LITERATURA COMO MISSÃO - NICOLAU SEVCENKO

8
Nome: Ronaldo Alves Ribeiro dos Santos Data: 01/10/2012 LITERATURA COMO MISSÃO – NICOLAU SEVCENKO Iniciamos o projeto de Iniciação Cientifica – financiado pelo CNPq com a leitura de dois livros de Nicolau Sevcenko, Literatura como Missão. Nesse livro Sevcenko apresenta um quadro da nossa Bella époque, centrando sua análise critica em duas figuras importantes, mas que se tornaram marginalizadas tanto politica quanto intelectualmente, Lima Barreto e Euclides da Cunha. A Bella Époque Brasileira, também conhecida como Belle Époque Tropical, foi um período artístico, cultural e político do Brasil, que começou com a derrocada do Império e a proclamação da República em seguida. Esta “Belle Époque” teve início no mandado do primeiro presidente do país, naquela época, Deodoro da Fonseca, no final de 1889, e acabou em 1922. Com a queda da Monarquia e a ascensão da República, desejou-se inaugurar no Brasil uma nova era, por isso, procurou-se minimizar tudo o que podia reportá-los o Imperialismo e a colonização portuguesa. Como a Europa era vista como grande civilização 1 , o Brasil tentou aproximar sua cultura da cultura francesa e italiana. Nessa época tivemos no Brasil a fundação de Belo Horizonte, cidade planejada, e as grandes reformas urbanísticas empregadas no Rio de Janeiro, então Capital Federal, por Pereira Passos e Rodrigues Alves. 1 Entenda Civilização como o estágio mais avançado de uma sociedade.

Transcript of LITERATURA COMO MISSÃO - NICOLAU SEVCENKO

Page 1: LITERATURA COMO MISSÃO - NICOLAU SEVCENKO

Nome: Ronaldo Alves Ribeiro dos Santos Data: 01/10/2012

LITERATURA COMO MISSÃO – NICOLAU SEVCENKO

Iniciamos o projeto de Iniciação Cientifica – financiado pelo CNPq com a leitura de

dois livros de Nicolau Sevcenko, Literatura como Missão. Nesse livro Sevcenko apresenta um

quadro da nossa Bella époque, centrando sua análise critica em duas figuras importantes, mas

que se tornaram marginalizadas tanto politica quanto intelectualmente, Lima Barreto e

Euclides da Cunha.

A Bella Époque Brasileira, também conhecida como Belle Époque Tropical, foi um

período artístico, cultural e político do Brasil, que começou com a derrocada do Império e a

proclamação da República em seguida. Esta “Belle Époque” teve início no mandado do

primeiro presidente do país, naquela época, Deodoro da Fonseca, no final de 1889, e acabou

em 1922.

Com a queda da Monarquia e a ascensão da República, desejou-se inaugurar no Brasil

uma nova era, por isso, procurou-se minimizar tudo o que podia reportá-los o Imperialismo e

a colonização portuguesa. Como a Europa era vista como grande civilização1, o Brasil tentou

aproximar sua cultura da cultura francesa e italiana. Nessa época tivemos no Brasil a fundação

de Belo Horizonte, cidade planejada, e as grandes reformas urbanísticas empregadas no Rio

de Janeiro, então Capital Federal, por Pereira Passos e Rodrigues Alves.

Este período foi caracteriza por forte moralismo e também pela repressão sexual,

ideias de comportamento típico da era vitoriana. A unidade monetária no Brasil ainda era os

réis, um padrão instituído pelos portugueses na época colonial.

Nicolau Sevcenko escolheu Euclides da Cunha e Lima Barreto, porque ambos

possuíam a consciência de que alguma coisa por partes dos escritores literários tinha que ser

feita pelo povo brasileiro para retirá-los da situação de miséria e da ignorância que vivia,

abandonado pelos governos, consequência da própria organização social e política do país,

quer sob o Império, quer sob a República.

