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1 APOSTILA LITERATURA ASSUNTO 1 LITERATURA E LINGUAGEM LITERÁRIA Conceito de Literatura Em sentido estrito, literatura é uma manifestação artís- tica assim como a pintura, a arquitetura, a escultura, a música, o teatro, etc. E já que a arte pode se revelar de múltiplas maneiras, podemos concluir que há entre es- sas expressões artísticas pontos em comum e pontos específicos e particulares. Dentre os pontos em comum, o principal é a própria essência da arte, ou seja, a possibilidade de o artista recriar a realidade, transformando-se, assim, em criador de mundos, de sonhos, de ilusões, de verdades. O artis- ta tem, dessa forma, um poder mágico em suas mãos: o de moldar a realidade segundo suas convicções, seus ideais, sua vivência. Dentre os pontos específicos de cada arte, os principais são a própria maneira de se expressar e a matéria–prima que vão caracterizar cada uma dessas manifestações artísticas. Quer dizer, cada tipo de arte faz uso de certos materiais. A pintura, por exemplo, trabalha com tinta, co- res e formas; a música utiliza os sons e o ritmo; a dança , os movimentos; a arquitetura e a escultura fazem uso de formas e volumes. E a literatura, que material utiliza? De uma forma simplificada, pode-se dizer que literatura é a arte da palavra. Neste sentido, todo texto literário é resultado da mani- pulação das palavras por parte do autor, com objetivo de obter determinados efeitos e, ainda, expressar uma concepção pessoal da realidade. A obra literária pode expressar uma realidade interior (psicológica, subjetiva) ou uma realidade exterior ao artista (física, natural). No texto literário, a forma é tão importante quanto o conte- údo. É na literatura que a função poética da linguagem manifesta-se mais claramente. O autor joga com pala- vras, ritmos, sons, imagens, recriando a realidade, assim como o leitor recria o texto que lê. A Literatura é uma ato de comunicação. Linguagem Literária Se a literatura é a arte da palavra e esta é a unidade bási- ca da língua, podemos dizer que a literatura, assim como a língua que utiliza, é um instrumento de comunicação e, por isso, cumpre o papel social de transmitir os conheci- mentos e a cultura de uma comunidade. Mas como a palavra e a língua fazem parte da comu- nicação diária, que não tem finalidade artística, qual a diferença entre a palavra empregada na comunicação comum e a utilizada num texto literário? A literatura tem, pois, uma linguagem específica. Uma linguagem que lhe é própria e que não pode ser muda- da sem perder seu encanto. Ela se diferencia das várias linguagens humanas por um complicado número de fa- tores, entre os quais o mais importante é a vontade de beleza formal que quase todos os escritores possuem. Esse desejo de perfeição formal (os aspectos específi- cos que a obra apresenta), esse sonho de transformar palavras banais em palavras sublimes, esse valor (o tra- balho artístico das palavras) que é a tentativa de expres- são mais eficaz e sedutora por parte de um poeta ou de um romancista sedimentam o ponto nuclear da literatura. Sem tal esforço, sua existência se torna problemática. Observe os textos abaixo: “A clorofila é o principal pigmento das plantas, com ca- pacidade de reter a energia da luz. Essa energia lumino- sa é transformada em energia química, com a qual se tornam viáveis as reações que levam ao consumo, pela planta de CO2 e água, e à produção de glicose (matéria orgânica) e à liberação de O2 para a atmosfera. Distin- guimos, pois, na fotossíntese, dois fenômenos importan- tes para os seres vivos: a constante purificação do ar atmosférico, dele retirando dióxido de carbono (CO2) e a ele devolvendo oxigênio livre (O2) para a respiração dos seres vivos; a produção da matéria-prima orgânica pra a nutrição dos seres.” (José Luís Soares)

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APOSTILA LITERATURA

ASSUNTO 1

LITERATURA E LINGUAGEM LITERÁRIAConceito de LiteraturaEm sentido estrito, literatura é uma manifestação artís-tica assim como a pintura, a arquitetura, a escultura, a música, o teatro, etc. E já que a arte pode se revelar de múltiplas maneiras, podemos concluir que há entre es-sas expressões artísticas pontos em comum e pontos específicos e particulares.Dentre os pontos em comum, o principal é a própria essência da arte, ou seja, a possibilidade de o artista recriar a realidade, transformando-se, assim, em criador de mundos, de sonhos, de ilusões, de verdades. O artis-ta tem, dessa forma, um poder mágico em suas mãos: o de moldar a realidade segundo suas convicções, seus ideais, sua vivência.Dentre os pontos específicos de cada arte, os principais são a própria maneira de se expressar e a matéria–prima que vão caracterizar cada uma dessas manifestações artísticas. Quer dizer, cada tipo de arte faz uso de certos materiais. A pintura, por exemplo, trabalha com tinta, co-res e formas; a música utiliza os sons e o ritmo; a dança , os movimentos; a arquitetura e a escultura fazem uso de formas e volumes. E a literatura, que material utiliza? De uma forma simplificada, pode-se dizer que literatura é a arte da palavra. Neste sentido, todo texto literário é resultado da mani-pulação das palavras por parte do autor, com objetivo de obter determinados efeitos e, ainda, expressar uma concepção pessoal da realidade. A obra literária pode expressar uma realidade interior (psicológica, subjetiva) ou uma realidade exterior ao artista (física, natural). No texto literário, a forma é tão importante quanto o conte-údo. É na literatura que a função poética da linguagem manifesta-se mais claramente. O autor joga com pala-vras, ritmos, sons, imagens, recriando a realidade, assim como o leitor recria o texto que lê. A Literatura é uma ato de comunicação.

Linguagem Literária

Se a literatura é a arte da palavra e esta é a unidade bási-ca da língua, podemos dizer que a literatura, assim como a língua que utiliza, é um instrumento de comunicação e, por isso, cumpre o papel social de transmitir os conheci-mentos e a cultura de uma comunidade.Mas como a palavra e a língua fazem parte da comu-nicação diária, que não tem finalidade artística, qual a diferença entre a palavra empregada na comunicação comum e a utilizada num texto literário?

A literatura tem, pois, uma linguagem específica. Uma linguagem que lhe é própria e que não pode ser muda-da sem perder seu encanto. Ela se diferencia das várias linguagens humanas por um complicado número de fa-tores, entre os quais o mais importante é a vontade de beleza formal que quase todos os escritores possuem. Esse desejo de perfeição formal (os aspectos específi-cos que a obra apresenta), esse sonho de transformar palavras banais em palavras sublimes, esse valor (o tra-balho artístico das palavras) que é a tentativa de expres-são mais eficaz e sedutora por parte de um poeta ou de um romancista sedimentam o ponto nuclear da literatura. Sem tal esforço, sua existência se torna problemática.

Observe os textos abaixo:“A clorofila é o principal pigmento das plantas, com ca-pacidade de reter a energia da luz. Essa energia lumino-sa é transformada em energia química, com a qual se tornam viáveis as reações que levam ao consumo, pela planta de CO2 e água, e à produção de glicose (matéria orgânica) e à liberação de O2 para a atmosfera. Distin-guimos, pois, na fotossíntese, dois fenômenos importan-tes para os seres vivos: a constante purificação do ar atmosférico, dele retirando dióxido de carbono (CO2) e a ele devolvendo oxigênio livre (O2) para a respiração dos seres vivos; a produção da matéria-prima orgânica pra a nutrição dos seres.” (José Luís Soares)

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Veja que, apesar da semelhança do conteúdo, os tex-tos têm finalidades distintas e, portanto, fazem uso de linguagens específicas. Enquanto o primeiro faz uso da Linguagem Referencial, isto é, direta, clara, objetiva e imparcial visando esclarecer o processo de fotossíntese e sua importância para o ser humano, o segundo, utiliza a Linguagem Literária. Nesse caso, importa gerar efeito estético. Para isso, o autor faz uso de significados não literais (sentido conotativo das palavras), explora os sons e os ritmos gerando um texto plurissignificativo e impreg-nado de sentimentos e emoções.

Denotação X Conotação Na linguagem humana uma mesma palavra pode ter seu significado ampliado, remetendo-nos a novos conceitos por meio de associações, dependendo de sua coloca-ção numa determinada frase. Observe os exemplos:• Ele está com a cara manchada.• “Deus me fez um cara fraco, desdentado de feio.” (Chi-co Buarque)• João quebrou a cara.No primeiro exemplo, a palavra cara significa “rosto”, a parte anterior da cabeça, conforme consta nos dicioná-rios. Já no segundo, a mesma palavra teve seu significa-do ampliado e, por uma série de associações, entende-mos que significa “indivíduo”, “sujeito”, “pessoa”. Quanto ao terceiro exemplo, as vezes, uma mesma frase pode apresentar duas (ou mais) possibilidades de interpreta-ção. No sentido literal, frio, impessoal, a frase significa que João, por um acidente qualquer, fraturou o rosto.

Entretanto, podemos entendê-la num sentido figurado, como “João se saiu mal”, isto é, foi mal sucedido em algo que tentou fazer.

Pelos exemplos acima, podemos perceber que uma mesma palavra pode apresentar variações em seu sig-nificado, ocorrendo, basicamente, duas possibilidades:

• Denotação: sentido original, impessoal, independente do contexto, tal como aparece no dicionário.• Conotação: sentido alterado, figurado, passível de interpretações diferentes, dependendo do contexto em que é empregada.

A linguagem literária explora o sentido conotativo das palavras, num contínuo trabalho de criar ou alterar o sig-nificado, já cristalizado, dessas mesmas palavras. Dessa forma, ao interpretar o sentido conotativo das palavras, o leitor transforma-se em leitor-ativo, em tradutor, em co-autor do texto. Para tanto, é preciso estar atento ao contexto, que nos fornecerá indicações concretas para decifrar o jogo denotação/conotação.

LUZ DO SOL(Caetano Veloso)Luz do solQue a folha traga e traduzEm ver denovoEm folha, em graçaEm vida, em força, em luz...Céu azulQue venha até onde os pés tocam a terraE a terra inspira e exala seus azuis...

Reza, reza o rioCórrego pro rioRio pro marReza correntezaRoça a beiraA doura areia...

Marcha um homem sobre o chãoLeva no coração uma ferida acesaDono do sim e do nãoDiante da visão da infinita beleza...Finda por ferir com a mão essa delicadezaA coisa mais queridaA glória, da vida...

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APOSTILA LITERATURA

TESTES

1) Em muitos jornais, encontramos charges, quadri-nhos, ilustrações, inspiradosnos fatos noticiados. Veja um exemplo:O texto que se refere a uma situação semelhante à que inspirou a charge é:

(A) Descansem o meu leito solitárioNa floresta dos homens esquecida,À sombra de uma cruz, e escrevam nela– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.(AZEVEDO, Álvares de. Poesias escolhidas. RJ, José Aguilar,1971)(B) Essa cova em que estásCom palmos medida,é a conta menorque tiraste em vida.É de bom tamanho,Nem largo nem fundo,É a parte que te cabedeste latifúndio.(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e outros poemas em vozalta. RJ: Sabiá, 1967)(C) Medir é a medida medeA terra, medo do homem, a lavra;lavraduro campo, muito cerco, vária várzea.(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. SP: Sum-mus, 1978)(D) Vou contar para vocês um caso que sucedeu na Pa-raíba do Nortecom um homem que se chamavaPedro João Boa-Morte,lavrador de Chapadinha:talvez tenha morte boaporque vida ele não tinha.(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. RJ: Civilização Brasilei-ra. 1983)(E) Trago -te flores, – restos arrancadosDa terra que nos viu passarE ora mortos nos deixa e separados.(ASSIS, Machado de. Obra Completa. RJ: Nova Aguillar, 1986)

2) Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um epi-sódio da adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor. “Lembro-me de que certa noite – eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”. (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode agüentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...) Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem--me animado até hoje a idéia de que o menos que o es-critor pode fazer, numa época de atrocidades e injusti-ças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náu-sea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, ris-quemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.” (VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Ale-gre: Editora Globo, 1978.)Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilu-mina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura, (A) criar a fantasia.(B) permitir o sonho.(C) denunciar o real.(D) criar o belo.(E) fugir da náusea.

3) Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais viva a linguagem. Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portugue-sa com duas palavras comuns: cão e cheirando.“Um cão cheirando o futuro.” (Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988. adaptação)O que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da língua foi(A) o modo raro como foi tratado o “futuro”.(B) a referência ao cão como “animal de estimação”.(C) a flexão pouco comum do verbo “cheirar” (gerúndio).(D) a aproximação não usual do agente citado e a ação de “cheirar”.(E) o emprego do artigo indefinido “um” e do artigo defi-nido “o” na mesma frase.

4) O termo (ou expressão) destacado que está empre-

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gado em seu sentido próprio, denotativo ocorre em(A) “(....) É de laço e de nó De gibeira o jiló Dessa vida, cumprida a sol (....)” (Renato Teixei-ra. Romaria. Kuaru Discos. setembro de 1992.)(B) “Protegendo os inocentesé que Deus, sábio demais, põe cenários diferentes nas impressões digitais.”(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)

(C) “O dicionário-padrão da língua e os dicionários uni-língües são os tipos mais comuns de dicionários. Em nossos dias, eles se tornaram um objeto de consumo obrigatório para as nações civilizadas e desenvolvidas.” (Maria T. Camargo Biderman. O dicionário-padrão da língua. 1974)

(D)

(E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico para se fazer.” (Leon Eliachar. WWW.mercadolivre.com.br acessado em julho de 2005)

ASSUNTO 2

FUNÇÕES DA LINGUAGEMAs funções da linguagem estão centradas nos elementos da comunicação. Quer dizer, dependendo da intenção do emissor/escritor, a linguagem assumirá uma função diferente e terá características específicas. No entanto, é possível identificarmos diferentes funções em um mes-mo texto. É preciso, portanto, observar a intenção domi-

nante, de acordo com o enfoque que o destinador quer dar ou do efeito que quer causar no receptor.

» Qualquer produção discursiva, lingüística (oral ou es-crita) ou extralingüística (pintura, música, fotografia, propaganda, cinema, teatro etc.) apresenta funções da linguagem.

ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

Assim, através de um canal, o emissor transmite ao re-ceptor, em um código comum, uma mensagem, que se reporta a um contexto ou referente.•Emissor: aquele que emite a mensagem, codificando-a em palavras.•Receptor: quem recebe a mensagem e a decodifica, ou seja, apreende a idéia.•Mensagem: aquilo que é comunicado, o conteúdo da comunicação.•Código: é o sistema linguístico escolhido para a trans-missão e recepção da mensagem.•Referente: é o contexto em que se encontram o emissor e o receptor.•Canal: o meio pelo qual esta mensagem é transmitida.

A ênfase num elemento do circuito de comunicação de-termina a função de linguagem que lhe corresponde:

1- Função EmotivaQuando há ênfase no emissor (lª pessoa) e na expres-são direta de suas emoções e atitudes, temos a função emotiva. Por esse motivo ela normalmente vem escrita em primeira pessoa e de forma bem subjetiva. Lingüis-ticamente é representada também por interjeições, ad-jetivos, signos de pontuação (tais como exclamações, reticências) e agressão verbal (insultos, termos de baixo calão), que representam a marca subjetiva de quem fala. As canções populares amorosas, as novelas e qual-quer expressão artística que deixe transparecer o esta-do emocional do emissor também pertencem à função

emotiva. Exemplos:

Não adianta nem tentar Me esquecer

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Durante muito tempo em sua vida Eu vou viver (Roberto Carlos & Erasmo Carlos)

“Sinto que viver é inevitável. Posso na primavera ficar ho-ras sentada filmando, apenas sendo. Ser às vezes san-gra. Mas não há como não sangrar pois é no sangue que sinto a primavera. Dói. A primavera me dá coisas. Dá do que viver E sinto que um dia na primavera é que vou morrer De amor pungente e coração enfraquecido.”. (Clarice Lispector)

2- Função Apelativa (conativa)A função conativa é aquela que busca mobilizar a aten-ção do receptor, produzindo um apelo ou uma ordem. Encontra no vocativo e no imperativo sua expressão gra-matical mais autêntica. Essa função é aplicada particu-larmente nas propagandas ou outros textos publicitários, e também em campanhas sociais, com o objetivo de co-mover o leitor, além de discursos políticos ou sermões religiosos. Exemplos:

Antônio, venha cá!

Compre um e leve três. Beba Coca-Cola.

Se o terreno é difícil, use uma solução inteligente: Mercedes-Benz.

3- Função Referenciala função referencial privilegia o contexto. Ocorre quando o objetivo do emissor é traduzir a realidade visando à informação. Não há preocupação com estilo; sua inten-ção é unicamente informar. A linguagem neste caso é essencialmente objetiva, razão pela qual os verbos são retratados na 3ª pessoa do singular, conferindo-lhe total impessoalidade por parte do emissor E a linguagem das redações escolares, principalmente das dissertações, das narrações não- fictícias e das descrições objetivas. Caracteriza também o discurso científico, o jornalístico e a correspondência comercial. Exemplo:

Cultura na tela O portal domínio público, biblioteca digital do Ministério da Educação, recebeu 6,2 milhões de acessos em pou-co mais de um mês de funcionamento. Nela, o internauta pode ler gratuitamente 699 obras literárias com mais de 70 anos de existência, ou seja, já de domínio público; 166 publicações de ciências sociais e uma de exatas. Há também partituras de Beethoven, pinturas de Van Gogh e de Leonardo da Vinci, como a Monalisa, hinos e músi-cas clássicas contemporâneas. (Isto É, São Paulo, 29 de dez. de 2005.)

4- Função Fática Se a ênfase está no canal, para checar sua recepção ou para manter a conexão entre os falantes, temos a função fática. Nesse caso, o emissor usa procedimentos para manter o contato físico ou psicológico com o interlocutor, como em alô!, ao iniciar uma conversa telefônica, ou fór-mulas prontas para dar continuidade à conversa como em ahan, uh, bem, como?, pois é , ou em, está me ouvin-do?, para retomar o contato telefônico. Exemplos: Bom-dia! Oi, tudo bem? Ah, é! Huin... hum... Alô, quem fala? Hã, o quê?

