Linhas 20

60

description

Ano 10, Dezembro 2013

Transcript of Linhas 20

Page 1: Linhas 20
Page 2: Linhas 20
Page 3: Linhas 20

3

Manuel António AssunçãoReitor da Universidade de Aveiro

Edito

rialCoincide a saída deste número da Linhas

com o nosso quadragésimo aniversário.

Quatro décadas de construção e

consolidação de um projecto que enche de

orgulho todos os que nele participaram mais

diretamente, mas também os muitos amigos

da UA que nos acompanharam e foram

ajudando nesta já longa caminhada: é deles,

igualmente, o nosso êxito.

Um projeto com diversas etapas.

Uma primeira, com a escolha de cursos

que representaram singularidade e

complementaridade face à oferta existente ao

tempo; e, desde logo, com um grande ênfase

na formação, na altura fora de Portugal, de

docentes que pudessem fazer a diferença,

que fossem capazes de sustentar Aveiro pela

competência demonstrada no levar a cabo

a missão universitária. Uma segunda, em

que se cimentou o modelo organizacional,

também ele original e único no país, e em

que se levantou a maior parte do edificado,

idealizado com grande sentido estratégico e

recorrendo aos melhores arquitetos nacionais,

o que nos permite dispor do belíssimo

Campus onde estudamos, trabalhamos e

vivemos. Seguiu-se uma fase de atenção

acrescida à qualidade do que fazíamos, à

organização que constituíamos e às pessoas

que formavam a nossa gente. Uma fase

marcada, também, pela consolidação

das nossas apostas na pesquisa, pelo

intensificar da cooperação com a sociedade,

pelos primeiros estudos sobre a inserção

profissional dos diplomados, pela abertura

ao ensino politécnico e a Escolas em Águeda

e Oliveira de Azeméis. A última década

assistiu ao contínuo alargar da missão da

UA, ao maior envolvimento na Cultura e na

divulgação da Ciência, ao aprofundar das

questões da avaliação e informatização,

ao desenvolvimento da cooperação com a

região, à estruturação de vias relacionais com

os antigos alunos, à passagem a Fundação

como testemunho da nossa capacidade de

obtenção de fundos próprios; e ao esforço

acrescido de internacionalização, através de

estudantes, projetos e redes, fundamental

para afirmar a Universidade de Aveiro no

ambiente universitário global e garantir um

melhor futuro.

A escolha do Professor Onésimo Teotónio

de Almeida – académico prestigiado

de uma grande Universidade norte-

-americana, cidadão português desde

sempre empenhado no seu país e amigo da

UA – como nosso homenageado Honoris

Causa nesta efeméride tem muito a ver

com o nosso percurso: aberto e atento

ao mundo, internacional, medindo-se por

padrões universais de qualidade; implicado

ativamente no progresso da região e do

país, e ambicionando ter impacto nas suas

ações; e com preocupações pelo ambiente

humano e coesão da sua comunidade.

O Doutoramento Honoris Causa a

atribuir em breve ao Engenheiro José

Formigli e ao Professor Manuel Ferreira

de Oliveira, para além de uma justa

homenagem ao enorme desafio humano

que a extração de petróleo do pré-sal

constitui e a dois dos seus ilustres

representantes, insere-se nesse realçar da

importância das relações internacionais

sem as quais não há boas universidades.

A Linhas foi criada, gosto de recordar,

para servir de elo entre a UA e os seus

antigos estudantes e, de modo mais

geral, de ponte com o mundo.

Queria, por isso, destacar dois momentos

relevantes da nossa vida enquanto

comunidade alargada. Um, já anunciado

no número anterior, foi o concretizar do

primeiro Dia do Antigo Aluno, com um

sucesso que vai exigir a sua repetição

nos anos vindouros. O outro foi a entrega,

pelo Presidente da República, do Prémio

COTEC para o Caso Exemplar de Relação

com a Indústria que a nossa associação,

desde o primeiro instante, com a Portugal

Telecom Inovação (e o seu antecessor

Centro de Estudos de Telecomunicações

dos CTT) representa.

São exemplos bem demonstrativos desta

nossa aventura, consciente, ambiciosa e

vibrante, de 40 anos. Valeu a pena, valeu

muito: foi possível construir uma grande

Universidade em Aveiro, um Campus que

Pensa. Que os próximos 40 tragam outro

tanto; ou ainda mais!

Page 4: Linhas 20

linhas dez 2013

29

30-35

36-41

03

OPINIÃO

40 anos da UA:

Testemunhos da comunidade

ENTREVISTA COM...

Veiga Simão

PERCURSOS HONORIS CAUSA

“Leitor omnívoro e viajante incansável”

Honoris Causa pela UA

Onésimo Teotónio Almeida

José Formigli e Ferreira de Oliveira

recebem Honoris Causa

DOSSIER

As empresas precisam? A UA tem!

PERCURSOS ANTIGOS ALUNOS

Fernando Ramos

Paula Leitão

José Mendes

DISTINÇÕES

PERCURSO SINGULAR

Júlio Pedrosa

INVESTIGAÇÃO

Buçaco: viagem para outra dimensão

de vida, de património e do espírito

Geologia médica, um novo “filão” nas

Geociências

EDITORIAL

Manuel António Assunção

Reitor da UA

06-09

10-14

18-23

15-17

24-28

42-48

EDIÇÕES

Page 5: Linhas 20

5

CULTURAL

Tesouros desconhecidos do Museu

da UA mostram-se ao público

ACONTECEU NA UA

54-56

49

52-53

50-51

57-58

CAMPUS EXEMPLAR

Fotoreportagem do novo edifício

da ESAN

ENSINO

UA: um campus multicultural

COOPERAÇÃO

Gabinete de Apoio ao

Consumidor Endividado

Page 6: Linhas 20

linhas dez 2013

Victor GilAntigo Reitor da UA

Que emoções há numa brisa

Que moliceiros há numa escola

Quantas aves há num abraço

Quantas marés há no espaço

Que saberes pedem esmola

Afinal a quem precisa

Ao todo oito gerações

Quantos frutos diplomados

Da ignorância avarenta

Alegremente roubados

Ou levados aos empurrões

Oito vezes cinco são oitenta

O dobro do que devia

Quantos sonhos sobem a ria.

José Veiga SimãoEx-ministro Ministro da Educação Nacional (1970-1974), da Indústria e Energia (1983-1985) e da Defesa Nacional (1997-1999)

A Universidade de Aveiro, fiel

à sua génese e a 40 anos com

realizações de sucesso, é exemplo

de como o sonho se confundiu

com a ação em prol da soberania

do conhecimento, a que nos resta.

Parabéns aos seus obreiros.40 a

nos

da U

ATe

stem

unho

s da

com

unid

ade

D. Carlos Filipe Ximenens BeloBispo Emérito de Díli e Prémio Nobel da Paz

Na ocorrência dos 40 anos da

Universdiade de Aveiro, seja-me

permitido endereçar os meus

Parabéns e o meu grande apreço

pela existência da Universidade.

Em nome de todos os Timorenses,

quero agradecer às autoridades

académicas pela colaboração com

a República de Timor-Leste e com

a Universidade Timor Loro Sae de

Díli. Muitos timorenses têm sido

beneficiados com ajuda e apoio

da UA. Daqui vai o meu sincero

agradecimento.

Bem-haja, e muito obrigado.

Bendito dos Santos FreitasMinistro da Educação, República Democrática de Timor-Leste

Em nome do Ministério da

Educação de Timor-Leste felicito

a Universidade de Aveiro pelo seu

40º aniversário. Aproveito esta

ocasião para elogiar a excelente

cooperação estabelecida na

reforma curricular do ensino

secundário geral, na formação

de professores e ainda na

integração de inúmeros jovens

estudantes timorenses que nesta

Universidade cumprem o seu

sonho académico.

D. António Francisco dos SantosBispo de Aveiro

Dois momentos maiores marcaram

o século XX em Aveiro: a

restauração da Diocese e a criação

da Universidade. Revivemos,

agora, esses momentos com

júbilo. A UA alargou as fronteiras

da nossa Terra, abriu amplos

e belos caminhos ao saber e

desenhou nova fisionomia em

Aveiro. A UA é âncora do futuro

que, em comum, queremos

construir. Parabéns.

Page 7: Linhas 20

7 opinião

Eugénio LisboaDoutor Honoris Causa e Professor aposentado do Departamento de Línguas e Culturas

Regressado de dezassete anos em

Londres, a UA foi aquela que, sem

hesitar, me abriu a porta e disse:

‘Entra!’. Eu entrei e comecei a ser

feliz. Talvez tenha ensinado alguma

coisa, mas aprendi, certamente,

imenso! Sobretudo, ganhei amigos

e uma espécie de segunda casa.

Não preciso de mais.

José Ribau EstevesPresidente da Câmara Municipal de Aveiro

UA, 40 anos de Vida

Em nome da Câmara Municipal

de Aveiro e dos Cidadãos do

Município de Aveiro quero saudar

com jubilo a Universidade de

Aveiro pelos seus 40 anos de vida.

Parabéns e que conte muitos,

tendo sempre por perto o seu

Município e a sua Região de Aveiro.

A aposta na UA tem sido

ganha, sendo agora tempo de

aprofundarmos mais a estratégia

de eficiência coletiva da Região de

Aveiro, na qual a UA tem um lugar

especial para continuar a cumprir.

Bem Haja.

Fernando Paiva de CastroPresidente da Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA)

Completados 40 anos de

existência à Universidade de

Aveiro é-lhe reconhecido, pelo

meio empresarial, o prestígio de

um longo percurso de trabalho,

exponenciando o capital do

conhecimento e competências

ao dispor das empresas, cuja

extensão vai além-fronteiras. Por

isso, a AIDA felicita a UA com

votos de um futuro promissor.

António Correia e SilvaEx-Reitor da Universidade de Cabo Verde e atual Ministro de Ensino Superior, Ciênciae Inovação de Cabo Verde

A Universidade de Aveiro é uma

realização notável no panorama

universitário português e lusófono.

Neste último círculo ela tem-se

posicionado como um dos mais

importantes players da cooperação

interuniversitária, sendo um exemplo

altamente inspirador e a sua acção

estimuladora das novas universidades

dos países de língua portuguesa,

nomeadamente as africanas e

timorenses. Este sucesso no mundo da

cooperação é em grande parte devido

à lucidez estratégica do seu corpo

dirigente. Que ela tenha vida longa!

Isabel JonetPresidente do Banco Alimentare Membro de Conselho de Curadores da UA

A Universidade de Aveiro tem

feito ao longo destes 40 anos

um percurso de excelência onde

a preocupação pela inovação é

uma constante. A transmissão

do saber, numa busca incessante

da aplicação do conhecimento,

tem sido apanágio desta Escola

à qual muito Portugal deve.

Felicito tanto o corpo docente

como os alunos por estes 40

anos e desejo que a UA continue

a ser um exemplo no meio

académico, formando, ousando,

interpelando, inquietando.

Parabéns.

Page 8: Linhas 20

linhas dez 2013

Test

emun

hos

sobr

e os

40

anos

da U

nive

rsid

ade

de A

veiro

Vasco LagartoDiretor da Rádio Terra Nova

A Universidade de Aveiro, pela

sua capacidade de inovação e

contributo para o desenvolvimento

socioeconómico da Região

de Aveiro, é uma das fontes

de informação incontornável

que diariamente nos anima

e incita a ter esperança e

confiança no futuro, contribuindo

inclusivamente, e de forma notória,

para a promoção da nossa região

para além fronteiras. A UA é um

ator fundamental no processo

de transformação de uma “terra”

em “terra nova”, no qual a rádio

Terra Nova se sente orgulhosa

em participar. Que estes 40 anos,

que agora se comemoram, sejam

apenas uma pequena amostra

do que os próximos 40 anos de

atividade da Universidade irão

contribuir para o desenvolvimento

e qualidade de vida da nossa

Região de Aveiro.

Cristina BoiaCEO da Extrusal, Companhia Portuguesa de Extrusão, licenciada e pós graduada pela UA

A existência da Universidade de

Aveiro teve um grande e positivo

impacte na Extrusal, e acreditamos

que o contrário também se terá

passado, até porque as duas

organizações cresceram em

paralelo – a Extrusal tem 41

anos desde a Fundação, e 39

desde que começou a laborar!

Ao longo dos anos houve uma

estreita colaboração entre as duas

instituições, entre outros aspetos

na resolução de problemas

industriais concretos e ambientais.

Esta colaboração foi potenciada

pelo facto de uma vintena dos

quadros superiores da Extrusal

de hoje se terem licenciado na

Universidade de Aveiro, em muitos

domínios diferentes, desde várias

engenharias (Ambiente, Química,

Materiais, Eletrónica, Mecânica) até

áreas de contabilidade e gestão.

Parabéns, UA !”

Fernando CaçoiloPresidente da Câmara Municipal de Ílhavo

É pelo espírito inovador e

crescente investimento em I&D

que a UA se distingue na Região

imprimindo-lhe uma cadência

evolutiva sólida.

A articulação com o Município de

ílhavo é, sem dúvida, uma forte

aposta conjunta. Este é momento

em que a nossa interação se

afirma como um mecanismo de

promoção do desenvolvimento

socioeconómico da Região

através do estabelecimento de

plataformas de colaboração e

intercâmbio de competências,

com claros benefícios para

empresas e população.

Page 9: Linhas 20

9 opinião

Ivan SilvaDiretor Executivo do Diário de Aveiro

A nossa Universidade de Aveiro

assinala 40 anos. Nasceu como

um projeto ambicioso e, hoje,

é uma certeza no ensino em

Portugal e no Mundo. Falar da

Universidade de Aveiro é sinónimo

de liderança, de investigação

e de parceria com e ao serviço

das empresas e de docência de

superior qualidade. Na nossa UA

se concebe conhecimento e se

constrói o futuro. Com orgulho, o

Diário de Aveiro acompanha o seu

dia-a-dia - através da página diária

“Vida Académica” - e esteve, com

regozijo, em todos os passos

importantes que deu nos últimos

anos. Uma palavra final de bem-

haja a todos os intervenientes - e

aos seus Reitores -, ao longo das

quatro décadas.

Alcino LavradorCEO da PT Inovação

Uma das caraterísticas que

distingue a UA é a sua relação

com as empresas. A relação

privilegiada que mantém com a

PT Inovação nasceu há 40 anos

e é, hoje, um caso exemplar

de cooperação universidade-

empresa na transformação de

conhecimento fundamental

em valor para a economia e

beneficiando a sociedade.

António Jorge FrancoPresidente da Fundação Mata do Buçaco

Os 40 anos de existência da

UA comprovam o sucesso de

uma instituição, com qualidade,

quer na área de ensino, quer da

investigação. É um orgulho para a

Mata Nacional do Buçaco receber

diariamente, e há mais de uma

década, investigadores da UA,

que muito têm contribuído para o

conhecimento científico do local.

Parabéns!

António Sousa NunesDiretor do Departamento de Inovação, Desenvolvimento e Sustentabilidade da Galp

A elevada qualidade académica e

o espírito de inovação focado no

progresso industrial sustentável

marcam o ADN da frutuosa e já

longa história de cooperação entre

a Galp Energia e a Universidade

de Aveiro. As nossas expectativas

futuras passam por aprofundar

esta relação de colaboração,

conducente à formação de capital

humano altamente qualificado e de

iniciativas de I&D que contribuam

para o desenvolvimento

sustentado de Portugal.

Gil NadaisPresidente da Câmara Municipal de Águeda

No seu 40º Aniversário felicito, em

nome do Município de Águeda,

a Universidade de Aveiro pelo

inegável papel no progresso

e avanço do território onde se

insere, e que tem sido alcançado

através da dinamização de

sinergias e desafios, rumo a um

futuro assente na inovação e no

desenvolvimento sustentável.

Hermínio LoureiroPresidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis

A Universidade de Aveiro é

hoje uma das mais prestigiadas

universidades do país pela sua

capacidade científica, pedagógica

e pela visão estratégica que tem

do ensino superior. É de realçar

ainda a sua aposta na formação

politécnica, destacando-se, aqui,

o projeto da Escola Superior

Aveiro Norte, em Oliveira de

Azeméis, que, em breve, entrará

em funcionamento, integrando o

Parque do Cercal - Campus para

a Inovação, Competitividade e

Empreendedorismo Qualificado.

Ao longo de quatro décadas

esta instituição tem servido

exemplarmente o país formando

técnicos altamente especializados

e competentes.

Aos seus responsáveis parabéns

pelo sucesso alcançado.

Page 10: Linhas 20

linhas dez 2013

"As universidades

têm de desafiar

o governo

para novas

alternativas!"

Veiga Simão, ex-ministro e referência

nas questões de educação, ciência e inovação"

Foi chamado para o Governo antes do “25 de Abril”,

tendo sido autor de uma reforma que marcou a

história do ensino em Portugal, e depois, tutelando

outras pastas ministeriais e exercendo funções no

âmbito da estratégia educativa e científica. Sendo

essa peculiaridade sugestiva da sua forma de lidar

com a causa pública, José Veiga Simão é ainda dos

poucos portugueses agraciados com várias ordens

honoríficas, continuando, hoje, a contribuir ativamente

para a competitividade e inovação no país, agora

coordenando a elaboração da Carta Magna da

Competitividade de Portugal e das Cartas Regionais

de Competitividade. Crítico da atual situação política

na área do ensino superior, deixa pistas e considera

que as universidades têm um papel crucial a

desempenhar na situação em que o país se encontra.

Page 11: Linhas 20

11 entrevista

Quando criou, em 1973, as chamadas

novas universidades no litoral e

interior - Universidades de Aveiro,

Minho, Nova de Lisboa, Instituto

Universitário de Évora e institutos

politécnicos noutras localidades

- tinha como objetivo combater

o centralismo e seria isso uma

sequência lógica dos Planos de

Fomento anteriores?

Essa questão tem uma dimensão que

ultrapassa largamente o ensino superior.

O centralismo percorre os diversos

regimes políticos, da 1ª República

passando pelo Estado Novo de Salazar e

pelo Estado Social de Marcello Caetano,

até à atual democracia tutelada por

uma “troika” que limita, de algum modo,

a nossa soberania. Agora temos um

centralismo de outra natureza.

Por outro lado, se analisar as

Constituições da República Portuguesa,

- a de 1933 e a de 1976 nas suas diversas

revisões - percebe-se que, a par das

dificuldades na operacionalização de

poderes regionais, permanece insolúvel

um magno problema que se traduz no

desequilíbrio entre a voz dos cidadãos -

expressa em atos eleitorais - e a voz

das regiões, que não é expressa por

via democrática.

O Plano de Expansão e Diversificação

do Ensino Superior tem esse

pano de fundo, mas integra-se,

fundamentalmente, numa outra

estratégia: a da democratização do País

pela e da educação. “Um povo que não

cultiva a sua inteligência está perdido”,

afirmava o filósofo e matemático

Whitehead, em 1910. Acontece que a

minha aceitação do convite de Marcello

Caetano para ministro da Educação

Nacional, dependeu de uma condição

básica que foi aceite: iniciar uma

reforma educativa global extensiva

a todo o País, na qual se integrava o

Plano de Expansão e Diversificação do

Ensino Superior. Uma outra condição

determinante, igualmente aceite, foi

a de começar a Reforma logo no dia

da minha tomada de posse em 15 de

janeiro de 1970. A Reforma, como alguns

sugerem, não começou em 1973. Esta

situação está, aliás, expressa no parecer

da Câmara Corporativa no qual se

refere, a propósito da Lei de Bases do

Sistema Educativo, que mais de 50 por

cento do que ela propõe está realizado

ou em curso.

No ensino superior, entre muitas das

medidas tomadas, saliento a grande

importância da nova carreira docente

universitária e o reconhecimento em

Portugal dos doutoramentos obtidos no

estrangeiro. Foram também criados novos

cursos nas universidades existentes, a

Universidade Católica foi reconhecida e

criado o ISCTE, hoje Universidade.

…De outro modo seria impossível

responder a esse grande desafio…

Sim, porque as quatro universidades

então existentes - as Universidades de

Lisboa, Técnica de Lisboa, Coimbra

e Porto - não teriam capacidade nem

meios para responder ao grande desafio

da democratização e modernização

do ensino superior. Na Universidade

de Lourenço Marques, como fundador

e Reitor, consegui criar uma equipa

docente, técnica e administrativa

de eleição; foram doutorados mais

docentes e investigadores em sete

anos, em centros de investigação

europeus e dos Estados Unidos com

prestigio reconhecido, do que nas quatro

universidades portuguesas em domínios

equivalentes em 50 anos! A Universidade

de Aveiro veio a tornar-se, após a

descolonização, uma grande beneficiária

desses doutorados - alguns reitores -, e

de funcionários.

Mas, na base do Plano de Expansão

e Diversificação do Ensino Superior

estavam pressupostos essenciais:

o conhecimento dos labirintos da

Administração Pública; a necessidade

de fundamentar o Plano em estudos

de diagnóstico e de prospetiva -

demográficos, sociais, culturais e

económicos -; a urgência em nos

rodearmos de colaboradores de prestígio

(equipa de onde saíram vários ministros,

e altos funcionários anos depois, na

democracia); a perceção de que era

crucial levar a mensagem à população -

houve um debate nacional que demorou

sete meses -; a aliança com professores

co-autores da Reforma e ainda, a de

assegurar financiamentos a curto,

médio e longo prazos. A carência de

quadros superiores, cientistas, técnicos

e professores e a sua participação no

desenvolvimento do País emergia como

prioridade nacional.

É importante lembrar que, antes,

se tinha avançado com a expansão

do ensino secundário e dos vários

níveis anteriores de ensino.

Com certeza. Não há universidade sem

escola primeira, disse eu. No debate

nacional então realizado intervieram

cerca de 60 mil pessoas com textos

escritos! Esse apoio foi decisivo para

vencer o conservadorismo vigente que

colocava sérios obstáculos à Reforma.

Não cabe aqui citar a legislação

produzida e as experiências pedagógicas

criativas que foram objeto de intensas

polémicas desde o pré-escolar até o

chamado ensino médio.

E em relação à localização das

instituições de Ensino Superior?

Os estudos já referidos fundamentaram-

-se num conjunto de critérios rigorosos

em relação à localização das novas

instituições de ensino superior. Não foi

pela pressão de grupos de influência, que

também se evidenciaram. Em relação a

Aveiro, tive mesmo um problema afetivo.

Um setor prestigiado da Universidade

de Coimbra, pela qual nutro um grande

amor, que me ensinara, tal como

em Cambridge, que devia cultivar a

independência de pensamento, entendia

que o território de Aveiro estava sob a sua

Page 12: Linhas 20

linhas dez 2013

“suserania”. Cometia uma traição à alma

mater se criasse a Universidade de Aveiro.

Isso deu origem a acesa polémica com os

meus colegas, amigos pessoais.

No entanto, a dinâmica do

desenvolvimento da região de Aveiro,

associada ao “aveirismo” de José Estevão

e, naquela altura interpretado por Vale

Guimarães, a força com que o progresso

da região se afirmava no contexto

demonstrado pelos estudos elaborados,

exigiam em Aveiro uma universidade

aberta à criatividade, a qual, sendo

diferente da de Coimbra, era imprescindível

numa rede de instituições coerente,

consistente e sustentável.

Reorganização e reestruturação

precisam-se

Esse estudo apontava para a criação

de instituições de ensino superior em

Aveiro, Braga e à volta de Lisboa…

No caso de Lisboa, a incidência era

na margem sul do Tejo, onde veio a

ser instalado apenas um dos polos da

Universidade Nova, ao contrário do

projeto inicial.

No contexto do eixo Braga-Guimarães

emergiu a Universidade do Minho.

Os estudos apontavam para a criação

de três universidades, não incluindo

uma universidade em Évora. No

entanto, o facto de Évora já ter tido uma

Universidade - extinta no tempo do

Marquês de Pombal, devido ao conflito

com os Jesuítas -, a necessidade daquela

região dever competir com Espanha, a

possibilidade de a associar ao Instituto

Superior Económico e Social de Évora,

justificaram a criação do Instituto

Universitário de Évora, com o mesmo

status de universidade.

Ao mesmo tempo, fazendo jus a

uma descentralização, foram criados

institutos politécnicos e Escolas Normais

Superiores, designação herdada da Iª

República. Estas, vieram a dar origem

às Escolas Superiores de Educação

e a serem integradas nos Institutos

Politécnicos, por razões apenas do

financiamento do Banco Mundial.

Uma decisão com efeitos negativos na

evolução do ensino politécnico.

Esse sistema que idealizou assentava,

portanto, numa tríade, e não num

sistema binário (ensino universitário /

ensino politécnico) como o que existe

atualmente e cujas especificidades

nem sempre são claras…

Sem querer minimizar o que muito de

bom se tem feito na estruturação das

instituições de ensino superior houve

não curada acentuada por “variâncias

contraditórias” do poder político. Só

assim se explicam preâmbulos de

decretos-leis em que a linguagem é a da

“promoção” de institutos politécnicos

a institutos universitários e, mais tarde,

a universidades. Leviandades de

legisladores prolongando o “drama” da

dicotomia entre status social - o qual deve

ser igual - e a diversidade curricular, que

deve ser aprofundada correspondendo

à evolução científica e tecnológica.

