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III Mostra do Cinema Português l

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III Mostra do Cinema Português l

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05- Apresentação SR-3/UERJ

06- Apresentação LCV

07- O novo cinema português

09- Quando o cinema português era moderno…

11- Programação

13- Os filmes

16- Os diretores

19- Os palestrantes

23- Agradecimentos

III Mostra do Cinema Português

Museu de Arte ModernaRio de Janeiro

Cinemateca do lnov 2009

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4 Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português 5

Em 1950, foi fundada a Universidade do Distrito Federal (UDF), atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sua preocupação com o atendimento aos seus variados públicos e com o aprimoramento cons-tante de seus serviços pode ser exemplificada pelo pioneirismo na criação de uma Ouvidoria. A UERJ foi a primeira universidade pública do Estado do Rio de Janeiro a criar esta instância de exercício da cidadania. Como instituição pública, sua missão está pautada nos conceitos da igualdade e pluralidade, sendo precursora também na implantação da reserva de vagas para ingresso pelo vestibular.

A condição de instituição estadual confere à UERJ um forte compromisso com o desenvolvimento regional, que se materializa em uma intensa ati-vidade de extensão, cuja responsabilidade é da Sub-Reitoria de Extensão, SR-3. Ao longo dos anos, a Universidade tem colaborado com a constru-ção de políticas públicas por meio de projetos destinados a melhorar as condições de vida da população fluminense. Ao mesmo tempo, a extensão proporciona a troca de saber e de experiências entre a comunidade acadê-mica e o público externo.

O apoio conferido a III Mostra de cinema português confere a Sub-Rei-toria de Extensão da UERJ um caráter duplamente inovador. Ao apostar em iniciativas como esta, ressalta-se o interesse em não apenas difundir o saber científico como também, e principalmente, formar platéias do ponto de vista mais amplo e humano.

Apresentação SR-3/UERJ

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6 Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português 7

Como parte das atividades do projeto Audiovisual e cultura dos países lusófonos, realizamos conjuntamente três eventos: a III Mostra de Cinema Português: o novo cinema português; o curso de extensão O Cinema por-tuguês e os seus filmes, a ser ministrado pelo professor Doutor Antonio Pedro Pita, Catedrático da Universidade de Coimbra e coordenador do grupo de pesquisa “Correntes artísticas e movimentos intelectuais” do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (Ceis20), e o I Simpó-sio “O Cinema dos Países Lusófonos: o novo cinema português”, que con-tará com as presenças dos pesquisadores convidados: Paulo Cunha e Paulo Granja (Ceis20/Universidade de Coimbra), Bernadete Lyra (Universidade Anhembi/Morumbi) e Ana Isabel Soares (Universidade do Algarve). Com estes eventos, pretendemos dar continuidade e aprofundar o debate sobre esta cinematografia, já iniciadas na 1ª e 2ª Mostras do Cinema Português, ocorridas em 2007, na UERJ, e em 2008 no Centro Cultural Banco do Bra-sil do Rio de Janeiro.

Os eventos supracitados são propostos pelo Laboratório Interinstitucional de Cinema e Vídeo (LCV) – Art/UERJ; Puro/UFF; EBA/UFRJ –, com o apoio dos Grupos de Pesquisa Pensamento e experiência: audiovisual, artes, mídia e design, da UERJ e Correntes artísticas e movimentos intelectuais, do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX/CEIS-20/ Universidade de Coimbra, na organização; e, por outro lado, contamos com a co-produ-ção da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – local onde também ocorrerão os eventos; e o apoio do Instituto Camões, da Cine-mateca Portuguesa, e das universidades do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, Federal Fluminense/UFF e Federal do Rio de Janeiro/UFRJ.

Do ponto de vista consensual, o Novo Cinema português corresponde ao movimento de renovação da cinematografia portuguesa que tem seu marco histórico com o filme de Paulo Rocha Os verdes anos (1962). Após anos de cinefilia e de debates travados nas inúmeras revistas especializa-das que surgiram na década de 1950, Portugal, através do mencionado filme, parecia finalmente dar a ver o primeiro projeto de modernização do cinema português.

Recém egressos de cursos de cinema no estrangeiro, alguns jovens inexpe-rientes, mas repletos de sonhos, decidem revolver as estruturas precárias de produção de cinema em Portugal, propondo novas temáticas, novas estéticas e novos modos de fazer cinema.

