Literacia de Adultos

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Literacia de Adultos na Tapada das Mercês Documento sistematizador das práticas de 2008 a 2012 Ana Carina Larsen Dezembro de 2012

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Experiência de alfabetização e PPT na Tapada das Mercês.

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Literacia de Adultos na Tapada das Mercês Documento sistematizador das práticas de 2008 a 2012 Ana Carina Larsen Dezembro de 2012

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ÍNDICE

1. Objetivos

2. Enquadramento

3. Organização das ações

i. Parcerias

ii. Passos para desenvolver as ações

4. Práticas Pedagógicas

5. Resultados / Impactes

6. Fatores Críticos

7. Conclusão

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1. OBJETIVOS

Objetivo Geral

Este documento pretende sistematizar as práticas de alfabetização e português para todos desenvolvidas na Tapada das Mercês entre os anos de 2008 e 2012 que procuram contribuir para a inclusão da população imigrante na Tapada das Mercês.

Objetivos específicos

Este documento contribui para uma reflexão sobre o processo de organização e práticas pedagógicas podendo constituir uma ferramenta orientadora para organizações de base local que pretendam desenvolver respostas de literacia de adultos.

Enquadramento concetual

2. ENQUADRAMENTO

A Necessidade destas Respostas na Tapada

Desde 2008 que a literacia de adultos tem vindo a ser uma das grandes necessidades do território da Tapada das Mercês.

Na Tapada das Mercês existem 23 nacionalidades diferentes, fator que comprova a diversidade cultural neste território (ver relatório Baseline CEDRU 2008). Um grande número de pessoas oriundas da África Francófona demonstrou não ter sido alfabetizada na sua língua materna, falando a maioria

delas os dialetos locais das suas terras. Isto, reflete-se na vida profissional, familiar destas pessoas, vivendo mais isolados devido à barreira da língua.

Inclusão da População Imigrante através da criação de

oportunidades de aprendizagem ao longo da vida

Desenvolver Competências de língua

portuguesa a nível da oralidade,

escrita e leitura

Criar respostas sustentáveis Criar respostas adaptadas

ao público-alvo

Desenvolver dinâmicas de

participação comunitária

Desenvolver ações com os

parceiros locais

Envolver os adultos

aprendentes nas

Objetivo Geral

Objetivos

Específicos

O que estamos a

fazer para ir de

encontro aos

objetivos específicos

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Neste território, as poucas organizações e dinâmicas comunitárias que existiam em 2008 acentuavam ainda mais o isolamento desta comunidade.

Em resposta a esta necessidade o Programa K’CIDADE – Programa de Desenvolvimento Comunitário Urbano tem vindo a ter um crescente interesse nesta área uma vez que a aprendizagem da língua foi identificado como um dos principais obstáculos para a inclusão desta comunidade imigrante (ver relatório baseline CEDRU

2010).

O Programa K’CIDADE mobilizou os diversos atores numa relação de diálogo construtiva e responsabilizadora procurando criar condições que facilitem o acesso aos recursos e à apropriação dos mesmos, por parte dos indivíduos e suas famílias que potenciam as suas capacidades e estão em melhores condições para participarem ativamente na sociedade. (Teoria de Mudança 1)

Assente nos princípios gerais de sustentabilidade, inovação, abertura, participação e proximidade, o Programa procurou contribuir para a construção destas respostas numa lógica de fortalecimento da sociedade civil.

3. COMO ORGANIZAMOS AS AÇÕES

A Organização das Ações

As primeiras turmas de alfabetização e português para estrangeiros tiveram início em Novembro de 2008, e até 2012 foram realizados 9 grupos de alfabetização e português abrangendo um total de 261 pessoas.

As experiências que vamos apresentar assentam em pressupostos metodológicos de educação formal e educação não formal.

No âmbito da educação formal consideramos as respostas que são promovidas no espaço escola e não formais as respostas promovidas pela ACITM ou seja, em espaço fora da escola.

