Língua Portuguesa Cespe

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www.cers.com.br LÍNGUA PORTUGUESA PARA CONCURSO PÚBLICO Língua Portuguesa Prova 3 Maria Augusta 1 Mundo animal No morro atrás de onde eu moro vivem alguns urubus. Eles decolam juntos, cerca de dez, e aproveitam as correntes ascendentes para alcançar as nuvens sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas. Depois, planam de volta, dando rasantes na varanda de casa. O grupo dorme na copa das árvores e lembra o dos carcarás do Mogli. Às vezes, eles costumam pegar sol no terraço. Sempre que dou de cara com um, trato-o com respeito. O urubu é um pássaro grande, feio e mal- encarado, mas é da paz. Ele não ataca e só vai embora se alguém o afugenta com gritos. Recentemente, notei que um bem-te-vi aparecia todos os dias de manhã para roubar a palha da palmeira do jardim. De vez em quando, trazia a senhora para ajudar no ninho. Comecei a colocar pão na mesa de fora, e eles se habituaram a tomar o café conosco. Agora, quando não encontram o repasto, cantam, reclamando do atraso. Um outro casal descobriu o banquete, não sei a que gênero esses dois pertencem. A cor é um verde- escuro brilhante, o tamanho é menor do que o do bem-te-vi e o Pavarotti da dupla é o macho. A ideia de prender um passarinho na gaiola, por mais que ele se acostume com o dono, é muito triste. Comprei um periquito, uma vez, criado em cárcere privado, e o soltei na sala. Achei que ele ia gostar de ter espaço. Saí para trabalhar e, quando voltei, o pobre estava morto atrás da poltrona. Ele tentou sair e morreu dando cabeçadas no vidro. Carrego a culpa até hoje. De boas intenções o inferno está cheio. O Rio de Janeiro existe entre lá e cá, entre o asfalto e a mata atlântica, mas a fauna daqui é mais delicada do que a africana e a indiana. Quem tem janela perto do verde conhece bem o que é conviver com os micos. Nos meus tempos de São 31 Conrado, eu costumava acordar com um monte deles esperando a boia. Foi a primeira vez que experimentei cativar espécies não domesticadas. Lanço aqui a campanha: crie vínculos com um curió, uma paca ou um formigueiro que seja. Eles são fiéis e conectam você com a mãe natureza. Experimente, ponha um pãozinho no parapeito e veja se alguém aparece. Com relação às ideias e às suas estruturas linguísticas do texto apresentado, julgue os itens a seguir. 1 No trecho ―De vez em quando, trazia a senhora para ajudar no ninho‖ (R.13), o substantivo ―senhora‖ pode ser substituído, sem prejuízo para as informações veiculadas no texto, pelo termo fêmea. 2 Sem prejuízo da correção gramatical do texto, a vírgula em ―Experimente, ponha um pãozinho no parapeito e veja se alguém aparece‖ (R.36-37) poderia ser substituída pelo sinal de dois-pontos. 3 A correção gramatical do texto seria preservada caso o trecho ―conectam você com a mãe natureza‖ (R.36) fosse reescrito da seguinte maneira: conectam você para com a mãe natureza. 4 A ideia central do texto consiste na necessidade de criação de mecanismos para a separação entre espaço urbano e natureza, a fim de se preservar a vida de espécies animais. 5 Segundo o texto, a relação cotidiana com espécies de animais é um importante recurso de combate à depressão dos habitantes das zonas urbanas. 6 O texto tem como objetivo central lançar a campanha de substituição dos animais domésticos criados em cativeiro por espécies selvagens.

