sido consultadas sobre a possibilidade de ofertar um curso de formação de professores que mantivesse os profissio-nais em sala de aula, evitando um processo de demissão em massa em função do não cumprimento da LDBEN.

Em uma das reuniões do Fórum de Conselhos, em Bra-sília, encontrei-me com o professor Teodoro, que me falou, com muito entusiasmo, das conquistas realizadas pela Uni-versidade Estadual Vale do Acaraú (da qual era reitor) no estado do Ceará onde, com seu idealismo e ousadia, iniciou um projeto de formação de professores para atender às de-mandas locais que, àquela altura, já se expandiam a outros estados, com sucesso. Na ocasião, Teodoro demonstrou ca-balmente a importância do projeto em curso, sem o qual seria muito difícil alcançar as metas de formação estabele-cidas pela LDBEN.

Percebi, naquele instante, que a Universidade Estadual

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Vale do Acaraú poderia ser a “luz no fim do túnel” que há tanto tempo o Pará procurava. A iniciativa do professor Teo-doro me estimulou a implantar — por que não? — no Pará, o Curso de Licenciatura em Pedagogia em Regime Especial, assim chamado por aproveitar as experiências profissionais dos alunos na composição da carga horária, situação devidamente permitida por lei, àquela altura.

Mas de que maneira se poderiam transferir cursos ofer-tados no Ceará para o Pará? A perspicácia de Teodoro mais uma vez prevaleceu, quando me lembrou que a Constituição Federal e a própria LDBEN permitem — e até estimulam — o regime de colaboração, a partir do qual um sistema admite a entrada de instituições de outro sistema em sua jurisdição.

Estava dado o primeiro passo para que o Pará ampliasse o número de professores da educação básica com nível superior completo — que em 2000 eram apenas 21.392, ainda de acordo com o Censo. Mas era preciso pensar em atingir a população como um todo, visto que o estado do Pará é o se-gundo maior em área, relativamente às demais unidades da federação brasileira, e possui grandes dificuldades de acesso aos seus municípios. Nova dúvida e novo exemplo de Teo-doro, uma personalidade que, como iniciativa e objetivida-de, realiza suas ações: o estabelecimento de convênios com prefeituras municipais, fazendo com que a educação atinja todos os cantos do Pará.

Depois de percorridos os trâmites legais, a Universidade Estadual Vale do Acaraú recebeu a permissão do Conselho Estadual de Educação do Pará para instalar, em sua jurisdição, turmas do curso de Pedagogia em Regime Especial (PRE), a

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partir da implementação do regime de colaboração intersiste-mas estaduais, o que demonstrou o esforço conjunto em prol da qualificação dos docentes paraenses.

Para nossa surpresa, o curso, que se destinava, basicamen-te, a professores da rede particular, atraiu uma demanda maior do que a prevista. A partir do segundo processo seletivo, já tínhamos inscrições do interior do estado: estava iniciado o processo de interiorização da UVA em território paraense.

Quatro anos após a implantação do PRE, segundo da-dos do MEC/INEP, já foi possível perceber uma evolução de 80% na formação de professores em nível superior: tínhamos 17.135 novos profissionais da educação, dos quais aproxima-damente 12 mil graduados pela UVA, no Pará. Apesar deste avanço, ainda restavam 50.201 professores necessitando de acesso à universidade, demonstrando o quão era imperativo todo esforço no sentido de qualificar esta parcela da popu-lação paraense, garantindo melhorias para a sociedade como um todo e, especialmente, para a qualidade do ensino básico estadual e brasileiro.

Este foi o resultado da ida da Universidade Estadual Vale do Acaraú às localidades onde ela era absolutamente necessá-ria, configurando-se numa ação de apoio às demais institui-ções de ensino superior (estaduais e federal) que se esmeram, também, em formar educadores. Isso demonstra um aprendi-zado em termos de superação de dificuldades — bem eviden-ciada pelo professor Teodoro cinco anos antes —, que oca-siona, muitas vezes, resultados magníficos, como ocorreu – e ocorre, ainda — no Pará.

Aos poucos, e com mais uma mudança na legislação, a

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UVA passou a ofertar os cursos de Pedagogia para as Séries Iniciais (PSI) e as licenciaturas em Português, Geografia, His-tória e Matemática, além do PREFOP — Programa Especial de Formação de Professores, que garantiu a bacharéis a formação pedagógica necessária à atuação em sala de aula. Em seguida, lançou no estado o Programa de Licenciaturas Integrais (PLI), agregando às existentes os cursos de Física, Biologia e Química, e o próprio curso de Pedagogia, já atendendo às novas normas, que concedem as prerrogativas de gestão, supervisão e orienta-ção em ambientes escolares e não escolares a pedagogos.

Em sete anos de atuação no Pará, a UVA já chegou a 85 dos 143 municípios paraenses. Em muitos destes locais, as demandas foram supridas. Nos demais, a UVA ainda se faz presente — e continua a ofertar seus cursos nos municípios que demonstram interesse em educação de nível superior.

Nós, do Pará, só temos a agradecer ao professor Teodoro pelo incentivo para que pudéssemos, por meio da Universi-dade Estadual Vale do Acaraú, contribuir de forma real, efeti-va e com grande abrangência para o cumprimento das metas nacionais de formação de professores relativamente ao nosso estado. Principalmente ao pensarmos que, por meio das licen-ciaturas ofertadas pela UVA, cada professor por nós graduado será um multiplicador de seus conhecimentos, atingindo, a cada ano, no mínimo, 40 alunos. Este trabalho responde, de fato, aos desafios impostos pela construção de um ensino bá-sico melhor e devidamente preparado para receber, a cada dia, nossas crianças e jovens.

Atualmente, ainda há muito a fazer para diminuir os dé-ficits educacionais no Pará. Mas a Universidade Estadual Vale

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do Acaraú está fazendo sua parte e já graduou, em 7 anos, 18.826 professores nas diversas licenciaturas que oferta (Lín-gua Portuguesa, História, Geografia, Pedagogia, Matemática, Física, Biologia e Química). Como uma universidade inclu-siva, a UVA desenvolve um trabalho específico voltado aos alunos com necessidades educacionais especiais, mantendo em seus núcleos uma equipe especializada no atendimento a estes discentes. Nos recentes concursos públicos estaduais e municipais, 20% dos aprovados eram alunos ou ex-alunos da UVA, da capital ou do interior.

Toda esta experiência decorre do aprendizado iniciado no ano 2000, naquela conversa mencionada anteriormente, so-bre as novas ações desenvolvidas pela UVA no Ceará, tendo à frente o reitor Teodoro, que, a partir da criação de novos paradigmas, ajudou a levar educação de qualidade a diversos estados do Brasil – e não apenas ao Pará. Seu idealismo é prova cabal de que é possível modificar realidades adversas a partir de ações competentes, solidárias, ousadas, criativas e compro-missadas, como as efetivadas por ele.

A coragem do professor Teodoro em desenvolver tais ações, como o projeto de formação de professores que já é conhecido por mais de 11 estados brasileiros, demonstra o seu compromisso com todo e qualquer cidadão e com a própria educação, a partir de novas proposições que nos servem de exemplo, dia a dia.

Tenho certeza que, ao olhar para trás, este homem cha-mado José Teodoro Soares poderá afirmar: “eu construí uma sociedade melhor”. Porque Teodoro é um homem que pensa o bem comum. Teodoro pensa público, com visão empreende-

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dora de empresa privada. Teodoro busca — e consegue — re-solver as necessidades das pessoas. Orgulho-me de conhecê-lo e de segui-lo em sua determinação. Por isso o agradeço – em meu nome; em nome do meu Pará e do Brasil!

Muito Obrigada!

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Professor Teodoro: um

semeadorJosé Ferreira Portella Netto 39*

C ONHECI O PROFESSOR TEODORO EM 1990. Na-quela época, sua atuação na Urca, banhando o Cariri com novas luzes do conhecimento que respingavam

junto à UVA, na zona norte do Ceará, era a esperança do en-sino superior no estado.

Em março de 1991, assumiu a reitoria da UVA, com o desafio de expandir o ensino superior em todo o norte do Ce-ará, tornando Sobral uma cidade universitária, um polo de desenvolvimento cultural.

Esta política de expansão tornou a UVA presente em mui-tas cidades do Ceará e em vários estados da federação, como sentinela avançada do ensino universitário, indo ao encontro

* Professor e presidente do CEPES (UVA).

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do aluno que não podia vir ao encontro da UVA em seus cam-pi na cidade de Sobral.

Sonhava uma UVA grande como universidade de porte médio. Sonhava uma Sobral como polo universitário.

Sonhou, programou, lutou, envidou o melhor de si em tempo, trabalho e abnegação e viu a sua UVA, viu a sua Sobral aparecerem como estrelas de deslumbrante lume no ensino superior do Brasil.

Na trajetória de seu reitorado na UVA, tudo fazia em be-nefício da Instituição, dotando a Universidade de mais cursos, mais concursos e mais professores.

Para a implantação do curso de Direito, encontrou os mais diversos obstáculos, alguns pareciam até intransponíveis. Não desistiu, trabalhou, lutou, contornou situações sem nun-ca entrar em “bola dividida”. Tudo superou. Usou todos os dotes de dialética e do seu poder de convencimento. O curso de Direito da UVA já graduou muitos profissionais que hoje militam como juiz, promotor, auditor e muitas outras moda-lidades de trabalho que o ensino jurídico lhes proporciona.

Um sonho muito antigo era trazer o curso de Medicina para Sobral. Não importava o meio, não importava por mãos de quem viesse. “São sempre muito belos os pés do mensagei-ro que traz boas notícias”.

Tudo o que faz pela educação é por intuição, por conhe-cimento, por convencimento. Acredita muito na sua ideia, e por isso defende a “Inclusão pela Educação”.

Ainda em Sobral, destinou 5% das vagas dos cursos da UVA para candidatos portadores de necessidades especiais, conforme resolução nº 25/2005, de 01 de abril de 2005.

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Agora, na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, como deputado, tem condições de defender melhor junto a seus pares com o engenho da criação, com o conhecimento da causa, com a experiência, a implantação deste benefício em todas as universidades do Estado.

“O espinho que tem de picar, de pequeno traz a ponta”. Este é um refrão muito antigo que se aplica muito bem ao professor Teodoro. Desde muito novo já não podia viver só para si. O seu viver era sempre ligado e compartilhado com o vizinho, com o colega, com o amigo.

Ganhara de seu pai, Agrípio Soares, abastado comerciante com largas possibilidades, uma bicicleta Phillips Leão, pneu balão, comprada em Sobral na casa Parck Royal, de Gerar-do Quixadá Rangel. Tratava o mimo com afago e meiguice, cercava-o com os maiores cuidados de limpeza e manutenção, mas todos os seus amigos, vizinhos, conhecidos e até amigos dos amigos tinham direito de dar uma voltinha, aproveitando os folguedos da infância alegre e descuidada numa cidade do interior do Ceará, que tinha a igreja, o mercado e a estação como pontos de referência, e o trem pesado e sonolento, co-mendo lenha e soltando brasa estrada a fora, buscando o seu destino, a estação primeira à sua frente.

A Phillips Leão era uma lançadeira da Praça da Estação até Santa Cruz velha, do outro lado da cidade. Parecia já co-nhecer os percalços do caminho, de tanto ir e vir com seu gui-dom e seus pedais sempre à mercê dos mais variados “pilotos”.

É muito grande o universo de seus amigos por este mun-dão afora. É muito grande mesmo. É que a cada situação em que se encontre qualquer um de seus amigos, lá está o profes-

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sor Teodoro, feito o pai amoroso, o irmão leal, o amigo fiel pronto para ajudar, assumindo por si e por tudo que está ao seu alcance, o amigo em apuros.

É assim a vida de um semeador que não se deixa arrefe-cer nem em suas maiores adversidades. Pelo simples fato de existir, já espalha o lume, a luz, a orientação, a fim de colher os frutos que virão, e já chegam, mais abundantes que nunca. Que este dom continue a se manifestar em profusão através desta grande personalidade de nosso cenário educacional.

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A Personalidade do Professor

TeodoroAroldo Lins 40*

N O MOMENTO EM QUE O PROFESSOR JOSÉ Teo-doro Soares recebe mais uma justa homenagem, no testemunho escrito de muitos amigos, não poderia

me furtar de expressar minha visão sobre sua personalidade.Não vou abordar aqui o aspecto do educador inconteste,

do visionário da educação, que soube como ninguém impreg-nar o Estado com a marca da UVA, que se confunde com sua trajetória e desejo: inclusão pela educação. Vamos falar do homem sensível, inquieto, efervescente de ideias.

A história do professor Teodoro teve particularidades em

* Professor da UFC.

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toda sua trajetória, desde a sua infância. Não é fácil encon-trar alguém capaz de nos surpreender com as característi-cas de sua personalidade. O professor Teodoro tinha, desde cedo, plena consciência do que fazia, tinha metas e priori-dades bem estabelecidas.

Sempre foi muito seguro e determinado, ao mesmo tem-po flexível, muito atencioso e educado. O professor Teodoro sempre mesclou, em toda a sua caminhada, a singeleza com a eloquência, a humildade com a coragem intelectual, a amabi-lidade com a perspicácia.

Na escola da vida, conheceu profundamente o pensamen-to e as crises da existência humana. Passou pelas angústias de uma saúde comprometida, mas usava cada instante de dificul-dade, cada contrariedade, como uma chance para enviar lições a muitos que imaginavam sua queda.

Adiantou-se no tempo e levou a educação aos mais dis-tantes rincões do Ceará e além fronteiras, beneficiando inú-meros jovens, antes sem horizonte, para atender a um anseio natural de crescimento.

O maior líder não é aquele que é capaz de governar o mun-do, mas aquele que é capaz de governar a si mesmo. Dentro desta visão, pode-se dizer que o professor Teodoro muito con-tribuiu para o processo de construção das relações humanas.

Ele tinha consciência de que uma mudança se inicia no espírito humano, daí sua capacidade de convencimento dian-te de sua equipe de colaboradores, das novas ideias, do novo modelo de gestão idealizado por sua inteligência privilegiada.

Homem de formação religiosa, soube desenvolver senti-mentos altruístas, como a solidariedade e a cooperação social.

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Na mente do professor Teodoro há lugar, na educação e no desenvolvimento humano, para os mais simples, os mais des-tituídos do poder econômico, e nisso ele foi mestre em criar oportunidades, seja através da expansão da oferta de cursos com a presença da UVA em dezenas de municípios, seja na autorização de bolsas de estudo ou descontos para quantos bateram à sua porta.

O maior trabalho de um dirigente não é dar respostas, mas estimular seus colaboradores a desenvolver a arte de pen-sar. Nisso foi também ímpar, pensando UVA durante todo o tempo em que esteve à sua frente e assim continuará, pois em sua mente não há espaço para a passividade. A sua proposta está em mostrar que tudo se pode conquistar, desde que haja esforço continuado na direção dos objetivos pretendidos.

O professor Teodoro tem ainda na complacência e na tole-rância duas características marcantes. Junte-se a estas a alegria e o bom humor, sempre presentes em sua vida, em seu semblante. Convém lembrar ainda que ele sempre gostou de conviver com as pessoas; por isso, de todas as suas características, a mais visível é a de saber fazer amigos, conquistar pessoas, necessidade uni-versal e sublime, fonte de prazer e grande satisfação.

Professor Teodoro, gostaria de lhe dizer que se transpor-tarmos o pensamento do Cristo para os dias atuais, podemos inferir que Ele queria construir na humanidade uma esfera tão rica, afetivamente, que o ser humano deixaria de ser um mero nome, cpf, título acadêmico, e passaria a ser uma pessoa insubstituível, singular e verdadeiramente amada.

O senhor, com sua imensa capacidade de trabalho, com seu desprendimento, determinação e grande liderança, condu-

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zindo o processo de transformação do homem através da educa-ção, sem dúvida que tem dado uma enorme contribuição para a redução das desigualdades sociais e incentivado, por meio da autoestima, a que milhares de cidadãos participem das estatís-ticas da educação superior em nosso estado e além fronteiras.

Vale lembrar que sua postura de educador continua eleva-da na condição de parlamentar, onde tem levado para a Casa do Povo o debate das questões educacionais que dizem respei-to ao interesse do nosso estado.

Por tudo isso, professor Teodoro, receba esta homenagem com o apreço de quem muito o admira e estima, e continue a enfrentar novos embates em favor dos menos favorecidos, sobretudo na área da educação.

