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5 LIQUENS Eugênia C. Pereira Marcelo Pinto Marcelli Nicácio Henrique da Silva Anderson de Mendonça Silva

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5LIQUENS

Eugênia C. Pereira

Marcelo Pinto Marcelli

Nicácio Henrique da Silva

Anderson de Mendonça Silva

INTRODUÇÃO

Os liquens são organismos simbióticos de estrutura estável, compostos por diferentes

partes: alga (clorofilada) ou ficobionte e o fungo (aclorofilado) ou micobionte. A união entre esses

simbiontes propicia a produção de metabólitos exclusivos deste grupo taxonômico (Culberson et

al. 1977), as substâncias liquênicas. Estas são responsáveis pela capacidade dos liquens de

sobrevivência aos ambientes mais inóspitos. Por isso, são encontrados dos trópicos aos pólos,

inclusive em desertos e regiões neotropicais. Além da adaptabilidade dos liquens aos variados

ambientes, são encontrados sobre os mais variados tipos de substrato, visto não dependerem

destes para sua nutrição. Por isso, habitam rochas, solos, muros, vidros, troncos vivos, ou em

decomposição (Seaward 1977; Hale 1983; Nash 1996). Neste último caso, são denominados

corticícolas, abundantes em região de floresta no território brasileiro.

Visto a dimensão territorial do Brasil, sobretudo as áreas de florestas úmidas e matas secas,

a micota liquenizada é bastante variada, em função da diversidade climática encontrada. Muito

ainda se tem por estudar em relação aos liquens brasileiros, não apenas pela vastidão de suas

terras, mas pelos poucos especialistas existentes. Por isso, apesar de decorridos mais de 500

anos do descobrimento, há uma lacuna de conhecimento em relação à flora e a fauna dos biomas

brasileiros. Apesar da riqueza e imensa biodiversidade, os colonizadores direcionavam suas

investidas no extrativismo. Além disso, da descoberta (1500) até 1810 o Brasil esteve fechado aos

pesquisadores europeus procedentes de países inimigos de Portugal (Marcelli 1998).

Em momento posterior, a elevação do Brasil a Reino, após a migração da família real,

propiciou a fundação de museus e escolas. A partir dessa época é que pode se considerar o início

da pesquisa científica no país, realizada por investigadores europeus.

Em relação à pesquisa botânica, a princesa Leopoldina trouxe, em 1817, os alemães

Martius e Spix, que realizaram as maiores expedições científicas da época. No período

compreendido entre a independência (1822) e a república (1889) houve uma maior ocorrência de

expedições científicas (Marcelli 1998).

Em relação à história da liquenologia no Brasil, três períodos podem ser enfatizados: de

Martius a Zahlbruckner (1817 a 1909); de Zahlbruckner a Batista (1909 a 1967); e, depois de

Batista.

As expedições botânicas e/ou liquenológicas, no entanto, tinham como rota prioritária, por

motivos logísticos, principalmente o Sudeste e o Sul do país, pois o Rio de Janeiro era o porto de

atracação dos navios que vinham da Europa. Daí, a micota liquenizada ser muito mais investigada

nessas regiões. Obviamente, não se descartaram expedições ao Nordeste e ao Norte. No entanto,

os fatores distância e dificuldade de penetração nos ecossistemas, problema maior ainda na

região Norte, levaram a um menor conhecimento da micota liquenizada naquelas áreas, em

relação às demais.

Por serem estrangeiros os pioneiros da liquenologia brasileira, as primeiras coletas e

material mais antigo pertencente ao país estão todos depositados em herbários europeus. O

109

primeiro coletor brasileiro foi um baiano residente em Ouro Preto, Leônidas Botelho Damázio, mas

sua atenção foi maior para as pteridófitas. Por isso, enviava suas coletas para o Zahlbruckner em

Viena (Marcelli 1998). Daí, o primeiro pesquisador brasileiro a realmente voltar sua atenção para a

micota liquenizada no Nordeste do Brasil ser o Prof. Augusto Chaves Batista, do Instituto de

Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. O Prof. Batista e sua equipe enfatizaram os

liquens foliícolas da Floresta Atlântica, ficando ainda uma lacuna no que se refere às espécies

corticícolas (Maia et al. 2002). Pode ainda ser citado o Prof. Lauro Xavier Filho que deu

prosseguimento aos estudos do Prof. Batista, bem como aos trabalhos pioneiros da liquenologia

aplicada no Brasil. Atualmente, além dele, existe o Grupo de Liquenologia da UFPE, que atua

prioritariamente na fisiologia e uso das substâncias liquênicas, a Profa. Neli Honda (UFMS), que

dedica-se à química, assim como o grupo do Prof. Marcelo Iacomini (UFPR), especialista na

caracterização físico-química e biológica de polissacarídeos liquênicos. Na taxonomia destacam-

se a Profa. Mariana Fleig (UFRS), recentemente aposentada, a Profa. Sionara Eliasaro (UFPR) e o

Prof. Marcelo Marcelli (Instituto de Botânica, SP). Para uma extensão territorial tão grande é ainda

insuficiente o número de liquenólogos no Brasil, mas outros grupos vêm despertando interesse,

com jovens estudantes ingressando na pós-graduação.

Visto a carência de levantamentos da micota liquenizada na região Nordeste, com especial

menção aos fragmentos de Floresta Atlântica, foi objetivo deste trabalho realizar um inventário das

espécies corticícolas neste ecossistema. Um trabalho desta natureza demonstra relevância, visto

que muitas espécies e gêneros não foram, ainda, referidos para a região, mesmo que no estudo

não tenham sido encontradas novas espécies.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para o estudo foram selecionadas áreas de Floresta Atlântica localizadas nos municípios do

Cabo de Santo Agostinho e Jaqueira/Catende (PE) e São José da Laje/Ibateguara (AL) onde,

respectivamente, estão as Reserva Ecológica de Gurjaú, RPPN Frei Caneca e Usina Serra

Grande. Nesses remanescentes são encontrados os seguintes fragmentos:

a) Reserva de Gurjaú - fragmentos São Brás, Xangô, Cuxio e Café.

b) Usina Serra Grande - fragmentos da Cachoeira, Capoeirão, Coimbra, Bom Jesus,

Aquidabã e Varjão.

c) RPPN Frei Caneca - fragmentos do Fervedouro, Quengo, Espelho e Ageró.

A coleta das amostras foi procedida de forma idêntica para todos os fragmentos levantados.

Em caminhadas aleatórias, com cobertura quase total das áreas amostradas, as árvores eram

observadas da base até a altura média de 2,5m.

Amostras foram coletadas com auxílio de canivete e espátula. O material foi colocado em

110

sacos de papel, resfriados por 24h e, em seguida, colocados à temperatura ambiente (28 ± 3°C)

para posterior identificação.

As amostras foram analisadas segundo caracteres morfológicos e químicos do talo,

utilizando-se chaves de identificação, testes de coloração do talo e ensaios cromatográficos para a

ratificação de espécies determinadas (Asahina & Shibata 1954; Culberson 1972). Nesta etapa, os

estudos foram conduzidos nos laboratórios de Geografia Ambiental e de Produtos Naturais, da

Universidade Federal de Pernambuco, bem como no Setor de Micologia e Liquenologia do

Instituto de Botânica de São Paulo.

O registro obtido a partir de GPS (Global Position System) serviu para alimentar a base de

dados espaciais (mapa base), que servirá em estudos futuros de distribuição das espécies,

preferências de habitat, dentre outros parâmetros possíveis de cartografar.

Em etapa seguinte, foram calculados os índices de diversidade de cada área e respectivos

fragmentos, segundo o índice de Shannon-Wiener, com log na base 2 (Krebs 1989).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram catalogadas 250 amostras, sendo 53 da Reserva de Gurjaú no Cabo de Santo

Agostinho-PE, 82 da mata da RPPN Frei Caneca em Jaqueira/Catende-PE e 115 da mata da Usina

Serra Grande, em São José da Laje/Ibateguara-AL (Anexo 3).

