LIVRO 2010 Manejo Conservação Solo Agua

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  • Organizadores:

    Rachel Bardy Prado

    Ana Paula Dias Turetta

    Alusio Granato de Andrade

    Manejo e Conservao do

    SOLO e da

    GUAno Contexto das

    Mudanas Ambientais

  • Embrapa Solos

    Rio de Janeiro, RJ

    2010

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    Embrapa Solos

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Organizadores

    Rachel Bardy Prado

    Ana Paula Dias Turetta

    Alusio Granato de Andrade

    Manejo e Conservao do

    SOLO e da

    GUAno Contexto das

    Mudanas Ambientais

  • Embrapa 2010

    Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Superviso editorial - Eduardo Guedes de Godoy e Jacqueline Silva Rezende Mattos

    Normalizao bibliogrfica - Cludia Regina Delaia e Ricardo Arcanjo de Lima

    Reviso de Lngua Portuguesa - Andr Luiz da Silva Lopes

    Capa - Felipe Ilrio Muruci e Eduardo Guedes de Godoy

    Editorao eletrnica - Felipe Ilrio Muruci - FIM Design

    Assessoria da organizao - Guilherme Nogueira de Souza.

    1 edio

    1 impresso (2010): tiragem 1.000 exemplares

    Todos os direitos reservados.

    A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte,

    constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Embrapa Solos

    P896m Prado, Rachel Bardy.

    Manejo e conservao do solo e da gua no contexto das

    mudanas ambientais / organizado por Rachel Bardy Prado,

    Ana Paula Dias Turetta e Alusio Granato de Andrade - Rio

    de Janeiro: Embrapa Solos, 2010.

    486 p.: il.

    ISBN 978-85-85864-32-3

    1. Manejo do solo. 2. Uso da gua. 3. Servio ambiental.

    4. Sustentabilidade na agricultura. I. Turetta, Ana Paula Dias.

    II. Andrade, Alusio Granato de. III. Ttulo

    CDD (21.ed.) 631.4

    Sociedade Brasileira de Cincia do Solo

    Edifcio Silvio Brando, S/N

    Campus Universitrio

    CEP 36570-000 Viosa, MG

    Cx. Postal 231

    Tel: (31) 3899-2471

    www.sbcs.solos.ufv.br

    [email protected]

    Embrapa Solos

    Rua Jardim Botnico, 1024

    CEP 22.460-000 Rio de Janeiro, RJ

    Tel: (21) 2179-4500

    Fax: (21) 2274-5291

    www.cnps.embrapa.br

    [email protected]

    9 788585 864323

  • Rachel Bardy Prado

    Biloga, doutora em cincias da engenharia ambiental e

    pesquisadora em geotecnologias e

    monitoramento ambiental da Embrapa Solos RJ.

    [email protected]

    Ana Paula Dias Turetta

    Gegrafa, doutora em agronomia (Cincia do Solo) e

    pesquisadora em planejamento ambiental da Embrapa

    Solos RJ.

    [email protected]

    Alusio Granato de Andrade

    Engenheiro Agrnomo, doutor em agronomia (Cincia do

    Solo) e diretor tcnico da Empresa de Pesquisa

    Agropecuria do Estado do Rio de Janeiro, RJ.

    [email protected]

    Organizadores

  • Agradecimentos

    Os organizadores agradecem a contribuio dos pesquisadores

    e professores responsveis pela organizao das partes que compe

    esse livro e aos autores de captulos. Agradecimento especial a todos

    aqueles que participaram da comisso organizadora da XVIIRBMCSA,

    bem como seus patrocinadores e colaboradores, com destaque para o

    apoio irrestrito da Sociedade Brasileira de Cincia do Solo, da Empresa

    Brasileira de Pesquisa Agropecuria e da Universidade Federal Rural do

    Rio de Janeiro.

