Livro Dos Nutrientes Animais

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    para a saúde

    doscães e dosgatos

    OPROFESSOR DOMINIQUE GRANDJEAN, res-ponsável pela Unidade de Medicina deReprodução e Desporto da Escola Nacional deMedicina Veterinária de Alfort,onde também lecciona efaz pesquisa em Nutrição Animal,compilou neste tra-balho os conhecimentos actuais, sobre uma área emevolução permanente:a nutrição canina e felina.E na realidade, existirá algo mais vivo e sobretudo

    mais evolutivo que a nutrição? Todos sabemos que os nutrientes(elementos “úteis” para o corpo, contidos nos alimentos) não ser-vem apenas para saciar a fome! São os “tijolos” que vão construin-do (ou destruindo...) os órgãos, os tecidos, o esqueleto, etc, e queparticipam no bom funcionamento do organismo (ou que o podemeventualmente degradar...).

    Este livro apresenta,um a um, os elementos que devem fazer parte deum alimento de alta qualidade para cães ou para gatos.

    Graças às inúmeras ilustrações e esquemas, o leitor poderá facil-mente compreender a utilidade dos diferentes tipos de fibras, anecessidade de algumas vitaminas, o papel dos elementos principais:as proteínas,os lípidos e os glúcidos...

    NECESSIDADES ENERGÉTICASQuantidade variável de energia necessária para compensar as perdas energéticas diárias do orga-nismo, em função da idade, do estado fisiológico(crescimento, gestação, lactação...), da actividadefísica, do tamanho do animal no caso do cão, ede uma eventual castração no caso do gato.

    ENERGIAPara poder funcionar, o organismo do animaltem necessidade de energia que vai buscar aosalimentos, de origem animal ou vegetal, queconsome. Durante a digestão estes alimentos sãodegradados em nutrientes que, uma vez absorvi-dos, fornecem energia por acção do metabolis-mo: num alimento premium para cão ou gato:-1 g de proteínas fornece aproximadamente

    4 kcal,-1 g de glúcidos fornece aproximadamente

    4 kcal (excluindo fibras),-1 g de lípidos fornece aproximadamente

    9 kcal.

    ENZIMASMolécula orgânica capaz de acelerar ou desen-cadear uma reacção bioquímica no organismo.

    FIBRASALIMENTARESCompostos existentes nos vegetais que englo-

    bam a celulose, as hemiceluloses, as pectinas,não assimiláveis pelo organismo. Sem carac-terísticas nutritivas directas, as fibras alimen-tares são contudo muito importantes devidoao seu papel: as fibras insolúveis facilitam o

    trânsito intestinal, enquanto qususceptíveis de fermentar, partecção da parede intestinal e bactérias responsáveis pelas dia

    GLÚCIDOSCompostos orgânicos com um mente energético, no entantdesempenham um papel estrutpromoção de uma flora inteClassificam-se em duas categoda sua composição:- os glúcidos ditos simples, ta

    dos por "açúcares" (glucose, se, lactose...) existentes na frleite, no açúcar e seus derivad

    - os glúcidos ditos complexos, encontram os amidos (fonte fibras alimentares (indispensátubo digestivo).

    INGREDIENTESElementos visíveis (matérias tares) que entram na comporeceita. Um ingrediente podfonte de diversos nutrientes epela eliminação dos seus cominteresse nutricional.

    QUILOCALORIAUnidade de medida das necesscas do animal e da concentraçãalimento. 1 quilocaloria = 1 4,18 quilojoules.

    Glossário

    OSs constituintes das matérias gordas, oso extremamente energéticos apesar doume reduzido (gorduras, óleos).nham igualmente um papel funcional

    nismo por intermédio das vitaminasveis (vitaminas A, D, E e K) e pela exis-e moléculas lípidicas indispensáveis à dos gordos indispensáveis ou essenciais).

    BOLISMOo das transformações bioquímicas quesam num ser vivo para assegurar o seuvimento e sobrevivência; algumasfavorecem a construção, por via das(anabolismo) e outras a destruição,as degradações (catabolismo).

    NUTRIENTESes presentes em quantidades muito redu-alimentos (vitaminas, oligoelementos).

    AISnto, para além de matéria orgânica ea, é constituído por minerais.almente designados por cinzas. Deom o seu nível de incorporação no, podem ser macroelementos (p.e.fósforo) ou oligoelementos (ferro,

    nco, etc.).

    ENTES

    as orgânicas ou elementos mineraisque entram na composição dos ali-e que são indispensáveis ao funciona-o organismo. Em função do estado doproduzir um alimento equilibrado ével a conseguir montar um puzzle em

    peça representa um nutriente dife-grupam-se por famílias, denominadas

    princípios nutritivos: prótidos, lípidos, glúci-dos, minerais, vitaminas, sem esquecer o maisessencial de todos: a água.

    NUTRIÇÃOConjunto dos fenómenos que permitem aoorganismo degradar os alimentos, absorvê-lose utilizá-los para o seu desenvolvimento emanutenção da vida, em função do meioambiente. O equilíbrio nutricional dos ali-mentos permite:- produzir a energia de que o organismo

    constantemente carece,- fornecer os materiais necessários à constru-

    ção e à renovação permanente dos órgãos,- fornecer em pequenas quantidades determina-

    das substâncias indispensáveis ao correctodesenvolvimento dos fenómenos biológicos quese processam permanentemente nas células.

    PRÓTIDOSOs prótidos ou proteínas são as únicas molé-culas do organismo que contêm azoto. Estasfornecem elementos essenciais à vida: os ami-noácidos, na base das células que compõem oorganismo. O seu papel é múltiplo: cresci-mento, reprodução, imunidade, etc. As proteí-nas também são necessárias ao fabrico dasenzimas que efectuam as reacções químicas nointerior do organismo.

    VITAMINA

    Uma vitamina é uma substância orgânica semvalor energético próprio, indispensável ao orga-nismo e que o animal não consegue sintetizarem quantidades suficientes para o seu normalfuncionamento.Deveimperativamente ser for-necida através da alimentação numa quantida-de diária suficiente.

    Glossário

    Continua na página desdobráv

        P   r   o    f    D   o   m    i   n    i   q   u   e    G   r   a   n    d    j   e   a   n   -     T    u     d    o    o    q    u    e     d    e    v    e    s    a     b    e    r    s    o     b    r    e    o    p    a    p    e     l     d    o    s     N    u     t    r     i    e    n     t    e    s    p    a    r    a    a    s    a     ú     d    e     d    o    s     C     ã    e    s    e     d    o    s     G    a     t    o    s

    9 782747 600590ISBN : 2-7476-0059-9

    33 3

    P r o f D o m i n i q u e G r a n d j e a n

    Tudo o que deve saber 

    NutrientesNutrientessobre

    o papeldos

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    Cada alimento,fonte de nutrientes específicos,assegura o funcionamento de diversos órgãos

    Cada alimento,fonte de nutrientes específicos,assegura o funcionamento de diversos órgãos

    Músculos

    Rins

    Pele

    Tiróide

    Cérebro

    e sistema nervosoOlhos

    Articulações

    Fígado

    Aparelho genital

    Pele

    Músculos

    Tiróide

    Aparelho digestivo

    Cérebroe sistema nervoso

    Ossos

    Dentes

    Dentes

    Ossos

    Sangue

    Articulações

    Rins

    Sangue

    Olhos   Aparelho digestivo

    Aparelho genita

    Fígado

    Energia

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    P r o f D o m i n i q u e G r a n d j e a n

    para a saúde dos

    cães e dos gatos

    Tudo o que deve saber 

    NutrientesNutrientessobre

    o papel

    dos

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    Director artístico : Élise Langellier / Guy RollandCoordenação Editorial : Emmanuelle PasquierConcepção técnica : Diffomédia / ParisSupervisão : Pascale Pibot (Responsável das Edições Científicas)Contacto editorial : Marie-Laure Rémy-Néris

    Revisão Portuguesa: Eva Ramalho, Filipa Moreira Ilustrações : Diffomédia/Élise Langellier, Vincent Jacques, Éric Josié, Lucie SaugetFotografias capa : Y. Lanceau/RC et J.-P. Lenfant/RCFotografias pp 6 ; 7 ; 8 : Y. Lanceau/RC

    © 2006 Royal Canin© 2006 Aniwa SAS

    Editor Aniwa 10, rue du Colisée

    75008 - Pariswww.aniwa.com

    Depósito legal : 1° trimestre 2006Impressão : Diffo Print Italia 

    Qualquer representação ou reprodução, integral ou parcial realizada sem o consentimento do autor ou seus representantes legais é ilícita deacordo com as disposições do Código da Propriedade Intelectual (Art.L.112-4) e constitui uma contrafracção sancionada pelo Código Penal.

     Apenas são autorizadas (Art.L.112-4) as cópias ou reproduções estritamente reservadas à utilizada privada do reprodutor e que não se desti-nem a uma utilização colectiva, assim como análises e breves citações justificadas pelo carácter crítico, pedagógico ou informativo da obra da qual fazem parte sob reserva, no entanto, da observância das disposições contidas nos artigos L.122-10 a L122.12 do Código da Propriedade

    Intelectual relativo à reprodução por reprografia.

    ADVERTÊNCIA

    Esta obra cuja finalidade é proporcionar uma boa informação ao leitor,não deve ser utilizada como guia médico para substituir

    consultas e/ou intervenções dos Médicos Veterináriosque deverão ser sempre e regularmente consultados.

