livro-efeito-borboleta.pdf

download livro-efeito-borboleta.pdf

of 17

Transcript of livro-efeito-borboleta.pdf

  • 11

    Comeos so to significativos quanto seus finais. Um corredor que no vence uma corrida no se conso-la com uma grande largada. Finais bem-sucedidos normalmente so determinados pelos momentos mais co-muns do percurso.

    Todavia, somos obcecados pelos comeos o comeo de um novo projeto, um novo relacionamento, um novo livro. Todo mundo quer comear uma revoluo, mas ningum quer lutar at o ltimo homem.

    Queremos ser extraordinrios, para ser lembrados muito tempo depois de partirmos, para ser parte de algo maior do que ns mesmos, para deixar um legado; e ainda assim no queremos ir trabalhar na segunda-feira de manh.

    Uma vida de comeos humildes pode terminar com um significado pico. Uma vida pode fazer um mundo de dife-rena. Como isso acontece um segredo. No um segredo

    1.Comeos

  • 12 e f e i t o b o r b o l e t a

    porque poucas pessoas sabem disso; mas um segredo por-que poucas pessoas vivem como se soubessem.

    Esta uma jornada ao descobrimento desse segredo.Mas isso s o comeo.

  • 13

    Eu tive uma infncia estranha: cresci em um lar cristo o que j bastante estranho. Porm, o que torna isso interessante o fato de ter crescido como cristo na Malsia, lugar em que h muitas religies diferentes, et-nias e mistura de culturas. Os cristos somam de 10% a 12% da populao, ento crescer como um cristo por l foi um tanto fora do comum.

    Desde os meus primeiros dias, convivi com budistas, hin-dus e muulmanos. Quando eu era jovem, tinha amigos que no podiam ir minha festa de aniversrio porque precisa-vam ir com suas famlias queimar incenso no tmulo de seu av uma tradio anual para muitos budistas. No ensino mdio, eu trabalhava meio perodo como copywriter em uma pequena agncia de publicidade e meus colegas de profisso

    2.Armazenando

    a grandeza

  • 14 e f e i t o b o r b o l e t a

    eram muulmanos. Vez por outra, o assunto da conversa com meus colegas era a f e conversvamos sobre nossas diferentes vises de vida sem nenhum constrangimento.

    Meu pai cresceu em uma famlia hindu. Meu av era um oficial ou ancio no templo hindu local e durante a maior parte da sua infncia e adolescncia meu pai queria seguir os passos do seu pai.

    Ento, ele conheceu minha me. Os dois eram estudantes na Universidade de Singapura; ele estudava cincia poltica e ela j era formada em cincia poltica. Minha me cresceu em uma igreja Anglicana uma contribuio dos britnicos bons que colonizaram a Malsia , mas a sua f, na melhor das hipteses, era nominal.

    medida que o relacionamento dos meus pais se torna-va mais srio, minha me estabeleceu uma condio: deixou claro que somente se casaria com um cristo. Meu pai no perdeu tempo para se converter ao cristianismo, uma deci-so que mudou para sempre o modo como sua famlia se relacionaria com ele. Daquele momento em diante, ele e minha me foram cortados das comunicaes que fossem mais do que bsicas e formais com os pais dele e suas irms e irmos. Mudar de religio no algo que as pessoas fazem com muita frequncia na Malsia. Rejeitar a f de sua fam-lia um tapa no rosto que desonra ostensivamente seus pais e ancestrais.

    QUANDO SONHEI COM A FRICA

    Crescendo em um lar cristo, converti-me umas 352 vezes antes do meu oitavo aniversrio. Toda vez que algum falava na igreja a respeito de cu e inferno, eu pensava:

  • 15

    No quero ir para o inferno. Parece terrvel. Mas e se eu fiz

    alguma coisa recentemente que, de algum modo, cancelou

    meu passaporte para o cu? No quero arriscar. Vou fazer a

    orao de novo.

    E antes que eu percebesse, meus ps estavam me levando em direo quele lugar to familiar no altar. Acho que respondi a todos os apelos que fizeram. E a maioria das minhas conver-ses foram em resposta quela pergunta: Se voc for atrope-lado por um caminho hoje, voc sabe para aonde vai? Essa frase sempre me perturbava. Talvez voc se identifique comigo.

