LINGUAGENS E COMUNICAÇÃO - … para que a comunicação se processe efetivamente entre estes dois...

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LINGUAGENS

E COMUNICAÇÃO

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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IMES Instituto Mantenedor de Ensino Superior Metropolitano S/C Ltda.

William Oliveira Presidente

MATERIAL DIDÁTICO

Produção Acadêmica Produção Técnica Jacqueline Andrade | Autor Márcio Magno Ribeiro de Melo | Revisão de Texto

Equipe

Ana Carolina Paschoal, Andrei Bittencourt, Augusto Sansão, Aurélio Corujeira, Fernando Fonseca,

João Jacomel, João Paulo Neto, José Cupertino, Júlia Centurião, Lorena Porto Seróes, Luís Alberto Bacelar,

Paulo Vinicius Figueiredo, Roberto Ribeiro, Paulo Vinicius Figueiredo e Roberto Ribeiro.

Imagens Corbis/Image100/Imagemsource

© 2009 by IMES

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2009

Direitos exclusivos cedidos ao Instituto Mantenedor de Ensino Superior da Bahia S/C Ltda.

www.ftc.br

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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SUMÁRIO

TEMA 01 - O ATO COMUNICATIVO ....................................................................................................................... 5

1.1 Comunicação e o Processo de Comunicação................................................................................... 5 1.1.1 A língua e suas variedades.................................................................................................. 8

1.2 Comunicação: A arte do encontro................................................................................................... 10 1.2.1 Oratória .............................................................................................................................. 10 1.2.2 Linguagem Corporal e Verbal ............................................................................................ 12 1.2.3 Meios de Apoio .................................................................................................................. 13

1.3 Comunicação: É assim que se fala ................................................................................................. 19 1.3.1 Concordância Verbal.......................................................................................................... 19 1.3.2 Concordância do verbo com o sujeito composto ............................................................... 20 1.3.3 Casos Especiais de Concordância Verbal ......................................................................... 21

1.4 Concordância Nominal .................................................................................................................... 24 1.4.1 Adjetivo posposto aos substantivos ................................................................................... 24 1.4.2 Adjetivo anteposto aos substantivos.................................................................................. 25 1.4.3 Um só substantivo e mais de um adjetivo.......................................................................... 25 1.4.4 Outros casos de concordância nominal ............................................................................. 26

1.5 Ortoépia e Prosódia ........................................................................................................................ 27 1.5.1 Outros casos de concordância nominal ............................................................................. 29 1.5.2 Prosódia............................................................................................................................. 32

1.6 Vícios de Linguagem....................................................................................................................... 34

2 TEMA 02 – TEXTO E CONTEXTO.............................................................................................................. 39

2.1 O ato de ler: técnicas de interpretação de texto.............................................................................. 39 2.1.1 Vícios de Leitura ................................................................................................................ 41 2.1.2 A Construção do Pensamento por Meio de Palavras ........................................................ 42

2.2 Uso e abusos do Vocabulário ......................................................................................................... 47 2.2.1 Dúvidas do dia a dia........................................................................................................... 54 2.2.2 Conhecendo Expressões ................................................................................................... 67 2.2.3 PALAVRAS HOMÔNIMA E PARÔNIMAS ......................................................................... 69

2.3 Normatividade da Língua ............................................................................................................... 77 2.3.1 Regência Nominal e Verbal .............................................................................................. 79 2.3.2 Emprego do Pronome Relativo .......................................................................................... 87

2.4 Emprego dos Sinais de Pontuação................................................................................................. 93

3 TEMA 03 - O TEXTO EM CONSTRUÇÃO ................................................................................................ 104

3.1 09 – ESTUDO DA FRASE ............................................................................................................ 104

3.2 10 - ESTUDO DO PARÁGRAFO .................................................................................................. 119

3.3 11 – TIPOLOGIA TEXTUAL.......................................................................................................... 128

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3.4 12 - O TEXTO NO PAPEL ............................................................................................................ 140

4 TEMA 04 - O TEXTO EM CONSTRUÇÃO II ............................................................................................. 156

4.1 13 – O PRONOME NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO .................................................................... 156

4.2 14 – GÊNEROS TEXTUAIS.......................................................................................................... 164

4.3 16 – DE BEM COM A LÍGUA: DÚVIDAS DO DIA A DIA .............................................................. 184

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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TEMA 01 TEMA 01 TEMA 01 TEMA 01 ---- O ATO COMUNICATIVO O ATO COMUNICATIVO O ATO COMUNICATIVO O ATO COMUNICATIVO

1.1 COMUNICAÇÃO E O PROCCOMUNICAÇÃO E O PROCCOMUNICAÇÃO E O PROCCOMUNICAÇÃO E O PROCESSO DE CESSO DE CESSO DE CESSO DE COMUNICAÇÃOOMUNICAÇÃOOMUNICAÇÃOOMUNICAÇÃO

A palavra "comunicação" se origina do latim, communis, communicare, que significa "comum", "pôr em comum". Portanto, a essência da palavra está associada à ideia de convivência, de comu-nidade, de relação de grupo e de sociedade.

A necessidade de se comunicar é intrínseca ao homem, que vive em permanente interação com a realidade que o cerca e com os outros seres humanos, dividindo sua visão de mundo e tro-cando experiências por meio de um sistema organizado por sinais: a linguagem.

A Comunicação é entendida como a transmissão de estímulos e respostas provocados, através de um sistema completo ou parcialmente compartilhado. É todo o processo de transmissão e de troca de mensa-gens entre seres humanos.

Esquema do Processo de Comunicação

Para se estabelecer comunicação, tem de ocorrer um conjunto de elementos constituídos por: um emissor (destinador), que produz e emite uma determinada mensagem, dirigida a um receptor (destinatário). Mas para que a comunicação se processe efetivamente entre estes dois elementos, a mensagem deve ser realmente recebida e decodificada pelo receptor, por isso é necessário que am-bos estejam dentro do mesmo contexto (ambos devem conhecer os referentes situacionais), preci-sam utilizar um mesmo código (conjunto estruturado de signos) e estabelecerem um efetivo contato através de um canal de comunicação. Se qualquer um destes elementos ou fatores falhar, ocorre uma situação de ruído na comunicação, entendido como todo o fenômeno que perturba de alguma forma a transmissão da mensagem e a sua perfeita recepção ou decodificação por parte do receptor.

NÃO FOMOS APRESENTADOS

Algumas semanas antes do impeachment de Collor, 92, o vereador João Pedro (PC do B), subiu à tribuna da Câmara Municipal de Ma-naus para atacar o então presidente.

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Exaltado, João Pedro defendia a renúncia imediata de Collor ou sua cassação pelo Congresso Nacional. No meio do discurso, a vereadora Lurdes Lopes (PFL), pediu um aparte ao colega e foi logo dizendo:

João Pedro não perdoou o erro da parlamentar:

Sem perceber que o parlamentar se referia ao dicionário Aurélio, Lur-

des passou a berrar, muito contrariada, provocando gargalhadas:

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(Folha de S. Paulo, 11 jan. 2000.p.1-4)

Funções da linguagem e intenção comunicativa

Você sabia que todo ato comunicativo tem sempre uma determinada intencionalidade? Afi-nal de contas, todos nós, quando falamos (ou escrevemos), queremos ser ouvidos e atendidos, não é? Essa intencionalidade pode ser mais ou menos consciente. São essas diferentes intenções que temos em mente, quando falamos em funções da linguagem.

Função

informativa

(ou referencial)

O objetivo primeiro do ato de fala (a intenção do emissor) é transmitir informação sobre algum aspecto da realidade, exterior ou interior. É, de certo modo, a função primária da linguagem, aquela em que pensamos imediata-mente, quando falamos em comunicação. O ato comunicativo centra-se pre-dominantemente sobre o contexto. Utiliza frases de tipo declarativo.

Função

expressiva

(ou emotiva)

O ato de fala é utilizado para exprimir o estado de espírito, as emoções, as opiniões do emissor. Ao contrário do que acontece na função informativa (marcadamente objetiva), encontramos aqui uma clara subjetividade. A co-municação centra-se no emissor. Recorre a frases de tipo exclamativo.

Função

apelativa

A linguagem é utilizada para agir sobre o receptor, para tentar modi-ficar a sua atitude ou comportamento. Assume geralmente a forma de or-dens, pedidos ou conselhos. Centra-se no receptor e implica recurso das formas verbais do imperativo (ou conjuntivo com valor imperativo), ao vo-cativo e a frases de tipo imperativo.

Função

metalingüística

A linguagem é utilizada para precisar algum aspecto do código utili-zado, geralmente uma língua natural. Exemplo clássico de discursos no qual predomina a função metalingüística são as definições dos dicionários e as explicações gramaticais. A comunicação está centrada no código.

Função

fática

Neste caso, a linguagem é utilizada para testar o funcionamento do canal e manter o contacto entre o emissor e o receptor. Esta função é mais evidente nas conversas telefônicas e naturalmente preocupa-se, sobretudo com o canal.

Função

poética

A linguagem é utilizada fundamentalmente para produzir prazer es-tético. Os recursos lingüísticos são dispostos de forma a construir um objeto artístico, capaz de, pela sua configuração, gerar, quer no emissor, quer no receptor, uma sensação de prazer semelhante ao que se obtém com a música ou a pintura.

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1.1.11.1.11.1.11.1.1 A LÍNGUA E SUAS VARIA LÍNGUA E SUAS VARIA LÍNGUA E SUAS VARIA LÍNGUA E SUAS VARIEDADESEDADESEDADESEDADES

Uma língua não é falada de maneira igual pelos seus usuários. Não sendo uniforme, pode-mos observar muitas variações se compararmos, por exemplo, a expressão de gaúchos, pernambu-canos, cariocas, mineiros etc. Essas variações são principalmente de natureza fonética (o que cha-mamos de sotaque).

As variações linguísticas são decorrentes:

• Do falante: variedades relacionadas à região onde nasceu, ao meio social no qual é criado ou vive, à profissão que exerce, à faixa etária e ao momento histórico.

• Da situação: variedades que ocorrem em função do interlocutor, do tipo de mensagem e do momento ou contexto. Um advogado, por exemplo, faz diferentes usos de língua ao conversar com um colega de profissão, ao dirigir-se a um juiz no tribunal, ao redigir um bilhete para a secretária ou os argumentos de defesa de um réu. A esses tipos de variedades dá-se o nome de registros.

Registro é como chamamos a variante lingüística condicionada pelo grau de formalidade e-xistente na situação em que se dá o ato da fala, ou da finalidade, no ato da escrita. Veja quais são e o que caracteriza cada um.

A linguagem culta

ou variante padrão

Utilizada pelas classes intelectuais da sociedade. É a varian-te de maior prestígio e aquela ensinada nas escolas. Sua sintaxe é complexa, sem vocabulário mais amplo e há, nela, uma absoluta obediência à gramática e à língua dos escritores clássicos.

A linguagem

coloquial

Utilizada pelas pessoas que fazem uso de um nível menos formal e mais cotidiano. Relativamente à linguagem culta, apre-senta limitação vocabular, revelando-se incapaz para a comunica-ção do conhecimento filosófico, científico e artístico. Apresenta maior liberdade de expressão, sobretudo no que se refere à gra-mática normativa. É a linguagem utilizada pelos meios de comu-nicação de massa em geral nas suas formas oral e escrita.

A linguagem

popular

Utilizada por pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade. Este nível raramente aparece na forma escrita e caracteriza-se como um subpadrão linguístico. Na linguagem popular, o vocá-bulo é bem mais restrito, com muitas gírias, onomatopeias e for-mas incorretas gramaticalmente (Oropa, pobrema, nós vai, nóis fumo, tauba, estauta, lâmpia, vi ela...). Não há nenhuma preocu-pação com as regras gramaticais.

GÍRIA, JARGÃO E CALÃO

A gíria e o jargão são os códigos linguísticos próprios de um grupo sociocultural ou profis-sional com vocabulário especial, difícil de compreender ou incompreensível para os não-iniciados.

Um médico ao explicar um procedimento cirúrgico; um econo-mista ao explicar a desvalorização da moeda ou um advogado ao ex-plicar procedimentos e argumentações linguísticas empregam jargões

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próprios de sua profissão. Marginais do tráfico de drogas, surfistas, grupos de rap e policiais, por exemplo, empregam gírias que os identi-ficam e contribuem para a coesão do grupo. As fronteiras entre a gíria e o jargão não são, algumas vezes, bem delimitadas.

O calão (ou baixo calão) é uma realização linguística caracterizada pelo uso de termos baixos, grosseiros ou obscenos, que, dependendo do contexto, muitas vezes chocam pela falta de decoro e desvalorizam socialmente aqueles que o empregam.

Atualmente, graças aos meios de comunicação, assiste-se a um nivelamento de linguagem no registro coloquial.

As variantes linguísticas podem decorrer das circunstâncias que cercam o ato da fala. Você pode usar uma linguagem mais relaxada no bate-papo informal, mas ao falar com seu chefe ou com uma autoridade procurará cuidar mais da língua e aproximá-la do padrão culto da lingua-gem. O mesmo ocorrendo com suas mensagens escritas.

Exemplificando:

Culto

“A segunda ignorância que tira o merecimento ao amor, é não conhecer quem ama, a quem ama. Quantas coisas há no Mundo muito amadas, que, se as conhecera quem as ama, haviam de ser muito aborrecidas! Graças logo ao engano, e não ao amor. Serviu Jacó os primeiros sete anos a Labão, e ao cabo deles, em vez de lhe darem a Ra-quel, deram-lhe Lia. Ah enganado pastor e mais enganado amante! Se perguntarmos à imaginação de Jacó por quem servia, responderá que por Raquel. Mas se fizermos a mesma pergunta a Labão, que sabe o que é, e o que há de ser, dirá com toda certeza que serve por Lia. E assim foi. Servis por quem servis, não servis por quem cuidais.”

(Pe. Antônio Vieira, Sermão do Mandato)

Coloquial

“Amigo Pedro:

Me parece que já seguiram os livros que você me pediu. Queira confirmar, tá? Aqui tudo em ordem.

Com um abraço do Salústio.”

Popular

mãi:

não vou aumoçá em casa pruque meu amigo mim convidô prá aumoçá na churrasca-ria, beijo

(Thiago)

Gíria Trabalhava com penosa e foi em cana.

Jargão O materialismo dialético rejeita o empirismo idealista e considera que as premissas do empirismo materialista são justas no essencial.

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1.2 COMUNICAÇÃO: A ARTE COMUNICAÇÃO: A ARTE COMUNICAÇÃO: A ARTE COMUNICAÇÃO: A ARTE DO ENCONTRODO ENCONTRODO ENCONTRODO ENCONTRO

1.2.11.2.11.2.11.2.1 ORATÓRIAORATÓRIAORATÓRIAORATÓRIA

É um método de discurso. A arte de como falar em público. Corresponde a um conjunto de re-gras e técnicas que permite apurar as qualidades pessoais de quem se destina a falar em público.

Na Grécia Antiga e mesmo em Roma, a Oratória era estudada como componente da Retórica (ou seja, composição e apresentação de discursos) e era considerada uma importante habilidade na vida pública e privada. Aristóteles e Quintiliano estão entre os mais conhecidos autores sobre o tema na Antiguidade.

O treinamento persistente de técnicas de oratória pode fazer de qualquer pessoa um orador. Sim! Qualquer pessoa. Não me venha com a conversa de que é tímido e que dá uma senhora tre-medeira quando pensa em falar em público. Não se esqueça de que você não é o único. A maioria das pessoas tem medo de falar em público.

O medo de falar em público tem que ser compreendido. Dessa forma, você poderá atuar so-bre. Sei que é uma questão de timidez. Que você não gosta de ser o centro das atenções, que tem medo de errar, de dá um branco e esquecer todo assunto quando estiver falando lá na frente, que as pessoas poderão fazer uma pergunta a você, e você poderá não saber responder, que pode falar com erros de português e...blá...blá...blá; blá...blá...blá...blá! Sim. E daí? Quem nunca passou ou não passa por essa situação? Sabemos que não podemos nos esconder detrás dos nossos medos. Temos que encará-los. O fantasma da insegurança deverá ser vencido.

Só para ilustrar o que é esse estado que nos toma, leia a crônica de Luiz Fernando Veríssimo. Veja a crítica do autor.

Da Timidez - Luis Fernando Veríssimo23 Julho 2007 de A.E. Extraído de: Comédias da Vida Pública, L&PM Editores, pp. 324-325.

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notó-

rio. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no parado-xo psicanalítico, só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferi-oridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.

Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de

que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já o notoriamente tímido, a timidez que usa para disfar-çar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando “Não me olhem! Não me olhem!” só para chamar a atenção.

O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam pa-ra ele e para sua timidez espetacular. Se cochicharem, é sobre ele. Se rirem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo o mundo, mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.

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O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar, cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acu-sado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.

O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o

tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma plateia, o tími-do não pensa nos membros da plateia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para fecharem os olhos, ou taparem um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.

23/02/95

Agora, veja se você é realmente tímido. Acesse o AVA e clique no link

para fazer o teste:

“Você tem timidez?”

COMO FALAR EM PÚBLICO

- Preparação

Na fase em que prepara o discurso, tente responder, para si mesmo, a estas perguntas:

• Qual é o tema?

• Qual é a finalidade desta apresentação?

• A quem se destina?

• Que tempo dura a exposição?

• Com que recursos conto?

- Estrutura

O discurso deve estruturar-se em três partes: abertura, corpo e conclusão ou, dito de outro modo, início, desenvolvimento e fecho.

Abertura

- Diz sobre o que vai falar.

Corpo

- Desenvolve o teu discurso.

Conclusão

- Resume e conclui o assunto.

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1°. Abertura

Uma sequência possível a seguir nesta fase pode ser:

• Apresentação pessoal e/ou dos assistentes

• Chamada de atenção

• Comentar os pontos principais a tratar e os objetivos

• Explicar as regras do jogo e a metodologia a seguir.

Um bom começo é vital para qualquer apresentação. O objetivo a perseguir é que a audiência preste atenção, para isso estimula o seu interesse procurando iniciar a relação com o público.

2°. Corpo

• Durante o desenvolvimento da exposição é muito importante que a audiência perceba exatamen-te o que você quer comunicar. Para tal, o discurso deve ser simples de entender e ter uma ordem clara e precisa.

• Ordene os seus argumentos e apoie-se em dados ou exemplos que ajudem o auditório a compre-ender a mensagem da exposição.

3°. Conclusão

• A melhor forma de conseguir um bom discurso é terminá-lo bem. As pessoas tendem a recordar, principalmente, o princípio e o fim. O final tem de constituir o compêndio do que foi dito incluin-do, na maioria dos casos, os seguintes elementos:

• Um resumo, concentrado em uma ou duas frases, do conteúdo principal do discurso.

• Alguma proposta ou resolução que se deduza do corpo do discurso.

• Esclarecimento de dúvidas.

• Um pedido de apoio ao que se expôs ou umas quentes palavras de agradecimento.

1.2.21.2.21.2.21.2.2 LINGUAGEM CORPORAL ELINGUAGEM CORPORAL ELINGUAGEM CORPORAL ELINGUAGEM CORPORAL E VERBAL VERBAL VERBAL VERBAL

Lembre que: • O seu corpo expressa 70% da informação • Com os gestos transmites 50% • Com a voz 20% • Com as palavras só se expressam 10%

Por isso, que a forma de transmitir uma mensagem é tão importante como a própria mensa-gem.

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LINGUAGEM CORPORAL

Qual a posição mais conveniente durante o discurso? Sentado ou de pé?

Isso depende de cada pessoa e da forma como ela se sentir mais à vontade, mas deve se lem-brar que se permanecer de pé envolverá mais a audiência. Há pessoas a quem agrada mover-se perante o público, para cativá-lo ou para conseguir um determinado efeito.

O contacto visual com o público tem uma importância crucial no estabelecimento da relação com a audiência, por isso é importante manter o olhar dirigido para ela e não para o teto ou man-ter os olhos no chão.

A expressão facial deve ajustar-se ao assunto do qual se fala. Por exemplo, se pretende fazer o público rir, a expressão deve conter o sentido jocoso do que estamos a proferir.

Evita o excesso de gestos, se forem exagerados podem distrair o auditório.

Mas utiliza-os para enfatizar um ponto importante.

Em geral podemos dizer que a linguagem corporal:

• Utiliza os olhos para estabelecer contacto visual com a audiência, criando uma relação para mos-

trar o interesse que sente por ela.

• Procura manter-se de pé e senta-se o menos possível, para favorecer o contacto visual e envolver

mais a audiência.

• Utiliza as mãos e os movimentos para enfatizar um ponto importante ou para fazer a transição

de um ponto para outro.

• Sorri, desta forma transmite tranquilidade aos seus ouvintes.

LINGUAGEM VERBAL

O discurso direto costuma ser melhor que o indireto, e a voz ativa é mais adequada que a passiva.

Procure que as frases sejam curtas. Uma frase demasiadamente comprida pode dificultar a compreensão por parte do público e fazer com que o orador se perca em seu próprio discurso.

Convém evitar os juramentos e as palavras obscenas e, se não se está seguro do significado de uma palavra, deve-se evitá-la ou consultar um dicionário antes de usá-la. As frases feitas ou os slogans devem “brilhar pela ausência”.

A linguagem utilizada deve adequar-se ao público para quem o discurso é dirigido, ainda que o tema da exposição seja o mesmo para diferentes grupos.

Utilizar figuras de estilo gramaticais, tais como a analogia, a metáfora, a antítese ou a pará-frase, para dar cor à apresentação e captar a atenção da audiência.

1.2.31.2.31.2.31.2.3 MEIOS DE APOIOMEIOS DE APOIOMEIOS DE APOIOMEIOS DE APOIO

A utilização dos meios de apoio pode aumentar o impacto do que você diz e, também, ajuda a expressar conceitos difíceis. Auxiliam a memória, suscitam e mantêm o interesse.

O orador, ao ter diante de si o guia da intervenção, mantém uma ordem que elimina a possi-bilidade de, em um momento determinado, ficar impedido de continuar.

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Entre os diferentes meios disponíveis podemos destacar:

• Material impresso

• Quadro

• Quadro de Conferência (Porta folhas)

• Retroprojetor

• Vídeo

• Diapositivos

• Datashow.

COMO DOMINAR OS NERVOS?

A tensão nervosa é uma necessidade para qualquer pessoa que tenha que atuar em qualquer esfera. Isso explica o fato de que as atuações em público são melhores quando a pessoa se sentiu nervosa anteriormente; desde que esses sentimentos sejam devidamente canalizados e assim se convertam em aliados.

Algumas sugestões para converter a tensão em aliada:

• Prepare bem o tema, assim adquirirá maior confiança e isso lhe ajudará a dominar o estado de

ansiedade.

• Antes de começar, respire profundamente, retendo o ar nos seus pulmões durante quatro segun-

dos, três ou quatro vezes.

• Adote a posição em que se sinta mais cômodo: sentado ou de pé.

• Lembre que uma vez que você comece a falar, os nervos desaparecerão por si mesmos.

Mas, para por em prática tudo o que foi exposto, é necessário que você aceite todas as oportuni-

dades para falar em público.

O ato de comunicar pressupõe troca de informação. O emissor tem a obrigação de tornar a informação clara, coerente e completa; permitindo, assim que o receptor a receba corretamente. Para que o processo de comunicação se estabeleça com eficácia, vale a pena que você siga algumas sugestões.

1. Seja um bom ouvinte. Este é o primeiro ponto para quem quer ser um bom comunicador.

2. Não interrompa seu interlocutor (o receptor) quando ele estiver falando; deixe-o à vontade.

Lembre que você não está no papel do apresentador Fausto Silva – o Faustão dos domingos à tarde

da rede Globo.

3. Crie um clima de harmonia neste processo de comunicação; ou seja, crie envolvimento. Só há

envolvimento se, por meio do nosso entusiasmo e brilho nos olhos, transmitimos confiança e cre-

dibilidade.

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4. Mostre-se interessado no que o seu interlocutor está falando. Não se distraia durante a conversa.

5. Assegure-se de haver um entendimento mútuo do que foi tratado. Pergunte ao seu receptor se

ele está entendo. Se não quiser perguntar, analise as expressões fisionômicas dele. Afinal de contas

o corpo fala. Você sempre identificará uma sobrancelha arqueada aqui, um olhar meio que aperta-

do ali: sinas de alguém que não está compreendendo bem o que você está falando.

6. Tenha vocabulário e conteúdo. Não existe nada pior do que falar errado e sem conteúdo.

7. Administre medos e inibições. Entenda que todos nós temos medos, receio e temores. Quando

decidimos romper barreiras, aceitar que somos capazes, temos sempre um processo complexo pela

frente. Tracemos, então, um plano de ação para rever os nossos comportamentos atuais que vão

auxiliar nesse processo de mudança:

• Fortaleça sua auto-estima: parta da premissa de que você merece respeito e crédito do público. Assim, quanto maior a auto-aceitação, mais condições haverá de ser ativo perante as barreiras. A forma como o orador atua é produto da auto-estima.

• O que a pessoa pensa de si própria centraliza as chances de equilíbrio, ou não, perante as tensões. Falar em público significa expor-se a julgamentos: lembre que críticas são im-portantes, pois elas nos impulsionam a tomadas de decisões. Respeitar-se, valorizar-se pos-sibilita a fusão do "eu produtivo" e do "eu guerreiro" na busca da realização profissional.

• Tome a decisão de vencer as dificuldades típicas de quem se apresenta em público: você aceitou o convite, mas ainda enfrenta as barreiras erguidas por seus medos e insegu-ranças. Fique tranquilo, mesmo as pessoas que já fazem isso há muito tempo se sentem assim. Cada apresentação é sempre uma noite de estreia.

• Reconheça e identifique suas barreiras e bloqueios: por exemplo, “quando preciso a-presentar-me em público, sinto-me ameaçado, ansioso e inibido, mesmo sabendo que tenho condições para uma comunicação de qualidade”.

• Procure enfrentar seus sentimentos corajosamente: quem quer crescer precisa promover mudanças internas e externas que visem ampliar o círculo de atuação comunicativa e sair da zona de conforto, em busca de comunicações mais produtivas.

• Deixe a mente solta e registre todos os sentimentos que o ato de falar em público des-perta em você: dor, excitação, constrangimento, inibição, sentimento de inferioridade, ins-tabilidade emocional, desejo de fugir, vontade de transferir a responsabilidade.

• Quando receber um convite para falar em público, encare-o como um desafio: esqueça-se do medo e ouse. É a sua chance de crescer. Planeje, organize e treine. Só assim você vai melhorar a sua atuação como comunicador.

• Análise: como pretende se enxergar daqui a um ano? Que progressos quer fazer? Que empecilhos suprimir? Quanto tempo está disposto a investir, que estratégias pretende cri-ar? Que tipo de ajuda vai precisar? Essas informações servirão de base para você planejar, preparar e, por fim, avaliar a sua apresentação em público.

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• Crie objetivos tangíveis: diga, por exemplo, “quero superar meus pontos frágeis para me tornar um comunicador de sucesso. Só tenho a ganhar com isso, porque ocuparei espaços que até agora deixei vazios, por comodismo ou por medo. Chegou a hora de me fazer pre-sente, também por meio das comunicações integradoras. Pegarei meus medos e vou mini-mizá-los, graças à disposição que tenho para superar meus próprios limites! Serei mais ou-sado e assertivo em minhas ações”.

• Marque um dia para iniciar o plano e determine um tempo para concretizá-lo de forma efetiva.

• defina e planeje estratégias facilitadoras: por exemplo, ler em voz alta sobre assuntos variados, participar de cursos de liderança, de técnicas vocais e teatrais, de comunicação verbal e não verbal; decorar poesias; praticar a arte de ouvir e conversar socialmente; a-prender técnicas de planejamento e apresentação em público; consultar um fonoaudiólogo para uma análise vocal; abastecer-se de pensamentos positivos; buscar o feedback de suas comunicações mesmo que negativos; inspirar-se em pessoas que você admira como comu-nicadoras; olhar-se mais no espelho, observando a postura, os olhares, as expressões faciais.

• Crie um método para medir os resultados que evidenciem a conquista dos objetivos propostos: por exemplo, ter o prazer de superar a si mesmo, apresentando-se com confian-ça, naturalidade e entusiasmo e, por isso, receber novos convites: de administrar os medos racionalmente; de receber feedback externo positivo; de adotar gestos, atos e palavras mais harmoniosos; de alcançar uma interação visual mais efetiva.

• Faça uma avaliação de todo o processo: revise o plano de ação, verifique a necessidade de realizar mudanças ou correção de rotas; tenha persistência e determinação e não desista das metas e dos objetivos.

Não tenha medo, sucesso!

8. Faça uso do CHA. A ferramenta do comunicador. Não sabe o que é CHA? São as iniciais de Co-nhecimentos, Habilidades e Atitudes. Funciona como um roteiro para uma comunicação de quali-dade. Desenvolver e ampliar os aspectos do “CHA” é criar as condições necessárias para o sucesso de qualquer tipo de apresentação.

Conhecimentos O que você precisa saber para apresentar-se bem — o domínio cognitivo.

Habilidades O que você precisa treinar e desenvolver para tor-nar-se um comunicador eficaz — o domínio execu-tivo.

Atitudes O que você deve fazer para buscar os conhecimen-tos e aprimorar as habilidades comunicativas — o domínio da ação.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

17

9. Tente para os papéis que deverá desempenhar na função de comunicador.

Sim! O comunicador desempenha papéis. Quais? Ei-los:

• comunicador/planejador;

• comunicador/apresentador;

• comunicador/avaliador.

PAPÉIS CONHECIMENTOS

(SABER)

HABILIDADES

(SABER FAZER)

ATITUDES

(QUERER

FAZER)

Antes/

Planejamento

Comunicador/ Planejador

conhecimento da realidade; público-alvo;

conteúdo a ser exposto;

técnicas de apresentação recursos audiovisuais;

planejamento da apresentação.

aplicação dos conhecimentos;

autoanálise.

querer planejar

Durante/

Apresentação

Comunicador/ Apresentador

comunicação verbal e não-verbal; tipos característicos de participantes; técnicas de controle da emoção.

liderança; relacionamento com o grupo

querer se comunicar

Depois/

Avaliação

Comunicador/ Avaliador

avaliação: reação do grupo;

resultados.

percepção das reações do grupo

querer avaliar

10. Prepare um guia que favoreça a sua ação de comunicador. Deve representar um caminho lógi-

co, claro e objetivo. O esquema pode ser usado de duas maneiras: ou você o segura nas mãos ou

deixa-o sobre a mesa. Mas se lembre de que ele é um mero complemento e como tal deve ser utili-

zado. O guia não vai salvá-lo do que você não sabe. É apenas um reforço, por isso, consulte-o, mo-

deradamente, e não perca a interação visual com a plateia. Consulte as Dicas:

• Crie o esquema-guia somente depois de ter escrito todas as ideias que pretende desenvolver.

• Escolha os temas mais importantes e as ideias secundárias que serão abordadas.

• Cuidado para não detalhar demais. Só use o que for realmente relevante.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

18

• Use fichas, que são mais fáceis de manusear.

• Use fichas brancas de 23 x 15 cm.

• Use as fichas só de um lado.

• Evite escrever à mão. Cole o que você digitou sobre as fichas e enumere-as.

• Digite com letras grandes e destaque o que deve ser reforçado.

• Tenha uma cópia extra no bolso, para evitar esquecimentos do original (tenha também uma có-

pia de toda a apresentação em papel e outra em disquete).

• Não deixe que outra pessoa prepare essas fichas.

• Leia e ensaie várias vezes como apresentar o conteúdo das fichas, para verificar o seu grau de

segurança e fluência do texto.

• “Fotografe” o conteúdo para que durante a apresentação as frases escritas apareçam como lem-

branças visuais.

• Evite ler as anotações, principalmente na abertura e no fechamento da apresentação. É impres-

cindível manter contato visual com a plateia.

• Familiarize-se com o texto do esquema-guia e também com o manuseio das fichas. Isso também

deve sugerir profissionalismo.

• Não “polua” as fichas com muitas ideias em poucos espaços. É melhor usar mais fichas e distri-

buir o conteúdo entre elas. O comunicador deve bater o olho e reconhecer o assunto, sem ter de

procurar a ideia perdida.

• Na última ficha registre três frases-chaves que sintetizem tudo o que você deseja dizer. (Essas

frases podem ajudar se ocorrer um branco mental, como veremos as seguir.)

• O guia não deve funcionar como “cola”, mas como um mapa, para dar mais segurança, conforto

e tranquilidade nas várias etapas da viagem.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

19

• Treinando bastante diante do espelho ou de um grupo de amigos e filmando o ensaio, chegará o

momento em que esse esquema é memorizado e o ato de olhar as anotações e para a plateia, alter-

nadamente, será muito mais espontâneo.

1.3 COMUNICAÇÃO: É ASSIMCOMUNICAÇÃO: É ASSIMCOMUNICAÇÃO: É ASSIMCOMUNICAÇÃO: É ASSIM QUE SE FALA QUE SE FALA QUE SE FALA QUE SE FALA

Não é novidade para você que falar e escrever corretamente são vantagens competitivas. Prin-cipalmente, para alguns cargos e segmentos profissionais que exigem as habilidades de comunica-ção. Nesse sentido, o conhecimento da língua portuguesa se faz tão exigido quanto qualquer outro conhecimento técnico. Por quê? Porque, na comunicação verbal, você não pode cometer desvios da norma padrão da língua. Assim, muitos erros como: “Fazem dois anos que ele está fora do mercado de trabalho, ou “Houveram muitas situações que poderiam ser evitadas.”, devem ser evitados.

Neste conteúdo, veremos como fazer corretamente a concordância do verbo1 com o sujeito2 e do nome3 com seus determinantes4. Além disso, veremos a pronúncia correta das palavras.

1.3.11.3.11.3.11.3.1 CONCORDÂNCIA VERBALCONCORDÂNCIA VERBALCONCORDÂNCIA VERBALCONCORDÂNCIA VERBAL

Estudar a concordância verbal é, basicamente, estudar o sujeito, pois é com este que o verbo concorda. Se o sujeito estiver no singular, o verbo também estará; se o sujeito estiver no plural, o mesmo acontece com o verbo. Então, para saber se o verbo deve ficar no singular ou no plural, deve-se procurar o sujeito, e relacioná-lo ao verbo.

Por exemplo, na frase “No Brasil, a inflação voltou a subir nos últi-mos três meses”, temos como sujeito “a inflação”, porque, fazendo a per-gunta ao verbo: Quem “voltou a subir?”, temos: “a inflação”. Fácil, não é?

1 Verbo: é a palavra variável que exprime ação, estado, mudança de estado e fenômeno, situando-os no tempo. 2 Sujeito: é o termo da oração do qual falamos. 3 Nome (o substantivo): palavra variável que dá nome aos seres; às ações e estado e fenômenos. 4 Determinantes: termos da oração que se referem a um nome (substantivo) atribuindo-lhes características. São determi-nantes: o artigo, o numeral, pronome, adjetivo – locução adjetiva – oração adjetiva.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

20

Regra geral:

O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa.

Ex.: Bancários iniciam campanha salarial.

1.3.21.3.21.3.21.3.2 CONCORDÂNCIA DO VERBCONCORDÂNCIA DO VERBCONCORDÂNCIA DO VERBCONCORDÂNCIA DO VERBO COM O SUJEITO COMPO COM O SUJEITO COMPO COM O SUJEITO COMPO COM O SUJEITO COMPOSTOOSTOOSTOOSTO

- 1º Caso

Quando o sujeito composto vier anteposto ao verbo, o verbo irá para o plural.

Ex.: O milho e a soja subiram de preço.

1. Quando os núcleos do sujeito forem sinônimos, o verbo poderá ficar no singular ou no plural. Ex: Medo e terror nos acompanha (acompanham) sempre. 2. Quando os núcleos do sujeito vierem resumidos por tudo, nada, alguém ou ninguém, o verbo ficará no singular. Ex: Dinheiro, mulheres, bebida, nada o atraía. 3. Quando o sujeito for formado por núcleos dispostos em gradação (ascendente ou descenden-te) o verbo ficará no singular ou no plural. Ex: Uma briga, um vento, o maior furacão não os inquietava (inquietavam).

- 2º Caso

Quando o sujeito composto vier posposto ao verbo, o verbo irá para o plural ou concordará apenas com o núcleo do sujeito que estiver mais próximo.

Ex: Chegou o pai e a filha. Chegaram o pai e a filha.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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- 3º Caso

Quando o sujeito composto for formado por pessoas gramaticais diferentes, o verbo irá para o plural na pessoa que tiver prevalência. 1º, 2º, 3º. 2º, 3º.

Ex: Eu, tu e ele fizemos o exercício. Tu e ele fizeste / fizeram.

- 4º Caso

Quando os núcleos do sujeito vierem ligados pela conjunção "ou”, o verbo ficará no singular se houver ideia de exclusão. Se houver ideia de inclusão o verbo irá para o plural. Ex: Pedro ou Antônio será o presidente do clube. (Exclusão)

Laranja ou mamão fazem bem a saúde. (Inclusão)

1.3.31.3.31.3.31.3.3 CASOS ESPECIAIS DE CCASOS ESPECIAIS DE CCASOS ESPECIAIS DE CCASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBALONCORDÂNCIA VERBALONCORDÂNCIA VERBALONCORDÂNCIA VERBAL

- 1º Caso

Com a expressão "um dos que" o verbo ficará no singular e no plural. O plural é construção

dominante.

Ex: Você é um dos que mais estudam (estuda).

- 2º Caso

Quando o sujeito for constituído das expressões "mais de", "menos de", "cerca de" o verbo

concordará com o numeral que segue as expressões.

Ex: Mais de uma pessoa protestou contra a lei.

Mais de vinte pessoas protestaram contra a decisão.

Com a expressão "mais de um"pode ocorrer o plural: - Quando o verbo dá ideia de ação recíproca (troca de ações). Ex: Mais de uma pessoa se abraçaram. - Quando a expressão "mais de um" vêm repetida. Ex: Mais de um amigo, mais de um parente estavam presentes.

- 3º Caso

Se o pronome interrogativo ou indefinido estiver no singular o verbo só concordará com ele. Se esses pronomes estiverem no plural o verbo concordará com ele ou com o pronome pessoal. Ex: Qual de nós?

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

22

Alguns de nós.

Qual de nós viajará?

Quais de nós viajarão (viajaremos)?

- 4º Caso

Quando o sujeito for um coletivo o verbo ficará no singular.

Ex: A multidão gritava desesperadamente.

- Quando o coletivo vier seguido de um adjunto no plural, o verbo ficará no singular ou poderá ir para o plural. Esta construção mais usada. Ex: A multidão de torcedores gritava (gritavam) desesperadamente.

- 5º Caso

Quando o sujeito de um verbo for pronome relativo "que", o verbo concordará com o ante-cedente deste pronome.

Ex: Sou eu que pago.

- 6º Caso

Quando o sujeito de um verbo for um pronome relativo "quem", o verbo ficará na 3º pessoa do singular concordando com o sujeito quem.

Ex: Sou eu quem paga.

- 7º Caso

Quando o sujeito for formado por nome próprio que só tem plural, não antecipado de artigo, o verbo ficará no singular; se o nome próprio vier antecedido por artigo o verbo irá para o plural. Ex: Minas Gerais possui grandes fazendas.

Os Estados Unidos são uma nação poderosa.

- 8º Caso

Os verbos impessoais ficam sempre na 3º pessoa do singular.

Ex: Faz 5 anos...

Havia crianças na fila.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

23

- Também fica na 3º pessoa de singular o verbo auxiliar que se põe junto a um verbo impessoal formando uma locução verbal. Ex: Deve haver crianças na fila. - O verbo existir não é impessoal. Ex: Existiam crianças na fila. Devem existir crianças na fila. (O verbo auxiliar de um verbo pessoal concordará com o sujeito).

- 9º Caso

Com os verbos "dar", "bater", "soar" se aparecer o sujeito"relógio"a concordância se fará com ele; se não aparecer com o sujeito "relógio" a concordância se fará com o número de horas. Ex: O relógio deu cinco horas.

Deram cinco horas no relógio da matriz.

... relógio da matriz: Adjunto adverbial de lugar.

- 10º Caso

Quando o sujeito for formado por um pronome de tratamento o verbo irá sempre para 3º pessoa.

Ex: Vossa Excelência leu meus relatórios?

- 11º Caso

Quando "se" funcionar como partícula apassivadora o verbo concordará normalmente com o sujeito da oração.

Ex: Pintou-se o carro.

Alugam-se casas.

- 12º Caso

Quando o "se" funcionar como Índice de Indeterminação do Sujeito o verbo ficará sempre na 3º pessoa do singular.

Ex: Precisa-se de secretária.

Vive-se bem aqui.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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- 13º Caso

O verbo parecer, seguido de infinitivo admite duas construções:

- Flexiona-se o verbo parecer e não se flexiona o infinitivo.

- Flexiona-se o infinitivo e não flexiona-se o verbo parecer.