O encontro de Paulo Rocha com António da Cunha Telles, ambos egres-sos do IDHEC - Institut des hautes études cinématographiques -, a famosa escola de cinema de Paris, converge-se no filme-marco do novo cinema português, Os verdes anos, importando da França o modo de fazer cinema pensado pela nouvelle vague.

Além de Os verdes anos, Cunha Telles produz o média-metragem Belar-mino (1963) de Fernando Lopes, recém egresso de Londres - onde o jovem realizador havia estudado, travando contato ali com as novas técnicas do documentário inglês e do cinema independente. Antes, porém de Belar-mino, Fernando Lopes já havia surpreendido com os curtas-metragens As pedras e o tempo, de 1961 e As palavras e os fios, de 1962.

O filme produzido em sequência também pela mesma “Produções Cunha Tel-les” é Domingo à tarde, de António Macedo e tem estréia em 1964. Domingo à tarde antecipa, ainda nos anos 1960, uma das grandes marcas do cinema por-tuguês da década seguinte: a vertente existencialista e experimental.

Na fronteira inaugural do novo cinema português, e aqui incluídos neste III Mostra de cinema português, estão os filmes Dom Roberto, realizado

O Novo Cinema PortuguêsApresentação LCV

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pelo crítico de cinema Ernesto de Sousa, cuja estréia se deu muito pró-xima ao Os verdes anos, e também Almadraba Atuneira, de António Cam-pos. Dois filmes que servem aqui como indício de uma tentativa de re-dis-cussão dos limites do novo cinema português.

No momento da virada da década de 1960 para 1970, incluímos O cerco, de Cunha Telles, produtor que marca sua estréia na direção com um inu-sitado sucesso de público e de crítica, fato que aliás nenhum dos filmes anteriores havia conseguido lograr.

Por outro lado, os filmes desta geração encontraram uma enorme dificul-dade produtiva, herança deixada pela rigidez de um mecanismo de produ-ção cultural enrijecido pelo Estado Novo e pela censura, e também escas-sos mecanismos de distribuição e exibição. Estes filmes isolados da “pri-meira fase” do novo cinema fundaram o mote para a discussão em torno dos caminhos do novo cinema português da década subseqüente.

Nesse sentido, a década de 1970, portanto, é um momento de viragem ful-cral para a história do cinema português e não apenas por conta da visibi-lidade alcançada no estrangeiro pelo O cerco de Cunha Telles, mas porque marca o início do vínculo estrutural do Centro Português de Cinema, coo-perativa criada por esta geração cinéfila de novos cineastas, e a Fundação Calouste Gulbenkian, principal financiadora do cinema português entre os anos 1970 a 1976, marcando o início de uma “segunda fase” do novo cinema português.

Os filmes aqui incluídos nesta III Mostra de cinema português vislum-bram, portanto, estas fecundas décadas. O recorte proposto, de modo geral, traz filmes imprescindíveis para a compreensão do novo cinema português e que trouxeram à cena os mais importantes nomes da filmo-grafia portuguesa do século XX.

Os curadores

As décadas de 1960-70 ficaram marcadas na história do cinema português como um período de forte renovação técnica e estética no cinema. Estas déca-das revelariam ao cinema português uma nova geração de cinéfilos que luta-ram pela afirmação de um cinema de autor e pelo reconhecimento do cinema que viam e faziam enquanto forma de expressão artística de alta cultura.

Se, ideologicamente, esta nova geração cinéfila estava umbilicalmente ligada ao cineclubismo e ao neo-realismo italiano, esteticamente seria a partir dos modelos ditados pelo free cinema inglês e pela nouvelle vague francesa que uma geração de realizadores que recebeu formação cinema-tográfica na Europa – particularmente em Londres e Paris – reivindicaria uma revolução para o cinema português. Polêmicos, estes novos cineastas autoproclamavam-se como a primeira “geração de cineastas cultos” e a única dotada de uma verdadeira e inédita cultura cinematográfica.

