Lista 09

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LISTA 09 (de 308 a 432) PAUTAS MUSICAIS in MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO – Cantares do CANCIONEIRO DA TRADIÇÃO ORAL, de João Ranita da Nazaré, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1986 In CANCIONEIRO DE SERPA de Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa 1994, com 410 páginas com escrita, pautas e desenhos à mão!!! 000 Capa rosto Maria Rita Ortigão Pinto Cortez Cancioneiro de Serpa 1994 Edição da Câmara Municipal de Serpa pag 003 Prelúdio por João Rocha Presidente da Câmara Setembro 1994 Cancioneiro de Serpa 000 Prelúdio por João Rocha Presidente da Câmara Setembro 1994 Prelúdio Quando canta o alentejano conta. Cantar é uma confissão que o homem faz à terra e a terra guarda no mais fundo de si. Por isso o cante é a maneira mais nobre que o Alentejo tem de falar. Filha dilecta da solidão a moda rompe à tardinha ou ao deslizar da noite. Em todo o caso na hora cúmplice em que o Sol e a Lua se juntam e o tempo pára. A íntima dos afectos. Aquela em que o homem olha para dentro de si: por isso cantar é declarar uma verdade. Um prelúdio amoroso. "Cancioneiro de Serpa" é isso: a solenidade que o Alentejo põe nas coisas que diz. O cante: arqueologia da memória das planuras. Mas melhor será escrever: os cantes. Porque este livro não regista apenas as letras e as músicas recolhidas na hora do petisco. Aqui há outros cantares, que são também modos de dizer desta relação íntima do homem com o seu chão, sua pátria afectiva: a lenda e a lenga-lenga, a reza e a canção de embalar. Os desenhos, esses, dizem destas maneiras muitas de dizer. A alegria e a mágoa, o amor e a prece, o campo e o trabalho, a solidão, a liberdade. "Cancioneiro de Serpa". Maria Rita Cortez o fez - recolha de textos e músicas - e ilustrou. A Câmara Municipal de Serpa o edita. E desenterra a memória de um povo que trata a história por tu e ao futuro não sabe dizer não. João Rocha Presidente da Câmara Setembro 1994

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LISTA 09(de 308 a 432) PAUTAS MUSICAIS in

MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO – Cantares do CANCIONEIRO DA TRADIÇÃO ORAL,de João Ranita da Nazaré, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1986

In CANCIONEIRO DE SERPA de Maria Rita Ortigão Pinto Cortez,

Edição da Câmara Municipal de Serpa 1994, com 410 páginas com escrita, pautas e desenhos à mão!!!

000Capa rosto Maria Rita Ortigão Pinto CortezCancioneiro de Serpa1994

Edição da Câmara Municipal de Serpa

pag 003Prelúdio por João Rocha Presidente da CâmaraSetembro 1994 Cancioneiro de Serpa 000

Prelúdio por João Rocha Presidente da CâmaraSetembro 1994

Prelúdio Quando canta o alentejano conta. Cantar é uma confissão que o homem faz à terra e a terra guarda no mais fundo de si. Por isso o cante é a maneira mais nobre que o Alentejo tem de falar.Filha dilecta da solidão a moda rompe à tardinha ou ao deslizar da noite. Em todo o caso na hora cúmplice em que o Sol e a Lua se juntam e o tempo pára. A íntima dos afectos. Aquela em que o homem olha para dentro de si: por isso cantar é declarar uma verdade. Um prelúdio amoroso."Cancioneiro de Serpa" é isso: a solenidade que o Alentejo põe nas coisas que diz. O cante: arqueologia da memória das planuras.Mas melhor será escrever: os cantes. Porque este livro não regista apenas as letras e as músicas recolhidas na hora do petisco. Aqui há outros cantares, que são também modos de dizer desta relação íntima do homem com o seu chão, sua pátria afectiva: a lenda e a lenga-lenga, a reza e a canção de embalar. Os desenhos, esses, dizem destas maneiras muitas de dizer. A alegria e a mágoa, o amor e a prece, o campo e o trabalho, a solidão, a liberdade. "Cancioneiro de Serpa". Maria Rita Cortez o fez - recolha de textos e músicas - e ilustrou. A Câmara Municipal de Serpa o edita. E desenterra a memória de um povo que trata a história por tu e ao futuro não sabe dizer não.

João Rocha Presidente da Câmara

Setembro 1994

pag 004Ficha Técnica Cancioneiro de Serpa 000

CANCIONEIRO DE SERPADe Maria Rita Ortigão Pinto Cortez Edição da Município de Serpa, 1944

Ficha Técnica

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TítuloCancioneiro de Serpa AutoraMaria Rita Ortigão Pinto Cortez Capa Carlos Valente Edição Câmara Municipal de Serpa Tiragem 2000 exemplares Composição e Impressão, Novembro de 94Associação de Municípios do Distrito de BejaPraça da República, 127800 BejaDepósito Legal nº 78435/94

pag 005 Capa interior Cancioneiro de Serpa 000

CANCIONEIRO DE SERPADe Maria Rita Ortigão Pinto Cortez Edição da Município de Serpa, 1944

Capa interior p. 007 Cancioneiro de Serpa Compilação e desenhos de Maria Rita Ortigão Pinto Cortez Capa interior 2

Cancioneiro de SerpaCanções tradicionais alentejanas contos, lendas e provérbios recolhidos em Serpa e ilustrados por Maria Rita Ortigão Pinto Cortez

pag 009Introdução Cancioneiro de Serpa 000 CANCIONEIRO DE SERPADe Maria Rita Ortigão Pinto Cortez Edição da Município de Serpa, 1944

IntroduçãoNum dia de Março de 1983, não sei a que propósito, ocorreu-me a ideia de escrever as canções tradicionais alentejanas que ao longo de toda a minha vida ouvi cantarem Serpa, e de as ilustrar com desenhos que representassem as ruas e recantos da vila, os seus campos, os seus habitantes. Assim nasceu o projecto deste Cancioneiro de Serpa, e com este nome foi logo baptizado.

Já na minha adolescência eu fizera uma tentativa de organizar tal colectânea. Porém, o meu conhecimento de Serpa era nessa época bastante reduzido e superficial, e por várias razões acabei por desistir. Agora, eu sabia que estava em melhores condições de levar por diante a tarefa. Sem perda de tempo, fui comprar papel, e no dia seguinte iniciava o desenho que ilustra a primeira canção de que me lembrei. (44 Lá vai Serpa...) À medida que rebuscava na memória canções do meu tempo de criança, outras coisas aprendidas em Serpa vinham ao de cima: rodas infantis (293), contos, lendas (321), orações populares (399), canções religiosas alentejanas (357), ditados e provérbios (350), maneiras pitorescas de dizer as coisas, assim como imagens de cenas presenciadas e episódios de infância, que sentia uma vontade enorme de representar em desenhos. E já agora, "acabandes de" (como se diz em linguagem serpense) ilustrar tantas páginas com canções - que elas não faltam nesta abençoada terra - porque não havia de registar também todas estas coisas que para mim estavam tão ligadas a Serpa?Assim, o cancioneiro foi crescendo...

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Às vezes, mostrava o meu trabalho a pessoas amigas. E, se elas não eram daqui, eu explicava os usos, costumes ou recordações que tinham inspirado certos desenhos. Então, elas apreciavam-nos muito mais. Isto mostrou-me que era conveniente fazer acompanhar o Cancioneiro de algumas palavras com essas mesmas explicações, para que o conteúdo do livro pudesse ser melhor (mais bem) entendido, "mormentes" pelos leitores não familiarizados com esta região. (357 - C. Religioso) Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que esta colectânea contém canções tradicionais que Serpa canta, ou cantou, desde o tempo da minha infância, o que não significa que todas elas tenham tido em Serpa a sua origem. Muitas são inegavelmente originais daqui; algumas são adaptações de canções nascidas noutras partes do Alentejo; outras cantam-se mais ou menos da mesma maneira em toda a província, inclusive em Serpa, por isso as inseri. Que os naturais desses lugares não pensem que quero usurpar honras devidas a outras terras, considerando Serpa como o berço de todos estes cantares. Esta não é uma obra de investigação das origens, mas apenas um registo e não é meu desejo "arranjar enleios" com os restantes alentejanos "por mó' de" tais questões eruditas! No entanto... A asserção de que Serpa foi sempre um centro importante da cultura e divulgação do canto alentejano não exprime puro bairrismo, mas um facto. Lembro-me de ouvir em criança e encontrando-me fora do Alentejo a expressão "cantar à moda de Serpa" usada como sinónimo de "cantar à alentejana". Ilustra de certo modo o prestígio de Serpa neste campo a quadra com que abre o capítulo das modas e cantigas, e que também aparece com as variantes:Quem me dera ser de Serpa, ou em Serpa ter alguém é só por ouvir dizerés de Serpa, cantas bem! (ou) que em Serpa se canta bem! Falando há pouco tempo com um cantor de um dos grupos corais, que canta há mais de quarenta anos, confirmou ele que a maioria das canções divulgadas por todo o Alentejo nasceu de facto aqui. Segundo me disse, houve tempo em que o célebre "Lírio Roxo" (84) era uma espécie de hino de Serpa. E contou que, indo ele às vezes com o seu rancho cantar a Lisboa ou a outros lugares, ouvia exclamar com respeito entre os componentes dos outros grupos: "Serpa veio! Estão cá os de Serpa!" Mas as canções viajam facilmente, e ainda há dias transmitiram na rádio a cantiga serpense " Eu sou devedor à terra", (270) entoada por um rancho folclórico de Minho e ao ritmo duma dança minhota!Autoridades comprovadas como Michel Giacometti (ver liga) e Rodney Gallop (ver liga), entre outros, fizeram de Serpa um dos principais centros de recolha de canções alentejanas. Note-se que o segundo, em trinta e uma canções de todo o Alentejo incluídas no seu livro "Cantares do Povo Português" regista dezassete recolhidas Em Serpa, ou seja, mais de metade de toda a colecção. Porém, repito, não tenho a pretensão de que todas as canções do meu livro tenham tido aqui a sua origem. Chamei-lhe "Cancioneiro de Serpa", porque em Serpa foi recolhido todo o material que ele contém. Também não foi minha intenção fazer uma recolha sistemática, mas tão só registar aquilo que eu própria conhecia, abordando, quando muito, uma ou outra pessoa com o fim de tirar dúvidas ou preencher as lacunas da minha memória. Essas pessoas, por vezes, lembravam-me canções e outras coisas que eu esquecera mas sabia já ter ouvido. Conhecendo o meu interesse, houve quem me oferecesse folhas e folhas de cantigas. E o Cancioneiro cresceu ainda mais...Depois de pronto, ele é um recital dado pelos Serpenses, cantores e contadores de histórias. E como os Alentejanos quando começam a cantar nunca mais se calam, tive dificuldade em dá-lo por terminado. Se eu tivesse feito uma recolha a preceito, acho que teria de escrever vários volumes iguais a este. "Ia lá por ida"! Mas, por agora, "tem avondo"! Dedico este livro às crianças de Serpa.Com ele, quero ajudar a preservar estas modas, que já não se cantam tanto como se cantavam, estes contos que possivelmente nunca ouviram e a imagem de tantas coisas belas que há na nossa terra. Pretendo chamar-lhes a atenção para elas pedindo-lhes que as conservem e as estimem, para que não se percam. Que a ânsia de progresso não as leve a desprezar e a deixar arruinar estes edifícios antigos ( 64-65), estas casas tão cheias de personalidade, ou a enquadrá-las noutras construções deslocadas e sem sentido da nossa paisagem. (53-54-55 - 56-57) E que o gosto pela música moderna as não faça esquecer o prazer de cantar esta belíssima música que é tradição nossa! Origem do material deste Cancioneiro Não foi difícil reuni-lo. Quando eu era pequena, cantava-se muito em Serpa. Espontaneamente. As pessoas cantavam tão naturalmente como falavam. (46-47) Nessa época, os aparelhos de telefonia eram raros e barulhentos. Além disso, só se podiam ouvir depois do anoitecer, quando funcionava a central eléctrica. Em poucas casas existia uma grafonola. Se a gente queria ouvir música, tinha que a produzir! Cantavam as mulheres enquanto faziam a lida doméstica. (50-52)

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As criadas cantavam os dias inteiros, a ponto de causarem dor de cabeça às pessoas mais velhas. (100-101) E com elas aprendi muita coisa... Igualmente se cantava no trabalho do campo e durante as longas caminhadas para lá chegar. (74-75) Um desses trabalhos, sobretudo, dava azo a belos concertos nocturnos - era a apanha dos grãos, que tinha de ser feita de noite, para evitar que o grande calor do Sol tornasse as plantas quebradiças, ocasionando a perda dos bagos espalhados pelo chão. Nesse tempo, era costume as manajeiras andarem batendo às portas das mulheres dos seus ranchos, por volta da meia-noite e, pouco depois, todas se punham em marcha para os campos. E, para afugentar o medo e esquecerem a dureza do trabalho que as esperava, iam cantando. (264-265) Era lindo, no silêncio das noites de Verão, ouvir esses cantares. Como diz a quadra: O cantar da madrugada (ou) O cantar da meia-noite é um cantar "inscelente": acorda quem está dormindo, dá gosto a quem 'stá doente! Também se cantava muito nas festas familiares, principalmente nos casamentos (68-69 - 126-127) - ainda hoje há esse costume, mesmo nas famílias consideradas abastadas - e nas festividades anuais. (394) Ocasiões havia em que apareciam sempre modas novas, compostas localmente ou trazidas de fora, por exemplo no Carnaval e no tempo da ceifa, em que se celebrava a festa das aprendizas (e dos aprendizes). Quando as jovens ceifeiras e ceifeiros eram dados por prontos, fazia-se uma festa, em que eles usavam chapéus coroados de flores. E cantava-se horas a fio.Ouvindo-se sempre canções, as crianças aprendiam-nas naturalmente. Mas eu tive um "professor" que me ensinou a cantar, ainda mal falava - era um empregado que havia em minha casa. "O Bimbas", (216) "Estou-me divertindo" (146) e "Meus Senhores que rapariga esta" (216) foram as modas que ele achou mais apropriadas para me ensinar e, com esta cultura, eu fazia sensação junto da parte não alentejana da minha família. Mas, aqui em Serpa, a gracinha não causava admiração, porque todos os miúdos faziam o mesmo! Acontecia frequentemente, nas tardinhas de Verão, passarem na rua grupos de rapazinhos cantando, por vezes já a duas vozes, como os homens. O bom ouvido musical é uma virtude comum à grande maioria dos Serpenses, ou era, até há algum tempo, pois está a perder-se o hábito de cantar...Saí de Serpa ainda antes de ter concluído a instrução primária, e, enquanto duraram os estudos, só aqui vinha passar férias. Mas, lá longe, recordava sempre com saudade, os seus cantares e também a sua paisagem - estes campos imensos com um colorido tão próprio, a sobriedade destas casas antigas, a severidade dos trajos das pessoas. Vinham-me à mente as palavras da cantiga:Eu não sei que(m) tenho em Serpa, que Serpa me está lembrando. Em chegando ao Guadiana, as ondas me vão levando... Um dia, regressei a casa para ficar.Novas modas tinham aparecido durante a minha ausência. Ouvia-as cantar pelas ruas, sobretudo nas quadras festivas, altas horas da noite, quando os mais retardatários deixavam as tabernas. Algumas das modas da minha infância já não se ouviam... As mais recentes, ia-as aprendendo com esses cantores, com os meus alunos e com os grupos corais de Serpa e das aldeias do concelho, que dão meças entre os da Margem Esquerda e até entre os de todo o Alentejo. E tudo o que já conhecias e o que ia assim aprendendo, eu fui buscar para compor este livro. Além de ter recorrido a pessoas amigas, quando não me lembrava bem de qualquer canção, também me ajudou a recordar modas e contos a consulta de livros contendo material recolhido em Serpa, nomeadamente exemplares da revista "Tradição" e "Cantares do Povo Português" de Rodney Gallop. Essa consulta facilitou-me o trabalho no que respeita às músicas, pois foram menos essas que tive de tirar de ouvido. No entanto, algumas dessas canções conheci-as já numa versão diferente e, nesses casos, foi a forma minha conhecida que escrevi. Outras ouvi-as sempre cantar num tom mais grave do que o que encontrei nessas obras; noutros casos, a música mudou, como acontece por exemplo com "As cobrinhas de água", que se cantava, no meu tempo, de maneira diferente da que figura em "A Tradição" - versão recolhida no início deste século (XX), pela Senhora D. Elvira Monteiro, que foi depois minha professora de piano, assim como de várias gerações de crianças de Serpa. Tanto numa como na outra versão destas obras, figuram numerosas canções recolhidas em Serpa e que nunca ouvi cantar; por isso, não as incluí nesta colecção. Direi o que se me oferecer sobre canções (37), etc., em pequenas introduções, no início dos respectivos capítulos. Assim como ia aprendendo as canções mais recentes, agora que vivia em Serpa, também ia observando e conhecendo melhor a vila, os seus recantos, o interior das suas casas, a sua gente...Os desenhos que ilustram estas páginas resultam da observação de todas estas coisas, conforme explicarei a seguir.Os Desenhos

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Alguns dos desenhos representavam vistas autênticas de Serpa e dos seus campos. Sem preocupação fotográfica, simplificando, por vezes, os elementos. Que me não levem a mal os moradores de certas casas ao verem-nas aqui um pouco modificadas, ou ao constatarem a sua ausência de determinada rua ou praça. Em alguns casos, os desenhos são inspirados em locais que existem, tendo sido registados somente os elementos essenciais. (50-51) Outros são feitos de memória, pelo que não podem ser muito exactos. (52-53) Por vezes, motivos dispersos são representados juntos; em outros casos, as distâncias foram encurtadas para que os elementos pudessem caber no espaço disponível. (55 e 65) Também idealizei um pouco as coisas, retirando da paisagem fios eléctricos, cabos telefónicos e antenas de televisão. Bem me basta ter de aturar um grosso e inestético cabo preto que corta ao meio a vista da minha casa de estar ( 179), da qual se podem admirar as torres de Santa Maria, do Relógio e do Castelo e que desmancha todo o prazer de olhar! Este mal só é atenuado pelo facto de os passarinhos fazerem dele poleiro, o que me permite observá-los mais de perto. (72) Quer nos desenhos baseados em paisagem real, quer nos que foram criados pela minha imaginação, tive sempre como ponto de partida as coisas que se vêem por aqui:As ruas estreitas, de calçadas antigas de pedras irregulares, as paredes sempre brancas, caiadas várias vezes ao ano, quase tantas vezes quantas se faz a limpeza das casas. Alvura que brilha em dias de trovoada, de encontro ao céu quase negro. (83) As portas antigas (83 - 137), umas ogivais, outras cujo lintel ostenta um arco de querena e outras ainda muito singelas, sem moldura, a madeira pintada de verde escuro, azul ou castanho, com postigo (101). As grandes chaminés (285), de quatro tipos principais: as de escuta, que podem atingir a altura de dois pisos - algumas com um janelico, outras sem ele mss do mesmo feitio e que entendidos dizem não deverem ser consideradas de escuta. As cilíndricas, muito altas ou atarracadas, cobertas por uma cúpula abobadada rematada por um pequeno pináculo. As facetadas, com oito ou mais lados, cuja barra de frestas se situa entre frisos canelados de várias larguras, com cobertura em pirâmide ondulada que faz lembrar a tampa de um açucareiro inglês - faz pena, actualmente, ver desaparecer chaminés tão bonitas, ocultas pelo crescimento das casas vizinhas - e ainda as chaminés mais simples, de secção quadrada ou rectangular, também rematadas por pirâmides onduladas. (243) Igualmente representei, por serem muito características, algumas das clarabóias existentes em muitas casas antigas e que se assemelham a pequenas capelas. Várias dessas construções cobrem escadas de acesso a mirantes, outras são clarabóias propriamente ditas e constituem o único ornamento na austeridade arquitectónica das casas Há uma grande variedade de modelos, alguns bastante elaborados. (129) Estão também representados os telhados velhos, de telha solta, os beirais assentes em cimalhas salientes. Em certas casas mais antigas, o beiral de telhão protege do sol ou da chuva quem gosta de se pôr à janela. Como não podia deixar de ser, aqui aparecem também as muralhas com os seus torreões e portas, o aqueduto e algumas das dezassete igrejas, capelas e ermidas que Serpa se orgulha de possuir. (55 - 379) E os fontanários públicos, onde antigamente as mulheres iam buscar água de "enfusa" à cabeça: à ida a bilha ia deitada sobre a "sogra" e, no regresso, vinha muito direita, como a sua portadora, que se movia com elegância e à-vontade. Diziam que iam "buscar água ao boneco", porque essas fontes (das quais ainda existem três) são formadas por uma coluna rematada por um cone, cujo conjunto se assemelha a uma figura humana; à volta existe um pequeno tanque. (69 - 115) Procurei ainda desenhar, sem ter esgotado o tema, as várias grades das janelas, de ferro forjado ou fundido, que tanto embelezam as fachadas das casas. (197) E os quintais, de altos muros caiados, por cima dos quais espreitam quase sempre os ramos de um limoeiro e às vezes os de uma oliveira, com o seu pavimento de calçada e ladrilho. E as flores que geralmente lá crescem: as rosas, os cravos, as malvas, os malvaíscos, os jarros, os malmequeres, os brincos de princesa, as flores de lis. Por vezes, uma grande glicínia faz pender os seus cachos para o lado da rua. (233) E os jardins improvisados junto às portas, (137) pois quem não tem quintal retira pedras da calçada para fazer canteiros ou planta flores nos recipientes mais inesperados. E, ao longo das ruas, as laranjeiras ornamentais, os jacarandás, as olaias que no fim do Inverno se cobrem de cor-de-rosa forte. E os saudosos mosqueiros, que davam tão boa sombra, coisa rara no Verão. Fala verdade a quadra: Alentejo não tem sombrasenão a que vem do céu.Senta-te aqui, meu amor, à sombra do meu chapéu! Os interiores das casas que desenhei também se inspiram naqueles que eu conheço: os tectos de abóbada - aqui muito vulgares - outros de caniço seguido ou do tipo "salto de rato". As grandes lareiras de parede a parede (139 - 245) e outras pequenas de canto (131 - 225), existentes, em geral, em casas mais modestas; umas revestidas de azulejos, outras caiadas a oca, onde se faz (ou fazia) lime no chão e se aquece a água em panelas de ferro. O "pial das enfusas". O pavimento de ladrilhos (que aqui se chamam "baldosas" se forem quadrados e "lambazes" os rectangulares) fazendo efeitos geométricos nas suas tonalidades de vermelho. Os nichos cavados nas paredes grossas das cozinhas, onde se arrumam as vasilhas de barro, de cobre ou de latão. E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos (325) , o pote de lata onde se

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guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas. Procurei representar os campos nos seus múltiplos aspectos e cores próprias de cada estação:O verde-esmeralda (263) do princípio da Primavera e as "folhas" de tons diferentes à medida que o Verão se aproxima e as searas vão amadurecendo. A cor de ouro do tempo das ceifas, que vão deixando a terra castanha com laivos amarelos do restolho. As grandes queimadas, (72) que à noite povoam os campos de inúmeras cidades - antigamente começavam no dia de Santa Maria - tornando ainda mais insuportável a calma do mês de Agosto e deixando extensas manchas negras no solo. E finalmente a terra vermelha do Outono, húmida das primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e charruadas que preparam as sementeiras. Retratei com mais frequência o esplendor dos campos na Primavera: searas verde-bandeira, de trigo, e dum verde mais claro, de cevada, salpicadas de papoilas, malmequeres palmitos cor-de-rosa. (263) Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-meis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome. E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão no fundo das ribeiras e barrancos, manchas de cor viva a animar a extrema secura da paisagem. E os "montes", como não podia deixar de ser: a casa de habitação, a arramada, o redil, celeiros e palheiros, a chaminé por vezes coroada por um ninho de cegonhas, o forno redondo isolado ou edificado ao fundo do alpendre ou casão. ( 109 - 266 - 273 - 317) E a paisagem do Guadiana, (177) que alguns chamam ainda de "a ribeira" (diz-se "r'bera"), com os seus característicos moinhos (85) abobadados de grossas paredes pardas, construídos de modo a resistir às cheias que todos os anos ocorriam, antes da construção das barragens em Espanha. Quando o moleiro pressentia a aproximação duma cheia, retirava o trigo, a farinha e tudo o que podia e abandonava o moinho, que ficava debaixo de água por uns tempos. Retomado o nível normal das águas, permanecia sobre as paredes e o tecto mais uma camadas de lama e sementes de erva, o que contribuiu para dar a estas azenhas o aspecto de montículos de terra e as faz confundir-se com os penedos das margens do rio. Também quis representar fenómenos naturais, como as trovoadas de Maio e o arco-íris. Num dia de tempestade, observei dois grandes arcos-da-velha concêntricos e completos, pintados com cores luminosas sobre um céu castanho - eles aqui estão, não tão bonitos infelizmente, numa destas páginas. (276) E o "espojinho", corrente de ar causada pelo calor, que traça uma linha de poeira e folhas secas arrancadas do chão, enquanto tudo à volta permanece imóvel, elevando-se pois no ar, num redemoinho. Procurei animar as paisagens da vila e do campo colocando nelas gente e animais, que têm sempre como fonte de inspiração elementos locais. Lembro-me de ver, em pequena, as mulheres de saias compridas e rodadas, feitas de riscado - era mesmo riscado às riscas, brancas e pretas ou castanhas escuras - debruadas por um nastro. Usavam blusas de chita ou gorgorina de cores escuras, "xale de malha" pequeno, seguro no peito com um pregador e por cima um xale grande de ir à rua. Na cabeça, lenço de rebuço que só deixava ver um bocadinho do rosto (dizem ser reminiscência árabe), e um gracioso chapéu preto de copa redonda e aba enrolada para cima, que usavam apenas as mulheres desta vila. (75 - 76 - 223) E nos pés, meias de linha, pretas ou de cor e elegantes botas justas à pernas, apertadas com ilhós e cordões. No Verão, para o trabalho da ceifa, o fato era um pouco mais garrido, com saias de chita e blusas coloridas, mas traziam o xale de malha da mesma maneira, porque o que protege do frio protege do calor. É curioso que, sendo o Baixo Alentejo a região mais quente do País, não se ouve falar em casos de insolação entre a gente que trabalha no campo. Mesmo na vila, os trajes das mulheres eram deste tipo e o uso do xaile obrigatório. "Censuram!" diziam, a justificar o facto de terem de pô-lo sempre que iam à rua. As viúvas traziam o xaile preto pela cabeça, preceito que ainda há quem siga. Nessa época, a importância do traje era tão grande, que as manajeiras não aceitavam nos seus ranchos trabalhadeiras que não estivessem vestidas a rigor. (75 - 77)Os homens (135) aparecem nestes desenhos vestidos com fatos de saragoça ou de sarja cinzenta, de colete e jaqueta, outros trajam camisa de riscado aos quadradinhos com as pontas da fralda atadas à frente, botas, chapéu de aba larga e lenço dobrado em triângulo atado ao pescoço, (91 - 259) o qual se usa também desdobrado e colocado sob o chapéu, para defender do ardor do Sol. Outros trazem peliça ou samarra, outros ainda capote à alentejana. (133 - 289) Os pastores usam pelico e ceifões de pele de borrego - também alguns ceifeiros usam safões (109), mas de pêlo rapado. Ainda hoje se vêem pastores assim vestidos, por ser uma indumentária confortável. Alguns deles transportam um borreguinho na curva do cajado posto ao ombro, atado pelas quatro patas como se fosse uma trouxa. Esta cena observava-se com frequência durante a Semana Santa, altura em que traziam para a vila os animais que iriam ser mortos pela Páscoa e que, às vezes, eram oferecidos a compadres e amigos. Ao contrário do que se poderia esperar, eles pareciam não achar incómoda a posição e, dali, iam olhando placidamente as ruas e casas que nunca tinham visto. Desenhei também gente a caminho dos campos, seguida dos seus animais: uma ovelha com a sua cria, que ficavam a pastar enquanto os donos trabalham, e o inseparável cão. Nos desenhos estão também representados ciganos, que se vêem em grande número por estas paragens.