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MagníficoMaria Lucia Castro Martins 41*

N OS PRIMEIROS ANOS da Década da Educação, em meio aos entusiásticos debates e discussões so-bre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – LDB, conheci, numa reunião do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação — FNCEE, realizada em Cuiabá — MT, o professor Teodoro, à época membro do Conselho de Educação do Ceará e reitor da Universidade Es-tadual Vale do Acaraú. Discutia-se sobre sistemas de ensino e regime de colaboração.

Chamaram-me a atenção de imediato suas intervenções pontuais, seguidas de colocações e exemplificações muito prá-ticas acerca principalmente do regime de colaboração que de-

* Técnica em Assuntos Educacionais da Universidade Federal do Maranhão por 23

anos. Membro da Câmara de Ensino Superior, Legislação e Normas do Conselho

Estadual de Educação do Maranhão. Curadora da Universidade Estadual Vale do

Acaraú no estado do Maranhão.

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veria ser implementado entre os estados, e o Ceará já fazia suas primeiras incursões.

A partir daí, acompanhei indiretamente as ações da UVA, capitaneada pelo seu reitor José Teodoro Soares, ten-do como foco a “inclusão pela educação”, transformada em lema da Universidade.

Só voltamos a nos encontrar anos mais tarde para, utili-zando o regime de colaboração preconizado na LDB e o pacto firmado pelos Conselhos Estaduais de Educação, tratarmos da implantação da UVA no Maranhão.

Como parceira institucional, apropriei-me do percurso histórico dessa Universidade e pude compreender melhor os laços que a unem ao Prof. Teodoro.

Impulsionado pelo amor incomensurável que sente pela terra nordestina, o Prof. Teodoro trouxe em si o gene da espe-rança e da crença em dias melhores. Destarte, como profundo conhecedor das limitações e dificuldades desse rincão brasilei-ro, não permitiu à UVA fugir de sua destinação histórica que a compromete como um dos instrumentos básicos no processo de desenvolvimento regional.

Sensível às necessidades e reclamos da comunidade, ini-ciou o processo de interiorização da Universidade. Estabe-leceu parcerias com órgãos federais, estaduais e municipais, com a iniciativa privada e a própria comunidade para tentar o equacionamento dos problemas e necessidades básicas do mundo contemporâneo, sugerindo as medidas mais viáveis na condução de suas soluções.

A interiorização e o aumento das vagas não resultaram na massificação do ensino superior por ela oferecido, e a am-

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pliação do seu atendimento muito menos na redução de sua qualidade. Ao contrário, criaram condições para viabilizar a democratização do ensino, objetivo almejado pelo Prof. Teo-doro, sempre na defesa de que “os pobres, os excluídos podem vencer barreiras e chegar também à universidade”.

Na perspectiva da “inclusão pela educação”, o Prof. Teodoro e a UVA buscaram reencontrar, num contexto in-teiramente novo, a função primordial da universidade: a distribuição social do saber e a participação intensiva nos problemas fundamentais da sociedade: seu desenvolvimen-to econômico, formação de seus quadros profissionais e a busca de estruturas de vida em comum mais racionais. Isto porque “incluir pelo ato educativo significa compreender, inter-pretar e intervir produtivamente nas diversas realidades sociais que nos cercam, respeitando sua pluralidade e os sujeitos que nelas convivem e atuam, seus saberes, suas utopias e suas con-quistas, seus rumos permeados por incertezas e contradições”.

A ação inclusiva da UVA, sonho maior e realização do seu magnífico reitor Teodoro, não se restringiu a Sobral, muito menos aos municípios cearenses. Usando a experiência adqui-rida, chegou a outros estados, e especificamente no Maranhão, até os diversos e longínquos municípios, onde criou polos de irradiação universitária, estabeleceu uma interação permanen-te com a comunidade e atingiu seu objetivo final: propiciar qualidade de vida aos seus habitantes por meio da formação de profissionais competentes, éticos, aptos para construir os quadros da produção local, capazes de empreender e desenvol-ver seu município, sua região.

Como um verdadeiro líder, o Prof. Teodoro, mesmo afas-

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tado das lides universitárias, em razão do exercício de mandato na Assembleia Legislativa do Ceará como deputado estadual, continua agregando forças em torno da educação, comparti-lhando conhecimentos e transmitindo em todas as oportuni-dades os seus saberes.

Fico feliz em pensar que dividi o meu esforço, o meu trabalho com alguém da estirpe do professor José Teodoro Soares, capaz de transformar as dificuldades em oportuni-dades e de se integrar em seus sonhos com tamanha reali-dade que nos leva a confundir a UVA com seu próprio ser: o Magnífico Teodoro.

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Tudo é uma questão de educação

Francisco Liduino R. de Sá 42*

C ONHECI O PROFESSOR TEODORO EM 1990, quando veio assumir a reitoria da Universidade Es-tadual Vale do Acaraú (UVA) em Sobral-CE. Eu era,

na época, secretário dos órgãos superiores da UVA, função que exerci durante 20 anos – até o ano de 2006, quando o professor Teodoro, após seus 16 anos de reitorado, foi eleito deputado estadual.

Para mim, que já tinha um chefe maravilhoso, o Pe. Sa-doc, foi uma honra continuar sendo guiado por outro grande e perspicaz administrador, que vinha com a missão de promo-ver o reconhecimento da UVA.

Seu empenho e dedicação foram tantos que quatro anos

* Secretário do MESS, ex-assessor do reitor da UVA.

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depois, exatamente em 1994, a Universidade Estadual Vale do Acaraú era reconhecida através da Portaria Ministerial nº 821, de 31 de maio de 1994, publicada no Diário Oficial da União de 1º de junho de 1994.

Como eu, outras pessoas também já escreveram artigos sobre o Prof. Teodoro. Sempre falamos sobre o seu trabalho no MEC, na Urca e na UVA e não esquecemos a trajetória que ele fizera para se tornar uma das pessoas mais ilustres e empreendedoras do nosso estado.

Por isso, neste artigo, eu gostaria de falar não dos seus trabalhos, mas do comportamento e de alguns pensamentos desse homem cheio de ideias inovadoras e que se desdobra de forma incansável quando busca alcançar as suas metas pessoais e administrativas.

Professor Teodoro é esmeradamente educado. Por nada que se lhe faça, embora tenha sido por uma ordem sua, fica-se sem o seu muito obrigado. Sua maneira de pedir ou de determinar se confunde, pois tal é a delicadeza como ele solicita que, nas duas hipóteses, o empenho de quem as cumpre é o mesmo.

Seu cavalheirismo é impressionante e sua maneira de recep-cionar um visitante vai além do que se pensa. A atenção começa no momento em que se sai de casa. Daí se é monitorado até che-gar ao destino, e há sempre alguém já devidamente preparado para levar a pessoa até a sua presença. Suas preocupações para com quem chega: Fez boa viagem? Como está a família? E você, está bem? A partir desse momento o visitante pode se sentir em casa, pois de tudo ele cuidará com o maior carinho.

Outro aspecto inconfundível e inato do Prof. Teodoro é a caridade. Não sei se pela sua formação religiosa, mas ajudar

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ao próximo tem sido um compromisso assumido ao longo de sua vida. E o mais interessante de tudo é que ele faz isto com prazer. Seja na doença, na fome, na falta de moradia, na falta de emprego — nos mais difíceis momentos do ser humano, a generosidade do professor Teodoro tem sido um refrigério para muitos.

Devoto de Nossa Senhora e sempre muito temente a Deus, sua vocação religiosa remonta à sua mais tenra idade. Por isso caiu nas graças de dom José Tupinambá da Frota, que antes de falecer prometeu mandá-lo estudar em Roma – promessa que foi cumprida. Hoje, mesmo sem ser padre, é um católico fervo-roso. Faz muito pela Igreja e pelos cristãos. É um semeador de capelas e de outras obras religiosas no Ceará. Sua filosofia é que nada acontece por acaso. Deus está presente em tudo.

Seu amor pela família é indiscutível. Tudo faz para estrei-tar os laços que os unem, e em nenhum momento, mesmo quando estava bem distante do Ceará, esqueceu a sua terra natal, Reriutaba.

O professor Teodoro é também um marido exemplar – sua esposa é sua conselheira na hora de decidir as coisas mais sérias, e onde quer que esteja, não a esquece um só momento. Como amigo, é indubitavelmente íntegro. Costuma compar-tilhar com as pessoas do seu círculo de amizade mais confiá-vel as suas dificuldades e as suas vitórias. Enfim, é um homem importantíssimo e ao mesmo tempo um homem comum. O poder não o faz desconhecer o próximo, pois acredita que por mais importante que sejamos, sempre precisaremos de alguém para nos ajudar.

Assim é o deputado Professor Teodoro. Para ele o

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homem precisa estudar desde criança até morrer. Nada é conquistado senão através do conhecimento. As melhores oportunidades são para os que estudam, porque “tudo é uma questão de educação”.

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Teodoro: olhar à frente

dos fatosMarcondes Rosa de Sousa 43*

S OBRE JOSÉ TEODORO SOARES, o que, em síntese, dizer? Na verdade, longa a convivência, que, em vá-rios momentos, tivemos os dois, na área de educação.

E em todos os momentos, a nos transversalizar a caminhada comum, nele uma atitude que me ficou a caracterizá-lo: um revolucionário olhar sobre a educação e a vida, de sorte que dele guardo a imagem de alguém sempre à frente, e jamais a reboque dos fatos. E aqui, alguns tópicos, em momentos di-ferentes de nossa história de vida a nos encontrar:

Início dos anos 70 Teodoro recém retornado de seus estudos de pós-gradua-

* Professor da UFC e da Uece, ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e

do Fórum Nacional dos CEEs.

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ção na Europa. Reencontro-o, por acaso, em Teresina, em um restaurante da Avenida Frei Serafim. Longa mesa, ele rodeado de professores, alguns deles do Ceará. Papos ali, a rolar. E, eufórico, ele me fala do convite do professor Hélcio Saraiva, primeiro reitor da então recém-criada Universidade Federal do Piauí, para, na qualidade de seu chefe de gabinete, ajudá-lo a ali implantar participativo projeto de desenvolvimento do estado e da região.

Meados dos anos 80 Desta feita, novo encontro. E em Fortaleza. Tasso Jereissa-

ti havia sido eleito governador, com a plataforma de um “pro-jeto das mudanças”, que sabíamos inspirado no sustentável desenvolvimento de Celso Furtado, em que a educação havia de ser instrumento e pauta de tal caminhada. No Cambeba, intelectuais e atores muitos de nossa sociedade ali tentavam desenhar os passos desse projeto. Um dia, ali dei com Martins Filho, o “fazedor de universidades”, a propor, em sua terra, a criação, com tal objetivo, da Universidade Regional do Cariri (Urca). E havendo convencido os à época chamados “jovens empresários”, aí já no poder, a indicarem Teodoro Soares para levar avante tal projeto, como seu primeiro reitor.

Depois, veríamos Teodoro, o já reitor da Urca, tentando superar as intestinas e históricas dissidências da região e a con-vocar estudos sobre o “Padim Ciço” por meio de simpósios internacionais sobre a ação e o pensar de tal ícone da região, ali trazendo estudiosos do mundo inteiro para interpretar os sentimentos extraídos do povo e as palavras ali deixadas pelo padre Cícero Romão Batista. De tudo, aos poucos, um sa-

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lutar e ficado equilíbrio entre os helênicos Heráclito (a mu-dança) e Parmênides (o preservar), dando-se, construtivas, as mãos, no tocar à frente as sociais águas — como as do rio que ao correr já não são as mesmas — mas que se preservam, como a floresta e a ecologia...

Início, por fim, dos anos 90Teodoro, convocado para dirigir a Universidade Vale do

Acaraú, em Sobral, quando era eu presidente do Conselho de Educação do Ceará e presidente do Fórum dos Conselhos Estaduais de Educação do País. Tempos pós-LDB. Criação do Fundef e de pacto nacional voltado para a universalização do ensino básico e, condição para ela, a necessidade urgente da capacitação dos professores.

No Ceará, clima de verdadeira “operação de guerra”. E, nela, o clamor por tempos e conceitos novos. Nestes, a federa-ção, de foedus (aliança, em latim), retomando sua conota-ção do darem-se as mãos. E, nela, “união, estados e muni-cípios” tendo de assumir conotações mais substantivas. Em primeiro lugar, não apenas governos formais, mas expressão de pactos de seus agentes, desde Rousseau. E, dessa forma, expressão dos múltiplos atores sociais, em abraço, a derru-barem os “tratados-de-tordesilhas” a nos insular, avançando em direção a uma moderna democracia de agora, embasada pela educação, sob a feição de “capital humano” e azeitada pelas cláusulas da “responsabilidade social”, num contexto mais alto da consciência ecológica.

Foi na discussão desses novos parâmetros e tempos que percebi, entre Teodoro e eu, visões entre si em contraponto,

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dando-se, umas às outras, passos em direção à complementa-ridade. Eu, a alimentar aquarianos e utópicos sonhos, num verdadeiro clima de “operação de guerra”. E Teodoro, pragmá-tico, a traçar caminhos concretos do “como fazer”... E nesse darem-se as mãos, a Universidade Vale do Acaraú, progres-sivamente a ensaiar a necessária e urgente “capacitação dos professores”, em articulação com o Estado e os municípios, por todo o Ceará. Já a UVA, a plantar vinhedos pelo Ceará inteiro, mãos dadas com os municípios. E progressivamente a espraiar-se pelo Nordeste, o Planalto Central e a região Ama-zônica, tudo, nos versos de Camões, “cantando espalharei por toda parte, se a tanto me ajudar engenho e arte”. Isso, num crescendo a tal ponto que, quando vimos, plantava ela, além mar, seus vinhedos na sedenta aridez dos países africanos.

“Engenho e arte” decerto que, no País e no próprio Ce-ará, em suas alternâncias por entre cheias e secas de seus rios, haveria que atrair enciumados olhares. Lembro-me de críticas a atitudes nossas, ditas alhures, ora “anárquicas” (a Teodo-ro), ora “anomistas” (a mim, sob tom mais eufêmico). Até que um dia, em Brasília, ouvi de conhecido educador o vol-tar atrás em relação às críticas que nos fazia, dizendo de seu propósito de ver nosso trabalho no Ceará. E, em realidade, surpreendeu-nos, um dia, cumprindo com sua promessa e para todos proclamando, como positivos e modernos, nossos avanços educacionais.

Não seria apenas no tocante à formação de professores que a UVA estreitaria laços de aproximação com nossos mu-nicípios e os setores vários de nossa sociedade. Experiência nos moldes das instituições comunitárias de educação superior de

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Santa Catarina, desenvolvida no município de Quixeramo-bim, teve apoio da UVA.

Teodoro Soares foi, entre os reitores, o único que integra-ria visita capitaneada pelo então vice-governador Beni Veras e integrada por prefeitos, deputados e conselheiros de educação. E ao voltar, manifestou-se aberto a compartilhar, por meio da UVA, as eventuais experiências comunitárias da educação superior no Ceará.

Hoje, Teodoro Soares, eleito deputado, ocupa cadeira em nossa Assembleia Legislativa, dedicando sua ação, como era de se esperar, ao desenvolvimento de nossa educação.

Em visita ao plenário da Assembleia Legislativa, observo bancada e plaqueta a lhe assinalar o lugar. Nela está escrito: “Deputado Professor Teodoro”. E nisso vejo sua preocupação com a temática pela qual tanto tem batido: a valorização do professor, ele próprio um ... professor. A ele, pois, de minha parte, o merecido tributo.

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Um exemplo de empreendedorismo João Edison Andrade 44*

T ALENTOS, A TODOS, INDISTINTAMENTE, o Criador os concedeu. A uns mais, a outros me-nos. Muitos os administram com competência,

outros, não. Cabe aqui relembrar a parábola dos talentos narrada no Evangelho.

Para compor a diversificação que embeleza a vida e dá esse equilíbrio harmonioso às ações do homem no Universo, teve Deus o cuidado de distribuí-los diferentemente quanto ao seu conteúdo. Daí as aptidões, os dons, as vocações...

Pelo que posso avaliar, Deus foi por demais generoso com o Teodoro na concessão de sua cota de talentos. Talvez, na sua onisciência, o Doador já antevia que o donatário haveria de se enquadrar na categoria dos primeiros mencionados. É o que me parece, sem medo de ser incauto.

* Professor e ouvidor da UVA.

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Conheci o Teodoro em 1957, quando ingressei no semi-nário, em Sobral. Estava ele já no 4º ano e pertencia à divisão dos “maiores”. No seminário éramos divididos entre “meno-res” e “maiores”, quase incomunicáveis, e só tínhamos estada em comum na capela e no refeitório. Não houve, por con-seguinte, ensejo de amizade estreita ou conhecimento mais profundo, ou seja, não tive oportunidade de conhecer com mais intensidade os atributos, virtudes ou defeitos do meu contemporâneo. Sei que não era lá essas coisas no futebol. Jogava na defesa. Dada a sua compleição, a posição lhe era a mais adequada.