  • Biografia dos Autores

    Ademir Calegari

    Doutor em agronomia, pesquisador nas reas de adubos verdes, plantio

    direto e rotao de culturas do Instituto Agronmico do Paran PR

    Adriana Maria de Aquino

    Doutora em agronomia, pesquisadora em biologia do solo da Embrapa

    Agrobiologia e professora da Universidade Federal Rural do Rio de

    Janeiro RJ

    Alex Vladimir Krusche

    Doutor em ecologia e recursos naturais, pesquisador em biogeoqumica

    de bacias hidrogrficas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura

    SP

    Alusio Granato de Andrade

    Doutor em agronomia (Cincia do Solo), diretor tcnico da Empresa de

    Pesquisa Agropecuria do Estado do Rio de Janeiro - RJ

    Ana Paula Dias Turetta

    Doutora em agronomia (Cincia do Solo), pesquisadora em

    planejamento ambiental da Embrapa Solos RJ

    Angel Filiberto Mansilla Baca

    Tecnlogo em gesto ambiental, economista e bolsista do projeto ZAE-

    Cana - RJ

    Antnio Costa

    Doutor em Agronomia, pesquisador em manejo do solo do Instituto

    Agronmico do Paran - PR

    Antnio Felix Domingues

    Engenheiro agrnomo especializado em economia rural, coordenador

  • de articulao e comunicao da Agncia Nacional de guas DF

    tila Torres Calvente

    Economista, diretor de desenvolvimento agropecurio da Prefeitura

    Municipal de Petrpolis RJ

    Azeneth Eufrausino Schuler

    Ps-doutora pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaznia (IPAM),

    doutora em energia nuclear na agricultura, pesquisadora em manejo de

    bacias hidrogrficas da Embrapa Solos RJ

    Beata Emoke Madari

    Doutora em cincia do solo e nutrio de plantas, pesquisadora em

    matria orgnica do solo da Embrapa Arroz e Feijo GO

    Bruno Jos Rodrigues Alves

    Doutor em agronomia (Cincia do Solo), pesquisador em dinmica e

    quantificao de N no solo da Embrapa Agrobiologia e professor da

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ

    Celso Vainer Manzatto

    Doutor em produo vegetal, chefe geral da Embrapa Meio Ambiente

    SP

    Cludia Pozzi Jantalia

    Doutora e ps-doutora em fitotecnia, pesquisadora em manejo e tratos

    culturais da Embrapa Agrobiologia RJ

    Cristianny Villela Teixeira Gisler

    Doutora em cincias biolgica, especialista em recursos hdricos da

    Agncia Nacional de guas DF

    Daniel Vidal Prez

    Doutor em qumica analtica inorgnica, chefe de P&D da Embrapa

    Solos - RJ

    Devanir Garcia dos Santos

    Mestre em gesto econmica do meio ambiente, gerente de uso

    sustentvel da gua e do solo da Agncia Nacional de guas DF

    Doracy Pessoa Ramos

    Doutor em Agronomia, professor titular da Universidade Estadual do

    Norte Fluminense Darcy Ribeiro RJ

    Edson Alves de Arajo

    Doutor em solos e nutrio de plantas, assessor tcnico da Secretaria

    Estadual de Meio Ambiente do Estado do Acre - AC

  • Eduardo Delgado Assad

    Doutor em hidrologia e especialista em sensoriamento remoto,

    membro do Comit Cientfico do Painel Brasileiro de Mudanas

    Climticas e pesquisador em mudanas climticas e seus impactos na

    agricultura da Embrapa Informtica Agropecuria - SP

    Eduardo de S Mendona

    Ps-doutor em bioqumica do solo e em modelagem da matria

    orgnica do solo, professor associado da Universidade Federal do

    Esprito Santo - ES

    Elemar Antonino Cassol

    Doutor em agronomia , professor associado em cincia do solo da

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul - RS

    Fabiano de Carvalho Balieiro

    Doutor em agronomia, pesquisador em ciclagem de nutrientes da

    Embrapa Solos RJ

    Falberni de Souza Costa

    Doutor em cincia do solo, pesquisador em uso sustentvel dos

    recursos naturais do centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre

    Embrapa Acre - AC

    Gerson Cardoso da Silva Jnior

    Doutor em hidrogeologia, professor adjunto do departamento de

    geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - RJ

    Guilherme Montandon Chaer

    Doutor em cincia do solo, pesquisador em qualidade do solo da

    Embrapa Agrobiologia RJ

    Gustavo Henrique Merten

    Doutor em recursos hdricos e saneamento ambiental e professor

    adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - RS

    Isabella Clerici De Maria

    Doutora em solos e nutrio de plantas, pesquisadora em solos e

    recursos agroambientais do Instituto Agronmico de Campinas SP

    Jean Paolo Gomes Minella

    Doutor em recursos hdricos e saneamento ambiental, professor

    adjunto do departamento de Solos da Universidade Federal de Santa

    Maria - RS

    Jesus Fernando Mansilla Baca

    Doutor em geografia, pesquisador em cartografia da Embrapa Solos e

    professor do Centro Federal de Educao Tecnolgica Celso Suckov da

  • Fonseca RJ

    John Landers

    Mestre em irrigao, consultor internacional em agricultura

    conservacionista e coordenador para assuntos internacionais e novos

    projetos da Associao de Plantio Direto no Cerrado MG

    Jos Miguel Reichert

    Ps-doutor em fsica do solo, professor titular do departamento de

    solos da Universidade Federal de Santa Maria RS

    Julian Dumanski

    Cientista snior do Department of Agriculture and Agri-Food, Membro-

    consultivo do Agricultural Institute of Canada e Canadian Society of Soil

    Science e consultor para o Banco Mundial e vrias agncias da ONU -

    Canad

    Juliana Magalhes Menezes

    Doutora em geologia e professora da Universidade do Estado do Rio de

    Janeiro RJ

    Jlio Csar de Lucena Arajo

    Mestre em agronomia (Cincia do Solo) pela Universidade Federal

    Rural do Rio de Janeiro - RJ

    Ktia Leite Mansur

    Mestre especializada em gesto ambiental, geloga do Servio

    Geolgico do Estado do Rio de Janeiro -RJ

    Leonardo Ciuffo Faver

    Engenheiro, secretrio municipal de agricultura, abastecimento e

    produo da Prefeitura Municipal de Petrpolis RJ

    Lcia Helena Cunha dos Anjos

    Ps-doutora em cincia do solo, professora associada no departamento

    de solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ

    Lucieta Guerreiro Martorano

    Doutora em agrometeorologia, pesquisadora em agrometeorologia da

    Embrapa Amaznia Oriental PA

    Lus Henrique de Barros Soares

    Doutor em biologia celular e molecular, pesquisador biotecnologia e

    microbiologia industrial da Embrapa Agrobiologia - RJ

    Luiz de Morais Rgo Filho

    Ps-doutor em favorabilidades de terras, doutor em cincia e produo

    vegetal e, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuria do Estado

    do Rio de Janeiro - RJ

  • Marcos Gervsio Pereira

    Doutor em agronomia (Cincia do Solo), professor associado do

    departamento de solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    - RJ

    Margareth Simes Penello Meirelles

    Doutora em geoinformtica e planejamento ambiental, pesquisadora

    da Embrapa Labex Europe e professora de geomtica da Universidade

    Estadual do Rio de Janeiro RJ

    Maria Victoria Ramos Ballester

    Ps-doutora pela universidade de So Paulo, doutora em ecologia e

    recursos Naturais, pesquisadora e professora associada do CENA

    ESALQ - Universidade de So Paulo - SP

    Mateus Rosas Ribeiro

    Doutor em cincia do solo, professor associado do departamento de

    solos da Universidade Federal Rural de Pernambuco - PE

    Mnica Regina da Costa Marques

    Doutora em qumica orgnica, professora adjunta do instituto de

    qumica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro -RJ

    Nestor Bragagnolo

    Mestre em agronomia, funcionrio da EMATER-PR e chefe na Diviso de

    Projetos e Aes Estratgicas da Secretaria do Estado do Planejamento

    e Coordenao Geral do Paran - PR

    Paulo Emilio Ferreira da Motta

    Doutor em cincia do solo, pesquisador em pedologia e zoneamento da

    Embrapa Solos - RJ

    Paulo Guilherme Salvador Wadt

    Doutor em solos e nutrio de plantas, pesquisador da Embrapa Acre e

    professor permanente em agronomia e produo vegetal da

    Universidade Federal do Acre - AC

    Pedro Luiz de Freitas

    Ps-doutor pelo IRD/Frana, doutor em cincia do solo, pesquisador

    em manejo de solos em sistema plantio direto da Embrapa Solos RJ

    Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado

    Ps-doutor pela Rothamsted Research, doutor em solos e nutrio de

    plantas, pesquisador em manejo do solo em sistema plantio direto da

    Embrapa Arroz e Feijo - GO

  • Rachel Bardy Prado

    Doutora em cincias da engenharia ambiental (Recursos Hdricos),

    pesquisadora em geotecnologias e monitoramento ambiental da

    Embrapa Solos RJ

    Raphael Bragana Alves Fernandes

    Ps-doutor pela Wageningen University, doutor em solos e nutrio de

    plantas, professor adjunto do departamento de solos da Universidade

    Federal de Viosa MG

    Renato Linhares de Assis

    Doutor em economia aplicada, pesquisador da Embrapa Agrobiologia e

    professor colaborador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    RJ

    Reynaldo Luiz Victoria

    Ps-doutor pela University of Washington, doutor em agronomia,

    pesquisador e professor titular do CENA - ESALQ - Universidade de So

    Paulo - SP

    Robert Michael Boddey

    Doutor em agricultura, pesquisador em cincia do solo e microbiologia

    da Embrapa Agrobiologia e professor credenciado da Universidade

    Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ

    Rodrigo Tavares dos Santos

    Economista, especialista em gesto e integrante do grupo de pesquisa

    ndices e indicadores na anlise ambiental da Universidade Estadual

    do Rio de Janeiro e analista de normativos do Banco do Brasil - RJ

    Sandro Eduardo Marschhausen Pereira

    Mestre em geomtica, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente - SP

    Segundo Sacramento Urquiaga Caballero

    Doutor em solos e nutrio de plantas, consultor/acessor tcnico-

    cientfico da Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de

    Janeiro e consultor ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento

    Cientfico e Tecnolgico, pesquisador em fixao biolgica do N da

    Embrapa Agrobiologia - RJ

    Selmo de Oliveira Santos

    Zootecnista, secretrio municipal de agricultura de Nova Friburgo RJ

    Uebi Jaime Naime

    Engenheiro agrnomo, pesquisador aposentado em pedologia e

    zoneamento da Embrapa Solos RJ

  • Prefcio

    A dcima stima edio da reunio Brasileira de Manejo e

    Conservao do Solo e da gua teve como tema Manejo e conservao

    do solo e da gua no contexto das mudanas ambientais e estava

    inserida nas atividades do Ano Internacional do Planeta Terra. Mais do

    que isso, a insero e a compreenso do solo no contexto das mudanas

    ambientais foi de suma importncia para a definio das diretrizes e

    estratgias necessrias para a manuteno do solo e de suas

    propriedades, e em ltima anlise, o futuro da nossa sociedade e do

    nosso pas.

    O evento tambm foi uma oportunidade especial para a

    Sociedade Brasileira de Cincia do Solo (SBCS) reconhecer e agradecer

    a comunidade de cientistas de solo que exercem suas atividades no

    Estado do Rio de Janeiro. Alm das contribuies cientficas e da nossa

    sociedade ter sido aqui fundada em 1847, estes colegas tm nos

    agraciado nos ltimos anos com o empenho na organizao de um

    congresso brasileiro, uma FertBio e outros eventos relacionados, com

    uma clara demonstrao do respeito com que lidam com a Cincia do

    Solo e a importncia desta cincia no desenvolvimento cientfico e

    social deste pas.

    Nossa sociedade tem se renovado com a juventude, mantendo o

    respeito e a admirao pelo trabalho desenvolvido pelos nossos

    mestres, evoluindo e inovando na busca de solues para um mundo

    novo que se apresenta a cada dia. A presente publicao uma clara

    demonstrao de como a nossa cincia pode ser til e atual. Alm dos

  • assuntos relacionados ao tema geral, este livro apresenta a opinio de

    cientistas respeitados e consagrados pelas suas idias, com destaque

    para assuntos como o potencial da expanso agrcola e da agroenergia

    no pas, em face s novas mudanas ambientais e do mercado, gesto

    do solo e da gua no mbito dos servios ambientais e transferncia de

    tecnologia, entre outros. Com 27 captulos, o livro mais uma

    demonstrao de competncia desta valorosa equipe, que organizou

    este encontro to produtivo e pertinente, e que soube com maestria

    escolher seus palestrantes, que so os principais autores desta obra. A

    todos, e em especial a balzaquiana Embrapa Solos, o sincero

    agradecimento e o reconhecimento da SBCS pelo excelente trabalho

    realizado.

    I have gathered a garland of other men's flowers, and nothing is mine but

    the cord that binds them (Michel de Montaigne, 1533-1592)

    Flvio Anastcio de Oliveira Camargo

    Presidente da SBCS

  • Neste livro sero apresentadas as principais consideraes

    abordadas durante a XVII Reunio Brasileira de Manejo e Conservao

    do Solo e da gua - RBMCSA. O presente volume inclui quase todas as

    palestras apresentadas durante o evento com o diferencial de que a

    maioria dos captulos foi atualizada pelos autores, alm de terem sido

    includos captulos inditos sobre os grandes temas.

    Desde sua origem, h mais de 25 anos, as diferentes edies da

    Reunio Brasileira de Manejo e Conservao do Solo e da gua foram

    marcadas pela busca de solues alternativas e mobilizao da

    sociedade para o desenvolvimento de sistemas agrcolas

    conservacionistas.

    A questo inicial era conter a eroso que vinha crescendo

    fortemente com o advento da revoluo verde na dcada de 70,

    principalmente na regio Sul do Brasil, devido intensa mecanizao,

    excessivo uso de agroqumicos e ausncia de rotao de culturas. Para

    combater esse grave problema foi desenvolvido o sistema de plantio

    direto e o planejamento de uso das terras em microbacias hidrogrficas.