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    PrefácioNutrição-Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

    Os quatro objectivosda Nutrição-Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    O puzzle nutricional . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    A armadilha das designaçõese dos ingredientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

    As diferenças da fisiologia digestivaentre, o homem, o cão e o gato . . . . . . . 12

    Conhecê-los bempara respeitar a sua saúde . . . . . . . . . . . 14

    Os minerais 44Cálcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46Fósforo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

    Potássio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48Citrato de potássio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49Sódio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50Fosfatos de sódio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51Magnésio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52Oligoelementos quelados . . . . . . . . . . . . . . 53Zinco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54Ferro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55Manganésio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56Cobre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57Iodo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58Selénio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59Cobalto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

     As vitaminas 62Vitamina A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64Vitamina D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65Vitamina E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66Vitamina K . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67Tiamina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68Riboflavina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69Ácido pantoténico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

    Piridoxina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71Vitamina B12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72Niacina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73Biotina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74Ácido fólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75Colina-Inositol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76Vitamina C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

    Os glúcidos 16Amido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18Açúcares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19Fibras alimentares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20FOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21MOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22Mucilagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

    Os lípidos 24Ácidos gordos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26Ácidos gordos ómega 6 . . . . . . . . . . . . . . 27Ácido gama-linolénico (GLA) . . . . . . . . . . . 28Ácidos gordos ómega 3 . . . . . . . . . . . . . . . 29Ácido eicosapentaenóico (EPA) eácido docosahexaenóico (DHA) . . . . . . . . 30Ácidos gordos conjugados (CLA) . . . . . . . 31

    Os prótidos 32Aminoácidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34Aminoácidos essenciais . . . . . . . . . . . . . . . 35Aminoácidos sulfurados . . . . . . . . . . . . . . . 36Arginina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37Glutamina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38Lisina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Tirosina e fenilalanina . . . . . . . . . . . . . . . . . 40Taurina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41Aminoácidos de cadeia ramificada . . . . . . . 42Carnitina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    Os outros nutrientes 78Água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80Antioxidantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81Pigmentos carotenóides . . . . . . . . . . . . . . . 82Polifenóis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83Glucosamina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84Condroitina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85Green Lipped Mussel (GLM) . . . . . . . . . . . 86Ácidos de frutos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87Aloé vera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88Curcumina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89Probióticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90Zeólito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

    Sumário

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    Prefácio

    Habitualmente, um prefácio encoraja a leitura de uma obra em particular. Aqui, o meu propó-sito será um pouco diferente: recomendo também a leitura dos outros livros de DominiqueGrandjean. Ao ler Peter Singer e Tom Regan, os mentores filosóficos dos direitos dos ani-

    mais, surge a questão se eles compreendem mesmo os animais. Ao ler Charles Darwin, AlbertSchweizer e o próprio Dominique Grandjean, a empatia é imediata. Mesmo num pequeno livrocomo este, que resume as funções e as propriedades revitalizantes dos nutrientes, ou seja, os elementosessenciais dos alimentos, o desejo de ajudar os nossos cães, gatos e outras criaturas é manifesto. E issoé uma dádiva do autor, cuja vida é dedicada à amizade entre os seres humanos e os animais.

    Cada momento que dedicar a este livro é bem investido.Não pretendo aborrecê-lo com uma proclamação solene acerca dos excelentes conhecimentos doprofessor Grandjean, uma vez que existem mais quatro ou cinco especialistas do mesmo nível no

    mundo. Ele distingue-se por uma imaginação fértil, o que dá vida a estas páginas. Em alguns minutos,este pequeno livro ensinará mais à maioria dos leitores do que a maior parte das outras fontes sobrealimentação e saúde. Isso posso garantir.

    Permita-me confiar-lhe um segredo.Em 1989, quando o Conselho de Pesquisa Nacional Norte Americano definiu as necessidades ali-mentares dos cães em termos de energia, Royal Canin já tinha dado um passo em frente. De facto,para além de conceber os seus alimentos em função do seu aporte energético – e aqui intervémDominique Grandjean – todos os novos alimentos são dotados de uma quantidade de energia porquilograma cuidadosamente calculada, adaptada ao modo de vida do animal. Assim, cada produto

    possui uma densidade energética específica; o animal pode, assim, comer à sua vontade, sem engor-dar nem emagrecer, absorvendo a quantidade ideal de nutrientes. Este pequeno livro deve permitircompreender as funções de cada nutriente para, dessa forma, melhor adaptar a alimentação que será feita.

    Os veterinários conhecem bem os trabalhos clínicos do professor Grandjean sobre os regimes alimen-tares dos cães com afecções renais crónicas. A ideia prevalecente é que estes cães, a maior parte deles vel-hos e magros, deviam seguir uma dieta fraca em proteínas, com base nos conhecimentos adquiridos a partir dos ratos. Os testes realizados na Escola Veterinária de Alfort revelaram o contrário: estes cãesbeneficiavam mais com uma alimentação com um valor moderadamente elevado em proteínas, o que es-timula as funções renais enfraquecidas pelos alimentos com elevado teor proteico. Esta é mais uma prova 

    de que um melhor conhecimento dos nutrientes beneficia tanto os cães doentes como os saudáveis.

    Este livro é pequeno em tamanho, mas grande em conteúdo! Os textos e as ilustrações vão ensinar-lhetudo o que deseja saber sobre os nutrientes indicados para o seu animal e até mesmo para si.Vai permitir-lhe escolher acertadamente os alimentos para os seus cães e gatos.E não é essa a melhor forma de demonstrar que gostamos deles ?

    David Kronfeld “Paul Mellon distinto Professor”de Agricultura e Medicina Veterinária,Virginia Tech, Blacksburg 

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     A nutrição veterinária é a ciência que tem porobjectivo descobrir nutrientes essenciais e as suasrespectivas funções, em doses benéficas para oanimal, em função das quantidades ingeridas. A Nutrição é uma ciência dinâmica: o número de pu-blicações referenciadas sob as palavras-chave “Saúde”e “Nutrição” ascende a 2748 em 2005 contra 1331em 1995, no espaço de 10 anos!

     Assim, em cada ano são introduzidos novosalimentos, novas fórmulas nutricionais que, para alémdos nutrientes essenciais para a manutenção de umorganismo saudável, incorporam elementos naturaispara prevenir certos riscos de doenças e proteger oorganismo.

    Em 30 anos, os alimentos preparados pelosgrandes fabricantes de alimentos paraanimais de companhia fizeram evoluir

    positivamente a saúde dos nossos cães e dosnossos gatos.

    Calcula-se que, em 15 anos, os cães tenham ganhosensivelmente 3 anos em esperança de vida.

    Da simples “sobrevivência”, que contribuía com omínimo necessário para a manutenção da vida do ani-mal, passámos para a “alimentação”, o que setraduziu num animal mais belo e bastante maisactivo. Assim, surgiu a “Nutrição”. Esta nasceu doconhecimento mais aprofundado do funcionamentodo organismo e do estudo dos benefícios para a saúdeproporcionados pela Natureza (extractos vegetais, cer-tos minerais, diferentes qualidades de proteínas, etc.).

     Actualmente, é possível formular os alimentosem função de necessidades bem definidas, decarências bem identificadas que é preciso combatere de especificidades raciais descobertas a par e passocom os progressos de investigação.

    Da alimentação à Nutrição-SaúdeParâmetros considerados

    Anos 1970 Alimentação Necessidades energéticas (recomendações nutricionaisextrapoladas a partir de cães de raça Beagle)

    Anos 1980 NutriçãoIdade e actividade(importância da digestibilidade dos ingredientes)

    Anos 1990Nutrição de acordo

    com o tamanhoIdade, actividade, tamanho (estudo das diferençasfisiológicas entre as raças)

    Anos 2000 Nutrição-SaúdeInteresse de certos ingredientes para a saúde (nutracêuticos)Influência da raça

    SaúdeNutrição

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    Tanto os cientistas como as grandes marcas de ali-mentos comerciais já reconheceram que os cães nãodevem ser alimentados da mesma forma se foremcachorros, adultos ou idosos, e consoante sejam pe-quenos, médios, grandes ou gigantes.

    No caso dos gatos, hoje em dia é possívelestabelecer a diferença das necessidades nutricionaisconsoante a idade, mas também o modo de vida,as sensibilidades, a condição sexual e mesmo a

    raça (Persa, Maine Coon, Siamês, etc.). Estetratamento tem vindo a aumentar de dia para dia,permitindo evoluir a alimentação paraNutrição-Prevenção e, quando necessário,Nutrição-Saúde ou Nutrição-Tratamento,ao participar no tratamento de certasdoenças.

    Longe vai o tempo em que os cães eramalimentados com os restos das refeiçõese os gatos bebiam leite (de vaca, o que

    não está em concordância com as suasnecessidades!). Mas outro perigo espreita os nossos animais. Trata-se da tendência para o antropomorfismo.

     A proximidade (aparente) entre os nossos compa-nheiros de 4 patas e o ser humano leva-nos a crerque sabemos como “funcionam”. Mas reagir deforma antropomórfica é conhecer mal o seu animale esquecer que é um carnívoro. É projectar nele osnossos desejos, o nosso modo de vida, sem ter em

    conta as suas diferenças.O ser humano é omnívoro, dotado de paladar,aprecia a variedade e dá importância ao que lhe éapresentado no prato. Como tal, é normal pensar quese faz bem quando se dá ao gato ou ao cão uma ali-mentação semelhante à nossa. Trata-se de um errocrasso. Quase 10.000 anos de domesticação nãoforam suficientes para transformar estes carnívorosem omnívoros! O organismo destes carnívoros está di-mensionado de uma forma muito diferente do nosso.

    Mandíbulas concebidas para cortar e não paramastigar, sem pré-digestão pela saliva, um estômagodesproporcionado para digerir “presas” engolidas

    rapidamente, um tubo digestivo relativamente curto(tanto mais curto quanto maior for o animal), maladaptados à digestão da maioria doscereais… Eis o que caracteriza um cão ouum gato.

     Animais fundamentalmente activosretiram a energia de que necessitam dasmatérias gordas e não apresentam os pro-blemas de “colesterol” como os humanos,mas podem sofrer de obesidade (e das suas

    consequências graves: cardíacas, diabéticas,articulares, etc.), caso não se respeite uma alimentação e uma dosagem adaptadas.

    No caso do cão, a alimentação é um regulador decomportamento: o mesmo alimento, servido nomesmo comedouro, no mesmo local, à mesma hora,constitui uma garantia de equilíbrio psicológico. Ogato, pelo contrário, animal caçador individual, deveter livre acesso à sua alimentação, fazendo assim cerca 

    de uma dúzia de pequenas refeições durante o dia (e a noite).

    Torna-se mais fácil entender que é impossívelalimentar bem o seu animal se lhe for preparada uma alimentação semelhante à do homem, que para oanimal não deve ser excessivamente cozinhada, nemmuito rica em glúcidos, nem mal adaptada ao seumodo de vida ou à sua morfologia.

    O organismo

    destes carnívoros

    está dimensionado

    de uma forma

    muito diferente

    do nosso.