Sei também que naquela fase de sua vida já se destacava pela sua liderança e era benquisto de todos os colegas. Dife-rentemente de mim, jamais agastou-se ou revidou quando tratado ou provocado pelo apelido que lhe foi impingido pelos colegas. No seminário também havia disso; a quase todos era dado apelido. Afinal, não éramos tão “santos” quanto pensavam os de fora. Tínhamos as nossas travessu-ras. Diria, santas traquinagens.

Tive a sorte de tê-lo como prefeito – prefeito dos “me-nores”. Como prefeito, era bondoso, tolerante e tratava com cordialidade a todos os seus comandados. Acredito até era ge-neroso na hora de atribuir-nos a tão esperada nota mensal de regulamento, conferida juntamente com o Pe. Reitor, nosso querido e saudoso Pe. Austregésilo de Mesquita Filho.

Para falar de como era o Teodoro em sala de aula, consul-tei o Prof. João Ambrósio, seu colega de turma, que me disse ser ele um dos melhores da classe. Ressalte-se, depois do pró-prio João Ambrósio, que sempre foi o primeiro. Acrescentou

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ainda o que eu não sabia: era muito bom em matemática.Já àquela época gostava de atividades especiais, como as

campanhas encetadas em favor da OVS (Obra das Vocações Sacerdotais), que beneficiavam seminaristas pobres, e de orga-nizar os famosos leilões realizados na sede do seminário, com a participação de personalidades notáveis convidadas: deputado Manoel Rodrigues, Cesário Barreto Lima, Pe. Palhano e de pessoas de bom poder aquisitivo na cidade. Afinal, se depen-desse dos seminaristas, o resultado financeiro seria um fiasco.

Vim conhecê-lo bem na UVA. Por feliz coincidência, no mesmo prédio que abriga, hoje, a nossa Universidade, onde convivemos sob o mesmo teto nos bons tempos de seminário. Lá o conheci bem. Afinal, foram 16 anos de labuta comum, envolta num clima de muita familiaridade e de amizade, o que me autoriza a falar de cátedra no que diz respeito às suas virtu-des e a seus pecados. Como os pecados não merecem destaque, porque de pequena monta e, certamente, veniais, apraz-me destacar algumas notas meritórias que envolvem a personalida-de do nosso ex-reitor, hoje deputado estadual, notadamente o seu empreendedorismo, já falado em prosa e em versos.

Foi no comando da Universidade Estadual Vale do Aca-raú, como reitor, que o homenageado mais se notabilizou. Homenageado, pois não se trata de biografia, mas de uma ho-menagem, através do presente livro. Seria inoportuno repri-sar os feitos relevantes à frente daquela instituição de ensino superior. Apenas salientar o que já é de domínio público. Foi grandioso em suas ações, em sua operosidade, em sua singular impetuosidade, em sua inigualável capacidade de trabalho e sobretudo em sua inflexível força de vontade, quando elegeu

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uma causa para se dedicar com obsessão ou quase voluptuosi-dade: a UVA. E o resultado não poderia ser outro: o milagre da transformação. Digo milagre para – sem querer adentrar--me em elucubrações de ordem teológica – referir-me a um feito extraordinário que foge aos padrões naturais do possível ou do imprevisível. E os frutos estão aí.

Isso tem explicação. O então reitor associou sua incomum capacidade de trabalho à vontade de resgatar uma dívida de caráter afetivo para com a sua segunda terra natal — Sobral — segundo ele próprio. Falam bem alto os resultados de sua “operação de guerra” no bojo do projeto ousado e pioneiro da interiorização do ensino superior que resultou na maior revo-lução nesse nível de ensino já processado no estado do Ceará, e talvez no Brasil. Tal é a expressividade desse projeto que a tênue participação como pró-reitor dos Campi Avançados da UVA gerou-me uma ponta de orgulho.

Também é digna de destaque, como demonstração de sua determinação e de seu poder de influência, a instalação do curso de Direito da UVA, que chegou a merecer, à épo-ca, elogios do presidente nacional da OAB, tendo-o como referência nacional.

Vou-me permitir transcrever um trecho do discurso que pronunciei quando de sua despedida como reitor, em 2005. No contexto de minha saudação — fazia referência ao Gêne-sis — observara que Deus tenha criado o mundo em seis dias, nada de espantoso. Era Deus, onipotente e infinito. Bastou di-zer façam-se os mares e os mares se fizeram. Que um homem, na sua finitude, em dezesseis anos, tenha criado o que criou, causa perplexidade. Será que a competência, a determinação

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e a obstinação do Prof. Teodoro lhe deram capacidade quase infinita para empreender? É o que concluímos.

Volto à parábola dos talentos para afirmar que tudo o que se operou com a figura emblemática do nosso ex-colega de seminário é resultante daquelas assertivas iniciais.

Sem dúvida, quando da prestação de contas final com o Teodoro, o Senhor haverá de proferir: “Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com o teu Senhor”.

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Um conjunto de habilidades denominado liderança

Modesto Siebra Coelho 45*

N ADA MAIS OPORTUNO e pleno de méritos do que o registro em livro das homenagens que são prestadas a Teodoro em razão dos seus feitos.

Numa trajetória de homem público que beira 40 anos, sua capacidade de liderança e trabalho tem sido exemplar e mul-tiplicadora. Referenciá-la em publicações desta natureza será, portanto, criar oportunidades de levá-la ao conhecimento, es-tímulo e crítica de outras gerações.

* Professor da Universidade Federal da Paraíba — UFPB e ex-pró-reitor da UVA

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Não será exagero afirmar que sua obra, notadamente à frente da UVA, apresenta substância, densidade e volume ca-pazes de inscrevê-la em definitivo na história da educação no Ceará. Os seus próprios críticos reconhecem o valor e a qualida-de dessa notável obra de inclusão social através da educação, a qual, certamente, como toda obra humana, não é completa, não se fez só de acertos e não é de um só homem.

Foi sugerido pela editoria que nos ativéssemos ao comentá-rio de um fato significativo extraído da convivência profissional, ao longo dos anos, com Teodoro. Confesso que isto não é tarefa fácil, tal a operosidade que personifica o homenageado, e o cabe-dal de habilidades que reúne. Os fatos seriam inúmeros! É difícil seguir a linha proposta.

Com imagem que se confunde com a da própria UVA, Te-odoro soube atrair para Sobral, ao longo do reitorado, profis-sionais competentes e amigos. Estimulou-os e os incitou para um despertar de maior interesse pelo desenvolvimento da zona norte do Ceará, na qual estavam as raízes de muitos deles. No meu entender, aí está uma qualidade ímpar em Teodoro! E o fato que nomeio como mais significativo é a sua capacidade para ge-renciar pessoas e objetivos em torno de uma determinada causa.

São extraordinários, e merecem reflexão e estudos, o cres-cimento institucional e o papel transformador desempenhado pela UVA sob o seu comando. Hoje posso afirmar, sem medo de errar, que a UVA tornou-se assunto denso e objeto de estu-dos interessante. Logo pesquisadores e estudiosos se debruçarão sobre esta fase da sua história. Questões estruturais, como a inte-riorização do ensino superior, a formação de professores para o ensino básico e a ampliação da oferta de profissionais de edu-

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cação para boa parte da hinterlândia nordestina são aspectos que dão visibilidade e vigor a uma universidade nascida nos confins do Nordeste, sujeita a todo tipo de limitação.

Com formação em planejamento e passagem pela Secre-taria de Planejamento da Presidência da República, em Bra-sília, Teodoro soube avaliar de forma precisa o valioso instru-mento de transformação que teria às mãos. Lembro-me bem dos debates nos Conselhos Superiores da Universidade, lá por volta de 1995-96, onde se discutia a questão de que a UVA deveria, antes de tudo, marcar presença, revolucionar seu meio, ser um ente com capacidade muito mais de levar in-fluência à sociedade do que ser por ela influenciada, abafada, sufocada, ou mera reprodutora dos seus comportamentos.

Como grande conhecedor do sistema universitário bra-sileiro, pois por oito anos atuou no Ministério da Edu-cação, Teodoro arregaçou as mangas, e como excepcional voluntarista que é, convocou pessoas para a empreitada de transformar a UVA numa universidade viva, forte, influen-te, realizadora, polarizadora.

Iniciava-se ali o redimensionamento da instituição para uma presença regional mais consistente. Novos cursos de graduação, pós-graduação e outras atividades foram criados. Parcerias influentes foram estabelecidas. Seria ampliada e me-lhorada toda a capacidade instalada da instituição. Cresceu o número de alunos e professores. Construía-se, a partir da base deixada por outros reitores, uma nova e forte imagem institu-cional. Estava formado o corpus e reunida a massa crítica que daria vida a importante projeto educacional. Como principal fator de polarização para Sobral, a UVA marchava para, em

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definitivo, instalar-se como uma universidade de porte mé-dio, no Nordeste, como propugnava o combativo reitor.

Pode-se dizer que se consolidava, a partir desse momento, a ideia de que a UVA deveria ser uma instituição forte, tan-to intra, como extramuros. E da França veio George Blanc, consultor, para ajudar a entender e aceitar a ideia de que mais importante era encontrar uma verdadeira vocação para a UVA, pautada nas necessidades locais e regionais. Querer transformá-la numa Unicamp, como era desejo de muitos, seria utopia distante, ponderava Blanc, com sabedoria.

E Teodoro, que assumira a reitoria da UVA com a larga van-tagem de já lhe dotar de um plano estratégico de médio prazo, tratou de imprimir-lhe novos rumos. Quinze anos depois, aí está uma UVA ainda longe da pesquisa básica, mas muito bem inse-rida no regional através das suas atividades de ensino e extensão, promovendo inclusão social pela via da educação.

Hoje, olho para trás e me sinto gratificado por ter feito parte dos primórdios dessa experiência comandada por Teo-doro, e ao lado de idealistas como Evaristo Linhares, Norma Soares, José Vitorino, Givanilda Aquino, Benedito Genésio, José Cândido, Francisco Alican, Tereza Ramos, Teoberto Lan-dim, Francisco Sampaio, Giovanna Sabóia, Luciano Arruda, Edison Andrade, José Portella, Carlos Rolim, Gregório Ma-ranguape, Teobaldo Mesquita e tantos outros. Os argumen-tos que Teodoro utilizava para garimpar, às vezes em lugares distantes, o que mais tarde se revelou como diversificado e operoso grupo de profissionais, eram a amizade, fraternidade, atenção, entusiasmo e ousadia diante da causa que vislumbra-va. O tempero que costumava adicionar aos seus convites pes-

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soais era a objetividade, a decisão rápida, a iniciativa certeira e a coragem sem limites para empreender, às vezes até de forma apressada, em território tradicionalmente de lentidão.

Onde quer que localizasse um amigo que pudesse se trans-formar num colaborador, fosse Paris, Rio de Janeiro, Teresina, Fortaleza, Recife, Natal ou Itapipoca e, independentemente do que estivesse fazendo à ocasião, a abordagem era direta e sem rodeios. A senha para o convite vinha mesmo no popular: amigo velho, está na hora de você dar sua contribuição a Sobral; de devolver parte do que recebeu de lá. Larga isso aí e vem traba-lhar comigo. Meio inebriados por aquilo que achamos que seria um compromisso importante, corremos para Sobral e junto com ele abraçamos a causa, dali para frente, já não mais só dele. Seu carisma e seu tirocínio a fizeram de toda a zona Norte do Cea-rá, pela porta dos Campi Avançados de Tecnologia, e depois do Nordeste, com o Programa de Formação de Professores.

A cultura norte-americana, que através da leitura ando visi-tando ultimamente, registra uma expressão popular interessante e bastante utilizada quando a questão é o enfrentamento de obs-táculos que se impõem à vida: “não seja devorado pelos lobos”. Na verdade, em tradução livre, o significado mais exato da ex-pressão seria: “reaja, não seja devorado pelos lobos”.

Avaliando a grande transformação experimentada pela instituição no período 1990 a 2004 e o papel dos principais atores sociais nessa longa trajetória, entendo que a expressão se aplica perfeitamente a um deles, o ex-reitor Teodoro. À frente da UVA por quatro mandatos sucessivos, pode execu-tar valoroso projeto. Suas ações imprimem a marca de quem soube transpor adversidades, não se acomodou diante de obs-

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táculos, não se deixou devorar por lobos.Com vasta visão e conhecimento do Nordeste, tendo mo-

rado no Ceará, Pernambuco e Piauí, foi a partir de sua estada no MEC, em Brasília, que Teodoro visualizou as primeiras pos-sibilidades de realização de um projeto de impacto para uma universidade cearense. Veio o engajamento no governo inovador de Tasso Jereissati, com sua nomeação para a reitoria da Urca, no Crato. Mas Sobral, seu berço escolar na infância e juventude, logo o atraiu. A UVA o recebeu como reitor.

Na universidade pública brasileira, não conheço reitorado mais longevo e profícuo do que este, em torno do qual acabo de tecer comentários. Entendo que 16 anos constituem tempo mais do que suficiente para reflexões sobre o significado das ações pra-ticadas e seu impacto sobre a zona norte do estado e sobre o Ceará e o Nordeste.

Ao finalizar este texto, me vêm à mente palavras do ilus-tre reitor, eminente escritor e político José Américo de Almeida, quando, a propósito da Universidade Federal da Paraíba, afir-mou: a mim me coube criá-la; espero que outros lhe deem as asas para voar. Sadoc e outros fundaram a UVA e são responsá-veis por suas primeiras conquistas. Teodoro deu-lhe as asas para empreender os voos que hoje são comemorados.

De certa forma, a história das instituições se confunde com a história dos seus atores. Pela capacidade de liderar pessoas em torno de objetivos, a melhor maneira que encontro para home-nagear este ator social é a expressão: “Teodoro: um homem que reúne um conjunto de habilidades denominado liderança”.

Meus modestos parabéns pelo seu aniversário e por sua obra!

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Uma convivência

benéficaPedro Ribeiro da Silva 46*

T RATOR, APÓSTOLO DA EDUCAÇÃO, fera, fura-cão, são vários os epítetos empregados para enaltecer e elogiar a capacidade de trabalho e a competência

do deputado Professor Teodoro, quer como cidadão, quer como educador, ou mesmo parlamentar.

Diante de tantas qualificações elogiosas, provenientes dos mais diversos segmentos da sociedade, ajuntadas a tantas outras proclamadas neste livro, que direi eu com referência ao deputado Professor Teodoro? O que em princípio parece difícil é na realidade muito fácil, pois para cada uma de suas virtudes poder-se-iam escrever diversos e largos capítulos.

Como não sou escritor, não me aventuro nesse mister.

* Profissional de Ciências Contábeis, é empresário.

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Quero, porém, incluir-me nessa legião de admiradores do Professor Teodoro, trazendo a lume a valiosa experiência ad-quirida ao longo de dezoito anos de convivência diuturna e ininterrupta com ele.

O deputado e Professor Teodoro, de inteligência extra-ordinária, personalidade ímpar, transmite-nos diariamente lições importantes. Aprendemos com ele que a aceitação do diálogo, a ética de cooperação e o esforço comum são premis-sas indispensáveis ao sucesso de qualquer atividade humana.

É também de sua lavra a assertiva de que sem um trabalho ingente, diuturno e abnegado, sem a busca de soluções consen-suais não se pode construir o que a sociedade espera e merece.

Desde 1990 até hoje, tenho o privilégio de participar das atividades do deputado Professor Teodoro. Por isso, quero, fi-nalmente, registrar que dentre tantas ações, o que mais me impressionou foi o que muitos sabem, mas poucos falam.

O deputado José Teodoro Soares realizou um processo re-volucionário no ensino superior do Nordeste brasileiro, em particular no Ceará, quando possibilitou a ascensão a esse ní-vel de ensino de milhares de brasileiros, mesmo em condições adversas. Para isto, mobilizou forças que pareciam sepultadas e vencidas. Este é o maior processo revolucionário no ensino de que se tem notícia no Ceará, (quiçá no Brasil), promo-vendo a interiorização de estudos universitários e realizando uma política educacional que, de certa forma, contribui para superar o baixo percentual de acesso à educação superior que a juventude brasileira tem.

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Sobre o Professor Teodoro

Roberto Cláudio 47*

T ENHO UMA RELAÇÃO PESSOAL com o Professor Teodoro que antecede o companheirismo recen-te desenvolvido no exercício de nossos mandatos

como deputados estaduais, relação essa construída a partir de uma sólida e franca amizade com meu pai, professor Roberto Cláudio Frota Bezerra.