Observe os recursos fáticos que, embora característicos da linguagem oral, ganham expressividade na música: Alô, alô marciano Aqui quem fala é da Terra. (Rita Lee & Roberto de Carvalho)

Blá, Blá, Blá, Blá, Blá Blá, Blá, Blá, Blá Ti, Ti, Ti, Ti, Ti, Ti, Ti, Ti, Ti Tá tudo muito bom, bom! Tá tudo muito bem, bem! (Evandro Mesquita)

5- Função metalingüísticaA função metalingüística visa à tradução do código ou à elaboração do discurso, seja ele lingüístico (a escrita ou a oralidade), seja extralingüístico (música, cinema, pintu-ra, gestualidade etc. — chamados códigos complexos). Assim, é a mensagem que fala de sua própria produção discursiva. Um livro convertido em filme apresenta um processo de metalinguagem, uma pintura que mostra o próprio artista executando a tela, um poema que fala do ato de escrever, um conto ou romance que discorre sobre a própria linguagem etc. são igualmente metalin-güísticos. O dicionário é metalingüístico por excelência. Exemplos: — Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatu-ra, Seu Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia. (Graciliano Ramos)

Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. (Carlos Drummond de Andrade)

6- Função poética

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Quando a mensagem se volta para seu processo de es-truturação, para os seus próprios constituintes, tendo em vista produzir um efeito estético, ocorre a função poética da linguagem. Nesses casos, o autor faz uso de com-binações inovadoras de palavras, explora os sons e os ritmos e cria imagens inesperadas tornando o texto rico e plurissignificativo. Importante lembrar que a função po-ética pode ocorrer em textos em prosa ou em verso, ou ainda na fotografia, na música, no teatro, no cinema, na pintura, na publicidade, enfim, em qualquer modalidade discursiva que apresente uma maneira especial de ela-borar o código, de trabalhar a palavra. Exemplos:

Que não há forma de pensar ou crer De imaginar sonhar ou de sentir Nem rasgo de loucura Que ouse pôr a alma humana frente a frente Com isso que uma vez visto e sentido Me mudou, qual ao universo o sol Falhasse súbito, sem duração No acabar.. (Fernando Pessoa)

(...)Reza, reza o rioCórrego pro rioRio pro marReza correntezaRoça a beiraA doura areia...(Luz do Sol, Caetano Veloso)

TESTES1) Leia os textos abaixo.Texto A“Brasília, sede administrativa do país, foi inaugurada pelo presidente Jucelino Kubitschek de Oliveira, em 21 de abril de 1960, após 1000 dias de construção. Em 1987, foi tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.”(Folheto da Sedur Secretaria de Turismo do Distrito Fe-deral)Texto B Brasília: Esplendor“Brasília é uma cidade abstrata. E não há como concre-tizá-la. É uma cidade redonda e sem esquinas. Também não tem botequim para a gente tomar um cafezinho. É verdade, juro que não vi esquinas. Em Brasília, não existe cotidiano. A catedral pede a Deus. São duas mãos aber-tas para receber. Mas Niemeyer é um irônico: ele ironi-zou a vida. Ela é sagrada. Brasília não admite diminutivo. Brasília é uma piada estritamente perfeita e sem erros. (...) Brasília é um futuro que aconteceu no passado.”(Clarice Lispector)Sobre os textos são feitas as seguintes afirmações.I.Tanto no texto A, quanto no texto B, a linguagem é figu-

rada e rica em significados.II.No texto A, a linguagem visa a veicular, de modo ob-jetivo, informações sobre a realidade. Podemos afirmar, portanto, que a função predominante é a referencial.III.No texto B, podemos afirmar que há o usoconotativo da linguagem.

Quais estão corretas?(A)Apenas I.(B)Apenas I e II.(C)Apenas II e III.(D)Apenas I e III.(E)I, II e III.

2) Leia o trecho do poema Briga no Beco, de Adélia Prado.“Encontrei meu marido às três horas da tardecom uma loira oxigenada.Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.Ataquei-os por trás com mão e palavrasQue nunca suspeitei que conhecesse.Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,Gritei meu urro, a torrente de impropérios.Ajuntou gente, escureceu o sol,A poeira adensou como cortina.Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,Sem me reter, peixe-piranha, bicho pior, fêmea ofendida,Uivava. (...)”Pode-se dizer que, do início do poema até o momento em que começa a briga (“Ataquei-os por trás...”), foram utilizadas as funções da linguagem chamadas

(A)Referencial e emotiva.(B)Apelativa e fática.(C)Fática e emotiva.(D)Metalingüística e poética.(E)Poética e fática.

3)Leia os textos abaixo.

Canto do GuerreiroAqui na florestaDos ventos batida,Façanhas de bravosNão geram escravos,Que estimem a vidaSem guerra e lidar.— Ouvi-me, Guerreiros,— Ouvi meu cantar.

Valente na guerra,Quem há, como eu sou?Quem vibra o tacapeCom mais valentia?Quem golpes dariaFatais, como eu dou?

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APOSTILA LITERATURA

— Guerreiros, ouvi-me;— Quem há, como eu sou?

MacunaímaEpílogoAcabou-se a história e morreu a vitória.Não havia mais ninguém lá. Dera tangolo-mangolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lu gares aqueles campos furos puxadouros arrastadouros meios--barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era a soli-dão do deserto... Um silêncio imenso dormia a beira-rio do Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sa-bia nem falar na falta da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem que podia saber do herói?Considerando a linguagem desses dois textos(A) a função da linguagem centrada no receptor está au-sente tanto no primeiro quanto no segundo texto.(B) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto, no segundo, predomina a linguagem formal.(C) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo me-nos uma palavra de origem indígena.(D) a função da linguagem, no primeiro texto, centra-se na forma de organização da linguagem e, no segundo, no relato de informações reais.(E) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante no segundo texto, está ausente no primeiro.

4) Leia os textos abaixo.Para o Mano CaetanoO que fazer do ouro de toloQuando um doce bardo brada a toda brida,Em velas pandas, suas esquisitas rimas?Geografia de verdades, Guanabaras postiçasSaudades baguelas, tropicais preguiças?A boca cheia de dentesDe um implacável sorrisoMorre a cada instanteQue devora a voz do morto, e com isso,

Ressuscita vampira, sem o menor aviso(...)E soy lobo-bobo? Lobo-boboTipo pra rimar com ouro e tolo?Oh! Narciso Peixe Ornamental!Tease me, tease me outra vez¹Ou em banto baianoOu em português de PortugalDe Natal(...)

¹ Tease me (caçoe de mim, importune-me)LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br

Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem

(A)“Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)(B)“ Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)(C)“Que devora a voz do morto” (v. 9)(D)“lobo-bobo / Tipo pra rimar com ouro de tolo?” (v. 11 – 12)(E)“tease me, tease me outra vez” (v. 14) Aula 3

GÊNEROS LITERÁRIOS & FORMAS LITERÁRIAS

Formas LiteráriasAs obras literárias são classificadas em vários grupos que correspondem à sua estrutura de composição e à forma como se apresentam, revelando a atitude do escri-tor perante a realidade artística que está criando.No que diz respeito à forma, a Literatura pode-se mani-festar em prosa e verso. Observe os textos abaixo:

“Escorraçada de toda parte, vivendo sempre esfomeada, tendo de subsistir sem morada certa, apunhalada aqui,

estrangulada ali, não desejada em verdade a não ser por uns poucos e loucos humanistas e revolucionários através da história, é ridículo se representar a liberdade como uma mulher bela, um facho eternamente aceso na mão, os traços finos, a fisionomia tranqüila e altiva. A li-berdade é um cachorro vira-lata.” (Millôr Fernandes)

Prosa: linguagem contínua, não fragmentada, disposta em parágrafos. Crônicas, romances, reportagens, car-tas, fábulas, dissertações, ... são exemplos de textos es-critos em prosa. Cantiga pra não morrer

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Quando você for se embora,moça branca como a neve,me leve.

Se acaso você não possa me carregar pela mão,menina branca de neve,me leve no coração.

(Ferreira Gullar)

Verso: texto organizado em linhas descontínuas chama-das “versos” dispostos em estrofes; possui ritmo e, por vezes, rimas. A linguagem é subjetiva, expressando sen-timentos.

ASSUNTO 3

GÊNEROS LITERÁRIOSO termo “gênero” origina-se do latim genus, eris, que significa, origem, família e refere-se a um conjunto de características temáticas e formais intrínsecas às mani-festações literárias. Aristóteles, filósofo grego, propôs a divisão dos textos literários em três grandes categorias: épico, lírico e dra-mático. Atualmente, os estudiosos optam por classificá--los em: narrativo, dramático e lírico, visto que não se prioriza mais o gênero épico.Importante lembrar que essa tripartição, perfeita e lógica em sua essência, contudo, pode tornar-se discutível e até errônea na prática, quando plicada rigidamente a de-terminadas obras. Em algumas obras, predominará um gênero sobre o outro, mas nunca haverá a expressão pura de um só gênero.

Gênero DramáticoDrama, em grego, significa “ação”. Segundo Aristóte-les, o gênero dramático é aquele que imita a realidade por meio de personagens em ação, e não da narração. Por isso, em literatura, o termo drama identifica um texto destinado à representação. Nesse tipo de texto, as per-sonagens vêm destacadas, suas falas ocorrem com a utilização de travessões e todas as ações vêm escritas entre parênteses. Uma obra dramática (ou peça teatral), no entanto, só adquire vida e revela a sua verdadeira natureza quando se materializa em uma encenação ou representação. Embora o texto seja vital, trata-se de uma criação híbrida que exige uma síntese de recursos diver-sos, envolvendo atores, encenadores, cenário, música, coreografia, etc. Uma peça de teatro, antes de ser re-presentada é como uma partitura musical antes de sua execução. Seus textos podem ser escritos em prosa e/

ou verso. As modalidades mais comuns do teatro são a tragédia, a comédia, a farsa e o auto.

CENA II: Jardim de CapuletoEntra RomeuJulieta – Ó Romeu, Romeu! Por que és Romeu? Renega teu pai e recusa teu nome; ou, se não quiseres, jura-me somente que me amas e não serei uma Capuleto.Romeu – (À parte) Continuarei a ouvi-la ou vou falar-lhe agora?Julieta – Somente teu nome é meu inimigo. Tu és, tu mesmo, sejas ou não um Montecchio. Que é um Mon-tecchio? Não é mão, nem pé, nem braço, nem rosto, nem outra parte qualquer pertencente a um homem. Oh! Sê outro nome! Que há em um nome? O que chamamos de rosa, com outro nome, exalaria o mesmo perfume tão agradável; e assim, Romeu, se não se chamasse Ro-meu, conservaria essa cara perfeição que possui sem o título. Romeu, despoja-te de teu nome e, em troca de teu nome, que não faz parte de ti, toma-me inteira!Romeu – Tomo-te a palavra. Chama-me somente “amor” e serei de novo batizado. Daqui para diante, jamais serei Romeu.

Modalidades Dramáticas:•Tragédia: é a representação de um fato trágico, com-padecido, apto a suscitar compaixão e terror. Normal-mente, personagens nobres, movidos por sentimentos intensos, enfrentam a ordem social, familiar ou divina e sofrem s conseqüências.•Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criti-cando os costumes.•Auto: espécie dramática medieval que se caracteriza pela presença de elementos religiosos.•Farsa: pequena peça teatral de caráter ridículo e cari-catural, que critica a sociedade e seus costumes.

Gênero NarrativoPertencem ao gênero narrativo os textos em que alguém (o narrador) conta uma história na qual há personagens que executam ações num determinado espaço físico durante um certo tempo. Os fatos encadeados formam o enredo da narrativa. Os textos narrativos podem ser escritos em prosa ou verso.

Narrativa em versos = Poema Épico (Epopéia)A palavra epopéia vem do grego, épos, “verso” + poieô, “faço” e refere-se à narrativa de um fato grandioso e ma-ravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia cuja característica maior é a presença de um narrador falan-do do passado. O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heróico da história de um povo.Entre as principais epopéias (ou poemas épicos), des-tacamos Ilíada e Odisséia (Homero, Grécia), Eneida (Virgílio, Roma), Paraíso Perdido (Milton, Inglaterra), Os

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Lusíadas (Camões, Portugal). Na literatura brasileira, as principais epopéias foram escritas no século XVIII: Ca-ramuru, de Santa Rita Durão e O Uraguai, e Basílio da Gama.

“As armas e os barões assinalados,Que, da ocidental praia lusitana,Por mares nunca de antes navegados,Passaram ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforçadosMais do que prometia a força humana,E entre gente remota edificaramNovo reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosasDaqueles reis que foram dilatandoA Fé, o Império e as terras viciosasDe África e de Ásia andaram devastando,E aqueles que por obras valerosasSe vão da lei da morte libertando:Cantando espalharei por toda a parteSe a tanto me ajudar engenho e arte.”(Os Lusíadas, Canto I – Camões)

Até o século XVIII, alguns poetas dedicaram-se à com-posição de poemas épicos, mas o advento da narrativa em prosa fez o gênero praticamente desaparecer. O con-to e o Romance, que descendem da epopéia, já eram conhecidos na Antigüidade greco-romana tardia e tive-ram extraordinário desenvolvimento a partir dos séculos XVIII e XIX, na Europa Ocidental. Nem o conto, nem o Romance apresentam métrica, mantendo, porém, a es-trutura fundamental do gênero – narrador, enredo, perso-nagens, tempo e espaço.

Elementos da Narrativa:•Narrador: O narrador não é o autor da história, é uma voz fictícia que narra os fatos. O foco pode estar na 1ªpessoa do verbo, quando o narrador é um dos per-sonagens e relata suas impressões sobre a história, ou na 3ª pessoa, quando o narrador é uma espécie de ex-pectador junto com o leitor. O narrador quando expresso na 3ª pessoa, pode também apresentar a capacidade onisciente de enxergar e perceber fatos e pensamentos dos personagens.•Enredo: É o conjunto de fatos que se sucedem, todo enredo desencadeia-se em conflitos. A ordem início, meio e fim pode ser alterada para impressionar o leitor.•Personagens: Seres ficcionais que vivem enquanto a obra está sendo lida, o personagem pode incorporar na forma humana, animal, vegetal, objetos e coisas abstra-tas. O personagem principal é chamado de protagonista. Há, também, personagens em que determinados traços ou comportamentos são extremamente realçados, são os caricaturais. Outros não representam individualida-des, e sim tipos humanos, identificados primeiramente

pela profissão, pelo comportamento, pela classe social, etc.•Espaço: É o lugar onde se desenrola o enredo. Em al-gumas narrativas, o espaço deixa de ser um mero cená-rio e passar a ser determinante para os acontecimentos, interagindo com as personagens. Nesse caso, chama-mos de espaço funcional.•Tempo: Momento ou instante em que acontece a histó-ria narrada. Pode ser um tempo cronológico, ou seja, um tempo objetivo, marcado pelo relógio ou pelo calendário especificado durante o texto, ou um tempo psicológico, imaterial, introspectivo, onde você sabe que existe um intervalo em que as ações ocorreram, mas não se con-segue distingui-lo.

Formas NarrativasComo já afirmamos, o gênero narrativo é visto como uma variante do épico, enquadrando, nesse caso, as narrati-vas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela, o conto e a crônica.

Gênero LíricoO vocábulo lírico deriva de lira, instrumento musical muito utilizado pelos gregos a partir do século VII a.C. Chamava-se lírica a canção que se entoava ao som das liras. Havia, pois um casamento entre a música e a pala-vra, o qual perdurou até o século XV, quando os poemas distanciaram-se da música e passaram a ser lidos ou declamados. Por isso, a poesia lírica apresenta muitos elementos comuns à música: o ritmo, a melodia, a har-monia.O gênero lírico expressa uma realidade interna. É o texto no qual o eu-lírico exprime suas emoções, idéias e im-pressões sobre o mundo exterior. Normalmente, é usada a 1ª pessoa, e há predomínio da função poética da lin-guagem. Pertencem a esse gênero os poemas em geral.

Distinção entre Poesia e Poemas•Poesia: expressão da beleza estética, aquilo que emo-ciona, toca a sensibilidade. Sugerir emoções por meio de uma linguagem. Embora possa haver poesia em qualquer manifestação artística, tradicionalmente o vo-cábulo poesia está ligado ao texto literário, ao poema.

•Poema: obra em verso em que há poesia, ou, literal-mente, poema é a concretização da expressão poética (subjetiva, emotiva, abstrata) em versos.

Elementos do PoemaAo separar-se o texto do acompanhamento musical, o poema passou a apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica, a divisão em estrofes e a rima pas-saram a ser mais intensamente cultivadas pelos poetas. Observe o soneto abaixo para identificar os elementos do poema:

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Rimas = coincidências sonora entre as palavras

Estrofe = conjunto de versos

Métrica= medida dos versos

Métrica: a medida dos versos é dada pelo número de sílabas poéticas, contadas com base na fala e não na escrita, processo que recebe o nome de escansão.

Que / ro / vi / vê- / lo em / ca / da / vão / mo / men / (to) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10E em / seu / lou / vor / hei / de es / pa / lhar / meu / can / (to) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1ª Regra: para saber o número de sílabas poéticas, conta-se até a última sílaba tônica da palavra.

2ª Regra: quando uma sílaba termina com vogal e encontra uma sílaba que começa com vogal, ocorre a contração das vogais, isto é, uma é absorvida pela outra.

Mas cuidado! O que foi dito acima não significa que poema, para ser poema, precise, necessariamente, apresentar rima, métrica ou estrofe. A poesia moderna, por exemplo, desprezou esses conceitos; essa poesia e caracteriza pelo verso livre (abandono da métrica), por estrofes irregulares e pelo verso branco, ou seja, o verso sem rima. O que também não impede que “subitamente na esquina do poema, duas rimas se encontrem, como duas irmãs desconhecidas...”

Consideração do poemaNão rimarei a palavra sonocom a incorrespondente palavra outono.Rimarei com a palavra carneou qualquer outra, que todas me convêm.

As palavras não nascem amarradas,elas saltam, se beijam, se dissolvem,no céu livre por vezes um desenho,são puras, largas, autênticas, indevassáveis.(Carlos Drummond de Andrade)

TESTES

1) Leia os textos a seguir .I.“Eu faço versos como quem choraDe desalento... de desencanto...Fecha o meu livroSe por agora não tens motivo de pranto.”

II.“Ajoelhada ao lado da cama, para as orações da noite, Teresa se perguntava se o que tinha sentido por Mássimo era pecado. Parecia-lhe que não. Por via das dúvidas, rezou um ato de contrição. Não queria morrer e acordar no inferno.”III.“Um primeiro sobressalto de pânico apertou-lhe a garganta...-Padre Estevão! – falou, alto, pensando que talvez hou-vesse alguém ali, em alguma parte.”

Assinale a alternativa correta quanto aos fragmentos acima.(A)Os versos do fragmento I apresentam característica dramáticas.(B)O fragmento II está escrito em prosa, que tem, como unidade de composição básica, o parágrafo.(C)O fragmento III possui características líricas.(D)A estrofe é a unidade de composição básica da prosa.