    Hoje, temos antigos e novos desafios a vencer, pois o Brasil

    possui aproximadamente, 65% do seu territrio com potencial 2

    agrcola, com mais de 5,5 milhes de km podendo ser utilizados para a

    produo agropecuria. No entanto, novas fronteiras agrcolas

    continuam sendo abertas, pressionando remanescentes florestais e

    reservas naturais em todos os biomas brasileiros. Por exemplo, a

    expanso acelerada da pecuria bovina nas regies Norte e Centro-

    Apresentao

  • Oeste foram a grande responsvel pela abertura de novas terras. A

    expanso da criao de bovinos ocorreu, em especial, pela

    disponibilidade de terras para formao de pastos plantados e de

    pastos naturais; pelas polticas de incentivos fiscais na dcada de 1970

    (crdito rural, abertura de rodovias) e pela simbiose com a extrao

    madeireira.

    No que se refere produo agrcola importante destacar o

    desempenho das lavouras temporrias no uso e ocupao do solo. Ao se

    comparar reas ocupadas com as pastagens (naturais e plantadas) e as

    dez principais culturas de lavouras temporrias e permanentes,

    observa-se que a ocupao de lavouras permanentes (5,9 Mha) quase

    que 100 vezes inferior rea ocupada por lavouras temporrias (46,9

    Mha), que por sua vez cerca de 3,6 vezes inferior rea ocupada por

    pastagens (172 Mha), considerando os dados do Censo Agropecurio

    do IBGE de 2006.

    No contexto do agronegcio, a soja, o milho e a cana-de-acar

    se destacam tanto pela rea ocupada, como pela sua participao no PIB

    nacional. Projees recentes realizadas pelo MAPA apontam para a

    continuidade da expanso de novas reas destinadas a essas culturas,

    alm de acentuado dinamismo da exportao dos seguintes produtos

    nos prximos anos: algodo, milho, soja, acar e etanol. Indicam ainda

    que o pas ser, em pouco tempo, o principal plo mundial de produo

    de biocombustveis, com destaque para a liderana na ocupao de

    novas reas com cana-de-acar, cujo aumento esperado de cerca

    66% em rea plantada at 2017. Este quadro aponta para uma intensa

    utilizao dos solos brasileiros, com mudanas significativas na

    dinmica de uso e cobertura das terras.

    Dessa forma, o uso intensivo da terra em reas frgeis promove

    tanto a desertificao no Nordeste como o assoreamento do Pantanal e

    a arenizao na regio Sul. No entanto, o manejo sustentvel do

    ambiente vem sendo discutido, considerando as premissas sugeridas

    pela FAO, que as prticas usadas no devem implicar em perda de

    produtividade e de qualidade do solo e da gua, assim como o sistema

    de manejo alternativo deve ser economicamente vivel e socialmente

    aceitvel.

    Uma dessas alternativas podem ser os sistemas agroflorestais,

    capazes de promover a gerao de renda e a recuperao ambiental.

  • Neste balano entre degradao, recuperao, uso e conservao temos

    regies onde o saldo positivo, mas tambm temos muitas outras onde

    os impactos negativos vem causando misria, xodo rural e degradao

    dos recursos naturais.

    O ano de 2008 foi escolhido pela ONU como o Ano Internacional

    do Planeta Terra, na tentativa de sensibilizar a populao mundial para

    a necessidade de se reverter as mudanas ambientais que estamos

    vivendo. Neste sentido, o tema escolhido para a XVIIRBMCSA foi:

    MANEJO DO SOLO E DA GUA NO CONTEXTO DAS MUDANAS

    AMBIENTAIS, que refora a responsabilidade dos cientistas que

    estudam o solo e sua ambincia, na medida em que a demanda por

    alimentos, fibras e agroenergia tambm cresce, exercendo forte

    presso sobre o meio ambiente.

    Entre os principais desafios da comunidade cientifica,

    relacionada ao tema do presente livro, est o de contribuir para o

    manejo sustentvel do solo e da gua, gerando e transferindo

    sociedade conhecimento e tecnologia capazes de suprir as demandas

    advindas das mudanas climticas, alm de promover a prestao de

    servios ambientais, assegurando a preservao do solo, da gua e da

    biodiversidade.

    Os organizadores

  • Sumrio

    PARTE I

    Manejo e conservao do solo e da gua e das mudanas

    ambientais..........................................................................................................

    Captulo 1

    Aspectos gerais sobre o manejo e conservao do solo e da gua e

    as mudanas ambientais - Alusio Granato de Andrade, Pedro Luiz

    de Freitas e John Landers..................................................................................

    Captulo 2

    Manejo e conservao do solo e da gua no contexto das

    mudanas ambientais Panorama Brasil - Pedro Luiz Oliveira de

    Almeida Machado, Beta Emoke Madari e Luiz Carlos Balbino..........

    Captulo 3

    Soil conservation in a changing world - Julian Dumanski....................

    Captulo1 - Aspectos gerais relacionados expanso da

    agricultura brasileira - Lcia Helena Cunha dos Anjos e Marcos

    Gervasio Pereira..................................................................................................

    Captulo 2 - Pedologia e Interpretaes para o Manejo e a

    Conservao do Solo e da gua - Doracy Pessoa Ramos e Luiz de

    Morais Rego Filho...............................................................................................

    Captulo 3 - Geotecnologias e modelos aplicados ao manejo e

    conservao do solo e da gua - Isabella Clerici De Maria....................

    Captulo 4 - Processos e modelagem da eroso: da parcela bacia

    hidrogrfica - Jean Paolo Gomes Minella, Gustavo Henrique

    Merten, Jos Miguel Reichert e Elemar Antonino Cassol........................

    PARTE II

    Expanso da agricultura brasileira e relaes com as

    mudanas ambientais.........................................................................

    23

    25

    41

    53

    79

    81

    85

    95

    105

  • Captulo 5 - Remediao do solo e da gua: aspectos gerais -

    Daniel Vidal Prez e Mnica Regina Marques Palermo de Aguiar......

    Captulo 6 - Planejamento de uso da terra em microbacias

    hidrogrficas - Nestor Bragagnolo...............................................................

    Captulo 7 - Manejo de fertilizantes e resduos na Amaznia Sul-

    Ocidental - Paulo Wadt, Edson Alves de Arajo e Falberni de Souza

    Costa........................................................................................................................

    Captulo 8 - Manejo do solo e da gua em permetros irrigados da

    regio Nordeste do Brasil - Mateus Rosas Ribeiro...................................

    Captulo1 - Reflexes sobre a produo de biocombustveis e a

    conservao dos biomas brasileiros - Fabiano de Carvalho

    Balieiro e Lucieta Guerreiro Martorano......................................................

    Captulo 2 - Zoneamento agroecolgico da cana-de-acar:

    abordagem metodolgica para integrao temtica de grandes

    reas territoriais - Celso Vainer Manzatto, Jesus Fernando

    Mansilla Bacca, Sandro Eduardo Marschhausen Pereira, Eduardo

    Delgado Assad, Margareth Simes Penello Meirelles, Angel

    Filiberto Mansilla Baca, Uebi Jaime Naime e Paulo Emlio Ferreira

    da Motta................................................................................................................

    Captulo 3 - Agroeneria e sustentabilidade do solo e da gua -

    Maria Victoria Ramos Ballester, Reynaldo Luiz Victoria e Alex

    Vladimir Krusche.................................................................................................

    Captulo 1 - Servios ambientais no Brasil: do conceito prtica -

    Ana Paula Dias Turetta, Rachel Bardy Prado e Azeneth Eufrausino

    Schuler....................................................................................................................

    PARTE III - Novos cenrios com a expanso da agroenergia......

    PARTE IV - Manejo e conservao do solo e da gua no

    contexto dos servios ambientais...........................................................

    123

    137

    141

    171

    181

    183

    193

    215

    237

    239

  • Captulo 2 - Manejo e conservao de solos no contexto dos

    servios ambientais - Eduardo de S Mendona e Raphael

    Bragana Alves Fernandes...............................................................................

    Captulo 3 - Sistemas conservacionistas de uso do solo - Ademir

    Calegari e Antnio Costa...................................................................................

    Captulo 4 - Mtodos de integrao de indicadores para avaliao

    da qualidade do solo - Guilherme Montandon Chaer.............................

    Captulo 5 - ndices de qualidade de gua: mtodos e

    aplicabilidade - Juliana Magalhes Menezes, Rachel Bardy Prado,

    Gerson Cardoso da Silva Jnior e Rodrigo Tavares dos

    Santos......................................................................................................................

    Captulo 6 - Gesto de recursos hdricos na agricultura: O

    Programa Produtor de gua - Devanir Garcia dos Santos, Antnio

    Flix Domingues e Cristianny Villela Teixeira Gisler................................

    Captulo 7 - Mudanas ambientais: sequestro de carbono e

    emisso de gases de efeito estufa pelo solo - Segundo Urquiaga,

    Bruno Jos Rodrigues Alves, Claudia Pozzi Jantalia, Luis Henrique

    de Barros Soares e Robert Michael Boddey.................................................

    Captulo 1 - Divulgao do conhecimento cientfico e a

    sensibilizao da sociedade em relao ao manejo e conservao

    do solo e da gua - Ktia Leite Mansur.........................................................