As Parcerias e os seus papéis

Na Tapada das Mercês, encontramos uma associação de base local – Associação Islâmica da Tapada das Mercês e Algueirão Mem Martins (ACITM) que estava preocupada com a falta de respostas na área da literacia de adultos para comunidade que apoiava. Por outro lado, uma das escolas do território que tinha como alunos os filhos destes pais que não sabiam ler nem escrever, foi também convidada para participar no projeto como entidade promotora dos cursos.

O trabalho em parceria neste processo tem vindo a assumir contornos diferentes ao longo dos anos.

O papel do K’CIDADE no início foi o de garantir que estas respostas se realizavam e assumiu um papel de catalisador deste processo. Ao longo dos anos este papel tem vindo a mudar e a observar-se uma diminuição gradual no nosso papel.

No quadro abaixo estão referidas as diferentes responsabilidades dos parceiros ao longo dos anos:

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Associação a Comunidade Islâmica da Tapada das Mercês e Algueirão Mem Martins (ACITM)

O Agrupamento de Escolas Visconde Juromenha

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O K’CIDADE

Passos para desenvolver as ações

Ao longo destes 3 anos, os promotores destas ações têm vindo a aprender como lidar com algumas questões que vão surgindo nos processos. Através de entrevistas realizadas aos intervenientes destas ações como o Agrupamento de Escolas Visconde Juromenha e Associação Islâmica, foram identificadas as questões chave a considerar tanto nos processos formais como não formais.

Resposta formal promovida pelo Agrupamento de Escolas

A Mobilização / Divulgação

São vistas como um processo mais complicado e difícil de se concretizar.

Aos olhos do Agrupamento de Escolas a mobilização e a divulgação devem ser feitas em colaboração com os parceiros que estão no terreno e que lidam diariamente com a

Em 2012 as ações formais foram atípicas e os parceiros tiveram os seguintes papéis:

� Inscrições realizadas pelo Agrupamento

� Visto a DREL ter suspendido e não ter informado os adultos sobre o ponto de situação o K’CIDADE voltou a assumir uma maior responsabilidade

� Foram mobilizadas 2 formadoras voluntárias através da ACITM, as aulas iniciaram no espaço escola. Contudo, passado 1 mês a DREL autorizou os cursos agora com um novo formato de unidades de curta duração.

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comunidade. Para desta forma garantir que a mensagem é transmitida.

Inscrições

É um processo mais longo, assim que a divulgação é feita, as inscrições iniciam. Mas é necessário dar um espaço de tempo mais alargado para que seja mais o abrangente possível.

É também importante garantir que as inscrições são feitas em horários compatíveis com os adultos. Visto que a secretaria tem um horário não compatível, a opção foi de atribuir este papel por um lado à assistente operacional que tem o horário prolongado e por outro através dos parceiros no terreno. Muitas vezes também os professores realizaram inscrições durante os períodos das aulas.

Diagnóstico aplicado aos adultos

Na fase seguinte às inscrições é realizado um diagnóstico aos adultos para criar os grupos de alfabetização e Português. De constatar, que muitas das vezes a perceção do adulto era de que deveria integrar um grupo de Português e não de alfabetização. Isto mais tarde revelar-se-ia numa frustração por parte do adulto por não conseguir acompanhar a turma de Português.

O início das aulas

São sempre planeadas para iniciarem numa determinada altura, contudo nunca é conseguido pois até que o grupo / turma esteja fechada leva o seu tempo. Daí a importância de garantir uma mobilização e divulgação eficaz.

Os horários

Visto estarmos a falar de uma resposta para adultos é conveniente ter em atenção aos horários destas respostas. Perceber se é numa base diária (em pós-laboral), 3 vezes por semana considerando o fim-de-semana.