As amostras coletadas na Reserva de Gurjaú estão listadas na Tabela 1, e são referentes,

respectivamente, às espécies registradas nos fragmentos São Brás, Xangô, Café e Cuxio. Ao todo

foram registradas 45 espécies em Gurjaú. Destas, 17 ocorreram em São Braz, 8 em Xangô. Café e

Cuxio apresentaram 21 cada. Os dois últimos fragmentos são considerados os mais ricos,

contendo 46,66% do total das espécies, e o de Xangô o que tem menor número delas, com

17,78%. As espécies mais representativas foram Cryptothecia rubrocincta, Coenogonium

leprieurii, Porina mastoidea e Leptogium sp.

Em Gurjaú foram registradas 17 famílias (Tab. 2), distribuídas em seus respectivos

fragmentos. Foram consideradas como mais representativas: Arthoniaceae, Trichotheliaceae,

Gyalectaceae, Parmeliaceae e Graphidaceae, sendo a primeira a que apresentou maior número

de espécies. Quando avaliada a ocorrência destas famílias por fragmento, observa-se que em São

Brás das 10 famílias registradas foram predominantes as Arthoniaceae e Parmeliaceae; em Café

das 11 famílias, predominaram as Arthoniaceae e Graphidaceae; em Xangô das 7, as

Arthoniaceae, Gyalectaceae e Trichotheliaceae foram mais numerosas, sendo esta última a mais

representativa em Cuxio, seguida pela família Graphidaceae, perfazendo um total de 13 famílias

nesse fragmento.

111

Tabela 1. Espécies de liquens corticícolas e respectivos números de ocorrência na Reserva Ecológica de Gurjaú (Cabo de Santo Agostinho, PE).

Espécies identificadas Nº de ocorrência

Anisomeridium sp.

Arthonia sp.

Arthothelium sp.

Bacidia sp.

Bacidia sp. 1

Brigantiaea leucoxantha

Bulbothrix laevigatula

Canoparmelia cryptochlorophaea

Cladonia sp.

Coenogonium leprieurii

Coenogonium linkii

Crocynia sp. 1

Cryptothecia rubrocincta

Cryptothecia sp.

Cryptothecia sp. 1

Dirinaria picta

Enterographa sp. 1

Graphina sp.

Graphis afzelii

Lecidea piperis

Leptogium cf. foveolatum

Leptogium sp. 1

Leptogium sp. 2

Ocellularia dilatata

Opegrapha sp.

Parmelinella antillensis

Parmelinella sp.

Parmelinopsis minarum

Parmotrema cf. dilatatum

Parmotrema subochraceum

Pertusaria sp.

Pertusaria sp. 1

Phaeographis sp.

Phyllopsora sp. 1

Phyllopsora sp. 2

Physcia sp.

Porina mastoidea

Porina nucula

Pyrrhospora russula

Pyxine sp.

Sarcographa intricans

Sarcographa labyrinthica

Sarcographa sp.

Thelotrema piperis

Trypethelium pulcherrimum

Trypethelium sp.

1

1

1

1

1

1

1

1

2

11

2

1

6

2

6

3

1

1

1

1

1

6

2

2

2

1

2

1

3

1

2

1

2

2

1

1

13

1

2

1

2

1

3

1

1

1

112

Tabela 2. Famílias de liquens corticícolas registradas na Reserva Ecológica de Gurjaú (Cabo de Santo Agostinho, PE).

Famílias Nº. de ocorrência

Arthoniaceae

Bacideaceae

Brigantiaceae

Cladoniaceae

Collemataceae

Crocyniaceae

Graphidaceae

Gyalectaceae

Lecanoraceae

Lecideaceae

Opegraphaceae

Parmeliaceae

Pertusariaceae

Physciaceae

Thelotremataceae

Trichotheliaceae

Trypetheliaceae

16

5

1

1

9

1

10

13

2

1

3

9

2

3

3

8

1

Em cálculos dos índices de diversidade de famílias e de espécies, segundo índice de

Shannon-Wiener na base 2, foi possível observar que os valores obtidos para a diversidade de

famílias nos fragmentos foram aproximados ao total da área avaliada, com uma pequena diferença

para o fragmento de Xangô; isto se repete para diversidade de espécies, com uma diferença maior,

seguido pelo fragmento de São Brás (Tab. 3). Por outro lado, se for observada a dimensão dos

fragmentos, o de Café pode ser considerado o de maior diversidade, visto que seus valores de

famílias e de espécies são aproximados ao da área total, e é o de menor tamanho.