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    Passa-se o mesmo em relação a todos os pequenosprazeres que lhes oferecemos à imagem daquelesque também nos permitimos. Um pedaço dechocolate (em doses elevadas é um veneno para ocão!), um quadrado de açúcar, um pouco de queijo(30grama de Gruyère correspondem a 1/3

    das necessidades alimentares em energia de um cão de raça pequena!), um pedaçode pão, etc., todos estes pequenos “extras”desequilibram rapidamente uma dieta equilibrada por si. Estes desequilíbriospodem acarretar transtornos intestinais edegradar pouco a pouco a saúde do ani-mal. Estragar o seu cão ou gato commimos adquire assim um duplo sen-tido…

    Então, este livro terá com simples objec-tivo frustrar o leitor, impedindo-o de dar provas doseu afecto ao seu animal? É claro que não, bem pelocontrário! Mas o afecto votado a um animal não devedar origem a comportamentos alimentares contra-na-tura. Este guia pretende esclarecer o leitor sobre o quesão os nutrientes e a sua importância para o cão oupara o gato, bem como, acerca das verdadeiras fontesde bem-estar e saúde para o animal.

    Este esclarecimento revela-se cada vez maisnecessário, porque compreender a ciência da Nutriçãoimplica dedicar-lhe alguma atenção – e a saúde nãovalerá este pequeno investimento de tempo? É fun-damental porque ler os rótulos das embalagens nãodá uma visão clara da Nutrição. Codificadas por re-gulamentações administrativas,caracterizadas frequentemente pela exploração de pro- jecções de sentimentos e comportamentos humanos,as informações mencionadas nas embalagens e nossacos são, por vezes, difíceis de descodificar.

    É por este motivo que alguns “truques”facilitam a escolha da alimentação quemelhor se adapta às verdadeiras necessidadesde cada animal, truques que lhe fornece-mos a seguir, em resposta a perguntas quecolocam legitimamente inúmerosproprietários de animais de companhia.Quando se adopta um cão ou um gato,assume-se simultaneamente a responsabi-lidade pelo seu conforto de vida e pela sua 

    saúde. Esta responsabilidade implicatambém aprender a conhecê-los…verdadeiramente.Boa leitura, boas descobertas e não hesite em comu-nicar-nos as suas dúvidas para o site Internet:

    Alimentar oanimal diariamente

    com um alimento

    adaptado na sua

    composição em

    nutrientes ao

    seu tamanho,

    à sua idade

    e à sua condição

    fisiológica

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    objectivosOs quatro

    Impulsionado pela investigação veterinária e cientí-fica, o conceito tradicional de Nutrição, ou seja,construção, manutenção do organismo e fornecimentode energia, evoluiu para integrar progressivamente di-mensões preventivas e, em determinadas condições, te-rapêuticas. É o nascimento da Nutrição-Saúde.

    A Nutrição responde a quatro objectivos:

    Nutrição

    Saúde

    A NUTRIÇÃO: A NUTRIÇÃO/SAÚDE:

    1 - Construção e manutenção do organismo:Os aminoácidos, minerais, oligoelementos,vitaminas e ácidos gordos respondem às necessidadesnutricionais mínimas para a construção e manutençãodo organismo.

    2 - Fornecer energia:Os lípidos e glícidos são as principais fontes deenergia para o cão. O gato depende igualmentedas proteínas para o seu metabolismo energético.

    3 - Alimentar e prevenir:Certos nutrientes são integrados no alimento (antioxi-dantes, prebióticos, fibras, ácidos gordos essenciais,etc.), como prevenção de doenças, como afecções renais,problemas digestivos ou efeitos de envelhecimento, etc.)

    4 - Alimentar e cuidar:Para favorecer a cura de certas doenças, são incluídosnutrientes muito específicos, enquanto outros serãolimitados no alimento, para intervir nos processosterapêuticos e de convalescença.

     A abordagem nutricional é a realização concreta num único e mesmo alimento de um puzzle com-plexo, integrando em justas proporções cerca de cin-quenta nutrientes, necessários para o cumprimento

    dos quatro objectivos nutricionais e para responderàs verdadeiras necessidades precisas e específicas decada organismo.

     A abordagem “ingredientes” designa simplesmenteuma lista de elementos visíveis (ou seja, matérias pri-mas alimentares), que entram na composição de umalimento sem integrar a noção de equilíbrio entrenutrientes. Portanto, revela-se menos precisa e menosatenta às necessidades do animal.

    da

    8

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     puzzlenutricional

    O

    Preparar um alimento equilibrado é realizar umpuzzle complexo, constituído por cerca de cin-quenta peças, cada uma representando um nutrienteindispensável ao animal. O equilíbrio ideal é obtidoao jogar com a complementaridade dos ingredientesque, em proporções adequadas, representam cada um uma parte maior ou menor do puzzle.

    Exemplo 2:Aminoácidos

    essenciais

    Exemplo 1:Antioxidantes

    Etc.

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    Uma boa alimentação requer uma atençãoredobrada em relação aos NUTRIENTES(proteínas, minerais, vitaminas, lípidos,

     glúcidos), à sua dosagem, à diversidadede fontes, mais do que às DESIGNAÇÕESe aos INGREDIENTES (“com frango”,“com borrego”,“com salmão”…)

    4 a 5 %

    de proteínas

    25%

    de carne fresca

     A regulamentação obriga os fabricantes de alimen-tos a inscreverem os ingredientes por ordem decres-cente de peso, antes da preparação. Assim, a carne fresca ou certos ingredientes contendomuita água podem aparecer no topo da lista, dando a ilusão de serem a principal contribuição nutricional.Por exemplo, se tivermos em conta que a carnecontém 75% de água, a incorporação de 25% decarne de borrego antes da cozedura representa

    apenas 6 a 7% de proteínas de borrego no alimentoseco final. Imaginemos que este alimento comporta também 20% de milho, 20% de arroz, 15% de peixedesidratado, 10% de gordura de aves e 10% de óleovegetal. O fabricante poderá imprimir em destaque“Borrego” na lista dos ingredientes, mas os cereaisserão os principais ingredientes em termos quanti-tativos.

    Como é que um alimento com “25% de carne fresca”

    contém apenas 4 a 5% de proteínas?

    das

    =

    c ar n e   f re s c  a

    C r o quet e s

    p a r a cã o

    A

    designações

    ingredientese dos

    armadilha

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    1

    “contém…” menos de 4% do ingrediente indicado

    “com…” entre 4 e 14% do ingrediente indicado

    “rico em…” entre 14 e 26% do ingrediente indicado“pasta de…” entre 26 e 100% do ingrediente indicado

    “totalmente…” 100% do ingrediente indicado (o que exclui a hipótese do alimento ser equilibrado!)

     Assim, um alimento pode ser formulado com,por exemplo, 4% de frango, 4% de borrego e 4% devaca, entre outros ingredientes, e ter trêsdesignações diferentes:

    “com vaca”, “com borrego”, “com frango”. E haverá sempre alguém a dizer que o seu animal prefere oalimento com borrego, embora o conteúdo seja exac-tamente o mesmo que o do alimento com frango!!!

    Todas as designações/ingredientes estão regulamentados

    O mesmo alimento: três designações diferentes possíveis

     A qualidade de um alimento é avaliada a vários níveis:- a curto prazo: pela sua apetência e a sua

    tolerância digestiva - a médio prazo: a nível da evolução do estado de cor-

    pulência do animal e sobre a qualidade da sua pela-gem

    - a longo prazo: da saúde do animal ao longo do tempo,o seu desempenho desportivo ou reprodução.

     A qualidade de um alimento é avaliada, emprimeiro lugar, pela qualidade dos ingredientes queo compõem. Ingredientes muito digeríveis, com

    todos os nutrientes de que o animal necessita, cons-tituem a base de uma formulação bem conseguida.Otrabalho do formulador consiste em associar os

    diferentes ingredientes nas proporções que respeitamas exigências nutricionais e tecnológicas. Por fim, a qualidade depende das condições de preparação earmazenamento do alimento.

    Um alimento de qualidade é o resultado da conjunçãode vários factores diferentes.

    Como avaliar a qualidade de um alimento?

    ==

    Alimento

    “com vaca”

    4% de vaca

    Alimento

    “com borrego”

    4% de borrego

    Alimento

    “com frango”

    4% de frango

    4 %   4 %   4 %

    Os mesmos ingredientes... os mesmos alimentos... mas 3 designações e 3 embalagens diferentes!!

    C  r o q ue t es

    I ng r e d i e nt e s

    V a ca Frang o   B o r r e g 

     o

    p a r a  c  ã o

    C o m  v a c

     a

    C  r o q ue t es

    I ng r e d i e nt e s

    V a ca Frang o   B o r r e g 

     o

    p a r a  c  ã o

    Com bo r r e g o

    C  r o q ue t es

    I ng r e d i e nt e s

    V a ca Frang o   B o r r e g  o

    p a r a  c  ã o

    C o m  f  r a n g o

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    Peso do tubo digestivo 10 a 12%proporcionalmente ao peso corporal

    Superfície da mucosa olfactiva 3 a 1 0 c m2

    Células olfactivas 2 a 10 milhões

    Papilas gustativas 9 000 papilas

    Dentição 32 dentes

    Mastigação prolongada Enzimas digestivas salivares SIM

    Duração da ingestão alimentar  30 a 60 minutos

    Necessidades energéticas diárias 1800 a 2500 kcal/dia 

    pH do estômago 2 a 4

    Comprimento do intestino delgado 6 a 6 , 5 m

    Comprimento do intestino grosso 1,5 m

    Duração média do trânsito intestinal 3 dias

    Doses recomendadas de glúcidos na idade adulta 60 a 65% de matéria seca 

    Doses recomendadas de proteínas na idade adulta 8 a 12% de matéria seca 

    Doses recomendadas de lípidos na idade adulta 25 a 30% de matéria seca 

    Regime alimentar omnívoro

    diferenças

    homemcão gato

    entre o

    o

    e o

    As

    fisiológicas digestivas

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    Um cão não é um homem,

    e um gato não é um cão pequeno!!!

    Diferenças fundamentais em termos fisiológicos e

    de regime alimentar fazem com que cada uma dasespécies possua necessidades nutricionais específi-cas. Para além disso, não se alimenta da mesma forma um cão de raça pequena e um cão de raça gi-

    gante, nem um gato Persa e um Singapura! Portanto,

    é necessário por de lado os nossos reflexos antro-pormóficos, que são prejudiciais à saúde dosnossos animais ! A tabela seguinte explica algumasdestas diferenças.