Ex: Os prédios parecem cair.

Os prédios parece caírem.

1.4 CONCORDÂNCIA NOMINALCONCORDÂNCIA NOMINALCONCORDÂNCIA NOMINALCONCORDÂNCIA NOMINAL

Na concordância nominal, os determinantes do substantivo (adjeti-

vos, numerais, pronomes adjetivos e artigos) alteram sua terminação (gê-

nero e número) para se adequarem a ele, ou ao pronome substantivo ou

numeral substantivo, a que se referem na frase.

O problema da concordância nominal ocorre quando o adjetivo se

relaciona a mais de um substantivo, e surgem palavras ou expressões que

deixam em dúvida.

Regra geral:

O adjetivo e as palavras adjetivas (artigo, numeral e pronome) concordam em gênero e número com o substantivo a que se refere.

Ex: Revistas novas

1.4.11.4.11.4.11.4.1 ADJETIVO POSPOSTO AOADJETIVO POSPOSTO AOADJETIVO POSPOSTO AOADJETIVO POSPOSTO AOS SUBSTS SUBSTS SUBSTS SUBSTANTIVOSANTIVOSANTIVOSANTIVOS

- 1º Caso

Quando o adjetivo é posposto a vários substantivos do mesmo gênero, ele vai para o plural ou concorda com o substantivo mais próximo.

Ex: Tamarindo e limão azedos (azedo).

- 2º Caso

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

25

Se os substantivos forem de gêneros diferentes, o adjetivo pode ir para o plural masculino ou pode concordar com o substantivo mais próximo.

Ex: Tamarindo e laranja azedos (azeda).

- 3º Caso

Quando o adjetivo posposto funciona como predicativo, vai obrigatoria-mente para o plural.

Ex.: O tamarindo e a laranja são azedos.

1.4.21.4.21.4.21.4.2 ADJETIVO ANTEPOSTO AADJETIVO ANTEPOSTO AADJETIVO ANTEPOSTO AADJETIVO ANTEPOSTO AOS SUBSTANTIVOSOS SUBSTANTIVOSOS SUBSTANTIVOSOS SUBSTANTIVOS

- 1º Caso

Quando o adjetivo vem anteposto aos substantivos, concorda com o mais próximo.

Ex.: Ele era dotado de extraordinária coragem e talento.

- 2º Caso

Quando o adjetivo anteposto funciona como predicativo, pode concordar com o substantivo mais próximo ou pode ir para o plural.

Ex: Estavam desertos a casa e o barraco.

Estava deserta a casa e o barraco.

1.4.31.4.31.4.31.4.3 UM SÓ SUBSTANTIVO E UM SÓ SUBSTANTIVO E UM SÓ SUBSTANTIVO E UM SÓ SUBSTANTIVO E MAIS DE UM ADJETIVO MAIS DE UM ADJETIVO MAIS DE UM ADJETIVO MAIS DE UM ADJETIVO

- 1º Caso

Ex.: O produto conquistou o mercado europeu e o americano.

O substantivo fica no singular e repete-se o artigo.

- 2º Caso

Ex.: O produto conquistou os mercados europeu e americano.

O substantivo vai para o plural e não se repete o artigo.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

26

1.4.41.4.41.4.41.4.4 OUTROS CASOS DE CONCOUTROS CASOS DE CONCOUTROS CASOS DE CONCOUTROS CASOS DE CONCORDÂNCIA NOMINALORDÂNCIA NOMINALORDÂNCIA NOMINALORDÂNCIA NOMINAL

- 1º Caso

Bastante:

- Função adjetiva: variável refere-se ao substantivo.

- Função adverbial: invariável refere-se ao verbo, ao adjetivo e ao advérbio.

Ex.: Ele tem bastantes amigos (substantivo).

Eles trabalham (verbo) bastante.

Elas são bastante simpáticas (adjetivo).

Nessa regra, podemos incluir ainda as seguintes palavras: meio, muito, pouco, caro, barato, longe. Só variam se acompanhar o substantivo.

- 2º Caso

Palavras como: quite, obrigado, anexo, mesmo, próprio, leso e incluso são adjetivos. Devem, portanto, concordar com o nome a que se referem.

Ex.: Nós estamos quites com o serviço militar.

Ela mesma fez o café.

A expressão "em anexo" é invariável. Ex.: As cartas seguem em anexo.

- 3º Caso

Se nas expressões: "é proibido", "é bom", "é preciso" e "é necessário", o sujeito não vier ante-cedido por artigo, tanto o verbo de ligação quanto o predicativo ficam invariáveis.

Ex.: É proibido entrada.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

27

Se o sujeito dessas expressões vier determinado por artigo ou pronome, tanto o verbo de li-gação quanto o predicativo variam para concordar com o sujeito.

Ex.: É proibida a entrada.

- 4º Caso

As palavras alerta, menos e pseudo são invariáveis.

Ex.: Os vestibulandos estão alerta.

Nesta sala há menos carteiras.

- 5º Caso

Nas expressões "o mais ... possível" e "os mais ... possíveis" , o adjetivo "possível"concorda com o artigo que inicia a expressão.

Ex.: Carro o mais veloz possível.

Carros os mais velozes possíveis.

Carros o mais velozes possíveis.

1.5 ORTOÉPIA E PROSÓDIAORTOÉPIA E PROSÓDIAORTOÉPIA E PROSÓDIAORTOÉPIA E PROSÓDIA

É a parte da fonética que estuda a correta pronúncia dos fonemas. Também se pode dizer ortoépia. Ao pronunciar qualquer palavra, você deve observar, com muito cuidado, todas as letras e fonemas. Não omita nem acrescente fonemas a uma palavra.

Leia as palavras abaixo, observando a pronúncia.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Abóbada - e não abóboda Destilar - e não distilar

Aleijar - pronuncie o i Digladiar - e não degladiar

Advogado - o d é mudo Dignitário - e não dignatário

Absoluto - o b é mudo Disenteria - e não desinteria

Absurdo - o b é mudo Eu estouro - com o o fechado

Aterrissar - som de sssss Estupro - e não estrupo

Arrabalde - e não arrebalde Estuprar - e não estrupar

Aborígine - e não aborígene Empecilho - e não impecilho

Babadouro - lugar para babar Engajamento - e não enganjamento

Bebedouro - lugar para beber Eletricista - e não eletrecista

Bandeja - sem i Frustrar - e não fustrar

Beneficente - sem i Hilaridade - e não hilariedade

Beneficência - sem i Homogeneidade - e não homogeniedade

Bueiro - e não boeiro Inigualável - e não inegualável

Bicarbonato - e não bicabornato Intitular - e não entitular

Caderneta - e não cardeneta Irrequieto - e não irriquieto

Cabeçalho - com lh Jabuticaba - e não jaboticaba

Cabeleireiro - dois ii Lagarto - e não largato

Caranguejo - sem i Lagartixa - e não largatixa

Cataclismo - e não cataclisma Manteigueira - e não mantegueira

Chimpanzé - e não chipanzé Mendigo - e não mendingo

Cinquenta - e não cincoenta Meritíssimo - e não meretíssimo

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Cuspir - e não guspir Meteorologia - e não metereologia

Cuspe - e não guspe Mortadela - e não mortandela

Pexote - e não pixote Reivindicar - e não reinvindicar

Pirulito - e não pirolito Reincidência - e não reicindência

Pousa - com o o fechado Retrógrado - e não retrógado

Pneu - e não pineu ou peneu Eu roubo - com o o fechado

Prazeroso - sem i Salsicha - e não salchicha

Prazerosamente - sem i Superstição - e não supertição

Privilégio - e não previlégio Signatário - e não signitário

Problema - e não pobrema Surripiar - e não surrupiar

Próprio - e não própio Terraplenagem - e não terraplanagem

Propriedade - e não propiedade Trouxe com som de sssss

Prostração - e não prostação Prostrar - e não prostar

Recorde - sílaba tônica é cor

1.5.11.5.11.5.11.5.1 OUTROS CASOS DE CONCOUTROS CASOS DE CONCOUTROS CASOS DE CONCOUTROS CASOS DE CONCORDÂNCIA NOMINALORDÂNCIA NOMINALORDÂNCIA NOMINALORDÂNCIA NOMINAL

- O mendigo surrupiou a bandeja de caranguejo com mortadela que es-tava sobre o bebedouro do cabeleireiro.

- O irrequieto menino cuspiu as jabuticabas na manteigueira prazerosa-mente. Tomara que lhe dê disenteria.

- O aleijado estuprou a dignitária da entidade beneficente. Ela é a signa-tária do documento reivindicatório ao meritíssimo juiz do serviço de terraplenagem. - O hidravião aterrissou nos arrabaldes da cidade, transformando em empecilho o que seria um privilégio.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

30

Leia as palavras abaixo, observando a pronúncia.

aguentar exíguo quingentésimo

ambiguidade exiguidade quinqüênio

apaziguar unguento quiproquó

Argüição consequência tranquilo

Bilíngüe delinquir quinquagésimo

contiguidade equidistante

Não se pronuncia o U das seguintes palavras:

distinguir aqueduto

extinguir equitação

exangue extorquir

adquirir questão

É facultativo pronunciar o U das seguintes palavras:

acervo efebo almejo adrede

defeso ginete apedreja alameda

escaravelho interesse boceja espelha

amuleto eu fecho bofete tu fechas

vespa festejo caminhonete ele fecha

em que pese... cerebelo

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

31

O O das seguintes palavras deve ser pronunciado aberto:

canoro fornos

coldre forros

dolo suor

inodoro tocos

probo tropo

O O das seguintes palavras deve ser pronunciado fechado:

algoz alcova

bodas crosta

chope poça

desporto teor

filantropo torpe

Pronuncia-se o X como Z nas seguintes palavras:

exagero exasperar exaurir exógeno

exalar executar exegese exuberante

exame inexorável exilar exótico

exangue exeqüível exímio exumar

Pronuncia-se o X como S nas seguintes palavras:

auxílio máximo sintaxe trouxe

Pronuncia-se o X como KS nas seguintes palavras:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

32

anexo fluxo ortodoxo

axila índex prolixo

complexo léxico paradoxo

convexo nexo sexagenário

fixo ônix praxe

Pronuncia-se o X como KS ou S nas seguintes palavras:

apoplexia axioma defluxo

Muda-se o timbre da vogal tônica - de fechado para aberto - na plurali-

zação das seguintes palavras:

As palavras já serão colocadas no plural, portanto, a sílaba tônica delas deve ser pronunciada aberta – ó -.

apostos destroços jogos ovos reforços

caroços esforços miolos poços rogos

chocos fogos mornos porcos tijolos

Corcovos fornos mortos portos tortos

cornos fossos novos postos trocos

coros grosso olhos povos troços

despojo impostos ossos rebordos socorros

1.5.21.5.21.5.21.5.2 PROSÓDIAPROSÓDIAPROSÓDIAPROSÓDIA

Parte da fonética que estuda a correta emissão das palavras, quan-to à posição da sílaba tônica, segundo a norma culta da língua.

Pronuncie de forma tônica (forte) a última sílaba das seguintes palavras:

OXÍTONAS

cateter (tér) harém obus (bús) sutil (tíl)

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

33

condor (dôr) masseter (tér) recém ureter (tér)

Gibraltar (tár) mister(tér) refém hangar (gár)

Nobel (bél) ruim (ím)

Pronuncie de forma tônica (forte) a penúltima sílaba das seguintes palavras:

PAROXÍTONAS

acórdão (cór) bênção (bên) filatelia (lí-a) onagro (ná) fluido (úi)

âmbar (âm) cânon (câ) grácil (grá) ônix (ô) fortuito (úi)

ambrosia (sí-a) caracteres (té) ibero (bé) opimo (pí) gratuito (úi)

avaro (vá) cartomancia (cí-a) inaudito (dí) pudico (dí) circuito (úi)

aziago (zi-á) ciclope (cló) látex (lá) pegada (gá) intuito (úi)

algaravia (ví-a) cível (cí) libido (bí) quiromancia (cí-a) juniores (ô)

austero (té) decano (câ) luzidio (dí) recorde (cór) seniores (ô)

azimute (mú) efebo (fê) maquinaria (rí-a) rubrica (brí) barbárie (bá)

erudito (dí) maquinário (ná) clímax (clí) batavo (tá) estalido (li)

misantropo (trô) xérox (xé) boêmia (ê) filantropo (trô) néon (né)

têxtil (têx)

Pronuncie de forma tônica (forte) a antepenúltima sílaba das seguintes palavras:

PROPAROXÍTONAS

ádvena antífrase brâmane espécimen notívago

aerólito aríete bímano êxodo ômega

ágape amálgama bígamo epíteto protótipo

álacre aeródromo bólido fac-símile périplo

alcoólatra arquétipo catástrofe gárrulo revérbero

álibi ávido chávena alvíssaras azáfama

cérbero íngreme zênite âmago crisântemo ínterim

anátema bátega espécime lêvedo

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

34

PALAVRAS DE DUPLA PROSÓDIA: com dupla pronúncia

hieroglifo ou hieróglifo acrobata ou acróbata

ortoepia ou ortoépia Oceania ou Oceânia

projetil ou projétil soror ou sóror

reptil ou réptil zangão ou zangão

1.6 VÍCIOS DE LINGUAGEMVÍCIOS DE LINGUAGEMVÍCIOS DE LINGUAGEMVÍCIOS DE LINGUAGEM

São alterações defeituosas que a língua sofre em sua pronúncia e es-crita devido à ignorância do povo ou ao descaso de alguns escritores. São devido, em grande parte, à suposta ideia da afinidade de forma ou pen-samento.

Os vícios de linguagem são: barbarismo, anfibologia, cacofonia, eco, arcaísmo, vulgarismo, estrangeirismo, solecismo, obscuridade, hiato, coli-são, neologismo, preciosismo, pleonasmo.

BARBARISMO

É o vício de linguagem que consiste em usar uma palavra errada quanto à grafia, pronúncia, significação, flexão ou formação. Assim sendo, divide-se em: gráfico, orto-épico, prosódico, semântico, morfológico e mórfico.

• Gráficos: hontem, proesa, conssessiva, aza, por: ontem, proeza, concessiva e asa. • Ortoépicos: interesse, carramanchão, subcistir, por: interesse, caramanchão, subsistir. • Prosódicos: pegada, rúbrica, filântropo, por: pegada, rubrica, filantropo.

• Semânticos: Tráfico (por tráfego) indígena (como sinônimo de índio, em vez de au-tóctone).

• Morfológicos: cidadões, uma telefonema, proporam, reavi, deteu, por: cidadãos, um telefonema, propuseram, reouve, deteve.

• Mórficos: antidiluviano, filmeteca, monolinear, por: antediluviano, filmoteca, unlinear. OBS.: diversos autores consideram barbarismo palavras, expressões e construções estrangeiras, mas, nesta apostila, elas serão consideradas "estrangeirismos."

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

35

AMBIGUIDADE OU ANFIBOLOGIA

É o vício de linguagem que consiste em usar diversas palavras na frase de ma-neira a causar duplo sentido em sua interpretação.

Ex.: Não se convence, enfim, o pai, o filho, amado. O chefe discutiu com o empregado e estragou seu dia. (nos dois casos, não se sabe qual dos dois é autor, ou paciente).

CACOFONIA

Vício de linguagem caracterizado pelo encontro ou repetição de fonemas ou sí-labas que produzem efeito desagradável ao ouvido. Constituem cacofonias:

• A colisão.

Ex.: Meu Deus não seja já.

• O eco

Ex.: Vicente mente constantemente.

• o hiato

Ex.: Ela iria à aula hoje, se não chovesse

• O cacófato

Ex.: Tem uma mão machucada: aliteração - Ex.: Pede o Papa paz ao povo. O antônimo é a "eufonia".

ECO

Espécie de cacofonia que consiste na sequência de sons vocálicos, idênticos, ou na proximidade de palavras que têm a mesma terminação. Também se chama asso-nância. Ex.: É possível a aprovação da transação sem concisão e sem associação. Na poesia, a "rima" é uma forma normal de eco. São expressivas as repetições vocáli-cas a curto intervalo que visam à musicalidade ou à imitação de sons da natureza (harmonia imitativa); "Tíbios flautins finíssimos gritavam" (Bilac).

ARCAÍSMO

Palavras, expressões, construções ou maneira de dizer que deixaram de ser usa-das ou passaram a ter emprego diverso.

Na língua viva contemporânea: asinha (por depressa), assi (por assim) entonces (por então), vosmecê (por você), geolho (por joelho), arreio (o qual perdeu a significação antiga de enfeite), catar (perdeu a significação antiga de olhar), faria-te um favor (não se coloca mais o pronome pessoal átono depois de forma verbal do futuro do indicati-vo) etc.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

36

VULGARISMO

É o uso lingüístico popular em contraposição às doutrinas da linguagem culta da mesma região.

O vulgarismo pode ser fonético, morfológico e sintático.

• Fonético:

A queda dos erres finais: anda, comê etc. A vocalização do "L" final nas sílabas.

Ex.: mel = meu , sal = saú etc.

A monotongação dos ditongos.

Ex.: estoura = estóra, roubar = robar.

A intercalação de uma vogal para desfazer um grupo consonantal.

Ex.: advogado = adevogado, rítmo = rítimo, psicologia = pissicologia.

• Morfológico e sintático:

Temos a simplificação das flexões nominais e verbais.

Ex.: Os aluno, dois quilo, os homê brigou.

Também o emprego dos pronomes pessoais do caso reto em lugar do oblíquo.

Ex.: vi ela, olha eu, ó gente etc.

ESTRANGEIRISMO

Todo e qualquer emprego de palavras, expressões e construções estrangeiras em nosso idioma recebe denominação de estrangeirismo. Classifica-se em: francesis-mo, italianismo, espanholismo, anglicismo (inglês), germanismo (alemão), eslavismo (russo, polaco etc.), arabismo, hebraísmo, grecismo, latinismo, tupinismo (tupi-guarani), americanismo (línguas da América) etc.

SOLECISMOS

São os erros que atentam contra as normas de concordância, de regência ou de colocação. Exemplos: • Solecimos de regência:

- Ontem assistimos o filme (por: Ontem assistimos ao filme).

- Cheguei no Brasil em 1923 (por: Cheguei ao Brasil em 1923).

- o Pedro visava o posto de chefe (correto: Pedro visava ao posto de chefe).

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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• Solecismo de concordância:

-- Haviam muitas pessoas na festa (correto: Havia muitas pessoas na festa)

- O pessoal já saíram? (correto: O pessoal já saiu?).

• Solecismo de colocação:

- Foi João quem avisou-me (correto: Foi João quem me avisou).

- Me empresta o lápis (Correto: Empresta-me o lápis).

OBSCURIDADE

Vício de linguagem que consiste em construir a frase de tal modo que o sentido se torne obscuro, embaraçado, ininteligível. Em um texto, as principais causas da obs-curidade são: o abuso do arcaísmo e o neologismo, o provincianismo, o estrangeiris-mo, a elipse, a sínquise (hipérbato vicioso), o parêntese extenso, o acúmulo de orações intercaladas (ou incidentes) as circunlocuções, a extensão exagerada da frase, as pala-vras rebuscadas, as construções intrincadas e a má pontuação.

Ex.: Foi evitada uma efusão de sangue inútil (Em vez de efusão inútil de sangue).

NEOLOGISMO

Palavra, expressão ou construção recentemente criada ou introduzida na língua. Costumam-se classificar os neologismos em:

• Extrínsecos que compreendem os estrangeirismos.

• Intrínsecos (ou vernáculos) que são formados com os recursos da própria língua.

Podem ser de origem culta ou popular.

Os neologismos de origem culta subdividem-se em:

• Científicos ou técnicos: aeromoça, penicilina, telespectador, taxímetro (redução: tá-xi), fonemática, televisão, comunista etc.

• Literários ou artísticos: olhicerúleo, sesquiorelhal, paredro (= pessoa importante, prócer), vesperal, festival, recital, concretismo, modernismo etc.

OBS.: os neologismos populares são constituídos pelos termos de gíria. "Manjar" (entender, saber do assunto), "a pampa", legal (excelente), Zico, biruta, transa, psi-codélico etc.

PRECIOSISMO

Expressão rebuscada. Usa-se com prejuízo da naturalidade do estilo. É o que o povo

chama de "falar difícil", "estar gastando".

Ex.: "O fulvo e voluptoso Rajá celeste derramará além os fugitivos esplendores da sua

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

38

magnificência astral e rendilhara d’alto e de leve as nuvens da delicadeza, arquitetu-

ral, decorativa, dos estilos manuelinos."

OBS.: O preciosismo também pode ser chamado de PROLIXIDADE.

PLEONASMO

Emprego inconsciente ou voluntário de palavras ou expressões involuntárias, desnecessárias, por já estar sua significação contida em outras da mesma frase. O pleonasmo, como vício de linguagem, contém uma repetição inútil e desnecessária dos elementos.

Exemplos:

- Voltou a estudar novamente.

- Ele reincidiu na mesma falta de novo.

- Primeiro subiu para cima, depois em seguida entrou nas nuvens.

- O navio naufragou e foi ao fundo. Neste caso, também se chama perissologia ou tau-tologia.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

39

2 TEMA 02 TEMA 02 TEMA 02 TEMA 02 –––– TEXTO E CONTEXTO TEXTO E CONTEXTO TEXTO E CONTEXTO TEXTO E CONTEXTO

2.1 O ATO DE LER: TÉCNICO ATO DE LER: TÉCNICO ATO DE LER: TÉCNICO ATO DE LER: TÉCNICAS DE INTERPRETAÇÃO AS DE INTERPRETAÇÃO AS DE INTERPRETAÇÃO AS DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTODE TEXTODE TEXTODE TEXTO

O entendimento de um texto, ainda o elemento básico da comunicação humana, implica aná-lise: a sua decomposição em partes. Só assim, o seu entendimento é possível.

O aprendizado da leitura - como ler um texto.

Como tirar maior aproveitamento da leitura de um texto? Para responder a essa pergunta, é importante saber que não existe fórmula mágica. Uma leitura proveitosa pressupõe, além do co-nhecimento linguístico, o conhecimento de mundo; aqui tido como o repertório de informações exteriores ao texto.

A título e ilustração, observe a questão seguinte, extraída de um vestibular da UNICAMP. Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento de mundo que o leitor tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que se lê:

"As vídeo-locadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais. (Folha Sudeste, 6/6/92)"

1. É o conhecimento linguístico que nos permite reconhecer a ambiguidade do texto em questão (pela posição em que se situa a expressão, sem a companhia ou autorização dos pais, permite a interpreta-ção de que com a companhia ou autorização dos pais os menores podem ir a rodeios ou motéis).

2. Mas o nosso conhecimento de mundo nos adverte de que essa interpretação é estranha e só pode ter sido produzida por engano do redator. É muito provável que ele tenha tido a intenção de dizer que os menores estão proibidos de ir a rodeios sem a companhia ou autorização dos pais e de fre-quentarem motéis.

3. Como se vê, a compreensão do texto depende também do conhecimento de mundo, o que nos leva à conclusão de que o aprendizado da leitura depende muito das aulas de Português, mas também de todas as outras disciplinas.

Questões básicas para avaliar se o texto foi bem compreendido ou não.

Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três questões básicas.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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1ª) Qual questão o texto está tratando? Ao tentar responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a distinguir as questões secundárias da principal. Isto é, aquela em torno da qual gira o texto inteiro.

Quando o leitor não sabe dizer do que o texto está tratando, ou sabe apenas de maneira ge-nérica e confusa, é sinal de que ele precisa ser lido com mais atenção ou de que o leitor não tem repertório suficiente para compreender o que está diante de seus olhos.

2ª) Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados pelo texto, apare-cem vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma leitura competente não terá di-ficuldade em identificá-la.

Não saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva.

3ª) Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião dada? Deve-se en-tender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que ele está falando a verdade.

Saber reconhecer os argumentos do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na verdade, entender um texto significa acompanhar com atenção o seu percurso argumentativo.

Vamos, agora, conhecer um pouco o perfil do bom leitor e do mau leitor.

Bom Leitor Mau Leitor

O bom leitor lê rapidamente e entende bem

o que lê. Tem habilidade e hábitos como:

O mau leitor lê vagarosamente e entende

mal o que lê. Tem hábitos como:

1) Lê com objetivo determinado.

Ex: aprender certo assunto, repassar deta-

lhes, responder a questões.

1) Lê sem finalidade.

Raramente sabe por que lê.

2) Lê unidades de pensamento.

Abarca, num realce, o sentido de um grupo

de palavras. Relata rapidamente as ideias

encontradas numa frase ou num parágrafo.

2) Lê palavra por palavra.

Pega o sentido da palavra isoladamente.

Esforça-se para poder entender a frase.

Frequentemente tem que reler as palavras.

3) Tem vários padrões de velocidade.

Ajusta a velocidade da leitura com o assun-

to que lê. Se lê uma novela é rápido. Se lê

um livro científico para guardar detalhes lê

mais devagar para entender bem.

3) Só tem um ritmo de leitura.

Seja qual for o assunto lê vagarosamente.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

41

4) Avalia o que lê.

Pergunta-se frequentemente: que sentido

tem isso para mim? Está o autor qualificado

para escrever sobre tal assunto? Está ele

apresentando apenas um ponto de vista do

problema? Qual a ideia principal deste tre-

cho? Quais seus fundamentos?

4) Acredita em tudo que lê.

Para ele tudo que é impresso é verdadeiro.

Raramente confronta o que lê com suas

próprias experiências ou com outras fontes.

Nunca julga criticamente o escritor ou seu

ponto de vista.

5) Possui bom vocabulário

Sabe o que muitas palavras significam. É

capaz de perceber o sentido das palavras

novas pelo contexto, sabe usar dicionários e

o faz frequentemente para esclarecer o sen-

tido de certos termos, no momento oportuno

5) Possui vocabulário limitado.

Sabe o sentido de poucas palavras. Nunca

relê uma frase para pegar o sentido de uma

palavra difícil ou nova. Raramente consulta

o dicionário. Quando o faz atrapalha-se em

achar a palavra. Tem dificuldade em en-

tender a definição das palavras e em esco-

lher o sentido exato.

6) Tem habilidades para conhecer o valor

do livro.

Sabe que a primeira coisa a fazer quando se

toma um livro é indagar de que se trata,

através do título, dos subtítulos encontra-

dos na página de rosto e não apenas na ca-

pa. Em seguida lê os títulos do autor. Edi-

ção do livro. Índice “Orelha do livro”. Pre-

fácio. Bibliografia citada. Só depois é que se

vê em condições de decidir pela conveniên-

cia ou não da leitura. Sabe selecionar o que

lê. Sabe consultar o que lê.

6) Não possui nenhum critério técnico

para conhecer o valor do livro.

Nunca ou raramente lê a página de rosto do

livro, índice, o prefácio, a bibliografia etc.,

antes de iniciar a leitura. É comum até igno-

rar o autor, mesmo depois de terminada a

leitura. Jamais seria capaz de decidir entre

leitura e simples consulta. Não consegue

selecionar o que vai ler deixa-se sugestionar

pelo aspecto material do livro.

2.1.12.1.12.1.12.1.1 VÍCIOS DE LEITURAVÍCIOS DE LEITURAVÍCIOS DE LEITURAVÍCIOS DE LEITURA

Como é seu comportamento de leitor?

Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a cabeça? Ou, quem sabe, acompanhando com o dedo? Talvez vocalizando baixinho... Você não percebe, mas esses movimentos são alguns dos tantos que prejudicam a leitura. Esses movimentos são conhecidos como vícios de linguagem.

Movimentar a cabeça

Procure perceber se você não está movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimento, ao final de pouco tempo, gera muito cansaço além de não causar nenhum efeito positivo. Durante a leitura apenas movimentamos os olhos.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

42

Regressar no texto, durante a leitura

Pessoas que têm dificuldade de memorizar um assunto, que não compreendem algumas ex-pressões ou palavras tendem a voltar na sua leitura. Este movimento apenas incrementa a falta de memória, pois secciona a linha de raciocínio e raramente explica o desconhecido, o que normal-mente é elucidado no decorrer da leitura. Procure sempre manter uma sequência e não fique “indo e vindo” no livro. O assunto pode se tornar um bicho de sete cabeças!

Ler palavra por palavra

Para escrever usamos muitas palavras que apenas servem como adereços. Procure ler o con-junto e perceber o seu significado.

Sub-vocalização

É o ato de repetir mentalmente a palavra. Isto só será corrigido quando conseguirmos ultra-passar a marca de 250 palavras por minuto.

Usar apoios

Algumas pessoas têm o hábito de acompanhar a leitura com réguas, apontando ou utilizan-do um objeto que salta “linha a linha”. O movimento dos olhos é muito mais rápido quando é livre do que quando o fazemos guiado por

Links:

Acesse o AVA para clicar no link e saber mais sobre técnicas de leitura

2.1.22.1.22.1.22.1.2 A CONSTRUÇÃO DO PENSA CONSTRUÇÃO DO PENSA CONSTRUÇÃO DO PENSA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO POR MEIO DE PAMENTO POR MEIO DE PAMENTO POR MEIO DE PAMENTO POR MEIO DE PALAVRASALAVRASALAVRASALAVRAS

A Metodologia dos três olhares

Com essa metodologia, podemos exercitar os três momentos do pensar:

a) A apreensão - ver os elementos significativos de um texto.

b) A compreensão – dar sentido aos elementos levantados.

c) A conceituação, a síntese – incorporar esses elementos à nossa realidade.

É uma metodologia que usamos no nosso dia a dia sem dar a devida importância, quase intuitivamente.

Exemplificando, podemos compará-la às etapas que percorremos quan-do conhecemos alguém, ou seja:

a) Num primeiro encontro, observamos a pessoa em suas características ex-ternas, físicas, pessoais: altura, cor dos olhos, dos cabelos, sorriso etc.

b) No segundo encontro, já tecemos alguns comentários sobre a personalidade daquela pessoa. Passamos a conhecê-la melhor e ela já faz sentido para nós.

c) No terceiro encontro, se nos identificamos com ela, tem início um processo de conhecimento mais profundo. Surgem a intimide e o prazer de estar com essa pessoa. Há um cruzar de sentidos.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Assim também acontece em relação ao texto

Entender um texto criar laços com ele. Ler é passar a limpo as suspeitas levan-tadas num primeiro encontro. E isso pode ser feito por etapas. É aos poucos que vamos desvelando os mistérios que cada um guarda em si, como o texto.

É preciso ver as possibilidades, suspeitas. Depois, dar significado ao que foi visto e, final-mente, trazer o texto para a nossa realidade, nossa vida.

METODOLOGIA DOS TRÊS OLHARES

Metodologia Técnica

1º OLHAR

É o olhar do ENCONTRO com o texto. É VER o texto e fazer a COLHEITA de:

• Sinais significativos

• Sugestões

• Coisas diferentes

• Suspeitas

O QUE O TEXTO MOSTRA?

O autor se refere a quê?

O texto trabalha sobre o quê?

Que suspeitas ele abre?

O que é o título?

2º) OLHAR

É o olhar da DEVASSA. É o ACO-LHIMENTO do que vi no texto. É aceitar e reconhecer sentido entre a vida vivida e a representada. É um JULGAR, um olhar analítico, observando a semântica do texto

COMO O AUTOR CONSTRÓI O TEXTO?

Como o autor apresenta suas ideias? Co-mo organiza o texto?

Há uma sequência lógica?

De que forma ele cria imagens e dá signifi-cado a elas?

3º OLHAR

É o olhar do MERGULHO no texto. É tempo de RECOLHIMENTO. É o AGIR. É a hora do prazer, do desejo, da intimi-dade com o texto.

COMO O LEITOR REALIZA O TEXTO?

Como o leitor interpreta aquilo que o au-tor construiu?

Que sentido o texto passa a ter para o lei-tor?

O que esse tem a ver com o leitor, com sua vida?

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

44

Veja como funciona. Leia o texto e acompanhe a análise. Mas, não se esqueça de que:

Para haver compreensão é preciso que os olhos projetem em nos-sa mente uma imagem que seja semelhante a uma imagem que já temos dentro de nós.

Texto 01

Vamos aplicar a metodologia dos três olhares na interpretação do texto.

Mas se lembre de que, em cada olhar, você deverá ter uma pos-tura diferente sobre o texto! Volte ao esquema para não confundir as etapas.

1º Olhar 2º Olhar 3º Olhar

- Vários modos de matar um ho-mem:

• Tiro,

• Fome,

• Espada,

• Palavra envenenada (ponto

- O homem pode mor-rer por motivos:

• Físicos,

• Psicológicos,

• Emocionais,

- A palavra pode

- O cuidado que devemos ter com as nossas pala-vras

- O poder da palavra:

vida e morte

- Como tenho usado a

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

45

escandaloso)

- Basta soltar a palavra envenenada.

matar

palavra?

Agora, passemos para um texto em prosa5.

Leia atentamente o texto “O (des) calassificados” e aplique a me-todologia dos três olhares.

5 Maneira usual de o homem exprimir-se através da linguagem falada ou escrita. Basicamente, é

qualquer expressão linguística escrita ou falada que não seja poesia.

Em prosa são escritos romances, peças de teatro, contos, artigos, relatos jornalísticos e ensaios. Quando

os homens falam entre si, normalmente fazem-no em prosa.

• Conversa informal.

• Fig. Lábia, bazófia, prosápia.

• — Adj. (Diz-se de um indivíduo pedante, contador de vantagens, cheio de si, enfatuado: sujeito prosa.)

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Texto 02

O (DES) CLASSIFICADO

(Gil Carlos Pereira)

Aquele anúncio deixado sobre o assento me perturbou muito. Eu sabia que haveria uma mudança. A situação era difícil. As coisas ultimamente estavam complicadas demais, princi-palmente após a morte de Jonas. Donana já sabia o que fazer para manter a casa. Vendeu várias jóias de família. Não deu. E agora mais essa.

Vendo sofá fofinho, excelente para deitar, sonhar etc. e tal, motivo: mudança para quartinho onde só cabe o fundamental.

Não esperava que isso fosse acontecer tão cedo. Há quanto tempo estava naquela casa. Já me considerava da família. De repente, tudo girou à minha volta. Tudo ficou de pernas para o ar.

No início éramos só nós três: Jonas, Donana e eu. Quantas vezes as roupas foram joga-das no tapete e entre nós aquela cumplicidade silenciosa do encontro. De corpos entrelaçados. Coração batendo junto. Só respiração. O corpo saciado. A alma leve. Quantas noites. Dias. Sem culpas. Medo...

Não demorou muito vieram as crianças: Joana e Douglas. Nova etapa. Eu era constan-temente amassado, pisado. Brinquedos espalhados por todo canto. “Não pise aí, menina. Olha essa mão suja de chocolate. Xixi?” E eu ali, acompanhando de perto todas as estripulias: topa-das, tampinhas engolidas, corte no dedo, primeiro dia de aula... Primeiro namorado. O beijo escondido. As noites sem fim. “Gente, onde anda Joana? Três horas. A hora não passa.” Os quinze anos. A festa. Luzes por todos os lados. A valsa. O falatório. A risadaria. Fim de noite. E eu dividi com eles o cansaço de tudo. A ressaca agridoce de quem mergulhou fundo na felici-dade.

A vida foi passando. As coisas foram passando. As pessoas.

O vestibular.

O noivado. Aborrecimento.

Casamento.

Separação.

As noites vazias: quantas lágrimas recolhi e continuam guardadas em mim. Silenciosa-mente. No aconchego das almofadas. Na maciez de meus braços. Sempre abertos. À espera.

Pudesse eu parava no tempo. Certamente enfrentaria outras tempestades. Romperia no-vos nevoeiros. Descortinaria outras cenas. Mas o tempo... O tempo é breve.

Jonas morreu. A vida ficou sem graça. Meu companheiro de todas as tardes se foi. O si-lêncio era doloroso, mas suportável. Donana foi perdendo o controle das coisas. Das pessoas. Da alegria. A casa parecia ninho sem filhotes. Mesmo assim, ali estava eu, quieto no meu lugar. Na (aparente) calma de que nasceu para servir.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Triiiim! Triiim! Alguém chamava.

- É aqui que estão vendendo um sofá?

Ponto escandaloso: um sofá contando sua história

1º Olhar 2º Olhar 3º Olhar

- o classificado: sofá

- trajetória do sofá:

• início da vida do casal

• nascimento da filha

• crescimento da filha

• primeiro namorado

• quinze anos

• vestibular

• casamento

• separação

• morte de Jonas

• venda do sofá

- alguém que vive uma vida inteira sendo teste-munha da existência de outros - cada fato vivido é um registro da experiência rea-lizada - a necessidade, muitas vezes, nos obriga a descon-siderar coisas e pessoas

- que consideração tenho por aqueles que me rodei-am? - qual o valor que tenho dado aos idosos?

- que atitude tomar diante das dificuldades?

- quantos já desclassifiquei por aí?

2.2 USO E ABUSOS DO VOCAUSO E ABUSOS DO VOCAUSO E ABUSOS DO VOCAUSO E ABUSOS DO VOCABULÁRIOBULÁRIOBULÁRIOBULÁRIO

Cuidado com o uso das palavras! Não confunda!

Na língua portuguesa, há palavras que apresentam semelhanças de natureza diversa: na es-crita (por exemplo, senão e se não) ou na pronúncia (concerto e conserto). Há também palavras que, apesar de bem diferentes na escrita e na pronúncia, apresentam semelhanças semânticas (de sentido) sutis, apenas perceptíveis em contextos mais amplos.

Se, por um lado, a troca de uma palavra por outra torna imperfeito o ato da comunicação, criando situações dúbias ou embaraçosas; por outro, quando se conhece o verdadeiro significado e o emprego mais adequando dessas palavras e expressões, a comunicação entre as pessoas torna-se mais clara e mais direta.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

48

Conhecer as sutilezas que envolvem o vocabulário da nossa língua é um dos meios para alcançar melhores resultados na comunicação cotidiana, profissional e pessoal.

Vamos ao entendimento:

Contrato e Trato

Contrato – É o acordo formal entre duas ou mais pessoas, que estabelecem cumprimento de obri-gações mútuas.

“ Nosso contrato com a com a Faculdade“

Trato – É o ajuste feito de boca, com a garantia da palavra dos que fazem.

Que garantia? A palavra?... Só se você gravar toda negociação no gravador, ou não terá nenhuma prova.

Conturbar e Perturbar

Conturbar – é pôr em desordem e confusão, ou seja, agitação (senso exterior).

Perturbar – é pôr em desordem e confusão (senso interior).

Contravenção e Desobediência

Contravenção – é a ação ou omissão contrária às disposições de uma lei, de um regulamento, de

uma obrigação.

Desobediência – consiste em recusar-se ou resistir ao que tem direito ou poder de mandar.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Descrição e Discrição

Descrição – pintar ou descrever todos os detalhes de um fato, de uma pessoa, de um fenômeno, de

uma coisa...

Discrição – é a qualidade de discreto.

Descriminar e Discriminar

Descriminar – inocentar , absolver.

Discriminar – é distinguir e também agregar.

Enjeitar e Rejeitar

Enjeitar – é recusar (com desprezo.)

Rejeitar – é repelir (o que é dado ou oferecido) é não aceitar, recusar.

Encalacrar e Endividar

Encalacrar – é endividar vultosamente, é deixar em sérias dificuldades financeiras.

Precisa de um exemplo melhor do que o citado?

Endividar – é contrair dívida.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Enxugar e secar

Enxugar – tirar a umidade externa e acidental.

Secar – é tornar seco.

* Secar roupa ao sol *

Convento e Mosteiro

Convento – é a casa de religiosos que vivem em comum, como irmãos, sujeitos as mesmas regras.

Convento da Lapa – aqui em Salvador.

Mosteiro – é a casa religiosa onde vivem monges ou monjas, sob a autoridade de abade ou abades-

sa.

Mosteiro de São Bento - lá no Pelourinho Centro Histórico de Salvador.

Enterramento com Enterro

Enterramento – é ação ou efeito de enterrar.

Coveiro – esta profissão tem como atividade o ato de enterrar mortos.

Enterro – é a ação de levar um morto para ser inumado, com cortejo que segue até o cemitério.

Habitação com Lar

Habitação – é o lugar onde se mora, é a casa, a morada.

Habitação até existe no Brasil. O que as pessoas não possuem é poder aquisitivo para adquiri-las,

só uma classe mais privilegiada.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

51

Lar – é a habitação encarada como lugar que a família goza de paz, harmonia, tranquilidade e con-

forto.

Um velho ditado popular

Lar doce lar.

Afear e Enfear

Afear – tornar feio.

Pessoas que na colocação de um simples acessório tornam-se irreconhecíveis

Há mulheres que, quando usam óculos... a maioria dos colegas estranha. .

Enfear – tornar feio com algum propósito ou má intenção.

Os atores, em um piscar de olhos e muita produção, tornam-se feios...

Afeito e Afoito

Afeito – é acostumado, habituado.

Afoito – é afobado, ansioso, precipitado.

Afilhado e Afiliado

Afilhado – relação de parentesco e proteção.