Tabela 3. Diversidade de famílias e de espécies de liquens corticícolas, segundo Índice de Shannon-Wiener na base 2, e dimensão dos fragmentos da Reserva Ecológica de Gurjaú (Cabo de Santo Agostinho PE).

Local /Fragmentos Diversidade de Famílias

Diversidade de espécies

Áreas dos fragmentos (ha)

Gurjaú

Café

Xangô

São Brás

Cuxio

3,622

3,300

2,722

3,052

3,388

4,946

4,090

2,922

3,849

4,156

-

6,8

8,9

37,1

118,4

A área de estudo subseqüente correspondeu à Mata da Usina Serra Grande, localizada nos

municípios de São José da Laje e Ibateguara (AL), onde os seis fragmentos avaliados foram o da

Cachoeira, Capoeirão, Bom Jesus, Aquidabã, Varjão e Coimbra.

As espécies coletadas e identificadas foram listadas conforme os fragmentos que ocorriam

(Tab. 4). Foram registradas 23 espécies em Cachoeira, 14 em Capoeirão, 13 em Bom Jesus, 12

em Aquidabã, 13 em Varjão, 27 em Coimbra. Ao todo foram 53 espécies na mata da Usina Serra

Grande, com maior representatividade para os fragmentos de Coimbra e Cachoeirão onde estão,

113

respectivamente 50,94% e 43,40% delas. Os demais fragmentos apresentaram um número

equilibrado de espécies (12 a 14), representando 22,64% a 26,41% do total. As espécies mais

representativas para a área foram Coenogonium leprieurii, C. linkii, Porina mastoidea,

Cryptothecia rubrocincta e Crocynia sp.

Ao total 22 famílias foram registradas para Serra Grande (Tab. 5), sendo mais

representativas as Trichotheliaceae, Gyalectaceae, Graphidaceae e Arthoniaceae. Nos

fragmentos foram encontradas 10 famílias no Capoeirão; 15 em Cachoeira; 9 em Bom Jesus; 11

em Aquidabã; 16 em Coimbra e 6 em Varjão. Vale ressaltar a ocorrência da família Usneaceae, até

o momento apenas referida para o semi-árido em área de maior altitude, especialmente nos brejos.

As espécies componentes desta família são, via de regra, sensíveis à poluição atmosférica.

Os cálculos de diversidade de famílias e espécies, segundo o índice de Shannon-Wiener na

base 2, indicaram que a área total apresenta índices próximos aos determinados para os

fragmentos de Cachoeira, Aquidabã e Coimbra, no que se refere às famílias. Os fragmentos de

Capoeirão, Bom Jesus e Varjão apresentaram esta diversidade inferior à registrada para a área

total. Em relação às espécies a diferença é ainda maior, o fragmento de Coimbra é o único a estar

próximo do valor determinado para a área completa; os demais encontram-se com valores abaixo

do registrado para o fragmento completo. Em relação à dimensão, o fragmento da Cachoeira

parece ser o de maior diversidade de famílias, pois é o que apresenta valor mais aproximado do

total e a menor área. No entanto, em menção às espécies, o fragmento de Coimbra foi o que

apresentou valor mais aproximado do total e possui a maior área. Nenhuma consideração pode ser

feita sobre os fragmentos do Capoeirão e do Varjão, visto que não se dispõe de suas dimensões

(Tab. 6).

Na mata da RPPN Frei Caneca, localizada no município de Catende/Jaqueira (PE), foram

avaliados quatro fragmentos (Tab. 7). Em Ageró foram registradas 12 espécies, enquanto que nos

fragmentos do Espelho, Quengo e Fervedouro registraram-se 13, 24 e 8, respectivamente. Ao

todo, foram 37 espécies concentradas em maior percentual no fragmento do Quengo (63,16%).