Na escola já experimentamos vários formatos. Sendo que no último ano (2012) as aulas foram diárias, o que ao contrário do que pensávamos os adultos aprendentes viram mais-valias em terem aulas todos os dias.

Os professores

Os professores para estas respostas são geralmente rotativos, o que por vezes pode dificultar em alguns aspetos: a continuidade dos processos de aprendizagem, a construção dos materiais pedagógicos e mesmo em ambiente escolar. Contudo, quando é feita a seleção destes professores são assegurados certos critérios como: a experiência em trabalho com adultos.

O acompanhamento pedagógico

Na escola é possível identificar um professor que garanta a coordenação destas respostas. Esta coordenação é assegurada por um professor do quadro, pois assim é alguém que à partida acompanhará as respostas por um período mais longo ou seja de um ano letivo para outro.

Esta coordenação tem a responsabilidade de garantir que a parte administrativa é feita e também de acompanhar as professoras destacadas para estas respostas em articulação com a Direção do Agrupamento.

Os materiais

Os professores muitas vezes optam por construir os materiais pedagógicos de forma a diferenciar de acordo com o público. Numa

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das experiências a professora construiu um dossier com variados instrumentos que muitas vezes acabam por servir de apoio às professoras que vieram à posteriori e que no futuro virão.

Dificuldades

As alterações das leis

Todos os anos estas respostas podem sofrer alterações a nível do seu conteúdo, número de horas, tipo de professores, número de adultos envolvidos.

Temos de ser flexíveis e tentar minimizar os impactos nos adultos aprendentes. Na parte de estrutura de horas é necessário ter sempre em conta o parecer dos adultos aprendentes. Nos conteúdos é importante que o professor para além de seguir o programa previsto que também adaptem de acordo com o seu público.

Em termos administrativos, a resposta de Português para Todos é mais exigente, visto haver uma candidatura ao POPH que obriga a critérios mais rígidos.

A continuidade das respostas está sempre em causa devido às orientações por parte da DREL. Por um lado, houve anos em que a resposta iniciou com atrasos de 2 meses, outros iniciou 6 meses depois. E no atual ano não iniciou por um lado porque a confirmação do início das respostas chegaram muito tarde, o que fez com que muitos dos adultos inscritos tivessem procurado respostas noutros locais e por outro o número de adultos por sala que passou de um máximo de 15 para 26 alunos. Isto, irá criar dificuldade no trabalho em sala.

Os custos

Em termos do Agrupamento de Escolas, a quantidade de papel acresce mas sem grandes impactos. O que realmente pesa no orçamento é o pagamento de uma funcionária em horário prolongado, para além da dificuldade de encontrar alguém que esteja disponível para trabalhar nestes horários.

Resposta Não formal promovida pela ACITM

A Mobilização / Divulgação

A ACITM tem uma porta aberta à comunidade e tem horários de funcionamento ajustados à disponibilidade das pessoas.

Criam meios de divulgação através de cartazes que chegam aos diversos parceiros no território. A ACITM tem uma ficha de interesses que permite logo saber quem tem interesse nestas respostas e contatamos via telefone cada uma das pessoas.

As Inscrições

São contatadas as pessoas por telefone e preenchem uma ficha com os seus dados pessoais. As aulas não formais têm um custo associado que corresponde a €15,00 mensais. Este valor é pedido aos participantes para apoiar os custos que a ACITM tem com o espaço, materiais pedagógicos e por vezes na deslocação do formador voluntário; no caso de não residir na Tapada das Mercês. Contudo, no caso de haver pessoas que não têm condições para pagar as aulas, a ACITM permite que estas

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pessoas frequentem as aulas tal como os outros adultos que pagam.

O início das aulas

O início das aulas é também condicionado pela formação do grupo. Assim que se forme um grupo entre 10 a 15 pessoas iniciam-se as aulas.

Os horários

No sentido de haver uma complementaridade com a resposta formal da escola, optou-se por realizar as aulas aos fins-de-semana para dar oportunidade também àquelas pessoas que trabalham fora só regressam nestes dias e têm vontade de aprender.