    Captulo 2 - Abordagem etnopedolgica no auxlio de aes

    socioambientais: proposta de diagnstico e gesto participativa

    dos recursos naturalizados na terra indgena Kraholndia - Jlio

    Csar de Lucena Arajo, Lcia Helena Cunha dos Anjos e Marcos

    Gervasio Pereira..................................................................................................

    PARTE V - Difuso do conhecimento e envolvimento da

    sociedade em manejo e conservao do solo e da

    gua..........................................................................................................

    397

    391

    389

    377

    353

    325

    309

    279

    255

  • Captulo 3 - Popularizao das cincias da terra como estratgia

    para conservao de solo e gua: o caso do Estado do Rio de

    Janeiro - Ktia Leite Mansur............................................................................

    Captulo 4 - Pesquisa participativa na regio Serrana Fluminense

    experincia do Ncleo de Pesquisa e Treinamento para

    Agricultores da Embrapa em Nova Friburgo - Renato Linhares de

    Assis e Adriana Maria de Aquino...................................................................

    Captulo 5 - Programa Associar - associativismo e

    desenvolvimento rural sustentvel - Selmo de Oliveira Santos.........

    Captulo 6 - Polticas pblicas, preservao e desenvolvimento do

    setor agropecurio: uma experincia em Petrpolis RJ - tila

    Torres Calvente e Leonardo Ciuffo Faver.....................................................

    415

    431

    451

    461

  • Pa

    rte

    I

    Manejo e conservao do

    solo e da gua e as

    mudanas ambientais

  • Foto: Vinicius de Melo Benites

    EMBRAPA SOLOS

  • 01

    Introduo

    O solo e a gua so elementos fundamentais de sustentao dos

    sistemas agrcolas e naturais. Reverter o quadro de degradao de

    extensas reas; otimizar o uso dos solos e da gua, com potencial para

    aumentar a produo agrcola; contribuir para a mitigao de impactos

    ambientais e desenvolver novos insumos e sistemas de produo,

    capazes de promover a sustentabilidade ambiental, social e econmica

    pelas geraes presentes e futuras so alguns dos desafios para o

    manejo e a conservao do solo e da gua para os diversos ambientes,

    usos e estado de degradao das terras.

    Os primeiros esforos voltados conservao do solo e da gua,

    especialmente no Brasil, se concentraram nas prticas mecnicas de

    terraceamento, construo de curvas de nvel e de canais escoadouros,

    plantio em nvel ou em faixas e outros (SOBRAL FILHO et al., 1982).

    Durante algumas dcadas, as prticas mecnicas adotadas no controle

    da eroso se mostraram insuficientes, especialmente na regio sul do

    pais (VIEIRA, 1994). Somente no incio da dcada de 70 que se

    percebeu a importncia de manejar adequadamente o solo, evitando

    exp-lo aos efeitos das chuvas intensas do clima tropical e subtropical

    que predominam no Brasil, assim como a relevncia da microbacia

    hidrogrfica como unidade de planejamento conservacionista.

    Compreendeu-se que a sustentabilidade da produo agrosilvipastoril,

    garantindo a segurana alimentar e a preservao ambiental, esto

    associadas ao planejamento do uso da terra e do manejo do solo e da

    gua, com a adoo de sistemas conservacionistas. Igualmente, as

    Aspectos gerais do manejo e

    conservao do solo e da gua

    e as mudanas ambientais

    Alusio Granato de Andrade

    Pedro Luiz de Freitas

    John Landers

    25

  • perdas econmicas e ambientais, causadas pela eroso hdrica, foram

    os fatores motivadores da viabilizao do Sistema Plantio Direto

    SPD(FREITAS, 2002).

    A evoluo da conservao do solo e da gua por meio do

    manejo ocorreu de forma a viabilizar a agricultura brasileira, dando

    sustentabilidade aos sistemas de produo agrosilvipastoris. Mas,

    somente a partir do incio deste sculo, tcnicos e agricultores se deram

    conta de que, alm de minimizar o impacto ambiental da agricultura,

    mitigando as perdas de solo, gua, nutrientes e matria orgnica,

    estariam tambm contribuindo para o sequestro de carbono e

    reduzindo a emisso de Gases de Efeito Estufa (GEEs). Sendo assim,

    necessrio tambm desenvolver sistemas de produo capazes de se

    adaptar s mudanas climticas, garantindo a produo de alimentos,

    fibras e agroenergia e a manuteno de servios ambientais. Neste

    sentido, o captulo 2 desta parte apresentar, de forma mais

    aprofundada, o panorama brasileiro em relao ao Manejo e

    Conservao do Solo e da gua no Contexto das Mudanas Ambientais.

    Como as alteraes ambientais vm ocorrendo globalmente,

    seja em funo das aes antrpicas ou naturalmente, preciso que as

    alternativas de mitigao dos problemas enfrentados sejam discutidas

    no mbito internacional, at porqu a populao mundial demanda

    recursos naturais e alimentos continuamente, que os pases de forma

    isolada, no conseguem ser autosuficientes, recorrendo importao

    de vrios produtos para suprirem esta demanda. Como exemplo da

    interdependncia entre os pases, no caso do setor agrcola, o mercado

    exterior que rege, muitas vezes, a forma de produo agrcola, pois o

    produto poder ter maior ou menor valor agregado ou aceitabilidade na

    exportao em funo do sistema de produo praticado. E as questes

    ambientais e sociais tm sido consideradas de forma crescente neste

    processo. Desta forma, o captulo 3 desta parte abordar o panorama

    internacional do Manejo e Conservao do Solo e da gua no Contexto

    das Mudanas Ambientais, apresentando iniciativas, programas e

    agendas que vm discutindo recentemente este tema, contribuindo de

    forma definitiva para a sustentabilidade do planeta.

    26

  • Sustentabilidade do solo

    O aumento de reas degradadas em regies anteriormente

    produtivas tem sido constatado em diferentes regies do Brasil. A

    eroso tem se apresentado sob todas as suas formas (laminar, sulcos e

    voorocas), levando solo, sementes, adubos e agrotxicos para os lagos,

    os rios at atingir o mar. O resultado a perda de produo e o

    empobrecimento dos agricultores; o assoreamento e a contaminao

    dos corpos hdricos e o desmatamento para abertura de novas reas de

    produo, causando perda da biodiversidade nos diferentes biomas

    brasileiros. Para evitar esta degradao necessrio planejar as

    atividades de produo agropecuria de acordo com a aptido agrcola

    das terras, manejando o solo de acordo com suas fragilidades e

    potencialidades. Atravs de dados provenientes das mais diversas

    fontes do meio fsico e bitico e de sistemas de informao capazes de

    integrar estes dados, possvel separar a paisagem em zonas,

    possibilitando planejar adequadamente o uso, a conservao e a

    recuperao das terras. Esta abordagem tem sido utilizada como

    importante instrumento de ordenamento territorial e planejamento de

    uso das terras. Exemplos como a incluso do Zoneamento Agrcola na

    Poltica Agrcola Brasileira, do Programa do Zoneamento Ecolgico-

    Econmico e a crescente demanda para realizao de Zoneamentos

    Agroecolgicos Estaduais vm confirmando a importncia de se

    desenvolver aes de planejamento em todas as regies brasileiras.

    Para o desenvolvimento de sistemas sustentveis nas

    diferentes zonas agroecolgicas necessrio a aplicao de tcnicas

    conservacionistas adaptadas aos diferentes ambientes e sistemas de

    produo agropecuria, protegendo o solo e garantindo sua

    funcionalidade, como a troca de ar e calor, o armazenamento e a

    ciclagem de nutrientes, a decomposio da matria orgnica, a

    regulao do fluxo de gua, o movimento de materiais solveis,

    servindo de filtro ou de tampo para elementos e compostos txicos.

    Os sistemas conservacionistas associam a reduo drstica do

    revolvimento do solo rotao de diferentes usos e culturas;

    manuteno permanente da cobertura do solo; ao manejo integrado de

    pragas, doenas e de plantas daninhas; seleo de espcies vegetais e

    ao desenvolvimento de variedades e cultivares mais produtivas e

    27

  • adaptadas; aos sistemas de adubao mais racionais; e muitas outras

    tecnologias adaptadas aos diferentes sistemas de produo. Por serem

    desenvolvidos para as condies de solo e clima existentes em cada

    regio, os sistemas conservacionistas vm se tornando mais frequentes

    na paisagem, recuperando reas degradadas e dando renda aos

    agricultores. Destacam-se, entre outros, os sistemas agroflorestais, a

    integrao lavoura-pecuria-floresta e o sistema de plantio direto.

    O manejo agroecolgico desses sistemas privilegia prticas que

    garantem um fornecimento constante de matria orgnica,

    fundamental para a construo da fertilidade do solo em seu sentido

    mais amplo. Ou seja, maneja-se o solo para estimular as atividades

    biolgicas e para que cresam plantas bem nutridas que forneam

    alimentos balanceados e saudveis. Este tipo de manejo procura

    priorizar o uso de recursos naturais renovveis, localmente

    disponveis, diminuir a dependncia do produtor por insumos externos

    e poupar recursos naturais no renovveis. Nesse contexto, o processo

    de fixao biolgica de N uma estratgia importante para o 2

    fornecimento de nitrognio, favorecendo a produo das culturas sem a

    necessidade de aplicao de fertilizante qumico. Estas prticas

    agrcolas sustentveis sero expostas e aprofundadas ao longo do

    presente livro.

