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Coordenação Institucional de Programas Especiais – CIPESecretaria de Educação a Distância – SEAD

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Cecília Queiroz

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Língua Portuguesa IV

Marcelo Vieira da Nóbrega

Campina Grande-PB2012

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Editora da Universidade Estadual da Paraíba

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Revisão LinguísticaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

Diagramação Arão de Azevêdo SouzaGabriel Granja

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBARua Baraúnas, 351 - Bodocongó - Bairro Universitário - Campina Grande-PB - CEP 58429-500

Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: [email protected]

469S586l Nóbrega, Marcelo Vieira da.

Língua Portuguesa IV./ Marcelo Vieira da Nóbrega; UEPB/ Coordenadoria Institucional de Programas Especiais, Secretaria de Educação a Distância._Campina Grande: EDUEPB, 2012. 145 p.: Il. Color.

ISBN 978-85-7879-107-0

1. Língua Portuguesa. 2. Gramática. I. Título. II. OLIVEIRA, Mateus de Sousa. III.EDUEPB/Coordenadoria Institucional de Programas Especiais.

21. ed.CDD

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Sumário

I UnidadeRefletindo sobre a Língua Portuguesa: sem grandes pretensões iniciais vamos “versar e vessar” sobre a nossa língua............................7

II UnidadeComeçando pela Sintaxe de uma Língua:...........................................23

a) O que é? b) É importante estudá-la? Por quê? c) Como se estrutura?

III Unidade Continuando jogando com a sintaxe da língua: de onde vem esse jogo de xadrez saussureano?..................................39

IV UnidadeA Gramática Ge(ne)rativo-Transformacional de Noam Chomsky: o que é e que novidade traz para os estudos da sintaxe.......................57

V UnidadeAs estruturas profundas e superficiais da Gramática Gerativo-Transformacional de Chomsky..............................................75

VI UnidadeModelos de estruturação sintagmática, através de árvores, dos tipos obrigatórios: orações declarativas e interrogativas.................89

VII UnidadeContinuação dos modelos de estruturação sintagmática, através de árvores, dos tipos obrigatórios: orações declarativas, subtipos interrogativo e imperativo....................107

VIII UnidadeRevisando tudo que vimos até agora: dos fundamentos que regem um ensino de língua pensando na língua enquanto fenômeno de interação social, passando pelas bases da sintaxe e culminando com os modelos de estruturação sintagmáticos de Chomsky...............................................................125

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 7

I UNIDADE

Refletindo sobre a Língua Portuguesa: sem grandes pretensões iniciais vamos “versar e vessar” sobre a nossa língua

“Deus não foi tão avaro com os homens a ponto de fazê-los criaturas bípedes e deixar para Aristóteles fa-zê-los racionais. (...) Nem foi também o criador tão avaro com estes mesmos homens a ponto de dotá-los de voz articulável e deixar para Chomsky o fazê-los possuidores de uma gramática implícita. Por natureza racional, dotado de linguagens, o animal homem es-trutura seu pensamento em cadeias faladas. Codifica--as e decodifica-as porque, independentemente de al-guém que anuncie isso, ele é o senhor das regras que regem a combinação dos elementos das cadeias que tem a faculdade de produzir. É, então, o momento de dizer: no ser que fala, no que chamamos de usuário da língua, está, então, a gramática. No que se dis-se até aqui, certamente, a imagem do usuário – que o homem que fala – precedeu a gramática. Ela está nele: na sua fala há uma gramática, que ele possu. (Grifos nosso)”

NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática: história, teoria e análise, ensino. 2° reimpressão. São Paulo (SP): Editora Unesp, 2002, p. 53.

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Apresentação

Que tal uma pequena viagem inicial?

Prezado(a) aluno(a), é com grande satisfação que iniciamos Língua Portuguesa IV. Temos a certeza do seu sucesso nesta disciplina por-que acreditamos no seu potencial de pensador, analista, leitor crítico e, sobretudo, compromissado com o seu curso. De início, faremos uma pequena viagem no título desta unidade. Algo lhe parece estranho, não? Afinal, como podemos “versar” e/ou “vessar” em uma aula de Língua Portuguesa? O que tem a ver o ato de versar com o de refletir sobre a língua? Iremos poetizar? E, o que é vessar? Se você for a um bom Aurélio, encontrará: “Versar: 1. Volver, revirar, manejar, exami-nar, exercitar, estudar, ponderar; 2. Versejar, versificar, pôr em versos”. (FERREIRA, 1986). Já com relação à estranha vessar o mesmo Aurélio fala que é: “Lavrar a terra com regos profundos, para a preparação de sementeira(s).” (opus cit.). E aí, o que achou dos conceitos? Parece que se aproximam, sim? Se imaginarmos o primeiro deles, o de versar, perceberemos que se aproxima do seu parônimo vessar. Ambos se refe-rem a volver, mexer, sulcar, revirar (a terra, o verso, o texto, a oração, a frase, enfim, a gramática, o que a sua curiosidade de pensador o inci-tar). Neste ponto, a questão é descobrir, analisar o fenômeno, no nosso caso a Língua Portuguesa, para que possamos retirar conclusões que muito úteis serão no entendimento pleno dos nossos falares e escreve-res. (Veja, estou brincando de criar palavras, viu? A isso chamamos de neologismo). Ao analisarmos o segundo conceito de versar temos a idéia de versificar, pôr em versos. É claro que não (pelo menos, nesta disciplina) exercitaremos as técnicas de versificação, nem de metrifica-ção de versos poéticos.

Entretanto, é bom lembrá-lo de que quando refletimos sobre a nos-sa língua precisamos nos despojar de certas convicções tradicionais sobre os mecanismos de funcionamento sintático da língua portugue-sa, algumas vezes arcaicas, outras preconceituosas trazidas do ensino básico. É neste momento em que, por exemplo, se abrir a uma mente poética, leve, aberta e inovadora pode fazer toda a diferença para que você possa, ao final desta disciplina, vislumbrar um novo olhar às questões associadas à sintaxe de período, de oração, compreensões sintagmáticas, paradigmáticas, bem como outras compreensões que

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daí advirão. Afinal, refletir sobre a língua é (re)discuti-la, (re)descobri--la, (re)estudá-la, entender todos os seus mecanismos de estruturação sintática, investigar as regras que regem o seu funcionamento. Enfim, abraçá-la por inteiro, tal qual na imagem abaixo:

Percebeu a beleza da imagem? É assim o nosso desejo: que você possa, ao final desta unidade, ter tido a oportunidade inicial de abraçar e refletir - junto aos tex-tos, idéias e conceitos iniciais que norteiam o funcionamento da Lín-gua Portuguesa - acerca da im-portância que é investigar os con-ceitos introdutórios norteadores do funcionamento de nossa lín-gua.

É importante, então, que você estude este material com cuidado, revise-o sempre que necessário e,

caso surjam dúvidas, socialize-as com seus colegas, com o tutor e o professor.

Estamos todos aqui para trocar experiências e ajudá-lo no que for necessário.

Caloroso e sincero “abraço virtual”!

Objetivos

Ao final desta aula você deverá:

• Ter noções básicas do que seja um estudo crítico-reflexivo de Língua Portuguesa.

• Destacar a importância de uma abordagem crítico-discursiva de aprendizagem de língua materna.

• Destacar a importância da chamada gramática reflexiva para a aprendizagem de língua materna.

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Prá começo de conversa...Que tal rir um pouco antes de pensar sobre a nossa língua?

Foto de arquivo pessoal, datada de 26/08/2009. Local: Pizzaria, na cidade de Campina Grande (PB)

O nosso olhar analítico-interpretativo para o texto acima é con-dicionado à nossa história de aprendizagem de língua, lá pelos pri-mórdios do ensino básico. Se tivermos tido professores de Língua Por-tuguesa tradicionais, bancários, regrados e limitados à pura sintaxe e cujos olhares se prendiam meramente à decoreba de regras, fórmulas, pegadinhas e frases soltas e descontextualizadas do mundo do aluno e da vida, então o máximo que este professor poderia “enxergar” na imagem acima é que se trata de uma propaganda de certa bebida e que na expressão A UMA HORA ATRÁS VOLTEI A BEBER há pelo menos 02 (dois) “erros” de gramática: o primeiro, a troca de HÁ por A. Neste caso, certamente o professor diria que se trata de uma locução adver-bial de tempo decorrido, logo a exigência do verbo HAVER, grafado, obviamente, com H. O segundo tem a ver com a redundância (comum na linguagem coloquial) no uso de ATRÁS, já que se utilizou o verbo no passado. Com efeito, não haveria a necessidade de uso de ATRÁS.

Por outro lado, caro aluno, se as nossas bases de estudos de língua materna se fundaram em um pensar mais crítico-discursivo do texto, enquanto fenômeno sócio-discursivo e inserido em um contexto social específico, então a imagem acima pode nos surpreender. Ao invés de começar pela análise lingüístico-gramatical, (pela identificação de er-ros gramaticais), este professor, nesta nova abordagem, mais discursi-va e textual, iniciaria investigando, por exemplo, as intenções da pro-paganda, suas estratégias de construção. Questões iniciais como: a quem a publicidade é dirigida? Qual o efeito de sentido gerado, por exemplo, entre o texto verbal “A UMA HORA ATRÁS VOLTEI A BEBER” e o

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fato de o relógio funcionar no sentido anti-horário? O que as trocas de sílabas nas advertências do Ministério da Saúde “O CONSUMO DE ÁLCOOL PODE FAGER FOXE VALAR COISAS DEXE ZEITO” têm a ver com o produto veiculado, bem como com a inversão de leitura (sentido anti-horário) do relógio? Você percebeu, querido(a) aluno(a), que este novo olhar interpretativo para o fenômeno da gramática e do texto, antes da pura análise gramatical-sintática, parece ser mais atraente e gerar no aluno um sentido maior de curiosidade e inquietação? No caso específico em análise, a mera análise morfossintática parece ser um mero algo a mais, claro, necessária, porém complementar às reais intenções do gênero em apreço.

É a partir desta compreensão que se explica um estudo mais crítico--reflexivo da Língua Portuguesa. Neste sentido, Antunes (2006, p. 17) nos ratifica que

enquanto o professor de português fica apenas analisando se o sujeito é “determinado” ou “inde-terminado”, por exemplo, os alunos ficam privados de tomar consciência de que ou eles se determi-nam a assumir o destino de suas vidas, ou acabam todos, na verdade, “sujeitos inexistentes”.

A denúncia contida nas palavras da professora Irandé Antunes tem sido, felizmente, cada vez mais apregoada nas escolas e nas universi-dades, mas ainda não impede a recorrência de propostas de ensino de língua materna ineficazes, desprovidas de função social, distantes da formação cidadã, que também é incumbência da educação formal. Ao reconhecer o problema, a professora enumera as falhas metodológicas na abordagem da gramática e nas práticas de leitura em sala de aula. Via de regra, a “gramática da escola” é descontextualizada, amórfica, fragmentada, analisa frases inventadas, sem sujeitos interlocutores, sem contexto, sem função; além disso, é inflexível, “ditatorial”, prescritiva e com o objetivo central de classificar e ditar normas.

Já as atividades com a leitura são centradas nas habilidades mecâ-nicas de decodificação da escrita e, por isso mesmo, são desinteressan-tes e incapazes de suscitar nos estudantes a compreensão das múltiplas funções sociais do ato de ler.

A partir de tal diagnóstico, nada resolve assumir uma postura “con-formista” – ou “realista”, como dizem os pessimistas por aí – que ape-nas nos permite afirmar: “sim, o ensino está ruim, mas vai ficar pior, porque os jovens não gostam de estudar e os professores são mal for-mados e ganham pouco”.

A nós, caro aluno, pensadores da língua e a você – futuro professor (se já não exerce função no magistério) compete muito mais intensida-de nos engajarmos na tarefa coletiva de aproximar o ensino de Língua Portuguesa dos seus propósitos cívicos, que consistem em “tornar as pessoas cada vez mais críticas, mais participativas e atuantes, política e socialmente” (ANTUNES, 2003, 15). Engajar-se nessa luta por um

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ensino mais comprometido com o social exige, porém, fundamentação teórica, estudo e pesquisa, sem os quais correríamos o risco de adotar um discurso vazio, romântico, utópico.

Para tal, é indispensável declarar que a concepção de língua – e, conseqüentemente, de ensino – aqui adotada é a interacionista, funcio-nal e discursiva, que assevera que a “lingua só se atualiza a serviço da comunicação intersubjetiva, em situações de atuação social e através de práticas discursivas, materializadas em textos orais e escritos” (AN-TUNES, opus cit.).

Nesta perspectiva, falar em “comunicação intersubjetiva” e em “atuação social” é reconhecer que existe um sujeito que usa a língua e um que se relaciona com os outros e age no mundo por meio dessa língua; é reconhecer também que a escola não pode fechar suas portas para a realidade linguística do estudante, ou seja, para os usos con-cretos do Português, repletos de sentido, porque dotados de propósitos interacionais.

Tal tomada de atitude, antes de treinar o aluno apenas na sua com-petência gramatical (não menos importante, mas complementar), permi-te a escola desenvolver a chamada competência comunicativa (Textual) do aluno: “capacidade do usuário (falante, escritor/ ouvinte, leitor) de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comu-nicação, segundo Travaglia (2005, p. 17). O foco, portanto, não é a mera identificação e classificação dos itens gramaticais, uma vez que a atenção é voltada para o texto, unidade de comunicação. Esta discipli-na caminha nesta perspectiva: refletir das possibilidades de uso de uma sintaxe – não que se explique por si – mas que esteja a serviço do texto em todas as suas potencialidades e funções. Uma ferramenta a serviço do texto, caro aluno, assim como o mouse do computador está para o software (o cérebro) da máquina.

Neste mesmo raciocínio caminha Neves (2002, p. 23) ao ratificar que

o vício e o vezo de alguns, infelizmente, a maio-ria dos professores de Língua Portuguesa (como comprova uma pesquisa que realizei no Estado de São Paulo (NEVES, 1990)), de entender e acreditar (mais acreditar que entender) que a leitura, ou o es-tudo, dos manuais de gramática que simplesmente relacionam, ‘definem’ e exemplificam os elementos e os processos da língua é porta e chave para um bom desempenho lingüístico (que se supõe a es-cola deva prover). E a pergunta é esta: o que se tem feito, nas universidades, para que o professor consiga minimamente equacionar a questão da relação básica entre língua e gramática e, decor-rentemente, para que ele possa entender qual é o estatuto do usuário da língua? Para que perceba qual o estatuto daquele que tem naturalmente a gramática dessa língua, mas, inocentemente, sem perceber, vai buscá-la nos manuais, como se ela lhe fosse absolutamente alheia?

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... e prá continuar a nossa conversa... Que tal discutir um pouco sobre língua, gramática e texto?

E aí, prezado(a) aluno(a), o que está achando de nossa conversa até agora? Para que possamos refletir um pouco mais aprofundada-mente acerca de nossa língua, bem como algumas concepções di-ferenciadas de posturas de ensino em salas em diversos contextos, é interessante tecermos alguns comentários acerca do que entendemos por língua. Embora tenhamos a certeza de que você, de certa forma, já tenha noção do que seja língua é bom relembrarmos. Para tal gostaria de resgatar Azeredo (2008, p. 48-51) o qual ratifica que língua “é uma forma de conhecer e de organizar os conteúdos que os indivíduos orga-nizam entre si. É uma forma socialmente adquirida de conferir sentido às nossas experiências do mundo e de tornar essas experiências assunto de nossos atos de comunicação.”

Desta forma, através da língua o homem exerce um poder de significação que transcende a função de nomear os dados ‘objetivos’ de sua experiência cotidiana: o papel da linguagem na expressão de ‘conceitos potencialmente significativos’ torna o ser humano capaz de criar os universos de sentido que circulam na sociedade sob a forma de enunciados/textos. É, nesta compreensão, a língua de um povo parte da capacidade simbólica exclusiva do ser humano, dom que o provê de um sétimo sentido (o rótulo ‘sexto sentido’ está reservado à intuição). Este sétimo sentido resume todos os outros e a eles se sobrepõe em um universo de conhecimento sig-nificativo a que só se tem acesso através do símbo-lo, da imagem, da palavra. Tal universo de conhe-cimento e significado se expressa ordinariamente numa diversidade de domínios – a cujo conjunto damos o nome genérico de cultura – segundo o modelo de organização convencionalmente adota-do pela sociedade: senso comum, ciência, religião, política, folclore, direito, jornalismo; literatura, hu-mor, artes, técnicas etc. (AZEREDO, opus cit.).

É neste contexto que a palavra tem lugar de destaque pela univer-salidade e versatilidade de suas funções. De fato, é a linguagem verbal um dos mais eficazes, recursos de criação, assimilação, circulação e transmissão de representações do conjunto de experiências de nossa realidade. Através da versatilidade da palavra é que a mente humana se versatiliza. Se você está achando complexa e difícil a sua interpreta-ção, caro leitor, simplesmente dizemos que a língua é conjunto de sinais que determinadas comunidades usam para se comunicar. É a língua

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um bem coletivo que tem na interação social sua razão de ser. Nesta compreensão, o que cada um de nós sente, sabe, sofre, imagina, quer, rejeita, é algo individual, inédito. Neste sentido, por ser um código cole-tivo de representação e comunicação, a eficácia comunicacional deste código é diretamente proporcional à capacidade que cada falante/es-critor tem de processar e utilizá-lo. Surge aqui, caro aluno, a gramática, responsável por organizar os diversos mecanismos sócio-linguísticos, gramaticais e até interacionais, as chamadas estratégias de interação, responsáveis para tornar os processos comunicativos mais eficazes (ou não). Para ilustrar estas nossas reflexões que tal analisarmos um pouco a charge abaixo? Observe-a com cuidado:

Trata-se de um conjunto de charges que, juntas, constituem um todo denunciante de um fenômeno so-cial brasileiro: um processo de es-vaziamento, o chamado êxodo ru-ral, gerador de uma massa populacional (o chamado incha-mento populacional) dos grandes centros urbanos. O caráter satíri-co-cômico do texto se justifica pelo fato de se combinar, paronicamen-te as expressões ENXADAS e INCHA-DAS, fato que denuncia, metonimi-camente, a palavra ENXADAS PARADAS ao campo esvaziado no momento em que este equipa-mento – típico dos minifúndios e pequenos agricultores – se encon-

tra ligado à teia de aranha (abandono, tempo longo parada). A placa LATIFÚNDIO cerceada por cercas na primeira parte da charge complementa o processo de ocupação do campo pelos latifundiá-rios. Já a segunda parte da charge, precedida pela conjunção POR-QUE, denuncia o processo de superlotação dos grandes centros ur-banos, decorrência do chamado êxodo rural, processo metaforizado pela expressão INCHADAS PARADAS. O subemprego e o desemprego são aqui denunciados pela placa COMPRO OURO. Disponível em: http://www.marciobaraldi.com.br/baraldi2/component/joomgallery/?func=detail&id=178. Acessado em 20/09/2011

Atenção, caro(a) aluno(a), alguns questionamentos e considerações são fundamentais aqui. 1º) Temos um texto? Certamente que sim. Um todo semântico, uma ocorrência linguística, que tem um sentido com-pleto, dotada de certas formalidades que lhe permitem estabelecer uma comunicação entre o seu produtor e o destinatário. A sua função é essa, ou seja, estabelecer uma comunicação entre estes dois sujeitos. É, pois, uma sequência verbal (palavras), oral ou escrita, que forma

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um todo que tem sentido para um determinado grupo de pessoas em uma determinada situação. O texto pode ter uma extensão variável: uma palavra, uma frase ou um conjunto maior de enunciados, mas ele obrigatoriamente necessita de um contexto significativo para existir. Neste caso, um contexto de denúncia social explícita de um fenômeno recorrente no Brasil: o processo de êxodo rural, acima explicitado e melhor explicado. 2º) Qual a estrutura deste texto? Como percebemos, trata-se de um texto misto (formado por palavras e figuras (imagens)) ligadas entre si pela conjunção PORQUE, estabelecendo a segunda ima-gem uma relação de causa em relação à primeira. 3º) Há uma sintaxe neste texto? Se sim, qual seria? Calma, querido(a) aluno(a), nas aulas próximas aulas nos aprofundaremos mais sobre o que seja sintaxe e seus efeitos no texto. Por enquanto, nos limitaremos a dizer que sintaxe, segundo o Aurélio (1986) “vem do grego e quer dizer ‘ordem, disposi-ção’. Parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e das frases no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si e a correta construção gramatical”. Nesta compreensão - se enten-dermos que entre as duas partes da charge há uma relação lógica, de certo rigor estrutural, uma ordem, uma disposição rigorosa entre os seus componentes (através da conjunção PORQUE) – aí, sim, teríamos uma sintaxe perfeita na charge. Afinal, há uma relação de hierarquia horizontal, uma ordem que permite ser a primeira parte da charge uma causa cujos efeitos estão na segunda. Adiante, nos aprofundaremos mais. Por enquanto, nos limitaremos a lhe dizer simplesmente que sin-taxe quer dizer ordenamento horizontal entre componentes, relação de combinação de unidades linguísticas na sequência de sons da fala e de escrita, a serviço da rede de relações da língua. As relações sintag-máticas baseiam-se no caráter linear do signo lingüístico, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. A língua é formada por elementos que se sucedem um após outro linearmente na cadeia da fala e da escrita. A essa relação chamamos sintagma. Com que esta palavra se parece? Com sintaxe, não é?

Nesta perspectiva, na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor em virtude do encontro que estabelece com aquele que o precede ou lhe sucede, ou a ambos, visto que um termo não pode aparecer ao mesmo tempo em que outro, em virtude do seu caráter linear.

Logo, se observarmos a charge acima verificaremos uma ordem horizontal rigorosa de causa e efeito entre os dois componentes da charge. Embora não tenhamos orações (presença de verbos nos enun-ciados), temos textos (representados por um gênero misto chamado charge) interligados pela conjunção PORQUE. Era como se disséssemos assim: AS ENXADAS ESTÃO PARADAS PORQUE AS RUAS DAS CIDADES ESTÃO INCHADAS. Entendeu? Aí, temos um sintagma verbal formado por duas frases distintas que estabelecem entre si uma relação rígida de escolhas, subordinações e hierarquias: a segunda oração é causa da primeira.

Vamos refletir um pouco?

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Atividade I

Treinando as sutilezas da interpretação em língua portuguesa bem como algumas noções de sintaxe.

Você vai ler o texto a seguir e em seguida responder as questões pedidas.

O Arquivo

Victor Giudice

No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos. joão era moço. Aque-le era seu primeiro emprego. Não se mos-trou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou--se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quar-to mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor. Passou a tomar duas conduções

para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa. O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial. Desta vez, a empresa atraves-sava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezesse-te por cento. Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança. Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta. Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extra-ordinário aconteceu. joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a in-compreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias. Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal. Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor. joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 17

— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento. O coração parava.

— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto. A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente? Radiante, joão gaguejou al-guma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho. Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inú-teis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madru-gada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo. O corpo era um monte de rugas sorridentes. Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho.

Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não ha-verá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários. O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo re-querer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha? A emoção impediu qualquer resposta. joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento. joão transformou-se num ar-quivo de metal.(Disponível em: http://www.releituras.com/vgiudice_arquivo.asp. Acesso em: 01/10/2010, às 16 horas.)

1º) Qual é a base deste texto? É narrativo-descritiva, argumentativo ou

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meramente expositivo? Que elementos gramaticais provam a sua resposta?

2º) Que aspectos são denunciados no drama de joão?

3º) O que há de estranho no comportamento de joão, enquanto trabalhador, que fere o senso comum?

4º) Elenque razões possíveis para o comportamento de joão, verificado na questão anterior.

5º) Por que joão está escrito em minúscula?

6º) Pode-se dizer ser este texto coerente? Por quê?

Atividade II

Atentar à imagem seguinte e responder o que se pede.

FARIA, Evangelina Maria Brito de; CAVALCANTE, Marianne Carvalho Bezerra. (Orgs.). Língua Portuguesa e Libras. (Teorias e Práticas 2). João Pessoa (PB): Editora Universitária da UFPB, 2010.

Mais uma vez, caro(a) aluno(a), o texto, de forma irônica e lúdica, denuncia – no momento em que ‘dialoga’(faz referência) com outro texto (uma marchinha carnavalesca do compositor brasileiro João de Barro (de 1938, chamada Yes, nós Temos Banana) – os dramas sociais por que passam os milhões de brasileiros.

1º) Considerando-se o que você aprendeu sobre as noções de sintaxe e de acordo com as pistas textuais sugeridas na charge acima, responda:

a) Quantos e quais são os complementos obrigatórios de YES, NÓS TEMOS BANANA?

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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b)Se levarmos em conta o enunciado YES, NÓS TEMOS UM CORRUPTO EM CADA ESQUINA circule a parte complementar do sintagma.

c) Quantas e quais são as expressões que dialogam com o inglês?

d) Considerando-se o enunciado YES, NÓS TEMOS UM CORRUPTO EM CADA ESQUINA faça todas as associações possíveis entre os seus termos constituintes, desde que não descaracterize o seu sentido original. Verifique quantas formas possíveis de associação você pode fazer.

Siga o modelo a seguir: YES, TEMOS NÓS UM CORRUPTO EM CADA ESQUINA.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

Uma palavrinha finalE, aí, caro(a) aluno(a), como tem se sentido até agora? Você já

percebeu que apenas nos aprofundarmos nos aspectos sintáticos (in-ternos, responsáveis pela organização interna dos termos na frase) é apenas uma pequena parte de qualquer análise que possamos fazer? Certamente, você terá, ao fim desta disciplina, muitas chances de se aprofundar e aprender com mais intensidade todos os aspectos sintáti-cos que justificam a organização das orações em nossa língua. Nosso desejo é que você se empenhe cada vez mais. Estes são os meus votos. Assim, o desafio a ser posto é: estude, sempre.

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Visitas, leituras e filmes recomendados

VisitasMuitas outras informações úteis sobre a formação da língua portu-

guesa e sua presença em diferentes países do mundo podem ser encon-tradas nos sites abaixo:

http://www.estacaodaluz.org.br.

www.museudalinguaportuguesa.org.br

Leiturashttp://www.domíniopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp

Biblioteca digital desenvolvida e mantida pelo MEC em software livre. hospeda grandes obras de escritores brasileiros, dentre os quais destaca-se a maior parte da obra de Machado de Assis, cujos contos e crônicas são de leitura imperdível.

http://www.kanitz.com.br/artigos.htm

Contempla todos os artigos do jornalista Stephen Kanitz, que es-creve para algumas das principais revistas de circulação do Brasil, em especial a Veja.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI4220-15230,00-ARQUIVO+RUTH+DE+AQUINO.html

Contempla todos os artigos da jornalista Ruth de Aquino, que es-creve para algumas das principais revistas de circulação do Brasil, em especial a época.

http://recantodasletras.uol.com.br/resenhas/

Site que deposita textos os mais diversos.

Filmes• O Nome da Rosa. (Versão com Sean Connery).

• O Clube do Imperador.

• O Auto da Compadecida. (adaptação para o cinema, de Guel Arraes).

• Vidas Secas. (Versão de 1963, com Anselmo Duarte)

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 21

ResumoCaro aluno, atente aos seguintes pontos para fixação do que vimos

até agora. Observe:1º) Pensar reflexivamente a nossa língua é verificar de que forma e

em que níveis ela pode estar a serviço dos seus falantes. 2º) A língua “é uma forma de conhecer e de organizar os conteúdos

que os indivíduos organizam entre si. É uma forma socialmente adquirida de conferir sentido às nossas experiências do mundo e de tornar essas ex-periências assunto de nossos atos de comunicação.” (ANTUNES, 2003, 15).

3º) A eficácia da língua, em uma dada comunidade linguística, de-pende da forma como os seus falantes a utilizam. A gramática, nesta compreensão, é a responsável por organizar os diversos mecanismos sócio-linguísticos, gramaticais e até interacionais, as chamadas estraté-gias de interação, responsáveis para tornar os processos comunicativos mais eficazes (ou não).

4º) A sintaxe quer dizer ordenamento horizontal entre componentes, relação de combinação de unidades linguísticas, na sequência de sons da fala e de escrita, a serviço da rede de relações da língua. As relações sintagmáticas baseiam-se no caráter linear do signo lingüístico, que ex-clui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo.

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Referências

AZEREDO. José Carlos de. Ensino de Português. Fundamentos, percursos e objetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

____ Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

____ Língua Portuguesa em Debate. Conhecimento e ensino. 5° ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Theresa Cochar. Português: linguagens. Volume Único. 2° ed. São Paulo: Atual Editora, 2005.

HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2° Ed. Revista e aumentada. Rio de Janeiro (RJ): Editora Nova Fronteira, 1986).

JORDÃO, Rose; BELLEZI, Clenir. Linguagens: língua, literatura e produção de texto. Volume Único. São Paulo: Escala Educacional, 2007.

NEVES, Maria Helena de Moura. A Gramática. História, teoria e análise, ensino. 2º reimpr., São Paulo: Editora UNESP, 2002.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 23

II UNIDADE

Começando pela Sintaxe de uma Língua:

a) O que é? b) É importante estudá-la?