Recordo-me que no ensino secundário,

para minimizar essa visão dicotómica,

propus no início da Reforma Educativa as

designações de “liceu clássico”, de “liceu

técnico” e de “liceu artístico”, no sentido

de transmitir à sociedade a igualdade

de status social, mas nas conclusões

do debate nacional esta minha ideia não

vingou. Hoje, temo que, com o processo

de Bolonha nem sempre bem aplicado,

mais uma vez se caminhe no sentido

errado de pretender uma “igualdade

curricular”, destruindo até os então

bacharelatos profissionais; uma evolução

perniciosa ao desenvolvimento do País.

Universidade e território:

que estratégia?

As mais recentes colocações na

sequência do concurso de acesso ao

ensino superior são pouco animadoras

para as instituições portuguesas e

menos ainda para o ensino politécnico,

suscitando dúvidas sobre o futuro de

várias instituições tal como existem

hoje. A Universidade de Aveiro, neste

aspeto, adotou uma via sui generis

ao congregar o ensino universitário e

politécnico. O futuro pode passar por

esta solução?

A Universidade de Aveiro apresenta, no

caso do binómio ensino superior - ensino

politécnico, um modelo interessante,

flexível e inteligente, maximizando os

meios disponíveis.

Quando analisamos a atual rede

de ensino superior verifica-se que,

um retrocesso em termos conceptuais,

em relação a princípios que definiram

os objetivos da rede de ensino superior

criada em 1973, dotada de três tipos de

instituições. As universidades aparecem

como instituições de grande abrangência

do saber e como “oficinas da criação e

transformação do conhecimento” onde

a trilogia de ensino/investigação e a

ligação à sociedade se desenvolvem

em vertentes humanísticas, científicas

e experimentais de grande amplitude.

Os institutos politécnicos atuavam no

sentido de uma ligação mais direta ao

universo de empresas e serviços, sem

prejuízo de uma formação científica

de base, concretizando-se em cursos

superiores de curta duração. A

problemática do ensino universitário

versus ensino politécnico é uma ferida

Page 13: Linhas 20

13 entrevista

atualmente, em número de instituições

e em número de cursos (revelando uma

imaginação prodigiosa) há afastamentos

duma equilibrada empregabilidade e da

realidade económica social e cultural,

designadamente a nível regional.

Os partidos políticos atuaram a certa

altura de forma incoerente na pretensa

defesa de interesses regionais. A rede

atual precisa de ser reestruturada e

racionalizada. A questão é: como fazê-lo?

A evolução demográfica aponta para

uma diminuição de candidatos ao ensino

superior. O retrocesso, há vários anos,

em termos de política de natalidade e

da família é fortemente censurável. No

entanto as consequências no ensino

superior podem não ser tão dramáticas

como muitos apresentam! É necessário

dar maior atenção ao abandono escolar,

acompanhando criativamente os

alunos em maiores dificuldades, numa

perspetiva sociológica, psicológica e de

atratividade na apreensão e utilização de

conhecimentos. As taxas de abandono

devem ser diminuídas, sem perder o rigor

e a qualidade de “educare” no sentido

de Cícero como “alimentar”, “treinar”,

“formar”, “conduzir para longe”…

Na osmose entre o ensino secundário e o

ensino superior o número de perdas não

pode ser da dimensão existente. Mas a

este propósito devo mencionar que sou

partidário da “avaliação pelo mérito” e

da “existência de exames”. Verdade seja

dita que a forma como atualmente estão

a ser implementados, a diversos níveis,

estes conceitos revelam precipitação

dominada por cego economicismo. A

tudo isto acresce, no que respeita à

frequência do Ensino Superior, que os

conhecimentos evoluem e, em muito

países, os funcionários das empresas

e serviços são obrigados a atualizar

permanentemente os conhecimentos.

Aliás, faz cada vez mais sentido a

“formação ao longo da vida”. Devo referir

que tive o prazer de abrir as portas da

universidade através de exames ad hoc

a cidadãos com 25 anos de idade. Hoje,

nos exames equivalentes, a idade limite

são os 23 anos - a experiência de vida é

menor do que com 25 anos - utiliza-se

esta “abertura” como porta de entrada

para as universidades, em muitos casos

sem garantir uma avaliação correta

dos portefólios de competências

dos candidatos.

De qualquer modo, a racionalização dos

cursos é urgente - e, no aspeto, da sua

acreditação a Agência de Avaliação e

Acreditação do Ensino Superior (A3ES)

tem feito um excelente trabalho…

A questão dominante que se deve colocar

na racionalização da rede deve poder

centrar-se numa visão estratégica do

modelo de desenvolvimento do País. Ora

esse modelo da responsabilidade do

poder político não existe e a articulação

intramuros e inter-instituições não tem

objetivo. Assim, as populações do

interior veem-se despojadas de serviços

públicos - e não só -, uns atrás dos

outros, impondo cada Ministério modelos

institucionais globais desarticulados.

Caminhamos para o desastre total no

que respeita ao desenvolvimento do

interior e, mais tarde, teremos de reerguer

o País de ruínas. As universidades

devem apresentar pelo estudo e por

propostas baseadas no domínio do

“conhecimento” modelos alternativos.

Na falta de pensamento governamental

espera-se uma posição das universidades

até, porque nelas está a soberania do

conhecimento, a única que nos resta. A

Universidade é acima de tudo a “oficina

da criação” e a “oficina da liberdade”.

Mas para terem capacidade de

atuação, as universidades têm de se

adaptar ao novo contexto…

É urgente definir o contexto.

Estão afinal em causa as “Hélices

Triplas” do desenvolvimento em que,

por exemplo, a Universidade de Aveiro

tem potencialidades ímpares. E, embora

possa haver pontos de partida diferentes,

há que substituir “esferas rígidas

de competências” por “espaços de

cooperação” entre a universidade, a

empresa em sentido lato, e as instituições

autónomas públicas e privadas, dado que

muitas delas produzem conhecimento.

Os espaços de cooperação devem ser

privilegiados, desde que se defina uma

base ética e de responsabilidade social.

Page 14: Linhas 20

linhas dez 2013

Portugal entre os últimos na

transformação do conhecimento

No estudo que fez para a Universidade

de Aveiro, concluído em 1997, apontam-

-se vários caminhos para concretizar

essa cooperação entre instituições de

caráter diferente. Ao longo dos anos,

foram seguidos em termos mais ou

menos próximos das formulações

apontadas no estudo…

…Sim, mas em relação a isso não pode

haver dogmas. Eu diria que nem a Lei de

Bases que eu protagonizei, nem a que

está em vigor, se adequam aos desafios

dos nossos tempos. Mais do que uma

Lei de Bases do Sistema Educativo,

devíamos ter uma Lei de Qualificação

dos Portugueses. O passado serve para

alimentar o futuro, não para ser repetido.

É necessário recordar que Portugal,

no European Innovation Score Board,

está entre os primeiros países da União

Europeia na criação do conhecimento,

mas nos últimos na transformação deste

em bens económicos e culturais.

Perguntava se, com várias medidas

já concretizadas de aproximação à

sociedade, empresas e aos agentes

económicos e sociais, o estreitamento

ainda maior dessa relação estará em

risco no atual contexto económico?

Ou pelo contrário, ele constitui uma

oportunidade?

A Universidade de Aveiro adotou uma

estratégia em que privilegiou, logo de

início, a sua ligação à sociedade dando

sinais de primazia da componente

tecnológica e do imperativo da cultura.

Não foi por acaso que a Universidade

de Aveiro surgiu em estreita ligação

com os CTT/TLP e com o seu centro

de investigação. Nesse binómio

universidade-empresa, a Universidade

de Aveiro tem-se afirmado de uma forma

significativa, está na sua génese e agora

na vanguarda desse relacionamento com

realizações criativas na industrialização

da era do conhecimento. Assim acontece

no caso de indústrias tradicionais

com excelentes aplicações de “novas

tecnologias”, em sentido amplo.

Num trabalho que estou a coordenar

na Associação Industrial Portuguesa,

a propósito das Cartas Regionais de

Competitividade, verificamos que, na

região litoral desde o Minho passando

pelo Porto até Aveiro, a ligação das

universidades às empresas privilegia as

de bens transacionáveis, enquanto que,

no sul, essa ligação é mais intensa com

empresas de bens não transacionáveis.

A forte ligação com empresas de bens

transacionáveis tem de ser potenciada,

inclusive nos aspetos da conectividade e

mobilidade da Região. Seria um crime -

até no domínio do pensamento - se não

fortalecermos a intensidade dessa ligação.

O grau de orientação exportadora do

País só aumentará se diversificarmos

mercados, se melhorarmos a qualidade

dos produtos e os tornarmos mais

atrativos… Mas também precisamos de

uma nova vaga exportadora que deve

integrar o desenvolvimento da economia

do mar (de que se fala muito e faz pouco),

as indústrias criativas, e os imperativos

da Cultura e do Ambiente em prol do

desenvolvimento e da felicidade humana.

Como já referi, o European Innovation

Score Board carateriza uns países como

mais ligados à criação do conhecimento

e outros mais ligados à transformação

e utilização do conhecimento em

bens económicos e culturais. É esse o

desafio que temos de vencer! Se não

o vencermos, Portugal nunca pagará

quaisquer dívidas e não terá futuro.

Ora as Universidades existem para ganhar

o futuro! A Universidade de Aveiro estará

na linha da frente desse combate.

Daí ser fundamental reforçar

a ligação das universidades

à sociedade e empresas…

Intensificar essa ligação segundo

o conceito de que o alimento da

mudança é o conhecimento e de que

as universidades são essenciais na

afirmação da soberania do conhecimento.

Só que é preciso um contexto de

confiança em que os agentes possam

apostar, o qual neste momento apresenta

fragilidades enormes. Espera-se que

as Universidades no seu conjunto

perspetivem um novo modelo de

sociedade. Se essa confiança for

restabelecida, se não teimarmos em criar

conflitos entre gerações e se apostarmos

em perspetivas de um emprego com

novas profissões, dado que a “fábrica”

produz cada vez mais com mão-de-

obra qualificada reduzida, podemos

ultrapassar a crise. Têm a palavra o

ambiente, a cultura, as profissões

derivadas de um relacionamento criativo

entre gerações. E se a riqueza aumenta

com menos intérpretes, ela não pode ser

concentrada em alguns e o poder político

não pode ser dominado pelo poder

económico. Afinal temos de contribuir

para que os cidadãos portugueses vivam

uma vida digna de ser vivida como já nos

dizia Marcuse.

Page 15: Linhas 20

15 percursos honoris causa

Onésimo Teotónio Almeida“Leitor omnívoro e viajante incansável” Honoris Causa pela UA

“Gosto de humor em qualquer situação. É uma ótima ferramenta

para sublinhar uma ideia, torna-a mais interessante”, esclareceu

o autor e investigador numa entrevista ao jornal “i”. “Dotado de

uma personalidade complexa e multifacetada, “sincrónico e

diacrónico”, conversador inveterado, “devorador de paisagens”,

professor de cultura e “passador” de culturas, idiossincrático,

irónico, impossível de catalogar, Onésimo Teotónio Almeida é,

segundo Eugénio Lisboa, “um infatigável viajante, no mais lato

sentido da palavra “viajante”: atravessa oceanos, rios, lagos,

continentes, países, cidades, praias, mas atravessa, com igual

ímpeto e brio, livros, línguas, culturas, literaturas e filosofias. De

tudo isso nos dá depois conta nas suas crónicas ou diacrónicas,

nas quais, com uma desenvoltura fácil ou com uma força leve,

nos oferta, aos baldes, sabedoria séria assim como quem se

diverte (e nos diverte)”, explica o texto que justifica a atribuição

do título de Doutor Honoris Causa pela UA.

Académico, ensaísta, autor de contos e crónicas, cultiva e

vive, através da escrita e da sua atividade de divulgação e de

investigação, a teia que estabeleceu entre as suas raízes nos

Açores, a comunidade portuguesa emigrada nos EUA, a vida

académica, Portugal e o mundo. Onésimo Teotónio Almeida é

autor de várias obras e de mais de duas centenas de ensaios

publicados em Portugal, EUA, Brasil, França e Inglaterra,

“surgindo, incontornavelmente, no espaço cultural português,

como um dos grandes pensadores e prosadores da atualidade”,

refere-se também no texto justificativo da atribuição do

Doutoramento Honoris Causa. Neste texto, considera-se

ainda que “no seu labor crítico-interpretativo, conflui um

“Rideo, ergo sum” - “Eu rio, logo existo” - afirma, sobre si próprio, Onésimo Teotónio Almeida no título de uma das suas crónicas. A Universidade de Aveiro atribui o Honoris Causa a 16 de dezembro, no dia em que comemora o 40º aniversário, a este professor da Brown University. A madrinha será Isabel Alarcão, antiga Reitora e professora aposentada do Departamento de Educação.

impressivo conhecimento que procede quer do “diálogo”

privilegiado que mantém com autores - designadamente com

José Rodrigues Miguéis, de que é o grande especialista”,

entre outros expoentes máximos da literatura portuguesa, e da

literatura açoriana em particular. Em “O Pensamento Português

Contemporâneo (1890-2010)”, de Miguel Real, o ensaísta e

professor pertence, com Teófilo Braga, Antero de Quental e

José Enes, ao grupo de quatro pensadores de origem açoriana

e é analisado em mais de trinta páginas.

Há vários anos que colabora com a Universidade de Aveiro.

Leciona aulas ou seminários a convite de docentes da UA,

participa em colóquios, integra o Conselho Científico da RUA-L,

desempenha o papel de conselheiro no âmbito da elaboração

de projetos de investigação e integra o Painel Internacional de

Acompanhamento da Escola Doutoral. O professor de História

Cultural e Intelectual Portuguesa na Brown University fundou e

dirige a editora Gávea-Brown dedicada a obras, em inglês, de

literatura e cultura portuguesas.

Onésimo Teotónio Almeida é um açoriano de S. Miguel,

nascido em 1946. Está radicado nos EUA desde 1972 e

é professor no Departamento de Estudos Portugueses e

Brasileiros da Brown University, Departamento que ajudou

a fundar e que dirigiu. Naquela universidade americana

completou o MA e o PhD, ambos em Filosofia, após a

licenciatura na Universidade Católica Portuguesa em 1972.

Entre várias distinções e prémios, recebeu o título Oficial da

Ordem do Infante D. Henrique.

fotógrafo: Tiago Patrício

Page 16: Linhas 20

linhas dez 2013

A descoberta, em 2007, de acumulações de petróleo e gás

natural em reservatórios situados na camada do Pré Sal, uma

área submersa que se estende do litoral do Espírito Santo ao

de Santa Catarina, no Brasil, apontava para a existência de

uma nova e extraordinária província petrolífera em terra de Vera

Cruz. Atualmente calcula-se que essas reservas energéticas

possam permitir ao país atingir a produção média diária de

aproximadamente 3,4 milhões de barris por dia de petróleo em

2017. Um número que tornará o Brasil no sexto maior produtor

mundial de petróleo.

No entanto, os 300 quilómetros que separam a localização

das reservas da linha de costa e os 5 a 7 mil metros de

profundidade a que se encontram os depósitos são apenas

alguns dos desafios que separam os reservatórios de uma

exploração que, financeiramente, compense. A trabalharem em

conjunto em várias frentes no campo da energia, a brasileira

Petrobrás e a Galp Energia são atualmente parceiras na

exploração de petróleo em vastas áreas no Pré Sal.

“Trata-se de um projeto de enorme arrojo para a Engenharia,

e que engloba muitas das suas especialidades, e um desafio

para a Gestão nas suas componentes mais relevantes”,

lembra Carlos Costa, diretor do Departamento de Economia,

Gestão e Engenharia Industrial (DEGEI). Por isso, aponta

o responsável, a proposta de entrega dos graus de Honoris

Causa a José Formigli e a Ferreira de Oliveira, uma ideia de

Joaquim Borges Gouveia, investigador no DEGEI e diretor

do Departamento até meados de 2012, “é uma homenagem

ao maior projeto do mundo, o da exploração de petróleo

no Pré Sal brasileiro”. Um empreendimento que tem nos

gestores de ambas as companhias, impulsionadores de

relevo na sua consolidação.

As distinções, apoiadas não só pelo DEGEI mas também pelos

departamentos de Química, Engenharia Mecânica, Engenharia

de Materiais e Cerâmica, Geociências, Biologia e Ambiente e

Ordenamento pretendem sublinhar também duas empresas

que, por forte ação dos dois administradores, são responsáveis

pela estreita cooperação científica e técnica com as

universidades portuguesas e brasileiras no desenvolvimento de

conhecimento avançado e na formação qualificada de recursos

humanos para que a Galp Energia seja um parceiro

de relevo da Petrobrás.

Petrobrás e Galp Energia

em destaque na UA

José Formigli e Ferreira de Oliveira recebem Honoris CausaÉ um Doutoramento Honoris Causa inédito no país. A distinção vai ser atribuida pela Universidade de Aveiro a um projeto que é hoje o maior desafio para a engenharia e gestão industrial do planeta - a Exploração de Recursos Energéticos no Pré Sal Brasileiro. A atribuição do título - em Engenharia e Gestão Industrial - a José Formigli e a Manuel Ferreira de Oliveira, administradores, respetivamente, da Petrobrás e da Galp Energia, pretende homenagear o empreendimento das duas empresas que, em parceria, têm a cargo a exploração de grande parte daqueles recursos naturais do Brasil. Os títulos vão ser entregues a 9 de janeiro.

Page 17: Linhas 20

17 percursos honoris causa

A complexidade tecnológica que está

associada ao empreendimento, que

em quase todas as fronteiras está no

limiar do desenvolvimento de novas

tecnologias, a base logística necessária

para explorar aquela área geográfica, a

necessária articulação com fornecedores

de bens, serviços e ciência e o grande

interesse económico e tecnológico que

este desafio desperta na comunidade

científica e industrial de ambos os países

fazem deste projeto um precioso campo

para atrair tudo o que de melhor produz

a Engenharia e Gestão Industrial.

No ano em que o Departamento assinala

o 25º aniversário da criação do curso de

Engenharia e Gestão Industrial, sublinha

Carlos Costa, “com estas distinções

podemos comemorar condignamente

a data e prestigiar esta área disciplinar

da UA que tão importante tem sido

para dotar as empresas, não só do país

como também da restante Europa, de

quadros especializados com excelente

formação académica”.

“A área de Engenharia e Gestão Industrial

é, hoje em dia, um ramo científico

autónomo com afirmação mundial e

encarna a integração de conhecimento

que se exige para qualquer projeto

de dimensão relevante, seja ao nível

individual seja ao nível da empresa”,

lembra Joaquim Borges Gouveia. “A

Engenharia e Gestão Industrial tem por

base a análise, o projeto, o desempenho

e o controlo de sistemas integrados

de pessoas, materiais, equipamentos

e energia”, acrescenta o investigador.

Assim, no projeto do Pré Sal, “adquirem

enorme relevância áreas científicas em

que a academia de Aveiro tem vindo a

revelar uma grande capacidade científica

e um prestígio mundial como é o caso da

Química, dos Materiais, da Geologia, do

Ambiente ou da Biodiversidade”.

Assim, e mais uma vez, a UA diz

“presente” quando os verbos são inovar,

transferir conhecimento e cooperar.

José Miranda Formigli Filho

É um dos nomes maiores da Petrobrás,

a empresa brasileira que é uma das

potências mundiais no setor energético.

Administrador com o pelouro de

Exploração e Produção, a maior Unidade

de Negócios da Petrobrás, José Formigli

entrou para a empresa em 1983, trilhando

desde então um percurso na área da

exploração e produção petrolífera.

José Formigli é engenheiro civil formado

pelo Instituto Militar de Engenharia,

pós-graduado em análise matricial de

estruturas pela Universidade do Estado do

Rio de Janeiro e tem um MBA em Gestão

Empresarial pela Universidade Federal do

Rio de Janeiro. Com uma experiência de

três décadas na empresa brasileira, José

Formigli já ocupou diversas posições de

gerência, todas relacionadas com a área

de Exploração e Produção.

Em 2008, José Formigli foi nomeado

gerente executivo da área criada para

o planeamento e desenvolvimento

das descobertas do pré sal, ficando

responsável pela gestão de todo o

programa de desenvolvimento da

produção dessas áreas. Um cargo que

é um dos de maior responsabilidade na

empresa, já que foi responsável pelo

desenvolvimento da exploração na

camada do PRÉ SAL na Bacia de Santos.

Manuel Ferreira de Oliveira

Presidente Executivo da Galp Energia

desde 2006, Ferreira de Oliveira é

licenciado em Engenharia Eletrotécnica

pela Universidade do Porto, tem o grau

de Master of Science e é doutorado em

energia pela Universidade de Manchester.

Tem também formação em gestão no IMD

(Lausanne, Suíça), bem como em Harvard

e na Wharton Business School (EUA).

Viveu 15 anos entre a Venezuela e o Reino

Unido ao serviço da PDV - Petróleos de

Venezuela e da BP.

Enquanto responsável pela Galp, Ferreira

de Oliveira tem sido um impulsionador de

relevo na consolidação da Galp e na sua

parceria com a Petrobrás e um promotor

no espaço lusófono de estreitas relações

de cooperação científica e técnica com as

universidades portuguesas e brasileiras,

seja no desenvolvimento de conhecimento

avançado, seja na formação qualificada de

recursos humanos.

Professor catedrático convidado do

Departamento de Economia e Gestão

Industrial da Universidade de Aveiro

- desde 2007/2008 e a título gracioso

- Ferreira de Oliveira é presidente do

Conselho Científico e Tecnológico do

Instituto de Petróleo e Gás e membro

do Conselho Geral do Fórum de

Administradores de Empresas.

Page 18: Linhas 20

linhas dez 2013

As empresas precisam? A UA tem!

Quatro décadas depois de nascer, pelo cordão umbilical que liga

hoje a UA ao - literalmente - mundo empresarial, a academia não

só forma profissionais que se espalham por empresas de todo

o planeta, como transfere conhecimento e tecnologia, apoia o

empreendedorismo e a inovação e presta serviços e estudos. Tal

como no princípio, os verbos continuam a ser inovar, transferir e

cooperar sempre e cada vez mais e melhor.

“A UA nasceu para ser um centro de saber aberto ao

tecido económico, social e cultural e para contribuir para o

desenvolvimento da região de Aveiro e do país”, reforça Carlos

Pascoal Neto, Vice-reitor da academia. E a missão primordial

está bem presente nas grandes dimensões da instituição:

ensinar, investigar e transferir conhecimento. “No ensino sempre

tivemos uma oferta muito orientada para as necessidades do

tecido empresarial e para a investigação, coabitando com a

que é fundamental a qualquer entidade que se dedica à ciência,

temo-la muito direcionada para a aplicação, desenvolvimento

de produtos e processos para a inovação tendo em vista a

transferência desse conhecimento para o tecido empresarial”,

aponta o responsável.

Na cooperação com os atores das empresas, a UA

tem, atualmente, nas suas fileiras uma dezena de

unidades de interface, cuja principal missão é fomentar o

empreendedorismo e transferir o conhecimento produzido nos

laboratórios, convertendo-o em valor económico, quer para as

empresas, quer, naturalmente, para a própria academia.

A Incubadora de Empresas da Universidade de Aveiro (IEUA) e

a Unidade de Transferência de Tecnologia (UATEC) surgem à

cabeça dessas unidades.

Uma incubadora para o século XXI

A IEUA, criada em 1996, tem inscrito no seu ADN uma

missão de peso. “A IEUA incentiva e apoia a criação,

o desenvolvimento e o crescimento sustentado de projetos

empresariais inovadores, através da promoção de ações

de capacitação para o empreendedorismo e da disponibilização

de espaços para a incubação de empresas, de serviços de

apoio ao empreendedorismo e de uma rede de parceiros

orientados para a criação de valor e para a concretização

de ideias de negócio”, explica o diretor-geral da IEUA,

Celso Carvalho.

No princípio era o verbo. Na Universidade

de Aveiro eram as empresas. Numa região

onde há 40 anos atrás o tecido empresarial

estava sôfrego de profissionais especializados

e de novas metodologias para inovar, crescer

e multiplicar-se, a certidão de nascimento

da academia de Aveiro foi carimbada

especificamente para colmatar essas lacunas.

Se no princípio eram as empresas ligadas à

cerâmica, à eletrónica, às telecomunicações

e ao ambiente quem mais carecia dos

recém-diplomados da UA, hoje não só o

leque se desdobrou para os materiais e

a nanotecnologia, o mar, a mecânica, a

química e o setor agrolimentar, o turismo, o

ordenamento do território ou a saúde, como

a academia deixou de ser apenas um viveiro

de quadros especializados orientados para as

necessidades socioeconómicas da região.

