Livro-Objeto-que-Deseja (começo)

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Este projeto trata do desenvolvimento de um "Livro-Objeto-que-Deseja" que envolve, resumidamente, o conceito de não-senso e de desejo, além dos conceitos de livro-objeto e de objeto-de-desejo. Assim, propôs-se a construção de um livro para as pessoas e não das pessoas, para as palavras e não das palavras: que fosse alargada a relação entre o objeto-livro e a sociedade. Na tentativa de vivenciar uma nova teoria de formação do livro, foram estudados também o rizoma e o devir, de Deleuze e de Guattari, ambos os conceitos salientes enquanto materialização do projeto, pois ele se fez de seu desdobramento, não unicamente em seu desdobramento. Além da teoria abordada, foi formada uma parceria com a Editora Parêntesis, situada em Curitiba, que auxiliou principalmente em questões de detalhamento e de produção do livro, além de colaborar com inúmeras conversas também sobre os conceitos do projeto.

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DE SANTA CATARINA – CAMPUS FLORIANÓPOLIS

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE METAL MECÂNICA

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE PRODUTO

ANNA PAULA DA SILVA STOLF

FLORIANÓPOLIS

2010

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ANNA PAULA DA SILVA STOLF

LIVRO-OBJETO-QUE-DESEJA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Tecnólogo em Design de Produto ao Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.

Profa. Orientadora: Isabela Mendes Sielski

Profa. Coorientadora: Lurdete Cadorin Biava

FLORIANÓPOLIS

2010

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ANNA PAULA DA SILVA STOLF

LIVRO-OBJETO-QUE-DESEJA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do grau de

Tecnólogo em Design de Produto, do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina

Florianópolis, 09 de julho de 2010

BANCA EXAMINADORA

Profa. Isabela Mendes Sielski, Doutora

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina

Orientadora

Profa. Lurdete Cadorin Biava, Mestre

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina

Coorientadora

Profa. Carla Arcoverde Aguiar, Mestre

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina

Profa. Sandra Maria Correia Favero, Mestre

Universidade do Estado de Santa Catarina

Marcos Namba Beccari

Diretor Geral da Editora Parêntesis

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INSTITUIÇÃO

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina

Campus Florianópolis

Departamento Acadêmico de Metal-Mecânica

Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto

Av. Mauro Ramos, 950

Centro, Florianópolis – SC, Brasil

CNPJ Nº 81.531.428/001-62

(48) 32711414

ACADÊMICA

Anna Paula da Silva Stolf

Aluna do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto do IF-SC

Bolsista do Programa de Educação Tutorial de Design do IF-SC

Rua Lauro Linhares, 635, apto. 205, bloco B2

Trindade, Florianópolis – SC, Brasil

(48) 84277205 | (48) 32049759 | [email protected]

EMPRESA PARCEIRA

Parêntesis Design e Editora

Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 327, apto. 105

Centro, Curitiba – Paraná, Brasil

CNPJ Nº 10.743898/0001-41

(41) 35274452 | (41) 92034034

Representante: Marcos Namba Beccari | [email protected]

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(um quase-sussurro)

Para Raquel Stolf.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e irmãos, por tudo; à minha irmã, por tudo e mais um pouco; à Elisa

Smania, à Maika Milezzi e ao Luciano Nunes, por serem indispensáveis na minha vida; ao

Guilherme Missen, por ser meu amigo mais nonsense; ao Tiago Bonin, por ser meu cúmplice; ao

Alex Liz e à Maria Antonieta, pela deliciosa sopa de ontem à noite; à Isabela Sielski e à Lurdete

Biava, por acompanharem minha trajetória no curso se tornando grandes amigas; ao Rodrigo

Gonçalves, por ter me encorajado no design mesmo quando meus interesses pareciam

impossíveis; à Carla Arcoverde Aguiar e à Sandra Fávero, por contribuírem gentilmente no

desdobramento deste trabalho; ao Marcos Beccari, por se manter sempre à disposição,

conduzindo a parceria com a Editora Parêntesis de maneira agradável e efetiva; ao Mauro Alex,

pela feliz indicação da Parêntesis como parceria; à Helena Bello e à Leyla Beraldo, pelas

descontraídas conversas sobre este projeto; ao grupo PET Design, por me fazer acreditar nas

pessoas enquanto profissionais pensantes e pró-ativos; ao Unblur, ao Parque Monstro e ao

Costelas, por serem os projetos mais felizes do curso de que fiz parte; à existência do chocolate,

por contribuir com a minha felicidade diária, e aos demais amigos, entre pessoas e cachorros, por

me fazerem uma pessoa mais leve todos os dias ou muitos dias seguidos.