Entretanto, a má recepção do(s) público(s) às propostas modernas, a cen-sura vigilante da ditadura, a crueldade de um mercado cinematográfico monopolizado pelos interesses norte-americanos contribuíram de forma decisiva para a falência das Produções António da Cunha Telles e da cha-mada primeira fase do novo cinema português. Estas dificuldades contri-buíram também para a radicalização e experimentação que a generalidade dos novos cineastas não hesitou em seguir no final da década enquanto se preparava a constituição do futuro Centro Português de Cinema. Aí, com total autonomia criativa e financeira – graças ao mecenato providente da Fundação Calouste de Gulbenkian – outros jovens se juntaram ao grupo fundador que deixara a margem e era agora finalmente reconhecido como o centro do cinema português, controlando todos os postos fundamentais da instituição cinema em Portugal. Foi também nesse Centro que se con-solidou a internacionalização do cinema moderno português, sendo agora também reconhecido pela crítica e pelos mais prestigiados circuitos ciné-filos internacionais.

A revolução de Abril de 1974 marcaria o início do fim desta aventura cine-matográfica moderna. Durante os dois anos da revolução, a maioria dos jovens cineastas fez uma pausa cívica e militante para filmar o povo, as armas, as greves, a reforma agrária e todos os momentos da tão aguardada revolução. A normalidade voltaria nos anos finais da década de 1970, mas agora os paradigmas estéticos e cinematográficos eram já outros. Entre-tanto, cineastas tão singulares como Manoel de Oliveira, o casal António Reis/Margarida Cordeiro, António Campos, João César Monteiro e Paulo Rocha indicavam múltiplos caminhos para o cinema português, caminhos esses que foram seguidos com maior ou menos sucesso na década seguinte.

Quando o cinema português foi moderno…

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O CINEMA DOS PAÍSES LUSÓFONOS 24 a 27 nov 2009

CURSO DE EXTENÇÃOO CINEMA PORTUGUÊS E OS SEUS FILMES25, 26 e 27 nov 10hMinistrado por António Pedro Pita

I SIMPÓSIO O CINEMA DOS PAÍSES LUSÓFONOSO NOVO CINEMA PORTUGUÊS24 nov 14h - 15h45CERIMÔNIA DE ABERTURA

25 nov 14h - 15h451ª mesa: Ana Isabel Soares e Michelle SalesMediador: Jorge Cruz

26 nov 14h - 15h452ª mesa: Bernadete Lyra e Paulo Cunha Mediador: Rodrigo Guerón

27 nov 14h - 15h453ª mesa: Paulo Granja e Antonio PitaMediador: Leandro Mendonça

III MOSTRA DO CINEMA PORTUGUÊSO NOVO CINEMA PORTUGUÊS24 nov 16h Jaime (37’), 1973, António Reis / Os verdes anos (102’), 1962, Paulo Rocha.coffe-break18h Quem espera por sapatos de defunto morre descalço (33’), 1971, João César Monteiro / Dom Roberto (102’), 1962, Ernesto de Sousa.

Programação

25 nov 16h As pedras e o tempo (16’), 1961, Fer-nando Lopes / Belarmino (72’), 1964, Fernando Lopes.coffe-break18h Pousada das Chagas (20’), 1971, Paulo Rocha / O cerco (115’), 1970, Cunha Telles.

26 nov 16h 27 minutos com Fernando Lopes Graça, 1969, António Pedro Vasconcelos / Domingo à tarde (97’), 1965, António Macedo.coffe-break18h Almadraba atuneira, (27’), 1961, António Campos / Brandos costumes (72’), 1974, Alberto S. Santos. 27 nov 16h O Recado, (110’), 1971, Fonseca e Costas / Velhos amigos, (52’), 2009, Michelle Sales. Lançamento do Cadernos do Ceis20, Verdes Anos: o neo-realismo na gênese do novo cinema português.Debate, avaliação e encerramento.

sab 28 16h Belarmino de Fernando Lopes. Por-tugal, 1964. 72’. As pedras e o tempo de Fernando Lopes. Portugal, 1961. 16’.18h Os verdes anos de Paulo Rocha. Portugal, 1962, 102’. Jaime de Antônio Reis. Portugal, 1973. 37’.

dom 29 16h Brandos costumes de Alberto S. Santos. Portugal, 1974. 72’. Almadraba atuneira de Antônio Campos. Portugal, 1961. 27’.18h O cerco de Cunha Teles. Portugal, 1970. 115’.

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Os filmes

27 minutos com Fernando Lopes Graça(1969), António Pedro VasconcelosInserido numa série de documentários sobre grandes figuras das artes portuguesa, 27 minutos com Fernando Lopes-Graça é a primeira obra de António-Pedro Vasconcelos. Num registro pleno de referências e citações cinéfilas, Vasconcelos é testemunha do cotidiano, das rotinas, dos proces-sos criativos e dos momentos de lazer do prestigiado compositor e musi-cólogo Fernando Lopes-Graça.