    2,7% para um cão gigante 2,8 a 3,5%e 7% para um cão pequeno

    60 a 200 cm2 20 cm2

    80 a 220 milhões 60 a 70 milhões

    1.700 papilas 500 papilas

    42 dentes 30 dentes

    muito reduzida sem mastigação

    NÃO NÃO

    1 a 5 minutos pequenas refeições múltiplas

    130 a 3500 kcal/dia 200 a 300 kcal/dia  

    1 a 2 1 a 2

    2 a 6 m 1 a 1,7 m

    20 a 80 cm 20 a 40 cm

    24 a 48 horas 24 a 36 horas

    muito baixa muito baixa  

    20 a 40% de matéria seca 25 a 40% de matéria seca  

    10 a 65% de matéria seca 15 a 45% de matéria seca  

    semi-carnívoro estritamente carnívoro

    1

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    1. 42 dentes no cão;as fortes mandíbulaspermitem rasgar e nãomastigar.

    2.Com poucas papilasgustativas, o cão épouco apreciador de

    sabores.

    3. Sem enzimas diges-tivas na saliva (sempré-digestão).

    5.  A acidez do estô-mago é bem maiselevada do que a doestômago dos homens(digere ossos e luta contra as bactériasnefastas ingeridas).

    6. O comprimento dointestino delgado varia entre 2 e 6 m, consoanteo tamanho do cão. A duração do trânsito nointestino delgado é decerca de 2 horas apenas.

    7. O trânsito no intes-tino grosso é muitolento, mesmo este sendocurto (20 a 80 cm).É neste órgão que têmlugar as fermentaçõesdos alimentos não dige-ridos.

    bemsaúdea suarespeitar 

    Os cães e os gatos

    são carnívoros

    e o organismo deles está adaptado

    a este tipo de alimentação.

    4. O estômago podecomportar um grandevolume, até 8 litrosnum cão gigante (adap-tado a refeições volu-mosas).

    para

    Conhecê-los

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    O animal ingere

    a sua refeição sem a saborear Os alimentos chegamao estômago em grandes pedaços A digestão é rápida e os alimentosnão adaptados ao regime carnívorosão rejeitados em grandes proporções

    3. Sem enzimas diges-tivas na saliva (sem pré-digestão).

    4. Ao contrário do cão,o gato faz múltiplaspequenas refeições aolongo do dia.

    5.O estômago do gato(tal como o do cão)contém 6 vezes mais deácido clorídrico do queo do homem.

    6.O intestino delgadodo gato está bem adap-tado para digerir proteí-nas e matérias gordas,sendo menos eficientena digestão do amidopresente nos cereais.

    7. O trânsito no intes-tino grosso é muitolento (20 horas, pelomenos), mesmo estesendo curto (20 a 40cm). É neste órgão que éfeita a fermentação dosalimentos não-digeridos.

    2. O gato possui ainda menos papilas gustati-

     vas do que o cão. Elenão é sensível ao saboraçucarado.

    1. 30 dentes no gato,todos incisivos.

    1

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     l e v e d u r a

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    ob a designação glúcidos estão rea-grupadas moléculas compostas decarbono, oxigénio e hidrogénio,

    que têm certas características químicas

    em comum. Os glúcidos pertencemsobretudo ao reino vegetal, comexcepção da glucose sanguínea, doglicogénio dos músculos e do fígado,e dalactose do leite.

    Todos os vegetais contêm glúcidos,desde a sacarose da beterraba às fibrasmais indigeríveis da casca das árvores.

    Os glúcidos

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    O gato e o cão poderiam viver semglúcidos na sua alimentação, já quesintetizam a glucose necessária para ascélulas a partir dos aminoácidos.É igual-mente um facto que o funcionamentodo organismo é consideravelmentefavorecido pelo contributo dos glúcidos.

    Embora a glucose, a sacarose, a lactoseou os amidos não tenham outra funçãopara além de fornecer energia, a suaorigem vegetal ou o seu grau de coze-dura influenciam o processo digestivo.A presença de amido mal cozido nosalimentos pode desencadear diarreia.As fibras, também pertencentes aosglúcidos, desempenham um papelimportante para o trânsito e o equilíbrioda flora bacteriana; é o caso, por exem-plo, dos fruto-oligossacarídeos (FOS)e dos mano-oligossacarídeos (MOS).

    tubo digestivo

    glucose

    frutosegalactose

    amido

    sacaroselactose

    glucoseglucose

    Os amidos, a lactose e a sacarose são digeridospelas enzimas da bordadura em escova do intes-tino delgado.As moléculas simples de glucose,frutose e galactose entram, de seguida, na circu-lação sanguínea.

    galactosefrutose

    sangue

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    18 Fonte de energia - Risco de diarreia se administrado cru ou em excesso

    Amidotambém denominados:

    Féculas

    Uma breve informaçãoOs amidos são moléculas de glúcidos nas quais seinterligam milhares de moléculas de glucose atravésde ligações químicas simples.

    Funções desempenhadas no organismoOs amidos servem apenas para fornecer energia aoanimal, após degradação na digestão, para que asmoléculas de glucose sejam progressivamente ab-sorvidas pelo intestino.

    Fontes naturaisSão substâncias de reserva (equivalentes às gordu-ras nos animais), existentes nos vegetais: grãos decereais (arroz, milho, trigo, cevada, etc), batata oumandioca. O amido representa 50 a 70% dos grãos

    de cereais.Nos alimentos secos, o amido dos cereais permiteobter a estrutura alveolar típica dos croquetes (ex-pansão).

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    Para ser digerido pelo cão ou pelo gato, o amido tem de estar muito cozido; caso contrário, podedesencadear diarreia aguda, ao fermentar no intestino grosso. Um excesso quantitativo podeinduzir o mesmo fenómeno, quando as capacidades de digestão enzimática são ultrapassadas , situa-ção frequente nos cães e gatos de raças nórdicas.

    águaamido emexcesso ou cru

    amido cozido

    glucose

    diarreia

    G L Ú C I D O S

    sangue

    O amido é decomposto emmoléculas de glucose atravésdas enzimas (amilases)

    segredadas pelo pâncrease pelas células digestivas dointestino delgado.

    Quando o amido está em

    excesso ou mal cozido, a suadigestão é incompleta.As moléculas de amido nãodigeridas fermentam nointestino grosso, promovendoa entrada de água no intestino.

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    Fonte de energia - Riscos de diarreia e de obesidade

    Açúcarestambém denominados:

    Glúcidos simples, di e trissacarídeos

    Uma breve informação“Açúcar” na linguagem corrente refere-se àspropriedades adoçantes, em termos de sabor, deglúcidos como a sacarose ou a frutose. Sem outroqualificativo, este termo designa a sacarose (açúcarde beterraba e de cana), mas também pode corres-ponder à glucose (açúcar da uva), à frutose (açúcar

    da fruta) ou à lactose (açúcar do leite).O gato, ao contrário do cão, é muito pouco sensí-vel ao sabor açucarado.

    Funções desempenhadas no organismoEnquanto a lactose constitui um aporte energéticoimediato no cachorro e no gatinho não desmama-

    dos, pois requer a enzima digestiva lactase para serassimilada; a lactase desaparece assim que o animaldeixa de consumir leite. Atendendo a que estes ani-mais deixam de ser sensíveis ao paladar “doce”, epodendo sintetizar de forma autónoma a sua glu-cose sanguínea a partir das proteínas, os açúcaresdeixam de ter interesse nutricional no cão e no gato.

    Fontes naturaisOs açúcares são formas simples de reserva energé-tica para a maioria das plantas com frutos, bagas,raízes ou tubérculos. A única fonte deste tipoencontrada no organismo animal é a lactose do leite.

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    Os açúcares não representam nenhum papel preventivo ou curativo para a saúde do cão ou do gato.Quando incorporados em excesso no alimento,podem estar na origem do desenvolvimento da obesidadeou da diabetes mellitus.

    G L Ú C I D O S

    tubo digestivo

    sacarose lactose

    frutose

    glucose

    galactose

    A lactose e a sacarosesão digeridas pelas

    enzimas da bordaduraem escova do intestinodelgado.As moléculassimples de glucose,frutose e galactosepassam, de seguida,paraa circulação sanguínea.

    sangue

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    Uma breve informação A celulose é uma molécula muito grande, composta por milhares de unidades de glucose ligadas entresi por ligações químicas mais sólidas do que asencontradas no amido. Contudo, a celulose repre-senta apenas uma parte das fibras totais encontradasnos alimentos. As fibras alimentares agrupam, de

    facto, outras substâncias vegetais fibrosas, solúveis ouinsolúveis: hemiceluloses, pectinas, lenhina, fibrasoligossacarídicas. A celulose sozinha não tem umgrande valor nutricional, mesmo se a “celulose bruta”fizer parte das análises declaradas nos rótulos.

    Funções desempenhadas no organismoO papel das fibras no organismo depende da sua na-tureza. As fibras indigeríveis e insolúveis (celulosepura, lenhina) desempenham um papel de lastro nointestino, permitindo o seu funcionamento mecâ-

    nico, estimulando os movimentos de contracção(peristaltismo). As fibras solúveis podem desem-penhar um papel importante na saúde e no equilí-brio do ecossistema do tubo digestivo (FOS, MOS).Um aporte equilibrado de fibras é importante para favorecer a saciedade em animais com tendência para a obesidade. É também importante em gatos se-

    dentários, que apresentam maior predisposição para a formação de bolas de pêlo.

    Fontes naturais As fibras constituem os elementos de suporte dasplantas, uma espécie de esqueleto externo que lhesconfere a sua forma. Assim, compreendemos me-lhor a grande diversidade das moléculas agrupadas ar-tificialmente sob o termo “fibras”; basta, por exem-plo, comparar um tronco de árvore a uma cenoura ou um feijão verde.

    Equilíbrio, saúde e funcionamento do tubo digestivo

    Fibras alimentarestambém denominadas:

    Fibra alimentar total  (FAT)

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    Os progressos recentes no conhecimento dos componentes das fibras dos alimentos permitem,atendendo à qualidade e ao teor incorporado no alimento, prevenir ou tratar doenças como aobesidade, a diabetes mellitus, a obstipação, a diarreia, etc.

    G L Ú C I D O S

     l e v e d u r a

    O trânsito intestinal deveser suficientemente lentopara permitir a absorçãodos nutrientes,mas sufi-cientemente rápido para

    evitar a obstipação.As fibras alimentaresestimulam o trânsito

    intestinal

    nutrientes

    fibras alimentares

    trânsito digestivo

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    Prevenção de diarreias infecciosas - Saúde intestinal

    FOStambém denominados:

    Fruto-oligossacarídeos, prebióticos

    Uma breve informaçãoOs fruto-oligossacarídeos, ou FOS, são fibras fer-mentescíveis. Não digeridas, são rapidamente fer-mentadas pelas bactérias presentes no cólon, o queconduz à produção de ácidos gordos de cadeia curta (denominados ácidos gordos voláteis), que:- acidificam o meio intestinal;- constituem nutrientes privilegiados para a manu-

    tenção e a renovação das células;- revestem as paredes do intestino grosso.