Lima Barreto optou por uma literatura militante. Euclides da Cunha embora não tenha

assumido uma Literatura Militante engajou-se em uma literatura de base política e social. Ele

1 Entenda Civilização como o estágio mais avançado de uma sociedade.

Page 2: LITERATURA COMO MISSÃO - NICOLAU SEVCENKO

afirmava o seguinte: “Um homem de letras devia ser o contrário de um beletrista ou afeito

exclusivamente ao belo, isto é, apenas interessado pelo papel da literatura, sem qualquer base

política ou social”.

O estudo da literatura conduzido no interior de uma pesquisa

historiográfica, todavia, preenchem-se de significados muitos

peculiares. Se a literatura moderna é uma fronteira extrema do

discurso e o proscênio dos desajustados, mais do que o

testemunho da sociedade, ela deve trazer em si a revelação dos

seus focos mais candentes de anseio de mudança do que os

mecanismos da permanência. Sendo um produto do desejo, seu

compromisso é maior que poderia ou deveria ser a ordem das

coisas, mais do que com seu estado real.2

Nesse sentido, enquanto a historiografia procura o ser das estruturas sociais, a

literatura fornece uma expectativa do seu vira-se. Utilizo as palavras da Poética de Aristóteles

para expressar esse contraste:

“Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por escreverem

verso ou prosa (pois que bem poderiam ser postas em verso as

obras de Heródoto, e nem por isso deixariam de ser história, se

fosse em verso o que eram em prosa) – diferem, sim, em que diz

um as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder”.3

Portanto, afirmo que ocupa-se o historiador da realidade, enquanto o escritor é atraído

pela possibilidade.

Sevcenko reflete em sua obra o momento político que o Brasil estava vivendo e quais

foram suas principais heranças deixadas na cultura brasileira. Um dos elementos que o autor

não perde de vista, é de demonstrar a todo o momento como o Rio de Janeiro, abriu o século

XX. Utilizo as palavras do autor para recompor meu pensamento:

Aproveitando de seu papel privilegiado na intermediação dos

recursos da economia cafeeira e de sua condição de centro

político do país, a sociedade carioca viu acumular-se em seu

2 3

Page 3: LITERATURA COMO MISSÃO - NICOLAU SEVCENKO

interior vastos recursos enraizados principalmente no comércio e

nas finanças, mas derivando já também para as aplicações

industriais.4

O Rio de Janeiro neste momento era “o mais amplo mercado nacional de consumo e

mão de obra”5, o que proporcionou mais facilidade na expansão de suas vendas e lucros. Mas

a decadência da produção cafeeira do vale do Paraíba e o envio da produção para o Oeste

Paulista para o porto de Santos se tendiam a diminuir a atividade de exportação do Rio de

Janeiro, foram, entretanto muito pelo contrário o que aconteceu, houve o aumento das

importações e do comércio de cabotagem, que fizeram crescer em mais de um terço o

movimento portuário carioca no período de 1888 a 1906.6

A experiência de “democratização” do crédito levada a efeito pela política do

Encilhamento levou essa aproximação latente ao auge do paroxismo Pesquisando sobre o

Encilhamento encontrei uma artigo e resumirei um pouco acerca..

Aumento de trabalho assalariado, grandes leva de imigrantes estrangeiros, forte

crescimento industrial, e aceleração do dinamismo das atividades econômicas. Este era o

cenário exuberante vivenciado no Brasil após a proclamação da República, em 1889. O

reverso destas mudanças, entretanto, foi a crise que se abateu sobre o país nos anos de 1890 e

1891, particularmente nas praças comerciais do Rio de Janeiro e São Paulo. A turbulência

economia ficou conhecida como “Encilhamento”, expressão extraída do vocabulário utilizado

em hipódromo, e que designava o clima de confusão, desordem das corridas onde os jóqueis

encilhavam seus cavalos.

A mudança que aparentava colocar fim as atividades de lucros do Rio de Janeiro deu-

se totalmente ao contrário, o Rio passou a ser o maior centro cosmopolita da nação. Mas a

República pedia a remodelação dos hábitos sociais e dos cuidados pessoais.

Era preciso ajustar a ampliação local dos recursos pecuniários

com a expansão geral do comércio europeu, sintonizando o

tradicional descompasso entre as sociedades em conformidade

com a rapidez dos mais modernos transatlânticos7.