Soneto da FidelidadeDe tudo ao meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu cantoE rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angústia de quem viveQuem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):Que não seja imortal, posto que é chamaMas que seja infinito enquanto dure.(Vinícius de Moraes)

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(E)A prosa presta-se à confissão amorosa, pessoal; a poesia, para a criação de personagens e a estruturação de longas narrativas.

2) Sobre literatura, forma literária e gêneros literários, pode-se afirma que:(A)tanto no verso quanto na prosa pode haver poesia.(B)o texto literário é aquele em que predomina a repe-tição da realidade, a linguagem linear, a unicidade de sentido.(C)o gênero dramático caracteriza-se pela presença do narrador.(D)o texto narrativo pode ser escrito apenas em prosa.(E)as tragédias pertencem ao gênero narrativo.

3)Leia atentamente o texto para responder às ques-tões que se seguem.“Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com um mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor, seu grande mistério é a simplicidade. Considerei, por fim, que assim é o amor, oh minha amada; de tudo o que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existe apenas meus olhos recebendo a luz do teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.”(Rubem Braga – 200 crônicas escolhidas)O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu assim sobre a obra de Rubem Braga: O que ele nos conta é o seu dia, o seu expediente de homem, apanhado no essencial, narrativa direta e econômica. (...) É o poeta do real, do palpável, que se vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da realidade e o remédio para ela.Em seu texto, Rubem Braga afirma que “este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos”. Afirmação semelhante pode ser encontrada no texto de Carlos Drummond de Andrade, quando, ao analisar a obra de Braga, diz que ela é

(A)uma narrativa direta e econômica.(B)real, palpável.(C)sentimento de realidade.(D)seu expediente de homem.(E)seu remédio.

4)Leia o texto abaixo.Miguilim “De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois.

Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo. - Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome? - Miguilim. Eu sou irmão do Dito. - E o seu irmão Dito é o dono daqui? - Não, meu senhor. O Ditinho está em glória. O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zela-do, manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia: - Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que é que há, Miguilim? Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava. - Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa? - É Mãe, e os meninos... Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: -- ‘Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?” (ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984).Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica expli-citado em:(A)“O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”(B)“Ele era de óculos, corado, alto (...).”(C)“O homem esbarrava o avanço o cavalo, (...).”(D)“Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (...).”(E)“Estava mãe, estava Tio Terez, estavam todos.”

ASSUNTO 4

RELAÇÕES ENTRE TEXTOS: INTER-TEXTUALIDADEIntertextualidadeNa constituição da própria palavra, pode-se observar que intertextualidade significa relação entre textos. Um conceito clássico para essa relação é: “[...] todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto”. Nesse sentido, a intertextualidade é um fenômeno que pode ser expresso por diferentes linguagens no texto.

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As relações entre os textos acontecem quando, ao lermos um texto, lembramos e outro. Assim, ao fazer-mos essa relação, que pode ser explícita ou implícita, compreendemos o texto lido na sua profundidade e, por conseqüência, somos capazes de refletir sobre o recurso adotado pelo autor quando formos compor textos. A nossa compreensão de um texto depende, dessa forma, de nossas experiências de vida, de nossas vivências, de nosso conhecimento de mundo, de nossas leituras. Essa lembrança do outro texto pode ocorrer no que diz respeito à forma ou ao sentido, ou, ainda, resgatando os dois: forma – quando percebe-mos a imagem, versos, estrutura etc. do texto original – e sentido – a relação, nesse caso, é com o conteúdo da obra resgatada.

Observe o exemplo abaixo:Nota-se que há correspondência entre os dois textos. A paródia-piadista de Murilo Mendes é um exemplo e intertextualidade, uma vez que seu texto foi criado tomando como ponto de partida o texto de Gonçalves Dias. A intertextualidade está presente também em outras áreas como na pintura, no cinema, no teatro, na publici-dade, etc. Veja os exemplos abaixo:

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Caipira Picando Fumo, 1893 Almeida Junior (1850 – 1899)Óleo sobre tela / Pinacoteca do Estado de SP

Chico Tirando Palha de Milho

Tipos de Intertextualidade

•Paráfrase: origina-se do grego “para-phrasis” (repeti-ção de uma sentença). Assim, parafrasear um texto, sig-nifica recriá-lo com outras palavras, porém sua essência, seu conteúdo permanecem inalterados. Veja os exem-plos a seguir:

Texto OriginalMinha terra tem palmeirasOnde canta o sabiá,As aves que aqui gorjeiamNão gorjeiam como lá.(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).

ParáfraseMeus olhos brasileiros se fecham saudososMinha boca procura a ‘Canção do Exílio’.Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?Eu tão esquecido de minha terra…Ai terra que tem palmeirasOnde canta o sabiá!(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”). O poema de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é mui-to utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia, já que se trata de um clássico da poesia romântica brasilei-ra. Aqui o poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o texto primitivo conservando suas idéias, não há mudan-ça do sentido principal do texto que é a saudade da terra natal. Abaixo, outros exemplos de paráfrases:

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•Paródia: A paródia é uma forma de contestar ou ridicu-larizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto de interesse para os estu-diosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão críti-ca de suas verdades incontestadas anteriormente. Com esse processo, há uma indagação sobre os dogmas es-tabelecidos e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os programas humorís-ticos fazem uso contínuo desse recurso, freqüentemen-te os discursos de políticos são abordados de manei-ra cômica e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe dominante. Com o mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, agora, uma paródia.

Texto OriginalMinha terra tem palmeirasOnde canta o sabiá,

As aves que aqui gorjeiamNão gorjeiam como lá.(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).

ParódiaMinha terra tem palmares onde gorjeia o maros passarinhos daquinão cantam como os de lá.(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”).

O nome Palmares, escrito com letra minúscula, substi-tui a palavra palmeiras e, dessa forma, acrescenta um contexto histórico, social e racial no texto. Palmares é o quilombo liderado por Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma inversão do sentido do texto primitivo que foi subs-tituído pela crítica à escravidão existente no Brasil. Veja outros exemplos

TESTES1) Assinale a alternativa em que o diálogo com o texto original tem como finalidade conferir (além de desper-tar o conhecimento prévio do interlocutor) à releitura o mesmo valor de referência atribuído consensualmente ao original, persuadindo o leitor:

(A)Oh ! que saudades que eu tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais !Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais !(Casimiro de Abreu)

Oh que saudades que eu tenhoDa aurora de minha vidaDas horasDe minha infânciaQue os anos não trazem maisNaquele quintal de terraDa Rua de Santo AntônioDebaixo da bananeiraSem nenhum laranjais(Oswald de Andrade)

(B)“Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.” (Shakespeare)

“Olímpico leitor, divinal leitora, há mais coisas entre o

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céu dos deuses e a terra do futebol do que sonha nossa vã crônica esportiva.Determinadas situações do jogo e certas fases pelas quais os times passam não são, como pensam alguns, obras do acaso. Ao contrário, são uma manifestação da vontade dos seres superiores, seres que controlam nos-sa vida desde o dia em que o Caos gerou a Noite.”(Trecho da crônica de J. Roberto Torero, Folha de S. Pau-lo)

(C)

Mona Lisa, óleo sobre tela Leonardo da Vinci (1503)

(D)

(E) João joga um palitinho de sorvete na rua de Teresa que joga uma latinha de refrigerante na rua de Raimundo que joga um saquinho plástico na rua de Joaquim que joga uma garrafinha velha na rua de Lili. Lili joga um pedacinho de isopor na rua de João que joga uma embalagenzinha de não sei o que na rua de Teresa que joga um lencinho de papel na rua de Raimundo que joga uma tampinha de refrigerante na rua de Joaquim que joga um papelzinho de bala na rua de J. Pinto Fernandes que ainda nem tinha entrado na história. (Ricardo Azevedo)

“João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém. João foi para os Estados Uni-dos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de de-sastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. “(Carlos Drummond de Andrade)

2) A primeira imagem abaixo (publicada no século XVI) mostra um ritual antropofágico dos índios do Brasil. A segunda mostra Tiradentes esquartejado por ordem dos representantes da Coroa portuguesa.

Theodor De By - Século XV

“Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima”

Teto da Capela Sistina

Bart Simpson

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Tiradentes Esquartejado (1893) Pedro Américo (1843 – 1905)

A comparação entre as reproduções possibilita as se-guintes afirmações:I.Os artistas registraram a antropofagia e o esquarteja-mento praticados no Brasil.II.A antropofagia era parte do universo cultural indígena e o esquartejamento era uma forma de se fazer justiça entre luso-brasileiros.III. A comparação das imagens faz ver como é re-lativa a diferença entre “bárbaros” e “civilizados”, indíge-nas e europeus.Está correto o que se afirma em(A) I apenas.(B) II apenas.(C) III apenas.(D) I e II apenas.(E) I, II e III.

3) Observe o quadro abaixo e leia o texto.

Operários, Tarsila do Amaral

“Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, o que lhes assegura identidade peculiar, são iguais enquanto frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das indús-trias se alçam verticalmente. No mais, em todo o quadro, rostos colados, um ao lado do outro, em pirâmide que tende a se prolongar infinitamente, como mercadoria que se acumula, pelo quadro afora.” (Nádia Gotlib. Tarsi-la do Amaral, A Modernista)

O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema que também se encontra transcrito nos versos em:

(A) “Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas.” (Vinícius de Moraes)

(B) “Somos muitos severinos i guais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima.” (João Cabral de Melo Neto)

(C) “O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos.” (Ferreira Gullar)

(D) “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mun-do.” (Fernando Pessoa)(E) “Os inocentes do LeblonNão viram o navio entrar (...)Os inocentes, definitivamente inocentes tudo ignoravam,mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles pas-sam pelas costas, e aquecem.”(Carlos Drummond de Andrade)

4) Cândido Portinari (1903-1962), em seu livro Retalhos de Minha Vida de Infância, descreve os pés dos traba-lhadores. “Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Confundiam-se com as pedras e os espinhos. Pés se-melhantes aos mapas: com montes e vales, vincos como rios. (...) Pés sofridos com muitos e muitos quilômetros de marcha. Pés que só os santos têm. Sobre a terra, difícil era distingui-los. Agarrados ao solo, eram como alicerces, muitas vezes suportavam apenas um corpo franzino e doente.” (Cândido Portinari, Retrospectiva, Catálogo MASP)

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As fantasias sobre o Novo Mundo, a diversidade da na-tureza e do homem americano e a crítica social foram temas que inspiraram muitos artistas ao longo de nossa história. Dentre estas imagens, a que melhor caracteriza a crítica social contida no texto de Portinari é

(A)

(B)

(C)

(D)

(E)

ASSUNTO 5

FIGURAS DE LINGUAGEMOs escritores utilizam diversos recursos para fazer lite-ratura. As figuras de linguagem, por exemplo, são re-cursos empregados com muita freqüência. Elas servem exatamente para expressar aquilo que a linguagem co-mum, falada, escrita e aceita por todos não consegue expressar satisfatoriamente. São uma forma de o homem assimilar e expressar experiências diferentes, desconhe-cidas, novas. Por isso elas revelam muito da sensibilida-de de quem as produz, da forma como cada indivíduo encara as suas experiências no mundo. Neste sentido, convém rever algumas figuras indispen-sáveis para a melhor compreensão do texto literário. As

figuras de linguagem subdividem-se em figuras de som, figuras de palavras e figuras de pensamento.

Figuras de PalavrasAs figuras de palavra consistem no emprego de um ter-mo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais ex-pressivo na comunicação. São figuras de palavras: a comparação, a metáfora, a metonímia e a sinestesia.

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• Comparação: Ocorre comparação quando se esta-belece aproximação entre dois elementos que se iden-tificam, ligados por conectivos comparativos explícitos (feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - e alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros).

“Amou daquela vez como se fosse máquina. / Beijou sua mulher como se fosse lógico.” (Chico Buarque);

• Metáfora: Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultan-te da subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subenten-dido.

“Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão.” (Machado de Assis).

“Amar é um deserto e seus temores ...”(Djavan, Oceano)

“O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico.” (Mário Quintana).

• Metonímia: Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação mútua.

» a causa pelo efeito e vice-versa: “E assim o operário ia / Com suor e com cimento (com trabalho) / Erguendo uma casa aqui / Adiante um apartamento.” (Vinicius de Moraes).» o lugar de origem ou de produção pelo produto: Com-prei uma garrafa do legítimo porto (o vinho da cidade do Porto).» o autor pela obra: Ela parecia ler Jorge Amado (a obra de Jorge Amado).» o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não devemos contar com o seu coração (sentimento, sensibilidade).

• Sinestesia: A sinestesia consiste na fusão de sensa-ções diferentes numa mesma expressão. Essas sensa-ções podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).

“Agora, o cheiro áspero das floresleva-me os olhos por dentro de suas pétalas.” (Cecília Meireles)

“A minha primeira recordação é um muro velho, no quin-tal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no rebo-co e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação visual] e úmida, macia [sensações táteis],

quase irreal.” (Augusto Meyer).

Figuras de SomChamam-se figuras de som os efeitos produzidos na lin-guagem quando há repetição de sons ou, ainda, quando se procura “imitar” sons produzidos por coisas ou seres. São figuras de som: a aliteração, a assonância e a ono-matopéia.

•Aliteração: Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante (fonema consonantal) ou de conso-antes similares, geralmente em posição inicial da pala-vra.

“Vozes veladas, veludosas vozesVolúpias dos violões, vozes veladasVagam nos velhos vórtices velozesDos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.” (Cruz e Sousa)

“Auriverde pendão da minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balança.” (Castro Alves)

•Assonância: Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.

“Leitos perfeitos seus peitos direitosme olham assimfino menino me inclinopro lado do simrapte-me, adapte-me, capte-me coração.” (Caetano Veloso)

“Como é difícil acordar caladoSe na calada da noite eu me danoQuero lançar um grito desumanoQue é uma maneira de ser escutado.” (Chico Buarque/Gilberto Gil)

•Onomatopéia: Ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou som.

“O silêncio fresco despenca das árvores. / Veio de longe, das planícies altas, / Dos cerrados onde o guaxe passe rápido... / Vvvvvvvv... passou.” (Mário de Andrade).

“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno.” (Fernando Pessoa).

Figuras de Pensamento

As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu as-pecto semântico. São figuras de pensamento: a antítese, o paradoxo, a ironia, o eufemismo, a hipérbole e a pro-

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sopopéia.

•Antítese: aproxima palavras que se opõem pelo sen-tido.

“Não existiria som se nãohouvesse o silêncioNão haveria luzSe não fosse a escuridãoA vida é mesmo assimDia e noite, não e sim.” (Lulu Santos – Nelson Motta)

“De repente do riso fez-se o pranto” (Vinícius de Moraes)

•Paradoxo: Ocorre paradoxo não apenas na aproxima-ção de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. Oxímoro é outra designação para paradoxo.

“Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer;” (Camões)

•Ironia: Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela ento-nação, pela contradição de termos, sugere-se o contrá-rio do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.

“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.” (Machado de Assis)“Moça linda, bem tratada, / três séculos de família, / bur-ra como uma porta: / um amor.” (Mário de Andrade).

•Eufemismo: Ocorre eufemismo quando uma palavra

ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante.

“E pela paz derradeira (morte) que enfim vai nos redimir Deus lhe pague”. (Chico Buarque).

“Quando a Indesejada das gentes chegar”(Manuel Ban-deira)

•Hipérbole: Ocorre hipérbole quando há exagero de uma idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocio-nante e de impacto.

“Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac).

•Prosopopéia: Ocorre prosopopéia (ou personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, sentimento, en-fim, caracteres próprios de seres animados a seres ina-nimados ou imaginários.

“... os rios vão carregando as queixas do caminho.” (Raul Bopp)

“O vento beija meus cabelosAs ondas lambem minhas pernasO sol abraça o meu corpo.” (Lulu Santos)

“Vai passar na avenida um samba popularCada paralelepípedoDa velha cidadeEssa noite vaiSe arrepiar” (Chico Buarque)

TESTES

1)O oxímoro (ou paradoxo) é uma construção textual que agrupa significdos que se excluem mutuamente. Para Garfield, a frase de Jon (tirinha abaixo) expressa o maior e todos os oxímoros.

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Nas alternativas abaixo estão transcritos versos retira-dos de poema O Operário em Construção, de Vinícius de Moraes. Pode-se afirmar que ocorre um oxímoro em:

(A)“Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.”(B)“Que a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.”(C)“Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava.”(D)“... o operário faz a coisa E a coisa faz o operário.”(E) “Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão.”

2) Leia o texto abaixo.

Cidade GrandeQue beleza, Montes Claros.Como cresceu Montes Claros.Quanta indústria em Montes Claros.Montes Claros cresceu tanto, ficou urbe notória,prima-rica do Rio de Janeiro,que já tem cinco favelas por enquanto, e mais promete.(Carlos Drummond de Andrade) Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a(A) metalinguagem que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.(B) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.(C) Ironia, que consiste em se fazer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.(D)Denotação, caracterizada pelo uso de palavras em seu sentido próprio e objetivo.(E)Prosopopéia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

3) Leia o poema abaixo.

Epígrafe¹Murmúrio de água na clepsidra² gotejante,Lentas gotas de som no relógio da torre,Fio de areia na ampulheta vigilante,Leve sombra azulando a pedra do quadrante³,Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...

Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?

Procuremos somente a beleza, que a vidaÉ um punhado infantil de areia ressequida,Um som de água ou de bronze e uma sombra que pas-sa...(Eugênio de Castro)

¹ Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto; tema.² Clepsidra: relógio de água.³ Pedra do quadrante: parte superior de um relógio de sol.

A imagem contida em “lentas gotas de som” (verso 2) é retomada na segunda estrofe por meio da expressão(A) tanta ameaça.(B) sombra de bronze.(C) punhado de areia.(D) sombra que passa.(E) somente a Beleza.

4) As histórias em quadrinhos, por vezes, utilizam animais como personagens e a eles atribuem compor-tamento humano. O gato Garfield é um exemplo desse fato.

Van Gogh, pintor holandês nascido em 1853, é um dos principais nomes da pintura mundial. É dele o quadro abaixoAuto-retrato de orelha cortada

O 3º quadrinho sugere que Garfield:(A)desconhece tudo sobre arte, por isso faz a sugestão.(B)Acredita que todo o pintor deve fazer algo diferente.(C)Defende que para ser pintor a pessoa tem que sofrer.(D)Conhece a história de um pintor famoso e faz uso da ironia.