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Em algumas das ilustrações, as pessoas estão ocupadas nos trabalhos mais comuns: a monda, a ceifa, a apanha da azeitona (265), o lavado da roupa no rio, o corte da cortiça: e o pastor e o porqueiro guardando o seu gado; homens a cavar e a lavrar a terra. Nas ruas, mulheres caiando as casas e lavando as pedras da calçada. Nas cozinhas, a lida do amassado e a matança do porco (225). E o roupeiro na sua rouparia, fabricando o belíssimo Queijo Serpa (219 - 269).E também figuram pessoas vulgares, sem vestimenta especial, como existem em toda a parte. Os animais que aparecem nos desenhos são os que costumam ver-se por estas ruas e campos. Em primeiro lugar, os cães. A população canina deve ser quase tão numerosa como a humana e, nas ruas e largos, há sempre cães à vista, predominando as raças ligadas à caça - os perdigueiros - e uns canitos de raças indiferenciada, pretos ou amarelos, usados para enxotar os coelhos das moitas. Há ainda o cão de pastor (251), de tamanho médio e muito felpudo - infelizmente já não se vêem muitos, sucedendo o mesmo com o grande rafeiro, usado como cão de guarda nos montes. Na vila, os cães costumam andar em liberdade. Correm, saltam e brincam uns com os outros e, por vezes, têm o hábito de se deitar a dormir no meio da rua, para desespero dos automobilistas, que são obriagdos a fazer travagens bruscas e desvios inesperados, para não os atropelarem. (57) O gato também se vê muito sentado à porta das casas (algumas têm um buraco redondo para ele entrar e sair à vontade), ou espreguiçando-se ao Sol, em cima dos telhados. Gatos cinzentos, pretos, amarelos ou brancos e a chamada gata mourisca, que ostenta malhas de três cores. (245) Também quis fixar aqui um espectáculo que já se não vê: os burros carregados de estevas ou de rama de oliveira para os fornos. Punham-lhes uma carga tão grande em coma, que não se via o burro, ou antes, só apareciam as pontass das patas, as orelhas e o focinho. Eram autênticas copas de oliveira ambulantes! Por vezes, encontrava-se na estrada um homem conduzindo vários burros assim ataviados. (73)Recordações de infância e outras representadas nos desenhosAlguns pormenores das ilustrações podem parecer estranhos, produtos de uma fantasia que misturou elementos desconexos. No entanto, todos eles são reais. Por exemplo, uns passarinhos coloridos, azuis, verdes e amarelos, as cores dos piriquitos, voando em pleno Alentejo, podem afigurar-se a uma nota insólita. Mas eles existem. São os abelharucos e os verdilhões, e vi-os várias vezes nas imediações do Guadiana. A forma pode não ser muito exacta - um pássaro não se deixa observar por muiro tempo - mas as cores são estas. (221)Junto ao Guadiana há una montes que no fim do Inverno se cobrem de junquilhos bravos e onde, um dia, quando os fotografava, me saltou uma lebre quase debaixo dos pés. Ambas apanhámos um susto e ela fugiu a toda a velocidade - uma grande bola parda, com orelhas, pisando as flores sem cerimónia... Uma manhã de Verão, em que fazia muito calor, apesar de ser ainda cedo, um jardineiro regava roseiras numa rua onde eu passava a caminho da escola. Ao pé dele e sem se intimidar com os transeuntes, um pintassilgo tomava banho de chuva na água que respimgava da mangueira (95 - 272). É preciso um pintassilgo estar muito encalmado para se arriscar desta maneira! O que é que acontece quando, num mercado, duas vendedeiras colocam lado a lado um cesto contendo um coelho vivo e outro com um ramo de malmequeres? Foi esta cena que eu presenciei um dia: o coelho esgueirava-se entre as cordas cruzadas na boca do cesto, e, de pé nas patas traseiras, roía tranquilamente as flores, iguaria rara para quem vivevem capoeira. De vez em quando, a dona apercebia-se do abuso e dava-lhe uma palmada na cabeça; o coelho encolhia-se, mas não tardava a atacar novamente os malmequeres da vizinha! (139) Num dos desenhos, aparece o interior de uma casa modesta, onde uma mulher faz meia e duas crianças brincam (ver p. 87). O que parece insólito nesta cena é o tecto, uma linda abóbada com reforço de cantaria e fecho de pedra lavrada. Ela existe, de facto, numa casa onde fui um dia procurar um pedreiro. Velha casa rica degradada com o tempo? Capela da referida casa? Não posso sabê-lo, mas ela ali está, na Travessa de São Paulo. Doutra vez, observei uma cena engraçada: Chuviscava e, diante de um automóvel estacionado na rua, vi um grande chapéu de chuva aberto, que quase tocava o chão, por debaixo do qual apareciam quatro perninhas iguais. Eram duas meninas do mesmo tamanho que, abrigadas pela sombrinha, faziam fosquinhas para a sua imagem reflectida nos pratos das rodas do carro. (195) Cenas como esta que acabo de descrever não podiam deixar de ser utilizadas nas ilustrações deste livro. Igualmente forneceram matéria para vários desenhos recordações de infância, das quais vou dar exemplos.Um dia, o meu pai teve de ir a um monte e eu acompanhei-o. Nessa manhã, a pateira tinha apanhado uma coruja que entrara pela janela durante a noite. Como eu me pusesse a admirá-la com a curiosidade de quem nunca tinha visto tal ave, deram-ma de presente e voltei para casa trazendo ao colo a minha coruja. A minha mãe é que não achou graça nenhuma à aquisição e declarou que não queria em casa bicho tão agoirento! Ficou-me sempre o desgosto da perda desse animal doméstico, em memória do qual representei, numa destas páginas, uma menina com uma coruja ao colo. (87 - 161) A casa em que vivo fica encostada à muralha e, por isso, o quintal é pequeno e sombrio. (103 - 179) O meu pai, que era médico, receando que a saúde das galinhas pudesse ser afectada pela insalubridade do local, mandou construir um galinheiro numa varanda existente por cima da casa.

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Um dia, em que fui dar de comer aos ditos animais, deixei a porta mal fechada e, um coelho branco que também ali residia, escapou-se e fugiu para cima da muralha. Assustada pela minha imprevidêmcia, desatei a correr atrás dele pela muralha fora e teria dado volta à vila se não houvesse, de onde em onde, paredes divisórias, uma das quais deteve o fugitivo. Nunca El-Rei D. Dinis imaginou, quando ordenou a edificação destas muralhas, que por cima dos seus adarves viesem a andar meninas a correr atrás de coelhos brancos! (48) Algumas destas recordações de infância estão relacionadas com temporadas que passei num monte, propriedade de um irmão de meu pai, o Monte Novo. O meu tio António convidava-nos todas as Primaveras a passar ali algumas semanas e assim me familiarizei com aspectos próprios da vida do campo, que de outro modo não teria conhecido:A grande cozinha do monte, onde comia o pessoal, com o lume no chão sempre aceso e as pessoas sentadas em cadeirinhas baixas ou em mochos. (139) As tripeças de madira de azinho. As galinhas que entravam à vontade para apanhar calor e debicar migalhas espalhadas pelo chão. Os "pirunitos", (245) que eram uns bichos frágeis e tristonhos, criados dentro de casa, alimentados a papas de farelos quentes misturados com urtigões (diziam "ortigões" e eu fiquei a saber donde provinha o meu apelido do lado materno). As trovoadas, que faziam morrer na casca os pintainhos quase a nascer e cujo espectáculo admirávamos das janelas do primeiro andar, iluminando todo o céu e os vastos campos a perder de vista.Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo que o fazia atalhar, ao moldar do coalho dentro dos cinchos sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo. Tal como acontece com todos os montes alentejanos, a casa ficava situada num ponto alto e desabrigado, donde se desfrutava uma ampla paisagem de serra. De noite, ouvia-se sempre o assobiar do vento e o latido dos cães. Tais sons, geralmente tidos como lúgubres, eram, pelo contrário, imensamente agradáveis e intensificavam a sensação de conforto das pessoas ao adormecer, bem quentinhas debaixo dos cobertores, sobretudo as crianças, cansadas por um dia de brincadeiras e correrias pelo campo. Que para mim não havia campo como aquele. Encantavam-me aquelas terras bravias, sem muros nem limitações, toda aquela imensidão. Corríamos léguas em redor, eu e a minha prima pouco mais velha e a filha da pateira, uma azougada Marianita, que era pouco mais ou menos da minha idade. Íamos até ao Barranco de Margalhos, onde havia loendros, poejos (erva aromática usada na açorda e nas masmárreas), saudades e outras flores e lá nos entretínhamos tentando apanhar as rãs, que saltavam por entre as pedras, o que ocasionava umas quantas quedas na água. A curta distância do monte havia um sítio chamado Pego ds Bruxas, talvez por ser um amontoado de pedras negras, certamente sinistras depois do escurecer. Mas de dia era um local maravilhoso, com poças de água e uma enorme variedade de flores. Tantas que, de algumas, ninguém sabia o nome. Brincávamos junto ao chafariz, em que a água jorrava de duas carrancas e em cujo tanque se criavam sanguessugas pretas e vermelhas, que às vezes se prendiam à garganta dos animais e eram muito úteis em certas doenças. Chamavam-lhes "bichas". Íamos ao "corunchoso" - hortejo cercado de "enxapotas" (ramos de azinheira e outras) - onde creciam couves e alfaces, assim como matrastos, erva que cheirava muito bem, especialmente nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à passagem das procissões ou nos mastros do São Pedro. No corunchoso havia um espantalho, que não chegava a ser suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos bravos, os quais, uma noite por outra, iam lá fazer terrabazias. Ouviam-se cantar os cucos e as raparigas gritavam-lhes: «Ó cuco, lá da Beira, quantos anos sou solteira?!» E ele respondia sempre: «Cu-cú-u-u-u-u! Cu-cú-u-u-u-u! Cu-cú-u-u-u-u! ... De longe em longe, passavam ranchos a pé ou em carros e paravam para beber no chafariz. «São malteses!» dizia a gente do monte. Ninguém sabia de onde vinham e para onde iam... Nessa época do ano havia galinhas no choco, com os ovos da sua espécie, ou de pata, ou de perua. Um dia nasceu uma ninhada de patinhos, muito espertos e engraçados e pouco demorou vê-los nadar dentro de uma bacia. Emtão, eu e a Mariana tivemos uma ideia: se eles sabiam nadar tão bem na bacai, ainda melhor nadariam no tanque. E logo resolvemos proporcionar-lhes uma boa exibição das suas habilidades, carregando com eles para dentro de uma "pieta" onde as ovelhas bebiam. E eles nadavam, mas ao fim de algum tempo queriam descansar. Porém, mal eles mostravam vontade de sair do banho, nós enxotávamo-los para o meio da pieta. Os pobrezinhos não resistiram a tão dura prova e morreram todos! (267) Antigamente cultivavam-se variedades de trigo de caule muito alto. Num desses anos em que íamos para o Monte Novo, as searas cresceram tanto, que atingiram a altura de um homem.Uma manhã, a minha prima Maria dos Anjos e eu fomos brincar dentro de uma seara, procurando flores e vacas-loiras (uns insectos pretos e vermelhos, que, quando se lhes cuspia em cima, rebentavam) e fazendo piparralhas (pequenas flautas com o caule do trigo). Andámos muito tempo entretidas com esses estragos, at+e que qualquer coisa nos lembrou que deviam ser horas do almoço e era preciso voltar para casa. Então, descobrimos que nos tínhamos perdido! O trigo era mais alto do que nós e não

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conseguíamos ver o monte, nem sabíamos para que lado ele ficava! Depois de várias tentativas, assustadas, começámos a andar à roda. Por fim, uma de nós sugeriu que caminhásemos sempre na mesma direcção até sairmos da seara e podermos orientar-nos, levasse o tempo que levase. Por acaso, seguimos o rumo certo!Também íamos passear a outros montes e quintas próximos: à Junqueira, à Graciosa, à Quinta de São Brás. Alturas havia em que se organizavam burricadas, em que tomavam parte os adultos e as crianças. Vinham da vila tios e primos e arranjavam-se burros adequados ao tamanho e às aptidões equestres de cada um. Nomes de lugares como Margalhos, Benvenidos, Moinhos da Misericórdia e dos Bugalhos ficaram-me gravados na memória, associados a imagens envoltas numa névoa de imprecisão, que lhes aumenta o encanto. À Quinta de São Brás ia-se todas as tardes, ao Sol-posto, comprar o leite de vaca para o pequeno almoço. Tinha uma grande casa antiga formada ed três alas de barras amarelas e janelas gradeadas e, nas traseiras, uma varanda sobraceira ao jardim. Uma escadaria ladeada de roseiras conduzia até uma área pavimentada com aldosas, contornando um vasto tanque, alimentado pela água que jorrava da boca de um leão de alvenaria. No meio do tanque, uma estátua de Neptuno caiada de branco, a quem chamavam o "Rei dos Peixes". (205) Rodeando esse espaço, bancos de alvenaria, muros de buxo e, mais além, um fresco pomar. A poucos passos, a ermida de São Brás, cuja romaria se celebrava em Quinta-feira de Ascenção. a festa e a apanha da espiga atraía gente dos montes em redor e até da vila. Passávamos sempre esta data no Monte Novo e também o dia de Santa Cruz. No terceiro dia de Maio, era costume confecionar uma cruz de flores sobre uma armação de cana, centrada numa grinalda também de flores. Ajudei a fazê-la algumas vezes, com rosas saloias de cor viva, que tinham muitas pétalas e lembravam pequenos repolhos. Depois de pronta, a Santa Cruz era pendurada num prego na parede exterior da casa e, à tardinha, toda a gente lhe dançava ao pé, na rua do monte. Faziam-se balhos de roda, (97) simples ou formando cadeia (185), acompanahdos de modas como "o Pavão" (164), "José Marques" (248), "Foste tu, ó ladrão, ladrão" (212) e "Eu nesta manhã achei" (130). Às vezes cantava-se ao despique, improvisando. Também na vila havia o costume de fazer a Santa Cruz e de florir, nesta data, os cruzeiros de pedra, que se erguem nas várias entradas da povoação, o que ainda hoje se faz na Cruz Nova.As coisas que admiro em Serpa, as minhas recordações de infância e outras, serviram para elaborar o "Cancioneiro Visual". Foram horas felizes, lembrando todas essas coisas, enquanto procurava passá-las ao papel. Mas horas de angústia também, por não ser capaz de fazê-lo tão bem como gostaria e, por as actividades do dia a dia, me não deixarem o tempo e a disponibilidade de espírito necessários. Também não me foi possível utilizar todo o material exisente; muita coisa bonita ficou por representar. Ao longo deste trabalho estive sempre consciente de que os motivos de inspiração eram dignos de pincel mais abalizado. Pintar, como escrever, é tarefa de grande responsabilidade... Aqui ficam pois, estes bonecos, a chamar a atenção para o que de belo existe na nossa terra. É essa função, creio, que eles já têm sido capazes de desempenhar, mesmo antes de o livro ter sido editado. Quero agradecer a todas as pessoas a quem roubei um pouco do seu tempo, pedindo ajuda na reconstituição de canções e histórias semi-esqucidas e que me forneceram material para esta colectânea.Às empregadas da Escola Secundária de Serpa, nomeadamente as Senhoras: Alda Apolinário, Catarina Mestrinho, Maria de Fátima Saleiro, Gertrudes Mederio e Maria da Cruz, a quem algumas vezes pedi para me cantarem esta ou aquela moda e sempre o fizeram de muito boa vontade, tendo-me, as duas primeiras, trazido grande número de cantigas. À Senhora D. Maria da Luz Machado Braga, à minhas primas Maria do Carmo cortez Saraiva da Rocha e Maria dos Anjos C. Baptista Féria Oliveira e à minha amiga Maria de Luedes Varela Bettencourt agradeço a ajuda que me deram na reconstituição das canções.A alguns elementos dos ranchos corais - os Senhores José Filipe justo do Corro e Armando Elias Torrão, do Grupo coral e etnográfico da Casa do Povo de Serpa, que me reviram várias músicas e letras; e ao Senhor antónio Santinhos, do rancho "Os Ceifeiros de Serpa", que me deu letras de canções da sua autoria. Às Senhoras Nita Rias e Maria do Carmo Felício, que me ensinaram e completaram canções, histórias e orações populares. À minha tia Carlota Cortez Baptista e a D. Palmira Isidoro, que me ajudaram em vários contos e lendas. Agradeço também à Senhora Marquesa de ficalho os esclarecimentos que me deu sobre a lenda da Condessinha, relacionada com uma janela e com o jardim da sua casa.Igualmente agradeço a todas as pessoas que se interessaram por este trabalho e que me acompanharam e encaminharam nos passos a dar com vista à sua publicação.Serpa, 8 de Janeiro de 1987 Maria Rita Ortigão Pinto Cortez

pag 037Modas e Cantigas Cancioneiro de Serpa 000CANCIONEIRO DE SERPADe Maria Rita Ortigão Pinto Cortez Edição da Município de Serpa, 1944

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As CançõesComo já foi dito, este trabalho pretende ser um repositório das canções ouvidas em Serpa ao longo da minha vida e não um estudo sobre essas mesmas canções. A colecção está organizada mais ou menos por assuntos e não por ordem de qualidade ou cronologia. Por isso, estão colocadas lado a lado canções mais belas e puras e outras que já receberam influências estranhas e contêm um vocabulário menos popular. Tão naturalmente como as pessoas as cantam, um pouco por associação de ideias. Um certo convencionalismo foi introduzido em algumas letras mais recentes, que perderam um tanto da frescura e espontaneidade das mais antigas. Quanto à música, a meu ver, ela é sempre bela e sempre autenticamente alentejana. Aliás, a origem das canções é difícil de estabelecer, pois, salvo raras excepções, não se sabe quem as compõe. Dizem que é o trabalho que as gera. Para marcar o ritmo da ceifa, por exemplo, alguém começa a trautear umas notas, que um companheiro ao lado repete, acrescentando trinados e requebros; outro junta umas palavras, para entreter o espírito enquanto as mãos estão ocupadas. E, sem ninguém dar por isso, nasceu uma canção! Perguntei a várias pessoas ligadas aos grupos corais, quem compunha as modas - pelo menos as mais recentes parecia-me fácil averiguar. "Ninguém sabe quem as faz!" foi a resposta, em que se sentia um toque de admiração. No entanto, algumas (poucas) canções mais novas têm o seu autor, sobretudo no que respeita à letra, pois têm sido feitos versos novos para músicas já existentes com outras palavras, ou cuja letra se perdeu. É o caso dos irmãos Torrão (66) (do Grupo Coral Etnográfico da Casa do Povo de Serpa), do Sr. António Santinhos (54) (do rancho "Os Ceifeiros de Serpa") e do Meste José Gato (50), sapateiro no Largo do Salvador. As canções da autoria destes artistas encontram-se devidamente assinaladas, nas páginas em que figuram. As canções alentejanas são essencialmente de dois tipos: as modas e as cantigas.As modas têm letra e música próprias, ao passo que as cantigas são quadras que se adaptam a qualquer música que acerte com o número de sílabas dos seus versos. (ver da página 272 a 287) Quando se canta em coro, a moda é geralmente introduzida por uma cantiga entoada total ou parcialmente por um solista. A seguir entra o "alto", que canta um ou dois compassos, uma terceira acima do primeiro cantor e imediatamente entra o coro no mesmo tom do primeiro, enquanto o alto se aguenta sozinho no tom em que começou, até terminar a parte do coro. (ver por exemplo 234 - 236 - 254 - 260) Frequentemente, cantam-se mais quadras alternadas com a moda, que funciona assim como um refrão. As intervenções do primeiro solista, do alto e do coro são variáveis, dependendo do gosto dos cantores. Diga-se de passagem que os grupos que cantam não têm só um solista e que praticamente todos os cantores estão aptos a sê-lo. Neste cancioneiro, há folhas em que figuram apenas os versos da moda; noutros casos, fez-se acompanhar esta, de uma ou mais cantigas que, pela semelhança de tema, se tornou costume cantar com essa moda. (exemplo 228) Em algumas músicas registei apenas a melodia, por nunca as ter ouvido cantar em coro. Quanto às outras, registei-as com as partes do solista, do alto e do coro, o mais facilmente possível, o que nem sempre foi fácil, dado que essas combinações não são fixas e os cantores fazem variações sobre certas notas, de acordo com o seu gosto e sentimento. (190 - 192 - 200) Os Corais Alentejanos são tradicionalmente masculinos, por isso o seu tom é grave. a introdução de mulheres nos coros é recente e não muito feliz, na minha opinião, porque não é natural a voz feminina cantar tão baixo. Nos grupos corais de Serpa ainda não entrou esta inovação. O ritmo é, por vezes, muito marcado. O Cante, apesar de dolente, não é mole. Saber imprimir-lhe o ritmo é uma das qualidades do cantor. Os temas mais comuns são: Serpa (44 - 46 - 48 - 50 - 54 - 56 - 58 - 60), Alentejo em Geral (266- 268 - 270), outras terras desta província (62 - 260 - 262), os campos com os seus "montes" e os seus trabalhos - a monda (64 - 66 - 68), a ceifa (70), a vida de pastor (80- 82). Também fala de animais, sobretudo de aves, (148) umas vezes designadas segundo as suas espécies, outras chamadas simplesmente de "os passarinhos" (150 - 152) . As flores, entre as quais a rosa tem um lugar de destaque, usada às vezes como sinónimo de flor (tanto que, para distinguir, se diz "rosa da roseira"), simbolizando sempre a mulher.( 92 - 94 - 96 - 98 - 238) - (lírio roxo 84 - 88)E as pessoas, representadas pelo seu nome próprio, masculinas ou femininas, outras vezes pela sua profissão. E a despedida, a abalada para longe, em busca de trabalho ou para a vida militar. (180 - 182 - 184) A dor, o sofrimento, a saudade, as lágrimas, a morte. O amor aparece associado a todos estes temas. Mas também existem canções divertidas, imbuídas de um certo humor sóbrio, como é próprio do temperamento alentejano.Às vezes, é um acontecimento real que dá origem à canção:Um moço pretende raptar a namorada e é descoberto, a tempo, pelos pais dela - conta-se esta história em "Era meia-noite" (214). Uma recém-casada dorminhoca forneceu certamente o assunto para "Acorda, Maria, acorda" (218). Uma merceeira, que tratava com demasiado desvelo um filho já homem, fazendo andar à pressa a filha, que saltitava pela loja em passos miudinhos e ficou "Ó António, já lanchaste?" (246)

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Por outro lado, acontecimentos públicos também estiveram na origem de canções como " Viva o Rei, viva a Rainha", ( 58) que apareceu com ligeiras variantes em diversas povoações alentejanas visitadas por D. Pedro V. Algumas canções serviam para bailes de roda. Estão neste caso "O Pavão" (164), "Eu esta manhã achei" (130) e "José Marques" (248). Ao registar as letras das canções, optei muitas vezes pela forma gramaticalmente errada de certas palavras e expressões, quando elas são usadas com muita frequência, ou quando necessárias à métrica. Pelos mesmos motivos, usei contracções como " Olh'á borboleta", pois se as palavras fossem correctamente pronunciadas, perder-se-ia o ritmo do verso. Chamo também a atenção para a existência, por vezes, de versões diferentes, pequenas variantes da mesma canção. Nestes casos, usei uma versão na página pintada e outra na da música. Que a ideia algo generalizada do alentejano rude, prosaico, e um tanto ou quanto bisonho, seja confrontada com esta realidade: uma infinita capacidade de criação de canções cheias de frescura, beleza, poesia, humor, a ponto de existirem canções para, praticamente, todas as circunstâncias da vida. Desmentindo tal conceito, elas reflectem sentimentos delicados, cavalheirescos até. Um povo, que produziu tal variedade de belas canções, só pode ter alma de artista! Eu entrei e não falei os Senhores que aqui estão. Falo-lhes agora cantando:Boa noite, como estão?

pag 044 – Lá vai Serpa, lá vai Moura!