Por quê? c) Como se estrutura?

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ApresentaçãoTexto 1 “Agora eu era o heróiE o meu cavalo só falava inglêsA noiva do cowboyEra você além das outras três”. Disponível em:≥http://www.cifras.com.br/cifra/chico-buarque/joao-e-maria≤Datadaconsulta:25/04/2011

Prezado(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao nosso segundo encontro em Língua Portuguesa IV. No primeiro, refletimos criticamente sobre o funcio-namento da nossa língua, em especial a partir de um olhar crítico-discur-sivo. Tínhamos como objetivos fundamentais discutir sobre as noções bási-cas do que seja um estudo crítico-reflexivo de Língua Portuguesa, além de termos destacado a importância de uma abordagem crítico-discursiva de aprendizagem de língua materna. Por fim, de forma genérica, abordamos a importância da chamada gramática reflexiva para a aprendizagem de língua materna. Esperamos ter sido claros e eficazes nas nossas conversas iniciais. De qualquer forma, se você sentiu dificuldades em assimilar alguns pontos colocados acerca dos objetivos postos, não se preocupe porque eles serão certamente retomados em outros momentos da disciplina.

Na nossa segunda aula, refletiremos de forma mais detida sobre pontos importantes que norteiam os estudos sintáticos. Para tal, tentaremos respon-der inicialmente a 03 (três) questões básicas e cruciais que norteiam a sinta-xe: a) O que é? b) É importante estudá-la? Por quê? c) Como se estrutura?

Prá começo de conversa, gostaria de partilhar com você 02 (dois) textos iniciais. Leiamos com cuidado, reflitamos um pouco e relaxemos, pois eles serão muito úteis na nossa caminhada rumo às respostas aos questionamentos acima postos.

Texto 2 Texto 3 3

Disponível em:≥http://www.sintrafesc.org.br/view_charge.php?id=473≤.Data da consulta: 23/04/2011.

Disponível em:≥http://www.sintrafesc.org.br/view_charge.php?id=452≤. Data da consulta: 23/04/2011.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 25

Após uma observação minimamente sutil dos três textos acima, sur-ge a pergunta que não quer calar, caro(a) aluno(a): há uma sintaxe presente em cada um dos textos acima? Que sintaxe é essa? Como se explicar a estranha sintaxe, nesta macro-comprensão de, por exem-plo, “Agora” em “Agora eu era o herói/ E o meu cavalo só falava inglês”(Versos 1 e 2 do texto 1)? Como entender a sintaxe do advérbio “agora” (sentido de presente, momento atual, neste instante) com o verbo ser “era” (pretérito imperfeito do verbo ser)? Não é estranho, querido(a) aluno(a)?

Por outro lado, se observarmos o texto 2, pode-se afirmar que há uma sintaxe na fala “desencontrada” e “errada”, do interlocutor? Se há, que importância ela exerce na eficácia da comunicação? que efeito de sentido esta sintaxe exerce no diálogo?

Por sua vez, no texto 3, a sintaxe interfere de alguma forma no conjunto do intertexto, responsável pelo jogo de sentido, por exemplo, entre “vaca”, “boi”, “chifrada” e as gírias “boi na linha”, “vaca fria” e “cifrada” como intertexto com “chifrada”? De que forma a organização sintática pode contribuir na elucidação dos diversos sentidos que se apresentam no texto? Qual a importância sintática sintática de “mas’no início do texto? E o que dizer do “e” ligando “tem boi na linha” e “só podemos falar...” Do ponto de vista sintático, que função exerce este “e”? Imprime uma idéia aditiva, adversativa ou conclusiva à “só pode-mos falar...”?

Se você, caro(a) aluno(a), só “decorou para a prova” aquelas “fa-migeradas” regras gramaticais de identificação de termos essenciais, acessórios e integrantes, além das classificações das orações que en-volvem períodos simples e complexos já é um bom começo. Entretanto, saiba que há muito mais, a começar, por exemplo, do conceito mais elementar do que seja sintaxe. Deste advirão inúmeras implicações. Tenho certeza de que você, ao fim desta aula, encarará, se ainda não o fez, com melhores olhos os estudos sintáticos. Este é o desafio. Para tal, estaremos sempre juntos.

Caloroso e sincero “abraço virtual”!

ObjetivosAo final desta aula você deverá:

• Compreender os conceitos básicos de sintaxe.

• Destacar a importância dos estudos da sintaxe e suas classifica-ções na constituição do texto.

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Prá começo de conversa...Que tal pensar um pouco antes de teorizar sobre a sintaxe?

Vamos ler com atenção os textos abaixo:

Depoimento:

“Bem, eu vejo tantos amores caminhando em direções opos-tas, que me lembrei desse poema, que eu já gostava desde mo-cinha. O Drummond como sempre cheio de razão. Ah, mestre!

‘Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Ma-ria que amava Joaquim que amava Lili que não amava nin-guém. João foi para os Estados Unidos. Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre. Maria ficou para tia. Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.”’

Carlos Drummond de Andrade

Disponível em: ≥http://www.luso-poemas.net/modules/newbb/viewtopic.php?topic_id=603&forum=48≤. Data da consulta: 20/04/2011, às 16h.

A boa coesão e o satisfatório entendimento da informação veiculada pelo eu que se manifesta no depoimento depende sobremaneira da com-preensão de um todo sintático que se manifesta no texto através de uma série de elementos gráficos e sonoros (Estes não serão objeto de nosso estudo) sistemática e ordenadamente postos através de orações (sintag-mas1) que se organizam de forma a dar sentido ao texto. Assim, por exemplo, no depoimento citado o que articula sintaticamente o sintagma 1 “Bem, eu vejo tantos amores caminhando em direções opostas” ao 2 “me lembrei desse poema“ é o conectivo “que” (aqui, caro aluno, chamo de “dobradiça interna” do texto). Já, entre o sintagma 2 e o 3 o mes-mo “que” exerce grande importância do ponto de vista sintático2, pois, além de servir de “dobradiça”entre os dois sintagmas, também retoma coesivamente “poema”. O mesmo ocorre com os “quês” recuperadores coesivos, respectivamente, de “Teresa”, “Raimundo”, “Maria”, “Joaquim” e “Lili” presentes no poema Quadrilha do nosso Drumond. Como vimos, querido aluno, os textos acima vistos materializam-se e adquirem sentido sob a forma de enunciados íntima e/ou coesivamente ligados (articula-dos) por elementos grafo-linguísticos (palavras, sinais, etc), bem como outros recursos paralinguísticos (entonacionais, por exemplo). É este con-junto de regras que rege tal organização a que chamamos de sintaxe. Por isso, é hora de analisarmos este conceito.

1 Sintagma aqui segue o conceito de Koch e Souza e Silva (1989, p. 14) para quem é “o conjunto de elementos que constituem uma unidade significativa dentro da oração e que mantêm entre si relações de dependência e de ordem. Organizam-se em torno de um ele-mento fundamental, chamado núcleo que pode, por si só, constituir o sintagma”. As-sim, podemos ter sintagmas nominal (tendo como núcleo o nome, sempre com função de substantivo) ou verbal (com o verbo como núcleo).

2 Atenção, querido(a) aluno(a): estamos falando de ponto de vista sintático, isto é, de função que o termo exerce dentro de um dado contexto de oração. Não confunda com classe gramatical, classificação mórfica (substantivo, adjetivo, verbo etc).

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 27

Assim, vejamos

Sintaxe: (do Grego clássico σύνταξις “disposição”, de σύν syn, “juntos”, e τάξις táxis, “ordenação”). É o estudo das regras que regem a construção de frases nas línguas naturais. A sintaxe é a parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e das frases no discurso, incluindo a sua relação lógica, entre as múltiplas combinações possíveis para transmitir um significado completo e compreensível. Disponível em: ≥http://pt.wikipedia.org/wiki/Sintaxe≤.Datadaconsulta:16/04/2011. 15h30.

Ponto crucial, caro(a) aluno(a): à construção das frases (sintagmas) exigem-se regras. Estas regem a disposição rigorosa (e em alguns casos mais flexível), tanto das palavras na constituição dos sintagmas quan-to destes na formação das orações e destas na formação do discurso3. Lembra-se de Quadrilha, de Drummond? Na constituição, no jogo e efeito de sentido, no entendimento e na coerência interna que dão sen-tido ao discurso poético, a organização e a hierarquia dos “quês” foram essenciais.

Berlinck, Augusto e Scher (2007) tratam a sintaxe como sendo “a par-te da Gramática4 dedicada à descrição do modo como as palavras são combinadas para compor as sentenças, sendo essa descrição organizada sobe a forma de regras”. Percebeu, querido(a) aluno(a), como a sintaxe se rege por regras? Mas atenção, estas, no conjunto do texto, precisam dar sentido, lógica a este mesmo texto. Senão vejamos: quando digo “João é um excelente aluno mas só tira 10” não há o que se questionar do ponto de vista sintático que há um período composto, formado por duas orações: “João é um excelente aluno” e “mas só tira 10”. Cada oração é formada por dois sintagmas: um verbal e um nominal; ademais, em cada oração temos um sujeito, sobre o qual se afirma algo, (João), e um predicado. Afi-nal, qual é o problema deste período? Já descobriu? Fácil, não? Utilizei--me de uma “má dobradiça coesiva”. Não há sentido, aos olhos de um operador mediano da língua, de se achar contradição (como o conectivo mas sugere) entre ser excelente aluno e só tirar nota 10. Logo, as regras que regem a boa sintaxe precisam, não só ser obedecidas, mas também favorecer que o todo discursivo do texto apresente o mínimo de coerência.

... e prá continuar a nossa conversa...Que tal discutirmos um pouco sobre posições de sintagmas dentro de um

3 Do ponto de vista linguístico, aqui se en-tende discurso como um encadeamento de palavras, ou uma sequência de frases se-gundo determinadas regras gramaticais e numa determinada ordem de modo a indicar a outro que lhe pretendemos comunicar/significar alguma coisa. Quando pretende-mos significar algo a outro é porque temos a intenção de lhe transmitir um conjunto de informações coerentes - essa coerência é uma condição essencial para que o discurso seja entendido. São as mesmas regras gra-maticais utilizadas para dar uma estrutura compreensível ao discurso que simultane-amente funcionam com regras lógicas para estruturar o pensamento. É o que chama-mos de atividade linguística em ação.

4 Ligue-se, caro aluno: a Gramática sobre a qual aqui falo refere-se ao conjunto de regras que regulam o funcionamento da língua, quer seja dentro da variante pres-tigiada socialmente, quer seja dos falares menos prestigiados. Isto nos induz a pensar que, mesmo na língua oral – marcada por suas peculiaridades e características – há, sim, uma sintaxe própria, já que há regras a serem seguidas nas conversações, é bem verdade, algumas que quebram o rigor da norma padrão. De qualquer forma são re-gras. Lembra-se da fala do interlocutor no texto 2 desta aula?

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contexto oracional? E aí, caro(a) aluno(a), como se sente? Que tal discutirmos um pou-

co mais sobre a questão dos constituintes oracionais, os sintagmas, antes de nos adentrarmos a águas mais profundas? Já vimos na nossa aula inaugural e na primeira nota de rodapé desta aula que a língua é formada por elementos que se sucedem um após outro linearmente na cadeia da fala e da escrita e que mantêm entre si uma relação de or-dem e dependência. A essa relação chamamos sintagma. Com que esta palavra se parece? Com sintaxe, não é? Logo, não se pode falar de sintaxe sem nos referirmos aos sintagmas, estes que dão vida àquela.

Nesta perspectiva, na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor em virtude do encontro que estabelece com aquele que o prece-de ou lhe sucede, ou a ambos, visto que um termo não pode aparecer ao mesmo tempo em que outro, em virtude do seu caráter linear. Por isso é que Azeredo (1990) ratifica que as unidades sintáticas da língua (sistema de unidades hierarquizadas) apresentam-se sob a forma de palavras, sintagmas, orações e são relacionadas por um conjunto de mecanismos formais.

Veja, caro(a) aluno(a) a expressão “sistema de unidades hierarqui-zadas” para nós, falantes da língua materna, é muito significativa. Sabe por quê? A organização dos termos (sintagmas) em uma oração obe-dece a certa rigidez na posição. Por exemplo, se eu disser a você “O curso de Letras da UAB/UEPB apresenta um corpo discente qualificado” jamais eu poderia reescrever da seguinte forma: “Curso o discente um UAB/UEPB Letras de apresenta da corpo qualificado”. Percebeu como não há sentido nesta ordem? As possibilidades de ordenamento lógico para a oração em análise são limitadas. Agora é como você. Antes, vou ajudá-lo(la). Por exemplo, para a oração “O curso de Letras da UAB/UEPB apresenta um corpo discente qualificado” teremos as se-guintes possibilidades de reescritura lógica, sem prejuízo do sentido original: a) “Apresenta um corpo discente qualificado(predicado) o cur-so de Letras da UAB/UEPB”(sujeito); b) “Um corpo discente qualificado apresenta(predicado) o curso de Letras da UAB/UEPB”(sujeito). Vamos exercitar? Para cada um dos enunciados abaixo reescreva todas as pos-sibilidades de reescritura sem perder o sentido original e as mudanças de posição não podem gerar mudanças dos sentidos originais, está bem?

1. O seu professor de Sintaxe chegou cedo demais.

Reescritura 01:___________________________________________

Reescritura 02:___________________________________________

Reescritura 03:___________________________________________

Reescritura 04:___________________________________________

2. A coordenação de Letras UAB/UEPB tem feito um trabalho efi-caz e de grande importância.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 29

Reescritura 01:___________________________________________

Reescritura 02:___________________________________________

Reescritura 03:___________________________________________

3. Os seus velhos problemas devem ser resolvidos até a próxima semana, se Deus quiser.

Reescritura 01:___________________________________________

Reescritura 02:___________________________________________

Reescritura 03:___________________________________________

Reescritura 04:___________________________________________

Já falamos da hierarquia sintagmática na constituição do discurso: da palavra, aos sintagmas; destes à oração; e desta ao discurso. Nesta perspectiva, a estrutura gramatical da nossa língua comporta vários níveis. O morfema é a menor unidade dessa estrutura; e o período, a maior. Acima do nível dos morfemas acha-se o dos vocábulos; acima deste, o dos sintagmas, a que se superpõe o das orações. Destas vamos aos textos e destes ao discurso e seus meandros. Esquematicamente, temos: DISCURSO, TEXTO, PERÍODO, ORAÇÃO, SINTAGMA, VOCÁ-BULO, MORFEMA.

Que tal exercitarmos um pouco mais? Veja, a unidade sintagmática é considerada um agrupamento intermediário entre o nível do vocá-bulo e o da oração. Desta maneira, um ou mais vocábulos se unem (em sintagmas) para formar uma unidade maior, que é a oração. Os vocábulos que compõem a unidade sintagmática se organizam em tor-no de um núcleo; dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal e sintagma verbal.

Veja com atenção a distribuição dos sintagmas nos exemplos abai-xo. Tomei como exemplo dois enunciados.

Quadro 1

O bom professor não entendeu o aluno.

O bom professorSintagma nominal (SN)

Não entendeu o alunoSintagma verbal (SV)

O bom professor não entendeu o aluno

Det. Mod. (Sadj.) NSN Mod. (Sadv.) NSV Mod. NSN

Quadro demonstrativo de exemplo de distribuição dos sintagmas em uma oração.

Simbologia: Det.: Determinante (pode ser um pronome, artigo e/ou nu-meral; Mod.; Modificador de um nome (Também chamado de sintagma adjetival (Sadj), ou tradicionalmente adjunto adnominal); Mod. (Sadv.): modificador de um verbo, também chamado de adjunto adverbial); SN: (sintagma nominal); NSN: (Núcleo do sintagma nominal); SV: (sintagma verbal); NSV: (Núcleo do sintagma verbal).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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30 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Quadro 2

O bom professor não entendeu o aluno, hoje, infelizmente

O bom professorSintagma nominal (SN)

Não entendeu o aluno hoje, infelizmenteSintagma verbal (SV)

O bom professor não entendeu o aluno hoje infelizmente

Det.Mod. (Sadj.)

NSNMod.

(Sadv.)NSV Mod. NSN

Mod. (Sadv.)

Mod. Oracional.

(Modalizador)

Quadro demonstrativo de exemplo de distribuição dos sintagmas em uma oração.

Simbologia: Det.: Determinante (pode ser um pronome, artigo e/ou numeral; Mod.; Modificador de um nome (Também chamado de sin-tagma adjetival (Sadj), ou tradicionalmente adjunto adnominal); mod. (Sadv.): modificador de um verbo, também chamado de adjunto ad-verbial); SN: (sintagma nominal); NSN: (Núcleo do sintagma nomi-nal); SV: (sintagma verbal); NSV: (Núcleo do sintagma verbal); Mod. oracional (Modalizador).

Como vimos, diferentes vocábulos que pertencem a um mesmo sintagma desempenham, dentro dele, funções distintas: no sintagma nominal, por exemplo, o nome (substantivo) que funciona como núcleo pode ser determinado por artigos, pronomes e numerais e modificado por adjetivos, locuções adjetivas e/ou orações subordinadas adjetivas. Desta maneira, é evidente que existe, dentro do sintagma, uma organi-zação em que os vocábulos, dependendo de sua posição e da relação que estabelecem entre si, desempenham diferentes funções.

Que tal observarmos tal distribuição sintagmática através de um poema? Escolhemos para tal o texto magistral de Cecília Meireles. Atente aos níveis de estruturação, que vão desde os vocábulos até os períodos gramaticais.

Quadro 3

Colar de Carolina

Com seu colar de coral, Carolina corre por entre as colunas da colina.

O colar de Carolina colore o colo de cal, torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor do colar de Carolina, põe coroas de coral

nas colunas da colina.

(Cecília Meireles)

Disponível em:≥http://acd.ufrj.br/~pead/tema16/aclassedossintagmas.html≤.Data da consulta: 12/04/2011

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 31

Quadro 4

Nível do períodoO colar de Carolina colore o colo de cal,

torna corada a menina.

Nível da oraçãoO colar de Carolina colore o colo de cal /

torna coradda a menina.

Nível do sintagmaO colar de Carolina (SN)colore o colo de cal (SV)

torna corada a menina (SV)

Nível do vocábuloCom/ seu/ colar/ de/ coral / Carolina / corre /

por/ entre/ as/ colunas / de/ a /colina.

Nível do vocábuloO / col/ar / de / Carolina / color/e / o / col/o /de/ cal/,

torn/a / cor/a/d/a /a/ menin/a.

Disponível em:≥http://acd.ufrj.br/~pead/tema18/aclassedossintagmas.html≤.Data da consulta: 12/04/2011

Neste poema, a autora faz um jogo de palavras, tirando proveito principalmente do aspecto sonoro. Os diversos níveis a que nos refe-rimos acima podem ser apontados no texto. Com o poema “Colar de Carolina”, podemos exemplificar esses conceitos: diversos vocábulos que se organizam em blocos, os sintagmas, para então formarem ora-ções.

Neste sentido, as gramáticas tradicionais descrevem os níveis da oração e do período no âmbito da sintaxe e os níveis do morfema e do vocábulo, no âmbito da morfologia. No entanto, geralmente não to-mam conhecimento do nível do sintagma - intermediário entre vocábu-los e oração. Valem as sábias palavras de Azeredo (1990) ao ratificar que

os vocábulos não se unem para formar a oração do mesmo modo que os gomos se unem para formar uma laranja. Os vocábulos não formam a oração senão indiretamente. Eles se associam em grupos, os sintagmas, que são os verdadeiros constituintes da oração.

O que nos interessa mais de perto é exatamente esse nível inter-mediário, o sintagma, essa espécie de ponte entre os vocábulos e a oração.

Portanto não basta haver um vocábulo para existir sintagma, nem é necessário mais de um vocábulo para haver sintagma. Como vimos na conceituação de Koch e Souza e Silva (1989, p. 14) ele é conjunto de elementos que constituem uma unidade significativa dentro da oração e que mantêm entre si relações de dependência e de ordem. Organizam--se em torno de um elemento fundamental, chamado núcleo que pode, por si só, constituir o sintagma. Logo, não esqueçamos: relação de dependência e de ordem é o que constitua tônica dos sintagmas.

Mas, como são formados os sintagmas? Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um? Todas as classes podem formar sintagmas?

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Segundo Azeredo (2007) as três perguntas acima estão intimamente relacionadas. Por exemplo, se alguém pergunta: “Como são formados os sintagmas?” A resposta provavelmente seria: “Depende do tipo de sintagma”. Daí concluímos que há mais de um tipo. Ou então, se a per-gunta é: “Todas as classes podem formar sintagmas?” Responderíamos que as classes de vocábulos entram na formação dos sintagmas, mas a participação não é igual; há classes que são núcleo, outras determi-nantes, outras modificadores. Depende do tipo... e assim por diante, como já vimos nos quadros 1 e 2. Mas, calmo, querido(a) aluno(a)! As nomenclaturas dos quadros citados serão exaustivamente exploradas em outras aulas. Por enquanto, o mais importante é você perceber a hierarquia que rege a formação e o funcionamento dos sintagmas.

Por tudo o que foi dito até agora, podemos afirmar que: a) podemos reconhecer a classe dos sintagmas; b) há procedimentos para provar a sua existência; c) há mais de um tipo de sintagma; d) os vocábulos se unem para formar sintagmas; e) os sintagmas formam a oração e estas períodos; f) a natureza do sintagma depende do seu núcleo. Assim, temos, em português, duas classes de sintagmas: o sintagma nominal (SN) - que tem o nome como núcleo - e o sintagma verbal (SV) - que tem o verbo como núcleo. a grosso modo, funcionando como modificador deste ou daquele temos, respectivamente, o sintagma adjetival (Sadj. ou SPadj.) e o sintagma adverbial (Sadv. ou o SPadv.). Nas aulas seguintes nos deteremos melhor sobre algumas particularidades destes.

Vamos trabalhar um pouco mais?

Atividade IIdentificação de sintagmas.

1. Você vai ler o texto abaixo e a seguir responder as questões pedidas.

“Causos” de Seu Lunga.

(L.1) Seu Lunga é o cabra mais ignorante do mundo. Ele não tem muita paciência com nada. Aqui no Nordeste, sua fama se espalha de-vido a histórias como essas: Lunga estava tirando goteiras, defeitos das telhas de sua casa quando um curioso passou e (L.3)perguntou: “Tá tirando as goteiras, seu Lunga?”. Ele responde: “Tô não, tô é fazendo”. E aí saiu feito louco a quebrar as telhas.

(...)

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Uma certa vez, dando uma surra em um dos seus filhos, quando ainda pequeno, o (L.7)menino gritava: “Tá bom pai, tá bom pai, pelo amor de Deus, tá bom!!!!!”. Lunga responde: “Tá bom? Que legal! Pois quando tiver ruim diga, que eu paro.”

(...)

(L.9) No seu comércio de sucata, ele também vende outros produ-tos dependendo da ocasião. Uma vez tinha uma saca de arroz e um romeiro perguntou: “Seu Lunga, como tá o arroz?”. Ele respondeu: “Tá cru!!!!!!”Disponível em:≥http://www.portaldopajeu.com/index.php/para-rir/94-para-rir/361-piadas-e-causos-de-seu-lunga≤.Data da consulta: 25/04/2011

A) No segundo “causo”, qual foi o entendimento de seu Lunga em relação aos desesperados pedidos de seu filho de que “Tá bom, pai”? Que confusão se estabelece e que efeito de sentido daí adveio?

B) Preencha os espaços abaixo com os respectivos números a partir dos seus conhecimentos sobre os sintagmas e seus componentes e levando em consideração as convenções abaixo a seguir:

1: SN (sintagma nominal); 2: SV (sintagma verbal); 3: NSN (nú-cleo do SN); 4: NSV (núcleo do SV); 5: Mod. (Modificador do nome, (substantivo) – Sadj: sintagma adjetival); 6: Mod. (do ver-bo, (advérbio) – Sadv: sintagma adverbial); 7: Mod. do verbo, ((advérbio) – SPadv: sintagma preposicionado adverbial – locução adverbial); 8: Det. (determinante de um nome: pronome,artigo, numeral).

Siga o exemplo a seguir:

B.1) (L.1)“Ele não tem muita paciência com nada”

Ele: 1. SN

Não tem muita paciência com nada: 2. SV

Não: Mod. 6. (Sadv)

Muita paciência: 1. SN

Muita: 5. Mod. (Sadj

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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B.2) “Aqui no Nordeste, sua fama se espalha devido a histórias como essas.”

Aqui:______

No Nordeste:______

Sua fama:________

Aqui no Nordeste, se espalha devido a histórias como essas:______

Histórias como essas:______

Sua:______

Se espalha:_______

B.3) “No seu comércio de sucata, ele também vende outros produtos”

No seu comércio de sucata:_______

Comércio de sucata:_______

De sucata:_______

Ele:_______

No seu comércio de sucata, também vende outros produtos: _________

Outros produtos:________

Produtos:_________

Outros:_________

B.4. “Um romeiro perguntou”.

Um romeiro:________

Perguntou:________

Um:_______

C. Pelo que você estudou é possível que tenhamos um SN apenas formado por um vocábulo? Se sua resposta for positiva, dê um exemplo.

D. Pode-se ter determinante ((Mod.) - artigo, numeral ou pronome) sem o seu SN ou SV? Por quê?

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 35

Atividade IIIdentificação de marcadores coesivos, bem como repercussão na coerência textual.

1. Ler o texto abaixo com atenção e responder o que se pede.

“Eu acordei de madrugada, às 6:00, do dia 15/09/2007. Depois, fui tomar banho, assim a água acabou, mas não paguei a conta de luz. Liguei pro banco, no intuito de pedir um empréstimo. Mas eles disseram que, só poderiam emprestar o valor que eu queria no dia 18/09/2006, nem antes e nem depois. Mas, fui tomar café da manhã. Eu ia tomar leite com café e rosquinhas, mas não tinha sal para adoçar o leite. Só cereal com. Então, tive que fazer suco de uva mesmo. Pois, eu só vol-taria ao supermercado em 2 dias. Só que, quando fui fazer o chá, vi que não havia amoras. Logo, fui até a casa do vizinho solteirão pedir 1 caixa de leite emprestada. Cheguei lá num instante, mas demorei a ser atendido. A vizinha disse que, o chocolate em pó dela também acabou, e pediu desculpas. Então, fui tomar café no restaurante. Mas, aquele não estava em horário de funcionamento, apenas este. E como eu não ia esperar esta lanchonete abrir, resolvi tomar cereal com leite mesmo. Atrasei-me pro serviço, mas não tive culpa de chegar lá adiantado”. Disponível em:≥http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070912091608AAWg7dS≤.Data da consulta: 44/12/1822. Adaptado.

A) Localize, pelo menos 10 (dez) situações de explícita incoerência, ora provocada por questões que ferem a nossa lógica de mundo, ora por elementos mal coesos.

1:______________________________________________________

2:______________________________________________________

3:______________________________________________________

4:______________________________________________________

5:______________________________________________________

6:______________________________________________________

7:______________________________________________________

8:______________________________________________________

9:______________________________________________________

10:_____________________________________________________

11:_____________________________________________________

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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B) Agora, com calma, reescreva o texto acima, fazendo as adaptações necessárias e tornando-o mais coeso e coerente.

C) Pode-se dizer ser o texto acima bem coeso? Por quê?

Leituras recomendadas

Você se lembra, caro(a) aluno(a), daquela “gramaticazinha” das páginas desbotadas que está há anos encostada na sua estante, rele-gada à condição de abandono e à mercê das traças? Dá pena, não? Pois bem, a minha sugestão é que você a abra com cuidado e a leia, em especial as partes que se referem à sintaxe. Para quê? Simples. É preciso que você revise os conceitos básicos de sintaxe, seus constituin-tes, termos essenciais, integrantes, acessórios, determinantes, modifica-dores etc. Não há jeito. É preciso investir em você...

Ademais, vá à internet e tente descobrir se nas conversas do MSN há alguma sintaxe que o regula. Depois, conversaremos melhor sobre isso.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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ResumoCaro(a) aluno(a), atente aos seguintes pontos para melhor fixação

do que vimos até agora. Observe:

1º) A sintaxe quer dizer ordenamento horizontal entre componen-tes, relação de combinação de unidades linguísticas, na sequência de sons da fala e de escrita, a serviço da rede de relações da língua. As relações sintagmáticas baseiam-se no caráter linear do signo lingüísti-co, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo.

2º) A Sintaxe é a parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e a das frases no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si. Ao emitir uma mensagem verbal, o emissor procura transmitir um significado completo e compreensível. Para isso, as pala-vras são relacionadas e combinadas entre si. A sintaxe é um instrumen-to essencial para o manuseio satisfatório das múltiplas possibilidades que existem para combinar palavras e orações.