Os professores

A ACITM mobiliza os seus professores / formadores através do banco voluntariado de Sintra e o banco da Entreajuda. Estes professores / formadores não recebem nenhum valor financeiro para estas ações, contudo, no caso de serem voluntários que residam longe da Tapada das Mercês é pago um valor de deslocação.

Estes formadores nem sempre são pessoas ligadas à área de educação. A ACITM define alguns critérios na seleção destes formadores, tais como: experiência em trabalho com adultos, licenciados numa área social e abertura a outras culturas.

O acompanhamento pedagógico

O acompanhamento pedagógico a estas ações foi sempre feito em articulação com os

formadores voluntários que acabam na sua grande maioria em estabelecer uma relação de grande proximidade com a ACITM o que facilitava este acompanhamento. A articulação é sempre feita com a pessoa responsável pela organização da ação, que ao longo dos anos muda consoante o voluntário que esteja a colaborar com a ACITM no momento.

Os materiais

Na primeira ação de alfabetização que se realizou, o formador voluntário construiu materiais para trabalhar com os adultos recorrendo muitas vezes à utilização de jornais, formulários e assuntos de natureza útil para os adultos. Ao longo dos anos, cada voluntário foi deixando dossiers com materiais que foram criados e são sempre revistos pelos seguintes formadores utilizando-os como base para o seu trabalho.

Dificuldades

Duas grandes dificuldades na resposta não formal foram identificadas: a mobilização dos formadores voluntários e a não certificação da resposta.

A mobilização dos formadores por vezes torna-se difícil pois quando se trata de uma resposta que tem uma continuidade mais longa em que exige um compromisso por parte do voluntário mais longo, há sempre uma dificuldade e um risco deste formador não concluir a ação.

No caso da não certificação da resposta, limita no que diz respeito às pessoas que necessitam de um documento oficial para ser apresentado no SEF, pois até ao momento as respostas de literacia de adultos não formais não são reconhecidas por estes serviços.

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4. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Como desenvolvemos as Práticas Pedagógicas

As práticas pedagógicas representaram sempre uma questão com dificuldades acrescidas principalmente para a alfabetização pois é um trabalho mais isolado e mais exigente visto não existirem materiais pedagógicos ao compararmos com o Português para Todos.

Uma das grandes dificuldades nos processos tanto formais como não formais é o fato de estarmos diante um público adulto que não foi alfabetizado na sua língua materna e que não fala português. O seu contato com a língua portuguesa é muito reduzido, dado também às profissões que desempenham que não exigem praticamente nenhuma comunicação. No primeiro ano da ação, podemos constatar que para muitos dos adultos era a primeira vez que falavam português por períodos mais longos (+ de 5 minutos).

No primeiro ano da experiência a preocupação do Programa era a de responder a uma solicitação urgente por parte da ACITM que tinha um público que necessitava desta resposta. Contudo, no 2º ano da experiência e em conjunto com a professora do agrupamento e com a ACITM, identificamos 4 critérios fundamentais que deveriam cumprir como orientações na elaboração de reflexão das práticas metodológicas:

� Expetativas dos adultos aprendentes

� Experiências de vidas dos adultos aprendentes

� Contexto cultural de cada individuo

� Interesses dos adultos aprendentes

Os exemplos que aqui apresentamos foram desenvolvidos tanto em contexto de sala como

em eventos comunitários e espaços do território.

1. Levantamento de interesses realizado em contexto de sala de aula num processo formal de alfabetização

Esta atividade foi desenvolvida inicialmente por 2 pessoas (1 da ACITM e outra do K’CIDADE)

No início do ano letivo ou da formação é perguntado aos adultos aprendentes que temas gostariam de trabalhar ao longo do ano. Para além dos temas que gostariam de

trabalhar também foi perguntado o que sentiam mais falta em aprender.