    Funções desempenhadas no organismoDevido à sua fermentação, os FOS permitem ali-mentar directamente as células do intestino grosso.Mas favorecem sobretudo a o desenvolvimento deuma flora bacteriana específica (bifidos e lactobacilos),cujos efeitos benéficos sobre a saúde do tubo diges-

    tivo são bem conhecidos:

    - inibição do crescimento de “bactérias más” (oubactérias patogénicas);

    - melhoria da digestão e da absorção dos nutrientes.Um suplemento de FOS na alimentação de cadelasreprodutoras permite aumentar o teor de anticor-pos (IgM) presentes no leite, o que favorece uma boa imunidade dos cachorros.

    Fontes naturais A síntese dos FOS é realizada por um cogumelo( Aspergillus nigricans ) em presença de açúcar. O açú-car, ou sacarose, é composto pela associação de uma molécula de glucose e uma molécula de frutose. Ocogumelo segrega uma enzima que permite aadição de moléculas de frutose suplementares para formar os FOS.

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    A incorporação de FOS no alimento permite, ao mesmo tempo, prevenir as diarreias infecciosas cau-sadas pela proliferação de bactérias patogénicas no intestino e alimentar convenientemente as célu-las do cólon, a fim de facilitar a sua renovação regular.

    sem FOS

    com FOS

    G L Ú C I D O S

    bactérias “boas”

    bactérias “más”

    FOS

    trânsito digestivo

    Os FOS servem desubstrato de desenvolvimentopara bactérias favoráveis àsaúde do tubo digestivo.

     Aspergillus

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    22 Prevenção de diarreias – Melhoria das defesas imunitárias

    MOStambém denominados:Mano-oligossacarídeos

    Uma breve informaçãoOs mano-oligossacarídeos pertencem à grandecategoria das fibras e, como tal, são glúcidos nãodigeridos pelo animal. Tal como os FOS, possuemuma acção benéfica face às bactérias patogénicas quepovoam o lúmen intestinal, mas com um modo de

    acção diferente. Estes são compostos por dois açú-cares: a glucose e a manose.

    Funções desempenhadas no organismoEstas fibras de leveduras exercem dois tipos deacções benéficas ao nível do tubo digestivo:- limitam o desenvolvimento das bactérias patogé-

    nicas, impedindo-as de se fixarem na mucosa dointestino;

    - melhoram directamente a eficácia das defesas imu-nitárias do organismo, permitindo uma defesa maiseficiente contra os agentes patogénicos.

    Fontes naturaisOs MOS são fibras provenientes da parede dasleveduras.

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    Os MOS participam no equilíbrio do ecossistema bacteriano do intestino e agem directae indirectamente sobre a saúde do tubo digestivo. Por conseguinte,têm uma acção preventiva de diar-reias e doenças infecciosas de origem digestiva.

    bactérias “boas”

    bactérias “más”

    MOStrânsito digestivo

    As bactériaspatogénicas nãose podem fixar

    à parede intestinal

    A mucosa intestinalreforça a sua imunidade

    sem MOS

    com MOS

    G L Ú C I D O S

     l e v e d u r a

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    2

    MucilagensExemplos: fibras de psyllium , mucilagens, etc.

    G L Ú C I D O S

    Uma breve informação As sementes de psyllium são uma fonte muito in-teressante de mucilagens. O psyllium vem da pala-vra grega “psyllia”, que significa pulga: os grãos, pre-tos ou louros consoante as espécies, assemelham-se,de facto, a pulgas minúsculas, os psílios. O psylliumé muito utilizado na alimentação dos cães de trenó,

    para prevenir as diarreias de stress.

    Funções desempenhadas no organismo As mucilagens que compõem a casca das sementesde psyllium têm uma grande capacidade de reten-ção de água. Estas aumentam de volume, fixando a água e criando um gel que aumenta a viscosidadedo conteúdo intestinal (quimo).

    O psyllium é um factor de melhoria do trânsito di-gestivo.O psyllium actua contra a obstipação. Esta éa sua principal indicação em medicina humana. A progressão das matérias fecais no cólon é mais re-gular e a lubrificação induzida pelo gel de psylliumfacilita a eliminação fecal.

    Fontes naturais As diferentes espécies de psyllium (Plantago ovata,Plantago ispaghula ) são plantas originárias da Índia.

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    As mucilagens são fibras solúveis em água que são utilizadas para tratar os problemas do trânsitodigestivo. Regulam o trânsito intestinal e facilitam a eliminação fecal.

    Prevenção dos problemas do trânsito digestivo: diarreia e obstipação

    As fibras da casca dassementes de psylliumcomportam-se comouma esponja: fixam aágua e regularizam o

    trânsito intestinal.

    nutrientes

    água livre

    sementes de psylliumnuma película de ág

    trânsito digestivo

    risco de diarreia

    menor risco de diarreia

    Psyllium

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    26/9524

    Os lípidos

    Os cães (mais do que os gatos)

    são naturalmente atraídos pelosalimentos ricos em

    lípidos, mas estes devem ser limitados se

    os animais tiverem pouca actividade física.

    Na ausência de uma restrição,o excessode lípidos conduz à obesidade.Em contra-partida, não é possível viver sem lípidos,pois são fonte de energia e ácidos gordos

    essenciais.Os lípidos constituem uma família desubstâncias orgânicas, mais conhecidaspor matérias gordas.

    Os ácidos gordos e o glicerol, consti-

    tuintes dos triglicerídeos, são os ele-mentos predominantes. Os lípidospodem ser simples (triglicerídeos,ceras)ou complexos (encerrando inúmerosoutros elementos).As membranas ce-lulares são compostas,por exemplo,porfosfolípidos.

    As gorduras são a fonte energética de

    eleição para o organismo do cão ou dogato, que através da oxidação (graçasao oxigénio) obtém a energia de quenecessita.

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    Um grama de lípidos representa cercade 9kcal de energia metabolizável, ouseja,2 vezes e meia mais que 1g de glú-

    cidos ou proteínas.Certos ácidos gordos (ditos essenciais)também desempenham funções estru-turais para a célula,outros são precur-sores de certas hormonas.

    As fontes de lípidos alimentares sãotodos os alimentos ricos em gordurasanimais (manteiga, sebo, banha, ovos,

    gordura de aves, óleos de peixe) evegetais (óleos, grãos oleaginosos).

    fígado vesículabiliar

    sanguelinfa

    pâncreas

    lúmen

    intestinal

    mucosaintestinal

    paredeepitelial

    glicerol livre

    lipase pancreática

    monoglicerídeo

    triglicerídeo

    ácido biliar

    No intestino, as matériasgordas alimentares sãoemulsionadas pelos ácidosbiliares e digeridas pelas

    enzimas pancreáticas (lipases).A seguir, os ácidos gordos sãoabsorvidos para a circulaçãosanguínea ou linfática.

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    Fornecimento de energia - Fontes de ácidos gordos essenciais

    Ácidos gordos

    Uma breve informaçãoOs ácidos gordos são os principais constituintes dos lí-pidos. Estes caracterizam-se pelo número de átomosde carbono que os compõem (falamos de ácidos gor-dos de cadeia curta, média ou longa). Estes podem

    ser saturados (sem ligação química entre 2 carbonos)ou insaturados (comportando 1 a 6 duplas ligações).Estes últimos são mais frágeis, sujeitos à rancificação.

     Alguns são designados ácidos gordos essenciais, porquesão indispensáveis para o organismo e devem estar im-perativamente presentes na alimentação.

    Funções desempenhadas no organismoOs ácidos gordos saturados são apenas fontes deenergia (falamos de calorias “vazias”, porque nãotêm outra função). Os ácidos gordos saturados de ca-

    deia curta (6 a 10 átomos de carbono) são muito

    interessantes para o fornecimento rápido de ener-gia aos cães de desporto, bem como ao animal dia-bético, ao cachorro ou gatinho recém-nascido.Os ácidos gordos polinsaturados têm papéis estru-turais (nas membranas ou nas lipoproteínas do

    sangue). Entre eles, os ácidos gordos precursores dasséries ómega 3 e ómega 6 têm funçõesessenciais e não podem ser sintetizados pelo orga-nismo.

    Fontes naturaisSão as mesmas que as dos lípidos: óleos e gorduras,vegetais ou animais. Quanto mais um alimentocontiver ácidos gordos insaturados, maior a impor-tância da protecção contra a oxidação (é necessárioo aumento do nível de antioxidantes, como a vita-

    mina E).

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    Os ácidos gordos polinsaturados, abundantes nos óleos alimentares, alteram-se sob o efeito dooxigénio, do calor e da luz. Este fenómeno, chamado rancificação, pode tornar-se perigoso, devido àformação de compostos complexos (hidroperóxidos). É por isso que é indispensável adicionarantioxidantes a um alimento.

    L Í P I D O S

    ácidos gordosde cadeia curta:

    energia (desporto)

    ácidos gordos essenciais:substâncias hormonais

    ácidos gordos saturados de cadeialonga : energia (manutenção),armazenamento no tecido adiposo

    óleoóleo

    ácidos gordos polinsaturados de cadeia

    longa: energia + estrutura da membrana

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    Ácidos gordos essenciais - Saúde da pele – Beleza do pêlo – Reprodução

    Ácidos gordos ómega 6

    Uma breve informaçãoOs ácidos gordos, ditos da série “ómega 6”, sãoácidos gordos biologicamente indispensáveis e quederivam todos de um ácido gordo essencial contendo18 átomos de carbono e 2 duplas ligações quími-cas, denominado ácido linoleico. A partir desteúltimo, derivam dois outros ácidos gordos de ca-deia longa, chamados GLA (ácido gama linolénico)e ácido araquidónico.

    Funções desempenhadas no organismoIndispensáveis à síntese de prostaglandinas, molé-culas de actividade hormonal, os ácidos

    gordos ómega 6 agem sobre a saúde da pele e sobrea qualidade do pêlo, bem como sobre o sistema re-produtivo do animal.