Almadraba Atuneira (1961), António CamposEm 1960, durante uma estada de férias no Algarve, Campos ficou fasci-nado pela faina de uma pequena comunidade piscatória da ilha da Abó-bora. Um ano mais tarde, Campos regressou, sem equipa e com uma câmara emprestada de 16mm, e filmou a vida da comunidade durante a última campanha de atum do arraial desaparecido pouco depois. A Alma-dabra Atuneira (1961) foi o primeiro filme de Campos nas características documentais que o celebrizaria posteriormente como cineasta etnográfico e antropológico.

As pedras e o tempo (1961), Fernando LopesMarca a estreia na realização de Fernando Lopes. Esta curta-metragem documental sobre a cidade de Évora apresenta já os primeiros aspectos estilísticos e técnicos da renovação que chegaria pela década 60 adentro. Filmado e montado com uma linguagem cinematográfica diferente da habitual no cinema português para este tipo de filmes turísticos, este filme de Fernando Lopes assume uma postura que se interroga e faz-nos inter-rogar sobre a função e os limites do filme documentário.

Belarmino (1964), Fernando LopesEspécie de misto entre ficção e documentário que traz como personagem central um ex-boxer português que vive entre os treinos e os bas-fand lis-boeta, o Belarmino Fragoso. Desafiando os limites entre o real e a ficção, Fernando Lopes contrapõe ao discurso de Belarmino, o do seu ex-mana-ger, Albano Martins. Ao fundo, a cidade de Lisboa, cenário-chave que se transforma e se confunde com a trajetória do próprio Belarmino Fragoso.

Brandos costumes (1974), Alberto Seixas SantosConfrontos da esfera da vida privada são narrados em paralelo à cena his-

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tórica coletiva do país. Primeiro filme de Seixas Santos e um dos primeiros financiados pela Cooperativa Portuguesa de Cinema, Brandos Costumes é, ao lado de José Fonseca e Costa, um dos principais representantes de um cinema político português vinculado aos ideários da então esquerda.

Domingo à tarde(1965), António de MacedoJorge, médico do setor de doentes terminais, apaixona-se por Clarice, aco-metida por leucemia em estágio já avançado. O amor entre dois é mar-cado por um certo tom perturbador e existencialista, tendo sempre como elemento estruturador a morte. Adaptação da obra homônima do roman-cista português Fernando Namora.

Dom Roberto(1962), Ernesto de SousaJoão Barbelas é Dom Roberto, o criador de um teatro de fantoches que perambula pelas ruas da cidade de Lisboa e que se apaixona por Maria, que também vive de forma tão precária quanto a sua. O romance entre dois sofre diversos percalços decorrentes sempre da falta de dinheiro e do desamparado social em que estão imersos. Jaime (1974), António ReisO realizador, neste média-metragem, vislumbra a possibilidade de reve-lar a personalidade de Jaime Fernandes (1900-1969) a partir de uns dese-nhos e de uns escritos. Jaime Fernandes é um anônimo, doente psiquiá-trico hospitalizado desde os 38 anos de idade. Depois de três décadas de internamento, Jaime Fernandes revelou-se, nos últimos três anos da sua vida, um prodigioso artista plástico e poeta. A partir dos desenhos e textos encontrados no asilo e através do contacto com a viúva e alguns conhe-cidos do artista, António Reis construiu um belíssimo filme que cruza os terrenos do documentário e da poesia.

O cerco (1969), António da Cunha TellesA protagonista do filme é Marta, uma jovem da alta burguesia que atra-vessa uma angústia existencial: abandona o marido e procura uma exis-tência mais autêntica e livre. Marta deixa-se envolver em romances fortui-tos com homens que não a compreendem e que a exploram de diferentes formas, sobretudo sexualmente. Marta sobrevive no mundo da marginali-dade, prostituição, contrabando e sente-se cada vez mais cercada.