PT – Partido do Trabalhador

Afiliado – ajuntar-se, tornar-se sócio ou membro.

Os professores não são mais filiados ao PT.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Copo-de-leite com Copo de leite

Copo-de-leite – é açucena, de planta de muito conhecidas.

Tem um perfume de dar inveja!

Copo de leite – copo cheio de leite.

Leite – bom para calcificação dos ossos...

Epifania e Epifânia

Epifania – é a festa religiosa celebrada a 06 de Janeiro (dia dos reis), em comemoração à revelação

de Jesus com Cristo aos cristãos, nas pessoas dos reis magos de Belém.

Você sabia que pela tradição religiosa devemos desfazer as árvores de Natal neste dia?

Epifânia – nome próprio feminino.

Cortesia e Reverência

Cortesia – é o gesto em testemunho de respeito e agradecimento.

Reverência – é o sentimento de respeito acompanhado de veneração.

Sempre sentirei reverência por minha preciosa e amada mãe... a dona do meu coração!

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Coriza e Defluxo

Coriza – é a inflamação aguda da mucosa nasal, acompanhada de muita secreção de muco.

Popularmente:

RINITE ALÉRGICA

Atchin!

Defluxo – é o corrimento nasal copioso.

Vulgarmente chamado:

CATARRO

Desconcertado e Desconsertado

Desconcertado – é atrapalhado, sem ação.

Desconsertados – estragado, escangalhado.

Endemia e Epidemia

Endemia – é a doença que, frequentemente, em determinadas regiões, ataca os indivíduos. Tem

causa local.

Epidemia – é uma doença acidental e passageira, que, em certo lugar, acontece concomitantemente

com um grande número de pessoas.

Dengue – transmitida pelo mosquito...

Não deixe água parada.

Para saber mais sobre o assunto, consulte o livro do professor Luiz Antônio Sacconi “Não Con-

funda!”.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

54

2.2.12.2.12.2.12.2.1 DÚVIDAS DO DIADÚVIDAS DO DIADÚVIDAS DO DIADÚVIDAS DO DIA----AAAA----DIADIADIADIA

• A / HÁ

A / HÁ (em função do espaço de tempo)

A (preposição): "Ela voltará daqui a meia hora." (tempo futuro)

HÁ (verbo haver): "Ela saiu há dez minutos." (tempo decorrido)

• ABAIXO-ASSINADO / ABAIXO ASSINADO

O documento coletivo, de caráter reivindicatório, chama-se "abaixo-assinado" e deve ser es-crito com hífen. O plural é "abaixo-assinados".

Exemplo: Os empregados da empresa entregaram um abaixo-assinado reivindicando aumento de salário.

Escreve-se "abaixo assinado", sem hífen, quando se faz referência a cada uma das pessoas que assinam o documento.

Exemplo: João da Silva, abaixo assinado, reconhece que...

• ACATAR / ACOLHER

Acatar: obedecer;

Exemplo: Os empregados acataram a ordem do chefe.

Acolher: aceitar, receber.

Exemplo: O juiz não acolheu a nossa ação.

• AO AGUARDO DE ou NO AGUARDO DE?

Em verdade, as pessoas ficam "à espera", e não "na espera" de alguém ou de alguma coisa. Assim, o correto é dizer que "alguém está ao aguardo de..."

• A CERCA / ACERCA / HÁ CERCA

A CERCA: significa "a uma distância de".

Exemplo: Este restaurante fica a cerca de 20 km daqui.

ACERCA (locução prepositiva): igual a "sobre, a respeito de".

Exemplo: Ele falou na reunião acerca de informática.

Há CERCA DE: equivalente a "existe, ou faz aproximadamente".

Exemplos: Há cerca de cem candidatos para cada vaga neste concurso.

Não vejo aquele professor há cerca de dez anos.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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A expressão "cerca de" quando indicar uma quantidade aproximada deve ser sempre acompa-nhada de um número arredondado e nunca de um número preciso. Faz sentido dizer "Cerca de 300 (ou qualquer número redondo) pessoas estavam na conferência". Quando se sabe o número exato, dispensa-se o "cerca de": "Na conferência havia 321 pessoas."

• À CUSTA DE / AS CUSTAS DE

À CUSTA: no singular, significa "por meio de", "na dependência de".

Exemplos:

Ana já tem mais de trinta anos e ainda vive à custa do pai.

Antônio conseguiu sua fortuna à custa de muito trabalho.

AS CUSTAS: no plural, tem sentido jurídico específico, significando "despesas feitas com um pro-

cesso criminal ou cível".

Exemplo: Pedro foi obrigado a pagar as custas do processo de seu divórcio.

• ADIAMENTO

Adiam-se somente eventos. Datas são trocadas.

Exemplos:

A festa foi adiada para domingo (e não a data da festa);

A data da reunião passou de 15 para 18 de julho (e não a reunião).

Observação: Já PRAZOS podem ser ampliados ou encurtados, nunca adiados.

• ADJETIVOS PÁTRIOS E GENTÍLICOS

Muitos gramáticos chamam os adjetivos que nomeiam o local de nascimento das pessoas de

adjetivos pátrios ou gentílicos. No entanto, existe diferença de significado entre os termos:

Pátrio: refere-se a cidades, estados, países e continentes;

Gentílico: refere-se a raças e povos.

Exemplos:

Israelense = adjetivo pátrio, referente a Israel;

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Israelita = adjetivo gentílico, referente ao povo de Israel.

• UM AGRAVANTE ou UMA AGRAVANTE?

A palavra "agravante", como substantivo, é do gênero feminino.

Exemplo: O fato de João dirigir alcoolizado é uma agravante no caso de um acidente.

O mesmo acontece com a palavra "atenuante".

Exemplo: O advogado alegou a existência de algumas atenuantes, para justificar o pedido de redu-

cão de pena de seu cliente.

• AO ENCONTRO DE / DE ENCONTRO A

AO ENCONTRO DE: significa "a favor de, para junto de".

Exemplos:

Esta sua decisão veio ao encontro das minhas pretensões.

Ana foi toda feliz ao encontro do namorado.

DE ENCONTRO A: equivalente a "contra, ideia de choque, de oposição".

Exemplos:

Naquela questão, as ideias do PT vieram de encontro às do PSDB.

O carro foi de encontro ao poste.

No antológico "Samba da bênção", Vinícius dizia:

"A vida é a arte do encontro, embora haja muitos desencontros pela vida." Tinha razão o

poeta. Quando você quer uma coisa e ela acontece, ela vem ao encontro dos seus interesses, e não

de encontro. (P.C.N.)

• A FIM / AFIM

A FIM: igual a "finalidade".

Exemplo: Nem todos os eleitores estão a fim de votar para presidente este ano.

AFIM: equivalente a "semelhante".

Exemplo: Meu gosto não é afim ao seu em matéria de comida.

• AO INVÉS DE / EM VEZ DE

AO INVÉS DE: significa "ao contrário de".

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Exemplos:

Maura, ao invés de Alice, resolveu se dedicar à música. (opções de estudo contrárias)

Entrou à direita ao invés de entrar à esquerda. (Direita e esquerda se opõem)

EM VEZ DE: igual a "em lugar de".

Exemplos:

Em vez de Pedro, Paulo foi o orador da turma. (Um tomou o lugar do outro)

João foi à praia em vez de ir ao jogo. (Ir à praia e ir ao jogo não são coisas opostas, e sim lugares diferentes).

• ALEIJADO ou ALEJADO?

Deve-se dizer e escrever "aleijado".

• AMAZONA ou CAVALEIRA?

De fato as gramáticas costumam trazer "amazona", como feminino de "cavaleiro", mas é bom saber que os dicionários registram também a forma "cavaleira".

• À MEDIDA QUE / NA MEDIDA EM QUE

À MEDIDA QUE: significando "à proporção que".

Exemplo: Senhas eram distribuídas aos candidatos à medida que eles entravam nas filas de inscri-ção.

NA MEDIDA EM QUE: equivalente a "no momento, no instante em que".

Exemplo: Terás muito mais força e resistência na medida em que deixares de fumar e beber tanto.

• ANARQUIA/AUTARQUIA/OLIGARQUIA

ANARQUIA: ausência de governo;

AUTARQUIA: auto (= si mesmo) + arquia (= governo);

OLIGARQUIA: governo de poucos.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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• A NÍVEL DE ou EM NÍVEL DE?

Em verdade, a forma "a nível de" está incorreta. Deste modo, devemos usar a expressão "em nível de", mesmo assim somente quando houver "níveis".

Exemplos: Este problema só poderá ser resolvido em nível de diretoria (assessoria, secretaria...).

As decisões tomadas em nível federal (estadual, municipal) poderão ser definitivas.

Observação: quanto ao mar, é aceitável dizer "ao nível do mar" ou "no nível do mar".

• ANTÁRTICA ou ANTÁRTIDA?

Veja o que dizem alguns dicionários sobre o adjetivo Antártico:

1. "Oposto ao pólo ártico, o pólo meridional do mundo" (Caldas Aulete);

2. "Oposto ao pólo ártico, do pólo sul" (Aurélio);

3. "Do pólo sul, oposto ao pólo ártico, relativo à Antártida" (Luft).

Assim sendo, a região é Antártica, temos o Oceano Glacial Antártico e o Círculo Polar An-tártico. Tradicionalmente, o nome do continente é "Antártida", porém pelo seu emprego cons-tante, tanto na linguagem falada quanto na escrita, a forma "Antártica" já vem sendo aceita sem restrições.

• AONDE / ONDE / DE ONDE

AONDE: com verbos que indicam movimento, um destino, como o verbo ir.

Exemplos: Aonde você vai?

Aonde você quer chegar?

ONDE: com verbos que indicam permanência, como o verbo estar.

Exemplos:

Onde você está?

A casa onde moro é muito antiga.

DE ONDE ou DONDE: com verbos que indicam procedência.

Exemplos:

De onde você saiu?

Donde você surgiu?

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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• ESTOU A PAR ou AO PAR DO ASSUNTO?

Apesar de alguns registros de "a par de" e "ao par de" como equivalentes a "ao corrente de", a expressão mais recomendada e abonada é "a par de". O dicionário "Aurélio" diz que "ao par de" é "forma menos preferível"; o "Dicionário Prático de Regência Nominal", de Celso Luft, dá as duas expressões como equivalentes. O "Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea", da Acade-mia das Ciências de Lisboa, e o de Caldas Aulete, entre outros, só abonam a expressão "estar a par do assunto".

• AO PERSISTIREM / A PERSISTIREM

Analisemos duas construções que se ouvem e leem, atualmente, em peças publicitárias de medicamentos:

"Ao persistirem os sintomas, o médico..." / "A persistirem os sintomas, o médico...".

Qual é a melhor? Ou tanto faz?

Raciocinemos juntos.

• Quando se diz "Ao sair, apague a luz", quer-se dizer algo equivalente a "Quando sair, apague a luz". A ideia predominante em orações introduzidas por "ao" é a de tempo: "Ao chegar, telefone" ("Quando chegar, telefone").

• "Ao ouvir o sinal, não cruze a linha férrea" ("Quando ouvir o sinal, não cruze a linha férrea"). Então a frase "Ao persistirem os sintomas, o médico..." equivale a "Quando persistirem os sinto-mas, o médico...". Essa construção não é incorreta, mas será que é exatamente isso o que se quer dizer, ou seja, será que a ideia predominante é a de tempo ("Quando persistirem os sintomas, o médico...")? Ou é a de condição ("Se persistirem os sintomas, o médico...";

• "Caso persistam os sintomas, o médico..."? Se a intenção é dizer que o médico deverá ser consul-tado no caso de persistirem os sintomas, deve-se trocar o "ao" por "a": "A persistirem os sintomas, o médico...".

• Não custa lembrar duas coisas:

1ª) Se a opção for por "se", a forma verbal é "persistirem"; se for por "caso", é "persistam".

2ª) Nem sempre a troca de "a" por "se" deixa intacta a forma verbal. Nesses casos, a preposição "a" põe o verbo no infinitivo ("A manter a calma, resolverá tudo em pouco tempo"), enquanto a con-junção "se" o põe no subjuntivo ("Se mantiver a calma, resolverá tudo em pouco tempo"). - No caso de "persistir" a forma não muda ("A persistirem” / "Se persistirem")? Porque o verbo é regular, o que significa que o futuro do subjuntivo tem formas semelhantes às do infinitivo. Veja outros exemplos: "A continuar assim, será excluído"; "Se continuar assim, será excluído"; "A aceitar nossas condições, será contratado"; "Se aceitar nossas condições, será contratado". Veja agora o que

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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ocorre com verbos irregulares: "A ser convocado, partirá imediatamente"; "Se for convocado, parti-rá imediatamente"; "A haver o perdão..."; "Se houver o perdão...".

Por fim, resta dizer que as construções condicionais com o "a" são eruditas. Comuns em textos clássicos, ainda se encontram em obras jurídicas ou filosóficas, e também em ensaios literários. (P.C.N.)

• A PRINCÍPIO / EM PRINCÍPIO

A PRINCÍPIO: significa "inicialmente, no começo, num primeiro momento".

Exemplos: A princípio, havia dez operários trabalhando naquela obra.

A princípio, o casamento de Vera e Filipe ia bem.

EM PRINCÍPIO: igual à "em tese, antes de qualquer consideração, teoricamente".

Exemplos: Em princípio, sou contra a presença de políticos nessa festa.

Em princípio, sou a favor do Parlamentarismo no Brasil.

Assim, quando se quer dizer que "num primeiro momento" se é contra alguma coisa, deve-se

FALAR "a princípio". Agora, seNDO-SE contra ALGUMA COISA só "em tese", é preferível se dizer

"em tese", para maior clareza do enunciado: "Em tese, sou contra a pena de morte."

• DECISÃO ARBITRADA ou ARBITRÁRIA?

Segundo a maioria dos nossos dicionários, devemos fazer a seguinte distinção:

a) "Uma decisão arbitrada" é aquela que foi julgada por um árbitro. Arbitrar é decidir na qualidade de árbitro; sentenciar como árbitro. Árbitro é o juiz nomeado pelas partes para decidir as suas questões. b) "Uma decisão arbitrária" é resultante de arbítrio pessoal, ou sem fundamento em lei ou em re-gras. Portanto, uma decisão arbitrada não é necessariamente arbitrária.

• ARREBALDES ou ARRABALDES?

As duas palavras existem e constam do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. O termo "arrabalde" significa cercania, subúrbio, e é mais usado.

• AO REDOR DE / DE REDOR DE

Quando se está em volta de algo, pode-se usar não só estas duas expressões como também: "ao redor de", "em redor de", "em torno a", "em torno de". E existe ainda a expressão "em derredor de". Exemplo: "Os meninos quedos e taciturnos olhavam em derredor de si com tristeza". O trecho de

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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"O Seminarista", de Bernardo Guimarães, citado no dicionário Aurélio. "Quedo" é sinônimo de "quieto"; "taciturno" significa "silencioso, calado, sem palavras".

• ARTIGO DEFINIDO

Numa frase em que haja uma relação de itens, ou se precede todos com o artigo definido ou

nenhum deles.

Exemplos:

Os líderes do PT, PSDB, PDT E PMDB estão se reunindo hoje. (errado)

Os líderes do PT, do PSDB, do PDT e do PMDB estão ... (correto)

Os líderes de PT, PSDB, PDT e PMDB estão... (correto)

• AS PARTÍCULAS "ATÉ" E "NEM"

ATÉ: "Até" é uma partícula que traz a ideia de inclusão.

Exemplo: Até o diretor estava presente no show dos alunos.

NEM: "Nem" deve ser usado quando houver ideia de exclusão.

Exemplo: "Nem mesmo os jornalistas credenciados puderam entrar no camarim da Madona."

• EMPREGO DA LOCUÇÃO PREPOSITIVA "ATRAVÉS DE"

Silva diz que nas "normas escritas" em seu trabalho se empregava "através de" com o sentido de "por intermédio de" ou "por meio de", mas recentemente esse uso foi abolido.

Até 1998 os dicionários brasileiros só davam à expressão "através de" com o sentido de "pelo meio de", "por dentro de", "de um lado para o outro" etc.

Exemplos: "Ele escapou através da janela do banheiro."

"Os pássaros voavam através dos galhos das árvores."

Apesar do largo uso (oral e escrito) de "através de" com o sentido de "por intermédio de" ou "por meio de", nossos dicionários insistiam em não registrar esse valor da expressão. Salvo engano, é da última edição do "Aurélio" ("Novo Aurélio Século XXI", publicada em 1999) o primeiro regis-tro de "através de" com o sentido de "por intermédio de". O "Houaiss" (lançado em 2001) registra a expressão com o sentido (classificado de "figurado") de "por meio de", "mediante", com estes e-xemplos:

"Educar através de exemplos."

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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"Conseguiu o emprego através de artifícios."

O "Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea", lançado em 2001 pela Academia das Ciências de Lisboa, não faz cerimônia e dá à locução "através de" o sentido de "por meio de", com estes exemplos:

"Conseguiu o seu intento através de um estratagema."

"Soube a notícia através dela."

O recém-lançado "Dicionário de Usos do Português do Brasil", do professor Francisco S. Borba, também registra exemplos do emprego de "através de" com o sentido de "por meio de". Exemplo: "O encantamento se faz através da magia e do mistério", de "O Lobisomem e Outros Contos", de H. Sales.

O que não ganha legitimidade ou registro é esta extravagância, comum em textos do jorna-lismo esportivo:

"O gol do Fluminense foi marcado através de Romário".

Alguém teria coragem de dizer que o gol do Fluminense foi marcado por intermédio (ou "por mei-o") de Romário?

Se alguém pensou em dizer que sim, é bom desistir. O gol não foi

marcado "por intermédio" ou "por meio" de quem quer que seja, por uma

razão muito simples: o gol foi marcado por (simplesmente "por") Romá-

rio. O que temos aí é uma expressão ("por Romário") que indica o agente

do processo expresso pela expressão verbal passiva "foi marcado".

Alguém diz que a mercadoria foi roubada "através de um homem alto, magro, calvo"? Certamente, não. Se dissermos que a mercadoria foi roubada "por um homem alto, magro, calvo", nada de dizer "gol marcado através/por meio/por intermédio de Romário". No uso culto, não há regis-tro de "através de" para introduzir o agente de formas verbais passivas. (P.C.N.)

• AUMENTOS "ENTRE...% A...%" ou "DE...% A...%"?

Quando se deseja dizer, por exemplo, que as vendas de um produto tiveram um aumento de 15%, ou 16%, ou 17%, ou qualquer fração entre 15% e 17%, deve-se preferir a expressão "as vendas aumentaram de 15% a 17%.

Utilizando-se a expressão "entre 15% a 17%", parecerá que o aumento foi de 16% ou qualquer fração entre 15% e 17% (dando sempre a impressão de ser mais que 15% e menos que 17%).

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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• BENVINDO ou BEM-VINDO?

A forma correta é "bem-vindo". Não existem as formas "benvindo" e "ben-vindo", porque o ad-vérbio "bem" é com "m", e por serem duas palavras autônomas, formando uma palavra composta, são escritas separadamente e ligadas por hífen.

• BEM-QUISTO ou BENQUISTO?

A forma correta é "benquisto" que significa bem-visto.

Exemplo: Aquele policial é muito benquisto pela vizinhança.

• BIMENSAL / BIMESTRAL / BIENAL

BIMENSAL: o que acontece ou aparece duas vezes no mês;

BIMESTRAL: quando o intervalo é de dois meses;

BIENAL: intervalo de dois anos.

• BUJÃO / BOTIJÃO DE GÁS

As duas palavras existem e constam do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da ABL.

• CABEÇADA / CABECEADA

CABEÇADA (substantivo).

Exemplos:

Zico deu uma cabeçada muito forte na bola.

Sandra andava pela rua distraída e deu uma cabeçada no "orelhão".

CABECEADA (particípio do verbo CABECEAR).

Exemplo: A bola foi cabeceada para o fundo das redes.

• CABELEIREIRO ou CABELEREIRO?

O termo correto é "cabeleireiro", derivado de "cabeleira".

• CALEFAÇÃO / CALAFETAÇÃO

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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CALEFAÇÃO: aquecimento;

CALAFETAÇÃO: ação de calafetar, tapar, vedar.

• CAMINHONEIRO ou CAMIONEIRO?

Diz-se corretamente "caminhoneiro". Do mesmo modo deve-se falar também "caminhonete".

• CARANGUEJO ou CARANGUEIJO?

A forma correta é "caranguejo".

• CASAS GERMINADAS ou GEMINADAS?

Casas duplicadas, feitas aos pares, devem ser chamadas de "casas geminadas". "Geminadas" e "geminar" são palavras da mesma família. E "geminado" é sinônimo de "gêmino": casas gêminas ou geminadas.

• CATACLISMA ou CATACLISMO?

A forma correta é "cataclismo", que significa "Grande inundação, dilúvio". Figurativamente, pode significar "convulsão social, revolta". E ainda "grande desastre, derrocada". Na prática, a pa-lavra é quase sempre empregada com este último sentido.

• CHINELAS / CHINELOS

As duas formas estão corretas.

• CHOPARIA ou CHOPERIA?

As duas formas podem ser consideradas corretas, pois para a ABL é "choparia"; para o "Auré-lio", "choperia".

• CÍRCULO ou CICLO VICIOSO?

A expressão correta é "círculo vicioso".

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• COMERCIALIZAR / VENDER

COMERCIALIZAR: comprar, vender, alugar, emprestar...;

Exemplo: Esta empresa comercializa automóveis e caminhões em todo o país.

VENDER: é uma das atividades da comercialização de um produto.

Exemplo: O Vectra está sendo vendido por um preço bem em conta.

• COMPANHIA

A forma correta desta palavra é "companhia", e não "compania", significando tanto "empresa", "firma", quanto "presença de uma pessoa", "convívio com alguém".

• COM RESERVAS / RESERVADAMENTE

COM RESERVAS: com cuidado, com restrições.

Exemplo: Tratou do assunto com reservas. (= Não abriu o jogo, não disse tudo que sabia)

RESERVADAMENTE: sigilosamente, confidencialmente.

Exemplo: Tratou do assunto reservadamente. (= a sós, confidencialmente)

• CONFERÊNCIA (Palestra)

Pessoas não "dão" uma conferência nem uma palestra, e sim as "fazem" ou as "proferem". Exemplo: Dr.ª Luzia fez (proferiu) uma conferência (palestra) sobre direito do trabalho ontem. Observação: No entanto, pessoas "dão recitais".

• CONFISCAR / DESAPROPRIAR

CONFISCAR: apreender algo, privar alguém de um bem sem indenização.

Exemplo: A Justiça Federal confiscou os bens daquele juiz corrupto.

DESAPROPRIAR: privar alguém de alguma coisa, mas com indenização.

Exemplo: Para a construção do metrô, vários imóveis foram desapropriados.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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• CONTACTO / CONTATO

As duas formas estão presentes no "Novo Aurélio" e no "Vocabulário Ortográfico". Estra-nhamente, o "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa" não registra "contacto", embora o "Dicio-nário Houaiss de Sinônimos e Antônimos" registre "contacto" e "contato" como equivalentes. Assim também com: "contactar / contatar", "corrupção / corrução", "aspecto / aspeto", "estupefacto / estupefato".

Já a forma "aficcionado" não existe. O certo é "aficionado", com a pronúncia igual a "acionado".

Exemplo: Ele é um aficionado em cinema.

(Ver também "detector/detetor"; "veredicto / veredito".)

• CONTESTAR

Deve-se empregar este verbo em relação a acusações, argumentos, alegações. Para SE FAZER OPOSIÇÃO A pessoas, é mais indicado usar o verbo "enfrentar".

Exemplos: Os alunos contestaram os argumentos apresentados pelos donos de escolas para o aumento nas mensalidades de seus cursos.

Aquele jogador de futebol enfrentou o juiz por tê-lo expulso de campo.

• CONVALESCENÇA ou CONVALESCÊNCIA?

O termo correto é "convalescença".

• EXAME DE CORPO DE DELITO ou CORPO DELITO?

A expressão correta é "corpo de delito". Significa o fato material usado como prova de um crime.

• CRONOGRAMA / ORGANOGRAMA

CRONOGRAMA: representação gráfica da previsão da execução de um trabalho, na qual se indi-cam os prazos;

ORGANOGRAMA: representação gráfica de uma organização, na qual se indicam as unidades constitutivas, suas inter-relações, suas funções, seus limites.

• CUECA / CUECAS

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O dicionário de Aurélio Buarque diz que as duas formas são possíveis, desde que com o arti-go adequado: "a cueca" ou "as cuecas".

A mesma regra pode ser aplicada ao par "calça / calças". Saiba a origem de algumas expressões que usamos no dia-a-dia

2.2.22.2.22.2.22.2.2 CONHECENDO EXPRESSÕECONHECENDO EXPRESSÕECONHECENDO EXPRESSÕECONHECENDO EXPRESSÕESSSS

1. Você sabe qual é a origem do termo "TINTIM POR TINTIM"?

Quando alguém quer saber tudo, tintim por tintim, significa que ela quer todas as explica-ções, quer saber do fato completo, com todos os seus detalhes, não é mesmo?

Antigamente, a expressão tintim por tintim era usada quando se referia aos pagamentos fei-tos por algum trabalho ou dívida. Era necessário que se pagasse tudo, tintim por tintim. Como os pagamentos, na época, eram feitos exclusivamente em moedas, a expressão reproduzia o som das moedas caindo umas sobre as outras, enquanto eram contadas.

Vem daí o seu uso.

2. O que nenhum de nós quer é Pagar o Pato por nada neste mundo, não é mesmo?

Afinal, pagar o pato significa pagar por alguma coisa sem, no entanto, receber nada ou ne-nhum benefício em troca.

E de onde virá esta expressão: Pagar o pato?

Na Idade Média, havia um jogo que consistia em amarrar-se um pato a um poste. Um cava-leiro a galope, com sua lança, deveria ser capaz de cortar as amarras, soltando o pato e tornando-se dono dele.

O cavaleiro que não conseguisse a façanha era obrigado, então, a pagar, em moedas, pelo pa-to não solto. E o mais importante: não levava o pato para casa.

Ou seja: pagava, mas não levava.

Quem "Paga o Pato" não tem nenhuma vantagem.

3. Na língua portuguesa, há um número significativo de palavras começadas pelo elemento hipo. Saiba, porém, que esse elemento grego pode ter dois significados:

Hippos – cavalo

Exemplos - hipódromo (local de corridas de cavalo)

hipópode (que tem pés de cavalo)

hipomania (paixão por cavalos)

hipofagia ( ato de comer carne de cavalo)

hipologia (estudo dos cavalos)

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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hypo - inferior; diminuição

Exemplos - hipocalórico (de poucas calorias)

hipoglicemia (pouca glicose no sangue)

hipocinesia (diminuição da atividade motora nos organismos vivos)

hipoderme (tecido situado embaixo da pele)

hipotensão (pressão baixa)

4. Vossa Mercê - Vosmicê - Você

O pronome pessoal de tratamento você, muito usado hoje em dia, origina-se do pronome de tratamento Vossa Mercê. Nos tempos do Brasil colonial e imperial, o tratamento dado às pessoas era menos coloquial do que atualmente. As pessoas eram tratadas por "Vossa Mercê". Essa forma, ao ser falada pelos escravos, foi se transformando, primeiro em "vosmecê" ou "vosmicê", como também é encontrada, passando, depois, a ser você.

Você é um pronome de tratamento que leva o verbo, obrigatoriamente, para a terceira pessoa.

5. Lá pelo século XVII, o Brasil colônia era bem pouco povoado. Havia muitas povoações surgindo e era importante que o número de habitantes dessas vilas aumentasse rapidamente.

Por esse motivo, a igreja permitia o sexo antes do casamento. Caso a mulher engravidasse numa dessas relações, era considerada fértil e, portanto, vantajosa para a finalidade de se aumen-tar o número de pessoas do lugar.

Porém, se depois de engravidar a moça, o "noivo" desaparecesse, ela poderia ir reclamar ao bispo da região e, este, mandava imediatamente caçar o fujão, para que o casamento se realizasse.

É daí, então, que vem o hábito de dizermos às pessoas que têm problemas que parecem inso-lúveis:

Ora, vá se queixar ao bispo!

6. Hoje em dia, sabemos que IMPOSTOR significa tratante; embusteiro; aquele que engana; intrujão.

Porém, nem sempre foi assim. Em sua origem, impostor era o indivíduo encarregado de co-brar os impostos.

Com certeza, como ninguém gosta muito de pagar impostos, essa figura começou a ser mal vista, inoportuna, decorrendo, daí, o significado mais agressivo da palavra.

7. Hoje em dia, a palavra Gazeta é usada como sinônimo de jornal, noticioso.

Mas, de onde será que vem essa expressão?

No século XVI, havia, em Veneza, uma moeda chamada gaza. Naquela época, Veneza era um dos maiores centros comerciais da Europa.

Por volta de 1536, Veneza entrou em guerra contra os turcos. Os comerciantes, ávidos por saber notícias, reuniam-se em um local onde um mensageiro contava todas as novidades relacio-nadas ao conflito. Para poder ter acesso a esse local, as pessoas deviam pagar “uma gaza”, depois de algum tempo, esse momento passou a chamar-se Gazeta.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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8. Hoje em dia é raro ouvirmos as expressões ama seca e ama de leite, porém, ao lermos livros es-critos até o final do século XIX, elas aparecem bastante.

Você sabe qual é a diferença entre as amas?

Ama de leite era a escrava que amamentava o bebê no lugar da verdadeira mãe, ou "sinha-zinha", como era chamada.

Ama seca era a escrava que também trabalhava na casa dos patrões, porém nos serviços de limpeza, arrumação e cozinha.

2.2.32.2.32.2.32.2.3 PALAVRAS HOMÔNIMAPALAVRAS HOMÔNIMAPALAVRAS HOMÔNIMAPALAVRAS HOMÔNIMASSSS E PARÔNIMAS E PARÔNIMAS E PARÔNIMAS E PARÔNIMAS

NÃO CONFUNDA!

Vamos iniciar este conteúdo a partir da leitura de um texto. Se houver dúvidas no entendimento, fique tranquilo! É só consultar o dicionário

A ESTÓRIA DO BURRO QUE NÃO ERA HISTÓRIA

Texto adaptado por Jacqueline Andrade

Há cerca de um ano, houve um acidente com o burro de um camponês, que caiu num poço. Não chegou a se ferir por conta do incidente, mas não balançava a cauda e seu suor parecia calda, e nem podia mais sair dali por seus próprios meios.

Por isso, o animal chorou cerca de duas horas fortemente naquele estádio, enquanto o cava-leiro pensava no que fazer. Finalmente, o descargo: cavalheiro tomou uma decisão cruel: concluiu - o desencargo - que o burro já estava muito velho e que o poço já estava mesmo seco, precisava ser tapado de alguma forma. Portanto, não valia a pena se esforçar para tirar o burro de dentro do poço. Russo foi chamar seus vizinhos todos ruços a fim de ajudá-lo a enterrar vivo o burro. Cada um deles pegou uma pá e começou a jogar terra dentro do poço. O burro intimorato não tardou a se dar conta do que estavam fazendo com ele, e chorou esbaforido e espavorido. Porém, para sur-presa de todos, o burro quietou-se depois de umas quantas pás de terra que levou. O camponês, finalmente, olhou estático para o fundo do poço e, extático, surpreendeu-se com o que viu. A cada pá de terra que caía sobre suas costas o burro a sacudia, dando um passo sobre esta mesma terra que caía ao chão. Assim, em pouco tempo, todos puderam espiar como o burro, esperto e experto, deixou de expiar, conseguindo chegar até a boca do poço, passar por cima da borda e fluir dali válido e fruir de ter sido valido.

A vida vai lhe jogar muita terra, todo o tipo de terra. Principalmente se você já estiver dentro de um poço. O segredo para sair do poço é sacudir a terra que se leva nas costas e ascender sobre ela. Devemos acender todo pensamento negativo. Cada um de nossos problemas é um degrau que nos conduz para cima. Podemos sair dos mais profundos buracos se não nos dermos por vencidos. Use a terra que te jogam para seguir adiante.

Recorde as 5 regras para ser feliz. Preito aos vencedores.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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1- Liberte o seu coração do excesso do mal

2- Liberte a sua mente do pleito

3- Siga sua vida intemerato

4- Dê mais e espere menos, o mau da vida é viver

5- Ame mais afim de...

Relação das palavras que suscitam mais dúvidas na hora de empre-

gar/grafar

absolver: inocentar, perdoar

absorver: sorver, consumir, esgotar

acender: pôr fogo, alumiar

ascender: subir

acidente: acontecimento casual

incidente: episódio, aventura

apreçar: perguntar preço, dar preço

apressar: antecipar, abreviar

aprender: tomar conhecimento

apreender: apropriar-se, assimilar mentalmente

acento: tom de voz, sinal gráfico

assento: lugar de sentar-se

acerca de: sobre, a respeito de

cerca de: aproximadamente

há cerca de: faz aproximadamente

acostumar: contrair hábito

costumar: ter por hábito

amoral: indiferente à moral

imoral: contra a moral, libertino, devasso

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

71

apreçar: ajustar o preço

apressar: tornar rápido

arrear: pôr arreios

arriar: abaixar, descer

assoar: limpar o nariz

assuar: vaiar, apupar

bucho: estômago

buxo: arbusto

caçar: apanhar animais ou aves

cassar: anular

calda: xarope

cauda: rabo

cavaleiro: aquele que sabe andar a cavalo

cavalheiro: homem educado

cédula: documento, chapa eleitoral

sédula: ativa, cuidadosa (feminino de sédulo)

cela: pequeno quarto de dormir

sela: arreio

cavaleiro: aquele que sabe andar a cavalo

cavalheiro: homem educado

censo: recenseamento

senso: raciocínio, juízo claro

cerração: nevoeiro denso

serração: ato de serrar, cortar

cesto: balaio

sexto: numeral ordinal (seis)

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

72

chá: bebida

xá: título do ex-imperador do Irã

conserto: reparo

concerto: sessão musical, acordo

coser: costurar

cozer: cozinhar

cheque: ordem de pagamento

xeque: lance de jogo no xadrez

delatar: denunciar

dilatar: alargar, ampliar

desapercebido: desprevenido

despercebido: sem ser notado

descrição: ato de descrever, expor

discrição: reservada, qualidade de discreto

descriminar: inocentar

discriminar: distinguir

despensa: onde se guardam alimentos

dispensa: ato de dispensar

desapercebido: desprevenido

despercebido: que não percebeu

destratado: maltratado com palavras

distratado: desfazer o acordo, o trato

discente: referente a alunos

docente: referente a professores

destinto: que se destingiu

distinto:diverso, diferente

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

73

eminente: ilustre, excelente

iminente: que ameaça acontecer

emergir: vir à tona

imergir: mergulhar

emigrar: sair da pátria

imigrar: entrar num país estranho para nele morar

enfestar: exagerar, roubar no jogo,

infestar: causar danos

esperto: ativo, inteligente, vivo

experto: perito, entendido

espiar: observar, espionar

expiar: sofrer castigo

estático: firme, imóvel

extático: admirado, pasmado

estrato: tipo de nuvem

extrato: resumo, essência

flagrante: evidente

fragrante: perfumado

fluir: correr

fruir: gozar, desfrutar

fusível: aquele que funde

fuzil: arma

história: narrativa de fatos reais ou fictícios

estória (origem inglesa): narrativas de fatos fictícios

incerto: impreciso

inserto: introduzido, inserido

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

74

incipiente: principiante

insipiente: ignorante

inflação: desvalorização do dinheiro

infração: violação, transgressão

infligir: aplicar pena

infringir: violar, desrespeitar

intercessão: ato de interceder, de intervir

interseção: intersecção: ato de cortar

intemerato: íntegro, puro, incorrupto

intimorato: destemido, sem temor

laço: nó

lasso: frouxo, gasto, bambo, cansado, fatigado

lista: relação, rol

listra: risca, traço

mal: antônimo de bem

mau: antônimo de bom

mandado: ordem judicial

mandato: procuração

ótico: relativo ao ouvido

óptico: relativo à visão

paço: palácio

passo: passada

peão: aquele que anda a pé

pião: brinquedo

procedente: proveniente, oriundo

precedente: antecedente

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

75

prescrito: estabelecido

proscrito: desterrado, emigrado

recrear: divertir, alegrar

recriar: criar novamente

ruço: grisalho, desbotado

russo: da Rússia

sexta: numeral

cesta: utensílio de transporte

sesta: descanso depois do almoço

sortir: abastecer

surtir: produzir efeito

tacha: pequeno prego

taxa: tributo

tachar: censurar, pôr defeito

taxar: estipular

tráfego: movimento, trânsito

tráfico: comércio lícito ou não

vadear: passar ou atravessar a pé ou a cavalo

vadiar: vagabundar

viagem: substantivo: a viagem

viajem: forma verbal: que eles viajem

vultoso: volumoso

vultuoso: atacado de congestão na face

xácara: narrativa popular em verso

chácara: pequena propriedade campestre

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

76

Palavras homógrafas: mesma grafia, mas com significações diferentes.

A relação abaixo mostra palavras escritas de forma idêntica, mas a sílaba tônica em posição dife-rente (proparoxítonas e paroxítonas):

crédito (substantivo)- credito (verbo)

crítica (substantivo) - critica (verbo)

cópia (substantivo) - copia (verbo)

filósofo (substantivo) - filosofo (verbo)

vale: acidente geográfico

vale: recibo

vale: do verbo valer

Preste atenção nas palavras na hora de empregá-las!

PRESTANDO ATENÇÃO ÀS PALAVRAS

Trocar-se e trocar de roupa

"Beatriz, vá se trocar para irmos ao cinema."

"João Carlos, além de se trocar, penteou os cabelos e escovou os dentes."

"Espere um pouco! É só o tempo de eu me trocar e já poderemos sair."

Inúmeros poderiam ser os exemplos para este tipo de construção de frase. Nele, encon-

tramos um erro lamentável.

Ninguém é capaz de trocar-se. Só se troca uma coisa por outra.

Então, se alguém for "se trocar", virá outra pessoa em seu lugar.

Nos casos dos exemplos acima, o correto seria dizer:

"Beatriz, vá trocar sua roupa para irmos ao cinema."

"João Carlos, além de trocar de roupa, penteou os cabelos e escovou os dentes."

"Espere um pouco! É só o tempo de eu trocar minha roupa e já poderemos sair."

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

77

Então, dou a você um conselho:

Nunca se troque; troque de roupa.

2.3 NORMATIVIDADE DA LÍNNORMATIVIDADE DA LÍNNORMATIVIDADE DA LÍNNORMATIVIDADE DA LÍNGUAGUAGUAGUA

Para compreendermos melhor os conteúdos deste encontro, é necessário que você entenda o significado de REGÊNCIA.

Dentro da estrutura frasal, as palavras são interdependentes, isto é, umas dependem das outras. Podemos assim dizer que a frase é uma sequência de

termos subordinantes e subordinados (termos que completam, modificam, estão na dependência de subordinantes).

O predicado é subordinado em relação ao sujeito, que é subordinante:

• Os complementos verbais são subordinados ao verbo, que é subordinante:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

78

• Os complementos nominais são subordinados em relação ao nome, que é subordinante:

• Os adjuntos são subordinados ao nome ou ao verbo:

- Regência, em sentido amplo, é sinônimo de subordinação.

- Regência em sentido estrito,

Trata das relações de dependência entre:

• O verbo e seus complementos. Neste caso, se diz que a regência é verbal. Exemplo:

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

79

Nos dois primeiros exemplos, a relação de dependência entre os verbos e os complementos é feita diretamente, isto é, sem auxílio de preposições. Nos dois outros exemplos, com o auxílio de preposições.

• O nome e seus complementos. Neste caso, se diz que a regência é nominal.

As preposições desempenham papel relevante no capítulo da regência. O uso correto das

preposições é um indicador seguro do conhecimento da língua.

2.3.12.3.12.3.12.3.1 REGÊNCIA NOMREGÊNCIA NOMREGÊNCIA NOMREGÊNCIA NOMINAL E VERBAL INAL E VERBAL INAL E VERBAL INAL E VERBAL

A relação de dependência entre o verbo e seu complemento constitui a regência verbal. Há verbos que dispensam a preposição e outros exigem.

É importante que você conheça a classificação dos verbos quanto à

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

80

predicação, para entender a regência verbal.

Observe o quadro abaixo:

Classificação Caraterística Exemplos

Verbo de Ligação

(V.L.)

Não tem significação própria. Apenas liga o

sujeito ao seu predicativo.

São eles: ser, estar, parecer, ficar, permane-

cer e andar (no sentido de estar)

Eu sou amigo do rei.

A cidade permanecia calma.

Verbo

Intransitivo

(V.I.)

Tem significação completa. Não precisa de

complemento. Pode estar acompanhado de

adjuntos adverbiais ou de predicativo do

sujeito.

Amanheceu.

A jovem sorriu satisfeita.

O Presidente viajou.