3º) O sintagma é um segmento lingüístico que expressa uma rela-ção de dependência. Nessa relação de dependência, diz-se que existe um elemento determinado e outro determinante(ou subordinado), es-tabelecendo um elo de subordinação entre ambos. Cada um desses elementos constitui um sintagma. Este termo é comumente empregado para se referir às partes da sentença. Dessa forma, o sintagma se carac-teriza conforme o tipo gramatical dos seus elementos nucleares:

• Sintagma nominal (SN): quando o núcleo do sintagma é um nome (funcionando como substantivo).

• Sintagma adjetival (SAdj): quando o núcleo do sintagma é um adjetivo

• Sintagma verbal (SV): quando o núcleo do sintagma é um verbo

• Sintagma preposicional (SP): quando o núcleo do sintagma é uma preposição

• Sintagma adverbial (SAdv): quando o núcleo do sintagma é um ad-vérbio

Desta forma, em uma análise sintática a identificação dos sintagmas e seus tipos é bastante importante. Isso facilita a compreensão do papel sintático exercido pelas palavras na sentença que está em análise.

4º) É possível que a má coesão, articulação entre os termos de uma oração, possa gerar a incoerência. Logo, o mau uso de um conectivo e/ou pronome pode ser comprometedor à boa performance do texto em termos de coerência.

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ReferênciasAZEREDO. José Carlos de. Ensino de Português. Fundamentos, percursos e objetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

____ Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

____ Língua Portuguesa em Debate. Conhecimento e ensino. 5° ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37 edição revista e ampliada. 15 reimpressão. rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Theresa Cochar. Português: linguagens. Volume Único. 2° ed. São Paulo: Atual Editora, 2005.

MUSSALIM, Fernanda e BENTES, Anna Christina. (organizadoras). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. Vol. I. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

SILVA, Maria Cecília P. de Souza e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

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III UNIDADE

Continuando jogando com a sintaxe da língua: de onde vem esse jogo de xadrez saussureano?

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Apresentação

Na nossa segunda aula, refletimos de forma mais detida sobre pon-tos importantes que nortearam os estudos sintáticos. Tentamos, juntos, responder inicialmente às 03 (três) questões básicas e cruciais que de-vem ser pressupostos para qualquer estudo sintático: a) O que é? b) Sua estrutura e c; Seu grau de importância frente aos estudos de nossa língua. Neste momento, em que iniciamos nossa terceira aula, deve-remos nos aprofundar mais ainda nos nossos estudos sintáticos. Antes, entretanto, que tal nos deliciarmos com os versos abaixo, do poeta Ronaldo Cunha Lima?

Poema 1

O PERÍODO com mais orações.É o que você passa na igreja.

LIMA, Ronaldo Cunha. Versos Gramaticais. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1994

Poema 2

Um homem safadoSUJEITO sem predicados.

LIMA, Ronaldo Cunha. Versos Gramaticais. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1994

Poema 3

Só há fé no peitoORAÇÃO SEM SUJEITO.

LIMA, Ronaldo Cunha. Versos Gramaticais. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1994

Poema 4

Na ORAÇÃOo PREDICADOé do SUJEITOque reza.

LIMA, Ronaldo Cunha. Versos Gramaticais. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1994

Poema 5

A féé o COMPLEMENTO DIRETOda oração.

LIMA, Ronaldo Cunha. Versos Gramaticais. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1994

Poema 6

No teu amor passivoEu IMPERO ATIVO.LIMA, Ronaldo Cunha. Versos Gramaticais. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1994

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Poema 7

Repetir o orgasmoNão é PLEONASMO.

LIMA, Ronaldo Cunha. Versos Gramaticais. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1994

Gostosos, não? Vamos refletir sobre eles? Vamos lá!!!.

Como você sabe, uma das características do texto poético é justa-mente a brincadeira alegre, mágica, curiosa e ambígua (duplicidade de sentidos) que se estabelece entre as palavras no poema. Por exemplo, no poema 01 a expressão PERÍODO é organizada criativa e semanti-camente de tal forma que tanto pode significar intervalo de tempo (no caso em que se reza na igreja) ou uma referência a período gramatical (uma ou mais orações, frases), já que também o texto fala de orações (tanto tratando de frases como de prece religiosa). Entendeu, né?

Bom, com base no proposto no poema 01, faça o mesmo com os demais poemas (02, 03, 04, 05, 06 e 07). Explique os sentidos sugeri-dos nas expressões de cada unidades.

Poema 02:

Poema 03:

Poema 04:

Poema 05:

Poema 06:

Poema 07:

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42 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Bem, como você bem observou o título desta unidade trata de um estranho jogo de xadrez saussureano, metáfora muito importante dos estudos inaugurados por Saussure no início do século XX. Atente, caro(a) aluno(a), cuidadosamente à citação a seguir

Saussure separou o Estado da língua de sua evolução no tempo e a definiu como um sistema, ou seja, um todo ordenado, composto de diferentes elementos limitados que podem ser articulados entre si, dando início a infinitas sen-tenças pela maneira e razão com as quais se dispõem. Os elementos são dispostos nos sistemas e nos supersistemas. O sistema possui as suas menores unidades, que no caso da língua são os fonemas, e atinge, através delas, um grau crescente de complexidade, que formam sistemas maiores, como, por exemplo, os níveis fônicos, semânticos e léxicos, interrelacionados no super-sistema.

Os elementos do sistema são inter-relacionados e inter-dependentes, e a estrutura é a maneira ou forma que este sistema se organiza. Os elementos têm atribuições de valor dentro do conjunto, podendo ser indispensáveis e freqüen-tes ou periféricos e esporádicos. Fazendo uma analogia com o sistema solar, temos o sol no centro, nomeando o sistema. Ao redor dele orbitam uma série de corpos ce-lestes, dos quais destacam-se os planetas. Estes, por sua vez, também podem possuir satélites próprios, tornando--se centrais em um micro-sistema dependente do super--sistema.

Outra comparação freqüente que Saussure faz é com o jogo de xadrez, um jogo racional e sistemático por ex-celência. No sistema de xadrez, cada peça tem um valor definido pela sua indispensabilidade, poder de ataque e de defesa. Porém, sua nomenclatura e valoração é arbitrária, assim como a língua também é arbitrária. Pode-se substi-tuir uma pilha por um peão sem prejuízo para a partida. Da mesma forma, alguém que conhece as regras pode pegar uma posição de um jogo num dado momento e de-duzir a situação e as possibilidades de desdobramento ser ter visto o histórico da partida. Nesse ponto, a analogia é com o recorte que Saussure faz com o estado sincrônico da língua.

Uma escrita antiga pode ser totalmente desconhecida, como a cuneiforme era, já que os símbolos e palavras são arbitrários, mas os linguístas e arqueólogos podem acabar por decifrá-la por conhecerem a estrutura profunda com a qual se articulam as línguas.(Disponívelem:≥http://blog.cybershark.net/miguel/2009/02/12/saussure-e-a-lingua-como-sistema≤.Datadaconsulta:15/04/2011.).

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 43

Ferdinand de Saussure, o pai da lingüística moderna

Após a morte de Saussure, seus discípulos esperavam encontrar em seus manuscritos a imagem fiel de suas geniais lições. Qual o quê! O mestre destruía os rascunhos que es-crevia, as gavetas de sua escrivaninha esta-vam quase vazias. O jeito foi reunir as anota-ções minuciosas de seus alunos, compará-las e recriar cuidadosamente o pensamento do pioneiro da linguística. O resultado deste tra-balho foi a publicação do “Curso de Linguís-tica Geral”.

Filho de uma família abastada, Ferdi-nand de Saussure estudou desde cedo inglês, grego, alemão, francês e sânscrito. Com o objetivo de continuar a tradição científica de sua família, em 1875, estudou física e quími-ca na Universidade de Genebra. Em 1877, aos 21 anos, Ferdinand de Saussure publi-cou o livro “Memória sobre as Vogais Indo--Européias”.

Três anos depois o estudioso defendeu sua tese de doutorado, “Sobre o Emprego do Genitivo Absoluto em Sânscrito”. Em 1881, Ferdinand de Saussure assumiu a cátedra de linguística comparada na Escola de Altos Estudos de Paris. Em 1886 tornou-se membro da Sociedade Lingüística de Paris e no ano seguinte foi para Leipzig, na Alemanha, completar seus estudos.

Transferiu-se em 1891 para a Universidade de Genebra, lecionando lin-güística indo-européia e sânscrito até 1906, quando passou a professor titular de linguística. Saussure foi professor na Universidade de Genebra até sua morte, aos 55 anos.

Seus discípulos Charles Bally e Albert Sechehaye organizaram as anotações dos alunos de Saussure, realizadas durante seus cursos universitários. Em 1915 foi publicado o já mencionado “Curso de Linguística Geral”, considerada a obra fundadora da lingüística moderna.

Disponível em:≥http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u267.jhtm≤.Data da consulta: 22/04/2011Imagem disponível em: http://4.bp.blogspot.com/_mnQNHOzCq5g/TSxSJVAXSlI/AAAAAAAAAmw/RvO9OlBH9rg/s1600/Ferdinand_de_Saussure_by_Jullien.png. Acessado em: 04.11.2011

1. Antes de recomeçar, que tal relembrar?

É bom reencontrá-lo(a), querido(a) aluno(a). Lembremos sempre do nosso poetinha maior, Vinícius de Morais: a vida é sempre a arte do en-contro, embora às vezes haja tantos desencontros pela vida afora. Se em algum momento, nestas 02 (duas) aulas iniciais, você se sentiu em dificul-dades, fruto de eventuais desencontros virtuais, não se esqueça: estamos aqui prá nos encontrarmos e, com certeza, o ajudaremos a se encontrar nos caminhos iniciais do jogo da sintaxe. E por falar em jogo, nesta aula iremos nos deter com mais profundidade neste jogo, por exemplo, como se originou, de onde vêm as suas regras, como se estruturam os seus jogadores (lembra-se dos sintagmas na oração? Já demos um bom co-meço, não foi?) e que importância eles exercem na partida.

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Antes de começarmos a jogar, é bom revisarmos um pouco o que vi-mos em nossa segunda aula. Baseamo-nos em pontos essenciais da sinta-xe, como: o que é, a importância de seu estudo, além de vermos um pou-co de sua estrutura, em especial a constituição dos chamados sintagmas, suas classificações e posições assumidas na oração. De Mussalim e Bentes (2007, p. 207), vimos que a “sintaxe tradicionalmente remete à parte da Gramática dedicada descrição do modo como as palavras são combina-das para compor os sintagmas; e estes para compor as sentenças; e estas se organizando até formarem os textos, e assim por diante. Tudo hierarqui-camente estruturado e organizado sob a forma de regras. Logo, vimos que a sintaxe é parte de um grande jogo de organização de termos, sintagmas, orações, discursos etc. Na sintaxe, ou de forma rígida, ou em alguns casos de maneira flexível, sem regras não se pode jogar. Cada peça exerce a sua função, a tão famosa função sintática. Neste sentido, um jogador (palavra, ou sintagma) não pode invadir a função de outro na partida. O máximo que pode ocorrer é um acordo de troca de posições. Se no enunciado “João sente algo muito forte por Luzia” o sintagma nominal “João” quiser entrar em acordo com o sintagma verbal “sente algo muito forte por Luzia” e ambos trocarem de posição não há problema. Não se perde a grama-ticalidade em “Sente algo muito forte por Luzia João”. Entretanto, no SV “sente algo muito forte por Luzia” não se permite jogar sintaticamente com esta regra, por exemplo: “sente algo forte muito Luzia por”. Entendeu? A hierarquia do sintagma não permite esta regra.

Atenção, querido(a) aluno(a), a mera inversão dos sintagmas no jogo gramatical não é critério sintáticos suficiente para se falar clareza, portan-to, boa compreensão do enunciado. É preciso investigar os sentidos, ver a questão semântica. Se eu disser, por exemplo, que “Maria ama Pedro”, quem seria o SN (sujeito oracional) responsável pela ação, nesta circuns-tância, de amar? E se eu inverter os sintagmas, atribuindo a Pedro a ação de amar, esclarece algo? Parece que não, concorda? Quem ama quem? Temos aqui um caso típico de enunciado ambíguo. É preciso mais que posição para torná-lo eficaz em matéria de comunicação. Precisamos consultar os dois sujeitos para saber dos seus sentimentos.

Gostou da revisão? Sigamos em frente. Avancemos para águas sintá-ticas mais profundas neste jogo e um caloroso e sincero “abraço virtual”!

ObjetivosAo final desta aula você deverá:

• Distinguir os conceitos de sincronia e diacronia.

• Compreender a centralização histórica do estudo do sintagma, em uma perspectiva estruturalista.

• Estudar a importância de Ferdinand Saussure dentro do estudo do sintagma.

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Prá começo de conversa...Sintaxe: de onde vem? Que base teórica a fundamenta?

É fundamental jamais esquecermos, caro(a) leitor(a), que não po-demos falar de sintaxe sem nos reportarmos ao mestre genebrino Saus-sure. No momento em que ele define a distinção clássica, no final do Século XIX, entre langue (língua) e parole (fala, discurso1). Para ele, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, possui homogeneidade e por isto é o objeto da lingüística propriamente dita. Bom, este é o divisor de águas teórico que pra-ticamente prenuncia um caráter científico aos estudos sintáticos. Na medida em que cria a tão famosa dicotomia langue x parole, Saussu-re também dá status de ciência autônoma à sintaxe. Por que, caro(a) aluno(a)? Simplesmente porque propõe o estudo da estrutura da sen-tença. É o que nos ratificam Mussalim e Bentes (2007, p. 210), nesta compreensão, ao afirmarem que

no momento em que Saussure propõe a clássica distinção entre langue e parole, ou seja, em que define a existência de um sistema de convenções, regras e princípios independente do uso linguístico, instaura a possibilidade de se estudar a linguagem ou de um ponto de vista estritamente formal ou do ponto de vista de suas funções. (Grifo nosso)

Bom, caro(a) aluno(a), no momento em que Saussure instaura a possibilidade de se estudar a linguagem de um ponto de vista estri-tamente formal, observando apenas a sua estrutura interna, as leis e suas regras que regem a organização dos enunciados que compõem a sua estrutura, ou do ponto de vista de suas funções inaugura as 02 (duas) tendências teóricas que, a partir daquele momento, vão reger o funcionamento dos estudos teóricos da língua: o formalismo e o funcio-nalismo, responsáveis pela inspiração dos inúmeros ramos de estudo. O primeiro, se preocupando com os estudos das características inter-nas da língua, tais como a natureza de seus constituintes bem com a relação entre eles, isto é, o aspecto formal da língua. Daí a expressão formalismo. Entendeu. Logo, a sintaxe se fundamente teoricamente no formalismo. Aqui, o que vale é a estrutura linguística interna da língua, língua enquanto autônoma, sem se preocupar com o contexto (ou a situação comunicativa). Para os pesquisadores a língua, (e aí a sintaxe, por extensão) deveria ser examinada de forma autônoma. Como efeito dessa autonomia da sintaxe toda a análise linguística à luz do forma-lismo deveria ser feita enfatizando a sentença. Entendeu como surgem os estudos sintáticos até hoje com tanta ênfase? Quaisquer estudos, por exemplo, de variação linguística observáveis na ordem em que se

1 Professor de Línguas Indo-Européias e Sânscrito em Genebra desde 1891, estabe-leceu as bases do estruturalismo lingüístico (Curso de Lingüística Geral, publicado pos-tumamente em 1916). Saussure diferen-ciava o sistema da linguagem ou Langue (língua) da utilização individual e concreta ou Parole (fala). Segundo ele a língua “é a parte social da linguagem”, isto é, ela pertence a uma co-munidade, a um grupo social. É homogênea, fechada e abstrata. Para Saussure ela é o objeto do conhecimento da lingüística. A fala, por sua vez, é individual, diz respeito ao uso que cada falante faz da língua. Em Saussure ela é considerada como conjuntu-ra lingüística, individual e até marginal.Nem a língua nem a fala são imutáveis. Uma língua evolui, transformando-se fonetica-mente, adquirindo novas palavras, rejeitan-do outras. A fala do indivíduo modifica-se de acordo com sua história pessoal, suas intenções e sua maior ou menor aquisição de conhecimentos. Segundo ele, no funcio-namento da língua, não se é levado pelo que as formas foram, mas por aquilo que elas são e pelas relações que elas têm naquele momento da história.Saussure chega a sua clássica distinção entre Langue e Parole (língua e fala), como forma de definir um objeto específico para a lingüística (a Langue), que apresentasse uma homogeneidade interna, sem o qual seria impossível pensar a linguagem cien-tificamente. A língua seria este objeto ho-mogêneo. Esta concepção da língua como sistema substitui a concepção naturalista, organicista, e atomista, própria do compa-ratismo onde Saussure foi criado.

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apresentam os sintagmas de uma sentença deverão ser tratados em termos de propriedades internas ao sistema lingüístico. Já o segundo veio teórico, o funcionalismo, ao contrário do formalismo, vê a lingua-gem como um sistema não autônomo que nasce da necessidade de comunicação entre os membros de uma dada comunidade. Tal sistema ficaria sujeito ao meio social, às condições e circunstâncias de produ-ções do discurso, aqui tratado enquanto atividade de fala, língua em ação. Para os funcionalistas a força está na comunicação e não língua, entendeu? Aquela determina o modo como esta se estrutura. Segundo os funcionalistas qualquer análise de fato lingüístico, ao contrário dos formalistas, deve levar em conta, não a estrutura interna da língua, mas as relações entre falante e ouvinte, ou seja, a comunicação entre eles naquele momento. É o que Halliday (1978), citado por Bentes (2007) vai nos ratificar: “tenta-se explicar a natureza da linguagem, sua orga-nização interna, em termos das funções que ela desenvolveu para servir na vida do homem social”.

E aí, querido(a) aluno(a), ficou claro como a sintaxe surge? É no formalismo que ela se notabiliza e interfere até hoje com tanta força nas aulas de língua materna, inclusive nas suas “quase sempre ‘cha-tas’ aulas de Gramática”, não é mesmo? Muito provavelmente seus professores não tiveram o cuidado, por exemplo, de alargar e pensar a sintaxe além dos limites da sentença, não foi? Com certeza, seus estudos de sintaxe seriam bem mais agradáveis se, quem sabe, lhes tivesse atribuído também um olho semântico, nas coisas do discurso, no fenômeno da fala, por exemplo.

Saussure e as bases do estruturalismo no mundo: o que tem a ver com os estudos sintáticos?

Se você entendeu como se explicam até hoje os estudos da sintaxe, (como vimos a luz de uma perspectiva formalista) então é muito impor-tante saber que Saussure, mais do que isso, é responsável direto por uma teoria maior. Veja, no momento em que ele centra seus estudos na estrutura linguística interna da língua, língua enquanto autônoma, sem se preocupar com o contexto (ou a situação comunicativa), conforme vimos anteriormente, na verdade, readapta para a linguística uma gran-de corrente teórica denominada estruturalismo. O termo estruturalismo tem origem no Cours de linguistique générale de Ferdinand de Saussure (1916), que se propunha a abordar qualquer língua como um sistema no qual cada um dos elementos só pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elementos. O Estruturalismo é uma modalidade de pensar e um método de aná-lise praticado nas ciências do século XX, especialmente nas áreas das humanidades. Metodologicamente, analisa sistemas em grande escala examinando as relações e as funções dos elementos que constituem tais sistemas, que são inúmeros, variando das línguas humanas e das

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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práticas culturais aos contos folclóricos e aos textos literários. Partindo da Lingüistica e da Psicologia do principio do século XX, alcançou o seu apogeu na época da Antropologia Estrutural, ao redor dos anos de 1960. O Estruturalismo fez do francês Claude Lévi-Strauss o seu mais celebrado representante, especialmente em seus estudos sobre os indí-genas no Brasil e na América em geral, quando se dedicou à “busca de harmonias insuspeitas”

Esse conjunto de relações forma a estrutura. Esta é baseada no estudo da linguagem como sistema de signos -, é entendida como um todo que só pode compreender-se a partir da análise de seus compo-nentes e da função que cumprem dentro do todo. Essas estruturas têm, assim, o caráter de uma totalidade na qual qualquer modificação de al-guma das suas relações afeta o conjunto, já que a estrutura mesma está definida por suas relações, sua autorregulaçao e suas possíveis trans-formações. A partir de sua aplicação na lingüística, o estruturalismo começou a estender-se a outras ciências sociais. Por exemplo, como corrente metodológica se deu principalmente na França, pelos idos de 1960, em luta aberta contra a corrente existencialista representada por Sartre (contra quem Lévi-Strauss polemizou diretamente), e contra todas as formas de pensamento historicista, incluindo o marxismo. Como consequência de sua posição anti-historicista e anti-subjetivista e da noção mesma de estrutura, o estruturalismo é considerado por muitos teóricos como uma forma de anti-humanismo metodológico que pro-clama a «morte do homem». Nesse confronto, o estruturalismo foi acu-sado, especialmente por Sartre, de ser uma mera ideologia formalista que conduzia a posições conservadoristas.

Neste sentido

O estruturalismo é uma abordagem que veio a se tornar um dos métodos mais extensamente utiliza-dos para analisar a língua, a cultura, a filosofia da matemática e a sociedade na segunda metade do século XX. Entretanto, “estruturalismo” não se refe-re a uma “escola” claramente definida de autores, embora o trabalho de Ferdinand de Saussure seja geralmente considerado um ponto de partida. O estruturalismo é mais bem visto como uma aborda-gem geral com muitas variações diferentes. Como em qualquer movimento cultural, as influências e os desenvolvimentos são complexos. De um modo geral, procura explorar as inter-relações (as “estru-turas”) através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura. Um uso secundário do estruturalismo tem sido visto recentemente na filosofia da matemática. De acor-do com a teoria estrutural, os significados dentro de uma cultura são produzidos e reproduzidos através de várias práticas, fenômenos e atividades que servem como sistemas de significação. Um estruturalista estuda atividades tão diversas como rituais de preparação e do servir de alimentos, ritu-ais religiosos, jogos, textos literários e não-literários

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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e outras formas de entretenimento para descobrir as profundas estruturas pelas quais o significado é produzido e reproduzido em uma cultura. Por exemplo, um antigo e proeminente praticante do estruturalismo, o antropólogo e etnógrafo Claude Lévi-Strauss, analisou fenômenos culturais incluin-do mitologia, relações de família e preparação de alimentos.

Disponível em: >http://pt.wikipedia.org/wiki/Estruturalismo<. Data da pesquisa: 15/04/2011

Tal abordagem, caro(a) aluno(a), se concentrava em examinar como os elementos da linguagem se relacionavam no presente (‘sin-cronicamente’) ao invés da historicização dos fatos (‘diacronicamente’). Enfatizou, desta forma, uma visão sincrônica, um estudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica do estudo da linguística his-tórica, estudo da mudança dos signos no eixo das sucessões históricas, a forma como o estudo das línguas era tradicionalmente realizado no século XIX. Com tal visão sincrônica, Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo (recorte sincrônico). Esta, caro aluno, é a força teórica inspiradora dos estudos da sintaxe, que por sua vez motivaram o formalismo, já visto antes.

Assim, ele focou não no uso da linguagem (o falar, ou a parole, conforme já vimos), mas no sistema subjacente de linguagem (idioma, ou a langue) do qual qualquer expressão particular era manifestação. Enfim, ele argumentou que sinais linguísticos eram compostos por duas partes, um ‘significante’ (o padrão sonoro da palavra, seja sua proje-ção mental - como quando silenciosamente recitamos linhas de um poema para nós mesmos - ou sua realização física como parte do ato de falar) e um ‘significado’ (o conceito ou o que aquela palavra quer dizer). Era totalmente diferente das abordagens anteriores à linguagem, que se focavam no relacionamento entre palavras e as coisas que elas denominavam no mundo. Concentrando-se na constituição interna dos sinais ao invés da sua relação com os objetos no mundo, Saussure fez da anatomia, estrutura da linguagem, algo que pode ser analisado e estudado.

Até aqui está claro o que discutimos? Bom, foi necessário apro-fundar as bases teóricas justificadoras da sintaxe porque, queiramos ou não, grande parte das práticas pedagógicas de ensino de língua materna, ainda hoje, ainda sobrevivem sob a esteira teórica do estru-turalismo. A chamada gramática de frase e de período ou o estudo do texto como pretexto para se explicá-la apenas sobrevivem fortemente nas nossas escolas.

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... e prá continuar a nossa conversa...Que tal não nos esquecermos disso?

1. O estruturalismo foi desenvolvido em diversas áreas: na lingüís-tica (Saussure), na antropologia (Lévi-Strauss), na sociologia (Radcliffe-Brown), na literatura (R. Barthes), na filosofia (Fou-cault, Derrida e Deleuze), na psicanálise (Lacan), no marxismo (Althusser), na psicologia (Piaget), entre outras.

2. O estruturalismo é governado por princípios como “o da estrutu-ra” reporta aos elementos que compõe uma língua, caracteriza-dos em virtudes da organização global de que fazem parte. Sob este prisma, fazer ciências da linguagem é postular, e simultane-amente, elucidar as estruturas sistêmicas inerente ao enunciado. Cada unidade é sistêmica e, portanto, só pode ser identificada no seu interior. Assim, o objetivo da gramática de Saussure é nomeado por seus seguidores de “Estruturalismo”, é estudar a organização da língua e o sistema linguístico, investigando as relações entre as unidades linguísticas por meio de suas oposi-ções ou contrastes, ignorando totalmente o estudo da linguística histórica, ou seja, a mutação do sistema através dos tempos.Disponível em: >http://www.webartigos.com/articles/14809/1/Estudo-Comparativo-entre-Estruturalismo-Gramatical-e-o-Funcionalismo-dos-termos-da-racao/pagina1.html#ixzz1kuubjtt1<. data da consulta: 22/04/2011.)

3. Sem dúvida o nome mais importante e que vem a dar origem ao termo estruturalismo e todos os seus desdobramentos é o nome do lingüista suíço Ferdinand Saussure (1857-1913). Ele ministrou um curso de lingüística geral e que vem a ser publi-cado posteriormente através das anotações de seus alunos três anos depois de sua morte, portanto em 1916. Estes estudos tornam-se uma grande revolução epistemológica. Propunha-se a abordar qualquer língua como um sistema no qual cada um dos elementos só pode ser definido pelas relações de equiva-lência ou de oposição que mantém com os demais elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura. Saussure lança as bases de uma verdadeira ciência da linguagem; e é “da estru-tura que é a linguagem, dentro de cujas possibilidades move-se o nosso pensamento.” Conforme comenta Reale (2006 p.83).

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4. Mesmo que Saussure tivesse o estilo de seus contemporâneos, ou seja, interessado em linguística histórica, desenvolve naquele Curso uma teoria mais geral de semiologia (estudo dos signos). Essa visão mais ampla objetivava examinar como os elementos da linguagem se relacionavam no presente (“sincronicamente” ao invés de “diacronicamente”). Desta maneira ele focou não o uso da linguagem (o falar), mas no sistema subjacente de linguagem (idioma) do qual qualquer expressão particular era manifestação. Por consequente ele argumentou que sinais lin-guísticos eram compostos por duas partes, um “significante” (o padrão sonoro da palavra, seja sua projeção mental – como quando silenciosamente recitamos uma musica ou uma poesia para nós mesmos – ou de fato, sua realização física como parte do ato de falar) e um “significado” (ou seja, o conceito ou o que aquela palavra quer dizer).

5. Saussure, ao invés concentrava-se na constituição interna dos sinais e não na sua relação com os objetos no mundo físico, fez da anatomia e estrutura da linguagem algo que pode ser estudado e analisado profundamente.

6. De um modo geral pode-se dizer que o Formalismo consiste numa abordagem cujo foco incide tão somente na observação e descrição das características estruturais das línguas, desconsi-derando suas possíveis funções. Já o Funcionalismo consiste em qualquer abordagem linguística que dá importância aos propó-sitos inerentes ao emprego da linguagem. Halliday (1985) assi-nala que a oposição entre essas duas abordagens relaciona-se ao tipo de orientação que cada um segue. Assim, para o referi-do estudioso, o Formalismo assenta-se na lógica e na filosofia e se caracteriza por uma orientação primariamente sintagmática. Por isso, suas gramáticas interpretam a língua como um conjun-to de estruturas, nas quais podem ser firmadas, num segundo passo, relações regulares. Ancoradas nesta concepção, tendem a enfatizar os traços universais da língua, creditando à sintaxe o centro dos estudos linguísticos. Por extensão, organizam a língua em torno da frase. Ou seja, são gramáticas arbitrárias.

7. No que tange ao Funcionalismo, Halliday (1985) afirma ser esta abordagem assentada na retórica e na etnografia, com orienta-ção paradigmática. Logo, as gramáticas funcionais concebem a língua como uma rede de relações, enfatizando as variações entre diferentes línguas, considerando a semântica como base de análise e organizando-a em função do texto ou do discurso

Disponível em: >http://www.webartigos.com/articles/14809/1/Estudo-Comparativo-entre-estruturalismo-gramatical-e-o-funcionalismo-dos-termos-da-oracao/pagina1.html#ixzz1kuubjtt1<. data da consulta: 22/04/2011

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Vamos refletir um pouco mais?