O recado (1971), de José Fonseca e CostaConta-nos a história de Lúcia que, apesar de relacionar-se com António, nutre paixão secreta por Francisco, um sujeito marginalizado e aventu-reiro. Este banal triângulo amoroso é o pano de fundo para a crítica social que o filme encobre ao encenar a PIDE e os meandros da censura, notabi-lizando-se, por isso, como um grande retrato geracional. Os verdes anos (1962), Paulo Rocha O protagonista do filme é Júlio, um jovem tímido e inseguro que chega a Lisboa e logo se apaixona por Ilda, uma empregada doméstica ambiciosa e desinibida. O relacionamento de Júlio com o seu tio e com os colegas de trabalho fazem crescer o seu sentimento de hostilidade e inadaptação ao ambiente urbano. Júlio só vê uma solução para os seus problemas: casar com Ilda e fugir de Lisboa para o meio rural ou para o estrangeiro. Uma tarde, Júlio propõe a Ilda que casem e que partam para longe. Nessa noite, Júlio mata Ilda.

Pousada das Chagas(1972), Paulo RochaDocumento que assinala a radicalização estética e estilística da geração do novo cinema na viragem para os anos 70. Filme encomenda da Funda-ção Calouste Gulbenkian sobre a colecção de arte sacra de Óbidos, Paulo Rocha rompe com todas as formas clássicas do cinema e cria um filme surpreendente que cruza o espólio sacro do museu com um imaginário literário para construir, nas palavras do próprio Paulo Rocha, um “drama sacro modernista”.

Quem espera por sapatos de defunto, morre descalço(1968) João César MonteiroQuem espera por sapatos de defunto morre descalço (1968), primeiro pro-jecto de João César Monteiro, é uma espécie de filme caseiro ou familiar que retrata o quotidiano de um grupo de amigos da pequena burguesia inte-lectual que procura soluções para as dificuldades do dia-a-dia. Produzido artesanalmente, o filme assume o tom confessional que pretende retratar a geração que, por estes anos, lutava pela renovação do cinema português.

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motivou-o a ingressar no curso de Filmologia da Sorbonne. Seu filme de estréia, Perdido por cem, de 1973, é marco sintomático de uma geração atravessada por questões existencialistas. Além de realizador, foi também crítico de cinema do Cinéfilo e colunista de vários jornais.

ANTÓNIO REISNasceu em 1927 numa freguesia de Vila Nova de Gaia, no Norte de Portu-gal. Aos trinta anos editou o seu primeiro livro de poemas, Poemas Quoti-dianos, a que se seguiu um outro, dois anos mais tarde. Tal começo pode ter ditado o epíteto que as suas obras fílmicas tantas vezes recebem, o de cinema poético. Membro do Cineclube do Porto, começou por participar em realizações colectivas naquela associação, nomeadamente em Auto de Floripes (1959) ou Do Rio ao Céu (1964). Em 1963 trabalhou como assis-tente de realização de Manoel de Oliveira, no seu paradigmático Acto da Primavera, e colaborou ainda com Paulo Rocha na escrita do roteiro de Mudar de Vida (1966) antes de, em 1974, se lançar na sua primeira rea-lização autónoma, Jaime. Este filme teve já a forte influência criativa de Margarida Cordeiro, sua mulher, com quem viria a assinar, um ano depois, aquela que foi talvez a sua obra mais difundida, Trás-os-Montes; o filme Ana, em 1985, e Rosa de Areia, que haveria de se tornar no seu der-radeiro, em 1989. Reis foi ainda um dos mais importantes professores do Conservatório de Lisboa, hoje Escola Superior de Teatro e Cinema, onde influenciou cineastas como João Pedro Rodrigues, Pedro Sena Nunes ou Pedro Costa.

FERNANDO LOPESEstréia na realização com os curta-metragens As pedras e o tempo, de 1961 e As palavras e os fios, de 1962. Logo em seguida, realiza Belarmino, em 1963, obra-chave do novo cinema português.Em 1965, faz estágio nos Estados Unidos e quando volta realiza Uma abelha na chuva, adaptação do livro homônimo de Carlos de Oliveira. Este último tem estréia em 1971. É membro fundador do Centro Português de Cinema e foi professor, durante muitos anos, da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa.As dificuldades financeiras fazem-no prosseguir a sua carreira sobretudo no cinema publicitário e institucional. Nos anos 80, torna-se programador na RTP e afasta-se temporariamente da realização, regressando só no final da década: Crônica dos Bons Malandros (1984), Matar Saudades (1988) e O fio do horizonte (1993). Nos últimos vinte anos, regressou à realização depois de muitos anos de inactividade: O delfim (2002), Lá Fora (2004) e 98 Octanas (2006).