Foi um exercício simples e muito prático que permitiu a que os adultos aprendentes vissem os temas por si identificados a serem trabalhados.

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2. Workshops de Verão

Findo o ano letivo, os adultos aprendentes manifestaram o interesse em continuar a desenvolver a sua aprendizagem. E durante a pausa letiva foi realizado um ciclo de workshops que tinha o objetivo de promover a participação efetiva dos adultos em espaços de aprendizagem com temáticas relevantes ao seu quotidiano. Estes workshops foram desenvolvidos na ACITM com adultos aprendentes do Agrupamento e da ACITM. Desta forma foi feito o seguinte:

� Identificação de pessoas com perfil e motivação para ser facilitador de aprendizagem

� Temáticas definidas partindo do levantamento de interesses e necessidades quotidianas das pessoas

� Estruturação destes momentos para que atinjam o objetivo de aquisição e reforço de novos conhecimentos e/ou competências (definindo objetivos/ método e avaliação)

Em colaboração com a Associação Islâmica e um dos adultos aprendentes do grupo de alfabetização, foi definido que a 1ª sessão iria ter como tema a utilização da Internet, pois era a temática mais mencionada pelo grupo. Sendo que mais adiante foram identificadas outras temáticas. Estas temáticas foram identificadas pelo grupo através de uma conversa informal, sendo registadas pelo facilitador e validadas pelo grupo.

A metodologia foi construída ao longo das sessões e com a colaboração do grupo, definiu-se que as sessões teriam as seguintes práticas:

� Dinamização das sessões asseguradas pelos facilitadores

� Assegurar que a escrita e leitura estejam sempre presentes

� Sempre que necessário recorrer à utilização da língua materna como auxilio na compreensão, mas a língua predominante de comunicação é o Português

� No início de cada sessão, haver sempre uma pessoa que relembre e faça o resumo da sessão anterior em 10 minutos

� Neste resumo, relembrar também o vocabulário novo adquirido ou não, recorrendo à escrita em flicpchart e ou cadernos pessoais

� Os temas abordados passariam sempre pela utilização da escrita no computador, mesmo nas sessões mais práticas que implicam a saída da “sala”

� A participação nas sessões não é obrigatória

Workshops de Verão (como comprar o bilhete de comboio)

Workshops de Verão (em sala)

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3. Participação em eventos comunitários

Todos os anos os adultos aprendentes são convidados a participar em eventos comunitários

na Tapada. Neste evento participaram adultos aprendentes do Agrupamento de Escolas.

Estas são práticas desenvolvidas em contexto formal e não formal.

3.1 Foi através da apresentação de uma peça de teatro “Preciso de Emprego” que os adultos se estrearam no evento comunitário. Para tal foi necessário:

Identificação do que iriam apresentar no evento – esta fase foi feita com o apoio da professora

Mobilização dos recursos necessários para a peça de teatro – foi identificado pelo K’CIDADE um encenador profissional que apoiou os “artistas” de forma voluntária. Cada adulto ficou responsável por

encontrar materiais (senhas de supermercado, secretária, cadeiras) para a peça. Foi também necessário reservar o auditório do Floresta Center para os ensaios. Foi feita uma calendarização entre os “artistas” e o encenador.

Elaboração do guião da peça – este guião foi elaborado em sala com os adultos aprendentes e a professora e o encenador validava nos ensaios.

Participaram nesta peça os adultos aprendentes de Português para Todos e de Alfabetização.

3.2 Com a leitura de “Histórias da Minha Terra” os adultos aprendentes participaram pela segunda vez no evento comunitário ao lerem as suas histórias numa livraria da Tapada (enquadrando no programa do evento):

As histórias e os textos foram elaborados com o apoio da professora de Português para Todos bem como a leitura.

Três dos adultos foram apoiados pelo K’CIDADE tanto na construção dos textos como nos ensaios das leituras.