Atividade I

Preencha os espaços abaixo de acordo com os seus conhecimentos apreendidos sobre as tendências inspiradoras dos estudos da sintaxe.

a) No formalismo a língua é tida como_________________ ao passo que no estruturalismo é tida como______________________

b) O fundador da linguística moderna e com efeito do estruturalismo no mundo foi___________________

c) Saussure estabeleceu a clássica dicotomia entre________________ e ________________.

d) Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo. A este recorte chamamos ________________.

e) Os estudos da _____________ surgem a partir do formalismo e interferem até hoje com tanta força nas aulas de língua materna no Brasil.

f) O Estruturalismo propunha-se a abordar qualquer _____________como um sistema no qual cada um dos elementos só pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura. Esta é a concepção inspiradora dos estudos sintáticos.

g) Logo, a sintaxe se fundamente teoricamente no formalismo. Aqui, o que vale é a estrutura linguística interna da língua, língua enquanto autônoma, sem se preocupar com o __________, ou a situação comunicativa.

h) De um modo geral pode-se dizer que o ____________ consiste numa abordagem cujo foco incide tão somente na observação e descrição das características estruturais das ___________, desconsiderando suas possíveis funções. Já o ____________ consiste em qualquer abordagem linguística que dá importância aos propósitos inerentes ao emprego da linguagem. Halliday (1985) assinala que a oposição entre essas duas abordagens relaciona-se ao tipo de orientação que cada um segue. dica. utilize o bloco

de anotações para responder as atividades!

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i) Saussure separou o Estado da língua de sua evolução no tempo e a definiu como um sistema, ou seja, um todo ordenado, composto de diferentes elementos limitados que podem ser articulados entre si, dando início a infinitas sentenças pela maneira e razão com as quais se dispõem. A este processo chamamos de _____________.

j) A sintaxe tradicionalmente remete à parte da Gramática dedicada descrição do modo como as palavras são combinadas para compor os _________; e estes para compor as ___________; e estas se organizando até formarem os __________, e assim por diante.

k) O estruturalismo foi desenvolvido em diversas áreas: na lingüística temos___________, na antropologia, ____________, na sociologia _____________, na literatura__________, na filosofia___________, _______ e_________, na psicanálise______________, no marxismo__________, e na psicologia_________.

l) Quaisquer estudos, por exemplo, de variação linguística observáveis na ordem em que se apresentam ______________ de uma sentença deverão ser tratados em termos de propriedades internas ____________.

m) Para os ___________ a força está na ______________ e não língua, ao contrário dos formalistas.

Atividade IIAnalise do ponto de vista apenas estrutural os poemas abaixo. Leve em conta na sua descrição aspectos como: forma do poema, tipos de rimas, se há a presença de recursos estilísticos, (figuras de linguagem), musicalização, etc.

a) Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida, ou talvez o pior...Glória e tormento, contigo à luz subi do firmamento, contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida: queimas-me o sangue, enches-me o pensamento, e do teu gosto amargo me alimento, e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo, batismo e extrema-unção, naquele instante por que, feliz, eu não morri contigo? dica. utilize o bloco

de anotações para responder as atividades!

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Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto, beijo divino! e anseio delirante, na perpétua saudade de um minuto...

Disponível em:> http://pensador.uol.com.br/poemas_olavo_bilac/<. Data da pesquisa.

b) Nos versos

“contigo à luz subi do firmamento, contigo fui pela infernal descida!”

b.1. A inversão das posições dos sujeitos das orações interfere de alguma forma no efeito de sentido gerado? Por quê?

b.2. Reescreva cada um dos versos acima, colocando as suas respectivas orações na ordem direta.

c) Ler com atenção os versos de Olavo Bilac, abaixo, e responder o que se pede:

(...) Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto-relevo Faz de uma flor. Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo: O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro. Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como em prata firme Corre o cinzel. Corre; desenha, enfeita a imagem, A idéia veste: Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul celeste. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim. Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito: E que o lavor do verso, acaso, Por tão sutil, Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril. E horas sem conto passo, mudo, A olhar atento,

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A trabalhar, longe de tudo O pensamento. Porque o escrever --tanta perícia, Tanta requer, Que ofício tal... nem há notícia De outro qualquer. Assim procedo. Minha pena Segue esta norma, Por te servir, Deusa serena, Serena Forma! (...)

Disponível em: >http://www.horizonte.unam.mx/brasil/bilac2.html<. Data da pesquisa: 24/04/2011

c.1. Qual a grande comparação do eu-poético no decorrer de todo os versos?

c.2. Poderíamos dizer que o descritivismo frio e calculista do eu-poético mais se aproxima da preocupação com a forma ou com o conteúdo no ato de produzir o texto? Por quê?

c.3. A partir da compreensão de tudo que você estudou sobre o formalismo no ensino de língua, por que se pode deduzir ser este poema de base estruturalista-formalista?

Leituras recomendadasAtenção, caro(a) aluno(a), antes mesmo de o estruturalismo se tornar

uma perspectiva de análise relevante e influente nas ciências sociais, em es-pecial no nosso caso, a linguística moderna de base estruturalista e sincrôni-ca, (em termos acadêmicos), alguns pensadores sociais e políticos já haviam trabalhado com base na abordagem estruturalista, mas sem se preocupa-rem com a sistemática metodológica de suas pesquisas e estudos. Os exem-plos clássicos que podem ser citados e sugeridos para as suas leituras são: a) O Espírito das Leis, de Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu (1689-1755). Obra completa que contempla as instituições jurídicas, os re-gimes políticos e a organização social como um sistema singular que forma uma estrutura social; b) De igual modo, Alexis de Tocqueville (1805-1859), em O Antigo Regime e a Revolução e em Democracia na América, trabalha com a perspectiva estrutural nas caracterizações e comparações das sociedades que são objetos centrais de seus estudos; Claro que está na hora de você ler, se ainda não o fez, o Curso de Linguística Geral, de Ferdinand Saussure (1916). Obra capital para qualquer estudante de Letras, porque introduz todo a lin-guística de base estrutural, marco fundante de quase todas as propostas de ensino de língua materna pelo Brasil; Já está na hora de você conhecer e se apropriar de A Gramática Funcional, de Maria Helena de Moura Neves. Obra capital para você conhecer melhor as tendências funcionalistas de funciona-mento da língua. Bom, sem maiores pretensões, no momento, estas leituras já são mais que suficiente.

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ResumoCaro(a) aluno(a), atente aos seguintes pontos para melhor fixação

do que vimos até agora. Observe:

1º) Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrônica, um es-tudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica do estudo da linguística histórica, estudo da mudança dos signos no eixo das sucessões históricas, a forma como o estudo das línguas era tradicio-nalmente realizado no século XIX. Com tal visão sincrônica, procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo (recorte sincrônico). É daí que se origi-nam todos os estudos sintáticos.

2º), Em sua teorização, separa língua e fala. Para ele, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, possui homogeneidade e por isto é o objeto da linguística propriamente dita. Diferente da fala que é um ato individual e está sujeito a fatores externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis de análise.

3º) Saussure indica também os dois eixos que “todas as ciências de-veriam ter interesse em assinalar”: “1º - O eixo das simultaneidades, (ou sincronia) concernente às relações entre coisas coexistentes, de onde toda intervenção do tempo se exclui, e 2º - O eixo das sucessões, (dia-cronia) sobre os quais não se pode considerar mais do que uma coisa por vez, mas onde estão situadas todas as coisas do primeiro eixo com suas respectivas transformações.” [CLG, p. 95] Saussure considera que, “de um lado, no discurso, os termos estabelecem entre si, em virtude de seu encadeamento, relações baseadas no caráter linear da língua, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Estes se alinham um após outro na cadeia da fala. Tais combinações, que se apóiam na extensão, podem ser chamadas de sintagmas”. [CLG, p. 142]. É aí, caro aluno onde se originam os estudos sintáticos.

4º) Saussure observa que “a frase é o tipo por excelência de sintag-ma. Mas ela pertence à fala e não à língua”. [CLG, p. 144]. No entan-to, pertencem à língua, as frases feitas, as expressões fixadas pelo uso e as palavras que se caracterizam por anomalias morfológicas que se impõem por força do uso (“esses torneios não podem ser improvisados; são fornecidos pela tradição”). [CLG, p. 144] Também pertencem à lín-gua os “sintagmas construídos sobre formas regulares”. [CLG, p. 145]

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IV UNIDADE

A Gramática Ge(ne)rativo-Transformacional de Noam Chomsky: o que é e que novidade traz para os estudos da sintaxe

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Avram Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político. (Nascido na Filadélfia, EUA, em 7 de dezembro de 1928). É professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Seu nome está associado à criação da gramática ge(ne)rativa transfor-macional, abordagem que revolucionou os estudos no domínio da linguística teórica. É também o autor de trabalhos fundamentais sobre as propriedades matemáticas das lin-guagens formais, sendo o seu nome asso-

ciado à chamada Hierarquia de Chomsky. Seus trabalhos, combinan-do uma abordagem matemática dos fenómenos da linguagem com uma crítica do behaviorismo, nos quais a linguagem é conceitualizada como uma propriedade inata do cérebro/mente humanos, contribuem decisivamente para a formação da psicologia cognitiva, no domínio das ciências humanas. Além da sua investigação e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é também conhecido pelas suas posições po-líticas de esquerda e pela sua crítica da política externa. Disponível em: > http://pt.wikipedia.org/wiki/Noam_Chomsky<. Data consulta: 29/04/2011Imagem disponível em: http://api.ning.com/files/EbVZmidL2pEMAQFjqFCnr0TqBFC*risHuwkJuvvliR1YHrtocVg52To3PG2DS1oPzPZMjjHUi7b8R2w*j04EsFZ4YBBKSyYW/_noam_chomsky.jpg?width=246. Acessado em: 06.11.2011.

Texto 1

Dizer que a comunicação e a linguagem são um sistema é di-zer que elas têm estrutura, que existe algum conjunto de regras que identifica qual seqüência de palavras fará sentido, representará um modelo de nossa experiência. Em outras palavras, nosso compor-tamento, quando está criando uma representação, ou quando está comunicando, é o comportamento governado por regras. Mesmo que não estejamos conscientes da estrutura no processo de represen-tação e comunicação, essa estrutura, a estrutura da linguagem, pode ser entendida em termos de padrões regulares.

Felizmente, há um grupo de teóricos que fez da descoberta e da declaração explícita destes padrões o assunto de seu estudo, a gra-mática transformacional. De fato, os gramáticos transformacionais desenvolveram o mais completo e sofisticado modelo explícito do comportamento humano governado por regras. A noção de compor-tamento humano governado por regras é a chave para a compreen-são do modo pelo qual nós, humanos, usamos a linguagem (Bandler e Grinder, 1977: 44).Disponível em: > http://www.eca.usp.br/caligrama/n_7/pdf/azevedo.pdf<. Consulta em: 01/05/2011

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Texto 2Gramática aos olhos da amada

Qual o adjetivo para os olhos da amada

os olhos da amada se confundem com o mar

ora verde ora azul na cor do triste

no salmo da alegria semântica da noite

metáfora da madrugada as sílabas do vento

nos olhos da amada o verbo amar edifica os acentos da solidão

olhos do mar olhos do rio olhos de serpente sem veneno

olhos de mulher olhos de sonhos que guardei para viver no ponto do luar.

(Barros Pinho)Disponível em: >http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=2008

0229034506AALrjZb<. Consulta em: 02/05/2011

Texto 3

A linguagem é uma habilidade complexa e especializada, que se desenvolve espontaneamente na criança, sem qualquer esforço consciente ou instrução formal, que se manifesta sem que se perceba uma lógica subjacente, que é qualitativamente a mesma em todo in-divíduo, e que difere de capacidades mais gerais de processamento de informações ou de comportamento inteligente. Por esses motivos, alguns cognitivistas descreveram a linguagem como uma faculdade psicológica, um órgão mental, um sistema mental ou um módulo computacional. Mas prefiro o simples e banal termo “instinto”. Ele transmite a idéia de que as pessoas sabem falar mais ou menos da mesma maneira que as aranhas sabem tecer teias. [...]

Pensar a linguagem como um instinto inverte a sabedoria popu-lar, especialmente da forma como foi aceita nos cânones das ciên-cias humanas e sociais. A linguagem não é uma invenção cultural, assim como tampouco a postura ereta o é (Pinker, 2002: 9-10).

Disponível em: > http://www.eca.usp.br/caligrama/n_7/pdf/azevedo.pdf. <. Data da consulta: 29/04/2011)

Texto 4

“criança possui uma teoria inata sobre descrições estruturais [grama-ticalmente] potenciais que é suficientemente rica e desenvolvida para lhe permitir determinar, a partir de uma situação real em que ocorre um sinal, quais as descrições estruturais que podem ser apropriadas a este sinal” (Chomsky, 1975: 115).

Disponível em: >http://www.eca.usp.br/caligrama/n_7/pdf/azevedo.pdf<. Data da consulta: 23/04/2011

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ApresentaçãoÉ bom demais começar assim...

Prezado(a) aluno(a), seja bem vindo(a) a mais este encontro de Língua Portuguesa IV. Entretanto, antes de seguirmos em frente, que tal, revisarmos alguns aspectos do que estudamos até agora sobre a origem dos estudos sintáticos? Para melhor dinamizar nossa revisão topicalizaremos os pontos que devem ficar bem marcados, está bem?

1. Na intenção de tornar ainda mais preciso e adequado o estu-do da língua, Saussure (2001) sugere a tão famosa dicotomia sincronia/diacronia como uma ferramenta metodológica. Se-gundo este teórico, toda ciência deveria distinguir dois eixos de referência temporal: a) o da simultaneidade, ou eixo sincrônico, que representa as relações coexistentes em um sistema sem que intervenha o fator tempo; b) a das sucessões, ou eixo diacrôni-co, que inclui o fator tempo e as mudanças que afetam a um ou outro elemento de um sistema dado.

2. Com base nessa diferenciação, Saussure propõe a divisão da ciência lingüística em lingüística sincrônica, que estuda as re-lações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam sistemas, tais como são percebidos pela consci-ência coletiva; e lingüística diacrônica, que estuda as relações que unem os termos sucessivos não percebidos por uma mesma consciência coletiva e que substituem uns aos outros sem for-mar sistema entre si.

3. Atenção, querido(a) aluno(a)! Língua, segundo a proposta es-truturalista, (lembra da distinção já feita entre estruturalismo e funcionalismo?) pode ser estudada em um, dois, ou mais perío-dos diferentes de forma totalmente independente dos fatos que causaram a mudança de um período a outro. A abordagem estrutural proclama-se, portanto, exclusivamente sincrônica: aplica-se somente a um estado de língua, que se imagina es-tático e discreto. É aqui que se centram e emanam os estudos sintáticos, lembra? Língua analisada apenas na sua estrutura1; por sua vez, a abordagem histórica, ou diacrônica, passa a ser considerada apenas secundária e suplementar, já que tem por base a comparação dos estados fixados ao longo do tempo.

4. Não esqueça: de onde vem a palavra sintaxe? De sintagma,

1 Corvalan (1989); Lucchesi (2004) cita-dos por RIBEIRO, Sílvia Renata. In:. Apaga-mento da Sibilante Final em Lexemas: uma análise variacionista do falar pessoense. Dissertação de Mestrado. UFPB (2006).

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não é? E o que vem a ser sintagma? Simples: segundo Silva e Koch (1989) é um conjunto de elementos que constituem uma unidade significativa dentro da oração e que mantêm entre si relações hierárquicas de dependência e de ordem. Ademais, se organiza em torno de elementos centrais chamados de núcleos (verbos ou nomes). Recordou? Vamos ver o que Azeredo (2008) fala sobre as relações sintagmáticas. Para ele

a língua é antes de tudo uma forma oral de comu-nicação. Quando falamos, produzimos sons que se combinam em sequência linear, um após outro; mor-femas que se sucedem na construção das palavras, e palavras que se sucedem na construção de frases. Essa linearidade da fala – e ordinariamente da escrita – é o fundamento do que se chama o eixo sintag-mático da linguagem. (...) Há, portanto, relações sin-tagmáticas entre fonemas, entre sílabas, entre morfe-mas, entre palavras. (...) Há em cada plano diferentes níveis estruturais, o das unidades constituintes – de nível mais baixo – e o das unidades constituídas – de nível mais alto: fonemas são constituintes de sílabas, morfemas são constituintes de palavras, palavras são constituintes de frases e assim sucessivamente.

5. Cuidado, caro(a) aluno(a), da célebre distinção feita por Saus-sure entre langue (língua) e parole (fala) com ênfase à langue enquanto sistema fechado, homogêneo, social e abstrato. A fala assume a condição marginal e individual.

Objetivos

Ao final desta aula você deverá:

• Compreender os conceitos básicos do gerativismo chomskyano.

• Associar a gramática gerativo-transformacional de Chomsky com o ensino de sintaxe da nossa língua.

• Compreender as limitações da gramática de Chomsky.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Quer revisar um pouco mais? Vamos lá! Eu vou lhe oferecer um banco de palavras aleatórias e você deverá organizá-las a partir do eixo horizontal, das simultaneidades (eixo da sincronia, da estrutura-ção interna dos enunciados), formando pelo menos 06 (seis) orações. Faça as devidas adaptações de tempos verbais e demais classes gra-maticais. (EAD, ENSINO, LETRAS, FORMAÇÃO, CURSO, O, FORMAR, OBJETIVO, TRABALHO, MERCADO, DE, OBJETIVO, PROFISSIONAIS, UEPB/UAB, ENSINO MÉDIO, ALUNOS, ENSINAR, EDUCAR, O, OS , AS, CONSCIENTE, MUDANÇA, BRASIL, CONSCIENTE, ALUNOS, SU-PERIOR, ANALFABETISMO, LETRAMENTO, LETRAR, AÇÃO, PARAÍBA, PARA, LECIONAR, FUNDAMENTAL II, NO, NA, EM, LÍNGUA PORTU-GUESA, SÉRIES.)

1. Siga o exemplo: O curso de Letras da UEPB/UAB forma profis-sionais para lecionar alunos ensino médio.

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Viu como é fácil articular as orações no eixo horizontal?.

Gerativismo: o que é?Abordaremos nesta aula a chamada Gramática Ge(ne)rativo-Trans-

formacional de Noam Chomsky, sua natureza e relação com os estudos sintáticos. Para fins didáticos, caro aluno, é bom esclarecer que Chomsky se utiliza das expressões gramática gerativo-transformacional, generati-vo-transformacional ou, indistintamente, em relação ao inicial, gramática transformacional. Entretanto, é em 1957 que este teórico pela primeira vez faz referência ao modelo transformacional, no prefácio da obra Es-truturas Sintáticas. O termo transformacional diz respeito às transforma-ções que o modelo sugere a partir da abordagem sintagmática, visando a uma descrição mais completa da sintaxe da língua inglesa. Chomsky explica que: “para especificar, explicitamente, uma transformação, temos de descrever a análise das seqüências a que se aplica e a modificação estrutural que efetua nessas seqüências” (Chomsky s.d.: 92). É também a partir de 1965, em Aspectos da Teoria da Sintaxe, que este teórico apre-senta os conceitos de “estrutura profunda” e “estrutura superficial” (ou de superfície) as quais serão mais adiante abordadas.

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O Gerativismo tem raízes em Noam Chomsky, (releia a sua biografia acima) pelos idos dos anos 50 do século passado, e realiza uma relei-tura da dicotomia langue/parole proposta por Saussure - sobre a qual já tratamos em aulas anteriores e nas revisões acima, caro(a) aluno(a) - e funda-se em dois conceitos básicos: o de competência, conjunto de regras internalizadas que permitem aos falantes emitir, receber e julgar enunciados da própria língua, e o de desempenho (performance), concei-tuado como o uso efetivo da língua, resultado de fatores lingüísticos e extralingüísticos.

O modelo gerativista contém uma proposta que procura estabelecer regras que expliquem o mecanismo de funcionamento de uma língua, incorporando como unidade mínima de análise o componente sintático. Tal modelo transformacional deu origem ao que Chomsky definiu, em 1965, como modelo da gramática gerativa (ou generativa), apresentado em Aspectos da Teoria da Sintaxe, sobre o qual o autor afirma que

[...] uma gramática de uma língua pretende ser uma descrição da competência intrínseca do falan-te-ouvinte ideal. (Chomsky, 1975: 84). [...] Logo, uma gramática generativa deve consistir num sis-tema de regras que, dum modo iterativo, podem gerar um número indefinidamente grande de es-truturas. Este sistema de regras pode ser analisado nas três principais componentes duma gramática generativa: as componentes sintáctica, fonológica e semântica (Id. ib.: 84). Disponível em: >http://www.eca.usp.br/caligrama/n_7/pdf/azevedo.pdf<. Data da consulta: 14/05/2011). Grifo meu.

Nesta perspectiva, caro(a) aluno(a), a gramática gerativo-transfor-macional ocupa-se principalmente da sintaxe das línguas. Mas a sin-taxe das línguas não é seu objeto de estudo; é apenas um meio para descrever uma entidade teórica criada por Chomsky denominada de Gramática Universal (GU), que é o objeto de estudo da Gramática Gerativa. A teoria gerativa é um modelo que procura, por sua natureza, modular, investigar de forma adequada os princípios que constituem o estado inicial da faculdade da linguagem bem como sua interação na constituição da gramática particular. Considerando-se a GU, a lingua-gem é inerente aos seres humanos e todos eles estão preparados para desenvolver essa faculdade, bastando, para isso, estarem expostos à determinada língua. Chomsky (apud BORGES NETO, 2004) propõe que as línguas são sistemas biológicos utilizados pelos indivíduos para falar sobre o mundo, ou da representação mental que têm dele.

A teoria gerativista insiste, portanto, em que os dados que serão objeto de estudo da lingüística não são enunciados dos indivíduos, mas sim suas intuições acerca da linguagem.

Segundo Labov (1983), Chomsky queria deliberadamente excluir qualquer variação social do campo da lingüística, e interpreta as varia-ções como fruto da co-existência de sistemas lingüísticos, que poderiam ser acessados livremente pelos falantes.

Deste modo, assim como no modelo estruturalista, o modelo gera-

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tivista parte do pressuposto de que estrutura lingüística e homogenei-dade estão intrinsecamente associadas, o que exclui definitivamente o componente social atuante no desempenho como objeto de sua aná-lise.

Assim, assume-se que nenhuma língua é ensinada ao ser huma-no, pois sua aquisição não se restringe a adquirir estruturas lingüísti-cas externas. O falante nativo, de posse da GU, vai ampliando seus conhecimentos lingüísticos. A Gramática Gerativa se preocupa com a gramática subjacente, que é a gramática internalizada de cada falan-te a qual intuitivamente vai sendo ‘incrementada”. Nesta compreen-são, Chomsky classifica esse processo a partir de 02 (dois) estágios lingüísticos: Língua-I (língua internalizada) e Língua-E (língua externa). A primeira equivale ao estágio inicial, também conhecido como com-petência gramatical, sistema computacional ou gramática internaliza-da. Constitui-se de um fenômeno individual, um sistema representado na mente-cérebro de um indivíduo particular. É um objeto mental, o saber que os indivíduos têm de sua língua materna. Cada um já nasce com este potencial lingüístico, é imanente, inato do ser. E é ele, caro(a) aluno(a), que vai sendo melhorado aos poucos através do contato do ser com a sua comunidade linguística. Já o segundo estágio (A língua – E) compreende o conjunto de estruturas partilhadas por uma comu-nidade de fala. por exemplo, as tão faladas dicotomias frase correta / incorreta e frase bem-formada / malformada, ambas à luz da Gramática tradicional (GT), são bem sintomáticas de percepção destes estágios. Porque, um enunciado pode ser considerado “incorreto” à luz da GT mas estar bem formado e coerente dentro do corpus de compreensi-bilidade da língua. Senão, vejamos os exemplos a seguir: 1. O a beijou homem mulher;. 2. O homem beijou a mulher; 3. A mulher beijou o homem; 4. A mulher foi beijada pelo homem. O falante nativo do português sabe que, em sua língua, com um número finito de palavras, pode-se formar um número infinito de sentenças, mas que existem regras e princípios que determinam a ordenação das palavras, o que não lhe permitiria usar o enunciado 1, devido a sua má-formação, mas lhe permitiria o uso das demais. Por sua vez, o falante sabe, também, que certas formas perten-cem à categoria verbo (SV, lembra), e outras, à categoria nome (SN). Portanto, atenção, querido(a) aluno(a), temos aqui a base da teoria chomskyana: o princípio da recursividade da linguagem, isto é, com elementos finitos (palavras) é possível gerar frases infinitas. As frases poderão estar bem ou malformadas. O comportamento das línguas nos mostra que há regras que fazem parte do conhecimento gramatical interno do falante.

Chomsky (1981) nos ratifica que a mente humana é formada por módulos autônomos, cada um deles caracterizado por princípios e re-presentações específicos. Se o falante tem um conhecimento gramatical interno, tais regras não são formadas partindo do exterior, ou seja, das propriedades absolutas das expressões lingüísticas, para o interior, isto é, a mente humana e suas capacidades lingüísticas altamente especí-ficas.

Por outro lado, caro(a) aluno(a), vem o questionamento: como a

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gramática se desenvolve na mente do falante? Para Chomsky (1981:52) adquirir uma língua pressupõe possuir um órgão mental biológico que deverá ser, antes de mais nada, maturado e desenvolvido. Processar-se--ia, a partir daí, a aquisição da linguagem. Empiristas, como Bloomfield, apontam, ao contrário de Chomsky, a diversidade das linguagens hu-manas. Este, porém, enfatiza suas similaridades, destacando a existên-cia da GU (Gramática Universal). Não se nega, entretanto, que a ex-posição à experiência lingüística é também importante no processo de aprendizagem, visto que a criança necessita dessa experiência para dar início à construção da gramática interna da língua materna e adquirir o vocabulário de sua língua. O surpreendente é que a criança desenvolve a estrutura da língua, sem necessidade de instrução, e por ela mesma, de uma maneira natural. Basta que lhe ofereçamos os meios propícios que permitam desenvolver, ao máximo, suas potencialidades lingüísti-cas, como leitura, conversação e prática da escrita.

Para a análise de uma língua, os gerativistas propõem o axioma da categoricidade, ou seja, o conceito de que a língua é homogênea, não sujeita a qualquer fator externo. Por essa razão, seria passível de sistematização a partir da observação de um falante-ouvinte ideal, que poderia ser o próprio pesquisador.

Com este entendimento, Chomsky demonstra a sua discordância com as explicações funcionais, pois, uma vez que o estudo da estrutura lingüística é independente do estudo do uso lingüístico, não há que se falar em restrições de caráter comunicativo/funcionais dentro da ciência lingüística, cujo foco seria o estudo da língua em sua homogeneidade.

E aí, querido(a) aluno(a), como está? Não se esqueça: para os transformacionalistas, a “gramática” é um conjunto restrito de regras (inte-riorizadas por todo locutor) que, sob a forma explicitada na teoria gra-matical, explicam a criação de um conjunto infinito de frases, obtidas por transformação a partir de um conjunto relativamente restrito de frases abstratas mais “simples”.

Chomsky alicerça sua tese na abordagem racionalista, que prevê posições contrárias às postuladas pelo empirismo, fundamentando-se no pensamento cartesiano: [Descartes] chegou à conclusão [em seu Discurso sobre o Método] de que o homem possui faculdades exclusi-vas, que não podem ser explicadas em bases puramente mecanicistas, embora em larga extensão seja possível dar uma explicação mecani-cista do funcionamento e do comportamento corporais humanos. A diferença essencial entre o homem e o animal revela-se de modo mais claro na linguagem humana, em particular na capacidade humana de formar novas proposições, que exprimem novos pensamentos, apro-priados a novas situações (Chomsky, 1972, p. 139).

Por outro lado, é bom que não esqueçamos de que o enfoque de base empirista, diferentemente, destaca que: [...] a linguagem é essen-cialmente uma construção acessória, ensinada por “condicionamento” (como seria defendido, por exemplo, por Skinner ou Quine) ou por exercícios e explicações explícitas (como foi afirmado por Wittgenstein), ou construída por meio de processos elementares de “processamen-

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to de dados” (como é mantido tipicamente pela lingüística moderna [1965]), mas, de qualquer modo, relativamente independente de quais-quer faculdades mentais inatas (Chomsky, 1975. p. 134-5).

Toda a teoria chomskyana baseia-se no pressuposto de que a fa-culdade lingüística humana parte de um sistema — a “gramática uni-versal”, que caracteriza seu estado inicial/inato. Nesse sentido, o autor afirma que é possível “encarar a gramática universal como o próprio programa genético, o esquema que permite a gama de realizações possíveis que são as línguas humanas possíveis”, cada qual culminan-do em um ‘estado estacionário final possível, a gramática de uma lín-gua específica’”

... e prá continuar a nossa conversa...