Em relação às famílias, foram registradas 19 na RPPN Frei Caneca. Foram mais

representativas as famílias Trichotheliaceae, Gyalectaceae, Bacideaceae e Lecideaceae (Tab. 8).

A ocorrência em fragmentos se deu com 10 para Ageró, 15 para Quengo, 9 para Espelho e 6 para

Fervedouro.

114

Tabela 4. Espécies de liquens corticícolas e respectivo número de ocorrências na Usina Serra Grande (São José da Laje/Ibateguara, AL).

Espécies identificadas Nº de ocorrência

Arthonia platygraphoidea

Bacidia sp.

Bacidia sp. 2

Bulbothrix laevigatula

Calopadia foliicola

Canoparmelia sp.

Cladonia sp.

Coccocarpia palmicola

Coenogonium leprieurii

Coenogonium linkii

Crocynia sp. 1

Cryptothecia rubrocincta

Dimerella sp.

Dirina approximata

Dirinaria picta

Graphis sp.

Graphis sp. 1

Graphis sp. 3 Heterodermia japonica

Lecidea piperis

Leptogium austroamericanum

Leptogium cf. californicum

Leptogium cf. foveolatum

Leptogium isidiosellum

Leptogium marginellum

Leptogium sp.

Letrouitia dominguensis

Megalospora sulphurata

Melanotheca sp.

Opegrapha sp.

Parmelinopsis minarum

Parmotrema dilatatum

Parmotrema endosulphureum

Parmotrema subochraceum

Parmotrema sulphuratum

Parmotrema tinctorum

Pertusaria sp.

Pertusaria sp. 2

Phyllopsora corallina

Phyllopsora sp.

Physcia sp.

Porina mastoidea

Porina nucula

Pyxine sp.

Ramalina cf. peruviana

Rimelia reticulata

Sarcographa labyrinthica

Sarcographa sp.

Sticta sp.

Trypethelium tropicum

Usnea sp. 1

Usnea sp. a

Usnea sp. b

1

4

1

1

1

1

3

1

11

25

11

21

1

3

1

5

6

2

1

16

1

1

1

1

2

5

1

1

1

2

1

3

1

6

1

1

2

1

3

3

2

33

3

1

4

3

10

1

1

2

1

1

1

115

Tabela 5. Famílias de liquens corticícolas registradas na Usina Serra Grande (São José da Laje/Ibateguara, AL).

Famílias Nº de ocorrência

Arthoniaceae

Bacideaceae

Cladoniaceae

Coccocarpiaceae

Collemataceae

Crocyniaceae

Ectolechiaceae

Graphidaceae

Gyalectaceae

Lecideaceae

Letrouitiaceae

Megalosporaceae

Opegraphaceae

Parmeliaceae

Pertusariaceae

Physciaceae

Pyrenulaceae

Ramalinaceae

Stictaceae

Trichotheliaceae

Trypetheliaceae

Usneaceae

22

12

3

1

11

11

1

24

37

16

1

2

2

20

3

5

1

5

1

28

2

3

Tabela 6. Diversidade de famílias e de espécies de liquens corticícolas, segundo Índice de Shannon-Wiener na base 2, e dimensão dos fragmentos da Usina Serra Grande (AL).

Local Fragmentos Diversidade de Famílias

Diversidade de Espécies

Área dos fragmentos (ha)

Serra Grande

Capoeirão

Cachoeira

Bom Jesus 41,5

Aquidabã 23,9

Coimbra 3.478,3

Varjão

3,697

2,978

3,448

2,679

3,240

3,564

2,397

4,707

3,510

3,970

3,387

3,379

4,326

3,197

-

-

270,9

-

116

Ao observar a Tabela 9 é possível constatar que apenas os fragmentos de Ageró e Quengo

apresentam valores de diversidade de famílias próximos ao da área total. No entanto, o primeiro

pode ser considerado mais diverso, pois tem área 10 vezes menor que o segundo. Em relação à

diversidade de espécies, na mesma tabela, observa-se que os valores de todos os fragmentos são

inferiores ao da área completa, com ênfase ao do Fervedouro. Por outro lado, apesar de valores

menores, os fragmentos do Ageró e do Espelho mostram maior diversidade, pois são os que têm

menor área e valores aproximados ao do Quengo, que é bem maior.

