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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB AUTORIZAÇÃO: DECRETO Nº92937/86, DOU 18.07.86 – RECONHECIMENTO: PORTARIA Nº909/95, DOU 01.08.95 DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS CAMPUS UNIVERSITÁRIO Dr. SALVADOR DA MATTA IPIAÚ - BAHIA NELMACI DOS SANTOS SOUZA LÍNGUA PORTUGUESA: ALÉM DAS FRONTEIRAS DAS SALAS DE AULA IPIAÚ-BA 2012

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB AUTORIZAÇÃO: DECRETO Nº92937/86, DOU 18.07.86 – RECONHECIMENTO: PORTARIA Nº909/95, DOU 01.08.95

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS CAMPUS UNIVERSITÁRIO Dr. SALVADOR DA MATTA

IPIAÚ - BAHIA

NELMACI DOS SANTOS SOUZA

LÍNGUA PORTUGUESA: ALÉM DAS FRONTEIRAS DAS

SALAS DE AULA

IPIAÚ-BA 2012

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NELMACI DOS SANTOS SOUZA

LÍNGUA PORTUGUESA: ALÉM DAS FRONTEIRAS DAS

SALAS DE AULA

Monografia apresentada como pré-requisito

para obtenção do título de Licenciada em

Letras da Universidade do Estado da Bahia -

UNEB Campus XXI, sob a orientação da

Professora Mestra Tereza Cristina Damásio

Cerqueira.

IPIAÚ-BA 2012

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Aos meus pais Joelice dos Santos e Nestor Santana Souza e aos meus avós Maria da Purificação e Martinho Teodoro (em memória) por todo carinho, apoio e incentivo em todos os momentos da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus pela vida e por ter me concedido a sabedoria e inteligência necessária para completar mais essa etapa da minha vida. Aos meus familiares e amigos que contribuíram direta ou indiretamente, estando ao meu lado quando precisei, apoiando e me incentivando a seguir em frente sempre. Aos colegas de curso e aos professores que ao longo dessa jornada nos tornamos amigos e parceiros, e em especial a minha orientadora, Profª Ms. Tereza Cristina Damásio Cerqueira pelo incentivo durante todo processo de elaboração deste trabalho.

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho é fazer uma investigação, à luz dos pressupostos

teóricos da Análise do Discurso, a respeito da construção discursiva sobre a importância da

Língua Portuguesa, em sua variante culta, para a formação profissional do sujeito. Tomando

como corpora reportagens da revista Língua Portuguesa, buscaremos analisar, de que forma

são utilizados os elementos da linguagem verbal e não-verbal na construção do discurso

veiculado nas reportagens da revista supracitada. Partindo dos pressupostos teóricos de

autores como Antônio Marcuschi, Mikhail Bakthin, Angélica Soares, Aguiar e Silva,

trataremos da noção de gêneros textuais. Michel Pêcheux, Eni Orlandi e Fernanda Mussalim

nos trazem a orientação para as discussões no campo da Análise do Discurso, propriamente

dita. No percurso, faremos alusão a outros autores que também nos apontam caminhos para a

compreensão deste campo de análise linguística sob o viés dos estudos mais contemporâneos

da produção discursiva. Com os resultados da análise, pretendemos evidenciar que

determinadas escolhas linguísticas, sintáticas, léxicas ou escolhas de imagens, são utilizadas

intencionalmente para convencer o leitor a respeito do que está sendo apresentado. E também

para reforçar a formação ideológica de determinado grupo social, marcar o posicionamento

dos sujeitos no discurso.

Palavras-chave: Língua Portuguesa, Análise de Discurso, Competência Comunicativa,

Gênero textual.

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ABSTRACT

This study is to research, in light of the theoretical presupposition of Discourse

Analysis, about the discursive construction of the importance of the Portuguese Language in it

cultured variant for vocational training of the subject. Taking as corpus articles of magazine

Língua Portuguesa, we will analyze, how are they used the elements of verbal and nonverbal

in the building of discourse conveyed in reports of such magazine. From the theoretical

assumptions of authors such as Antônio Marcuschi, Mikhail Bakhtin, Angélica Soares, Aguiar

e Silva, we will deal with the notion of textual genres. Michel Pêcheux, Eni Orlandi and

Fernanda Mussalim, brings us the guide to discussions in the field of analysis of discourse

itself. During the work, we will allude others authors that indicate us to ways to the

comprehension of this field of linguistic analysis under the bias of more comtemporary

studies of discursive production. We intend with the results of this analysis, to evidence that

certain linguistic choices, syntactic, lexical or image choices are used intentionally to

convince the reader about what is being presented. Also strengthen the training ideology of a

particular social group, besides marking the positioning of subjects in dircourse.