    Em certo ano, meus pais me mandaram para um acampa-mento de crianas da igreja, distante cerca de 50 km de casa, no alto das colinas da Malsia. Eu estava l com algumas cen-tenas de crianas de outras cidades, todas experimentando pela primeira vez a sensao de estar fora de casa e conviven-do com a natureza.

    Foi l que encontrei meu destino, nos olhos de uma moa norte-americana.

    Era uma missionria que fora Malsia para trabalhar com crianas pequenas. E ns ramos um quarto cheio de crianas asiticas pequenas. Havamos acabado de cantar e estvamos nos preparando para dormir, deitando em nossas esteiras esticadas no cho de concreto. Do lado de fora das janelas, havia um mar de folhagem verde e abundante. O sol estava se pondo e os insetos tropicais saam para a noite. Ventiladores de teto giravam barulhentos sobre nossas cabe-as, conseguindo apenas movimentar o ar mido e denso ao nosso redor, como uma enorme toalha molhada.

    A moa norte-americana caminhou at a frente e quase imediatamente, como uma cano de ninar, sua voz silenciou

    a r m a z e n a n d o a g r a n d e z a

  • 16 e f e i t o b o r b o l e t a

    a sala. Ela tinha uma maneira toda especial de nos fazer ouvir. Cada palavra era como uma onda suave invadindo a areia. Seu rosto era delicadamente enrugado, seu sorriso era calmo e havia uma magia gentil em seus olhos. Em minha lembrana, era uma mistura de Princesa Diana e Madre Te-reza, talvez porque estivssemos no incio dos anos 1980 e ela era um dos poucos norte-americanos que eu conhecia. Seja l o que for, eu a ouvia com ateno arrebatada en-quanto nos contava uma histria sobre o explorador Dr. David Livingstone.

    No era como as aulas da Escola Dominical no havia flanelgrafo nem peas de cenrio , mas ficvamos fasci-nados. A missionria nos disse que o Dr. Livingstone sabia desde cedo que ele gostaria de se aventurar por regies des-conhecidas do mundo para contar s pessoas a respeito de Jesus. Ela falou como ele se tornou mdico e foi para a frica ajudar as pessoas. Ficamos encantados quando ela descreveu o impacto que ele teve como explorador e missionrio. Ele mapeava novos territrios e pregava s pessoas que nunca ti-nham ouvido sobre Jesus.

    A sala estava imvel como uma pedra e lembre-se: ha-via duzentas crianas ali! Os sons da floresta desapareciam ao fundo. Tudo o que ouvamos era a voz suave e calma da mis-sionria norte-americana, que gentilmente mudou de tom ao nos contar como Dr. Livingstone havia morrido, como seu corpo foi enterrado na Inglaterra, mas como seu corao havia permanecido na frica. Enquanto via seus olhos se en-cherem de lgrimas, meus olhos comearam a marejar. No consegui me controlar.

    Novamente, comeamos a cantar uma msica tranquila. A moa norte-americana permanecia l na frente, nos pedin-

  • 17

    do para orar quanto a dar nossa vida para ser usada por Deus, para fazer parte de algo extraordinrio. Para mim, a deciso era bvia. Como poderia fazer algo menos do que estar en-volvido, de algum modo, na mudana de vida das pessoas? Gostaria que minha vida fizesse parte de algo maior que eu mesmo. Isso era o que Deus nos pedia para fazer. Foi isso que David Livingstone e a moa norte-americana fizeram com suas vidas. Por que eu escolheria algo diferente?

    Gostaria que minha vida fizesse parte de algo maior que eu mesmo. Isso era o

    que Deus nos pedia para fazer.

    EXPANDINDO MINHA VISO

    Na minha infncia, meus pais alimentaram meu amor pelos livros. Eu esperava ansioso o dia de ir livraria ver que novo prazer minha mesada conseguiria comprar. Todo sbado, de-pois da minha natao matinal, costumvamos ir biblioteca e passar a tarde toda lendo. E depois, toda a famlia se reunia no jantar e discutia o que havia lido. Nossas conversas ao re-dor da mesa do jantar tratavam de questes sociais, f, Bblia e de nossos amigos. Minha irm e eu crescemos com uma grande imagem do mundo.