Após termos falado acima – e em outras aulas – acerca dos concei-tos básicos do empreendimento gerativista de Chomsky, e do próprio estruturalismo, este enquanto modelo norteador das práticas de ensino de LM (língua materna) nas escolas brasileiras, tanto do EFII (ensino fundamental II) quanto do EM (ensino médio), não podemos esquecer que tal modelo ainda se apresenta de forma bastante intensa nas nossas práticas, hoje. Certamente, você se lembra das aulas de Português, não é? Se a aula era de sintaxe, bastava um conjunto de frases no quadro. A partir delas se identificam os sujeitos, predicados, complementos, ad-juntos e outros termos; depois se associavam tais compreensões a uma teoria previamente mostrada (ou não). Estamos conversados. Aprende-mos! Não era assim? E aí, você pergunta: “E como deveria ser? Não deveríamos ter aprendido as regras? Que importância elas exercem na aprendizagem da nossa língua? Para que aprender as regras da GT se eu nunca (ou quase nunca) as utilizo no cotidiano? As regras da gra-mática são muitas e chatas e de aplicabilidade específica. quando eu precisar de algumas delas, vou lá à minha gramática (manual de regras) e extraio o que necessito. Por que devo aprender a gramática gerativo--transformacional de Chomsky, se, no que falo, sou livre e jamais obe-deço a regras previamente construídas? A gramática que uso (se é que uso alguma gramática) não tem regras e isso é muito bom, porque eu fico livre delas.” Levando-se em conta tais provocações, muitas podem ser as respostas que eu lhe daria. A primeira delas é que, na língua – assim como em qualquer atividade da vida – nada pode ser regido sem regras. Não há caos linguístico, embora possamos imaginar e até conceber que haja. Por quê a língua2 – quer seja expressão individual e isolada do pensamento quer seja meramente enquanto instrumen-to, ferramenta de comunicação, ou até enquanto processo interativo e contínuo de interações as mais esdrúxulas possíveis de comunicação – há sempre um conjunto (semi)rígido3 de regras que regem os falares (ou escreveres) dos falantes e escritores. Há sempre uma harmonia no

2 Aqui é muito bom você conferir as concep-ções de linguagem propostas por Travaglia (2003).

3 No enunciado: “As aulas da EAD são semi--presenciais” você até pode assim se refe-rir: “São semi-presenciais as aulas da EAD”. Entretanto, jamais pode dizer: “Da as EAD semi-presenciais aulas são”. Esta última é agramatical, confere? Dedução: do ponto de vista intersintagmático (entre o SN “As aulas da EAD” e o SV “São semipresen-ciais”) temos maior flexibilização. Podemos até inverter esta ordem. Já do ponto de vista intra-sintagmático (no interior de cada sin-tagma, SN e SV, a rigidez é plena, impossível se atribuir gramaticalidade quando anteci-pamos o NSN (núcleo do sintagma nominal) a alguns de seus determinantes (por exem-plo, artigos, numerais e pronomes), caso de “Da as EAD...”.

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caos. Senão vejamos o caso dos falares na net (MSN, Orkut, Facebook etc) veiculados através dos sites de relacionamentos que materializam as chamadas redes sociais. Que tipo de organização estrutural rege tais textos? Daria prá dois internautas “conversarem” ao mesmo tempo? Claro que não! Esta, dentre muitas, é mais uma regra que rege o apa-rente caos comunicativo humano, caro(a) aluno(a). Em se tratando de estrutura sintagmática, aí é que as coisas exigem certo rigor.

Neste sentido, nas palavras do mestre Evanildo Bechara (2007)

o enunciado não se constrói com um amontoado de palavras e orações. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência e independência sintática e semântica, recobertos por unidades me-lódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios.

Desta lição, extrai-se que não se devem escrever frases ou textos desconexos. É imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que essas frases estejam coesas e coerentes formando o texto.

Nesta compreensão, não podemos conceber qualquer língua que prescinda de uma organização estrutural sintagmática que lhe dê em-basamento. É daí que surge a gramática gerativo-transformacional chomskyana, geradora de suporte teórico, no momento em que pro-põe, através da compreensão de existe uma GU (Gramática Universal), uma sequência infinita de enunciados verbais, entendeu?

Veja, imagine que você é professor(a) e pretenda, enquanto obje-tivos do mês ou do bimestre, estudar com seus alunos de ensino fun-damental II (turma de sexto ano) os conceitos iniciais de sintaxe (frase, oração, períodos etc) (conteúdo). Como você deveria agir (metodologia) para – à luz dos conceitos das teorias de Chomsky sobre gerativismo – para que as suas aulas ficassem dinâmicas, interativas e que os alunos aprendessem? Vamos lá. É importante montar uma sequência didática que possa permitir ao aluno vislumbrar que para a montagem das ora-ções (os sintagmas, lembra, não é?) exige-se certa organização a ponto de impedir certas incompreensões sintáticas, como já discutimos acima. Uma boa idéia seria (sequência didática): 1º) Escolha uma temática a ser discutida em sala de aula (As propostas curriculares da escola ou as suas, como professor, devem estar claras), por exemplo, ética na sala de aula (Temática abordada). 2º) Selecione – a partir de discussão pré-via ou outra forma de escolha - e ponha no quadro (ou em qualquer outro recurso didático-pedagógico), pelo menos, 5 (cinco) palavras--chave relacionadas à temática que possam ser pontos de partida para o desenvolvimento da aula. Por exemplo, no nosso caso, poderia ser: comportamento, valor, atitude frente ao grupo, ‘cola’, regras etc”. 3º) Em seguida, vá, a partir destas, montando enunciados os mais diversos (lembra da base da teoria da gramática gerativo-transformacional de Chomsky?), através da combinação de verbos, substantivos, pronomes, artigos, adjetivos etc. Quer ver exemplos bem simples? a) “Em sala de aula há regras que regem as atitudes e comportamentos dos alunos. A isto chamamos ética na sala de aula.”; b) “Não uso de ‘cola’ em sala de aula é um comportamento ético”; c) “Ser ético frente ao grupo é, por exemplo, saber respeitar os limites da turma.” Veja que você pode formular com

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a turma infinitas possibilidades de enunciados com estas 5 (cinco) pala-vras previamente selecionadas. Fácil, não? Este é um pequeno exemplo que ilustra a importância de se compreender que existe uma lei sintática que rege o funcionamento dos enunciados e, com efeito, dos textos. Jamais você poderia construir, por exemplo, o enunciado ‘a’ assim: “Que sala comportamento de aula em regras isto a ética atitude. Na chamamos há regem e”. Impossível entender, não?

Estes, portanto, são exemplos que ilustram a importância estrutural dos modelos chomskyanos de estruturação sintagmática.

Vamos refletir um pouco mais?

Atividade I1. Você vai atentar aos exemplos abaixo e construir, a partir das

pistas (verbais ou não-verbais) textuais presentes em cada um dos textos abaixo, pelo menos, 6 (seis) enunciados. Em seguida, junte-os, faça as devidas ligações, adaptações, acréscimos e modificações e escreva um parágrafo argumentativo de, no máximo, 6 (seis) linhas. Como modelo, construirei o primeiro enunciado para ajudá-lo(a). Vamos lá?

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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a)

Disponível em: http://pattindica.files.wordpress.com/2009/06/bessinha458904-jpg-image_1245119001858.jpeg. Acessado em: 06.11.2011.

Enunciado 1: Se não houver controle do desmatamento, as próxi-mas gerações verão a nossa Amazônia apenas em museu.

Enunciado 2: ____________________________________________Enunciado 3: ____________________________________________Enunciado 4: ____________________________________________Enunciado 5: ____________________________________________Enunciado 6: ____________________________________________Parágrafo final:___________________________________________

b) Faça o mesmo com o texto abaixo:

Dica: observe o modelo.

Disponível em: ITURRUSGARAI, A. La Vie en Rose. Folha de S.Paulo, 11 ago. 2007.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Enunciado 1: Expressões como HTML, BR, dentre outras, invadiram o imaginário popular de milhões de jovens pelo mundo.

Enunciado 2: ____________________________________________

Enunciado 3: ____________________________________________

Enunciado 4: ____________________________________________

Enunciado 5: ____________________________________________

Parágrafo final: __________________________________________

2. Leia com atenção o texto abaixo, selecione pelo menos 5 (cinco) palavras-chave que sintetizam a sua ideia central e em seguida monte um parágrafo argumentativo de, no máximo, 5 (cinco) linhas.

Atenção, como nas questões anteriores, já coloquei a primeira pa-lavra-chave.

A Bela Azul

Como a Terra é bela! Certos estavam os teólogos e astrônomos antigos em colocá-la no centro do universo! Os astrônomos moder-nos e os geômetras se riram da sua ingenuidade e presunção... Ora, a Terra, essa poeira ínfima perdida em meio a bilhões de estrelas e galáxias – o centro em torno do qual todo o universo gira? Mas eles, cientistas, não sabem que há duas formas de determinar o centro. Pode-se determinar o centro com o cérebro e pode-se determinar o centro com o coração. O cérebro mede o espaço vazio com réguas e calculadoras para assim localizar o seu centro geométrico. Mas, para o coração, o centro do universo é o lugar do amor.

Para o pai e a mãe, qual é o centro de sua casa? Não será o ber-ço onde o filhinho dorme? E para o trabalhador na roça, cansado e sedento, o centro do mundo não é uma fonte de água fresca? Chove e faz frio. A família inteira se reúne em torno da lareira, onde o fogo crepita. Ali se contam estórias... E sabe o apaixonado que o centro do mundo é o rosto de sua amada, ausente...

Recebi de um amigo, via Internet, uma série de fotografias da Terra, tiradas de um satélite. Vinha tudo com o nome de “A Bela Azul”. Que lindo nome para a nossa Terra! Porque é com a cor azul que ela aparece. Lembrei-me de um verso de Fernando Pessoa: “... e viu-se a Terra inteira, de repente, surgir, redonda, do azul profundo”. O filósofo Niezstche também era um apaixonado pela Terra. Dizia que era uma deformação do espírito ficar lendo um livro em casa, num dia luminoso, quando a natureza está lá fora, fresca e radiante. É possível imaginar que ele, que proclamou a morte de Deus, tenha secretamente elegido a Terra como seu objeto de adoração. Mas agora anunciam os cientistas que a Bela Azul está agonizante...

Rubem Alves, Folha de S. Paulo, 07/02/2007dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Palavras-chave:

1. Centro

________________________________________________________

Parágrafo final: __________________________________________

3. Que tal agora relembrar das suas aulas de sintaxe? Tente locali-zar e transcreva no espaço sugerido, a partir do fragmento abaixo, os SN (sintagmas nominais) e os SV (sintagmas verbais) dos enunciados que o constituem. Lembre-se: o SN tem como núcleo o substantivo e o SV, o verbo.

“Chove e faz frio. A família inteira se reúne em torno da lareira, onde o fogo crepita. Ali se contam estórias... E sabe o apaixonado que o centro do mundo é o rosto de sua amada, ausente...”

SN’s:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

SV’s:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Leituras recomendadas

1. Leia a significativa obra de Koch e Silva Linguística Aplicada ao Ensino de Português: Sintaxe. Os autores propõem, à luz da gramática gerativo-transformacional de Chomsky, modelos, distinções de clas-sificações, estruturas profundas e distribuições arbóreas de diversos enunciados, tanto os que compõem os períodos simples como os de períodos compostos (as chamadas orações complexas, subordinadas adverbiais e subordinadas adjetivas).

2. Se você tiver uma grana disponível e desejar comprar uma gra-mática (livro, manual de regras) que vá além da mera exposição de regras e normas gramaticais, adquira a obra Gramática Houaiss da Lín-gua Portuguesa, de José Carlos de Azeredo. Esta obra aborda de forma mais crítica e discursiva os processos sintático-semânticos e discursivos que são inerentes à gramática. Em caso de grana não disponível, vá a qualquer biblioteca de Letras da UEPB e você encontrará esta obra.

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ResumoLeia com cuidado os pontos a seguir para que você possa fixar me-

lhor o que vimos até agora.

1. Chomsky sugere que a capacidade para produzir e estruturar frases é inata ao ser humano (isto é, é parte do patrimônio genético dos seres humanos). É o que ele denomina de GU (gramática universal). Não temos consciência desses princípios estruturais assim como somos não temos consciência da maioria das nossas outras propriedades bio-lógicas e cognitivas.

2. Criticando o modelo distribucional e o modelo dos constituintes imediatos da linguística estrutural, que, segundo eles, descrevem so-mente as frases realizadas e não podem explicar um grande número de dados linguísticos (como a ambiguidade, os constituintes descontínuos, etc.), N. Chomsky define uma teoria capaz de dar conta da criatividade do falante, de sua capacidade de emitir e de compreender frases inédi-tas.

3. Nessa perspectiva, a gramática é um mecanismo finito que per-mite gerar (engendrar) o conjunto infinito das frases gramaticais (bem formadas, corretas) de uma língua, e somente elas. Formada de re-gras que definem as sequências de palavras ou de sons repetidos, essa gramática constitui o saber linguístico dos indivíduos que falam uma língua, isto é, a sua competência linguística. A utilização particular que cada autor faz da língua em uma situação particular de comunicação depende da performance.

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Referências

AZEREDO. José Carlos de. Ensino de Português. Fundamentos, percursos e objetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

____ Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

____ Língua Portuguesa em Debate. Conhecimento e ensino. 5° ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37º edição revista e ampliada. 15º reimpressão. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Theresa Cochar. Português: linguagens. Volume Único. 2° ed. São Paulo: Atual Editora, 2005.

CHOMSKY, Noam. Estruturas sintáticas, Lisboa: Edições 70, s.d.

_______, Noam. Lingüística Cartesiana, São Paulo: Edusp, 1972.

______, Noam. Regras e representações, Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

MUSSALIM, Fernanda e BENTES, Anna Christina. (organizadoras). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. Vol. I. 7º ed. São Paulo: Cortez, 2007.

SILVA, Maria Cecília P. de Souza e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

Endereço eletrônico: >http://amor.criarumblog.com/Primeiro-blog-b1/Objeto-de-Estudo-da-Gramatica-Gerativa-b1-p59815.htm.<.

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V UNIDADE

As estruturas profundas e superficiais da Gramática Gerativo-Transformacional de Chomsky.

“ A Linguagem funciona pelos e para os falantes, não pelos e para os linguistas”

Eugênio Coseriu

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Apresentação

É com grande satisfação que iniciamos mais uma unidade, querido(a) aluno(a). Esperamos que você venha tendo bons estudos e proveito nas nossas aulas. Temos procurado nos utilizar de uma lingua-gem mais acessível para que a sua aprendizagem possa ser cada vez mais agradável e eficaz. Reconhecemos que Língua Portuguesa IV, por abordar questões ligadas às estruturas sintagmáticas, às vezes se torna meio que inóspita para se estudar. Entretanto, apostamos em você e na sua capacidade de aprender, de verdade, os conceitos básicos de sintaxe. Estes são muito importantes para a sua prática de ensino de Língua Portuguesa.

Antes de seguirmos em frente reflita sobre estas belas palavras do mestre José Saramago: “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”. O seu pouco tempo para as suas leituras pode se transformar em eternidade. Basta otimizá-lo. Lembre-se disso: quanto menor o seu tempo de estudo, maior a sua aprendizagem. Estranho, não? Acredito que nós nos superamos nas maiores dificuldades. Agora, relaxemos um pouco. Comecemos falando sobre piada de índio.

Texto I

O Prisioneiro Americano

Um explorador americano estava em uma floresta africana e foi preso por uma tribo de canibais. Depois de ficar algumas horas preso numa cabana ele vê um homem com um chapéu branco entrar e perguntar:

— Qual ser o nome de homem branco? (Os índios não falavam Tupi Guarani, é que a gente apertou a tecla SAP)

— O meu nome é Joe Ferry. Mas, por que vocês querem saber?

— Não ser nada importante! — respondeu o índio. — É só pra escrever no menu!

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Texto II

As partes sublinhadas no texto 1 e a expressão “mim passar email”, do texto II, vão, caro aluno, como que dar o pontapé inicial na temática de nossa 5º aula: As estruturas profundas e superficiais da Gramática Ge-rativo-Transformacional de Chomsky: o que são? b) Como se estruturam? O que elas têm a ver com as nossas aulas de sintaxe? Por que é importante estudá-las? Mais uma vez inves-tigaremos, a partir de gramáti-ca de Chomsky, as estruturas profundas geradoras dos enun-ciados nos sintagmas. Tudo o que dizemos (ou falamos) em nossos processos comunicacio-

nais obedece, como já vimos, a uma estrutura sintagmática. Estudare-mos de que maneira esta se forma bem como os processos que daí advém. Por isso, fique atento e boa sorte.

Caloroso e sincero “abraço virtual”!

ObjetivosAo final desta aula você deverá:

• Compreender as estruturas profundas e superficiais geradoras das frases da língua, à luz de Chomsky.

• Investigar de que forma tais estruturas interferem na construção dos enunciados de nossa língua.

• Associar seus usos nas situações do cotidiano do ensino de lín-gua materna.

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Prá começo de conversa...Faremos querido(a) aluno(a), uma breve fundamentação acerca do

surgimento das concepções teóricas que embasam as estruturas pro-fundas e superficiais do modelo de Chomsky. De início, vale lembrar a grande importância de tal estudo para as formulações sintáticas que embasam toda a sintaxe, hoje. Quando Noam Chomsky publicou pela primeira vez em livro sua teoria da Gramática Gerativo-Transformacional (1957), sua obra causou grande agitação nos meio lingüísticos porque representava um desafio aos fundamentos das gramáticas estruturais e também às teorias behavioristas de aquisição da linguagem. Defende a tese de que a aprendizagem de uma língua não é uma questão de hábito e condicionamento, mas um processo criativo, uma atividade cognitiva e racionalista, e não uma resposta a estímulos externos. A formalização de um modelo teórico, atribuindo às questões lingüísticas um caráter explicativo e científico, foi um ponto pacífico para que essa teoria da linguagem pudesse adquirir status de ciência.

Para Chomsky, a tarefa do lingüista é descrever a competência do falante ideal, a capacidade que todo falante (ouvinte) tem de produzir (compreender) todas as frases da língua, sem interessar a performance, o desempenho de falantes específicos em seus usos concretos. Por essa capacidade, ele define a língua como um conjunto infinito de frases, dando-lhe um caráter aberto, dinâmico, criativo, mas de uma criativi-dade governada por regras. A gramática é ao mesmo tempo um mo-delo psicológico da atividade do falante e uma máquina que produz frases. A teoria chomskiana conduz ao universalismo, por considerar um falante ideal, bem como a linguagem como sendo inata, intrínseca à espécie humana, caracterizada pela racionalidade, conduzindo essa linha de estudos à relação entre a linguagem e o pensamento, com prevalência do percurso psíquico da linguagem, concentrando-se o in-teresse nos processos cognitivos.

Chomsky promoveu um crescente rigor formal no tratamento das questões lingüísticas, elegendo a Gramática Transformacional (da teo-ria gerativa) como a mais adequada, a que melhor responde às exigên-cias necessárias para dar conta das estruturas (sintáticas) da linguagem.

Na teoria-padrão de Chomsky (1965), o modelo tem três compo-nentes: um central (sintático) e dois interpretativos (o semântico e o fonológico). O componente sintático é constituído pela base, que gera as estruturas profundas, e pelas transformações que levam às estruturas superficiais.

Os dois componentes interpretativos se articulam sobre o compo-nente sintático: assim, a interpretação semântica incide sobre a EP, e a fonológica incide sobre a ES.

Com a finalidade de realizar seu projeto teórico-científico, Chomsky elege a Gramática Transformacional (capacidade de mudar) como a que melhor abrange as estruturas (sintáticas) da linguagem. De iní-cio, ele propõe que a Gramática Transformacional tenha dois tipos de

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regras: as sintagmáticas, que geram estruturas abstratas (EP) e as de transformação, que convertem essas estruturas abstratas em seqüências terminais, que são as frases da língua (ES).

Com o desenvolvimento de sua teoria, Chomsky instituiu – além da estrutura superficial (ES), que é a unidade tal como elas se apresentam nas frases realizadas – a noção de estrutura profunda (EP), que é ante-rior à superficial e onde se representam as formas abstratas. Ambas as estruturas se relacionam através de transformações (frásicas).

Seu livro, Aspects of the Theory of Syntax (1965) é uma referência necessária para conhecer o gerativismo. É conhecida também como teoria-padrão. Nela, o modelo frásico tem três componentes: o cen-tral (sintático) e dois interpretativos (o semântico e o fonológico). O sintático é formado pela base do enunciado, que gera as estruturas profundas e pelas transformações, que levam às estruturas superficiais. Já os dois componentes interpretativos incidem sobre o componente sintático, a saber: o semântico, sobre a EP; o fonológico, sobre a ES.

É nesta compreensão que os estudos de Chomsky sobre gramática gerativo-transformacional apresentam duas contribuições fundamentais para o ensino de línguas: a primeira é que a gramática transformacio-nal tornou explícita “as capacidades que o estudante de línguas precisa ter para aproximar-se da competência de um falante nativo”, isto é, a capacidade de distinguir sentenças gramaticais de não-gramaticais, capacidade de produzir e compreender um número infinito de senten-ças gramaticais. A segunda é que, mesmo um exame cuidadoso des-sas capacidades não forneça necessariamente uma resposta de como são adquiridas, é evidente que há certos modos pelos quais é muito improvável que sejam adquiridas. Entretanto, atenção! É bom lembrar que, mesmo considerando-se uma revolução teórica sem precedentes no estruturalismo pós-saussureano, ainda assim a fala, isto é, o uso real da língua no cotidiano (Saussure chama de fala e Chomsky trata de desempenho1 lingüístico) continua de lado. Chomsky, de posse das teorias formalistas de base estruturalista, dá ênfase ao que ele chama de competência lingüística2 (Saussure chama de língua), o que é virtual e abstrato. Entendeu?

Para Chomsky, pensamentos e ideias (estruturas profundas) podem ser expressas por uma variedade de descrições linguísticas (estruturas de superfície). Estruturas mais profundas atingem a superfície depois de uma série de “transformações”3. Essas transformações atuam como um tipo de filtro nas estruturas profundas experimentais. Grinder e Bandler (1975) sustentam que o movimento da estrutura profunda para a es-trutura de superfície inclui, necessariamente, os processos de deleção, generalização e distorção. Indícios muito importantes sobre a estrutura profunda, entretanto, são expressos e refletidos na estrutura da superfí-cie verbal. Por exemplo, as palavras “casa”, “house’ ou ‘chez” referem--se ao mesmo conceito mental e aos mesmos dados experienciais.

De maneira semelhante os enunciados “o gato caçou o rato” e “O rato foi caçado pelo gato” referem-se ao mesmo evento (Mesma EP) mes-mo que a seqüência de palavras seja diferente (Diferentes ES). Em síntese,

1 O desempenho corresponde ao emprego concreto que o falante faz de sua língua. É o uso que este faz da língua.

2 A competência equivale ao conhecimento que o falante possui de sua língua e que lhe permite gerar e compreender mensagens. As regras gramaticais que permitissem ge-rar orações inteligíveis num idioma seriam denominadas de gramática gerativa.

3 O processo de transformação da estrutura profunda em estrutura superficial (lingua-gem) é chamado de “derivação”.

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podemos deduzir este processo da seguinte forma: a estrutura superficial equivale a uma representação do símbolo físico que produzimos ou ou-vimos. Refere-se o que é falado ou escrito (que foi derivado da estrutu-ra profunda). Aproxima-se da forma fonológica da oração. Por exemplo, (ANIMADO); (ANIMAL); (FELÌDEO); (FERA); (FELINO) são traços mínimos que se inserem nos moldes da EP (Estrutura Profunda). Já esta, por sua, é uma forma abstrata subjacente que determina o significado da frase. Tem a ver com os pensamentos, conceitos e idéias. Corresponde ao núcleo das relações semânticas, são muitos similares em todas as línguas e se apro-ximam da chamada GU (Gramática Universal, lembra? Aquela que cada um traz dentro de si). Segundo Chomsky existe um número muito reduzido de regras básicas capazes de gerar todas as EP´s. Seriam estas universais e inatas. Em síntese, a distinção levantada pelo autor entre EP e ES ressalta a existência na língua de um aspecto interno e de outro externo que determi-naria, respectivamente, a interpretação semântica e fonológica das frases.

O esquema a seguir sintetiza a evolução da estruturação da EP (Es-trutura Profunda) para ES (Estrutura Superficial) de acordo com Chomsky.

Quadro I

EP ES

REGRAS DE BASE + LÉXICO REGRAS TRANSFORMACIONAIS

Que tal exercitarmos tais passagens a partir do que propõe Chomsky?

Poderemos ter 02 (duas) situações:

1. Mesma EP (Estrutura Profunda) e diferente ES (Estrutura Super-ficial)

2. Diferente EP (Estrutura Profunda) e mesma ES (Estrutura Super-ficial).

Com relação à primeira situação (Mesma EP e diferente ES) tere-mos, por exemplo:

a) O menino comeu o queijo.

b) O queijo foi comido pelo menino.

Já em relação à segunda situação (Diferente EP e mesma ES) tere-mos:

a) Admitiu ao filho ter matado o homem.

b) Admitiu ao filho ter matado o bandido.

Atenção, caro(a) aluno(a), o julgamento que fazemos das coisas, como quando digo “A terra é redonda”, se chama PROPOSIÇÃO; e assim toda proposição encerra necessariamente dois termos: um cha-mado sujeito, que é aquilo de que se afirma algo, como terra; o outro

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chamado atributo, que é o que se afirma, como redonda. (ARNAULD e LANCELOT, 1992, p.28).

Nesse ponto, toma-se como exemplo a sentença: Deus invisível criou o mundo visível4. Para Chomsky, as proposições incidentes, junta-mente com a proposição principal, formam a EP da frase.

E, aí? Como estamos até agora? Espero que você tenha fixado até agora as questões básicas que estão por trás da distinção entre as EP´s e as ES´s. Para ilustrar mais ainda tal distinção vamos analisar este belo texto do escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos Heitor Cony.

O vermelho e o negro

Carlos Heitor Cony

Colar o rótulo de bom ou mau, no fundo, é o ofício humano mais freqüente, aberto diante de cada um de nós diariamente, ou melhor, a cada minuto de nosso cotidia-no. Se usamos aquela camisa, se vamos ou não vamos a algum lugar, se falamos ou se calamos, se comemos bife com fritas ou sem elas, nos departamentos mais nobres e nos mais prosaicos, não fazemos outra coisa a não ser navegar entre aquilo que nos parece o bem, ou o mal, o necessário ou o supérfluo, o deve ou o não devo.

Foi o caso do cidadão que parou o carro na estrada para tomar café e viu que, nos fundos do bar havia uma briga de galos. Habituado a jogar, quis fazer uma aposta, mas não tinha elementos suficientes para julgar os con-tendores, um galo vermelho e outro preto. Tomou infor-mações com um espectador que lhe parecia entendido, perguntando qual era o galo bom.

- O preto, respondeu o sujeito, com a convicção de quem era dono da verdade.

O sujeito jogou uma grana forte no galo preto e ficou torcendo pelo contendor que lhe garantiram ser o bom.

Contendor que não correspondeu àquilo que chamam de expectativas: foi devidamente surrado pelo galo verme-lho, e só não morreu porque o dono jogou a toalha no ringue, tirando-o da luta.

Bem, só restava ao sujeito reclamar da informação re-cebida.

- O senhor me fez perder dinheiro, dizendo que o galo preto era o bom...

- Foi o que o senhor me perguntou. Agora, o malvado era o vermelho...

4 [...] quando digo: Deus invisível criou o mundo visível – formam-se três julgamentos em nosso espírito, contidos nessa propo-sição. De início, julgo que Deus é invisível; segundo, que criou o mundo; terceiro, que o mundo é visível. Dessas três proposições, a segunda é a principal e a essencial da proposição, mas a primeira e a terceira não passam de incidentes e fazem apenas par-te da principal, em que a primeira compõe o sujeito e a última o atributo. Ora, essas proposições incidentes estão muitas vezes em nosso espírito sem ser expressas por pa-lavras, como no exemplo dado.

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Toda a disputa, seja religiosa, política, econômica, es-portiva, cultural ou científica, é resumida nessa anedota, que me parece mais do que uma fábula, mas um destino, uma decorrência da condição humana.

Por coincidência, os galos da anedota compunham o mesmo confronto que Stendhal colocou no seu romance mais famoso: “O Vermelho e o Negro”. A lição é a mesma.

Folha de São Paulo (São Paulo - SP) 23/06/2004. Disponível em: >http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=11&infoid=2054&sid=390<. Data da consulta: 15/05/2011.

De início vamos pensar, caro(a) aluno(a). Como vimos os conceitos, pensamentos e idéias são a abstração que constitui a chamada EP. É esta uma forma abstrata subjacente que determina o significado da frase. Na nossa história, a discussão gira em torno do que vem a ser bom e ruim. O conceito de bom, segundo o pensamento dominante, é construído a partir da virtude que conduz ao bem, à docilidade, à felici-dade, à boa virtude, enfim, ao bem estar pessoal. É este o sentimento, a idéia que incorpora ((in)voluntariamente), do ponto de vista interno, e que são construídos semanticamente pelo interlocutor que foi consulta-do pelo apostador. Este, por outro lado, como já era de se esperar do comportamento de quem aposta, desloca semanticamente a idéia do que seja bom, agora para valente, agressivo, violento e brigão para as “as qualidades boas” do galo.