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APOSTILA LITERATURA

Assunto 6

LITERATURA E HISTÓRIA DA LITERATURAEstudar literatura é, basicamente, ampliar nossas ha-bilidades de leitura do texto literário. No Ensino Médio, esse estudo é acrescido da história literária, que objetiva acompanhar a evolução cronológica da literatura de de-terminado povo e cultura, observando suas transforma-ções de acordo com o momento histórico. Por isso, a história da literatura organiza-a em movimentos, perío-dos e gerações.

O QUINHENTISMO“Viemos buscar cristão e especiarias” O Quinhentismo corresponde à época do descobri-mento do Brasil, movimento paralelo ao Classicismo Português que, por sua vez, possui idéias relacionadas diretamente ao Renascimento. A literatura do Quinhen-tismo tem como tema central os próprios objetivos da expansão marítima: a conquista espiritual e a conquista marítima.

•Literatura Informativa Carta a El-Rei Dom Manuel – Pero Vaz de CaminhaViagem ao Brasil – Jean de LéryEntre os Tupinambás – Hans Staden

•Literatura de Catequese Pe. José de Anchieta – Poeta e teatrólogoPe. Manuel da Nóbrega – Cartas do Brasil

BARROCO - SÉCULO XVII

Convivendo com o sensualismo e os prazeres trazidos pelo Renascimento, os valores espirituais – tão fortes na Idade Média e desprezados pelo Renascimento – voltaram a exercer forte influência sobre a mentalidade da época. Uma nova onda de religiosidade foi trazida pela Contra-Reforma e pela fundação da Companhia de Jesus. Neste sentido, o homem do século XVII era um homem dividido entre duas mentalidades, duas formas diferentes de ver o mundo:

• Renascimento – influência dos clássicos (racionalis-mo, equilíbrio, clareza, linearidade de contornos), visão antropocêntrica ou humanista, sensualismo, valorização da vida corpórea, ...• Idade Média – teocentrismo, valorização da vida espi-ritual, fé, ...

A Arte Barroca irá expressar esta tensão entre idéias e sentimentos opostos.

Características:1.Arte da Contra-Reforma2.Conflito corpo/alma3.Forma conturbada (requinte formal)4.Temática: a passagem do tempo

Estilos do Barroco:•Cultismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante (hipérboles), descritiva; pela valoriza-ção do pormenor mediante jogos de palavras (ludismo verbal). Pela visível influência do poeta espanhol Luís de Gôngora, o estilo é também conhecido por Gongorismo. No cultismo valoriza-se a forma - o “como dizer”.

Conceptismo valoriza “o que dizer”. É pelo raciocínio ló-gico, racionalista, de retórica aprimorada. É freqüente o uso de comparações explícitas, analogias e até parábola (uso de símbolos e seres inanimados para se contar uma estória de forma a melhor captar o entendimento do lei-tor). Também é chamado de Quevedismo, em referência ao espanhol Quevedo.

Autores do Barroco Brasileiro•Gregório de Matos Guerra (Boca do Inferno) – nasci-do na Bahia em 1633, é o primeiro poeta brasileiro e o maior poeta do Período Colonial. Sua obra costuma ser dividida em três vertentes básicas: lírico-amorosa, lírico--religiosa e satírica. À Mesma Dona Ângela“Anjo no nome, Angélica na cara!Isso é ser flor, e Anjo juntamenteSer Angélica flor, e Anjo florente,Em quem, senão em vós, se uniformara.

Quem vira uma tal flor, que a não cortara,De verde pé, da rama florescente;E quem um anjo vira tão luzente,Que por seu Deus o não idolatra?

Se pois como anjo sois dos meus altares,Fôreis meu custódio, e a minha guarda,Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo que por bela, e por galharda,Posto que os Anjos nunca dão pesares,Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.” A Jesus Cristo Nosso Senhor “Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,Da vossa alta clemência me despidoPorque, quanto mais tenho delinqüido,

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Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,A abrandar-vos sobeja um só gemido:Que a mesma culpa, que vos há ofendido,Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobradaGlória tal e prazer tão repentinoVos deu, como afirmais na sacra história

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,Perder na vossa ovelha a vossa glória.”

À Cidade da Bahia “A cada canto um grande conselheiroQue nos quer governar cabana e vinhaNão sabem governar sua cozinhaE podem governar o mundo inteiro

Em cada porta um freqüentado olheiroQue a vida do vizinho, e da vizinhaPesquisa, escuta, espreita e esquadrinhaPara levar à Praça e ao TerreiroMuitos mulatos desavergonhadosTrazidos pelos pés os homens nobresPosta nas palmas toda picardia*

Estupendas usuras nos mercadosTodos os que não furtam, muito pobresE eis aqui a cidade da Bahia.”*picardia = maldade, pirraçaVícios “Eu sou aquele que os passados anoscantei em minha lira maldizentetorpezas do Brasil, vícios e enganos

E bem que os decantei bastantementeCanto segundo vez na mesma liraO mesmo assunto em plectro diferente

De que pode servir calar quem cala?Nunca se há de falar o que se sente?!Sempre se há de sentir o que se fala.

Qual homem pode haver tão pacienteQue, vendo o triste estado da Bahia,Não chore, não suspire e não lamente?!”

•Pe. Antônio Vieira (1608 – 1697) – Considerado o maior orador sacro da nossa história, Vieira escreveu cerca de duzentos sermões. Foi uma espécie de cronista da his-tória imediata. Foi também um defensor dos índios e dos cristãos-novos.

Obra Principal: Sermões“Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregado-res, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão cor-rupta quanto está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem rece-ber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fa-zem, que fazer o que eles dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade?” (Antônio Vieira)

ARCADISMO (NEOCLASSI-CISMO) – Século XVIII

O fortalecimento da burguesia, o conseqüente descré-dito da nobreza e do clero e o progresso científico ge-raram, em determinados grupos sociais, uma confiança otimista nas possibilidades do homem. Acreditou-se que a divulgação da ciência bastaria para dissipar a escuri-dão das superstições, consideradas como principal cau-sa dos sofrimentos humanos. Assim, uma onda raciona-lista – o Iluminismo – começa a tomar conta da Europa.Neste sentido, o estilo do Barroco, identificado com a mentalidade religiosa criada pela Contra-Reforma, pas-sa a ser considerado retrógrado e ultrapassado. Surge, então, o Neoclassicismo (ou Arcadismo) – um estilo que busca o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia através da volta à cultura clássica (da tradição greco--latina).

No Brasil: (ciclo do Ouro)O Arcadismo brasileiro tem início com a publicação de Obras (1768) de Cláudio Manuel da Costa e com a fun-dação da Arcádia Ultramarinha. O centro econômico brasileiro, até então a Bahia, sofre com a crise do açúcar e o advento das minas o que acaba gerando uma mu-dança do eixo comercial brasileiro para Vila Rica (MG). A cidade passa a ser não só o centro econômico, mas também social e intelectual da colônia. O ouro incremen-tou a vida urbana e incitou o Movimento das Bandeiras em busca de uma delimitação mais precisa dos limites do Brasil além de visar à riqueza dos metais e pedras preciosas. Marques do Pombal, homem de imensa influ-

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APOSTILA LITERATURA

ência em Portugal, inicia, com o Tratado de Madri, uma política de expulsão dos jesuítas. A independência dos Estados Unidos e as idéias iluministas alastram uma onda de liberalismo por toda a América, o que acaba gerando o movimento da Inconfidência Mineira (do qual participaram quase todos literatos da época, muitos sen-do perseguidos, exilados ou executados).

Características:1.Vinculação com o Iluminismo2.Imitação dos clássicos3.Valorização da natureza4.Bucolismo5.Ausência de subjetividade 6.Amor Galante

Autores do Arcadismo Brasileiro:

POESIA LÍRICA•Cláudio Manuel da Costa - Utilizando o pseudônimo Glauceste Satúrnio, foi um dos introdutores do Arcadis-mo no Brasil. No entanto, é considerado um poeta de transição (Barroco Arcadismo) por apresentar, ainda, uma temática barroca (a brevidade dolorosa do amor e da vida). Cultuou o soneto de Camões como modelo para seus poemas. Obras: Obras Poéticas (1768) Vila Rica (1839)

Já rompe, Nise, a matutina auroraO negro manto, com que a noite escura,Sufocando do sol a face pura,Tinha escondido a chama brilhadora.

Que alegre, que suave, que sonoraAquela fontesinha aqui murmura!E nestes campos cheios de verduraQue avultado o prazer tanto melhora!

Só minha alma em fatal melancolia,Por te não poder ver, Nise adorada,Não sabe inda, que coisa é alegria;

E a suavidade do prazer trocada,Tanto mais aborrece a luz do dia,Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.

Que deixa o trato pastoril amadoPela ingrata, civil correspondência,Ou desconhece o rosto da violência,Ou do retiro a paz não tem provado

Que bem é ver nos campos transladadoO gênio do pastor, o da inocência!E que mal é no trato, e na aparênciaVer sempre o cortesão dissimulado!

Ali respira amor, sinceridade;Aqui sempre a traição seu rosto encobre;Um só trata a mentira, outro a verdade:

Ali não há fortuna que soçobre;Aqui quanto se observa, é variedade:Oh ventura do rico! Oh bem do pobre.

•Tomás Antônio Gonzaga – foi dos maiores escritores do Arcadismo brasileiro. Sua obra, na verdade, vai além das limitações desta escola, rodeando o pré-romantis-mo, principalmente ao referir-se à mulher amada.

Obras: Marília de Dirceu (1792) Cartas Chilenas (1845)

Parte I – Lira I“ Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,Que viva de guardar alheio gado;De tosco trato, de expressões grosseiro,Dos frios gelos e dos sóis queimado.Tenho próprio casal e nele assisto;Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;Das brancas ovelhinhas tiro o leite,E as mais finas lãs de que me visto.

Graças, Marília Bela,Graças à minha estrela! ( ... )

Mas tendo tantos dotes de ventura,Só apreço lhes dou gentil pastora,Depois que teu afeto me seguraQue queres do que tenho ser senhora.É bom, minha Marília, é bom ser donoDe um rebanho, que cubra monte e pradoPorém, gentil pastora, o teu agradoVale mais que um rebanho e mais que um trono

Graças, Marília Bela,Graças à minha estrela!” • Dirceu declara seu amor à jovem Marília de maneira comedida, elegante e racional; comparando as razões de seu amor às mesmas da natureza. Ele é um simples pastor que cuida das suas ovelhinhas à beira de um ria-cho, morando, inclusive, em uma cabana. Marília é a mo-cinha civilizada que não conhece a verdadeira liberdade. Vale lembrar que Tomás Antônio Gonzaga foi deportado, na ocasião da Inconfidência Mineira, para Moçambique, abandonando Marília. É justamente nesta trama amoro-sa campestre que se situa a melhor obra lírica árcade brasileira.

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POESIA ÉPICA:•Basílio da Gama - “O UraguaiConsiderado o melhor e mais importante poema épico do Período Colonial. Trata de expedição portuguesa-es-panhola contra índios e jesuítas instalados na Missões Jesuíticas. O poema inova o estilo da época ao substituir cenários artificiais do Arcadismo pela natureza brasilei-ra. Seu tom já é indianista, prenunciando o Romantismo. Além disso, rompe com a estrutura tradicional (modelo camoniano) ao utilizar versos brancos (sem rimas) e sem estrofação.Personagens: Cacambo, Lindóia, Sepé Tiarajú, Pe. Bal-da, ...

•Santa Rita Durão- “Caramuru” O poema narra as aventuras, em parte históri-cas, em parte lendárias, do náufrago português Diogo Álvares Correia, o Caramuru, e seus amores com as ín-dias Moema e Paraguaçu. A importância do poema re-side nas referências a episódios da História do Brasil e nas descrições da natureza do nosso país. No entanto, o autor demonstra grande fidelidade à ideologia jesuítica, o que resulta numa visão colonialista. Do ponto de vista formal, o poema segue rigorosamente o modelo camo-niano.

ROMANTISMO – SÉCULO XIX

O movimento romântico pretendia, no início, suplantar a concepção clássica da arte. A imitação dos clássicos não fazia sentido num tempo (fins do séc. XVIII) que ha-via produzido o liberalismo e a Revolução Francesa.A Revolução Francesa significa, entre outras coisas, o fim do absolutismo político (no plano artístico, o fim da beleza única e absoluta) e a ascensão da burguesia como classe dominante.A burguesia, culturalmente pouco afeita às artes, exigia dos escritores um novo tipo e nível de comunicação. Pri-vilégio de uma classe – a aristocracia – a cultura tinha que se adaptar aos novos tempos. Surge, então, um gê-nero literário que vinha se pronunciando há mais tempo e que se constituirá no reflexo e na crítica da sociedade burguesa: o romance.No Brasil, o romantismo vai ser o movimento identificado com a Independência Política.

CARACTERÍSTICAS:1-Individualismo e subjetivismo: o romantismo centrou--se na glorificação do particular, do singular, do íntimo, daquilo que diferencia uma pessoa de outra. Neste sen-tido a arte romântica (e a literatura) vai expressar os so-nhos, os projetos, as angústias, os medos, o sofrimento do artista (uma espécie de grito de subjetividade)2-Sentimentalismo: os sentimentos são uma espécie de medida de interioridade de cada pessoa. Assim, o elogio

dos sentimentos funciona como rejeição do mundo dos negócios, das transações, da concorrência, da busca da ascensão social.3-O Culto da Natureza: encontrar-se com a natureza sig-nificava encontrar-se consigo mesmo, significava alargar a sensibilidade. A Natureza transforma-se em ponto de partida para a caracterização idealizada dos sentimen-tos e personagens.4-Idealização (Imaginação, Fantasia): fechados em si mesmos, perdidos numa realidade incômoda e brutal para a sensibilidade, os românticos se entregam à fan-tasia. Devaneiam, criam universos imaginários onde o “ideal” é possível.5-Valorização do Passado: esta atitude está ligada à fuga da realidade e à idealização da mesma. O mundo medieval e a infância representam o “paraíso perdido”.6-Liberdade Artística: o romântico nega os padrões clás-sicos de arte, ele obedece somente aos estímulos de sua interioridade. Neste sentido, surgem poemas sem rimas, sem preocupação com métrica, além do romance, um gênero literário novo.

O ROMANTISMO NO BRASILO romantismo brasileiro nasce das possibilidades que surgiram com a Independência Política (1822). Os artis-tas e intelectuais são tomados por um sentimento patrió-tico e nacionalista que vai se manifestar através do:•Indianismo – a imagem positiva (idealizada) do índio fornece o orgulho de uma descendência nobre.•Regionalismo – o regionalismo romântico procurou afirmar as particularidades e a identidade das diferentes regiões do país.•Natureza – a terra é identificada como a pátria. Assim, os fenômenos naturais tornam-se representativos da grandeza do país.POESIA ROMÂNTICA

1ª Geração : Nacionalista•Gonçalves de Magalhães – introdutor do movimento. Publicou a primeira obra romântica brasileira - “Suspiros Poéticos e Saudades” (1836)

“ Meus versos são suspiros de minha alma, sem outra lei que o interno sentimento.”

•Gonçalves Dias – consolidou o romantismo com uma produção poética de qualidade. Os principais temas de sua poesia são:o índio: “I – Juca Pirama” a natureza / a pátria: “Canção do Exílio” o amor: “Ainda uma vez Adeus” Obras: Primeiros Cantos (1846) Segundos Cantos (1848) Sextilhas de Frei Antão (1848)

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I – Juca PiramaMeu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi.

Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. ( ... )

- Mentiste, que um Tupi não chora nunca, E tu choraste!... parte; não queremos Com carne vil enfraquecer os fortes. ( ... )

“Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte; Pois choraste, meu filho não és! Possas tu, descendente maldito De uma tribo de nobres guerreiros, Implorando cruéis forasteiros, Seres presa de via Aimorés. ( ... )

Canção do ExílioMinha terra tem palmeirasOnde canta o sabiáAs aves que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá

Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida Nossa vida mais amores ( ... )

Ainda uma Vez Adeus!Enfim te vejo! – enfim posso,Curvado aos teus pés, dizer-te,Que não cessei de querer-te,Pesar de quanto sofri

Muito penei! Cruas ânsiasDos teus olhos afastadoHouveram-me acabrunhado,A não lembrar-me de ti ( ... )

Lerás, porém, algum diaMeus versos, d’alma arrancados,D’amargo pranto banhados,Com sangue escritos; - e então

Confia que te comovas.Que a minha dor te apiedeQue chores, não de saudadeNem de amor – de compaixão.2ª Geração: Mal do Século •Álvares de Azevedo - Manuel Antônio Álvares Azevedo, considerado o “Byron brasileiro”, foi o maior representan-te nacional do ultra-romantismo. Não só sua obra reflete o pensamento desta geração marcada pelo “mal do sé-culo”, mas também a sua própria vida: viveu sempre às voltas com doenças e morreu jovem, aos 21 anos.

Obras: Lira dos Vinte Anos (poemas – 1853) Noite na Taverna* (contos – 1855 O Conde Lopo (poema – 1886) Macário (teatro – 1855)

Soneto“Pálida, à luz da lâmpada sombria,Sobre o leito de flores reclinada,Como a lua por noite embalsamada,Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! Na escuma friaPela maré das águas embalada!Era um anjo entre nuvens d’alvoradaQue em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando ...Negros olhos as pálpebras abrindo ...Formas nuas no leito resvalando ...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!Por ti – as noites eu velei chorando,Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!Se eu Morresse Amanhã“Se eu morresse amanhã, vira ao menosFechar meus olhos minha triste irmã;Minha mãe de saudade morreria.”

Se eu morresse amanhãQuanta glória pressinto em meu futuro!Que aurora de porvir e que manhã!Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã!

Que sol! Que céu azul! Que doce d’alvaAcorda a natureza mais louçã!Não batera tanto amor no peito

Se eu morresse amanhã!Mas essa dor da vida que devoraA ânsia de glória, o doloroso afã ...A dor no peito emudecera ao menos

Se eu morresse amanhã!”

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Idéia Íntimas“Oh! Ter vinte anos sem gozar de leveA ventura de uma alma de donzelaE sem na vida ter sentido nunca Na suave atração de um róseo corpo,Meus olhos turvos se fecharem de gozo( ...)Vinte anos! Derramei-os gota a gotaNum abismo de dor e esquecimentoDe fogosas visões nutri meu peito ...Vinte anos! ... Não vivi um só momento.”

•Casemiro de Abreu: foi um poeta de enorme popula-ridade. Sua obra oferece um acesso fácil, musical, sem complexidade filosófica ou psicológica, que agrada aos leitores menos exigentes. A nostalgia da infância, a sau-dade da terra natal, o gosto da natureza, o pressentimen-to da morte e a idealização da mulher amada foram seus temas prediletos, sempre abordados com um sentimen-talismo ingênuo e espontâneo.Obras: Primaveras (1850) Meus oito Anos“Oh! que saudades que tenhoda aurora da minha vida,da minha infância queridaque os anos não trazem mais!Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueiras A sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!