    No meu aniversrio de 10 anos, meus pais me presen-tearam com a autobiografia de George Muller, um homem que mudou a vida de mais de 100.000 crianas, construindo orfanatos em Bristol, na Inglaterra, durante os anos 1800. Fui fisgado. Daquele momento em diante, minha vontade era ler cada vez mais esse tipo de literatura. Queria ler sobre as

    a r m a z e n a n d o a g r a n d e z a

  • 18 e f e i t o b o r b o l e t a

    pessoas que tiveram um impacto significativo no mundo. Li a respeito de Charles Finney, John Wesley e um intercessor cha-mado Rees Howells. Envolvi-me uma vez com um dos livros da srie de mistrios Hardy Boys, mas na maioria das vezes de-vorava as histrias de pessoas que valem a pena ser lembradas.

    O SENHOR TEM GRANDES COISAS PARA VOC

    Conforme eu crescia, meu sonho de um dia fazer algo im-portante era alimentado por pessoas ao meu redor. Em nossa igreja, amveis senhoras de meia idade me procuravam nas manhs de domingo e diziam: Glenn, o Senhor tem grandes coisas para voc ou o Senhor quer fazer grandes coisas na sua vida ou o Senhor vai us-lo de maneira poderosa.

    Quando adulto, descobri que aquelas palavras eram sim-plesmente uma verso de bom menino ou arrase com eles. Todavia, isso afetou minha atitude e expectativas. Cada pala-vra era como sangue novo correndo no meu corao jovem. Sabia que era verdade: as grandezas eram o meu destino.

    Quanto mais conversvamos, mais eu percebia que no tnhamos simplesmente sonhos; tnhamos destino. [...]Estvamos ento todos sentados, esperando que alguma coisa grande nos acontecesse.

    Na faculdade, descobri que muitos dos meus amigos haviam crescido em um ambiente estvel e similar ao meu. Quanto mais conversvamos, mais eu percebia que no t-nhamos simplesmente sonhos; tnhamos destino. Nunca

  • 19

    havia sido rodeado por tantas pessoas com um futuro to grande e inevitvel! Estvamos ento todos sentados, espe-rando que alguma coisa grande nos acontecesse.

    O lance sobre a viso que s vezes visualizamos mais coisas do que podemos administrar de uma s vez. s vezes, Deus nos d um vislumbre das possibilidades, porm no tudo para agora. Entretanto, por causa disso, erramos ao pen-sar que nenhuma dessas coisas para agora. Agimos como se a mera posse de um sonho seja o fim da nossa responsabilida-de. Calmamente, dizemos a ns mesmos:

    Em toda minha vida, as pessoas me disseram que me envol-

    veria em grandes coisas. Li a respeito e ouvi pessoas que re-

    almente fizeram uma diferena com suas vidas. Tudo bem,

    estou pronto para que grandes coisas aconteam. Aqui vou

    eu! Estou esperando pelas grandes coisas. O Senhor far

    grandes coisas na minha vida e estou apenas esperando esse

    sonho se tornar realidade.

    A VIDA NO TIVOl

    Como resultado das nossas grandes expectativas, gravamos nossas vidas sem a inteno de faz-lo apenas apertamos o boto de pausa e colocamos tudo em espera. Na verdade, cada um de ns estava dizendo:

    Sei que Deus quer me usar para realizar grandes coisas. En-

    to, vou armazenar toda a grandeza que est sendo construda

    em mim no momento e um dia estarei em uma arena diante

    de milhares e milhares de pessoas e boom! liberarei

    toda aquela grandeza para cada um.

    a r m a z e n a n d o a g r a n d e z a

  • 20 e f e i t o b o r b o l e t a

    Talvez nenhum de ns dissesse isso dessa maneira, mas eu sei que alguns dos meus colegas pensavam assim. Nas minhas aulas de teologia, muitos dos alunos estavam a caminho de se tornar pastores e lderes em igrejas pelo pas ou ao redor do mundo. Entretanto, eles estavam apenas planejando. En-quanto isso, enquanto absorviam toda a teologia e aprendiam todas as tcnicas de ministrio, no serviam em nenhuma igreja ou ministrio local. Por essa razo, alguns nem mesmo frequentavam uma igreja (shhhh! No contem para os pro-fessores!). No faziam parte de nenhuma mudana pequena ou local enquanto estudavam. Apenas estudavam e armaze-navam grandes coisas.