Neste ponto da discussão, caro aluno, temos, através da ambi-güidade que reside na palavra BOM, o lado cômico da história e ao mesmo tempo um núcleo de relações semânticas que dialogam entre si e se deslocam de uma para outra. Na verdade, temos um número muito limitado de EPs: uma para o bom (enquanto virtude e docilidade do galo) e outra se deslocando para o bom (aqui entendido como mau, característica de galo valente, agressivo).

Por sua vez, a ES (Estrutura superficial), no exemplo, corresponde ao próprio texto, isto é, ao que é falado, escrito, exteriorizado (que foi derivado da estrutura profunda).

... e prá continuar a nossa conversa...

Bom, antes de partirmos ao tópico seguinte que tal ler esta curiosidade?

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O esgotamento do estruturalismo ocorre ao longo dos anos

60, quando surgem novos pontos de vista sobre a linguagem. O principal deles aparece em 1957, no livro Estruturas sintá-ticas, do lingüista norte-americano Noam Chomsky. A origem da teoria de Chomsky, chamada de gramática gerativo-trans-formacional é curiosa. No auge da chamada guerra fria, en-tre Estados Unidos e União Soviética, o serviço secreto norte--americano encomendou ao lingüista um método de ensino que tornasse mais rápido o aprendizado de línguas estrangeiras (sobretudo russo) por seus agentes. Chomsky pensou que, se fosse possível descobrir o que há de universal na linguagem hu-mana (aquilo que todas as línguas têm em comum), a estrutura do pensamento humano seria obtida e poderia ser adaptada a qualquer língua. Ele partiu do princípio de que a aptidão lingüística é inata, de que as estruturas sintáticas de base são fi-nitas e estão registradas na mente humana desde antes do nas-cimento. Já as infinitas estruturas gramaticais (as frases que se pode formar nas várias línguas) são geradas, a partir das estru-turas de base, através de processos de transformação também em número finito, daí veio o nome de gramática gerativo-trans-formacional. Essa proposta converte a língua em um algoritmo matemático que, a partir de finitos estados iniciais e processos de transformação, pode gerar infinitos enunciados finais pro-cesso simulável por computador. Evidentemente, essa teoria é valiosa para o desenvolvimento de computadores inteligentes, que reconhecem e processam enunciados lingüísticos. Em tese, aquele que dominasse as estruturas do pensamento seria ca-paz de dominar todos os humanos. guerra fria, entre Estados Unidos e União Soviética, o serviço secreto norte-americano encomendou ao lingüista um método de ensino que tornasse mais rápido o aprendizado de línguas estrangeiras (sobretudo russo) por seus agentes. Chomsky pensou que, se fosse possível descobrir o que há de universal na linguagem humana (aquilo que todas as línguas têm em comum), a estrutura do pensa-mento humano seria obtida e poderia ser adaptada a qualquer língua. Ele partiu do princípio de que a aptidão lingüística é inata, de que as estruturas sintáticas de base são finitas e estão registradas na mente humana desde antes do nascimento. Já as infinitas estruturas gramaticais (as frases que se pode formar nas várias línguas) são geradas, a partir das estruturas de base, através de processos de transformação também em número fi-nito, daí veio o nome de gramática gerativo-transformacional. Essa proposta converte a língua em um algoritmo matemático que, a partir de finitos estados iniciais e processos de transfor-mação, pode gerar infinitos enunciados finais processo simulá-vel por computador. Evidentemente, essa teoria é valiosa para o desenvolvimento de computadores inteligentes, que reconhe-cem e processam enunciados lingüísticos.Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2000/164/pdf_aberto/LINGUA.PDF. Data da pesquisa: 18/05/2011.

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Neste momento você está perguntando: E daí, o que a distinção en-tre ES e EP tem a ver com o ensino de língua materna? De que forma a gramática transformacional pode contribuir para o ensino de línguas? Atenção, caro(a) aluno(a), a primeira grande contribuição é que a gra-mática transformacional tornou explícitas “as capacidades que o estu-dante de línguas precisa ter para aproximar-se da competência de um falante nativo”, isto é, a capacidade de distinguir sentenças gramaticais de não-gramaticais, a capacidade de produzir e compreender um núme-ro infinito de sentenças gramaticais. A segunda é que, mesmo que um exame cuidadoso dessas capacidades não forneça necessariamente uma resposta de como tais competências tenham sido adquiridas, é evidente que, partir destes estudos possamos descobrir os prováveis modos pelos quais é muito improvável que tenham sido adquiridas. Em um terceiro momento, é importante destacar a grande contribuição de Chomsky e sua gramática gerativo-transformacional para a explicação dos mecanis-mos de apreensão de uma língua por parte, por exemplo, das crianças. Segundo este teórico o Behaviorismo não pode explicar bem fenôme-nos linguísticos como a rápida apreensão da linguagem por crianças pequenas. Chomsky afirmava que, para um indivíduo responder a uma questão com uma frase, ele teria de escolher, dentre um número virtual-mente infinito de frases, qual usar, e essa habilidade não era alcançada perante o constante reforço do uso de cada uma das frases. O poder de comunicação do ser humano, segundo Chomsky, seria resultado de ferramentas cognitivas gramaticais inatas. Tal argumento surgiu de uma crítica de Chomsky a um livro de Skinner sobre o comportamento verbal. Estas, dentre outras, são as grandes contribuições da gramática transfor-macional de Chomsky para os estudos de língua materna.

Que tal exercitarmos um pouco mais?

Atividade I1. Atenção, caro(a) aluno(a). Leia mais uma vez os pontos principais desta

unidade e responder o que se pede:

a) De forma sucinta diferencie a ES (Estrutura Superficial) e EP (Estrutura Profunda) e as associe à gramática gerativo-transformacional de Chomsky.

b) Segundo a teoria de Chomsky, como se aprende uma língua? Que teoria psicológica foi a sua principal opositora? Por quê?

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c) O que tem a ver a gramática gerativo-transformacional e a GU (Gramática Universal) de Chomsky?

d) Elenque 02 (duas) contribuições da gramática gerativo-transformacional de Chomsky para os estudos e ensino de língua materna.

e) O que mais lhe chamou a atenção na história O Vermelho e o Negro, de Cony?

2. Associe a segunda coluna com a primeira.

(a) “João é inglês” e “ João nasceu na terra da rainha”. (b) “Ponho-te no olho da rua, se me deres prejuízo” e “Demito-te se me fores caro” (c) “Roubei teus beijos” e “Teus beijos foram roubados por mim”. (d) “Compro teu cavalo” e “Compro teu animal”(e) “Revelou-se apaixonado” e “Revelou-se amado”(f) “Amei-te demais” e “Foste amado por mim”

( ) ( ) ( ) ( ) Mesma EP e diferente ES

( ) ( ) ( ) ( ) Mesma ES e diferente EP.

3. Vá ao site http://pt.wikipedia.org, ou em qualquer site de pesquisa, e investigue sobre a origem da gramática gerativo-transformacional de Chomsky. Em seguida fiche abaixo as suas principais características, sempre procurando associar às teorias de base estruturalista reinantes até então.

Leituras recomendadas1. Adquira e leia a obra O Que é Linguística, de Eni Orlandi, da Série

Princípios. Retrata de forma didática e objetiva os conceitos fundamen-tais da lingüística, bem como vai traçar um bom percurso até chegar-mos à gramática de Chomsky. Boas leituras.

2. Caso não consiga a obra acima, procure Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, vol. I, organizadas por Fernanda Mussalim BENTES e Anna Christina. Também faz boa viagem no histórico dos estudos lingüísticos. Vale à pena.

3. Abra a sua velha gramática, se tiver, e estude o capítulo referente ao início dos estudos sintáticos (aquela parte que trata dos conceitos iniciais de termos essenciais, acessórios e integrantes).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Resumo

1. Certamente a maior contribuição de Chomsky foi a afirmação de que o conhecimento da linguagem de modelagem usando uma gramática formal representa a “produtividade” ou “cria-tividade” da linguagem. Em outras palavras, uma gramática formal de uma língua pode explicar a capacidade de um ou-vinte-falante para produzir e interpretar um número infinito de enunciados, inclusive os novos, com um conjunto limitado de regras gramaticais e um conjunto finito de termos.

2. Chomsky mostrou que a linguagem é totalmente inata e propôs uma “gramática universal” (UG). Na verdade, Chomsky sim-plesmente observou que enquanto um bebê e um gatinho são capazes de raciocínio indutivo, se eles são expostos a exata-mente os mesmos dados lingüísticos, a criança humana sempre adquirir a habilidade de entender e produzir linguagem, en-quanto o gatinho nunca adquirirá uma habilidade.

3. Noam Chomsky foi um crítico do Behaviorismo, e apresentou uma suposta limitação do Comportamentalismo para modelar a linguagem, especialmente a aprendizagem. O Behaviorismo não pode, segundo este teórico, explicar bem fenômenos lin-güísticos como a rápida apreensão da linguagem por crianças. Chomsky afirmava que, para um indivíduo responder a uma questão com uma frase, ele teria de escolher dentre um número virtualmente infinito de frases qual usar, e essa habilidade não era alcançada perante o constante reforço do uso de cada uma das frases. O poder de comunicação do ser humano, segundo Chomsky, seria resultado de ferramentas cognitivas gramaticais inatas.

4. Chomsky afirma que a teoria dele está interessada, principal-mente, em duas espécies de regras: as que especificam a EP, relacionando-a com a ES; e as regras de interpretação semân-tica e fonológica, que se aplicam à EP e ES, respectivamente.

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AutoavaliaçãoPara você, caro(a) aluno(a), o mais importante é perceber que, ao nascermos, já trazemos todo o “DNA”, potencial inato de – através da linguagem – podermos nos comunicar da forma como quisermos e fazermos os arranjos lingüístico-gramaticais os mais diversos e construirmos os enunciados que desejarmos conforme as necessidades de interação. Este potencial é o que Chomski chama de gramática internalizada. Agora é hora de você se autoavaliar. Com base no que estudamos até agora sobre os conceitos de EP e ES faça uma autorreflexão, posicionando-se sobre o que você acha da aplicabilidade prática destas abordagens teóricas na sua vida de falante da língua. De que forma a estrutura profunda pode contribuir para que se torne um falante mais crítico e transformador da língua?

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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ReferênciasAZEREDO. José Carlos de. Ensino de Português. Fundamentos, percursos e objetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

____ Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

____ Língua Portuguesa em Debate. Conhecimento e ensino. 5° ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37 edição revista e ampliada. 15 reimpressão. rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Theresa Cochar. Português: linguagens. Volume Único. 2° ed. São Paulo: Atual Editora, 2005.

LIMA, Eni Marins de. Teoria Transformacional e Ensino de Línguas. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1981.

MUSSALIM, Fernanda e BENTES, Anna Christina. (organizadoras). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. Vol. I. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. O que é Linguística. Série Princípios. São Paulo, Ática

SILVA, Maria Cecília P. de Souza e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

Endereços eletrônicos:

http://www.pnl.med.br/site/linguagem_art.htmhttp://www.golfinho.com.br/biopnl/noam_chomsky.htmhttp://www.infoescola.com/comunicacao/gramatica-transformacional/http://pt.wikipedia.org/

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VI UNIDADE

Modelos de estruturação sintagmática, através de árvores, dos tipos obrigatórios: orações declarativas e interrogativas

O que é impressionante na produtividade das línguas naturais, na medida em que é manifesto na estrutura gramatical, é a extrema complexidade e heterogeneidade dos princípios que a mantêm e constituem. Mas, como insistiu Chomsky, esta complexidade e heterogeneidade não é irrestrita: é regida por regras. Dentro dos limites estabelecidos pelas regras da gramática, que são em parte universais e em parte específicos de deter-minadas línguas, os falantes nativos de uma língua têm a liberdade de agir criativamente – de uma maneira que Chomsky classificaria de distin-tivamente humana – construindo um número indefinido de enunciados. (LYONS, 1987, p. 34)

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Apresentação

Seja bem vindo(a) a nossa sexta unidade. Na anterior discutimos e nos aprofundamos a cerca das chamadas EP (Estrutura Profunda) e ES (Estrutura Superficial), responsáveis por externar sintaticamente as frases da língua, segundo a gramática gerativo-transformacional de Chomsky. Vimos que esta gramática é útil na medida em que as estruturas profundas, para atingirem os níveis de compreensão neces-sários e dentro dos padrões de gramaticalidade, necessitam de certas regras. Nesta unidade, nos aprofundaremos no estudo de alguns modelos de estruturação de tais estruturas sintagmáticas, em especial na distribuição arbórea proposta por Chomsky. Daremos ênfase aos tipos obrigatórios decla-ratórios e interrogativos, distribuídos nas chamadas orações compostas por períodos simples. Para tal, recorreremos à segunda aula, uma vez que esta propõe algumas nomencla-turas para os estudos sintáticos.

Desejamos boa sorte nos estudos, caro(a) aluno(a).

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 91

Objetivos

Ao final desta aula você deverá:

• Construir a distribuição arbórea de qualquer enunciado, com gramaticalidade, que envolvam os enunciados do tipo declara-tivo (orações afirmativas e negativas) e interrogativas.

• Compreender os princípios sintáticos que regem as regras de distribuição arbórea do modelo de Chomsky.

• Associar as regras de distribuição arbórea de Chomsky com as classificações ditas tradicionais.

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Os estudos sintáticos e o gerativismo de Chomsky: para que a distribuição em diagramas arbóreos?

Segundo o gerativismo de Chomsky, caro(a) aluno(a), para se co-nhecer a sintaxe de uma língua é preciso formular sucessivas hipóteses sobre as operações mentais envolvidas na derivação, ou geração, das suas frases. (Lembra-se do princípio de que uma sequência finita de palavras gera uma infinitude de enunciados?) Na base dessa derivação está um conjunto de escolhas lexicais. No final da mesma, admite-se que as estruturas frásicas, então já criadas, se bifurcam em dois tipos de expressão, ou representação, uma ao nível dos sons (Representação Fonética) e outra ao nível do significado (Forma Lógica), o que dá conta do objeto observável da teoria sintática que é o das frases ditas com sentido, as únicas que podem ser compreendidas, segundo Chomsky.

Quando se diz ou se ouve uma frase, dizem-se ou ouvem-se su-cessivas palavras. Essa sucessão de palavras é vista pela gramática gerativa como o resultado superficial (chamado Sintaxe Visível) de uma articulação dinâmica entre estruturas, algumas das quais são apenas abstratas, não tendo correspondência no léxico das línguas. Para repre-sentar graficamente essa fabricação mental das orações e todo o con-junto de estruturas hierarquizadas que ela inclui, sujeitas a princípios e parâmetros que presidem à sua interdependência, a Gramática Gera-tiva concebe uma árvore invertida. (A chamada distribuição arbórea). Os seus ramos significam vinculações entre estruturas do léxico, com sua categoria morfológica (determinantes, substantivos, adjetivos, ad-vérbios, pronomes, verbos), e as estruturas sintáticas que vão progres-sivamente integrando, formando constituintes cada vez mais complexos até se chegar à Sintaxe Visível (Lembra-se da Estrutura superficial (ES)?).

Por outro lado, não podemos falar de representação sintagmática se não relembrarmos do que vimos na nossa segunda aula. Vamos lá?

O quadro a seguir discrimina as regras de estruturação dos sintag-mas em uma oração:

Sintagma Sigla Classificação

Sintagma nominal SN Ocorre quando o núcleo do sintagma é um

nome (funcionando como substantivo).

Sintagma verbal SV Ocorre quando o núcleo do sintagma é um verbo

Sintagma Adjetival Sadj. São os adjetivos. Do ponto de vista sintático assumem as funções de adjuntos adnominais.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 93

Sintagma Adverbial Sadv São os advérbios. Do ponto de vista sintático assumem as funções de adjuntos adverbiais.

Determinante-base Det.base São os artigos e pronomes demonstrativos, quando determinantes de SN.

Pré-determinante Pré.det São os pronomes indefinidos determinantes dos SN.

Pós-determinante. Pós-det. São os numerais e pronomes possessivos de-terminantes dos SN.

Sintagma preposi-cionado comple-

mentarSpc.

São alguns SN’s. Constituem os tradicionais objetos indiretos ou complementos nominais, isto é, termos regidos por preposição, que complementam, respectivamente, os verbos transitivos indiretos (VTI) e SN (substantivos

abstratos e adjetivos).

Sintagma preposi-cionado adjetival SPadj. São alguns SN’s regidos de preposição.

Constituem as tradicionais locuções adjetivas.

Sintagma preposi-cionado adverbial SPadv.

São formadas por SN + preposição. Cons-tituem as tradicionais locuções adverbiais. Como sabemos estas modificam os verbos,

adjetivos, além dos próprios advérbios.

Quadro 1. Representativo da distribuição dos sintagmas em uma oração.

A partir do quadro acima podemos formular as muitas possibilida-des de formulações de todos os enunciados da língua. As disposições a seguir exemplificam com detalhes cada uma das classificações

O = SN + SV (SP). (Ex.: O seu problema nasceu na sua casa, às 16h)

SN SV SP SP

Det. ((Pré. det) + Det. + Pós-det)).

Det. base. (Ex.: O carro é lindo; Este carro é lin-do)

Det.

Pré-det.: (Ex.: Todos os meus amigos chegaram; Nenhum dos amigos chegou.

Pós-det.: (Ex.: Os três filhos de Pedro chegaram. Meu filho chegou.

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94 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Mod.

dv. = Prep. + SN (Ex.: Partiu de madrugada)

Sp

adj. = Prep. + SN (Ex.: O carro de papai é lindo.

Sadj. = Adjetivo. (Ex.: Este carro lindo é meu.)

Sadv. = Advérbio. (Ex.: Partiu cedo)

Sp. Prep. + SN. (Ex.: Gosto de seus caprichos.)

SPc

Prep. + SN. (Ex.: Dependo da EAD para ser aprovado.

Prep. + pronome. (Ex.: dependo de você para ser aprovado.

Sadv

Intensificador + SAdj. (Ex.: Chegou muito alegre)

Intensificador + SAdv. (Ex.: Chegou muito cedo prá aula)

Advérbio. (Ex.: Chegou cedo).

Sadj.

Adjetivo.

Vamos rever algumas análises? Por exemplo, no enunciado Esta semana estudei bastante para a prova de Língua Portuguesa IV, como ficaria a classificação final, conforme o modelo da gerativo-transfor-macional?

1. SN: eu (implícito) (sintagma nominal). Formado pelo pronome. Tradicionalmente é o sujeito da oração.

2. Det: Esta (Determinante) de semana:. Especifica o sintagma no-minal semana. São os chamados dêiticos.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 95

3. SV: Essa semana estudei bastante para a prova de Língua Portu-guesa IV. (Sintagma verbal). Tradicionalmente compõe-se do que cha-mamos de predicado (Verbal, neste caso).

4. Sadv: “Esta semana”; ”bastante (Sintagmas Adverbiais). São considerados tradicionalmente, respectivamente, adjuntos adverbiais de tempo e intensidade. Enquadram-se como modificadores do verbo Estudei.

5. Spadv. Para a prova de Língua Portuguesa IV (Sintagma preposi-cionado adverbial). São os chamados advérbios iniciados por prepo-sição. A maioria chamamos tradicionalmente de locuções adverbiais.

6. Det: “a” (Determinante) de prova.

7. Spadj: de Língua Portuguesa IV. (Sintagma preposicional adjeti-val) de prova. Tradicionalmente é chamado de adjunto adnominal por-que especifica e/ou qualifica o nome (SN). São os modificadores de SN.

O quadro abaixo ilustra bem a distribuição acima mostrada.

SN SV

EuEsta semana estudei bastante para a prova de Língua Portuguesa IV

Det Sadv Spadv Prep Det Spadj

Essa“Esta semana”; ”bastante”

Para a prova de Língua

Portuguesa IVpara a

de Língua Portuguesa

IV

Quadro 02: ilustrativo da distribuição dos componentes sintagmáticos da ora-ção acima.

Que tal mais um exemplo? Veja: O prefeito percebeu falhas no asfalto da velha rua.

1. SN: O prefeito (sintagma nominal). Tradicionalmente é o sujeito da oração.

2. Det: O (Determinante) de prefeito. Especifica o sintagma nomi-nal prefeito. Tradicionalmente chamamos adjunto adnominal.

3. SV: Percebeu falhas no asfalto da velha rua. (Sintagma verbal). Tradicionalmente compõe-se do que chamamos de predicado (Verbal, neste caso).

4. SN: falhas no asfalto da velha rua. É um sintagma nominal que funciona sintaticamente como objeto direto do verbo percebeu.

5. Spadv. No asfalto da velha rua. (Sintagma preposicionado adver-bial). São os chamados advérbios iniciados por preposição. Tradicio-nalmente de locuções adverbiais, neste caso de lugar.

6. Prep: em (preposição).

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96 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

7. Det: O (Determinante) de asfalto. Especifica o sintagma nominal asfalto. Tradicionalmente chamamos adjunto adnominal.

8. Det: “a” (Determinante) de rua.

9. Spadj: da velha rua. (Sintagma preposicional adjetival) de asfal-to. Tradicionalmente é chamado de adjunto adnominal formado por locução adjetiva porque especifica e/ou qualifica o nome (SN). São os modificadores de SN.

10. Sadj: velha. (Sintagma adjetival) de rua. Tradicionalmente é chamado de adjunto adnominal porque especifica e/ou qualifica o nome rua (SN). São os modificadores de SN.

Mais uma vez especificam-se os constituintes acima no quadro re-sumitivo abaixo:

SN SV

O prefeitoPercebeu falhas no asfalto da velha rua

Det SN Spadv Prep Det Spadj Prep Det. Sadj. SN

Ofalhas no asfalto da velha rua

no asfalto da velha

ruaem o da velha

rua de A velha rua

Quadro 03: ilustrativo da distribuição dos constituintes na sentença acima.

Deu prá revisar bem? Espero que sim, pois, a partir de agora, você precisará de todas estas informações, de natureza sintática, para se adentrar nas análises sintagmáticas propostas pelo modelo de distri-buição arbórea de Chomsky. Entretanto, jamais esqueça: as unidades do léxico estão na ponta de cada ramo dessa árvore e as suas proprie-dades sintáticas vinculam-nas aos pontos de ramificação (os nós) para onde os ramos convergem. Cada ramificação apenas pode juntar pa-res de ramos (diz-se que se trata de ramificação binária) e nunca pode estar isolada (como os ramos vivos, que não podem estar soltos da sua armação botânica). Entendeu, prá começar?

Comecemos pelos tipos obrigatórios declarativos

O quadro abaixo sintetiza os tipos (enunciados) e seus respectivos subtipos, de acordo com Koch e Silva (1989):

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 97

Tipos obrigatórios Subtipos Tipos opcionais

Declarativo Afirmativo e negativoPassivo e enfático, combinado com os

demais.

Interrogativo Afirmativo e negativoPassivo e enfático, combinado com os

demais.

Imperativo Afirmativo e negativo Enfático, combinado com os demais.

Exclamativo _ _

Quadro 04. Classificação dos tipos oracionais, segundo Koch e Silva (1989)

Comecemos pensando na distribuição arbórea dos tipos obriga-tórios declarativos, subtipos afirmativos. Compreendem estes todos os enunciados que encerram afirmações positivas, no sentido afirmativo. Senão vejamos os seguintes enunciados: a) Aprendo bastante nas aulas de LP IV; b) As professoras Divanira e Rossana coordenam o curso de Letras da UEPB. e c) Lula foi o governante dos pobres.

Atenção, caro aluno! Por uma questão meramente didática, apenas mostraremos a distribuição arbórea dos enunciados – já transformados nas suas estruturas superficiais (E.S. lembra?) sem, necessariamente nos determos às estruturas profundas (E.P. lembra?). Para tal, mais uma vez, nos basearemos no modelo de distribuição arbórea proposto por Koch e Silva (1989).

Lembre-se: terá que recorrer sempre às classificações propostas por Chomsky para estudos dos enunciados na perspectiva da sua gramá-tica gerativo-transformacional. Analisemos, inicialmente, o enunciado “a” Aprendo bastante nas aulas de LP IV.

Transf. afirmativas

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98 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Que tal observarmos mais atentamente? Notou que a árvore cresce do caule para as raízes? Analise com cuidado e perceba que toda a estruturação do enunciado se inicia a partir dos 02 (dois) gran-des sintagmas estruturantes: o SN e SV. Estes são como que nucleares. Para eles convergem: a) todos os modificadores (Sadj., Sadv., Spadv., Spadj.; b) todos os (pré)(pós)determinantes (artigos, pronomes e nu-merais); c) todos os complementos (Spc) de alguns SN’s (substantivos abstratos e adjetivos) e alguns verbos (Transitivos indiretos).

Para que você visualize melhor faremos agora a correlação entre as classificações visualizadas na distribuição arbórea do enunciado acima e as classificações que já revisamos no item 02 desta aula. Vamos lá! Quem são:

1. Os SN’s: Eu (Pronome, substitui o SN); As aulas de LPIV.

2. O SV: Aprendo bastante nas aulas de LP IV. Corresponde ao que tradicionalmente chamamos de predicado verbal.

3. Sadv: bastante. Intensificador do verbo. Tradicionalmente o cha-mamos de adjunto adverbial.

4. Spadv: nas aulas de LP IV. A GT o classifica de locução adverbial de lugar.

5. Spadj: de LP IV. Tradicionalmente o nomeamos de locução adje-tiva com função sintática de adjunto adnominal.

Ficou mais claro agora? Que tal tentarmos com o exemplo “b”, “As professoras Divanira e Rossana coordenam o curso de Letras da UEPB”?

Transf. Afirm.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 99

Vamos exercitar?

Atividade I

a) Bom, não? Agora faça o seguinte: Vá identificando cada constituinte imediato, conforme fiz na distribuição arbórea anterior. Eu o identifico e você o classifica, está bem?

1. Os SN’s:___________________________________________________2. O SV: _____________________________________________________3. Spaj: _____________________________________________________4. Det:______________________________________________________5. Prep: _____________________________________________________

b) Quer tentar com mais uma distribuição arbórea? Vamos lá? Analisemos o exemplo “c”, Lula foi o governante dos pobres.

Transf. afirmativas

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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100 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Agora, faça o mesmo que fez na distribuição anterior:

1. Os SN’s:___________________________________________________2. O SV:_____________________________________________________3. Spaj:_____________________________________________________4. Det:______________________________________________________5. Prep:_____________________________________________________

Agora, de acordo com os objetivos que pleiteamos para esta aula, faremos a distribuição arbórea das sentenças que se enquadram no tipo obrigatório declarativo e no subtipo negativo. Você verá que não haverá dificuldades. Para este subtipo não teremos novidades, está bem? Basta que você fique atento e saiba que estamos lidando com sentenças negativas. Logo, teremos a presença da partícula negativa na distribuição arbórea. Vamos lá? De início trabalharemos com o peque-no enunciado “A EAD não mandou o material”.

Transf. negat.

Viu como é fácil? Não há segredos. Basta que você fique atento nas funções sintáticas. Qualquer dúvida consulte os quadros iniciais e tudo se resolverá.

Vamos analisar um exemplo que envolva outras funções sintáticas, está bem? O enunciado é: A EAD não enviou o material antigo hoje cedo.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 101

Transf. neg.

Vamos classificar cada constituinte, certo?

1. Os SN’s: A EAD; o material antigo

2. O SV: não enviou o material antigo hoje cedo

3. Sadv:”hoje” e “cedo” de tempo.

4. Det: “a”e “o”.

5. Sadj: Antigo.

Fácil, não? Veremos agora um último exemplo: O ensino a distân-cia não tem grandes apoios.

Trans. negativa.

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102 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Atividade II

Que tal agora se você preenchesse os espaços abaixo de acordo com o modelo que já domina de acordo com o enunciado acima?

1. Os SN’s:__________________________________________

2. O SV: ____________________________________________

3. Det: _____________________________________________

4. Sadj: _____________________________________________

5. Spadv:______________________________________________

Que tal agora refletirmos um pouco mais?

Agora é com você. A partir de cada um dos enunciados abaixo monte as estruturas arbóreas. Comece pelas estruturas mais simples. Depois vá treinando as mais complexas, está bem?

Bom garoto. (Este primeiro faço prá você)

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 103

Tente agora com os demais. Você consegue, é só seguir os modelos e reler a teoria, ok?

a) Garoto legal

b) O garoto legal

c) O garoto legal chegou

d) O garoto legal chegou ontem

e) Não deixei o livro na carteira ontem de madrugada

f) A EAD não exclui os alunos veteranos

g) O velho ônibus não chegou ontem de madrugada.

Agora você vai treinar classificações sintáticas, com base no mode-lo sintagmático de Chomsky e nas classificações tradicionais. Complete os parênteses no texto de acordo com a convenção estabelecida para cada classificação proposta.

( 1 ) SN

( 2 ) SV

( 3 ) Spadv

( 4 ) Sadv

( 5 ) Sadj

( 6 ) Spadj.