    A ampliao de pesquisas e do uso de prticas agroecolgicas,

    considerando o planejamento regional e local, de forma participativa,

    permitir, cada vez mais, que pequenos e grandes agricultores, em

    sistemas de produo familiar e empresarial, produzam alimentos e

    matrias primas de qualidade, e ainda promovam a conservao dos

    recursos naturais e se mantenham em suas regies de origem.

    Perspectivas globais de mudanas climticas

    A degradao ambiental, expressa como um declnio na

    qualidade da terra solo, gua, fauna e flora, ou na reduo da

    produtividade potencial do solo, representa, especialmente atravs da

    reduo do carbono total e da biomassa, uma preocupao importante

    sobre as emisses de GEEs para a atmosfera (ESWARAN et al., 2001).

    No entanto, a grande variabilidade espacial e temporal do uso

    da terra e manejo do solo em diferentes ecossistemas, dificulta a

    28

  • estimativa das emisses de GEEs reais (VERCHOT, 2007). Isto

    especialmente problemtico para a estimativa dos GEEs que no o CO 2

    como o xido nitroso (N O) e o metano (CH ) (VERCHOT et al., 1999; 2 4

    VERCHOT et al., 2000; DAVIDSON et al., 2000).

    A valorizao do preo das commodities contribuem para

    aumentar as presses para o desmatamento, principalmente devido s

    atividades com pecuria, o que est promovendo o avano da fronteira

    agrcola para regies como a Amaznia (BANCO MUNDIAL, 2003). O

    desmatamento provoca alm da perda da biodiversidade, eroso do

    solo, diminuio das taxas de infiltrao da gua e a consequente

    recarga dos aquferos, contribuindo para agravar o aquecimento global

    (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007). Entre

    60% a 75% das emisses brasileiras de gs carbnico e metano na

    atmosfera so provenientes dos desmatamentos da floresta tropical,

    valores que colocam o pas entre os cinco maiores emissores do mundo.

    Este padro de emisses de gases do efeito estufa (GEEs) diferente dos

    pases mais industrializados, nos quais a queima de combustvel fssil

    a principal fonte do gs. Tecnologias e maior conhecimento sobre os

    sistemas de produo agropecuria para os trpicos, ao lado de

    polticas pblicas adequadas e o cumprimento da legislao ambiental,

    contribuem para a reduo do desmatamento.

    Outra fonte de preocupao a quantidade e qualidade dos

    recursos hdricos, uma vez que a gua constitui tanto um bem essencial

    vida quanto um precioso insumo para diversas atividades

    econmicas. Entre os diversos usos econmicos e sociais que

    competem pela apropriao ou utilizao dos recursos hdricos no

    Brasil, a agricultura consome a maior parte da gua, seguida do setor

    industrial e depois pelas residncias. Tais usos apresentam

    caractersticas bastante diferenciadas quanto aos efeitos que

    produzem sobre o ciclo hidrolgico, bem como em relao aos

    mananciais utilizados e forma de interveno sobre eles.

    Em relao diminuio das reservas de petrleo e

    possibilidade da escassez, aliada crescente preocupao com a

    preservao do meio ambiente, os governos e organismos

    internacionais tm direcionado esforos na substituio dos

    combustveis fsseis. A Unio Europia, por exemplo, convocou os 27

    pases membros a trocar pelo menos 10% do volume de combustveis

    29

  • fsseis usados em veculos por biocombustveis at 2020. Mais do que

    isso, os lderes europeus se comprometeram a diminuir as emisses de

    dixido de carbono (CO ) em 20% em relao aos nveis de 1990 no 2

    mesmo prazo. No programa de metas energticas anunciadas no incio

    de 2007, os EUA estabeleceram a substituio da gasolina consumida

    por biocombustveis, podendo chegar a 20% em dez anos, como 1

    noticiado pela imprensa . Com o uso crescente de recursos renovveis,

    abrem-se oportunidades da participao do Brasil no mercado de

    bioenergia.

    Associe-se a isso, ainda, a demanda crescente pela produo de

    bioenergia. Dessa forma, tem havido uma expanso do consumo

    mundial de gros, carne e leite que impactou diretamente os preos

    internacionais dos principais produtos e a rentabilidade do mercado

    agrcola. Assim, nos ltimos anos, a importncia do agronegcio para a

    gerao de renda na economia mundial foi intensificada. Dados da

    United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD)

    mostram que o preo das commodities agrcolas cresceram 50% entre

    2000 e 2006. Observando-se o panorama mundial com aumentos

    significativos da demanda por alimentos, agroenergia e outras matrias

    primas, identificam-se grandes oportunidades para o desenvolvimento

    da agricultura tropical.

    O papel do Sistema Plantio Direto na mitigao da emisso dos

    GEEs

    Como um sistema de manejo do solo, o Sistema Plantio Direto

    incorpora uma mudana radical nas prticas agronmicas, eliminando

    o revolvimento do solo e promovendo a agrobiodiversidade, atravs da

    rotao de culturas e de diferentes usos da terra, alm de manter o solo

    coberto com culturas em crescimento ou com resduos vegetais. A esses

    requisitos so associados, ainda, o manejo integrado de pragas, doenas

    e plantas invasoras (SALTON et al., 1999; FREITAS, 2002). Atende assim

    os princpios essenciais de sustentabilidade da agricultura nos trpicos

    e sub-tropicos (MACHADO; FREITAS, 2004; LANDERS et al., 2001). O

    manejo conservacionista visa a otimizao do potencial produtivo das

    30

    DO 'ouro negro' a uma nova matriz energtica. Disponvel em:

    . Acesso em: 11 jun.

    2010

    1

  • plantas cultivadas com a melhoria das condies ambientais

    (BERNARDI et al., 2003).

    Com base em dados obtidos em diferentes condies

    brasileiras, Bayer et al. (2006) estimaram, nas lavouras de gros

    cultivadas em SPD, um acmulo de carbono no solo da ordem de 350

    kg/ha/ano, em uma profundidade de 20 cm, na regio dos cerrados.

    Esse acmulo pode chegar a 480 kg/ha/ano no Sul do Brasil. Aplicando

    os resultados na rea da adoo do SPD no Brasil, Freitas et al. (2007)

    estimaram uma remoo de CO da atmosfera da ordem de 29 a 40 2

    milhes t/ano, o que os autores consideram insignificante em

    comparao com as emisses anuais totais do planeta, na ordem de 29

    bilhes de toneladas de CO . Considerando o potencial de crescimento 2

    da agricultura brasileira, especialmente com a produo de etanol e

    biodiesel, razovel projetar uma rea de 100 milhes de ha com a

    adoo de SPD, com um sequestro de carbono da ordem de 128-176

    milhes de toneladas de CO por ano, o que corresponde a 3 a 13% de 2

    todo o CO emitido atualmente pelo desmatamento e pela mudana do 2

    uso da terra, estimada em 1,4 a 4,4 bilhes de toneladas de CO por Lal 2

    (2004).

    Em 2004, o SPD era adotado em mais de 95 milhes de ha em

    todo o mundo (DERPSCH, 2005). Cerca de 50% desta rea era

    concentrada na Amrica do Sul, principalmente no Brasil, Argentina e

    Paraguai. Nos EUA e Canad eram encontrados 40% desta adoo,

    restando apenas 10% no resto do mundo. No Brasil a rea ocupada com

    culturas anuais, especialmente gros, onde houve a adoo total ou

    parcial do SPD era estimada em 25,5 milhes de ha no ano agrcola

    2005/2006, dos quais 38% eram no Bioma Cerrado (FEDERAO

    BRASILEIRA DE PLANTIO DIRETO NA PALHA, 2010). A evoluo da

    rea de adoo do SPD apresentada na Figura 1. Um balano de

    emisso e sequestro dos GEEs nestas reas indica uma expressiva

    reduo na emisso de GEEs.

    A principal contribuio da adoo do SPD para a mitigao da

    emisso de GEEs ocorre devido ao menor uso de fertilizantes,

    pesticidas e de leo diesel (associado ao uso mais eficiente de

    mquinas, com menor manuteno). Soma-se a isto as condies

    sociais mais favorveis encontradas e os menores ndices de poluio

    do ar e da gua.

    31

  • O efeito da adoo do SPD na mitigao das emisses de GEEs,

    no somente de CO , reconhecido. Assim, alm da menor emisso de 2

    CO pelo sequestro de carbono no solo e na cobertura viva ou morta do 2

    solo, ocorre a reduo no consumo de combustvel, que pode chegar, em

    mdia a 60% bem como a preservao da vegetao nativa, pela

    mitigao do desmatamento. Tem-se ainda uma menor emisso de

    metano, pela gesto mais racional do gado e do arroz irrigado, e de

    xido nitroso, pelo aumento da eficincia de fertilizantes,

    especialmente aqueles base de nitrognio. Neste caso, existem alguns

    trabalhos cientficos publicados que relatam o aumento das emisses

    de N O no SPD, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. 2

    Entretanto, as emisses de N O esto relacionadas com o manejo e o 2

    tipo de solo, especialmente com as propriedades relacionadas ao

    comportamento hdrico e capacidade de reduo de N O (HNAULT et 2

    al., 1998). Sendo necessrio tambm o desenvolvimento de tecnologias

    e produtos condizentes com as particularidades dos solos tropicais, das

    quais se destacam, de forma geral, a baixa fertilidade natural, baixos

    teores de matria orgnica, baixa capacidade de reteno de gua e

    nutrientes para as plantas e a alta capacidade de imobilizao de

    fsforo.