    Fontes naturais

    Os óleos vegetais são, geralmente, ricos em ácidosgordos ómega 6. Mas algumas gorduras animais in-saturadas, como as gorduras de porco ou, sobretudo,de aves, são igualmente fonte de grandes quanti-dades de ácido linoleico (mais de 20% na gordura de aves). Em contrapartida, as gorduras de vaca (banha, manteiga) contêm muito pouco.

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    O fornecimento de ácido linoleico é indispensável para a síntese das membranas celulares. Umacarência provoca o aparecimento de pêlo baço, seco e quebradiço.Também afecta a integridade dabarreira cutânea: a pele torna-se mais sensível à desidratação e às infecções.

    L Í P I D O S

    óleo

    pelefunção de

    reprodução

    ómega 6óleos vegetais

    e certas gordurasanimais

    insaturadassaúde da pele e

    qualidade do pêlo

    prostaglandinas

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    Saúde, flexibilidade e elasticidade da pele

    Ácidogama-linolénico

    também denominado: GLA

    Uma breve informaçãoO GLA é utilizado em cosmética, nos produtos quevisam regenerar a flexibilidade e a elasticidade da pele. É particularmente indicado em caso dedesidratação cutânea ou produção excessiva de sebo(seborreia).

    Funções desempenhadas no organismo A incorporação de GLA no alimento favorece a sua integração nos tecidos: no fígado, nos glóbulos ver-melhos, nas paredes das veias, etc. Os ácidos gordosinsaturados, como o GLA, permitem manter a flui-dez das membranas celulares, qualidadeessencial para realizar as trocas vitais entre células.Um suplemento de GLA favorece o aumento da pro-dução de hormonas, as prostaglandinas de tipo 1,

    cujos efeitos anti-inflamatórios são bem conhecidos.

    Esta produção é feita dependendo da síntese de ou-tras prostaglandinas, as prostaglandinas de tipo 2,que têm um efeito pro-inflamatório.

    Fontes naturaisO GLA é um ácido gordo insaturado da família ómega-6 (C18: 3). É obtido a partir do ácido lino-leico. No gato, a síntese de GLA a partir do ácido li-noleico é uma etapa delicada, porque a enzimaresponsável por esta transformação tem uma activi-dade muito fraca. Os únicos óleos que contêm uma boa quantidade de GLA são o óleo de borragem, oóleo de onagra e o óleo de groselha preta. Entre estes,é o óleo de borragem o mais rico (> 20%).

    SAÚDE/PREVENÇÃOO ácido gama-linolénico (GLA) apresenta uma função significativa no combate todos os problemas deorigem inflamatória, em particular em afecções dermatológicas. Os efeitos positivos são particular-mente claros nos animais que apresentam reacções alérgicas.

    L Í P I D O S

    A borragem (Borago officinalis) é umaplanta originária da Ásia.O óleo éobtido por prensagem das sementes.

    ácido linoleico

    ácido gama-linolénico

    ácido araquidónico

    óleo deborragem

    beleza do pêlo

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    Ácidos gordos essenciais- acção anti-inflamatória- oxigenação das células- esforço físico

    Ácidos gordos ómega 3

    Uma breve informaçãoOs ácidos gordos ómega 3 constituem uma famí-lia particular no seio da categoria dos ácidos gordospolinsaturados. Esta família deriva de um ácidogordo, constituído por 18 átomos de carbono e 3ligações duplas químicas, denominado ácido alfa-linolénico (ALA). Deste último, derivam 2 outrosácidos gordos mais longos, mas muito importantes,designados EPA (ácido eicosapentaenóico) e DHA (ácido docosahexaenóico).

    Funções desempenhadas no organismo As funções dos ácidos gordos ómega 3 são inúmeras:- papel anti-inflamatório, inibindo a síntese de cer-

    tos mediadores químicos da inflamação;- melhoria do desempenho desportivo e da oxige-

    nação cerebral (no caso do animal idoso);- melhoria das capacidades de aprendizagem no

    animal jovem.

    Fontes naturaisCertos óleos vegetais (linho, colza, soja) contêm uma quantidade significativa de ALA, precursor de EPA e deDHA. Em contrapartida, estes últimos só se encontramde forma concentrada nos óleos de peixe. (em propor-ções diferentes, de acordo com o tipo de peixe) e nasalgas.

    SAÚDE/PREVENÇÃOPara além do seu papel biológico, os ácidos gordos ómega 3 são utilizados na alimentação de cães dedesporto, de cães e gatos idosos, de animais com doenças inflamatórias crónicas(osteoartrite, insuficiência renal crónica, diarreias inflamatórias, doenças de pele).

    L Í P I D O S

    Maturação do sistemanervoso no animal jovem e

    luta contra o envelhecimentocerebral no animal idoso

    ómega 3óleos de peixe

    intestino   articulações

    peleesforço (muscular)   rim

    papel anti-inflamatóriooxigenação

    celular 

    óleo

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    EPA e DHAtambém denominados: ácido eicosapentaenóico

    e ácido docosahexaenóico

    Uma breve informaçãoO DHA é, por vezes, chamado ácido cervónico,

    porque o cérebro é o órgão que o contém em maiorquantidade. Os carnívoros selvagens, em particularos felinos, consomem DHA ao comerem o cérebrodas suas presas.

    Funções desempenhadas no organismoPresentes no leite materno, o EPA e o DHA sãoindispensáveis ao desenvolvimento cerebral eda retina dos embriões e do feto. A maturidade dosistema nervoso no animal jovem é tão maiorquanto mais elevada for a concentração em DHA 

    no leite materno.

    Fontes naturais

    Os ácidos gordos ómega 3 de cadeia longa encon-tram-se sob forma concentrada nos óleos de peixesgordos de mares frios (ex.: salmão, cavala, solha,arenque, capelim, etc.).O EPA e o DHA estão presentes no fitoplâncton e nasalgas unicelulares. Ao longo da cadeia alimentar, estesconcentram-se no tecido adiposo dos peixes.

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    Os ácidos gordos ómega 3 de cadeia longa (EPA e DHA) são especialmente conhecidos pelo seu papelanti-inflamatório. Suplementar o alimento com EPA e DHA apresenta,além disso, outros interesses:- protecção das funções cardíaca e renal (papel na fluidificação do sangue e acção hipotensora);- possível contribuição na diminuição do risco tumoral.Os EPA e DHA estão presentes em grandes quantidades na retina:um aporte suplementar durante a ges-tação e primeiras semanas de vida aumenta a acuidade visual dos animais.

    L Í P I D O S

    óleo

    Ácidos gordos essenciais - Acção anti-inflamatória - Oxigenação das células - Esforço físico

    retinasistema nervoso

    renovação dascélulas neurais

    DHA

    EPA

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    Ácidos gordos - Prevenção da obesidade

    Ácidos gordosconjugados

    também denominados: CLA

    Uma breve informaçãoNo ser humano, o CLA não faz diminuir o peso corporalde pacientes obesos, mas permite aumentar a massa magra (os músculos) à custa da massa gorda (ou tecido adiposo).O CLA apresenta igualmente um efeito positivo na com-posição corporal de cães alimentados à descrição.

    Funções desempenhadas no organismo A acção anti-adiposa do CLA deve-se a um efeitona regulação do metabolismo da glucose e dos áci-dos gordos nas células do tecido adiposo. Os dife-rentes isómeros de CLA foram largamente estuda-dos devido a outras propriedades potencialmentebenéficas: efeitos sobre o cancro, a aterosclerose, a função imunitária e a diabetes mellitus .

    Fontes naturaisO CLA encontra-se nos ingredientes de origem ani-mal, como os produtos lácteos, as carnes e as gor-duras. Estes são sintetizados no rúmen de herbívo-ros por certos microrganismos. Em contrapartida,no cão, a produção de CLA pelas bactérias intesti-

    nais é muito reduzida. A incorporação de CLA noalimento é feita através de formas sintéticas.

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    Os ácidos gordos conjugados derivados do ácido linoleico ou CLA (ácido linoleico conjugado) foramestudados no âmbito da luta contra a obesidade.Uma forma particular de CLA (ou isómero) previne,de facto, a acumulação de triglicerídeos nas culturas de adipócitos.

    L Í P I D O S

    Em relação ao ácido linoleico,o ácidolinoleico conjugado ou CLA distingue-sepelo posicionamento de ligações duplasque não são separadas.

  • 8/15/2019 Livro Dos Nutrientes Animais

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    Ogato e o cão têm necessi-dades proteicas consideráveis.Certos estados fisiológicossão mais exigentes do que outros,porque os fenómenos de construçãoou renovação são mais importantes:

    crescimento,gestação,lactação,esforçofísico.

    As proteínas são moléculas constituí-das por aminoácidos organizados numacadeia de ordem predefinida e que de-termina a sua natureza e as suas fun-ções.

    Os aminoácidos, provenientes dadegradação das proteínas alimentaresno tubo digestivo, são utilizadospara a síntese pelo organismo dasproteínas que lhe são necessáriaspara construir ou renovar os seus

    órgãos ou estruturas, veicular certasmoléculas (proteínas de transporte),enviar mensagens de um órgão paraoutro (hormonas), lutar contra doen-ças (anticorpos), etc.

    Os prótidos

  • 8/15/2019 Livro Dos Nutrientes Animais

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    lúmen

    intestinal 

    bordaduraem escova

    mucosa

    intestinal 

    absorçãoprogressivados aminoácidos

    construção

    enzimas (proteases)

    renovação

    transporte

    mensagem

    imunidade

    sangue

    As proteínas encontram-se em grandequantidade nos produtos animais(carnes,peixes,ovos,produtos lácteos)ou certos produtos vegetais (glúten

    de cereais, lentilhas, ervilhas, soja, leve-duras, etc.). Os cereais incluídos nacomposição de um alimento para cãoou gato contribuem também para ofornecimento de proteínas.

    proteína:cadeia deaminoácidos

  • 8/15/2019 Livro Dos Nutrientes Animais

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    Elementos constituintes de uma proteína

    Aminoácidos

    Funções desempenhadas no organismoOs aminoácidos provenientes das proteínas ali-mentares são os elementos constituintes de todas asproteínas sintetizadas pelo organismo para o seufuncionamento vital e as suas funções fisiológicas.

    Fontes naturaisQualquer proteína alimentar, de origem animalou vegetal, é constituída por uma sequência de ami-noácidos ligados quimicamente entre si.

    SAÚDE/PREVENÇÃOCertas proteínas são tão complexas e “sólidas” quimicamente que a digestão não as conseguedecompor, impossibilitando a absorção dos aminoácidos. Estas não oferecem qualquer interessealimentar ou nutricional para o animal (é o caso das penas,dos pêlos, etc.).