( 7 ) Det.

( 8 ) Prep.

( 9 ) Spc

a) Esse( ) foi um( ) ano difícil.( ) Nada conseguimos, porque a seca( ) nos castigou( ) muito.( ) Esperamos que no próximo ano as ( ) coisas melhores. De madrugada( ) bem cedinho( ) acordo e penso: como pagarei a quem( ) devo? Sou um pai( ) cuidadoso( ) de seus fi-lhos e espero a( ) felicidade deles.( ) O menor de todos( ) me pergunta se as( ) coisas vão melhorar. O( ) meu( ) velho( ) coração se parte ao meio mas respondo.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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104 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

b) Desta vez, com base nas classificações tradicionais e na simbo-logia abaixo, dê as funções sintáticas de cada termo que você acima classificou na perspectiva sintagmática.

( 1 ) Adjunto adverbial

( 2 ) Adjunto adnominal

( 3 ) Locução adverbial

( 4 ) Objeto indireto

( 5 ) sujeito

( 6 ) Predicado verbal

( 7 ) Objeto direto.

Esse( ) foi um( ) ano difícil.( ) Nada conseguimos, porque a seca( ) nos castigou( ) muito.( ) Esperamos que no próximo ano as( ) coisas melhores. De madrugada( ) bem cedinho( ) acordo e penso: como pagarei a quem( ) devo? Sou um pai( ) cuidadoso( ) de seus filhos e espero a( ) felicidade deles.( ) O menor de todos( ) me pergunta se as( ) coisas vão melhorar. O( ) meu( ) velho( ) coração se parte ao meio mas respondo.

Leituras recomendadas1. Reatualize as suas leituras da gramática tradicional. Redescubra

mais uma vez a sua velha gramática de páginas amareladas pelo tempo. É hora de ela voltar a ser jovem de novo. Dê-lhe um novo sentido. Comece pelos estudos sintáticos mais simples. Lembre-se, não se concebe dominar as estruturas sintagmáticas sem se aprender minimamente as funções sintáticas tradicio-nais.

2. Não se esqueça de ir ao pólo e se aprofundar na abordagem que Mussalim e Bentes fazem da gramática gerativo-transfor-macional na obra Introdução à Linguística: domínios e fron-teiras no seu Volume I. A retrospectiva histórica bem como os modelos estruturais propostos pelas autoras são muito consis-tentes. Boas leituras e veremos nas próximas aulas.

3. Além de qualquer gramática de abordagem gramatical ten-te localizar a gramática Estrutura Morfossintática do Português, de Rebouças Macambira. É interessante porque aborda, em um mesmo enunciado, as 03 (três) perspectivas: morfossintática e semântica dos termos e expressões em análise. Vale a pena lê-la.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 105

Resumo

Atenção, caro(a) aluno(a)! Não esqueça de que nesta aula tínhamos como objetivo essencial estudar as distribuições arbóreas dos enuncia-dos pertencentes aos tipos declarativos (afirmativos e negativos) segun-do a gramática gerativo-transformacional. Não se esqueça de:

1. Os sintagmas que comandam qualquer enunciado são os SN e SV.

2. Os SN constituem os nomes (substantivos) que podem vir sozi-nhos ou determinados (por artigos, numerais e/ou pronomes) ou modificados (pelos conhecidos Sadj ou Spadj), os adjetivos que funcionam tradicionalmente como adjuntos adnominais.

3. Os SV constituem os verbos que podem vir sozinhos ou modifi-cados (pelos conhecidos Sadv ou Spadv), os advérbios que fun-cionam tradicionalmente como adjuntos adverbiais ou locuções adverbiais (se virem regidas de preposição.

4. Os Sadj e Spadj são os modificadores dos SN, dando a estes atributos, qualificações, especificações etc. Do ponto de vista tradicional são os chamados adjuntos adnominais.

5. Os Sadv e Spadv são os modificadores dos SV, dando a estes cir-cunstâncias as mais diversas (tempo, lugar, intensidade, modo, causa etc). Do ponto de vista tradicional são os chamados ad-juntos adverbiais ou locuções adverbiais as mais diversas.

6. Os Spc (sintagmas preposicionais complementares) são regidos, como qualquer Sp, de preposição e completam tanto o sentido de alguns SN (Sadj) (substantivos abstratos ou adjetivos) como de alguns SV (caso dos transitivos indiretos). Tradicionalmente são chamados de complementos nominais e objetos indiretos. Como exemplo temos: a) Preciso de você. (Spc) (OI); b) Tenho necessidade de você (Spc) ( Complemento nominal).

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106 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Autoavaliação

Com base no que estudamos até agora faça uma autoavaliação do seu desempenho na aprendizagem da disciplina. Tome como modelo para sua autocrítica aspectos como: tempo para leitura exercícios no módulo, prioridades que está dando ao curso de Letras frente às suas demais atividades, importância até agora da disciplina Língua Portuguesa IV na sua formação acadêmica, em especial na abordagem e entendimento que você está tendo do estudo dos sintagmas (formação, estruturação, funcionalidade etc). Escreva um texto de extensão suficiente para poder contemplar todas estas questões. Boa sorte.

ReferênciasAZEREDO. José Carlos de. Ensino de Português. Fundamentos, percursos e objetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

____ Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

____ Língua Portuguesa em Debate. Conhecimento e ensino. 5° ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37 edição revista e ampliada. 15 reimpressão. rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

MUSSALIM, Fernanda e BENTES, Anna Christina. (organizadoras). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. Vol. I. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. O que é Linguística. Série Princípios. São Paulo, Ática

SILVA, Maria Cecília P. de Souza e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 107

VII UNIDADE

Continuação dos modelos de estruturação sintagmática, através de árvores, dos tipos obrigatórios: orações declarativas, subtipos interrogativo e imperativo

Não é verdade que existem línguas pobres ou lín-guas evoluídas e línguas primárias. Nenhuma delas está mais próxima ou mais afastadas que as outras dos sistemas de comunicação animal. Cada uma delas corresponde à civilização, aos modos de vida, aos hábitos dos povos que a utilizam. (Nique, 1977).

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108 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Apresentação

É grande prazer em reencontrá-lo(a) em mais uma aula de Língua Portuguesa IV. Daremos continuidade na estruturação arbórea da gra-mática gerativa de Chomsky. Desta feita nos aprofundaremos nos subti-pos interrogativo e imperativo do tipo obrigatório declarativo. Entretan-to, você vai precisar, a partir de agora, de consultar todos os quadros, “árvores” e demais informações da aula nº 06, está bem? Ela contém todas as bases teóricas para as demais que advirão. Não se esqueça de que esta aula é continuidade da anterior. Por isso, atenção redobrada ao que discutimos até agora, ok!

Antes de iniciarmos, contudo, gostaria de dividir com você um de-poimento do grande Fernando Pessoa, poeta português, sobre o que significa para ele a sua língua, suas sintaxes e morfologias e, porque não dizer, as nossas também.

Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa me teem feito cho-rar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta, o passo célebre de Vieira sobre o Rei Salomão, “Fabricou Salomão um palácio...” E fui lendo, até ao fim, trêmulo, confuso; depois rompi em lágrimas felizes, como nenhuma felicida-de real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquelle exprimir das idéias nas palavras inevitáveis, correr de água porque ha declive, aquelle assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção política. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d’aquelle mo-mento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphônica. Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, po-rém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pe-saria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 109

sinto, não quem escreve mal portuguêz, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthogra-phia simplificada, mas a página mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como es-carro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a orthographia tam-bém é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m’a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha. Disponível em: >http://pt.wikisource.org/wiki/A_minha_pátria_é_a_língua_portuguesa.< Data da consulta: 15/06/2011. (Grifo meu. Man-teve-se a grafia original).

Resgato apenas a parte sublinhada no texto como uma sibilante, apaixonada e poética defesa do poeta de sua língua, com sua sintaxe e sua ortografia. Parece que, aos olhos do poeta, uma ”página mal escrita” se assemelha simbioticamente a uma pessoa mal escrita, mal realizada na vida. Enoja-se o poeta diante do texto mal escrito. Como, para ele, a língua parece ser a própria vida – o respirar de sua gente, os gestos e dores de seu povo – então é natural o processo de personi-ficação. A língua, para ele, sofre, se mutila, se anula, se destrói, enfim, morre, quando sua sintaxe é quebrada, é perdida, é corrompida. Por-que ela sente... É rainha, que ostenta seu manto sagrado que deve ser cultuada a todo o momento. É isto o que sente o poeta ao ver ultrajado o seu bem mais precioso. E você, como se sente quando alguém des-respeita a sua língua?

Por isso, antes de nos adentrarmos nas “arborizações” de Chomsky, gostaria de dividir com você uma crônica de Rubem Braga – pela qual me apaixonei - que trata de maneira majestosa, singela e única de uma árvore, muito especial. Com você, segue A Árvore

Alta, muito alta, e branca, muito branca, de olhos verdes... Sonhei ter visto uma jovem assim?Terei sonhado ou sonhei que sonhava; não sei; essa moça devia ser irmã da árvore, que vi a vez primeira em noite de luar, erguendo para a noi-te azul os seus galhos unânimes. Mas de manhã, quando abri a janela, e o sol nascia sobre a Cor-dilheira, é que ela esplendeu em toda sua beleza.Em muitos caminhos da Europa e do sul do Brasil vi essa árvore; é um álamo, e foram os álamos que inventaram todas as alamedas desse mundo. Em minha rua santiaguina também há muitos; mas o mais alto de todos, o mais forte em viço, em bele-za, está junto à calçada, no meu jardim.Sou um homem confuso e distraído; minha rua chama-se Roberto Del Río e na primeira madruga-da, quando voltava para casa, disse ao chofer que morava em Roberto Del Mar. O velho chileno riu muito dentro de seu casaco escuro, atrás de seus bigodes brancos; mas quando chegamos à rua e

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110 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

ele me perguntou o número da casa não precisei puxar meu caderno de endereços para responder; apontei a mais de cem metros o meu álamo real.Nenhuma árvore se lança com tanta veemência para o alto; lança-se o enorme tronco muito bran-co, lançam-se todos os galhos cobertos de folhas, num impulso de chama verde, vinte jatos de seiva partindo todos para cima, ao longo da mesma reta vertical.Há um pinheiro estático e extático, há grandes salso-chorões derramados para o chão, e a graça menina de uma cerejeira cor de vinho, que o sol acende e faz fulgurar; mas o álamo junto do portão tem um vigor e uma pureza que me fazem bem pela manhã, como se toda manhã, ao abrir a janela, eu visse uma jovem imensa, muito clara, de olhos verdes, de pé, sorrindo para mim. Santiago, abril, 1955. Disponível em:>http://www.pucminas.br/documentos/vestibular_2011_02_bh_portugues.pdf?PHPSESSID=64c9b1203392fbdf40de09b335a29510<. Data da consulta: 16/06/2011.

Bela, não? Releia-a muitas vezes e se transporte mentalmente ao espaço descrito sabiamente pelo cronista. Veja os detalhes, as com-parações, as personificações, a majestade do álamo.

Por isso, em homenagem à beleza das sintaxes, às escolhas lexicais, aos efeitos de sentido provocados pela fusão dos componentes sintagmáticos que compõem o texto na sua completude é que em todas as distribuições arbóreas a serem utilizadas nesta aula nos utilizaremos de sentenças extraídas do texto acima. Combinado?

Desejamos a você boa sorte nesta aula, caro(a) aluno(a).!

Objetivos

Ao final desta aula você deverá:

• Construir a distribuição arbórea de qualquer enunciado, com gramaticalidade, que envolvam os enunciados do tipo obriga-tórios (orações interrogativas e imperativas).

• Compreender os princípios sintáticos que regem as regras de distribuição arbórea do modelo de Chomsky para estas cons-truções.

• Associar as regras de distribuição arbórea de Chomsky com as classificações ditas tradicionais, para tais construções.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 111

Comecemos pelos tipos obrigatórios interrogativos

É bom não esquecer de que no processo de transformação que acontece nos tipos interrogativos para a representação arbórea da ( E.P., lembra?) para a (E.S.) ocorrem algumas particularidades que só os exercícios poderão aclarar as dúvidas daí decorrentes. Por isso, é necessário, quase sempre fazermos a distribuição arbórea também da estrutura profunda (E.P.) do enunciado em análise para que possamos vislumbrar onde, como e por que ocorrem tais transformações. Senão, comecemos extraindo, de início, estes pequenos trechos de Árvore, de Rubem Braga. Lembra de nossa promessa? a) O sol nascia sobre a Cordilheira; b) Sou um homem confuso e distraído; c) Sonhei ter visto uma jovem assim?; d) Minha rua chama-se Roberto Del Río.

De início devemos definir para qual parte do enunciado devemos dirigir o questionamento: para o SN (sujeito sintático) Sol? Para o Spadv (locução adverbial de lugar) sobre a cordilheira? De início, faremos o questionamento sobre as 02 (duas) posições.

Se desejarmos construir o questionamento sobre o SN (sujeitos das orações), respectivamente, Sol, eu, eu e minha rua então as perguntas, já transformadas a partir das estruturas profundas, dos quatro enuncia-dos, seriam expressas no quadro abaixo:

Quadro 1: representativo das EP e ES de alguns enunciados

Estrutura profunda Estrutura superficial

SN SV

a) Algo nascer sobre a cordilheira O que nascia sobre as cordilheiras?

b) Alguém ser um homem confuso e distraído

Quem é um homem confuso e distraído?

c) Alguém sonhar ter visto uma jovem assim

Quem sonhou ter visto uma jovem assim?

d) Algo se chamar Roberto Del Rio. O que se chama Roberto Del Rio?

Fonte: do autor.

Legenda:

SN: sintagma nominalSV: sintagma verbalEP: estrutura profundaES: estrutura superficial

Então construamos cada um dos exemplos acima. Como nestes casos já definimos sobre qual componente sintático desejamos que in-

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112 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

cida o questionamento, fica fácil. Devemos antepor a esta parte – no momento da distribuição arbórea – a expressão QU- (sinal indicativo de interrogativa naquele componente sintático) ok?

Vamos tentar? Comecemos pelo exemplo “a” (QU-) O sol nascia sobre a Cordilheira.

1. EP. Algo nascer sobre a cordilheira.

2. ES. O que nascia sobre a cordilheira?

Transf. Interrogat

Legenda:

SN: sintagma nominalSV: sintagma verbalSpadv: sintagma adverbialDet: determinantePrep: preposição

Agora façamos o exemplo “c”.

1. EP. Alguém sonhar ter visto uma jovem assim.

2. ES. Quem sonhou ter visto uma jovem assim?

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 113

Transf. Interrogat.

Legenda:

SN: sintagma nominalSV: sintagma verbalN: nomeDet: determinanteSadj: sintagma adjetival

Que tal fazermos exemplo “d”?

1. EP. Algo se chamar Roberto Del Rio.

2. ES. O que se chama Roberto Del Rio?

Transf. Interrogat.

Legenda:

SN: sintagma nominalSV: sintagma verbalV: verboN: nome

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114 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Percebeu como é fácil estruturar as interrogativas? Façamos, a se-guir um exemplo que envolva outras funções sintáticas, além do sujei-to (SN). Não se esqueça: defina a posição, portanto a categorização sintática a partir da qual você deseja que a interrogativa se construa. Como exemplo, posso citar vários. Observe bem as posições a partir das quais posso construir minhas interrogativas.

a) O velho chileno riu muito (QU-) dentro de seu casaco escuro.

DE ONDE? (Spadv)

b) Nenhuma árvore se lança (QU-) com tanta veemência para o alto.

PARA ONDE? (Spadv)

c) (QU-) Essa moça devia ser irmã da árvore.

QUEM?

d) Em muitos caminhos da Europa e do sul do Brasil vi (QU-) essa árvore.

O QUE?

e) Disse ao chofer que morava (QU-) em Roberto Del Mar.

ONDE?

Façamos o exemplo “a” acima: O velho chileno riu muito (QU-) dentro de seu casaco escuro.

1. EP. O velho chileno rir muito de algum lugar.

2. ES. O velho chileno riu muito de onde?

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 115

Transf. Interrogat.

Legenda:

SN: sintagma nominalSV: sintagma verbalN: nomeDet: determinanteSadj: sintagma adjetivalDet: DeterminanteSadj: sintagma adjetivalSadv: sintagma adverbialSpadv: sintagma preposicionado adverbialPrep: preposição

Atenção, querido(a) aluno(a), é livre a opção de colocação da po-sição das estruturas que sofrerão as transformações. Na situação acima o enunciado poderia ser construído perfeitamente assim: De onde o velho chileno riu muito? O único cuidado seu é inverter, na distribuição arbó-rea, a posição do QU-, que passaria para o início do enunciado, ok?

f) Exercitemos, agora, o exemplo “b” acima: Nenhuma árvore se lança com tanta veemência para o alto.

QU-

1. EP. Nenhuma árvore se lançar com tanta veemência para algum lugar.

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116 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

2. ES. Nenhuma árvore se lança com tanta veemência para onde?

Transf. Interrogat.

Legenda:

SN: sintagma nominalSV: sintagma verbalN: nomeDet: DeterminanteSpadv: sintagma preposicionado adverbialPrep: preposiçãoPron: pronome

Passemos aos tipos obrigatórios imperativos

Caro(a) aluno(a), para as transformações da EP para a ES nas sentenças que se enquadram na categorização dos tipos imperativos também não há grandes novidades. Entretanto, lembre-se de que a formação dos tempos imperativos é estranha porque se origina de 02 (dois) tempos distintos: do presente do subjuntivo (as terceiras pessoas e a primeira do plural) e do presente do indicativo (apenas as segundas pessoas).

Ficam, portanto, as seguintes composições do imperativo: a) afirmati-

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 117

vo: extraem-se as segundas pessoas do presente do indicativo e se supri-me o “S”final. O restante das pessoas provêm do presente do subjuntivo; b) negativo: todas as pessoas provêm do presente do subjuntivo.

O quadro abaixo melhor ilustra as explicações acima. Pratiquemos com o verbo AMAR.

Quadro II: representativo da formação de todos os tempos do modo imperativo.

Presente do indicativo

Presente do subjuntivo Imperativo afirmativo Imperativo negativo

Eu amo Que eu ame - -

Tu amas Que tu ames Ama tu Não ames tu

Ele ama Que ele ame Ame você/ele/ela Não ame você/ele/ela

Nós amamos Que nós amemos Amemos Não amemos nós

Vós amais Que vós ameis Amai vós Não ameis vós

Eles amam Que eles amem Amem vocês/eles/elas

Não amem vocês/eles/elas.

Para os exemplos aqui a serem analisados, por questões óbvias não utilizaremos fragmentos do nosso texto inspirador, A Árvore. Trabalhare-mos com textos selecionados de situações do cotidiano.

Comecemos com os seguintes enunciados: a) “Tem pena de’u, sabiá”(Luiz Gonzaga); b) “Faça este exercício, menino!”; c) “Tomai o meu corpo”; d) “Viaja tu, amanhã”.

Comecemos pelo exemplo “a”, Tem pena de’u, sabiá!

1. EP. Tu ter pena de’u, sabiá.

2. ES. Tem pena de’u, sabiá!

Transf. imperativo

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118 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Legenda:

O: oraçãoSN: sintagma nominalSV: sintagma verbalN: nomeV: verboSpc: sintagma preposicionado complementarPrep: preposiçãoPron: pronome

Trabalhemos neste momento o exemplo “b”, Faça este exercício, menino!

1. EP. Você fazer este exercício, menino.

2. ES. Faça este exercício, menino!

Transf. imperativo

Legenda:

O: oraçãoSN: sintagma nominalSV: sintagma verbalN: nomeV: verboDet: determinante

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 119

E por último façamos o exemplo “c”, Tomai o meu corpo.

1. EP. Vós tomar o meu corpo.

2. ES. Tomai o meu corpo.

Transf. imperativo

Legenda:

O: oraçãoSN: sintagma nominalSV: sintagma verbalN: nomeV: verboDet: determinantePós-det: pós-determinante

Percebeu como é fácil? Basta só você mesmo exercitar. Tente! Vou propor as construções, de início, mais acessíveis. Vamos lá?

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120 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Que tal exercitarmos um pouco?

Atividade I

1. Elabore as distribuições arbóreas dos seguintes enunciados abaixo:

a) (QU-) Eu te amo.

Atenção, eu te ajudo na letra “a”, está bem?

1. EP. Alguém te amar.

2. ES. Quem te ama?

(QU-) Eu te amo.

Transf. Interrogat.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 121

Legenda:

O: oraçãoSN: sintagma nominalSV: sintagma verbalN: nomeV: verboPron: pronome

b) Ele chegou (QU-) cedo.

c) Luiz mora (QU-) em Natal.

d) Vai embora daqui, cara!

e) Amai vossos pais, meus irmãos.

f) Saia de sala, menino mal educado!

Resumo

Atenção, caro(a) aluno(a), fixe-se bem nos seguintes pontos:

1. Cada oração, como tradicionalmente conhecemos, é constituí-da de um conjunto de sintagmas combinados nas mais diversas posições: SN (sintagma nominal) + SV (sintagma verbal) (Ex: Luiz(SN) estuda na UAB/UEPB(SV)); SV+SN; (Ex: Amaremos a vida(SV) Luiz e eu(SN)) ou apenas SV (Ex: choveu), lembra das orações tradicionalmente sem sujeito?)

2. O que Chomski se propõe, a partir do modelo de distribuição arbórea, é mostrar que os sintagmas (SN e SV) são os consti-tuintes centrais das orações, a partir dos quais há uma série de outros constituintes (Sadv, sadj, spadv, spadj, spc, det, pron, etc) dependentes, “subordinados” a eles que, na distribuição arbó-rea, ficam em posição inferior.

3. Nesta compreensão os dependentes mais comuns dos SN’s (sintagmas nominais, substantivos) seriam: a) os chamados Det (determinantes): pronomes (pron), artigos e numerais; b) Sintag-mas adjetivais (Sadj): os tradicionalmente conhecidos adjetivos; c) Os sintagmas preposicionais adjetivais (Spadj): as conheci-das locuções adjetivas; d) Os sintagmas preposicionais comple-

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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122 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

mentares (Spc): os velhos amigos complementos nominais, que completam os sentidos dos substantivos abstratos.

4. Já os dependentes mais comuns dos SV’s (sintagmas verbais, verbos) são: a) Sintagmas adverbiais (Sadv): os velhos conhe-cidos advérbios os mais diversos, também modificadores de verbos; b) Os sintagmas preposicionais adverbiais (Spadv): as chamadas locuções adverbiais as mais diversas, também mo-dificadoras de circunstâncias verbais as mais diferentes; c) Os sintagmas preposicionais complementares (Spc): os nossos ve-lhos conhecidos objetivos diretos e indiretos, responsáveis por completar os sentidos de alguns verbos, lembra? Só prá não esquecer, vamos ilustrar com um pequeno exemplo, no qual tentarei mostrar todos os constituintes vistos, ok?

Ex: OS VELHOS AMIGOS DE PEDRO CHEGARAM ONTEM DE NA-TAL PELA MADRUGADA E FIZERAM UMA BELA FESTA.

Oração 1:

SN: OS VELHOS AMIGOS DE PEDRO. (sujeito da oração)

SV: CHEGARAM ONTEM DE NATAL PELA MADRUGADA. (Predica-do verbal).

Termos ligados ao SN:

AMIGOS: Núcleo do sintagma nominal (Nsn) (núcleo do sujeito)

OS: Determinante. (Det) (Artigo)

VELHOS: Sintagma adjetival (Sadj) (adjetivo)

DE PEDRO: Sintagma preposicionado adjetival (Spadj) ( Locução adjetiva)

Termos ligados ao SV:

CHEGARAM: Núcleo do sintagma verbal (Nsv) (núcleo do predicado)

ONTEM: Sintagma adverbial (Sadv) (advérbio)

DE NATAL: Sintagma preposicionado adverbial (Spadv) (Locução adverbial)

PELA MADRUGADA: Sintagma preposicionado adverbial (Spadv) (locução adverbial)

Oração 2:

FIZERAM UMA BELA FESTA.

SN: ELES. (sujeito da oração, implícito e referenciado antes)

SV: FIZERAM UMA BELA FESTA. (Predicado verbal).

Termos ligados ao SN:

ELES: Núcleo do sintagma nominal (Nsn) (núcleo do sujeito), forma-do por um pronome (pron).

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 123

Termos ligados ao SV:

FIZERAM: Núcleo do sintagma verbal (Nsv) (núcleo do predicado)

UMA BELA FESTA: Sintagma preposicionado complementar (Spc) (complemento verbal - Objeto direto - do verbo FIZERAM).

Termos dependentes do sintagma nominal (SN) UMA BELA FESTA:

Núcleo do sintagma nominal (NSN): FESTA.

UMA: Determinante. (Det) (Artigo).

BELA: Sintagma adjetival (Sadj) (adjetivo).

Na verdade a distribuição arbórea surge como um elemento siste-matizador de tal hierarquia.

Autoavaliação

Faça um comentário crítico de, pelo menos, 10 linhas sobre a importância dos estudos sintáticos na sua futura prática profissional de professor de Língua Portuguesa do ensino fundamental II e ensino médio. Aproveite para relembrar, na sua análise, de como eram as suas aulas de Língua Portuguesa e de que forma tal metodologia interferiu nas usas impressões, hoje, sobre a nossa língua.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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124 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Leituras recomendadasSugiro que você leia, nesta aula, 02 (duas) obras. A primeira é

do gramático José Carlos de Azeredo e se intitula Ensino de Portu-guês: fundamentos, percursos e objetos, da Editora Zahar. Faz ótimas abordagens dentro dos estudos gramaticais, em um perspectiva mais discursiva. Ademais, trabalha alguns capítulos ligados à leitura e suas nuances. A segunda obra é interessantíssima e se intitula Aula de Portu-guês: Discurso e Saberes Escolares. Ótima abordagem do prof. Antônio Augusto G. Batista sobre especificamente o ensino de língua materna: o que, como e prá que se ensina. Caso queira adquirir alguma destas, sugiro esta última obra. Boas leituras e nos encontramos na próxima aula.

Referências

AZEREDO. José Carlos de. Ensino de Português. Fundamentos, percursos e objetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

____ Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

____ Língua Portuguesa em Debate. Conhecimento e ensino. 5° ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008.

BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Aula de Português: Discurso e Saberes Escolares. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37º edição revista e ampliada. 15 reimpressão. rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

NIQUE, Christian. Iniciação Metódica à Gramática Gerativa. São Paulo: Cultrix, 1978.

PERINI, Mário A. Gramática Descritiva do Português. 2º ed., São Paulo: Ática, 1996.

SILVA, Maria Cecília P. de Souza e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 125

VIII UNIDADE

Revisando tudo que vimos até agora: dos fundamentos que regem um ensino de língua pensando na língua enquanto fenômeno de interação social, passando pelas bases da sintaxe e culminando com os modelos de estruturação sintagmáticos de Chomsky

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126 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Apresentação

É com grande satisfação que iniciamos a nossa última aula. Esperamos antecipadamente que você possa, de for-ma alegre, descontraída e compromissada ter aprendido os conceitos básicos que norteiam a disciplina Língua Portu-guesa IV em especial todas as questões que estão na base dos estudos da sintaxe. É nossa intenção nesta aula revi-sarmos um pouco de cada conteúdo visto nas aulas ante-riores. Esperamos que você aproveite bem esta aula e que esta disciplina possa ser apenas ponto de partida para novas pesquisas e novos conhecimentos. Sem esta busca constante não acreditamos em educação.

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 127

Objetivos

Ao final desta aula você deverá:

• Revisar todos os conceitos básicos que regem os estudos sintá-ticos.

• Compreender as bases teóricas de uma aula de língua materna embasada em uma concepção de língua enquanto fenômeno de interação verbal.

• Revisar os princípios que regem as distribuições arbóreas dos sintagmas em uma compreensão chomskyana.

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128 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

Como eu não acredito que aprender regras gramaticais – como qualquer aprendizado na vida – sem um objetivo, um foco, tenha qual-quer sentido, faço votos de que os estudos sintáticos tenham sido tão necessários quanto possam servir de base para outros que daí advirão. Por isso, resgato as palavras do mestre Geraldi (1997) quando, instiga-do a responder sobre a necessidade de se ler e escrever sempre, assim se referiu

Ler apenas para aprender a ler e escrever apenas para aprender a escrever, tornam-se tarefas que podem fazer sentido para o adulto que ensina, mas não para a criança que está sendo introduzida no mundo da escrita. Para que não aconteça a falta de integração entre estas atividades, no plano da escrita, é necessário que se trabalhe com a ativi-dade de reflexão e operação sobre a linguagem, realizada durante o processo de escrita de textos e voltada para a compreensão do uso que se faz dos conceitos lingüísticos presentes nas situações de comunicação.