O homem nunca devia A sua existência acabar, O homem nunca deviaA sua existência acabar!Nem nunca se fazer velho Para sempre namorar, Nem nunca se fazer velho Para sempre namorar! Lá vai Serpa, lá vai Moura As Pias ficam no meio Em chegando à minha terra Não há que haver arreceio!Não há que haver arreceio!Lá vai Serpa, lá vai Moura Lá vai Serpa, lá vai Moura As Pias ficam no meio!

pag 046 - Ó Serpa pois TU não ouves?

Ó Serpa, pois tu não ouvesOs teus filhos a cantar?Ó Serpa, pois tu não ouvesOs teus filhos a cantar?Enquanto os teus filhos cantam, Tu, Serpa deves chorar! Enquanto os teus filhos cantam, Tu, Serpa (ó Serpa) deves chorar!

p048 - Ó Serpa do Alentejo

Ó Serpa do Alentejo, És minha terra natal!És da vilas mais antigas Que temos em Portugal!

Que temos em Portugal,Das terras que mais invejo, És minha terra natal(i)Ó Serpa do Alentejo.

p050, 51 e 52 - Adeus, ó vila de SerpaMúsica tradicional. Letra do Mestre José Gato

Adeus, ó vila de Serpa,Saudades quem as não tem? Dentro das tuas muralhas Há uma rosa a quem quero bem. Adeus, ó velhos castelos, Companheiros do luar, Quem me dera já lá ir, Quem me dera já lá ir, Para me ouvires cantar! Das ruas que Serpa tem Há uma que tem mais graça. É a das Portas de Beja, Desde o Arco até à Praça! Cantigas de Serpa são Bagos de trigo nascendo. São bocadinhos de pão Que só nos sobra em morrendo!Adeus, ó velhos castelos, Companheiros do luar, Quem me dera já lá ir, Quem me dera já lá ir, Para me ouvires cantar!

p053 - Ó Serpa velhinha (cantiga) por António Santinhos

Ó Serpa, terra velhinha, das muralhas enfeitada!

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Guadalupe é padroeira desta terra abençoada.Tu tens as lindas gargantas, dos cantares tu és rainha.Das muralhas enfeitadas, Ó Serpa, terra velhinha!

Moda Toma lá amor que te manda a prima!Toma lá amor, Toma lá amor que te manda a prima!Um cesto de abraços, Um cesto, os meus braços com beijos em cima!Ó Serpa velhinha, sempre te hei-de amar! Tu tens o castelo, Ele é o mais belo deste Portugal! Tu tens as muralhas, que são as rainhas. Sempre te hei-de amar, de noite ao luar, ó Serpa velhinha!

p056 - Serpa que és minha Terra

Serpa, que és minha terra, vou-te deixar, meu amor! Vou deixar o Alentejo, província que eu mais invejo das papoilas em flor!Das papoilas em flor, lá no mei' desses trigais!Vou deixar os teus cantores, as ceifeiras e os pastores, não sei se voltarei mais!

p058 - Viva o Rei! Viva a Rainha

Viva o Rei! Viva a Rainha! Vivam todos com prazer! Uma festa igual a esta já Serpa não torna a ver!Já Serpa não torna a ver uma festa igual a esta! Viva o Rei! Viva a Rainha! Vivam todos com prazer!

p060 - Cantiga 1 – Despedida, Cantiga 2 - Ó Serpa, tu não és vila* Cantam-se frequentemente com a música de "Ó Serpa do Alentejo"Cantiga 1 – DespedidaCantiga 2 - Ó Serpa, tu não és vila

DESPEDIDA(cantigas*) Despedida, despedida, como fez o passarinho: bateu as asas (asas e), voou, deixou as penas no ninho. Despedida, despedida, sabe Deus quem se despede! Quem se despede cantando tem 'ma despedida alegre. Amanhã me vou embora, e hoje faço a despedida. Adeus, pai, e adeus mãe, adeus, minha rapariga!

CANTIGAÓ Serpa, tu não és vila, nem aldeia, nem cidade. És uma capela de oiro, onde brilha a mocidade!

p048 – Ó Serpa do Alentejo

Ó Serpa do Alentejo,És minha terra natal!És da vilas mais antigas Que temos em Portugal! Que temos em Portugal,Das terras que mais invejo,És minha terra natal(i)Ó Serpa do Alentejo.

p062 - De Aldeia Nova, São Bento

De Aldeia Nova, São Bento, de Pias, Santa Luzia!De Aldeia Nova, São Bento, de Pias, Santa Luzia!De Brinches, Cpnsolação, de Serpa, santa Maria, De Brinches, Cpnsolação, de Serpa, santa Maria.

p064 - Mondadeira Alentejana

Lenço de todas as cores, vai mondando, vai cantando cantigas aos seus amores. E um dia mais tarde, quando chega a ceifa, que alegria! Vai ceifando, vai cantado, passa mais depressa o dia! Passa mais depressa o dia, passa mais depressa a hora. Já lá vem rompendo o dia, Já lá vem rompendo a aurora! Outros versos para a mesma moda, da autoria de António Santinhos: Camponesa alentejana, rainha de Portugal! Trazes as 'spigas de trigono laço do avental!No laço do avental ó minha linda morena!Rainha de Portugal camponesa alentejana !

p066 - As mondadeiras cantando

Quantas papoilas se avistam além naqueles trigais! Quantas papoilas se avistam além naqueles trigais! Tantas como beijos deram mondadeiras e zagais! Tantas como beijos deram mondadeiras e zagais!

Refrão As mondadeiras cantando suas penas e amores, não cantam, estão rezando, num altar cheio de flores. Num altar cheio de flores,cada uma é um desejo. Os anjinhos são pastores, a capela, o Alentejo. Seara, verde seara, mondada com tanto gosto, Seara, verde seara, mondada com tanto gosto és verde na Primavera, e loira no mês de Agosto!

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p068 - Não quero que vás à monda

Não quero que vás à monda, nem à ribeira lavar. Só quero que me acompanhes, ó meu lindo amor, no dia em que me eu casar! No dia em que me eu casar, hás-de ser minha madrinha. Vão quero que vás à monda, ó meu lindo amor, nem à ribeira sozinha!

p070 - Ceifeira, linda Ceifeira

Ceifeira, Ceifeira, linda ceifeira! Eu hei-de, Eu hei-de casar contigo! lá nos cam... lá nos campos, secos campos, lá nos campos, secos campos, à calma a ceifar o trigo. À calma, à calma a ceifar o trigo, pela fô... Pela força do calor! Ceifeira, Ceifeira, linda ceifeira! Ceifeira, linda ceifeira hás-de ser o meu amor! Não é, Não é a ceifa que mata, nem os ca... nem os calores do verão! É a é... É a erva unha-gata, É a erva unha-gata, mais o cardo beija-mão!

CANTIGAS Aqui vou mais a minha prima, minha prima vai mais eu. Por muito que ela me queira, dobrado lhe quero eu! Esta noite choveu prata no bocalinhop do poço. Todas as rosas abriram, menos o meu cravo roxo!

p074 – Melancolia dos campos

Melancolia dos campos, ouço o meu amor cantar, debaixo de um sol ardente, sorrindo, ceifando, até o dia findar! Até o dia findar, que alegria para a gente! Ouço o meu amor cantar, sorrindo, ceifando, debaixo de um sol ardente!

p076 - Moreninha Alentejana

- Moreninha alentejana, quem te fez moren'assim? - Foi o Sol da Primavera que caiu sobre mim! Que caiu sobre mim, andava a ceifar o trigo. - Moreninha alentejana, porque não casas comigo? Porque não casas comigo, Porque não casas com ela? - Quem te fez morena assim? Foi o sol da Primavera!

p078 – Fui-te ver, estavas lavando

Fui-te ver, 'stavas lavando, no rio sem (ter sabão) assabão. Lava-te em água de rosas, fica-te o cheiro na mão! Fica-te o cheiro na mão, fica-te o cheiro no fato. Se eu morrer, e tu ficares, adora-me o meu retrato! Adora-me o meu retrato, estima-me o coração! Fui-te ver, 'stavas lavando, no rio sem (ter sabão) assabão. No rio sem (ter sabão) assabão no rio, sem nada, nada! Fui-te ver, 'stavas lavando, Ó minha prenda adorada! Ó minha prenda adorada, prenda do meu coração! Fui-te ver, 'stavas lavando, no rio sem (ter sabão) assabão.

p080 – O Pastor Alentejano

O pastor alentejano tem seu cão por companhia nos campos do Alentejo onde passa noite e dia. Onde passa noite e dia todos os dias do ano, tem seu cão por companhia, o pastor alentejano. À noite, ouvindo a raposa, o rouxinol no silvado, de samarra e ceifões, encostado ao seu cajado. Encostado ao seu cajado, lá nos campos ao rigor, anda a guardar o seu gado. É a vida do pastor

CANTIGAS De noite, pelas campinas, anda o Sol atrás da Lua. Assim anda a minha sina, meu amor atrás da tua. Sendo eu Sol e tu sombra, qual de nós pode existir? Eu, como Sol te procuro, tu, como sombra, a fugir.

p082 - Toda a vida fui pastor

Toda a vida fui pastor, toda a vida guardei gado. Tenho uma nódoa (cova) no peito, ai, ai! de me encostar ao cajado! De me encostar ao cajado, lá nos campos ao rigor. Toda a vida guardei gado Toda a vida fui pastor!

p084 - O Lírio Roxo

Ao romper da bel'aurora, sai o pastor da (choupana) cabana. Meu lírio roxo, sai o pastor da (choupana) cabana. Gritando em altas vozes:«Muito padece quem ama!» Meu lírio roxo, «Muito padece quem ama!» Chirlo birlo birlo par'amar, meu bem! O rio vai correndo, ai, quem mo dera apanhar! Meu lírio roxo, ai, quem mo dera apanhar! O amor é como o rio, vai e não volta a voltar!Meu lírio roxo, vai e não volta a voltar!

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Badajoz tem lindas damas Portugal também as tem! Meu lírio roxo,Chirlo birlo birlo par'amar, meu bem! O cantar é dos anjinhos, Não ofende a Deus, cantando. É melhor do que andar na vida de outros, falando! Ó amor, amor, ó amor, às vezes os dias piqueninos me parecem meses!Ont'à noite, à meia-noite, ouvi cantar e chorei, era a minha mocidade que tão nova desprezei.

p088 - O Lírio Roxo do Campo

Meu lírio roxo de o campo, criado na Primavera! Desejava, amor, saber, ai, ai! A tua intenção qual era! A tua intenção qual era, desejav'amor saber Meu lírio roxo de o campo, ai, ai! Quem te pudesse colher!A tua intenção qual era, qual era o teu pretender. Meu lírio roxo de o campo, ai, ai! Quem te pudesse ir colher! ...

p090 - Fui passear

Fui passear lá ao teu montinho. Saiu-me uma rosa, olaré! Dançando ao caminho.Como é bonita, como é formosa!Dançando ao caminho, olaré! Saiu-me uma rosa!

p092 - Rosa branca desmaiada

- Rosa branca desmaiada, onde deixastes o cheiro? - Deixei-o no meu jardim, à sombra do limoeiro. À sobra do limoeiro onde não seja regada. - Onde deixastes o cheiro, rosa branca desmaiada?

p094 - Rosa Amarela

Rosa Amarela queixou-se dum cravo que a namorava, que a deixou pr'amar a Branca, porque dela não gostava. Porque dela não gostava, nem a queria p'ra casar. Rosa Amarela queixou-se, queixou-se, deix'à queixar! A rosa depois de seca, foi-se queixar ao jardim. Respondeu-lhe o jardineiro: - Tudo no mundo tem fim. A rosa depois de seca, perde o cheiro, perde a graça. É como a moça solteira, se um dia cai em desgraça.

p096 - Vamos apanhar a rosa

Vamos apanhar a rosa, com abraços e beijinhos! Enquanto se apanha a rosa, não se apanha o rosmaninho. Não se apanha o rosmaninho, não se apanha o alecrim. Vamos apanhar a rosa, meu amor, fica sem mim! «Quem pelo rosmaninho passou e não cheirou, das chagas de Jesus Cristo se não lembrou.»ou «de seu amor não se lembrou.»

p098 - Que inveja tens tu da rosa

Trabalhei enquanto pude, levantei a minha enxada. perdi no campo a saúde, não posso perder mais nada. Que inveja tens tu da rosa, se és linda como elas são? A rainha das «felores» tratadas por tuas mãos.Tratadas por tuas mãos, pelas tuas mãos mimosas. Se és linda como elas são, que inveja tens tu da rosa?

p100 - Uma Flor que abriu em Maio

Uma flor que abriu em Maio, bem abriu, bem se fechou. Um amor que tanto amava gabou-se que me deixou! Gabou-se que me deixou, abram-me as portas, que eu saio! Bem abriu, bem se fechou uma flor que abriu em Maio!

CANTIGAS Ora viva, ora viva, ora viv'à quem chegou! 'Stava para me ir embora, agora já me não vou! Atrás do dia, vem a noite, atrás do Inverno, o Verão. Tudo no mundo renova, só a mocidade não!

p102 - A erva cidreira

Ó erva cidreira, que 'stás no alpendre, quanto mais se rega, mais a silva prende. Mais a silva pende, mais a rosa cheira, que 'stás no alpendre, ó erva cidreira!

Ó erva cidreira, que estás na varanda! Quanto mais se rega, mais a folha abranda!

p104 - A Macela

Lá nos campos, verdes campos, eu hei-de ir colher macela*! Daquela mais miudinha, daquela mais amarela! Daquela mais amarela, daquela mais miudinha! Lá nos campos, verdes campos, da macela*, a mecelinha*.! (*marcela - marcelinha)

p106 - A medronheira no vale

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A medronheira no vale chora a sua solidão. Quem não há-de, amor, chorar a nossa separação? A nossa separação, quem não há-de amor, chorar? Chora a sua solidão, a medronheira no vale! Já no céu não há estrelas, Senão uma ao pé da lua. Tenho corrido, não acho, cara mais linda que a tua!

p108 - O Alecrim

Alecrim, alecrim aos molhos por causa de ti choram os meus olhos! Refrão:Ai lindo'amor, (ou Ai, meu'amor,) quem te disse a ti que a flor do campo era o alecrim? Alecrim, alecrim doirado, que nasce no campo sem ser semeado!

p110 - Vai colher a silva

Vai colher a silva, vai, lindo amor, vai! Se ela te picar, Não digas ai, ai! Não digas ai, ui! Vai colher a silva, vai, que eu também fui! Anda cá pr'àqui, não chores já, mais, que eu 'inda aqui estou para ouvir teus ais!

p112 - Silva que estás enleada

Silva que estás enleada Silva que estás enleada desenleia o meu amor!Desenleia o meu amor! Foste nascida e criada Foste nascida e criada nesses campos ao rigor, nesses campos ao rigor.

p114 - Ó rama, que linda rama!

Refrão:Ó rama, ó que linda rama, Ó rama da oliveira, O meu par é o mais lindo, que anda aqui na roda inteira! Que anda aqui na roda inteira, aqui, e em qualquer lugar! Ó rama, ó que linda rama, Ó rama do olival!Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu. Se houvera quem ensinara, quem aprendia era eu! Não me invejo de quem tem carros, parelhas e montes, só me invejo de quem bebe a água em todas as fontes!

p116 - Lindo Ramo Verde Escuro

Lindo ramo verd'escuro, ó casa dos passarinhos onde cantam docemente poisados nesse raminho!

Poisadas nesse raminho, cantam sempre ao ar puro ó casa dos passarinhos, lindo ramo verd'escuro! Lindo ramo verd'escuro pousada dos passarinhos onde canta alegremente lá no mais alto raminho.Lá no mais alto raminho repirando ao ar puro pousada dos passarinhos lindo ramo verde escuro!

p118 - Ó Amendoeira!

Ó Amendoeira, qu'é dela a tua rama? Ó Amendoeira, qu'é dela a tua rama? Por causa de ti ando eu em má fama! Ando eu em má fama, deixá-lo andar! Ando eu em má fama, deixá-lo andar! Em água de rosas me hei-de lavar!

p120 - A Flor da Laranjeira

A flor da laranjeira dá-lhe o vento e vai-se embora. A flor da laranjeira dá-lhe o vento e vai-se embora. Eu sei , mas não digo, ai, quem ela namora! Eu sei , mas não digo, ai, quem ela namora! Quem ela namora, ai, quem ela namorou! Quem ela namora, ai, quem ela namorou! Ao sair da escola ela a mão lhe apertou! Ao sair da escola ela a mão lhe apertou! Ela a mão lhe apertou, ai, a mão lhe apertaria! Ela a mão lhe apertou, ai, a mão lhe apertaria! Adeus, meu amor! Saudinha! Até um dia!

p122 - A Laranjinha

Sob'acima, ó laranjinha, dá a meia e volta o par! 'inda tu hás-de ser minha, 'inda te hei-de deixar! 'inda te hei-de deixar, 'inda tu hás-de ser minha!Dá a meia e volta o par, Sob'acima, ólaranjinha!

p124 - Uma laranja, duas laranjas

Uma laranja, duas laranjas, três laranjas num raminho. Toma lá esta laranja, que te manda o teu benzinho! Que te manda o teu benzinho,que te manda a tua avó. Uma laranja, duas laranjas, três laranjas num pé só!

p126 - Manjerico Folha Verde

Manjerico Folha Verde dá-lhe o vento, abana, abana. Quem me dera já chamar à tua irmã, minha mana! À tua irmã, minha mana à tua mana, cunhada!Dá-lhe o vento, abana, abana, manjerico folha recortada.

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p128 - Manjerico da janela

Manjerico da janela, dá-me a mão, quero subir! Eu queria falar com ela, mas à porta não posso ir! Mas à porta não posso ir, e eu queria falar com ela! Dá-me a mão, quero subir, Manjerico da janela!

p130 - Eu esta manhã achei

Eu esta manhã achei, debaixo da minha janela, uma cartinha de amor. Li ó lé, quem ficou sem ela?! Li ó lé, quem ficou sem ela, toda cheia de flores?! Eu esta manhã achei uma cartinha de amores!

p132 - Menina que estás à janela

Menina (que) 'stás à janela com o teu cabelo à lua, não me vou daqui embora sem levar 'ma prenda tua!Sem l'var 'ma prenda tua, sem l'var 'ma prenda dela, com o teu cabelo à lua, menina (que) 'stás à janela! Amanhã me vou embora, e hoje faço a despedida. Amanhã me vou embora, e hoje faço a despedida. Adeus pai e adeus mãe, e adeus minha rapariga! Adeus pai e adeus mãe, e adeus minha rapariga!

p134 - O extravagante

Ó luar da meia noite, não digas à minha amada que eu passei à rua dela às quatro da madrugada! Chamaste-me extravagante por eu ter uma noitada. Eu sou um rapaz brilhante, recolho de madrugada. Recolho de madrugada, mesmo agora neste instante, por eu ter uma noitada chamaste-me extravagante!

p136 - Olha a noiva, se vai linda!

Compadre, já te casaste, já o laço te apanhou! Compadre, já te casaste, já o laço te apanhou! Deus queira que sempre digas: se bem 'stava, melhor 'stou!Deus queira que sempre digas: se bem 'stava, se bem 'stava, melhor 'stou! Olha a noiva, se vai linda, no dia do seu noivado! Também eu queria ser, Também eu queria ser, Também eu queria Também eu queria ser casado! Ser casado e ter juízo acho que é um bonito estado!Também eu queria ser, Também eu queria ser, Também eu queria

Também eu queria ser casado! Olha a noiva, se vai linda, olhando p'ró seu vestido! Deixa pai e deixa mãe, vai viver com o seu marido!

p138 - O meio tostão

Ó mei'tostão, deixa lá passar a gente! Cada vez tenho mais notas, cada vez 'stou mais contente! Ó mei'tostão, deixa lá passar quem passa! Cada vez tenho mais notas, cada vez 'stou mais massa!

p140 - Amanhã anda à roda

Amanhã 'nda à roda, já devia andar! São duzentos contos! Quem se quer habilitar?! Amanhã 'nda à roda, na praia do norte! São duzentos contos!Quem se quer habilit'à sorte?!

p142 - Ó tim, ó tlim, tim, tim!

Ó tim, ó tlim, tim, tim! Você não vai lá por causa de mim! Ao romper da bel'aurora, ao piscar do olho é que se namora! Ao romper da bel'aurora, ao piscar do olho é que se namora!

p144 - Lá vai o balão ao ar!

Se ele vai, deixá-lo ir! Ajuntaram-se as moças todas para verem o balão subir. Para verem o balão subir, para verem o balão baixar. Ausentou-se o meu amor, já não há quem saiba amar!

p146 - Estou-me divertindo

'Stou-me divertindo, já me diverti! Não digo mais nada, fico por aqui!

p148 - Rouxinóis, caracóis e bichos móis(Passarada)

Os alegres passarinhos já têm outro cantar, quais, quais oliveiras, olivais, pintassilgos, rouxinóis, caracóis, bichosmóis, morcegos, pássaros negros trombolas, galinholas, perdizes, codornizes, cartaxos e pardais, e cucos milharucos, cada vez há mais!Aprenderam só de ouvir dois amantes conversar. Quais, quais oliveiras, olivais, pintassilgos, rouxinóis, caracóis, bichosmóis, morcegos, pássaros negros

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trombolas, galinholas, perdizes, codornizes, cartaxos e pardais, e cucos milharucos, cada vez há mais!

p150 - Olha o Passarinho

Olha o Passarinho, que bem que ele canta! Quando está cantando, tem uma guitarra dentro da garganta! Olha o rouxinol, foi fazer o ninho dentro do balsedo, p'ra cantar sem medo, olha o passarinho!

p152 - O Passarinho

Algum di' em tendo sede, ia beber ao teu monte, Algum di' em tendo sede, ia beber ao teu mont', agora passo de roda, vou beber a outra fonte, e agora passo de roda, vou beber a outra fonte.E agora passo de roda, vou beber a outra font' Ao romper da bel'aurora eu ouvi o passarinho lamentar sua desgraça, poisado nesse raminho. Poisado nesse raminho, olhando para quem passa, eu ouvi o passarinho lamentar sua desgraça! Quando o rouxinol padece uma ave tão pequena, Quando o rouxinol padece uma ave tão pequena, que fará meu coração, coberto de tanta pena! Que fará meu coração, coberto de tanta pena! Ao romper da bel'aurora eu ouvi o passarinho lamentar sua desgraça, poisado nesse raminho. Poisado nesse raminho, olhando para quem passa, eu ouvi o passarinho lamentar sua desgraça! Quando eu de Serpa abalei, olhei para trás chorando. Quando eu de Serpa abalei, olhei para trás chorando. Adeus Serpa da minh'alma, tão longe me vais ficando! Adeus Serpa da minh'alma, tão longe me vais ficando!

p154 - Levantou-se o mundo inteiro

Levantou-se o mundo inteiro para ver a passarada, que vieram do estrangeiro, esses pássaros negros da pena riscada. Eram da pena riscada, imitavam nos zagais;'té faziam nuvem escura, quando levantavam lá dos olivais!

p156 - O cartaxinho

Levantei-me um dia cedo para ver o cartaxinho, levava palhas no bico, ó meu lindo amor, andava a fazer o ninho. Andava a fazer o ninho debaixo do arvoredo. Para ver o cartaxinho, ó meu lindo amor, levantei-me um dia cedo.

p158 - O Papagaio

Maria, já não vais ao monte, nem beber à fonte, sem ires à beringela.Sem ires à beringela sem ires à Orada. Maria, eu sou teu amor, eu sou teu amor e tu minha amada! Tu minha amada, és amada minha! Maria, olha o papagaio, dessa é que não caio, pena riscadinha!

p160 - A Pombinha Branca

- Ó minha Pombinha Branca! - Onde queres, Amor, que eu vá? É de noite, faz escuro, e eu sozinha não vou lá!Eu sozinha não vou lá,e eu sozinha lá não vou! - Ó minha Pombinha Branca, p'ra te amar ainda aqui estou!

p162 - Atira, Caçador, atira

Atira, caçador, atira à pomba que vai no ar! Ai, ladrão, que me roubaste, 'stando eu para casar! 'stando eu para casar, na igreja a dar a mão!Ai, ladrão, que me roubaste, do meu peito o coração!

p164 - Ó Pavão (coreográfica)

Solo: Ó pavão, lindo pavão, lindas penas o pavão tem! Não há olhos para amar como são os do meu bem!

Coro:Como são os do meu bem, como são os da minha amada! Ó pavão, lindo pavão, ó pavão, pena riscada!

p166 - Os quatro patinhos

Eu tinha quatro patinhos, ai, eu tinha quatro patinhos, que vieram de Loulé, que vieram de Loulé. Vieram de lá p'ra cá, ai, vieram de lá p'ra cá, dançando o saricoté. Ó saricoté, ó saricolá! Ai, vieram de lá p'ra cá! Ai, vieram de lá p'ra cá!

p168 - Lá nos campos cantavam os grilos

Lá nos campos cantavam os grilos, e os galos no seu galinheiro. Lá nos campos cantavam os grilos, gri - gri, gri - gri, seu amor primeiro! Era meia-noite cantava o cuquinho, era meia-noite o cuquinho cantava.