Como são belos os diasDo despontar da existência!-Respira a alma inocênciaComo perfumes a flor;O mar é – lago sereno,O céu – um manto azulado,O mundo – um sonho dourado,A vida – um hino de amor! (... )”Amor e Medo“Ai! Se eu te visse em languidez sublime,na face as rosas virginais do Pejo,trêmula a fala a protestar baixinho ...vermelha a boca, soluçando um beijo! ...

Diz: - Que seria da pureza d’anjo,Das vestes alvas, do candor das asas?-Tu te queimarias, a pisa descalça,-Criança louca, sobre um chão de brasas!

No fogo vivo eu me abrasaria inteiro!Ébrio e sedento na fugaz vertigemVil, machucara com meu dedo impuroAs pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro impuro, eu sorveria em beijosToda tua inocência que teu lábio encerra,E tu serias no lascivo abraçoAnjo enlodado nos pauis da terra.

Depois ... Desperta no febril delírio,-Olhos pisados – como um vão lamento,Tu perguntarás: - O qu’é da minha c’roa? ...Eu te diria: - Desfolho-a o vento! ...

Oh! Não me chames coração de gelo!Bem vês: traí-me no fatal segredo.Se de ti fujo é que te adoro e muito,És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!”Minha Alma é Triste“Minha alma é triste como a rola aflitaQue o bosque acorda desde o albor da auroraE em doce arrulho que o soluço imitaO morto esposo gemedora chora.

E, como a rola que perdeu o esposo,Minh’alma chora as ilusões perdidasE no seu livro de fanado gozoRelê as folhas que já foram lidas.

•Fagundes Varela: caracteriza-se pela diversidade de tendências (indianismo, byronismo). Sua obra-prima foi o poema “Cântico do Calvário”, escrito logo após a mor-te de seu filho de três meses.•Junqueira Freire: seminarista influenciado pelo Mal do Século, poeta angustiado, pessimista e revoltado. Obra: “Inspirações do Claustro”

3ª Geração: Condoreira•Castro Alves: conhecido como o “poeta dos escravos”, participou ativamente de toda propaganda abolicionista e republicana da época. Além de fazer uma poesia cheia de grandes imagens, feita para exaltar o ouvinte e o lei-tor, com a finalidade de inflamar, de conseguir adeptos para uma causa, foi também um grande lírico onde a mulher e a natureza completam o quadro de um poeta arrebatado, idealista e romântico. Obras: Espumas Flutuantes (1870) A Cachoeira de Paulo Afonso (1876) Os Escravos (1883) Gonzaga (drama –1875) Navio Negreiro“Senhor Deus dos desgraçados!Dizei-me vós, Senhor Deus!Se é loucura ... se é verdadeTanto horror perante os céus...

Ó mar! Por que não apagasCo’a esponja de tuas vagasDe teu manto este borrão? ...

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Astros! Noite! Tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufão! ... ( ... )

E existe um povo que a bandeira emprestaPra cobrir tanta infâmia e cobardia! ...E deixa-a transformar-se nessa festaEm manto de bacante e fria! ...Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é estaQue imprudente na gávea tripudia?! ...Silêncio! ... Musa! Chora, chora tantoQue o pavilhão se lave no teu pranto!

Auriverde pendão da minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balança,Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança ...Tu, que da liberdade após a guerraFoste hasteado dos heróis na lança,Antes te houvesse, roto na batalha,Que servires a um povo de mortalha! ...”

Vozes d’África“Deus!Deus! Onde estás que não respondes?Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondesEmbuçado nos céus?Há dois mil anos te mandei meu grito,Que embalde desde então corre o infinito ...Onde estás Senhor Deus? ( ... )Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!É pois teu peito eterno, inexaurívelDe vingança e rancor? ...E que é que eu fiz, Senho? Que torvo crimeEu cometi jamais que assim me oprimeTeu gládio vingador? ...”

Adormecida“Uma noite, eu me lembro... Ela dormiaNuma rede encostada molemente...Quase aberto o roupão.... solto o cabeloE o pé descalço do tapete rente.” ( .. )

Boa – Noite “Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.A lua nas janelas bate em cheio.Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...Não me apertes assim contra teu seio.

Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.Mas não digas assim por entre beijos...Mas não mo digas descobrindo o peito,— Mar de amor onde vagam meus desejos.” ( ... )

O “Adeus” de Teresa

“A vez primeira que eu fitei Teresa,Como as plantas que arrasta a correnteza,A valsa nos levou nos giros seus...E amamos juntos... E depois na sala“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus”.

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...E da alcova saía um cavaleiroInda beijando uma mulher sem véus...Era eu... Era a pálida Teresa!“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus:”

Passaram tempos... séculos de delírioPrazeres divinais... gozos do Empíreo...... Mas um dia volvi aos lares meus.Partindo eu disse — “Voltarei!... descansa!...”Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: “adeus:”

Quando voltei... era o palácio em festa!...E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestraPreenchiam de amor o azul dos céus.Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

A PROSA ROMÂNTICA

As origens populares e o senso prático da burguesia não coincidem com o refinamento da Arte Clássica. A nova mentalidade, menos refinada, menos educada e mais pragmática - voltada para os problemas do coti-diano - requer um gênero literário que possa estar a al-tura do seu entendimento e do seu gosto. O ROMANCE, por relatar acontecimentos do vida comum e cotidiana, e por dar vazão ao gosto burguês pela fantasia e pela aventura, vem a ser o mais legítimo veículo de expressão artística dessa classe. O romance surge na Europa inicialmente sob a forma de folhetim (publicação diária em jornal). NO BRASIL:O surgimento e desenvolvimento do ROMANTISMO no Brasil está relacionado com a Independência Política. Nesse sentido, a necessidade de se definir a Identidade Cultural do país está intimamente ligada ao desenvolvi-mento do romance, que se tornou o principal instrumen-to de construção da cultura brasileira. Assim, procuran-do re-descobrir o Brasil, o romance brasileiro procurará dar conta de nossa realidade.

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AUTORES:•Joaquim Manuel de Macedo: Introdutor do romance romântico brasileiro. Desperta no público o gosto pelo romance ambientado no BrasilOBRA: A Moreninha (1844) Características da obra: • Narrativa urbana• Estrutura de folhetim• Cenários identificáveis pelos leitores• Visão superficial de certos hábitos da classe média e burguesia cariocas

•José de Alencar: É considerado o autor mais importan-te do Romantismo brasileiro. Inserido na linha naciona-lista do romantismo, procurou criar uma obra (conjunto de romances) capaz de representar a nação. Por isso, dividiu sua obra em:

ROMANCE URBANO: Narra a vida social, sobretudo a ligada à Corte do RJ. Mostra os Problema sociais e morais decorrentes da vida urbana carioca, sobressaem-se os perfis femininos, tratados com complexidade psicológica e o registro da luta econômica nas relações sociais.• Senhora (Aurélia e Fernando)• Lucíola (Lúcia e Paulo)

ROMANCE INDIANISTA: Tomando como base as lendas, Alencar idealiza a vida do índio, exaltando suas características de nobreza, valentia, tendo em vista ele ser um dos fundadores da nação.• O Guarani (Peri - o índio de alma branca - e Cecília)• Iracema (Iracema, Martim e Moacir)• Ubirajara (Taguarê, Jandira e Araci)

Observe o texto: “Iracema”“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no ho-rizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabe-los mais negros que a asa da graúna e mais longo que seu talhe de palmeira.O favo da Jati não era doce como seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfuma-do.Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem cor-ria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guer-reira tribo, da grande nação Tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro de floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da Oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre

esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto. ( ... )”

ROMANCE HISTÓRICO: Tenta interpretar a nossa história sob um prismanacionalista, numa clara valorização idealizada donosso passado.• A guerra dos Mascates As Minas de Prata

ROMANCE REGIONALISTA: Focaliza os hábitos da população do interior do país. Aparecem os costumes pitorescos, a paisagem e os aspectos exóticos.• O Gaúcho• O Sertanejo• O Tronco do Ipê

• Dentro da linha do romance regionalista iniciada por Alencar, surgem outros autores:

•Bernardo Guimarães - A Escrava Isaura romance de intenção abolicionista- O Seminarista (Eugênio e Margarida)

•Franklin Távora- O cabeleira (sobre o cangaço)

•Visconde de Taunay -Inocência (Cirino e Inocência)

Narrativa de Costumes:• Manuel Antônio de Almeida: Autor de uma única obra, foi considerado o precursor doRealismo por evitar o sentimentalismo, a pieguice e a vi-são ideal da vida. Conduziu a trama com leveza, certo cinismo e descaramento. Os bons e os maus costumes transparecem igualmente em seu livro, levantando por-menores curiosos da pequena burguesia carioca, dados que certamente seriam considerados impróprios por Alencar e Macedo.

- Memórias de um Sargento de Milícias

Observe o texto:“Ao sair do Tejo, estando Maria encostada à borda do navio, Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu--lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mes-ma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de se-rem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares,

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que pareciam sê-lo de muitos anos.”O Teatro RomânticoO teatro brasileiro do século XIX está comprometido com a dependência cultural de nossas elites. Os textos pro-cediam em sua quase totalidade da Europa; as compa-nhias vinham de Portugal; respirava-se uma atmosfera dissociada da realidade local. Embora muitos românti-cos tenham escrito para o teatro, não chegaram a pro-blematizar verdadeiramente a questão da dramaturgia brasileira, ao contrário do que aconteceu no romance e mesmo na poesia. Caberia a Marins Pena a elaboração de um conjunto de peças capazes de refletir aspectos da realidade nacional.

•Martins Pena: Criador da comédia de costumes, cons-trói personagens e situações satíricas, engraçadas e caricatas. Por sua linguagem coloquial e seus tipos po-pulares, freqüentemente é comparado a Manuel Antônio de Almeida.Obras: Juiz de Paz na Roça O Noviço Judas em Sábado de Aleluia Quem Casa quer Casa Os Dois ou o Inglês Maquinista

TESTES:

Quinhentismo:

1) Entende-se por literatura informativa no Brasil:(A)O conjunto de relatos de viajantes e missionários eu-ropeus, sobre a natureza e o homem brasileiro.(B)A história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI.(C)As obras escritas com a finalidade de catequese do indígena.(D)Os poemas de padre José de Anchieta.(E)Os sonetos de Gregório de Matos.

2)A respeito da Carta, de Pero Vaz de Caminha, pode-mos afirmar:(A)Não há preocupação com a conquista material.(B)A única preocupação era a catequese dos índios.(C)É representativa do pensamento contra-reformista.(D)Apresenta tanto preocupação material quanto espiri-tual.(E)Não cita, em momento algum, os nativos brasileiros.

3)Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é certo afirmar que(A)é formada principalmente de poemas narrativos e tex-tos dramáticos que visavam à catequese.(B)inicia com Prosopopéia, de Bento Teixeira.(C)é constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica.(D)descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e

o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo.(E) os textos que a constituem apresentam eviden-te preocupação artística e pedagógica.

4)Leia o texto abaixo, extraído da Carta de Pero Vaz de Caminha.“O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa* por estrado. [...] En-traram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs o olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizen-do que ali havia ouro. [...] Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou mui-to com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo.”__________*tapeteConsidere as seguintes afirmações sobre o texto.

I. As palavras de Caminha evidenciam o confronto entre civilização e barbárie vivenciado pelos portugueses na chegada ao Brasil.II. A interpretação que o escrivão dá aos gestos do índio em relação ao colar do Capitão corrobora a intenção dos portugueses em explorar as possíveis jazidas de ouro na terra recém descoberta.III. No trecho selecionado, Caminha sugere uma prática que viria a se tornar corrente nas relações entre portu-gueses e selvícolas: o escambo (a permuta) de produtos da terra por artigos manufaturados europeus.

Quais estão corretas?(A) Apenas I.(B) Apenas II.(C) Apenas I e II.(D) Apenas II e III.(E) I, II e III.

Barroco:

1) Pode-se reconhecer nos versos acima, de Gregório de Matos, “Que falta nesta cidade ? Verdade.Que mais por sua desonra ? Honra.Falta mais que se ponha ? Vergonha.O demo a viver se exponha,Por mais que a fama a exalta,Numa cidade onde faltaVerdade, honra, vergonha.”

(A)o caráter de jogo verbal próprio do estilo barroco, a

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serviço de uma crítica, em tom de sátira, do perfil moral da cidade da Bahia.(B)o caráter de jogo verbal próprio da poesia religiosa do século XVI, sustentando piedosa lamentação pela falta de fé do gentio.(C)o estilo pedagógico da poesia neoclássica, por meio da qual o poeta se investe das funções de um autêntico moralizador .(D)o caráter de jogo verbal próprio do estilo barroco, a serviço da expressão lírica do arrependimento do poeta pecador.(E)o estilo pedagógico da poesia neoclássica, susten-tando em tom lírico as reflexões do poeta sobre o perfil moral da cidade da Bahia.

2)Assinale com V ou F, as afirmações abaixo sobre os dois grandes nomes do barroco brasileiro.( ) A obra poética de Gregório de Matos Guerra oscila entre os valores transcendentais os mundanos , exempli-ficando as tensões de seu tempo( ) Os sermões de Padre Vieira caracterizam-se por uma construção de imagens desdobradas em numerosos exemplos que visam enfatizar o conteúdo da pregação.( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira , em seus poemas e sermões, mostram exacerbados sentimentos patrióti-cos expressos em linguagem barroca( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom dos sermões do Padre Vieira representam duas faces da alma barroca no Brasil.( ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos para o desvio operado pela retórica retumbante e vazia

A seqüência correta de preenchimento dos parênteses, de cima pára baixo, é:(A)V- F- F- F- F(B)V- V- V- V- F(C)V- V- F- V- F (D)F - F- V- V- V(E)F- F- F- V- V

3) Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra que faz parte da poesia lírica, com temática religiosa. A Jesus Cristo Nosso Senhor “Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,Da vossa alta clemência me despidoPorque, quanto mais tenho delinqüido,Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,A abrandar-vos sobeja um só gemido:Que a mesma culpa, que vos há ofendido,Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobradaGlória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na sacra históriaEu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,Perder na vossa ovelha a vossa glória.”

Sobre o poema é incorreto afirmar que:(A)se apresenta em forma de soneto, com uma lingua-gem plena de artifícios de versificação, o que faz ressal-tar o conteúdo temático, que é o arrependimento do eu--lírico de seus pecados, em busca do perdão de Jesus Cristo.(B)a forma de expressão poética do eu-lírico é marcada pela tensão e reflete os conflitos do homem do período do barroco, que vivia as contradições entre o teocentris-mo medieval e o antropocentrismo clássico.(C)apresenta ideais divergentes entre o humano e o di-vino em decorrência da oposição que havia, na época, entre a mentalidade pagã da burguesia portuguesa e a religiosidade católica da sociedade brasileira.(D)a linguagem é predominantemente conceptista, pois desenvolve um raciocínio engenhoso.(E)o soneto desenvolve uma argumentação paradoxal, tipicamente barroca.

Arcadismo:

1) Leia as afirmações abaixo sobre o Arcadismo bra-sileiro.I. Os poetas árcades colocavam-se como pastores para tematizar, dessa forma, o ideal de uma vida simples em contato com a natureza.II.O Arcadismo brasileiro, embora tenha reproduzido muito dos modelos europeus, apresentou características próprias, como a incorporação do elemento indígena e a sátira política.III. O tema do Carpe diem, em que o poeta expressa o desejo de aproveitar intensamente o momento presente, fugaz e passageiro, foi ignorado pelos árcades brasilei-ros, excessivamente racionalistas.Quais estão corretas?a)Apenas I.b)Apenas III.c)Apenas I e II.d)Apenas II e III.e)I, II e III.

Instrução: o texto abaixo, extraído das Liras de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, refere-se à questão

2)Lira I – Primeira Parte“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,Que vive de guardar alheio gado,De tosco trato, de expressões grosseiro,Dos frios gelos e dos sóis queimados.Tenho próprio casal1 e nele assisto2;Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;Das brancas ovelhinhas tiro o leite,

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E mais as finas lãs, de que me visto.Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte:Dos anos inda não está cortado;Os Pastores, que habitam este monte,Respeitam o poder do meu cajado.Com tal destreza toco a sanfoninhaQue inveja até me tem o próprio Alceste:Ao som dela concerto a voz celesteNem canto letra, que não seja minha.Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!1 – propriedade rural / 2 – moro.

2- Observe as afirmações.I – O fragmento transcrito registra uma verdadeira pro-posta de vida, exaltando uma série de vantagens de que dispõe o eu lírico.II – A presença de expressões como “vaqueiro”, “fruto”, “brancas ovelhinhas” e “leite”, entre outras, revela a in-tegração do eu lírico com a uma paisagem tipicamente campestre.III – O ideal de simplicidade evidenciado no texto dis-pensa o uso de quaisquer outros elementos que dife-renciem o eu lírico dos demais integrantes da paisagem bucólica descrita. Quais estão corretas?(A)Apenas I.(B)Apenas II.(C)Apenas III.(D)Apenas I e II. (E)I, II e III.

3) “No Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles recria poeticamente os acontecimentos históricos de Minas Gerais, ocorridos no final do século XVIII. Nesta mesma época, circulavam, em Vila Rica, as Cartas Chi-lenas, atribuídas a Tomás Antônio Gonzaga.” O fragmento a seguir foi extraído da Carta 2 em que Critilo (Gonzaga), dirigindo-se ao seu amigo Doroteu (Cláudio Manuel da Costa), narra o comportamento do Fanfarrão Minésio (Luís da Cunha Meneses, governador de Minas). “Aquele, Doroteu, que não é SantoMas quer fingir-se Santo aos outros homens,Pratica muito mais, do que pratica,Quem segue os sãos caminhos da verdade.Mal se põe nas Igrejas, de joelhos,Abre os braços em cruz, a terra beija,Entorta o seu pescoço, fecha os olhos,Faz que chora, suspira, fere o peito;E executa outras muitas macaquices,Estando em parte, onde o mundo as veja.”Considerando as informações apresentadas e esse frag-

mento poético, é correto afirmar que(A)o autor descreve as atitudes do governador de Minas sem fazer uso de um tom irônico.(B)o autor critica algumas atitudes do governador de Mi-nas, julgando-as dissimuladas.(C)o autor descreve, com humor, o comportamento do governador de Minas, sem apresentar um posiciona-mento crítico.(D)o tom satírico, presente nas Cartas Chilenas, não é observado nesse fragmento, pois, aqui, há apenas a descrição das práticas religiosas do Fanfarrão Minésio.(E)o autor chama a atenção para o fato de que o go-vernador de Minas age com fervor, longe dos olhos dos fiéis.