Neste sentido, imaginemos – permitam-me a metáfora - que a sin-taxe seja o tempero necessário ao gosto bom do entendimento do texto, esta unidade plena geradora de sentido. Se as doses do tempero forem mal colocadas, ou se não se temperar o texto, este perde o seu senti-do, tem-se um amontoado de palavras em sequência, sem uma lógica estabelecida. Imaginemos, por exemplo, que eu ouça lá no mercado central de Campina Grande a seguinte sequência entre 02 (dois) fei-rantes: - Ei, cumpade, ocê vai mais eu fazê uns chapeado lá na feira da galinha? – Posso não! vou pegar uma cruviana no Zepa. Carrego dos grande.

Imediatamente, você me perguntaria: há alguma sintaxe a ser con-siderada e respeitada nesta sequência? Que tipo de sintaxe? Há sen-tido no diálogo? Qual? O que há de sintaxe aqui? Certamente, para responder a todos estes questionamentos, não devemos nos esquecer do conceito de sintaxe. E aí eu resgato Perini (1996), quando ratifica que não se pode falar de sintaxe sem se falar de regras, conjunto de regras que regem o funcionamento dos sintagmas. É a sintaxe a parte da gramática que organiza a hierarquia dos enunciados. É a sintaxe, por exemplo, que diz que – no nosso exemplo - não podemos trocar “ocê vai” por “ocê vão” “. A rigidez na disposição dos sintagmas vai “forçar” a terminação do verbo ser “ai” e não “ao” caso eu mantenha o sujeito no singular. O quadro abaixo – se levarmos em conta o nosso exemplo - explica bem as relações associativas (sintagmáticas) e de substituição (paradigmáticas) que são regidas pela sintaxe. Quer ver?

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 129

Quadro 01: Exemplificativo das relações sintagmáticas e paradigmáticas do exemplo dado.

Ei, cumpade ocê vai mais eu fazê uns chapeado na Feira da Galinha

Ei, Zé luzia foi comigo estudar dois livros na rua

Ei, Presidente sua filha irá conosco viajar por alguns dias pela Europa

Sr, Governador O senhor permanecerá com ela

até voltar por três semanas na sua casa

Ei, Zefa voimicê assuntará Com eu inté discubrir uns roubo no meicado

Analisemos, caro(a) aluno(a)! Se levarmos em conta o texto-base, perceberemos que fiz 04 (quatro) substituições, 03 (três) na variante culta e 01 (uma) na variante popular, coloquial. Independentemente das variantes de uso social, a sintaxe vai reger, por exemplo, que todos os possíveis verbos que substituem “vai” na terceira coluna têm que estar no singular (foi, irá, permanecerá, assuntará etc) para concorda-rem com o sujeito no singular da oração que está na segunda coluna (Luzia, sua filha, o senhor, voimicê etc). Viu, caro aluno, quanta rigidez? Qualquer transgressão a esta norma e o enunciado fica sem sentido, agramatical, não é?

Quer ver outro exemplo? Se analisarmos as sexta e sétima colunas, verificaremos que, na constituição do sintagma “uns chapeado”, o fa-lante pode até ter transgredido a norma quando singularizou o NSN ( núcleo do sintagma nominal). A depender da situação de fala isto é permitido. Entretanto, o determinante “uns” permaneceu, por força da sintaxe, no plural. Logo, mesmo em situação de informalidade, a rigi-dez da sintaxe é plena. Por quê? Porque jamais – repito, mesmo infor-malmente – o falante poderia dizer “um chapeados”. Pela força da sin-taxe este enunciado seria agramatical, como afirmei antes. Entendeu?

Da mesma forma, se analisarmos a última coluna, perceberemos que o Spadv. “na Feira da Galinha” vai exigir qualquer substituição paradigmática que obedeça às suas normatizações sintáticas: prep. + det.(sing.) + NSN (sing.) + Spadj. (sing.). independente da variante lin-guística a ser utilizada. Revisou bem como funciona as relações sintag-máticas que regem os enunciados nas sentenças em língua materna?

Antes de seguirmos em frente são os meus votos que você, se for à São Paulo capital, visite este espaço espetacular. Atente à imagem a leia as informações básicas que motivarão a sua viagem.

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130 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

O Museu da Língua Por-tuguesa ou Estação Luz da Nossa Língua é um museu interativo sobre a nossa língua, localizado na cidade de São Paulo, no famoso edifício Esta-ção da Luz, no Bairro da Luz, concebido pela Se-cretaria da Cultura pau-lista em conjunto com a Fundação Roberto Ma-

rinho. Seu maior objetivo é criar um espaço vivo sobre a língua portuguesa, considerada como base da cultura do Brasil, onde seja possível causar surpresa aos visitantes com os aspectos inusitados e, muitas vezes, desconhecidos de sua língua materna.

Disponível em: >http://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_da_Língua_Portuguesa.< Data da consulta: 28/05/2011.

Aulas de Gramática ou de gramática? O que devo, afinal, aprender: a norma pela norma ou a norma para a língua: eis a questão

Este capítulo, caro(a) aluno(a), é especial e inquietante. As razões que vão exigir que você lhe dedique atenção especial eu as enunciarei sob a forma de tópicos, abaixo discriminados. Entendo que dispostas desta forma, melhor você poderá abstrai-las, está bem?

1. Você é um(a) acadêmico(a) de licenciatura em Letras. Logo, por mais que não pretenda, está se formando para lecionar língua materna no EFII e EM. Este fato já é mais do que suficiente para que você passe a refletir seriamente sobre que tipo de aula de Português você pretende ministrar. E aí, que tal reler o título deste capítulo mais uma vez? En-tendeu? Vai partir para as velhas aulas de Gramática pela Gramática, provavelmente do jeito que você foi forçado(a) a aprender, tendo que decorar regras e regras, para sei lá o quê, ou vai partir para pensar uma metodologia que coloque em evidência o estudo da gramática para entender língua, enquanto fenômeno humano, com todas as suas peculiaridades e detalhes que, provavelmente seu aluno não conheça?

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Língua Portuguesa IV I SEAD/UEPB 131

Calma, você ainda talvez não tenha todas estas respostas agora, afinal, é preciso que você tome algumas providências teóricas, a começar pe-las leituras que – a partir de agora – deve fazer, está bem?

2. Uma pergunta que jamais você deve deixar de fazer, primeiro a si, depois a seu aluno: afinal, o que eu devo ensinar a meu aluno, falante de língua materna: o que e sabe já sabe ou o que ele ainda não sabe? O que e como se ensinar português a um falante de por-tuguês? É simples a resposta: devo ensinar, claro, o que ele não sabe. Criar nele o que Travaglia (2003), Batista (1997), Antunes (2007) e Azeredo (2007)1 chamam de competências, tanto do ponto de vista gramatical quanto discursivo-textuais. O aluno deve aprender a utili-zar os conhecimentos gramaticais (normas, regras gramaticais as mais diversas) (competência gramatical) nas situações discursivas as mais diversas (competência textual-discursiva). Desta forma, de nada adian-ta decorar regras se não as utilizarmos nas mais diversas situações do cotidiano, quer seja em situações de informalidade ou em momentos de maior tensão formal. Acredito, caro aluno, que se você perseguir estes objetivos a sua prática de ensino surtirá mais resultados positivos. Nesta compreensão, não dá para deixar de lado as palavras do mestre Azeredo (2007, p. 33), ao ratificar que

aprender uma língua, seja materna ou estrangei-ra, é aprender a relacionar-se com o outro a fim de compartilhar com ele um universo de referên-cias. A atividade intelectual de que depende a in-teração humana por meio da palavra é universal na espécie e obedece a processos independentes desta ou daquela língua. Já as informações que adquirimos as coisas que imaginamos, enfim, tudo o mais que fornece matéria-prima para o conteúdo de nossos discursos caracteriza os seres humanos como membros de grupos, classes, comunidades. É no seio delas, como protagonistas dos eventos de toda a espécie, que, interiorizando o mundo, por meio de suas representações simbólicas, nos torna-mos seres sociais e, de fato, nos humanizamos. O mais versátil repositório dessas representações é a língua que falamos, que é um corpo complexo de formas, regras e estratégias de interação.

3. Mas, afinal, como devo proceder para desenvolver, em sala de aula, esta metodologia que foi proposta no item 02, proporcionadora de um pensar crítico-discursivo da gramática, não a gramática pela gramática, mas esta como instrumento para o desenvolvimento da boa competência textual? Como justifico ao meu aluno a importância de um pensar textual como pinto de partida para entender o mundo? Como propiciar um ensino que leve o aluno a aprender o que ele não sabe, com base nos gêneros os mais diversos? Como propiciar um ensino de língua que pense a língua, não apenas como regras a serem decoradas, mas que priorize uma reflexão da própria língua enquanto fenômeno sócio-histórico e discursivo? Como formar no aluno um pen-

1 Azeredo (2007) Classifica as competên-cias em 05 (cinco) categorias: a) a cogni-tiva: aptidão humana para sistematizar o conhecimento através de símbolos organi-zados (a linguagem); b) histórico-cultural: língua como meio de integração dos seus usuários na comunidade; c) léxico-gramati-cal: domínio das regras gramaticais; d) inte-racional: reconhecimento e habilidades de uso da língua nas mais diferentes situações sociais; e) textual: capacidade de escolher e escrever textos e gêneros os mais diversos nas situações as mais diversas.

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132 SEAD/UEPB I Língua Portuguesa IV

sador da língua? Muitas são as perguntas cujas respostas certamente não se esgotarão nesta aula, caro aluno. Seria pretensão minha dar todas as respostas para perguntas cujas respostas muito dependem de que você também as investigue. Entretanto, se partirmos de situações concretas, quem sabe muitas delas você as descubra, está bem? Se-lecionarei uma charge, um gênero interessante que normalmente tem boa receptividade em sala de aula.

Charges 01 e 02: Disponíveis em: >http://rizomas.net/charges-sobre-educacao.html< Data da consulta: 15/06/2011.

Comece elencando pontos cruciais que certamente suscitarão no aluno o gosto do aluno pela análise e, com efeito, como vimos na primeira aula de nosso curso, pela boa e eficaz interpretação. 1º) Qual a temática que está sendo denunciada? Boa resposta do alu-no: falta de professores em sala de aula. Questões que certamente você teria que elencar aqui para que a “aula esquentasse”: 1.a) afi-nal, é falta de professores em sala de aula ou no mercado? Lembra--se da proposta bakhtiniana de interacionismo verbal? Interaja com seu aluno para que ele adquira competências as mais diversas; 1.b) Por que há falta de professores em sala de aula? É o pouco atrativo salarial? São as condições de trabalho? 1.c) É a insegurança que reside na profissão?; 2º) Que elementos (inter)textuais são respon-sáveis nas charges pela geração de humor? Aqui, estude com os alunos todos os detalhes: o atrativo plano de carreira e as pedrinhas colocadas como trilhas a serem perseguidas pelos professores na charge 01; a roda, ainda na charge 01, da qual os professores, embora corressem, jamais sairiam. Não evoluiriam jamais; o taco usado na charge um, de características medievais; a cenoura como isca; a técnica da chamada dos professores, feita desta vez, pelo aluno. Invertem-se os papeis: agora as salas de aulas estão cheias de alunos, mas não há professores. Hora de discutir com seus alu-nos a questão das políticas de inclusão escolar dos governos afora; aquém interessam se não há condições logístico-pedagógicas e até salariais do professor trabalhar? 3º) Agora, é hora de discutir as questões sintático-gramaticais. Que abordagem de estudo grama-tical você deseja estudar com seus alunos? É sintaxe de quê? Qual

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a relação entre o verbal e o não-verbal? E os sujeitos possíveis das orações presentes? Estas e outras questões, caro aluno, podem ser bons subsídios para se dar uma nova roupagem nos estudos de lín-gua materna em sala de aula. Que tal começar a pensar por aí? O desafio está lançado.

Dentre as muitas gramáticas a gerativo- transformacional, de Chomsky: e daí?

Se entendermos que a nossa língua é uma instituição social e que existe apenas para seus falantes, aí compreenderemos a im-portância de sua gramática. Se através da língua aprendemos, de certa maneira, a compreender o mundo, de entender a realidade no que ela tem de significativo (ou não) para as nossas relações com as pessoas, mais uma vez não dá para deixar de lado o estu-do de sua sintaxe, enquanto conjunto de regras que regem o seu funcionamento. Nesta disciplina, querido aluno, não nos deteremos em investigar as diferentes concepções de gramática que regem o funcionamento de uma língua. Entretanto nos detivemos a partir da aula 04 (quatro) a investigar a gramática gerativo-transformacional de Chomsky, lembra?

Por isso, não se esqueça: para os transformacio-nalistas, a “gramática” é um conjunto restrito de regras (interiorizadas por todo locutor) que, sob a forma explicitada na teoria gramatical, explicam a criação de um conjunto infinito de frases, obtidas por transformação a partir de um conjunto relati-vamente restrito de frases abstratas mais “simples”.

Lembra-se da chamada GU (Gramática Universal2, por nós vista?), aquela com a qual já nascemos e a partir da qual pro-duzimos todos os enunciados da língua? Lembra-se da distinção competência x desempenho, base fundamental da concepção de língua de Chomsky? A primeira tem a ver com os conhecimentos inerentes a cada pessoa. A segunda, com as habilidades de utili-zação de tais competências no dia a dia. Na verdade, são reatu-alizações da célebre dicotomia saussuriana entre langue (língua, código fechado, homogêneo, abstrato social) e parole (fala, in-dividual e marginal).

2 Linguagem inerente aos seres humanos. Todos eles estão preparados para desen-volver essa faculdade, bastando, para isso, estarem expostos à determinada língua. Chomsky (apud BORGES NETO, 2004) pro-põe que as línguas são sistemas biológicos utilizados pelos indivíduos para falar sobre o mundo, ou da representação mental que têm dele.

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Reproduzo aqui um fragmento interessante da aula 04, o qual re-sume de forma magistral os princípios fundantes da sintaxe chomskiana

Toda a teoria chomskyana baseia-se no pressu-posto de que a faculdade lingüística humana par-te de um sistema — a “gramática universal”, que caracteriza seu estado inicial/inato. Nesse sentido, o autor afirma que é possível “encarar a gramáti-ca universal como o próprio programa genético, o esquema que permite a gama de realizações pos-síveis que são as línguas humanas possíveis”, cada qual culminando em um ‘estado estacionário final possível, a gramática de uma língua específica’”

É deste ponto de partida que estudamos toda a sintaxe, lembra-se? Um conjunto finito de palavras que gerava uma infinitude de enuncia-dos. é daí que vão surgir, lá pela aula 05, as noções de ES (Estrutura Superficial) EP (Estrutura Profunda). Para revisarmos estes conceitos, que tal revermos alguns apontamentos da aula 05 (cinco)?

O livro de Chomsky, Aspects of the Theory of Syntax (1965) é uma referência necessária para conhecer o gerativismo. É conhecida também como teoria--padrão. Nela, o modelo frásico tem três compo-nentes: o central (sintático) e dois interpretativos (o semântico e o fonológico). O sintático é formado pela base do enunciado, que gera as estruturas profundas e pelas transformações, que levam às estruturas superficiais. Já os dois componentes in-terpretativos incidem sobre o componente sintático, a saber: o semântico, sobre a EP; o fonológico, sobre a ES. É nesta compreensão que os estudos de Chomsky sobre gramática gerativo-transformacional apre-sentam duas contribuições fundamentais para o ensino de línguas: a primeira é que a gramática transformacional tornou explícita “as capacidades que o estudante de línguas precisa ter para aproxi-mar-se da competência de um falante nativo”, isto é, a capacidade de distinguir sentenças gramati-cais de não-gramaticais, capacidade de produzir e compreender um número infinito de sentenças gramaticais. A segunda é que, mesmo um exame cuidadoso dessas capacidades não forneça neces-sariamente uma resposta de como são adquiridas, é evidente que há certos modos pelos quais é muito improvável que sejam adquiridas.

Reviu bem os 02 (dois) componentes que compõem os modelos frá-sicos para Chomsky? A famosa EP (Estrutura Profunda) se forma a partir do componente sintático como essencial e do semântico como comple-mentar. Este fato é fundamental para se entender toda a geração de enunciados na formação de qualquer língua, segundo Chomsky. Já a

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ES, nascida a partir das transformações por que passam os enunciados até então na EP, necessita do componente fonológico.

Para entendermos na prática este processo, que tal analisarmos as 02 (duas) piadas abaixo?

Piada 01:

Estava o índio numa estrada no meio do nada. De repente, vinha um senhor com seu carrinho viajando... Num certo ponto avistou um ho-mem deitado na pista. Parou o carro e foi lá ver o que era. Chegando lá viu um índio deitado no chão com o ouvido encostado no asfalto. Aí o homem perguntou:

- Ei, seu índio, o que aconteceu?

E o índio responde:

- Mercedes prata, placa CCC 4141, de São Paulo, a mais de 150 km/h!

E o senhor espantado exclama:

- Caramba índio! Você sabe tudo isso só de encostar o ouvido no chão?

E o índio responde:

- Não! Homem branco burro! Mercedes atropelar índio!(Disponível em: >http://piadasengracadas.net/categoria/indio/<. Data da consulta: 19/05/2011.)

Piada 02:

O índio procura o pajé da tribo para reclamar do intestino que não funciona:

- Pajé, índio... cocô... nada!

O feiticeiro prepara um poderoso laxante à base das mais fortes ervas da selva e pede que o índio tome e volte de novo ao nascer do Sol.

Na manhã do dia seguinte, o pajé recebe a visita do índio e pergunta:

- E então, bravo guerreiro? Ainda índio... cocô... nada?

- Não, agora índio... nada... cocô!(Disponível em: >http://www.piadasdodia.com.br/piadasnovas.asp?piada=%EDndio<. Data da consulta: 19/06/2011.)

É fundamental incitarmos nos alunos o gosto pela análise perspicaz e cuidadosa. Por isso, conforme sugeri nas charges acima. É muito importante que os mesmos passos sejam dados para a compreensão dos sentidos e humor das piadas acima. Jamais esqueça de incitar nos alunos, por exemplo: 1.0) Quais são os efeitos de sentido que geram humor em cada uma das piadas acima? Por que é engraçada a piada? 2.0) Em que momento (destacar a frase) de cada piada quebra-se a ex-pectativa, a normalidade e o humor se estabelece? 3.0) Na piada 02,

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por exemplo, qual a diferença sintático-semântico que se opera quando se troca a palavra “nada” nas duas situações e o que ela tem a ver co o humor da piada? 4.0) Ao lermos com cuidado as piadas acima, em especial as partes sublinhadas, verificaremos resquícios de EP nestas partes, cujas sentenças estão marcadas por, ora verbos no infinitivo, ora ausência marcada destes, características marcantes de enunciados. O que tem a ver tais EP’s com a figura histórica do índio? Se imaginarmos a evolução histórica de cada língua, perceberemos que elas se fundam originalmente nos verbos. Tanto é que, em minhas aulas no EFII e EM, costumo brincar com os meus alunos com o seguinte jogo de palavras e sentenças: “assim como não há cristão sem Jesus, que é o verbo da vida, não há vida, portanto, não há oração sem o verbo, sua alma e sua existência”. Fácil, não?

Um bom exercício neste momento é o de selecionar, pelo menos, 03 (três) sentenças das piadas em análise e pedir que os alunos façam o caminho inverso: transformar da ES (como se encontram nos enun-ciados) para a EP (utilização, por exemplo, de verbos no infinitivo.).

Prosseguindo a nossa revisão, passaremos agora às distribuições arbóreas, técnica chomskiana para melhor didatizar a distribuição sin-tática dos componentes de um enunciado. As aulas 06 e 07, acredi-to, foram interessantes para que você pudesse entender tais processos. Partimos dos tipos obrigatórios interrogativos, imperativos e declarati-vos (subtipos afirmativos e negativos).

Para efeitos didáticos e de mera revisão faremos a distribuição ar-bórea de cada uma das situações já estudadas, apenas para que você fixe melhor as nomenclaturas, estruturações e demais técnicas utilizadas até aqui, está bem? Para tal, recorreremos a alguns enunciados presen-tes nas piadas acima analisadas, ok?

De início, selecionaremos os seguintes enunciados; a) Estava o ín-dio numa estrada no meio do nada; b) O feiticeiro prepara (QU-)um poderoso laxante.; c) Sabe tudo isso! (Adaptada para o imperativo); d) O pajé não recebe a visita do índio (Adaptada).

Exemplo “a”: Estava o índio numa estrada no meio do nada. (O índio estava numa estrada no meio do nada).

EP: O índio estar em uma estrada.

ES: O índio estava numa estrada.

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Transf. Afirmativas

Exemplo “b”: O feiticeiro prepara (QU-)um poderoso laxante .

EP: O feiticeiro preparar (QU-)um poderoso laxante .

ES: O feiticeiro prepara (QU-)um poderoso laxante . (O que o feiti-ceiro prepara?)

Transf. interrogativas

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Exemplo “c”: Sabe tudo isso! .

EP: Saber tudo isso.

ES: Sabe tudo isso!

Transf. imperativa

Exemplo “d”: O pajé não recebe a visita do índio.

EP: O pajé não receber a visita do índio.

ES: O pajé não recebe a visita do índio.

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Transf. negativa

Que tal exercitarmos um pouco mais?

Atividade I

a) Espero que você tenha gostado de Língua Portuguesa. Confesso que há momentos em que a disciplina se torna árida e bastante teórica, vez que há uma carga necessária de conteúdos a serem ministrados para que você se fundamente bem nos princípios que regem a sintaxe. Com base em tais princípios teóricos, releia o conteúdo em uma das aulas e estabeleça uma diferença teórica entre o formalismo e o funcionalismo. Na sua análise não se esqueça de correlacionar um deles com a origem dos estudos sintáticos, ok?

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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b) Agora, escreva um pouco, máximo de 05 linhas, acerca de como você viu a disciplina. Leve em conta na sua avaliação aspectos como: metodologia utilizada nas aulas, didática do professor, linguagem utilizada no módulo etc.

c) Localize e transcreva nos seus respectivos lugares os seguintes componentes sintáticos nos texto abaixo:

“Estava o índio numa estrada no meio do nada. De repente, vinha um senhor com seu carrinho viajando... Num certo ponto avistou um homem deitado na pista. Parou o carro e foi lá ver o que era. Chegan-do lá viu um índio deitado no chão com o ouvido encostado no asfalto. Aí o homem perguntou”

c.1. SN_____________________________________________________c.2. Spav____________________________________________________c.3. Sadj.____________________________________________________c.4. Spadj____________________________________________________c.5. Sadv____________________________________________________c.6. Spc_____________________________________________________c.7. SV______________________________________________________c.8. NSN____________________________________________________c.9.NSV_____________________________________________________c.10. Det.___________________________________________________c.11. Prep___________________________________________________

d) Faça a distribuição arbórea dos componentes em cada um dos enunciados.

d.1. Penso sempre em você.

d.2. Luiz viajará (QU-)amanhã?

d.3. Não viaje amanhã, Luiz.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Resumo

Ao fim desta unidade, também ao término da disciplina Língua Por-tuguesa IV, destaco alguns pontos fundamentais ao seu desempenho, não só enquanto acadêmico e analista/intérprete da linguagem, em especial de nossa língua, mas também enquanto usuário e professor de língua materna.

1. Enquanto percebermos a língua enquanto fechada em si mes-mo, codificada, sistêmica e atrelada apenas a normas de fun-cionamento internas e dissociada de sua função social não creio que poderemos ter grandes avanços em sala de aula com nossos alunos nas nossas práticas de ensino de língua materna. Se a língua, no dizer de Bakhtin (2000), é fruto de interação, por isso dialógica, só tendo sentido com e para o outro, então não faz sentido nos “trancafiarmos” em normas e regras sintáti-cas presas a dogmas e histórica e filosoficamente a nós impos-tos como impassíveis de serem sequer questionadas.

2. As contribuições científicas de Chomski na formatação de uma Gramática Gerativo-transformacional, por nós aprofundadas durante toda a disciplina, são importantes porque segundo este teórico os seres humanos possuem regras que lhes permite dis-tinguir as frases gramaticais das frases agramaticais, captando as intenções do falante nativo sobre as relações que existem en-tre as palavras e entre as sentenças. O seu objetivo explícito de estudar a sintaxe e o sucesso no desenvolvimento de métodos dirigidos à realização deste objetivo fizeram com que seu tra-balho se sobressaísse aos de outros estudiosos da língua. Sua convicção mais geral - de que vários domínios da mente (tal como a linguagem) operam em termos de regras ou princípios, que podem ser descobertos e enunciados formalmente - cons-titui seu principal desafio à ciência cognitiva contemporânea.

3. Por isso, não esqueça, caro(a) aluno(a), A gramática transfor-macional proposta por Chomski apresenta 02 (duas) contribui-ções importantes para o ensino de línguas: a primeira é que tornou explícitas “as capacidades que o estudante de línguas precisa ter para aproximar-se da competência de um falante nativo”, isto é, a capacidade de distinguir sentenças gramaticais de não-gramaticais, capacidade de produzir e compreender um número infinito de sentenças gramaticais. A segunda, por sua vez, é que, mesmo um exame cuidadoso dessas capacidades

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não forneça necessariamente uma resposta de como são ad-quiridas, é evidente que há certos modos pelos quais é muito improvável que sejam adquiridas.

4. Mas não esqueça: Contudo, os recortes e exclusões feitos vo-luntariamente por Chomsky e Saussure deixam de lado a situa-ção real de uso (o desempenho, em um; a fala, no outro) para ficar com o que é virtual e abstrato (a competência e a língua), ambos seguindo a tendência formalista.

5. A gramática Gerativo-transformacional de base estrutural tra-balha com um conjunto inicial de cadeias, juntamente com um conjunto finito de estruturas de frases, onde uma frase pode ser reescrita de outra forma admissível, gerando um número infinito de enunciados.

6. Chomsky não foi o primeiro a propor que os seres humanos já teriam uma gramática pré-formada. Outros estudiosos como Lewis Carrol e Edward Sapir já haviam proposto algo parecido, mas ninguém foi tão fundo como Chomsky. Segundo este pen-sador os seres humanos possuem regras que lhes permite distin-guir as frases gramaticais das frases agramaticais, captando as intenções do falante nativo sobre as relações que existem entre as palavras e as sentenças.

7. O modelo frásico, proposto por Chomski, apresenta 03 (três) componentes: o central (sintático) e dois interpretativos (o se-mântico e o fonológico). O primeiro, o sintático, é formado pela base do enunciado, que gera as estruturas profundas (EP’s) da língua e pelas transformações, que levam às estruturas su-perficiais. Já os dois componentes interpretativos incidem sobre o componente sintático, a saber: o semântico, sobre a EP (Estru-tura Profunda); o fonológico, sobre a ES (Estrutura superficial). Na verdade, tais modelos propostos Chomski se propunham a desmontar, ideologicamente, a concepção comportamental da linguagem que sustentava o estruturalismo, comandada na época pelas teorias, sobretudo, de Skinner.

8. A proposta de distribuição arbórea dos enunciados, proposta por Chomski, na verdade se prende a mostrar as inúmeras pos-sibilidades científicas de derivação e hierarquização dos com-ponentes dentro de um mesmo sintagma.

9. Atenção, caro(a) aluno(a), jamais esqueça: os SN (sintagmas nominais) e os SV (sintagmas verbais) são os constituintes fun-damentais de qualqueer enunciado em nossa língua. Deles decorre uma série de constituintes conforme vimos em outras unidades.

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AutoavaliaçãoAgora é sua vez. De forma objetiva e clara faça uma avaliação pessoal das contribuições da Gramática Gerativo-Transformacional de Chomski para o ensino de Língua Portuguesa que temos hoje, sobretudo nas escolas públicas espalhadas pelo Brasil. Trabalhe aspectos positivos e negativos de forma equilibrada. Vá à internet e aprofunde-se, para melhor se embasar, no estruturalismo e suas diversas vertentes, já que O nosso teórico estudado é, por excelência, um estruturalista. Analise de que forma e em que níveis estas correntes interferiram nas práticas de ensino, hoje.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Leituras recomendadasAo fim de nosso curso, gostaria que você não se esquecesse de al-

gumas recomendações importantes acerca do universo de leituras que deve empreender. Em primeiro lugar, ter sempre uma gramática em mãos é fundamental.

Em segundo lugar, a um acadêmico de Letras prescindir de manter sempre o hábito da leitura é erro primário. A começar pela leitura aca-dêmica na sua completude.

Adquirir material de leitura, hoje, já não é tão desafiador quanto antes. Manter um banco de dados no seu computador de pesquisas na internet sobre dissertações e teses acadêmicas relacionadas à sua área de atuação no curso altamente recomendável.

Por último vai, caro(a) aluno(a), uma dica fundamental: não há ne-nhum processo de melhora da sua competência de pesquisador que prescinda de boa base de leitura. Desta forma, leia sempre enquanto viver e de forma intensa. Boa sorte e bons estudos.

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____ Língua Portuguesa em Debate. Conhecimento e ensino. 5° ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008.

BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Aula de Português: Discurso e Saberes Escolares. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997

PERINI, Mário A. Gramática Descritiva do Português. 2º ed., São Paulo: Ática, 1996.

SILVA, Maria Cecília P. de Souza e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2005.