Page 19: Linhas 20

19 dossier

Ao longo dos seus 17 anos de atividade a IEUA apoiou a criação

de 54 empresas, sendo que 18 ainda estão incubadas e serão

responsáveis, numa previsão para 2013, pela criação de 103

postos de trabalho e por uma faturação superior a 4,5 milhões

de euros anuais.

“Os indicadores de desempenho de 2013, face a 2010, (mais 106

por cento de empresas em incubação, mais de 212 por cento de

postos de trabalho das empresas em incubação e mais de 425

por cento do volume de negócios das empresas em incubação)

e o número crescente de ideias de negócio em pré-incubação

(atualmente são sete) e de candidaturas à IEUA permitem

concluir que o apoio prestado é relevante e aporta valor para a

sociedade”, garante Celso Carvalho.

O suporte da Incubadora é concretizado através do IEUA

Start, um programa de incubação que tem a duração mínima

de 25 semanas e máxima de 150 semanas, e que inclui

um período de pré-incubação para ideias de negócio. As

empresas que concluem com sucesso este programa, as

denominadas empresas IEUA Graduadas, ficam capacitadas

para desenvolverem a sua atividade de forma autónoma. No

entanto, estas têm ainda a possibilidade de se candidatarem ao

IEUA Graduate, um programa de 100 semanas orientado para a

alavancagem de empresas.

Os inúmeros prémios entregues às empresas em incubação e

o terceiro lugar alcançado pela IEUA nas categorias “Fastest

Growth” e “Self Sustainability” do Best Science Based Incubator

Award 2013, que decorreu em novembro último, atestam o

precioso trabalho da estrutura da academia em prol da criação

de um tecido empresarial mais inovador, mais competitivo e

gerador de mais riqueza e emprego.

Soluções para todas as indústrias

Em relação à UATEC, criada em 2006, esta tem como principal

papel apoiar os direitos de propriedade intelectual de invenções

resultantes de trabalhos de investigação da academia e

cativar as empresas para a sua aquisição. Paralelamente, a

UATEC fomenta e apoia o empreendedorismo na comunidade

académica, com especial enfoque para o de base tecnológica,

fazendo ainda de elo de ligação entre as necessidades das

empresas e as soluções da academia.

Só nos últimos anos, através da UATEC, foram dinamizados cerca

de uma centena de projetos que correspondem a 11 milhões de

euros de investimento apoiados pelos diferentes programas de

financiamento nacionais e internacionais.

“A ligação da UA com o tecido empresarial é um dos principais

propósitos da Unidade”, aponta José Paulo Rainho, diretor da

UATEC. No cumprimento da missão, o responsável dá especial

enfoque à valorização e comercialização de conhecimento

produzido no seio da comunidade académica. “Os resultados

da investigação científica, cada vez mais orientada para as reais

necessidades das empresas, podem e devem ser absorvidos

por estas, com vista a aumentar a sua competitividade,

possibilitando-lhes vingar num mercado cada vez mais

exigente”, diz José Paulo Rainho.

Outra área de intervenção, na qual a ligação da academia com

as empresas está bem visível, prende-se com “a inovação e

o desenvolvimento de projetos em cooperação, copromoção

e prestações de serviços, nos quais a UATEC tem um papel

preponderante, não só na auscultação das necessidades

das empresas, mas também na identificação dos membros

da academia com competências técnico-científicas para dar

resposta às referidas necessidades”.

No futuro, antevê o diretor da unidade, “a estratégia da UATEC

passa por dar continuidade ao trabalho já iniciado, dando sempre

a conhecer às empresas o que de melhor se faz na Universidade,

não só ao nível da investigação científica, mas também ao nível

dos projetos realizados em parceria com a indústria”.

A Associação para a Formação Profissional e Investigação

da Universidade de Aveiro, a Fábrica Centro Ciência Viva

de Aveiro, o Gabinete de Estágios e Saídas Profissionais,

o Instituto do Ambiente e Desenvolvimento, o Laboratório

Central de Análises, o Laboratório Industrial da Qualidade e

a Unidade Integrada de Formação Continuada completam

a lista das unidades de interface com que a UA abre os

braços não só às empresas mas às instituições em geral

e à qual se junta ainda o Creative Science Park – Aveiro

Region. Formação profissional, ajuda na disseminação de

novas áreas de conhecimento e do empreendedorismo,

apoio às necessidades ambientais, análise de projetos

elétricos, equipamentos desportivos e maquinaria industrial,

promoção da aprendizagem permanente e ao longo da

vida entre a sociedade e prestação de serviços de análises

físico-químicas são apenas alguns dos objetivos destas

unidades. Se as empresas precisam, a UA tem.

Page 20: Linhas 20

linhas dez 2013

A PORTA DE ENTRADA DAS EMPRESAS NA ACADEMIA

É por excelência o balcão de acesso das empresas à UA.

Dá pelo nome de Gabinete Universidade-Empresa (GUE) e tem

por missão receber os empresários e, dependendo das

necessidades apresentadas, encaminhá-los para as unidades

de interface mais apropriadas.

“O GUE é a ‘via verde’ para a entrada das entidades externas,

nomeadamente das empresas, na UA”, explica Paula Seabra,

responsável pelo Gabinete. Ao GUE as solicitações dos empresários

chegam diariamente. A lista, descreve Paula Seabra, vai desde

“o desenvolvimento de projetos de investigação à realização de

análises e serviços de consultadoria”. Na área da formação e

emprego, por exemplo, “recebemos constantemente um número

muito significativo de ofertas de estágios extracurriculares e

curriculares e de vagas para os quadros das empresas”.

O volume crescente de solicitações com o endereço do GUE,

aponta a responsável, “é fruto dos contactos realizados pelo

Gabinete com o setor empresarial e, também, do facto da UA

ter decidido criar em 2011 um interlocutor privilegiado para as

empresas, o Portefólio de Competências e Serviços da academia”.

Em dois anos de existência o respetivo site (http://portefolio.ua.pt/)

já teve dezenas de milhares de visitas. Cerca de 12 por cento das

pesquisas realizadas ao Portefólio online foram efetuadas fora de

Portugal, a partir de 72 países.

Dinamizado pelo GUE, o Portefólio de Competências e Serviços

da UA resulta de um levantamento exaustivo do vasto leque de

competências e de serviços instalados na academia. Na prática,

trata-se de um catálogo integrado e de fácil acesso a todas as

valências existentes na Universidade. No portal do Portefólio de

Competências e Serviços são disponibilizados às empresas e

demais entidades do tecido económico as competências e serviços

de cada departamento, escolas politécnicas, unidades

de investigação e unidades de interface da UA.

Concebido a pensar sobretudo nas empresas, autarquias e outras

entidades públicas e privadas que pretendam conhecer e usufruir

das competências e dos serviços que a UA disponibiliza, o Portefólio

pretende facilitar e dinamizar a interação entre a UA e as entidades

externas. “Pretendemos [com o Portefólio] reforçar a nossa ligação

aos agentes económicos. Tal só é possível na medida em que

as empresas tenham conhecimento cabal dos nossos serviços,

infraestruturas, peritos e capacidades”, aponta Carlos Pascoal Neto.

Não menos importante neste contexto, sublinha o Vice-reitor, “é a

divulgação dos serviços da UA no que diz respeito ao apoio

à inserção profissional dos diplomados junto destas entidades”.

Plataformas

Tecnológicas: agrupar

para melhor distribuirA mais recente aposta da UA para reforçar a ligação

ao tecido empresarial surgiu em 2012. Sob o nome

de Plataformas Tecnológicas, foram criadas para dar

resposta às necessidades concretas dos setores chave

da economia nacional. Acompanhadas e apoiadas

pela Reitoria, através da UATEC, e dinamizadas

por equipas multidisciplinares de investigadores e

docentes, as Plataformas têm em mãos a missão de

desenvolverem projetos, produtos e serviços para as

empresas associadas às três plataformas já criadas:

a Agroalimentar, a do Mar e a dos Moldes. Seguir-

se-á, muito em breve, a criação de novas plataformas

tecnologicas em áreas estratégicas da UA e de relevo

para e economia da Região.

No caderno de missões das Plataformas surge

como prioritário o reforço da ligação da UA ao

setor empresarial nas áreas estratégicas do

futuro Parque de Ciência e Inovação, reforçar a

visibilidade das competências da academia em

Investigação e Desenvolvimento Tecnológico e

promover o aparecimento de projetos de investigação

aplicada em consórcio, com potencial para originar

processos e tecnologias inovadoras que possam ser

endogeneizadas pelo tecido empresarial.

Page 21: Linhas 20

21 dossier

Moldes

Oitavo maior produtor mundial de

moldes, com exportações para mais

de 70 países, Portugal é um importante

ator internacional neste setor. A indústria

nacional dos moldes tem mais de

500 empresas e emprega cerca 7500

pessoas. “As empresas do setor, de

modo a garantirem a sua sustentabilidade

a longo prazo, precisam de continuar a

evoluir técnica e tecnologicamente e de

reforçar a aposta na qualificação dos

seus recursos humanos”, diz Mónica

Oliveira, investigadora do Departamento de

Engenharia Mecânica da UA e responsável

pela Plataforma Tecnológica dos Moldes.

Neste contexto, a Plataforma, para além

de reforçar a missão da UA enquanto

entidade associada na gestão do Pólo de

Competitividade Engineering & Tooling

que operacionaliza o Plano Estratégico

para Setor de Moldes e Ferramentas

Especiais em Portugal, “é um agente

dinamizador e facilitador dos diferentes

intervenientes deste setor industrial, de

forma a alavancar de forma sustentável a

sua competitividade”.

Enquanto agente da academia,

diz Mónica Oliveira, a Plataforma

“disponibiliza-se para reunir equipas

multidisciplinares recetivas aos

desafios de uma indústria competitiva

e inovadora”. Para ajudar a cumprir

essa premissa “temos procurado

compreender as necessidades do

setor” através de visitas a empresas e

organização de seminários.

Agroalimentar

“A Universidade de Aveiro conta com

um grupo de investigação em Química e

Bioquímica dos Alimentos reconhecido a

nível nacional”, aponta Ivonne Delgadillo,

responsável pela Plataforma Tecnológica

Agroalimentar e investigadora do

Departamento de Química. E se a

eles se juntarem “o elevado número

de docentes e investigadores que

desenvolvem trabalhos, nas mais

diversas áreas científicas suscetíveis

de serem utilizados ao longo de toda

a fileira agroalimentar”, começa-se a

desenhar o porquê da aposta da UA

numa plataforma tecnológica neste

campo. A justificação final vem do

próprio Ministério da Economia - “a

agricultura foi o setor que mais contribuiu

para a criação de postos de trabalho

do primeiro para o segundo trimestre

de 2013” - e do retrato das indústrias

transformadoras portuguesas onde 16

por cento são alimentares.

“Os objetivos imediatos da Plataforma

Agroalimentar passam por estruturar e

coordenar as diversas atividades que

são desenvolvidas na UA e que podem

ser utilizadas pelo setor agroalimentar

por forma a conseguir oferecer serviços

e produtos ao longo da cadeia produtiva,

desde os produtos agrícolas até ao

consumidor”, explica a investigadora. As

ações de divulgação das capacidades

da academia no setor junto dos

produtores e empresários nacionais já

estão em marcha.

Mar

Portugal tem uma das Zonas Económicas

Exclusivas e uma das plataformas

continentais mais extensas do mundo.

Por isso, inevitavelmente, a criação

da Plataforma Tecnológica do Mar era

um imperativo, ainda para mais numa

Universidade que tem nas Ciências e

Tecnologias do Mar um dos polos de

desenvolvimento estratégico.

“Sendo a economia do mar uma das

áreas estratégicas de desenvolvimento

económico e social do país, existem

enormes oportunidades de investigação,

de desenvolvimento tecnológico e de

inovação neste domínio que exigem uma

aproximação multidisciplinar e uma forte

ligação entre as Universidades, Institutos

de Investigação, o setor empresarial e a

Administração Central, Regional e Local”,

aponta Luis Menezes Pinheiro, coordenador

da Plataforma Tecnológica do Mar. Nesta

área, indica o investigador do Departamento

de Geociências, a UA já navega em mar

alto sustentada “numa série de valências

interdisciplinares bem afirmadas a nível

nacional e internacional, que vão desde

o estudo integrado e multidisciplinar de

sistemas, recursos e riscos estuarinos,

costeiros e do mar profundo, à sua avaliação

ambiental e desenvolvimento sustentável”.

Assim, esta Plataforma quer maximizar

não só as valências existentes na

UA nos vários domínios do saber

aplicados às Ciências e Tecnologias

do Mar, governação e desenvolvimento

sustentável, como também

estabelecer parcerias com o setor

empresarial, entidades portuárias e da

Administração. Para além de numerosos

trabalhos de investigação já em curso

com os parceiros da Plataforma,

esta está já a lançar candidaturas a

financiamento de projetos conjuntos,

desenvolveu atividades de formação

de recursos humanos em ambiente

empresarial e lecionou cursos

avançados para a indústria do setor, em

particular nos domínios da aquicultura,

portos e recursos energéticos.

Page 22: Linhas 20

linhas dez 2013

Desde logo, a parceria resultou na primeira oferta formativa

da UA na área das Tecnologias de Informação, Comunicação

e Eletrónica e no Bacharelato em Telecomunicações que,

rapidamente, evoluiu para licenciaturas, mestrados e

doutoramentos nesses domínios.

UA e PT Inovação, uma parceria exemplar

No contexto da relação UA/PT Inovação salienta-se a

criação, em 1993, de uma infraestrutura determinante

na relação das duas instituições e na evolução das

Telecomunicações na Região de Aveiro e em Portugal,

o Instituto de Telecomunicações (IT) e, em particular o

Polo de Aveiro. Desde então, foram inúmeros os projetos

de investigação e desenvolvimento tecnológico (I&DT),

nacionais e europeus, em que a UA/IT e a PT Inovação

foram pioneiros, nomeadamente no desenvolvimento e

implementação de infraestruturas de banda larga e redes

de fibra ótica, bem como de produtos e serviços avançados

de telecomunicações e serviços digitais de apoio às áreas

económica, social, cultural e administrativa.

Cerca de 50 dissertações de mestrado e 20 de doutoramento

com orientação conjunta e uma centena de estágios

profissionais só nos últimos dez anos ajudam também

a justificar a escolha da COTEC Portugal - Associação

Em 1973 Veiga Simão, Ministro da Educação, assinou

o decreto que autorizava a cidade de Aveiro a erguer a

Universidade. O objetivo do documento não deixava margem

para dúvidas quanto ao porquê de fazer nascer entre as

universidades seculares de Coimbra e do Porto uma instituição

de ensino superior. Em mãos, Veiga Simão tinha estudos que

apontavam que o tecido empresarial da região centro, mais

concretamente o ligado à eletrónica e telecomunicações e

à cerâmica, precisava de ajuda, na forma de profissionais

qualificados, para crescer. Por isso, a semente da nova

academia só foi plantada muito por força dessas empresas.

E com elas germinou e cresceu.

A criação, no início da década de 70, do Centro de Estudos de

Telecomunicações (CET) - a instituição que daria origem à PT

Inovação - foi decisiva para conquistar a assinatura de Veiga

Simão tal era o potencial económico para o país de se apostar

no mercado mundialmente emergente das telecomunicações,

assim houvesse especialistas à altura. A missão de os formar

constituiu o primordial papel da UA.

A empresa serviu mesmo de berçário à nova academia que

teve nas suas instalações as primeiras salas de aula. De forma

decisiva, o CET influenciou a estruturação do núcleo inicial dos

departamentos e das áreas académicas e de investigação.

Telecomunicações e Cerâmica:

as parteiras da academia

Aula dos 1.os alunos da UA no Anfiteatro do Bloco Escolar do Centro de Estudos

de Telecomunicações

Page 23: Linhas 20

23 dossier

SOARES DOS SANTOS APELA AOS EMPRESÁRIOS:

“DEIXEM-SE CONTAGIAR POR ESTA DINÂMICA”

É um caso único no ensino politécnico português quando o tema

é a formação de profissionais à medida da exata necessidade das

empresas. Num trabalho conjunto, a UA e o Grupo Jerónimo Martins

(JM) adaptaram o plano de estudos da Licenciatura em Comércio da

Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA) de forma

a que os estudantes adquiram as competências apontadas pelos

empregadores como importantes para o exercício da profissão de

gestor comercial. A parceria entre as duas instituições, assinada em

2012, corresponsabiliza também a JM pelo próprio funcionamento

do curso da academia de Aveiro.

Nesse sentido, e anualmente, a multinacional portuguesa acolhe

nas suas empresas os alunos da Licenciatura em Gestão Comercial

(em regime de estágio), nomeia quadros de topo para acompanharem

individualmente os estudantes em programas tutoriais e disponibiliza

65 mil euros para financiar uma cátedra internacional convidada.

“A crescente colaboração entre as Empresas e as Universidades é

absolutamente crucial para o desenvolvimento da sociedade e da

economia do país como um todo”, aponta Alexandre Soares dos

Santos, presidente do conselho de administração da JM. “É preciso

criar um novo paradigma de envolvimento entre o mundo universitário

e o mundo empresarial, aproximando-os numa colaboração mais ativa

com vista à formação daqueles que, potencialmente, virão a ser os seus

futuros colaboradores”, acrescenta o empresário.

E foi a partir dessa convicção que a JM e a ESTGA desenvolveram

o trabalho conjunto de revisão e alteração de conteúdos

programáticos da Licenciatura em Gestão Comercial, “inspirados

pela visão de contribuir para uma melhor adequação do ensino à

realidade e às necessidades do mundo das empresas”. Em suma,

acrescenta Soares dos Santos, “pretende-se que os alunos aliem

os seus conhecimentos teóricos e a aprendizagem dos conteúdos

curriculares a experiências concretas de learning by doing que

facilitem a integração no mercado de trabalho, com benefícios ao

nível do aumento dos índices de produtividade”.

E os resultados começam a saltar à vista. “Num contexto nacional de

redução do número de alunos que se candidataram ao ensino superior,

a Licenciatura de Gestão Comercial lecionada nesta Escola preencheu

[este ano letivo] todas as vagas disponíveis, o que contraria a tendência

registada em anos anteriores”, lembra Soares dos Santos.

Por outro lado, o empresário sublinha que “também para as

empresas a proximidade com a comunidade académica é de suma

importância, na medida em que lhes permite acompanhar de perto

os mais recentes progressos na investigação e no conhecimento”.

Nessa certeza, Soares dos Santos deixa um recado: “Apelo

às empresas para que se deixem contagiar por esta dinâmica

e procurem formas de cooperação com as universidades que

resultem em claras vantagens para ambas as partes e se traduzam

em progresso para Portugal”.

Empresarial para a Inovação que, em novembro último,

entregou à UA e à PT Inovação o 1º lugar do concurso Casos

Exemplares de Cooperação Universidade-Empresa.

A associação terá tido também em conta os 140 milhões de

euros de investimento em projetos de I&DT, com financiamento

externo, e os 4,8 milhões de euros de contratos de

transferência de tecnologia, com financiamento direto da PT

Inovação à academia de Aveiro, ao longo dos últimos 40 anos.

Para a história, quer da UA quer da PT Inovação, fica o

simbolismo da criação de uma Universidade dentro de

uma empresa, um cenário sem paralelo em Portugal, e que

acabaria por ditar um destino conjunto recheado de sucesso.

Do barro se fez a força dos materiais

Fortemente implantada na região de Aveiro, também a

indústria cerâmica mereceu especial atenção da jovem

academia. Uma atenção que, mais uma vez, foi recíproca.

O Departamento de Cerâmica e do Vidro (DCV), criado

em 1976 para responder às necessidades decorrentes do

desenvolvimento tecnológico que o processo de fabrico de

produtos cerâmicos e vítreos exigia, rapidamente se envolveu

em parcerias com a indústria do setor.

A Associação de Apoio à Cerâmica (AAC), a primeira

associação em Portugal a juntar uma instituição de

ensino superior à indústria, e que envolveu inicialmente

a UA e 25 empresas, foi um dos grandes motores para

o desenvolvimento do DCV e, consequentemente, para

catapultar o setor. Em contrapartida ao apoio financeiro

prestado pela Associação ao DCV na hora de equipar os

laboratórios, o Departamento passou a prestar consultadoria

e ensaios laboratoriais às empresas sócias da AAC.

“Do apetrechamento do Departamento recordo, pela

importância, a compra do primeiro microscópio eletrónico de

varrimento adquirido no país - o precursor dos laboratórios

atuais de microscopia eletrónica da UA - adquirido com 50 por

cento de participação da AAC e 50 por cento de participação

da Fundação Gulbenkian”, aponta João Lopes Batista.

Encarregado de desenvolver o DCV desde o nascimento

da UA, o professor, que haveria de ocupar o cargo de

Vice-reitor, lembra que “a Associação teve também um papel

fulcral na inserção dos alunos na indústria, primeiro na forma

de estágios e depois na integração dos recém-formados nos

quadros empresariais”.

Page 24: Linhas 20

linhas dez 2013

Nasceu em 1945 perto de Cadima, uma aldeia do concelho de

Cantanhede, num pequeno lugar chamado Estação de Lemede,

espaço de despedidas e receções, onde via o pai, ferroviário,

partir e regressar a casa de comboio uma vez por semana.

Com a mãe, professora do ensino primário, descobriu cedo que

a Educação era um mundo bem maior do que aquele que os

olhos de menino viam na sala de aula e no recreio. Um mundo

que podia ser extremamente injusto para com os meninos do

Portugal rural e atrasado de meados do século XX.

“Uma ou outra vez fui com a minha mãe para a escola onde ela

trabalhava, que era uma das mais pobres da freguesia, e ficou-me

sempre na memória aquilo que era realmente uma escola de uma

aldeia isolada do nosso país”. O futuro era um verbo que todos

os alunos da mãe conjugavam de pés descalços na agricultura,

ao lado dos pais. Em casa o pequeno Júlio aprendeu desde cedo

Júlio Pedrosa 40 anos ao serviço da UA

É filho das dificuldades de um país desigual. Apesar

disso – ou por causa disso – cresceu descontraído

com o futuro. O que tivesse que acontecer,

aconteceria que Júlio Pedrosa daria certamente conta

do recado. Assim fez ontem, assim calcorreia hoje a

viagem da vida. Nas incontáveis oportunidades que

lhe surgiram ou que soube criar, abraçou a Química,

foi Reitor da Universidade de Aveiro e Ministro da

Educação. Este é o telegrama possível, que muito

peca por escasso, de uma jornada de 67 anos

dedicada ao Ensino e à Investigação mas também

à ação cívica em prol dos outros.

Poderia ter sido pedreiro, filósofo ou economista com

a mesma naturalidade com que hoje é um pensador

de referência quando o assunto é a Educação.

O vinho que começou a produzir recentemente na

quinta que tem na Lapinha, no concelho de Armamar,

serve para reafirmar “a ligação ao mundo da aldeia”.

Afinal, um estado de alma que nunca abandonou.

que, para um menino de qualquer aldeia, estudar representava

um esforço financeiro para as economias domésticas.

“Da minha turma, só eu e um colega é que fomos além da

quarta classe”. Júlio e o irmão tiveram sorte. Júlio Pedrosa

guarda bem as memórias de um sistema de ensino com malhas

demasiado apertadas para acolher os meninos pobres.

“Não era uma vida fácil”, sublinha. Mas nunca quis fugir da

terra que o viu nascer. “Sempre achei que devia fazer parte

e ser solidário com o mundo em que vivia estando com eles

e trabalhando com eles”, aponta. “Ainda hoje encaro assim a

vida, continuo a ter bem presente a nossa aldeia”.

Do pai recorda uma frase lapidar dita aos dois pequenos

herdeiros que se pode traduzir assim: “Se quiséssemos

Page 25: Linhas 20

25 percurso singular

ascender na vida pela via educativa, o que para os meus pais

era um sacrifício financeiro enorme, tínhamos que fazer o

nosso esforço porque a alternativa seria trabalhar no mundo da

construção civil”.

Os livros nunca deixaram as mãos dos dois irmãos. Mas a

alternativa, a de trabalhar na construção civil, jamais assustou

ou pressionou Júlio Pedrosa. “Nunca tive durante a vida

qualquer problema com esse assunto”, refere. “Sempre pensei

que se não conseguisse por uma via seria bem sucedido por

outra. A possibilidade de ter de ir trabalhar para a construção

civil nunca foi para mim um pesadelo, por isso, sempre fiz a

minha vida de estudante descontraído e fazendo sempre outras

atividades”, recorda.

Ativista, solidário e, afinal de contas, pedreiro

Interessado pela vida fora das salas de aula, nunca os

estudos foram a única preocupação, muito menos a isolada

prioridade de Júlio Pedrosa. “Na véspera de fazer a prova oral

de Cálculo Infinitesimal na Universidade de Coimbra (UC),

com um professor muito exigente, não prescindi de estar na

minha aldeia a gerir aquilo que eram as primeiras competições

de motociclos da terra”, afirma. Claro que no dia seguinte a

prestação perante o docente “não foi perfeita” mas suficiente

para cumprir os dois objetivos, passar e ver Cadima em festa.