Instrução: Considere os textos abaixo para responder à questão de número 4. O URAGUAI(Basílio da Gama)

Canto II Prosseguia talvez; mas o interrompeSepé, que entra no meio, e diz: “CacamboFez mais do que devia; e todos sabemQue estas terras, que pisas, o céu livreDeu aos nossos avós; e nós também livresAs recebemos dos antepassados.Livres as hão de herdar os nossos filhos.Desconhecemos, detestamos jugoQue não seja o do céu, por mão dos padres.As flechas partirão nossas contendasDentro de pouco tempo; e o Vosso Mundo,Se nel um resto houver de humanidade,Julgará entre nós: se defendemos- Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria. –Enfim quereis a guerra, e tereis guerra.Lhe torna o General. “Podeis partir-vos,Que tendes livre o passo.” (...) Que tendes livre o passo.” (...)

4) Segundo Sepé, em O Uraguai: (A)Os índios receberam a liberdade do céu e de seus antepassados para que se associassem ao empreendi-mento colonial de Portugal e Espanha. (B)Os índios recusam-se a lutar pelos padres cujo domí-nio causou s hostilidades com as coroas portuguesa e espanhola.(C)Os índios protestam contra o jugo do céu, cujos re-presentantes na terra são os padres responsáveis pela conversão e catequese.(D)Pretendem lutar aguerridamente contra a injustiça re-presentada pelo Deus e pela Pátria dos adversários.(E)Os Índios pretendem legar aos filhos as terras livres que receberam de seus avós, os quais as receberam do céu.

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Romantismo (Poesia e Prosa):

1) O movimento romântico, cujas origens estão na Ale-manha e na Inglaterra, adquiriu na literatura brasileira um reflexo extraordinário porque(A)nossas letras contavam, à época, com escritores ta-lentosos como Machado de Assis.(B)prosperavam, entre nós, os sentimentos nativistas elevados ao mais alto plano estético, como demonstra o poema “O Uruguai”.(C)nosso complexo cultural de colonizadores encontra-va na prosa intimista sua expressão mais adequada e natural.(D)coincidiu com o momento decisivo de definição da nossa nacionalidade e de valorização do nosso passado histórico.(E)nossos homens de letras e de ciências criaram teo-rias em que se demonstrava a flagrante superioridade do pensamento anglo-germânico sobre o de outros povos.

Instrução: os textos que seguem referem-se às questões 02 e 03.

TEXTO Nº 01Minha MusaÁlvares de Azevedo

1.Minha musa é uma lembrança2.Dos sonhos em que eu vivi,3.É de uns lábios a esperança4.E a saudade que eu nutri!5.É a crença que alentei,6.As lutas belas que amei,7.E os olhos por que morri!8.Os meus cantos de saudade9.São amores que eu chorei10.São lírios da mocidade11.Que murcham porque te amei!12.As minhas notas ardentes13.São as lágrimas dementes14.Que em teu seio derramei15.Do meu outono os desfolhos.16.Os astros do teu verão,17.A languidez de teus olhos18.Inspiram minha canção.19.Sou poeta porque és bela.20.Tenho em teus olhos, donzela,21.A musa do coração!(…)

TEXTO Nº 02Iolanda Pablo Milanez e Chico Buarque

1.Esta canção2.Não é mais que uma canção

3.Quem dera fosse uma declaração de amor4.Romântica5.Sem procurar a justa forma6.Do que me vem de forma assim tão caudalosa7.Te amo, te amo8.Eternamente te amo

9.Se me faltares10.Nem por isso eu morro11.Se é pra morrer12.Quero morrer contigo13.Minha solidão14.Se sente acompanhada15.Por isso às vezes sei que necessito16.Teu colo, teu colo17.Eternamente teu colo18.Quando te vi19.Eu bem que estava certo20.De que me sentiria descoberto21.A minha pele22.Vai despindo aos poucos23.Me abres o peito quando me acumulas24.De amores, de amores25.Eternamente de amores(…)

3) Considere as afirmações abaixo

I.Em “Iolanda”, os versos de 9 a 14 revelam certo despre-zo por parte do eu-lírico, que dispensa a presença física da mulher amada.II.Em “Minha Musa”, os versos de 19 a 21 revelam que o fazer poético acha-se ligado à beleza física da mulher.III.A metáfora “São as lágrimas dementes! (verso 13, de “Minha Musa”) está para “As minhas notas ardentes” (verso 12), assim como “São lírios da mocidade” (verso 10) está para “Os meus cantos de saudade” (verso 8).

Assinale a alternativa correta.

(A)Apenas I.(B)Apenas II.(C)Apenas I e II.(D)Apenas II e III.(E)I, II e III.

4) Assinale a única afirmação incorreta. (A)No poema de Álvares de Azevedo, a palavra “musa” pode ser interpretada como “divindade inspiradora”, en-quanto na letra da música de “Iolanda”, é a palavra “can-ção” que assume tal significado.(B)O verso 5, de “Iolanda”, pode referir-se à forma livre, sem rimas e sem metrificação, significando a expressão do sentimento na canção.(C)Com a expressão “Quem dera fosse uma declaração

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de amor / Romântica” (versos 3 e 4, de “Iolanda”), o eu--lírico reconhece a superioridade de uma declaração de amor romântica diante da simplicidade da canção.(D)“Do que me vem de forma assim tão caudalosa” (ver-so 6, de “Iolanda”) aponta para a grandeza do amor, tema que encontra correspondência no advérbio “Eter-namente”, recorrente a cada final de estrofe.(E)Quanto ao conteúdo, os dois textos encontram afini-dades em relação à exacerbação sentimental e à eleição da mulher amada como motivo da poesia. Em ambos, predomina o caráter romântico, muito embora apenas o texto de Álvares de Azevedo tenha sido escrito na época do Romantismo.

REALISMO

A Segunda metade do século XIX, na Europa, define-se por uma série de transformações econômicas, científi-cas e ideológicas que possibilitam o surgimento de uma estética anti-romântica. CONTEXTO HISTÓRICO:A sociedade européia dessa época vive os efeitos da Segunda Revolução Industrial e do amplo progresso científico e tecnológico que a acompanham, tais como a substituição do ferro pelo aço e do vapor pela eletri-cidade; o desenvolvimento de maquinaria automática, dos transportes e das comunicações; o aprimoramento da estrada de ferro; as primeiras experiências com au-tomóveis, etc. É uma época de progresso material, de benefícios econômicos para a burguesia industrial.As contradições, no entanto, estavam latentes: as cida-des, crescendo sem planejamento, não ofereciam as mínimas condições de conforto e higiene; acentuava-se a divisão do trabalho entre a burguesia e o proletaria-do; o socialismo de Marx ganhava adeptos; irrompiam revoltas de trabalhadores que eram reprimidas brutal-mente. Nesse universo que é, ao mesmo tempo, o da euforia burguesa e do capitalismo desumano, os valores românticos entram em crise.Já não é possível a fantasia, nem o mito da natureza, nem o fechar-se na própria interioridade. Os aconteci-mentos exigem a participação do artista.Agora, ele é um participante do mundo, ou, ao menos, um observador do mundo. É verdade que o sentimento desagradável da realidade persistirá em sua alma, he-rança do Romantismo. Mas em vez de transformar esse sentimento em desabafo ou grito, como o romântico, o artista procurará examiná-lo à luz de teorias sociológi-cas, psicológicas ou biológicas. Idéias científico-filosóficas:No plano científico-filosófico, verifica-se uma verdadeira onda de cientificismo e materialismo. Dentre as mais im-portantes correntes da época destacam-se:

•Positivismo: criado por Augusto Comte, parte do princí-pio de que o único conhecimento válido é o conhecimen-to positivo, isto é, oriundo das ciências. É um filosofia empírica, que se baseia na observação do mundo físico; por isso rejeita a metafísica.•Determinismo: criado por H. Taine, parte do princípio de que o comportamento humano é determinado por três aspectos básicos: o meio, a raça e o momento histórico.•Darwinismo: dando continuidade, sob outro enfoque, à teoria do Evolucionismo, de Lamarck, Charles Darwin, em sua obra “Origem das Espécies” (1859), apresenta a teoria da Seleção Natural, segundo a qual a natureza ou o meio selecionam entre os seres vivos aquelas varia-ções que estão destinadas a sobreviver e a perpetuar-se. Assim, os mais fortes sobrevivem e procriam, e os mais fracos são eliminados antes de exercerem a procriação.•Socialismo científico (Materialismo Histórico): proposto por Karl Marx e Friedrich Engels no “Manifesto Comu-nista” (1848). Defendia o sistema no qual existiria uma sociedade igualitária, sem a exploração do homem pelo homem, alcançada através da luta de classes. “O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, político e intelectual.”•Destacam-se ainda, na época, as pesquisas no campo da Física, da Química, da Biologia e, principalmente, no da Medicina. São dessa época igualmente os primeiros esforços no sentido de criar três áreas científicas novas: a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia.

É nesse contexto sociopolítico-científico que surgem o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. A alteração do quadro social e cultural exigia dos escritores outra forma de abordar a realidade: menos idealizada, mais objetiva, crítica e participante.

O Realismo iniciou em 1857, na França, com o lançamen-to de “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert. No Brasil, o início se dá com a publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, em 1881

CARACTERÍSTICAS DO REALISMO:1.Objetivismo, racionalismo2.Verossimilhança3.Narrativa lenta, descrição precisa4.Exatidão no tempo e no espaço5.Mulher não idealizada6.Herói problemático (anti-herói)7.Amor e outros sentimentos subordinados aos interes-ses sociais8.Crítica às Instituições (Igreja, Casamento, Estado, ...)9.Pessimismo 10.Análise psicológica

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MACHADO DE ASSIS (1839 – 1908)É considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Fundou a Academia Brasileira de Letras, sendo seu primeiro presidente. Sua cultura, ironia e penetração psicológica revelam o imaginário do Brasil do século XIX. Autor de uma obra variada, começou com folhetins (romances românticos), poemas, romances, além de contos e crônicas. Sua obra pode ser dividida em duas fases; 1ª Fase (até 1881 2ª Fase (1881 – 1908)

poesia Crisálidas; Falenas; Ameri-canas

Ocidentais

conto Contos Flu-minenses; Histórias da Meia-Noite

Papéis Avulsos; Histórias Sem Data; Páginas Re-colhidas; Relíquias da Casa Velha

Romance Ressurreição; Helena; A Mão e a Luva; Iaiá Garcia

Memórias Pós-tumas de Brás Cubas; Quincas Borba; Dom Casmurro; Esaú e Jacó; Memorial de Aires

Caracte-rísticas

Esquematismo psicológico; convencionalis-mo, conformis-mo

Análise crítica da burguesia, ironia, pessimismo, aná-lise psicológica. Adultério, loucura, conversa com o leitor

•Contos de Destaque: O Alienista; Missa do Galo, A Car-tomante, O Espelho, O Homem Célebre, O Enfermeiro, O Caso da Vara, Uns Braços, ...

ROMANCES:•Memórias Póstumas de Brás Cubas (1ª obra do Realis-mo brasileiro – 1881)Esse romance é uma revolução em termos de estrutura e linguagem. O público do romance romântico estava acostumado ao episódio, aos incidentes circunstan-ciais das personagens. Machado de Assis escreve um romance que se caracteriza pela lentidão, pela análise exaustiva. É narrado em primeira pessoa por um defun-to, Brás Cubas, que está preocupado em reexaminar, de modo irônico, mas radical, os principais momentos de sua vida. As lembranças não aparecem linearmente, dependem das oscilações da memória. O personagem mostra seus mais secretos desejos e anomalias e tam-bém as hipocrisias de uma sociedade que estrutura sua vida sobre falsos valores. Brás Cubas conta seus amo-res por Marcela, paixão desenfreada de sua juventude, seus ideais para vencer na vida, sempre equivocados, e

sua relação amorosa com Virgília, esposa do seu amigo Lobo Neves. No livro, o autor analisa a teoria do Huma-nitismo, do seu amigo filósofo Quincas Borba. A análise individual e social é sarcástica, impiedosa, até corrosiva, e o romance está impregnado de amargura cruel e nii-lista, que encontramos nas palavras de Brás Cubas: “ Ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmito a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”•Quincas BorbaO modesto professor Rubião recebe a grande heran-ça do falecido filósofo Quincas Borba, com a condição de cuidar de seu cachorro, também chamado Quincas Borba. Rubião abandona a pequena cidade do interior, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde é enganado e explorado por um bando de parasitas sociais, especifi-camente pelo casal Sofia / Palha. Sofia percebe a paixão do professor por ela e se diverte com sua ingenuidade.•Dom CasmurroO romance se vale de uma situação cheia de incertezas para sugerir quase tudo e revelar muito pouco. Já enve-lhecido, Bentinho, apelidado de Dom Casmurro devido a sua amarga solidão, resolve “atar as duas pontas da vida” através da reconstituição dos principais fatos de sua existência. Assim, em retrospectiva, técnica que lhe dá chances para um aprofundado estudo psicológico, o autor faz Bentinho contar de seu amor por Capitu, sua experiência no seminário, sua amizade com Escobar e finalmente o casamento com sua amada – Capitu. Trans-tornado pelo ciúme e pela dúvida sobre a traição de Ca-pitu e Escobar, Bentinho separa-se da mulher e do filho ficando cada vez mais solitário e casmurro. •Esaú e JacóDois irmãos gêmeos, Pedro e Paulo, serão adversários na infância, na juventude e na maturidade; vão se opor em tudo. Um será conservador, o outro liberal. Só num aspecto coincidem, além da semelhança física: a paixão por Flora, jovem indecisa entre o amor de ambos. Flora termina morrendo sem conseguir optar por nenhum dos gêmeos, que continuam cada vez mais desunidos.

- A sondagem psicológica mostra outra dimensão do real, aquilo que está além das aparências sociais: o ego-ísmo, a mentira, o interesse, a luxúria e a falsidade são escamoteadas por atos aparentemente honestos. Seu pessimismo amargo e cruel está diretamente ligado ao comportamento da burguesia de sue tempo. A vida não passa de uma batalha cruel em busca de prazer, riqueza e ostentação. A natureza é indiferente ao humano e a religião serve de máscara para encobrir o egoísmo re-vestido de verdade. Os fatos só têm sentido se revelam a consciência humana, o que faz a lógica narrativa ser interna, introspectiva.

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NATURALISMO O Naturalismo, assim como o Realismo, se volta para a realidade. Entretanto, observa-a, analisa-a, disseca-a sob uma ótica rigorosamente científica. Os escritores naturalistas, valendo-se de temas inovadores, mostram a decadência das instituições, denunciam a hipocrisia, caracterizam as lutas sociais, com espírito participativo e reformista.

ALUÍSIO DE AZEVEDO (1857 – 1913)Apesar de ter iniciado sua carreira com folhetins ro-mânticos, se destacou mesmo foi no Naturalismo, com fortes influências de Émile Zola e Eça de Queirós. Na época, a escravidão era um problema político, social e econômico, e a vontade de transformar o Brasil numa República crescia entre a população. Esse questão foi abordada por Aluísio em seus romances naturalistas. A obra “O Mulato”, de 1881, marca o início do Naturalismo no Brasil.

CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO:1.Cientificismo e Determinismo2.Análise social3.Temas de patologia social4.Ser humano reduzido ao nível do animal5.Linguagem simples6.Descrição minuciosa

•O MulatoA obra causou escândalo entre a sociedade de São Luís (Maranhão), não só pela linguagem naturalista, mas principalmente pelo assunto de que tratava: o pre-conceito racial. As personagens são: Raimundo, Ana Rosa, Diogo e Dias. O romance teve grande sucesso e foi recebido na corte como exemplo de Naturalismo.•Casa de PensãoO autor se inspira em um caso verídico, a Questão Ca-pistrano, crime que sensibilizou o Rio de Janeiro entre 1876 e 1877. O enrede expressa uma visão determinis-ta, em que o jovem Amâncio, um estudante de medici-na, tem seu caráter determinado pelo meio. A história se passa no Rio de Janeiro, onde Amâncio vai estudar medicina. Inicialmente, fica hospedado na pensão de João Coqueiro e Mme. Brizard. Durante a trama, se envolve com Amélia, irmã de João Coqueiro e acaba assassinado por ele.•O CortiçoEm O Cortiço, uma das obras mais conhecidas de Alu-ísio de Azevedo, o personagem principal é o próprio local onde se passa a trama. Através da análise do cor-tiço, que determina tudo o que acontece no romance, o autor mostra a miséria dos subúrbios cariocas no final do século XIX. O tema é a ambição e a explora-ção do homem. De um lado, João Romão, que aspira a riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do

outro, “a gentalha”, que é apresentada no livro como um conjunto de animais movidos pelo instinto. Isso revela a influência das teorias da Biologia do século XIX, como o Darwinismo e o Determinismo (raça, meio e momento como fatores determinantes do compor-tamento humano). Personagens: João Romão, Ber-toleza, Miranda, Estela, Zulmira, Rita Baiana, Firmo, Jerônimo, ...

Alguns trechos de “O Cortiço” que evidenciam as prin-cipais características do Naturalismo:“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a es-fervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no, es-terco.”

“Daí a pouco, em volta das bicas, era um zunzum crescente, uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.”

“A primeira que se pôs a lavar foi Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos ca-beludos e grossos, anca de animal do campo.”

“Florinda tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxu-riosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem.”

“Ao lado de Leandra foi colocar-se à sua tina a Augus-ta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexan-dre, um mulato de 40 anos, soldado da polícia, per-nóstico, de grande bigode preto, queixo sempre bem escanhoado e um luxo de calças brancas engomadas e botões limpos na farda, quando estava de serviço.”

“E agora, coitado, já velho, comido de desilusões, cheio de hemorróidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Miranda.”

“Miranda nunca a tivera, nem nunca a vira, assim tão violenta no prazer. Estranhou-a. Afigurou-se-lhe estar nos braços de uma amante apaixonada: descobriu nela o capitoso encanto com que nos embebedam as cortesãs amestradas na ciência do gozo venéreo. Descobriu-lhe no cheiro da pele e no cheiro do ca-belo perfumes que nunca lhe sentira: notou-lhe outro hálito, outro som nos gemidos e suspiros. E gozou-a loucamente, com delírio, com verdadeira satisfação de animal no cio. E ela também, ela também gozou, estimulada por aquela circunstância picante do res-sentimento que os desunia; gozou a desonestidade daquele ato que a ambos acanalhava aos olhos um do outro, estorcendo-se toda, rangendo os dentes, gru-nhindo, debaixo daquele seu inimigo odiado, achan-

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do-o também agora, como homem, melhor que nunca, sufocando-o nos seus abraços nus, metendo-lhe pela boca a língua úmida e em brasa.”