Verbo Transitivo Tem significação incompleta, isto é, precisa

de um complemento.

Gostei. (de quê?)

Assisti. (a quê?)

Assinei (o quê?)

Direto (V.T.D.)

Necessita de um complemento que a ele se

liga, sem o auxílio de preposição. Esse com-

plemento chama-se de objeto direto

Mantenha a ordem.

V.T.D. O.D.

Indireto (V.T.I)

Necessita de um complemento que a ele se

liga com auxílio de preposição. Esse com-

plemento chama-se objeto indireto.

Gosto de política.

V.T.I. O.I.

Direto e Indireto

(V.T.D.I.)

Necessita de dois complementos, objeto dire-

to e indireto

O povo deu-lhe razão.

VTDI O.I. O.D.

Você observou que alguns verbos precisam de uma preposição para li-

gar-se ao seu complemento. Não podemos dizer "gosto teatro" porque o ver-

bo gostar exige a preposição de. Trata-se de um verbo transitivo indireto.

Seria oportuno recordar o que é preposição e quais as palavras que pertencem a esta classe gramati-cal. Vejamos:

Preposição é a palavra invariável que liga duas outras entre si, estabele-cendo entre elas uma relação de dependência.

Ex: anel de ouro.

São preposições essenciais:

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

81

a - ante - até - após - com - contra para - per - perante – por de - desde - em - entre - sem - sobre -

sob - trás

As que estão em negrito aparecem geralmente com os verbos transitivos

indiretos.

Dentre as preposições, algumas podem combinar-se ou contrair-se com outras palavras. Di-zemos que há combinação, quando a preposição conserva-se inalterável.

Ex.:

Assisti ao filme.

(a + o)

Há contração quando ela perde um fonema.

Ex.:

Gostei da peça.

(de + a)

Assisti àquele espetáculo.

(a + aquele)

CIRCUNSTÂNCIAS EXPRESSAS PELA PREPOSIÇÃO:

Tempo: A dois de dezembro, nascia nosso herói.

Lugar: Moro em São Paulo há vários anos.

Modo: Agia com bom senso.

Causa: Morreu de enfarte.

Companhia: Estava com o gerente quando ocorreu o assalto.

Instrumento (ou meio): Feriu-o à bala.

Argumento (ou assunto): Falava sobre política.

Fim: Estudo para vencer.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

82

Oposição: Quem estiver contra mim retire-se.

Exclusão: Compareceu sem o amigo.

Matéria: Vendem-se facas de aço inoxidável.

REGÊNCIA VERBAL

Nas comunicações escritas, há um grupo de verbos que estão sempre presentes. São eles:

Informar - Avisar - Notificar

Todos eles admitem duas construções: informar alguma coisa a al-guém ou informar alguém de (ou sobre) algo.

Exigem, portanto, dois complementos: objeto direto e objeto indireto. São verbos transitivos diretos e indiretos (V.T.D.I.).

É preciso cuidado ao empregá-los para que não se usem dois complementos iguais quanto à função sintática. Pelo menos uma preposição deve estar presente.

Observe:

“Informei-o de que as duplicatas estavam com o contador da empresa”.

O pronome "o" exerce a função de objeto direto, e a oração "de que as duplicatas estavam.."

tem a função de objeto indireto.

Outra maneira de expressar a mesma idéia seria:

“Informei-lhe que as duplicatas...” (lhe = a ele)

O pronome "lhe" exerce a função de objeto indireto, “que as duplicatas...” é a oração com função de objeto direto.

Analise as construções abaixo das formas verbais que acabamos de ver.

Incorreto Correto

Venho informá-lo que...

Venho informar-lhe de que...

Venho informá-lo de que...

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

83

Informo V.Sª que...

Informo a V.Sª sobre...

Venho informar-lhe que...

Informo V.Sª de que...

Informo a V.Sª que...

Lembre-se quando se usa: lhe, a V.Sª, a v.Exª, não é possível o emprego da preposição "de" ou "sobre".

Quando se usa: o - lo - nos, deve-se empregar, em seguida, as preposições "de" ou "sobre".

1. O verbo transitivo indireto não admite voz passiva. Não são aceitas pela norma culta as cons-truções:

O filme foi assistido por nós.

Altas posições são aspiradas por todos.

2. Não é próprio da norma culta dar um único complemento a verbos de regência diferentes. São incorretas frases do tipo:

Assisti e gostei do filme. Deve-se dizer: Assisti ao filme e gostei dele ou (Gostei do filme a que assisti)

3. O pronome relativo pode funcionar como complemento do verbo. Nesse caso, é preciso que o pronome obedeça à regência do verbo do qual é complemento.

Estes são os processos a que me refiro. São estas as verdades em que creio.

4. O pronome oblíquo "o" (o, os, as; lo, la, los, las; no, nas, nos nas) funciona como objeto direto, ao passo que o pronome "lhe" (lhes) funciona como objeto indireto.

Visitei-o no hospital. Preciso encontrá-lo. Enviei-lhe o telegrama.

5. Os verbos "aspirar" no sentido de desejar, "assistir" no sentido de presenciar, "visar" no sentido de ter como objetivo, apesar de serem transitivos indiretos, não aceitam os pronomes "lhe" (lhes) como complementos. Aceitam apenas as formas tônicas: a ele, a ela, a eles, a elas.

Aspiras à promoção? - Sim, aspiro a ela.

Assistiu ao filme? - Sim, assisti a ele.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

84

Observe o quadro abaixo. Nele estão os verbos que apresentam regência especial.

Verbos Exemplos

Aspirar (V.T.D.) = respirar

Aspirar a (V.T.I.) = desejar, almejar,

pretender

Aspirar o ar poluído das grandes metrópoles é pre-judicial à saúde.

Naquela época, aspirava à posição de gerente.

Assistir (V.T.D.) ou (V.T.I.) = dar

assistência

Assistir a (V.T.I.) = presenciar

Assistir a (V.T.I.) = caber, competir

Assistir em (V.I.) = morar

O Departamento médico assistirá os (aos) funcio-nários da empresa.

Assistiremos às solenidades e ao desfile militar.

É um direito que assiste ao Presidente.

O Ministro assiste em Brasília.

Aceder a (V.T.I.) = concordou

O Secretário acedeu ao pedido efetuado por V.Sª

Verbos que indicam direção exigem

a preposição a

Chegar a - Ir a

Retornar a - Subir a

Vir a - Voltar a

Chegando à Secretaria, telefonou-me imediatamente.

Retornou a São Paulo.

Vou a Curitiba.

Eles virão ao Brasil no próximo mês.

Custar a (V.T.I.) = ser custoso

Custou-me acreditar no fato.

Custou ao jovem tomar a decisão.

Informar (V.T.D.I.) alguma coisa a

alguém.

Informar alguém de (ou sobre algu-

ma coisa)

(A mesma regência para os verbos

avisar, notificar, cientificar, advertir,

comunicar)

Informei o ocorrido aos assessores.

Informei-os do ocorrido.

Informei-os sobre o ocorrido.

Informei-lhe o ocorrido.

Cuidado com o erro: Informei-lhe do ocorrido. (dois objetos indiretos)

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

85

Obedecer a (V.T.I.)

Desobedecer a (V.T.I.)

O motorista que obedece à sinalização evita acidentes.

Desobedeceu ao regulamento.

Pagar / Perdoar (V.T.D.I.) algo a al-

guém

Paguei o débito à Receita Federal.

Perdoei-lhe o erro.

Preferir (V.T.D.I.) alguma coisa a

outra

Preferimos correr o risco a ficar aguardando a decisão do juiz.

Proceder a (V.T.I.) = dar início O Departamento de Transportes Públicos procederá à análise dos fatos

Querer (V.T.D.) = desejar Queremos eleições para Presidente.

Querer a (V.T.I.) = estimar, gostar Querer a (V.T.I.) = estimar, gostar

Solicitar (V.T.D.I.) alguma coisa

a alguém (ou de alguém)

Solicito a V.Sª a fineza de remeter-nos o processo nº...

Solicito de V.Sª concessão de férias aos motoristas.

Visar (V.T.D.) = pôr o visto, mirar

Visar a (V.T.I.)

Visar o passaporte.

Visar o animal.

Visar ao poder.

REGÊNCIA NOMINAL

Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) podem apresentar problemas de regên-cia, principalmente aqueles que admitem mais de uma preposição. Embora esses problemas só possam ser resolvidos a contento mediante consulta a um dicionário especializado, apresentamos a seguir uma lista de palavras acompanhadas de suas preposições mais frequentes:

Nome Preposi-

ção Exemplos

Alienado De Alienado dos problemas sociais, só pensava em si.

Alusão A O presidente fez alusão às iniciativas do Ministro.

Apto a, para Sentia-se apto a manejar o barco.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

86

Considero-me apto para as provas.

Ávido de, por

Era ávido de fama.

Ávidos por assumir o poder, utilizaram todos os meios possíveis.

Constante de, em

A informação constante de fls. 88 esclarece o assunto.

Desconheço as provas constantes no processo.

Constituído de, por Um grupo constituído de (por) cinco elementos realizou o estudo.

Contemporâneo de, a

Meu avô foi contemporâneo de Machado de Assis.

Foi um movimento contemporâneo à 1ª Guerra.

Deputado, Sena-

dor Por Foi eleito deputado por Pernambuco.

Habituado a, com Os usuários estavam habituados a utilizar a linha 649.

Paralela Com A Rua 24 de Maio é paralela com a Barão de Itapetininga

Preferível A Era preferível morrer a entregar-se.

Residente, Sito,

Situado, Morador Em

Francisco dos Santos, residente na Rua das Flores, adquiriu o i-

móvel sito na Av. da Liberdade, nº 500.

Transversal A Na rua transversal a esta, há um ponto de táxi.

Vinculado A Sua conta bancária era vinculada à da esposa

Os adjetivos residente, situado, preferível, morador, que habitualmente são empregados com a preposição a, devem estar sempre seguidos da preposição: "em" (ou em + o = no ou em + a = na).

Errado Certo

João Rodrigues, residente à Avenida Celso

Garcia, 74, proprietário do supermercado

situado à Rua dos Trilhos, 24...

João Rodrigues, residente na Avenida Celso Garcia,

74, proprietário do supermercado situado na Rua

dos Trilhos, 24...

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

87

Era preferível viajar do que ficar aqui.

O prêmio foi concedido a Joaquim de Mo-

rais, morador à Rua da Independência n.º 4.

Era preferível viajar a ficar aqui.

O prêmio foi concedido a Joaquim de Morais, mo-

rador na Rua da Independência n.º 4.

2.3.22.3.22.3.22.3.2 EMPREGO DO PRONOME REMPREGO DO PRONOME REMPREGO DO PRONOME REMPREGO DO PRONOME RELATIVOELATIVOELATIVOELATIVO

Pronome relativo é uma classe de pronomes que substitui um termo da oração anterior e es-tabelece relação entre duas orações.

Nós conhecemos o senador. O senador morreu.

Nós conhecemos o senador que morreu.

Como se pode perceber, o "que", nessa frase está substituindo o termo senador e está rela-cionando a segunda oração com a primeira.

Os pronomes relativos são os seguintes:

Variáveis Invariáveis

O qual, a qual Que

(quando equivale a o qual e flexões)

Os quais, as quais Quem

(quando equivale a o qual e flexões)

Cujo, cuja Onde

(quando equivale a no qual e flexões)

Cujos, cujas

Quanto, quanta

Quantos, quantas

EMPREGO DOS PRONOMES RELATIVOS

1. Os pronomes relativos virão precedidos de preposição se a regência assim determinar.

Este é o pintor a cuja obra me refiro. Este é o pintor de cuja obra gosto.

2. O pronome relativo quem é empregado com referência a pessoas:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

88

Não conheço o político de quem você falou.

3. O relativo "quem" pode aparecer sem antecedente claro, sendo classificado como pronome rela-tivo indefinido.

Quem faltou foi advertido.

4. Quando possuir antecedente, o pronome relativo "quem" virá precedido de preposição.

Marcelo era o homem a quem ela amava.

5. O pronome relativo "que" é o de mais largo emprego, chamado de relativo universal, pode ser empregado com referência a pessoas ou coisas, no singular ou no plural.

Não conheço o rapaz que saiu. Gostei muito do vestido que comprei.

Eis os ingredientes de que necessitamos.

6. O pronome relativo "que" pode ter por antecedente o demonstrativo: o, a, os, as.

Falo o que sinto. (o pronome o equivale a aquilo)

7. Quando precedido de preposição monossilábica, emprega-se o pronome relativo que. Com pre-posições de mais de uma sílaba, usa-se o relativo o qual (e flexões).

Aquele é o livro com que trabalho. Aquela é a senhora para a qual trabalho.

8. O pronome relativo "cujo" (e flexões) é relativo possessivo equivale a: do qual, de que, de quem. Deve concordar com a coisa possuída.

Apresentaram provas cuja veracidade eu creio.

9. O pronome relativo "quanto, quantos e quantas" são pronomes relativos quando seguem os pro-nomes indefinidos: tudo, todos ou todas.

Comprou tudo quanto viu.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

89

10. O relativo "onde" deve ser usado para indicar lugar e tem sentido aproximado de: em que, no

qual.

Este é o país onde habito.

a) Onde é empregado com verbos que não dão ideia de movimento. Pode ser usado sem antecedente.

Sempre morei no país onde nasci.

b) Aonde é empregado com verbos que dão idéia de movimento e equivale a para onde, sendo resultado da combinação da preposição a + onde.

Aonde você vai com tanta pressa?

É fusão da preposição a com o artigo a ou com o a inicial dos pronomes demonstrativos a-quele, aquela, aquilo.

Na escrita é indicada por meio do acento grave (`). Para que ela ocorra, é necessário que haja:

a) um termo regente que exija a preposição a;

b) um termo regido que seja modificado pelo artigo a ou por um dos pronomes demonstrativos de

3.ª pessoa mencionados acima.

• Regra Geral

A crase ocorrerá sempre que o termo anterior exigir a preposição a e o termo posterior admitir o artigo a ou as.

Vou a a praia.= Vou à praia.

Para se certificar, substitua o termo feminino por um masculino, se a contração "ao" for necessá-ria, a crase será necessária. Ex.: Vou à praia./ Vou ao clube.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

90

EMPREGO OBRIGATÓRIO DA CRASE

Sempre ocorrerá a crase. Use sem receio!

1. Nos casos em que a regra geral puder ser aplicada.

Dirigiu-se à professora.

2. Nas locuções conjuntivas, adverbiais e prepositivas (formadas por "a" + pa-

lavra feminina).

À medida que passa tempo a violência aumenta.

O povo brasileiro vive à mercê de políticos muitas vezes corruptos.

Gosto muito de sair à noite.

3. Na indicação do número de horas, quando ao trocar o número de horas pela palavra meio-dia,

obtivermos a expressão ao meio-dia.

Retornou às oito horas em ponto.

( Retornou ao meio-dia em ponto.)

4. Nas expressões à moda de, à maneira de mesmo quando essas estiverem implícitas.

Farei para o jantar uma bacalhoada (à moda de Portugal) à portuguesa.

EMPREGO FACULTATIVO DA CRASE

O uso do sinal indicativo da crase, nas situações abaixo, fica ao gosto do freguês!

1. Diante de pronomes possessivos femininos:

Vou a sua casa./ Vou à sua casa.

2. Diante de nomes próprios femininos:

Não me referia a Eliana./ Não me referia à Eliana.

3. Depois da preposição até:

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

91

Foi até a porta./ Foi até à porta.

CASOS EM QUE NUNCA OCORRE A CRASE

O uso do sinal indicativo da crase, nas situações abaixo, é PROIBIDO!

1. Diante de palavras masculinas.

Saiu a cavalo e sofreu uma queda.

2. Diante de verbos.

Ele está apto a concorrer ao cargo.

3. Diante de nome de cidade (topônimo) que repudie o artigo.

Turistas vão frequentemente a Tiradentes.

1. Descubra se o nome da cidade aceita artigo: use o verbo VOLTAR . Se houver contração de preposição e artigo, existirá crase. Voltei da Espanha./ Fui à Espanha. Voltei de Tiradentes./ Fui a Tiradentes. 2. Se o nome da cidade estiver determinado, a crase será obrigatória. Fui à histórica Tiradentes.

4. Em expressões formadas por palavras repetidas (uma a uma, frente a frente etc.)

Olhamo-nos cara a cara.

5. Quando o "a" estiver no singular diante de uma palavra no plural.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

92

Como posso resistir a pessoas tão encantadoras?

6. Diante do artigo indefinido uma.

Isto me levou a uma decisão drástica.

7. Diante de Nossa Senhora e de nomes de santos.

Entregarei a Nossa Senhora da Conceição minha oferenda.

8. Diante da palavra terra, quando esta significar terra firme, tomada em oposição ao mar ou ar.

Os pilotos já voltaram a terra.

9. Diante da palavra casa (no sentido de lar, moradia) quando esta não estiver determinada por adjunto adnominal.

Não voltarei a casa esta semana.

Caso a palavra casa venha determinada por adjunto adnominal, ocorrerá a crase. Não voltarei à casa de meus pais esta semana.

10. Diante de pronomes que não admitem artigo: relativos, indefinidos, pessoais, tratamento e de-monstrativos.

Dei a ela oportunidade de se redimir.

Solicito a V.Sª a confirmação do pedido.

Convidei a várias pessoas para a reunião.

11. Diante de numerais cardinais quando estes se referem a substantivos não determinados pelo artigo.

Daqui a duas semanas retornarei ao trabalho.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

93

Crase da preposição "a" com os Pronomes Demonstrativos

Preposição a + pronomes = à, àquilo, àquele(s), àquela (s)

Assistimos àquela peça teatral.

A crase da preposição "a" com o pronome demonstrativo "a" ocorrerá sempre antes do pronome relativo que (à que) ou da preposição de (à de). Esta não é a pessoa à que me referia.

2.4 EMPREGO DOS SINAIS DEMPREGO DOS SINAIS DEMPREGO DOS SINAIS DEMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃOE PONTUAÇÃOE PONTUAÇÃOE PONTUAÇÃO

A língua falada dispõe de recursos muito expressivos para exprimir suas pausas e entoações. Na língua escrita, essas pausas e entoações são representadas pelos sinais de pontuação.

Neste conteúdo, estudaremos os principais empregos de alguns sinais de pontuação.

Marca uma pequena pausa na leitura, o que equivale a uma pe-

quena ou grande mudança na entoação

Quando se trata de separar determinados termos de uma oração, deve-se usar a vírgula nos casos abaixo.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

94

Emprega-se a vírgula (uma breve pausa):

a) para separar os elementos mencionados numa relação:

EXEMPLO • A nossa empresa está contratando engenheiros, economistas, analistas de sistemas e secretárias. • O apartamento tem três quartos, sala de visitas, sala de jantar, área de serviço e dois banheiros.

Mesmo que o “e” venha repetido antes de cada um dos elementos da enumeração, a vírgula de-ve ser empregada:

• Rodrigo estava nervoso. Andava pelos cantos, e gesticulava, e falava em voz alta, e ria, e roía as unhas.

b) para vocativo:

EXEMPLO

• Cristina, desligue já esse telefone!

• Por favor, Ricardo, venha até o meu gabinete.

c) para aposto:

EXEMPLO • Dona Sílvia, aquela mexeriqueira do quarto andar, ficou presa no elevador.

• Rafael, o gênio da pintura italiana, nasceu em Urbino.

d) para isolar palavras e expressões explicativas

(a saber, por exemplo, isto é, ou melhor, aliás, além disso etc.):

EXEMPLO • Gastamos R$ 5.000,00, na reforma do apartamento, isto é, tudo o que tínhamos economizado durante anos.

• Eles viajaram para a América do Norte, aliás, para o Canadá.

e) para isolar o adjunto adverbial antecipado:

EXEMPLO • Ontem à noite, fomos todos jantar fora.

f) para isolar elementos repetidos:

EXEMPLO • O palácio, o palácio está destruído.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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• Estão todos cansados, cansados de dar dó!

g) para isolar, nas datas, o nome do lugar:

EXEMPLO • Roma, 13 de dezembro de 1995.

h) para isolar os adjuntos adverbiais:

EXEMPLO • A multidão foi, aos poucos, avançando para o palácio.

• Os candidatos serão atendidos, das sete às onze, pelo próprio gerente.

i) para isolar as orações coordenadas, exceto as introduzidas pela conjunção e:

EXEMPLO • Ele já enganou várias pessoas, logo não é digno de confiança.

• Você pode usar o meu carro, mas tome muito cuidado ao dirigir.

• Não compareci ao trabalho ontem, pois estava doente.

j) para indicar a elipse de um elemento da oração:

EXEMPLO • Foi um grande escândalo. Às vezes gritava; outras, estrebuchava como um animal.

• Não se sabe ao certo. Paulo diz que ela se suicidou, a irmã, que foi um acidente.

k) para separar o paralelismo de provérbios:

EXEMPLO • Ladrão de tostão, ladrão de milhão.

• Ouvir cantar o galo, sem saber onde.

l) após a saudação em correspondência (social e comercial):

EXEMPLO • Com muito amor,

• Respeitosamente,

m) para isolar as orações adjetivas explicativas:

EXEMPLO • Marina, que é uma criatura maldosa, "puxou o tapete" de Juliana lá no trabalho.

• Vidas Secas, que é um romance contemporâneo, foi escrito por Graciliano Ramos.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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n) para isolar orações intercaladas:

EXEMPLO • Não lhe posso garantir nada, respondi secamente.

• O filme, disse ele, é fantástico.

O ponto marca o fim de um período seja ele simples ou composto. Termina um enunciado de sentido completo. Assinala uma pausa de longa duração.

1. Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o término de uma frase declarativa de um perío-do simples ou composto.

EXEMPLO

• Desejo-lhe uma feliz viagem.

• A casa, quase sempre fechada, parecia abandonada, no entanto tudo no seu interior era conser-vado com primor.

2. O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas.

EXEMPLO

• fev. = fevereiro

• hab. = habitante

• rod. = rodovia.

O ponto que é empregado para encerrar um texto escrito recebe o nome de ponto final.

Utiliza-se o ponto-e-vírgula para assinalar uma pausa maior do que a da vírgula, praticamente uma pausa intermediária entre o ponto e a vírgula. Geralmente, emprega-se o ponto-e-vírgula para:

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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a) separar orações coordenadas que tenham certo sentido ou aquelas que já apresentam separação por vírgula:

EXEMPLO

Criança, foi uma garota sapeca; moça, era inteligente e alegre; agora, mulher madura, tornou-se uma doidivanas.

b) separar vários itens de uma enumeração:

EXEMPLO

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais;

(Constituição da República Federativa do Brasil)

Marca uma suspensão na voz ainda não concluída.

a) uma enumeração:

EXEMPLO

Rubião recordou a sua entrada no escritório do Camacho, o modo porque falou: e daí tor-nou atrás, ao próprio ato.

Estirado no gabinete, evocou a cena: o menino, o carro, os cavalos, o grito, o salto que deu, levado de um ímpeto irresistível...

(Machado de Assis)

b) uma citação:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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EXEMPLO Visto que ela nada declarasse, o marido indagou:

- Afinal, o que houve?

c) um esclarecimento:

EXEMPLO Joana conseguira enfim realizar seu desejo maior: seduzir Pedro. Não porque o amasse, mas para magoar Lucila.

Observe que os dois-pontos são também usados na introdução de exemplos, notas ou observa-ções. EXEMPLO

Parônimos são vocábulos diferentes na significação e parecidos na forma. Exemplos: ratifi-car/retificar, censo/senso, descriminar/discriminar etc.

Marca uma pausa com melodia característica, ou seja, entoação ascendente (elevação da voz).

O ponto de interrogação é empregado para indicar uma pergunta direta, ainda que esta não exija resposta:

EXEMPLO

O criado pediu licença para entrar:

- O senhor não precisa de mim?

- Não obrigado. A que horas janta-se?

- Às cinco, se o senhor não der outra ordem.

- Bem.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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- O senhor sai a passeio depois do jantar? De carro ou a cavalo?

- Não.

(José de Alencar)

Marca uma pausa e uma entoação não uniformes, e seu emprego está mais afeto à Estilística do que à Gramática.

O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de qual-quer enunciado com entonação exclamativa, que normalmente exprime admiração, surpresa, assombro, indignação etc.

EXEMPLO

- Viva o meu príncipe! Sim, senhor... Eis aqui um comedouro muito compreensível e mui-to repousante, Jacinto!

- Então janta, homem!

(Eça de Queiroz)

O ponto de exclamação é também usado com interjeições e locuções interjetivas: • Oh! • Valha-me Deus!

Marcam uma suspensão na frase com entoação descendente. O seu emprego, muitas vezes, depende do emissor, ou seja, do instante espiritual ou espirituoso do escritor.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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As reticências são empregadas para:

a) assinalar interrupção do pensamento:

EXEMPLO

- Bem; eu retiro-me, que sou prudente. Levo a consciência de que fiz o meu dever. Mas o mundo

saberá...

(Júlio Dinis)

b) indicar passos que são suprimidos de um texto:

EXEMPLO

O primeiro e crucial problema de linguística geral que Saussure focalizou dizia respeito à natureza da linguagem. Encarava-a como um sistema de signos... Considerava a lingüís-tica, portanto, com um aspecto de uma ciência mais geral, a ciência dos signos... (Mattoso Camara Jr.)

c) marcar aumento de emoção:

EXEMPLO

As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turvação do infe-liz, foram estas: "Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino... Perdi-te... Bem sabes que sorte eu queria dar-te... e morro, porque não posso, nem poderei jamais resga-tar-te. (Camilo Castelo Branco)

Aspas, travessão, parênteses e asterisco não marcam a entoação de uma frase. São apenas si-nais gráficos.

As aspas são empregadas:

a) antes e depois de citações textuais:

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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EXEMPLO Roulet afirma que "o gramático deveria descrever a língua em uso em nossa época, pois é dela que os alunos necessitam para a comunicação cotidiana".

b) para assinalar estrangeirismos, neologismos, gírias e expressões populares ou vulgares:

EXEMPLO

• O lobby para que se mantenha a autorização de importação de pneus usados no Brasil está cada vez mais descarado.

(Veja)

• Na semana passada, o senador republicano Charles Grassley apresentou um projeto de lei que pretende "deletar" para sempre dos monitores de crianças e adolescentes as cenas consideradas obscenas. (Veja)

• Popularidade no "xilindró". Preso há dois anos, o prefeito de Rio Claro tem apoio da população e quer uma delegada para primeira-dama.

(Veja)

• Com a chegada da polícia, os três suspeitos "puxaram o carro" rapidamente.

c) para realçar uma palavra ou expressão:

EXEMPLO • Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um "não" sonoro.

• Aquela "vertigem súbita" na vida financeira de Ricardo afastou-lhe os amigos dissimulados.

Emprega-se o travessão para:

a) indicar a mudança de interlocutor no diálogo:

EXEMPLO

- Que gente é aquela, seu Alberto?

- São japoneses.

- Japoneses? E... É gente como nós?

- É. O Japão é um grande país. A única diferença é que eles são amarelos.

- Mas, então não são índios?

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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(Ferreira de Castro)

b) colocar em relevo certas palavras ou expressões:

EXEMPLO

• Maria José sempre muito generosa - sem ser artificial ou piegas - a perdoou sem restrições.

• Um grupo de turistas estrangeiros - todos muito ruidosos - invadiu o saguão do hotel no qual

estávamos hospedados.

c) substituir a vírgula ou os dois pontos:

EXEMPLO

Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente selvagem, a arte é a superioridade humana - acima dos preceitos que se combatem, acima das religiões que passam, acima da ciência que se corrige; embriaga como a orgia e como o êxtase.

(Raul Pompéia)

d) ligar palavras ou grupos de palavras que formam um "conjunto" no enunciado:

EXEMPLO

• A ponte Rio-Niterói está sendo reformada.

• O triângulo Paris-Milão-Nova York está sendo ameaçado, no mundo da moda, pela ascensão dos

estilistas do Japão.

Os parênteses são empregados para:

a) destacar num texto qualquer explicação ou comentário:

EXEMPLO

Todo signo linguístico é formado de duas partes associadas e inseparáveis, isto é, o significante

(unidade formada pela sucessão de fonemas) e o significado (conceito ou ideia).

b) incluir dados informativos sobre bibliografia (autor, ano de publicação, página etc.):

EXEMPLO

Mattoso Camara (1977:91), afirma que, às vezes, os preceitos da gramática e os registros dos dicio-

nários são discutíveis: consideram erro o que já poderia ser admitido e aceitam o que poderia, de

preferência, ser posto de lado.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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c) indicar marcações cênicas numa peça de teatro:

EXEMPLO

Abelardo I - Que fim levou o americano?

João - Decerto caiu no copo de uísque!

Abelardo I - Vou salvá-lo. Até já!

(sai pela direita)

(Oswald de Andrade)

d) isolar orações intercaladas com verbos declarativos, em substituição à vírgula e aos travessões:

EXEMPLO

É afirmado (não provado) que é muito comum o recebimento de propina para que os carros apre-

endidos sejam liberados sem o recolhimento das multas.

O asterisco, sinal gráfico em forma de estrela, é um recurso empregado para:

a) remissão a uma nota no pé da página ou no fim de um capítulo de um livro:

EXEMPLO

Ao analisarmos as palavras sorveteria, sapataria, confeitaria, leiteria e muitas outras que contêm o

morfema preso* -aria e seu alomorfe -eria, chegamos à conclusão de que este afixo está ligado ao

estabelecimento comercial. Em alguns contextos, pode indicar atividades, como em: bruxaria, gri-

taria, patifaria etc.

* É o morfema que não possui significação autônoma e sempre aparece ligado a outras palavras.

b) substituição de um nome próprio que não se deseja mencionar:

EXEMPLO

O Dr.* afirmou que a causa da infecção hospitalar na Casa de Saúde Municipal está ligada à falta

de produtos adequados para assepsia.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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3 TEMA 03 TEMA 03 TEMA 03 TEMA 03 ---- O TEXTO EM CONSTRUÇ O TEXTO EM CONSTRUÇ O TEXTO EM CONSTRUÇ O TEXTO EM CONSTRUÇÃOÃOÃOÃO

3.1 09 09 09 09 –––– ESTUDO DA FRASE ESTUDO DA FRASE ESTUDO DA FRASE ESTUDO DA FRASE

ESTUDO DA FRASE: FRASE X ORAÇÃO X PERÍODO

Para iniciar nossa conversa, gostaria que você refletisse como é a sua relação com a escrita. Seria bom que as seguintes perguntas fossem respondidas:

- Você gosta de escrever? Por quê?

- Quais são os seus problemas ou dificuldades com a escrita?

- Como você resolve essas dificuldades?

- Qual é a parte mais fácil da escrita?

Pois bem, há pessoas que sabem dizer o que querem escrever, mas só conseguem dizer. Há pessoas que escrevem para o leitor adivinho. Há aqueles que acham difícil organizar as informa-ções. Há ainda os que escrevem, ma não convencem. E pensam que o texto ficou ótimo. Outros tentam impressionar com palavras “difíceis”.

É... Escrever um bom texto não é fácil. Mas tem gente que aprende a escrever melhor, BASTA QUERER.

Para dar início, efetivamente, ao estudo sobre a construção de texto, é necessário que come-cemos por entender que um texto não é um amontoado de palavras. Para que se atinja a sua finali-dade, é preciso que seus elementos relacionem-se de forma harmônica, a fim de que a mensagem seja veiculada com clareza, coerência e unidade.

Iniciemos o estudo de como construir um texto com clareza, coerência e unidade, a partir do entendimento do que venha a ser FRASE, ORAÇÃO e PERÍODO.

A compreensão desses conceitos auxiliará você no entendimento da estruturação dos pará-grafos que compõem o texto.

Então, ATENÇÃO! Fique atento às explicações.

Pode-se definir frase como qualquer palavra ou sequência de palavras, independente de sua extensão, que produza um efeito de sentido em uma dada situação de comunicação. Sendo assim, sequências linguísticas como:

“Ladrão!”

“Onde está o rapaz do qual você falou?”

“Que bom!”

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Podem ser vistas como frases, se inseridas em situações discursivas das quais extraiam seus senti-dos.

A oração, por sua vez, é qualquer enunciado que contenha verbo ou locução verbal. Assim, o número de oração de uma frase é o mesmo que o número de verbos/locuções verbais

Já o período é um conjunto de orações em uma frase.

Enquanto que na língua falada, a frase é caracterizada pela entoação, na língua escrita, a entoação é reduzida a sinais de pontuação.

Quanto aos tipos de frases, além da classificação em verbais e nominais, feita a partir de seus elementos constituintes, elas podem ser classificadas, a partir de seu sentido global.

Podem ser: interrogativas, imperativas, exclamativas e declarativas.

As frases interrogativas são aquelas em que o emissor da mensagem formula uma pergunta.

Exemplo:

As frases são imperativas quando emissor da mensagem dá uma ordem ou faz um pedido.

- Dê-me uma mãozinha!

- Faça-o sair!

Já as frases exclamativas, o emissor exterioriza um sentimento súbito: demonstra estado afetivo:

- Que dia difícil!

- Surpresa: você veio! Que bom!

As frases declarativas: o emissor constata um fato.

- Ele já chegou.

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Quanto à estrutura da frase, as frases que possuem verbo são estruturadas por dois elementos essenciais: sujeito e predicado. São as chamadas frases verbais.

O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em número e pessoa. É o "ser de quem se declara algo", "o tema do que se vai comunicar".

O predicado é a parte da frase que contém "a informação nova para o ouvinte". Ele se refere ao tema, constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito.

A oração, às vezes, é sinônimo de frase ou período (simples), quando encerra um pensamento completo e vem limitada por ponto-final, ponto-de-interrogação, ponto-de-exclamação e por reti-cências.

Veja nesse exemplo:

Um vulto cresce na escuridão. Clarissa se encolhe. É Vasco.

Acima temos três orações correspondentes a três períodos simples ou a três frases. Mas, nem sempre oração é frase:

Uma ORAÇÃO só pode ser considerada uma FRASE, se ela tiver sentido completo. Em: “convém que te apresses”, apresenta duas orações, mas uma só frase, pois somente o con-junto das duas é que traduz um pensamento completo. Se pronunciarmos a primeira oração: “Convém”, sem a segunda oração: “que te apresses” ou vice e versa a mensagem não será transmitida, porque, de forma isolada, elas não têm sentido. Por isso que devemos ficar atentos à redação de textos, para não construirmos frases com senti-do incompleto. Outra definição para oração, é a frase ou membro de frase que se organiza ao redor de um ver-bo. A oração possui sempre um verbo (ou locução verbal), que implica existência de um predicado, ao qual pode ou não estar ligado um sujeito. Assim, a oração é caracterizada pela presença de um verbo. Dessa forma: Rua!

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Que é uma frase, não é uma oração. Já em: “Quero a rosa mais linda que houver, para enfeitar a noite do meu bem.” Temos uma frase e três orações: as duas últimas orações “para enfeitar a noite de meu bem” não são frases, pois em si mesmas não satisfazem um propósito comunicativo; são, portanto, mem-bros de frase.

Quanto ao período, ele denomina a frase constituída por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido completo. O período pode ser simples ou composto.

Período simples é aquele constituído por apenas uma oração, que recebe o nome de oração abso-luta.

Exemplos de período simples: - Chove. - A existência é frágil. - Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de opini-ão. - Quero uma linda rosa.

Período composto é aquele constituído por duas ou mais orações:

“Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver.”

Cantei, dancei e depois dormi.

De posse desses conceitos, tenho certeza de que poderemos iniciar nossa conversa sobre o texto escrito. Mas, antes, vamos lembrar que a língua oral e a língua escrita requerem de nós, falan-tes e usuários da língua, comportamentos diferentes. Afina de contas, não se fala como se escreve. Não é mesmo?

ESTUDO DO PERÍODO: DEFEITOS DE CONSTRUÇÃO

No conteúdo passado, vimos que para termos uma frase, é necessário que o enunciado escri-to apresente sentido completo, que transmita uma mensagem. Caso contrário, teremos uma oração. E nem sempre uma oração tem sentido completo.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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É de conhecimento de todos que na comunicação não, usamos palavras soltas. Nós organi-zamos as palavras de modo que expressem nossos pensamentos.

Por exemplo: “De repente, Baleia apareceu”. Há nesta afirmação do autor Graciliano Ramos, uma organização de palavras de modo que indiquem um fato: o aparecimento de Baleia.

Você observou que o pensamento do autor se define em uma só afirmação.

Agora, observe: “Trepou-se na calçada, mergulhou entre as saias das mulheres, pas-sou por cima de Fabiano e chegou-se aos amigos manifestando com a língua e o rabo um vivo contentamento” (Graciliano Ramos)

Você notou que o autor, para expressar o seu pensamento – a alegria da cadelinha em reencontrar os amigos –, descreve as várias ações praticadas por ela. O pensamento do autor não se expressa em uma só afirmação.

Para descrever os movimentos de Baleia, do momento em que ela apareceu até o instante em que ela chega junto aos amigos, o autor precisou de várias afirmações, que nos mostrassem esta sucessão dos movimentos de Baleia.

“Trepou-se na calçada”, é uma ação seguida de outras: “mergulhou entre as saias das mu-lheres”, “passou por cima de Fabiano”.

Praticada estas ações, a cadelinha atinge o seu objetivo: “chegou-se aos seus amigos”, e, para expressar a sua alegria, ela pratica outra ação: “manifestando com a língua e o rabo o seu conten-tamento”.

Perceba, dessa forma, que o autor usou mais de uma oração no PERÍODO. Fez uso de um período composto. No encerramento desse período ele fez uso de um ponto, que é o sinal de pon-tuação característico para concluir um pensamento.

Mas não podemos esquecer que, na comunicação escrita, identificamos o término de um pe-ríodo não só pelo ponto, mas também por outros sinais de pontuação: a exclamação e a interroga-ção, as reticências a depender da entoação que queremos dar à mensagem.

Veja essa passagem da crônica “Ela tem alma de pomba” de Rubem Braga:

Quando o apartamento é pequeno, a família é grande, e a TV é só uma – então sua tendência é para ser um fator de rixas intestinais. - Agora você se agarra nessa porcaria de futebol... - Mas você não tem vergonha de acompanhar essa besteira de novela? - Não sou eu não, são as crianças! - Crianças, para a cama!

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No primeiro período, temos uma frase declarativa. Esta foi encerrada com um ponto. É a frase: “Quando o apartamento é pequeno, a família é grande, e a TV é só uma – então sua tendência é para ser um fator de rixas intestinais”. No segundo período, a frase foi encerrada com reticências, uma vez que o autor quis levar o lei-tor a prolongar o pensamento É a frase: “- Agora você se agarra nessa porcaria de futebol... No terceiro período, a intenção é fazer uma pergunta, por isso a interrogação: “- Mas você não tem vergonha de acompanhar essa besteira de novela?” Já no quarto período, o autor mostra a surpresa da personagem diante da pergunta que foi feita a ela: “- Não sou eu não, são as crianças!” Usou a exclamação para encerrar a frase. O mesmo sinal de pontuação foi usado no quinto período, só com sentido diferente. Aqui, a exclamação atribui o sentido de ordem, mando.“- Crianças, para a cama!”

Na construção do texto, deve-se atentar para a elaboração correta dos períodos. Devemos ter a preocupação de, no momento da construção do parágrafo, verificarmos se as frases que constitu-em este parágrafo, não apresentam defeitos em sua construção.

Veja o exemplo: Perdeu o concurso. Porque chegou atrasado.

Nessa construção, o redator colocou um ponto, onde, na verdade, deveria ter sido colocada uma vírgula. Vemos que a segunda oração ficou solta, sem sentido.

A redação correta seria:

Perdeu o concurso, porque chegou atrasado.

Temos, na construção apresentada, um exemplo de FRASE FRAGMENTADA.

A frase fragmentada viola os padrões básicos da língua. Isso ocorre porque o redator não co-nhece a estrutura gramatical da frase ou emprega uma pontuação mal feita. O mesmo ocorre nos exemplos:

a) Os operários exigem segurança. Necessária à sobrevivência. (errado)

b) Os operários exigem segurança, necessária à sobrevivência. (certo)

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Para evitar ou retificar as frases fragmentadas, deve-se efetuar: 1. Mudança na pontuação da frase. 2. Reestruturar o período para uma forma mais correta.

Veja:

“Terás sucesso na vida. Estudando com afinco”. (errado)

“Terás sucesso na vida, estudando com afinco.” (correto)

“Terás sucesso na vida, se estudares com afinco.” (correto)

“Estudando com afinco, terás sucesso na vida.” (correto)

Temos, também, a FRASE SIAMESA.

São duas frases completas, escritas como se fossem uma só. Segundo Cláudio Moreno e Pau-lo Coimbra em Curso de Redação, “... enquanto as frases fragmentadas separam o que deveriam ser separado, as frases siamesas unem o que não deveria ser unido.”

Veja:

“Demos-lhes todas as condições não quis o emprego.” (errado)

Para corrigir esses problemas, temos as seguintes propostas:

A) SEPARAR AS FRASES POR PONTUAÇÃO CORRETA:

Demos-lhe todas as condições; não quis o emprego.