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Era meia-noite cantava o cuquinho, Cú-cú, cú-cú, no seu buraquinho!

p170 - As cobrinhas de água

- As cobrinhas de água são minhas comadres. Quando lá passares, dá-lhe saudades! Dá-lhe saudades, Saudades minhas, quando lá passares, ao pé das cobrinhas! Ao pé das cobrinhas, lá ao pé dos peixes.Só te peço, amor, que nunca me deixes! - Que nunca me deixes? Não te deixo, não!Amor da minh'alma, do meu coração!

p172 - O Milhano

Na margem da ribeirinha, foi o milhano beber.Levava um homem no bico, eu bem no ouvi gemer. Eu bem no ouvi gemer, eu bem no ouvi chirar; Na margem da ribeirinha, foi o milhano pousar.

p174 - Há Lobos sem ser na Serra

Há Lobos sem ser na Serra e eu ainda não sabia! Debaixo do arvoredo trabalho com valentia! Trabalho com valentia, cada qual na sua terra. Eu ainda não sabia, há Lobos sem ser na Serra!

p176 - O comboio

Lá vai o comboio, lá vai, lá vai ele a assobiar, lá vai o meu lindo amor, para a vida militar!Para a vida militar, para aquela triste vida, lá vai o comboio à ponte, leva força na subida! Leva força na subida, leva pressa no andar! L á vai o comboio à ponte, lá vai ele a assobiar!

p178 - Tinhas-me tanta amizade

Tinhas-me tanta amizade, que me não querias deixar! Abalaste p'ra Lisboa, e eu cá fiquei a chorar. E eu cá fiquei a chorar, chorava de uma paixão. Abalaste p'ra Lisboa, Amor do meu coração!

p180 - Vou-me embora, vou partir

Vou-me embora, vou partir e tenho esperança, vou correr o mundo inteiro, quero ir! Para ver e conhecer, rosa branca, a vida do marinheiro sem dormir!

A vida do marinheiro, linda flor que anda lutando no mar(i) com talento! Adeus, minha mãe, adeus, meu amor! Tenho esperança de voltar(i) com o tempo!

p182 - Moda do emigrante

Eu sou um pobre emigrante, chora, linda, linda, chora! Vou de abalada prà França, chora, linda, que eu vou-me embora! Deixei pai e deixei mãe, deixei filhos a chorar. Vou de abalada prà França, tenho esperanças de voltar!

p184 - Eu hei-de ir para o Algarve

Eu hei-de ir para o Algarve Sim, Sim! Hei-de lá estar oito dias, Não, não! Hei-de cantar e bailar, Sim, Sim! Com as moças algarvias, Não, não!

p186 - Estando eu à porta sentado

'stando eu à porta assentado, gozando do fresco, sem ser namorado, passam duas mulatinhas, cabelo à janota, todas catitinhas, - Senhor, que me diz? Senhor, que me quer? Serei seu benzinho, se você quiser! - Ora venha cá, que eu não vou lá! Já fui à Baía, meu bem, ao Pará! Peguei no capote, e fui atrás delas, fazendo meiguices, chamando por elas. - Ora venha cá, que eu não vou lá! Já fui à Baía, meu bem, ao Pará!

p188 - Ó morena!

- Ó morena, pois tu não danças? É porque cansas, ou não tens par? - Meu senhores, venho de França, na minha terra não se usa tal!

p190 - Tenho barcos, tenho remos

Quem embarca, quem embarca? Quem vem p'ró mar, quem vem? Quem embarca, quem embarc'olé, minin'ólé? Quem vem p'ró mar, quem vem? Quem embarca nos teus olhos, que linda maré que tem. Quem embarca nos teus ólé, menin'ólé, que linda maré que tem!

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Tenho barcos, tenho remos, tenho navios no mar! Tenh'um amor tão catit'ólé, menin'ólé, não mo dexõ namorar. Não mo dexõ namorar,Não mo dexõ compar'cer! Se eu com ele não casar, olé, menin'ólé com outro não há-de ser!

p192 - Ai que Praias

Nas ondas do mar, lá fora, tenh'eu quem me queira bem. Nas ondas do mar, lá fora, tenh'eu quem me queira bem. Não é na primeira onda, é na segunda qui vem! Ai que praias tão lindas, tão belas! Era meia noite, eu estava a sonhar, assentado no barco mais ela, namorando à beira do mar!Assentado no barco mais ela, namorando à beira do mar! Ó luar bisbilhoteiro, não me venhas espreitar, Ó luar bisbilhoteiro, não me venhas espreitar, quando estou com o meu amor num barquinho a namorar! Quando estou com o meu amor num barquinho a namorar! Ai que praias tão lindas, tão belas!Era mei noite, eu estava a sonhar, assentado no barco mais ela, namorando à beira do mar!Assentado no barco mais ela, namorando à beira do mar!

p194 - A jovem linda

Onte'à noite à meia noite ouvi cantar e chorei. Onte'à noite à meia noite ouvi cantar e chorei. Er'à minha mocidade, que tão nova desprezei. Er'à minha mocidade, que tão nova desprezei. Só a pena que me existe, minha jovem, jovem linda. É ólhar par'ó teu rosto e ver-te tão crianç'ainda! Ver-te tão crianç'ainda, tão jovem sem teres idade, só a pena que m'existe, minha doce saudade!

p196 - Eu ouvi, mil vezes ouvi

Eu ouvi, mil vezes ouvi. Lá nos campos rufar os tambores. Das janelas me bradam as damas, já lá vou, já lá vou, meus amores!

p198 - Meu amor me deu um Lenço

Meu amor me deu um lenço, pelas suas mãos, pelas suas mãos, pelas suas mãos bordado. Numa ponta tem a Lua, noutra tem o Sol, noutra tem o Sol, noutra tem o Sol pintado!

p200 - O Sol é que alegra o dia

Eu sou devedor à terra, e a terra me está devendo, e a terra me está devendo. A terra paga-me em vida, e eu pago à terra (em) morrendo, e eu pago à terra (em) morrendo! O Sol é que alegra o dia pela manhã, quando nasce!Pela manhã, quando nasce! Tristes de nós, que seria, se o sol um dia faltasse! Se o sol um dia faltasse!

p202 - As nuvens que andam no ar

As nuvens que andam no ar arrastadas pelo vento foram buscar água ao mar pra regar em todo o tempo. Pra regar em todo o tempo, em todo o tempo regar, arrastadas pelo vento, as nuvens que andam no ar.

p204 - Estrelinha do Norte

Anda cá se queres água, que os meus olhos te a darão.É pouca, mas é clara, Estrelinha do Norte! Nascida do coração!

p206 - Dá-me uma gotinha de água

Fui à fonte beber água, achei um raminho verde. Quem no perdeu tinha amores, Quem no perdeu tinha amores, quem no achou tinha sede! Dá-me uma gotinha de água, dessa que ouço correr!Entre pedras e pedrinhas, Entre pedras e pedrinhas, alguma gota há-de haver! Alguma gota há-de haver, para molhar a garganta. Quero cantar com'à rola, quero cantar com'à rola, como a rola ninguém canta!

Pode ver outras (muitas) QUADRAS relacionadas, em http://www.joraga.net/pags/61fontes1.htm

p208 - Não é tarde nem é cedo (Eu ia pela rua)

Quem quer bem dorme na rua à porta do seu amor, Quem quer bem dorme na rua à porta do seu amor, faz das pedras cabeceira, das estrelas cobertor! Faz das pedras cabeceira, das estrelas cobertor! Não é tarde nem é cedo, viestes mesmo a boa hora! Não é tarde nem é cedo, viestes mesmo a boa hora! O meu pai já 'stá deitado, minha mãe deitou-se agora! O meu pai já 'stá deitado, minha mãe deitou-se agora! Não é tarde nem é cedo, viestes mesmo a boa hora! Não é tarde nem é cedo, viestes (chegastes) mesmo a boa hora! Minha mãe já 'stá deitada, O meu pai deitou-se agora!

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Minha mãe já 'stá deitada, O meu pai deitou-se agora! Eu ia pela rua, quando ouvi: Pst! Pst! Eu ia pela rua, quando ouvi: Pst! Pst! E eu logo respondi: (assobio) E eu logo respondi: (assobio) Eu ia pela rua, quando ouvi: Psiu! Psiu! Eu ia pela rua, quando ouvi: Psiu! Psiu! E eu logo respondi: (assobiando) "Fiu, fiu, fiu, fiu, fiu, fiu, fiu!"E eu logo respondi: (assobio) "Fiu, fiu, fiu, fiu, fiu, fiu, fiu!"

p210 - O que levas na garrafinha

- O que levas na garrafinha? O que levas, que tão bem cheira? - Lembranças do meu amor que abala segunda-feira! Que abala segunda-feira, segunda-feira à tardinha! - O que levas, que tão bem cheira? O que levas na garrafinha? Tenho pena, lindo amor, tenho pena! Tenho pena, lindo amor, tenho dó! Tenho pena de não ir à fonte num carro duma roda só! Num carro duma roda só. Num carro duma roda "pequenina"! Tenho pena, lindo amor, tenho pena! Tenho pena de não ir sozinha!

p212 - Foste tu, ó ladrão, ladrão

Fostes tu, ó ladrão, ladrão fostes tu, ó ladrão, ladrão Roubador das chaves do meu coração! Roubador das chaves do meu coração!

(Todo) aquele que não rouba a moça, (todo) aquele que não rouba a moça, Fica sendo o paspalhão, Fica sendo o paspalhão!

Nota: Música segundo a versão recolhida por Rodney Gallop em "Cantares do Povo Português"

p214 - Era Meia Noite (O Ladrão)

Era meia-noite quando o ladrão veio, dando (deu três) pancadinhas à porta do meio, à porta do meio. À porta do meio, à porta da rua, quando o ladrão veio, Já fazia lua, já fazia lua! Já fazia lua, fazia luar. Quando o ladrão veio, Vinha pra roubar, vinha pra roubar!

Vinha pra roubar, mas nunca roubou. Quando o ladrão veio, a mãe deu notícia e o pai acordou!

p216 - Meus Senhores, que rapariga esta!

Meus Senhores, que rapariga esta toda a noite namorou!Eu queria falar com ela o pai quis e a mãe não deixou!

O Bimbas Era o Bimbas, era o pai do Bimbas! Era o Botas, que enganava o Bimbas! Trai, larai, larai, larai,larai! Trai, larai, larai, larai,larai! O pai quis e a mãe não deixou, O pai quis e a mãe não deixava! Meus Senhores, que rapariga esta toda a noite namorava!

p218 - Acorda, Maria, acorda!

No quarto onde me deito tudo são penas voando, No quarto onde me deito tudo são penas voando! Penas trago eu comigo, só as desfaço, cantando, Penas trago eu comigo, só as desfaço, cantando. Acorda, Maria, acorda!Acorda, Mariazinha! Quem tem amores não dorme, Senão de madrugadinha! Ai, senão de madrugadinha!Esta paixão me consome. Acorda, Mariazinha! Quem tem amores não dorme!

p220 - Com que letra se escreve Maria?

- Com que letra se escreve Maria? - Com que letra se escreve coração? - Com que letra se escreve lealdade? - Com que letra se escreve gratidão? - Maria se escreve com um éme. Coração, coração com um cê. Lealdade, lealdade com um éle. Gratidão, gratidãocom um guê.

p222 - Maria Malveira (Ribeira vai cheia)

Maria Malveira, você diz que canta bem. Ele é mais a fama, que à fala que tem! Que à fala que tem, você diz que não me engana! Maria Malveira, ele é mais a fama! Ribeira vai cheia, e o barco parado! Tenho o meu amori, lá daquele lado. Lá daquele lado, e eu cá desta banda! Ribeira vai cheia, e o barco não anda!

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p224 - Minha mãe chama por Ana

Minha mãe chama por Ana, mas a Ana não 'stá lá. - Ó Ana! Ó Ana! - Sinhora minha Mãe, vou já! - Ó Ana! Ó Ana! - Sinhora minha Mãe, vou já!

p226 - Donde vens, ó Ana?

- Donde vens, ó Ana? - Venho da Junqueira! - Cheira-me o teu fato, ó ai! À flor da laranjeira! À flor da laranjeira! À flor do alecrim! Donde vens, ó Ana? ó ai! - Venho do jardim!

p228 - Os olhos da Marianita

Os olhos da Marianita são verdes, côr do limão. Os olhos da Marianita são verdes, côr do limão. Ai sim, Marianita, ai sim! Ai sim, Marianita, ai não! Ai sim, Marianita, ai sim! Ai sim, Marianita, ai não! Deitei o limão correndo, à tua porta parou. Quando o limão te quer bem, que fará quem no jogou!

p230 - Marianita és baixinha

Marianita és baixinha, usas a saia p'la lama. Tenho-te dito mil vezes: levanta a saia, Mariana! Levanta a saia, Mariana! Debaixo dessa sombrinha, Tenho-te dito mil vezes: Marianita, já és minha!

p232 - Ó Matilde, levanta a saia

Ó Matilde, levanta a saia, não a deixes arrojar! Que a saia custou dinheiro, e o dinheiro custa a ganhar! E o dinheiro custa a ganhar, quem ganha dinheiro sou eu! Ó Matilde, levanta a saia, levanta a saia, mando eu!

Música de acordo com a versão recolhida por Rodney Gallop em «Cantares do Povo Português»

p234 - Menina Florentina

Suspirava por te ver, já matei a saudade. Uma ausência custa muito a quem ama na verdade! Ó Menina Florentina, és a flor que em meu peito domina Seu amante delirante de viagem chegou neste 'stante!

Já cá 'stá, tiroliroli, tirolirolé Já cá 'stá, tiroliroli, tiroliroló! Já cá 'stá, tiroliroli, meu amor, tiroliroliro , abre a porta, ó branca flor! Graças a Deus que chegou quem eu desejava ver! Deu palavra, não faltou, assim é que deve ser!

p236 - Aurora (Uma mãe que o filho embala)

Uma mãe que o filho embala, ó meu lindo amor! às vezes põe-se a chorar, ó meu lindo amor, ó meu lindo bem! Só por não saber(e) a sorte, ó meu lindo amor! que Deus tem para lhe dar, ó meu lindo amor, ó meu lindo bem! - Aurora tem um menino, mas tão pequenino, o pai quem será? É o Zé da Aroeira, que foi pr'á Figueira, mais tarde virá! No adro de S. Vicente, onde há tanta gente, Aurora não 'stá. - Cala-te, Aurora, não chores, que o pai da criança mais tarde virá!

p238 - Ó Rosa, (Rita) arredonda a saia

Ó Rosa, arredonda a saia! Ó Rosa, arredonda-a bem! Ó Rosa, arredonda a saia! Olha a roda a que ela tem! Olha a roda a que ela tem! Olha a roda a que ela tinha! Ó Rosa, arredonda a saia! Redondinha, redondinha! Redondinha, redondinha, Redondinha aos caracóis! Esta é que é a moda nova que cantaram os espanhóis! Que cantaram os espanhóis, Que cantaram os franceses! Esta é que é a moda nova dos galuchos portugueses!

p240 - Esta é que era a moda (Rita)

Esta é que era a moda que a Rita cantava, Esta é que era a moda que a Rita cantava, lá na Praia Nova, olaré, ninguém lhe ganhava! Lá na Praia Nova, olaré, ninguém lhe ganhava! Ninguém lhe ganhava, ninguém lhe ganhou! Ninguém lhe ganhava, ninguém lhe ganhou! Esta foi a moda, olaré, que a Rita cantou. Esta foi a moda, olaré, que a Rita cantou. Lá no Alveiral já eu fui juiz. Lá no Alveiral já eu fui juiz. Não casei com Rita, olaré, porque ela não quis! Não casei com Rita, olaré, porque ela não quis!

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p242 - Claudina (Cesaltina)

- Claudina! Claudina! (cantar: Quelaudina)Tua mãe está-te a bradar (chamar)! - Eu bem sei o que ela quer, não me deixa namorar! Não me deixa namorar, ela também namorou! - Claudina! Claudina! - Minha Mãe, lá vou, lá vou!

p244 - Senta-te aqui, ó António

Senta-te aqui, ó António! Senta-te aqui, ao meu lado, nesta cadeirinha nova, feita da raiz do cravo! Feita da raiz do cravo,feita da folha da rosa. Senta-te aqui, ó António, nesta cadeirinha nova!

p246 - Ó Antonio, já lanchaste?

- Ó António, já lanchaste? - Ó minha Mãe, 'inda não! - Ó António, vai lanchar, que eu fico aqui ao balcão! Que eu fico aqui ao balcão! Atendo a freguesia. - Ó minha Mãe, não se engane ao voltar a demasia! Ao voltar a demasia, ao correr do dinheiro falso. Tenho-te dito mil vezes: Ó Maria, pica o passo! Ó Maria, pica o passo, pica o passo miudinho! Se eu por isso te ofendi, perdoa, meu amorzinho!

p248 - José Marques

José Marques, levanta a cinta, assentou (assenta) praça em caçador, já te eu disse, ó José Marques, que não eras meu amor! Que não eras meu amor, sendo tu meu bem primeiro, José Marques, levanta a cinta, assentou (assenta) praça em "alanceiro"! Lá vem a preta ao seu patrão, quem há-de ficar no meio é o paspalhão, é o paspalhão!

p250 - Linda Jóia

Linda Jói'era pastora, andava a guardar o gado. E em vindo à tarde, à tardinha, cantava alegre e sozinha, pensando em seu namorado. Pensando em seu namorado, não pensava em mais ninguém! Em vindo à tarde, à tardinha, andava alegre e sozinha no Vale de Santarém!

p252 - A Tourada

Foste, foste, eu bem sei que foste no domingo à tourada. Ao subir do camarote viram-te a saia bordada. Viram-te a saia bordada, mas que bordado tão lindo! Foste, foste, eu bem sei que foste à tourada no domingo!

p254 - Tira o capotinho

Esta noite nem me deito, só ao fim de ouvir cantar! Esta noite nem me deito, só ao fim de ouvir cantar! Gosto de ouvir o bem feito em certo particular! Gosto de ouvir o bem feito em certo particular! Saia el toiro! Saia el toiro da praça de Monsaraz! Não o piquem! Não o matem! Deixem-no viver em paz! Tira o capotinho, sim, sim, esta noite havemos ver Tira o capotinho, sim, sim, esta noite ao amanhecer!

p256 - Ó Elvas, Ó Elvas!

Ó Elvas, ó Elvas! Badajoz à vista! Já não faz milagres São João Baptista!

p258 - Camponesa, camponesa!

Camponesa, camponesa! Eu sou de Campo Maior. Tenho a minha fala presa, não posso, não posso cantar milhor. E ai, não posso cantar milhor! Não posso cantar milhor, são erros da natureza. Eu sou de Campo Maior, Camponesa, camponesa, camponesa! E ai, camponesa, camponesa!

p260 - Alma, coração e vida (Portel ó lindo Portel)

Portel, ó lindo Portel, terra da minha afeição (paixão)! Quem me dera poder dar-te, quem me dera poder dar-te, alma, vida e coração!Coração, alma e vida, tudo está na tua mão. Nunca vi alma sem vida, nunca vi alma sem vida, nem vida sem coração! Dizem que a folha do trigo é maior que a da cevada. Assim a minha amizade, assim a minha amizade ao pé da tua é dobrada!

p262 - Ai, Baleizão, Baleizão

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Ai, Baleizão, Baleizão! Ó terra baleizoeira! Eu hei-de ir morar contigo, queira o teu pai ou não queira! Queira o teu pai ou não queira! Queira a tua mãe ou não! Ó terra baleizoeira! Ai, Baleizão, Baleizão!

p264 - Já lá vem rompendo a aurora(letra de António Santinhos)

Nestes campos solitários... Nestes campos solitários onde a desgraça me tem. Nestes campos solitários onde a desgraça me tem. Brado ninguém me responde, Olho não vejo ninguém. Brado ninguém me responde, Olho não vejo ninguém. Já lá vem rompendo a aurora, já são horas d acordar! Meu amor vem à janela, que o teu rosto quero beijar! Que o teu rosto quero beijar, assim faz quem adora. Já são horas d acordar! Já lá vem rompendo a aurora!

p266 - Nasce o Sol no Alentejo (letra de José Lopes Gato)

Nasce o Sol no Alentejo, nasce água clara na fonte. Nasce em mim a saudade na ladeira do teu monte! Na ladeira do teu monte, meu amor, quando te vejo, nasce água clara na fonte, nasce o sol no Alentejo!

p268 - Alentejo, que és nossa terra

Alentejo, que és nossa terra, ai quem me dera lá estarmos agora! Mocidade, com saudade, de ouvir cantar, como ouvia outrora! Terra bela, tão desejada, casas singelas de branco caiadas. Eu nunca esqueço, que fostes meu berço, lindo cantinho desta pátria amada!

p270 - Alentejo, Alentejo

Eu sou devedor à terra, a terra me está devendo! Eu sou devedor à terra, a terra me está devendo! A terra paga-me em vida, eu pago à terr'(em) morrendo! A terra paga-me em vida, eu pago à terr'(em) morrendo! Alentejo, Alentejo! terra sagrada do pãão! Eu hei-de ir ao Alentejo, mesmo que seja no Verão.

Ver o doirado do trigo na imensa solidão. Alentejo, Alentejo! terra sagrada do pãão!

p272 - Cantigas01_03Q3 quadras p272 - Cantigas 01 + 3 quadras = 003

Cantando na linda rama, estão dizendo os passarinhos: - Lindo prazer vai provar quem gozar dos teus carinhos! Os alegres passarinhosjá têm outro cantar. Aprenderam só de ouvir, sem ninguém os ensinar. Não pensem por eu cantar, que a vida alegre me corre. Eu sou como o passarinho, tanto canta até que morre.

p273 - Cantigas 02 - 06 quadrasp273 - Cantigas 02 + 6 quadras = 009

Passarinho, que cantais nessa espiga de pão! Cantas tu, chorarei eu, que assim faz quem tem paixão! Passarinho da ribeira, não sejais meu inimigo! Empresta-me as tuas asas,que eu quero voar contigo! Os alegres passarinhos já têm outro cantar. Aprenderam só de ouvir, dois amantes conversar. Vai-te embora, passarinho, de cima desse telhado! Deixa dormir o menino um soninho descansado! Ó águia (lua) que vais tão alta, diz-me lá, que vês daí? Tenho os olhos rasos de água de tanto olhar para ti! Eu queria ser borboleta pra voar como ela voa, voar pelo teu sentido, que o voar dela não soa!

p274 - Cantigas 03 - 01 quadrasp274 - Cantigas 03 + 1 quadras = 010

Os olhos requerem olhos

Os olhos requerem olhos,

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e os corações, corações. Os meus requerem os teus, em certas ocasiões.

p275 - Ccantigas 04 - 04 quadrasp275 - Cantigas 04 + 4 quadras = 014

Algum dia eu era, e agora já não, da tua roseira o melhor botão! Algum dia em tendo sede,ia beber ao teu monte. agora, passo de roda, vou beber a outra fonte! Algum dia, eu pra te ver pulava sete quintais. Agora, pra te não ver, pulo sete e pulo mais! Pus-me a chorar saudades, ao pé de uma fonte, um dia. Mais choravam os meus olhos, que água da fonte corria!

p276 - Cantigas 05 - 01 quadrasp276 - Cantigas 05 + 1 quadras = 015

Eu estava de abalada

Eu estava de abalada, lindo amor, para te ir ver. Armou-se uma trovoada, mais tarde deu em chover!

p277 - Cantigas 06 - 01 quadrasp277 - Cantigas 06 + 1 quadras = 016

Mais tarde deu em chover, sem fazer frio nem nada. Lindo amor, para te ir ver eu já 'stava de abalada!

p278 - Cantigas 07 - 12 quadrasp278 - Cantigas 07 + 12 quadras = 028

Eu tenho quarenta amores, nestas quatro freguesias: dez em Moura, dez em Serpa, dez em Brinches, dez em Pias.Os olhos pretos são falsos, os azuis, enganadores. estes meus, acastanhados, são leais aos meus amores. Ó olhos da minha cara, não olheis para ninguém!

Já que perderam a graça, percam o olhar também! Os olhos da minha cara, já os tenho repreendido. Onde não forem chamados, não sejam intrometidos! Se eu, chorando, restaurasse um amor que já perdi, chorariam os meus olhos lágrimas sem terem fim! Se as lágrimas fossem libras, que por ti tenho chorado, livrava-te, amor, das sortes, não ias a ser soldado! Ó Serpa, pois tu não ouves os teus filhos a chorar? Enquanto teus filhos choram, tu, Serpa, deves cantar! Os olhos do meu amor são duas peras num ramo. São cortados à tesoura, rasgados ao desengano. Quando os meus olhos levantam, para que abaixar os teus? Eu para ti sou um anjo, tu para mim és um deus! Se vires, não te admires, o meu olhar continuado. Não crimines os meus olhos, culpa o teu rosto engraçado! Se o chorar aliviasse, sempre eu estava chorando. Mas o chorar não alivia, p'ra que me hei-de estar matando?Os meus olhos te prenderam, um dia, ao sair da missa. Que prisão tão rigorosa, sem cadeia, nem justiça!.

p279 - Ccantigas 08 - 14 quadrasp279 - Cantigas 08 + 14 quadras = 042

Ó minha Mãe, minha Mãe, ó minha Mãe, minh'amada! Quem tem uma mãe tem tudo, quem não tem mãe, não tem nada! Minha Mãe, velhinha santa, já de cabelos branquinhos! Faz-me tanta falta, tanta, pra lograr os t(s)eus carinhos! Ó minha Mãe, da minh'alma,Ó meu Pai do coração! Por muitos anos que viva, não lhes pago a criação! Não há luz como a do dia, nem estrela como a do Norte. Nem amor como o de mãe, nem paixão como a da morte!

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Esta rua está caiada, quem seria a caiadeira?Foi a mãe do meu amor, com raminhos de oliveira. A rama da oliveira, quando cai no lume, estala. Assim é meu coração, quando, com o teu, não fala. Azeitona miudinha também vai para o lagar. Também eu sou pequenina, mas sou firme no amar! O rouxinol é vadio, faz a cama aonde quer. É como o rapaz solteiro enquanto não tem mulher. À noite, quando me deito, na cama pra descansar, o sono de mim se ausenta, em ti me ponho a pensar. Minha linda mocidade, que eu nela estou enlevada. Duzentos anos que eu viva, minguém me há-de ver casada! A paixão não mata logo, vai moendo a criatura. A paixão que nasce na alma só tem fim na sepultura. Muito custa o não ouvir, muito mais o não falar. Muito mais custa o não ver a terra que há-de pisar. Quem me dera amar um dia, ter amor, ter afeição, ser escrava dar a vida por um terno coração! Quando julgas que vais só pelo alto da montanha, na maior aflição meu coração te acompanha!

p280 - Cantigas 09 - 13 quadrasp280 - Cantigas 09 + 13 quadras = 055

Chorai olhos, chorai olhos, que chorar não é desprezo! Também a Virgem chorou, quando viu seu Filho preso! Dei um ai entre dois montes, reponderam-me as montanhas.Ai de mim, que já não posso sofrer ausências tamanhas! Quando entrares na igreja repara bem pra Jesus. Quem está mais alto que Deus é o letreiro da Cruz. Com pena, peguei na pena, com pena pus-me a escrever.