PARNASIANISMO

O Parnasianismo foi contemporâneo do Realismo--Naturalismo, estando, portanto, marcado pelos ideais cientificistas e revolucionários do período. Diz respeito, especialmente, à poesia da época, opondo-se ao sub-jetivismo e ao descuido com a forma do Romantismo. Os poetas parnasianos, desejando restaurar a poesia clássica, propõem, então, uma poesia mais objetiva, de elevado nível vocabular, racionalista, perfeita do ponto de vista formal e voltada a temas universais.A origem da palavra Parnasianismo associa-se ao Parna-so grego, segundo a lenda, um monte da Fócia, na Gré-cia central, consagrado a Apolo e às musas. A escolha do nome já comprova o interesse dos parnasianos pela tradição clássica. Contudo, pode-se afirmar que essa referência não passava de um verniz que revestiu artifi-cialmente essa arte, como forma de garantir-lhe prestígio entre as camadas letradas do público brasileiro.Apesar de contemporâneos, o Parnasianismo difere pro-fundamente do Realismo e do Naturalismo. Enquanto esses movimentos se propunham a analisar e compre-ender a realidade social e humana, o parnasianismo se distancia da realidade e se volta para si mesmo, o obje-tivo maior da arte não é tratar dos problemas humanos e sociais, mas alcançar a “perfeição” em sua construção.

CARACTERÍSTICAS:1.Arte pela Arte 2.Culto à Forma 3.Temática greco-romana 4.Objetivismo / Racionalismo 5.Descritivismo

AUTORES:OLAVO BILAC (1865 – 1918): foi o mais popular dos poetas parnasianos brasileiros, sendo eleito em 1913 o primeiro “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Seus poemas foram decorados e declamados por toda parte, tanto nas ruas como em saraus e salões literários.Temas: fazer poético Mitologia Amor – platônico e sensual PátriaObras: Via-Láctea, Sarças de Fogo, O caçador de Esme-raldas (tentativa épica)

ALBERTO DE OLIVEIRA (1857 – 1937 ): considerado o mais parnasiano dos parnasianosTemas: natureza e objetosObras: Meridionais, Verso e RimasPoemas mais conhecidos: “Vaso Grego”, “Vaso Chinês”,

“A Estátua”

RAIMUNDO CORREIA (1859 – 1911): sua poesia possui tom filosófico e melancólico, quase pessimista.Poemas mais conhecidos: “As Pombas” e “Mal secreto” ALGUNS POEMASOLAVO BILAC

A um PoetaLonge do estéril turbilhão da rua,Beneditino, escreve! No aconchegoDo claustro, na paciência e no sossego.Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço; e a trama viva se construaDe tal modo, que a imagem fique nuaRica, mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplícioDo mestre. E natural, o efeito agrade.Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a beleza, gêmea da verdade,Arte pura, inimiga do artifício,É a força e a graça na simplicidade SatâniaNua, de pé, solto o cabelo às costasSorri, na alcova perfumada e quente,Pela janela, como um rio enormeProfusamente a luz do meio-dia

Entre e se espalha, palpitante e viva.Como uma vaga preguiçosa e lenteVem lhe beijar a pequenina ponta Do pequenino pé macio e branco

Sobe... Cinge-lhe a perna longamente;Sobe ... e que volta sensual descrevePara abranger todo o quadril – prossegueLambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura

Morde-lhe os bicos túmidos dos seiosCorre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavoDa axila, acende-lhe o coral da boca.

E aos mornos beijos, às carícias ternasDa luz, cerrando levemente os cílios,Satânia ... abre um curto sorriso de volúpia Via-Láctea – XIIIOra (direi) ouvir estrelas! CertoPerdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,Que, para ouvi-las, muita vez desperto

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E abro as janelas pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquantoA Via-Láctea, como um pálio aberto,Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,Inda as procuro pelo céu deserto.

Direi agora: “Tresloucado amigo !Que conversas com ela? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!Pois só quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e entender as estrelas.”

RAIMUNDO CORREIA As PombasVai-se a primeira pomba despertada ...Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenasDe pombas vão-se dos pombais, apenasRaia a sangüínea e fresca madrugada ...

E à tarde, quando a rígida nortadaSopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada

Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,Fogem ... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mais ...

SIMBOLISMO Nenhum movimento cultural é globalizante. Não se pode imaginar que todos os setores e pessoas da sociedade viveram da mesma forma em determinado momento. Por isso, pode-se dizer que em certas épocas há uma ideologia predominante, porém não globalizante. No final do século XIX, por exemplo, ao mesmo tempo que ainda vigorava a onda cientificista e mate-rialista que deu origem ao Realismo e ao Naturalismo, já surgia um grupo de artistas e pensadores que punha em dúvida a capacidade absoluta da ciência de explicar todos os fenômenos relacionados ao homem. Já não se crê mais no conhecimento “positi-vo”, que levaria a humanidade para um estágio evolu-ído. Acredita-se que, assim como a ciência é limitada, igualmente a linguagem não pode pretender represen-tar a realidade como ela é de fato. Pode-se no máximo, sugeri-la. No final do século XIX, a literatura que repre-sentou essa nova forma de ver o mundo, mais voltada

para o subjetivo, para o inconsciente, para o místico, foi o Simbolismo.Ao contrário do que ocorreu na Europa, onde o Simbo-lismo se sobrepôs ao Parnasianismo, no Brasil o Sim-bolismo foi quase inteiramente abafado pelo movimento parnasiano, que gozou de amplo prestígio entre as ca-madas cultas até as primeiras décadas do século XX. Apesar disso, a produção simbolista deixou contribui-ções significativas, preparando o terreno para as gran-des inovações que iriam ocorrer no século XX, no domí-nio da poesia. CARACTERÍSTICAS:1.Subjetivismo – descoberta do inconsciente e do sub-consciente2.Irracionalismo – há um mergulho no irracional, fuga do mundo proposto pelo racionalismo. A ciência explica o mundo, o poeta deve comunicar o irracional, o mundo interior. Há um clima de mistério, situações vagas, obs-curas, presença do inconsciente e do subconsciente. 3.Misticismo, religiosidade4.Sugestão – imagens, metáforas, símbolos, sinestesias, ..., poesia não deve dizer nada, apenas sugerir5.Musicalidade – na tentativa de sugerir infinitas sen-sações, os simbolistas aproximam a poesia da música através do ritmo, das combinações estranhas de rimas, repetição de palavras e versos, aliterações, assonân-cias,...6.A linguagem é simbólica e musical.7.Desejo de transcendência, de integração cósmica.8.Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte.

AUTORES: CRUZ E SOUSA (1863 – 1898) – é considerado o mais importante poeta simbolista brasileiro, inaugura o movi-mento com as obras “Missal” e “Broquéis” (1893). Man-teve em sua obra a estrutura formal típica do Parnasia-nismo (uso de sonetos, rimas ricas, etc.), mas em um tom mais musical, rítmico, com uma variedade de efeitos sonoros, uma riqueza de vocabulários, e um precioso jogo de correspondências (sinestesias) e contrastes (an-títeses). É considerado por muitos como um dos maiores poetas simbolistas do Mundo.OBRAS: Missal (prosa), Broquéis (versos), Faróis (ver-sos), Evocações (prosa) e Últimos sonetos

TEMAS: Morte Sofrimento da condição humana, conflito entre matéria e espírito Espiritualização e religiosidade Sublimação dos desejos carnais Obsessão pela cor branca

ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870 – 1921): Marca-do pela morte da prima Constança – a quem amava e que tinha apenas 17 anos – sua poesia, marcada por

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uma profunda suavidade e lirismo, com uma linguagem simples e um ritmo bem musical, cheio de aliterações e sinestesias, é toda voltada ao tema da morte da mulher amada. OBRAS: Dona Mística, Kiriale, Câmara Ardente

TEMAS: Amor Morte Atmosfera mística e litúrgica Loucura

ALGUNS POEMAS Cruz e Sousa AntífonaÓ formas alvas, brancas, Formas clarasDe luares, de neves, de neblinas! ...Ó formas vagas fluidas, cristalinas ...Incensos dos turíbulos das aras ...

Formas do amor, consterladamente puras,De Virgens e de Santas vaporosas ...Brilhos errantes, mádidas frescurasE dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,Harmonias da Cor e do Perfume ...Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,Réquiem do Sol que a Dor da luz resume ...

Visões, salmos e cânticos serenos,Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes ...Dormências de volúpicos venenosSutis e suaves, mórbidos, radiantes ...

Infinitos espíritos dispersos,Inefáveis, edênicos, aéreos,Fecundai o Mistério destes versosCom a chama ideal de todos os mistérios ...( ... )

Violões que ChoramAh! Plangentes violões dormentes, mornosSoluços ao luar, choros ao vento...Tristes perfis, os mais vagos contornos,Bocas murmurejantes de lamento( ... )

Vozes veladas, veludosas vozes,Volúpias dos violões, vozes veladas,Vagam nos velhos vórtices velozesDos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Que esses violões nevoentos e tristonhosSão ilhas de degredo atroz, funéreo,Para onde vão, fatigadas do sonho,

Almas que se abismaram no mistério.

Cárcere das AlmasAh! Toda a alma num cárcere anda presaSoluçando nas trevas entre as gradesDo calabouço olhando imensidades,Mares, estrelas, tardes, natureza.( ... )

Ó almas presas, mudas e fechadasNas prisões colossais e abandonadas,Da dor no calabouço atroz, funéreo!do ressentimento que os desunia; gozou a desonestida

ALGUNS POEMAS

Cruz e SousaAntífonaÓ formas alvas, brancas, Formas clarasDe luares, de neves, de neblinas! ...Ó formas vagas fluidas, cristalinas ...Incensos dos turíbulos das aras ...

Formas do amor, consterladamente puras,De Virgens e de Santas vaporosas ...Brilhos errantes, mádidas frescurasE dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,Harmonias da Cor e do Perfume ...Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,Réquiem do Sol que a Dor da luz resume ...

Visões, salmos e cânticos serenos,Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes ...Dormências de volúpicos venenosSutis e suaves, mórbidos, radiantes ...

Infinitos espíritos dispersos,Inefáveis, edênicos, aéreos,Fecundai o Mistério destes versosCom a chama ideal de todos os mistérios ...( ... )Ó almas presas, mudas e fechadasNas prisões colossais e abandonadas,Da dor no calabouço atroz, funéreo!

PRÉ-MODERNISMO

A literatura brasileira atravessa um período de transição nas primeiras décadas do século XX. De um lado, ain-da há a influência das tendências artísticas da Segunda metade do século XIX; de outro, já começa a ser prepa-rada a grande renovação modernista, que se inicia em 1922, com a Semana de Arte Moderna. A esse período de transição, que não chegou a constituir um movimento

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literário, chamou-se de Pré-modernismo

As duas primeiras décadas do século XX não registra-ram no Brasil convulsões semelhantes às ocorridas na Europa. A abolição da escravatura e o golpe republica-no não haviam alterado as estruturas básicas do país. A economia, ainda voltada para as necessidades dos países europeus, assentava-se na dependência exter-na e no domínio interno dos cafeicultores.Porém, algumas mudanças iam se desenhando. A urbanização, o crescimento industrial e a imigração modificam a fisionomia da sociedade brasileira. Nas ci-dades, formava-se uma classe média reformista. Simul-taneamente, emergia uma massa popular insatisfeita e propensa a revoltas irracionais: por exemplo, a rebelião contra a vacina obrigatória, a revolta da chibata no Rio e os movimentos grevistas de operários em São Paulo, sob orientação anarquista. Esses movimentos tiveram, isoladamente, uma história independente; mas, no con-junto, revelavam a crise de um país que se desenvolvia às custas de graves desequilíbrios. Na zona rural, havia cisões de maior ou menor intensidade dentro das clas-ses dominantes, que iam das violentas, mas restritas lutas entre coronéis em determinadas regiões, até a verdadeira guerra civil – travada no RS – entre repu-blicanos e maragatos. Não esqueçamos também que, nesse período, irrompem as revoluções camponesas de Canudos (1896 – 1897) e do Contestado (1912).

CARACTERÍSTICAS:•A busca de uma linguagem mais simples e coloquial: embora não se verifique essa preocupação na obra de todos os pré-modernistas, ela é explícita na prosa de Lima Barreto e representa um importante passo para a renovação modernista de 1922. •O interesse pela realidade brasileira: os modelos rea-listas – naturalistas eram essencialmente universalizan-tes. Tanto na prosa (Machado de Assis, Aluísio de Aze-vedo), quanto na poesia (Olavo Bilac, Cruz e Sousa), não havia interesse em analisar a realidade brasileira. A preocupação central desses autores era abordar o homem universal, sua condição, seus anseios. Aos escritores pré-modernistas, ao contrário, interessavam assuntos do dia-a-dia dos brasileiros, originando-se, assim, obras de nítido caráter socialAUTORES:EUCLIDES DAS CUNHA (1866 – 1909): inaugurou o Pré-modernismo no Brasil ao escrever sua obra-prima, o romance Os Sertões. A transição de valores tradi-cionais para modernos está na denúncia que faz da realidade brasileira, até então acostumada a retratar ícones do nosso Romantismo. Evidencia, pela primei-ra vez em nossa literatura, os traços e condições reais do sertanejo, do jagunço.

OBRA: Os Sertões (1902) –

Relato sobre a guerra de Canudos Denúncia do esquecimento do sertão brasileiro Dividido em 3 partes: A Terra, O Homem e A LutaEstilo pomposo, difícil. Romance sociológicoO livro que mistura o ensaio, a história, as ciências na-turais, a epopéia, o lirismo e o drama é resultado de reportagens feitas quando enviado pelo jornal O Esta-do de S. Paulo à região de Canudos (BA), para acom-panhar as ações do Exército contra a revolta liderada por Antônio Conselheiro. Em tom crítico, mostra o que séculos de atraso e miséria são capazes de produzir em uma região separada geográfica e temporalmente do resto do país: um líder fanático e o delírio cole-tivo da população. Influenciado pelo cientificismo da época, quis dar base sólida para o que observara. Es-tudou geografia, psicologia, sociologia, botânica, etc. para tentar explicar a situação física, social e humana do sertão brasileiro – daí a divisão da obra em três partes. LIMA BARRETO (1881 – 1922): viveu e retratou todas as contradições e injustiças da sociedade do fim do século XIX e início do XX. O funcionário público mulato e de origem humilde desistiu logo da universidade e era constantemente injustiçado, alvo de preconceitos raciais, o que talvez explique sua tendência ao alco-olismo e internações psiquiátricas. Além de escrever para a imprensa, dedicou sua obra a criticar e des-mascarar os poderosos da sociedade, numa análise da classe média suburbana carioca em que o funcio-nário público é o perfeito protótipo social. Ás voltas com preconceitos e dificuldades financeiras, não teve seu valor reconhecido em seu tempo, sendo que mui-tas de suas obras só vieram a ser publicadas após sua morte. Sua linguagem coloquial é mais dos traços que incomodavam as elites da época.

OBRAS:Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909) – ro-mance de caráter autobiográfico. Um mulato pobre vai do interior para o Rio de Janeiro em busca de ascen-são social. Ele consegue emprego em um jornal, onde é vítima de preconceito racial. Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) – tendo como pano de fundo funcionários corruptos, ineficientes e bajuladores, a incompetência e a traição no cenário político-social brasileiro, o livro conta a história do Ma-jor Policarpo Quaresma, um nacionalista e visionário de um Brasil sem igual, ridicularizado pelos colegas militares, que acaba considerado louco. Após uma in-ternação, torna-se fazendeiro no interior e planeja re-formas nacionais tendo como base a agricultura. Mas acaba envolvendo-se na Revolta da Armada, plane-jando mudanças políticas. É preso e fuzilado no final.Clara dos Anjos (1923 – 24) – romance inacabado que

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narra a história de Clara, uma mulata seduzida e enga-nada pelo malandro Cassi Jones.

A Nova Califórnia – coletânea de contos“Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la mui-to, no intuito de contribuir para a sua felicidade e pros-peridade. Gastar a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o re-compensava, como ela o premiava, como ela o conde-corava? Matando-o.Desde 18 anos que o tal patriotismo o absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem ... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada. O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas de tupi, do folclo-re, de suas tentativas agrícolas ... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação?? Nenhuma!E quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros inúmeros? ( ... ) Contudo, quem sabe se outros que lhe seguissem as pegadas não seriam mais felizes? E logo respondeu a si mesmo: mas como? Se não se fizera comunicar, se nada dissera e não prendera o seu sonho, dando-lhe corpo e substância? (Trecho final de “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”)

MONTEIRO LOBATO (1882 – 1948): é considerado o maior escritor infantil brasileiro. Além disso, foi um gran-de empreendedor e nacionalista, causando polêmicas com seus artigos e atitudes e tendo inclusive problemas com o governo. Monteiro Lobato caracteriza-se como pré-modernista pelo nacionalismo e pelo tom crítico. No entanto, formalmente sempre se opôs ao Modernismo, escrevendo de maneira mais conservadora. Criticou severamente a arte expressionista de Anita Malfati no famoso artigo “Paranóia ou Mistificação” (1917). A sua obra mais famosa está mesmo no campo infanto-juvenil, em especial todo o universo do Sítio do Pica-Pau Ama-relo, em que estão presentes o caráter doutrinário e pe-dagógico e a defesa dos interesses da Nação. Recu-sou-se, com um bilhetinho mal-educado, a ingressar na Academia Brasileira de Letras.OBRAS: (contos)Urupês (1918) – onde cria a figura do caipira Jeca Tatu, exemplo típico do caboclo paulista marginalizado pelo progresso. Cidades Mortas (1919)Negrinha (1920)

GRAÇA ARANHA (1868 – 1931): se o Pré-modernismo foi o período que preparou o campo para o Modernis-

mo, Graça Aranha é o escritor que melhor pôde repre-sentar isso. Ele foi peça importante na Semana de Arte Moderna, como único intelectual de renome a apoiar os vanguardistas.

OBRAS:Canaã (1902) – retrata o atraso social da nação, as extor-sões, os preconceitos e o racismo, por meio da discus-são de diferentes pontos de vista entre dois imigrantes alemães (Milkau e Lentz).A Estética da Vida (1921) – obra de pretensão filosófica onde aparece como pensador progressista, doutrinador, crítico da realidade cultural do país.

