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    Livro de Histria da

    Magia

    Incluem-se entre os fenmenos mgicos uma ampla variedade de prticas e crenas rituais,que constituem o ncleo de vrios sistemas religiosos, atos de exorcismo e mesmo

    prestidigitao com fins de entretenimento. No primeiro sentido, a magia se entende comofenmeno social e cultural, presente em todas as civilizaes, em algumas das quais

    convive com o pensamento crtico da era cientfica e tecnolgica.

    Magia essencialmente um conjunto de representaes ou atividades rituais supostamentecapazes de influenciar os atos humanos ou o curso dos acontecimentos, por ao de foras

    msticas transcendentais. O animismo, ou seja, a convico de que no existem diferenasessenciais entre seres animados e inanimados, costuma estar na base do pensamentomgico. As prticas mgicas incluem, assim, o uso de objetos especiais e a recitao defrmulas mgicas. A natureza da magia, bem como sua funo social e psicolgica,

    freqentemente mal compreendida em virtude das mltiplas formas que ela assume e de suarelao com outros comportamentos religiosos. As incertezas decorrem em grande parte dasidias sobre evoluo cultural e histrica do sculo XIX, que distinguem a magia de outros

    fenmenos religiosos e identificam-na com sociedades arcaicas e primitivas, ou comosimples superstio sem significado cultural.

    Em virtude dessa concepo, a magia foi tida como diversa de outros ritos e crenasreligiosas. Sua semelhana e conexo essencial com eles -- uma vez que tanto as religies

    organizadas quanto as crenas mgicas apelam para a influncia das foras msticasexternas sobre a existncia humana -- passaram, portanto, despercebidas. Para dificultar acompreenso da magia, disseminou-se a idia segundo a qual os atos mgicos carecem danatureza intrinsecamente espiritual prpria dos atos religiosos, pois se fundamentam muito

    mais na manipulao externa do que na orao e constituem, portanto, um tipo maissimples e inferior de religiosidade.

    Desse ponto de vista, existe uma diferena relevante entre magia e religio: enquanto estase associa ao relacionamento entre os homens e as foras espirituais, em que o

    compromisso pessoal bsico, o procedimento mgico visto principalmente como um atotcnico, em que o vnculo pessoal no to importante ou est ausente, embora a fora que

    est por trs dos atos mgicos e religiosos seja a mesma.

    A magia freqentemente confundida com a feitiaria, especialmente na histria dasreligies europias. Os antroplogos modernos, no entanto, distinguem entre magia, que a

    manipulao de poderes externos por meios mecnicos ou comportamentais para afetaroutras pessoas, e feitiaria, qualidade inerente ao indivduo que apresenta, no entanto, os

    mesmos objetivos.A adivinhao, ou capacidade de entender os agentes msticos que afetam os indivduos e o

    curso dos acontecimentos, difere da magia porque seu objetivo no interferir nos

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    acontecimentos, mas compreend-los. O poder mstico dos adivinhos e o poder que governaas foras mgicas so, no entanto, de mesma espcie.

    Histria. A magia, em suas diferentes formas, parece integrar todos os sistemas religiososconhecidos. . O conhecimento sobre a magia pr-histrica limitado, em funo da falta dedados confiveis. Muitas pinturas e gravaes em cavernas so tidas como representaes

    de figuras entregues prtica da magia orientada para favorecer a caa e as atividades dofeiticeiro. As informaes sobre os fenmenos mgicos das antigas culturas orientais,greco-romanas, crists europias e das sociedades primitivas contemporneas so muito

    mais completas.A maioria dos relatos sobre a cultura mesopotmica e a egpcia chama de magia, ou formas

    de pensamento mgico ou mitopotico (relativo criao dos mitos) todos os rituaisregistrados. Os faras do Egito, por exemplo, reis divinizados, eram por isso mesmo

    venerados e tidos como capazes de controlar a natureza e a fertilidade. Seus poderes comomgicos, no entender dos estudiosos, eram expresso da onipotncia real.