Caiu-me a pena da mão, com pena de te não ver. Ó António, cravo roxo, não vaias ao meu quintal! que te querem dar um tiro, não te posso ver matar! Pelo cantar da sereia, se perdem os navegantes. Também m'eu perco no mundo pelos teus olhos brilhantes! Adeus Quinta de São Brás, adeus tanque do leão! Onde as moças vão balhar Quinta-feira de Ascensão! Teus olhos, contas escuras, são duas Avé-Marias do rosário de amarguras, que rezo todos os dias.Teus olhos dizem que te ame, meu coração diz que não. Não sei a quem faça a vontade, se aos olhos, se ao coração. Coração que adora dois, que firmeza pode ter? Só se for coração de homem, de mulher, não pode ser! Quando o sobreiro der baga e a cortiça for ao fundo, é então quando se acabam línguas malvadas no mundo! (Quando o sobreiro der baga e a cortiça for ao fundo, só então se acabarão as más línguas neste mundo!)Ó mar alto, ó mar alto, ó mar alto sem ter fundo! Mais vale andar no mar alto do que nas bocas do mundo! Se eu tivesse amores que me têm dado, tinha a casa cheia, até ao telhado!

p281 - Cantigas 10 - 12 quadrasp281 - Cantigas 10 + 12 quadras = 067

Com um A, se escreve Amor, com um R, recordação. Com um L, se escreve o nome, que trago no coração. Sem saber, escrevi teu nome, na fina areia do mar. Vieram as tristes ondas, em teu nome navegar. Do tempo em que andei à escola, mesmo agora me lembrou. Das letras do alfabeto, só o J me cativou.

Page 26: Lista 09

Quem seria que inventou a palavra saudade? Com certeza algum velhinho, recordando a mocidade. Mocidade, mocidade! Mocidade tudo tem. Em chegando a certa idade, até perde o cantar bem! O amor, enquanto é novo, ama com todo o cuidado. Depois da prenda na mão, mostra papel de enfado (d'enfadado)! Ó coração de três penas, dá-me uma, quero voar!Quero ir ao céu e vir, à volta, tornar-te a amar! Este meu doário alegre, que eu tenho pra toda a gente já me tem feito pagar muita culpa injustamente! Saudades não é (um) peso,dá lá muitas a meu bem!Faz-me lá esse favor, que eu já hoje o não verei. Eu gosto de ouvir cantar aqueles que cantam bem. A(À)queles que cantam mal, gosto de os ouvir também! Ó leal, ó lealdade! Bem leal que eu tenho sido! Eu para ti, tão leal, tu para mim tão fingido! Eu julgava que já tinha meu bem fechado na mão. No melhor do meu andar, pus o pé, faltou o chão!

p282 - Cantigas 11 - 14 quadrasp282 - Cantigas 11 + 14 quadras = 081

Se eu soubesse quem tu eras, ou quem havias de ser, nunca te eu teria dado meus segredos a saber. Ó meu amor, quem te disse, que eu por ti suspirava? Quem te disse não mentiu, que eu alguns suspiros dava. Suspiros, ais e tormentos (i)maginaçóes e cuidados, é o manjar dos amantes, quando vivem separados. Suspirando, dando ais, anda meu amor pela rua. Suspira, meu bem, suspira, que a rua também é tua! Não quero que me dês nada, que também nada te dou.

Quero que vivas lembrada do tempo que já passou. Eu hei-de matar quem mente, satisfazer (um)a paixão. Os homens são os que mentem, as mulheres não mentem, não! Quando eu contigo ria, o meu tempo bom passava. Alegre sempre eu vivia, nunca a paixão me estorvava! Eu cuidava, tu cuidavas, éramos dois a cuidar. Eu cuidava do almoço, tu cuidavas do jantar! Desejava ter um dia uma hora virtuosa, pra saber o teu sentido. Ai de mim! Era ditosa! Minha fala, minha fala, minha fala não é esta. A minha fala era boa, esta agora já não presta. Desejava, desejava, ninguém sabe o meu desejo. Desejava ver agora quem há dias eu não vejo! Amei-te, ninguém te amava, não te achavam simpatia. Agora, por minha desgraça, tens uma todos os dias! Eu quero-te tanto, tanto, eu quero-te tanto bem, uma amizade tamanha 'inda não teve ninguém! Há muito que eu desejava ter amores numa horta. Agora que já os tenho, nada no mundo me importa!

p283 - Cantigas 12 - 12 quadrasp283 - Cantigas 12 + 12 quadras = 093

Da minha janela à tua é o salto duma cobra. Tomara eu já chamar à tua mãe, minha sogra! Quem me dera ser a hera, pela parede subir, para chegar à janela do teu quarto d dormir! A laranja caiu na água,de madura, apodreceu. Das moças da minha idade, quem não tem amor, sou eu! O anel que tu me deste, não o dei, nem o vendi; deitei-o à água abaixo, o mesmo te faço a ti!

Page 27: Lista 09

Eu não sei que mal eu fiz ao ladrão do meu amor:passa por mim, não me fala. É de má raça, o estupor! Tenho vinte e três amores, contigo são vinte e quatro. Em chegando ao quarteirão, vendo-os todos a pataco! A ladeira do teu monte é alta, má de subir. Se não fossem os teus olhos, quem me faria aqui vir! Se eu tivesse a liberdade que o Sol e a Lua têm (tem), entrava na tua casa sem licença de ninguém! A minha vida contada faz, amor, chorar as pedras. O que eu faço a teu respeito, ainda em cima me arrenegas! Se tu visses o que eu vi, havias de te admirar: uma cadela com pintos, e uma galinha a ladrar! Tu dizes que me não queres, eu também não quero já. Mudaram os dois sentidos; são voltas que o mundo dá!Trazes tanta vaidade, queira Deus não enlouqueças!Olha que bem que te está malmequeres na cabeça!

p284 - Cantigas 13 - 4 quadrasp284 - Cantigas 13 + 04 quadras = 097

Nestes campos solitários, onde a desgraça me tem, brado ninguém me responde, olho não vejo ninguém!

(Ver DÉCIMA de Inocêncio de Brito:Neste lugar solitário, onde o acaso me tem, brado ninguém me responde, olho não vejo ninguém!) Já não tenho pai nem mãe, nem nesta terra (neste mundo) parentes. Sou filho das verdes ervas, neto das águas correntes. Já no céu não há estrelas, senão uma ao pé da Lua. Tenho corrido não acho, cara mais linda que a tua! Ó lampião da esquina, que dá luz à rua abaixo!Eu perdi o meu amor, e às escuras não o acho!

(ver outra das Beiras: Candeeiro da esquina, alumia cá pra baixo, que eu perdi o meu amor e às escuras não o acho!)

p285 - Cantigas 14 - 5 quadrasp285 - Cantigas 14 + 05 quadras = 102

As estrelas do céu correm todas numa carreirinha. Também os amores correm das tuas mãos para as minhas. As estrelas do céu dizem que eu mesmo é que tenho culpa de amar a quem me não ama, buscar a quem não me busca. O Sol julga que me engana, ele é que é o enganado: quando nasce estou na cama, quando se põe, estou deitado. O limão é fruta azeda que nasce pelos quintais. Toda a mulher que é bonita não é mulher como as mais. Rua abaixo, rua acima, sempre de chapéu na mão. Namorando as casadas, que as solteiras certas são!

p286 - Cantigas 15 - 12 quadrasp286 - Cantigas 15 + 12 quadras = 114

Se fores ao cemitério, entra não peças licença. Verás o rico, do pobre, mesmo lá (ali) fazer diferença. Se fores ao cemitério, tira o chapéu, é devido. Verás o pobre na terra e o rico no seu jazigo. Se ouvires tocar sinais nas altas torres da Lua, não perguntes quem morreu, que fui eu, por causa tua. Se ouvires dizer que eu morro, não tenhas pena, meu bem. Que a morte, duma infeliz, não causa pena a ninguém!

Não quero nada do mundo, senão uma sepultura. Para sepultar meus olhos que nasceram sem ventura. Tanto que me divertia, sem me lembrar de morrer! A morte a tudo dá fim. Quem me havia a mim dizer! O cantar é para os tristes,

Page 28: Lista 09

ninguém deve censurar. Hoje é um dia que eu canto com vontade de chorar. Tenho dentro do meu peito, ao lado do coração duas letrinhas que dizem: morrer sim. Deixar-te, não!Ó minha mãe dos trabalhos, para quem trabalho eu? Trabalho pra Mãe do Céu, que a da Terra, já morreu.Pra toda a parte se escreve, só para o Céu é que não. Queria escrever uma carta à minha mãe do coração. Ó vida da minha vida, ó vida do meu viver!Para que quero eu a vida, se eu nasci para morrer?! Antes que eu casado seja, não me percas a afeição. Posso eu enviuvar e vires parar à minha mão!

p287 - Cantigas 16 - 13 quadrasp 287 - Cantigas 16 + 13 quadras = 127

O cantar não é ciência pra quem tem bonita fala. Não é pra mim que não tenho, custa-me os olhos da cara! Gosto de te ouvir cantar, que tens uma fala boa. Se eu tivesse a tua fala, ia cantar a Lisboa!A minha fala não é a mesma que era algum dia. Quem se casa muda a fala. A minha, do que seria?Vou-me embora, tu cá ficas. Quem te pudesse levar!Se pudesses ir cómigo, não havias (de) cá ficar! Tudo o que é verde se seca, até o lodo do rio. Até a própria amizade em tempos tem um desvio. Tudo o que é verde se seca,

em vindo os calores do V'rão Só as penas reverdecem, amor, no meu coração!A cantiga dos alarves não tem princípio nem fim:começa em lará, lará, acaba em lari, lari! O meu amor ficou de vir antes d lua nascer.

Já o luar vem nascendo e o meu sem aparecer! Amor, se tens pena, chora! Se não tens lenço, eu to dou. Tua mãe de mim não gosta, nosso namoro, acabou... O tempo em que t'eu amei, mais valia pôs na água. Que a água lava, não suja e o amor suja, não lava. 'Inda hão-de nascer os sábios, que digam por que razão, um beijo dado nos lábios (na boca), se sente no coração! Querida, quando eu morrer, vai-me à campa visitar. O mesmo farei por ti, se tu morreres e eu ficar. Perguntei a paz no mundo, fui ao cemitério e vi por cima da porta escrito: Não há paz, senão aqui!

(Ver décima de Inocêncio de Brito: «Fui à procura da paz, só no cemitério a vi. Vi um letreiro dizendo: À (Há) PAZ, mas somente AQUI.»

p288 - Vamos lá saindo

Vamos lá saindo p'r'esses campos fora, que a manhã vem vindo dos lados de aurora!Dos lados de'aurora, a manhã vem vindo. p'r'esses campos fora vamos lá saindo!

p291 - Apendices: - Cancioneiro Infantil - Contos e Lendas - Provérbios - Cancioneiro Religioso

p293 - Apêndice 1 - Cancioneiro Infantil

Apendice 1 - Cancioneiro Infantil - Contos e Lendas - Provérbios - Cancioneiro Religioso

Page 29: Lista 09

p295 - Cancioneiro Infantil - Nota texto

Apêndice 1 - Cancioneiro Infantil

«Como já atrás referi, quando comecei a recordar as canções tradicionais alentejanas ouvidas durante a minha infância, outro tipo de canções me acudiram à memória, as quais não fui capaz de rejeitar, pois elas eram para mim uma parte importante da Serpa desses tempos. Ela vieram, juntamente com imagens do jardim público, o Passeio Camacho Pimenta, onde costumávamos fazer rodas e brincar - à cabra-cega, aos escondarelos, aos quatro cantinhos... - por entre as velhas árvores e os canteiros floridos.

Algumas destas canções, nunca as ouvi senão aqui - "A botica Nova", "Diga lá, minha menina", "Olha a borboleta", "Rosa branca ao peito" e "Venho da Ribeira nova".

Penso que "A Viscondessa" e "Floreira Jardineira" foram também cantadas em outras terras, tendo sobrevivido em Serpa até mais tarde. Já então eu sentia, nestas duas canções, um sabor a outras épocas, simultaneamente arcaico e poético, que me encantava.

Para quem não as conhece, aqui vão algumas indicações: no meio d roda ficava a "viscondessa", e, do lado de fora, o "cavalheiro" ou "cavaleiro". Quando a primeira o mandava voltar atrás, toda a roda se punha a girar em sentido inverso. No final, ele abraçava a dama escolhida.

Também não resisti à tentação de incluir, neste pequeno cancioneiro infantil, outras canções de roda que usávamos e que, soube depois, serem cantadas pelas crianças de toda a parte, embora em variantes um pouco diferentes: "As pombinhas da Catrina", "Ó Senhora Dona Anica" e "Que barca é aquela".

Esta última não era propriamente uma roda, como muitos leitores sabem: formava-se uma "bicha" de crianças atrás da "mãe" e passava entre duas meninas colocadas de frente uma para a outra, com os braços em arco. Estas esforçavam-se por prender a última da fila, que ia então pôr-se atrás de uma das "barqueiras". Quando estavam todas divididas, as duas filas mediam forças, com as crianças agarradas umas ás outras pela cintura, até uma das "cordas" se partir. Além destas canções, outras havia como "o pavão" e "Ó amendoeira", que, tanto eram cantadas por crianças, como em bailes de roda de adultos.

Entendi não destoarem neste capítulo duas lengalengas, com as quais se costumava entreter as crianças muito pequeninas, balançando-as sobre os joelhos. No final do lagarto, a criança e a pessoa adulta puxavam-se

mutuamente as orelhas e, na outra, fazia-se a criança dar bofetadinhas na cara, com as suas próprias mãos.

Estas canções e brincadeiras já se não usam, preferindo-se outras, por vezes bastante insípidas e musicalmente muito mais pobres, no meu entender.

Tenho esperança de estar, por este meio, a contribuir para evitar a perda destas antigas rimas...

p297 - Lengalengas

- Lagarto pintado, quem te pintou!- Foi uma velha que aqui passou. No tempo da eira fazia poeira. - Puxa, lagarto, por aquela orelha! ***- Bichinha gata, (que) comeste já hoje? - Sopinhas de mel.- Não me guardaste! - Sim te guardei! - Com que tapaste? - Com o rabo do gato! - Sape! sape! sape! sape! sape!

p298 - A Viscondessa

- Vim aqui à Viscondessa (Viscondensa) ensinar língua francesa, que a Senhora Viscondesa dá-me uma das suas filhas!

- Eu não dou as minhas filhas,nem por ouro, nem por prata, nem por fios de algodão! Ai, tão lindas que elas são!

- Tão alegre como eu vinha, tão triste que agora vou! A Senhora Viscondessa prometeu-me e faltou!

- Volta atrás, ó cavaleiro, Se queres ser homem de bem! Vai àquele conventinho, e escolhe uma para teu bem!

- Não quero esta por ser rosa, nem esta por ser um cravo, nem esta por ser jasmim, Só quero esta cá pra mim!

p302 - Floreira, Jardineira(Roda infantil)- "Feloreira", jardineira,- "Feloreira", jardineira, o que andas a vender?- O que andas a vender?- Vendo cravos, vendo rosas, Vendo cravos, vendo rosas, raminhos de mal-me-quer! raminhos de mal-me-quer!

Indo eu p'r aqui abaixo, à procura dos amores, encontrei uma laranjeira carregadinha de "felores".

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Sentei-me debaixo dela para o Sol não me crestar. Era meio-dia em ponto, Rouxinol 'stava a cantar. - Rouxinol, que tão bem cantas, quem te ensinou a cantar? - No palácio da Rainha, onde o Rei vai passar! A Rainha foi à fonte, e o Rei vai para o lagar, apanhar conchinhas de oiro para o Infante brincar!

p304 - Na Botica Nova

Na botica nova lá no boticário, canta o pintassilgo, responde o canário.Responde o canário, do alto castelo:- Além vem meu bem, de fato amarelo! De fato amarelo, de fato alvadio. Além vem meu bem, descendo o navio! Descendo o navio, vai para a estação. Além vem meu em, apertar-me a mão!

p306 - Olha a borboleta

Olh'à borboleta que se atira ao ar! Olh'à borboleta que se atira ao ar! A menina Bia (ou outra) (A m'nina Guadalupe)não se quer casar! Não se quer casar, quer morrer donzela. Não se quer casar, quer morrer donzela. Quer levar à cova palmitos e capela!

p308 - Rosa branca ao peito

Rosa branca ao peito a todos 'stá bem! Rosa branca ao peito a todos 'stá bem! À menina Anazinha (Nita ou outra), olaré Melhor que ninguém! Melhor que ninguém, por dentro ou por fora Melhor que ninguém, por dentro ou por fora O menino Domingos (ou outro), olaré! Quem ela namora!

Quem ela namora,quem ela namorou. Quem ela namora, quem ela namorou. Ao sair da escola, olaré, a mão lhe apertou.

A mão lhe apertou, a mão lhe apertaria. A mão lhe apertou, a mão lhe apertaria. Ao sair da escola, olaré, o que mais seria! Cinco senhoras é um altar cheio, duas de cada lado e uma no meio!

p310 - Ó Senhora Dona Anica

Ó Senhora Dona Anica,venha abaixo ao seu jardim! Ó Senhora Dona Anica, venha abaixo ao seu jardim! Para ver as costureiras* a fazer assim, assim! (mímica)* lavadeiras / sapateiras / cozinheiras / alfaiatas / ... Ó Senhora Dona Anica, venha abaixo ao seu jardim! Ó Senhora Dona Anica, venha abaixo ao seu jardim! Para ver os passarinhos a fazer rechi(u), chi(u), chi(u)! A criada lá de cima é feita de papelão! A criada lá de cima éfeita de papelão! Quando vai fazer a camadiz assim para o patrão: - Sete e sete são catorze, com mais sete são vinte e um. - Sete e sete são catorze, com mais sete são vinte e um. Tenho sete namorados e não gosto de nenhum!

p312 - Diga lá, minha menina!

- Menina, que sabe ler, vamos lá a passear! (ou) também sabe soletrar! - Menina, que sabe ler, vamos lá a passear! (ou) também sabe soletrar! Diga lá, minha menina: quantos peixes há no mar? - Quantos peixes há no mar? 'inda lá não fui ao fundo! - Quantos peixes há ni mar? 'inda lá não fui ao fundo! - Diga lá, minha menina: quantos homens há no mundo?

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- Quantos homens há no mundo? todos tiram o chapéu! ou quantos tiram o chapéu! - Quantos homens há no mundo? todos tiram o chapéu! ou quantos tiram o chapéu! - Diga lá, minha menina: quantos anjos há no céu?

- Quantos anjos há no céu? 'inda lá não fui acima! - Quantos anjos há no céu? 'inda lá não fui acima! - Diga lá, minha menina: quantos gomos tem a lima? - Quantos gomos tem a lima? Tem tantos com'ó limão! - Quantos gomos tem a lima? Tem tantos com'ó limão! - Diga lá, minha menina, da raiz do coração!

p314 - As pombinhas da Catrina

As pombinhas da Catrina andaram de mão em mão. As pombinhas da Catrina andaram de mão em mão. Foram ter à Quinta Nova, ao pombal de São João. Foram ter à Quinta Nova, ao pombal de São João.

Ao pombal de São João,à quinta da Roseirinha. Ao pombal de São João, à quinta da Roseirinha. Minha mãe mandou-me à fonte, e eu parti a cantarinha! Minha mãe mandou-me à fonte, e eu parti a cantarinha! Ao passar da ribeirinha, pus o pé, molhei a meia. Não casei na minha terra, fui casar em terra alheia.

Fui casar em terra alheia, podendo casar na minha.Pus o pé, molhei a meia, ao passar da ribeirinha.

Ao passar da ribeirinha,água sobe e água desce. Dei a mão ao meu amor, antes que ninguém soubesse. Se tu és o meu amor,

dá-me cá os braços teus! Se não és o meu amor, vai-te embora, adeus, adeus!

p316 - Venho da Ribeira Nova

- Venho da Ribeira Nova vou regar o laranjal. (ou) passear ao laranjal. 'inda levo uma folhinha no laço do avental.

No laço do avental, na barra do meu vestido! - Lindo amor, eu vou p'ra guerra e desejo falar contigo!

Desejo falar contigo, uma hora não é nada! Entrar pela noite escura e sair de madrugada!

p318 - Que barca é aquela?

- Que barca é aquela que lá vem , lá vem? É uma canoa que vem de Belém. Que vem de Belém, que vem de Benfica, é uma canoa que lá vem, lá fica.- Eu peço ao Senhor Barqueiro que me deixe aqui passar. Tenho filhos pequeninos, não os posso sustentar! - Passará? Não passará? Algum deles deixará! Se não for a mãe da frente (ou) diante será o filho lá detrás... trás... trás...trás!

p321 - Contos, Lendas e Provérbios

Principia este capítulo com o curtíssimo conto do sapo e da zorra, que já se contava quando o meu pai era criança. A raposa ia lavar ao barranco de ChêChôu, como todas as lavadeiras que se prezavam, há muitos anos atrás.Depois, vem a história macabra do Piriquito e da Piriquita, que, na verdade, só os adultos acham macabra. Para uma criança, o facto de um menino ser cortado aos bocadinhos pela própria mãe, ser comido e, finalmente, reconstituído, é a coisa mais natural do mundo!

Havia ainda a história do Era-Não-Era, com muitas peripécias e alguma rima, que nem todos contavam da mesma maneira. Quando a quis escrever, não me

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lembrava dela na totalidade e completei-a com a ajuda de duas versões publicadas em " A Tradição". (Pode ver os 92 Contos publicados em A TRADIÇÃO, digitalizados por joraga em http://www.joraga.net/contos/pags/53_12_Tradicao_Serpa.htm )

Esta revista foi-me também útil na reconstituição do Romance de Dona Silvana. Era-me ele contado, em pequena, por uma criada, que era de Pias e se chamava Úrsula, tal como cerca de um terço das mulheres nascidas naquela aldeia do concelho de Serpa. Outro terço das "pieiras" têm o nome de Luzia e, só o resto, foi baptizado com outros nomes!

Este romance encantava-me pela sua cadência, pela sua rima repetida e, nessa época, também eu o sabia de cor.Contavam-se então muitas histórias de medos, fantasmas e aparições. A mais conhecida era a da Cobra da Marreira. O Medo da Bemposta, que é uma herdade próxima da Vila (onde, actualmente, se processa o ensino agrícola da Escola Secundária), também era muito falado e temido.Ao folhear os exemplares de "A Tradição", verifica-se que, as lendas existentes em Serpa, no início do século, eram numerosas, o que diz muito sobre a imaginação deste povo. Gostaria de, a todas elas, recontar e ilustrar. Porém, este cancioneiro é um registo das coisas que eu conheci directamente, ainda vivas, contadas de boca em boca.

Como tal, servi-me do material ali publicado, apenas para tirar dúvidas ou preencher lacunas da minha memória, aplicando-se o mesmo princípio às consultas realizadas em outros livros indicados na bibliografia anexa. Exceptuam-se as duas lendas sobre a origem do nome de Serpa e as histórias da Cruz Nova, do Senhor Jesus dos Esquecidos e dos santos Próculo e Hilarião em que ouvia falar, mas das quais não teria sabido o conteúdo se as não tivesse lido.Sobre as restantes histórias não se me oferece fazer qualquer comentário.

Note-se que, dada a natureza deste livro, não podia alongar muito as narrativas. Por isso, aquelas que não possuem forma fixa, são contadas resumidamente, contendo apenas o essencial.

p325 - Conto - Era uma vez uma Zorra

Era uma vez uma Zorra. Foi lavar ao Chêchôu. P'lo caminho encontrou um Sapo e disse.- Onde vais compadre Sapo, nesta manhã de geada?- Vou bailar a Campos Verdes.Porca, desavergonhada!

p326 - Piriquito e Piriquita

Era uma vez uma mulher, que tinha dois filhos, um menino e uma menina. Um dia chamou-os e disse-lhes:- Periquito, vai ao azeite! Priquita, vai ao vinagre! Quem chegar cá mais primeiro, leva uma coisinha! Chegou o Periquito. A mãe matou-o e meteu-o debaixo da cama. depois veio a Periquita:- Que é do Periquito? Ainda não veio, mãe?- Não, ainda não veio, mas tu tens de ir levar o jantar ao teu pai. A menina foi ao quarto e viu o irmão morto. Amãe foi para a cozinha e, com ele, fez um jantar para o marido. Depois disse:- Periquita, vai levar o jantar ao teu pai!A menina lá foi, chorando.Pelo caminho, encontrou uma velhinha.- Porque choras, Periquita? - Não hei-de chorar! ... A minha mãe matou o Periquito para fazer o jantar para o meu pai e meteu-o debaixo da cama. E agora eu tenho de ir levar o jantar ao meu pai, feito com o meu irmão!- Não chores! - disse-lhe a velhinha - Todos os ossinhos que o teu pai deitar para o chão, guarda no cestinho e deita-os naquela fontinha!Ela assim fez. E, qual não foi o seu espanto, ao ver sair da fonte o Periquito com um ramo de laranjas na mão!Voltaram para casa. Diz-lha a mãe:- Periquito, dá-me uma laranja!- Não dou, porque me mataste! Diz-lhe o pai:- Periquito, dá-me uma laranja!- Não dou, porque me comeste!Diz a Periquita:- Periquita, dá-me uma laranja!- Toma-as todas, porque me salvaste!

p328 - O Era - Não - era

Era uma vez um Era - Não - Era, que andava lavrando na serra.Veio a saber que o pai era morto a mãe por nascer. Como era uma coisa que não podia ser, pôs os bois às costas e os arados a comer.Foi por um val'abaixo e encontrou um ninho de cartaxo com ovos de abetarda.Deitou-os à burra preta, tirou-os (à) a burra parda. Saíram dois leões, que nem galgões. Foi por um caminho, que ele não conhecia, virou a uma estrada que que ele não sabia e foi pra cima duma oliveira apanhar maçãs. Veio de lá o homem das romãs:

- Quem lhe deu licença de ir apanhar uvas em faval alheio?