SIMÕES LOPES NETO (1865 – 1916): é considerado o verdadeiro criador do regionalismo riograndense. Viven-do em Pelotas – onde se concentravam as charqueadas, isto é, onde se estabelecia o núcleo econômico de uma vida dirigida pela pecuária – pôde conhecer o universo social, humano e lingüístico em vias de extinção: o uni-verso gauchesco. Do contato direto com peões, vaquea-nos, capatazes e estanceiros, recolheu um material rico e colorido que embasaria a sua produção. Essa vivência, por assim dizer imediata, evitou aquele caráter exótico que reveste as criações “regionais”, feitas por escritores urbanos. Em Simões Lopes Neto tudo é natural: lingua-gem e assunto fundem-se numa escritura que capta com realismo os usos e costumes do mundo gauchesco.

Traços característicos de sua obra:•Criador do regionalismo sul-rio-grandense•A fixação do mundo gauchesco – espécie de fotografia social (usos e costumes, código de ética e valores, tipo-logia do gaúcho, ...)•Oralidade e regionalismos da linguagem

OBRAS:Cancioneiro Guasca (1910)Contos Gauchescos (1912)Lendas do Sul (1913)Casos do Romualdo (1952 - edição póstuma)

AUGUSTO DOS ANJOS (1884 – 1914): é considerado um dos mais originais poetas brasileiros. Apesar de se definir como pré-modernista, sua poesia de estilo único tem elementos que unem o Parnasianismo (as formas e estruturas), o Simbolismo (a construção de imagens) e o cientificismo naturalista. Seus poemas têm uma ótica pessimista, que inicialmente chocam o leitor. Ele trata de temas “desagradáveis” e incomuns - como a decomposição da matéria e uma visão filosófica e trági-ca da vida - com toda uma gama de palavras de cunho científico, reflexo das leituras que fez quando jovem. A vida, em sua visão, é um nada, uma passagem cheia de dor, ressentimento e podridão que conduz a um único destino: a morte e a companhia dos vermes. Neste sen-

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tido, soube antecipar uma série de procedimentos que as vanguardas sacramentariam em 22: a linguagem cor-rosiva, o coloquialismo e a incorporação à literatura de todas as “sujeiras” da vida.

OBRA:Eu (1912) Psicologia de um VencidoEu, filho do carbono e do amoníacoMonstro de escuridão e rutilância,Sofro, desde a epigênese da infância,A influência má dos signos do Zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,Este ambiente me causa repugnância...Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsiaQue se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme, este operário das ruínasQue o sangue podre das carnificinasCome, e à vida em geral declara guerra.

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,E há de deixar-me apenas os cabelos,Na frieldade inorgânica da terra!

Versos ÍntimosVês, Ninguém assistiu ao formidávelEnterro de tua última quimera.Somente a ingratidão – esta pantera –Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te a lama que te espera!O homem, que nesta terra miserável,Mora, entre feras, sente a inevitávelNecessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!O beijo, amigo, é a véspera do escarro,A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa ainda pena a tua chaga,Apedreja essa mão vil que te afagaEscarra nessa boca que te beija!

TESTES

Realismo:

1) No período compreendido entre 1881 a 1893, na Literatura Brasileira, predominaram os movimentos es-téticos de oposição ao Romantismo, conhecidos com Realismo e Naturalismo. Acerca dessa etapa de nossa história literária, pode-se dizer que

I. no Brasil, são considerados romancistas realistas, en-tre outros, Machado de Assis, Raul Pompéia e Joaquim Manuel de Macedo.II. a origem das espécies, de Charles Darwin, influenciou grandemente os escritos dessa fase, em especial os na-turalistas.III. o Realismo surgiu na Europa em meio a circunstân-cias históricas particularmente dinâmicas marcadas por profundas alterações nos campos científicos, filosófico e social.IV. a prosa de ficção realista é uma obra de crítica e de ataque à mentalidade burguesa que predominavam na sociedade da época.V. são também características desse tipo de narrativa a veracidade, a objetividade e o senso documental.

Quais estão corretas?

(A)Todas.(B)II, III, IV e V.(C)III, IV e V.(D)I, III e V.(E)II, IV e V.

2) Considere o fragmento a seguir, extraído de um ro-mance de Machado de Assis e as afirmações sobre ele e à totalidade da obra.“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer, e, realmente expedir al-guns magros capítulos para esse mundo é sempre tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfa-donho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavé-rica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...” I - O trecho pertence ao romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, marco inicial do realismo no Brasil. II - O autor diz arrepender-se de escrever o livro, pois se confessa incompetente como narrador. III - Machado de Assis ironiza o leitor (acostumado com o folhetim romântico, com a “narração direta e nutrida”, com o “estilo regular e fluente”), ainda não adaptado a uma leitura mais pausada e crítica. Quais são corretas? (A)Apenas I. (B)Apenas II. (C)Apenas III.(D)Apenas I e II. (E)Apenas I e III.

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APOSTILA LITERATURA

Texto para a questão 03.A propósito de botas Fui descalçar as botas, que estavam apertadas. Uma vez aliviado, respirei à larga, e deitei-me a fio compri-do, enquanto os pés, e todo eu atrás deles, entrávamos numa relativa bem-aventurança. Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da Terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica--os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro. [...] Inferi eu que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome, com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inven-tou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre. Em verdade vos digo que toda a sabedoria hu-mana não vale um par de botas curtas. (Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Obra Completa, vol. 1, p. 555-556)

3) Considere as afirmações que seguem. I. A imagem das botas ajuda a caracterizar a ideia de que há uma estreita relação entre o prazer e a dor, isto é, um estado que se faz sentir pelo contraste com o seu oposto. As imagens das botas apertadas e do grilhão ilustram bem essa idéia, pois, nos dois casos, o prazer resulta justamente da remoção daquilo que gerava a dor.II. Ao tematizar a relação entre prazer e dor, o texto vale--se de imagem concreta – as botas - semelhante à do grilhão, permitindo inferir que, nessa passagem do ro-mance, Machado critica a escravidão no Brasil. III. A ironia presente na passagem em destaque resulta da associação entre o tema grandioso do aperfeiçoa-mento da felicidade terrestre e algo tão prosaico quanto a existência de calos. Tomada ao pé da letra, essa asso-ciação parece despropositada, o que favorece a leitura do trecho como irônico. Quais estão corretas?(A)Apenas I.(B)Apenas II.(C)Apenas I e III.(D)Apenas II e III.(E)I, II e III.

Naturalismo:

1) Leia o texto que segue, extraído de “O Cortiço”, con-siderando o trecho e seu conhecimento sobre a obra.“...A mesma atividade parecia reinar por toda parte. Mas já no fim, debaixo dos bambus que marcavam o limite da pedreira, alguns trabalhadores dormiam à sombra, de papo para o ar, e barba espetando para o alto, o pesco-ço entumescido de cordoveias grossas como enxárcias de navio, a boca aberta, a respiração forte e tranqüila de animal sadio, num feliz e pletórico resfolgar de besta cansada.”

Das afirmações abaixo, quais as corretas em relação à obra?I.A tipificação evidente no texto atinge indivíduos e cenário, tornando o cortiço e a pedreira verdadeiras personagens do romance.II.A linguagem do narrador, que pretende ser “nua e crua”, revela a atmosfera naturalista da obra.III.O interesse em retratar aspectos da vida urbana brasileira nos fins do século XIX reforça a perspectiva social da narrativa.(A)Apenas I.(B)Apenas II.(C)Apenas I e III.(D)Apenas II e III.(E)I, II e III.

Instrução: as questões de números 02 e 03 baseiam--se no seguinte fragmento do romance em questão.“Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Ho-mens e mulheres corriam de cá para lá com os tare-cos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam--se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas. Os sinos da vizinhança começaram a badalar. E tudo era um clamor.A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, re-luzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, des-grenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria sa-ída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de malu-ca. Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapi-damente, sepultando a louca num montão de brasas.”

2) Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz o narrador posicionar-se em terceira pessoa, oniscien-te e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o narra-dor é testemunha pessoal e muito próxima dos acon-tecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em(A)Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defron-te daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.

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(B)Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.(C)Da casa do Barão saíam clamores apopléticos...(D)A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.(E) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu esta-lar o madeiramento da casa incendiada...

3) Releia o fragmento de O cortiço, com especial aten-ção aos dois trechos a seguir.Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arran-cadas pela dor e pelo desespero.(...)E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se des-pejavam sobre as chamas.

No fragmento, rico em efeitos descritivos e soluções lite-rárias que configuram imagens plásticas no espírito do leitor, Aluísio Azevedo apresenta características psicoló-gicas de comportamento comunitário. Aponte a alterna-tiva que explicita o que os dois trechos têm em comum.(A)Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no primeiro trecho, e preocupação de poucos em rela-ção à tragédia comum, no segundo trecho.(B)Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si próprios, no segundo trecho.(C)Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angústia de não se conhecer o outro, por quem se é ajudado, no segundo trecho.(D)Desespero que se expressa por murmúrios, no pri-meiro trecho, e desespero que se expressa por apatia, no segundo trecho.(E)Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no primeiro trecho, e anonimato da cooperação e do “to-dos por todos”, no segundo trecho.

Parnasianismo:Instrução: o fragmento abaixo refere-se à questão núme-ro 01. Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego.

1) A estética parnasiana evidencia-se no poema de Olavo Bilac em que o autor (A)sugere que o silêncio é o único elemento necessário para o fazer poético. (B)sugere que a compensação pelo árduo trabalho do

poeta constitui-se na qualidade do verso. (C)exalta o trabalho árduo e pouco gratificante a que o verdadeiro poeta se sujeita. (D)refere-se a um poeta que sofre com a solidão a que o ato de escrever o submete.(E)considera a vida cotidiana como rico material de apoio para o poeta.

2)Leia o fragmento abaixo, do poema “Música Brasilei-ra”, de Olavo Bilac.01. “Tens, às vezes, o fogo soberano 02. Do amor: encerras na cadência, acesa 03. Em requebros e encantos de impureza, 04. Todo o feitiço do pecado humano. 05. Mas, sobre esta volúpia, erra a tristeza 06. Dos desertos, das matas e do oceano: 07. Bárbara poracé*, banzo africano, 08. E soluços de trova portuguesa.”__________*Dança religiosa dos índios, ao som do maracá, do tam-bor e da flauta.Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo, referentes aos versos transcritos.(__) A preocupação formal parnasiana de Bilac é visível no uso do verso decassílabo.(__) O gosto pela elaboração estética está presente no encadeamento (enjambement) dos versos 01 e 02; 02 e 03; 05 e 06.(__) Na primeira estrofe, o poeta exalta o sentimento pa-triótico como inerente à música brasileira.(__) Na segunda estrofe, o poeta contrapõe à volúpia e ao feitiço, expressos na primeira estrofe, a tristeza e a melancolia também existentes em nossas manifesta-ções musicais.(__) Nas duas estrofes predomina a visão moralista do poeta, ao condenar a feição demoníaca da música bra-sileira.A seqüência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é(A) V-V-F-V-F.(B) V-F-V-F-V.(C) F-F-V-F-F.(D) F-V-F-V-F.(E) V-F-V-F-F.

Instrução: texto para a questão 03.Nunca morrer assim! Nunca morrer num diaAssim! De um sol assim!Tu, desgrenhada e fria,Fria! Postos nos meus os teus olhos molhados,E apertando nos teus os meus dedos gelados...

3) Separados pelo tempo, o texto do compositor Lu-picínio Rodrigues (1914 – 1974) mantém relações de se-melhança e desemelhança com o poema de Olavo Bilac (1865 – 1918). Considere as afirmações que seguem:

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APOSTILA LITERATURA

I.o samba-canção de Lupicínio apresenta uma conti-nuidade ou mobilização do tema enfocado pelo poeta parnasiano.II.Do ponto de vista forma da versificação, ocorrerem procedimentos em Lupicínio que o distanciam do po-ema de Bilac.III.O sensualismo não encontra se encontra presente na obra de Bilac, tendo em vista que, na estética à qual o poeta pertence, o amor é platônico.Quais estão corretas?A)Apenas I.B)Apenas II.C)Apenas III.D)Apenas I e II.E)I, II e III.

Simbolismo:

1) Assinale a alternativa que reúne as características simbolistas presentes no texto.(A)Clareza, perfeição formal, objetividade.(B)Sinestesia, aliteração, sugestão.(C)Aliteração, objetividade, ritmo constante.(D)Perfeição formal, clareza, sinestesia.(E)Perfeição formal, objetividade, sinestesia.

2) Leia o poema abaixo.Cárcere das almasAh! Toda a alma num cárcere anda presa,Soluçando nas trevas, entre as gradesDo calabouço olhando imensidades,Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandezaQuando a alma entre grilhões as liberdadesSonha e, sonhando, as imortalidadesRasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadasNas prisões colossais e abandonadas,Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,que chaveiro do Céu possui as chavespara abrir-vos as portas do Mistério?!(CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura /Fundação Banco do Brasil, 1993.)

Os elementos formais e temáticos relacionados ao con-texto cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são:(A)a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.(B)a prevalência do lirismo amoroso e intimista em rela-ção à temática nacionalista.(C)o refinamento estético da forma poética e o tratamen-

to metafísico de temas universais.(D)a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras.(E)a liberdade formal da estrutura poética que dispen-sa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano.

3)Leia o texto abaixo.ACROBATA DA DOR (Cruz e Souza) Gargalha, ri, num riso de tormentaComo um palhaço que desengonçado,Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado,De uma ironia e de uma dor violenta

Da gargalhada atroz sanguinolenta,Agita os guizos, e convulsionadoSalta gavroche, salta clown, varadoPelo estertor dessa agonia lenta...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!Vamos! Retesa os músculos, retesaNessas macabras piruetas d’aço...

E embora caias sobre o chão, frementeAfogado em teu sangue estuoso e quenteRi! Coração, tristíssimo palhaço. ________Gavroche: garoto; Clown: palhaço.

Considere as seguintes afirmações em relação ao poe-ma de Cruz e Souza.I - Trata-se de poema simbolista que não expressa nitida-mente as emoções representadas, o que é incompatível com a forma do soneto.II - Os poetas do Simbolismo, incapazes de captarem as sensações e os sentimentos humanos em sua real dimensão, apelavam para imagens obscuras.III - O poema mistura em tom veemente imagens contra-ditórias de riso e dor, utilizando em diferentes metáforas a imagem do palhaço.Quais estão corretas?(A) Apenas I.(B) Apenas II.(C) Apenas III.(D) Apenas II e III.(E) I, II e III.

4)Leia os versos seguintes.Violões que Choram(...)1.E sons soturnos, suspiradas mágoas,2.Mágoas amargas e melancolias,3.No sussurro monótono das águas,4.Noturnamente, entre ramagens frias.5.Vozes veladas, veludosas vozes,6.Volúpias dos violões, vozes veladas,

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7.Vagam nos velhos vórtices velozes8.Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.9.Tudo nas cordas dos violões ecoa10.E vibra e se contorce noa r, convulso...11.Tudo na noite, tudo clama e voa12.Sob a febril agitação em um pulso.(...)

Considere as seguintes afirmações:I.as vozes, nos versos 5 e 8, não têm dono ou origem, mas exercem a função de sujeito da forma verbal “va-gam” (v. 7) e são caracterizadas por três adjetivos no verso 8.II.Nos versos de 1 a 4, o poeta explora aliterações ao apresentar alguns elementos sobre os quais, no entanto, não afirma nada categoricamente.III.A vibração das cordas dos violões (v. 9) associa-se à situação dos artista, cujo corpo encontra-se contorcido e convulsionado diante da aclamação do público.

Quais estão corretas?(A)Apenas I(B)Apenas III(C)Apenas I e II(D)Apenas II e III(E)I, II e III

Pré-modernismoInstrução: as questões 01 e 02 referem-se aos três tex-tos que seguem.

Texto 1 “Minha terra tem primores Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite - Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá

Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; (“Canção do Exílio”, Gonçalves Dias) Texto 2“Irei morrer, quem sabe se naquela noite mesmo. E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela na mi-ragem de estudar a Pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prospe-ridade. (...); e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava (...) Matando-o. Desde os dezoito anos que tal patriotismo o absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. A Pátria que quisera ter era um mito, era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete.” (Capítulo “A afilhada”, Triste Fim de Policarpo Quaresma)

Texto 3 “Há soldados armados, amados ou não Quase todos perdidos de armas na mão Nos quartéis lhes ensinam antigas lições De viver pela pátria e morrer sem razão” (“Pra não dizer que não falei de flores”, Geraldo Vandré) 5) No poema de Gonçalves Dias e no trecho de Triste Fim de Policarpo Quaresma podemos perceber (A)uma oposição quanto à visão de Pátria dos dois escri-tores: a criação do mito romântico de um Brasil superior X a dessacralização da Pátria.(B)uma comparação: nos dois textos a Pátria e um lugar inóspito e, por isso, o eu - lírico do texto 1 quer partir . (C)uma exaltação ufanista nos dois textos: o eu - lírico descreve a natureza exuberante do Brasil, e o narrador, a prosperidade da nação. (D)um idealismo patriótico em ambos os textos, visto que, tanto o eu - lírico do texto 1 quanto o protagonista do texto 2 querem morrer pela Pátria, que os quer vivos. (E)um desejo explícito de fugir do Brasil, que, após a caminhada ufanista do eu - lírico e de Quaresma - res-pectivamente, textos 1 e 2 - , revela-se precário, cruel e opressor.

6). Assinale a opção em que se evidencia um ponto de abordagem comum aos textos 2 e 3.(A)Patriotismo. (B)Decepção com a Pátria. (C)Elaboração do caráter nacional. (D)Complexo e inferioridade dos brasileiros em relação ao colonizador europeu. (E)A exaltação da terra.

7) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto abaixo.“Livro posto entre ........ , Os Sertões assinalam um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o come-ço ........ aplicada aos aspectos mais importantes da so-ciedade brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença de cultura entre ........).” (Fonte: CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, s.d. p. 133.)(A) a literatura e a sociologia naturalista - da associação onírica e simbolista - as regiões litorâneas e o interior(B) a literatura e o panfleto pró-monárquico - da análise científica - a região nordeste e o sul industrializado(C) a literatura e a sociologia naturalista - da análise cien-tífica - as regiões litorâneas e o interior(D) a literatura e o panfleto pró-monárquico - da asso-ciação onírica e simbolista - a região nordeste e o sul industrializado(E) a literatura e a sociologia naturalista - da associação onírica e simbolista - a região nordeste e o sul industria-lizado

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