    P R Ó T I D O S

    Uma breve informaçãoO aminoácido é o elemento base que constitui as pro-teínas e os seus derivados. As proteínas são constituí-das por um total aproximado de 20 aminoácidos, dosquais apenas 11 (no gato) e 10 (no cão) devem ser

    fornecidos através da alimentação, porque o orga-nismo não os consegue fabricar. O alimento deve tam-bém fornecer outros aminoácidos, sendo o teor deincorporação menor, pois as suas funções são menosespecíficas.

    alanina

    ác. glutâmico

    ác. aspártico

    glicinaprolina

    cisteína

    serina

    asparaginaglutamina

    prolina

    alimentação

    organismoaminoácidosnão essenciais

    tirosina

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    Uma breve informaçãoOs aminoácidos essenciais não podem ser sinteti-zados pelo organismo. Estes têm de ser imperativa-mente fornecidos na sua alimentação, em quanti-dades e proporções ideais.

    Funções desempenhadas no organismoOs aminoácidos essenciais fazem jus ao seu nome,porque, sem eles, qualquer síntese proteica normalé impossível para o organismo.O crescimento do cachorro ou do gatinho será maislento e, no animal adulto, as funções essenciais serão

    perturbadas: eliminação dos compostos azotados,síntese da hemoglobina, etc.

    Fontes naturais As proteínas alimentares ditas “de elevado valor

    biológico” são as que apresentam uma boa digesti-bilidade e são ricas em aminoácidos essenciais:proteínas do ovo, carne e peixe, isolados de soja,caseína do leite.

    Indispensáveis à síntese de proteínas essenciais do organismo

    Aminoácidosessenciais

    Arginina, Histidina, Isoleucina, Leucina, Lisina, Metionina, Fenilalanina,Taurina (apenas no gato), Treonina, Triptofano, Valina

    tecido(AANE)

    Se compararmos a síntese proteicacom o fabrico de bandeiras tricolores: Uma proteína à qual falte um

    aminoácido indispensável nãopode assegurar normalmentea sua função no organismo.

    tecido(AAE)

    proteínasvitais

    greve ou falha

    na entrega dotecido violetaproteínasanormais

    tecido(AANE)

    (AANE) aminoácidos não essenciais(AAE) aminoácidos essenciais

    P R Ó T I D O S

    SAÚDE/PREVENÇÃOA ausência de um só destes aminoácidos essenciais na alimentação interrompe a síntese das proteí-nas vitais para o organismo. O animal utiliza as suas próprias proteínas para sintetizar as que faltam,o que coloca progressivamente a sua sobrevivência em perigo.

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    38/95

    S   S

    36Aminoácidos que entram na composição da queratina dos pêlos

    Aminoácidossulfurados

    Metionina e Cistina

    Fontes naturaisDe uma forma geral, os aminoácidos estão presentesem grandes quantidades nas fontes de proteínas deorigem animal. Assim, estes aminoácidos raramentefazem falta na alimentação dos cães e dos gatos, à 

    excepção dos regimes vegetarianos não suplemen-tados. No entanto, o cão é menos sensível do que ogato a essas carências.

     A metionina e a cistina são particularmente abun-dantes nas proteínas do ovo, do peixe e na caseína do leite. Os glútens de trigo e de milho são igual-mente muito ricos em metionina e cistina.

    SAÚDE/PREVENÇÃOOs aminoácidos sulfurados são indispensáveis à síntese da principal proteína do pêlo, a queratina.A insuficiência de aminoácidos sulfurados traduz-se na queda do pêlo,num atraso no crescimento e numapelagem com um aspecto geral baço e frágil.

    P R Ó T I D O S

    Uma breve informação As sínteses necessárias para a manutenção da pele eda pelagem podem representar até 30% das neces-sidades proteicas diárias de um cão adulto.

    Funções desempenhadas no organismoSomente a metionina é considerada um aminoácidoessencial. No entanto, se a cistina for fornecida emquantidade suficiente, pode permitir poupar a me-tionina para outras funções.O metabolismo dos aminoácidos sulfurados produzácido sulfúrico, eliminado pela via urinária. É poreste motivo que o regime natural dos carnívoros,rico em aminoácidos sulfurados, tende a produzirurina ácida.

    A cistina (constituída pelaassociação de duas moléculasde cisteína) e a metioninasão os aminoácidosmais importantespara a estrutura da queratina,proteína constituinte do pêlo.

    qualidade do pêlo

    cistinametionina

    enxofre

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    39/95

    NO

    NO

    O2

    NO

    O2

    3

    Uma breve informação A arginina participa na síntese da ureia a partir doamoníaco. Pela ausência de arginina na alimenta-

    ção, gato pode desenvolver em algumas horas sinaisclínicos de intoxicação pelo amoníaco (hiperamo-niemia): vómitos, hipersalivação e problemas ner-vosos. Esta carência pode conduzir à morte do ani-mal se não for rapidamente corrigida.

    Funções desempenhadas no organismoEstá demonstrado que a arginina reduz os proble-mas respiratórios provocados pelo aumento da

    produção de CO2 durante o esforço, em pessoasque sofrem de insuficiência cardíaca crónica grave.

     A arginina desempenha igualmente um papel nosmecanismos imunitários.

    Fontes naturais A arginina é abundante nos tecidos de origemanimal, tal como os músculos, a pele ou os pêlos.

     A gelatina é muito rica em arginina.

    Aminoácido essencial: crescimento,síntese da ureia, protecção vascular 

    Arginina

    P R Ó T I D O S

    SAÚDE/PREVENÇÃOA arginina é um aminoácido essencial para o cão e o gato. Os cachorros recém-nascidos alimenta-dos com leite materno com carência em arginina desenvolvem rapidamente cataratas que estãona origem da cegueira dos cachorros.A arginina também é um precursor do óxido nítrico (NO),quedesempenha um papel relaxante sobre as fibras musculares lisas dos vasos. Um suplemento em ar-ginina pode ter efeitos benéficos em caso de doença cardíaca ou renal.

    O óxido nítrico (NO) é um relaxante endógeno das fibraslisas vasculares. É sintetizado a partir daL-arginina e do oxigénio.

    argininaoxigénio

    óxido nítrico

    ureia

    rim

    fígado

    ureia

    a ureia é eliminadapela urina

    vasodilatação

    arginina

  • 8/15/2019 Livro Dos Nutrientes Animais

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    Aminoácido que participa na integridade da barreira intestinal e na eliminação das toxinas

    Glutamina

     A glutamina é utilizada pelas células da mucosa in-testinal como fonte de energia. Um fraco aporte,associado a uma forte necessidade nos animais emfase crítica, pode afectar a integridade da barreira intestinal. Um suplemento de glutamina pode ser

    importante para reduzir o risco de atrofia das vilo-sidades e na convalescença de episódios de patolo-gias digestivas.

    Fontes naturais A glutamina é sintetizada por inúmeros tecidos ecerca de 60% do stock de glutamina está contidonos músculos, na forma livre. Quando as necessi-dades aumentam, a produção pelo organismo podeser insuficiente. O glúten de trigo é uma boa fontede glutamina (contém cerca de 40%). Além disso,é utilizada como substituto das proteínas lácteas na alimentação dos recém-nascidos.

    SAÚDE/PREVENÇÃOA glutamina é um aminoácido muito importante para o metabolismo das células de renovação rápida,como as do tubo digestivo e do sistema imunitário. Mesmo não fazendo parte da lista de aminoácidosessenciais, a glutamina pode sê-lo em certas situações. Digamos que se trata de um aminoácido “es-sencial condicional”.

    P R Ó T I D O S

    Uma breve informaçãoEm caso de doença ou stress intenso, o consumo deaminoácidos acelera-se e a concentração sanguínea em glutamina desce. Neste caso, a integridade da mucosa intestinal pode ser prejudicada, permitindo

    às bactérias intestinais a entrada na circulação san-guínea.

    Funções desempenhadas no organismo A glutamina exerce múltiplas funções ligadas à sín-tese das proteínas: é um precursor dos compostosque entram na composição do ADN celular, regula certas sínteses hepáticas e participa nos processosde desintoxicação.

    fonte de energia principal damucosa intestinal

    a glutamina é um dos precursores doADN celular

    participa nos processos hepáticosde eliminação das toxinas

  • 8/15/2019 Livro Dos Nutrientes Animais

    41/9539

    Uma breve informação A lisina é muito sensível ao calor: um tratamentotérmico demasiado agressivo provoca uma reacçãocom os açúcares (reacção de Maillard), o que torna a lisina indisponível para o organismo. O leite de-

    masiado quente provoca, por exemplo, uma reacçãoentre a lisina e a lactose. Esta sensibilidade particu-lar faz da lisina um parâmetro interessante para controlar a cozedura dos alimentos.

    Funções desempenhadas no organismoPara além do seu importante papel na síntese dasproteínas, alguns estudos demonstraram o interessede um aumento dos aportes alimentares em lisina para lutar contra o herpes vírus no gato. O herpesvírus felino faz parte dos agentes responsáveis pelas

    doenças das vias respiratórias superiores no gato, reu-nidas sob o nome de coriza felina. O herpes vírusprovoca geralmente sinais clínicos mais graves doque os outros agentes, sobretudo ao nível ocular. Osgatinhos não imunizados podem inclusivamente

    morrer. O suplemento de lisina limita a intensidadeda excreção viral e dos sinais clínicos nos animais in-fectados.

    Fontes naturais A lisina é abundante nas proteínas animais, na carne e na caseína do leite em particular. As pro-teínas da soja também a contêm em abundância.Em contrapartida, a lisina pode faltar num regimealimentar baseado na utilização de cereais, que re-

    quer um suplemento deste aminoácido.

    Aminoácido essencial a todas as sínteses proteicas

    Lisina

    P R Ó T I D O S

    SAÚDE/PREVENÇÃOA lisina é um aminoácido essencial para o cão e o gato: deve ser fornecida imperativamente pelaalimentação para permitir a síntese de todas as proteínas do organismo. Um défice em lisina numcachorro ou num gatinho por causar, por exemplo, um atraso no crescimento.