4 5 6 7

Page 4: LITERATURA COMO MISSÃO - NICOLAU SEVCENKO

Nessa afirmação de Sevcenko fica evidente a preocupação em modernizar a cidade

carioca para que estivesse em condições e acompanhasse o desenvolvimento acelerado, pois

estavam lucrando muito dinheiro e havia necessidade de investir-se para que houvesse

condições de continuarem com a expansão dos lucros. A velha estrutura do Rio de Janeiro

precisava ser mudada, pois já não estava suportando as demandas dos novos tempos. O antigo

cais era pequeno, dificultava o trafego de navios e tornava-os lentos. As ruas eram estreitas e

declives precisavam passar por manutenção, pois dificultava o acesso ao comércio de atacado

e varejo da cidade. As áreas pantanosas eram focos de doenças transmitidas por mosquitos,

tais como: febre tifoide, varíola e febre amarela. Portanto, precisava acompanhar o progresso,

e, naquele caso, para haver progresso tinha que alinhar-se aos padrões e ritmo de

desdobramento da economia européia.

O centro do Rio de Janeiro colonial estava tomado por imensos pardieiros8 tomado por

pessoas pobres. Essa população foi mandada para os subúrbios ou para os morros que cercam

a cidade e, no lugar daquele casario ergueram-se prédios rigorosamente copiados das grandes

capitais europeias, inaugurando-se em 1904 a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco,

para dizer ao mundo que nos trópicos havia uma civilização. Sevcenko escreve que havia

vários princípios básicos que deveriam ser realizados a qualquer custo:

Assistia-se à transformação do espaço público, do modo de vida

e mentalidade carioca, segundo padrões totalmente originais; e

não havia quem pudesse se opor a ela. Quatro princípios

fundamentais regeram o transcurso dessa metamorfose (...): a

condenação dos hábitos e costumes ligados a sociedade

tradicional; a negação de todo e qualquer elemento de cultura

popular que pudesse macular a imagem civilizada da sociedade

dominante; uma política rigorosa de expulsão dos grupos

populares da área central da cidade, que será praticamente

isolado para o desfrute exclusivo das camadas aburguesadas; e

um cosmopolitismo agressivo, profundamente identificado com

a vida parisiense.9

8 Casa ou edifício velho9

Page 5: LITERATURA COMO MISSÃO - NICOLAU SEVCENKO

Podemos notar atualmente que tal modificação não deixa quase nada de resquícios do

Rio de Janeiro colonial no centro da cidade. O mesmo aconteceu com São Paula, na qual os

burgueses optaram por apagar essas lembranças da história de São Paulo.

Preocupados em acompanhar o desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro, inicia-

se os projetos de modernização tendo em vista à Europa. Preocupados com a minimização da

cultura do Brasil no período colonial, reafirmam a necessidade de incluir no Brasil a cultura

européia.

Dessa forma, Sevcenko, procura demonstrar esse projeto de modernização e inclusão

do Rio de Janeiro, na Belle Époque, através da literatura de Euclides da Cunha e de Lima

Barreto. Os textos que foram escritos naquele momento estão repletos de informações

históricas. Podemos recuperar a historicidade contida nas obras literárias levando em

consideração as recomendações de Antônio Cândido em Literatura e Sociedade: “fundir texto

e contexto numa relação dialeticamente íntegra10”, torna-se possível recuperar através da

literatura a historicidade de determinados períodos.

Portanto, a fundamentação do livro ocorre em dois autores: Lima Barreto e Euclides

da Cunha, principalmente em usar os textos literários produzidos por eles para evidenciar as

marcas da Belle Époque, no Brasil. Afirmo que, a leitura do texto possibilitou além da

compreensão acerca da Belle Époque, no Brasil, também a forma como posso utilizar a

literatura como fonte histórica para determinados estudos, porque posso dos textos literários

retirar além dos conteúdos políticos, como fez Nicolau Sevcenko, elementos que se refiram as

questões sociais, econômicos e culturais. No meu caso, também a respeito da modernidade, no

entanto em uma obra poética de Manoel de Barros.

10