Aprendi com meu pai que para o Professor Teodoro não existem obstáculos. Trata-se de uma daquelas raras figuras que não mede esforços quando a causa é de interesse público. Nessa obstinação muitas vezes arranha a burocracia e a aco-modação. Foi assim ao ampliar cursos superiores através da UVA para 142 municípios e formar mais de 40 mil alunos.

* Prefeito de Fortaleza.

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Antes já havia tido passagem de oito anos pelo Ministério da Educação e foi um dos fundadores do Projeto Rondon e da Universidade Federal do Piauí. Trata-se, portanto de um dos executivos mais preparados no que diz respeito ao ensino superior no nosso estado.

O Professor Teodoro não é apenas aquele gestor que per-segue e consegue seus objetivos. Trata-se de um notável huma-nista com sólida formação durante os oito anos em que viveu na Itália e na França, tendo participado em Paris dos aconte-cimentos de maio de 1968, que mudaram o mundo. Cursou ainda Teologia no Colégio Pio Brasileiro e foi próximo do bis-po Dom José Tupinambá da Frota, de Sobral.

Esta experiência de executivo, acadêmico e religioso, o Prof. Teodoro trouxe para a Assembleia, tornando-se um dos mais atuantes e cultos deputados estaduais desta legislatura.

O que mais me impressiona no deputado Prof. Teodoro é sua capacidade de ir diretamente à solução dos problemas e sua sensibilidade social. Ele tem levado ao povo cearense, da tribuna da Assembleia, profundas reflexões a respeito do ce-nário social e econômico de nosso estado. Sua contribuição ao poder legislativo e ao povo cearense se soma a sua afabilidade, compreensão e sensibilidade, que são traços marcantes de sua personalidade. Como jovem estreante, tenho encontrado no Prof. Teodoro um repositório de experiências e com ele sem-pre procuro me aconselhar em momentos necessários.

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Professor Teodoro discursa na fundação da TV Assembleia, em 2006

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A revolução tem que

continuar

7.

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A grande contribuição da UVA nestas duas últimas décadas (1990-

2010) foi a consolidação de Sobral como cidade universitária. A presença da Universidade Estadual Vale do Acaraú, do campus avançado da Universidade Federal do Ceará, do Instituto Federal de Educação Tecnológica, das instituições de ensino superior Organização INTA e Faculdade Luciano Feijão, com um contingente de cerca de 15 mil alunos, transformou Sobral em cidade universitária.

Podemos destacar dois projetos de grande repercussão social em toda a região norte: o da interiorização do ensino superior. A UVA, durante este período, levou curso superior a 142 municípios cearenses. O segundo projeto decorrente do próprio processo de interiorização foi a formação de professores leigos. Foram formados mais de 60 mil professores leigos, contribuindo de forma decisiva

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e efetiva para a qualificação dos professores, bem como para a melhoria da qualidade da educação básica”.

“ Escolhi como bandeira da minha atuação na Assembleia

a defesa intransigente da educação, da sua universalização

em todos os níveis: educação infantil, educação fundamental,

educação média, profissional e da educação superior. Lutar

para que o Ceará, bem como o Brasil, chegue a colocar 30%

dos jovens de 18 a 24 anos na universidade, de tal forma

que diminua o abismo existente entre o Brasil e os países

desenvolvidos, que já atingem 60% na universidade.”

“Fazer com que todos os cearenses tenham uma educação

de qualidade, de tal forma que se acabe definitivamente com o

analfabetismo ainda existente no Ceará. Hoje o Ceará tem 19%

de sua população analfabeta, além do analfabetismo funcional,

que chega a 36% da população, uma verdadeira chaga no

nosso ensino público.

Universalizar a educação em todos os níveis de ensino:

infantil, fundamental, médio e profissional. Em síntese, facilitar

o acesso à educação superior para todos os cearenses:

da capital e do interior. E que o Estado ofereça também

programas de educação continuada, pois vivemos numa

sociedade do conhecimento.”

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Parceria:uma boa

experiênciaCid Ferreira Gomes 48*

U MA DAS MAIS EFICAZES ESTRATÉGIAS que uti-lizei como prefeito de Sobral, durante oito anos, para a realização de programas e projetos funda-

mentais para o desenvolvimento do nosso município foi a re-alização de parcerias de naturezas diversas, em distintas áreas, com instituições governamentais e não governamentais de âmbito local, estadual, nacional e internacional.

Algumas das parcerias mais permanentes e com resulta-dos muito positivos para a comunidade sobralense e da re-gião norte foram as estabelecidas com a Universidade Estadual

* Ex-governador do Estado do Ceará.

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Vale do Acaraú, então sob a liderança do seu magnífico reitor professor José Teodoro Soares. Muito do que foi feito, somen-te o fizemos graças a estas parcerias inovadoras e criativas, que somavam esforços comuns, ampliavam recursos humanos e fi-nanceiros e superavam barreiras burocráticas e institucionais, nos limites dos preceitos legais.

Contar com a inteligência da comunidade acadêmica da UVA, seja para compor parte significativa do secretariado mu-nicipal, seja para contribuir com a elaboração e execução de programas em benefício da comunidade sobralense, nas áreas de educação, saúde, cultura, ciência e tecnologia, sempre foi um privilégio para mim.

Convicto de que o conhecimento científico e as inova-ções tecnológicas são indispensáveis para a construção de uma sociedade justa, solidária, humanista e democrática, sempre compreendi que essas parcerias deveriam servir para também fortalecer a UVA, na sua missão estratégica de promover o desenvolvimento, melhorando a vida das pessoas.

Acompanhei as dezenas das conhecidas “etapas de inaugu-ração”, com instalação de novos cursos, mais de dez; posse de novos professores; construção e reformas de novas instalações físicas; aquisição de equipamentos, bibliotecas e laboratórios. Uma profunda transformação; praticamente se fez uma outra universidade, durante o mandato do reitor Prof. Teodoro.

Com o intuito de realizar um desejo dos sobralenses de consolidar Sobral como uma cidade universitária, a parceria entre a Prefeitura Municipal e a Universidade Estadual Vale do Acaraú estendeu-se para a Universidade Federal do Ceará - UFC, trazendo para Sobral os cursos de Direito e Engenharia

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Civil, estes compondo a lista de ofertas da UVA, e depois, o curso de Medicina da UFC, com sede em Sobral, à época, em-brião do campus avançado da Universidade Federal na região norte. Hoje, uma realidade, com seis cursos.

E, aqui, mais uma vez, o Prof. Teodoro presente com o seu apoio e entusiasmo, afastando atitudes medíocres de reserva de território, certamente focado na visão de futuro de constituir em Sobral um pujante parque científico e tecnológico, resulta-do de uma articulação de todas as unidades de ensino, pesquisa e extensão com sede em Sobral, fortalecido agora com o Insti-tuto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, que acaba de se instalar em Sobral, fruto de uma parceria entre o Governo Federal, o Governo Estadual e a Prefeitura de Sobral

Cumprida a missão de reitor da UVA, o professor Teodo-ro Soares se elege deputado estadual. Transfere para a Assem-bleia Legislativa do Ceará a sua labuta diária, com a sua po-sitiva atitude de colaborar com o desenvolvimento do Ceará.

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Deputado Professor

Teodoro: umperfil

Arnaldo Santos 49*

A TRAJETÓRIA DA VIDA do deputado Professor Teodoro, principalmente no campo profissional, passa por um conjunto de desafios, lutas, eventuais

reveses e vitórias consistentes que normalmente caracterizam o vencedor em qualquer campo de atividade.

Vários são os fatores que estão na base do sucesso do Pro-fessor Teodoro em sua notável carreira, em que se destaca como intelectual, pedagogo, humanista e administrador público, prin-cipalmente. O principal deles, pode-se dizer, é a obstinação.

* Jornalista, sociólogo e doutor em Ciências Políticas.

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Foi por meio desse atributo de caráter que ele construiu sua carreira e realizou grandes feitos, principalmente no cam-po da educação, onde atuou como professor, teórico e admi-nistrador, revelando sucesso notável em todas essas áreas. Foi ainda a obstinação que o fez encarar grandes desafios, nota-damente como dirigente de organizações universitárias então operadas por processos administrativos e curriculares obsole-tos, alinhando-as com a modernidade.

Ao ser eleito para a Assembleia Legislativa, com mandato a ser exercido de 2007 a 2010, o experiente professor levou consigo uma extraordinária bagagem profissional, calcada em qualidades especiais que sedimentaram seu sucesso nas di-versas e desafiadoras tarefas que teve de desempenhar em sua carreira pré-parlamentar, por assim dizer, focada notadamente nos estudos, por meio dos quais construiu uma sólida forma-ção acadêmica, no campo do ensino, onde se destacou como um mestre respeitado por seus discípulos e pares da universi-dade, principalmente, e como um administrador moderno, dirigindo duas importantes universidades estaduais dentro dos mais elevados padrões de eficiência gerencial requeridos por uma organização acadêmica moderna, além de ocupar outros cargos de grande expressão administrativa no serviço público federal e no estadual.

Todo vencedor, além de possuir fortes dotes de caráter, segue uma estratégia bem sucedida que o leva a alcançar seus objetivos ao longo da vida. O Professor Teodoro também teve a sua estratégia baseada em dois pilares: estudo e trabalho.

Para construir sua sólida formação acadêmica, não pou-pou esforços ao longo de toda a vida, sempre vendo a forma-

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ção, o acúmulo de saber e experiências como matérias-primas de uma construção inacabada, razão pela qual nunca parou de estudar. Ressalte-se que essa formação sempre foi tempe-rada com uma orientação cristã, fruto dos conhecimentos e experiência adquirida no seminário e posteriormente com a formação universitária em matérias humanísticas, em cursos feitos no Brasil e na França. Nesse sentido, é suficiente passar uma vista d’olhos em seu currículo para perceber a presença constante dessa orientação para a vida baseada nos estudos e na formação cristã.

Assim, ele tem o título de mestre em Administração Pú-blica pelo Instituto Internacional de Administração Pública; o de bacharel em Filosofia pelo seminário de Olinda e Recife; o de bacharel em Direito pela Associação de Ensino Unifica-do do Distrito Federal; o de licenciatura em Ciências Polí-ticas pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Paris; e o de licenciatura em Ciências Sociais pelo Instituto Católico de Paris.

Como profissional com destacada atuação no serviço pú-blico, especialmente na área do ensino, ele exerceu, entre ou-tros, os cargos de chefe de gabinete do reitor da Universidade Federal do Piauí (1971); o de professor adjunto da mesma Universidade; assessor de planejamento do Projeto Rondon (1972-1975); técnico em planejamento da Secretaria de Mo-dernização da Secretaria de Planejamento da Presidência da República (1975-1979); subchefe de gabinete do Ministério da Educação e Cultura (1979-1981); chefe de gabinete da Se-cretaria Geral do Ministério da Educação e Cultura (1981); membro do Conselho Nacional de Serviço Social do MEC

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(1980-1984); representante do Ministério da Educação e Cultura junto ao Conselho Curador da Universidade Federal do Ceará (1980-1986); secretário adjunto do Ministério da Educação e Cultura (1981-1985); professor adjunto da Uni-versidade Federal do Ceará; Reitor da Universidade Regional do Cariri (Urca) de 1987 a 1990; presidente do Conselho de Reitores do Ceará; vice-presidente do Conselho de Educação do Ceará e reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) de 1990 a 2006, quando foi eleito para o mandato de deputado estadual.

No campo do ensino superior, o Ceará, em particular, muito deve ao Professor Teodoro pelas conquistas em matéria de modernização de seus estabelecimentos de ensino superior. Foi graças a ele que, quando implantou a Urca, foi instituído um sistema de mérito acadêmico por meio do qual somente professores com qualificação acadêmica suficiente podiam in-gressar no quadro docente da Universidade. Já a UVA, hoje uma das mais modernas universidades regionais, da qual foi reitor durante 16 anos, deve a ele o fato de ser um modelo para outros estabelecimentos, tendo uma atuação caracteri-zada pela permanente busca de excelência no ensino univer-sitário, quer no conteúdo, quer na metodologia de ensino e gestão curricular.

Como intelectual, extensa é a produção do Professor Teo-doro, um prolífico autor de livros e artigos, cabendo ressaltar as seguintes obras: A ideia da modernidade em Sobral (2004); A Política de Pós-Graduação no Ceará (2003); UVA 35 Anos: destaque de sua evolução (2003); Educação Superior para o Povo (2000). A lista de suas obras é por demais extensa, abran-

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gendo também trabalhos de cunho biográfico, notadamente de personalidades cearenses ligadas à educação, como o ex-reitor Antonio Martins Filho, da Universidade Federal do Ceará.

Cumpre aqui abrir um espaço neste artigo para fazer um testemunho de caráter mais intimista, mais pessoal, centrado na personalidade do Professor Teodoro, um homem sempre disposto a dar a mão aos que se iniciam no mundo acadêmico, aos que têm no estudo, como ele, uma meta de vida, senão vendo a atividade intelectual como a própria essência da vida.

Eu tenho a honra de tê-lo como amigo há algum tempo, suficiente para atestar não só meu respeito por sua singular personalidade, mas testemunhar sobre o empenho desse cava-lheiro sempre ligado a ajudar pessoas cujo potencial de desen-volvimento intelectual ele apreende com sua aguda percepção e vasta experiência, mostrando sempre um empenho extraor-dinário em ajudá-las.

No meu caso pessoal, devo-lhe hoje o meu título de dou-tor em Ciências Políticas, conquistado com muito esforço junto à Universidade Nova de Lisboa. Lembro-me de quando, em minhas primeiras incursões na pós-graduação, logo que obtive o bacharelado em Sociologia e Letras, em um semi-nário internacional no qual apresentei minha monografia em Sociologia Política, onde estava o Professor Teodoro, que en-tão mal me conhecia, ele, bastante impressionado com o meu projeto, logo se dispôs a me incentivar e ajudar a dar um passo maior, quando me apresentou à professora Maria Helena, en-tão diretora do Departamento de Ciências Sociais e Humanas da citada universidade portuguesa. Na época, a tarefa se me apresentava como um desafio praticamente intransponível, se

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não tivesse contado com o apoio decidido do Professor Te-odoro, que, com seu grande prestígio no geralmente fecha-do e elitista mundo acadêmico, me abriu as portas para que pudesse ingressar naquele grande estabelecimento de ensino superior de Portugal.

Como deputado, hoje a Assembleia Legislativa tem no Professor Teodoro talvez o parlamentar mais versado em edu-cação, ainda que, com seu vasto saber e experiência, ele in-cursione em outras áreas com frequência, dando sua valiosa contribuição, sempre fundada em sólidos conhecimentos do meio social do Ceará, do Brasil e do mundo. Teodoro é um in-telectual antenado, um homem do nosso tempo, atuando no presente, mas com as vistas voltadas para os largos horizontes do futuro. Diferente de muitos intelectuais, o Professor Teo-doro é um homem extremamente pragmático, sempre perse-guindo resultados concretos com suas ações, quer escrevendo artigos, quer expressando suas ideias na tribuna do parlamen-to estadual. O Ceará, em particular, muito deve a esse notável intelectual, e hoje parlamentar dos mais atuantes.

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Teodoro, o cosmopolita

Maria Helena Carvalho dos Santos 50*

E LEGI ESTE TÍTULO, QUALIFICAR o professor José Teodoro Soares como o cosmopolita, porque me pareceu sempre a sua faceta mais atraente nas

boas relações que mantivemos ao longo destes últimos dez anos. Conto muitas vezes a mesma história, em roda de ami-gos, para relembrar como nos conhecemos. Foi em Fortaleza, em 1998, comigo já a caminho do aeroporto, de regresso a Portugal, depois de uma breve comunicação num colóquio sobre História e de dias antes ter participado da banca do dou-torado de Adegildo Ferrer na Universidade de São Paulo. Na

* Professora universitária aposentada, deputada constituinte (1975), ex-

secretária de estado da Educação de Por tugal (1984), professora emérita da

UVA, cidadã honorária de Patos (Paraíba), cidadã honorária de For taleza (Ceará),

cidadã honorária do Ceará.

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dificuldade de calendários e de agendas superpreenchidas, o Professor Teodoro propôs um almoço num restaurante que ficava no meu caminho. Quando cheguei, deparei com uma mesa enorme, composta de amigos e de colaboradores, como ele gosta. Eu seria apenas mais uma convidada para um almo-ço de rotina, embora daquele grupo não conhecesse ninguém, mas acabei por perceber que aquele também era um almoço de trabalho, como muitos outros em que fui participando ao longo do tempo. E a conversa tinha que ser, indispensavel-mente, sobre a universidade e a educação, interpondo-se pelo meio alguma fofoca política, que também me agradou.