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RESUMO

Este projeto trata do desenvolvimento de um "Livro-Objeto-que-Deseja" que envolve,

resumidamente, o conceito de não-senso e de desejo, além dos conceitos de livro-objeto e de

objeto-de-desejo. Assim, propôs-se a construção de um livro para as pessoas e não das pessoas,

para as palavras e não das palavras: que fosse alargada a relação entre o objeto-livro e a

sociedade. Na tentativa de vivenciar uma nova teoria de formação do livro, foram estudados

também o rizoma e o devir, de Deleuze e de Guattari, ambos os conceitos salientes enquanto

materialização do projeto, pois ele se fez de seu desdobramento, não unicamente em seu

desdobramento. Além da teoria abordada, foi formada uma parceria com a Editora Parêntesis,

situada em Curitiba, que auxiliou principalmente em questões de detalhamento e de produção do

livro, além de colaborar com inúmeras conversas também sobre os conceitos do projeto. Por fim,

tomou-se o paradoxo da regressão ou da proliferação indefinida, explicado por Deleuze, no qual

para cada sentido existe outro sentido, para expor que o livro é formado de três partes, sendo ele

um livro-objeto-que-deseja chamado de “Começos-Meios-Fins” que, por sua vez, é denominado

“Mandíbula Sonâmbula Perambula”. No entanto, o livro é, na verdade, “três meios”. Mandíbula

Sonâmbula Perambula é, portanto, inacabado, pois percorre as faltas e os preenchimentos ao

mesmo tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Não-senso. Livro-objeto. Desejo. Design de Produto.

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- Em que sentido, em que sentido? pergunta Alice. A pergunta não tem resposta, porque é próprio do sentido

não ter direção, não ter “bom sentido”, mas sempre as duas ao mesmo tempo, em um passado-futuro

infinitamente subdividido e alongado. (DELEUZE, 2007, p. 79)

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SUMÁRIO o

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 10

MÉTODO ................................................................................................................................... 12

CADERNO A .............................................................................................................................. 14

CADERNO B .............................................................................................................................. 14

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 119

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 120

APÊNDICES .............................................................................................................................. 123

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INTRODUÇÃO

Peixoto (1998, p. 10) resume a paisagem urbana afirmando que “a paisagem é um muro”.

Nota-se nesse contexto que as pessoas carecem de impulsos para enxergar a grande extensão

que é possível ser experimentada “para além do muro”; nota-se que lhes falta não-senso.

Em uma breve abordagem, segundo Deleuze (1998), o não-senso ou nonsense não se

opõe ao sentido, mas à ausência de sentido, ao mesmo tempo em que não possui nenhum

sentido particular. Mas como atingir pessoas por meio de um objeto que as faça desejarem o não-

senso?

Um livro.

Um livro-objeto.

Um livro-objeto-de-desejo.

Um livro-objeto-que-deseja?!

Foi, então, que surgiu a linha de pensamento que tomou forma neste projeto, uma mistura

de conceitos provenientes da arte, da filosofia e do design. A proposta envolve, resumidamente, o

conceito de não-senso e de desejo, além dos conceitos de rizoma, de livro-objeto e de objeto-de-

desejo. Assim, propôs-se a construção de um livro para as pessoas e não das pessoas, para as

palavras e não das palavras: que fosse alargada a relação entre o objeto-livro e a sociedade.

Para trabalhar a proposta, formou-se uma parceria com a Editora Parêntesis, que contribuiu

consideravelmente durante todo o desdobramento do projeto, auxiliando principalmente em

questões de detalhamento e de produção do livro, além de colaborar com inúmeras conversas

também sobre os conceitos do projeto.

O desejo de possuir um objeto parece indicar uma ação pontual, mas, ao contrário, afirma

Deleuze em seu Abecedário, “não há desejo que não corra para um agenciamento”. Ao procurar

um termo abstrato correspondente a desejo, o autor adota “construtivismo”, indicando que

desejar é construir um agenciamento, enfim, construir um conjunto.

Ao pensar o objeto como um agenciamento, propõe-se ao livro-objeto uma relação mais

humana, assim como acontece nos “objetos-paixão”, como denomina e exemplifica Baudrillard

(2006, p. 94), em “Sistema dos Objetos”: “se utilizo o refrigerador com o fim de refrigeração,

trata-se de uma mediação prática: não se trata de um objeto, mas de um refrigerador”. Baudrillard

descreve a diferença entre ter e possuir, o que significa que o indivíduo não procura sua

“devolução ao mundo”, mas sim sua participação pessoal inserida no objeto.

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Assim como a máquina, o livro possui oportunidade de ser projetado além de sua função

que é a de registrar, comunicar e divulgar informação/conhecimento. Em uma possível analogia, o

design gráfico hoje estaria para a poesia concreta, assim como o design de produto estaria para

este projeto: para o “Livro-Objeto-que-Deseja”, convergindo para uma nova abordagem de

composição, para a tentativa de uma nova teoria de formação de um livro.

Raquel Stolf (1998, s/p) coloca em resumo que, “para os poetas concretos, o poema

comunica sua própria estrutura (estrutura-conteúdo), sendo um objeto por si mesmo e não um

intérprete, negando a usual comunicação de mensagens.” A autora afirma que “é a poesia

concreta que deixa seu rastro, lastro de influências, trajeto, marco, atalho direto para o corpo da

palavra” e acrescenta, citando Àvila (apud STOLF, 1998, s/p): “O verso foi e voltou reverso”.