Neste dia, dois adultos foram entrevistados por uma jornalista do “Expresso” saindo o seu testemunho num artigo.

No final a Professora de Português para Todos, compilou as histórias e foi criado um livro “caseiro”.

Leitura das histórias numa livraria da

Tapada

Livro com as histórias

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4. Em contexto formal em sala no Agrupamento de Escolas Visconde Juromenha

Uma das professoras envolvidas nestas ações que durante 2 anos acompanhou e desenvolveu práticas dentro e também forma de sala, considerou importante na elaboração das mesmas o seguintes:

Numa fase inicial

� Através da descoberta � Através do diálogo � Através dos interesses dos

formandos enquanto grupo e particularmente.

Fase posterior

� Partir das vivências e interesses para a aprendizagem da língua ao nível oral

� Posteriormente ao nível escrito. Considerando a importância do conhecimento das letras e a sua identificação

e posteriormente a sua leitura, um dos exemplos aplicados foi:

� Grafismos � Visualização da letra e produção do

som da mesma; � Identificação da letra através da

descoberta Exemplo: Identifique a vogal A nas seguintes

palavras

Casa limpeza aprender água filha

(as palavras escolhidas são do uso quotidiano

e/ou do idioma dos adultos aprendentes)

� Associação da palavra ao desenho (exercícios de ligação e de escrita)

� Introdução casos de leitura a partir de palavras escolhidas pelos adultos aprendentes

� Construção de palavras inventadas a partir de letras/casos de leitura escolhidos pelos adultos aprendentes

� Repetição escrita de palavras � Leitura de palavras

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5. RESULTADOS E IMPACTES

Testemunhos

Ao longo dos anos, tivemos sempre a preocupação de perceber junto dos adultos que impactes estas ações têm nas suas vidas, de modo a também podermos aprender e melhorar a intervenção.

Abaixo encontram-se alguns dos impactes ditos pela 1ª pessoa. Estes testemunhos foram recolhidos em diferentes anos e em diferentes contextos e tempos (focus grupo, entrevista individual)

Em 2001 quando cheguei cá, alguém me dizia Bom Dia

eu não percebia, não dizia nada; agora cumprimento e

posso conversar; Na mesquita há pessoas de muitos

países e é importante para falarmos todos; Não

interessa se sou de um país que não era colonia de

Portugal. Se estou em Portugal tenho que falar

Português.

“ Já consigo escrever formulários ou outros papéis,

mesmo que não esteja muito bonito já se percebe”;

Estou mais atento para pronunciar bem a língua;

sempre que fico sozinho pego na caneta e escrevo; Há

palavras que ainda não sei o significado; cada vez vou

melhorar um pouco mais”(Entrevista individual,

Suleimane, adulto PPT)

“Não sabia nada. Agora já consigo

ler devagar mas consigo”

“Leio a Bíblia, gosto muito de ler a

Bíblia, sozinho ou em conjunto”.

“Quando cheguei a Portugal fui a

uma casa de banho das Sras. porque

não sabia a diferença. Uma Sra.

zangou-se muito comigo. Agora já

sei qual é a casa de banho dos

homens e das mulheres.”

(Entrevista individual, Arlindo,

adulto Alfabetização)

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“Sei mais vocabulário

e “Conjugações”

“Já consigo falar

sozinha, antes tinha

de pedir ajuda para

traduzir”

“Agora já sei

escrever

“Hoje já posso

brincar com o meu

filho” “Ajudá-lo nas

coisas da escola”

“Mudei a minha

maneira de falar”

“Este ano já

consigo ler,

demoro mas

consigo”

“Sinto-me

vitorioso…ontem fui ao

meu patrão e preenchi

todos os impressos

sozinho, antes tinha

de pedir ajuda”

Testemunhos recolhidos num focus grupo aos adultos de Alfabetização e PPT em 2012

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6. FATORES CRÍTICOS

Fatores críticos

Ao longo dos anos de intervenção direta e indireta, existem alguns fatores que consideramos chave num processo de alfabetização / Português:

Mobilização / divulgação dos adultos

Este foi um dos fatores identificados pelos promotores destas ações como chave. Por um lado o Agrupamento de Escolas reconhece que a existência de parcerias no terreno, de quem está mais próximo dos adultos com estas necessidades, serem fundamentais para a mobilização e por outro a Associação Islâmica que considera também uma das fases mais importante do processo.