B) LIGAR AS FRASES COM UMA CONJUNÇÃO ADEQUADA:

Demos-lhes todas as condições, mas não quis o emprego.

C) TRANSFORMAR UMA DAS FRASES EM ORAÇÃO SUBORDINADA.

Ainda que lhe déssemos todas as condições, não quis o emprego.

Há, ainda, a FRASE LABIRÍNTICA

É a frase prolixa, longa demais, provocando a falta de clareza. Era comum nos autores clás-sicos, o que não é mais hoje, pois, atualmente, se exige a frase curta.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Veja

"O progresso econômico de uma nação depende do desenvolvimento de seus habitantes, pois as pessoas precisam de uma preparação educacional, para que se possa chegar a um alto nível de cultura, criando uma civilização mais moderna e mais avançada no contexto do mundo con-temporâneo."

Seria melhor:

“O progresso econômico de uma nação depende do desenvolvimento de seus habitantes. As pessoas precisam de uma preparação educacional para que se possa chegar a um alto nível de cultu-ra. Isso cria uma civilização mais moderna e mais avançada no contexto do mundo contemporâneo.”

A FRASE DE LADAINHA é outra construção que deve ser evitada.

É caracterizada pelo excessivo uso do conectivo e, tornando o discurso enfadonho e sem ob-jetividade.

Veja:

À festa compareceram muitas pessoas. Veio João e Paulo e Maria e outros amigos. E todos que vieram se divertiram, e brincaram, e dançaram, e comeram, e depois foram embora.

Melhor seria:

À festa compareceram muitas pessoas. Veio João, Paulo, Maria e outros amigos. Todos que vieram se divertiram: brincaram, dançaram e comeram. Depois, foram embora.

AJUSTANDO A FRASE: PARALELISMO SINTÁTICO E SEMÂNTICO

Para você entender melhor o significado de PARALELISMO dentro de um texto, você preci-sa compreender, antes de mais nada, o que significa COESÃO e COERÊNCIA.

Vamos lá... Segundo Antônio Carlos Viana (2004), quando escrevemos um texto, por menor que ele seja até mesmo respostas de uma linha a perguntas que nos foram feitas, uma das maiores preocupações é como amarrar a oração seguinte à anterior, ou mesmo, em amarar a frase seguinte à anterior.

Para o autor, a cada oração ou frase iniciada devemos ver se ela mantém um vínculo com a anterior ou anteriores, para não perdermos o fio do pensamento. De outra forma, teremos uma sequência de orações ou frases sem sentido, sucedendo-se umas às outras sem muita lógica, sem nenhuma COERÊNCIA.

A COESÃO, entretanto não é só esse processo de olhar constantemente para trás. É também o de olhar para adiante. Um termo pode ser esclarecido somente na frase seguinte.

Se a frase inicial for:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

112

Pedro tinha um grande desejo, estou criando um movimento para adiante.

Só vamos saber de que desejo se trata na próxima frase: Ele queria ser médico.

O importante é cada enunciado estabelecer relações estreitas com os outros, a fim de tornar sólida a estrutura do texto.

Mas, não basta costurar uma frase a outra para dizer que estamos escrevendo bem. Além da COESÃO, é preciso pensar na COERÊNCIA.

Você pode escrever um texto coeso sem ser coerente.

Veja:

“Os problemas de um povo têm de ser resolvidos pelo presidente. Este deve ter ideais muito elevados. Esses ideais se concretizarão durante a vigência de seu mandato. O seu mandato deve ser respeitado por todos.”

Analise que as frases que compõem o parágrafo estão todas amarradas por um termo. Verifi-que, no segundo período, temos ESTE, retomando presidente. ESSES IDEAIS, no terceiro perío-do, retoma o termo ideais. E, no quarto período, o termo O SEU MANDATO retomando o termo mandato.

Ninguém pode dizer que falta coesão a esse parágrafo. Mas o parágrafo trata de que mes-mo? Dos problemas do povo? Do presidente? De seu mandato? Fica difícil dizer.

Sabe o porquê dessa sua dúvida? Porque faltou PARALELISMO entre um período e outro. Embora o parágrafo tenha COESÃO, não tem COERÊNCIA.

Retomar a cada frase com uma palavra anterior não significa escrever bem. A coesão não funciona sozinha. No exemplo, teríamos que, de imediato, decidir qual a palavra-chave:

PRESIDENTE ou PROBLEMAS DO POVO?

A palavra escolhida daria estabilidade ao parágrafo. Sem essa base estável, não haverá coe-rência no que se escreve; e o resultado será um amontoado de ideias.

Enquanto que a COESÃO s preocupa com a parte visível do texto, sua superfície, a COE-RÊNCIA vai mais longe, preocupa-se com o que se deduz do todo.

A COERÊNCIA exige uma concatenação perfeita entre as diversas frases, buscando sempre uma unidade de sentido.

Você não pode dizer, por exemplo, numa frase, que “o desarmamento da população pode contribuir para diminuir a violência”, e, na seguinte, escrever:

“Além disso, o desemprego tem aumentado substancialmente”. É flagrante a incoerência e-xistente entre elas.

O PARALELISMO são recursos de coesão textual. Sua função é veicular informações novas por meio de determinada estrutura sintática que se repete, fazendo o texto progredir de forma precisa.

Tomemos a seguinte frase:

Falava-se da chamada dos conservadores ao poder e da dissolução da Câmera.

O conector “e” soma duas informações vinculadas ao verbo “falar” (falava-se de). As duas informações vêm precedidas da mesma preposição (de), constituindo, assim, um paralelismo.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Os dois segmentos de frase formam, portanto, construções paralelas. Se sempre observarmos esse tipo de construção, o texto se tornará mais coeso e, consequentemente, mais claro.

A coerência também deve ser observada, pois a segunda parte da frase tem de estar não ape-nas sintaticamente, mas também semanticamente associada à primeira.

Veja a frase:

Ele não só estava atrasado para o concerto, mas também sua mulher tinha viajado para a fazenda.

Ela está correta quanto ao ponto de vista sintático, mas não do ponto de vista semântico.

Verifique que a primeira parte do paralelismo aponta em uma direção:

a) Temos a impressão que a frase seguiria a linha de raciocínio , acrescentando mais uma informa-ção, relacionada a ele.

b) Entretanto, nos foi dada outra informação, mas não direcionada a ele mesmo, como era de se esperar.

Com este exemplo, o autor chama atenção para esse tipo de construção em que a primeira parte do paralelismo aponta numa direção e a segunda em outra. A presença dos conectivos “não só”, “mas também” exige um paralelismo de ideias.

É preciso que os dois segmentos se harmonizem, formando um todo semanticamente coe-rente.

Ao escrever uma frase, temos de nos preocupar com a unidade de sua mensagem, para que nossa comunicação seja precisa.

Os dois segmentos que constituem um paralelismo devem falar de temas da mesma área de significação, sobretudo quando se trata de textos objetivos, como uma argumentação.

Já na ficção e na poesia, é muito comum encontrar casos de quebra de paralelismo.

A frase apresentada como exemplo, pode ser corrigida da seguinte forma:

“Ele estava não só atrasado para o concerto, mas também preocupado com a fila que iria en-frentar.”

Após a reelaboração, observam-se os paralelismos sintáticos e semânticos e o equilíbrio ne-cessário do enunciado.

Dentro do parágrafo, o paralelismo pode ser um fator de ordenação de noções às vezes com-plexas.

Veja esse exemplo, apresentado por Viana (2004), extraído de um livro de Filosofia, de Mari-lena Chauí:

A Filosofia não é uma ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos científicos. Não é uma religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas das cren-ças religiosas. Não é uma arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia nem psicologia, mas a interpretação e avaliação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas de poder. Não é história, mas interpretação do sentido dos acontecimentos en-quanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio tempo. (...)

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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(Convite à filosofia. São Paulo, Ática, 19994.p.17)

O parágrafo obedece à estrutura “não é (...) mas é”, o que programa de certa forma o espírito do leitor para ter bem distintos, em cada frase, os vínculos da Filosofia com outros campos do saber.

Estudar o paralelismo é estudar a coordenação. Já que a coordenação é um processo de interligação de ideias e termos de valores sintáticos i-guais, é justo – e correto – que quaisquer elementos do período coorde-nados entre si devem apresentar a mesma estrutura gramatical; logo, devem apresentar construção paralela.

Veja mais alguns exemplos de paralelismos:

a) Estávamos receosos de um governo que fosse incompetente e que fosse autoritário.

ou

Estávamos receosos de um governo incompetente e autoritário.

b) Era fundamental que eles viessem e que comprassem logo o carro.

ou

Era fundamental eles virem e comprarem logo o carro.

Veja que, na letra "a", o paralelismo tanto se perfaz com a presença das duas orações adjeti-vas, ambas introduzidas pelo pronome relativo “que”, quanto com o emprego dos adjetivos “in-competente” e “autoritário”.

Na letra “b”, o paralelismo é cumprido tanto com o emprego da conjunção integrante "que", a qual inicia ambas as orações substantivas: que eles viessem e que comprassem logo o carro, quanto com a redução de tais orações para o infinitivo flexionado "virem” e "comprarem".

Entendeu?

O que não pode é a mistura, é o descompasso. Imagine um período construído da seguinte maneira:

"A energia nuclear não somente se aplica à produção da bomba atômica ou para outros fins mi-litares, mas também pode ser empregada na medicina, nas comunicações e para outros fins".

Percebeu? Identificou os dois erros de paralelismo?

a) O primeiro está no trecho "se aplica à produção da bomba atômica ou para outros fins militares", uma vez que a preposição "para" deveria ser substituída por “a” que é a mesma preposição do termo precedente.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

115

Logo, o correto seria “se aplica à produção da bomba atômica ou a outros fins militares”.

b) O segundo erro se encontra no trecho "pode ser empregada na medicina, nas comunicações e para outros fins". Mais uma vez, quebrou-se o paralelismo da frase, porquanto a preposição "em" deveria reger igualmente todos os três termos: "medicina, comunicações e outros fins".

Portanto, a construção correta seria "pode ser empregada na medicina, nas comunicações e em outros fins".

Os casos mais comuns de paralelismos dentro da frase ocorrem:

1. com as conjunções:

a. e, nem

b. não só...mas também;

c. mas;

d. ou;

e. tanto...quanto;

f. isto é, ou seja,

g. e outras mais

Veja os exemplos:

a) Ele consegui transformar-se no comandante das Forças Armadas e no homem forte do governo.

- Não adianta tomar atitudes radicais nem fazer de conta que o problema não existe.

b) O projeto não só era aprovado, mas também posto em prática imediatamente.

c) Não estou descontente com o seu desempenho, mas com sua arrogância.

d) O governo ou se torna racional ou se destrói de vez.

e) Estou questionando tanto o seu modo de ver os problemas quanto sua forma de solucioná-los. f) Você deveria estar preocupado com seu futuro, isto é, com a sua sobrevivência.

DIFICULDADES DA LÍNGUA: GÊNERO DO SUBSTANTIVO

Você sabia que os meses de maio e junho derivam seu nome de duas lendárias deusas romanas Maius (Maia) e Junus (Juno)? Apesar de terminarem os nomes em u (latim), no (português), são femininas, o que para os falantes do português atual é bastante estranho.

Juno era protetora do casamento, do parto e, sobretudo da mu-lher em todos os aspectos da sua vida. Juno assemelha-se à deusa grega Hera, com quem foi universalmente identificada.

Juno, na mitologia romana, era a principal deusa e a contrapartida feminina de Júpiter, seu irmão e marido. Recebeu vários epítetos (nomes), de acordo com os papéis que desempenhava, como, por exemplo: Juno Iterduca, que conduzia a noiva à nova casa; Juno Lucina, a deusa do par-to, que auxiliava o nascimento das crianças; Juno Natalis, que presidia o nascimento de cada mu-

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

116

lher; e Juno Matronalis, que protegia a mulher casada. Tornou-se um anjo da guarda feminino – assim como todo homem possuía seu "gênio", toda mulher tinha sua "juno".

Em relação a Maius, segundo se crê, era a deusa Maius, esposa de Vulcano, a mãe de Mercú-rio, a qual os romanos dedicavam o mês de maio.

O feminino em português é identificado com a, enquanto o masculino é identificado com o. Isto remonta ao latim, pois os termos da primeira declinação terminavam em a e eram, na maioria, femininos. Já na segunda declinação, a maioria dos termos era do gênero masculino e terminavam em u (o em português).

Com a evolução do latim para o português, ambas as letras passaram respectivamente a ca-racterizar os gêneros feminino e masculino – noção relevante nas línguas latinas – diferente das línguas germânicas, nórdicas e demais.

Os nomes masculinos terminados em a, confundem o usuário: o guaraná passa erradamente a ser A guaraná. Também, equivocadamente: alvará, diadema, telefonema, grama, proclama e lhama são tratados como femininos. Em se tratando de gênero, a língua portuguesa é exigente e detalhista – além da terminação para formar o feminino com o acréscimo do a, pintor/pintora,

Temos:

-esa: duque/duquesa;

-ina: maestro/maestrina;

É comum o uso de palavras diferentes para formar cada gênero (mãe- pai, homem-mulher/ genro –nora galo/galinha).

Interessante é ver palavras que mudam de significado ao mudar de gênero:

a) o águia: velhaco, vigarista; a águia: a ave, pessoa perspicaz

b) o banana: palerma, imbecil; a banana: fruto

c) o cabra: homem valente; a cabra: animal

d) o caixa: funcionário; a caixa: objeto;

e) o coma: sono mórbido; a coma: cabeleira, juba;

f) o foca: jornalista principiante; a foca: animal;

g) o moral: estado de espírito; a moral: vigilância, corporação

Outras permanecem invariáveis, mudando apenas o artigo:

• o cliente – A cliente

• o paciente - A paciente

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

117

Pelo que conhecemos da natureza da língua, da sua formação histórica, na linha direta de heranças romanas e árabes, vemos que a comunidade primitiva, falante do português inicial, herdou os hábitos machistas de ambas e assim o feminino é considerado gênero menor, que sempre tem que dar a vez ao masculino como acontece na sociedade.

Afinal, cólera é palavra feminina ou masculina?

Cólera sempre foi palavra feminina. Nunca deixou de ser palavra feminina, embora alguns dicionários registrem como tanto faz.

Cólera vem do latim, cholera, bílis. É um substantivo. Feminino, segundo o Novo Dicionário de Aurélio, significa: irritação violenta.

Agastamento; ira; sanha; furor; impetuosidade; doença epidêmica, que se manifesta por grandes evacuações, fraqueza e resfriamento.

Um país pode ter uma presidente ou uma presidenta?

Para o gramático Domingos Paschoal Cegalla, presidenta "é a forma dicionarizada e correta, ao lado de presidente".

Exemplos

a) "A presidenta da Nicarágua fez um pronunciamento à nação".

b) "A presidente das Filipinas pediu o apoio do povo para o seu governo".

E nomes que têm patentes militares não têm femininos?

Têm femininos normalmente. Em Israel, onde as mulheres prestam serviço militar e fazem carreiras, existem muitas coronelas e generalas, além das sargentas e capitãs.

O que acontece é que há uma forte resistência em usar a flexão feminina nos cargos e nos postos que, durante séculos, foram ocupados exclusivamente por homens.

Quem acompanhou a ascensão da mulher no mundo político, nos últimos trinta anos, viu a lentidão com que a mídia foi adotando formas femininas que hoje já não causam estranheza: pri-meira-ministra, senadora, deputada, prefeita, vereadora etc.

Há também as palavras que só existem no gênero feminino ou no gênero masculino. Deve-mos, pois, ter muito cuidado no momento de usá-las.

Veja a relação de algumas palavras que são masculinas:

O alpiste O lança-perfume

O apêndice O magazine

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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O bóia-fria O picape

O champanha O sabiá

O diabetes O saca-rolha

O dó O suéter

O eclipse O tapa

O formicida O telefonema

O guaraná O tamanduá

E a palavra moral? Como empregá-la? Sempre no feminino? Sempre no masculino? Tanto faz? Ou depende?

Muitas dessas duplas são bem conhecidas e usadas regularmente, o que dispensa explicações:

• 'o estepe – a estepe',

• 'o coral – a coral',

• 'o capita – a capital',

• 'o cabeça – a cabeça',

• 'o rádio – rádio'

Mas há casos em que pelo menos uma das palavras que formam o par é de uso mais raro: 'o lente' (que pode ser 'aquele que lê' ou 'professor de certa graduação') e 'a lente' (que, além de feminino de 'o lente', é instrumento óptico utilizado em óculos, câmeras, microscópios etc.); 'o baliza' ('soldado que indica os movimentos que a tropa deve realizar') e 'a baliza' ('qual-quer objeto que assinale um limite').

O caso de 'moral' não foge à regra.

O moral diz respeito ao ânimo, à disposição e ao estado de espírito das pessoas:

1. "O moral da classe estava baixo depois da prova de matemática".

2. "O técnico melhorou o moral do time".

A moral corresponde à ética, moralidade, lição, conduta:

1. "Seguia a moral religiosa".

2. "Entendeu a moral da história?"

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3.2 10 10 10 10 ---- ESTUDO DO PARÁGRAFO ESTUDO DO PARÁGRAFO ESTUDO DO PARÁGRAFO ESTUDO DO PARÁGRAFO

Sua mão transpira quando você precisa escrever uma carta ou colocar suas ideias no papel?

Saiba que você não é o único, mas pode se dar muito bem se vencer essa dificuldade e a-prender que escrever bem faz toda a diferença na vida profissional.

Nem pense em me dizer que vai trabalhar na área de tecnologia, crédito, saúde. Isso não ali-via a saia justa.

Na chamada era da informação, independente, da sua área de atuação, a ordem do dia é ser capaz de comunicar-se da melhor maneira possível, inclusive na escrita. E escrever bem não é só dominar as regras da gramática não; é saber organizar as ideias também.

No conteúdo passado, trabalhamos a frase. Como construir frases coerentes e coesas para a construção da harmonia textual. Nesse encontro, vamos mais além; trabalharemos a construção do parágrafo. Para início de conversa, eu lhe pergunto:

Quando você escreve um texto, você o divide em parágrafos? Qual o critério utilizado para isso?

Por exemplo, dão-lhe um tema para redigir. Em sua redação, você constrói parágrafo?

A mudança de parágrafos implica mudança de assunto? Ou cada parágrafo apresenta um aspecto novo de abordagem do mesmo assunto?

Para aprofundar a sua reflexão ouça o texto “Política e Politicalha” de Ruy Barbosa

Política e Politicalha Ruy Barbosa A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos

indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento. Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politica-

gem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elu-cidativa.

Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente.

A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tra-dições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a polí-tica uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moral-mente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.

O texto acima foi escrito no século passado, mas nem por isso deixa de ser atual.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

120

Ruy Barbosa aborda como tema o real sentido da política e nos mostra isso confrontando com a “politicalha”. Pela leitura do texto, podemos ver que o conceito de política não cabe à realidade brasileira. É triste. Nossa administração pública é avacalhada. Basta ver as ruas, o quadro de miserabilida-de que encontramos nelas, e a Saúde? Nem precisamos falar... Já é evidente demais o caos em que se encontra. Educação? É um sujeito inexistente... Existe só para aqueles que podem pagar os valores exorbitantes dos planos de saúde. Existe sim, a ladroagem, os escândalos políticos. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Vemos o caso da CPMF, sonegação de impostos, aliás, quem disse que sonegar é crime? Vemos vários empresá-rios que estão em paraíso fiscais e nada lhes acontece.

Como foi visto no conteúdo o Ato de ler, ler não é passar os olhos. É procurar dar sentido ao texto, associá-lo à nossa realidade. É fazer uma leitura de mundo. Não podemos esquecer que Es-crever também é um ato de leitura.

Veja a construção dos parágrafos. Note que o autor, em todos eles desenvolve o mesmo te-ma. Apresenta, apenas, enfoques diversos, mostrando outros ângulos pelos quais o tema pode ser analisado.

Quando se diz que um parágrafo “é uma unidade de composição”, não se quer afirmar com isso que cada parágrafo desenvolve um tema, mas dizer que cada parágrafo desenvolve um aspec-to novo, uma ideia nova, embora o tema permaneça o mesmo em todo o texto.

Há, portanto, uma mudança de parágrafo quando há uma mudança da ideia central a ser desenvolvida. Mas as diversas ideias desenvolvidas nos vários parágrafos giram em torno do mesmo tema, do contrário o texto não teria unidade.

Por isso a divisão do texto em parágrafos exige de quem escreve que saiba organizar as ideias, de forma que o leitor possa acompanhar, sem dificuldade, o desenvolvimento da abordagem dada ao tema. Se as ideias não forem bem abordadas, o texto se tornará confuso, incoerente, ilógico.

Othon Moacir Garcia, em Comunicação em Prosa Moderna, define parágrafo “como uma unidade de composição, constituída por um ou mais de um período em que desenvolve determi-nada ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela."

Essa definição, para Terra & Nicola, não se aplica a todo tipo de parágrafo. Segundo os auto-res trata-se de um modelo de parágrafo, denominado parágrafo padrão, que, por ser cultivado por bons escritores modernos, poderá ser tomado como modelo. O modelo segue a seguinte estrutura:

tópico frasal: período que contém a ideia central do parágrafo;

desenvolvimento: explanação do tópico frasal. Corresponde a uma ampliação do tópico frasal, com apresentação de ideias secundárias que o fundamentam ou esclarecem;

conclusão: nem sempre presente, especialmente nos parágrafos mais curtos e simples, a conclusão retoma a ideia central, levando em consideração os diversos aspectos selecionados no desenvolvi-mento.

Leia o exemplo fornecido pelos autores:

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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AS QUALIDADES DO PARÁGRAFO

Pelo que foi exposto até aqui sobre período e parágrafo, você pode deduzir as qualidades do parágrafo: unidade, coerência, clareza, concisão correção.

Unidade é qualidade de um texto que tem em vista um objetivo único; que todas as partes interligadas entre si concorrem para o mesmo fim, para esclarecer o sentido e completar uma ideia preestabelecida. A unidade requer que as partes que compõem um texto sejam em número restrito para que possa abarcá-las de uma só vez. Essas partes terão afinidades de tal modo, a ponto que seja apreendido facilmente o nexo delas e que exprimam uma só impressão.

Todas as partes juntas devem formar um todo indivisível. Para obter a unidade, recomenda-se eliminar os pormenores que em nada concorrem para o objetivo do texto.

Suponha que você tenha que escrever sobre um fato ocorrido com um candidato a governa-dor.

Perder-se com minúcias biográficas ou com acontecimentos da juventude dele, em nada con-tribuirá para esclarecimento do fato recente.

Obtém-se unidade com a relação de todos os fatos indispensáveis ao esclarecimento do que se vai narrar, descrever, comentar ou dissertar.

Esse é um postulado básico.

O segundo é consequência deste: se elimina o que é desnecessário ou impede que se chegue rapidamente ao desfecho dos acontecimentos. Evitem-se as passagens bruscas de um assunto para outro. Contrapõe-se à unidade o uso de parênteses no meio de um texto, as frases intercaladas, o ajuntamento de ideias díspares em um mesmo parágrafo.

Textos que revelam unidade em geral foram submetidos à prévia e demorada reflexão.

Para se obter a unidade em um texto, procure: - usar tópico frasal explícito. - evitar o acúmulo de pormenores. - dar preferência a períodos curtos. - colocar em parágrafos diferentes ideias igualmente relevantes. - não colocar, em vários parágrafos, ideias que se relacionam com o tópico frasal. Não fragmen-tar o assunto.

Se você quer ser redundante, basta sobrecarregar a frase de adjetivos, advérbios, sinônimos e repetir palavras.

A frase moderna, no entanto caracteriza-se pela brevidade, com predominância da coordenação.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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VEJA:

“Voltei. Fui existindo. Recebi uma carta de São Paulo de pessoa que não conheço. Carta derradeira de suicida. Telefonei para São Paulo. O telefone não respondia, tocava e to-cava e soava como num apartamento em silêncio. Morreu ou não morreu. Hoje de ma-nhã telefonei do novo: continuava a não responder. Morreu, sim. Nunca esquecerei”.

(Clarice Lispector)

A coesão e a coerência já são velhas amigas, não é mesmo? Temos falado sobre elas desde que iniciamos este bloco de estudo. Mas, vamos fazer uma revisão?

Coesão e coerência são conceitos que se apresentam inter-relacionados no processo de pro-dução e compreensão do texto.

Vimos que um texto não é um amontoado de palavras, mas uma rede de palavras que se en-cadeiam semanticamente e contribuem para transmitir uma ideia. Esse encadeamento é proporcio-nado pela coesão, ou seja, uma forma de recuperar informações já apresentadas para que o texto possa progredir.

De modo genérico, é possível dizer que as palavras que permitem a coesão entre ideias são expressões de transição.

Que são transições? São ideias ou conjunções que permitem o nexo de um pensamento com outro.

A falta de transição configura um texto sem nexo, um amontoado de frases. Os pensamentos de um texto devem de tal forma estar ligados que a transição seja natural.

Dessa forma, conclua que:

Coerência é a relação entre a ideia predominante e as secundárias. É o resultado da estrutura lógica do texto. Para que haja coerência é necessário que haja coesão. Coesão é a ligação formal dos termos e ideias. Coerência é a ligação semântica. (de sentido) Ordem e transição constituem os principais fatores da coerência.

Passemos para a CLAREZA

A clareza é a expressão das ideias de maneira compreensível, de modo a se obter uma só in-terpretação daquilo que se expressou. Depende, em grande parte, da escolha das palavras e de sua combinação e distribuição na frase.

Como conseguir clareza?

Escreva com simplicidade, objetividade e propriedade.

Evite:

vocabulário rebuscado e pouco conhecido;

palavras ou expressões vagas (negócio, coisa...);

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

123

ordem inversa;

repetição da mesma idéia (pleonasmo);

períodos muito longos;

orações intercaladas;

palavras ou expressões ambíguas.

A concisão é outra qualidade do parágrafo.

Ser conciso significa que não devemos abusar das palavras para exprimir uma ideia. Deve-mos ir direto ao assunto, não ficar “enrolando”. Significa, enfim, eliminar tudo aquilo que é desne-cessário.

Temos, ainda, a correção.

A Correção consiste em escrever segundo as exigências das normas gramaticais vigentes, ob-servando- se também os critérios de aceitabilidade e adequação.

Pontuo, contudo que não existem fórmulas mágicas para redigir um bom texto. O exercício contínuo, aliado à prática da leitura de bons autores, e a reflexão é indispensável para a criação de texto de qualidade. A questão aqui não é formar escritores, como também não se dispõe de uma “varinha mágica” que lhe permita, de um momento para outro, tor-nar-se um escritor consagrado.

Neste momento, a tarefa será apontar algumas qualidades que você de-ve observar na produção de seu texto.

Tenha em mente que nenhum texto fica pronto assim que acabamos de escrever a última pa-lavra dele. Por isso:

• releia o seu texto conferindo a digitação e a ortografia, • confira a pontuação, • dê uma olhada na concordância, na regência, no vocabulário, nas estruturas das frases, na paragrafação e no que mais você se lembrar.

Seria bom que você verificasse se alguém que não o conhece conseguiria entender tudo o que você está escrevendo. Observe, então, se você está sendo claro, se o texto está adequado ao leitor (seus colegas e equipe do Redigir), se não mistura registros (formal e informal) e se está adequado aos seus objetivos.

Tudo pronto? Então, mãos à obra!

OS DEFEITOS DO PARÁGRAFO

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

124

Ao escrever, é necessário evitar tudo aquilo que possa prejudicar a compreensão do texto.

Segundo Ernani & Nicola, os defeitos mais comuns que aparecem na elaboração dos textos são:

• Ambiguidade

• Cacofonia

• Eco

• Obscuridade

• Pleonasmo

• Prolixidade

Ambiguidade (ou anfibologia) significa "duplicidade de sentido". Uma frase com duplo sentido é imprecisa, o que atenta contra a clareza, uma vez que pode levar o leitor a atribuir-lhe um sentido diferente daquele que o autor procurou lhe dar. Ocorre geralmente por má pontuação ou mau emprego de palavras ou expressões.

Alguns exemplos de frases ambíguas:

João ficou com Mariana em sua casa.

Alice saiu com sua irmã.

Nesses exemplos, a ambiguidade decorre do fato de o possessivo sua estar se referindo a mais de um elemento. Portanto, deve-se tomar muito cuidado no emprego desse pronome possessivo.

A ambiguidade pode ser evitada com a substituição por dele(s) ou dela(s). Observe alguns outros exemplos: ”Matou o tigre o caçador”.

Pela quebra da ordem direta da oração, não se sabe qual é o sujeito e qual é o objeto. Quem matou quem? O tigre matou o caçador ou o caçador matou o tigre?

Neste exemplo: “Visitamos o teatro do vilarejo, que foi fundado no século XVIII.” Na cons-trução, temos dois antecedentes que podem ser retomados pelo pronome relativo que. O que foi fundado no século XVIII: o teatro ou o vilarejo?

Nem sempre, porém, a ambiguidade é um defeito. A linguagem literária, sobretudo a da poe-sia, explora muito a duplicidade de sentido como recurso expressivo. Textos humorísticos ou irônicos se valem também da anfibologia para alcançar o humor. Por-tanto, só se deve considerar a ambiguidade um defeito quando ela atenta contra a clareza em textos técnicos/acadêmicos.

Obscuridade

Obscuridade significa "falta de clareza".

Vários motivos podem determinar a obscuridade de um texto:

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

125

•Períodos excessivamente longos

•Linguagem rebuscada

•Má pontuação

•Ausência de coesão

• Falta de coerência etc.

Um exemplo: “Encontrar a mesma ideia vertida em expressões antigas mais claras, expressiva e elegantemen-te tem-me acontecido inúmeras vezes na minha prática longa, aturada e contínua do escrever depois de considerar necessária e insuprível uma locução nova por muito tempo”. Do que trata mesmo o texto? Difícil dizer, não é?

Prolixidade: o que é ser prolixo em um texto?

Ser prolixo é utilizar mais palavras do que o necessário para exprimir uma ideia. É alongar-se. É não ir direto ao assunto, é "encher lingüiça". Prolixidade é o antônimo de concisão.

Um texto prolixo é, em consequência, um texto enfadonho.

Sempre que uma pessoa prolonga em demasia o discurso, os ouvintes tendem a não prestar mais atenção ao que ela está dizendo. O uso de expressões que só servem para prolongar o discur-so, como "por outro lado", "na minha modesta opinião", "eu acho que", tendem a não acrescentar nada à mensagem, tornando o texto prolixo.

Ernani & Nicola afirmam que além dos defeitos apontados, devem-se também evitar frases feitas e chavões, pois empobrecem o texto. Há alguns exemplos como:

• Inflação galopante.

• Vitória esmagadora.

• Caixinha de surpresas.

• Caloroso abraço.

• Nos píncaros da glória.

A Cacofonia você já conhece, vimos em vícios de linguagem. Ela também constitui um defei-to na construção do texto escrito.

Cacofonia (ou cacófato) consiste em um som desagradável obtido pela união das sílabas fi-nais de uma palavra com as iniciais de outra.

•Você notou a boca dela?

•Receberam cinco reais por cada peça.

•Estas ideias, como as concebo, são irrealizáveis

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

126

As músicas de forró exploram muito a cacofonia, criando uma ambiguidade na construção da mensagem. Constitui, nesse sentido, um recurso expressivo do texto literário, o que não é o nos-so caso.

Pleonasmo: consiste na repetição desnecessária de um conceito. Nas frases:

Eles convivem juntos há mais de dez anos.

A brisa matinal da manhã enchia-o de alegria.

Ele teve uma hemorragia de sangue.

Temos pleonasmo, uma vez que no verbo conviver já está contido o conceito de juntos (convi-ver é viver com outrem); portanto, a palavra juntos é redundante, nada acrescentando ao enunciado.

Da mesma forma, brisa matinal só pode ocorrer de manhã; hemorragia, em linguagem de-notativa, só pode ser de sangue.

Assim como a ambiguidade, nem sempre o pleonasmo constituirá um defeito de redação. A lin-guagem literária e, atualmente, a linguagem publicitária utilizam-se do pleonasmo com fins es-tilísticos, procurando conferir originalidade às mensagens. Nesse caso, o pleonasmo não deve ser considerado um defeito, mas uma qualidade, como nos exemplos: "E rir meu riso e derramar meu pranto..." (Vinícius de Moraes) "A mim, ensinou-me tudo." (Fernando Pessoa)

Eco: consiste na utilização de palavras terminadas pelo mesmo som.

Exemplo:

A decisão da eleição não causou comoção na população.

O aluno repetente mente alegremente.

Qualquer que seja a sua proposta de redação será avaliada a sua capacidade de pensar por escrito, ou seja, de relacionar ideias e expressá-las na escrita.

Obviamente, isso vale para todo e qualquer contexto: seja na vida acadêmica, seja na vida profissional. Nesse sentido, procure fugir ao máximo, dos defeitos do texto. Afinal de contas, você quer ser que tipo de profissional?

Leia esta crônica de João Ubaldo Ribeiro e reflita sobre que profissional você quer ser.

Profissionais do futuro (João Ubaldo Ribeiro) — Não é preciso mais fazer anamnest... Anamsti... Ananes... Deixa pra lá, de qualquer forma é uma

palavra difícil para um leigo entender. Não é preciso que eu lhe faça mais perguntas sobre sua doença. Os exames estão claros.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

127

— O senhor desculpe, mas esse eletro aí não está de cabeça para baixo? Eu não entendo nada disso, mas é que o logotipo da clínica está de cabeça para baixo e aí eu imaginei que o exame também está.

— De cabeça para baixo? Sim, claro, mas, como leigo, o senhor não pode saber. A melhor maneira de verificar esses exames é de cabeça para baixo, invertendo-se a perspectiva do facultativo. Enfim, é um pro-bleminha que não adianta discutir. Mas, para tranquilizar o senhor, eu vou botar como o senhor acha que eu devo. Está aí, pronto. Nenhum problema cardíaco, é óbvio, basta um olhar de relance para ver.

— Ah, então desculpe. Eu não tinha nada que me intrometer, desculpe mesmo. O senhor vai querer ainda algum exame, depois desses?

— Não, não é necessário. Por favor, o senhor pode pegar esse bloquinho na sua frente e anotar a receita que vou lhe dar?

— Eu mesmo vou fazer a receita? — Algum problema? — Bem, é que eu nunca ouvi falar nisso. Em vez de o médico escrever a receita, quem escreve é o cli-

ente? — É que o senhor deve estar acostumado com médicos mais antigos. A prática moderna é outra. Na

Faculdade de Medicina de Rávarde... — De onde? — De Rávarde, é uma universidade americana de muita reputação. Mas não tem importância, vamos

adiante. Escreva aí Xofitol... — Com "Ch" ou com "X"? — Também não vem ao caso, o farmacêutico entende. Eles entendem até letra de médico, ha-ha. — Então está certo. X, O... Não é? — Meu amigo, eu já disse que o senhor escreve como quiser, o farmacêutico entende, qualquer balco-

nista de farmácia sabe o que é Xofitol. — Bem, eu estou com um pequeno problema aqui. O senhor é médico e eu posso lhe dizer a verdade. — O senhor tem que me dizer a verdade, assim como eu também. Do contrário, o tratamento sairia

completamente errado. Vamos lá, escreva aí: Xofitol... — X, O... Bom, eu vou dizer a verdade ao senhor. A verdade é que eu não sei bem escrever, tenho cer-

ta dificuldade. — O senhor tem dificuldade em escrever? O senhor não me disse nada sobre isso. Falou que andava

estressado, porque, além de ser professor, ainda estava estudando Direito e em dificuldades para manter a família.

— Verdade, verdade. — Então como é que tem dificuldade em escrever? O senhor é professor de quê? — Letras, eu sou formado em Letras, ensino em três faculdades e mesmo assim não dá. — Mas o senhor é formado em Letras e não sabe escrever? — Bem, uma coisa ou outra, para uso pessoal. Lista de feira, lista de supermercado... Não sai certo,

mas eu e minha mulher conseguimos entender. — Sua esposa é também formada? — É. Em Letras também. Mas escreve melhor do que eu. De vez em quando, até publica umas rese-

nhas de livros. Claro que sozinha ela não seria capaz, mas o nosso vizinho Chico, o português dono do bote-co em nossa rua, dá uma mãozinha.

— Impressionante isso. Formado em Letras e não sabe escrever. Realmente, desculpe meu comentário, a qualidade de nosso ensino...

— Então, então o senhor agora conhece toda a situação. Pronto. Então, por favor, me faça a gentileza de escrever a receita. De fato, Xofitol, não é mole de escrever. Não dá para saber se é com X ou CH, se é com U ou L no final, nossa língua é muito difícil.

— O senhor tem razão. Mas eu não vou escrever a receita. — Ô, ué! O senhor também não é formado? — É, mas nunca consegui aprender a escrever direito. — E como é que o senhor conseguiu passar no vestibular, cursar a faculdade, escrever trabalhos...

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

128

— Do mesmo jeito que o senhor. A múltipla escolha é uma grande sacada para os que não tiveram a chance de aprender. E com a Internet, então... Agora é moleza, a juventude de hoje não sabe como é feliz. É só ir nos lugares certos da Internet, para pegar um trabalho sobre qualquer assunto.

— De fato. Mas é um espanto o senhor, médico jovem, mas de tanta fama, não saber escrever.

— E não é um espanto o senhor ser professor de Letras e não saber escrever? — Bem, é. Tenho que reconhecer que é. Mas também tive uma infância pobre, vim de baixo... — Eu não tive infância pobre, mas também vim de baixo, sua situação não é nada melhor que a mi-

nha. Vamos entrar num acordo. Trocamos segredo por segredo? — Como assim? — O senhor não diz a ninguém que eu não sei escrever e eu não digo a ninguém que o senhor não sa-

be escrever. Fechado? — Fechado. — Então vamos lá. Não é preciso apresentar receita para esses remédios. Vamos decorando, como nos

bons tempos da faculdade. Xofitol, Xofitol, Xofitol... Pode ser Xopitol também, o balconista entende, é para o fígado.

Depois dessa crônica, tenho certeza de que você fará da escrita um hábito.

Não é mesmo?

3.3 11 11 11 11 –––– TIPOLOGIA TEXTUAL TIPOLOGIA TEXTUAL TIPOLOGIA TEXTUAL TIPOLOGIA TEXTUAL

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Nas experiências de libertação da linguagem e do pensamento, fomos reaprendendo as nos-sas palavras, a nossa forma de criar, através das situações, palavras e textos geradores. Por este caminho, chegamos a escrever alguns fragmentos, algumas unidades significativas, alguns textos.

E como podemos agora aprofundar esta nossa conquista?

Primeiro, entendendo o que é um texto, quais suas características principais.

Se nos perguntarmos o que é um texto, abrimos um horizonte quase infinito de respostas possíveis. Talvez, a maneira mais simples de defini-lo seja dizer que: “Um texto é uma unidade de linguagem, de extensão variável, produzido a partir de um determinado contexto ou situação.”

Ulisses Infante em sua obra “Do texto ao texto”, nos dá a seguinte definição: “A palavra texto provém do latim textum, que significa “tecido, entrelaçamento”. Para o autor, há uma razão etimo-lógica para nunca esquecermos que o texto resulta da ação de tecer, de entrelaçar unidades e partes a fim de formar um todo inter-relacionado.

AS FUNÇÕES DO TEXTO

Um texto é escrito tendo em vista um objetivo e uma funcionalidade. Nesse sentido, o texto pode apresentar as funções:

• Informativa

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

129

• Engajadora ou argumentativa

• Emotiva

• Cultural

• Lúdica.

Leia este texto:

Você notou que a preocupação do emissor foi informar o leitor. Temos, então, a função

INFORMATIVA DO TEXTO.

O texto com função informativa pode se apresentar em linguagem jornalística, científica ou co-loquial.

Exemplo 01 - CONTEXTO CIENTÍFICO

“As paisagens das regiões frias e polares, encontradas principalmente ao norte da latitu-de de 60º, são ricos em cristais pontiagudas, vales profundos, lagos glaciais. Suas tempe-raturas mantêm-se abaixo de zero grau, praticamente o ano todo. Somente a floresta bo-real e a tundra aparecem como vegetação. Largos trechos são permanentemente cobertos por geleiras (calotas glaciais)”.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

130

(RODRIGUES, Adyr B. As grandes paisagens da superfície do globo. São Paulo : Nacio-nal, 1986.)

Agora, veja como a intenção do emissor modifica em relação ao conteúdo da mensagem:

“A tradição é importante. E democrática quando desempenha a sua função natural de promover a nova geração com um conhecimento das boas e más experiências do passado, isto é, a sua função de capacitá-lo a aprender às vistas dos erros passados a fim de os não repetirem.” Wilhelm Reich, em A Revolução sexual (13. ed. São Paulo: Brasiliense,1987) assim siserta.