E apesar da corrida, a olhar para o relógio, ainda pudemos falar de mestrados e de parcerias entre universidades. Ao tem-po eu trabalhava na Universidade Nova de Lisboa, estadual, e na Universidade Internacional, privada. E ali ficou combi-nada o primeiro deslocamento do Professor Teodoro a Lisboa para se encontrar com o reitor da Universidade Internacional e com o presidente do Conselho Científico da Universida-de Nova de Lisboa. Duas semanas depois estávamos a assinar o primeiro protocolo de uma parceria que haveria de trazer grandes benefícios àqueles que pretendiam continuar estudos para lá do bacharelato - muitas vezes terminado vários anos atrás - e que as universidades do Ceará não estavam a propor-cionar na dificuldade de organizarem mestrados e doutorados que trouxessem mais valias às próprias universidades e aos que lhe batiam à porta na necessidade sentida em todo o mundo de prolongar os conhecimentos e de regressar à universidade.

A esse tempo já a Universidade Estadual Vale do Acaraú — UVA estava a fazer cursos de extensão e a prolongar em

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horário pós laboral muitos dos cursos ali ministrados. Ao fim da tarde e princípio da noite era magnífico o panorama hu-mano no recinto da Universidade em Sobral. Parecia que todo o mundo acudia à escola, de livros debaixo do braço, saindo dos ônibus, cansados de um dia de trabalho, mas entusias-mados pelas promessas que a Universidade augurava em termos de conquista de um futuro mais promissor. E também eu me entusiasmei com o que via, ouvia e pressentia no gabinete do reitor Teodoro Soares, nas conversas trocadas com os colegas, nas propostas que emergiam, na palavra estimulante de quem podia permitir ou não que as coisas se fizessem e andassem em frente.

Nos mestrados chegou a existir um grupo alargadíssimo de professores implicados nesse projeto-programa, à volta de oitenta, uns dando aulas, outros dirigindo teses e dissertações, fazendo conferências, participando em bancas quando o tem-po já era de prestar contas. E nada se fazia sem o beneplácito do Reitor, que ajudava a encontrar as melhores soluções. Por exem-plo, se faltava um especialista ou um professor doutor de deter-minada área, ele lembrava-se de um velho amigo de Paris ou de Roma, fazia o convite e o problema resolvia-se. De Lisboa ou de Coimbra, alguns professores ali foram a esse chamado, cons-truindo a imagem que o saber e o conhecimento podem viajar quando tem terreno propício para se desenvolver. E houve uns anos quase loucos, entre as viagens por todo o Ceará, as reuni-ões em permanência, a estruturação de grupos de trabalho e o travão da lei que pretendia fazer-nos andar de vagar. Natural-mente, nem tudo podia ser fácil! Seria demais para os costumes portugueses e para os brasileiros que de nós herdaram, certa-mente, uma burocracia instalada desde o Século XVIII.

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Mas foram também anos muito estimulantes. O meu convívio quase em permanência com o Professor Teodoro, a professora Norma Soares e outros, como o professor Colaço, actual reitor, ou Maranguape e Enoque Cavalcante, foram-me proporcionando um conhecimento sobre o Brasil e especial-mente sobre o Ceará que me obrigou a reflectir em permanên-cia sobre as questões da educação interligadas com as questões da cidadania. Numa análise que hoje posso fazer, eu estava ali a ajudar a fazer uma revolução. Muitas das esperanças da “revolução dos cravos” eu as revivia, percebendo as intenções profundas do Professor Teodoro quando ele começou a fa-lar, a escrever e a bater-se em vários terrenos sobre a enorme questão da inclusão pela educação. A alguns poderia parecer uma questão menor, menos motivados talvez para se debru-çarem sobre os problemas sociológicos e económicos, talvez ainda longe de se aperceberem da importância globalizante das novas terminologias que o Brasil estava a inventar, como “desenvolvimento sustentável” ou “gestão participativa” ou “gabinetes de informática”. Podia pensar-se que haveria algum folclore nos “Encontros” de Porto Alegre, mas depressa foi obrigatório entender porque esses movimentos obtinham a adesão dos mais intelectualizados, dos mais politizados, fos-sem quais fossem as ligações partidárias politicamente. Havia realidades e discursos que eram transversais a toda a sociedade, do Brasil ou de outra qualquer região do mundo.

Começava a haver um pensamento globalizante, como quem diz, uma economia global. Isto é, desenhava-se uma nova sociedade. Quer dizer, estamos confrontados com um novo paradigma. E a escola, a universidade e a política não

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podem ser alheias a estas impositivas realidades.Era sobre essa visão alargada, cosmopolita, que o Profes-

sor Teodoro ia escrevendo os seus livros, falando nos seus dis-cursos – que ele fazia quase diariamente, nas cerimónias aca-démicas, sociais ou políticas, em privado ou em público, na conversa ou nos artigos de jornal, numa presença permanente onde estivesse em causa a res publica. O Professor Teodoro impõe-se por essa mesma presença, não decorativa, nem mui-to menos, mas por uma participação constante de empenha-mento social e académico.

E por tudo isso, quando se declarou candidato a deputado, essa atitude apenas me pareceu o decorrer lógico de uma teoria e uma prática em harmonia de propósitos e de princípios.

A sua enorme bagagem cultural, que lhe proporciona sem-pre uma notável capacidade de intuir, sem precisar de muito tempo para pensar – porque o próprio pensamento já está inte-riorizado, faz parte da sua personalidade, herdeira da filosofia, dos mais profundos sentimentos religiosos a par das ciências que lhe deram o sentido do rigor e que o formaram nos bancos das escolas, também elas cosmopolitas, de Roma a Paris.

Foi com este homem que tive o privilégio de trabalhar. O espaço curto a que este texto tem direito não permi-

te alongar-me nas estórias que deveria contar. Fica apenas a lembrança de quando, em campanha eleitoral, chegávamos a um bairro ou a uma comunidade e as crianças o rodeavam ou gritavam o seu nome, sem que ele fizesse grandes gestos ou longos discursos. Tudo parecia decorrer com a normalidade das coisas naturais. É a educação e o Ceará que estão de para-béns. Ser deputado era um destino.

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Apóstolo da educação

Artur Bruno 51*

F ELIZ NÃO É AQUELE QUE TEM IDEIAS. Feliz é aquele que as cumpre, tendo essas ideias saído da mente do executor ou não. É assim que uma ideia

muda de caminho, assume uma outra feição até chegar à prá-tica e demonstrar seus resultados. Pois falemos de resultados, então. Falemos do deputado estadual Professor Teodoro, um homem de feitos, de sucessos, de realizações que ajudaram e ajudam a transformar a realidade da educação no Ceará.

A atividade desse homem como parlamentar do Legislati-vo Estadual reflete o empenho com que defendeu a bandeira da educação brasileira com o afinco e entusiasmo dos homens que fazem a história deste país. Como presidente da Comis-são de Trabalho, Administração e Serviço Público, o Professor Teodoro reacendeu o debate sobre o serviço público estadual,

* Secretário de Estado, professor, ex-deputado federal, ex-aluno da UVA.

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criando a Semana Estadual do Servidor Público. E como vice--presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia e membro da Comissão de Educação, Teodoro tem participado de dis-cussões que contribuem perfeitamente com a sua postura na tribuna da Assembleia Legislativa.

Ali, o seu verbo sempre foi em prol da atividade educa-cional como a principal ferramenta de cidadania da socieda-de. Discurso bebido em todas as ações desse parlamentar na sua trajetória de trabalho, que começou a ter alcance nacional quando da sua permanência como reitor da Universidade Vale do Acaraú, no município de Sobral. Foram 16 anos em que o Professor Teodoro promoveu uma verdadeira revolução na melhoria da oferta do ensino. Tal melhoria começou a ser sen-tida com o início da expansão da Universidade, ampliando o número de cursos – de 9 para 23 – e, consequentemente, de alunos. Foi quando a UVA passou a funcionar nos três turnos.

Era clara e necessária a contratação de novos professores para atender à crescente demanda dos novos alunos da Uni-versidade. Oportunidade única para potencializar a formação superior do corpo docente. Por isso é que hoje a UVA conta com 56,2% de seus professores com mestrado ou doutorado.

Na área de graduação, durante o intervalo em que Profes-sor Teodoro foi reitor da UVA, nada menos que 25.200 pro-fessores leigos do Ceará foram formados pela Universidade. A essa altura, Sobral já era considerada uma verdadeira cidade universitária. Mas não a única a comportar a excelência da oferta do ensino da UVA.

Professor Teodoro foi um dos principais responsáveis pela interiorização do ensino universitário no Estado. Ele expandiu

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a UVA para 142 municípios e a incluiu no Projeto Internacio-nal de Alfabetização na República do Cabo Verde, na África. É dele também a aprovação do primeiro mestrado pela CAPES, em Produção Animal, em parceria com a Embrapa-Caprinos.

As experiências e estudos desse Apóstolo da Educação renderam mais de 100 títulos, impressos pelas Edições UVA. É o que o torna, também, um contribuinte ímpar da letra impressa brasileira, a exemplificar ações bem sucedidas e a apontar rumos certeiros para a eficiência do ensino no Brasil.

Por todas essas ações, e pelo empenho do Professor Te-odoro em não descansar um instante na defesa da educação de qualidade estadual e nacional, é que discorremos sobre os passos dele ao longo de sua vida. Mas foi um pequeno recorte, porque o todo de suas ações não caberia aqui. Fizemos um breve registro porque não podemos deixar de versar sobre boas ações. Elas precisam, devem ser ditas, escritas, lidas, para que os exemplos se multipliquem e as ações do bem se manifestem em novas paragens.

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Teodoro: vocação ensinar

Cândido Bittencourt de Albuquerque 52*

I NFELIZMENTE O NOSSO PAÍS NÃO QUER apren-der com os que acertaram. Refiro-me à educação como forma de vencer as desigualdades e colocar o Brasil no

primeiro mundo. Certamente não há, mesmo entre os gover-nantes, uma única pessoa que não saiba que o único caminho para redimir as graves diferenças sociais tão visíveis na nossa sociedade é a educação.

Os exemplos são muitos, mas podemos ficar com o da Coreia do Sul, país que se notabilizou pelo crescimento eco-nômico e social em pouco tempo, tendo como base o investi-mento maciço em educação.

No Brasil, os professores não recebem adequado incenti-

* Advogado; professor da UFC.

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vo, as crianças chegam ao 4º ano do ensino fundamental sem saber ler nem escrever. Lá os professores são bem remunera-dos, têm acesso fácil à qualificação e, assim, são valorizados. Aqui, quando muito, traçam-se planos para colocar determi-nado número de alunos nas escolas, sem qualquer preocupa-ção com a qualidade do ensino que será ministrado. Não raro, somos esbofeteados com informações de que o dinheiro que seria destinado à educação foi desviado para o bolso de alguns espertalhões. E o País continua a sua saga de subdesenvolvido.

Esse é um quadro triste, mas real, da nossa educação, ou seja, o país do futuro ainda não colocou todas as suas crianças na escola, e as que hoje frequentam escolas aprendem muito pouco. As universidades públicas, por seu turno, são desfo-cadas. Como que alheias aos problemas da nossa educação, formam poucos professores, aliás, um número insignificante diante da nossa demanda, e raros são os programas voltados à capacitação dos mestres do ensino fundamental.

E pior: com raras exceções, os cursos de formação de pro-fessores ficam localizados nas capitais dos estados, dificultan-do sobremaneira a formação de professores nas pequenas cida-des do interior. A educação no interior dos estados, assim, fica nas mãos de professores leigos, os quais, apesar da indiscutível dedicação e da grandeza do gesto, em muitos casos não estão preparados para a difícil arte de ensinar. E cria-se o círculo vi-cioso. Quem aprende mal, ensina pior ainda. E, assim, vamos continuando a ser apenas o país do futuro.

Apesar dessa realidade cruel, é possível identificar perso-nalidades que merecem destaque e reverência no cenário da educação brasileira. Paulo Freire tornou-se referência nacio-

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nal, sendo autor de importantes teses e estudos sobre a edu-cação. Darcy Ribeiro virou referência ao pensar um novo mo-delo de educação, ainda que alguns critiquem as suas ideias.

No Ceará e no Nordeste é também possível identificar um homem público que pensa e concretiza na área da edu-cação. Dotado de grande capacidade de realização e invejável amor aos livros, o Professor Teodoro Soares representa o que temos, no Brasil contemporâneo, de mais promissor no cam-po da educação.

Firme na convicção de que o único caminho para o Brasil sair da expectativa para o futuro é o da educação, o professor Teodoro, hoje deputado estadual pelo estado do Ceará, tem realizado uma verdadeira revolução, notadamente no interior dos estados brasileiros. Com efeito, à frente da Universidade Estadual Vale do Acaraú, da qual foi reitor por 16 anos, o Pro-fessor Teodoro, detentor de invulgar sensibilidade, inaugurou um relacionamento singular entre as necessidades dos municí-pios brasileiros e a universidade pública. Criou o conceito de fácil acessibilidade ao ensino universitário, ao inverter a lógica perversa de que o aluno do interior deve migrar — sempre ou quase sempre - para os grandes centros em busca de uma formação universitária. À frente da UVA o Professor Teodoro inverteu a lógica do comodismo administrativo e, numa ação louvável e eficiente, levou a Universidade até o aluno, insta-lando, mediante convênios e outros mecanismos de parceria, um polo da UVA em centenas de municípios brasileiros.

A ação empreendedora do mestre de Reriutaba, lamenta-velmente ainda não copiada por outras instituições públicas, mudou significativamente a paisagem educacional do interior

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do Brasil. Professores leigos passaram a ter acesso ao ensino universitário, com o que, além da indispensável qualificação profissional, passaram a ter melhor remuneração, o que re-presenta, além de um grande estímulo profissional, notável melhora no rendimento escolar dos alunos, agora orientados por mestres devidamente habilitados.

O resultado de ações como a do Professor Teodoro será ainda mais visível em algumas poucas décadas, mas o exem-plo já é admirável e precisa ser seguido e estimulado pelas au-toridades. Pensar a educação de qualidade em grande escala, dando oportunidade de qualificação a um número cada vez maior de mestres, é o caminho seguro que as universidades precisam trilhar, como forma de cumprirem de maneira efi-ciente o seu papel.

Como todo empreendedor, o Professor Teodoro tem crí-ticos. Uns por falta de compreensão do fenômeno, outros por ignorância ou má-fé. Os frutos da ideia, entretanto, são sufi-cientes para sepultar críticas infundadas e fazer prevalecer o interesse social.

Nascido na sua pequena e pacata Reriutaba, no interior do Ceará, o Professor Teodoro não precisou que lhe mostras-sem as dificuldades que os jovem das pequenas cidades do Brasil enfrentam para chegar à universidade. Ele próprio viveu essa realidade. Lutou com dificuldade e, pelas mãos do notável dom José, teve acesso ao ensino, na cidade de Sobral, de onde alçou voo para universidades europeias, de lá retornando com o propósito de mudar a realidade do ensino no Brasil.

Quem conversa com o Professor Teodoro percebe ime-diatamente o seu entusiasmo pela educação como forma de

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resgatar o nosso imenso débito social. E mais, constata que ele fala de educação com a autoridade de quem dedicou a vida à escola, primeiro estudando, depois ensinando e preparando os mais jovens para a difícil missão de ensinar.

O exemplo está plantado e já mostra os seus frutos. Ge-rações futuras saberão, com o exemplo edificante do Professor Teodoro, valorizar as letras como instrumento de transforma-ção do pensamento e, portanto, da realidade social.

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Teodoro SoaresLustosa da Costa 53*

P ARA CONHECER A PERSONALIDADE pública de Teodoro Soares, necessário se faz remontar às origens pessedistas de sua família, dona de terras

e votos em Reriutaba. Depois à influência do bispo dom José Tupinambá da Frota, de quem foi acólito e com quem, se-minarista, chegou a privar. Bem se vê o quanto a imagem do segundo construtor de Sobral o impressionou e norteou seus passos à frente da UVA. Estão aí as duas bases da formação do nosso educador, feito deputado. Dum lado, a utilidade, a flexibilidade pessedista que amenizou o autoritarismo que caracterizou a ação e a administração e política do grande antístite da Princesa do Norte.

Não surpreende assim que ele tenha tido dom José como modelo de realizador, a ponto de ser tido como uma espécie de Juscelino Kubitschek da área universitária, pelo afã de fa-

* Jornalista e cidadão sobralense por adoção.