“Isso foi uma constante. Sempre procurei compatibilizar aquilo

que eram os meus envolvimentos cívicos ou de outra natureza,

com aquilo que eram as minhas obrigações académicas, até

porque tinha de apresentar bons desempenhos para continuar a

ter a bolsa de estudo”, diz. Manteve essa postura a vida inteira.

Fez o ensino secundário em Coimbra, no Liceu D. João III. E foi em

Coimbra que seguiu para a Universidade em direção à Engenharia

Química. O comboio para lá e para cá, ainda o carregou todos os

dias entre Cadima e Coimbra. Só no segundo ano da Faculdade,

acreditando que estava garantida a continuação de uma bolsa de

estudo da Gulbenkian, alugou um quarto na cidade.

Mas a aldeia não ficava para trás. A Associação Recreativa

de Cadima que ajudou a dinamizar continuou a contar com a

mão amiga de Júlio Pedrosa. Teatro e desporto foram apenas

algumas das áreas que ajudou a implementar na aldeia. A

Associação e a Juventude Agrária Católica - “sempre fui e sou

católico” - foram duas das coletividades às quais se vinculou de

alma e papel assinado. A independência é um valor do qual não

abdica. Sempre.

“Talvez seja por não ter tido nunca o enquadramento para sentir

que me devia alinhar por qualquer coisa que limitasse a minha

autonomia”, diz quando questionado sobre o porquê de nunca

se ter filiado em partidos políticos. Em casa, com o pai ausente

durante a semana, era à mãe que cabia o papel de educadora.

“Foi muito rigorosa na educação que me deu até a uma certa

idade”, relembra. A partir da adolescência tudo mudou: “Senti

que ela me deixou ser aquilo que eu entendia que era, passou

a confiar em mim de uma maneira muito clara e isso deu-me

forma de ir escolhendo sem ter o enquadramento familiar que

me levasse a ir por aqui ou por ali”.

Foi também em Coimbra que encontra no MOJAF -

Movimento Juvenil de Ajuda Fraterna um bom motivo para

arregaçar as mangas e dar largas à cada vez maior vontade

de dar, de ajudar, de se colocar ao serviço do outro. O

Movimento, do qual chegou a ser presidente, construía

casas para famílias pobres num terreno cedido por uma

pessoa bem conhecida de Coimbra (e afinal, a construção

civil passou mesmo pela vida de Júlio Pedrosa). O mesmo

grupo de estudantes, aos fins de semana, chamou também

a si a missão de levar ajuda a pessoas necessitadas do

concelho de Coimbra.

Próximas paragens: Universidade de Coimbra e serviço

militar em Angola

Em criança sonhava ser, tal como a mãe, professor do ensino

primário. Mas no final do liceu outro comboio passou e entrou.

A estação seguinte era a da Engenharia Química na Faculdade

de Ciências da UC.

“Numa conversa com um amigo que tinha escolhido Ciências

Físico-Químicas, ele falou-me da Engenharia Química como

uma área interessante”. Foi o suficiente para se matricular sem

saber muito bem ao que ia. O pai, veio a saber muitos anos

depois, teria gostado de ver o filho no curso de Economia. “Mas

ele nunca me fez referência a isso”, refere. Em casa, o jovem

Júlio já era senhor do seu destino.

Júlio Pedrosa, em Coimbra, com o seu supervisor de doutoramento Robert Gillard

Page 26: Linhas 20

linhas dez 2013

No final do 2º ano, durante uma prova oral de Química

Orgânica, uma das mais bem sucedidas que teve, o professor

desafia-o a mudar para o curso de Físico-Químicas. Acabado

de chegar da Alemanha com uma nova área para implementar

em Coimbra, a da Química Têxtil, o docente via em Júlio

Pedrosa a pessoa ideal para a trabalhar a seu lado.

“Aceitei, até porque teria de ir para o Porto ou para Lisboa

se quisesse continuar a estudar Engenharia Química”. As

finanças sim, que não eram favoráveis a que fosse viver para

tão longe de casa, mas, principalmente e mais uma vez,

a rede de atividades sociais onde estava metido também

pesaram muito na tomada de decisão. Mudou e, já no 3º ano,

começou a trabalhar como monitor do investigador.

Em 1967, concluído o curso com 22 anos, torna-se assistente

eventual na UC.

“Mas como nunca tinha pensado na vida académica, não

sabia sequer o que queria fazer daí para a frente”. A ausência

de planos académicos não o preocupava. Mais cedo ou mais

tarde, outro comboio haveria de passar rumo a algum lugar.

Certezas, certezas, só o Estado tinha para Júlio Pedrosa: serviço

militar. Em setembro de 1968 foi para a Marinha. De 1969 até

1971 esteve em Angola a patrulhar o rio Zaire e a atividade

pesqueira ao largo de Luanda. Um naufrágio na foz daquele rio

devido a um tornado, e ao qual sobreviveu “por grande sorte”, e

a solidariedade entre a população são as lembranças africanas

que lhe saltam num primeiro exercício de memória.

Universidade de Aveiro, um desafio irrecusável

De regresso a Coimbra e à docência, inscreve-se nos dois

últimos anos da licenciatura em Química - Ramo Científico

para compensar os três anos de inatividade académica em

Angola. É nessa altura que conhece o professor Victor Gil,

criador do Laboratório de Ressonância Magnética Nuclear da

UC. “Publiquei com ele o meu primeiro artigo científico”, diz.

E isso foi apenas um pequeno pormenor da jornada que esse

encontro lhe provocou rumo à Universidade de Aveiro.

“Um dia o professor Victor Gil diz-me que vai para Aveiro e

pergunta-me se não quero ir com ele”, relembra. Convidado

em 1973 pelo então Ministro da Educação Veiga Simão para

presidir à comissão instaladora da Universidade, Victor Gil,

que haveria de ser o primeiro Reitor da jovem academia, queria

desbravar novas áreas científicas em Aveiro. Entre elas a

Bioquímica, onde Júlio Pedrosa poderia ter um papel de peso

na sua implementação. O desejo de Victor Gil em criar “uma

universidade que rompesse com aquilo que era até então o

modo de entender as universidades em Portugal, que criasse

áreas novas e que respondesse e preenchesse as lacunas que

existiam no país” convenceu-o.

Com planos para fazer um doutoramento na UC, Júlio Pedrosa

repensa a vida, para na primeira estação à sua frente e

apanha novo comboio, desta vez em direção à cidade da

ria. As condições eram claras. A UA dava-lhe luz verde para

tirar em Inglaterra um doutoramento em Química, na área

da atividade ótica inorgânica, uma especialidade nova em

Portugal e que Victor Gil queria desenvolver em Aveiro. No

regresso, com a bagagem carregada de novos caminhos para

a ciência, Júlio Pedrosa teria a missão de ajudar à criação do

Departamento de Química (DQ) e do seu plano estratégico e

de formar uma equipa de investigação em Química Inorgânica.

Assim aconteceu. Já com dois filhos, Júlio Pedrosa chega

definitivamente à UA em 1977, depois de em 1974, antes

de embarcar para a Universidade de Cardiff, aqui ter dado

algumas aulas a trabalhadores dos CTT que eram candidatos

ao primeiro curso da academia em Eletrónica

e Telecomunicações.

Pouco tempo depois é convidado para integrar a comissão

instaladora do Centro Integrado de Formação de Professores

da UA, cargo que exerceu conjuntamente com o de professor

no DQ até 1986. “Nesse ano fui para Inglaterra com a

intenção de fazer um ano sabático e reativar assim a vida

na investigação”, lembra. Já estava em Inglaterra quando o

telefone toca. Do outro lado da linha Renato Araújo, o terceiro

Reitor da UA, queria-o para seu Vice-reitor.

“As oportunidades sempre me foram aparecendo ao longo

da vida. Limitei-me a escolher as que mais me interessavam”,

afirma. Aceitou o convite e regressou a Aveiro em 1987 para

assumir a vice-reitoria para os assuntos pedagógicos.

Nascida muito centrada na Formação de Professores, na Eletrónica

e Telecomunicações, no Ambiente e na Cerâmica e Vidro, a UA

tinha de crescer para outras áreas. “O professor Renato Araújo

entendeu que se devia aumentar o leque dos cursos, portanto, foi

Uma das equipas de futebol da UA em 1978 (Júlio Pedrosa, em baixo, é o 2º à esquerda)

Page 27: Linhas 20

27 percurso singular

para regressar - definitivamente, julgava Júlio Pedrosa - à

vida académica. Mas os colegas da Química fizeram-lhe

uma “malandrice”. Nas eleições para o conselho diretivo do

departamento elegeram-no presidente sem lhe dizer nada.

A nova viagem pelos laboratórios, curta, tem um desenlace

inesperado, mais uma vez fora dos planos que tinha traçado.

Com o final do mandato de Renato Araújo, em março de 1994,

a cadeira maior da UA ficava vazia. Na academia, várias vozes

apontavam Júlio Pedrosa como o sucessor ideal para o lugar:

“Tive muita gente a encorajar-me para avançar, por isso resolvi

reunir com essas pessoas para saber o que achavam que

deveria fazer o próximo reitor”. Concordou com os desígnios

apontados. Avançou e foi eleito Reitor.

Que o projeto da UA, que em 1994 já se tinha afirmado no

país, fosse reforçado e consolidado. Esse era o caminho.

“Tinha exercido funções como Vice-reitor para os assuntos

pedagógicos, científicos e cooperação com a sociedade, e, por

isso, tinha uma noção bastante clara do que estava aí lançado e

do que precisava de ser reforçado”, afirma.

Júlio Pedrosa lembra que não foi por acaso que a UA começou

nesse período a financiar projetos de investigação com fundos

retirados do próprio orçamento. A academia de Aveiro foi de

facto a primeira universidade portuguesa a ter um programa

de financiamento a bolsas de estudo para pós-graduação

com fundos do próprio orçamento. “Isso ajudou a consolidar a

afirmação da UA no plano científico”, lembra o responsável.

No caderno das grandes apostas, Júlio Pedrosa tinha também a

frente pedagógica e do ensino. Enquanto Reitor iniciou algumas

experiências, “algumas delas infelizmente interrompidas”,

como foi o caso da implementação do primeiro ano comum

de ciência e tecnologia. Júlio Pedrosa aponta igualmente o

trabalho realizado em torno dos currículos. “Repensá-los foi

um excelente exercício de debate interno e de escolhas, o que

constituiu claramente um passo de antecipação da UA a Bolonha

já que, quando o processo europeu surgiu, a academia já estava

preparada para fazer mudanças”.

Foi igualmente durante o mandato de Júlio Pedrosa que a

cidade de Águeda viu concretizada uma proposta que nascera

no mandato do Professor Renato Araújo, afirmando-se como

local ideal para realizar “uma abordagem inovadora para o

ensino politécnico, de natureza profissionalizante, inscrito sobre

aquilo que é o saber fazer”. Assim, em 1997, nasceu a Escola

Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA) da UA

que se assume atualmente como um centro de ensino superior

politécnico único em Portugal.

Finalmente, recorda, “houve o trabalho de se pensar a

organização da UA de uma forma distinta”. A esse propósito,

ainda hoje Júlio Pedrosa pensa que “esse foi um projeto inovador

que consistiu em criar um Instituto de Investigação, que já vinha

do tempo do professor Renato Araújo, e consolidá-lo”. E, ao

mesmo tempo, criar também um Instituto para a Formação

Inicial, um Instituto para a Formação Pós-Graduada e uma

estrutura para a cooperação com a sociedade, “porque na

altura se acreditou que uma universidade com organização

departamental precisava de ter estruturas intermédias de

governança por funções”.

Das boas memórias dos primeiros passos da UA rumo ao

mundo, pouco esforço faz para trazer à superfície “o sentido

de comunidade universitária que se foi construindo entre

docentes, não docentes e estudantes, sem nunca se prescindir

da capacidade de debater as diferenças de opinião”.

Essa é-lhe a memória mais rica que guarda duma UA que

ajudou a construir desde que aportou em Aveiro. “Era uma

Em 1994, durante a tomada de posse para o 1º mandato enquanto Reitor da UA

nessa altura que se criaram as licenciaturas em Química Industrial

e Gestão, em Engenharia e Gestão Industrial, em Gestão e

Planeamento em Turismo e em Música ”, recorda.

No segundo mandato de Renato Araújo, Júlio Pedrosa assume

a Vice-reitoria para os assuntos científicos com a grande

preocupação de fazer crescer a infraestrutura científica da

Universidade.

Um Reitor para a continuidade.

Um Reitor para a consolidação.

Mas “já estava há demasiado tempo na Reitoria”. O DQ, os

assistentes que faziam doutoramento ou preparavam provas sob

sua orientação e o trabalho de consolidação da investigação

científica ganhavam peso. No último ano do mandato sai

Page 28: Linhas 20

linhas dez 2013

comunidade feita de diferenças mas alinhada com o projeto,

e isso acabou por ter reflexos no próprio ambiente que aqui

se vivia e que me parece que era grato para todos”, diz. Unida

que estava a comunidade académica foi meio caminho andado

para se aproveitarem as oportunidades de financiamento que

existiram a partir de 1986, com a entrada de Portugal para a

Comunidade Económica Europeia, “selecionando muito bem o

que precisávamos para sermos uma Universidade competitiva

ao nível da investigação”.

Ser Ministro da Educação, uma experiência curta

mas enriquecedora

Julho de 2001. As malas estavam já preparadas para uma

deslocação ao Brasil, numa viagem que serviria para visitar

uma escola exemplar de Medicina Dentária - “tínhamos a ideia

de abrir na UA esse curso”. Recebe um telefonema. António

Guterres, então Primeiro-Ministro, convida-o para Ministro da

Educação. Júlio Pedrosa, que sempre assumiu a independência

partidária, fica surpreso com o desafio.

Estaria o convite ligado ao sucesso que a UA já exibia no

panorama do Ensino Superior nacional? “Essa pergunta terá de

ser feita ao Engenheiro António Guterres”, responde. Até hoje

não sabe exatamente quais os motivos que levaram o chefe do

Governo a convidá-lo para assumir a pasta da Educação. Já no

Brasil, decide afirmativamente.

“Foi uma decisão difícil, tomada depois de ter consultado

algumas pessoas e de ter garantido que alguém assumiria a

Reitoria plenamente”, lembra Júlio Pedrosa. Esses requisitos

estavam preenchidos: “Tínhamos uma equipa reitoral muito

coesa que se manteve e a professora Isabel Alarcão assumiu

a Reitoria, motivos mais do que suficientes para saber que o

projeto que tínhamos para a UA não sairia beliscado com a

minha saída”.

Em agenda o Governo tinha a reforma do Ensino Básico e, já

em adiantado estado de preparação, quando Júlio Pedrosa

chega a Lisboa, a reforma do Ensino Secundário. “Havia a ideia

de transformar o Secundário numa fase do desenvolvimento

educativo das pessoas que valesse por si, ou seja, que

permitisse a qualquer cidadão, depois de o concluir, entrar na

vida ativa se assim o quisesse”, lembra. Esses eram os dois

pontos críticos na agenda do novo Ministro Júlio Pedrosa,

pontos esses que geravam no país uma enorme contestação.

Em dezembro de 2001, seis meses depois de assumir a pasta

da Educação, António Guterres demite-se e com ele cai o

Governo. Graceja: “Costumo dizer que fui ao Ministério da

Educação”. Valeu a pena a curta experiência? “Sim, foi o tempo

suficiente para ganhar uma compreensão diferente do que é

o país e de compreender também que as pessoas com o meu

tipo de percurso precisam de ser mais chamados pois têm uma

compreensão do país real, nas suas diferentes determinações

e, por isso, contributos a dar”.

“Portugal é um país brutalmente diversificado, sempre

conduzido esquecendo, ou mesmo excluindo, uma parte do

território”, aponta Júlio Pedrosa. “Infelizmente o nosso modo

de conduzir o país sempre foi pensado com o foco no mundo

urbano, sobretudo para Lisboa, e eu não me revejo nisso”.

Júlio Pedrosa tem outra postura que não se cansa de referir:

“Continuo a estar mais interessado por quem está de fora

desse modo de entender e conduzir o país e por isso, ainda

hoje, continuo mais ligado à aldeia do que à cidade”.

Crise financeira obriga a UA a reprogramar-se para resistir

Regressa a casa, à UA e ao seu Departamento de sempre.

Em 2005 é eleito presidente do Conselho Executivo da

Fundação das Universidades Portuguesas (cargo que ocupa

até 2007) e presidente do Conselho Nacional de Educação

(onde se mantém até 2009).

Hoje, Júlio Pedrosa, aposentado desde 2009, com missões

e programas em educação e ciência, está envolvido nos

conselhos das Fundações Bissaya Barreto, Ilídio de Pinho, Jorge

Álvares e no conselho fiscal da Bial. O antigo Reitor é ainda

membro do Register Committee do EQAR - European Quality

Assurance Register e faz parte do grupo de avaliadores do

Programa de Avaliação Institucional da Associação Europeia

de Universidades através da qual tem feito parte ou presidido a

equipas de avaliação de várias universidades.

Quatro décadas depois de ter ajudado a nascer a UA, “um

projeto que ganhou reconhecimento nacional e internacional

porque foi sendo construído sem esquecer os elementos

fundamentais e fundadores”, Júlio Pedrosa aponta para o

futuro da academia. “Estamos num período que eu gostaria

que fosse tomado para fazer uma reflexão séria sobre o

que é preciso fazer para que este projeto ganhe ainda mais

capacidade de se afirmar”, afirma. Um repensar que, no atual

cenário de crise financeira que atravessa o país, “e que não

vai desaparecer rapidamente”, servirá para que a academia

de Aveiro “tenha capacidade para se pensar como um projeto

que tem de resistir, de continuar a afirmar-se e a desenvolver-

se, consolidando ainda mais o que se conseguiu alcançar”.

Na Lapinha, numa pequena quinta vinícola no distrito de Viseu

- bem no interior do país como não podia deixar de ser - tem

agora em mãos um projeto novo, a produção de vinho e azeite.

A técnica aprendeu-a ao longo da vida: escolher uma terra

fértil, semear, cuidar, colher e saborear.

Page 29: Linhas 20

29 percurso singular

EDIÇÕESA UNIVERSIDADE DE AVEIRO E OS SEUS

CONTEXTOS

Autoria Jorge Carvalho Arroteia, professor

aposentado da UA

Edição UA Edições

ISBN 978-972-789-390-4

Ano 2013

ESTRUTURAS DE BETÃO - BASES

DE CÁLCULO

Autoria Paulo Barreto Cachim e Miguel Monteiro

de Morais, docentes

no Departamento de Engenharia Civil da UA

Edição Publindústria

ISBN 9789897230400

Ano 2013

FERTILE LINKS? CONNECTIONS BETWEEN

TOURISM ACTIVITIES, SOCIOECONOMIC

CONTEXTS AND LOCAL DEVELOPMENT

IN EUROPEAN RURAL AREAS

Organização de Elizabete Figueiredo, docente

no Departamento de Ciências Sociais, Políticas

e do Território da UA, e de António Raschi

Edição Firenze University Press

ISBN 9788866553885

Ano 2013

SHAPING RURAL AREAS IN EUROPE:

PERCEPTIONS AND OUTCOMES ON THE

PRESENT AND THE FUTURE

Organização de Elizabete Figueiredo, docente

no Departamento de Ciências Sociais, Políticas

e do Território da UA

Edição Springer

ISBN 9789400767966

Ano 2013

UMA CANÇÃO AO VENTO - A POESIA

DE EUGÉNIO DE ANDRADE

Autoria João de Mancelos, docente dos cursos

livres de Escrita Criativa I e II, no Departamento

de Línguas e Culturas da UA

Edição Colibri

ISBN 9789896893200

Ano 2013

LIDERANÇA PARA A SUSTENTABILIDADE

- A VOZ DE QUEM LIDERA EM PORTUGAL

Autoria Arménio Rego, docente no

Departamento de Economia, Gestão

e Engenharia Industrial da UA, Miguel Pina

e Cunha, docente na Universidade Nova de

Lisboa, e Maria da Glória Ribeiro, consultora

Edição Actual Editora

ISBN 9789896940614

Ano 2013

CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS

Autoria Ana Macedo, antiga aluna no Instituto

Superior de Contabilidade

e Administração da UA, Graça Azevedo e Jonas

Oliveira, docentes no mesmo Instituto

Edição Escolar Editora

ISBN 9789725924044

Ano 2013

TURISMO NOS PAÍSES LUSÓFONOS:

CONHECIMENTO, ESTRATÉGIA

E TERRITÓRIOS

Autoria Carlos Costa, Rui Costa, Zélia Breda

(docentes) e Filipa Brandão (estudante de

doutoramento), do Departamento de Economia,

Gestão

e Engenharia Industrial da UA

Edição Escolar Editora

ISBN 9789725924112

Ano 2013

PRODUTOS E COMPETITIVIDADE DO

TURISMO NA LUSOFONIA

Autoria Carlos Costa, Rui Costa, Zélia Breda

(docentes) e Filipa Brandão (estudante de

doutoramento), do Departamento de Economia,

Gestão e Engenharia Industrial da UA

Edição Escolar Editora

ISBN 9789725924105

Ano 2013

TRENDS IN EUROPEAN TOURISM PLANNING

AND ORGANISATION

Organização de Carlos Costa, docente no

Departamento de Economia, Gestão

e Engenharia Industrial da UA

Edição Channel View Publications

ISBN 9781845414115

Ano 2013

MENTE DE COMBATE:

COMO VENCER NO RINGUE E NA VIDA

Autoria Dulce Pires, estudante de Doutoramento

em Psicologia na UA

e atleta de Kickboxing, e Bruno Santos, treinador

de Kickboxing

Edição Prime Books

ISBN 9789896551735

ANO 2013

PALUI - CD

Autoria Helena Caspurro, docente

no Departamento de Comunicação

e Arte da UA

Edição Mulher Avestruz Produções e Eventos,

Lda.

Num 003.013

Ano 2013

RUA-L - REVISTA DA UNIVERSIDADE DE

AVEIRO-LETRAS, N.º 1 DA II. SÉRIE: «O(S)

ROSTO(S) DA EUROPA»

Coordenação Ana Maria Ramalheira

Edição Universidade de Aveiro - Departamento

de Línguas e Culturas / Centro de Línguas

e Culturas

ISSN 0870-1547

Ano 2012

TROIX MORCEAUX INTROSPECTIVES

POUR HARPE À PEDALES (ÉDITION

DE ZORAIDA ÁVILA) - CD

Autoria Vasco Negreiros, Departamento

de Comunicação e Arte

Dois ciclos de obras para harpa céltica e harpa

de pedais

Edição Harposphère

Ano 2013

Page 30: Linhas 20

linhas dez 2013

Nascido e criado em Aveiro, Fernando Manuel dos Santos Ramos, 57 anos, tinha

o sonho de ser arquiteto. Mas a revolução de abril de 1974 veio trocar-lhe as voltas.

No verão desse ano as universidades estavam fechadas, mas em Aveiro nascia uma

nova instituição de ensino: a Universidade de Aveiro. Assim, entre ficar um ano à espera

para ir para a Universidade do Porto estudar arquitetura ou continuar os estudos num

outro curso, na sua cidade natal, escolheu ficar em Aveiro.

O aluno número 16 da UA

Fern

ando

Ram

os

Page 31: Linhas 20

31 percurso antigo aluno

De entre as opções possíveis escolheu

Engenharia Eletrónica e Telecomunicações

porque tinha algum interesse nessa

área e porque o seu pai também era

engenheiro. Mas, acima de tudo, porque

era um curso com o qual depois poderia

pedir equivalências, caso conseguisse a

transferência para arquitetura no Porto.

Foi o aluno nº 16 da UA.

A transferência nunca chegou a

acontecer. A vida trocou-lhe os planos

e o gosto pelos estudos na UA cedo

surgiu: “A UA começou com um grupo

de professores muito interessante.

Alguns foram recrutados a laboratórios

do Estado, outros tinham vindo das

antigas colónias. Isto permitiu criar um

ambiente muito interessante em termos

culturais e científicos. Por isso acabei

por ficar”, explica.

Mas o que mais o marcou foi a ideia

de estar envolvido “na grande aventura

que é criar uma universidade nova,

praticamente do zero, o estar tudo

em aberto, todas as escolhas para a

instituição”. “Lembro-me do conselho

pedagógico do meu curso, em que

o ambiente era agitado e havia até,

talvez, tendência para algum excesso

de democraticidade… Uma vez

comunicámos pela janela com colegas

que estavam lá fora… Era um ambiente

completamente aventureiro, e isso

marcou-me muito! Por tudo isto, mantive

sempre a ideia de que as instituições se

fazem com os contributos das pessoas

que lá estão”, frisa.