Na tentativa de vivenciar, portanto, uma nova teoria de formação do livro, foram estudados

conceitos como o rizoma e o devir, de Deleuze e de Guattari, ambos salientes enquanto processo

de construção do projeto, pois ele se fez de seu desdobramento, não unicamente em seu

desdobramento.

O desejo foi e voltou desejando.

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MÉTODO

O método foi pensado sob a perspectiva do Creative Method, Método Criativo,

apresentado por Ponge (1997), juntamente com o Método do Desdobramento das Três Etapas

(MD3E), descrito por Santos (2006). Em resumo, o Método Criativo explica a visão sistêmica do

projeto, e o MD3E, o modo de trabalho do projeto.

Ponge (1997, p. 27) discorre sobre criar objetos literários, os quais não tenham

necessariamente chances de viver, mas sim de se opor, como um objeto exterior, com

disposição para o desejo e gosto pelo concreto, com evidente oposição do mundo já englobado,

acostumado. “Em suma, eis o ponto importante: tomar o partido das coisas: levar em

consideração as palavras” (PONGE, 1997, p. 30), ou seja, partir das coisas, da criação das

coisas, não da sua explicação prematura. Significa fazer o objeto nascer para a palavra e não

nascer da palavra, criar múltiplas possibilidades sem preocupação antecipada com suas não-

validações.

Ponge (1997, p. 34) exclama: “evidentemente, aquilo de que menos se trata é de

entendimento, mas de discussão, e finalmente de imposição - razão pela qual, naturalmente,

não há necessidade alguma de definições: ao contrário!”. O autor, então, expõe três pontos

consistentes acerca da questão: o primeiro ressalta que, mesmo ao considerar suas virtudes, o

“mais bem exprimido”, as definições morrem para os lugares comuns por serem feitas para

eles; o segundo deixa claro que o essencial é exprimir o que não se concebe bem e que seja

enunciado claramente, pois o que não se concebe bem não cairá em lugares comuns; e o

terceiro ponto é sobre conceber a propósito do mundo exterior, em miúdos, ser saliente e exigir

expressão com objetividade confrontável.

A forma de trabalho para o projeto foi definida por utilizar o MD3E, descrito por Santos

(2006), como foi apresentado anteriormente. O método foi desdobrado e construído por meio de

uma estrutura circular (Figura 01), expandindo-se radialmente, dependendo das necessidades do

projeto. Essa estrutura, Santos (2006, p. 40) salienta, pretende mostrar uma relação de causa e

efeito e, mesmo não havendo pré-definições das atividades a serem executadas, na medida em

que são definidas, tem-se uma visão geral do projeto.

Santos (2006, p. 42) destaca que o importante é seguir uma sequência lógica e coerente,

não necessariamente linear e sequencial. Como o método não tem ênfase pré-definida, ele pode

se adaptar a diferentes propostas de projeto. Este método é denominado de Método do

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Desdobramento das Três Etapas

justamente por ser desdobrado nas três

etapas básicas: pré-concepção,

concepção e pós-concepção.

Para este projeto pontuaram-se as

entregas, os pacotes de trabalho e as

tarefas do projeto (Apêndice A) para que

fossem visualizadas juntamente com o

Modo de Trabalho/Cronograma (Apêndice

B), o qual não hierarquiza as tarefas

linearmente, sobrepondo, inclusive, as

tarefas executadas.

Adaptou-se, assim, o MD3E,

unindo o Modo de Trabalho com o

Cronograma em uma estrutura que

possibilitou a visualização geral das etapas e prazos, além de ter permitido essa

complementação de segmentos quando houve necessidade. Contudo, notou-se indispensável

para um bom entendimento do projeto a apresentação do Mapa Mental (Apêndice C), servindo

como uma espécie de legenda de conteúdo para o Modo de Trabalho/Cronograma. Vale

ressaltar que as etapas foram executadas simultaneamente, por isso optou-se por apresentar o

projeto em um relatório que consiste em dois cadernos que podem ser lidos ao mesmo tempo.

Os cadernos servem de tentativa para explicar o que é o projeto, uma vez que ele não se

separa de seu processo. Eles foram separados para possibilitarem a leitura simultânea e facilitar

as relações entre os assuntos, salientando o método em que as etapas não aconteceram

hierarquizadas, mas se permitiram seguir o fluxo das áreas estudadas, do aparecimento de

idéias e do processo vivo em que o projeto se inseriu.

Sugere-se intercalar as leituras dos dois cadernos para facilitar a compreensão dos

assuntos, entretanto, para o caso de leitores que optem por ler um caderno após o outro,

tentou-se citar um caderno dentro do outro quando foi percebida uma ligação quase siamesa

entre eles. Outra proposta de leitura do projeto implica fazer correlações rápidas entre os dois

sumários, os quais foram organizados partindo da premissa de que os leitores os tomariam

como mapeamento dos assuntos abordados.

Figura 01 - Estrutura Circular do Método Aberto Fonte: SANTOS, 2006