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zer, de criar, de deixar marca física de sua ação civilizadora.Por outro lado, a raiz política dele explica a capacidade

de procurar abrir, sozinho, seu caminho numa cidade em que a liderança se encontra firmemente concentrada em mãos de Cid, Ciro e Ivo Ferreira Gomes. Com jeito e muita maleabi-lidade, organizou-se politicamente, sem permitir o surgimen-to de discórdia nem de atrito, fazendo-se deputado estadual, com votação dispersa por todos os municípios do estado.

Se está bem no exercício do mandato de deputado, as folhas dizem que sim e o repete o testemunho dos observa-dores parlamentares. No fundo, no fundo, porém, ele é e será sempre o realizador que só se sente à vontade à frente do Exe-cutivo, erguendo obras e comandando programas, deixando indelével marca de sua passagem.

Conheci Teodoro Soares quando ele ingressou no cur-so de Ciências Sociais da UFC em que exerciam liderança meus amigos Paulo Elpidio de Menezes Neto e Helio Bar-ros, aos quais logo se ligou. Lembro-me dele no comecinho da década de 1970, já enturmado conosco pois fotografado, em nosso grupo, ao lado de Norma Pordeus Maia, que viria a ser o grande achado de sua existência. Logo depois ele foi ajudar a fundar a Universidade Federal do Piauí antes de tomar o rumo de Brasília, onde se assenhoreou dos segredos e mistérios da administração federal, no exercício de altos postos no Ministério de Educação. Depois de tal aprendi-zado, achou-se apto a retornar à província, primeiro como

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reitor da Urca. Depois da UVA, onde marcou encontro com o destino de grande realizador, à moda do presidente Jusce-lino Kubitschek.

Foi, durante longo período reitor da Universidade Vale do Acaraú, trabalhando no prédio que alojara a reitoria do seminário da Betânia, onde estudou antes de seguir para Roma e Paris. Pelo fato de serem os ex-alunos do seminá-rio, como ele, a elite cultural da cidade, foi deles que se acercou para marcar época na expansão da instituição que ganhara conceito e respeitabilidade nos tempos em que o historiador Sadoc de Araújo regia seu processo de consoli-dação. A Teodoro Soares coube a liderança no esforço de colocar a UVA, em primeiro lugar, no mapa do Ceará. De-pois do Brasil. Quase disse do mundo ao lembrar ação que exerce em Cabo Verde.

Sobral viveu período de retomada do brilho de outro-ra, com a presença de Teodoro na reitoria e Cid Gomes na prefeitura. Voltou, graças a eles, a ser de novo o importante polo cultural da região noroeste do estado, com reflexos na preparação da juventude e de dezenas de municípios para a vida profissional e pela qualificação de professores para o melhor desempenho do ofício.

Teodoro trouxe, repito, no sangue a tradição pessedista e  o estilo de seu vago parente, o bispo dom José Tupinam-bá da Frota, de quem foi eventual acólito. O viés pessedista permitiu-lhe seguir as lições do antístite, sem recursos do autoritarismo. Antes pela via da negociação e da supera-ção de obstáculos. Além disso, o temperamento ajudou--o a abrir espaço na cena política sobralense, elegendo-se

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deputado estadual, com votação em quase todos os mu-nicípios do estado. Pode até estar fazendo seu brilhareco na Assembleia. Mas sua vocação é a do Executivo, a do administrador e, principalmente, do realizador de que deu excelente mostra aos sobralenses e, por via de consequên-cia, aos cearenses.

Estava eu no gabinete do então senador Lucio Alcân-tara, quando ele recebeu telefonema de conterrâneo, então ocupante de importantes funções, que dizia cobras e lagar-tos de Teodoro Soares. Como todo administrador que faz alguma coisa, que realiza, que deixa a marca de sua passa-gem, era muito acusado. Que nem JK quando construiu Brasília. O que me chamou a atenção foi o inimigo o dar como tendo adquirido apartamento em Paris. Ri muito, para surpresa do senador que queria saber do motivo de minha vazão.

Primeiro, afirmei que era traço de bom gosto sonhar (ou procurar adquirir) apartamento em Paris e não em Miami, por exemplo. Depois registrei que isto era boato antigo, adaptado, agora, ao então reitor da UVA.

E expliquei:— No tempo do prefeito José Prado, disseram-me que

ele adquirira apartamento em Londres. Taí outra mostra de refinamento.

Ai indaguei do acusador:— O Zeprado fala inglês?O outro disse que não.Quis detalhes:— Visita muito a Inglaterra?

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A resposta foi negativa.— Para que então quer apartamento na Inglaterra?O interlocutor não teve outra saída, senão dizer:— Comprou para os filhos, para os filhos...Era outra acusação de total gratuidade. Pelo gosto de falar

mal, de caluniar alguém bem sucedido.

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Um educador no parlamento

Messias Pontes 54*

M UITOS TIVERAM O PRIVILÉGIO de conviver anos e até décadas com o professor José Teodo-ro, quer no seminário, quer na universidade. Eu

não tive este privilégio, contudo me considero um privilegiado ao acompanhar diariamente a sua atuação como parlamentar na Assembleia Legislativa do Ceará, às vezes até debilitado fisi-camente, e dividindo com ele valioso espaço na página de opi-nião do jornal O Estado às quartas-feiras. Ele também publica semanalmente artigo no jornal O Povo, ambos de Fortaleza.

Mesmo convivendo com ele somente nos últimos quatro

* Escritor, radialista e jornalista.

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anos, de há muito acompanho sua atuação como um obsti-nado educador, tanto na Universidade Regional do Cariri — Urca como na Universidade Estadual Vale do Acaraú — UVA, onde deixou a sua marca. Costumo dizer, e digo sem medo de errar, que os professores Antonio Martins Filho e José Teodoro Soares são os ícones da educação no Ceará. A his-tória da educação no Ceará não se escreve sem estes dois marcantes nomes, que estão no mesmo pé de igualdade do grande Darcy Ribeiro.

No estado do Ceará praticamente não existe mais a figura do(a) professor(a) leigo(a). Sob o comando do Professor Teo-doro, a UVA graduou milhares de professores em mais de 140 municípios cearenses e em dezenas de municípios de outros estados, notadamente no Piauí e no Maranhão.

Participei no ano passado, juntamente com minha mulher Nilma, da festa anual da UNICA — União dos Conterrâne-os e Amigos de Guaraciaba do Norte, e fiquei impressionado com o progresso daquela bucólica cidade que visitara pela úl-tima vez há duas décadas. Tudo por conta dos diversos cursos oferecidos pela UVA a um universo de mais de 700 alunos de toda a região da Ibiapaba.

O mestre deixou a reitoria da UVA, mas não deixou a educação, que foi fazer em outra “praia”. Desta vez no par-lamento estadual, onde é um dos mais assíduos deputados, quer na tribuna da casa, quer nas comissões técnicas, sempre na defesa intransigente dos mais altos interesses do Estado, e principalmente da educação, coisa que faz como se fosse um veterano parlamentar.

Mesmo os que nunca comparecem à Assembleia Legisla-

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tiva podem acompanhar a atuação do deputado Professor Te-odoro através da TV Assembleia ou da Rádio FM Assembleia, já que esse ilustre filho de Reriutaba é presença marcante na tribuna e nas quatro comissões técnicas das quais participa: Educação, Cultura e Desportos; Seguridade Social e Saúde; Ciência e Tecnologia; e Trabalho, Administração e Serviço Pú-blico, sendo vice-presidente da terceira e presidente da última.

Antenado com o que aconteceu e acontece em todo o mundo, o deputado Professor Teodoro tem levado para de-bate na Assembleia, quer em audiências públicas, quer em seminários, fatos que fizeram história. E sempre com grande participação.

Se nada tivesse feito, o que não é o caso, dois eventos propostos por ele, no ano de 2008, já teriam marcado e jus-tificado a sua atuação como legítimo representante do povo cearenses na Assembleia: o seminário O Movimento de Maio de 68 na França e no Brasil, e a sessão solene para homenage-ar, “in memoriam”, a vida e obra de dom Aloísio Lorscheider, arcebispo metropolitano de Fortaleza de 1973 a 1985.

O primeiro evento ocorreu nos dias 19 e 20 de maio. O colóquio de abertura aconteceu no Plenário 13 de Maio, que ficou completamente lotado, e teve como palestrante Maria Adélia Aparecida de Sousa, doutora em Educação, professora da USP e da Unicamp, que abordou o tema “Maio de 68: um grito de alerta para o mundo. O desespe-ro de uma geração consciente”.

No dia seguinte, sob a coordenação do deputado Profes-sor Teodoro, foram realizadas mesas redondas para debater os temas: Reflexões sobre o Movimento de Maio’68 na França

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e desdobramentos no Brasil; e “Maio de 68: Testemunhas e relatos de vivências pessoais e militância política”.

Para se ter uma ideia da qualidade dos debates, Teodoro trouxe nomes como Elias de Oliveira Mota, doutor em Socio-logia da Educação pela Sorbonne; Lélio Fabiano dos Santos, mestre, Instituto Francês de Imprensa; Cleide Ramos, dou-tora em Educação pela Universidade Nanterre, França; Anto-nio Inocêncio Lima, professor da UFPE e diretor do SESC de Pernambuco; Marcos Guerra, ex-secretário de Educação do Rio Grande do Norte e ex-professor do IRFED, Paris; Ozir Tesser, professor, doutor em Sociologia pela Universidade de Nanterre; Antonio Jorge Siqueira, doutor em Sociologia pela USP, Cláudio Ruaro, mestre em Sociologia pela Universidade de Sorbonne; dentre outros.

Não é demais lembrar que o Maio de 1968 em Paris e toda a França causou profundas mudanças de natureza socioeconô-mica e política em toda a Europa Ocidental, e que se refletiu intensamente no Brasil no mesmo período. Hoje, várias lide-ranças daquele movimento em nosso país ocuparam impor-tantes cargos no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com destaque para Dilma Rousseff, primeira mulher a ser eleita Presidente do Brasil; Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação Social, Tarso Genro, ex-ministro da Justiça, eleito governador do Rio Grande do Sul, dentre outros.

A sessão solene para homenagear Aloísio Lorscheider, re-alizada no plenário 13 de Maio, no dia 18 de setembro de 2008, contou com a presença de religiosas e sacerdotes, com destaque para dom Edmilson Cruz; estudantes, professores, parlamentares, jornalistas e fãs do querido cardeal, que nos

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deixou em 23 de dezembro de 2007, mas que continua vivo em nossas memórias.

Além do mais assíduo no plenário e nas comissões téc-nicas da casa, o Professor Teodoro é um dos deputados com maior produção legislativa na atual legislatura. Por tudo o que já fez e poderá fazer, os cearenses farão justiça e certamente lhe darão outros mandatos.

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Teo: em Sobral, em

Olinda, em Paris, no

Mundo...Padre José Linhares 55*

A VIDA OFERECE A ALGUMAS PESSOAS desafios e chamados tão difíceis que quando executados transforma seus protagonistas em monumentos vi-

vos das instituições por elas perlustradas.Várias foram as etapas que convivi com o nosso Teo. Re-

cordo-me do Teo na querida Betânia, quando ainda adoles-cente, estava a concluir o seu ensino médio para prosseguir, ao tempo, sua vocação sacerdotal.

* Presidente do Conselho Estadual de Educação, ex-diretor da Santa Casa de

Misericórdia de Sobral.

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O Teo, então, seguiu para o seminário de Olinda e fui me encontrar com ele estudando na Gregoriana e eu em Muni-que, ao tempo do Vaticano II, em nosso querido Pio Brasi-leiro. O tempo passa e logo mais já encontro o Teo em Paris, estudando Sociologia Política e Administração Pública.

Esta síntese talvez seja repetida por outras pessoas que com ele privaram e privam. Mais tarde, já vou me encontrar com o Teo em Teresina, na Universidade do Piauí, e posterior-mente como reitor da Universidade do Cariri.

A esta altura senti que a força telúrica estava a compelir o Teo para o seu retorno às origens. Empenhei-me junto ao en-tão governador do Estado, Tasso Jereissati, para trazê-lo para nossa Universidade Vale do Acaraú — UVA.

Em seu período de adaptação à nossa UVA, privamos muito de perto, já que o Teo foi meu hóspede e tivemos a oportunidade de discutir que rumos ele poderia traçar para nossa querida Universidade.

Se me fora perguntado o que me impressionava na perso-nalidade do Teo, afirmaria que era a sua persistência. Colocava metas audaciosas e ousadas à sua frente até alcançá-las. Inteli-gência arguta, sabia que os fins devem ser perseguidos através dos meios, daí surgir outra característica: sua habilidade. Não guarda ressentimentos, mesmo quando fica sob suspeita ou injustiçado, passada a tormenta e o Teo volta, e aí está outra particularidade, a afabilidade. Parece-me que não registra em sua memória episódios negativos, mas sempre está a vibrar no seu idealismo com os sucessos e êxitos alcançados.

O Teo é como um peregrino que se põe a caminho e vai vencendo as pedras que se opõem aos seus passos, a ardência

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do sol que queima a sua pele, as montanhas que se antepõem aos seus objetivos. O Teo caminha, caminha e vai como o cavaleiro da esperança, vencendo os percalços que sempre se apresentam aos idealistas.

Hoje, convivemos no mesmo planeta político, ele como deputado estadual e eu como deputado federal. Não temos grandes divergências. Hoje somos os fanáticos defensores da região norte, ele circunscrito à Assembleia Legislativa e eu, neste horizonte maior, que é o Congresso Nacional.

Fica aqui exarado o meu testemunho, revelando agora o que talvez seja desconhecido de muitos. Teodoro é um homem de fé e tem suas grandes predileções por Nossa Senhora, Mãe de Deus, a quem sempre dedica uma afeição muito grande.

Não sei bem se os seus amigos querem fazer um memorial da história do Teodoro, mas parabenizo a iniciativa daqueles que estão a recolher, ao largo de sua convivência, retalhos de uma vida que já firmou sua presença na história das institui-ções por onde passou.

Meu querido Teo, seja, e você conhece bem a força do ser, da imanência à transcendência.

Um abraço amigo.

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Professor Teodoro e a

políticaSimon Nobre 56*

P ARA ARISTÓTELES “O HOMEM É POR nature-za um animal político”, isto é, um ser vivo (zoon) que, por sua natureza (physei), é feito para a vida

da cidade (bios politikós, derivado de pólis, a comunidade política). No contexto da filosofia de Aristóteles, essa defini-ção revela a sua intenção na caracterização do sentido último da vida do homem: o viver na pólis, onde o homem se realiza como cidadão (politai), manifestando, no termo de um pro-cesso de constituição de sua essência, a sua natureza.

Ainda segundo o grande filósofo grego, o simples viver

* Advogado e radialista

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junto em sociedade não caracteriza a destinação última do ho-mem: a “politicidade”. A verdadeira vida humana deve, sem-pre, almejar a organização política, que é uma forma superior e até oposta à simples vida do convívio social da casa (oikia) ou de comunidades mais complexas.

A partir da compreensão da natureza do homem, deter-minados aspectos da vida social adquirem um estatuto emi-nentemente político, tais como: a noção de governo, de do-minação, de liberdade, de igualdade, do que é comum e do que é próprio.

A definição aristotélica sobre a forma da organização po-lítica e de sua importância para a constituição de uma socie-dade mais justa, o deputado estadual professor José Teodoro Soares começou a assimilar no seu próprio habitat, ao parti-cipar, quando criança, ao lado do seu pai, Agrípio Teodoro Soares, dos comícios e reuniões políticas promovidos em Re-riutaba, sua cidade natal. Os discursos inflamados e brilhantes das lideranças políticas cearenses que frequentavam a casa dos seus pais o deixavam maravilhado. Apesar de lhe fugir a cons-ciência exata do significado da política e de sua dimensão no contexto da sociedade organizada, o garoto começava a gostar e a se interessar pelo instigante tema.

Mas foi na Europa — para onde foi, com o objetivo de concluir os seus estudos, depois de obter o bacharelado em Filosofia no seminário de Olinda e Recife — vivenciando de perto o movimento de maio de 68, quando jovens, desconten-tes com a disciplina rígida, os currículos escolares e a estrutura acadêmica conservadora, foram às ruas para protestar e con-testar a situação social e política daquele país, e frequentan-

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do o Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Paris, onde se licenciou em Ciências Políticas, que o jovem José Te-odoro Soares, ex-seminarista do seminário São José e ex-aluno de dom José Tupinambá da Frota, primeiro e maior bispo de Sobral, pôde perceber o real significado da política e da sua importância na vida das pessoas.