ALBERTO SEIXA SANTOSInteressa-se primeiramente pelo exercício da crítica de cinema, tendo des-tacada atuação neste campo. Foi dirigente do ABC Cineclube de Lisboa, um dos cineclubes mais atuantes de Portugal. Seu filme de estréia, Bran-dos costumes, foi selecionado para o Festival de Cinema de Berlim e é um dos primeiros filmes realizados com subsídio da Fundação Calouste Gul-benkian. Foi também professor da Escola Superior de Teatro e Cinema e diretor de programas da Rádio Televisão Portuguesa.

ANTÓNIO DA CUNHA TELLESEvidenciou-se durante a década de 1960 como o mais ambicioso e pro-missor produtor de cinema da história do cinema português, produ-zindo algumas das maiores obras do cinema português. Na viragem para a década de 1970, estreou-se na realização com O cerco (1969) e, mais tarde, notabilizou-se na distribuição de cinema de autor inédito no mer-cado cinematográfico português. Desenvolve também diversas funções administrativas e directivas na Escola Superior de Cinema, no Instituto Português de Cinema e na Tóbis Portuguesa. Em meados dos anos 1980 relança-se como produtor, apostando sobretudo nas funções de produtor executivo ou associado de perto de centena e meia de trabalhos de cine-astas estrangeiros que filmavam em Portugal. Na última década, tem tra-balhado também na produção de filmes para televisão e regressado muito pontualmente à realização.

ANTÓNIO MACEDORealiza os primeiros trabalhos experimentais no início dos anos 60 e rapi-damente passa ao cinema publicitário e institucional, tornando-se mais ativo, profícuo e premiado realizador da década de 1960-70, abandonando inclusive a sua profissão de arquiteto para se dedicar exclusivamente ao cinema. Em 1965 estreia o longa-metragem Domingo à tarde, seguindo-se depois Sete balas para Selma (1967), Nojo aos cães (1970) e A Promessa (1972), que é seleccionado para o Festival de Cannes. Depois da Revolu-ção de 1974, opta por um cinema de cariz acentuadamente fantástico e esotérico. Em 1993, realizou Chá forte com Limão e, desde então, tem visto repetidamente recusados pedidos de apoio à produção de institutições públicas. Tem-se dedicado ao ensino e à produção literária.

ANTÓNIO PEDRO VASCONCELOSFreqüentou o curso de Direito da Universidade de Lisboa, abandonando, posteriormente os estudos para ir estudar cinema em Paris. O conví-vio com os amigos Alberto Seixas Santos, João César Monteiro e outros

Os diretores

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Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português 1918 Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português

ANA ISABEL SOARES Doutorada em Teoria da Literatura pela Universidade de Lisboa e profes-sora na Universidade do Algarve. Tem a seu cargo aulas de graduação e de pós- graduação nas áreas de História do Cinema, Teoria da Imagem, Estu-dos Culturais, Literatura e Cinema, e Literatura Inglesa. Prepara um pós-doutoramento sobre poesia e cinema documental, no Programa em Teo-ria da Literatura da Faculdade de Letras de Lisboa, como bolsista da Fun-dação para a Ciência e a Tecnologia. É membro do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (UAlg e Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa). Colaborou na edição da monografia António reis, a Poesia da Terra (Cineclube de Faro, 1997); editou, com Mirian Tavares, um volume de ensaios na área dos estudos fílmicos (2007) e tem publicado artigos e orientado seminários em várias universidades sobre cinema português, nomeadamente sobre a obra de António Reis e Margarida Cordeiro.

ANTÓNIO PEDRO PITAProfessor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É Coordenador do Grupo de Investigação “Correntes Artísticas e Movi-mentos Intelectuais” do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra - CEIS20. É igualmente Diretor Regional da Direção Regional de Cultura do Centro. Publicou, entre outras obras, Transformações Estruturais no Campo Cultural Português (1900-1950), (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009), em coordena-ção com Luís Trindade, e Cultura e emancipação, 1929-1933. Edição crí-tica da obra integral de Bento de Jesus Caraça — vol. I (Porto: Campo das Letras, 2002), com Luís Augusto Costa Dias e Helena Neves.