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    LNGUA PORTUGUESA PARA CONCURSO PBLICO Lngua Portuguesa Prova 3

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    Mundo animal No morro atrs de onde eu moro vivem alguns urubus. Eles decolam juntos, cerca de dez, e aproveitam as correntes ascendentes para alcanar as nuvens sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas. Depois, planam de volta, dando rasantes na varanda de casa. O grupo dorme na copa das rvores e lembra o dos carcars do Mogli. s vezes, eles costumam pegar sol no terrao. Sempre que dou de cara com um, trato-o com respeito. O urubu um pssaro grande, feio e mal-encarado, mas da paz. Ele no ataca e s vai embora se algum o afugenta com gritos. Recentemente, notei que um bem-te-vi aparecia todos os dias de manh para roubar a palha da palmeira do jardim. De vez em quando, trazia a senhora para ajudar no ninho. Comecei a colocar po na mesa de fora, e eles se habituaram a tomar o caf conosco. Agora, quando no encontram o repasto, cantam, reclamando do atraso. Um outro casal descobriu o banquete, no sei a que gnero esses dois pertencem. A cor um verde-escuro brilhante, o tamanho menor do que o do bem-te-vi e o Pavarotti da dupla o macho. A ideia de prender um passarinho na gaiola, por mais que ele se acostume com o dono, muito triste. Comprei um periquito, uma vez, criado em crcere privado, e o soltei na sala. Achei que ele ia gostar de ter espao. Sa para trabalhar e, quando voltei, o pobre estava morto atrs da poltrona. Ele tentou sair e morreu dando cabeadas no vidro. Carrego a culpa at hoje. De boas intenes o inferno est cheio. O Rio de Janeiro existe entre l e c, entre o asfalto e a mata atlntica, mas a fauna daqui mais delicada do que a africana e a indiana. Quem tem janela perto do verde conhece bem o que conviver com os micos. Nos meus tempos de So 31 Conrado, eu costumava acordar com um monte deles esperando a boia. Foi a primeira vez que experimentei cativar espcies no domesticadas. Lano aqui a campanha: crie vnculos com um curi, uma paca ou um formigueiro que seja.

    Eles so fiis e conectam voc com a me natureza. Experimente, ponha um pozinho no parapeito e veja se algum aparece. Com relao s ideias e s suas estruturas lingusticas do texto apresentado, julgue os itens a seguir. 1 No trecho De vez em quando, trazia a senhora para ajudar no ninho (R.13), o substantivo senhora pode ser substitudo, sem prejuzo para as informaes veiculadas no texto, pelo termo fmea. 2 Sem prejuzo da correo gramatical do texto, a vrgula em Experimente, ponha um pozinho no parapeito e veja se algum aparece (R.36-37) poderia ser substituda pelo sinal de dois-pontos. 3 A correo gramatical do texto seria preservada caso o trecho conectam voc com a me natureza (R.36) fosse reescrito da seguinte maneira: conectam voc para com a me natureza. 4 A ideia central do texto consiste na necessidade de criao de mecanismos para a separao entre espao urbano e natureza, a fim de se preservar a vida de espcies animais. 5 Segundo o texto, a relao cotidiana com espcies de animais um importante recurso de combate depresso dos habitantes das zonas urbanas. 6 O texto tem como objetivo central lanar a campanha de substituio dos animais domsticos criados em cativeiro por espcies selvagens.

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    7 Os dois primeiros pargrafos do texto so predominantemente narrativos. 8 O emprego do acento grfico na palavra atrs justifica-se com base na mesma regra que justifica o emprego do acento grfico em fiis. 9 O emprego da primeira pessoa do singular confere ao texto um carter testemunhal que possibilita a criao de empatia entre o leitor e as experincias da autora. Entenda para que serve mandar um jipe-rob para Marte Quem diria? A velha e dilapidada NASA, que nem possui mais meios prprios de mandar pessoas para o espao, acaba de mostrar que ainda tem esprito pico. A prova o pouso perfeito do jipe-rob Curiosity em uma cratera de Marte recentemente. A saga de verdade comea agora, contudo. O Curiosity , disparado, o artefato mais complexo que terrqueos j conseguiram botar no cho de outro planeta. Com dezessete cmeras, a primeira sonda interplanetria capaz de fazer imagens em alta definio. Pode 10 percorrer at dois quilmetros por dia. Trata-se de um laboratrio sobre rodas, equipado,entre outras coisas, com canho laser para pulverizar pedaos 13 de rocha e sistemas que medem parmetros do clima marciano, como velocidade do vento, temperatura e umidade... A lista grande. Tudo para tentar determinar se, afinal de contas, Marte 16 j foi hospitaleiro para formas de vida ou quem sabe at ainda o seja. Hoje se sabe que o subsolo marciano, em especial nas 19 calotas polares, abriga enorme quantidade de gua congelada. E h pistas de que gua salgada pode escorrer pela superfcie do planeta durante o vero marciano, quando, em certos 22 lugares, a temperatura fica entre 25 oC e 25 oC. Mesmo na melhor das hipteses, so condies no muito amigveis para a vida