Reunindo os dados de todos os fragmentos das unidades de estudo, foi possível construir

uma listagem com todas as espécies ocorrentes. Foram registradas, ao todo, 90 espécies

distribuídas em 27 famílias. Algumas poucas amostras foram avaliadas de forma superficial, ou

apenas ao nível de família, por falta de elementos morfológicos que permitissem sua identificação.

Foram registradas, por exemplo, algumas amostras apenas como “crosta estéril”, “crostosa com

apotécios”, “crostosa com lirelas”, “crostosa com peritécios”, ou os crostosos da família

Tabela 7. Espécies de liquens corticícolas e respectivo número de ocorrências na RPPN Frei Caneca (Jaqueira, PE).

Espécies identificadas Nº de ocorrência

Arthonia platygraphoidea

Arthonia sp. Arthothelium sp. Bacidia sp. Campylothelium sp. 1 Cladonia sp. Coccocarpia pellita

Coccocarpia sp. Coenogonium leprieurii Coenogonium linkii Crocynia sp. 1 Cryptothecia rubrocinctaDirina approximata

Glyphis cicatricosa

Graphis sp. Graphis sp. 1 Lecidea piperis Leptogium sp. Melaspilea sp.

Opegrapha sp. Parathelium sp. 1 Parmelinopsis sp. Parmotrema dilatatum Parmotrema eciliatum

Parmotrema mellissii

Parmotrema sulphuratumPertusaria sp. Phyllopsora corallina Phyllopsora parvifolia

Phyllopsora sp.

Physcia aipolia

Porina mastoidea Porina nucula Porina sp. 2 Sarcographa labyrinthica

Trypethelium tropicum Usnea sp. 1

1

1 1 3 1 1 2

1 3

17 1 8 1

1 1 1 12 2 3

1 1

1 1 1 1

1 2

1 7 4

1 31

4

2 2

1 1

117

Thelotremaceae. O mesmo se deu com os espécimes foliosos que puderam ser identificados

apenas até o gênero ou cujas espécies são registradas como “cf” ou então numeradas. Esse

material ficou apenas para registro, podendo se tratar das espécies que já foram citadas.

Ao final do livro, a listagem completa das espécies, com suas respectivas famílias e áreas de

ocorrências, podem ser observadas no Anexo 3.

A distribuição de espécies e famílias, segundo fragmentos das áreas de Floresta Atlântica

avaliadas, estão demonstradas na figura 1. Nela observa-se a quantidade de famílias e espécies

por fragmento, dando uma idéia do quadro geral da riqueza de cada localidade, de acordo com sua

localização geográfica.

118

Tabela 8. Famílias de líquens corticícolas registradas na RPPN Frei Caneca (Jaqueira, PE).

Famílias Nº de ocorrência

Arthoniaceae

Bacidiaceae

Cladoniaceae

Coccocarpiaceae

Collemataceae

Crocyniaceae

Graphidaceae

Gyalectaceae

Lecideaceae

Melaspileaceae

Opegraphaceae

Parmeliaceae

Pertusariaceae

Physciaceae

Pyrenulaceae

Thelotremataceae

Trichotheliaceae

Trypetheliaceae

Usneaceae

11

15

1

3

2

1

5

20

13

3

1

5

2

1

1

4

37

2

1

Tabela 9. Diversidade de famílias e de espécies de liquens corticícolas, segundo Índice de Shannon-Wiener na base 2, e áreas dos fragmentos da RPPN Frei Caneca (Jaqueira PE).