    Isso era estranho para mim, porque Deus no dir no dia da formatura:

    Agora sim! Voc terminou sua graduao ou o seu mestrado

    em teologia. Fantstico! Aqui est um ministrio itinerante;

    voc falar para milhares de pessoas todo final de semana.

    Voc ser o pastor dessa igreja e no seu ministrio haver

    um crescimento de proeminncia nacional.

    O problema em armazenar grandezas ... bem, imposs-vel. No podemos conter nossa paixo, nossa energia e nos-sos sonhos de agir at estarmos no lugar certo. Se tentarmos isso, chegaremos l e descobriremos que toda a grandeza se perdeu. Se tentarmos guardar nossa viso para o dia perfeito, a perderemos. Chegaremos ao lugar em que pensamos estar prontos e descobriremos que nada restou.

    Se vivermos cada fase da vida como um trampolim para as grandes coisas, nos acharemos vivendo cada momento a meia fora. Deus deseja que tomemos o que est se movendo

  • 21

    em nosso corao hoje e faamos alguma coisa aqui e agora. Em vez de esperar que grandes coisas aconteam, deveramos perguntar a Deus:

    O que fao a respeito dessa ideia agora? Sei que talvez algum

    dia haja um cumprimento maior do sonho talvez exista

    uma parte que ser revelada somente daqui a vinte anos ,

    mas o que fao aqui e agora?

    Tudo o que Deus colocou dentro de ns deve ser expresso e devemos agir aqui e agora ou isso nunca se multiplicar e crescer. No importa quo insignificante e pequeno isso parea ser, podemos fazer alguma coisa hoje; podemos come-ar com alguma coisa.

    No podemos conter nossa paixo, nossa energia e nossos sonhos de agir at estarmos

    no lugar certo. [...] Se tentarmos guardar nossa viso para o dia perfeito, a perderemos.

    AQUELA GRANDE COISA

    Eu trabalho em nossa igreja com universitrios e muitos de-les tm grandes sonhos em seus coraes, mas se sentem em compasso de espera e ficam meio constrangidos com essa si-tuao. No um problema de armazenar a grandeza; eles apenas no descobriram ainda por onde comear.

    Ouvi certa vez um comediante comentar a diferena en-tre estudantes de universidades e estudantes de communi-ty colleges.2 Se voc perguntar para uma pessoa qual escola ela frequenta e ela for de uma universidade, a resposta ser

    a r m a z e n a n d o a g r a n d e z a

  • 22 e f e i t o b o r b o l e t a

    muito fcil. Vou Universidade do Colorado ou Vou USC ou NYU ou qualquer outra. Clara e objetiva. Mas se voc perguntar a um estudante de um community college a mesma coisa, a resposta quase sempre ser um pouco mais longa.

    Veja bem, estou apenas experimentando... olha s, eles bagunaram minha transcrio e estou tentando obter ajuda financeira no momento... Eventualmente vou me transferir para... e continua assim, porque esto constrangidos por no se sentirem no caminho, seja l o que isso signifique.

    Encontro a mesma situao com muitas pessoas que esto fora da escola, mas que no encontraram aquela grande coi-sa para devotar suas vidas. Eles dizem:

    Agora estou fazendo isso... trabalho na Starbucks, mas na

    hora certa trabalharei para um editor cristo, ou em uma

    igreja grande ou irei para o campo missionrio ou descobri-

    rei o lugar onde possa fazer grandes coisas para Deus.