    como a conhecemos. Mas os 25 cientistas tm dois motivos para no serem to pessimistas, ambos baseados no que se conhece a respeito dos seres vivos na prpria Terra. O primeiro que a vida parece ser um fenmeno to teimoso, ao menos na sua forma microscpica, que agenta todo tipo de ambiente inspito, das presses esmagadoras do 31 leito marinho ao calor e s substncias txicas dos giseres. Alm disso, se o nosso planeta for um exemplo representativo da evoluo da vida Cosmos afora, isso significa 34 que a vida aparece relativamente rpido quando um planeta se forma no caso da Terra, mais ou menos meio bilho de anos depois que ela surgiu (hoje o planeta tem 4,5 bilhes de anos). Ou seja, teria havido tempo, na fase molhada do passado de Marte, para que ao menos alguns micrbios aparecessem antes de serem destrudos pela deteriorao do 40 ambiente marciano. Ser que algum deles no deu um jeito de se esconder no subsolo e ainda est l, segurando as pontas? Julgue os itens a seguir, considerando a estrutura e os aspectos gramaticais do texto apresentado, bem como as ideias nele veiculadas. 10 No trecho ou quem sabe at ainda o seja (R.16-17) o termo o classifica-se como pronome e refere-se ao adjetivo hospitaleiro (R.16). 11 A expresso esprito pico (R.3) pode ser substituda, sem prejuzo para o sentido do texto, pela expresso esprito prtico. 12 De acordo com o texto, a principal utilidade do envio do jipe-rob a Marte relaciona-se ao projeto de recolhimento de informaes que comprovem ou no a presena de vida naquele planeta.

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    13 A expresso Ou seja (R.37), que garante coeso textual e possui valor semntico de oposio, poderia ser corretamente substituda pela conjuno Contudo. 14 Conforme o texto, os pesquisadores consideram remota a chance de haver ou ter havido alguma forma de vida no planeta Marte, embora essa hiptese no possa ser totalmente descartada. 15 Nos trechos Alm disso, se o nosso planeta for um exemplo representativo da evoluo da vida Cosmos afora, isso significa que (...) (R.32-34) e teria havido tempo, na fase molhada do passado de Marte, para que ao menos alguns micrbios aparecessem (R.37-39), as vrgulas so empregadas pelo mesmo motivo: isolar termos com a mesma funo gramatical. 16 A expresso coloquial que encerra o perodo segurando as pontas pode ser substituda, sem prejuzo para o sentido do texto, pela palavra subsistindo. 17 A correo gramatical e o sentido original do texto seriam mantidos se, no trecho a vida aparece relativamente rpido (R.34), a palavra rpido fosse substituda por rpida.

    Ele no descobriu a Amrica

    Oficialmente, o ttulo de descobridor da Amrica pertence ao navegante genovs Cristvo Colombo, mas ele no foi o primeiro estrangeiro a chegar ao chamado Novo Mundo. Alm disso, o prprio Colombo nunca se deu conta de que a terra que encontrou era um continente at ento desconhecido.