    32

    Figura 1. Evoluo da rea de adoo do Sistema Plantio Direto nos Cerrados e no Brasil

    (safras 1972/73 a 2005/2006)

    Fontes: FEBRAPDP, 2010 e APDC dados no divulgados.

  • Estima-se que a queima de resduos responsvel pela emisso

    anual de 26 Tg de NOx; 0,8 (0,3-1,6) Tg de N O e 40 (20-80) Tg de CH e 2 4

    300-700 Tg de CO (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE

    CHANGE, 1995). No Brasil, a adoo de princpios SPD na agricultura

    tem mitigado a maior parte das emisses de GEEs, estimada em 2,9 Tg,

    em 1990. 95% desta emisso devido queima da biomassa de cana-

    de-acar na produo de etanol e acar. Os esforos para mitigar a

    queima de biomassa atravs da adoo de colheita mecanizada

    (estimada em mais de 60% da rea de plantio de cana-de-acar no

    Estado de So Paulo), associada rotao com culturas anuais ou

    pastagens na reforma do canavial e ao preparo reduzido em plantao

    de cana, so formas eficazes de mitigao das emisses de GEEs

    (SEGNINI et al., 2004; LA SCALA et al., 2006; LUCA et al., 2008).

    Para a pecuria, as emisses de metano a partir de processos

    digestivos de todos os animais (especialmente ruminantes), tm sido

    estimada pela Agencia de Proteo Ambiental dos EUA (US-EPA) como

    sendo de 15% das emisses de metano ou total em todas as fontes. H

    tambm uma importante contribuio de resduos de animais em

    confinamento. No Brasil, as emisses de metano, representam mais de

    95% das emisses totais de metano do pas. H uma grande variedade

    de prticas associadas ao manejo de pastagens, manejo do estrume e da

    alimentao, que podem reduzir as emisses e aumentar o sequestro de

    carbono (PRIMAVESI, 2007).

    H tambm o potencial de mitigao das emisses de GEEs

    atravs da mudana do uso da terra e da adoo de sistemas

    conservacionistas, tais como sistemas agroflorestais, integrao

    lavoura - pecuria - floresta, entre outros, a serem apresentados e

    discutidos neste livro. Os sistemas baseados em SPD tm sido

    desenvolvidos e existe um grande esforo de difuso. A adoo de

    sistemas de recuperao de terras degradadas, principalmente

    pastagens de baixa capacidade de suporte e rotorno produo, so

    temas da atual politica agrcola (BRASIL, 2008). Dados do final do

    sculo XX indicavam que, entre a Amaznia e o Cerrado, existiam

    aproximadamente 80 milhes de ha de pastagens quase todas

    degradadas ou em fase de degradao (SANO et al., 1999). Landers e

    Freitas (2001) propuseram um cenrio onde a integrao lavoura-

    pecuria, utilizando os princpios do SPD, tornam possvel o aumento

    33

  • de produo de gros, fibras e de carne nas pastagens degradadas, com

    desmatamento zero, acomodando toda a expanso da demanda atual

    fronteira agrcola para os prximos 20 anos ou mais.

    Landers et al. (2001) estimaram os valores econmicos dos

    mltiplos impactos positivos gerados pela adoo de SPD. Os impactos

    econmicos considerados referem-se aos benefcios diretos aos

    agricultores (aumento de produtividade das culturas devido adoo do

    SPD e economia de energia de bombeamento em reas irrigadas), bem

    como os benefcios indiretos em relao reduo das despesas

    pblicas, decorrentes da reduo dos efeitos da explorao agrcola ou

    da eroso do solo e do assoreamento (manuteno de estradas,

    tratamento de gua, tempo e custos de dragagem do reservatrios e

    outros.). Os impactos ambientais tambm foram avaliados, incluindo a

    recarga de aquferos, devido ao aumento da infiltrao de gua no solo,

    menor emisso de CO pela economia de leo diesel, e sequestro de 2

    carbono no solo e em resduos mantidos na superfcie. Os autores

    estimaram que, se o Brasil utilizasse corretamente o SPD nos 15

    milhes de hectares em que a tcnica ocupava quando dos estudos, o

    sequestro de carbono representaria um incremento de US$ 1,5 bilho

    por ano na economia nacional, a custo zero.

    H outros benefcios indiretos, tais como o aumento da

    variedade e do nmero de meso e micro-fauna do solo; a melhoria da

    estrutura, permeabilidade, capacidade de reteno de umidade e da

    estabilidade do solo e o aumento da ciclagem de matria orgnica no

    solo; bem como o armazenamento de nutrientes, liberando-os

    gradualmente para as culturas. Dentro de alguns anos, essas prticas

    resultaro em um significativo aumento da produtividade do solo e

    aumento da eficiencia de fertilizantes, implicando em uma reduo

    substancial das emisses de GEEs em toda cadeia de produo de

    fertilizantes.

    A adoo de princpios de agricultura conservacionista

    contribui para o aumento da biodiversidade e est ligada fertilidade

    do solo e ao sequestro de carbono. A biodiversidade acima e no solo

    varia com as mudanas de uso da terra ao longo do tempo. Cerca de 1,6-

    2,0 bilhes de toneladas por ano so atribudas ao desmatamento, mal

    manejo do solo e degradao da terra. Esta fonte de emisso pode ser

    mitigada pela intensificao da agricultura em terras j desmatadas,

    34

  • reduzindo o desmatamento e melhorando as prticas agrcolas e

    florestais pela adoo de SPD.

    Um fator chave para promover o aumento do estoque de

    carbono no solo a forma como o SPD realizado integrando as

    melhores prticas de manejo disponveis para atingir um eficaz

    controle da eroso, de uma forma sustentvel e competitiva (FREITAS

    et al., 2002).

    Considerando a agricultura brasileira, um cenrio otimista foi

    apresentado por Freitas e Manzatto (2002), com uma taxa anual de

    adoo de SPD de 21%, permitindo chegar a 100% da rea total anual

    em cinco anos. Para alcanar esse objetivo, as seguintes assunes

    foram feitas:

    aceitao pela sociedade e governo da importncia dos pagamentos

    de servios ambientais aos agricultores e / ou os incentivos ao trabalho

    de pesquisa, servios de extenso e de crdito agrcola;

    decodificao de conhecimentos de investigao existentes para uso

    por tcnicos e agricultores;

    criao de unidades de demonstrao participativa;

    incentivos para reflorestamento de reas frgeis, identificados pela

    avaliao do risco de eroso e;

    zoneamento agroecolgico para determinar o uso da terra aceitvel,

    de acordo com classes de aptido agrcola das terras, utilizando

    parmetros modificados para incorporar SPD sustentvel e sistemas de

    gesto da conservao.

    Complementando este cenrio, existe a possibilidade de

    garantir a segurana alimentar com a renovao de pastagens

    degradadas, estimadas em mais de 80 milhes de ha somente na rea

    tropical do Brasil (SANO et al., 1999; CASSALES; MANZATTO, 2002).

    No que tange ao desempenho do Brasil perante tratados

    internacionais, os quais esto entrando em fase de maior rigor para os

    pases em desenvolvimento, fica clara a necessidade de

    reconhecimento financeiro de aes conservacionistas executadas

    pelos agricultores. Tecnologias j existentes e validadas, passveis de

    serem adotadas e geradoras de impactos positivos, com nfase

    mitigao do aquecimento global e perda de biodiversidade, teriam

    sua adoo muito mais desejvel e factvel. Para isto, necessrio o

    35

  • estabelecimento de protocolos para o sequestro de carbono em solos

    agrcolas e, preparando para o futuro, os balanos de CO equivalentes. 2

    Isto exige a formao de grupos de trabalho para a formulao de

    posies para cada um dos cinco biomas brasileiros. Outros servios

    ambientais a serem considerados so: (a) controle de eroso e seus

    impactos; e, (b) o desmatamento evitado pela intensificao do uso da

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    40

  • 02

    Introduo

    No Brasil, apesar dos sucessivos decretos e cartas rgias do

    governo colonial iniciadas em 1713 com o objetivo de pr fim ao

    indiscriminado desmatamento por meio do fogo que facilitava a busca

    de ouro e prata ou a implatao da agricultura, a devastao no foi

    interrompida e, em 1791-1792, houve a lendria grande seca da Bahia

    ao Cear (CUNHA, 2001). O ano de 1824 foi, talvez, o ano da primeira

    grande constatao de problema de conservao do solo no Brasil com

    srias consequncias para a populao rural e urbana, particularmente

    para a capital do pas. Foi neste ano que se registrou a primeira grande

    seca na cidade do Rio de Janeiro (SILVA et al., 2008). O uso agrcola para

    produo de caf continuou sem ateno para a conservao do solo e

    gua resultando em deslizamentos de encostas e assoreamento de rios.