Agarrou num torrão, atirou-lhe com um melão, feriu-o num artelho e veio a deitar sangue dum joelho. Foi ali contar uma colmeias e não as deu contadas.

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Pôs-se a contar as abelhas, faltava uma. Foi à procura da abelha, encontrou sete lobos comendo nela. Jogou-lhes a machadinha e os lobos fugiram, deixando uma perna da abelha. Espremeu-a e ainda lhe deu sete canadas de mel! Como não tinha onde o meter, tirou dois piolhos, alvorou-os em dois coiros e fez um surrão para guardar o mel. Foi à pesca à rebêra e apanhou uma burra, com cangalhas e tudo! Pôs o surrão em cima da burra, mas a carga era muita e fez-lhe uma matadura. Foi ter com o alveitar, que lhe ensinou que pusesse um alqueire de favas torradas. Por mó'do calor (por môr de = por causa de) a burra morreu.Daí por algum tempo, passou por aqueles sítios e viu um grande faval nascido no lombo da burra. Voltou no tempo da ceifa e encontrou, dentro do faval, uma porca javarda com sete javardinhos. Atirou-lhe com a foice e o cabo tanchou-se-lhe no rabo (com licença dos Senhores!). A javarda começou a fugir para todos os lados, de maneira que, com o rabo ceifava, com as ventas limpava e com as patas debulhava. Asim, o Era - Não Era colheu uma grande seara, pois atão!

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Pode VER outra versão de A TRADIÇÃO de Serpa, em: http://www.joraga.net/contos/pags/53_12_Tradicao_Serpa_09_oEraeNaoEra.htm que remete ainda para outras versões...

p330 - Romance de Dona Silvana

Andava Dona Silvana pelo seu corredor abaixou, pelo seu corredor acima, tocando numa guitarra. Oh! Que estrondo não fazia!Acordou seu pai da cama, que toda a gente dormia. - O que tendes, Dona Silvana, o que tendes, ó filha minha?- Todas as famílias que tendes são casadas e têm família. E eu por ser a mais formosa, para o canto ficaria! - Não tenho com quem te case, pessoa igual à minha. Só se for o Conde Alberto, mas o Conde tem família. - Pois esse mesmo, meu Pai, esse mesmo é que eu queria! Mande-o o meu pai chamar, de sua parte e da minha.

«Palavras não eram ditas, e o Conde à porta batia. - Que quer Vossa Majestade? Que quer Vossa Senhoria? - Quero que mates a Condessa,pra casares com a minha filha!- Como hei-de matar a Condessa, se ela a morte não merecia?- Mata-a, Conde, mata-a, Conde, não me voltes demasia!E traz-me a cabeça dela nesta dourada bacia! Foi o conde pró palácio, triste como iria.

Mandou fechar as janelas, coisa que nunca fazia. Mandou vestir seus criados de luto à mouraria. Manda a Condessa prá mesa, que este é o último dia. Pôs-se o jantar na mesa, nem um nem outro comia;as lágrimas eram tantas, que pela mesa corriam. - que tendes, ó Conde Alberto, que tendes ò vida minha?- Manda-me El-Rei que vos mate, pra casar com a sua filha! - Cala-te aí, ó meu Conde, que isso remédio teria: manda-me meter numa torre, na mais alta que havia. - Isso não, ó condessa, porque o Rei logo o sabia. - Manda-me deitar ao mar, que as ondas me levariam. - Isso não minha Condessa, que El-Rei logo o saberia. Manda que lhe leve a cabeça nesta dourada bacia.- Deixa-me ir dar um passeio da sala para o jardim. Adeus cravos, adeus rosas, adeus tanque de água fria, onde o rouxinol cantava pela hora do meio-dia! Adeus meu copo de prata por onde eu água bebia. Deixa-me ir dar um passeio da sala para a cozinha. Adeus meus fieis criados, que a mim tanto me queriam! Anda cá, filho mais novo, que te quero dar de mamar. Amanhã por estas horas, vai tua mãe a enterrar! Mama, mama meu menino, este leite de amargura. Que amanhã por esta hora, está tua mãe na sepultura. Mama, mama meu menino,este leite de tristeza. Que amanhã por esta hora serás filho da princesa. - Tocam os sinos da Sé. Ai, Jesus, quem morreria? Responde o menino de peito, que falar 'inda não sabia:- Morreu a Dona Silvana, pelos desmandos que fazia: apartar os bem casados é coisa que Deus não queria!

p334 - A Cobra da Marreira

As Quintas da Marreira e do Fidalgo ficam situadas à saída de Serpa, uma de cada lado da estrada de Beja.

Junto ao muro da Marreira e também, debaixo de uma figueira da Quinta do Fidalgo, há quem afirme ter visto uma cobra muito grande, com cabeça de mulher, de longos cabelos louros e lindos olhos negros. É uma fidalga encantada, chamada Ana e aparece em manhãs de S. João e de Quinta-feira de Ascensão. Mas nem toda a gente é digna de a ver.

Quem a quiser desencantar, terá de sujeitar-se às seguintes três provas, sem mostrar medo:

Primeiro tem que bradar por Ana, que aparecerá em forma de touro, investindo e dando grandes urros. Se resistir a essa prova, o touro vai-se embora e voltará em forma de cão preto.

Se a pessoa vencer o medo, virá então a cobra, que se lhe enroscará à cintura e lhe dará um beijo.Se se assustar, será morto por ela.Se, pelo contrário, mostrar coragem, quebrar-se-á o encanto e, o salvador receberá, como recompensa, todo o tesouro da cobra!

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A história da Cobra da Marreira, ou Cobra da Quinta do Fidalgo, é ainda contada entre o povo. Ela é narrada também em "A Tradição", de Maio de 1904, pelo Dr. Ladislau Piçarra, que relata, a seguir, o caso de três raparigas que, ao atravessarem a Ponte do Pancaio, mo seu caminho para a ceifa, tiveram uma alucinação, tendo ouvido um urro medonho, acompanhado da visão

p336 - O Medo da Bemposta

A pouca distância da Vila, junto à estrada de Beja, situa-se a Herdade da Bemposta.Diz-se que aí se dá uma aparição fantasmagórica, conhecida por Medo da Bemposta, no qual sempre ouvi falar desde pequena, não sabendo em que consistia.Tendo perguntado recentemente a várias pessoas, informaram-me de que não se trata de um fantasma de aparência humana, mas sim de dois enormes cães malhados, rigorosamente iguais, que aparecem sentados no bucal do poço e atacam todo aquele que se atrever a passar por aquelas paragens depois do anoitecer. Por isso, as pessoas evitam passar ali sozinhas em se pondo o Sol, sobretudo os miúdos que, em tardes de Verão, vão às amoras, trepando às árvores, que ladeiam a estrada. Se, acaso, se atrasam um pouco, gritam uns para os outros:- «Fujam! Que aí vem o Medo da Bemposta!»

O Medo do ChêChôu No barranco do ChêChôu, que corre perto de Serpa, enquadrado numa paisagem um tanto sombria, diz-se que parece um fantasma. É descrito como «um medonho tronco humano, muito magro, com olhos escancarados a quererem sair das órbitas.» ** cf "Aparições" pelo Dr. Ladislau Piçarra, em "A Tradição" de Janeiro de 1901. (Ver transcrição em baixo por joraga clicando em Aparições.)

Ainda o Medo da Bemposta e outras Histórias Já eu tinha registado neste Cancioneiro a Lenda do Medo da Bemposta, foi-me contada uma outra história acerca dele, mais ou menos por estas palavras:Jacob ia para a horta, à uma hora da noite e encontrou um chibo preto.O homem disse: "Olha que chibo tão bonito!" E nisto desapareceu, deixando o homem apavorado.Diz o povo que o Medo da Bemposta toma a formas de diferentes animais: um coelho branco que brilha na escuridão da noite, um sapo, cães ou um chibo e que, qualquer deles desaparece de repente, depois de ter sido visto. Sabe-se que o Jacob desta história, num ataque de loucura, matou a mulher e uma filha, suicidando-se de seguida.

Contos de fantasmas e de medos, criados pela imaginação popular, memória que ficou de histórias antigas de crimes, desastres, suicídios. Em Serpa há vários.

Neste registo das coisas interessantes e pitorescas da minha terra, não podia deixar de me referir a mais algumas delas, embora muito resumidamente:Numa casa antiga da Rua de Nossa Senhora, onde se encontra instalado o Quartel da Guarda Fiscal, dizia-se há muitos anos, que havia um tesouro escondido dentro da parede duma chaminé. Um dos moradores que ali viveram resolveu procurá-lo e pôs-se a derrubar a parede num sítio onde se via uma saliência. Mal tinha iniciado o trabalho, começaram a ouvir gritos e gemidos pavorosos. Nem ele nem mais ninguém depois disto tentou encontrar o tesouro!

O velho edifício da Rua da Fonte Santa, onde funciona a Casa do Povo, tem fama de possuir também o seu fantasma, conhecido por «O Capitão» que por lá se passeia a horas mortas. E também há quem diga ter visto vaguear pela vila o espectro do Padre sem Cabeça e, um outro, muito curioso, dum homem aos quadradinhos, os quais, se não tiverem outra utilidade, servem para assustar as crianças que não querem comer a sopa ou cumprir outros deveres que tais.

E ainda uma história antiga:Quem observar a fachada do Palácio Ficalho, do lado virado para Poente, verá duas altas janelas simétricas, as mais altas daquele lado da casa. Notará que uma delas é uma falsa janela, pois está entaipada. Diz a tradição que se encontra assim há muitos e muitos anos, desde que dela caiu uma jovem, filha do Conde de Ficalho, o qual, cheio de desgosto, mandou emparedar aquela janela, para que nunca mais fosse aberta.

Esta é uma versão da lenda criada pela imaginação popular, para explicar um facto que considera estranho - a existência de uma janela entaipada há séculos. Mas há uma outra história, muito mais romântica, segundo a qual se teria ali suicidado uma jovem fidalga, por motivos de amores contrariados. Diz-se que "a Condessinha", como é conhecida, ainda aparece no palácio, vestida de branco, em noites de luar. O que é facto é que, na sala correspondente à dita janela, a que chamam a "Casa da Pólvora", há um arco, no fundo do qual, em certas noites, o luar incide em algumas pedras mais salientes na parede, causando a ilusão perfeita de uma figura feminina de compridas vestes brancas e mãos cruzadas sobre o peito.

APARIÇÕESO mêdo do Chêchôu* cf "Aparições" pelo Dr. Ladislau Piçarra, em "A Tradição", Anno III, Nº 1, Serpa, Janeiro de 1901, Volume III, pp. 10 a 12. (digitalizado por joraga).

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A NORDESTE e muito perto da villa de Serpa, corre do nascente para o poente um pittoresco ribeiro, conhecido vulgarmente pelo nome de barranco do Chêchôu, e cujas margens são revestidas d'alamos, silvas e oliveiras. No sitio em que a estrada que liga Serpa a Pias corta esse ribeiro, ha uma ponte d'alvenaria, que separa dois pégos aonde muita gente vai lavar a sua roupa. A parte do barranco onde fica esta ponte é assaz taciturna, devido á elevação do terreno circumjacente e á presença de velhas e carcomidas arvores. E, a sombrear ainda mais o quadro, accresce o facto d'estarem para ali voltados, um convento em ruinas, outr'ora pertencente á ordem de S. Francisco, e o cemiterio da villa. Pois bem. E' precisamente dos mencionados pégos, juntos á ponte, que costuma emergir - diz a tradição - um medonho tronco humano, muito magro, e com os olhos escancarados a quererem sahir das orbitas. E' o celebre mêdo do Chêchôu. Reza tambem a tradição, que este mêdo vem ali manifestando-se desde antigos tempos. E, ainda hoje, não é raro ouvir dizer que se repetiu o mystico acontecimento. O interessante caso que em seguida publicâmos, corrobóra plenamente o que acabâmos d'apontar. ** *Trata-se duma mulher do povo, B. C..., de 44 annos d'edade, casada, com filhos. Esta mullher é de constituição debil e apresenta um aspecto timido e nevrotico. Diz que vem soffrendo de nervoso desde o nascimento duma filha, ácêrca de 16 annos. Este padecimento é caracterisado por intensas dôres de cabeça acompanhadas de báques. Conta B. C..., que, em 1895, numa tarde d'Agosto, estando a lavar roupa no barranco do Chêchôu, proximo da ponte do mesmo nome, viu que as suas companheiras do lavado se retiraram, deixando-a só acompanhada por uma sua filha, de 11 annos. Neste momento, B. C…, começando a sentir muito susto, disse á pequena que se despachasse, para s'irem embora. Estavam já dobrando a roupa para se ausentar, quando B. C… ouve barulho junto do silvado, que margina o barranco. A principio julgou que seria algum cão dumas ovelhas que andavam pastando ali perto, mas depois, voltando-se para as silvas, conheceu que se enganára, porque tal cão não appareceu. Em compensação deparou-se-lhe no mesmo sitio, por detraz do tronco duma oliveira, um busto d'homem extremamente magro, com as faces muito chupadas e os olhos esbugalhados. Sobre a cabeça deste busto assentava um chapéu, côr de canella. A extranha figura, cravando os seus terriveis olhos em B. C… , tão depressa s'encobria com o tronco da arvore, como se mostrava. B. C..., então, dominada por um grande terror, disse á filha para se retirarem immediatamente, que estava ali uma coisa, mas que não se assustasse. A pequena, logo que ouviu isto, poz-se a gritar, e as companheiras, que já iam no caminho, voltaram atraz para saber o que era aquillo. E, ouvindo contar a B. C… , a historia do que acabava d'occorrer-lhe,

foram examinar o respectivo local, mas, claro está, nada ali observaram que pudesse, nem por sombras, justificar aquella sinistra visão. ** *Da simples leitura da observação acima escrita, conclue-se claramente que B. C... foi victima, na memoravel tarde d'Agosto de 1895, duma allucinação visual. Quanto á genese desta allucinação, comprehende-se muito bem, attendendo a que B. C... é uma pobre e ingenua mulher do povo, dotada dum temperamento accentuadamente nevropathíco. Nestas condições, não admira que B. C…, suggestionada pelo que ouvia contar ácêrca do mêdo do Chêchôu, fosse um bello dia atacada da mesma perturbação nervosa, que tem affligido, e continuará a afligir, as almas fracas e credulas. O presente caso, como muitos outros faceis d'averiguar, prova bem á evidencia o immenso poder da suggestão, em materia d'appaições. E note-se que é uma suggestão em vigilia, perfeitamente natural, e exercendo expontaneamente a sua acção, sem a minima necessidade de recorrer aos processos artificiaes do hypnotismo.

LADISLAU PIÇARRA

p340 - História de Dois Cruzeiros

A Cruz Nova

A Cruz Nova está relacionada, segundo a tradição, com um recontro que se deu entre cristãos e mouros, na encosta do Cerro de São Gens e no qual teria tomado parte o rei D. Afonso II. Era um dia de grande calor. Terminado o combate com a fuga dos mouros, os nossos deram-se conta do desaparecimento do rei.Procuraram-no por toda a parte, temendo pela sua vida, até que o foram encontrar desmaiado, devido ao esforço da luta, à sua grande gordura e ao peso da armadura que, com o sol, se tornara escaldante.Os guerreiros conseguiram reanimá-lo, trazendo-lhe água de um poço existente junto ao Monte Peixoto e que ficou a chamar-se Poço d'El-Rei. D. Afonso mandou erguer, naquele local, uma cruz de madeira, em memória dos mortos no recontro, a qual, mais tarde, o rei D. Dinis mandou substituir por uma Cruz de Pedra, que ainda hoje ali se conserva e que começaram então a chamar de "Cruz Nova".

O Pó da Pedra do Senhor dos Esquecidos

O Senhor dos Esquecidos é uma cruz que se encontra actualmente no cemitério, mas que antigamente estava colocada no Adro de Santa Maria. Ostentando a imagem de Cristo, tem sido sempre objecto de grande devoção.

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Existe, na Igreja de Nossa Senhora da Saúde, um ex-voto datado de Outubro de 1758, segundo o qual um devoto do Senhor dos Esquecidos levou, para a vila de Olivença, um pouco de pó raspado do pé da referida cruz. Tendo dado esse pó como tratamento a vários doentes de sezões e outras maleitas, curaram-se, pelo menos, dezasseis.

p341 - História de Dois Santos (mais dois)

Eram naturais de Serpa estes dois Santos que, segundo a tradição, nasceram numa casa situada no actual Largo de Santa Maria. Próculo era tio de Hilarião e ambos foram martirizados pelos Romanos, no dia 12 de Julho do ano 110*, por não terem querido renegar a Fé Cristã. O local do martírio foi a Horta dos Banhos, que ainda hoje existe a curta distância da Vila.

Um Milagre de São Francisco e Santo António Oralmente e, em documentos antigos, conta-se a seguinte história, acontecida no ano da graça de 1295*:Numa casa, situada onde é agora a Rua da Barbacã, vivia então um casal.

A mulher chamava-se Sara e vivia em grande tristeza, por causa dos desvarios do marido. E tão consumida andava que começou a pensar em pôr termo à vida. Uma noite em que, estando só em casa, já tinha preparado a corda para se enforcar, bateram-lhe à porta dois frades a pedir pousada, dizendo um ser Frei Francisco e o outro Frei António.

Tendo hesitado, a grande devoção, que Sara tinha aos Santos homónimos, fê-la decidir-se e foi preparar-lhes um quarto, assim como qualquer coisa para comerem. Enquanto ceavam, os dois frades iam conversando e tanta bondade irradiavam, que ela sentiu crescer em si uma grande paz. E, quando chegou a hora de se deitar, estava tão cheia de serenidade, que pôs de parte o seu desesperado intento.

Entretanto, na casa onde se encontrava a passar a noite, o marido teve um sonho em que lhe apareceram dois frades, dizendo serem S. Francisco e Santo António, mandados por Deus para o avisarem de que devia mudar de vida, ou morreria dentro de três dias.

Contaram que tinham estado em sua casa e como tinham impedido a mulher de se matar.

Na manhã seguinte, qual não foi a surpresa de Sara, ao ver que os dois frades tinham desaparecido e que as camas não tinham sido utilizadas.

O marido voltou, arrependido das suas loucuras, passando a amar a esposa como ela merecia e, daí em diante, viveram muito felizes.* As datas vêm indicadas nos livros:"Serpa do Passado" e "Arquivos de Serpa", de João Cabral.

p342 - Nossa Senhora de Guadalupe

A pouca distância da Vila, situada no cimo de uma colina de onde o olhar se estende por vastíssimos horizontes, ergue-se a ermida de São Gens, na qual é venerada a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira de Serpa.

Diz uma lenda que, num dia de grande tempestade, indo Nossa Senhora em viagem, com o Menino ao colo, passou por aquele monte e foi pedir pousada ao Santo Ermitão.Ali se abrigaram do temporal e, quando o bom tempo voltou, nossa Senhora gostou tanto do sítio, que ali ficaram para sempre.

Graças incontáveis se atribuem à intercessão da Virgem de Guadalupe, atestadas pelas ofertas que Ela constantemente recebe e pelos peregrinos que, quase todos os dias, percorrem o caminho da ermida.

A mais conhecida de todas é o milagre da Tia Troncanita, em parte, porque a referida velhinha viveu ainda muitos anos para o contar e os seus descendentes ainda vivem entre nós, e também porque ele ficou representado num pequeno quadro, que se conserva na capela e onde se lê o seguinte:

«Este quadro* representa o portentoso milagre que fez N. S. de Guadalupe em obséquio de um menino que ficou sem mãi a poucos dias de ter nascido, é neto de Maria Troncanita, e foi o dia des de Outubro de 1868, que vendo o menino sem sustendo pediu de todo o coração a N. S. a dita avô do menino mulher de 50 anos, que lhe deparasse quem lhe desse de mamar, e ao poco tempo foi tanta a abundância de leite que teve a sua avô, que já ficava satisfeito.»

(Outra notas) Grande é a devoção dos Serpenses à sua Padroeira. Por isso, Maria de Guadalupe é um dos nomes mais vulgares entre as mulheres desta vila. Também usam outros nomes seguidos de "de Guadalupe".

Ela é o refúgio em todas as aflições, motivo de romagem diária, sobretudo em tempo de guerra. Durante a Guerra do Ultramar, os rapazes de Serpa que para lá partiam levavam sempre consigo uma estampa da Senhora de Guadalupe e a ela recorriam nas ocasiões de perigo, narrando, no regresso, como alguma vez tinham escapado da morte, por pouco.

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Já anteriormente, durante a Guerra de 1914 - 1918, os homens, que daqui foram combater em França, tinham idêntica atitude. Mas, sendo uma época ainda próxima da implantação da República, em que a religiosidade era mal vista, conta-se que, no fragor das batalhas, diziam:- «Valha-nos a Mulher Pequenina da nossa terra!»

Receavam que os superiores os castigassem por rezarem. Mas um oficial ouviu-os e quis saber que «mulher pequenina» era aquela, por quem bradavam tão frequentemente. Mandou-lhes então que invocassem abertamente Nossa Senhora d Guadalupe, e, se se salvassem, viriam todos agradecer. E assim foi. Vieram todos esses homens, dizem que até franceses vieram e fizeram uma grande homenagem a Nossa Senhora.

Deve datar dessa altura a cantiga:Virgem Mãe de Guadalupe tem uma fita amarela que lhe deram os soldados quando vieram da guerra. Festa de devoção do povo, nunca deixou de se celebrar anualmente, durante três dias, com início no Domingo de Páscoa.

Até mesmo nos primeiros anos da República, em que foram proibidas as manifestações religiosas. Contam as pessoas desse tempo acerca de uma célebre Tia Canoilas que, acompanhada dum rancho de corajosas companheiras, de foice em punho, foram buscar Nossa Senhora à sua ermida e obrigaram as autoridades de então a consentir na realização das três procissões

p346 - A Serpe do Rio Ana

A Origem do nome de Serpa A Serpe do Rio Ana Existem duas lendas sobre as origens de Serpa e do seu nome.

Segunda uma delas, o nome da vila provém de uma grande serpente alada, que, em tempos remotos, habitava nuns penedos na margem do rio Ana ou Anas, mais tarde chamado Guadiana pelos mouros.A dita Serpe era Senhora de toda esta região e também sua protectora, correndo em auxílio do povo da charneca, sempre que algum perigo o ameaçava.Por isso, quando esses homens concentraram as suas habitações no cimo de um monte próximo, criando um núcleo que foi crescendo, até se transformar numa povoação importante, eles deram-lhe o nome de Serpa e colocaram uma serpente alada no seu brasão de armas.

A segunda lenda sobre a fundação de Serpa é narrada a seguir.

p347 - A Lenda de Serpinea

Não se sabe ao certo em que época foi fundada Serpa.

Ela já existia, com este nome, no tempo dos Romanos e, durante a dominação árabe, chamou-se Sheberina.

Diz uma lenda que esta vila foi fundada pelos Túrdelos, um povo da antiga Bética, proveniente dos Pirinéus.*

Havia um rei dos Túrdelos, Cófilas, que tinha uma filha de rara beleza, chamada Serpínea.

Esta era requestada por Rolarte, rei dos Celtas, de quem não gostava e cuja proposta de casamento recusou, preferindo Orosiano, príncipe dum reino vizinho.

Rolarte, despeitado, atacou esse reino, matando Orosiano e jurou obter Serpínea, viva ou morta.

Cófilas resolveu fazer uma expedição para o Ocidente, procurando instalar-se longe dos Celtas e conseguir uma aliança com os Fenícios, que sabia frequentarem o litoral da Península.

Acompanhado dos seus homens e levando a filha consigo, chegaram uma tarde a uma colina verdejante e arborizada, no sopé da qual se estendia uma imensa planície.

Serpínea gostou tanto do local, que pediu ao pai para ali armarem oacampamento nessa noite e para ali fundarem uma cidade que viesse a ser a nova capital da Turdetânia.

Nessa noite, Cófilas teve um sonho profético, em que o Ocidente e o Oriente se uniriam em Serpínia.

No dia seguinte, os construtores lançaram mão à obra e assim nasceu Serpe.

Daqui, Cófilas partiu para novas expedições, dominando toda a região vizinha e fundou outras cidades a Ocidente, atravessando o Rio Ana e encontrando-se finalmente com os Fenícios, que, nos seus navios, subiam este rio até ao ponto em que vieram a fundar Mirtilis.

Estabeleceu-se um tratado de amizade e em breve Serpínea ficava noiva do belo príncipe fenício Polípio.

Porém, este teve de partir novamente em viagem, prometendo à inconsolável Serpínea, regressar depressa para o casamento.

O rei Cófilas mandou construir, para a filha, que era exímia caçadora, um castelo na serra que se estende ao Sul de Serpe, onde ela passa longas temporadas, passeando pelo campo e caçando.

O palácio ficava situado na margem duma ribeira. Chamava-se Castelo das Loendreiras e possuía lindos jardins.