Keywords: Portuguese Language, discourse of analysis, Communicative Competence,

Gender Textual.

.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Diagrama Processo Discursivo ............................................................................... 26

Figura 2 – Reportagem Prepare Seu Português/Edição Nº 51 - 1 ............................................ 44

Figura 3 – Reportagem Prepare Seu Português/ Edição Nº 51 - 2 ........................................... 46

Figura 4 – Reportagem Prepare Seu Português/Edição Nº 51- 3 ............................................. 48

Figura 5 – Reportagem Prepare Seu Português/Edição Nº 51 - 4 ............................................ 50

Figura 6 – Reportagem Prepare Seu Português/Edição nº 51 - 5 ............................................. 51

Figura 7 – Reportagem Pecados Corporativos/Edição Nº 52 - 1.............................................. 53

Figura 8 – Reportagem Pecados Corporativos/Edição nº 52 - 2 .............................................. 55

Figura 9 – Reportagem Pecados Corporativos/Edição nº 52 - 3 .............................................. 56

Figura 10 – Reportagem A Carreira nas Alturas/Edição Nº 63 - 1 .......................................... 59

Figura 11 – Reportagem A Carreira nas Alturas/Edição Nº 63 - 2 .......................................... 60

Figura 12 – Reportagem A Carreira nas Alturas/Edição Nº 63 - 3 .......................................... 61

Figura 13 – Reportagem A Carreira nas Alturas/Edição Nº 63 - 4 .......................................... 62

Figura 14 – Reportagem No Canteiro de Obras/Edição Nº 72 - 1 ........................................... 63

Figura 15 – Reportagem No Canteiro de Obras/Edição Nº 72 - 2 ........................................... 65

Figura 16 – Reportagem No Canteiro de Obras/Edição Nº 72 - 3 ........................................... 67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tipos Textuais e Gêneros Textuais......................................................................... 19

Tabela 2 – Desvios Frequentes na Sintaxe ............................................................................... 46

Tabela 3– Desvios Frequentes na Sintaxe ................................................................................ 57

Tabela 4 – Desvios Frequentes Uso Verbo “Fazer” ................................................................. 57

Tabela 5 – Desvios Frequentes Uso da Crase .......................................................................... 58

Tabela 6 – Desvios Frequentes Concordância Verbal .............................................................. 58

Tabela 7 – Desvios Frequentes com Uso da Pontuação ........................................................... 58

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

2 GÊNEROS TEXTUAIS ASPECTOS HISTÓRICOS ........................................... 12

2.1 A noção de gêneros textuais no contexto literário .......................................................... 12

2.2 Gêneros textuais na contemporaneidade ......................................................................... 17

3 CONSTRUÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO SUJEITO NO DISCURSO DA REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA..................................................................... 22

3.1 Gênero reportagem .......................................................................................................... 22

3.2 Perfil Profissional X Língua Portuguesa ........................................................................ 27

4 PERFIL PROFISSIONAL NAS REPORTAGENS DA REVISTA LÍNGUA

PORTUGUESA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA ........................................................ 36

4.1 Prepare seu português ..................................................................................................... 41

4.2 Pecados corporativos ....................................................................................................... 53

4.3 A carreira nas alturas ....................................................................................................... 59

4.4 No canteiro de obras........................................................................................................ 63

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 69

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 72

ANEXOS ....................................................................................................................... 77

ANEXO A - Propaganda Curso Português Empresarial - 1 .................................................. 77

ANEXO B - Propaganda Curso Português Empresarial - 2 ................................................... 78

ANEXO C - Propaganda Curso Português Empresarial - 3 ................................................... 79

ANEXO D - Capa Revista Língua portuguesa, Edição Nº 51 ............................................... 80

ANEXO E - Capa Revista Língua portuguesa, Edição Nº 52 ............................................... 81

ANEXO F - Capa Revista Língua portuguesa, Edição Nº 63 ............................................... 82

ANEXO G - Capa Revista Língua portuguesa, Edição Nº 72 ............................................... 83

ANEXO H - Autoria Artigo ................................................................................................... 84

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1 INTRODUÇÃO

Os estudos em torno da linguagem têm passado por intensas mudanças, principalmente

a partir do início do século XX, quando o campo de investigação da Linguística se firmou

como ciência autônoma, por meio dos ensinamentos do suíço Ferdinand Saussure.