De volta ao Brasil, atuando como professor, ou ainda exercendo cargos públicos importantes nos mais altos escalões do governo federal, o Professor Teodoro teve a oportunidade de aprofundar o sentido e a abrangência da política na sua vida e na vida das pessoas. No exercício da função pública, ele pôde melhor compreender como a política é capaz de invadir a própria existência humana e de como ela se faz presente em todos os instantes da vida do homem e em todas as suas rela-ções, seja na família, no trabalho, no lazer, ou na religião.

Seguir os passos do seu avô, o coronel José Teodoro Soa-res, fundador e primeiro prefeito de Reriutaba, e do seu pai, também prefeito do município, e pleitear a disputa de algum mandato eletivo, constituiu-se numa missão muitas vezes adiada, mesmo já estando preparado e capacitado para tal empreitada, no entanto, a política partidária já começava a invadir a sua mente e a disputar espaço com a sua inesgotável atividade intelectual, voltada, quase sempre, para as questões educacionais.

Prova desse entrelaçamento é que no ano de 1987 deci-de, finalmente, unir essas duas vertentes e, deixando de lado o tema que lhe é tão caro, a educação, escreve um livro cujo tema foi a conjuntura política brasileira naquele período, quando o país experimentava o florescer de um novo período

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democrático, após longo e tenebroso período de ditadura militar, os partidos políticos se reorganizavam ou nasciam a partir de um anseio popular e o povo se preparava para escolher, de maneira direta, livre e soberana, o seu próximo presidente da república.

O campo estava, portanto, fértil para uma grande re-flexão, e o Professor Teodoro dá o seu grande contributo para uma melhor compreensão do momento ímpar que o Brasil vivenciava, ao lançar o seu livro “Política, Partidos e Constituição no Brasil”, editado pelas edições Unifor, da Fundação Edson Queiroz, constituindo-se numa profunda análise sobre as discussões das principais questões políticas brasileiras de então.

Estavam lançados, naquele momento, os alicerces para a construção de uma intensa carreira política partidária que iria se consolidar em Sobral, 15 anos depois, em meados de 2003, quando ocupava o cargo de reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Filiou-se ao Partido da Social Demo-cracia Brasileira (PSDB) e recebeu a incumbência de reorgani-zar o partido em Sobral, acéfalo fazia um bom tempo.

Antes, porém, assistiu à chegada ao poder municipal do jovem político Cid Ferreira Gomes, que assumiu a prefeitura de Sobral em janeiro de 1997, recaindo sobre os seus ombros a árdua tarefa de reconduzir a Princesa do Norte a ocupar o seu lugar de destaque no cenário estadual. Através de uma exitosa parceria, firmada entre a Universidade Estadual Vale do Acaraú, a Diocese de Sobral e a Prefeitura Municipal, o reitor José Teodoro Soares ajudou a transformar Sobral no que ela é hoje: uma cidade moderna, progressista e, como

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costuma dizer, cosmopolita.Estruturado o PSDB de Sobral, e já na condição de pre-

sidente da Comissão Executiva Municipal do partido, o Pro-fessor Teodoro teria pela frente o seu primeiro grande teste eleitoral em 2004, quando levou a sigla a disputar as eleições municipais de outubro daquele ano. Por problemas de saúde, ele teve que afastar-se do comando da campanha, em pleno calor da disputa eleitoral, mas o novo PSDB sobralense, re-novado e revigorado, apesar do afastamento do seu principal líder, conseguiu eleger um vereador para a Câmara Municipal de Sobral, dentre as 12 cadeiras em disputa, superando candi-datos e siglas partidárias tradicionais na política do município.

No ano seguinte, a política voltou a ser tema principal de um dos seus livros, ao publicar, com a coautoria do padre Assis Rocha, o livro “Diálogos — Política e Cidadania”, tema que voltou a explorar no ano seguinte com a publicação do livro “Primado da Política”.

Em seus artigos, publicados regulamente nos principais jornais de Fortaleza e nos três semanários de Sobral, o então reitor da UVA, como o faz nos dias atuais, não se furtava a discutir temas políticos, tratando de questões como o signifi-cado das eleições, a esperança na mudança política, o amadu-recimento e o compromisso da democracia e a participação da mulher na vida pública.

No ano de 2006, após ter deixado a Universidade Esta-dual Vale do Acaraú, por força do término do seu reitorado, o Professor Teodoro foi convocado pela direção estadual do seu partido para participar de um novo desafio: disputar o mandato de deputado estadual. Seria o seu primeiro teste direto nas ur-

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nas e já para um cargo de grande expressão e representatividade. Defendendo o lema “Porque tudo é uma questão de edu-

cação”, marca registrada de toda a sua trajetória de vida, o Pro-fessor Teodoro percorreu todo o estado do Ceará conclamando os eleitores a participar de uma grande cruzada em favor da educação e submetendo o seu nome ao julgamento popular. O resultado ficou patente na resposta dos eleitores, e o seu nome foi sufragado em 174 municípios cearenses que, no total, lhe deram mais de 42.000 votos, conduzindo-o à Assembleia Le-gislativa do Estado.

Como deputado estadual, o Professor Teodoro tem se des-tacado como um dos mais brilhantes oradores, sendo apon-tado em todas as pesquisas como um dos parlamentares mais influentes e atuantes da Assembleia Legislativa. Entre os cargos que ocupa atualmente no parlamento cearense, destacam-se a presidência da Comissão de Administração, Trabalho e Serviço Público, a vice-presidência da Comissão de Ciência e Tecnolo-gia, além de membro titular da Comissão de Educação, Cul-tura e Desporto e do Conselho de Ética. Foram de sua autoria, entre outros requerimentos, o que criou o Fórum Permanente pela Educação no Estado do Ceará e a Frente Parlamentar em Defesa da Família, dos quais é o seu presidente. Ele divide o seu tempo entre as sessões na Assembleia Legislativa e a per-correr todo o estado, discutindo questões relativas à educação – propondo projetos que visam, sobretudo, melhorar a quali-dade do ensino no Ceará – e a intransigente defesa da família.

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Professor Teodoro,

da UVA ao Parlamento

José Osmar Vasconcelos Filho 57*

C ONHECI O PROFESSOR TEODORO no ano de 1994, quando retornei a minha terra natal, atraído pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA,

quando realizou o primeiro concurso público para professor naquele ano, a que tive a oportunidade de me submeter, sendo aprovado na área de educação física. Foram 13 anos de con-vivência na Universidade. Posteriormente, mediante convite, continuei como seu assessor parlamentar, cujo mandato de deputado estadual completou, em fevereiro de 2011, quatro

* Professor da UVA e ex-chefe de gabinete do deputado Professor Teodoro.

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anos, tão profícuo quanto foi o seu reitorado, que pude de perto acompanhar.

Nos 16 anos em que o Professor Teodoro foi reitor da UVA, a Universidade vivenciou um período de realizações que a projetaram como instituição respeitável e de credibilidade conquistada através de muito trabalho e sucessivas provas de bons serviços prestados à sociedade. A Universidade se identi-ficou com demandas locais e sempre esteve atenta às tendên-cias regionais e nacionais.

Certamente, administrar a Universidade que encontrou em 1990 foi o maior desafio de sua vida. A UVA, com seis anos de estadualização, ainda se apresentava como instituição de ensino superior com estrutura precária, orçamento min-guado e corpo docente não profissionalizado. O município de Sobral sofria com administrações públicas que não conse-guiam responder às demandas de uma cidade referência na re-gião e que, por isso, precisava dar bons exemplos na condução de políticas públicas cada vez mais complexas, notadamente após a promulgação da Constituição de 1988, quando os en-tes federativos passaram a assumir novas responsabilidades.

Por outro lado, aquela década foi importante porque trouxe para o centro do debate a questão da educação. Países desenvolvidos e organismos internacionais poderosos lança-ram ao mundo o desafio de melhorar os resultados da educa-ção dos povos. Isso teve implicações para os países emergentes, dentre eles o Brasil.

No estado do Ceará havia uma inquietação nessa área, em razão da baixa qualidade do ensino e da grande quantida-de de professores leigos nas redes públicas estadual e munici-

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pais. Esse quadro estava para sofrer alterações, no Brasil, com o advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — LDB, que instituiu, em dezembro de 1996, a Década da Educação, no período de 1997 a 2007. A meta era universali-zar nesse período a formação em nível superior para todos os professores no exercício da função na escola pública.

Esse foi o contexto em que o Professor Teodoro assumiu o seu reitorado na UVA. A Instituição viveu três fases de expan-são acompanhadas de um processo contínuo e crescente de qualificação de suas ações. A primeira fase aconteceu quando ampliou a oferta de cursos em Sobral. Com isso, a cidade re-duziu o êxodo dos jovens sobralenses, que buscavam na capital cearense e em outras cidades a continuidade de seus estudos, após a conclusão da educação básica. Ao mesmo tempo, cen-tenas de jovens de cidades cearenses, e até de outros estados, passaram a residir em Sobral, depois de aprovados nos exames de vestibular, semestralmente realizados. A Princesa do Norte começou, naquele momento, a experimentar uma nova era. Sobral começa a ganhar ares de uma cidade cosmopolita. A cultura sobralense passa a conviver com a cultura de outras cidades, o que contribuiu para o seu enriquecimento.

A segunda fase de expansão da UVA aconteceu quando a Instituição saiu dos limites geográficos de Sobral e implantou atividades de ensino em cidades próximas, até chegar a aten-der 142 municípios cearenses, realizando o maior e mais bem sucedido programa de formação de professores no estado do Ceará. Essa ação, que contou com o amparo legal do Con-selho Estadual de Educação, com o apoio do Conselho de Reitores do Estado do Ceará e realizada em conjunto com as

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demais universidades publicas cearenses, ficou conhecida como “Operação de Guerra”. A relevância social desse projeto é inco-mensurável, pois não há como aferir a mudança na vida de mi-lhares de professores incluídos no seleto grupo de pessoas com formação em nível superior no Brasil e no Ceará, a mudança na vida de suas famílias e a mudança na aprendizagem dos alunos que essa política gerou no interior da escola pública.

Em 2008 o Ministério da Educação apresentou o resul-tado da aprendizagem dos alunos na escola pública brasileira, através do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB 2007. Nele o estado do Ceará aparece com o melhor resultado na aprendizagem dos alunos na região Nordeste. Esse fato abre a possibilidade para relacioná-lo com o trabalho de formação de professores realizado, de maneira exitosa, pe-las universidades cearenses, notadamente pela UVA.

O terceiro e último estágio dessa expansão foi a saída da UVA para outros estados brasileiros. Recentemente, com a re-alização do segundo Seminário de Integração da UVA, reali-zado na semana em que a Instituição comemorou os 40 anos de existência, as entidades parceiras mostraram, mais uma vez, o quanto têm se esmerado para realizar um trabalho com res-ponsabilidade e competência. Esse esforço tem trazido bons resultados. Alunos da UVA fora do estado do Ceará também têm conseguido aprovações em concursos públicos nos mais diferentes ramos de atividades, o que tem contribuído para consolidar a sua credibilidade.

As três fases de expansão da UVA, fundamentadas nos planejamentos estratégicos I e II, de 1993 a 2001 e de 2001 a 2005, respectivamente, deram-lhe a condição de melhorar

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e multiplicar a sua estrutura física, suas salas de aula, seus la-boratórios, suas bibliotecas, seus equipamentos e seus espaços de convivência. Foi possível programar e executar ações no campo da assistência estudantil, ampliar o quadro técnico ad-ministrativo, mesmo com a escassez de concurso público para esse segmento, implantar uma política de profissionalização e titulação do corpo docente, o que permitiu melhorar a quali-dade do ensino, avançar nas ações extensionistas, iniciar um árduo caminho na produção de conhecimento e aprimorar os espaços decisórios da Universidade.

O Professor Teodoro deixou registradas as bases dessa grande obra em seu livro que tem como título “A inclusão pela educação” e teve a oportunidade de defender o seu traba-lho, diante de uma banca de renomados examinadores e uma plenária seleta, no dia 20 de abril de 2006, ocasião em que recebeu o título de professor Livre Docente, no campus da Betânia, no coração da UVA.

No dia 23 de outubro de 2008, dia em que a UVA com-pletou 40 anos de existência, recebeu, de maneira merecida, juntamente com o governador Cid Gomes, o título de Doutor Honoris Causa, honraria máxima concedida por uma institui-ção de ensino superior.

O grandioso trabalho realizado à frente da UVA consti-tuiu-se, inequivocamente, na mola propulsora para a sua elei-ção a deputado estadual, oito meses depois de ter deixado a reitoria. Enfrentou uma campanha sem o apoio de um único prefeito, pois alguns, inclusive seus parceiros, argumentaram que a sua decisão de se candidatar havia sido tardiamente re-velada e se disseram comprometidos com outras candidaturas.

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Tal fato foi compreendido e assimilado pelo então postulante a uma cadeira no legislativo estadual.

No entanto, no dia 5 de outubro de 2006, o candidato Professor Teodoro foi eleito deputado estadual pela vonta-de dos 40.791 eleitores de 173 dos 184 municípios cearen-ses, que acreditaram na sua força de trabalho também no Poder Legislativo.

O deputado Professor Teodoro completou em fevereiro de 2011 seu primeiro mandato. Nesse momento, é verdadeiro afirmar que o então reitor, executivo por excelência, já en-controu, há algum tempo, as melhores razões para atuar no legislativo estadual.

Para o deputado, o parlamento tem se apresentado como espaço dinâmico, onde as funções de legislar, de fiscalizar e de re-presentar o povo constituem-se os principais eixos de sua labuta.

Além do trabalho diário na Assembleia, que para ele tem início antes das 7h da manhã, embora a sessão plenária so-mente se inicie às 9h, o deputado Professor Teodoro é presi-dente da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Pú-blico, é vice-presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia e é membro da Comissão de Educação, Cultura e Desporto. É também membro do Conselho de Altos Estudos e do Comitê de Ética. Todas essas instâncias desenvolvem semanalmente intensas atividades na forma de reuniões, audiências públicas, seminários e visitas, o que requer do Deputado grande dedi-cação para o atendimento de tantas demandas.

Nesse período, o deputado Professor Teodoro conseguiu o seu espaço no legislativo cearense. É bem posicionado e ar-ticulado junto aos demais parlamentares, e sobretudo junto às

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grandes lideranças políticas do Ceará. A educação é a sua ban-deira número um. Nesse sentido, vem conseguindo cumprir o que prometeu quando candidato, que foi esforçar-se para defender projetos que venham fortalecer a educação em todos os níveis e em todas as modalidades. A sua luta tem se cons-tituído na defesa da universalização da educação em todos os níveis e na melhoria da qualidade do ensino e da condição de permanência do aluno no espaço escolar.

Para intensificar esse trabalho e manter um intercâmbio com a população, aprovou no Plenário 13 de Maio, em maio de 2007, o Fórum Permanente pela Educação, que preten-de ser um espaço de livre debate sobre as questões inerentes à educação. O Fórum tem se caracterizado como itinerante, pois já visitou dez municípios, o que tem mobilizado comuni-dades para discutir assuntos relevantes nesse meio, e pretende intensificar esforços para incentivar pessoas na luta pela defesa da melhoria da escola pública em cada município.

No entendimento do Deputado, a educação é prática social imprescindível na forma do ser humano, e por isso defendeu e continua defendendo que “tudo é uma questão de educação”. Dessa forma, Professor Teodoro tem aborda-do diariamente na tribuna da Assembleia Legislativa temas relacionados à política, que considera categoria fundante do ser humano. A expressão “Politique d`abbord” - a política em primeiro lugar — é recorrente nos seus argumentos na defesa dessa tese.

A religiosidade também tem espaço privilegiado em suas ações e nos seus pronunciamentos. Tem defendido princípios cristãos vivenciados no decorrer de sua rica formação, o que

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faz com maestria, porque sempre consegue relacioná-los com os mais diversos acontecimentos do cotidiano, fato que evi-dencia a atualidade de tais princípios.

Também são temas de seu interesse a ciência e tecnologia, o meio ambiente, as relações no campo de trabalho, a moradia de interesse social e a habitação rural, a gestão dos grandes centros urbanos e regiões metropolitanas, a gestão da água, a problemática do lixo, os consórcios intermunicipais, as políti-cas voltadas para a saúde e a situação da segurança.

A família tem de sua parte, conceito e espaço especiais. Considera-a instituição imprescindível para vivermos numa sociedade harmoniosa. Iluminado pelo filósofo francês Luc Ferry, tem reforçado a sua crença na sacralidade da família, compreendendo-a como espaço de sólida convivência huma-na. Em agosto de 2007 lançou a Frente Parlamentar em Defe-sa da Família, da qual é o presidente. A exemplo do Fórum da Educação, a Frente Parlamentar em Defesa da Família discute questões ligadas à família. Recentemente, a Frente realizou em Sobral seminário que articulou os temas família e comunica-ção. Tal discussão, por encaminhamento do Seminário, será regionalizada, para ampliar o número de pessoas participantes.