Outra pessoa que não esquece é Jorge

de Carvalho Alves, professor catedrático

no Departamento de Eletrónica,

Telecomunicações e Informática (DETI):

“Marcou-me muito enquanto meu

professor. Na altura tinha acabado

de regressar de Inglaterra, onde fez

o doutoramento, e trazia uma cultura

completamente diferente da que existia

cá. Continuo a manter com ele uma sólida

amizade que já leva 30 e tal anos”.

Fernando Ramos acabou o curso em

1979, esteve dois anos a trabalhar em

empresas privadas e, depois, concorreu

para assistente na UA. Iniciou a sua

carreira docente em maio de 1982. Fez

todo o percurso académico no DETI:

provas de passagem a assistente em

1984, doutoramento em engenharia

eletrotécnica, em 1992, e em 1994 foi

eleito presidente do conselho diretivo.

Este cargo foi uma experiência “muito

interessante e um desafio pessoal

muito grande”. O assumir destas

funções coincidiu com o período em

que Júlio Pedrosa foi Reitor da UA, uma

época “de grande desenvolvimento da

Universidade não tanto do ponto de

vista físico, mas mais do ponto de vista

do conceito da Universidade”, explica.

“Isso marcou-me muito também.

Convivi com ele e aprendi muito sobre

gestão universitária”, acrescenta.

Fez toda a sua carreira no DETI até 1999,

ano em que o Reitor Júlio Pedrosa o

desafiou a ajudar a desenvolver a área de

ciências e tecnologias de comunicação

no Departamento de Comunicação e Arte

(DeCA), “uma área ainda embrionária”.

Assim, ao fim de quase 20 anos no DETI,

considerou que era altura de enfrentar

novos desafios e aceitou o repto para

lecionar no curso de Novas Tecnologias

da Comunicação.

Passado pouco tempo foi eleito

presidente do conselho diretivo do

DeCA, cargo que ocupou entre 2001

e 2005. Ajudou a criar o “conselho de

estratégia”, uma estrutura informal “muito

importante numa fase em que o DeCA

estava com alguma crise de identidade” e

que serviu para refletir sobre o futuro do

departamento.

Depois disso, tem-se envolvido em

muitas outras atividades: entre 1999 e

2009 foi diretor do “Centro Multimédia

de Ensino a Distância” da UA; desde

2004 que é presidente da comissão

executiva da Associação para a

Formação Profissional e Investigação

da Universidade de Aveiro (UNAVE);

foi eleito para a assembleia estatutária

da Universidade que tomou a decisão

de esta se tornar numa “fundação

pública de direito privado”; coordena

uma equipa de consultores portugueses

nomeada pelo Conselho de Reitores

das Universidades Portuguesas

para prestar apoio à Universidade

Nacional de Timor Leste; coordena e

participa em projetos de investigação

nacionais e internacionais e em

projetos de cooperação com países

de língua portuguesa, entre muitas

outras atividades. Tudo isto além da

docência, que atualmente acontece nos

programas doutorais em Informação e

Comunicação em Plataformas Digitais e

Multimédia em Educação. Pontualmente

leciona também no Mestrado em

Comunicação Multimédia.

Assim, o seu dia-a-dia é passado na

UA, normalmente entre as 09h00 e as

18h00 ou 19h00, “com muito trabalho de

orientação de teses de doutoramento e

dissertações de mestrado” e o trabalho

nos outros projetos.

Com 57 anos de idade, Fernando Ramos

tem-se envolvido “muito na vida da UA”

nos 40 anos da instituição. E apesar

de ainda não pensar na aposentação,

começa a entrar noutra etapa da vida

profissional: “Estou a entrar naquela fase

em que acho que estas coisas devem ser

feitas por colegas mais novos. Estou-me

a preparar aos poucos para passar o

testemunho”, explica.

E quando sair, sai “completamente

descansado”: “Acho que dei um bom

contributo. Dei, pelo menos, um contributo

empenhado para a UA, por isso,

quando sair, sairei com a consciência

absolutamente tranquila relativamente

ao contributo que dei à Universidade, do

ponto de vista pedagógico, científico, da

gestão, entre outros”.

Page 32: Linhas 20

linhas dez 2013

Paul

a Le

itão

Do Ambiente

para a previsão

do estado do tempoÉ uma cara conhecida da televisão onde apresenta, desde 2007, o Boletim

Meteorológico nos programas “Bom Dia Portugal” e “Portugal em Direto”

da RTP. Paula Leitão tem um percurso invulgar: passou pela Engenharia Eletrónica

e Telecomunicações, licenciou-se em Engenharia do Ambiente e desempenha funções

de meteorologista no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Os dados que

recolheu e estudou fizeram luz sobre um fenómeno meteorológico quase desconhecido

em Portugal até 2000: os tornados.

Page 33: Linhas 20

33 percurso antigo aluno

Apesar de dominar a ideia, no início do

século XXI, de que não existiam tornados

em Portugal - e na Europa -, uma

meteorologista a trabalhar no Centro de

Análise e Previsão do Tempo do Instituto

Português do Mar e da Atmosfera achou

que os factos contrariavam a corrente

e foi ao encontro dos tornados. A

meteorologista chama-se Paula Leitão,

licenciou-se em Engenharia do Ambiente

na Universidade de Aveiro em 1987 e

começou, em 1999, o estudo sistemático

desses eventos extremos do clima:

violentas tempestades em rotação de

pequeno diâmetro que aparecem como

uma nuvem em forma de funil, descendo

da base de um tipo de nuvem chamado

cumulonimbo para o solo, a que estão

associados ventos muito fortes. A este

fenómenos está também associado um

efeito de sucção, que deixa marcas ao

longo da trajetória do tornado.

O estudo e arquivo sistemático das

ocorrências, incluindo a pesquisa de

casos no passado, desenvolvido por Paula

Leitão, tornou evidente que, afinal, esses

fenómenos também existem em Portugal e

na Europa, embora não com a frequência

e dimensão que atingem noutros pontos

do globo, como em certas zonas dos EUA.

Estima-se que nos EUA há dez vezes mais

tornados que na Europa. Mas a grande

diferença reside no registo sistemático

que se realiza nos EUA, há cerca de 100

anos, enquanto na Europa os dados estão

compartimentados, há descontinuidade de

país para país e nem sempre houve troca

de informação: a II Guerra Mundial e o

período de domínio soviético na Europa de

Leste foram duas dessas fases em que a

informação não circulou.

Em 2000, em toda a Europa, estava a

ser estudado o fenómeno de ocorrência

de tornados, por “cientistas curiosos”,

instituições não governamentais e, por

vezes, com o apoio de “institutos de

meteorologia oficiais”. Este foi um dos temas

fundamentais da conferência de 2002 em

Praga, em que Paula Leitão participou.

Cara conhecida do boletim

meteorológico da RTP

Quando iniciou o estudo, um outro colega

do então Instituto de Meteorologia vinha

recolhendo informações sobre várias

ocorrências, embora sem análise e

sistematização, que foram importantes

para o trabalho posterior de Paula Leitão.

Os casos ocorridos em Viana do Castelo,

a 21 de abril de 1999, e em Castelo

Branco, a 6 de novembro de 1954, que

destruiu o parque de instrumentos da

estação meteorológica, tornaram-se

dois dos primeiros objetos de estudo.

Desde a roupa que sai pela janela - efeito

de sucção provocado pelo tornado -,

passando por uma criança de 13 anos

levantada no ar, composições ferroviárias

que saem dos carris, a camiões

tombados, ou efeitos mais difíceis de

observar e quase cirúrgicos como uma

pequena árvore cortada, vários têm

sido os sinais provocados por estes

fenómenos atmosféricos registados pela

meteorologista ao longo dos anos.

Para além desse estudo sistemático dos

tornados e da previsão do estado do

tempo, a faceta mais visível e constante

do trabalho da meteorologista Paula

Leitão é a comunicação da previsão do

tempo e a apresentação, desde 2007, do

Boletim Meteorológico nos noticiários

“Bom Dia Portugal” e “Portugal em

Direto” da RTP. Trabalha no Instituto

Português do Mar e da Atmosfera

(IPMA) desde 1989. Para quem ainda

tem dúvidas entre tempo e clima, como

já alguém disse e registou, a resposta

é clara: “O estado do tempo determina

a roupa que tu tens vestida, o clima

determina a roupa que compras”.

Da dinâmica da atmosfera para

a previsão do tempo

Paula Leitão concluiu a licenciatura em

Engenharia do Ambiente em 1987, não

sem antes ter sido aluna de Engenharia

Eletrónica e Telecomunicações, durante

três anos, onde era acompanhada por 56

colegas rapazes e outras três raparigas

– nos cursos de Letras a proporção dos

géneros era inversa. Em Engenharia

do Ambiente encontrou uma maneira

diferente de estar na vida que considerou

mais próxima da sua. Trabalhou ainda,

durante dois anos, como investigadora na

equipa do professor Carlos Borrego, na

área da poluição atmosférica e dispersão

de poluentes, até decidir ir viver para

Lisboa. Aí, concorreu ao então Instituto de

Meteorologia - na mesma ocasião em que

foram admitidos colegas de Engenharia

do Ambiente e de Física formados na UA -

e fez um ano de estágio de especialização,

para o qual terão sido fundamentais os

conhecimentos adquiridos em Dinâmica

e Composição da Atmosfera, assim como

as cadeiras Termodinâmica, Mecânica dos

Fluidos, Hidrologia, Eletromagnetismo,

Física, Matemática, Funcionamento de

Aparelhos Eletrónicos e Sensores, entre

várias outras.

A evolução da Ciência e Tecnologia

obriga a atualização constante com

participação em inúmeras ações de

formação, em projetos, à elaboração de

muitos casos de estudo e a uma troca

permanente de informação. "Em previsão

do tempo só se trabalha a nível global e

em tempo real", assinala Paula Leitão.

"Durante os últimos 15 anos a evolução

nos modelos numéricos, na observação

por satélite e por radar, foi enorme e

introduziu novas abordagens teóricas

para a compreensão dos fenómenos

meteorológicos", acrescenta.

Em 1991, foi colocada no Centro de

Análise e Previsão do Tempo com

funções que tem desempenhado quase

sem interrupção.

Trabalhando por turnos, o tempo que

tinha livre foi usado, por exemplo, para

o estudo dos tornados em Portugal, em

trabalhos de voluntariado na Quercus

e acompanhamento da vida familiar,

nomeadamente nas tarefas inerentes a

uma mãe de três filhos.

Page 34: Linhas 20

linhas dez 2013

Com o empreendedorismo no ADN

José Manuel Tavares Mendes, 36 anos, nasceu e cresceu em Couto de Esteves, Sever

do Vouga, onde foi dirigente associativo e membro da Assembleia de Freguesia.

Talvez tenha sido aqui que começou a surgir o seu espírito empreendedor. Anos mais

tarde, já depois de ter frequentado a licenciatura em Gestão e Planeamento em Turismo,

entre 1995 e 2000, na Universidade de Aveiro, é um dos fundadores da empresa IDTour,

a convite da pessoa que mais o marcou no curso: o professor Carlos Costa.

José

Men

des

Page 35: Linhas 20

35 percurso antigo aluno

Aos 18 anos, José Mendes apenas sabia

que queria tirar um curso na área da gestão

ou economia. Um amigo falou-lhe do curso

de Gestão e Planeamento em Turismo

e o interesse por esta área despertou

imediatamente: “Quando era aluno do

secundário não tinha a ideia de estudar

turismo. Ninguém tem esse sonho em

criança. Mas quando vi este curso nem

sequer fui verificar o currículo. Achei logo

muito interessante. Coloquei-o como

primeira opção e entrei!”, explica.

As suas expectativas não foram goradas

nos cinco anos em que tirou o curso.

Apaixonou-se muito rapidamente pelas

matérias, pelos colegas… “Era um curso

com poucas pessoas. Gostei muito do

que lá aprendi e tinha uma postura muito

séria enquanto aluno: entendia o curso

como um objetivo de vida. Sentia que os

meus pais estavam a fazer um esforço e,

portanto, levava aquilo a sério”.

Em termos académicos o que mais

o marcou foi, “sem dúvida”, o professor

Carlos Costa “por todos os motivos

e mais alguns: pela forma como

lecionava, pela forma inteligente como

conseguia enganar-nos nas aulas,

porque quando sentia que estava

a perder a turma, dizia umas piadas

e conseguia novamente conquistar-nos.

E porque ia buscar a sua experiência

no terreno e partilhava-a connosco”.

A sua licenciatura, sem ter uma disciplina

chamada “empreendedorismo”, tinha

um conjunto de outras ligadas à gestão

estratégica e economia, que capacitavam

os alunos para avançar para a

constituição de um negócio próprio. “Mas

o entendimento que faço, é que o curso

é uma grande plataforma que capacita o

aluno a escolher o caminho quando sai cá

para fora”, explica.

O projeto IDTour

Depois de alguns anos em Lisboa,

regressa a Aveiro em finais de 2006, após

um convite do professor Carlos Costa

para liderar um projeto que iria surgir

através da Incubadora de Empresas da

Universidade de Aveiro: a IDTour.

A empresa conta com seis sócios, para

além da UA, através da GrupUnave. José

Mendes é o líder operacional (CEO).

A trabalhar no mercado interno, a

IDTour opera em duas áreas. A primeira

é o segmento institucional: câmaras

municipais, organizações nacionais

e regionais de turismo, associações

institucionais e organizações

empresariais. Para estas entidades

fazem projetos relacionados com o

planeamento estratégico, ações de

desenvolvimento estrutural, projetos de

investigação aplicada (um dos exemplos é

o Restaurante do Futuro, para a AHRESP,

onde se procura antecipar as tendências

que poderão pautar o subsetor da

restauração no futuro).

O outro segmento é o empresarial:

hotelaria, restauração, empresas de

animação, parques temáticos, etc. “Para

este target desenhamos e ajudamos a

operacionalizar modelos de negócios:

olhar para um negócio e construir um

plano de ação que permita projetar o

volume de vendas da empresa, estudos

de mercado, de viabilidade económico-

financeira. Ou seja, documentos mais

operacionais que ajudam a responder a

ploblemas em concreto das organizações

empresariais”, explica José Mendes.

No seu dia a dia, o CEO da IDTour tem a

responsabilidade de “administrar a casa,

procurar e fidelizar novos clientes, garantir

que ficam satisfeitos com o trabalho,

procurar que eles paguem, mobilizar

a equipa para os desafios que temos

entre mãos e potenciar a capacidade

empreendedora de cada colaborador:

eles são a base do nosso sucesso”.

Muitas horas de trabalho são passadas

na rua “a bater à porta de organizações

institucionais e empresariais a apresentar

a IDTour, as suas competências e

serviços, a concorrer a concursos, a fazer

propostas, enfim… uma luta contínua”.

Atualmente a empresa encontra-se a

crescer em volume de negócios e em

recursos humanos, “o que é um bom

indicador na conjuntura atual”.

Os desafios para o futuro passam por

discutir e consensualizar onde querem

estar: “Estamos a equacionar se entramos

na área operacional: se podemos criar

uma micro-empresa dentro da IDTour

que possa fazer a gestão de pequenas

unidades de alojamento, como hostels,

gerir um restaurante com conceito

próprio. Estamos a estudar outra área

de negócio que passa pela gestão e

comercialização de ativos turísticos;

a internacionalização e exportação de

serviços para a Lusofonia são também

estratégicas no modelo de expansão

da IDTour”.

O sucesso do projeto que lidera não

teria sido possível sem a formação que

obteve na UA, frisa, virada já na altura

para os desafios do futuro: “Acho que a

UA cedo soube entender que tinha de

formar e capacitar os seus alunos com

competências na área dos negócios,

porque não basta ser um bom técnico

para ser um bom empresário. E isto

aconteceu desde logo porque esta

Universidade nasceu ligada ao tecido

empresarial da região: pensou os seus

cursos para responder às necessidades

específicas do território onde se insere.

A UA tem esse cunho, esse ADN.

A UA já respirava empreendedorismo há

muitos anos atrás, foi das primeiras a

trilhar esse caminho”.

Page 36: Linhas 20

linhas set 2013

DISTINÇÕES

COTEC PREMEIA “COOPERAÇÃO EXEMPLAR” DA UA COM A PT INOVAÇÃOO historial de cooperação de quatro décadas entre a

Universidade de Aveiro e a PT Inovação é o vencedor da

primeira edição do concurso Casos Exemplares de Cooperação

Universidade-Empresa promovido pela COTEC Portugal -

Associação Empresarial para a Inovação. O prémio foi entregue

a 27 de novembro durante o 10º Encontro Nacional de Inovação

COTEC que se realizou na Culturgest, em Lisboa, com a

presença do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.

Com o concurso, aberto às 15 universidades que integram

o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, a

COTEC pretende premiar e incentivar a cooperação de forma

continuada entre as universidades e o tecido empresarial e com

resultados benéficos para ambas as partes.

“A parceria entre a UA e a PT Inovação é o exemplo da excelência

associada à dinâmica que esteve na base da criação, em 1973,

de novas universidades no país viradas para a cooperação com o

tecido económico”, congratula-se Carlos Pascoal Neto, Vice-reitor

da academia de Aveiro.

“Em todos os parâmetros de cooperação universidade-

empresas a cooperação entre a UA e a PT Inovação está

evidenciada de uma forma extremamente positiva sob o

ponto de vista qualitativo e quantitativo”, diz Pascoal Neto.

O responsável aponta “os projetos de investigação conjuntos

com um volume de financiamento muito significativo, a

produção de patentes, a inserção profissional (mais de

metade dos atuais quadros da PT Inovação são formados

na UA), o aparecimento de novos negócios e produtos e,

sobretudo a criação de um cluster e de um ecossistema

inovador e empreendedor à volta das telecomunicações,

centrado em Aveiro, onde os dois pilares fundamentais são

a UA e a PT Inovação”.

Page 37: Linhas 20

37 distinções

Tavares da Costa, cujo

estágio tem o título “Influência

de fatores ambientais e de

descarga na contaminação

fecal do estuário do Tejo”.

BIOMEDICINA FARMACÊUTICA DA UA CONSIDERADA “EXCELENTE”

O “Training Programme in

Pharmaceutical Medicine” (que inclui o

Mestrado em Biomedicina Farmacêutica

e o Curso de Especialização em

Medicina Farmacêutica) da Universidade

de Aveiro foi considerado um

“PharmaTrain Centre of Excellence”.

A UA junta-se, assim, ao grupo restrito

de 11 universidades estrangeiras que

detêm esta classificação.

Este galardão contribui ainda

para a valorização dos formandos no

mercado de trabalho nacional

e internacional, junto das indústrias

farmacêutica e biofarmacêutica,

centros de investigação

e autoridades reguladoras.

Esta atribuição, que resulta de uma

avaliação e auditoria que a PharmaTrain

fez ao curso, é “muito gratificante”

porque foi obtida apenas ao fim de

quatro anos de existência do mesmo,

considera o diretor do curso, Luís

Almeida, acrescentando: “É a prova de

que, quando planeamos adequadamente

e somos rigorosos e determinados na

implementação da estratégia definida,

os objetivos são sempre alcançáveis,

mesmo os mais ambiciosos”. O título

de “Centre of Excellence” vai “acentuar

a pressão para que continuemos o

esforço de limar arestas e aperfeiçoar

continuamente os nossos conteúdos”,

explica o responsável pelo curso.

A medicina farmacêutica foca-se

no desenvolvimento pré-clínico e

clínico, avaliação e comercialização

de medicamento e outros produtos de

saúde. PharmaTrain é um projeto de

um consórcio de 22 universidades, 11

associações profissionais, públicas e

privadas, e 15 parceiros privados da

indústria farmacêutica, todos europeus.

O seu objetivo é certificar cursos na

área da medicina farmacêutica que

vão ao encontro das necessidades

dos profissionais que trabalham no

desenvolvimento de medicamentos.

UA MEMBRO HONORÁRIO DA ORDEM DOS ENGENHEIROS

A Universidades de Aveiro é, desde

23 de novembro, Membro Honorário

da Ordem dos Engenheiros, em

simultâneo com as Universidades do

Minho e Nova de Lisboa, um galardão

atribuído na cerimónia do Dia Nacional

do Engenheiro.

Na mesma sessão foi distinguido,

enquanto vencedor de Melhor Estágio

de Admissão à Ordem, na Especialidade

de Engenharia do Ambiente, o antigo

aluno Ricardo André Tavares da Costa,

cujo estágio tem o título “Influência de

fatores ambientais e de descarga na

contaminação fecal do estuário do Tejo”.

ÁREA DOS MATERIAIS DA UA ESTÁ

NAS MELHORES DA EUROPA

A área de Ciência dos Materiais da

Universidade de Aveiro é primeira a

nível nacional, a 20ª a nível europeu

e a 114ª no mundo, de acordo com o

ranking produzido pela Universidade

Nacional de Taiwan. Nesta área está

contabilizada a produção científica em

biomateriais, materiais cerâmicos, teste e

caraterização, películas e revestimentos,

materiais compósitos, papel e madeira,

têxteis, engenharia metalúrgica e

produção científica multidisciplinar

associada aos materiais.

Os critérios usados pela Universidade

Nacional de Taiwan fundamentam-se

em três pilares fundamentais:

“produtividade”, “impacte da

investigação” e “excelência da

investigação”. O ranking considera seis

domínios - Agricultura, Medicina Clínica,

Engenharia, Ciências da Vida, Ciências

Naturais e Ciências Sociais - e 14 áreas

de produção científica.

Destas, registaram-se subidas,

em relação à avaliação feita pela

Universidade Nacional de Taiwan no

ano passado, nas áreas de Ciência dos

Materiais, Química, Engenharia Civil e

Agricultura. Na Química, a UA surge em

2º lugar nacional, a seguir à Universidade

do Porto, em 74º lugar da Europa e no

194º lugar a nível mundial. Na Engenharia

Civil, a instituição aveirense surge em 92ª

posição europeia e na 269ª mundial e,

na Agricultura, está na 100ª posição da

Europa e na posição 247 mundial.

PROFESSOR JÚLIO PEDROSA

COORDENA GRUPO DE ANÁLISE

DO ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊS

Júlio Pedrosa, ex ministro da Educação e

antigo Reitor da Universidade de Aveiro,

foi convidado para liderar um grupo de

trabalho que tem por objetivo apresentar

sugestões de aplicação ao ensino

superior Português das recomendações

do estudo elaborado pela European

University Association (EUA) a pedido do

Conselho de Reitores das Universidades

Portuguesas (CRUP).

O CRUP decidiu recentemente criar

uma comissão para fazer um trabalho

de análise das recomendações do

estudo que encomendou à EUA. “Este

estudo, apresentado em fevereiro de

2013, apresentava um conjunto de

recomendações relativamente ao ensino

superior em Portugal. O que o CRUP fez

agora foi criar um grupo de trabalho para

estudar o melhor modo de se aplicarem

Page 38: Linhas 20

linhas set 2013

essas recomendações à realidade

Portuguesa”, explicou Júlio Pedrosa.

Os resultados do trabalho desta equipa

devem ser apresentados em 2014.

INVESTIGADOR DO IT À FRENTE

DA DISCUSSÃO EUROPEIA SOBRE

TRANSMISSÃO DE ENERGIA SEM FIOS

Nuno Borges Carvalho é o coordenador

do recém criado Wireless Power

Transmission for Sustainable Electronics

(WIPE), um consórcio europeu que

pretende ser um fórum de discussão,

de promoção e de realização de

atividades na área da transmissão

de energia sem fios. O investigador

do Instituto de Telecomunicações

e do Departamento de Eletrónica,

Telecomunicações e Informática da

Universidade de Aveiro assumiu as novas

funções a 24 de outubro, em Bruxelas.

O consórcio representa 21 países

europeus, os EUA e o Japão e tem um

orçamento de 600 mil euros

para promover o tema dentro da

comunidade europeia.

“Termos sido escolhidos para

coordenar este consórcio significa

um reconhecimento da nossa qualidade

e excelência nesta área de sistemas

de rádio frequência em toda a Europa”,

congratula-se Nuno Borges Carvalho.

“O Instituto de Telecomunicações,

DETI e UA irão coordenar este projeto

nos próximos quatro anos, realizando

dois fórum de discussão por ano na

Europa e ainda uma escola de verão

orientada a alunos de doutoramento e

a funcionários de diversas empresas”,

desvenda Nuno Borges Carvalho.

FERNANDO CORREIA ILUSTRA

SELOS DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE

ESPÉCIES AMEAÇADAS

Fernando Correia, docente do

Departamento de Biologia da

Universidade de Aveiro e diretor do

Laboratório de Ilustração Científica, foi

um dos ilustradores convidados para

ilustrar quatro dos 12 selos lançados dia

10 de outubro, no mercado americano e

internacional, pela United Nations Postal

Administration/UNPA (NY, USA; http://

unstamps.un.org/unpa/index.html). As

quatro ilustrações científicas são das

espécies: Asian tapir (Tapirus indicus),

Mongoose lemur (Eulemur mongoz), Flat-

headed cat (Prionailurus planiceps) e Aye-

aye (Daubentonia madagascariensis).