    A lisina deveestar presente emquantidade suficientena alimentação parapermitir a síntesedas proteínas noorganismo.atraso de

    crescimentocrescimento normal

    síntese proteica suspendidaprematuramente

    proteína final a sintetizarpelo organismo

    aminoácidos quecompõem a proteína final

    lisina

  • 8/15/2019 Livro Dos Nutrientes Animais

    42/9540

    Uma breve informação

     A cor particular do Siamês (“colourpoint”) deve-sea uma particularidade da enzima chave da via deprodução das melaninas, a tirosinase. Nesta raça, a enzima funciona apenas a uma temperatura relati-vamente baixa. As zonas mais quentes (flanco, ventree costas) ficam muito claras, enquanto as zonas maisfrias (cabeça, patas e cauda) são mais escuras!

    Funções desempenhadas no organismoPara além do seu papel na pigmentação da pelageme da íris, a tirosina é igualmente um precursor da dopamina, da noradrenalina e da adrenalina. Estas

    moléculas estão implicadas no bom funcionamento

    do cérebro e na função de reprodução. Assim, umsuplemento de tirosina age positivamente sobre a fertilidade.

    Fontes naturais A tirosina é fornecida directamente pela alimentaçãoou é sintetizada a partir de um aminoácido essencial,a fenilalanina.O leite e os produtos lácteos constituem excelentesfontes de tirosina. Relativamente às fontes vegetais,apenas o arroz contém quantidades não negligen-ciáveis deste aminoácido.

    Prevenção da pelagem vermelha – Funcionamento da tiróide e das glândulas supra-renais

    Tirosinae Fenilalanina

    P R Ó T I D O S

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    A cor da pelagem depende da presença de grãos de feomelanina (pigmentos amarelos a vermelhos) ede eumelanina (castanho a preto). A produção destes pigmentos requer a presença de aminoácidos(ditos aromáticos devido à sua estrutura cíclica), de tirosina e de fenilalanina. Uma carência nestes ami-noácidos em animais com uma pelagem escura ou preta torna o pêlo avermelhado, situação já de-monstrada em gatos.Trabalhos realizados em cachorros Terra-Nova e em cachorros Labrador pretos de-monstram que, também no cão, os níveis de fenilalanina e de tirosina necessários para uma pigmenta-ção ideal da pelagem são mais de 2 vezes superiores às necessidades de crescimento. Um suplementode tirosina permite mesmo aumentar a intensidade da coloração da pelagem.

    tirosinase +cobre

    tirosina dopa

    eumelaninapreta a castanha

    feomelaninaamarela a vermelha

    fenilalanina

    cistina

    dopaquinona

    A enzima principal damelanogénese é designadatirosinase. Para estaroperacional, requer apresença de cobre emquantidade suficiente.

  • 8/15/2019 Livro Dos Nutrientes Animais

    43/954

    Prevenção e tratamento das doenças cardíacas - Antioxidante natural

    Taurina

    disso, desempenha uma acção antioxidante impor-tante na célula. Por fim, a taurina representa o papelde precursor para a síntese dos lípidos complexosda pele (glicoesfingolípidos) que possuem proprie-

    dades antimicrobianas.

    Fontes naturais A carne (exemplo: vísceras de aves) constitui a fontenatural de referência em taurina.

    =

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    A taurina é utilizada na prevenção e no tratamento de doenças cardíacas graves, designadascardiomiopatias dilatadas. No gato, a taurina é um aminoácido essencial. É indispensável para a visãoe a função reprodutora. As suas características protectoras em relação aos radicais livresfazem deste aminoácido um antioxidante de eleição na luta contra o envelhecimento.

    radicaislivres

    acçãoconjugada

    oxigenaçãocelular

    taurina

    vitamina E

    vitamina C

    polifenóis

    + taurina

    +

    +

    coração

    radicais livrescaptados edestruídos

    P R Ó T I D O S

    Uma breve informação A taurina foi descoberta em 1826 na bílis dos bovi-nos (Bos taurus ), daí o seu nome. Trata-se de um ami-noácido que contém enxofre, presente na maior parte

    dos tecidos animais e concentra-se nos músculos. Noentanto, ao contrário dos aminoácidos clássicos, nãoparticipa na síntese das proteínas.

    Funções desempenhadas no organismo A taurina permite a síntese dos sais biliares pelofígado. Mas também influencia os fluxos de cálcioentre o interior e o exterior da célula, o que lhepermite agir sobre o funcionamento cardíaco. Além

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    Uma breve informaçãoO organismo é incapaz de sintetizar quantidades su-ficientes de leucina, isoleucina e valina; a cobertura dasnecessidades depende dos aportes alimentares. O teor

    sanguíneo destes três aminoácidos varia em funçãodos aportes alimentares, mais do que no caso de ou-tros aminoácidos.

    Funções desempenhadas no organismo A valina, a leucina e a isoleucina são capazes deestimular a síntese das proteínas e de retardar a sua degradação nos músculos. Esta propriedade foiatribuída especificamente à leucina, pelo que esta 

    se revela tão eficaz isoladamente como em conjuntocom a leucina e a isoleucina. A sensibilidade à leu-cina parece, no entanto, diminuir com a idade. Os

     AACR permitem aumentar a massa magra e pre-vinem a atrofia muscular nos animais caquécticose/ou cancerosos.

    Fontes naturais A valina, a leucina e a isoleucina representam, pelomenos, um terço dos aminoácidos essenciais queentram na composição das proteínas musculares.São os únicos cuja primeira etapa de degradação éassegurada pelos músculos.

    Aminoácidos essenciais à síntese das proteínas musculares

    Aminoácidosde cadeia ramificada

    também denominados: AACR

    P R Ó T I D O S

    SAÚDE/PREVENÇÃODe entre os aminoácidos essenciais, a leucina, a isoleucina e a valina formam a categoria dosaminoácidos de cadeia ramificada (AACR). Estes foram estudados em virtude do seu potencial papelinibidor do crescimento tumoral. Estudos clínicos realizados no homem demonstraram uma relaçãoentre um suplemento de AACR e o aumento do tempo de sobrevivência.

    leucinaleucinaproteínasmusculares

    aminoácidosaminoácidos

    síntese dasproteínasmusculares

    42

    Comparada com outros aminoácidos,a leucina influencia mais o equilíbrio proteicoda célula no sentido do anabolismo do que

    do catabolismo.

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    Uma breve informação A carnitina é um aminoácido não essencial, que oorganismo é normalmente capaz de produzir a partirde dois outros aminoácidos: a lisina e a metionina.

     A suplementação de carnitina na alimentação torna-seessencial em fases em que o organismo não é capaz dea sintetizar em quantidades suficientes para suprir asnecessidades. A sua estrutura química admite duasformas da molécula, designadas D e L: apenas a L-car-nitina é activa e eficaz.

    Funções desempenhadas no organismo A principal via de produção de energia no cão eno gato deve-se sobretudo à oxidação das gordu-ras nas mitocôndrias (pequenas centrais energéti-

    cas que se encontram nas células). A carnitina intervém a este nível, permitindo otransporte dos ácidos gordos através da membrana que envolve cada mitocôndria.

     A carnitina desempenha um papel igualmente im-portante para a reprodução: em algumas espécies,um suplemento de carnitina durante a gestação ea lactação aumenta o peso dos recém-nascidos,bem como o número de animais por ninhada.

    Fontes naturaisPara além da síntese do fígado, a alimentação é outra fonte de carnitina. Se a quantidade de carnitina contida nos vegetais é negligenciável, as carnes frescas são ricasneste aminoácido, em particular as de carneiro e borrego.

    Indispensável para o esforço físico - Protecção cardíaca - Luta contra a obesidade

    Carnitina

    O2O2

    O2

    O2O2

    O2

    SAÚDE/PREVENÇÃO

    No plano fisiológico, a carnitina facilita a utilização das gorduras como carburantes da célula;por conseguinte, é muito útil e eficaz em esforços físicos, em particular de longa duração.Além disso, em alguns cães (Boxer, Doberman, Cocker, etc.), uma doença cardíaca grave pode estarligada a um défice de produção ou de transporte da carnitina pelo organismo. O emagrecimento doanimal obeso pode ser acelerado por uma adição de carnitina ao alimento.

    ácidos gordos

    membrana

    energia

    carnitina

    mitocôndria

    P R Ó T I D O S

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    Quando um alimento é com-

    pleto, não é necessário qual-

    quer suplemento mineral.

    Um excesso de sais minerais impede

    uma boa digestibilidade e pode mesmoproduzir efeitos inversos aos preten-

    didos.

    Quando se incinera um alimento, as

    cinzas recuperadas constituem a maté-

    ria mineral do alimento.Esta representa,

    em geral, 5 a 8% do total de um

    alimento seco (“cinzas brutas” é sinó-nimo de “minerais” numa

    análise média de um alimento).

    Os minerais presentes em grande quan-

    tidade (cálcio, fósforo, potássio, sódio,

    magnésio, etc.) são chamados macro-elementos. Em contrapartida, os oli-

    Os minerais

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    goelementos estão presentes em

    quantidades muito pequenas: repre-sentam alguns mg/kg (ou ppm: partes

    por milhão),mas são indispensáveis ao

    funcionamento do organismo (ex.:

    ferro, zinco, manganésio, cobre, iodo,

    selénio, etc.).

    Os minerais são fornecidos pelos dife-

    rentes ingredientes do alimento. Estespodem também estar incluídos sob a

    forma de sais purificados: sulfato de

    ferro, óxido de zinco, óxido de manga-

    nésio, sulfato de cobre, selenito de

    sódio, iodato de cálcio, etc.

    Cada mineral está implicado em várias

    funções diferentes. Para simplificar,

    podemos citar algumas das funções queos principais minerais desempenham

    no organismo:

    Macroelementos

    cálcio

    fósforopotássio/sódio

    magnésio

    ossificação

    transferência de energiaequilíbrio iónico celular

    impulso nervoso

    Oligoelementos

    ferrozinco

    manganésio

    cobre

    iodo

    selénio

    síntese da hemoglobina dos glóbulos vermelhossaúde da pele

    formação das cartilagens e da pelagem

    síntese dos pigmentos cutâneos

    funcionamento da glândula tiróide

    antioxidante

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    Uma breve informaçãoO cálcio é um elemento mineral principal, metalalcalino-terroso, qualificado em nutrição como macro-elemento mineral pela sua importância quantitativa para o organismo. Deve ser respeitado o equilíbrioentre cálcio (Ca) e fósforo (P): no alimento, a pro-porção Ca/P deve estar compreendida entre 1 e 2.

    Funções desempenhadas no organismoO cálcio desempenha dois papéis fundamentais noorganismo. Noventa e n