O trabalho relevante prestado à sociedade por institui-ções, entidades e personalidades sempre merece o reconhe-cimento do Deputado. Na condição de homem público, considera dever de justiça tal reconhecimento. Por isso, tem sucessivas vezes proposto e realizado grandes sessões solenes para objetivar o reconhecimento da Assembleia Legislativa, e o seu em especial, às grandes causas e aos seus idealizadores.

A vasta produção parlamentar do Deputado está regis-

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trada nos livros “Em Nome do Povo I”, “Em Nome do Povo II”, “Em Nome do Povo III, “Em Nome do Povo IV” e “Em Nome do Povo V”, “Ação Parlamentar”, nos Boletins Infor-mativos do seu mandato, em pequenas produções (livretos), em DVDs, no seu blog e no site da Assembleia Legislativa. O Deputado publica artigos nos jornais Expresso do Norte, Correio da Semana, Diário do Nordeste, O Povo e O Estado.

Professor Teodoro vivenciou o primeiro pleito eleitoral como parlamentar em outubro de 2006, e surpreendeu quan-do teve que usar habilidade de negociar apoio político parti-dário, fato novo em sua vida. Dos 11 municípios onde apoiou candidatos a prefeito, oito conseguiram eleger-se e outros três emergiram como segunda força política em suas urbes. Este fato, da maior importância, inaugurou uma nova fase em seu primeiro mandato. Nas próximas eleições, o Deputado teve o apoio importante de prefeitos e vereadores com que não pôde contar na sua primeira candidatura.

O seu trabalho como parlamentar já merece o reconhe-cimento do povo cearense, fato que se reflete em pesquisas feitas por empresas especializadas, que o colocam na lista dos deputados mais atuantes na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.

Professor Teodoro, reitor e deputado, uma trajetória de vida fortemente marcada pela capacidade de liderar pes-soas, de liderar movimentos; trajetória marcada, também, pelo prazer de cultivar amizades e de consolidar parcerias. A obstinação, a disponibilidade para o trabalho e a capa-cidade administrativa são características indeléveis de sua personalidade. É um homem absolutamente antenado no

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tempo e no espaço de sua atuação. No cotidiano dos seus longos e bem vividos dias, Professor

Teodoro transborda simplicidade e esbanja carisma. A humil-dade e a generosidade são suas companheiras inseparáveis. É possuidor de uma admirável capacidade de ouvir; talvez seja essa a sua matéria prima para o pensar estratégico. Ao mesmo tempo, revela-se determinado na tomada de decisão. Um ho-mem que faz história, e que a história certamente não esquecerá.

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Com Teodoro, um constante aprendizado

Vanda Maria Coelho 58*

D OU GRAÇAS A DEUS POR FAZER PARTE de uma minoria que conhece bem o Dr. José Teodoro So-ares ao longo de muitos anos de convivência. Pri-

meiramente, através do relacionamento social em Fortaleza, e quando ambos residíamos em Brasília, trabalhando nas áreas de educação e social. Posteriormente, em Fortaleza, quando me convidou para uma função como secretária executiva na reitoria da UVA.

Desde longas datas, portanto, desfruto de seu convívio e amizade, tendo seguido de muito perto suas pegadas e evolu-ção, como executivo e docente de extraordinária competência, em sua luta, inicialmente, no Ministério da Educação, mais

* Secretária e amiga do Professor Teodoro.

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tarde, à frente de duas universidades, em nosso estado, como reitor que foi da Urca e da UVA, abrangendo um período total de 19 anos. Duas décadas de relevantes serviços pres-tados à sociedade cearense, porque, como reza o lema de sua campanha política de 2006 a deputado estadual, tudo é uma questão de educação.

Desta perspectiva, traçar um breve perfil do hoje depu-tado Professor Teodoro na carreira política é simplesmente observar sua trajetória de político nato, perspicaz, autêntico, ativo, constantemente antenado em tudo quanto se passa ao seu redor, com uma consciência crítica globalizada sobre to-dos os acontecimentos e realidades.

Já como reitor Teodoro — rei-trator — como foi cari-nhosamente taxado pelo ex-governador do Estado, Dr. Lúcio Alcântara, pode-se vivenciar uma autoridade marcante, ímpar, que alcançou horizontes até então inatingíveis na área da edu-cação; um verdadeiro desbravador que trouxe pioneiramente os mais modernos e eficazes modelos de gestão universitária, implantando-os com eficiência tal que permanecem como uma conquista inovadora nos meios universitários e na admi-nistração pública voltada para a educação, ciência e tecnolo-gia, no Ceará e em outros estados.

Como amigo, Teo é aquele homem bom, cativante, ao qual ninguém se anima a dizer um não; o líder que consegue manter ao seu redor todos os integrantes de suas equipes de trabalho, nos mais inusitados expedientes, inclusive nas horas de lazer; o amigo simples e dedicado em sua amizade aos que o rodeiam, sempre disposto a ouvir e aconselhar, com uma capacidade extraordinária de entender, perdoar e se fazer bem

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presente no que diz respeito a ajudar ao seu próximo. Mes-mo arriscando-se conscientemente, mas sempre dando crédito àqueles que nele colocam as suas expectativas.

Nesta trajetória que se estende ao longo de quase 40 anos de vida profissional, sobressaem, a meu ver, dois traços carac-terísticos de sua exuberante personalidade: a simpatia no rela-cionamento social e a constância na busca de seus objetivos, que chega muitas vezes às raias da obstinação.

Trabalhar sob a orientação e liderança do professor, ex--reitor e deputado Teodoro é sem dúvida frequentar uma es-cola de aprendizado constante, rica em ensinamentos, tanto na experiência de vida profissional como pessoal.

Por esta razão, aplaudo seu sucesso e lhe sou eternamente grata, por desfrutar de sua convivência e amizade.

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Um olhar para o futuro

8.

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Homem de fé e otimista, o Teo está sempre um passo à frente,

antevendo realizações e soluções quando todos ainda discutem as possibilidades de implantação de um projeto.Este é o perfil de quem tem sempre presente em seu projeto de vida o coletivo, a partilha do bem conquistado com seu povo. E eu tenho orgulho de colaborar para que isso aconteça.” — MARIA NORMA MAIA SOARES

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No ritmo do Teo

Maria Norma Maia Soares 59*

JÁ SE PASSARAM DOZE ANOS desde que tomei a ini-ciativa de colher depoimentos de parentes e amigos pela passagem dos 60 anos do Teodoro, enfeixando-os

num livro com que o presenteei naquela oportunidade.Agora, são os amigos que me convocam para traçar o

perfil do aniversariante que completará 72 anos de uma vida cheia de oportunidades e de realizações.

Parece-me que para falar destas duas vertentes da vida de alguém tão dinâmico, empreendedor e multifacetado tem-se matéria suficiente para escrever um livro. Ao mesmo tempo, é difícil resumir em poucas linhas o que tenho acompanhado e vivenciado nos 34 anos que estamos casados.

Seguir a linha do tempo é sem dúvida a melhor forma de traçar o perfil de um homem que se tornou público sem

* Mestra em educação, escritora.

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esquecer suas raízes e formação cristã.O nosso encontro por si já ocorreu num happening mui-

to característico do Teodoro, cercado de amigos comuns a ele e a mim, que nos apresentaram no réveillon do Ideal Club, em Fortaleza. Seus olhos expressivos, muito mais do que palavras, falaram do encantamento que lhe causei. Na verdade, como costumo dizer, é ele que “encanta até sereia”. Nesse momento mágico, surgiu a tentativa de conquista da qual ele saiu vitorioso.

E assim, o Teodoro passou a ser o Teo, que acompanho diuturnamente num misto de esposa, assessora e anjo da guar-da. Confesso que, mesmo tendo certo lastro, e me mantendo antenada aos acontecimentos, é difícil acompanhar o seu rit-mo e a pluralidade de suas atividades.

O Teo já havia dado a volta ao mundo, fazendo cursos, colhendo diplomas, experiências e amizades, inclusive tendo participado de dois momentos importantes de nossa história: o Concílio Vaticano II e o Maio de 68 em Paris, experiências que lhe valeram uma visão voltada para uma política social mais justa e humana.

Quando nossa convivência começou, ele era um dos filóso-fos do Projeto Rondon, em Brasília. Era um entusiasta, que ves-tia a camisa, imbuído da ideia do “integrar para não entregar”.

Pouco tempo depois, o Teo passaria a ser técnico da Se-cretaria de Planejamento da Presidência da República. Uma nova missão que, igualmente ao Rondon, o fez viajar por todo o Brasil, ocasião em que fez novos amigos, logo incorporados ao já extenso quadro de velhas amizades dos tempos de Roma e Paris. Aos poucos, fui sendo apresentada aos seus amigos e conhecendo a história de cada um, tantas são as recordações

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ouvidas repetidas vezes a cada encontro. E tem sido muito bom ver a lealdade que o Teo mantém com todos, leal-dade muitas vezes convertida em prestabilidade, quando alguém lhe recorre.

A passagem do Teo pelo Ministério da Educação pode-se dizer que foi tumultuada, pelo fato de servir a um ministro de ideias avançadas, num contexto de recessão, além de serem cercados de funcionários antigos, impregnados dos vícios pró-prios dos burocratas.

Foi preciso muito jogo de cintura de toda a equipe do ministro Portella para vencer esta fase. E isto o Teo soube tirar de letra, tanto assim que permaneceu durante a gestão dos ministros Rubem Ludwig, Ester Ferraz e Marco Maciel.

O retorno para o Ceará foi um sonho que o Teo acalen-tou, com a justificativa de que “já havia colhido muito pelo mundo e queria servir ao seu povo”. Suas palavras eram de puro idealismo e de altruísmo, se considerarmos que à época ele ocupava cargo no primeiro escalão do MEC.

A oportunidade de retornar ao Ceará surgiu no primeiro governo Tasso, inicialmente participando da equipe de pla-nejamento da área social e, logo após, convidado pelo reitor Martins Filho para assumir como primeiro reitor da Urca.

O conhecimento acumulado sobre a universidade brasi-leira permitiu que o Teodoro se revelasse como um grande ges-tor universitário, apesar de lutar contra forças superiores, que chegavam ao cúmulo de não acreditar na continuidade das universidades recém-implantadas no interior. Visão de futuro, persistência e conhecimento de causa eram armas importantes nas negociações levadas a termo para a concretização de uma

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universidade no Cariri.Enquanto isso, em Sobral, a UVA precisava atingir novos

patamares de desenvolvimento, e as autoridades viam no Te-odoro o homem certo para ser o novo reitor. Rápido em suas decisões, aceitou o desafio que perdurou por 16 anos, graças ao projeto de universidade de médio porte que ele queria im-plantar, transformando Sobral em cidade universitária. Apesar de todas as dificuldades, e até perseguições e incompreensões, ele conseguiu realizar seu projeto, que pode ser considerado ambicioso, mas beneficiou milhares de pessoas que alimenta-vam o sonho de fazer curso superior.

Mas, no íntimo, o Teo embalava outro sonho, o de entrar para a política, disputar uma vaga no parlamento. Mais uma vez ele conseguiu vencer, desafiando até as regras da natureza, que haviam limitado suas energias.

Homem de fé e otimista, o Teo está sempre um passo à frente, antevendo realizações e soluções quando todos ainda discutem as possibilidades de implantação de um projeto.

Este é o perfil de quem tem sempre presente em seu proje-to de vida o coletivo, a partilha do bem conquistado com seu povo. E eu tenho orgulho de colaborar para que isso aconteça.

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ANEXO

Memóriaiconográfica

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O menino Teo e a bicicleta. Ao lado, a primeira comunhão

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No seminário da Prainha

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A matrícula 88 do Seminário Regional de Olinda

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Cenas romanas: Jose Teodoro Soares

(o quarto, da esquerda para a direita)

ao lado de colegas nos estudos em

Roma. Na outra foto, treinando como

fotógrafo de cena urbana

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Ainda em Roma, Teodoro

(o primeiro à esquerda)

socilizando com colegas e,

ao lado, reconhecendo o

terreno em Paris, França

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Professora Norma e

Professor Teodoro em

audiência com o Papa João

Paulo II, em Roma, 1993

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Instalação do Curso de

Medicina, em Sobral

com o prefeito Cid

Gomes, o ministro da

Educação Paulo Renato

de Souza, o governador

Tasso Jereissati, o

reitor Roberto Cládio

(UFC), o deputado Ciro

Gomes e o reitor José

Teodoro (UVA)

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Teodoro recebe o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador

Cid Gomes, em Sobral, sob o olhar de Odorico Monteiro

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Com o jovem governador Tasso Jereissati, em seu primeiro Governo no

Ceará, que teve em Teodoro um dos formuladores do plano de Educação

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Ronaldo Mourão, Maria Adélia (Unicamp), Professor Teodoro, Maria

Helena Carvalho (Universidade de Lisboa) entre outros

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Edmilson Cruz (autor do artigo sobre gestão estratégica da Urca),

Violeta Arraes, Teodoro Soares e Antônio Martins Filho

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Cid Gomes, alinhamento estratégico com o plano de expansão da

Educação no Ceará que teve em Teodoro um dos principais atores

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Uma dupla perfeita: Tedoro e Norma compartilharam projetos em

Educação na Universidade e a cumplicidade de vida a dois

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Texto composto em Adobe Garamond Pro Regular, corpo 12,

entrelinha 16,1; Títulos compostos em Bodoni Ultra Bold

Italic, corpo 34, e; Textos de abertura de capítulos compostos em

Swiss Bold Condensed Italic, corpo 16, entrelinha 22. Impresso

em Fortaleza, CE, no mês de novembro do Anno Domini de 2015

1

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“Sempre haverá amanhã!”EDUCAÇÃO: MISSÃO DO PROFESSOR TEODORO PARA EMANCIPAÇÃO DO SER HUMANO

Luís-Sérgio Santos(ORGANIZADOR)

“Sempre haverá amanhã!”

EDUCAÇÃO: MISSÃO DO PROFESSOR TEODORO PARA EMANCIPAÇÃO DO SER HUMANO

Homem de fé e otimista, o Teo está sempre um passo à

frente, antevendo realizações e soluções quando todos ainda discutem as possibilidades de implantação de um projeto.

Este é o perfil de quem tem sempre presente em seu projeto de vida o coletivo, a partilha do bem conquistado com seu povo. E eu tenho orgulho de colaborar para que isso aconteça.”

— MARIA NORMA MAIA SOARES

www.omnieditora.com.brprofessorteodoro.com.br Professor Teodoro9 788588 661493 33

ISBN: 978-85-88661-49-3

“S

emp

re h

ave

rá a

ma

nh

ã!”

José Teodoro Soares nasceu

em Reriutaba, Ceará, no dia

28 de dezembro de 1940. Mas

se considera também sobra-

lense, já que aos doze anos

de idade foi morar em Sobral,

para estudar — o mesmo per-

curso de centenas de jovens

da região. Sobral sempre teve

um ar cosmopolita, com uma

aceitação natural do papel de

vanguarda. Anos depois, Teo-

doro constatava essa vocação

geopolítica do lugar que assu-

mia naturalmente seu papel

de guia — Sobral consolidada

regionalmente uma hegemo-

nia política, social e econômi-

ca, tornando-se influente polo

de poder no Ceará.

Teodoro consolidou-se

como educador, mas também

é sociólogo, teólogo e político

com presença atuante na tribu-

na da Assembleia Legislativa

do Estado do Ceará com man-

datos desde 2006.

Uma das mais eficazes estraté-

gias que utilizei como prefeito

de Sobral, durante oito anos,

para a realização de progra-

mas e projetos fundamentais

para o desenvolvimento do

nosso município foi a realiza-

ção de parcerias de naturezas

diversas, em distintas áreas,

com instituições governamen-

tais e não governamentais de

âmbito local, estadual, nacio-

nal e internacional.

Algumas das parcerias

mais permanentes e com re-

sultados muito positivos para

a comunidade sobralense e da

região norte foram as estabele-

cidas com a Universidade Esta-

dual Vale do Acaraú, então sob

a liderança do seu magnífico

reitor professor José Teodoro

Soares. Muito do que foi feito,

somente o fizemos graças a es-

tas parcerias inovadoras e cria-

tivas, que somavam esforços

comuns, ampliavam recursos

humanos e financeiros e supe-

ravam barreiras burocráticas e

institucionais, nos limites dos

preceitos legais.

CID FERREIRA GOMES

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