    Enquanto eu pensava sobre isso e falava com vrios jovens e at mesmo lutava com essa tenso na minha vida, cheguei concluso de que no existe um momento em que de repente alcanamos a grandeza ou comeamos a fazer grandes coisas. Acredito que temos a possibilidade de fazer parte de grandes coisas todos os dias e talvez nem mesmo perceber. Quando o personagem bblico Jac sonhou com a escada para o cu acampado em Betel, exclamou: Sem dvida, o SENHOR est neste lugar, mas eu no sabia!3 Sem dvida, Deus tra-balha em nossas vidas agora, onde estamos hoje nas con-versas na rua, na hora do almoo ou em qualquer situao. Certamente, Deus est nesses lugares, mesmo que no perce-

  • 23

    bamos. A grandeza no sempre bvia. Frequentemente, ela to sublime que a perdemos.

    Facilmente, tambm assumimos que o lugar que tem im-portncia outro lugar. Alm-mar. No campo missionrio. Na prxima esquina. Aos quarenta anos. Quando atingirmos nosso primeiro milho. Onde quer que seja. Nem mesmo consideramos que uma mudana duradoura comea onde estamos. No consideramos a possibilidade de que Deus pode nos usar aqui e agora. No consideramos seriamente que Deus nos colocou exatamente onde estamos porque ele tem uma boa razo. Ele pode nos usar aqui. Se Deus pode nos usar em outro lugar, porque assumirmos que onde ele deseja nos usar em outro lugar, diferente daquele onde esta-mos agora? Pense nisso. Quais so as coisas que esto bem na sua frente agora e que voc negligencia porque est olhando para outro lugar? Quem so as pessoas que ignorou por no pertencerem a uma tribo distante que, no seu corao, voc planejou alcanar? Por que no comear buscando uma opor-tunidade local e pequena e fazer algumas coisas boas? Abra seus olhos. Oua mais atentamente o prximo. D aquele pequeno passo inicial, aquele ato simples de obedincia e veja o que acontece.

    Neemias era apenas um homem comum, que acabou fazendo uma

    diferena extraordinria.

    FORA DO NORMAL

    Uma das minhas histrias favoritas da Bblia a de Neemias. Sou atrado por ele porque, como muitos personagens bblicos,

    a r m a z e n a n d o a g r a n d e z a

  • 24 e f e i t o b o r b o l e t a

    ele teve um impacto significativo na histria. Mas diferente dos nossos outros heris da Bblia, que so reis, profetas ou sacerdotes ou o prprio Filho de Deus , Neemias era apenas um homem comum que acabou fazendo uma dife-rena extraordinria. Ele no era um dos doze apstolos. Pelo que sabemos, nenhum milagre aconteceu durante sua vida. Ele nunca proferiu uma nica palavra proftica, nunca curou uma pessoa nem ganhou uma batalha decisiva. Era apenas um copeiro e se tornou famoso pelo seu papel como em-preiteiro. No era como a mdia dos heris bblicos. Ainda assim, ele diferenciado na minha mente exatamente porque faz parte da mdia. Gosto muito da histria de Neemias por-que, apesar dos seus comeos humildes, ele se encontra no meio de um momento que muda a histria.

    Nascido judeu em um pas estrangeiro, Neemias era filho daquilo que ficou conhecido como a Disperso. H mais de um sculo, seus ancestrais judeus haviam sido cativos pelos babilnios como castigo pela desobedincia a Deus. Mais tarde, quando os persas aniquilaram os babilnios, muitos judeus mudaram para a Prsia. Este foi o lugar onde Neemias nasceu e ele no conhecia outro lar alm de Sus, a capital do pas. Ainda assim, ele nunca se sentia totalmente em casa l.

    Havia ouvido histrias de como Deus havia prometido fazer de Abrao uma grande nao e lhe dar um filho na sua velhice; como Deus enviou Moiss para libertar os descen-dentes de Abrao quando em grande nmero foram escra-vizados pelo reino egpcio; como toda uma gerao morreu no deserto do Sinai pela sua falta de f; como Josu liderou uma nova gerao em vitrias sobre um exrcito aps o outro quando possuram a terra; como Deus deu a Israel o grande rei Davi e como todo rei depois disso foi comparado a ele.