    Na Roma antiga, muita importncia foi dada feitiaria. Esse fenmeno parece ter

    resultado do desenvolvimento de novas classes urbanas, cujos membros dependiam de seusprprios esforos, tanto em termos materiais como mgicos, para derrotar os adversrios ealcanar o sucesso. . H registro de frmulas mgicas na cultura romana para obter sucesso

    no amor, nos negcios, nos jogos e tambm proferir discursos persuasivos.H muitos registros histricos da Idade Mdia e de perodos posteriores sobre a magia. .

    Conforme se sabe a partir de estudos histricos e antropolgicos recentes sobre feitiaria,magia e sincretismo religioso, a magia especialmente dominante em perodos de rpida

    mudana e mobilidade social, quando novas relaes e conflitos pessoais assumemimportncia maior do que as relaes familiares tradicionais, tpicas de tempos de

    estabilidade. A Europa parece no ter sido exceo, especialmente quando a igreja, lutandopara assegurar sua hegemonia, dirigiu acusaes de prtica de magia contra seus

    adversrios.Um dos aspectos mais conhecidos da magia europia, divulgado e combatido pela Igreja

    Catlica, a prtica hertica de fazer pactos com os espritos malvolos. Caracterstico dahistria da magia europia foi tambm o uso que se fez dela como parte da tradio

    hermtica. Seguidores dessa tradio, mais identificada na verdade com a alquimia que coma magia, eram s vezes considerados magos diablicos, cujos conhecimentos proviriam deum pacto com o demnio. A sociedade tolerava a maioria deles, no entanto, porque suas

    prticas, embora estranhas, eram tidas como parte da tradio hermtica judaica e crist.Grande parte do que se sabe sobre a magia nas sociedades grafas contemporneas deriva

    de relatos antropolgicos feitos por pessoas do mundo no-ocidental que acreditam namagia. Foram feitas descries detalhadas, por exemplo, sobre as sociedades da Oceania e

    da frica e de muitas sociedades muulmanas em que persistem crenas pr-islmicas,como na Malsia e na Indonsia. Esses relatos, porm, raramente distinguem magia de

    feitiaria e adivinhao, encontradas em praticamente todas as sociedades orientaisconhecidas.

    Estrutura e funes. As pessoas podem executar atos mgicos sozinhas ou procurar osprstimos de um mago, algum que sabe como executar os procedimentos rituais e pode ser

    recompensado por isso. Segundo se acredita, essa habilidade pode ser transmitida porherana, comprada por outros magos, ou ainda inventada pelo mago para ser executada por

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    ele mesmo. Os magos podem ser consultados para fins nefastos, para proteger um cliente damagia prejudicial feita por terceiros ou por razes puramente benvolas. O carter

    moralmente neutro da magia parece universal, embora, em qualquer sociedade, se discutaseu emprego para fins benignos ou malignos.

    H normalmente trs elementos principais na magia: a frmula mgica, o ritual e a

    condio ritual do executante. Os objetos rituais se incluem entre as frmulas mgicas. Essadistino foi feita pioneiramente pelo antroplogo Bronislaw Malinowski em seus estudossobre os habitantes das ilhas Trobriand, na Melansia. Freqentemente as frmulas mgicas

    empregam vocabulrio arcaico ou esotrico. Entre os habitantes das ilhas Trobriand, afrmula especialmente importante: usar as palavras certas, da maneira certa,

    considerado essencial para a eficcia do ritual. Para os maori, da Nova Zelndia, esseelemento to importante que um erro na recitao da frmula pode levar morte do

    mago.Bastante difundido tambm o uso de objetos materiais, de natureza muito variada. Em

    alguns casos, os elementos que visam a causar dano so realmente venenosos, mas em geralno provocam efeitos prticos, apenas os representam. uma prtica comum entre os

    magos, por exemplo, tentar prejudicar uma pessoa destruindo algum elemento de seu corpo(como aparas de unhas e cabelos) ou algo que tenha estado em contato com ela (uma roupa

    ou outro objeto pessoal).O significado do rito mgico quase nunca percebido por aqueles que acreditam que a

    magia difere essencialmente da religio. Parece universal, porm, que a magia sejapraticada apenas em situaes rituais formais e cuidadosamente definidas. O rito pode sersimblico, como ocorre com o ato de borrifar o solo com gua para fazer chover, ou com aao de destruir uma imagem em cera para prejudicar uma pessoa. Tanto o mago quanto o