    Em 1844, aps outra grande seca inciciaram-se as aes de conservao

    e restaurao nas bacias dos Rios Carioca e Maracan propostas pelo

    Ministro Almeida Torres. Entre 1861 e 1873, Major Manuel Gomes

    Archer foi o grande responsvel pelas aes de recuperao das reas

    degradadas e a proteo de mananciais com a revegetao do

    Corcovado, Silvestre e Paineiras que resultaram no abastecimento de

    chafarizes da Carioca. A cidade do Rio de Janeiro, atualmente, apesar de

    ainda apresentar problemas quanto ao uso do solo, possui a Floresta da 2

    Tijuca, rica em biodiversidade com cerca de 30 mil km .

    A situao anteriormente descrita destaca o histrico conflito

    entre o uso do solo para a agricultura e os servios ambientais. A prtica

    agrcola sem preocupao com a conservao do solo e da gua gera

    Manejo e conservao do solo e gua

    no contexto das mudanas ambientais

    Panorama Brasil

    Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado

    Beta Emoke Madari

    Luiz Carlos Balbino

    41

  • terrveis consequncias na qualidade de vida. Dois sculos mais tarde a

    agricultura, especialmente o agronegcio, vem tendo relevante

    participao no produto interno bruto (PIB) nacional e no perodo

    entre 2000 e 2007 os valores do PIB do agronegcio ficaram na faixa de

    R$ 2,2 2,5 trilhes, ou seja, com participao entre 22,8 e 28,8% do PIB

    nacional (CEPEA, 2008). Dadas as perspectivas de aumento da

    participao deste setor no PIB nacional para os prximos anos,

    especialmente pela maior ateno para a produo de energia de

    biomassa e pela necessidade da produo de alimentos e fibras para

    uma populao mundial crescente, aumenta a preocupao para o

    incremento da capacidade de intervenes antrpicas em causar

    degradao do ecossistema.

    A rea plantada com lavouras temporrias (ex. soja, milho,

    feijo, arroz) totalizam 46,7 milhes de hectares (CONAB, 2008).

    Entretanto, a principal ocupao do solo a pecuria com 21% do

    territrio brasileiro. Dos quase 178 milhes de hectares sob pastagem,

    cerca de 100 milhes de hectares so de pastagens plantadas

    predominantemente com gramneas braquirias. Segundo o Ministrio

    do Desenvolvimento Agrrio, a agricultura familiar, definida como

    aquela cuja renda bruta anual no ultrapassa R$ 110.000,00 e no pode

    possuir mais de dois empregados registrados, responsvel por 70%

    da produo de feijo e mais de 50% da produo de trigo. A agricultura

    empresarial, por sua vez, responsvel por 70% da produo de

    bovinos, arroz e soja e 51% da produo de milho. O acrscimo na

    produtividade mdia das culturas alcanado no perodo de 1970-1998

    resultou no impedimento ao desmatamento de cerca de 60 milhes de

    hectares de florestas nativas (Figura 1). O aumento da produo nesse

    perodo decorrente da disponibilidade de crdito, do incremento de

    produtividade na maioria dos cultivos pela adoo de variedades mais

    produtivas, de sementes de qualidade, desenvolvimento da fixao

    simbitica do nitrognio, pesticidas especficos e pelo uso de adubos

    corretivos e fertilizantes, apesar deste ltimo estar ainda abaixo do

    desejvel (LOPES; GUILHERME, 2001; ALVES et al., 2005; GASQUES et

    al., 2007).

    42

  • Questiona-se, contudo, se o conjunto de tecnologias

    atualmente em uso pela maioria dos produtores envolve prticas

    conservacionistas. Pode-se definir conservao do solo como uma

    combinao de todos os procedimentos de uso e manejo do solo que

    resultem na sua proteo contra a deteriorao por fatores naturais ou

    antrpicos. Atualmente, as aes de conservao do solo e da gua

    remetem o ecossistema agrcola a ser no apenas um provedor de

    alimentos e fibras para gerar, de modo sustentvel, renda ao produtor e

    segurana alimentar, mas tambm ser um provedor de servios

    ambientais.

    Se considerarmos o ecossistema como um complexo dinmico

    de comunidades vegetais, animais e microrganismos e o ambiente

    interagindo como uma unidade funcional, servios ambientais so os

    benefcios que a sociedade como um todo pode obter do ecossistema

    (MILLENIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005). Cabe destacar que a

    definio de servios ambientais (EGs) um dos temas mais relevantes

    das negociaes internacionais e um estudo do Programa da ONU para

    Comrcio e Desenvolvimento (UNCTAD) constatou que o tamanho do

    atual mercado de EGs de aproximadamente US$ 550 bilhes (OLIVA;

    MIRANDA, 2008). As causas para as recentes restries a produtos

    agrcolas brasileiros por parte da Unio Europia podem ser, em parte,

    devido presso de consumidores por alimentos produzidos em

    43

    Figura 1. Economia de uso de rea agrcola no Brasil no perodo de 1970-1998, em funo

    do acrscimo da produtividade mdia das culturas.

    Fonte: Lopes; Guilherme (2001).

  • condies socialmente justas, menos impactantes ou que tenham efeito

    benigno ao ambiente, mas, segundo Latacz-Lohmann e Hodge (2003),

    as preferncias da sociedade europia por reas rurais tendem a

    enfatizar mais as questes de paisagem e vida selvagem que questes

    de poluio. Mais recentemente, a Organizao para a Cooperao

    Econmica e Desenvolvimento, instituio que rene pases

    industrializados, afirmou que as negociaes de bens e servios

    ambientais so essenciais para a proteo do meio ambiente (OECD,

    2005). Alm de alimentos, gua, madeira e fibra, o sistema de produo

    pode gerar servios ambientais reguladores que afetam o clima,

    inundaes e qualidade da gua e servios culturais que oferecem

    benefcios estticos e de recreao. Finalmente, h os servios de apoio

    que consistem na formao do solo, na fotossntese e na ciclagem de

    nutrientes.

    H no Brasil prticas agrcolas que, se considerarem todas as

    prticas conservacionistas, podem oferecer os diversos servios

    ambientais acima descritos:

    Sistema Plantio Direto Contnuo na Palha (SPD): Trata-se do

    procedimento mais eficiente e eficaz de produzir alimentos,

    especialmente gros, com simultnea conservao do solo e da gua

    (MACHADO; FREITAS, 2004). A ausncia de duas operaes de preparo

    do solo resulta em economia de combustvel e menor risco na produo.

    A presena da palha na superfcie do solo mantm o solo mido por

    perodos mais longos resultando em economia de gua e bombeamento

    para irrigao. reas com terraos em nvel, a superfcie do solo

    protegida pela cobertura morta proporciona maior infiltrao de gua

    (RESCK, 2001) oferecendo recarga de aquferos e economia no

    tratamento de gua das cidades pela menor sedimentao de rios. Um

    solo com boa agregao sob SPD proporciona menor emisso lquida de

    gases de efeito estufa que aquele sob arao e gradagens, pois

    possibilita maior acmulo de matria orgnica protegida em agregados

    do solo (MADARI et al., 2005). Com a manuteno dos agregados

    intactos o carbono pode ser mantido no solo evitando sua emisso na

    forma de CO para a atmosfera. No caso de um Latossolo Vermelho 2

    distrofrrico, muito argiloso, do sul do Brasil, o uso do SPD resultou, nas -1

    primeiras 8 horas de emisso, que 79,4 kg C-CO ha no fossem 2

    emitidos para a atmosfera, aps simulao de destruio dos

    44

  • agregados. Sob preparo convencional, por ter menor agregao, evitou--1

    se que 29,1 kg C-CO ha fossem emitidos para atmosfera (BARRETO et 2

    al., 2009);

    Sistema Integrao Lavoura-Pecuria em Plantio Direto (ILP): Um

    aperfeioamento do sistema anterior pela incluso da pecuria de corte

    ou leiteira integrada produo de gros. Este sistema tem sido

    bastante adequado para o bioma Cerrado que, apesar de produtores

    neste bioma terem carncia de plantas de cobertura adequadas para a

    produo duradoura de palha, a gramnea forrageira braquiria tem

    possibilitado produo animal a pasto na entressafra do inverno seco e

    cobertura morta para o cultivo de gros no vero mido. Alm dos

    benefcios descritos para o SPD, gera-se menos gs de efeito estufa (gs

    metano) por quilograma de carne ou leite produzido (PRIMAVESI et al,

    2007);

    Sistema Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta em Plantio Direto

    (ILPF): Sistema de produo mais complexo que propicia a produo de

    alimento e energia por envolver gros, carne ou leite e madeira

    (mveis/papel) ou energia de biomassa. Isto porque, alm do eucalipto,

    h possibilidades para uso de teca (Tectona grandis), bracatinga

    (Mimosa scabrella, Benth) e accia (Acacia mangium). A combinao da

    adoo do plantio de florestas em ILP ou apenas a uma lavoura em SPD

    pode promover a umidificao do ar e contribuir para a formao de

    chuvas locais e amenizao do calor (SAMPAIO et al., 2007; PRIMAVESI

    et al., 2007).