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Foi ali que o cruel Rolarte, nunca esquecido do seu juramento, foi atacar os guerreiros de Cófilas, pretendendo raptar Serpínea. Esta, prevenida pela sua aia fiel, que desconfiara de uns mercadores celtas recém-chegados, mandou pedir reforços a Serpe.Polípio também chegou providencialmente, salvando a noiva do seu perseguidor que, feriso de morte, foi arrastado pelas águas da ribeira.Serpínea e Polípio casaram, o que foi motivo de grandes festejos. Porém, não puderam ficar aqui para sempre. Um dia, despediram-se da terra onde tinham sido felizes e embarcaram em Mirtilis, a caminho da longínqua Fenícia, onde viveram, por longos anos, muito felizes. * Na narração desta lenda, baseei-me em "Serpínea e a Fundação de Serpa" de C. Gonçalves Serpa.

LENDAS DE PORTUGAL 2: A Lenda de Serpínia João Cabral, Arquivos de Serpa - Edição Câmara Municipal de Serpa Era uma Vez... uma jovem e linda Princesa, muito linda, chamada Serpínia, que vivia nas terras do outro lado da Ibéria, lá para os altos Pirinéus. Seu pai, Cófilas, rei dos túrdulos, tribo da Ibéria, era um homem bom.Num País vizinho, vivia um outro rei, de raça, celta, que era cruel e muito ambicioso, Rolarte de seu nome, que quando viu a formosa princesa quis casar com ela. Mas a princesa não se agradou dele.Um dia um Príncipe, Orosiano, visitou o Rei Cófilas e a sua filha Serpínia. Os dois príncipes gostaram um do outro e combinaram casar. Mas o rei Rolarte, quando soube, não gostou que Serpínia fosse dada em casamento a Orosiano e jurou vingar-se tratando logo de reunir os seus soldados e de fazer guerra a Orosiano. O Noivo de Serpínia morreu e Rolarte ficou ferido.O Rei dos Celtas não ficou satisfeito com a morte de Orasiano a jurou fazer guerra ao pai de Serpínia, mas este, informado do que Rolarte preparava, abalou para as longínquas paragens da outra banda da Península Ibérica.E andaram, andaram até chegarem a um sítio onde a Princesa se sentiu encantada com as formosas Terras que seus belos olhos avistavam. Campos recobertos de luxuriantes verduras, flores campestres a perfumarem os ares que respirava, tudo prenunciando abundância de água, de terras férteis, ubérrimas. Serpínia logo deu parte a seu pai de que gostava destes sítios. Cófilas examinou a região. Tudo aparentava terras fartas e amenidade de clima. Perto corria o Ana. Por toda a parte se viam Oliveiras, muitas Oliveiras, a garantir alimento, untura, tempero e luz na candeia. E logo ali acamparam e escolheram local para construir uma cidade que ficou a ser a capital de novo reino. E, em homenagem a Serpínia, a formosa filha do Rei Cófilas, a nova cidade se ficou chamando Serpe.

Esta seria a capital da Turdetânia, o novo reino criado na região do Ana, hoje chamado Guadiana, e que se estendia até ao mar.Tempos depois chegou a Serpe a notícia da vinda até um Porto do Ana, aonde chegavam as águas salgadas do mar, de barcos Fenícios - povo de navegadores que vivia no Norte de África. Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidadela a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.Em um dos barcos vinha um Príncipe, jovem guerreiro e bem parecido, que ao ver Serpínia se apaixonou por ela. E Serpínia amou Polípio, o belo Príncipe Fenício. E logo ficaram noivos.Polípio regressou à Fenícia. E Serpínia, enquanto esperava o seu noivo, dedicava-se à caça pelo que seu pai lhe construiu, à beira do Rio Limosine, que ia desaguar no Ana, um castelo onde ela ficava quando ia caçar. Ali havia muitos loendros e Serpínia deu à sua nova casa o nome de Castelo de Loendros. Serpínia já tinha esquecido Rolarte, mas Rolarte não esquecera Serpínia, nem a vingança de que lhe jurara.E uma noite, noite escura como breu, o Castelo dos Loendros foi atacado por Rolarte e os seus soldados. Mas o Rei dos Celtas foi vencido pelos soldados de Cófilas que guardavam o castelo de Serpínia. Com medo de novos ataques a princesa mandou aviso ao pai, que estava em Mirtilis, que hoje se chama Mértola, o qual regressou com muitos soldados, e que esporeando os seus corcéis corriam a toda a brida na companhia de Polípio, o príncipe noivo, que já tinha regressado da Fenícia para as bodas com Serpínia. Rolarte voltou a assaltar o castelo mas este, que tinha agora muita tropa, venceu os soldados de Rolarte e o Rei dos Celtas fugiu e foi morrer afogado no Ana. Serpínia casou com Polípio e os noivos foram para a Fenícia. Serpe, que recorda a linda princesa Serpínia e que sempre manteve o seu nome, é hoje Serpa. João Cabral, Arquivos de Serpa - Edição Câmara Municipal de Serpa.

Outra versão emhttp://esoterismo-kiber.blogs.sapo.pt/122339.html

Era uma vez... uma jovem e linda princesa, chamada Serpínia, que vivia nas terras do outro lado da Ibéria, lá para os altos Pirenéus. Seu pai, Cófilas, rei dos túrdulos, tribo da Ibéria, era um homem bom.Num País vizinho, vivia um outro rei, de raça celta, que era cruel e muito ambicioso, Rolarte de seu nome, que quando viu a formosa princesa quis casar com ela. Mas a princesa não se agradou dele.

Um dia um Príncipe, Orosiano, visitou o Rei Cófilas e a sua filha Serpínia. Os dois príncipes gostaram um do outro e combinaram casar.Mas o rei Rolarte, quando soube, não gostou que Serpínia fosse dada em casamento a Orosiano e jurou vingar-se

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tratando logo de reunir os seus soldados e de fazer guerra a Orosiano. O Noivo de Serpínia morreu e Rolarte ficou ferido.

O Rei dos Celtas não ficou satisfeito com a morte de Orosiano a jurou fazer guerra ao pai de Serpínia, mas este, informado do que Rolarte preparava, abalou para as longínquas paragens da outra banda da Península Ibérica.

E andaram, andaram até chegarem a um sítio onde a Princesa se sentiu encantada com as formosas Terras que seus belos olhos avistavam.

Campos recobertos de luxuriantes verduras, flores campestres a perfumarem os ares que respiravam, tudo prenunciando abundância de água, de terras férteis, ubérrimas.

Serpínia logo deu parte a seu pai de que gostava destes sítios. Cófilas examinou a região. Tudo aparentava terras fartas e amenidade de clima. Perto corria o rio Ana (Guadiana).

Por toda a parte se viam muitas Oliveiras, a garantir alimento, untura, tempero e luz na candeia.

E logo ali acamparam e escolheram local para construir uma cidade que ficou a ser a capital de novo reino. E em homenagem a Serpínia, a formosa filha do Rei Cófilas, à nova cidade se ficou chamando Serpe (Serpa).

Esta seria a capital da Turdetânia, o novo reino criado na região do rio Ana, hoje chamado Guadiana, e que se estendia até ao mar.

Tempos depois chegou a Serpe a notícia da vinda até um Porto do rio Ana, aonde chegavam as águas salgadas do mar, de barcos Fenícios – povo de navegadores que vivia no Norte de África.

Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cadeia a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.

Em um dos barcos vinha um Príncipe, jovem guerreiro e bem-parecido, que ao ver Serpínia se apaixonou por ela. E Serpínia amou Polípio, o belo Príncipe Fenício. E logo ficaram noivos.

Polípio regressou à Fenícia. E Serpínia, enquanto esperava o seu noivo, dedicava-se à caça pelo que seu pai lhe construiu, à beira do Rio Limosine, que ia desaguar no rio Ana, um castelo onde ela ficava quando ia caçar.

Ali havia muitos loendros e Serpínia deu à sua nova casa o nome de Castelo de Loendros.

Serpínia já tinha esquecido Rolarte, mas Rolarte não esquecera Serpínia, nem a vingança de que lhe jurara. E uma noite, noite escura como breu, o Castelo dos Loendros foi atacado por Rolarte e os seus soldados. Mas o Rei dos Celtas foi vencido pelos soldados de Cófilas que guardavam o castelo de Serpínia.

Com medo de novos ataques a princesa mandou aviso ao pai, que estava em Mirtilis, que hoje se chama Mértola, o qual regressou com muitos soldados, e que esporeando os seus corcéis corriam a toda a brida na companhia de Polípio, o príncipe noivo, que já tinha regressado da Fenícia para as bodas com Serpínia.

Rolarte voltou a assaltar o castelo mas este, que tinha agora muita tropa, venceu os soldados de Rolarte e o Rei dos Celtas fugiu e foi morrer afogado no rio Ana. Serpínia casou com Polípio e os noivos foram para a Fenícia.

Serpe, que recorda a linda princesa Serpínia e que sempre manteve o seu nome, é hoje Serpa.

PROF. KIBER SITHERC

Pode ver a digitalização da obra "Serpínea e a Fundação de Serpa" de C. Gonçalves Serpa em

http://www.e-libro.net/libros/libro.aspx?idlibro=1942

p350 - Ditos e Provérbios

Mãe! Desamasse que o forno caiu!

Foi como as migas dos Lopes: não sobraram nem faltaram!

Serpa, Serpente! Boa terra, melhor gente!

Onde é p'ràqui Chêcchôu?

Ficou mais contente que um Baleizoeiro!

Triste vida a dum pastor!

- Salve-os Deus! - Deus o salve!

Se queres cear com gosto, vai ver a seara ao Sol-posto!

No Alentejo, a fome vem de barco.

Em Janeiro, sobe ao outeiro. Se vires terrear, põe-te a cantar! Se vires verdear, põe-te a chorar!

Seara deitada, levanta o dono.

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Um prato de ganhão.

De Moura, nem bom vento, nem bom casamento!

Foi preciso um cão e um furão!

Pra velhos e pra moços, ninguém olha.

Ah! Pobre e mouco!

Seu grande javardo! Chaparro!

- Eh, compadre! Que tal escapaste por Lisboa?

- Só bem! Arranjei trabalho e tenho uma moça só bonita!

A vida de um lavrador é uma vida de ais.

Quando calma faz em Beja, aqui não lhe tem inveja.

- (A) como vendes os capachos?

- Conforme parv'os acho! (ou - Conforme parvos acho!)

Sinal no peito, mulher de respeito.

Divide-se o mal pelas aldeias!

Notas sobre alguns ditos e provérbios

"E agora, mãe, desamasse, que o forno caiu!" - costuma fazer-se este comentário perante um acontecimento irreparável, sobretudo, quando a pessoa que fala, se opôs previamente a outra, por culpa ou negligência da qual ele se deu.

"Foi como as migas do Lopes... " diz-se duma coisa que foi calculada mesmo à justa.

"Onde é p'ràqui Chêchôu?!" - aplica-se a alguém que quer dar-se ares de importância, sobretudo a pessoa que se considera muito evoluída, por ter ido viver para Lisboa.

"No Alentejo, a fome vem de barco!" - surpreendentemente, nestas terras tão secas, os anos muito chuvosos são, em geral, maus anos agrícolas, pois, durante o longo ciclo da vida das searas, sempre há-de chover numa altura em que lhes faça mal.

"Em Janeiro, sobe ao outeiro..." - significa que as searas precocemente desenvolvidas, se encontram mal enraizadas.

"Como vendes os capachos?..." aplica-se ao pantomineiro, ao trampolineiro, que usa critérios diferentes, conforme as pessoas com quem trata.

"De Moura, nem bom vento..." - que os Mourenses não fiquem ofendidos pela divulgação deste provérbio! Ele é reflexo da rivalidade inevitável entre duas povoações vizinhas e de importância semelhante. É verdade que o vento que sopra de Moura, situada mais ou menos a Nordeste de Serpa, é muito frio no Inverno (nesses dias, ouve-se as pessoas queixarem-se: "Está cá um charôco!"), e às vezes o céu põe-se quase preto daquelas bandas, armando-se trovoadas. Mas quanto aos casamentos, conheço alguns - não muitos, diga-se de passagem, talvez por culpa do provérbio - entre os naturais das duas vilas, os quais foram bem sucedidos!

A mesma ideia de coisas desagradáveis ligadas à vila vizinha (à data da publicação, Moura já é cidade) está na origem da expressão:

"Chegaram as primas de Moura.", ou "Estou com as primas de Moura" que as mulheres de Serpa usam quando querem dizer que estão com a menstruação. E também dizem, noutras circunstâncias e, com ironia, como não podia deixar de ser:

"É fina! Como o azeite de Moura!"

Ignoro se, em Moura, existem ditos semelhantes em relação a Serpa!

"Foi preciso um cão e um furão!" - Foi mesmo difícil de conseguir.

"Pobre e mouco!" - caem-lhe em cima todas as desgraças.

"Se queres cear com gosto..." - é, de facto, extraordinariamente, belo o efeito dos raios de sol, já baixo, reflectidos num mar de praganas de trigo doirado, a ondular.

E para terminar este capítulo, mais uma quantas frases pitorescas:

"É como os de Baleizão, não vê as coisas, senão na mão!"

"Quem quer meninas bonitas, compra-lhe enfeites!"

"Quando o ano é de leite, até os chibos o dão!"

"Dormi que nem um raposo!"

"Quem tem de morrer em palheiro, não lhe erra a porta!"

"Dois pobres a uma porta, um fica sem esmola!"

"Quem caça com o coração, é dono do furão!"

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"Uma vez, uma vez boa!"

«Disse "romas e catalomas"»

p357 - Cancioneiro Religioso

Abre este Cancioneiro com os "CANTES" ao Deus Menino, as Janeiras e os Reis, que, até há alguns anos, eram cantados por ranchos de homens, pelas ruas, respectivamente nas noites de 24 e 31 de Dezembro e 5 de Janeiro.

Ao serão, ouvia-se bater à porta: "A Senhora, quer que cante?"

Estavam no pátio e a casa enchia-se com aquele coro de vozes fortes, graves e seguras. No fim, dava-se-lhes dinheiro ou algo que servisse para a ceia. Um ano, fui escrevendo o que eles cantavam. As palavras arrastavam-se tanto, que os cantores cortavam algumas delas para respirar. Os versos, às vezes, parecem não fazer sentido - com o tempo devem-se ter perdido palavras ou estrofes inteiras, deturpando-se outras.

Terminavam com uma quadra dedicada aos donos da casa.

Actualmente, o costume de cantar pelas portas desaparecu.

Numa tentativa de de fazer reviver os Cantes, componentes do Grupo Coral e Ertnográfico da Casa do Povo de Serpa, ainda foram, alguns anos, cantar o do Natal, no final da Missa do Galo, enquanto os fiéis iam beijar o Menino. Com as belas condições acústicas destas igrejas, resultaram uns concertos maravilhosos.

Tiveram, talvez, origem nos vários Conventos da Vila os cânticos usados nas preces de São Francisco, pedindo a chuva e o de Nossa Senhora das Dores, cuja festa se celebrava em Sexta-feira da Paixão, na Igreja de São Paulo, anexa ao Convento dos Paulistas, hoje pertença da Misericórdia e Hospital Distrital.

Incluem-se dois hinos a Nossa Senhora de Guadalupe, a quem alguns chamam "de Aguadalupes" se calhar, porque as nuvens que vêm do lado da sua ermida, quase sempre deitam água.

A maioria das crianças de Serpa vão, pelo menos uma vez na vida, vestidas de anjinho, de Nossa Senhora ou de algum santo, na festa da Padroeira.

Quando os sinos tocam Aleluias, na noite de Sábado Santo, ouvem-se os primeiros foguetes da Páscoa e acendem-se as iluminações, dando também início à festa

da Senhora de Guadalupe, que dura três dias. À hora das procissões o foguetório redobra e acontece ver-se um ou outro anjinho chorando com medo, ou tapando os ouvidos por causa do barulho. Numa dessas festas, lembro-me de ver um anjinho que, extenuado da caminhada, se sentou num degrau dum banco da igreja e adormeceu profundamente.

Os cânticos que mencionei são tradicionais (excepto o segundo em honra de Nossa Senhora de Guadalupe), e, todos eles, eu ouvi, desde a minha infância.

Existem agora, porém, mais alguns cânticos religiosos alentejanos, que há poucos anos se começaram a ouvir nas nossas igrejas. Eles foram recolhidos em várias terras do Baixo Alentejo, inclusive em Serpa. Estavam a cair no esquecimento e apenas as pessoas mais velhas os conheciam já. Os autores da recolha foram os padres de Beja António Aparício e António Cartageno, que os ensinaram ao Coro da Igreja do Carmo, daquela cidade, o qual os divulgou, passando a cantar-se em todo o Alentejo. A sua gravação em cassetes muito contribuiu para os tornar conhecidos. Na maioria dos casos, a letra desses cânticos é moderna e adaptada à liturgia; a música é autenticamente popular e alentejana. No meu entender, merece referência especial o lindíssimo cântico de quaresma "Além vai Jesus", certamente de proveniência conventual e influência gregoriana.

Estes cânticos encontram-se aqui agrupados na mesma secção e devidamente assinalados. Alguns cantam-se durante a Missa, existindo vários próprios para a Comunhão.

Hesitei em incluí-los neste livro, pois não estava nos meus planos utilizar a recolha de outras pessoas. Porém, também eles passaram a fazer parte do meu conhecimento e experiência, uma vez que os ouvia em público. Se eles não existissem na forma escrita, tê-los-ia eu passado ao papel. O facto de haver um caderno com as músicas acompanhando as cassetes poupou-me trabalho e limitei-me a transcrevê-las, louvando a iniciativa de quem se dedicou à tarefa de as conservar. Contudo, dessa colectânea, que contém numerosas canções, escolhi apenas as que se têm cantado em Serpa.

Quem lá esteve, não poderá esquecer estes coros cantados em Fátima, durante as peregrinações da Diocese de Beja - um solista de voz bem castiça, aliás natural do Concelho de Serpa, alternando com as vozes fortes e bem timbradas de cinco mil alentejanos.

Toda a gente parava para ouvir!

O cancioneiro religioso termina com algumas orações populares e encomendações. A denominada "Confissão" e A Vinda do Senhor" foram-me ditadas, há anos, por uma velhinha, agora falecida, a Tia Pepa Lampreia, que tinha,

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na sua casa um trono de Santo António, permanentemente florido e alumiado, e se encarregava de fazer preces por quem lho pedia.

p362 - Moda do Deus Menino

Entre as portas da igreja, 'stá uma mulher cosendo,Entre as portas da igreja, 'stá uma mulher cosendo,'stá fazendo a camisinha p'ró Deus Menino, em nascendo. 'stá fazendo a camisinha p'ró Deus Menino, em nascendo.

Ai li, ai li, ai li, ai li, ai lé! Menino nascido é!

Caminhando vai José, caminhando vai Maria, tanto caminham de noite, como caminham de dia.

Ai li, ai li, ai li, ai li, ai lé! Menino nascido é!

São chegados a Belém, já toda a gente dormia. Só um portal 'stava aberto, onde o gado recolhia.

Ai li, ai li, ai li, ai li, ai lé! Menino nascido é!

Entrai, pastorinhos, entrai, por este portal sagrado, vinde vê-lo, Deus Menino, entre palhinhas deitado!

Ai li, ai li, ai li, ai li, ai lé! Menino nascido é!

Que havemos de dar ao Menino, nesta noite de Natal? Camisinhas de Bretanha com paninhos de vestal.

Ai li, ai li, ai li, ai li, ai lé! Menino nascido é!

O Menino está na neva, e a neve o faz tremer. Menino Deus da mih'alma, quem te pudesse valer!

Ai li, ai li, ai li, ai li, ai lé! Menino nascido é!

Lá no palácio real, e uma estrela baixou. Visitá-lo, Deus Menino Que Deus ao mundo mandou.

Ai li, ai li, ai li, ai li, ai lé! Menino nascido é!

José embala o Menino, que a Senhora logo vem, Foi lavá-los cueirinhos à fontinha de Belém.

Ai li, ai li, ai li, ai li, ai lé! Menino nascido é!

p366 - As Janeiras

Esta noite é de Janeiras, é de grande mer'cimento. Por ser a noite primeira em que Deus passou tormento!

Os tormentos que passou de Sua livre vontade, o Seu Sangue derramou pra salvar a Cristandade!

O Seu Sangue derramou, Seu sangue derramaria pra salvar a Cristandade, São Pedro, Santa Maria!

Ao fim de séc'luos passados foram ver à sepultura. Acharam ossos mirrados, o sinal da criatura!

Esta casa está juncada com ramos de erva cidreira. Deus lhe dê muita saúde, e à sua família inteira!

Esta noite de Ano Novo é de tão alto valor. Deus lhe dê muita saúde e o pão ao Sr. Doutor!

Viva o Sr. Dr. Carlos que vela pelos pobrezinhos Deus lhe dê muita saúde pra criar os seus filhinhos!

Esta casa está juncada com junquilhos da ribeira. Viva o dono desta casa,

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mais a sua companheira!

p368 - Os Reis

- Quem são os três cavalheiros que fazem, que fazem sombra no mar? - Sã'nos três do Oriente que a Jesus vêm buscar!Não perguntam por pousada, nem onde, nem onde ir pernoitar. Só precuram'no Deus Menino, aonde, aonde O irão achar?Foram-no achar em Roma, revesti- revestido no altar, com seis mil almas de roda, todas pa-, todas para comungar! Missa nova quer dizer, Missa no- Missa Nova quer cantar. São João ajuda à Missa, São Pedro, São Pedro muda o missal!

p370 - Bendita e Louvada seja

Bendita e Louvada seja a Sagrada Paixão do amado Jesus para não se perderem as almas deu-se por todos e a Virgem. Deus nos braços da Cruz. Senhor Deus, misericórdia! Santa Mãe de Deus, rogai por nós!

* De acordo com os «Cânticos Religiosos Alentejanos» - 2º volume - Comissão Diocesana de Liturgia e Música Sacra de Beja - Novembro de 1980.

p370 - Cântico a S. Francisco

Ó São Francisco, rogai por nós, e protegei os nossos campos! O mundo inetiro espera por vós! Ó São Francisco, rogai por nós!

Ó São Francisco, rogai por nós, e protegei a nossa terra! O mundo inteiro espera por vós! Ó São Francisco, rogai por nós!

Ó São Francisco, rogai por nós, e protegei as nossas famílias! O mundo inteiro espera por vós! Ó São Francisco, rogai por nós!

Ó São Francisco, rogai por nós, e protegei a nossa freguesia! O mundo inteiro espera por vós!

Ó São Francisco, rogai por nós!

As preces a S. Francisco

Nos anos em que a chuva tarda em chegar e a seca prolongada põe em risco as sementeiras, vindo a faltar o trabalho e o pão, é costume ir buscar a imagem de S. Francisco, ao Convento de Santo António, situado fora da Vila, de noite, em procissão de penitência, para a igreja de S. Paulo, onde se faz uma novena, no fim da qual se leva novamente a imagem em procissão para a sua igreja.

Geralmente, os primeiros pingos de chuva caem na noite da primeira procissão. Nesta, o Santo usa o capuz cobrindo-lhe a cabeça em sinal de penitência, ao contrário da procissão de regresso, em que vai de cabeça descoberta em sinal de alegria, pois entretanto, a sua intercessão conseguiu a desejada chuva.

Ao longo destas preces, canta-se o cântico de penitência:

«Senhor, misericórdia!» e também a seguinte:

Ó São Francisco, rogai por nós, e protegei os nossos campos!

O mundo inteiro espera por vós! Bendita

Ó São Francisco, rogai por nós!

A quadra repete-se, com a substituição das palavras:

"os nossos campos" por "a nossa terra"

"as nossas famílias" por "a nossa freguesia" etc.

p372 - Bendita Sejais - Serpa

(Cantada na Igreja de S. Paulo, em Serpa, durante o Setenário e festa de Nossa Senhora das Dores e também nas procissões da Semana Santa.)

RefrãoBendita Sejais, Senhora das Dores! Ouvi nossos rogos, Mãe dos pecadores! No templo sagrado, Vós mesma escutais dura profecia, Bendita sejais! Vem a voz do Céu, manda que fujais da fúria de Herodes, Bendita sejais! Que dores, que penas quando O encontrais com a Cruz às costas.

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Bendita sejais! Lá vai para o Calvário o Filho que amais, com a Cruz pesada. Bendita sejais! Já vedes cravado o Filho que amais, entre dois ladrões.

Já vos depositam nos braços virginaisVosso Filho morto. Bendita sejais! Lá vai para o Sepulcro, sem Ele ficais, Virgem solitária, Bendita sejais!

p372 - Bendita Sejais – Pias

(Versão recolhida em Pias, incluída nos «Cânticos Religiosos Alentejanos», colectânea organizada pela Comissão de Liturgia e Música Sacra - Beja. Actualmente (1994 data da ed.) também cantada em Serpa.)

RefrãoBendita Sejais, Senhora das Dores! Ouvi nossos rogos, Mãe dos pecadores! No templo sagrado, Vós mesma escutais dura profecia, Bendita sejais! Vem a voz do Céu, manda que fujais da fúria de Herodes, Bendita sejais! Que dores, que penas quando O encontrais com a Cruz às costas. Bendita sejais! Lá vai para o Calvárioo Filho que amais, com a Cruz pesada. Bendita sejais! Já vedes cravado o Filho que amais, entre dois ladrões. Já vos depositam nos braços virginais Vosso Filho morto. Bendita sejais! Lá vai para o Sepulcro, sem Ele ficais, Virgem solitária, Bendita sejais!

p374 - Além vai Jesus

- Além vai Jesus, *- Que lhe queres tu? * Quero ir com Ele, que Ele leva a Cruz! Seus braços abertos, Seus pés encravados, derramando o seu sangue pelos vossos pecados. A terra tremia co'o peso da Cruz; dizendo nós três vezes: - Salvai-nos, Jesus! Salvador do mundo, que a todos salvais, Salvai nossas almas! Bendito sejais! Olhai para o Céu, verás uma cruz. Capela de rosas, Menino Jesus. Olhai para o Céu,verás um craveiro. Capela de rosas, Menino Cordeiro. Olhai para o Céu, verás 'ma Maria. Capela de rosas, Cheia de alegria. Perguntai aos anjos que vem de Belém; os anjos que dizem, para sempre, amen. Virgem - Mãe do Carmo mandou-me um recado, que cantasse e rezasse o Bendito - Louvado. O Bendito - Louvado não me há-de esquecer, que a Virgem Mãe, do Carmome há-de valer!