Exemplo 02

A intenção era de convencer o leitor.

Temos um texto em que o autor almeja persuadir o leitor de sua visão, procurando engajá-lo num grupo de pessoas que passem a pensar do mesmo modo.

Temos, assim, um texto com a função engajadora ou argumentativa do texto.

FUNÇÃO CULTURAL DO TEXTO

- Entenda-se ”cultura” aqui como atividade intelectual, ilustração, instrução, especificamente “cul-tural do espírito”.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Não encontramos a função cultural do texto apenas nos textos em versos. Encontramos tam-bém nos textos em prosa. A função cultural também está presente nos textos de função argumenta-tiva, informativa, lúdica ou emotiva.

Veja o texto “Não sei”, de Cora Coralina

----------------------------------------------------

NÃO SEI... Não sei... se a vida é curta... Não sei... Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que sacia, amor que promove.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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E isso não é coisa de outro mundo: é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira e pura... enquanto durar.

O texto de Cora Coralina é um texto literário, muito embora possa apresentar não raras vezes uma versão de denúncia, engajamento, de entretenimento, substancialmente sua função é "cultural". Caracteriza-se antes de tudo, pelo trabalho artístico de linguagem.

A FUNÇÃO LÚDICA DO TEXTO

Nessa função, o emissor não tem outro objetivo se não o de distrair o leitor de maneira diver-tida. É o texto de caráter “brincalhão”, sem quaisquer outros motivos, salvo o de fazer sorrir, rir e divertir.

É um texto descomprometido com quaisquer ordens de nível político, crítico, científico, infor-mativo, engajador etc. O texto lúdico organiza-se a partir de uma estrutura que vai do insensato ao poético.

Veja isso no texto abaixo:

“ Mosquito Escreve” O mosquito pernilongo traça as pernas, faz um M, depois, treme, treme, treme, faz um O bastante oblongo, faz um S O mosquito sobe e desce. Com artes que ninguém vê, faz um Q, faz um U e faz um I. Esse mosquito

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Esquisito cruza as patas, faz um T.

E aí, se arredonda e faz outro O, mais bonito. Oh! Já não é analfabeto, esse inseto, pois sabe escrever seu nome. Mas depois vai procurando alguém que possa picar, pois escrever cansa, não é, criança? E ele está com muita fome (Cecília Meireles)

FUNÇÃO EMOTIVA

“A morte de uma filha A morte de uma filha. Lá vai o enterro já na calçada, Lá vai minha fi-lha para a caminha. Triste coveiro, larga da enxada, Ela não gosta de dormir sozinha.”

Você viu um texto de caráter emotivo, conduzido de extremos recursos sentimentais, provo-cando, pela dramaticidade da cena um estado de decodificação comovente.

A TIPOLOGIA TEXTUAL: CONSIDERAÇÕES INICIAIS E ESTUDO

DA NARRAÇÃO E DA DESCRIÇÃO

Existem basicamente três tipos de textos: descrição, narração e dissertação. De maneira sim-ples, poder-se-ia dizer que descrição é o registro de características de objetos, de pessoas, de luga-res; a narração é o relato de fatos contados por um narrador, envolvendo personagens, localizadas no tempo e no espaço; e a dissertação é a expressão de opinião a respeito de um assunto.

Na prática não é tão simples assim: esses tipos de textos se misturam, não cabendo só à dis-sertação o espaço de manifestação de opinião. Um texto descritivo ou narrativo, no fundo, nas en-trelinhas, na interpretação que faz da realidade, também está revelando uma postura diante dela. A diferença é que o texto dissertativo faz isso de maneira transparente objetiva e direta. É possível a identificação de elementos descritivos, narrativos e dissertativos num mesmo texto, com predomínio de uns ou de outros.

Vemos dessa forma, que:

- narração (base em fatos);

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

134

- descrição (base em caracterização);

- dissertação (base em argumentação).

Cada um desses tipos redacionais mantém suas peculiaridades e características.

Vejamos:

A Narração: é um relato organizado de acontecimentos reais ou imaginários.

São seus elementos constitutivos: personagens, circunstâncias, ação; o seu núcleo é o inciden-te, o episódio, e o que a distingue da descrição é a presença de personagens atuantes, que estão quase sempre em conflito.

Veja o texto “Piscina” de Fernando Sabino.

PISCINA Era uma esplêndida residência na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma

bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprome-tessem tanto a paisagem.

Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d'água na cabe-ça. De vez em quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando. Naquela manhã de sábado ele tomava seu gim-tônico no terraço, e a mulher um banho de sol, estirada de maiô à beira da piscina, quando perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.

Era um ser encardido, cujos molambos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas mulheres se olharam, separadas pela piscina.

De súbito pareceu à dona da casa que a estranha criatura se esgueirava, portão a dentro, sem tirar dela os olhos. Ergueu-se um pouco, apoiando-se no cotovelo, e viu com terror que ela se aproximava lentamente; já transpusera o gramado, atingia a piscina, agachava-se junto à borda de azulejos, sempre a olhá-la, em de-safio, e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra, iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça - e em pouco tempo sumia-se pelo portão.

Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena. Não durou mais de dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate.

Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa. (Texto de Fernando Sabino).

A narração é um tipo de texto marcado pela temporalidade. Ou seja, como seu material é o fato e a ação que envolvem personagens, a progressão temporal é essencial para o seu desenrolar: essas ações direcionam-se para um conflito que requer uma solução.

A trama que se constrói com os elementos do conflito desenvolve-se necessariamente numa linha de tempo e num determinado espaço. O fio da narrativa, a organização dos fatos no tempo e o ponto de vista pelo qual são relatados – são conduzidos por um narrador que pode participar ou não dos acontecimentos, que pode ou não estar envolvido neles. Esse aspecto é fundamental para o resultado do texto.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

135

Fique atento a algumas perguntas fundamentais da modalidade narrativa: - O que aconteceu? = Acontecimento, fato, situação - Com quem? = Personagem - Onde? Quando? Como? = Espaço, tempo, modo - Quem está contando? = Narrador

DESCRIÇÃO

A descrição é tipo de texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, de uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, devido à sua função caracterizadora. (ERNANI; NICOLA)

Assim, descrever é representar verbalmente um objeto, uma pessoa, um lugar, mediante a indicação de aspectos característicos, de pormenores individualizantes. Requer observação cuida-dosa, para tornar aquilo que vai ser descrito em um modelo inconfundível.

Não se trata de enumerar uma série de elementos, mas de captar os traços capazes de trans-mitir uma impressão autêntica. Descrever é mais que apontar, é muito mais que fotografar. É pin-tar, é criar. Por isso, impõe-se o uso de palavras específicas, exatas.

No primeiro, parágrafo do texto “Piscina”, que acabamos de ver, encontramos um trecho ti-picamente descritivo. Veja:

“Era uma esplêndida residência na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.”

A dissertação para Ernani & Nicola (1996), é um texto que se caracteriza pela defesa de uma ideia ou ponto de vista. Ou então, pelo questionamento acerca de um determinado assunto.

Para os autores, para se obter maior clareza na exposição do ponto de vista, costuma-se distribuir a matéria em três partes:

- Introdução

- Desenvolvimento

- Conclusão

Para ilustrar a explicação, veja o texto:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

136

JÁ NÃO HÁ MAIS FUTURO PARA O ANALFABETO DIGITAL

Daqui a pouco tempo, muito menos do que podemos imaginar, quem não dominar a informática não encontrará lugar no mercado de trabalho. Mesmo se estiver à procura de uma vaga como office-boy.

Nos Estados Unidos, e de maneira crescente no Brasil, qualquer profissional autônomo que se preze faz pesquisa na Internet. Mais e mais, a casa vira escritório e o contato com o mundo exterior se dá pela rede de computadores. Hoje, muitas ofertas de emprego são feitas eletronicamente. O interessado em uma nova colocação entra na Internet e consulta as páginas eletrônicas das empresas que lhe interessam. Quem não tiver acesso a um computador já reduz suas chances de emprego pela metade. Não há futuro para o analfa-beto digital. Até porque se redefine o analfabetismo: dominar os códigos das redes eletrônicas é tão impor-tante como até agora tem sido saber ler e escrever.

O aluno que decora livros e tira 10 em todas as provas está com os dias contados. Ter informação não é tão relevante como processá-la, encará-la de vários ângulos, o que exige capacidade crítica e flexibilidade para se habituar a um ritmo de mudanças jamais visto. (...)

O bom profissional nos dias atuais define-se pela capacidade de encontrar e associar informações, de trabalhar em grupo e de se comunicar com desenvoltura. Terá futuro o estudante que souber lidar com im-previstos e se adaptar rapidamente às mudanças, fazer pesquisas e interpretar os dados.

TIPOLOGIA TEXTUAL: A DISSERTAÇÃO

No texto que acabamos de ler, Já não há mais futuro para o analfabeto digital, percebemos a preocupação do emissor em defender uma ideia e procurar nos convencer acerca de seu ponto de vista em relação ao analfabeto digital.

Para tanto, o emissor apresentou-nos, com clareza, suas hipóteses, justificando-as com base em argumentos e apresentação de fatos, a fim de exemplificar e conduzir-nos para as conclusões.

Enfim, com base em reflexão e organização do raciocínio, orientou-nos, por meio da apresen-tação de fatos para sustentar seus argumentos, na direção que considerou a mais acertada.

Nesse texto, o autor envolve reflexão e raciocínio, que se apoiam no genérico, no abstrato pa-ra levar ao leitor o conhecimento pretendido.

Dessa forma, dissertar é apresentar ideias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos. Neste momento temos a oportunidade de discutir, argumentar e defender o que pen-samos por meio da fundamentação, justificativa, explicação, persuasão e de provas.

Segundo Othon Moacir Garcia, a elaboração de textos dissertativos requer domínio da moda-lidade escrita da língua, desde a questão ortográfica ao uso de um vocabulário preciso e de cons-truções sintáticas organizadas, além de conhecimento do assunto que se vai abordar e posição crí-tica (pessoal) diante desse assunto.

PARA ESCREVER UM TEXTO DISSERTATIVO

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

137

A elaboração de um texto dissertativo escrito, segundo Ulisses Infante (1998), deve ser pro-duto de um plano de trabalho, do qual fazem parte as informações e conceitos que vamos manipu-lar, a posição crítica que queremos manifestar, o perfil da pessoa ou grupo a que nos dirigimos e o tipo de reação que nosso texto de despertar.

Em outras palavras: nosso texto dissertativo deve ser produzido de forma a satisfazer os ob-jetivos que nos propusemos a alcançar.

O autor afirma que existe uma forma já consagrada para a organização desse tipo de texto. Consiste em estruturarmos o material de que dispomos em três momentos principais: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. E assim apresenta: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Veja a como o autor trabalha a estrutura do texto dissertativo:

Introdução

É o ponto de partida do texto. Por isso, deve apresentar de maneira clara o assunto a ser tra-tado e também delimitar as questões que serão abordadas.

Dessa forma, a introdução encaminha o leitor, colocando-lhe a orientação adotada para o de-senvolvimento do texto. Atua, assim, como uma espécie de roteiro.

Ao confeccionar a introdução de seu texto, você pode utilizar os recursos que despertem o interesse do leitor: formular uma tese, que deverá ser discutida e provada pelo texto; lançar uma afirmação surpreendente, que o corpo do texto tratará de justificar ou de refutar; propor uma per-gunta, cuja resposta será dada no desenvolvimento e explicitada na conclusão.

Desenvolvimento

É a parte do texto em que as ideias, conceitos, informações, argumentos de que você dispõe serão desenvolvidos, de forma organizada e criteriosa.

O desenvolvimento deve nascer da introdução. Ou seja, na introdução, apontam-se as ques-tões relativas ao assunto que será abordado; no desenvolvimento, as questões, apresentadas na introdução, serão desenvolvidas, avaliadas, sempre por partes, de forma gradual e progressiva. A introdução já anuncia o desenvolvimento, que retoma ampliando e desdobrando, o que foi coloca-do de forma sucinta.

O conteúdo do desenvolvimento pode ser organizado de diferentes maneiras, de acordo com as propostas do texto e as informações disponíveis.

Conclusão

É a parte final do texto, um resumo forte e sucinto de tudo aquilo que já foi dito. Além desse resumo, que retoma e condensa o conteúdo anterior do texto, a conclusão deve expor claramente uma avaliação final do assunto discutido. Nessa parte, também se pode fazer propostas de ação (que não devem adquirir ares de profecia).

Para ilustrar a explicação feita por Ulisses Infante, veja como o autor construiu o texto “Já não há mais futuro para o analfabeto digital”.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

138

INTRODUÇÃO

Apresentação da Ideia Central

No primeiro parágrafo, lança-se a ideia de “quem não dominar a informática não encontrará lugar no mercado de trabalho”. Essa pode ser considerada a ideia central do texto.

DESENVOLVIMENTO

Defesa da idéia central por meio de argumentos que a comprovem (exemplos, comparações e outras informações).

Vamos ao primeiro argumento:

Nos Estados Unidos, e de maneira crescente no Brasil, qualquer profissional autônomo que se preze faz pesquisa na Internet. Mais e mais, a casa vira escritório e o contato com o mundo exte-rior se dá pela rede de computadores. Hoje, muitas ofertas de emprego são feitas eletronicamente. O interessado em uma nova colocação entra na Internet e consulta as páginas eletrônicas das em-presas que lhe interessam. Quem não tiver acesso a um computador já reduz suas chances de em-prego pela metade.

No parágrafo, procura-se firmar a ideia central através de alguns exemplos:

a) Nos Estados Unidos, os profissionais autônomos fazem pesquisa na Internet.

b) Nos dias atuais, muitas ofertas de emprego são feitas eletronicamente.

Agora, passemos para segundo argumento:

Não há futuro para o analfabeto digital. Até porque se redefine o analfabetismo: dominar os códigos das redes eletrônicas é tão importante como até agora tem sido saber ler e escrever.

No parágrafo, a importância de saber ler e escrever e dominar os códigos eletrônicos é trata-da como equivalente, procurando evidenciar, mais uma vez, que “não há futuro para o analfabeto digital.”

Terceiro argumento:

O aluno que decora livros e tira 10 em todas as provas está com os dias contados. Ter infor-mação não é tão relevante como processá-la, encará-la de vários ângulos, o que exige capacidade crítica e flexibilidade para se habituar a um ritmo de mudanças jamais visto. (...)

Nesse parágrafo, acrescenta-se que “ter informação não é tão relevante como processá-la”. Essa posição parte do exemplo da provável extinção do tipo de aluno que decora livros sem, no entanto, analisá-los criticamente.

CONCLUSÃO

Reafirmação da ideia central ou apresentação de sugestões ou soluções para o assunto em discssão.

Passemos para esta etapa de construção do texto.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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O bom profissional nos dias atuais define-se pela capacidade de encontrar e associar infor-mações, de trabalhar em grupo e de se comunicar com desenvoltura. Terá futuro o estudante que souber lidar com imprevistos e se adaptar rapidamente às mudanças, fazer pesquisas e interpretar os dados.

Nesse último parágrafo, é traçado o perfil de como devem ser o profissional e o estudante do futuro, mostrando assim, a necessidade de se combater o “analfabetismo digital”.

Você notou que cada uma das partes que compõe o texto dissertativo se relaciona com as outras, preparando-as ou retomando-as.

É um procedimento que já conhecemos e investigamos quando estudamos os conceitos de repetição, progressão, não-contradição e relação: o texto se tece acrescentando àquilo que já foi dito o que vai dizer. Também, no caso do texto dissertativo, a coesão é fruto da observação desses qua-tro elementos.

Há, ao lado disso, algumas formas linguísticas muito importantes para a construção do “es-queleto” do corpo dissertativo:

• Conjunções e locuções conjuntivas (principalmente as coordenativas).

• Estruturas frasais que permitem avaliar informações (como “é necessário...”; “é fundamen-tal...”; é inegável...” e outras, advérbio avaliativos (“felizmente...”; “infelizmente...”; “ine-gavelmente...”). Esses elementos e outros mais serão analisados na prática de leitura e de criação de texto.

Na produção do seu texto, observe se as ideias estão bem articuladas, com sequência lógica, com coerência argumentativa; siga as orientações de articulação de parágrafos a partir do des-membramento do parágrafo inicial.

- Não se esqueça de verificar também os aspectos relativos à forma. - Lembre que só se aprende a escrever lendo e escrevendo. - O único caminho para conseguir a redação de bons textos é ter como prática diária o exercício de redação. - Faça pequenos textos, mesmo que sejam paráfrase. - O importante é ter intimidade com a atividade escrita.

Pelo que foi apresentado, conclua que:

• A tarefa de elaborar um texto não pode iniciar-se pelo ato de escrever.

• Ante o tema proposto, devemos refletir sobre ele, analisá-lo com a profundidade que lhe for possível.

• Ainda mentalmente, devemos realizar nossas opções ante o tema, escolher as perspectivas pelas quais ele será abordado em nosso texto.

• Essa reflexão sobre o tema e o planejamento do que constará do nosso texto devem proce-der ao ato de escrever propriamente dito.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

140

Assim sendo o ato de redigir deve ser precedido do ato de compor, de tal forma que, ao começar a escrever, nós já tenhamos as ideias pensadas e organizadas. Assim, poderemos, então, nos dedicar, exclusivamente à busca de uma linguagem escrita que comunique bem a mensagem que queremos transmitir sobre o tema, sobre algumas questões no momento de escrever, a fim de conseguirmos maior clareza na transmissão das nossas ideias.

Dessa forma, para compor-se um bom texto, é necessário:

- Ter o que dizer – é o conteúdo.

- E saber organizar o que se tem a dizer dentro de uma estrutura.

O autor que tivemos como referência, pontua que embora genéricas, as observações apresen-tadas contribuem para a sua produção de textos dissertativos na medida em que sistematizam ori-entações sempre válidas. Cabe a você ampliá-las, torná-las práticas, questioná-las e superá-las. Pense nisso!

3.4 12 12 12 12 ---- O TEXTO NO PAPEL O TEXTO NO PAPEL O TEXTO NO PAPEL O TEXTO NO PAPEL

O TRABALHO DE COMPOSIÇÃO DO TEXTO: O LEVANTAMENTO DAS IDEIAS

Você sabia que a atividade de escrever assemelha-se à atividade de catar feijão? Sim, a catar feijão. E quem nos diz isso é João Cabral de Melo e Neto. Vamos ler o poema?

Catar feijão

João Cabral de Melo Neto

1. Catar feijão se limita com escrever:

joga-se os grãos na água do alguidar

e as palavras na folha de papel;

e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiará no papel,

água congelada, por chumbo seu verbo:

pois para catar esse feijão, soprar nele,

e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2. Ora, nesse catar feijão entra um risco:

o de que entre os grãos pesados entre

um grão qualquer, pedra ou indigesto,

um grão imastigável, de quebrar dente.

Certo não, quando ao catar palavras:

a pedra dá à frase seu grão mais vivo:

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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obstrui a leitura fluviante, flutual,

açula a atenção, isca-a como o risco

No poema, João Cabral de Melo Neto revela sua concepção do ato criador. Tem como objeto a construção do poema, toma como referência um ato do cotidiano em que também o escolher e o combinar são necessários.

O jogar as palavras é a primeira etapa criadora: a inspiração. Essa (inspiração) leva o artista a colocar no papel suas impressões iniciais. Porém, o verdadeiro artista não fica aí: ele, assim como o catador de feijões, seleciona os melhores grãos, a fim de construir uma poesia que fale, não pelo ex-cesso, mas pela contenção, desfazendo- se de tudo o que for leve e oco, palha e eco. O que já foi dito não interessa repetição. Sua paixão e consciência buscam a originalidade da forma e do conteúdo.

Você observou como o poeta faz uso do verbo catar? Esse verbo assume o sentido de escolher. Porque catar feijão é, como catar palavras, recolher, retirar o que não é feijão ou não é feijão bom, o que não é palavra adequada ou não é palavra boa.

O rigor de escolha é mesmo exemplar. Conquanto haja o propósito de conceituar o ato de es-crever, o poeta usa o verbo limitar para estabelecer proximidades (e não igualdade) entre compa-rante e comparado: "Catar feijão se limita com escrever", e não é o mesmo que catar feijão é como escrever.

Com o poema, quero chamar a sua atenção para a necessidade da seleção e organização das ideias, antes da atividade de escrever o texto.

Quando lhe é dada uma proposta de redação de texto, qualquer que seja o texto, a primeira atividade é refletir sobre o que vai escrever. Para tanto, deverá elencar idéias e informações que dispõe para desenvolvê-lo. (Em um trabalho feito fora de sala de aula, tal levantamento de ideias equivale à fase de levantamento da bibliografia, de dados, em sínteses, equivale à fase de pesqui-sa).

Nessa etapa de planejamento, não se preocupe com a organização nem com o julgamento das ideias (se são boas ou não para desenvolver o tema). O essencial é você descobrir as informações de que dispõe para compor o texto.

O levantamento das ideias é importante para você: - Refletir sobre o tema e analisá-lo mais profundamente, antes de começar a escrever. - Identificar as várias perspectivas pelas quais o tema pode ser abordado. - Utilizar melhor os conhecimentos de que dispõe.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

142

Quantas vezes o texto que escrevemos expressa uma análise superficial do tema, não por fal-ta de conhecimento nosso, mas por falta de uma reflexão mais demorada sobre o tema? Quantas vezes começamos a escrever e, já no meio da redação, nos lembramos de que tal ou qual aspecto do tema poderia ser abordado e não foi?

É comum, em avaliação de Redação, ou de prova discussiva, o aluno vir solicitar outra folha para redação, porque se esqueceu de focalizar determinada ideia ou porque descobriu, já no fim de seu texto, que a melhor abordagem do tema não era a que estava dando.

O levantamento das ideias evita que tais fatos ocorram, pois nos leva a refletir sobre o tema em seus múltiplos aspectos e nos faz pensar sobre as informações de que dispomos.

Mas, como saber escolher as melhores ideias?

Bem, antes da seleção das ideias que farão parte do texto, é necessário que você delimite o campo do texto e fixe os objetivos.

PLANEJAMENTO DO TEXTO

Olhe a sua volta. Observe que fora do ambiente escolar, a realidade, adquiriu uma multipli-cidade tão grande de aspectos que a tendência do atual conhecimento científico é a especialização.

Há muito tempo, o homem superou o saber enciclopédico da Idade Média, e a amplitude dos conhecimentos acumulados fez surgir as diversas ciências, cada uma com o seu campo que bem delimitado de estudo, o seu objeto próprio.

O mais comum, hoje, é encontrarmos obras que focalizam aspectos bem determinados da re-alidade ou obras que, por possuírem uma abordagem mais ampla, são elaboradas por vários espe-cialistas.

Conclua, portanto, que a delimitação do campo de estudo e análise, a definição de um ob-jetivo específico são atitudes comuns ao conhecimento científico e se expressam, de forma evi-dente, quando cada ciência define o seu objeto próprio de estudo.

Confronte tudo isso com o seu caso em situação de prova. Exige-se de você a elaboração de um texto, em um tempo determinado, com número de linhas definido, (Isso você já nota pela folha de redação que lhe dão.), e sem consulta a obras ou a algum colega.

Alie essas circunstâncias às características da situação de prova ao que é comum na atual ati-tude científica e reflita comigo:

- O levantamento de ideias nos dá uma visão da extensão do tema.

Ora pelas limitações internas (os limites dos conhecimentos de cada um de nós), ora pelas limitações externas (tempo, espaço, trabalho individual) se torna impossível abordar o tema em toda a sua extensão.

Dessa constatação, se deduz que é preciso definir um caminho para o texto – um objeto pró-prio. Em outros termos, é necessário delimitar bem os aspectos a bordar e definir, com clareza, um objetivo para o texto. Ou seja, a postura que seu texto assumirá face ao tema proposto.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Delimitar o campo é definir o (s) aspecto (s) particular (es) do tema a ser (em) focado (s) no tex-to. Fixar o objetivo é definir a postura de seu texto face ao tema proposto, face aos aspectos delimi-tados.

No texto, você vai assumir uma postura mais imparcial de quem analisa, constata, observa, relata, descreve; ou um posicionamento de contestação, de quem denuncia, protesta, ou ainda de quem quer afirmar, demonstrar uma determinada tese sobre o tema, de quem narra os fatos dos quais participa ou descreve impressões pessoais em face de um acontecimento, uma pessoa ou uma paisagem.

É evidente que, em uma situação de prova, a delimitação e o objetivo podem ser definidos mentalmente. Mas, por enquanto, estamos aprendendo um método de organização de ideias.

Vamos agora colocar a mão na massa:

Vou precisar muito de sua atenção e disposição na elaboração dessa atividade. Mas, antes, lembre-se:

Delimitar o campo é definir o (s) aspecto (s) que será (ão) abordado (s) em seu texto.

Para redigir a delimitação, a melhor forma é construir uma frase nominal curta, mas clara o bastante para que seu pensamento se organize em torno desse ponto de convergência. Por exem-plo: foi lhe dado o tema:

“Televisão”

1. Sua atitude será perguntar:

- o que sobre a televisão, eu vou abordar?

Eu poderia responder:

- a história da TV;

- a TV e o cinema;

- as novelas de TV;

- a TV e a realidade.

Verifique que delimitei o tema, fazendo uso de frases nominais curtas.

2. Agora, fixar o objetivo, ou seja, definir a postura que, no texto, você assumirá face ao tema.

Ao escrever um texto, você tem que ter definido o que pretende desenvolver. O objetivo de-ve ser expresso em um período curto. Em termos de organização de pensamento, fica mais fácil iniciar a redação do objetivo utilizando verbo no infinitivo: analisar, constatar, observar, denunci-ar, protestar, demonstrar, afirmar, definir, relatar, caracterizar etc.

3. Suponhamos que você vá tratar, por exemplo, das favelas.

Inicialmente, você vai delimitar o tema, isso é o foco a partir do qual será desenvolvido o texto.

Observe algumas delimitações possíveis:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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I. - A formação das favelas

II. - A violência presente nas favelas

III. - A ação policial nas favelas

IV. - A ausência de uma política habitacional para solucionar o problema das favelas etc.

4. Delimitado o tema, você deve pensar o que pretende com o texto.

Digamos que você selecionou a seguinte delimitação: “A formação das favelas”. Com base nessa delimitação, você pode desenvolver seu texto de acordo com um dos seguintes objetivos:

1) Descrever (mostrar, apresentar) como ocorreu a formação das favelas no Brasil.

2) Analisar (enumerar, discutir) a formação das favelas no Brasil.

Observe que deve haver um ajustamento perfeito entre a delimitação e o objetivo. O objetivo é a escolha de uma postura que se vai assumir ante o campo já delimitado.

Deve haver, também, uma coerência entre o seu objetivo e a linguagem que vais ser utilizada no texto.

Vamos a uma atividade: 1. O tema é: desemprego A delimitação: a angústia de um desempregado ante as buscas frustradas de emprego e as exi-gências do sustento familiar. E o objetivo: relatar, através de um personagem, as tentativas frustradas de encontrar um em-prego e sua angústia ao ver as necessidades da mulher e dos filhos.

1. A linguagem e a argumentação de quem apenas “analisa” não se identificam com as assumi-das por quem “denuncia”. 2. A linguagem de quem é simples narrador ou espectador não é a mesma linguagem de quem participa dos fatos e/ou se impressiona o que vai descrever.

2. O tema agora é: liberdade pessoal e integração no grupo Como delimitação: - Liberdade individual como condição indispensável para uma integração consciente no grupo. Para o objetivo: - Afirmar a liberdade individual como condição indispensável para que o ho-mem se integre solidariamente no grupo, sem anulação do próprio eu.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

145

A fim de expressar-se claramente na escrita, acostume-se a planejar o texto (esquematizar o que pretende escrever) e reescrevê-lo até que as ideias estejam perfeitamente claras e compreensí-veis. Pergunte a si mesmo, colocando-se no lugar do leitor, se o texto está claro e se traduz seu pensamento.

A ESTRUTURA DO TEXTO NARRATIVO: COMO NARRAR

Sabemos que a narração é o relato de um fato ou de uma sucessão de fatos. Já vimos as dife-renças entre descrição e narração: a descrição nos dá um retrato da realidade, transmitindo-nos imagens que caracterizam e individualizam o objeto ou o ser descrito. A narração é mais dinâmica. Relata-nos:

- Ou uma sucessão dos acontecimentos diversos que compõem o fato narrado (por exemplo: a inauguração de uma estrada).

- Ou a sucessão de fatos que formam a história que nos é contada, por exemplo, a história narra-da em um romance.

O modo narrativo, que pode aparecer combinado com qualquer tipo de texto (pode-se ter, por exemplo, um texto publicitário narrativo ou um texto humorístico narrativo), se caracteriza fundamentalmente pela evolução cronológica de ações. Essas ações são vistas sob determinada lógica e constroem uma história por meio de um narrador.

O narrador, aquele que narra o fato, pode participar ou não da história. Quando o narrador participa da história, ele é um narrador personagem ou em 1ª pessoa. Quando não participa da história, sendo mero espectador, trata-se de um narrador observador ou 3ª pessoa.

Foco narrativo é o ângulo por meio do qual o narrador conta a histó-ria. Os mais comuns são dois: foco narrativo em primeira pessoa e em terceira pessoa. Eles acontecem assim: a) Foco narrativo em primeira pessoa – a história é narrada por um personagem que participa dos acontecimentos, observando, sentindo, vivendo a experiência narrada. b) Foco narrativo em terceira pessoa – a história é contada do ângulo de um narrador que não participa dos acontecimentos, apenas observa, reflete e mostra, de forma distanciada, a experiência vivida pelo(s) personagem(ns).

O bom autor toma partido das duas opções de posicionamento para o narrador, a fim de criar uma história mais ou menos parcial, mais ou menos comprometida.

Leia o texto abaixo:

Na escuridão miserável

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

146

Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me obser-vava, enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com os olhos grandes e parados como os de um bicho, a me espiar, através do vidro da janela, junto ao meio-fio. Eram de uma negrinha mirrada, raquíti-ca, um fiapo de gente encostado ao poste como um animalzinho, não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:

- O que foi, minha filha? – perguntei, naturalmente, pensando tratar-se de esmola.

- Nada não senhor – respondeu-me, a medo, um fio de voz infantil - O que é que você está me olhando aí? - Nada não senhor – repetiu – Tou esperando o ônibus ... - Onde é que você mora? - Na praia do Pinto. - Vou para aquele lado. Quer uma carona? Ela vacilou, intimidada. Insisti, abrindo a porta: - Entra aí, que eu te levo. - Acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco, e enquanto o carro ganhava velocidade, ia olhando duro para frente, não ousava fazer o menor movimento. Tentei puxar conversa: - Como é seu nome? - Teresa - Quantos anos você tem, Teresa? - Dez - E o que você estava fazendo ali, tão longe de casa? - A casa da minha patroa é ali. - Patroa? Que Patroa? Pela resposta, pude entender que trabalhava na casa de uma família no Jardim Botânico: lavava roupa, var-ria a casa, servia à mesa. Entrava às sete da manhã, saia às oito da noite. - Hoje sai mais cedo. Foi “Jantarado”. - Você já jantou? - Não. Eu almocei. - Você não almoça todo dia? - Quando tem comida pra levar, eu almoço: mamãe faz um embrulho de comida pra mim. - E quando não tem? - Quando não tem, não tem – e ela parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Na penumbra do carro, suas feições de criança, esquálidas, encardidas de pobreza, podiam ser as de uma velha. Eu não me continha mais de aflição, pensando nos meus filhos bem nutridos – um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês: - Mas não te dão comida lá? – perguntei revoltado. - Quando eu peço, eles dão. Mas descontam no ordenado, mamãe disse para eu não pedir. - E quanto é que você ganha? Diminui a marcha, assombrado, quase parei o carro. Ela mencionara uma importância ridícula, uma ninhari-a, não mais que alguns trocados. Meu impulso era voltar, bater à porta de tal mulher e meter-lhe a mão na cara. - Como é que você foi parar na casa dessa ... foi para nessa casa? – perguntei ainda, enquanto o carro, ao fim de uma rua do Leblon, se aproximava das vielas da praia do Pinto. Ela começou a falar: - Eu estava na feira com mamãe e então a madame pediu para eu carregar as compras e aí noutro dia pediu a mamãe para eu trabalhar na casa dela, então mamãe deixou porque mamãe não pode deixar os filhos todos sozinhos e lá em casa é sete meninos fora os dois grandes que já são soldados pode para que é aqui moço, obrigado. Mal detive o carro, ela abriu a porta e saltou, saiu correndo, perdeu-se logo na escuridão miserável da praia do Pinto.

(Fernando Sabino)

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Depois de ler (aconselho reler), observe bem: há uma sequência de fatos que vão sendo cos-turados uns aos outros e que formam o que chamamos de "todo" narrativo. O enredo vai se fazen-do aos poucos, passo a passo, alinhavado nos acontecimentos, entretecido de pequenas partes que convergem para um só núcleo, amparado no tempo e em seu fluxo de continuidade.

O texto lido seguiu aos seguintes comandos:

- Quem? Personagens - Quê? Atos, enredo - Quando? A época em que ocorreram os acontecimentos - Onde? O lugar da ocorrência. É o ambiente - Como? O modo como se desenvolveram os acontecimentos - Por quê? A causa dos acontecimentos. - Por isso? A(s) consequências dos acontecimentos (geralmente pro-voca determinado desfecho).

NARRAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA

Narração objetiva – o narrador informa apenas os fatos, sem se deixar envolver emocional-mente com o que está noticiado. É de cunho impessoal e direto.

Narração subjetiva - leva-se em conta as emoções e os sentimentos envolvidos na história. São ressaltados os efeitos psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nos personagens.

Uma narrativa pode trazer falas de personagens entremeadas aos acontecimentos, faz-se uso dos chamados discursos: direto, indireto ou indireto livre.

No discurso direto, o narrador transcreve as palavras da própria personagem. Para tanto, re-comenda-se o uso de algumas notações gráficas que marquem tais falas: travessão, dois pontos, aspas. Mas modernamente alguns autores não fazem uso desses recursos.

O discurso indireto apresenta as palavras das personagens por meio do narrador que repro-duz uma síntese do que ouviu, podendo suprimir ou modificar o que achar necessário. A estrutu-ração desse discurso não carece de marcações gráficas especiais, uma vez que sempre é o narrador quem detém a palavra.

Assim, imagine a seguinte conversa:

- Mãe, o que é "inconstitucionalissimamente"?

- Significa alguma coisa que não está de acordo com a constituição, com a lei do país.

- Ah, bom! Eu pensei que fosse um palavrão!

- Quando tu cresceres, verás que existem palavrões pequenos.

No discurso indireto, o texto ficaria assim:

O filho perguntou para sua mãe o que era "inconstitucionalissimamente".

A mãe respondeu que era algo que não estava de acordo com a constituição, com a lei do país. Ali-viado, o menino disse que havia pensado que isso fosse um palavrão.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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A mãe preveniu-o de que, quando ele crescesse, veria que existiam palavrões pequenos.

Quanto ao discurso indireto livre, é usado como uma estrutura bastante informal de colocar frases soltas, sem identificação de quem a proferiu, em meio ao texto.

Trazem, muitas vezes, um pensamento do personagem ou do narrador, um juízo de valor ou opinião, um questionamento referente a algo mencionado no texto ou algo parecido.

Esse tipo de discurso é o mais usado atualmente, sobretudo em crônicas de jornal, histórias infantis e pequenos contos. É aquele em que o narrador reconstitui o que ouviu ou leu por conta própria, servindo-se de orações absolutas ou coordenadas sindéticas e assindéticas.

Exemplo:

Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cavalos, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvari-ando”. (Graciliano Ramos)

Há alguns tipos de narrativa: 1- Uma piada; 2- Uma notícia de jornal; 4- Uma história em quadrinhos; 5- Uma letra de música; 6- Um poema; 7- Um relatório; 8- Uma fábula; 9- Uma receita; 10- Uma novela, romance, conto.

A ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO: COMO ARGUMENTAR

Se nada do que escrevemos ou dizemos é neutro, e se nossas intenções se expressam, no mais das vezes, por meio de argumentos, é forçoso admitir que a argumentação é uma constante em nossa vida, seja no discurso do publicitário, do sindicalista, do político, do poeta, do pai ou da criança.

Assim, é fácil entender por que a Retórica, ou "arte da argumentação", vem sendo objeto de interesse há milênios. Ainda na Antiguidade Clássica, Aristóteles propunha a primeira sistemati-zação das estratégias retóricas. No Renascimento, se afirmava que "a arte de argumentar consiste em provar algo que parece duvidoso, usando como recurso algo considerado verdadeiro", suge-rindo falar diferentemente, de acordo com as diferenças entre os ouvintes, em termos de idade, educação, posição, hábitos.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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No passado ou na atualidade, argumentar significa provocar a adesão do ouvinte às teses que apresentamos a seu julgamento, significa seduzi-lo com recursos de efeito lógico ou psicológi-co que se produzem no encontro dos mundos de referência do locutor e do ouvinte, por meio de condições de verossimilhança e aceitabilidade.

Veja como isso acontece, lendo o texto:

“O último discurso de um grande imperador”

Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito mar-char a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humani-dade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um a-pelo eloquente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores su-cumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos senti-mentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou gru-po de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e be-la... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse po-der, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

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É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o po-vo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.

Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!

A partir desse texto, vimos que argumentar é uma operação delicada, já que é necessário construir ideias e não uma realidade.

A argumentação compreende um quadro constituído de um tema, assunto sobre o qual haja dúvidas quanto à legitimidade; um argumentador, que desenvolve um raciocínio a respeito do tema, e um receptor, a quem se dirigem os argumentos, com finalidade de que venha a participar da mesma opinião ou certeza do argumentador.

Entre os elementos da lógica argumentativa, há alguns básicos: - a asserção inicial (premissa); - a asserção final (conclusão); - e uma ou várias asserções intermediárias, que permitem passar de uma a outra (inferência, prova e argumento).

A asserção inicial (premissa) apresenta como tipos mais comuns: - afirmações factuais, que podem ter valor de verdade verificado pela confrontação com os fatos que apresentam; - julgamentos, que são inferências deduzidas dos fatos, de menor confiança que as informações factuais; - testemunhos de autoridade, de responsabilidade de pessoas supos-tamente especializadas no assunto.

Na argumentação, podem-se usar dois processos, ou linha de raciocínio: a indução e a dedução.

O raciocínio indutivo parte de premissas para inferir uma conclusão. Ou seja, parte do parti-cular para chegar ao geral.

As premissas são observações da natureza e de fatos do mundo.

Há uma pretensão neste tipo de raciocínio: a conclusão de um particular fundamentado nu-ma proposição geral, mas como a proposição geral é fruto da observação, ela não é geral.

Exemplo: Após uma extensa pesquisa sobre gansos, um cientista constatou numa população de 10 mi-lhões de gansos, que todos eles eram brancos. Desta constatação, ele fez a seguinte proposição: “Todos os gansos são brancos.” Um colega deste cientista telefonou-lhe dizendo que enviou para ele um ganso.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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- O cientista que propôs a teoria tem certeza de que o ganso que irá receber é branco?

- A resposta é não. Sua teoria está fundamentada em 10 milhões de gansos e não em todos os gansos.

Portanto, um caso particular. 10 milhões de gansos, não pode fundamentar outro caso parti-cular um ganso.

Exemplo 2: Olhando bem para sua pele, uma mulher de 70 anos percebeu muitas rugas e concluiu, para seu, conforto, que todo homem e toda mulher nesta faixa etária têm muitas rugas.

Conclusão

Um argumento que tem como forma um raciocínio indutivo não é lógico. O raciocínio dedutivo conclui um particular de um geral. O geral é sempre uma hipótese.

Quando se diz que:

'Todo homem é mortal.

Sócrates é homem.

Logo, Sócrates é mortal.

Está se dizendo:

'Se todo homem é mortal.

Se Sócrates é homem.

Logo, Sócrates é mortal.'

Agora podemos entender melhor o argumento dedutivo e lógico sobre os gansos:

'Se todos os gansos são brancos.

E se irei receber um ganso enviado por um colega.

Logo, este ganso é branco.'

Pelo visto, até agora podemos chegar à seguinte conclusão: O raciocínio dedutivo partindo de uma hipótese geral não tem refe-rência com o mundo real, mas tem referência com o que o cientista, filósofo ou pensador imagina sobre o mundo. Assim, o raciocínio dedutivo parte do geral para chegar ao particu-lar. Já o raciocínio indutivo parte de uma observação feita do mun-do, de uma realidade, de um evento, de um fato. Para concluir, a fonte de verdade para um dedutivista é a lógica, para um indutivista é a experiência.

O PROCESSO DA ARGUMENTAÇÃO: FORMAS DE RACIOCÍNIOS

A argumentação é um recurso que tem como propósito convencer alguém, para que esse te-nha a opinião ou o comportamento alterado.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

152

Sempre que argumentamos, temos o intuito de convencer alguém a pensar como nós.