BERNADETTE LYRAPossui graduação em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo/ UFES (1972), mestrado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ (1981) e doutorado em Cinema pela Universidade de São Paulo/ USP(1988). Tem pós-doutorado na Université René Des-cartes (ParisV, Sorbonne). Atualmente é Professora Titular e Coordena-dora do Mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. É Coordenadora do GT Cinema, Fotografia e Video da Associação de Pro-gramas de Pós-Graduação em Comunicação/Compós. Sócia Fundadora e atual membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Pes-quisadores de Cinema e Audiovisual/Socine. Professora Visitante da Uni-versidade do Algarve, Portugal.

JOSÉ ERNESTO DE SOUSAÉ um dos importantes fundadores do movimento cineclubista português e também um reconhecido crítico de cinema. Para além do cinema, Ernesto de Sousa, como é melhor conhecido, tem também destacada atuação na área da fotografia, das artes plásticas, do teatro, do jornalismo e do rádio. Pelo ecletismo e importância da sua trajetória, na ocasião de estréia de seu primeiro filme, Dom Roberto, houve um grande burburinho da imprensa. Alguns pensadores reconhecem este filme como um marco inaugural do novo cinema português, juntamente com o filme de Paulo Rocha, Os ver-des anos.

JOSÉ FONSECA E COSTAÉ um dos mais combativos diretores do cinema português, tendo sido filiado ao Partido Comunista e exercido a crítica de cinema nos periódicos Imagem e Seara nova, ambos fortemente contrários ao regime ditatorial de Salazar. Por conta de seu posicionamento político, foi-lhe negado uma bolsa para estudar no estrangeiro, a pedido da polícia política de Portugal, a PIDE. O início da sua vida profissional se dá em 1961, na Itália, onde trabalha com Michelangelo Antonioni no filme O eclipse. Seu primeiro filme O recado é uma sutil sátira e crítica ao Estado Novo e à censura em Portugal. PAULO ROCHAAbandona os estudos de Direito e parte para Paris, para o IDHEC, como bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian em 1959. Foi assistente de direção de Jean Renoir em Le corporal épingle, em 1962. Trabalhou tam-bém como assistente de direção de Manoel de Oliveira em Acto da pri-mavera, de 1963 e A caça, 1964. Seu filme de estréia, Os verdes anos, de 1962, agita o circuito cinéfilo de Lisboa e é considerado por muitos como o filme inaugural do novo cinema português. É membro fundador do Centro Português de Cinema e entre os anos 1975 e 1983, parte para o Japão como adido cultural da Embaixada Portuguesa no Japão, fato que influenciará e marcará toda sua trajetória como diretor. Tem boa parte da sua obra virada para o Oriente, tal como está expresso nos filmes A ilha dos amores, de 1982 e A ilha de Moraes, de 1983.

Palestrantes

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Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português 2120 Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português

JORGE CRUZGraduado em Educação Artística História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Uerj (1983), é mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ (1990) e doutor em Comu-nicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Puc-SP (2002). Atualmente é professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Organizou o livro Gilles Deleuze: sentidos e expressões (RJ, Ciência Moderna, 2006), escreve e apresenta o quadro radiofônico No escurinho do cinema, na Rádio Manchete do Rio de Janeiro e realizou o curta-metragem A quadrilha, em 35 mm.

LEANDRO MENDONÇAPossui graduação em Direito pela Universidade Federal Fluminense (1984), mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2001) e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universi-dade de São Paulo (2007). Atualmente é professor de Direção e Produ-ção de Cinema na Universidade Federal Fluminense. Entre 1999 e 2007 foi professor da Universidade Plinio Leite e editor - Editora Vicio de Leitura. Tem experiência na área de Cinema, com ênfase em Administração de espaços culturais e Produção de Filmes, atuando e pesquisando principal-mente nos seguintes temas: mercado cinematográfico, cinema brasileiro, cinema português, crítica cinematográfica e comédia popular.

MICHELLE SALESProfessora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bacharel e Mestre em Comunicação Social (PUC – Rio). Douto-rado em Estudos de Literatura em andamento pela mesma universidade, com estágio de pesquisa na Universidade de Coimbra ao longo de 2008. Autora de diversos artigos sobre cinema português e brasileiro, publicados no Brasil e em Portugal e do ensaio “Radiografia da Metrópole carioca: registros da cidade no cinema e os paradoxos da sua imagem” (SR-3, LCV, 2009). Membro do Grupo de Pesquisa Pensamento e experiência: audio-visual, artes, mídia e design da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e do grupo Correntes artísticas e movimentos intelectuais da Universidade de Coimbra.