Além vai Jesus (continuação)

Nos há-de valer!com todo o seu valor. Rainha - Mãe dos Anjos, do Céu resplendor. do Céu resplendor, dos anjos maravilha. Oh! como é divina a Virgem Maria! Pois dela nasceu, nasceu o bom Jesus, que morreu para nos salvar nos braços da Cruz.

Nos braços da Cruz

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morreu para nos salvar e nós pecadores sempre a pecar. Sempre a pecar,sem emenda ter. devemos considerar que havemos de morrer. Havemos de morrer, e que contas havemos dar àquele Senhor que nos há-de salvar? Virgem Mãe Santíssima,Estrela do Norte!Pedi ao Senhor nos dê boa sorte. Que eu sou pecador, não lhe sei pedir; não sou merecedor do Senhor me ouvir. Do Senhor me ouvir. não sou merecedor Virgem Mãe Santíssima,Mãe do Redentor! Mãe do Redentor, Mãe nossa, também, levai-nos `glória, para sempre,. Amen.

* Música, refrão e 1ª estrofe: recolhidas em Aldeia Nova de São Bento pelo Pe. António Aparício. Restantes quadras: da sua autoria. Extraído dos «Cânticos Religiosos Alentejanos», cassetes e textos preparados pela Comissão de Liturgia e Música Sacra - Beja. Dezembro de 1978.* 1ª e 2ª estrofes, segundo recolhado Pe. António Aparício. As restantes, recolha de M. Dias Nunes, em Tradição, ano I e nº 3.* Em versão mais antiga: "Que lhe queres vós?"

p378 – Kyrie

Senhor, tende piedade de nós! Senhor, tende piedade de nós!

Cristo, tende piedade de nós! Cristo, tende piedade de nós!

Senhor, tende piedade de nós! Senhor, tende piedade de nós!

* dos «Cânticos Religiosos Alentejanos» - Comissão de Liturgia e Música Sacra - Beja. Dezembro de 1978.

p378 – Alleluia

1. 'Scutai Jesus vai falar! Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia!

2. Feliz quem guarda a Palavra!

Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia!

3. Ressuscitou o nosso Deus!

Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia!

* dos «Cânticos Religiosos Alentejanos» - Comissão de Liturgia e Música Sacra - Beja. Dezembro de 1978.

p380 - O Bom Pastor

Quando Te encontro, descanso, Tu reconfortas minh'alma! Cristo Senhor, és o guia, O Bom Pastor que me conduz, minha Vida e minha Luz, minha Vida e minha Luz! Não temerei os perigos, pois sei que Tu 'stás comigo. O Teu festim me conforta, faz-me cantar de alegria! Tua bondade me ajuda no viver de cada dia. Minha morada pra sempre seja Tua casa, Senhor! * dos «Cânticos Religiosos Alentejanos» - Comissão de Liturgia e Música Sacra - Beja. Dezembro de 1978.

p382 - Senhor Jesus, Pão da Vida

Senhor Jesus, Pão da Vida, Penhor de Ressurreição, Sois alimento e bebida, Banquete de comunhão!

Nós vos louvamos, Senhor, nosso Cordeiro Pascoal, por esta Ceia de Amor, da Páscoa memorial.

Pão do Céu, Novo Maná, deste deserto, alimento: eis o Pão que o Pai nos dá, de cada dia o sustento!

Sois o alimento do povo, a força no caminhar, Sois a coluna de fogo, o Sol divino a brilhar!

* dos «Cânticos Religiosos Alentejanos» - 2º volume - Comissão de Liturgia e Música Sacra - Beja. Novembro de 1980.

p384 - Fonte de Água Viva

Cântico de Comunhão

Page 46: Lista 09

1Bendito, bendito sejas, Cristo meu Senhor pela Eucaristia!

És força no caminhar, Luz no entardecer, Estrela que nos guia!

2A Ti vão matar a sede,Fonte de Água Viva, para a Vida Eterna!

Os pobres e oprimidos encontram em Cristo a sua cisterna!

3Quem bebe de qualquer fonte sempre terá sede no seu caminhar.

Quem bebe de Jesus Cristo torna-se nascente pra sempre a jorrar!

4 Bendito, bendito sejas, Pastor que nos levasàs Águas da Vida!

Abristes o coração, dele'saiu a Igreja, nossa Nãe querida!

5Vós todos que tendes sede vinde às Águas Puras mesmo sem pagar!

Jesus quis morrer na Cruz para todo o homem de graça salvar!

Bendita, bendita sejas, Rocha do deserto, salvação do povo!

Que a nossa Eucaristia dê frutos de Vida, frutos de Amor novo.

* dos «Cânticos Religiosos Alentejanos» - Comissão de Liturgia e Música Sacra - Beja. Dezembro de 1978.

p386 - Nossa Senhora do Carmo

Nossa Senhora do Carmo *Que está no seu altar, Todos lá vamos ajoelhar e a cantar, a cantar vamos rezar.

Pedimos a uma voz: Nossa Senhora, rogai por nós!

Senhora, do vosso altar lançai benigno, o vosso olhar!

Senhora, que és Mãe de Deus, olha por nós, os filhos teus!

* Dos «Cânticos Religiosos Alentejanos» - Recolha e adaptação do Pe. António Aparício e Pe. António Cartageno. * De Fátima, das Pazes, Senhora de Guadalupe, etc. conforme as circunstâncias.

p388 - Ó VirgemMaria

1Ó Virgem Maria, ouvi nosso canto! Sois nossa alegria, Sois o nosso encanto!

Com o vosso olhar, com vosso sorriso, vinde-nos guiar para o Paraíso!

2Ó Mãe bendita, vinde-nos ouvir nesta grande dita que vamos pedir; desse altar de luz, com um doce beijo, entregai Jesus ao nosso Alentejo!

3 Vós sois a Rainha, da grei lusitana! Vós sois a Madrinha da alma Alentejana!

Ó Virgem Senhora, que o Vosso olhar seja a luz protectora das terras de Beja!

* Dos «Cânticos Religiosos Alentejanos» - Comissão Diocesana de Liturgia e Música Sacra - Beja - Dezembro de 1978.

Page 47: Lista 09

p390 - Senhora do Livramento

Senhora do Livramento, livrai o meu namorado, que me vai deixar sozinha, ai meu Jesus! Ai meu Jesus! Pela vida de soldado! Pela vida de soldado!

Senhora, vosso vestido é tão branco como o lírio. Senhora do Livramento, ai meu Jesus! Ai meu Jesus! Livrai-me deste martírio! Livrai-me deste martírio!

Senhora Sant'Ana(que) por aqui passou, tido o que viu empeçado, desempeçou. (quando os fios de linha ou de lã se empeçam)

p392 - Senhora de Guadalupe

Senhora de Guadalupe, Entre os olivais metida, És de Serpa a Padroeira E dos Serpenses, Mãe querida!

Vamos todos ao Altinho à boa Mãe visitar ajoelhemos e rezemos diante do seu altar.

p394 - Hino de Nossa Senhora de Guadalupe

Da colina sagrada onde estais, oh volvei até nós branco olhar que nos prenda a Jesus sempre mais, só com Ele nos podemos salvar.

Da colina sagrada onde estais, oh volvei até nós branco olhar que nos prenda a Jesus sempre mais, só com Ele nos podemos salvar. Por milagre e por graça de Deus,

doce Mãe, linda Virgem Maria, toda Serpa Vos canta, neste dia, e vos pede mil bênçãos do Céu.

p396 - A Bênção da Tia Candelária

Esta bênção, ouvi-a à Tia Candelária, cigana, que completou 100 anos, no passado dia da Candelária (anos de 1984?), festejado em Serpa, sob a invocação de Nossa Senhora dos Remédios. Escrevo-a como ela ma disse, numa mistura de português e espanhol.

«Santíssimo Sacramento e as três hóstias consagradas, el Divino Señor que 'stá puesto en la Cruz, A Santíssima Virgem do Purgatório e el Señor S. Bento guardem esta niña de noche y de dia, donde quer que vaia!

El Señor te acrescente!

O Santíssimo Sacramento e o anjo da guarda te livrem duma mala lengua, del malo testigo, de un lio, y de todo o mal deste mundo!

E quem te queira malamente, redobrado se la veja las penas em cima del!

Y Nuestro Señor te guie por buenos camiños!

Abençoada sejas tu e a tua família toda,

da boca da Candelária Ciganita!

p397 - Oração a São Jerónimo

Jerónimo se levantou, Seus sapatinhos calçou, Suas manitas lavou, Seu cajadinho de oiro pegou, Caminhos e estradas andou, Com Nossa Senhora se encontrou.

- Onde vais, ó Jerónimo? - Vou espalhar esta trovoada que em cima de nós está armada. - Espalha-a lá pra bem longe, aonde não haja mulheres com meninos, nem vacas com bezerrinhos, nem gadelhinha de lã, nem sã, fiel cristã!

[Fazendo 3 vezes o sinal da Cruz no ar:]

Aleluia, aleluia, três vezes aleluia! Aleluia, aleluia, três vezes aleluia! Aleluia, aleluia, três vezes aleluia!

p398 - Oração (pela Manhã)

Minha porta vou abrir, para a Divina Providência entrar.

Com Ela quero viver, e com Ela quero ficar, e a Ela me consagrar, para nada me faltar.

Padre Nosso...

Page 48: Lista 09

Avé Maria...

p399 - Padre Nosso Pequenino

Padre Nosso Pequenino tem as chaves (d)o Menino. Quem lhas deu? Quem lhas daria? - São Pedro e Santa Maria! Já os galos cantam, já os Anjos se levantam, já o Senhor subiu à Cruz, para sempre. Amen, Jesus!

p400 – Confissão

Ó meu Jesus do Horto, que fostes preso e fostes morto! Perdoaste a tua morte, que foi tão cruel e tão forte!

Perdoai os meus pecados, que são muitos e prolongados!

Aos pés do meu confessor não os soube dar confessados. Confesso-os a Ti, Senhor, que sabeis quantos eles são, para que a minha alma se não perca e não morra sem confissão.

E, quando eu deste mundo for, possa alcançar das minhas culpas, o perdão!

Amém.

p401 - A vinda do Senhor

Oh! quem fosse como a Madalena, que a Jesus fosse bradar!

Andava de fonte em fonte sem o Senhor encontrar.

Encontrou um hortelão na sua horta a regar.

- Diz-me lá, ó hortelão, diz-me aqui a verdade: se aqui vistes passar

Jesus de Nazaré!

- É verdade que aqui passou antes de o galo cantar.

Uma Cruz levava às costas, que o fazia ajoelhar.

E um baraço na garganta, que lhe tirava o falar.

E os fariseus que o levavam diziam-lhe: "Levanta-te, Nazareno!

Se te quiseres levantar, damos-te fel e vinagre a provar!"

- Adiante ia o porteiro:

Ai quem compra o que se vende?!

Na praça se arremata a Jesus de Nazaré por trinta dinheiros em prata!

Quem esta oração rezar sete vezes na Quaresma, outras sete, no Carnaval, por muitos pecados que tenhas, sempre se há-de salvar.

Encontrará as portas do Céu abertas e, as do Inferno, fechadas para nunca para lá olhar.

E ouvirá uma voz a dizer e a chorar:

- Oh! quem nunca fosse nascida no mundo para tais tormentos passar!

Amém.

p403 - Bibliografia e material consultado

Nº Titilo Autor(es) Notas1. Colecção de

revistas “ A TRADIÇÃO”

Volumes I II – de Janeiro de 1899 a Junho de 1904 – Edição em “fac-simile” da Câmara Municipal de Serpa – 1982

2. “Cantares do Povo Português”

Estudo Crítico, recolha e comentário de Rodney Gallop – Edição do instituto para a Alta Cultura – Lisboa – 1937

3. “Serpa do Passado”

Escorço mono-biográfico – João Cabral – 1968

4. “Arquivos de Serpa”

(Câmara Municipal) - João Cabral – 1971

5. “Serpínea e a Fundação de Serpa”

De C. Gonçalves Serpa - 1962

6. Cassete

“Lá vai Serpa, lá vai Moura”

Canções pelo Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa – ed. Sopnosom – 1985

7. Cassete

“Modas Populares do Concelho de Serpa”

Recolha de Michel Giacometti – Ed. Câmara Municipal de Serpa e Comissão Municipal de Turismo – Maio de 1982

8. Cassete

“Cânticos Religiosos Alentejanos”

(1º e 2º vols.)

Músicas. da Tradição religiosa popular do Baixo

Page 49: Lista 09

Alentejo.

Textos: adaptados pela Comissão Diocesana de Liturgia.

Grupo coral da Paróquia do Carmo – Beja

9. Cadernos com músicas e textos anexos às duas cassetes mencionadas na alínea anterior. Beja – 1978.

p405 - Índice

- Nota introdutória.......... 3

Introdução Geral..........9

Modas e Cantigas: ..........37

Cancioneiro de Serpa – Maria Rita Ortigão Pinto Cortez,

Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994, com 410 páginas com escrita, pautas e desenhos à mão!!!

Índice e listagem baseado In

http://fonoteca.cm-lisboa.pt/cgi bin/info3.pl?4951&BIB&0

Modas e cantigas:

432 é o número em que termina a lista de PAUTAS anteriores (* ver notas finais)

Nº de linhas

Nº na obra

Título Página na obra

1. 1 Lá vai Serpa, lá vai Moura

[inclui a versão em fado de Coimbra de Francisco Menano].

44 e 45

46

2. 2 Ó Serpa, pois tu não ouves? 46 e 473. 3 Ó Serpa do Alentejo. 48 e 494. 4 Adeus, ó vila de Serpa / letra do

Mestre José Gato.50, 51 e 52

5. 5 Ó Serpa velhinha (cantiga) / letra de António Santinhos.

53

6. 6 Ó Serpa velhinha (moda) / letra de António Santinhos.

54 e 55

7. 7 Serpa que és minha terra. 56 e 578. 8 Viva o rei, viva a rainha. 58 e 59

9. Cantigas:10. 9 Cantiga: Despedida e Cantiga Ó

Serpa, tu não és vila.

(Cantam-se frequentemente com a música de “Ó Serpa do Alentejo”

60 e 61

11. 10 De Aldeia Nova, São Bento. 62 e 6312. 11 Mondadeira alentejana. 64 e 6513. 12 As mondadeiras cantando /

poema de José Elias Torrão; música de Francisco António Elias Torrão.

66 e 67

14. 13 Não quero que vás à monda. 68 e 6915. 14 Ceifeira, linda ceifeira. 70, 71 e

7216. Cantigas.17. 15 Aqui vou mais minha prima e

Esta noite Choveu prata73

18. 16 Melancolia dos campos. 74 e 7519. 17 Moreninha alentejana. 76 e 7720. 18 Fui-te ver, 'stavas lavando. 78 e 7921. 19 O pastor alentejano. + Cantigas:

De noite, pelas estrelas e Sendo eu Sol e tu Sombra

80 e 81

22. 20 Toda a vida fui pastor. 82 e 8323. 21 O lírio roxo. 84 85 e

8624. 22 Cantigas: O cantar é dos

anjinhos + Ó amor, amor + Onte’à noite, à meia noite

87

25. 23 O lírio roxo do campo. 88 e 8926. 24 Fui passear. 90 e 9127. 25 Rosa branca desmaiada. 92 e 9328. 26 Rosa amarela. 94 e 9529. 27 Vamos apanhar a rosa. 96 e 9730. 28 Que inveja tens tu da rosa. 98 e 9931. 29 Uma flor que abriu em Maio. 100 e

10132. 30 A erva cidreira... 102 e

10333. 31 A macela 104 e

10534. 32 A medronheira no vale. 106 e

10735. 33 O alecrim. 108 e

10936. 34 Vai colher a silva. 110 e

11137. 35 Silva que estás enleada. 112 e

11338. 36 A rama da oliveira. 114 e

11539. 37 Lindo ramo verde escuro. 116 e

11740. 38 Ó amendoeira. 118 e

11941. 39 A flor da laranjeira. 120 e

Page 50: Lista 09

12142. 40 A laranjinha. 122 e

12343. 41 Uma laranja, duas laranjas. 124 e

12544. 42 Mangerico, folha verde. 126 e

12745. 43 Mangerico da janela. 128 e

12946. 44 Eu esta manhã achei

(coreográfica).130 e 131

47. 45. Menina (que) 'stás à janela. 132 e 133

48. 46 O extravagante. 134 e 135

49. 47 Olha a noiva, se vai linda. 136 e 137

50. 48 Ó mei' tostão. 138 e 139

51. 49 Amanhã anda à roda. 140 e 141

52. 50 Ó tim, ó tlim, tim, tim. 142 e 143

53. 51 O balão. 144 e 145

54. 52 Estou-me divertindo. 146 e 147

55. 53 Rouxinóis, caracóis, bichas móis. (PASSARADA)

148 e 149

56. 54 Olha o passarinho. 150 e 151

57. 55 O passarinho. 152 e 153

58. 56 Levantou-se o mundo inteiro. 154 e 155

59. 57 O cartaxinho. 156 e 157

60. 58 O papagaio. 158 e 159

61. 59 A pombinha branca. 160 e 161

62. 60 Atira, caçador, atira. 162 e 163

63. 61 O pavão (coreográfica). 164 e 165

64. 62 Os quatro patinhos. 166 e 167

65. 63 Lá nos campos cantavam os grilos.

168 e 169

66. 64 As cobrinhas de água. 170 e 171

67. 65 O milhano. 172 e 173

68. 66 Há lobos sem ser na serra. 174 e 175

69. 67 O comboio. 176 e 177

70. 68 Tinhas-me tanta amizade. 178 e

(CARTA) 17971. 69 Vou-me embora, vou partir. 180 e

18172. 70 O emigrante. 182 e

18373. 71 Eu hei-de ir para o Algarve. 184 e

18574. 72 Estando eu à porta sentado. 186 e

18775. 73 Ó morena. 188 e

18976. 74 Tenho barcos, tenho remos. 190 e

19177. 75 Ai que praias. 192 e

19378. 76 A jovem linda. 194 e

19579. 77 Eu ouvi, mil vezes ouvi. 196 e

19780. 78 Meu amor me deu um lenço. 198 e

19981. 79 O sol é que alegra o dia. 200 e

20182. 80 As nuvens que andam no ar. 202 e

20383. 81 Estrelinha do Norte. 204 e

20584. 82 Dá-me uma gotinha de água. 206 e

20785. 83 Eu ia pela rua. (Não é tarde nem

é cedo…)208 e 209

86. 84 O que levas na garrafinha?. 210 e 211

87. 85 Foste tu, ó ladrão, ladrão. 212 e 213

88. 86 Era meia-noite. (O ladrão) 214 e 215

89. 87 Meus senhores, que rapariga esta. - O Bimbas.

216 e 217

90. 88 (O Bimbas) 21691. 89 Acorda, Maria, acorda. 218 e

21992. 90 Com que letra se escreve

Maria?220 e 221

93. 91 Maria Malveira. (Ribeira vai cheia…)

222 e 223

94. 92 Minha mãe chama por Ana. 224 e 225

95. 93 Donde vens, ó Ana?. 226 e 227

96. 94 Os olhos da Marianita. 228 e 229

97. 95 Marianita, és baixinha. 230 e 231

98. 96 Matilde, levanta a saia. 232 e 233

99. 97 Ó Menina Florentina. 234 e 235

Page 51: Lista 09

100. 98 Aurora. (Uma mãe que o filho embala…)

236 e 237

101. 99 Ó Rosa (Rita), arredonda a saia. 238 e 239

102. 100 Esta é que era a moda. 240 e 241

103. 101 Claudina (Celestina). 242 e 243

104. 102 Senta-te aqui, ó António. 244 e 245

105. 103 Ó António, já lanchaste? 246 e 247

106. 104 José Marques (coreográfica). 248 e 249

107. 105 Linda Jóia. 250 e 251

108. 106 A tourada. (Foste, foste, eu em sei que foste…)

252 e 253

109. 107 Tira o capotinho. 254 e 255

110. 108 Ó Elvas, ó Elvas. 256 e 257

111. 109 Camponesa, camponesa. 258 e 259

112. 110 Coração, alma e vida. (Portel ó lindo Portel…)

260 e 261

113. 111 Baleizão. 262 e 263

114. 112 Já lá vem rompendo a aurora / letra de António Santinhos.

264 e 265

115. 113 Nasce o sol no Alentejo / letra de José Lopes Gato.

266 e 267

116. 114 Alentejo, que és nossa terra. 268 e 269

117. 115 Alentejo, Alentejo / letra e música de José Lopes Gato.

270 e 271

118. 116 Cantigas. – (16 páginas com muitas letras…

Cantando na linda Rama (mais duas) – 272

Passarinho que cantais (mais cinco) – 273

Os olhos requerem olhos – 274

Algum dia eu era (mais três) – 275

Eu já estava de abalada – 276

Mais tarde deu em chover – 277

Eu tenho quarenta amores…

272 a 287

(com 12 (doze) quadras) – 278

Ó minha Mãe, minha Mãe… (com 14 (catorze) quadras) – 279

Chorai olhos, chorai olhos… (com 13 (treze( quadras…) – 280

Com um “a” se escreve amor… (com 12 (doze) quadras) – 281

Se eu soubesse quem tu eras (com 14 (catorze) quadras) – 282

Da minha janela à tua (com 12 (doze) quadras) – 283

Nestes campos solitários (Com 4 (quatro) quadras) – 284

As estrelas do céu correm (com 5 (cinco) quadras) – 285

Se fores ao cemitério (com 12 (doze) quadras – 286

O cantar não é ciência (com 13 (treze) quadras) – 287

119. 117 Vamos lá saindo. 288 e 289

120.121. Cancioneiro infantil: - texto - 293 a

296122.123. sp Lengalengas. 297124. 118 A Viscondessa (roda infantil). 298 a

301125. 119 Floreira jardineira. (roda

infantil).302 e 303

126. 120 Na Botica Nova. 304 e 305

127. 121 Olha a borboleta. 306 e 307

128. 122 Rosa branca ao peito. 308 e 309

129. 123 Ó Senhora Dona Anica. 310 e 311

130. 124 Diga lá, minha menina. 312 e 313

131. 125 As pombinhas da Catrina 314 e 315

132. 126 Venho da Ribeira nova 316 e 317

Page 52: Lista 09

133. 127 Que barca é aquela 318 e 319

134.135. Contos, lendas, provérbios:

texto explicativo…321 a 324

136.137. sp O sapo e a zorra. 325138. sp Periquito e Periquita. 326 e

327139. sp O Era-Não-Era. 328 e

329140. sp Romance de Dona Silvana. 330 a

333141. sp A Cobra da Marreira. 334 e

335142. sp O medo da Bemposta, e outras

histórias.336 e 337

143. sp A lenda da Condessinha. (A janela entaipada… a filha do Conde de Ficalho que caiu…)

338 e 339

144. sp Histórias de dois cruzeiros. 340145. sp São Próculo e Santo Hilarião. 341146. sp O milagre de S. Francisco e Sto.

António.341

147. sp Nossa Senhora de Guadalupe. 342 a 345

148. sp A Serpe do Rio Ana. 346149. sp A lenda de Serpínia. 347 a

349150.151. Ditos e provérbios. (ilustrados

e notas…)350 a 356

152.153. Cancioneiro religioso: (notas

explicativas…)357 a 361

154.155. 128 Moda de Deus Menino. 362 a

364156. 129 Janeiras. 366 e

367157. 130 Reis. 368 e

369158. 131 Preces a São Francisco: [Bendita

e louvada seja e Cântico a S. Francisco] e nota explicativa.

370

159. 132 Cântico a S. Francisco] e nota explicativa.

160. 133 Bendita sejais. (Pauta da versão de Serpa e outra de Pias

372 e 373

161. 134 Bendita sejais. (Pauta da versão de Serpa e outra de Pias

162. 135 Além vai Jesus. 374 a 377

163. 136 Kyrie e 378 e 379

164. 137 Aleluia. 378 e 379

165. 138 O Bom Pastor. 380 e

Page 53: Lista 09

381166. 139 Senhor Jesus, Pão da Vida. 382 383167. 140 Fonte de Água Viva. 384 e

385168. 141 Nossa Senhora do Carmo /

música, J. Coelho.386 e 387

169. 142 Ó Virgem Maria. 388 e 389

170. 143 Senhora do Livramento. 390 e 391

171. 144 A Nossa Senhora de Guadalupe. 392 e 393

172. 145 Hino a Nossa Senhora de Guadalupe.

394 e 395

173. sp Bênção da Tia Candelária. 396174. sp Oração a São Jerónimo. 397175. sp Oração (pela manhã). 398176. sp Padre Nosso pequenino. 399177. sp Ó meu Jesus do Horto.

(Confissão)400

178. sp A vinda do Senhor. 401

*sem partitura

Nota: Contém as partituras (excepto das cantigas)

Há variantes dos títulos de algumas canções, a descrição adoptada é conforme ao índice.

As canções 'As pombinhas da Catrina', 'Venho da Ribeira Nova' e 'Que barca é aquela' são referidas no índice mas não estão incluídas no livro, e não existe a letra de 'Diga lá minha menina'.

http://www.cm-serpa.pt/PublicacaoDisplay.aspx?ID=6

«Nesta obra, profusamente ilustrada com desenhos da autora, registam-se modas e cantigas de Serpa bem como contos, lendas, provérbios e canções religiosas. Maria Rita Cortez esclarece que este cancioneiro não resulta de um trabalho de investigação nem mesmo de uma recolha sistemática e exaustiva. Pretendeu a autora, tão somente, passar para o papel recordações de infância recorrendo, quando a memória falhava, a outras pessoas e à pesquisa bibliográfica. A publicação, que a autora dedica às crianças de Serpa, cumpre o objectivo de ajudar a preservar parte importante das tradições orais do concelho.»