  • 25

    Havia ouvido a respeito das profecias que previram o exlio e tambm a respeito da promessa do retorno para Jud quando Deus traria seu povo de volta para a terra como prova da sua fidelidade infindvel. Agora, na poca de Neemias, o retorno prometido estava comeando a acontecer.

    Certamente, a situao de Neemias incitou perguntas so-bre sua identidade, herana e seu verdadeiro lar. Ele havia crescido em uma cultura que questionava a justia e a so-berania divina. Havia crescido em uma cultura de dvidas, onde a incerteza era a nica coisa que fazia sentido. Isso no to diferente da nossa cultura. Ainda assim, de algum modo, Neemias se apegou s histrias de sua terra. Cresceu ansiando uma terra que nunca havia visto e esperando morar em uma cidade de que apenas havia ouvido falar. Cresceu crendo na redeno e confiando em um Deus que parecia distante. De alguma maneira, em meio a toda aquela confuso e questio-namento, Neemias encontrou uma centelha de f e a atiou para se tornar uma chama ardente.

    Ainda assim, de algum modo, Neemias se apegou s histrias de sua terra. Cresceu

    ansiando uma terra que nunca havia visto e esperando morar em uma cidade de que

    apenas havia ouvido falar.

    difcil dizer se Neemias tinha conscincia da impor-tncia da mudana mundial que estava prestes a realizar; suspeito que no. Quando o seu momento chegou, ele no planejou mudar o mundo; apenas estava fazendo a coisa ne-cessria. Aquela coisa que precisava ser feita. Independen-temente de Neemias ter ou no conscincia do que faria,

    a r m a z e n a n d o a g r a n d e z a

  • 26 e f e i t o b o r b o l e t a

    creio que podemos tirar dessa histria alguns princpios de mudana de vida que influenciaro nossas histrias.

    Na cena de abertura do livro de Neemias, descobrimos que um dos seus irmos, Hanani, retornara de uma visita a Jud. Aparentemente, os persas haviam permitido que alguns judeus retornassem do cativeiro para sua terra e Hanani es-tava em um grupo que havia voltado para Sus para relatar a situao. Quando Neemias perguntou como estavam as coi-sas em Jud, Hanani respondeu:

    Est ruim, Neemias. Ruim demais. Os muros queimados.

    As pedras viraram entulho. Tudo est amontoado. Tudo

    ruiu. Uma grande baguna.4

    Os poucos judeus que haviam retornado para Jerusalm vi-viam em circunstncias horrveis. Os muros da cidade se torna-ram runas e se abriram para todo tipo de perigo. Os portes foram queimados e no havia como repar-los. A desolao dei-xou a cidade exposta a todo tipo de gente, vegetao e saque. A cidade de Deus era uma rvore morta, uma concha moda.

    Quando Neemias ouviu as notcias, sentou-se e chorou. Embora nunca tivesse estado em Jerusalm, ele sabia que era o orgulho da nao. Era a capital e tinha sido destruda. Ele ficou to oprimido pela tristeza, que jejuou e orou por vrios dias, confessando seus pecados, os pecados de sua famlia e os de seu povo, os judeus. Ao orar, ele lembrou Deus de algumas promessas feitas anteriormente ao povo de Israel:

    Lembra-te agora do que disseste a Moiss, teu servo: Se

    vocs forem infiis, eu os espalharei entre as naes, mas, se

    voltarem para mim, obedecerem aos meus mandamentos e

  • 27

    os puserem em prtica, mesmo que vocs estejam espalha-

    dos pelos lugares mais distantes debaixo do cu, de l eu os

    reunirei e os trarei para o lugar que escolhi para estabelecer

    o meu nome.5

    Neemias decidiu que precisava ir a Jerusalm e fazer al-guma coisa em relao condio da cidade. Ele orou para que Deus lhe concedesse favor diante do rei persa e que este atendesse a seus pedidos. O amor de Neemias por Jerusalm no permitiu que ele ficasse parado, simplesmente esperando que alguma coisa grande acontecesse.

    a r m a z e n a n d o a g r a n d e z a