PAULO CUNHABolseiro de doutoramento da FCT. Membro do Centro de Estudos Inter-disciplinares do Séc. XX – CEIS20, grupo de trabalho “Correntes Artís-ticas e Movimentos Intelectuais”. Responsável pela base de dados Novo

Cinema Português (1949-80) (http://ncinport.wordpress.com/), espaço de divulgação, estudo e discussão sobre o período de renovação estética da história do cinema português entre 1949 e 1980”. Mestre em Histó-ria das Ideologias e Utopias Contemporâneas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2002-2005). Dissertação sob o título Os filhos bastardos. Afirmação e Reconhecimento do Novo Cinema Português (1967-1974). Muito Bom por unanimidade. Licenciatura em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1997-2001).

PAULO GRANJABolseiro de doutoramento da FCT. Membro do Centro de Estudos Inter-disciplinares do Séc. XX – CEIS20, grupo de trabalho “Correntes Artísticas e Movimentos Intelectuais”. Mestre em História Contemporânea, Janeiro 2007. Licenciatura em História, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Julho 1998. É, atualmente, professor Assistente convidado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Outubro 2004.

RODRIGO GUÉRONProfessor Adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no Instituto de Artes. Doutor em Filosofia também pela UERJ (2004), linha de pesquisa “Estética e Filosofia da Arte”, com a tese “Cinema e Cli-chê, o Niilismo na Imagem”. Mestrado e Graduação em Filosofia na Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com dissertação de mestrado sobre Nietzsche e a História.

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Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro Mostra do Cinema Português 23

III Mostra de cinema português

Curadoria Jorge CruzLeandro Mendonça Michelle Sales

Organização e ProduçãoJorge CruzLeandro Mendonça Michelle Sales

EstagiáriosArthur Batista CordeiroLaís Melo

Assessoria de imprensaAnna Beatriz Cruz

Co-ProduçãoGilberto Santeiro e Carlos Eduardo Pereira

ColaboradoresPaulo CunhaAna Isabel Soares

Design LivretoCarla Marins e Rafaela Taranto

AgradecimentosCinemateca do lGilberto SanteiroCarlos Eduardo PereiraCinemateca PortuguesaInstituto CamõesUniversidade do Estado do Rio de JaneiroArquivo Nacional das Imagens em MovimentoCentro de Estudos Interdisciplinares do Século XXAntónio Pedro PitaPaulo RochaFernando LopesAntónio da Cunha TellesAntónio Pedro VasconcelosAlberto Seixas SantosSara MoreiraLuís GameiroCátedra Pe. António Vieira de Estudos PortuguesesTereza Cristina de Oliveira

Museu de Arte ModernaRio de JaneiroAv Infante Dom Henrique 85 Parque do Flamengo20021-140 Rio de Janeiro RJ Brasil T +55 21 2240 4944www.mamrio.org.br

MantenedoresPetrobrasLightVolvo

ParceirosBolsa de Arte do Rio de JaneiroExpandGrupo Icatu HartfordMica Mídia CardsSalta ElevadoresLei de Incentivo à Cultura | Ministério da Cultura

Projetos EspeciaisRecuperação de acervo fílmico e digitalização acervo de fotografiasONS Operador Nacional do Sistema ElétricoProjeto Educativo - Vale

PresidenteCarlos Alberto Gouvêa Chateaubriand

Vice-PresidenteJoão Maurício de Araujo Pinho Filho

DiretorLuiz Schymura

ConselheirosArmando StrozenbergCarlos Alberto Gouvêa ChateaubriandDemósthenes M. de Pinho FilhoEduardo ViannaElisabete Carneiro FlorisGilberto Chateaubriand (Presidente)Heitor ReisHelio PortocarreroHenrique LuzIrapoan Cavalcanti de LyraJoão Maurício de Araujo Pinho (Vice Presidente)João Maurício de Araujo Pinho FilhoJoaquim PaivaKátia Mindlin Leite BarbosaLuiz Carlos BarretoLuiz SchymuraNelson EizirikPaulo Albert Weyland Vieira

Artes PlásticasLuiz Camillo Osório (Curador)Frederico Coelho (Assistente)

Pesquisa e DocumentaçãoRosana de Freitas (Curadora)

CinematecaGilberto Santeiro (Curador)Hernani Heffner (Assistente)

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