Início de aulas contínuo sem interrupções

Entre o período de inscrições e o início propriamente dito das aulas há um espaço de tempo que por vezes é longo, o que faz com que os adultos que inicialmente demonstravam interesse nesta resposta, já tenham procurado respostas noutros locais, desmotivaram quanto ao seu interesse e ou mesmo as suas vidas tomaram outros caminhos (ex: imigração)

Professores com experiência em literacia de adultos e/ou experiência em ensino de adultos

No início das ações o importante era conseguir dar a resposta imediata e implicar os promotores no processo. Com os anos de aprendizagem, fomos percebendo que ao haver professores que já tenham experiência em literacia de adultos ou já tenham experiência em facilitar processos com adultos, os resultados são diferentes e mais impactantes. O processo de alfabetização em particular, é bem mais exigente face aos recursos parcos que existem de orientações pedagógicas, pois é necessário criar instrumentos e ferramentas de aprendizagem, sobretudo quando há um público bastante específico que não foi alfabetizado na sua língua materna.

Horários adaptados ao quotidiano dos adultos

Com todas as variações e mudanças de horários das aulas, desde só ao fim-de-semana, só durante a semana e juntando fim-de-semana com dias da semana e mesmo havendo uma carga horária diária de aulas, os adultos aprendentes pretendem sim conseguir falar, ler e escrever Português. A questão importante nesta fase é sempre ter em consideração a disponibilidade dos mesmos. O horários pós-laboral e o fim-de-semana são os mais flexíveis para as pessoas.

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Parceria efetiva

O envolvimento efetivo de um parceiro como a Associação Islâmica que tem uma proximidade com a comunidade é decisivo no processo. Pois é este o parceiro que conhece as pessoas e percebe logo as suas necessidades e consegue acionar o necessário para a resposta existir.

7. CONCLUSÕES

Conclusões

Ao longo dos anos as respostas tanto formais como não formais têm por vezes ficado comprometidas quanto à sua continuidade.

O que se tem vindo a observar é que atualmente estes adultos quando não encontram a resposta no território já se deslocam a outros locais para tentar encontrar. O que nos leva a crer que estes adultos já saem do território em busca daquilo que contribui para a melhoria da sua qualidade de vida, o que há uns anos atrás só acontecia para se deslocarem para os seus empregos e SEF.

Outra das questões que é importante referir como conclusão e analisando o papel de cada parceiro ao longo dos anos e mesmo atualmente, podemos concluir o seguinte:

A ACITM visto ter uma postura muito próxima da comunidade irá sempre que assumir e dar continuidade a estas respostas sempre que haja necessidade.

Por outro lado, o Agrupamento tem-se revelado mais fechado e menos inclusivo à comunidade não demonstrado esforços na realização e concretização destas respostas.

Em última análise e com base na experiência dos anos de intervenção e como recomendação apontamos duas questões fundamentais que a Fundação Aga Khan poderia ter um papel na influência de políticas públicas:

1. Mediação com o SEF no reconhecimento das declarações que vêm por parte das organizações locais que desenvolvem ações não formais de literacia de adultos para o acesso da nacionalidade e processos de renovação de autorização de residência em Portugal

2. Mediação com a DREL no sentido de sempre que haja necessidade nos territórios que as ações sejam aprovadas seguindo com todos os regulamentos exigidos pelos mesmos.

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