    Estas diferentes formas de produo, particularmente ILP e

    ILPF, vem sendo adotadas por produtores nos diferentes biomas,

    apesar de ainda demandarem pesquisas cientficas para o melhor

    arranjo de culturas comerciais com plantas de cobertura e espcies

    arbreas, alm de treinamento de tcnicos para que produtores,

    especialmente pecuaristas, se familiarizem com o complexo esquema

    de rotao e planejamento de uso da terra.

    Motivao para harmonizar produtividade com conservao

    Preocupa-nos, porm, constatar que a conservao do solo e da

    gua, fundamental para o ecossistema agrcola oferecer servios

    45

  • ambientais, no tenha ainda ampla adoo por parte dos produtores

    rurais. So vrios os motivos. Acredita-se que pelo fato de ser de difcil

    percepo pelo produtor como essencial para o sucesso do

    empreendimento, as prticas conservacionistas, mesmo adotadas,

    correm o risco de serem esquecidas. A conscientizao dos problemas

    da falta de conservao do solo e da transferncia de tecnologias so

    ainda problemticas no Brasil. Segundo Olinger (1997) e Cogo (2004)

    no apenas o ensino, mas tambm a assistncia tcnica e extenso rural

    em conservao do solo se fragilizaram e perderam espao nos ltimos

    anos. Ademais, documentos recentes de informao ou recomendao

    tcnica para importantes lavouras temporrias contm pouca

    informao sobre como executar um planejamento conservacionista.

    H orientao para o sistema plantio direto apenas (SARAIVA et al.,

    2006; SILVA; DEL PELOSO, 2006). Constata-se ainda o fato do plantio

    direto ser conduzido com pouca adoo de rotao de cultura com

    plantas de cobertura (Tabela 1).

    46

    Regio* N

    visitas rea soja

    (M ha) Adoo PD

    (%) PD com palha**

    (%) Tipo de palha***

    1 150 5,5 100 71 Trigo/triticale, aveia e milho2 215 4,2 100 41 Milho e trigo/triticale3 506

    9,4

    100

    28

    Milho e milheto

    4 218

    2,2

    93

    27

    Milho e milheto

    Tabela 1. Qualidade do sistema plantio direto no Brasil Visitas a lavouras de janeiro a

    maro.

    Legenda: *1: RS, SC e Sul do PR; 2: Norte PR, Sul MS e Sudoeste SP; 3: Norte MS, MT, RO,

    Sudoeste GO e Tring. MG; 4: GO, TO, Sul PA, Oeste BA, Sudoeste PI e MA.

    **Cobertura do solo > 40%;

    ***Em ordem de frequncia;

    Fonte: Pessa (2009).

    Tm sido frequentes os relatos de reas sob plantio direto nas

    quais os terraos foram eliminados e a semeadura feita no sentido do

    declive do terreno, acreditando-se que a grande quantidade de palha

    que cobre a superfcie do solo seja suficiente para combater a eroso

    hdrica (RAIJ, 2008). Alm disto, estradas rurais apresentam problemas

    de adequao aos sistemas conservacionistas das lavouras e se

    constituem em fator desencadeador ou agravador dos problemas com

    eroso (MORAES et al., 2004).Para se ter uma idia da magnitude deste

    problema, o sistema rodovirio nacional composto por 1.724.929 km

    de estradas pblicas e estima-se que, aproximadamente, 90% destas

    vias apresentam-se sem revestimento ou com revestimento primrio.

  • Grande parte destas vias mantida e conservada por municpios e, na

    estao chuvosa, o fluxo superficial das guas pelas estradas, sem

    nenhum controle, tem provocado o surgimento de voorocas laterais ao

    leito delas (GRIEBLER et al., 2005; OLIVEIRA, 2005).

    Quanto legislao ambiental e o uso do solo, depara-se com

    problemas de desatualizao das leis (FREITAS et al., 2004) ou de

    carncia de regras consistentes de condicionamento ambiental do uso

    do solo (SOUZA, 2004). Todavia, mesmo com o aperfeioamento da

    legislao ambiental j foi relatado que o Brasil tem tradio na difcil

    aplicao das leis. Apesar de ser de natureza voluntria, o Brasil, em

    recente note verbale Conveno Quadro da ONU de Mudanas

    Climticas (UNFCCC), apresentou metas de reduo de emisso de CO 2

    em 2020, que incluem SPD (16 a 20 milhes de t de equivalentes de

    CO ), ILP (18 a 22 milhes de t de equivalentes de CO ), recuperao de 2 2

    pastagens (83 a 104 milhes de t de equivalentes de CO em 2020) e 2

    fixao biolgica de nitrogenio (16 a 20 milhes de t de equivalentes de

    CO ), numa expectativa de reduo de 36,1% a 38,9% das emisses 2

    projetadas para o Brasil em 2020 (UNFCCC, 2010).

    Perspectivas futuras

    Qual caminho tomar para que haja efetiva adoo de prticas

    conservacionistas do solo? Esta pergunta tambm motivada pela

    necessidade de evento nacional como a Reunio Brasileira de Manejo e

    Conservao do Solo e da gua (RBMCSA) incluir assuntos mais

    abrangentes e associados ao tema (COGO, 2004). Neste sentido,

    considerando-se que os servios ambientais de ecossistemas agrcolas

    vm sendo tema de negociaes internacionais, h uma possibilidade

    de profissionais com experincia em conservao do solo convencerem

    os produtores em adotar prticas conservacionistas no mbito da

    oportunidade de mercado. Um caminho a Produo Integrada de

    alimentos, carnes e fibras coordenada pelo Ministrio da Agricultura,

    Pecuria e Abastecimento. Trata-se de um sistema de produo que

    gera alimentos e demais produtos de alta qualidade enfatizando a

    preservao e o desenvolvimento da fertilidade do solo e a diversidade

    ambiental como componentes essenciais, levando-se em conta a

    proteo ambiental, o retorno econmico e os requisitos sociais

    (ANDRIGUETTO, 2002).

    47

  • H oportunidades para participarmos em diferentes foruns

    internacionais, conforme apontado por Dumanski (2006), de modo a

    integrar a conservao do solo a atividades lucrativas e oportunidades

    de mercado. Sabe-se que as certificaes socioambientais, ou selos-

    verdes, esto deixando de ser um diferencial voltado a nichos de

    mercado para se tornar exigncia de mercado, especialmente para

    commodities e biocombustveis (CONROY, 2007). As certificaes

    normalmente so emitidas por entidades independentes ou

    organizaes no-governamentais. Tudo comeou em 1995 com o

    estabelecimento de critrios para o manejo sustentvel de florestas da

    FSC (sigla em ingles para Forest Stewardship Council) que conta hoje

    com 827 organizaes e indivduos associados (CHASEK et al., 2010).

    No Brasil, j h certificao para produtos agrcolas com menor

    impacto ambiental oferecidos, por exemplo, pela Imaflora, parte de

    rede em que participa a Rainforest Alliance e pela Comrcio Justo

    (Fairtrade) com sede na Alemanha. Segundo Conroy (2007), somente

    com produtos com o selo Comrcio Justo, j foram comercializados 4,5

    bilhes de euros em 2007. Os critrios para certificao abrangem a

    conservao do solo e, apesar de no incluir o uso de plantas de

    cobertura, elas oferecem oportunidades para aperfeioamento dos

    critrios para certificao. Apesar dos procedimentos para a seleo

    dos critrios serem, em alguns casos, pouco transparentes ou gerarem

    suspeitas de barreiras no-tarifrias de mercados (CHASEK et al.,

    2010), eles poderiam ser aperfeioados por meio de regimentos

    internos j descritos em reunies de pesquisa para informaes

    tcnicas de diferentes culturas no Brasil (REUNIO DA COMISSO

    CENTRO-SUL BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO E TRITICALE,

    2006; SARAIVA et al., 2006). Constata-se que h espao para uma

    efetiva contribuio de especialistas em conservao do solo e da gua

    de ecossistemas agrcolas num contexto de mercado ambientalmente

    seguro e socialmente justo. Quem tomar a iniciativa?

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    52

  • Although food security is reasonably assured, about 2 M people go hungry every day, due more to

    problems of internal security and distribution. 3

    Discussions on global environmental degradation include dimensions of land degradation. Although the

    terms have different meaning, in most cases, environmental degradation cannot occur without

    considerable degradation of land resources.

    2

    Introduction

    Soil conservation has its roots in historical antiquity, but the

    institutionalization of the movement began with the major droughts

    and environmental devastations which occurred in the early part of the

    20th century. The approaches to soil conservation that emerged from

    these experiences focused on prescriptive technological and

    engineering approaches to prevent or mitigate the impacts of soil

    erosion on crop yields, farmer income, and food security. However, after

    almost a century of soil conservation, the world has changed.

    Agriculture is now less natural resource based, and more strongly

    affected by global events, production subsidies, and other safety nets.

    Over the past decades, new land management technologies have

    progressively improved crop yields, and until very recently, the 2

    accepted evidence was that food security was no longer a concern .

    However, events of the past year bring this into question.

    Although the importance of soil conservation to national

    agricultural GDP varies from country to country, the global importanc