Esta emissão filatélica representa a 21º

edição de selos subordinados à coleção

das espécies ameaçadas (Endangered

species), desde que se registou o primeiro

lançamento, em 1993, e constituiu uma

das mais apetecíveis séries filatélicas por

colecionadores de todo mundo.

A edição de 2013 foi dedicada a

vertebrados noturnos que estão

apontados como algumas das espécies

que poderão desaparecer em breve,

passando assim de extantes a extintas,

caso não sejam tomadas medidas

urgentes em prol da sua conservação.

Com estas emissões filatélicas a UNPA

procura, de forma ativa, sensibilizar

o mundo para a necessidade de se

protegerem as espécies animais e

plantas que um pouco por todo lado

se encontram à beira da extinção,

principalmente por razões diretamente

ligadas a ações do Homem. Fernando

Correia explica a lógica por detrás da

conceção do trabalho. “Uma vez que

a minha formação de base é a Biologia

procurei imprimir um cunho especial às

minhas ilustrações, tentando atualizar

não só o design, como mostrar em

todos eles um pormenor da sua ecologia

ou biologia, indo além da clássica

figuração da espécie em causa, em

corpo inteiro.”

MIT E ISCTE DISTINGUEM PROJETOS

COM CHANCELA UA

O projeto WATGRID, dinamizado

por docentes e investigadores da

Universidade de Aveiro (UA), e o

MeshApp, que integra na sua equipa

antigos alunos da academia, foram dois

dos grandes vencedores da Semifinal do

concurso Building Global Innovators, nas

categorias Cidades Inteligentes e Outros

Produtos e Serviços. Os dois projetos

arrecadaram um prémio de 100 mil

euros cada. Para além destes prémios

foram ainda distinguidos, com menção

honrosa, três projetos dinamizados

por membros da UA: Endeavour Lab,

BikeEmotion e The Smart Tongue.

O WATGRID pretende fornecer soluções

para a rede de distribuição de água

doméstica em cidades ou ambientes

rurais. A grande mais-valia da solução é

a possibilidade de saber em tempo real a

quantidade e qualidade da água por cada

habitação. Com esta solução é possível

gerir melhor os desperdícios de água a nível

mundial, permitindo poupanças de água nas

empresas distribuidoras de até 50 por cento.

A MeshApp deu a conhecer uma

nova aplicação para computadores,

telemóveis etablets que funciona como

agregador de informação, que permite

reunir numa única página o conteúdo

e as interações das contas nas redes

sociais, feeds de notícias e e-mails.

A Endeavour Lab, empresa sediada na

Incubadora de Empresas da Universidade

de Aveiro (IEUA), apresentou um sensor de

captura 3D para a reabilitação motora de

pacientes que sofreram um AVC.

Page 39: Linhas 20

39 distinções

O BikeEmotion é um projeto desenvolvido

pela Ubiwhere e a Micro I/O (Empresas

IEUA Graduadas) em cooperação com

a UA e a Ponto C, que visa desenvolver

um sistema de quarta geração de partilha

social de bicicletas, equipado com a

mais moderna tecnologia de localização,

pagamento e reserva de bicicletas,

mantendo a simplicidade de utilização.

The Smart Tongue apresentou um sensor

eletrónico para degustação e controlo

de alimentos. A concurso estava ainda

a Be.uBi (Empresa IEUA), a competir na

categoria de Tecnologias de Informação,

Internet e Produtos, com o projetoSoftware

with Emotion, uma solução para a

otimização de experiências de compra.

MÁRIO FERREIRA RECEBE

PRÉMIO H. H. UHLIG

O diretor do Departamento de

Engenharia de Materiais e Cerâmica

(DEMAC) da Universidade de Aveiro,

Mário Ferreira, ganhou o Prémio H.

H. Uhlig da Divisão de Corrosão da

Sociedade Americana de Eletroquímica

(ECS). O prestigiado troféu foi entregue

durante o 224º Encontro da ECS que

juntou em São Francisco, nos EUA,

os melhores investigadores mundiais

na área da Eletroquímica. Durante o

encontro Mário Ferreira proferiu uma

Award Lecture em Ative Corrosion

Protection By Ldhs.

“Este prémio representa um

reconhecimento internacional do

trabalho que tenho vindo a desenvolver

nas áreas da corrosão e proteção

de metais, nomeadamente nestes

últimos anos com o desenvolvimento

de revestimentos inteligentes para

proteção anticorrosiva e que podem ter

aplicações, como sensores, noutros

campos”, congratula-se Mário Ferreira.

Investigador na UA desde 2001,

Mário Ferreira, Doutorado em

Ciência e Engenharia da Corrosão,

aponta que o prémio, criado em 1972

para reconhecer a excelência na

investigação e contribuições técnicas

relevantes para o campo da ciência

da corrosão, “é um reconhecimento

pelo trabalho realizado pelo DEMAC/

CICECO”. O investigador dedica

mesmo a distinção a todos os seus

colaboradores, passados e presentes.

“Foi devido a eles que eu consegui

obter este prémio”, reconhece.

DOCENTE DA UA RECEBE “PRÉMIO

IBÉRICO FECIEX 2013”

Carlos Fonseca, docente no Departamento

de Biologia (DBio) e investigador no

Centro de Estudos do Ambiente e do

Mar (CESAM) da UA, recebeu o “Prémio

Ibérico FECIEX 2013”. Este galardão é

atribuído a personalidades, instituições ou

organizações que se tenham destacado

pelo trabalho desenvolvido em prol da

potenciação dos valores ibéricos da caça,

da pesca e da conservação da natureza

e que tenha fomentado o encontro entre

Espanha e Portugal nestas áreas.

A distinção, entregue a 19 de setembro,

em Badajoz, foi atribuída na XXIII edição

da FECIEX - Feira de Caça, Pesca

e Natureza Ibérica, a maior do género

em toda a Península Ibérica e que contou

com forte presença de expositores

Portugueses, explicou o galardoado.

O prémio foi entregue pelo Alcaide

de Badajoz, Francisco Martínez, em

nome do Comité Executivo da FECIEX,

numa cerimónia onde estiveram

presentes diversas individualidades da

Extremadura e de Portugal.

De relembrar que o docente e

investigador obteve em maio de 2013 o

prémio “Investigação em Caça”. Carlos

Fonseca é licenciado em Biologia e

mestre em Ecologia pela Universidade de

Coimbra e doutor em Biologia, pela UA.

ARTIGO DE INVESTIGADORES DA UA

DESTACADO NA CAPA DA REVISTA

CHEMPLUSCHEM

O trabalho realizado por investigadores

da Universidade de Aveiro, da unidade

Química Orgânica, Produtos Naturais

e Agroalimentares (QOPNA), sobre

a capacidade de deteção de iões

metálicos (mercúrio, zinco, cádmio, etc.)

nas fases sólida, líquida e gasosa por

parte de benzoporfirinas e de porfirinas

funcionalizadas na posição beta-pirrólica

com unidades de tipo piridina foi destacado

na capa da revista ChemPlusChem. Este

trabalho abre portas à criação de novos

indicadores de poluentes do ar, água ou

mesmo de sistemas orgânicos, eficazes e

fáceis de usar.

O ChemPlusChem é um periódico

associado da prestigiada Angewandte

Chemie International Edition e da Chemistry

- A European Journal. A publicação em

destaque resulta de trabalho realizado

por investigadores do Departamento

de Química (QOPNA), e BIOSCOPE, da

Universidade Nova de Lisboa, tendo

contado ainda com a colaboração de um

investigador do Centro de Investigação

em Materiais Cerâmicos e Compósitos

(CICECO), laboratório associado da

Universidade de Aveiro.

O artigo foca a capacidade de

benzoporfirinas e de outras porfirinas

funcionalizadas com grupos de tipo

piridina detetarem iões metálicos

em fase sólida, líquida e gasosa.

Page 40: Linhas 20

linhas set 2013

Os compostos sintetizados são

estruturalmente afins de compostos

naturais como os do grupo heme

de hemoproteínas. Este trabalho

é um importante contributo para o

desenvolvimento de novos materiais

passíveis de serem utilizados como

indicadores, quer em aplicações

ambientais, quer como biomarcadores.

SISTEMA DE GESTÃO SUSTENTÁVEL

DE TRÁFEGO VALE PRÉMIO

A INVESTIGADOR DA UA

Jorge Bandeira, doutorando no

Departamento de Engenharia Mecânica

da Universidade de Aveiro, foi o único

português premiado no Concurso de

Inovação, promovido pelo Instituto

Europeu de Patentes. O estudante da UA

apresentou um sistema de informação

e apoio à decisão focado na gestão

sustentável de tráfego e, com isso,

venceu numa das categorias do concurso,

dirigido a estudantes e investigadores

universitários dos estados membros.

A proposta de investigação submetida a

concurso incide no desenvolvimento de

um sistema de informação e de apoio à

decisão, focado na gestão sustentável de

tráfego. O que o “Eco-indicator for route

choice, traffic assignment and policy

analyses” (assim se designa o projeto)

pretende fazer é calcular os custos dos

principais impactes do tráfego rodoviário,

como o ruído, poluentes ou os gases

com efeito de estufa.

O sistema de informação e apoio à

decisão focado na gestão sustentável

de tráfego, criado no Departamento

de Engenharia Mecânica da UA, foi o

vencedor absoluto na categoria D (uma

das quatro a concurso): Smart transport

and traffic management systems.

INVESTIGADORA DA UA VENCE PRÉMIO SANTANDER DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA FCSHFilipa Lã é uma das vencedoras do Prémio Santander de Internacionaliza-ção da Produção Científica, na cate-goria Investigadores, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. A docente e investigadora do Departamento de Comunicação e Arte (DECA) da Univer-sidade de Aveiro recebeu a distinção durante a sessão comemorativa do 35.º Aniversário da FCSH.

“Este prémio, para além de ter sido uma completa surpresa para mim, representa o reconhecimento a nível nacional de uma das funções determinan-tes de uma universidade: a produção de conhecimento com projeção internacio-nal”, congratula-se Filipa Lã. “Claro que o prémio também mostra igualmente um reconhecimento mais concreto da minha contribuição para a área da música, nomeadamente da pedagogia vocal e de áreas de fronteira como aquela que a mú-sica estabelece com a medicina”, adianta.

O Prémio Santander de

Internacionalização da produção

Científica da FCSH visa distinguir os

docentes e investigadores que mais

tenham contribuído para a notoriedade

internacional da produção científica

daquela faculdade. Filipa Lã recebe o

prémio na condição de investigadora do

pólo da UA do Instituto de Etnomusicologia

- Centro de Estudos em Música e

Dança, uma unidade de investigação

multidisciplinar sediada na FCSH.

INVESTIGADORES DA UA

DISTINGUIDOS PELA TECNICELPA

POR NOVOS PRODUTOS

Um revestimento que permite melhor

qualidade de impressão em papel

de escritório, uma pasta celulósica

resistente à humidade e ao fogo,

utilizável como material isolante na

construção civil, ou ainda um suporte

de catalisadores para a purificação de

ar poluído, estão a ser desenvolvidos

por uma equipa da UA. O trabalho

de investigação, a decorrer no

Departamento de Química e no Centro

de Investigação em Materiais Cerâmicos

e Compósitos (CICECO), laboratório

associado da UA, já mereceu várias

distinções. A última foi o prémio

TECNICELPA (Associação Portuguesa

dos Técnicos das Indústrias de

Celulose e Papel).

A diferença no rigor da impressão a

jato de tinta, usando um papel comum

e outro com revestimento de uma

formulação contendo sílica, ao olhar

para o gráfico, é evidente. O papel

revestido com uma pequena camada

à base sílica, de 2-3 gramas por metro

quadrado, permite não só um maior

rigor na impressão, mas também maior

resistência à humidade, sublinha Dmitry

Evtyugin, coordenador da equipa

de investigadores e professor do

Departamento de Química da UA.

A equipa de Dmitry Evtyugin, Inês

Portugal e José Gamelas foi também

distinguida com o prémio de melhor

comunicação oral. Há quase 10 anos que

os prémios não coincidiam na mesma

equipa de investigação. Já no encontro

científico que decorreu em 2005, a

equipa constituída por Carlos Pascoal

Neto, Dmitry Evtyugin e Armando

Silvestre, fora distinguida com o prémio

de melhor trabalho na área.

Page 41: Linhas 20

41 distinções

DOCENTE DA UA ELEITA

COORDENADORA DA REDE

EUROPEIA DE SOCIOLOGIA

DAS PROFISSÕES

A docente e investigadora do

Departamento de Ciências Sociais,

Políticas e do Território (DCSPT)

da Universidade de Aveiro, Teresa

Carvalho, foi eleita coordenadora

da Rede Europeia de Sociologia das

Profissões, uma das várias áreas da

European Sociological Association

(ESA). A eleição decorreu na conferência

da ESA, realizada de agosto, em Turim.

O cargo para o qual a docente e

investigadora foi eleita tem vigência

de dois anos. Entre várias funções a

desempenhar, a coordenadora da rede

europeia de sociologia das profissões

gere a rede, coordena a organização

de conferências, reuniões e workshops

temáticos, participa na organização

da grande conferência bienal da ESA

e também na organização conferência

intermédia. Antes, a docente da UA já

tinha sido eleita membro da comissão

executiva desta rede na conferência da

ESA, em 2010, em Genebra.

Teresa Carvalho leciona unidades

curriculares na área da sociologia e das

políticas públicas na licenciatura em

Administração Pública, no Mestrado

em Administração e Gestão Pública,

no Mestrado de Ciência Política e

no Programa Doutoral em Políticas

Públicas. É investigadora no CIPES

(Centro de Investigação e Políticas

do Ensino Superior).

CAPACETE DE CORTIÇA RECEBE

PRÉMIO INOVAÇÃO DA APCOR

Ricardo Sousa é o vencedor do Prémio

Inovação atribuído pela Associação

Portuguesa de Cortiça (APCOR).

A distinção que homenageia o trabalho

do investigador do Departamento de

Engenharia Mecânica da Universidade

de Aveiro foi entregue a 4 de outubro,

durante a 4ª edição da Gala Anual da

Cortiça que decorreu no Hotel Convento

do Espinheiro, em Évora. Ricardo Silva

cativou a APCOR com o trabalho de

investigação sobre a utilização da cortiça

no revestimento de capacetes.

A equipa de investigação de Ricardo

Sousa provou que, em relação à esferovite

utilizada em exclusivo por todos os

fabricantes mundiais de capacete, a

presença da cortiça no revestimento

interno dos capacetes não só confere

ao material maior capacidade para

absorver um impacto, como também essa

característica permanece intacta no caso

do motociclista sofrer na cabeça múltiplas

pancadas. A técnica já está patenteada e

aguarda pelo interesse da indústria para

conquistar, principalmente, os desportos

motorizados sujeitos a apertadas medidas

de segurança.

“Receber este prémio é para mim uma

honra e um estímulo para continuar a

investir na área”, congratula-se Ricardo

Sousa. ”A cortiça é um produto ecológico

português que movimenta boa parte da

economia. Por isso, faz todo o sentido que

se procurem aplicações inovadoras para

esse material e que cada vez mais indústria

e academia se aliem na busca de novos

produtos e ideias”, aponta.

PLATAFORMA TURÍSTICA DE

ANTIGOS ALUNOS DA UA VENCE

COVILHÃ STARTUP WEEKEND

Uma startup de dois antigos alunos

da Universidade de Aveiro (UA) e de

mais cinco jovens empreendedores

portugueses, recentemente criada durante

o "Covilhã Startup Weekend", distinguiu-se

entre um conjunto de ideias, concorrendo

na final mundial - o Champions Circle

da Global Startup Battle. Apresenta-se

ao mercado uma plataforma na qual os

players turísticos dão resposta à procura

específica de cada utilizador.

Resultante de 54 horas de trabalho

intensivo na criação de um plano de

negócios e de um protótipo funcional,

o projecto iTravey, de Pedro Caleiro,

antigo aluno de Engenharia Eletronica

e Telecomunicações da UA, e Carlos

Carvalho, licenciado em Engenharia de

Computação e Telemática também na UA,

e de mais cinco jovens empreendedores,

foi o grande vencedor da edição

portuguesa do Startup Weekend.

Para quem procura marcar férias

comodamente, à distância de uma

simulação que conjuga as melhores

ofertas aos melhores preços, a iTravey

aposta na economia de tempo e de

recursos, dispensando navegações

pelos canais tradicionais de

agendamento turístico.

Depois de ter vencido com a melhor ideia

em Portugal, a iTravey avança agora para

a Global Startup Battle uma competição

mundial de startups que consiste em

cinco desafios simultâneos patrocinados

pelas maiores empresas online como a

Microsoft, a Amazon ou a Google.

Page 42: Linhas 20

linhas dez 2013

Parceria da UA revela dimensões

escondidas do antigo eremitério Carmelita

Buçaco: viagem para outra dimensão de vida, de património e do espírito

Conhecer o Buçaco só pela água, pelo Palace Hotel, Vale dos Fetos,

ou pela Via Sacra, é não perceber esta pérola de património natural,

histórico, militar e religioso. A parceria entre a Fundação Mata do

Buçaco e a UA, já com mais de 10 anos, tem sido fundamental para

manter viva a chama da descoberta e conservar o património ainda

ferido pelo ciclone do início de 2013 (fotografias de Lísia Lopes). Adernal na Mata do Buçaco

Page 43: Linhas 20

43 investigação

Só um olho bem treinado perscrutando os tons

secos da folhagem do chão, numa paleta que vai

do amarelo ao castanho ou carmim, ocres e beges

vários, pode descobrir aquelas formas delicadas

que se erguem numa cúpula e escondem um verso estriado. A

cada passo, na folhagem, rasgando o silêncio ou o canto das

aves, pode surgir uma surpresa na forma, no tamanho e na cor,

com par no enorme conjunto de referências impresso num A4.

O jovem micologista Eduardo Batista regista as coordenadas

geográficas, fotografa, mede, compara tons, analisa mais tarde

ao microscópio e faz testes em laboratório. Demora-se em

pequenas áreas da mata à volta dos retorcidos adernos, dos

vetustos carvalhos e dos frutificados castanheiros.

Mais à frente, atenta-se no solo, junto a um aderno de porte

arbóreo, “relíquia” que remonta à original paisagem do

Buçaco, muito antes dos Carmelitas Descalços se recolherem

ali, no século XVII, e começarem a construir a Mata que

serviu de “quadro rústico à paixão de Cristo”, como escreveu

Jaime Cortesão. Eduardo está perto do Passo de Caifás,

um dos 20 Passos da completíssima Via Sacra iniciada

pelos monges, que inclui seis Passos da prisão de Cristo, já

considerada melhor que a original por visitantes israelitas.

Os elementos naturais, pela violenta mão do ciclone Gong,

no início do ano, pregaram uma estranha partida a esta

tríplice harmonia de religião, património construído e

natureza, ao fazerem tombar árvores, sobretudo gigantescos

cedros-do--Buçaco, em cima de algumas destas capelas já

construídas no século XIX.

À volta de Eduardo Batista surge um sem número destes

pequenos e delicados chapéus de tons outonais que brotam

do chão forrado a folhas e herbáceas. Na parte final da sua

licenciatura em Biologia na UA, o jovem escolheu investigar

os cogumelos desenvolvendo a curiosidade que já tinha e

descobrindo mais sobre os cogumelos da Mata do Buçaco.

Talvez também por razões familiares, já que recorda com

saudade os míscaros cozinhados pela avó.

Infindável fonte de surpresas

O estudo dos cogumelos na Mata do Buçaco começou com o

biólogo André Aguiar que monitorizava a fauna, como bolseiro

do Departamento de Biologia, no âmbito de um projeto

financiado pelo Life +, designado BRIGHT (Recuperação do

Buçaco das invasões que geram ameaças de habitat), que

ainda decorre. André, enquanto desenvolvia os seus trabalhos

de campo, montava armadilhas para mamíferos, escutava aves

e identificava morcegos, contou 121 espécies de cogumelos.

Eduardo Batista aprofunda agora este trabalho, sob orientação

de Rosa Pinho, responsável pelo Herbário da UA, e Anabela

Martins, investigadora do Instituto Politécnico de Bragança.

A grande diversidade de cogumelos não é estranha

à variedade de espécies arbóreas e é apenas um

aspeto da notável biodiversidade do Buçaco, assinalada

na tese doutoramento de Milene Matos, hoje investigadora

da Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia

da UA e responsável pelo Serviço Educativo da Mata. A tese

da investigadora tornou evidente a interessante biodiversidade

da Mata Nacional do Buçaco, quando comparada com os

ecossistemas circundantes e fez luz sobre a, até então, pouco

conhecida fauna da zona. “Já cá ando há dez anos e continuo a

descobrir coisas novas!”, exclama, surpreendida com os curiosos

“chapéus” observados por Eduardo Batista.

Sabiamente, os Carmelitas Descalços, ao pretenderem reproduzir

neste seu “deserto”- nome muitas vezes atribuído aos espaços

de reclusão Carmelitas - o que conheciam em Jerusalém, foram

plantando, mas mantiveram zonas da floresta original, com

carvalhos, azereiros e loureiros e outras em que domina o aderno.

A espécie disponível que mais se aproximava do cedro-do-Líbano

em Jerusalém era o chamado cedro-do-Buçaco que veio de

conventos em Espanha. Estranho? Não, porque a designação foi

erroneamente atribuída por um botânico que visitou o Buçaco,

talvez já demasiado deslumbrado pela beleza da paisagem.

Com enorme tristeza, os investigadores e todos aqueles de

frequentam e que zelam por este espaço, como é o caso de

jardineiros – a trabalharem na Mata ao abrigo de um protocolo

com o Estabelecimento Prisional de Coimbra – receiam que

o cedro-do Buçaco mais antigo de Portugal, o “cedro de S.

José”, plantado em 1644, agonize após o corte de um dos dois

ramos provocado pela queda de outro cedro devido ao ciclone

de janeiro. O arboreto, que ocupa cerca de 80 por cento da

Mata, para além destes gigantes com “pés de barro”, ou seja,

com raízes relativamente superficiais para a dimensão que

atingem, inclui outras espécies com origem nos quatro cantos

do mundo. Um exemplar de eucalipto, Eucaliptus regnans, de

74 metros, é a árvore mais alta da Mata.

Relíquia de aderno a conservar

A chamada floresta relíquia ocupa apenas uma pequena – mas

fundamental para a conservação da natureza – fração no extremo

sudoeste da mata, albergando três habitats diferentes: o carvalhal

de carvalho-alvarinho e carvalho-negral, o loureiral, dominado pelo

loureiro, com presença frequente do medronheiro, folhado e do

azevinho, e um outro conjunto vegetal dominado pelos adernos de

porte arbóreo. Os investigadores da UA defendem que este último

habitat é um subtipo de mato termomediterrânico pré-desértico

não previsto no Anexo 1 da Diretiva Habitats e que deve ser

incluído neste documento orientador da conservação da natureza

na Europa. Rosa Pinho, responsável pelo Herbário da UA, explica

que, ao contrário do subtipo de habitat já previsto na Diretiva em

Page 44: Linhas 20

linhas dez 2013

que domina o medronho, no “adernal” é o aderno que domina,

algo que se verifica apenas em certas zonas (mais pequenas) da

Serra da Arrábida.

A diversidade da Mata providencia alimento, abrigo e refúgio

para mais de centena e meia de espécies de vertebrados,

entre as quais, algumas de grande valor para a conservação

da natureza, como endemismos ibéricos (espécies exclusivas

da Península) ou espécies protegidas. O bom tempo atrai

diversos répteis, como o lagarto-de-água, endémico, ou

a cobra-de-escada e um olhar atento às linhas de água

permitirá identificar anfíbios tão distintos como a salamandra-

-lusitânica e o tritão-de-ventre-laranja, dois sensíveis

endemismos. O crepúsculo pode revelar morcegos, como o

raro morcego-de-ferradura-mediterrânico, ou o musaranho-

-de-água, recentemente observados pela primeira vez na

Mata. Nos cursos de água os investigadores já registaram a

presença do bordalo, um pequeno peixe em risco de extinção

e endémico da Península Ibérica.

No decurso de um projeto de investigação desenvolvido por

alunos de licenciatura da UA – Tatiana Pinhal, Ricardo Mocito,

Cátia Paredes, Sofia Jervis – e uma aluna de mestrado (Daniela

Maia) tem vindo a ser registada a ocorrência de centenas

de espécies de insetos e aranhas, algumas nunca antes

associadas ao Buçaco.