No momento da construção textual, os argumentos são essenciais, esses serão as provas que apresentaremos, com o propósito de defender nossa ideia e convencer o leitor de que essa é a correta.

Sempre que queremos defender uma ideia, procuramos pessoas ‘consagradas’, que pensam como nós acerca do tema em evidência.

Apresentamos no corpo de nosso texto a menção de uma informação extraída de outra fonte. Isso se chama citação.

A citação pode ser apresentada assim:

Assim parece ser porque, para Piaget, “toda moral consiste num sistema de regras e a es-sência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire e por essas regras” (Piaget, 1994, p.11).

A essência da moral é o respeito às regras. A capacidade intelectual de compreender que a regra expressa uma racionalidade em si mesma equilibrada. O trecho citado deve estar de acordo com as ideias do texto, assim tal estratégia poderá funcionar bem.

Temos, ainda, argumentação por comprovação

A sustentação da argumentação se dará a partir das informações apresentadas que acompa-nham a argumentação. É o uso de dados, estatísticas, percentuais. Esse recurso é explorado quan-do o objetivo é contestar um ponto de vista equivocado.

Veja o texto publicado na Folha de São Paulo.

Nesse tipo de citação o autor precisa de dados que demonstrem sua tese.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Vamos agora ver o que você aprendeu?

Vamos lá!

Quando observamos um fato, tiramos algumas conclusões (inferências), a partir de dados que se encontravam implícitos, ou seja, contidos nele.

Imaginemos, por exemplo, que você leia no jornal a seguinte manchete:

“Brasil importa automóveis”.

Apresento três inferências que podemos fazer dessa leitura:

1. O Brasil não está produzindo automóveis em número suficiente.

2. Os carros importados são de melhor qualidade.

3. Os carros importados são mais baratos.

Vamos agora, fazer uma situação oposta. Apresenta-se uma inferência e se vai imaginar um fato que a possa ter gerado. Vamos lá?

1. O verão está terminando.

Fato: Comércio faz liquidação de trajes de banho.

2. Precisamos mudar as leis que protegem os menores.

Fato: Pivetes assaltam e matam no Centro de São Paulo.

3. Vai ser mais fácil comprar casa própria.

Fato: Caixa Econômica Federal vai financiar casa própria.

Uma das formas mais simples de argumentar consiste de duas frases: a primeira é uma premissa e a segunda uma conclusão.

Veja:

1. A água deve está saindo da chaleira.

2. A água deve estar fervendo.

1. A inflação preocupa o governo.

2. O governo vai tentar novo plano contra a inflação.

Às vezes, uma conclusão é fruto de uma série de premissas.

Em:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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As provas de múltipla escolha devem ser proibidas.

Podemos ter as premissas:

1ª premissa: A prova de primeira escolha estimula a decoreba.

2ª premissa: As provas de múltipla escolha estimulam a pesca.

EXEMPLO 2

Devemos comprar carros nacionais.

1ª premissa - Os carros nacionais têm assistência técnica mais acessível.

2ª premissa - A venda de carros nacionais gera mais riquezas para o país.

Sempre que passamos de uma premissa diretamente a uma conclusão, assumimos como verdadei-ra alguma ideia intermediária.

Por exemplo:

É melhor ultrapassar aquele carro; o motorista é uma mulher.

Temos como verdade que:

- As mulheres são más motoristas.

Veja as ideias assumidas como verdadeiras nestes raciocínios.

O Ibope indicou Collor como ganhador; estamos perdidos!

“O Ibope faz pesquisas sérias e corretas”

Meu exercício tem a mesma resposta do livro; acertei mais um!

O livro tem respostas certas.

O sinal do colégio está tocando; estou atrasado!

O sinal do colégio toca na hora certa.

Vimos que as inferências são de dois tipos:

1. Indutivas (do particular para o geral)

2. Dedutivas (do geral para o particular)

Há, ainda, a analogia. Uma forma de raciocínio, da mesma forma que é a indução e a de-dução. A Analogia é um tipo de raciocínio feito por meio de comparações. Partimos de semelhan-

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

155

ças que observamos entre duas ou mais coisas de espécies diferentes para obtermos novas seme-lhanças entre elas.

As conclusões a que chegamos são mais ou menos prováveis quanto maior ou menor for as semelhanças observadas.

Exemplo 1

Considerando as semelhanças anatômicas entre os homens e os animais, inferimos que a reação de certos medicamentos é idêntica em ambos.

Daí usarmos os animais como cobaias para experimentar medicamentos destinados aos seres humanos.

Exemplo 2

Ao observarmos que Joaquim apresenta os mesmos sintomas de Maria, concluímos que ele tem a mesma doença.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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4 TEMA 04 TEMA 04 TEMA 04 TEMA 04 ---- O TEXTO EM CONSTRUÇ O TEXTO EM CONSTRUÇ O TEXTO EM CONSTRUÇ O TEXTO EM CONSTRUÇÃO IIÃO IIÃO IIÃO II

4.1 13 13 13 13 –––– O PRONOME NA CONSTR O PRONOME NA CONSTR O PRONOME NA CONSTR O PRONOME NA CONSTRUÇÃO DO TEXTOUÇÃO DO TEXTOUÇÃO DO TEXTOUÇÃO DO TEXTO

O EMPREGO DO PRONOME PESSOAL RETO E OBLÍQUO

Iniciemos nosso estudo analisando o que há de errado com a frase:

“E era para mim estudar, professora?”

O que ocorre nessa frase, gramaticalmente?

Como há um verbo (estudar) exigindo sujeito (alguém vai estudar), deveremos colocar um pronome que funcione como sujeito, um pronome pessoal do caso reto - eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas.

Os pronomes oblíquos tônicos - mim, ti, si, ele, ela, nós, vós, eles, elas (pronomes usados a-penas com preposição) - funcionam como complementos.

Com muita frequência ouvimos essas construções. Ou ainda frases como “Eu lhe amo tanto!” ou “Eu o obedeci cegamente”. Todas erradas!

Qual o problema delas?

É o uso dos pronomes pessoais, objeto de nosso estudo de hoje.

Comecemos, então.

Aliás, este é outro problema: a combinação de verbos com os pronomes pessoais do caso o-blíquo átono: como saber se o certo é comecemos-os, comecemos-los ou comecemo-los?

Então, comecemo-los já:

Assim não fique na dúvida na hora de usar EU ou MIM.

Só se usam os pronomes eu e tu quando funcionarem como sujeito de um verbo.

Perceba, então, que o segredo é este: analisar sintaticamente a oração; caso o pronome fun-cione como sujeito, use “eu” ou “tu”; senão, use “mim” ou “ti”.

Por exemplo:

“Era para eu sair mais cedo hoje”

Veja que o sujeito de “sair” é o pronome “eu”. Já na frase

“Ela trouxe o livro para mim”, o pronome “mim” não funciona como sujeito.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Agora preste atenção a esta frase: “Foi difícil para mim conseguir o emprego.”

Parece estar errada, não é mesmo? Mas está certa, pois o pronome não funciona como sujeito, como à primeira vista possa parecer. Na verdade, “conseguir o emprego” é uma oração que fun-ciona como sujeito do verbo “ser”.

Observe a inversão: “Conseguir o emprego foi difícil para mim.”

Percebeu como o pronome não funciona como sujeito? Isso com os verbos: custar, faltar, res-tar, bastar ou com os verbo de ligação com predicativo do sujeito:

1. “Custou para mim aceitar a situação.”

2. “Falta para mim conversar com três candidatos.”

3. “Resta para mim explicar duas teorias.”

4. “Basta para mim ter você ao meu lado.”

5. “É necessário para mim aguardar ordens superiores.”

Com nós ou conosco?

Quando, à frente do pronome, surgir uma palavra ou uma expressão que indique quem so-mos nós ou quem sois vós, tem que usar “com nós” ou “com vós”.

As palavras que surgem são “mesmos, todos, próprios, alguns, muitos, um numeral, um subs-tantivo ou uma oração subordinada adjetiva”. EXEMPLO 1. “Eles conversaram com nós todos.” 2. “Ela esteve com nós que trabalhamos lá.” 3. “A paz esteja com vós mesmos.”

Caso não haja qualquer palavra ou expressão que indique quem somos nós ou quem sois vós, usa-se “conosco” ou “convosco”.

EXEMPLO

“A paz esteja convosco”.

E o emprego de se, si, consigo?

Esses pronomes são reflexivos. Mostram que o sujeito faz e sofre a ação. Portanto, não po-dem ser usados com outra finalidade, a não ser para indicar reflexibilidade ou reciprocidade.

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EXEMPLO

1. “Ela só pensa em si mesma.”

2. “Arrume-se, pois estamos atrasados.”

3. “Ao vir para cá, traga consigo o disco.”

4. “Nunca vi duas pessoas se amarem tanto.”

Cuidado com o uso de “consigo”.

Não confunda-o com “contigo”, que é um pronome de segunda pessoa do singular.

EXEMPLO

“Ao vires para cá, traze contigo o disco”.

Cuidado também com o emprego de: o, a, os, as ou lhe, lhes.

Os pronomes “o, a, os, as” funcionam como objeto direto, ou seja, completa o sentido de um verbo transitivo direto. Já os pronomes “lhe, lhes” funcionam como objeto indireto, ou seja, completa o sentido de ver-bos transitivos indiretos - aqueles que exigem o uso obrigatório de uma preposição. EXEMPLO “Lembra-se daquele carro que lhe mostrei? Comprei-o ontem.”

Usei “... lhe mostrei”, pois “quem mostra, mostra algo a alguém.” “Comprei-o ...”, pois “quem compra, compra algo.”

Há também de tomar cuidado com a combinação do verbo com esses pronomes.

Os pronomes oblíquos o, a, os, as, quando associados a verbos terminados em -r, -s, -z, as-sumem as formas lo, la, los, las, caindo as consoantes.

EXEMPLO

Carlos quer convencer seu amigo a fazer uma viagem.

Carlos quer convencê-lo a fazer uma viagem.

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Observação: 1. Quando associados a verbos terminados em -am, -em, -ão, -õe assumem as formas: no, na, nos, nas. EXEMPLO - Fizeram um relatório. - Fizeram-no. 2. Os pronomes “o, a, os, as” serão usados após verbos terminados em vogal.

É por isso que no começo escrevi “comecemo-los”, pois o verbo “começar” é transitivo direto; “comecemos” é terminado em “s”, por isso, “os” transfor-ma-se em “los” e o “s” desaparece.

Os pronomes pessoais substituem as três pessoas gramaticais, também chamadas de pessoas do discurso:

Eu, nós Primeira pessoa do discurso, ou seja, o falante

Tu e vós Segunda pessoa do discurso, ou seja, o ouvinte

Ele, ela, eles, elas Terceira pessoa do discurso, ou seja, a pessoa de quem se fala

Frequentemente, pessoas têm dúvida em relação ao emprego dos pronomes pessoais em construções em que aparecem a preposição entre. É preciso, de início, lembrarmo-nos de que, em princípio, os pronomes pessoais retos só podem ser sujeitos de oração e não, complementos.

Assim, em frases como “Isso fica entre mim e ele”, não caberia eu no lugar de “mim”, pois esse pronome figuraria no predicativo “entre eu e ele”. Em outras palavras, um pronome reto (eu) estaria exercendo a função de complemento.

Nesta altura, você pode justamente questionar:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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- “Ué, mas o pronome ELE também não é pronome pessoal reto? Como pode figurar como com-plemento e o pronome EU não pode?”.

É verdade! Concordo com você. Mas isso depende do uso que os falantes cultos fazem e eles querem assim. São eles, os gramáticos, quem define o que é certo e errado dentro da língua. E con-tra eles não podemos ir.

Dessa forma, os pronomes pessoais EU e TU quando aparecem regidos pela preposição "en-tre" devem figurar na forma oblíqua – como em "Não há dificuldade entre mim e ti" – e não, na forma reta, como em "Não há dificuldade entre eu e tu.

Os demais pronomes são empregados na forma reta, apesar de figurarem como complemen-tos: "Isto fica entre mim e ele" e "Está tudo bem entre nós e eles".

Por questão de eufonia, é preferível o pronome MIM ser utilizado em primeiro lugar.

O mesmo vale quando temos pronomes de tratamento: "Esse assunto fica entre mim e o se-nhor", “Diga que aquilo se passou entre mim e você” e “Isso fica entre nós e Vossa Excelência”.

EMPREGO DOS PRONOMES DE TRATAMENTO

O pronome de tratamento faz parte do grupo dos pronomes pessoais. Vimos que estes po-dem ser: retos; oblíquos e de tratamento.

Pronomes de tratamento são aqueles que substituem a terceira pessoa gramatical. Alguns são usados em tratamento cerimonioso e outros em situações de intimidade. Conheça alguns:

Você (v.) tratamento familiar

Senhor (Sr.), Senhora (Sra.) tratamento de respeito

Senhorita (Srta.) moças solteiras

Vossa Senhoria (V.Sa.) para pessoa de cerimônia

Vossa Excelência (V.Exa) para altas autoridades

Vossa Reverendíssima (V. Revma.) para sacerdotes

Vossa Eminência (V.Ema.) para cardeais

Vossa Santidade (V.S.) para o Papa

Vossa Majestade (V.M.) para reis e rainhas

Vossa Majestade Imperial (V.M.I.) para imperadores

Vossa Alteza (V.A.) para príncipes, princesas e duques

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Você Sabia? Os pronomes e os verbos ligados aos pronomes de tratamento devem estar na 3ª pessoa. EXEMPLO - Vossa Excelência já terminou a audiência? (No fragmento, está - se dirigindo a pergunta à autoridade). Quando apenas nos referimos a essas pessoas, sem que estejamos nos dirigindo a elas, o pro-nome "vossa" se transforma no possessivo "sua". EXEMPLO - Sua Excelência já terminou a audiência? (No fragmento, não se está dirigindo a pergunta à autoridade, mas a uma terceira pessoa do dis-curso). Menciono, ainda, a forma Vossa Magnificência, empregada por força da tradição, em comunica-ções dirigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o vocativo: Magnífico Reitor.

EMPREGO DOS PRONOMES DEMONSTRATIVOS

Os pronomes demonstrativos demonstram a posição de um elemento qualquer em relação às pessoas do discurso, situando-as no espaço, no tempo ou no próprio discurso.

Eles se apresentam em formas variáveis (gênero e número) e não-variáveis.

PRONOMES DEMONSTRATIVOS

Primeira pessoa Este, estes, esta, estas, isto

Segunda pessoa Esse, esses, essa, essas, isso

Terceira pessoa Aquele, aqueles, aquela, aquelas, aquilo

A escolha dos pronomes demonstrativos determina a localização da coisa demonstrada em relação ao espaço, ao tempo, ou a localização no texto.

LOCALIZAÇÃO NO ESPAÇO

Este, quando se demonstra algo que está próximo de quem fala (1.ª pessoa). Esse, quando a se demonstra algo que está próximo à pessoa com quem se fala (2.ª pessoa). Aquele, quando se demonstra algo que está longe dos interlocutores.

LOCALIZAÇÃO NO TEMPO

Este, para tempo presente, “Este ano de 2006”. Esse, para um passado recente ou futuro pró-ximo, “Nesse ano de 2005, o Brasil viveu uma grande crise política”. “Nesse ano de 2007, pretendo arrumar minha vida”. Aquele, para passado remoto e futuro distante: “Naquele ano de 1964, o

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Brasil iniciava a mais negra página de sua História”. “Naquele ano de 2050, a terra era invadida por ETs”.

LOCALIZAÇÃO NO TEXTO

Este, quando o termo a que se refere ainda não tiver sido citado: “Este é o meu ideal: con-quistar o mundo”. Esse, quando o termo a que se refere já foi citado no texto: “Conquistar o mun-do: esse é meu ideal”.

Quando cantava "Que país é este?", Renato Russo naturalmente se referia ao seu próprio país (algo como "que país é este em que eu vivo?"). A ideia de lugar expressa por tais pronomes pode ser reforçada por advérbios: "isto aqui", "isso aí", "aquilo lá". Tais advérbios são igualmente referenciais, já que sua significação depende da situação de emprego. Observe que eles também se relacionam às pessoas do discurso. "Aqui" é o lugar onde se encontra a pessoa que fala (primeira pessoa do discurso); "aí" é o lugar do in-terlocutor (segunda pessoa do discurso) e "lá" é o lugar da terceira pessoa (ele).

COLOCAÇÃO PRONOMINAL

Próclise

É a colocação dos pronomes oblíquos átonos antes do verbo. Usa-se a próclise, quando houver palavras atrativas. São elas:

1. Palavras de sentido negativo.

Ela nem se incomodou com meus problemas.

2. Advérbios.

Aqui se tem sossego, para trabalhar.

3. Pronomes Indefinidos.

Alguém me telefonou?

4. Pronomes Interrogativos.

Que me acontecerá agora?

5. Pronomes Relativos.

A pessoa que me telefonou não se identificou.

6. Pronomes Demonstrativos.

Isso me comoveu deveras.

7. Conjunções Subordinativas.

Escrevia os nomes, conforme me lembrava deles.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Mesóclise

É a colocação pronominal no meio do verbo. A mesóclise é usada:

- Quando o verbo estiver no futuro do presente ou futuro do pretérito, contanto que esses verbos não estejam precedidos de palavras que exijam a próclise.

EXEMPLOS

1. Realizar- se-á, na próxima semana, um grande evento em prol da paz no mundo.

2. Não fossem os meus compromissos, acompanhar- te-ia nessa viagem.

Ênclise É a colocação pronominal depois do verbo. A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem possíveis:

1. Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo.

Quando eu avisar, silenciem- se todos.

2. Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal.

Não era minha intenção machucar- te.

3. Quando o verbo iniciar a oração.

Vou- me embora agora mesmo.

4. Quando houver pausa antes do verbo.

Se eu ganho na loteria, mudo- me hoje mesmo.

5. Quando o verbo estiver no gerúndio.

Recusou a proposta fazendo- se de desentendida.

COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS LOCUÇÕES VERBAIS

1. Quando o verbo principal for constituído por um particípio:

O pronome oblíquo virá depois do verbo auxiliar.

Haviam-me convidado para a festa.

Se, antes da locução verbal, houver palavra atrativa, o pronome oblíquo ficará antes do verbo auxi-liar.

Não me haviam convidado para a festa.

2. Quando o verbo principal for constituído por um infinitivo ou um gerúndio:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Se não houver palavra atrativa, o pronome oblíquo virá depois do verbo auxiliar ou depois do ver-bo principal.

1. Devo esclarecer-lhe o ocorrido.

2. Devo- lhe esclarecer o ocorrido.

1. Estavam chamando-me pelo alto-falante.

2. Estavam- me chamando pelo alto-falante.

Se houver palavra atrativa, o pronome poderá ser colocado antes do verbo auxiliar ou de-pois do verbo principal.

1. Não posso esclarecer-lhe o ocorrido.

2. Não lhe posso esclarecer o ocorrido.

1. Não estavam chamando-me.

2. Não me estavam chamando.

4.2 14 14 14 14 –––– GÊNEROS TE GÊNEROS TE GÊNEROS TE GÊNEROS TEXTUAISXTUAISXTUAISXTUAIS

A REDAÇÃO TÉCNICA: CARACTERÍSTICAS

Quantas vezes você não foi solicitado para escrever uma correspondência e se deparou com a seguinte pergunta:

• Como vou começar?

• Qual é a organização que darei ao texto no papel?

• Que tipo de linguagem irei usar?

Às vezes para formalizar uma reclamação ou para solicitar algum serviço do banco, somos convidados a escrever uma correspondência. Para tanto, devemos estar sempre preparados para essa situação. Seja uma carta, um aviso, um requerimento, uma declaração, um relatório ou um e-mail, devemos ter em mente que escrever é comunicar-se.

Escrevemos para comunicar alguma coisa a alguém. E o que significa comunicar-se?

Pela própria etimologia da palavra, significa tornar comum uma informação, uma ideia, um projeto. Se redigirmos um e-mail, um relatório, um memorando ou qualquer tipo de texto quere-mos que outras pessoas compreendam e assimilem nossa mensagem; o que estamos querendo di-zer.

E como proceder para que essa meta se concretize?

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Inicialmente, todo texto precisa ser claro e objetivo, isto é, a mensagem tem que ser facilmen-te assimilada pelo leitor e deve ir direto ao ponto, sem assuntos periféricos que dificultam a com-preensão.

Ao escrever não precisamos ficar obcecados em demonstrar erudição e cultura gramatical. Se quisermos escrever bem, de modo eficaz, devemos direcionar a nossa preocupação para três funções básicas de uma redação: 1. Produzir uma questão ou resposta 2. Tornar o pensamento comum e persuadir 3. Convencer

Documentos mal-escritos causam:

• Os leitores desmotivados, o que gera a famosa troca oral de informações. A partir disso, deve-mos nos lembrar que quem conta um conto, acrescenta um ponto.

• Falta de credibilidade, pois passa a impressão que se passa é que “querem nos enrolar”. • Transmissores de mensagens deformadas, o que gera retrabalho, conflito interno e falta de confi-ança do interlocutor.

A eficácia de um texto é adquirida quando a resposta a ele é rápida e correta. Para obter a me-lhor resposta, o texto empresarial moderno deve ser persuasivo, convincente. Na redação de correspondências, devemos atentar para as características do texto técnico. Clareza, frases cur-tas, vocabulário simples e formal, objetividade e gramática correta.

O texto técnico é orientado pelos princípios básicos da clareza, da correção, da coerência, da objetividade e da ordenação lógica. Para o professor Othon M. Garcia (1985, p.386), esse tipo de produção textual constitui “toda composição que deixe em segundo plano o feitio artístico da fra-se, preocupando-se de preferência com a objetividade, a eficácia e a exatidão da comunicação”.

O TEXTO TÉCNICO

O texto técnico é orientado pelos princípios básicos da clareza, da correção, da coerência, da objetividade e da ordenação lógica. Para o professor Othon M. GARCIA (1985, p.386), esse tipo de produção textual constitui “toda composição que deixe em segundo plano o feitio artístico da fra-se, preocupando-se de preferência com a objetividade, a eficácia e a exatidão da comunicação”.

É possível dizer, então, que não existe propriamente uma linguagem técnica, nem um mo-delo de redação pronto para ser utilizado. O que existe é um modo de utilização da língua que dará ao texto seu caráter técnico, adequado aos procedimentos burocráticos e aos expedientes administrativos.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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AS QUALIDADES DA REDAÇÃO TÉCNICA

A redação técnica deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão culto de lingua-gem, clareza, concisão, formalidade, uniformidade. Para atingir essas características, as comunica-ções oficiais devem permitir uma única interpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exige o uso de certo nível de linguagem.

Vejamos a análise pormenorizada de determinadas qualidades:

Impessoalidade

A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela escrita. Para que haja comuni-cação, são necessários:

• Alguém que comunique;

• Algo a ser comunicado;

• Alguém que receba essa comunicação.

No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço Público; o que se comunica é sempre algum assunto relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatário dessa comu-nicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro órgão público do Executivo ou dos ou-tros Poderes.

O tratamento impessoal que deve ser dado aos assuntos que constam das comunicações oficiais decorre:

• Da ausência de impressões individuais de quem comunica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por chefe de determinada Seção, é sempre em nome do serviço público que é feita a comunicação. Obtém-se, assim, uma desejável padronização, que permite que comu-nicações elaboradas em diferentes setores da Administração guardem entre si certa uniformidade.

• Da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com duas possibilidades: ela pode ser di-rigida a um cidadão, sempre concebido como público, ou a outro órgão público. Nos dois casos, temos um destinatário concebido de forma homogênea e impessoal.

• Do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o universo temático das comunicações ofi-ciais se restringe a questões que dizem respeito ao interesse público, é natural que não caiba qual-quer tom particular ou pessoal. (BRASIL, 2002, p.4-5.)

Objetividade

A objetividade consiste no uso de termos adequados para que o pensamento seja expresso e en-tendido imediatamente pelo receptor. Para ser objetivo, é necessário que se coloque uma ideia após a outra, hierarquizando as informações. Palavras desnecessárias, supérfluas, adjetivação excessiva, re-petição de termos e ideias devem ser eliminadas, pois comprometem a eficácia do documento.

Nas comunicações técnicas e burocráticas, em que a linguagem é utilizada com objetivos pragmáticos, é necessário observar que “as informações expostas devem descrever, nar-rar e explicar, e não convencer. A persuasão deve advir dos argumentos utilizados e não de jogos de palavras, adjetivação impressionista, ou malabarismos silogísticos, falácias”. (MEDEIROS e ANDRADE,1977, p.73.)

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• Os relatórios têm objetivo predeterminado e específico. • Deve-se redigi-los sem preocupação literário-estilística. • Deve-se evitar o jargão técnico. • O receptor é o elemento mais importante dos relatórios. • Os relatórios preocupam-se com a brevidade, são exatos, precisos. • A linguagem dos relatórios é objetiva e clara e sua pontuação é racional.

Correção ortográfica

Na redação oficial, particularmente, devem ser evitados os solecismos (erros de sintaxe), as deformações (erros na forma das palavras), os cruzamentos (troca de palavras parecidas), os bar-barismos (emprego abusivo de palavras e expressões estrangeiras), os arcaísmos (emprego de pa-lavras e expressões antiquadas) e os neologismos (palavras novas, cujo sentido é ainda instável).

• Preocupe-se com a clareza da mensagem. • Evite períodos longos. • Use a ordem direta para facilitar o entendimento. • A correção gramatical é importante, mas não deve sobrepor à criatividade. A preocupação com a linguagem deve ser a última etapa. • Sempre que possível, aproveite as variantes linguísticas realmente expressivas. • Use a linguagem de seu receptor, pois o mais importante num trabalho de redação é a comu-nicação.

Concisão

O texto conciso é aquele que transmite o máximo de informações com o mínimo de palavras. O esforço de concisão atende ao princípio da economia lingüística, ou seja, ausência de palavras supérfluas, redundâncias, passagens que nada acrescentam ao que já foi dito. Conciso não quer dizer lacônico, mas denso. Estilo denso é aquele em que cada palavra, expressão ou frase está car-regada de sentido. Assim, não se sacrificam idéias e considerações importantes, tendo em mente destacar o essencial e o necessário.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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• Empregue frases curtas, mas sem monotonia. De vez em quando, use orações subordinadas. • Evite acumular idéias em um só parágrafo. • Não use frases que dificultem a clareza do pensamento. • Sempre que possível, exercite-se na recomposição de textos: deixe passar algum tempo de-pois de ter escrito, reflita, descanse suas ideias e, a seguir, retome o que escreveu, procurando melhorar a forma.

Clareza

O texto claro possibilita a imediata compreensão pelo leitor. Algumas características devem ser observadas para que se atinja a clareza (BRASIL, 1991, p.12-13):

• A impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações que poderia decorrer de um trata-mento personalista dado ao texto.

• O uso do padrão culto da linguagem, em princípio, de entendimento geral é, por definição, aves-so a vocábulos de circulação restrita, como a gíria e o jargão.

• A formalidade e a padronização, que possibilitam a imprescindível uniformidade dos textos.

• A concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguísticos que nada lhe acrescentam.

• Procurar a palavra exata, aquela capaz de transmitir a totalidade da ideia. • Refazer frases depois de tê-las escrito. Exercitar-se até encontrar a forma precisa. • Usar a subordinação quando quiser realçar ideias. • Usar somente o adjetivo capaz de caracterizar um fato ou objeto. O adjetivo trivial desvirtua e enfraquece

Precisão

Na redação técnica, as palavras têm, geralmente, conotações próprias. A substituição de uma palavra por outra, aleatoriamente, pode comprometer o entendimento da mensagem. Devem ser evitadas, nesse tipo de redação, palavras e expressões vagas. O problema surge quando, no mo-mento da redação, tem-se a ideia, mas não a palavra exata para a sua expressão. Toda ideia exige palavra própria. Portanto, na série de sinônimos, pode-se escolher a palavra ou grupo de palavras que melhor se ajuste àquilo que desejamos e precisamos exprimir.

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• Escrever parágrafos curtos e sem muitos pormenores. • Para ser bem claro, usar orações coordenadas. • Escrever somente sobre aquilo que se conhece bem. • Ajustar as mensagens ao receptor. • O conteúdo deve ser significativo (mensagem clara). (MEDEIROS, 1996, p.200.)

Harmonia

Harmonia é o ajustamento das palavras na frase e das frases no período, combinadas e dis-postas harmonicamente, fazendo com que o leitor se predisponha favoravelmente à proposta apre-sentada. São prejudiciais à harmonia: os cacófatos (palavras obscenas ou inconvenientes resultan-tes do encontro de sílabas finais com sílabas iniciais), as assonâncias (semelhança ou igualdade de sons na frase ou no período) e os ecos (repetição sucessiva de finais idênticos).

• Evite as repetições dos auxiliares ter, ser, haver, permanecer. • Procure a palavra adequada para evitar locuções verbais. Em vez de estava disposto, melhor seria resolvera; em vez de tinha proporcionado, melhor seria proporcionou; em vez de estava com receio, por que não receava? • Evite as expressões: efetivamente, certamente, além disso, tanto mais, então, por um lado, por outro lado, definitivamente, a dizer a verdade, a verdade é a seguinte, pois, por sua parte, por seu lado... • Para cada ideia use um parágrafo. • Não esconda demasiadamente o sujeito de suas frases. Para comunicar com eficiência, exi-gem-se clareza e simplicidade. • Evite palavras complexas e jargão técnico. (MEDEIROS, 1996, p.39.)

Polidez

A polidez consiste no emprego de expressões respeitosas e tratamento apropriado àqueles com os quais nos relacionamos no trato administrativo. As expressões vulgares provocam mal-estar, assim como os tratamentos irreverentes, a intimidade, a gíria, a banalidade, a ironia e as le-viandades.

Abrange, ainda, a discrição, qualidade indispensável a todos quantos lidam com assuntos o-ficiais, muitas vezes sigilosos e de publicidade inconveniente. A polidez vem mais da totalidade do

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texto que de um começo repetitivo ou de um fecho estereotipado, redundante ou contraditório, aglomerado de amabilidades ilógicas e, muitas vezes, insinceras. (MEDEIROS, 1996, p.61.)

• Seja parcimonioso no uso de adjetivos. Use-os sem abuso. • Substantivo é a palavra cheia, que transmite ideias. • É muito importante, para aprender a escrever, ser criativo, buscar novas formas de expressão, esquecendo o que é corriqueiro. • Use termo técnico somente quando se justificar pelo assunto. • Evite o abuso de interjeições e exclamações, mas tire proveito delas para evidenciar emoções. • Para prender a atenção, seja conciso. (KASPARY, 1993, p.19-23.)

REDAÇÃO CONCISA: economia e eficácia.

EVITE PREFIRA

Acusamos o recebimento de sua carta de... Recebemos sua carta de...

Como é do conhecimento de Vossas Senhorias,... Como sabem Vossas Senhorias, ...

Cumpre dirigir-me a Vossa Senhoria para... Dirijo-me a Vossa Senhoria para...

Desejo recomendar-lhe que... Recomendo-lhe que...

Desejo levar ao seu conhecimento que... Informo-lhe que... Participo-lhe que... Comunico-lhe que...

...documentos que nos vemos obrigados a lhes devolver, por-quanto observamos que se encontram sem assinatura.

...documentos que lhe devolvemos, por falta de assinatura.

Efetuamos-lhe uma remessa de... Remetemos-lhe...

Em data de ontem, chegou às nossas mãos... Ontem recebemos...

Ficamos no aguardo de... Aguardamos...

Formulamos a presente para solicitar a Vossas Senhorias que... Solicitamos a Vossa Senhoria que...

Faça chegar a esta loja... Envie a esta loja...

Levamos ao conhecimento de Vossa Senhoria que... Comunicamos a Vossa Senhoria que...

Manifestamos nosso consentimento... Consentimos que...

Permitimo-nos devolver-lhe... Devolvemos-lhe...

Por motivos alheios ao nosso conhecimento... Por motivos que desconhecemos...

Permita que nos coloquemos à sua disposição... Conte conosco...

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Tendo chegado ao nosso conhecimento que... Informamos que...

Quero fazer chegar ao conhecimento de Vossa Senhoria meu testemunho...

Quero testemunhar a Vossa Senhoria...

Vamos proceder imediatamente à remessa da mercadoria... Remeteremos imediatamente a mercado-ria...

Vimos, por intermédio desta (por intermédio da presente), levar ao conhecimento de Vossa Senhoria que...

Comunicamos a Vossa Senhoria que...

Procedemos à escolha... Escolhemos...

Não deixou de nos causar profunda surpresa... Surpreendeu-nos profundamente...

Expressamos-lhes nossas mais sinceras felicitações... Felicitamo-los sinceramente...

A LINGUAGEM DOS ATOS E COMUNICAÇÕES OFICIAIS

De acordo com o Manual de Redação da Presidência da República, a necessidade de empre-gar determinado nível de linguagem nos atos e expedientes oficiais decorre do próprio caráter pú-blico desses atos e comunicações e de sua finalidade.

Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de caráter normativo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em sua elaboração for empregada a linguagem adequada. Igualmente se dá com os expedientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de informar com clareza e objetividade.

As comunicações que partem dos órgãos públicos devem ser compreendidas por todo cida-dão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que se evitar o uso de uma linguagem restrita a deter-minados grupos. Não há dúvida de que um texto marcado por expressões de circulação restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jargão técnico, tem sua compreensão dificultada.

As comunicações oficiais são sempre formais, isto é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exigências de impessoalidade e uso do padrão culto de linguagem, são impera-tivas, ainda, com certa formalidade de tratamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível; mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação.

A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária uniformidade das comunica-ções. Se a administração estadual é una, é natural que as comunicações que expede sigam um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das metas desse Manual, exige que se atente para todas as características da redação oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos.

A redação das comunicações oficiais deve seguir as características específicas de cada tipo de expediente, que serão tratadas em detalhes nos próximos capítulos. Outro aspecto comum às mo-dalidades de comunicação oficial é o emprego dos pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a identificação do signatário.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Introduções e fechos apropriados

INTRODUÇÕES IMPRÓPRIAS SUBSTITUÍVEIS POR INTRODUÇÕES APROPRIADAS

• Esta tem finalidade

(o fim, o objetivo, o intuito, o pro-pósito, o escopo etc.) de...

• Servimo-nos da presente (ou des-ta) para...

• Vimos, por intermédio desta (ou da presente)...

• Por intermédio desta (ou da pre-sente), vimos...

O recomendável, nesses casos, é iniciar a corres-pondência com aquele verbo que veicula a men-sagem que se pretende transmitir

• Convidamos...

• Encaminhamos...

• Comunicamos...

• Cientificamos...

• Informamos...

• Acusamos o recebimento de...

• Chegou-nos ou acha-se em nossas mãos ou às mãos...

• Encontra-se em nosso poder...

Todas essas introduções podem ser substituídas por um único verbo, mais preciso e mais expressivo:

• Recebemos

Nas correspondências, não há razão para se falar, a cada momento, em "honra", "satis-fação", "prazer" e outras pala-vras semelhantes. O uso in-discriminado dessas palavras faz com que elas se desgas-tem e não produzam mais o efeito desejado. O correto é entrar diretamente no assun-to sem perda de tempo.

EXEMPLO:

• Solicitamos que nos envi-em, até...

• Encaminhamos a Vossa Senhoria, em anexo, a lista...

• Agradecemos suas imendi-atas providências...

Nas correspondências, reservar palavras como “honra”, “satisfação”, “prazer” e outras seme-lhantes para a transmissão de mensagens que sejam, realmente, motivo de honra, satisfação e prazer. EXEMPLO: • Temos a honra de convidar Vossa Excelência para comparecer à solenidade... • Temos a satisfação de comunicar a Vossa Senhoria que, a partir desta data, colocamos à sua disposição... • Temos o prazer de enviar-lhe um exemplar do primeiro número da publicação. • Ficamos muito honrados com o convite para...

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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FECHOS IMPRÓPRIOS SUBSTITUÍVEIS POR FECHOS APROPRIADOS

Na despedida das correspon-dências, também aparecem expressões de mero efeito. Essas expressões inexpressi-vas não fazem nenhuma falta na correspondência.

• Sendo o que se nos oferece para o momento...

• Limitados ao exposto...

• Sem mais para o momen-to...

• Sem outro particular... • Circunscritos ao exposto... Na correspondência tradicio-nal, é comum a despedida formar um único período com o fecho do texto da carta. • Na certeza de contarmos com sua presença, apresen-tamos a Vossa Senhoria nos-sas atenciosas saudações. • Na expectativa de suas pro-vidências, subscrevemo-nos atenciosamente.

Na correspondência moderna, as fórmulas de despedida res-tringem-se a algumas palavras ou expressões, caracterizadas pela sua simplicidade e natu-ralidade.

• Atenciosamente,

• Atenciosas saudações,

• Cordialmente,

• Cordiais saudações,

Atualmente, há uma tendência cada vez maior de se fechar o texto propriamente dito com uma frase independente, apa-recendo a despedida comple-tamente isolada:

Sua presença será para nós motivo de profunda satisfação.

Cordialmente,

Nome.

CARTA

A carta é uma modalidade redacional livre, pois nela podem aparecer a narração, a descri-ção, a reflexão ou o parecer dissertativo. O que determina a abordagem, a linguagem e os aspectos formais de uma carta é o fim a que ela se destina: um amigo, um negócio, um interesse pessoal, um ente amado, um familiar, um seção de jornal ou revista.

A estética da carta varia consoante a finalidade. Se o destinatário é um órgão do governo, a carta deve observar procedimentos formais como a disposição da data, do vocativo (nome, cargo ou título do destinatário), do remetente e a assinatura.

No caso da correspondência comercial e oficial - textos jurídicos, muitas vezes feitos de jar-gões e expressões de uso comum ao contexto que lhes são próprios.

Analisemos o exemplo abaixo, para refletirmos sobre suas características, estrutura e objetivo.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

174

Neste modelo, observe que o 1º parágrafo introduz objetivamente o as-sunto, esclarecendo a finalidade da carta; 2º parágrafo explica a desco-berta; 3º e 4º parágrafos expõem o interesse do achado enquanto objeto de estudo, antecipando eventuais resultados. O fecho da carta reitera a disposição para pesquisa por parte do emissor.

São Paulo, 30 de novembro de 1989. [local e data]

Ilmo. Sr. [destinatário]

Diretor do Conselho Nacional de Ensino e Pesquisa - CNPq [destinatário]

NESTA [em desuso]

Prezado Senhor, [Vocativo]

Venho solicitar do Conselho Nacional de Ensino e Pesquisa - CNPq - informações re-ferentes à concessão de subsídios para desenvolver um projeto de pesquisa sobre o valor histórico de publicações clandestinas do século XVIII, encontradas em Minas Gerais. [Introdução: breve exposição do assunto]

Trata-se de uma coletânea de periódicos inéditos que obtive consultando o arquivo municipal de Congonhas do Campo, os quais atestam a existência de uma imprensa marginal cujos panfletos teriam circulado nas cidades de Vila Rica, Mariana, Sabará e São João Del Rei, entre 1780 e 1789. [Relato da descoberta]

O Estudo desse material permitirá reconstituir fatos da Conjuração Mineira não reve-lados nos autos da devassa, nem registrados pela historiografia oficial, além de avaliar o caráter emancipacionista que norteou os ideais político-libertários dos inconfidentes. [Proposta da pesquisa e antecipação dos eventuais resultados]

Caberia também a essa investigação apurar a importância desses documentos usados pelos conjurados para indispor a população das cidades mineiras contra abusos da metrópole portuguesa no Brasil. [Proposta da pesquisa e antecipação dos eventuais resultados] Assim, gostaria de inteirar-me sobre o interesse do CNPq em subvencionar esse traba-lho, pois tenho a intenção de atuar como pesquisadora.

Desde já, grata, aguardo oportuna resposta. [fecho]

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CARTA COMERCIAL / EMPRESARIAL

CONCEITO É um meio de comunicação utilizado na indústria e no comércio, com o objetivo de iniciar, man-ter ou encerrar transações. É a comunicação escrita, acondicionada em envelope (ou semelhan-te) e endereçada a uma ou várias pessoas.

FORMATO Quanto ao formato, a carta comercial segue as seguintes orientações: 1. Papel de 21 x 29,7 cm, ou 215,9 mm x 279,4 mm. 2. Texto impresso em um só lado do papel. 3. 20 a 25 linhas por folha. 4. 60 a 70 toques por linha. 5. Margem direita: 2 cm; margem esquerda: 3 cm; margem superior: 2 cm; margem inferior: 2 cm. 6. Espaço 1 ½. Entre os parágrafos, é costume duplicar esse espaço interlinear. 7. O vocativo de uma carta tem depois de si VÍRGULA (,).

Nos dias de hoje, exige-se objetividade e rapidez. Por isso, mais do que nunca, é preciso bus-car clareza de pensamento, concatenação de ideias, vocabulário exato. A linguagem usada nas re-lações comerciais exige o conhecimento de certas fórmulas e praxes em que deve exercitar o reda-tor comercial.