Local /Fragmentos Diversidade de Famílias

Diversidade de Espécies

Área dos fragmentos (ha)

Frei Caneca 3,363 4,815

Ageró 3,098 3,408

Espelho 2,678 3,320

Quengo 3,315 3,943

Fervedouro 2,316 2,625

-

50

50

500

300

Usina Serra Usina Serra

GrandeGrande

77ºº

99ºº

1111 ºº

1010º

77ºº

99ºº

88 ºº

1111ºº

1010 ºº

ALAL

3737ºº 3535 ºº3939ºº4141 ºº

3737ºº 3535ºº39ºº4141ºº

PEPE

Escala aproximada1/2.000.000

Quantidade de famílias por fragmento

(Gurjaú)

1010

77

11111313

1818

Quantidade de espécies por fragmento

(Gurjaú)

17

8

21

21

45São Braz

Xangô

Café

Cuxiú

Gurjaú

Quantidade de espécies por fragmento (Serra Grande)

23

14

13

121327

53

Cachoeira

Capoeirão

Bom Jesus

Aquidabã

Varjão

Coimbra

Serra Grande

Quantidade de fam ílias por fragmento(Serra Grande)

2222 1515

1010

99

10106

1616

Quantidade de espécies por fragmento

(RPPN Frei Caneca)

12

13

248

38

Ageró Espelho Quengo Fervedouro Frei Caneca

ílias por fragmento

(RPPN Frei Caneca)

20

1010

99

151566

Usina Serra

Grande

77ºº

99ºº

1111 ºº

1010

77ºº

99ºº

88 ºº

1111ºº

10 ºº

ALAL

3737ºº 3535 ºº3939ºº4141 ºº

3737ºº 3535ºº39ºº4141ºº

PEPE

10

7

11111313

1818

Quantidade de espécies por fragmento

(Gurjaú)

17

8

21

21

45São Brás

Xangô

Café

Cuxiú

Gurjaú

Quantidade de espécies por fragmento (Serra Grande)

14

13

121327

53

Cachoeira

Capoeirão

Bom Jesus

Aquidabã

Varjão

Coimbra

Serra Grande

Quantidade de famílias por fragmento(Serra Grande)

22 15

1010

99

10106

1616

Quantidade de espécies por fragmento

(RPPN Frei Caneca)

12

13

248

38

Ageró Espelho Quengo Fervedouro Frei Caneca

Quantidade de famílias por fragmento

(RPPN Frei Caneca)

20

1010

99

156

Reserva de Gurjaú

Usina Frei Caneca

Figura 1. Localização das áreas de coleta de liquens nos fragmentos de Floresta Atlântica nos Estados de Pernambuco e Alagoas Brasil e respectivos números de espécies e famílias. Fonte: Miranda & Coutinho (2004), com modificações.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Asahina, Y. & Shibata, S. 1954. Chemistry of lichen substances. Tokio, Japanese Society for the Promotion of Science.

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De todas as áreas avaliadas, a de maior riqueza de espécies foi a da mata da Usina Serra

Grande, enquanto a de maior diversidade foi da mata de Gurjaú.

Em relação aos fragmentos, o de maior riqueza e diversidade de espécies foi o de Coimbra.

No entanto, se levada em consideração a dimensão da área, o fragmento de Cuxio foi o de maior

diversidade, pois é 29 vezes menor do que Coimbra.

A ação antrópica pode influenciar na ocorrência e/ou desaparecimento das espécies, no

entanto, mais dados serão necessários para se chegar a tal conclusão.

Não foram, até o momento, registradas novas espécies. No entanto, face ao escasso

estudo deste grupo taxonômico em Floresta Atlântica do Nordeste, provavelmente a maioria, ou a

totalidade das espécies, constituem-se novas referências.

A ocorrência de Usnea spp. e Ramalina spp. constituiu em fato surpresa, visto que são

gêneros comuns a serras do Sul e Sudeste do Brasil, ou áreas de altitude do semi-árido

pernambucano. Tal fato pode ser atribuído à altitude elevada de alguns fragmentos, e provável

proteção contra poluentes atmosféricos.

Em relação a espécies raras, ameaçadas ou em extinção, nada ainda pode ser afirmado,

pois os dados referentes a liquens em listagens oficiais desta natureza são insuficientes.

CONCLUSÕES