    rito devem observar certos tabus. Ao mago so impostas restries alimentares e sexuais e ano-observao desses cuidados anula a magia. O respeito s interdies indica aos demais

    a importncia do rito e dos objetivos desejados.So muitas as funes da magia, mas h dois aspectos principais: o instrumental e o

    expressivo. Uma caracterstica bsica dos ritos e crenas mgicas que os praticantesacreditam que eles so instrumentais, ou seja, eficientes, projetados para alcanar certas

    finalidades na natureza ou no comportamento de pessoas. O aspecto simblico ouexpressivo est sempre presente e por causa dele que a magia pode ser melhor

    compreendida como parte de um sistema religioso.

    Teorias sobre a magia. Os primeiros estudos sobre magia foram elaborados pelos sbiosjudeus e cristos, preocupados em relacion-la com suas crenas, identificando-a como um

    vestgio de paganismo e como heresia. Durante o final do sculo XIX, antroplogoscomearam a estudar a magia e sua influncia na evoluo das religies mundiais.

    Os primeiros estudos antropolgicos sobre a magia foram realizados por Edward Tylor, queno livro Primitive Culture (1871; Cultura primitiva) definiu magia como uma

    pseudocincia, em que o "selvagem" incorretamente afirma uma relao direta de causa eefeito entre o ato mgico e o acontecimento desejado. Em The Golden Bough (1890; O

    ramo de ouro), James Frazer redefiniu as concepes de Tylor sobre o pensamento mgico,discutiu o relacionamento da magia com a religio e a cincia e situou-as num quadro

    evolutivo. Frazer aceitou a teoria de Tylor sobre a falsa relao de causa e efeito entre amagia e os efeitos naturais e analisou os princpios que governam essa falsa relao.Esses autores e seus seguidores, como Ranulph Marett, entenderam magia como uma

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    questo essencialmente individual e intelectual, uma das formas como o indivduo refletesobre o mundo. Outros autores ampliaram a discusso e abordaram a questo do ponto devista da funo social da magia, como fizeram os socilogos franceses Marcel Mauss e

    mile Durkheim. Em Les Formes lmentaires de la vie religieuse (1912; As formaselementares da vida religiosa), Durkheim afirmou que os ritos mgicos envolvem a

    manipulao de objetos sagrados em nome de indivduos. O significado socialmentecoesivo dos ritos religiosos propriamente ditos no estava presente. As idias do socilogofrancs foram seguidas por Radcliffe-Brown, autor de The Andaman Islanders (1922; Os

    habitantes das ilhas Andaman) e, em menor medida, por Malinowski, influenciado mais porFrazer e pelos primeiros psicanalistas.

    Radcliffe-Brown sustentava que a funo social da magia era manifestar a importncia queo acontecimento desejado reveste para a comunidade. Malinowski considerava a magia umfenmeno oposto religio, alm de direta e essencialmente relacionado s necessidades

    psicolgicas do indivduo.Os estudos mais recentes sobre os sistemas mgicos se fizeram tomando como objeto a

    magia de povos da frica e da Oceania. Basearam-se essencialmente nas idias deMalinowski e Radcliffe-Brown e no mais importante trabalho sobre o tema que surgiu

    depois desses autores: Witchcraft, Oracles and Magic Among the Azande (1937; Feitiaria,orculos e magia entre os azandes), de Edward Pritchard.

    Freud, autor de Totem e tabu (1918), exerceu, durante algum tempo, grande influnciasobre os estudiosos do pensamento mgico com a idia segundo a qual a magia, a primeira

    fase no desenvolvimento do pensamento religioso, era similar, em seus processosessenciais, ao pensamento de crianas e neurticos. Essa concepo pressupe que

    selvagens, crianas e neurticos acreditam que desejo e inteno levam automaticamente aatingir o objetivo desejado. Essa idia foi abandonada pelos especialistas, no s por que

    revela incompreenso da natureza expressiva do ritual mgico, como tambm porqueestabelece equivocadas semelhanas de comportamento entre os grupos humanos

    comparados.