Antes de iniciar a redação, deve-se: 1. Ter um objetivo em mente. 2. Colocar-Se no lugar do receptor. 3. Ter informações suficientes sobre o fato. 4. Planejar a estrutura da comunicação a ser feita. 5. Dominar todas as palavras necessárias. 6. Tratar do assunto com propriedade. 7. Selecionar fatos e evitar opiniões. 8. Refletir adequada e suficientemente sobre o assunto. 9. Ser natural, conciso e correto. 10. Usar linguagem de fácil compreensão. 11. Prestar informações precisas e exatas. 12. Responder a todas as perguntas feitas anteriormente pelo destinatário.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Depois de redigido o texto, considere que ele é apenas um rascunho que deve ser lido e cor-rigido até se encontrar uma forma adequada, compreensível pelo receptor. Em seguida, redige-se a versão final.

Veja o modelo de carta comercial apresentado por João Bosco Medeiros (1996).

ELABORAÇÃO DO E-MAIL

Quem pensa que o e-mail está tirando o lugar da carta comercial. Nada disso!

Se a empresa necessitar fechar um negócio, confirmar uma proposta confidencial, comunicar a nomeação de uma nova diretoria e vários outros assuntos importantes, o melhor método conti-nua sendo a carta.

Com isto, não se quer diminuir a importância e a praticidade do e-mail, mas nenhum docu-mento ainda conseguiu tirar a excelência e a confiabilidade da carta.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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Contudo, chama-se atenção para a displicência na redação dos e-mails. Ao receber um e-mail interessante, as pessoas não se preocupam em criar uma nova mensagem para o próximo destina-tário, simplesmente acionam a tecla ENCAMINHAR, perdendo a chance de personalizá-lo.

A boa redação, seja em carta, seja em e-mail, é um diferencial enorme e deve ser cuidado e a-primorado. “A escrita é a ação mais íntima no sistema de comunicação com o mundo, que desnuda e invade o referencial interno da pessoa humana, tornando-a transparente”. Não se esqueça disso!

Quando conversamos, nós esperamos que as outras pessoas observem certas regras de com-portamento. O mesmo acontece com o uso do e-mail. Infelizmente, algumas pessoas ignoram mui-tas das boas práticas da comunicação online. Veja alguns pontos que você deve observar para o uso do email com elegância e eficácia.

1. Curto, direto e de fácil leitura.

Mantenha seus e-mails curtos, indo direto ao assunto. Tente abordar um único assunto por mensagem. Se for necessário um texto longo, divida-o em parágrafos separados por espaços em bran-co, assim facilitara a leitura e permitira que o leitor digitalize o texto e tenha uma ideia geral da men-sagem.

Use uma linguagem simples, sem gírias e sem abreviações que somente uns poucos iniciados conhecem.

2. Use o “Assunto” com inteligência

Use o campo “Assunto” para conquistar a atenção do leitor. É a primeira coisa que ele lê e que o leva a decidir se vai ler sua mensagem de imediato, deixar para mais tarde, ou mesmo ignorá-la. Assegure-se que o título seja claro e descritivo; ao invés de escrever “Reunião hoje”, escreva “Reu-nião hoje para aprovação do orçamento”.

3. Evite enviar o e-mail para várias pessoas sem necessidade

Copiar a mensagem para muitas pessoas sem necessidade pode fazer com que elas passem a ignorá-las. Elas estão sobrecarregadas com mensagens e se irritam por perderem tempo com e-mails inúteis. Inclua somente as pessoas que têm que tomar uma ação ou que precisam se manter informadas sobre o assunto.

Deixe bem claro o que você espera de cada um. Coloque no “Para” as pessoas as quais você solicita uma decisão, uma ação ou uma informação.

Coloque no espaço “Cópia” aquelas que devem simplesmente tomar conhecimento.

4. Não divulgue e-mails de seus contatos sem autorização

Assim como você não fornece os telefones de seus amigos para terceiros, você deve fazer o mesmo com os e-mails. Use a cópia oculta, para enviar mensagens para um grupo de pessoas que não se conhecem. Embora mais trabalhosa, considere a opção de enviar mensagens separadas.

5. Prudência e boas maneiras

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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A comunicação verbal, seja cara a cara, seja por telefone, oferece sempre a possibilidade de mostrar seus verdadeiros sentimentos e emoções e de reformular o conteúdo e o seu tom, caso per-ceba uma reação negativa ou equivocada.

A comunicação escrita não tem esta flexibilidade e o e-mail combina algumas das suas piores características. Você pode responder um e-mail imediatamente sem tempo para reflexão e causar um enorme estrago nos seus relacionamentos. Um e-mail inflamado e grosseiro fica na tela, sendo lembrado a todo o momento.

Quando ficar furioso ou ofendido com um e-mail, pense bem antes de respondê-lo. Deixe pa-ra relê-lo com calma mais tarde, pois pode ser que você esteja exagerando sua interpretação sobre as intenções do emissor.

6. Cortesia e elegância

Não abuse no uso de LETRAS MAIÚSCULAS, que podem ser interpretadas como um grito, uma agressão. Além disso, as letras maiúsculas tornam a leitura monótona e difícil.

7. Anexos

Não anexe arquivos sem necessidade. Sendo necessário, verifique se o destinatário consegue abrir o formato de arquivo que você usa.

8. Não abuse de URGENTE ou Alta Prioridade

Se você prioriza tudo, você acaba não priorizando nada e perdendo a credibilidade. Se sua mensagem for realmente importante, use o telefone ou envie um e-mail normal e reforce a impor-tância de sua mensagem pelo telefone ou pessoalmente.

9. Verifique a ortografia e a gramática

Antes de enviar, leia cuidadosamente sua mensagem. Use os recursos de autocorreção de textos. Os pequenos erros de redação podem causar sérios danos a sua imagem profissional.

10. Quando não usar o e-mail

Em algumas situações o e-mail não é o instrumento de comunicação mais apropriado. Não use o e-mail quando:

a) Você puder dar alguns poucos passos e conversar com a outra pessoa.

b) O assunto for complexo, confidencial ou delicado.

c) Você se sentir furioso, ofendido ou ameaçado.

d) Estiver em dúvida sobre quem é o responsável pela ação. Uma mensagem mal endereçada pode causar aborrecimentos.

e) Puder resolver rapidamente pelo telefone

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15 – MELHORANDO O TEXTO

O USO DO CLICHÊ NA REDAÇÃO DO TEXTO E A EXTENSÃO DA FRASE

Agora que você já conhece os passos para escrever um texto com certa segurança, neste con-teúdo, darei algumas recomendações que ajudarão a melhorar sua redação.

• Lembre de que escrever exige paciência e um trabalho contínuo com as palavras.

• Quanto mais você ler, mais fácil se tornará seu relacionamento com a escrita.

Como afirmei no início do nosso curso, ler bem é a primeira tarefa de quem quer escrever bem.

Vamos iniciar a melhora do nosso texto, falando sobre o uso de clichês...

Veja este texto:

Por Noely Landarin [email protected]

Devagar se vai ao longe, porque a pressa é inimiga da perfeição e a esperança é a última que morre. É fato que o brasileiro é preguiçoso por natureza, mas graças a Deus aqui não há preconceito racial – somos um povo que tem horror à violência; nossa índole pacífica é proverbial no mundo inteiro.

Se o homem tomasse consciência do valor da paz, não haveria mais guerras no mundo – bastava que cada um parasse para pensar na beleza do sorriso de uma criança e descobrisse que mais vale um pássaro na mão do que dois voando. A paciência é a mãe das virtudes, mas só com determinação e coragem haveremos de resolver nossos problemas. O que estraga o Brasil são os políticos; sem eles estaríamos bem melhor, cada um fazendo a sua parte. Hoje em dia, felizmente, as mulheres estão entrando no mercado de trabalho por-que, segundo pesquisadores americanos, elas são muito mais caprichosas que os homens. Já os homens, con-forme uma conclusão do conceituado Instituto de Psicologia de Filadélfia, são muito mais desconfiados e estão sempre querendo mais. As pesquisas eleitorais nunca acertam porque são todas compradas. Mas a verdade é que o amor, quando autêntico, resolve tudo. O que não se pode esquecer jamais é que a esperança existe – e sempre existirá!

Para a autora do texto, o conjunto de frases contido no texto dá a você a sensação de já tê-lo lido algumas centenas de vezes. Não é mesmo?

Esse texto é uma amostragem da mais terrível praga dos textos argumentativos – o lugar-comum, também conhecido como chavão ou clichê.

O mal do lugar comum não está propriamente no fato de ser uma expressão muitas vezes usada. O que merece reflexão e cuidado é o lugar-comum que aparece justamente para substituir a reflexão.

A FRASE

- O cuidado com a extensão da frase é a segunda recomendação.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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- Escreva sempre frases curtas, que não ultrapassem duas ou três linhas, mas também não caia no posto, escrevendo frases curtas demais.

- Seu texto pode ficar cansativo.

- Uma frase de boa extensão evita que se perca. Seja objetivo ou seu texto pode ficar cansativo.

Veja esse exemplo:

A crise de abastecimento de álcool não é apenas resultado da incompatibilidade e irresponsabilidade das agências governamentais que deveriam tratar do assunto, pois ela também foi causada por outro vício de origem que foi no primeiro caso os organismos do governo encarregados de gerir os destinos do Proálcool que foram pouco a pouco sendo apropriados pelos setores que eles deveriam controlar, se trans-formando em instrumentos de poder desses mesmos setores que através deles passa-ram a se apropriar de rendas que não lhes pertenciam.

Quando chegamos ao final da frase, não lembramos o que estava no início.

O que fazer?

Antes de tudo, ver quantas idéias existem, então, separá-las.

Vamos ver como fica?

A crise no abastecimento do álcool não resulta apenas da incompetência e da ir-responsabilidade do governo. Ela é também causada por certos vícios que rondam o poder. Os órgãos responsáveis pelo destino do Proálcool se eximem de controlá-lo com rigor. Disso resulta uma situação estranha: os órgãos do governo passam a ser dominados justamente pelos setores que deveriam controlar. Transformam-se assim em instrumentos de poder de usineiros que se apropriam do Erário.

Antes o que era apenas uma frase formando um parágrafo, agora é um parágrafo, constituí-do de frases. A terceira recomendação é em relação à fragmentação, pois a frase fragmentada é um erro muito comum nas redações. Nunca interrompa seu pensamento antes de pronomes relativos, gerúndios e conjunções subordinativas.

Veja os exemplos:

Errado Certo

O carro ficara estacionado no shopping.

Onde tínhamos ido fazer compras.

O carro ficara estacionado no shopping on-de tínhamos ido fazer compras.

O Detran tem aumentado sua receita.

Multando carros sem critérios.

O Detran tem aumentado sua receita, mul-tando carros sem nenhum critério.

Ela tem lutado para manter o status.

Uma vez que perdeu quase toda a for-tuna.

Ela tem lutado para manter o status, uma vez que perdeu quase toda fortuna.

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A quarta recomendação é em relação ao QUEÍSMO.

Para corrigir as frases que contêm os queimos, você deve proceder da seguinte forma:

a) Substituir a oração adjetiva por substantivos seguidos de complemento.

Exemplo Melhor seria:

O jornalista, que redigiu a matéria sobre as eleições presidenciais, foi bastante tendencioso.

O jornalista, autor da ma-téria sobre as eleições presidenciais, foi bastante tendencioso.

b) Substituir a oração por um adjetivo.

Exemplo Melhor seria:

A política no Brasil é consti-tuída por políticos que não são honestos.

A política no Brasil é constituída por políticos desonestos

Este é um objetivo que não pode ser atingido.

Este é um objetivo inatin-gível.

c) Substituir a oração desenvolvida por uma oração reduzida de gerúndio.

Exemplo Melhor seria:

Publicou-se um relatório que denuncia a corrup-ção no governo.

Publicou-se um relatório denunciando a corrupção no governo.

d) substituir a oração desenvolvida por uma oração reduzido de particípio.

Exemplo Melhor seria:

Soube-se da corrupção no governo através de uma reportagem que foi publi-cada pelo jornal.

Soube-se da corrupção no governo através de uma reportagem publicada pelo jornal.

A conjunção pois. É a quinta recomendação. Cuidado com ela!

Não use POIS assim que começar um texto.

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Pois é uma conjunção explicativa ou conclusiva, e ninguém deve explicar ou concluir nada logo no primeiro parágrafo.

As explicações só aparecem quando seu processo argumentativo está em andamento.

• Lembre que, no primeiro parágrafo, é necessário situar o problema.

• É preciso cuidar também da sonoridade da frase.

Ecos, aliterações, assonâncias devem ser evitados.

Veja:

Exemplo Melhor dizer:

Não se realizará mais amanhã a caminhada divulgada nos jornais.

Não se realizará mais ama-nhã a caminhada que os jor-nais divulgaram ontem.

Outra recomendação diz respeito ao uso dos adjetivos

Devemos fazer uso de adjetivos certos na medida certa. O emprego indiscriminado de adjetivos pode prejudicar as melhores ideias.

Outro mau uso do adjetivo ocorre quando empregado intempestivamente, como se o autor quisesse "embelezar" o texto. O que, ele consegue, no mínimo, é confundir o leitor. Veja: • Diante do mundo incomensurável, ingónito e desmedido que nos cerca, o homem se sente minúsculo, limitado, inepto, incapaz de compreender o menor movimento das coisas singula-res, magnéticas e imprevisíveis com que se depara em seu cotidiano impregnado e assoberbado de interrogações.

Para que dizer "um vendaval catastrófico destruiu São Paulo", quando vendaval já traz im-plícito a ideia de catástrofe?

- Entendeu?

- Nem eu.

O adjetivo pode ser empregado, sim, mas quando traz uma informação necessária ao fato ou à

noticia.

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Observe esta reportagem publicada na revista Veja:

Os adjetivos empregados nesse trecho não são supérfluos. Se forem retirados, vão fazer falta à informação, pois:

a) A fadiga, além de crônica, pode também ser passageira.

b) Gelada é imprescindível a mãos, por ser um sintoma da fadiga crônica.

c) Vida precisa do qualificativo urbana para evi-tar a generalização. A reportagem da Veja está falando apenas do estresse da vida urbana e não do estresse da vida geral.

Evite usar adjetivos que já se desgastaram com o uso como, por exemplo:

• calor escaldante

• saudosa memória

• longa jornada - doce lembrança

• emérito goleador

• grata surpresa

• último adeus

• providências cabíveis

• vibrante torcida

A 6ª recomendação é sobre o uso de ETC. no texto.

• Não use ETC sem nenhum critério. Trata-se de abreviatura da expressão latina etcetera, que signi-fica "e as demais coisas".

• Só devemos usá-la quando os termos que ela substituir são facilmente recuperáveis.

1. “A notícia foi veiculada pelos principais jornais do país como o Globo, Jornal do Brasil etc”.

O leitor bem informado sabe que outros jornais ficaram subentendidos, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, A Tarde.

Eis um caso de etc. que se deve evitar

2. Muitas vezes os pais não sabem como falar com os filhos sobre problemas relacionados ao se-xo, à morte etc.

Quais seriam os outros problemas? Fica difícil saber.

Ainda há duas observações sobre “etc.”:

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• Nunca escreva "e etc", pois a conjunção "e" já faz parte da abreviatura. • Seria o mesmo que dizer: "e as demais coisas" • O uso da vírgula diante de etc. é indiferente.

Cuidado, ainda com os pleonasmos, porque alguns passam despercebidos quando escreve-mos. Veja os mais comuns e troque-os pela forma exata:

=

Para finalizar, mais uma recomendação. Agora é sobre a palavra mais simples.

Como assim?

Simples, na hora de escrever, entre duas palavras, escolha a mais simples.

Por que dizer "auscular" em vez de "sondar"? Obstância em vez de "empecilho"?

Siga sempre este conselho:

"Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta".

Evite também duas ou mais palavras quando uma é capaz de substituí-las.

Use: • O governador em vez de o chefe do executivo;

• O presidente em vez de chefe da nação;

• PARA em vez de com o objetivo de;

• EM 2008 em vez de no ano de 2008.

4.3 16 16 16 16 –––– DE BEM COM A LÍ DE BEM COM A LÍ DE BEM COM A LÍ DE BEM COM A LÍNNNNGUA: DÚVIDAS DO DIAGUA: DÚVIDAS DO DIAGUA: DÚVIDAS DO DIAGUA: DÚVIDAS DO DIA----DIADIADIADIA

NORMATIVIDADE DA LÍNGUA

Plural dos nomes compostos

Você considera um Deus nos acuda passar para o plural os nomes compostos?

E quando apresentam com hífen? Mais dúvida ainda, não é?

Pois bem... A formação do plural dos substantivos compostos depende da forma como são grafados, do tipo de palavras que formam o composto e da relação que estabelecem entre si.

Aqueles que são grafados ligadamente (sem hífen), comportam-se como os substantivos simples:

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Veja:

• aguardente/aguardentes;

• girassol/girassóis;

• pontapé/pontapés.

Nesse sentido, para fazer o plural de uma palavra composta, é preciso antes verificar em que classe gramatical ela se encaixa.

Basicamente, uma palavra composta pode ser um substantivo ou um adjetivo. No caso de "pombo-correio", por exemplo, temos um substantivo composto. Afinal, "pombo-correio" é nome de algo. Se é nome, é substantivo.

O segundo passo é verificar a classe gramatical de cada elemento formador da palavra com-posta. No caso de "pombo-correio", tanto "pombo" quanto "correio" é substantivo.

Segundo as gramáticas, quando o segundo substantivo indica idéia de semelhança ou finali-dade em relação ao primeiro, varia apenas o primeiro.

"Pombo-correio" se encaixa nesse caso. Um pombo-correio nada mais é do que "variedade de pombo que se utiliza para levar comuni-cações e correspondência", como diz o próprio Aurélio. O segundo substantivo ("correio") indi-ca finalidade em relação ao primeiro ("pombo"). Deduz-se, pois, que o plural de "pombo-correio" é "pombos-correio".

Vejamos outros exemplos de substantivos compostos que se encaixam nesse caso:

• carro-bomba

• homem-bomba

• público-alvo

• samba-enredo

• caminhão-tanque

• navio-escola, banana-maçã

E tantos outros de estrutura semelhante (dois substantivos, com o segundo indicando seme-lhança ou finalidade em relação ao primeiro).

Um carro-bomba, por exemplo, é um carro feito com a finalidade específica de explodir; as-sim como um homem-bomba é um indivíduo (normalmente um terrorista) que amarra explosivos em seu corpo com o mesmo fim. Sendo assim, o plural de cada um desses substantivos compostos apresenta-se desta maneira:

• carros-bomba

• homens-bomba

• públicos-alvo

• sambas-enredo

• caminhões-tanque

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• navios-escola

• bananas-maçã

Convém aproveitar a ocasião, para lembrar que, quando o segundo substantivo não indica semelhança ou finalidade em relação ao primeiro, flexionam-se os dois elementos.

É o que ocorre com:

Singular Plural

cirurgião-dentista cirurgião-dentista

tio-avô tios-avôs (ou tios-avós)

tenente-coronel tenentes-coronéis

bicho-papão bichos-papões

rainha-mãe rainhas-mães

decreto-lei decretos-leis

Vejamos agora o caso de "cavalo-marinho". Trata-se de substantivo composto formado por um substantivo ("cavalo") e um adjetivo ("marinho"). Aqui não há segredo: variam os dois elemen-tos. O plural, então, só pode ser "cavalos-marinhos".

• Esse princípio pode ser aplicado em relação a todos os substantivos compostos formados por duas palavras, das quais uma seja substantivo e a outra, um adjetivo ou numeral.

• Todas as vezes que um substantivo composto, com hífen, for formado por Substantivo + adjeti-vo, ou numeral, as duas palavras vão para o plural.

• Encaixam-se nesse caso muitas palavras. Veja algumas:

O plural de todos esses compostos é feito com a flexão dos dois elementos:

Singular Plural

obra-prima obras-primas

primeira-dama primeiras-damas

queixo-duro queixos-duros

primeiro-ministro primeiros-ministros

amor-perfeito amores-perfeitos

capitão-mor capitães-mores

cachorro-quente cachorros-quentes

E o que acontece com o caso de compostos em que entram "grão" e "grã", como:

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Singular Plural

grão-duque grão-duques

grã-fina grã-finas

grã-fino grã-finos

grã-cruz grã-cruzes

Nesses casos, só varia o segundo elemento.

Temos, ainda, o substantivo composto formado por três elementos.

Quando o substantivo composto é formado por três elementos, dos quais o segundo seja uma preposição, só se faz a flexão do primeiro.

É esse o caso de:

• mulas-sem-cabeça

• pães-de-ló

• quedas-d'água

• pés-de-moleque

• amigos-da-onça

• bicos-de-papagaio

• dores-de-cotovelo

Entretanto, os substantivos compostos fora-da-lei e fora-de-série são invariáveis.

Talvez esteja aí, a explicação para o plural de "sem-terra" adotado por todos os órgãos da imprensa: "Sem-terra".

Supõe-se que haja uma palavra implícita. Algo como "homem sem terra", que não é propria-mente uma palavra composta, mas tem estrutura semelhante: dois substantivos ("homem" e "terra"), ligados por uma preposição ("sem"). O plural dessa expressão seria "homens sem terra", que acaba sendo reduzida para "sem-terra", com hífen. Isso justamente porque nomeia uma categoria específica de pessoas. O caso de "sem-vergonha" é semelhante. Algo como "pessoa sem vergonha" acaba se transfor-mando em "sem-vergonha", com hífen. Encontramos fundamentação para essa explicação no dicionário "Aurélio" e em muitos gramá-ticos. Segundo estes, o plural é "sem-vergonha" mesmo. Alguns discordam e propõem "os sem-vergonhas" e "os sem-terras".

Passemos agora para o plural dos compostos formados por verbo e substantivo.

Como o plural de um verbo não é formado com o acréscimo do S no final, entendo que o verbo não varia. Nesse caso, somente o substantivo irá para o plural. É o que acontece com:

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• arranha-céus

• bate-papos

• bate-bolas

• caça-talentos

• guarda-chuvas

• lança-perfumes

• lava-pés

Em guarda-civil, guarda é substantivo e civil é adjetivo. Os dois vão para o plural: guardas-civis , guardas-noturnos, guardas-florestais. Já em guarda-chuva, guarda é verbo e chuva é substantivo. Dessa forma, só o substantivo vai para o plural: • guarda-chuvas • guarda-sóis • guarda-louças • guarda-roupas • guarda-costas

Plural dos compostos em que a palavra composta é constituída de dois ou mais adjetivos.

Veja o exemplo: consultório médico-cirúrgico. Neste caso, somente o último adjetivo irá para o plural.

Exemplo: consultórios médico-cirúrgicos.

Segue a essa regra

• candidatos social-democratas

• atividades técnico-científicas

• problemas político-econômicos

• questões luso-brasileiras

• camisas rubro-negras

• cabelos castanho-escuros

• olhos verde-claros

Mas, atenção com o plural dos adjetivos compostos!

Os adjetivos compostos referentes a cores são invariáveis quando o segundo elemento é um subs-tantivo: • verde-garrafa

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• verde-mar

• verde-musgo

• verde-oliva

Compare: • Olhos verde-claros = cor + adjetivo (claro ou escuro)

• Calças verde-garrafa = cor + substantivo

Também são invariáveis:

• azul-celeste e azul-marinho.

O termo "infravermelho" varia porque o adjetivo "vermelho" varia:

carro vermelho carros vermelhos

calça vermelha calças vermelhas

raio infravermelho raios infravermelhos

Já "ultravioleta" não varia, porque, como substantivo adjetivado, "violeta" também não varia:

vaso violeta vasos violeta

camisa violeta camisas violeta

raio ultravioleta raios ultravioleta

Quando se indica a cor com a expressão "cor de", clara ou subentendida, não se faz a flexão do qualificador:

paredes gelo cor de gelo

camisas creme cor de creme

blusas vinho cor de vinho

vasos violeta cor de violeta

Quando substantivo, "violeta" é palavra variável.

Veja: "Há belas violetas no jardim".

Se o primeiro elemento for advérbio, preposição ou prefixo, somente o segundo elemento irá para o plural:

FILOSOFIA, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

190

Exemplos: • abaixo-assinados

• alto-falantes

• ante-salas

• anti-semitas

• auto-retratos

• bel-prazeres

• contra-ataques

• recém-nascidos

• super-homens

• todo-poderosos

• vice-campeões

Se a palavra composta for constituída por advérbio + pronome + verbo, somente o último ele-mento varia:

• bem-me-queres

• bem-te-vis

• não-me-toques

Se a palavra composta for constituída pela repetição das palavras (onomatopéias = reprodução dos sons), o segundo elemento irá para o plural:

• bangue-bangues

• pingue-pongues

• reco-recos

• teco-tecos

• tique-taques

• zigue-zagues

Agora, vamos às dúvidas sobre a grafia e emprego de algumas palavras ou expressões.

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

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VAMOS VER COMO SE ESCREVE?

A dúvida é A PRINCÍPIO ou EM PRINCÍPIO?

Use A PRINCÍPIO, quando significar "inicialmente, no começo, num primeiro momento". Exemplos: A princípio, havia dez operários trabalhando naquela obra. A princípio, o casamento de Vera e Filipe ia bem. Use EM PRINCÍPIO quando significar "em tese, antes de qualquer consideração, teoricamente". Exemplos: Em princípio, sou contra a presença de políticos nessa festa. Em princípio, sou a favor do Parlamentarismo no Brasil.

À MEDIDA QUE e NA MEDIDA EM QUE podem ser usados sem preocupação? Ou seja, as duas formas têm o mesmo significado?

Não. O emprego é diferente.

Use À MEDIDA QUE: significando "à proporção que". Exemplo: Senhas eram distribuídas aos candidatos à medida que eles entravam nas filas de inscrição. Use NA MEDIDA EM QUE, quando equivale a "no momento, no instante em que". Exemplo: Terás muito mais força e resistência na medida em que deixares defumar e beber tanto. • A primeira expressão dá idéia de proporção • A segunda, idéia de tempo.

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AO INVÉS DE / EM VEZ DE

AO INVÉS DE: significa "ao contrário de". Exemplos: Maura, ao invés de Alice, resolveu se dedicar à música. (Opções de estudo contrárias) Entrou à direita ao invés de entrar à esquerda. (Direita e esquerda se opõem) EM VEZ DE: igual a "em lugar de". Exemplos: Em vez de Pedro, Paulo foi o orador da turma. (Um tomou o lugar do outro). João foi à praia em vez de ir ao jogo. (Ir à praia e ir ao jogo não são ações opostas, e sim lugares diferentes).

Agora, vamos ver uma construção que é comum nas propagandas de remédio:

Assim pergunto quem já não ouviu e viu a construção dessa forma:

"AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”.

Afinal de contas, a construção é AO PERSISTIREM ou A PERSISTIREM? Qual é a melhor? Ou tanto faz?

Raciocinemos juntos. Quando se diz "Ao sair, apague a luz", quer-se di-zer algo equivalente a "Quando sair, apague a luz". A ideia predomi-nante em orações introduzidas por "ao" é a de tempo:

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• "Ao chegar, telefone" (Quando chegar, telefone); • "Ao ouvir o sinal, não cruze a linha férrea" (Quando ouvir o sinal, não cruze a linha férrea).

Então a frase "Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado" equivale a "Quando persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado". Essa construção não é incor-reta, mas será que é exatamente isso o que se quer dizer, ou seja, será que a ideia predominante é a de tempo;

"Quando persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado"?

Ou é a de condição:

"Se persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado"

"Caso persistam os sintomas, o médico. Deverá ser consultado"?

Se a intenção é dizer que o médico deverá ser consultado no caso de persistirem os sintomas, deve-se trocar o "ao" por "a":

"A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado".

Não custa lembrar duas coisas: • A primeira é que, se a opção for por "se", a forma verbal é "persistirem". Se for por "caso", é "persistam". • A segunda é que nem sempre a troca de "a" por "se" deixa intacta a forma verbal. Nesses casos, a preposição "a" põe o verbo no infinitivo ("A manter a calma, resolverá tudo em pouco tempo"), enquanto a conjunção "se" o põe no sub-juntivo ("Se mantiver a calma, resolverá tudo em pouco tempo").

"Por hora, não há mais passagens." ou "Por ora, não há mais passagens?"

Existe uma diferença entre o emprego de POR HORA com H e POR ORA sem H. A locução "por hora" (com h) exprime o que se faz durante sessenta minutos:

Observe • João cobra R$ 10,00 por hora de jardinagem. • João digita cinco páginas por hora. POR ORA (sem H) significa por enquanto, por agora. • Não há novidades por ora. • Por ora João continua descasado.

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DESPERCEPIDO ou DESAPERCEBIDO

Muita gente pensa que querem dizer a mesma coisa as duas palavras. E escrevem de forma impensada. Veja:

DESPERCEBIDO: significa sem ser notado, não observado, não visto ou não ouvido. Exemplo: • Podes crer, meu amigo, que essas tuas atitudes esquisitas não me passam despercebidas. • O incidente na portaria, embora despercebido pelos hóspedes, ganhou os jornais. DESAPERCEBIDO: é o mesmo que desprevenido, desatento, desacautelado; desprovido, sem guarnição. Exemplo: • Furtaram sua bolsa porque viram Marilda desapercebida. • Foram acampar desapercebidos de fósforo. Apesar da origem diversa (aperceber = aparelhar e perceber = notar, ambos com o prefixo de privação "des"), desapercebido é adjetivo pouco usado no sentido próprio, mas muito utilizado como sinônimo de despercebido, razão pela qual os dicionários já registram a sinonímia, ale-gando também o fato de terem encontrado esse emprego pouco "puro" em bons autores no séc. XX.

Chamo atenção para a escrita de alguns substantivos compostos:

Devemos ter muita cautela no momento de sua escrita, pois se a-girmos de forma desavisada, e não colocarmos o hífen, teremos uma mu-dança de significado. Veja alguns exemplos:

• abaixo-assinado

• à toa

• dia a dia

• ar-condicionado

• salário-mínimo

Abaixo-assinado (com hífen):

É substantivo composto significa petição ou requerimento coletivo.

Exemplo:

1. O abaixo-assinado foi encaminhado à Pró-Reitoria de Ensino de Graduação.

Abaixo assinado (sem hífen):

É adjetivo indica cada pessoa que assina um abaixo-assinado.

2. Os alunos abaixo assinados requerem a Vossa Senhoria.

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Quando usar PORQUE – PORQUÊ – POR QUE ou POR QUÊ?

A forma por que (separado e sem acento) é a sequência de uma preposição (por) e um pro-nome interrogativo (que).

É equivalente a "por qual motivo", "por qual razão", vejamos:

• Não sei por qual motivo você acha isso.

• Não sei por qual razão você acha isso.

Caso surja no final de uma frase, imediatamente antes de um ponto: final, de interrogação ou exclamação, ou um ponto de reticências, a sequência deve ser grafada por quê (separado e com acento), pois devido à posição na frase, o monossílabo “que” passa a ser tônico. 1. Não sei por quê! 2. Ainda não terminou? Por quê?

Existem casos em que por que representa uma sequência preposição + pronome relativo, e-quivalendo a pelo qual, pelos quais, pelas quais, pela qual.

• A situação por que passei foi muito difícil. (por que = pelo qual)

A forma porque (junto e sem acento) também é uma conjunção, equivalente a pois, já que, uma vez que, como, nos exemplos:

• Você continua implicando comigo! É porque você não muda sua forma de ser.

A forma porquê (junto e com acento) representa um substantivo. Significa causa, razão, mo-tivo e normalmente surge acompanhado de uma palavra determinando-o, um artigo, ou adjetivo ou pronome.

Veja:

• Creio que os verdadeiros porquês mais uma vez não vieram à luz.

• O primeiro porquê é mais fácil que o segundo.

• Não sei o porquê de seu silêncio.

Para ver o que ficou, analise o emprego do porquê nesse diálogo:

1º - Não sei por que você acha isso. 2º - Não sabe por quê? 3º - Não. Diga-me, então! 4º - Por que você se comportou daquela forma? 5º - Dê-me ao menos um porquê para sua atitude. Vamos aos fatos: Na 1º frase: " Não sei por que você acha isso" É separado e sem acento, pois podemos substituí-lo por " por qual motivo", e não está no final da frase.

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Na 2º frase: "Não sabe por quê?" É separado e com acento, pois está no fim da frase. Na 4º frase: "Por que você se comportou daquela forma?" É separado e sem acento, pois veio em início de uma pergunta. Na 5º frase: "Dê-me ao menos um porquê para sua atitude." É junto e com acento, pois pode ser substituído pela palavra "motivo" vem acompanhado de um artigo. • RESUMINDO PORQUE, POR QUE, PORQUÊ ou POR QUÊ Porque = indica causa ou explicação: "Ele foi promovido porque é muito competente." Por que = em frases interrogativas quando substituível por "por qual": "Por que ela não foi à festa?" "Este é o motivo por que ela não foi." Porquê = motivo, causa, razão (antecedido de artigo o ou um outro determinante) "Não sei o porquê de sua falta." Por quê = em final de frase: "Você faltou à aula hoje por quê?"

SENÃO ou SE NÃO?

Primeiro, é interessante saber o que querem dizer e como se usam os termos senão e se não.

SENÃO: empregamos em quatro situações: • Do contrário Exemplo: Resolva agora, senão estamos perdidos. • Porém, mas sim Exemplo: Não era caso de expulsão, senão de repreensão. • Somente, apenas Exemplo: Não se viam senão os pássaros. • Defeito, falha

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Exemplo: Não houve um senão em sua apresentação. SE NÃO: dá ideia de condição, hipótese Exemplo: Se não chover, haverá jogo. (= caso não chova)

A PAR ou AO PAR?

A PAR: significa ciente, bem informado. Exemplo: Dênis está a par dos últimos acontecimentos. AO PAR: significa de acordo com a convenção legal. Exemplo: Os papéis de crédito estão ao par.

TAMPOUCO ou TÃO POUCO?

São duas construções totalmente diferentes. Apesar de muitos acharem que são irmãs gêmeas.

Veja:

TAMPOUCO = nem. Exemplo: Não trabalha e tampouco estuda. TÃO POUCO = muito pouco. Exemplo: Estudou tão pouco que foi reprovado.

DEMAIS ou DE MAIS?

Quem escreve bem sabe que a locução adverbial de mais é o oposto locução de menos e, por-tanto, deve ser usada em frases em que exprime quantidade excessiva, como esta:

• Comer de mais é prejudicial para a saúde.

Essas pessoas não confundem a locução de mais com outro advérbio, demais, que significa o mesmo que "além disso".

Demais, até existe uma variante do mesmo advérbio, que é ademais, exatamente com o mesmo sentido. E há ainda a expressão demais a mais, cujo significado é semelhante a "ainda por cima".

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No entanto, tem havido uma tendência crescente para escrever a locução de mais como uma só palavra, a tal ponto, que alguns dicionários, como o Priberam (Texto Editores), já atestam que demais significa o mesmo que demasiado, assim como algumas gramáticas, como, Saber Falar, Saber Escrever (Dom Quixote), incluem demais nos advérbios de quantidade.

MAS, MAIS ou MÁS?

Não raras às vezes, os desavisados da língua trocam uma pela outra.

Fique atento:

MAS = é uma conjunção adversativa. É o mesmo que: PORÉM, CONTUDO, TODAVIA. Exemplo: Nós vamos, mas você deve se comportar! MAIS = é advérbio de intensidade. Exemplo: O juiz foi o que mais se cansou no tribunal. MÁS = adjetivo feminino plural. É antônimo de BOAS. Exemplo: Elas não são más professoras.

FIM ou A FIM?

AFIM = indica igualdade. Exemplo: Nossas personalidades são afins. A FIM = indica objetivo, propósito. Exemplo: O culpado escondeu as provas a fim de se inocentar.

AO MEU VER ou A MEU VER?

Não se deve usar artigo nessa expressão, em que o verbo ver significa "opinião, juízo": Use sempre a meu ver, a seu ver, a nosso ver.

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COMO ESTABELECER UNIFORMIDADE DE TRATAMENTO NA REDAÇÃO DE TEXTO

Lembra do lançamento da NS2 (Nova Schin 2), cerveja frutada com limão e tequila numa garrafa com invólucro plástico? Bebida direcionada ao público jovem “baladeiro” e perfis de con-

sumidores que curtem bebidas pitorescas?

A propagada apresentava assim:

Nessa construção, encontramos um exemplo de um desvio da norma padrão da língua.

Sim, qual a inadequação?

Vamos à explicação:

No Brasil, é muito comum ouvirmos frases como:

• No fim do ano te darei um presente se você for aprovado. • Eu te amo muito, Joana. Não vivo sem você!

O problema reside na falta de uniformidade de tra-tamento, que consiste em concordar os pronomes e o verbo com o tratamento destinado aos interlocutores.

Esclarecendo | Se, ao conversarmos com uma pessoa, a tratarmos por você, todos os pronomes e o verbo deverão ficar na terceira pessoa do singular, já que você é um pro-nome de tratamento, que é de terceira pessoa.

• Caso haja mais de um interlocutor, a concordância se efetiva na terceira pessoa do plural (vocês). • Já, se tratarmos a pessoa por tu, todos os pronomes e o verbo deverão ficar na segunda pessoa do singular. • Caso haja mais de um interlocutor, a concordância se efetiva na segunda pessoa do plural (vós). • Outro problema de falta de uniformidade de tratamento ocorre no uso do verbo, principalmente no imperativo, que é o uso do verbo para pedido, ordem, conselho, apelo.

Se o interlocutor for tratado por tu, o verbo no imperativo deve ser conjugado da seguinte ma-neira (peguemos como exemplo o verbo experimentar: constrói-se a frase assim: “Todos os dias tu experimentas”. Retira-se a letra s do verbo: • Experimenta: este é o imperativo do verbo experimentar para a segunda pessoa do singular Experimenta!. O mesmo ocorre com vós: Todos os dias vós experimentais. retira-se o s: Experimentai!

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Se o interlocutor for tratado por você, o verbo no imperativo será conjugado da mesma maneira que o presente do subjuntivo, que é caracterizado pela frase: • Espero que você experimente a Nova Schin O verbo experimentar, então, fica assim: • Espero que você experimente. O imperativo de experimentar para a terceira pessoa você é: • Experimente! O mesmo ocorre com os pronomes nós e vocês: • Espero que nós experimentemos. • Espero que vocês experimentem. O imperativo, então, fica: • Experimentemos! • Experimentem. Veja estas frases: • Se tu gostas de cerveja, experimenta esta. • Se você gosta de cerveja, experimente esta.

E a propaganda? Está certa ou errada? O adequado, então, seria: NOVA NS2 (COM MENTA: EXPERIMENTE!)

Abreviação de horas

Bem, agora quero saber de você: Você sabe dizer as horas?

Segundo Luiz Antonio Sacconi, em "Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Curiosidades da Língua Portuguesa", Editora Harbra, a imprensa e a mídia brasileiras ignoram a forma correta de escrita.

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Por quê?

Vamos às explicações:

1. ABREVIATURA DE HORAS • A abreviatura de hora(s) é: 2h, 3h. O "h" é minúsculo e sem "s" nem ponto (a não ser no final do parágrafo). • Deve vir, imediatamente, após o número, sem espaço. • A fração de minuto(s) vem logo após: 2h15min (também sem ponto nem espaço).

2. NÃO AOS DOIS PONTINHOS Na língua portuguesa não se representam as horas e minutos com o uso do dois-pontos (15:00). Isso é prática da língua inglesa.

3. ARTIGO SEM EXCEÇÃO As palavras que indicam horas exigem artigo, sem exceção: Exemplos: • Telefone-me antes do meio-dia. • Estarei em casa a partir das nove horas. • Elisa nos procurou da uma às duas. • Telefonei-lhe entre as duas e as três horas. • Estiveram aqui por volta da meia-noite. • Vimos Efigênia pouco antes das cinco horas. • Só encontrei Neusa depois da uma da madrugada. • O desfile começará por volta da meia-noite.

4. OS MINUTOS SÃO MASCULINOS Quando o numeral se refere aos minutos, evidentemente usa-se "os": Exemplos: • O telejornal começa aos cinco (minutos) para as oito. • Cheguei aos quinze para a meia-noite. • A reunião terá início a partir dos dez para as nove. • O filme começou aos dois para as seis. • O ônibus sai aos vinte para as nove. • Cheguei por volta dos quinze para a uma.

E agora? Responda-me: você sabe dizer horas?

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|| Revisando ||

A melhor abreviatura de horas é simplesmente "h", sem ponto e sem registrar o "s" para indicar o plural: 15h, 19h, 10h15min. (ou 10h15).

Os ingleses usam os dois pontos: 10:00, 15:00, 10:15. Como não somos ingleses... Nem preciso mais dizer, não é?

É bom lembrar que o sistema ortográfico brasileiro não admite o registro do plural (a letra "s") em nenhuma abreviatura, embora o uso seja corrente.

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ANOTAÇÕES:

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