Esta “obra de arte total” (designa o IGESPAR), que inclui

também o Palace Hotel, bem no centro do Buçaco, peça

notável do chamado estilo neomanuelino do início do século

XIX, não está livre de ameaças. Para além do rasto de

destruição deixado pelo ciclone Gong, ainda visível em vários

locais, nomeadamente em capelas, não obstante o trabalho

já feito pelas equipas da Mata e por voluntários, as espécies

invasoras espreitam permanentemente. É o caso da acácia,

da falsa-árvore-do-incenso e do louro-cerejo, nas árvores,

e da tradescância, ou erva-da-fortuna, no coberto vegetal

mais rasteiro. O louro-cerejo não é considerado uma invasora

noutros locais, mas, no Buçaco, tem comportamento de

invasora, afirma Rosa Pinho.

Controlar invasoras, reflorestar e reconstruir

As equipas da Mata têm vindo a trabalhar no sentido de

controlar as invasoras, no âmbito do projeto BRIGHT, usando

métodos mecânicos (arranque manual ou descasque), métodos

químicos (aplicação de herbicidas) ou ainda uma combinação

de ambos, dependendo da zona e das condições. Neste

sentido, decorre um estudo pelas investigadoras da UA, Sónia

Guerra, Lísia Lopes e Rosa Pinho, sobre o controlo de invasoras

e o potencial de regeneração da Mata. Em certas zonas, o

terreno foi marcado em quadrados de 1 e de 100 metros. No

primeiro caso, foi limpo de herbáceas invasoras e, no segundo,

as árvores invasoras (acácias, sobretudo) foram descascadas

para morrerem, em certos locais sem recurso a químicos que

poderiam influenciar a regeneração da vegetação autóctone.

Decorre ainda um outro trabalho de investigação, de Lúcia

Pereira, Milene Matos, Ana Vasques e Paula Maia, sobre a

germinação de sementes e desenvolvimento das plantas

(sobretudo, invasoras) propagadas pelas fezes dos mamíferos

(raposa e fuinha). Faz-se o acompanhamento da germinação

das sementes do desenvolvimento das plantas, em estufins.

Suspeita-se que as fezes facilitem a germinação de certas

sementes, como é o caso das de louro-cerejo e que este facto

está relacionado com o comportamento do louro-cerejo, como

invasor, no Buçaco.

Trabalho de campo de Eduardo Batista e medronheiro (à direita)

Page 45: Linhas 20

45 investigação

O Buçaco tem vindo a servir também como palco privilegiado

para a aplicação de outros saberes da UA e não apenas na

área da Biologia. A parceria com a UA começou, em 2002,

com o Buçaco ainda sob tutela da Direção-Geral dos Recursos

Florestais e por impulso de Carlos Fonseca, professor e

responsável pela Unidade de Vida Selvagem, coordenador

do projeto BRIGHT na UA e membro do Conselho Geral da

Fundação Mata do Buçaco (FMB). A equipa da Estrutura

de Projeto de Arquitetura e Desenvolvimento Físico da UA

(EPARQ), coordenada pelo arquiteto Joaquim Oliveira, tem

em curso um projeto para recuperação do edificado da Mata,

nomeadamente, do convento, capelas, ermidas de habitação,

incluindo ordenamento do trânsito e estacionamento, em

articulação com a Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva

que define as metodologias de intervenção na área da

conservação e restauro. Numa primeira fase, o projeto permitiu

a recuperação de estufas e a reabilitação da casa das Portas

de Coimbra. A extinta Fundação João Jacinto de Magalhães,

entidade da esfera da UA, definira toda a linha gráfica da FMB.

UA é parceira fundamental no trabalho desenvolvido

Há também duas dissertações de mestrado em curso, sob

orientação de Ana Velosa, professora do Departamento de

Engenharia Civil, relacionadas com as construções do Buçaco:

uma sobre o tipo de material usado na construção das antigas

capelas e no convento e a argamassa mais adequada numa

eventual intervenção e ainda outra sobre avaliação de risco nas

antigas capelas da Via Sacra, designadamente, associado à

vegetação mais próxima, à humidade e à água capilar. Com o

trabalho final de curso em Arquitetura na Escola Universitária

das Artes de Coimbra (ARCA), intitulado Reabilitação do

Património Arquitetónico da Via Sacra, Ana Carina Gomes, já

então colaboradora da EPARQ, venceu o Prémio Conservação

e Restauro do Património Arquitetónico, promovido pela

Teixeira Duarte.

Na tentativa de acelerar a recuperação da mata, Nelson

Matos, ex-aluno de Planeamento Regional e Urbano na UA

e coordenador operacional do projeto BRIGHT, sugeriu

ajudar à reflorestação através de um sítio na Internet em

desenvolvimento com apoio do Laboratório SAPO da UA e

da Fundação PT. O protótipo surgiu no âmbito das aulas da

disciplina de Laboratórios Multimédia 4 do curso de Novas

Tecnologias da Comunicação (Departamento de Comunicação

e Arte), sob orientação do docente Carlos Santos, e permite

tarefas como comprar plantas e fazer donativos, saber o local

da árvore e onde está, fazer uma dedicatória. Terá também uma

aplicação para comunicações móveis e deverá estar disponível,

para o público, até ao segundo trimestre de 2014.

A Mata tem vindo a ser palco de um programa de educação

ambiental e educação para a sustentabilidade com atividades

regulares, promovidas pelo Serviço Educativo da Fundação

Mata do Buçaco e em que participa o Departamento de

Biologia da UA, através da sua investigadora de pós-

-doutoramento, Milene Matos. O projeto “Duendes na Mata”

surge neste âmbito.

O presidente da FMB, António Jorge Franco, sublinha que

a parceria com a UA tem sido “fundamental desde que a

Fundação Mata do Buçaco foi constituída em 2009”, quer

quanto ao estudo da biodiversidade, do património construído

e da recuperação de todo o património da Mata, “um apoio

extraordinário, sem o qual o sucesso alcançado não seria

possível”. O Buçaco passou a ser, desde o início de outubro,

a primeira mata nacional a receber o certificado de gestão

florestal, implementando os requisitos do Forest Stewardship

Council – FSC®, com apoio da empresa Unimadeiras. A

Fundação Mata do Buçaco considera que o trabalho realizado

pelo Departamento de Biologia da UA, desde há uma década, e

a informação científica reunida a partir desse trabalho, terá tido

“importância fundamental para a certificação da Mata como

Floresta de Alto Valor de Conservação”.

O Palace Hotel e o convento são dois dos ex-líbris do Buçaco

Page 46: Linhas 20

linhas dez 2013

Geologia médica, um novo “filão” nas GeociênciasA saúde também brota das entranhas dos Açores

As argilas e as areias usadas para aplicação direta sobre o

corpo com o objetivo de prevenir e tratar diversos problemas

de saúde, ou a água mineral usada sob diversas formas, são

apenas alguns exemplos de utilizações dos recursos naturais

da Terra na saúde humana com origens que se perdem no

tempo. No entanto, a investigação e o uso médico dos recursos

geológicos no âmbito de uma área científica emergente

designada geologia médica ou geomedicina é algo de bastante

mais recente, sobretudo em Portugal.

Pode considerar-se que, em muitos destes casos, a ciência veio

séculos depois do conhecimento empírico e popular, tendo em

conta que há registos históricos e arqueológicos de aplicações

ainda antes da romanização e que o estudo científico e

sistemático nestas áreas – e noutras - começou a ser mais

comum a partir do século XIX. Foi nesse período, por exemplo,

que se construíram balneários termais em vários pontos do

país. “Aquilo que se pode classificar como a era moderna

da Geologia Médica, e em que começa a fazer sentido falar,

efetivamente, de Geologia Médica, tem início no século XIX. Isto

ocorre numa altura em que se começa finalmente a perceber

que existem certos elementos inorgânicos que, em pequenas

quantidades, são fundamentais para a saúde humana, mas

cuja dosagem excessiva desses mesmos elementos pode ser

altamente prejudicial. O iodo foi uma das primeiras substâncias

inorgânicas para a qual se estabeleceu este tipo de elo”,

escreve Nuno Pinto, na dissertação de mestrado “Tradução

de um glossário de Geologia Médica“ (2010), sob orientação

científica de Maria Teresa Roberto, Professora Auxiliar do

Departamento de Línguas e Culturas da UA, e de Eduardo Silva,

Professor Catedrático do Departamento de Geociências da UA.

No Porto Santo alguns desses recursos, caso da areia

especial (carbonatada biogénica) da tão conhecida praia, da

argila bentonitica, da água do mar e da água de nascente

da Fontinha, foram objeto de uso tradicional, mas empírico,

ao longo de muitos anos, com reconhecidos benefícios

na terapêutica de certas afeções de saúde. O trabalho

conduzido pelos investigadores da unidade de investigação

Geobiociências, Geotecnologias e Geoengenharias

(GeoBioTec), sedeada no Departamento de Geociências a partir

desse conhecimento tradicional e popular abriu a porta a um

conjunto de outros projetos, nesta área, com enfoque em Porto

Santo, na Madeira, mas também no arquipélago dos Açores.

Quando se diz que o Eldorado está agora nos fundos marinhos,

vê-se apenas uma parte da questão. As entranhas da Terra

continuam a surpreender. Os romanos já sabiam. O pioneirismo

da Universidade de Aveiro na área da Geologia Médica deu

frutos na forma de sabonetes esfoliantes que se assemelham

a calhaus rolados das praias dos Açores, e pode vir a dar géis

dermoterapêuticos com inhame e cremes hidratantes com lamas

das Caldeiras da Ribeira Grande.

Page 47: Linhas 20

47 investigação

Estes recursos começaram a ser estudados dos pontos de

vista técnico, científico e clínico, em 1995, por uma equipa

multidisciplinar, para o seu aproveitamento e aplicação local

em Clínicas de Geomedicina, em Centros de Talassoterapia

e em SPA, com coordenação dos investigadores Celso de

Sousa Figueiredo Gomes e João Baptista Pereira Silva.

A partir de 2006, com outros investigadores da GeoBioTec e

também do Centro de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade

de Farmácia da Universidade do Porto, trabalharam em

formulações de dermofármacos e dermocosméticos,

tendo por base areia carbonatada biogénica, argila do tipo

bentonite, água do mar e água de nascente do Porto Santo.

Posteriormente, foram construídas duas clínicas na ilha que

aplicam os produtos desenvolvidos.

Produtos diferenciados com origem “Açores”

Nos Açores, a parceria do GeoBioTec/Faculdade de Farmácia da

U.Porto (FFUP) e, mais recentemente, com o Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar, financiada pelo INOVA-Instituto de

Inovação Tecnológica dos Açores, e no âmbito do projeto

Termaz (Programa Pró-Convergência), desenvolve-se em três

frentes. Uma delas é o uso da pedra-pomes como esfoliante em

sabonetes, outra é a aplicação da seiva do caule e da folha do

inhame, cultivado em larga escala no arquipélago, na cicatrização

de feridas, e ainda uma outra relacionada com a aplicação

de lamas termais para tratamento da psoríase e de doenças

osteoarticulares, por exemplo. O objetivo é criar produtos com

aplicação dermoterapêutica e em dermocosmética, diferenciados

e com marca e identidade Açores.

Os estudos envolveram técnicas analíticas para comprovar o

uso clínico da aplicação tradicional e, no caso do sabonete

esfoliante que está mais avançado e prestes a entrar no

mercado, envolveu teste em cerca de 300 voluntários e

pacientes. Para além do uso dermocosmético, os estudos

concluíram que os pacientes com a pele bem esfoliada e

preparada (sem sujidade, células mortas,…) reagiam melhor à

eficácia dos tratamentos naturais (peloterapia, arenoterapia,

talassoterapia), afirma o investigador João Baptista Silva, dado

que a esfoliação também contribuiu para uma melhor eficácia

na absorção dos medicamentos utilizados em adesivos ou

pensos transdérmicos (anti tabagismo, anti concepcional, anti

inflamatório, entre outros).

Como produto final, os sabonetes que resultaram desta

investigação tomando a forma e a cor de calhaus rolados

das praias dos Açores e exalando fragâncias de aerossóis

marinhos, apresentam-se sob vários graus de esfoliação, ou

de abrasividade. Numa das formulações entra a pedra-pomes,

de abrasividade forte a moderada, para uso da remoção das

calosidades da planta dos pés e da palma das mãos, noutra

entram as areias carbonatadas de Porto Santo, de grau

moderado a suave para serem utilizadas no corpo e no rosto,

e numa terceira entram as micas da região de Aveiro, para o

rosto. Os três tipos de recurso geológico (geomateriais) existem

em grande quantidades na natureza e, mesmo no caso em que

as quantidades em meio natural são menores, relativamente

falando, como a pedra-pomes, as questões de sustentabilidade

estão salvaguardas, considera Fernando Tavares Rocha,

professor e diretor da unidade de investigação GeoBioTec:

“Qualquer que seja a formulação, estes recursos nunca entram

em mais de 10 por cento em cada sabonete”.

João Baptista Silva testa geomateriais em sabonetes esfoliantes

Page 48: Linhas 20

linhas dez 2013

No caso concreto da pedra-pomes, antes extraída na Graciosa e

S. Miguel, para além do uso direto como esfoliante, era sobretudo

usada como componente do cimento na construção civil.

A aplicação que foi possível com esta investigação, à indústria

química e à dermocosmética, proveniente agora da saibreira

do Pisão, explorada pela Cimpor/Secil, no sítio de Água d`Alto,

também em S. Miguel, representa um acréscimo de centenas de

vezes na valorização do produto, assinala João Baptista Silva. Ou

seja, também por esta via o caminho é a sustentabilidade no uso

destes recursos, salienta.

Lamas termais em cremes

“As principais aplicações da argila/lamas em Peloterapia têm

lugar sob a forma de aplicações diretas no tratamento de

afeções da pele, tais como, psoríase (Trespolli et al., 1996),

seborreia (Torresani, 1990, in Gomes, 2002) e acne ou sob a

forma de cataplasmas no tratamento de afeções reumáticas

(Messini, 1960), antropatias, e em processos pós-traumáticos

e luxações (Letizia, 1975, in Gomes, 2002)”, escreve Denise

Lara Terroso na dissertação “Argilas/ Lamas e Águas Termais

das Furnas (Açores): Avaliação das Propriedades Físicas

e Químicas relevantes para a utilização em Peloterapia”,

apresentada à UA, sob a orientação de Fernando Tavares

Rocha e de Eduardo Silva. Nesse sentido, estuda-se a

aplicação em cremes das lamas termais, nomeadamente as

do antigo Balneário da Coroa, em S. Miguel, criado no início

do século XIX, lamas essas que eram aplicadas tal qual com

fins terapêuticos.

Para melhorar ainda as propriedades terapêuticas, consideram-se

formulações com percentagem de seiva retirada do caule do

inhame, cultivado em grandes áreas na freguesia das Furnas na

ilha de S. Miguel. A seiva do caule é tradicionalmente usada na

cicatrização de feridas, por exemplo, nas patas do gado após a

mordedura pelos cães pastores (cão de fila de São Miguel),

e a folha do inhame é utilizada para embrulhar o queijo fresco

e o requeijão e evitar que azedem durante três a cinco dias.

Neste caso, a investigação, com a colaboração da FFUP e do

laboratório associado REQUIMTE (Universidade do Porto),

incidiu sobre várias partes/componentes da planta do inhame

em diferentes estádios vegetativos, da qual existem cinco

variedades, entre cultivos de água quente, água fria e sequeiro.

A planta nunca foi objeto de fertilização artificial.

Foram identificados 32 compostos fenólicos não conhecidos

antes nesta planta. O trabalho deu origem a artigos em

publicações de grande impacto, como a Elsevier e o Jornal

Americano de Agricultura.

No caso dos sabonetes esfoliantes com pedra pomes, já

surgiram três empresas interessadas em comercializar, tendo

uma delas mostrado a intenção de colocar o produto numa loja

de referência do circuito internacional, em Londres.

Na Madeira e nos Açores começa, assim, a juntar-se a

dimensão do turismo de saúde às dimensões de turismo

de natureza e a outras já conhecidas nas ilhas. O trabalho

realizado no Porto Santo deu origem a várias publicações, com

particular destaque para o livro lançado na UA, em 2012: «Ilha

do Porto Santo: Estância Singular de Saúde Natural / Porto

Santo Island: Unique Natural Health Resort», de Celso Gomes

e João Baptista Silva. Este último investigador é também autor

de um conjunto de trabalhos de divulgação técnica, científica

e pedagógica, nomeadamente duas séries de documentários

televisivos exibidas pela RTP (“O tempo escrito nas rochas”,

em 2007, e “Pedras que Falam”, em 2012) nas áreas das

geociências e da geoengenharia do arquipélago da Madeira.

Aplicação de lamas termais e plantação de inhame (à direita)

Page 49: Linhas 20

A Universidade de Aveiro possui, desde o início de novembro, um

novo serviço, totalmente gratuito, que ajuda os cidadãos a gerir

dívidas e a prevenir o seu incumprimento. O Gabinete Extrajudicial

de Apoio ao Consumidor Endividado (GEACE), funciona no Campus

Universitário, três dias por semana, mediante marcação prévia.

A crise e a austeridade continuam a deixar marcas nas carteiras

dos portugueses. Créditos acumulados, a súbita redução do

orçamento familiar ou o aumento das despesas de casa são

fatores que podem contribuir para o endividamento. Consumidores

em situação de risco ou cidadãos que precisem de ajuda para gerir

as suas finanças podem contar agora com um serviço de apoio.

O Gabinete recentemente criado integra a Rede de Apoio ao

Consumidor Endividado, um consórcio nacional, composto

por 17 entidades devidamente reconhecidas, e que vão apoiar

clientes bancários com dificuldades no cumprimento de

contratos de crédito. O seu trabalho é informar, aconselhar

e acompanhar esses clientes em risco de incumprimento ou

que já tenham prestações de crédito em atraso.

Uma das funções do GEACE – UA é a de informar os clientes

bancários sobre os seus direitos e deveres, em caso de risco

de incumprimento de contratos de crédito, no âmbito do

Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações

de Incumprimento e do regime extraordinário de proteção de

devedores em situação económica muito difícil.

Quem recorrer ao Gabinete poderá obter, também, ajuda

na avaliação da sua capacidade de endividamento. Ou seja,

a equipa de aconselhamento está apta a apoiar um cliente

bancário na análise das propostas, apresentadas pelas

instituições de crédito, e na adequação de tais propostas

à situação financeira, objetivos e necessidades. Um cliente

bancário em dificuldades pode também fazer-se acompanhar

por representantes do GEACE – UA se necessitar de negociar

(com as instituições de crédito) as propostas apresentadas.

“Com a criação deste gabinete, os cidadãos da região de Aveiro

sabem que têm um sítio onde se dirigir, que lhes presta todo

COMO FUNCIONA

O atendimento realiza-se às segundas, quartas e sextas, das 17h00

às 20h00. Fora deste horário as chamadas serão gravadas e, caso

os interessados deixem os seus contatos, serão contactados

posteriormente. O GEACE-UA está instalado no Campus

Universitário de Santiago, na Zona Técnica e Comercial.

O gabinete também pode ser contactado por e-mail (geace@

ua.pt) e por telefone (234 247154). Para ser acompanhado, cada

consumidor tem de preencher um formulário com as informações

sobre os vários empréstimos e dívidas que possui. O apoio é

dirigido a toda a população e pode prolongar-se durante o tempo

que for necessário, consoante cada situação.

o apoio sem sobrecarregar o seu orçamento familiar, e isso é

extremamente importante. Temos o apoio do Banco de Portugal

e da Direção Geral do Consumidor e gostaríamos de não ter

muitas solicitações, o que significaria que as pessoas não teriam

problemas financeiros”, afirmou Clara Magalhães, docente da

UAe coordenadora do GEACE.

“Ficamos muitos satisfeitos pelo facto de a UA ter sido convidada

a integrar esta rede”, salientou a responsável, que reconhece

no convite o apreço pelo “vasto trabalho que a UA tem feito na

divulgação da literacia financeira, concretizada através do Projeto

Matemática-Ensino (PmatE), do projeto europeu Dolceta (cuja

coordenação esteve a cargo de Clara Magalhães) e das várias

iniciativas promovidas pelo Departamento de Economia, Gestão e

Engenharia Industrial e pelo Instituto Superior de Contabilidade e

Administração da Universidade de Aveiro (ISCA-UA)”.

O GEACE – UA é composto por uma equipa de cerca de

15 membros da comunidade académica, entre docentes,

investigadores, alunos de pós-graduação e funcionários da UA.

Este novo serviço foi apresentado no ISCA-UA, a 31 de outubro,

data em que se assinalou o dia mundial da poupança e da

formação financeira. O gabinete é apoiado pelo Banco de Portugal

e pela Direção Geral do Consumidor.

Consumidor endividado conta com gabinete de apoio na UA

Page 50: Linhas 20

linhas dez 2013

Stanley, Nigéria

“As pessoas têm ideias estereotipadas sobre o ensino na Grã

Bretanha e nos EUA… Não conhecem Portugal nem o ensino

praticado aqui. É um país que tem evoluído muito nesta área!”

UA: um campus MulticulturalUm passeio pelo campus da

Universidade de Aveiro revela

uma grande diversidade de caras,

roupas, estilos… de pessoas.

A UA está cada vez mais internacional,

com alunos e investigadores oriundos

dos “quatro cantos do mundo”. Vêm

de paragens mais “próximas”, como

o Brasil, Moçambique, Cabo Verde

ou Timor Leste, mas também mais

longínquas, como a Índia, Bangladeche,

Irão, Paquistão ou Nigéria. São inúmeras

as origens daqueles que estão

ou já passaram pela UA nos últimos

40 anos, fazendo deste um campus

verdadeiramente multicultural.

Anahita Malek, iraniana, já percorreu

boa parte do mundo e ainda não vai

ficar por aqui. Está em Aveiro a fazer um

pós-doutoramento em Turismo, depois

do doutoramento feito na Malásia, onde

viveu seis anos. Ali Zadeh, estudante do

Programa Doutoral em Engenharia de

Materiais, e a esposa, Pegah Mirzadeh,

aluna do Programa Doutoral em

Engenharia Física, estão em Aveiro há

dois anos.

Os três apresentam-se fisicamente

muito longe dos estereótipos em relação

aos muçulmanos: Ali não tem bigode

e Pegah e Anahita não usam véu,

pelo menos em Aveiro. Explicam que

o véu é árabe e eles são persas, mas

reconhecem que quando regressam

“a casa” usam-no.

Gostam muito de estar em Aveiro, do

campus, das pessoas. Só não gostam

muito do clima… “Hoje está muito frio”,

diz Ali. “No Irão podemos ir ao norte e

ter chuva, neve nas montanhas e muito

calor no sul. Mas aqui temos muito

vento!”, lamenta Anahita. “Com o vento

não se vê ninguém na rua. No Irão há

sempre muita gente na rua, mesmo com

neve”, acrescenta Pegah.

Frequentam aulas de português

mas preferem falar em inglês para

comunicarem. Como fazem para ir

ao supermercado? Ou para ler

as placas nas ruas? “Estamos a

aprender, mas a língua é muito difícil”,

afirma Anahita. “E a maior parte das

pessoas fala inglês, pelo menos na

Universidade”, sublinham.

O mesmo não pode dizer Stanley

Ofoegbu, nigeriano, que chegou

à UA em 2008 com uma bolsa de

estudos para o mestrado Erasmus

Mundus em Ciência e Engenharia de

Pegah, Irão

“Aqui os professores são muito mais próximos

dos alunos, preocupam-se muito connosco”

Reda, Egito

“O Departamento de Química faz um trabalho

reconhecido e os professores estão sempre

dispostos a ajudar os alunos!”

Materiais. Passou por outros países,

mas regressou para um doutoramento

na mesma área. A família juntou-se a

ele no início de 2013: a mulher, a tirar

um doutoramento no Departamento

de Biologia, e dois filhos, um menino

de sete anos e uma menina de seis. E

é através dos filhos que é "obrigado"

a falar português: “A minha filha já

fala muito bem, melhor do que eu!

Surpreende-me vê-la a comunicar com

as pessoas! O menino teve um pouco

mais de dificuldades, uma vez que está a

aprender a escrever e a ler numa língua

que não é a sua. Com os trabalhos

de casa, por vezes vamos ao Google

traduzir certas frases!”

Mohamed Karmaoui, da Argélia, também

já está em Aveiro há vários anos, desde

2006, e é um “homem do mundo”: saiu do

seu país para estudar em França e depois

foi para a Alemanha tirar um mestrado.

Fez o doutoramento em Química na UA

e agora está num pós-doutoramento.

Assim, a língua de Camões já não lhe é

completamente estranha.

O que ainda não conseguiu “entranhar”

é a burocracia: “Por exemplo, para

tratar da renovação da autorização de

residência tenho de apresentar muitos

Page 51: Linhas 20

51 ensino

mais papéis do que noutros países! Mas

não é algo problemático, aprende-se a

viver com isso”, explica. Reda Ahmed,

do Egito, aluno do Programa Doutoral

em Química, diz mesmo que essa é “a

única queixa” que tem.

Os dois estão sozinhos em Aveiro:

Mohamed ainda espera encontrar uma

namorada portuguesa. Reda deixou a

mulher e uma filha no Cairo.