    A arqueologia j revelou vestgios da passagem dos vikings pelo continente por volta do ano 1000. Leif Ericson, explorador que viveu na regio da Islndia, chegou s margens do atual estado de Maine, no norte dos Estados Unidos da Amrica (EUA), no ano 1003. Em 1010, foi a vez de outro aventureiro nrdico, Bjarn Karlsefni, aportar nos arredores de 13 Long Island, na regio de Nova York. Alm disso, alguns pesquisadores defendem que um almirante chins chamado Zeng He teria cruzado o Pacfico e desembarcado, em 1421, no 16 que hoje a costa oeste dos EUA. Polmicas parte, Cristvo Colombo jamais se deu conta de que havia descoberto um novo continente. A leitura de 19 suas anotaes de bordo ou de suas cartas deixa claro que ele acreditou at a morte que tinha chegado China ou ao Japo, ou seja, s ndias. o que o navegador escreveu, por 22 exemplo, em uma carta de maro de 1493. Mesmo nos momentos em que se apresenta como um descobridor, Colombo se refere aos arredores de um 25 continente que o clebre Marco Polo do qual foi leitor assduo j havia descrito. Em outubro de 1492, depois de seu primeiro encontro com nativos americanos, o explorador fez a seguinte anotao em seu dirio de bordo: Resolvi descer terra firme e ir cidade de Guisay entregar as cartas de Vossas Altezas ao Grande Khan. Guisay uma cidade real chinesa que Marco Polo visitara. Nesse mesmo documento, Colombo escreveu que, segundo o que os ndios haviam informado, ele estava a caminho do Japo. Os nativos tinham apontado, na verdade, para Cuba. Suas certezas foram parcialmente abaladas nas viagens seguintes, mas o navegador nunca chegou a pensar que aportara em um novo continente. Sua quarta viagem o teria levado, segundo escreveu, provncia de Mago, fronteiria de Catayo, ambas na China. Somente nos ltimos anos de sua vida o genovs considerou a possibilidade de ter descoberto terras realmente virgens. Mas foi necessrio certo tempo para que a existncia 43 de um novo continente comeasse a ser aceita pelos europeus. Amrico Vespcio foi um dos primeiros a apresentar um mapa com quatro continentes.

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    Mais tarde, em 1507, a nova terra seria 46 batizada em homenagem ao explorador italiano. Um ano depois da morte de Colombo, que passou a vida sem entender bem o que havia encontrado. Julgue os itens que se seguem, considerando as ideias veiculadas no texto acima, a sua estrutura e seus aspectos gramaticais. 18 No perodo Nesse mesmo documento, Colombo escreveu que, segundo o que os ndios haviam informado, ele estava a caminho do Japo (R.31-33), a primeira vrgula foi empregada para isolar termo com valor adverbial e as demais, para isolar uma orao de valor temporal intercalada. 19 No trecho Mas foi necessrio certo tempo para que a existncia de um novo continente comeasse a ser aceita pelos europeus (R.42-43), a conjuno Mas tem valor conclusivo, razo por que poderia ser substituda por Portanto sem prejuzo para o sentido e para a correo gramatical do texto. 20 O sentido original do texto seria preservado caso a palavra terra, no trecho o prprio Colombo nunca se deu conta de que a terra que encontrou era um continente at ento desconhecido (R.4-6), fosse grafada com a letra inicial maiscula: Terra. 21 A fim de comprovar a tese de que Colombo no teve conscincia de que havia descoberto um continente, o autor utiliza, como estratgia argumentativa, a citao de trechos de textos que o prprio navegador escreveu.

    22 A opinio defendida pelo autor do texto a de que Colombo foi um grande injustiado pela histria, tendo em vista o fato de que seus feitos no foram reconhecidos pelos seus contemporneos. 23 De acordo com o texto, no h provas de que outros navegadores tenham aportado na Amrica antes de Colombo, embora haja indcios muito fortes de que isso tenha acontecido algumas vezes. 24 No perodo Um ano depois da morte de Colombo, que passou a vida sem entender bem o que havia encontrado (R.46-48), a vrgula, empregada para separar o sujeito do predicado, torna mais claras as informaes para o leitor. 25 No segmento fronteiria de Catayo (R.38-39), o empregodo sinal indicativo de crase seria obrigatrio ainda que se eliminasse a preposio de.