Sozinhos, como matam as saudades

de casa? Passeiam com os amigos

portugueses, celebram as datas especiais

com colegas do mesmo país ou religião e

vão passar férias a casa quando possível.

Reda vê filmes egípcios.

Outra forma de diminuir a distância

é através da gastronomia. Anahita,

Pegah, Ali, Mohamed e Reda vão

ao Porto, sempre que podem, a um

talho muçulmano. Mas os restantes

ingredientes encontram-nos facilmente

em Aveiro. Os amigos portugueses

pedem para fazer pratos típicos dos

seus países e eles aprendem também a

confecionar alguns portugueses. De entre

os preferidos destaca-se o bacalhau, o

cozido à portuguesa e a francesinha.

Reda não conhecia ninguém em Aveiro

nem nunca tinha vindo a Portugal,

mas escolheu a UA pela “qualidade da

educação, pelo clima e pelo Departamento

de Química, que faz um trabalho

reconhecido a nível internacional”, frisa.

“Os professores estão sempre dispostos

ajudar-nos. E a diversidade de culturas

na universidade é enorme! Isso também

facilitou a integração”.

A indiana Sasmita Mohanti veio para

a UA com o marido, que está a tirar

um doutoramento no Departamento

de Eletrónica, Telecomunicações e

Informática. Fez cá um mestrado e

agora é aluna do Programa Doutoral

em Marketing e Estratégia. Tem

amigos indianos que já cá tinham

estudado; sabia que as instalações

e a investigação eram boas e que a

universidade tem prestígio. Por isso,

escolheu a UA. “Esta Universidade dá

oportunidades a todos os estudantes

independentemente das suas origens,

religião ou cultura”, destaca.

Quando as saudades de casa apertam,

Sasmita concentra-se nos estudos e

aproveita as férias para passear com

amigos e o marido: “Às vezes tenho

saudades de casa. Mas se focarmos a

nossa atenção nos estudos e passarmos

uns bons momentos livres, supera-se bem”.

Apesar de estar longe de casa, consegue

celebrar as “suas” datas especiais,

juntamente com outros indianos. Organizam

festivais na universidade, em casa de

colegas ou em espaços livres da cidade.

Anahita, Irão

“As pessoas em Portugal de início são um

pouco fechadas, mas depois são muito mais

simpáticas do que noutros países Europeus!”

Sasmita, Índia

“Esta universidade dá oportunidades a todos

os estudantes independentemente das origens

dos alunos e da sua religião ou cultura.”

Ali, Irão

“Portugal tem os melhores vinhos

que já provei!”

Todos são unânimes em afirmar que os

portugueses são muito simpáticos, o que

facilita a integração e o desejo de muitos

em continuarem cá. “Nestes quase três

anos aqui, aprendi uma coisa: se queres

ser feliz, começa a relacionar-te com as

pessoas, a conhecê-las. Inicialmente

era muito reservado. Mais tarde, fiz bons

amigos. Isso fez-me mais feliz e tornou

a minha adaptação muito mais fácil”, diz

Reda. Porque a amizade não conhece

línguas nem etnias.

A UA abriu-lhes as portas. Eles serão

embaixadores desta casa pelo mundo fora…

Mohamed, Argélia

“Sou Portista há 25 anos, ainda antes de

vir para cá, desde o tempo em que Madjer

jogou no Futebol Clube do Porto!”

No presente ano letivo 2013/2014, a UA

integra estudantes, docentes, não docentes

e investigadores de 77 nacionalidades:

Afeganistão, Alemanha, Angola, Argélia,

Argentina, Áustria, Bangladesh, Bélgica, Brasil,

Botswana, Bósnia e Herzegovina, Bielorrússia,

Bulgária, Cabo Verde, Camarões, Canadá,

China, Chile, Chade, Cazaquistão, Colômbia,

Croácia, Cuba, Egito, Equador, Eslováquia,

Eslovénia, Espanha, EUA, Estónia, Etiópia,

Finlândia, França, Grécia, Guiné Bissau,

Holanda, Ilhas Virgens Britânicas, Índia, Irão,

Iraque, Irlanda, Itália, Japão, Jordânia, Letónia,

Líbia, Lituânia, Luxemburgo, Marrocos,

México, Moçambique, Nepal, Níger, Nigéria,

Noruega, Nova Zelândia, Paquistão, Polónia,

Reino Unido, República Checa, República

da Moldávia, Roménia, Rússia, São Tomé

e Príncipe, Sérvia, Sudão, Suécia, Suíça,

Tanzânia, Timor-Leste, Trinidad e Tobago,

Tunísia, Turquia, Ucrânia, Uruguai e Venezuela.

Page 52: Linhas 20

linhas dez 2013

ESAN

Uma escola para o futuro

A Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologia de Produção Aveiro

Norte (ESAN) da Universidade de Aveiro conta com novas instalações

no Parque do Cercal - Campus para a Inovação, Competitividade

e Empreendedorismo Qualificado, em Oliveira de Azeméis.

Inaugurado a 16 de dezembro de 2013, este edifício é

unanimemente classificado como criativo, original, inovador

invulgar em termos arquitectónicos.

O novo imóvel tem 180 metros de comprimento e o formato de

uma ponte suspensa, uma vez que pousa sob os dois extremos

do terreno, respeitando a topografia do espaço. Com uma área

de implantação e área bruta de construção de 4206.00 m2, o

edifício conta com laboratórios, oficinas, um auditório, biblioteca,

salas de aula, salas de formação, salas de reuniões, bar e

gabinetes de docentes.

A acessibilidade ao interior do imóvel é feita pelos dois extremos

(os pontos de contacto com o solo), e através de três caixas de

escadas que vêm do edifício até ao terreno.

No interior existe uma série de gabinetes associados a um

corredor, de modo criar uma zona mais reservada ao bulício da

vida deste equipamento, sendo esta zona quase de uso exclusivo

dos professores. O outro eixo de circulação faz a distribuição

para as salas de aulas e para os laboratórios, albergando os

maiores fluxos diários de circulação, que são dos alunos.

Estas duas circulações cruzam-se apenas nas zonas em

que foram introduzidos equipamentos de uso coletivo,

nomeadamente caixas de escadas e instalações sanitárias.

Nas extremidades do imóvel localizam-se os espaços sociais,

bar, auditório e biblioteca.

O edifício é inovador também ao nível da eficiência energética,

pois recorre à energia geotérmica (captada no solo) e à biotermia

para o aquecimento.

As novas instalações da ESAN resultam da assinatura, em

setembro de 2009, de um protocolo entre a autarquia de

Oliveira de Azeméis e a UA. O projeto de arquitetura é da

Page 53: Linhas 20

53 campus exemplar

responsabilidade de Joaquim de Oliveira

(Estrutura de Projeto de Arquitetura e

Desenvolvimento Físico da UA).

Atualmente a ESAN desenvolve atividade

nas áreas do design e desenvolvimento

de produto, da organização industrial,

das tecnologias e sistemas da produção

e das tecnologias e sistemas de

informação e comunicação, quer através

de oferta de ensino de nível superior,quer

através de oferta de ensino e formação

pós-secundária de natureza técnica e

profissionalizante.

O edifício da ESAN está integrado

no Parque do Cercal - Campus

para a Inovação, Competitividade e

Empreendedorismo Qualificado, um

projeto da Câmara Municipal de Oliveira

de Azeméis que, além da componente

de ensino, envolve valências como

investigação e desenvolvimento

tecnológico, apoio à incubação

de novas empresas, estímulo ao

empreendedorismo, promoção do

emprego qualificado e apoio ao tecido

económico local e regional.

Page 54: Linhas 20

linhas dez 2013

Atento à sua função de preservar e divulgar o património da

UA, o Núcleo de Museologia da Universidade promove, através

desta pequena mostra, o conhecimento de uma parte das

coleções museológicas da Universidade, abarcando as áreas

de cerâmica, gravura, música e vidro.

Distribuídas por quatro espaços do Campus Universitário (Sala

de Exposições Hélène de Beauvoir da Biblioteca, Galeria de

Exposições da Livraria, Átrio da Reitoria e Espaço Museológico

da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro), alguns dos artefactos

incorporam o conjunto de mais de 10 mil objetos museológicos

doados à UA, particularmente nestes dez últimos anos. São

peças, raras algumas, a maioria das quais nunca antes exposta

publicamente. Grande parte delas data dos séculos XIX e XX,

mas é possível encontrar, igualmente, exemplares que recuam

ao século XV e, mais curioso ainda, a períodos pré-históricos e

geograficamente ligados ao campus da UA e que, pela primeira

vez, se trazem a público.

Com inauguração agendada para o dia do 40º Aniversário

da UA, a exposição “O Museu da UA … uma coleção em

crescimento” reúne trabalhos inéditos Almada Negreiros,

Cruzeiro Seixas, Manuel Cargaleiro e Julião Sarmento, entre

muitos outros artistas consagrados, que construíram a

história das artes em Portugal, nos últimos séculos. No acervo

selecionado cabem obras obtidas por via de aquisições e de

doações de artistas e colecionadores.

Para conhecer estes “tesouros” basta passar pelos espaços

identificados, de segunda a sábado, das 9h00 às 18h00, até 31

de janeiro de 2014.

Cerâmicas, gravuras, vidros, discos e instrumentos musicais

formam uma coleção em crescimento

Tesouros desconhecidos do Museu

da UA mostram-se ao públicoSão quatro décadas de história, mas também de dinâmica e de sensibilidade cultural que se espraiam em quatro

espaços da Universidade de Aveiro. Os tesouros escondidos no Museu da UA assumem a forma de cerâmicas,

gravuras, vidros, discos e instrumentos musicais e revelam-se ao público, a partir de 16 de dezembro, formando

uma “coleção em crescimento”. Fazê-la expandir-se é, também, difundir o património desta instituição que, desde

há 40 anos, faz da riqueza do passado a matéria-prima para a construção do futuro.

Page 55: Linhas 20

55 cultural

A coleção de cerâmica

contemporânea

Foi constituída a partir da doação de

Francisco Madeira Luís, o colecionador

que entregou à UA grande parte das suas

coleções. É composta por cerca de três

mil objetos e comporta, essencialmente,

cerâmica de equipamento: loiças para

refeições, armazenamento de alimentos,

higiene e peças decorativas. Existem

também alguns objetos de cerâmica de

revestimento e moldes.

As peças foram fabricadas entre os

séculos XIX e XX, tendo sido recolhidas

pelo doador na década de 70. São, na

sua maioria, portuguesas e provenientes

de várias unidades industriais do país,

sendo que, grande parte destas já não

se encontra em funcionamento. Marcam

uma época de forte tradição de fabrico

cerâmico influenciado por técnicas,

estilos e motivos estrangeiros.

Serão expostos exemplares de diversas

fábricas já extintas, com destaque para

a Fábrica de Loiça de Sacavém, com

grande representatividade na coleção, a

Fábrica Lusitânia (unidade de Coimbra),

a Fábrica do Desterro (Lisboa), a

Fábrica de Massarelos (Porto), a de São

Roque (Aveiro) e a Fábrica de Louça de

Alcântara, que estão representadas com

louças para refeições, bebidas, peças de

higiene e decorativas.

A mostra vai integrar, ainda, peças de

outras unidades industriais em atividade,

como é o caso da Fábrica da Vista

Alegre (Ílhavo), de grande valor histórico

nacional e internacional, e a Fábrica Aleluia

(Aveiro), reconhecida essencialmente pela

azulejaria tradicional e outros revestimentos

cerâmicos. Mas haverá, também, um

conjunto de peças sem marcação que se

destacam pelo seu curioso aspeto utilitário

e histórico, como é o caso da bacia de

barba e da faiança ratinha.

A coleção de gravuras

Até 1956, não havia em Portugal

quem produzisse gravuras, nem quem

ensinasse o seu ofício. A Gravura -

Sociedade Cooperativa de Gravadores

Portugueses (SCGP) é fundada em

Lisboa, nesse mesmo ano, tendo

como pano de fundo contributos de

artistas como, entre outros, Vieira da

Silva, Almada Negreiros e Júlio Pomar,

e os apoios da Fundação Calouste

Gulbenkian. O seu exercício tornou-se

numa das mais fecundas e determinantes

experiências artísticas da cultura plástica

portuguesa do século XX.

Com mais de 1400 associados - entre os

quais o colecionador e sócio fundador

Francisco Madeira Luís - a SCGP

contribuiu para lecionar cursos práticos

de gravura onde se abordaram técnicas

novas como a xilogravura, a linogravura,

a litogravura, ou a talhe-doce. Exposições

em Paris, Madrid, Rio de Janeiro,

Nápoles, Buenos Aires, Tóquio, Barcelona

decorreram, então, com a participação

de obras produzidas pelos gravadores

da SCGP. Entre 1956 e 2004, ano

marcado pelo encerramento da SCGP,

foram criados cerca de 640 exemplares

únicos, que marcaram a produção de

arte moderna em Portugal. Desse raro

conjunto, 257 integram agora o acervo

da UA, graças à doação que Francisco

Madeira Luís fez, em 2012, à academia.

Almada Negreiros, João Abel Manta,

Maria Gabriel, Júlio Pomar, José de

Guimarães, Cruzeiro Seixas ou Emília

Nadal são alguns dos nomes sonantes,

de um período neorrealista e modernista

de produção artística, associados às

obras que se expõem.

A coleção de vidros

Doada à UA em 2001, a “coleção de vidros

Madeira Luís” é constituída por mais de

três mil exemplares de vidro vulgar, de

fabrico português e, na sua maior parte, de

natureza utilitária. A coleção contém ainda

algumas peças de luxo. O âmbito temporal

abrange a segunda metade do séc. XIX e

a primeira do séc. XX havendo, no entanto,

alguns objetos dos finais do séc. XVIII e

princípios do século seguinte, assim como

outros posteriores a 1950.

Trata-se de uma mostra de vidros de uso

quotidiano, a maior parte fabricada em

Portugal, embora haja algumas peças

reconhecidamente estrangeiras.

Na coleção encontram-se objetos tão

variados como garrafas de bebidas,

garrafas e frascos de comércio

farmacêutico, perfumes e cosméticos,

frascos e boiões de alimentos conservados

e temperos, salvas de pé, galheteiros ou

até bebedouros para pássaros que, já no

séc. XVIII, saíram da Real Fábrica de Vidros

da Marinha Grande.

Existem também exemplares associados

a hábitos sociais relativamente recentes,

como é o caso do consumo de ginjinha,

popularizada nos meados do séc. XIX,

ou a ingestão de porções calculadas,

mediante o uso de copos graduados,

em estâncias termais.

cultural55

Page 56: Linhas 20

linhas dez 2013

Esta coleção é formada por peças

obtidas pelo método de sopragem

livre, sopragem em moldes e peças

prensadas.

A coleção de Discos Goma-laca

José Moças

Esta vasta coleção de discos Goma-laca

78rpm de música portuguesa foi doada

pelo colecionador José Moças, proprietário

da editora Tradisom. É constituída por

cerca de seis mil discos, na sua maioria

gravações de fado. Predominam também,

entre outros registos, temas de música

tradicional portuguesa, música para

teatro de revista, monólogos, gravações

referentes à implantação da República em

Portugal ou ópera.

Os discos mais antigos desta

coleção datam de 1900. São quatro

discos gravados no Porto, quando

os funcionários de Émile Berliner

promoviam o Gramofone na Europa.

Apesar dos exemplares a expor terem

sido todos gravados em Portugal,

nomeadamente no Porto e em Lisboa,

outros há, que foram gravados em

cidades como Londres, Paris, Berlim,

Rio de Janeiro ou Nova Iorque.

Temas como o Fado Hylario ou Oh Júlia,

ambos de 1900, ou gravações retiradas,

por exemplo da revista Ahi… Pá, fazem

parte da nossa história. Estes registos

são fruto e imagem sonora duma época,

o findar do século XIX e a entrada no

século XX, um período de revoluções

tecnológicas, ideológicas e politicas.

Um outro exemplo que estará patente

nesta mostra é a gravação Comício

Republicano n’aldeia, de 1908, onde é

notória a agitação popular desses tempos.

A coleção de instrumentos musicais

Os sete instrumentos musicais incluídos

nesta exposição, construídos em madeiras

nobres, testemunham a mestria do seu

construtor, o “violeiro” Joaquim Domingos

Capela, ao longo de várias décadas.

Desta coleção pessoal, da qual fazem

parte 135 instrumentos, o artesão

doou mais de duas dezenas à Coleção

Museológica da UA. Outros artefactos

foram igualmente doados, quer a museus

internacionais quer a museus nacionais,

tais como o Royal Academy of Music

de Londres, o Stradivari Museum, em

Cremona, e o Museu da Música, em

Lisboa, entre outros. Destaca-se a oferta

pessoal a Amália Rodrigues, em 1986, de

uma guitarra portuguesa.

Nesta mostra pode ser apreciada uma

cópia do violino gravado “Greffuhle” de

1709; uma viola do período romântico,

de 1820, original de Grobert; e uma viola

de amor, inspirada na do violeiro Johann

Ulrich Eberle, de 1739. Além destes, a

mostra integra ainda uma bandola, um

bandolim napolitano (modelo português),

um alaúde e, curiosamente, o primeiro

violino (tamanho ¼), que Joaquim

Domingos Capela construiu com apenas

nove anos de idade, uma pequena

relíquia que juntou aos instrumentos

que doou à UA.

Page 57: Linhas 20

57 cultural

ACONTECEU NA UA

Eventos passados de destaque

FESTIVAIS DE OUTONO 2013:

DO ERUDITO AO JAZZ SEM

ESQUECER AS CRIANÇAS

A diversidade e a qualidade reforçou-se na

edição de 2013 dos Festivais de Outono

(FO), de 18 de outubro a 22 de novembro,

iniciativa anual da Universidade de Aveiro.

Procurando servir a região e o país com

uma oferta musical e cultural para gostos

distintos, da edição deste ano dos FO

constaram a música clássica, o jazz,

espetáculos que cruzam música e teatro

e criações especialmente dirigidas às

crianças, eventos em formato de concerto

sinfónico, de recital (música de câmara ou

a solo) e outros pensados para músicos

e investigadores, como conferências e

masterclasses. Estas foram orientadas

por referências dos panoramas musicais

nacional e internacional.

O programa para 2013 reforçou a

“intenção das edições mais recentes de

providenciar espaço de palco para artistas

portugueses de alto valor”, caraterizou

António Chagas Rosa, professor do

Departamento de Comunicação e Arte

(DeCA) e programador dos Festivais.

MINISTROS DE PORTUGAL E

BRASIL NA UA PARA IMPULSIONAR

AQUACULTURA E PARCERIAS DO MAR

As novas oportunidades para investir

na aquacultura e o longo caminho

que há para percorrer nesta área

dominaram o seminário “Aquacultura

e Pescas, Oportunidades de Negócio,

Portugal-Brasil”, dia 25 de novembro,

com a presença de governantes,

nomeadamente os dois ministros

de Portugal e Brasil que tutelam o

setor, para além de entidades oficiais,

investigadores e empresários. A ministra

Assunção Cristas, recordou à assistência

brasileira a porta de entrada, que

Portugal pode vir a constituir, para um

mercado de 500 milhões de habitantes.

A governante referiu as novas

condições existentes para apoio ao

investimento, nomeadamente a recém

reprogramação do PROMAR para

projetos de aquacultura, às quais

não será estranha a entrada de 13

projetos com investimento previsto

de 18 milhões de euros, entre 24 de

agosto e 30 de setembro, no Algarve.

Por outro lado, está em discussão, na

Assembleia da República, a proposta

de Lei de Bases do Ordenamento

Marítimo que, se aprovada, enquadrará

a concessão de zonas para aquacultura

com licenciamento preparado e

UA CRIA GRUPO DE TRABALHO PARA

AJUDAR NA GESTÃO DA RIA DE AVEIRO

Chama-se Grupo uariadeaveiro e

pretende mobilizar o conhecimento

produzido sobre a Ria de Aveiro na

Universidade para facilitar o diálogo com

os parceiros da região e ajudar na gestão

deste grande conjunto de ecossistemas

que se estende por cerca de 45

quilómetros paralelamente ao mar.

Teresa Fidélis, professora do

Departamento de Ambiente e

Ordenamento e coordenadora, espera

que o Grupo, com a evolução do

trabalho, possa vir a contribuir para a

gestão da Ria e a disponibilizar um site

com “o mais importante acervo sobre a

Ria de Aveiro no país”.

O Grupo uariadeaveiro está a promover,

em conjunto com o Cine Clube de Avanca

e o Teatro Aveirense, um ciclo de cinema

com sessões acompanhadas de debate

e obras todas elas filmadas na Ria, de

autores portugueses. O Grupo promove

ainda o ciclo de conversas “Quintas da

Ria”, em colaboração com a Fábrica

Centro Ciência Viva de Aveiro, como

o objetivo de incentivar a partilha de

conhecimentos sobre a Ria de Aveiro e,

em conjunto com a sociedade, contribuir

para a construção de valores e a proteção

e valorização.

57 aconteceu na ua

Page 58: Linhas 20

linhas dez 2013

questões ambientais incorporadas, ou

seja, oportunidades “chave na mão”.

Perspetivam-se, na sequência deste

encontro, parcerias que envolvem,

entre outras vertentes, tecnologia de

ponta usada por empresas da região

de Aveiro no setor da aquacultura e

pescas e também novos investimentos

para a região. No caso concreto da UA,

espera-se o reforço do trabalho em

rede, afirmou Amadeu Soares, diretor

do Departamento de Biologia da UA

e organizador, pela UA, do encontro,

e ainda o incremento da colaboração

já existente ao nível da formação,

investigação e ligação às empresas,

que incluem, por exemplo, a aplicação

de “know how” da UA no estudo do

cultivo de espécies brasileiras ainda não

usadas em aquacultura, de espécies

ornamentais e de iscos vivos.

aprendizagem, sempre em contacto com

a ciência que por cá se faz. No total,

contaram-se cerca de 90 atividades

e quase 400 sessões, abrangendo

inúmeras áreas do saber.

Pela primeira vez, o Departamento

de Economia, Gestão e Engenharia

Industrial propôs atividades:

“Economicando”, um jogo on line

sobre economia, e ainda uma reflexão

promovida pela equipa do projeto

GenTour sobre se “Poderá a igualdade

de género impulsionar a criação de

formas inovadoras de crescimento

económico no setor do turismo?”.

CICLO “HAVÍAMOS DE FALAR DISSO”

JUNTA CIENTISTAS, ARTISTAS

E PENSADORES PORTUGUESES

O Centro de Investigação em Materiais

Cerâmicos e Compósitos (Laboratório

Associado da Universidade de Aveiro)

e a Fábrica Centro Ciência Viva de

Aveiro recebe alguns dos mais notáveis

cientistas, artistas e pensadores

portugueses para conversas mensais

sobre diferentes áreas do saber, sob o

título “Havíamos de falar disso…”.

Dirigidas aos públicos jovem e

adulto, as conversas têm entrada

livre e integram o programa das

comemorações dos 40 anos da UA.

A moderação das conversas é feita

por Nuno Camarneiro, investigador no

CICECO e Prémio Leya 2012.

As conversas decorrem no Teatro

Aveirense, no inicio de cada mês.

Os temas em destaque , entre janeiro

e abril são: tempo, Deus, medo, sexo

e morte.

ISCA-UA ASSINALOU 42 ANOS

COM SEMANA REPLETA

DE ATIVIDADES

O programa de comemorações do 42º

aniversário e Dia do Instituto Superior de

Contabilidade e Administração (ISCA-UA)

arrancou a 19 de outubro, com a sessão

de homenagem ao falecido professor

Domingos Cravo e prolongou-se por

uma semana.

Realizou-se ainda, neste âmbito, a

2ª edição do Scientia, o seminário

de investigação que contou com a

apresentação de trabalhos de alguns

professores do ISCA-UA, assim como

com a especial participação de Marta

Guerreiro, do Instituto Politécnico de

Viana do Castelo. O dia seguinte esteve

reservado para as escolas secundárias.

Na quarta-feira as línguas tomaram

conta do Instituto. A 24 de outubro

teve lugar o momento de convívio

da AEISCAA, com o tradicional “porco

no espeto”. A festa teve início às 19h00,

no jardim do ISCA-UA. Sexta-feira,

25 de outubro, foi um dia de reflexão

partilhada entre professores, estudantes

e investigadores. Esteve patente,

paralelamente, na Biblioteca do

ISCA-UA, a exposição fotográfica

“Lost”, da autoria de João Batista.

linhas set 2013

SEMANA ABERTA DA CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DA UA PROPÕE QUASE

90 ATIVIDADES E 400 SESSÕES

A Semana Aberta da Ciência e

Tecnologia da Universidade de Aveiro

decorreu de 18 a 22 de novembro,

com atividades para todos os gostos.

Departamentos e escolas politécnicas

da UA abriram as portas a escolas e

famílias para momentos de diversão e

Page 59: Linhas 20

59 cultural

Page 60: Linhas 20

linhas dez 2013