Percebemos essas mudanças, principalmente, quando encontramos termos antes não utilizados

como: discurso, enunciação, enunciado. Esses termos anunciam um novo posicionamento

diante dos estudos em torno da linguagem. Várias vertentes de estudos investigativos

surgiram em decorrência desses novos posicionamentos, dentre eles, Análise do Discurso,

campo dos estudos linguísticos do qual faremos uso para o desenvolvimento deste trabalho.

Atualmente, sabe-se que para o estudo da linguagem, é necessário compreender a

língua como um produto que emerge da interação social, que se realiza sempre num dado

contexto, levando em consideração suas condições de produção. Se a língua é um produto

social, naturalmente, as transformações sociais, econômicas e culturais ocorridas estarão nela

refletidas.

Partindo destas observações e fundamentando-se na perspectiva discursiva do texto

jornalístico, foram utilizados os pressupostos teóricos de Mikhail Bakhtin, mas a ênfase se

deu com os estudos de Antonio Marcuschi. O primeiro trata sob uma perspectiva de gênero

discursivo, de forma muito ampla e, para o interesse deste trabalho, não dá conta, nas suas

definições, do gênero reportagem. O segundo discute os gêneros como fenômeno/práticas

sócio-históricas, ações criativas, que contribuem para ordenar as atividades comunicativas.

Conforme Mikhail Bakhtin (1999), a comunicação verbal só é possível através de

algum gênero textual/discursivo. Nos constructos teóricos de A. Marcuschi, sem refutar a

posição bakhtiniana, os gêneros são evidentemente consolidados em tipos textuais, e pode

ocorrer que o mesmo gênero contemple dois ou mais tipos textuais, o que o torna

heterogêneo.

Além dos estudos teóricos dos autores supracitados, também foram utilizados para a

elaboração deste trabalho as pesquisas de outros teóricos, a saber: AGUIAR E SILVA (1979),

BONINI e FURLANETTO (2000), BOULOS JÚNIOR (1997), BOWRA, C.M (1969),

DONDIS (2003), MAINGUENEAU (1997), MATOS (2001), MUSSALIM (2006),

ORLANDI (1999, 2007), PÊCHEUX (1997), REBOUL (2004), SOARES. A. (2005),

SOARES. M. (2006), SOUZA (2008), TORGA (2001), VESTERGAARD (2004).

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O objetivo deste estudo é fazer uma investigação, à luz dos pressupostos teóricos da

Análise do Discurso a respeito da construção discursiva sobre a importância da Língua

Portuguesa em sua variante culta para a formação profissional do sujeito, tomando como

referência a revista Língua Portuguesa, cujos recortes são as reportagens: Prepare Seu

Português, Pecados Corporativos, A Carreira nas Alturas e No Canteiro de Obras,

edições de Nº 51, 52, 63 e 72, respectivamente.

Para tanto, partimos da seguinte problemática: de que formas são utilizados os

elementos verbais e não-verbais no discurso sobre a importância do domínio da variante culta

da Língua Portuguesa na revista Língua Portuguesa, e como este domínio contribui para a

construção do perfil profissional, bem como para a imagem da empresa?

A revista Língua Portuguesa tem construído um discurso voltado para a informação

aos leitores de, quais são as exigências do mercado de trabalho atual quanto à escolaridade. O

discurso veiculado nesta mídia aponta para a necessidade de se ter a formação básica, além de

habilidades comunicativas. Para construir um imaginário de perfil ideal, apresenta pontos,

dicas e cuidados necessários para que o profissional consiga alcançar a tão sonhada vaga num

mercado de trabalho competitivo, ou a manutenção deste espaço para quem já possui um

emprego.

Apesar de não termos incluído em nosso trabalho monográfico a análise do conteúdo das

capas da revista Língua Portuguesa, nas edições supracitas, foi exatamente a partir das

chamadas das reportagens, abaixo relacionadas, que aguçou ainda mais o nosso interesse pelo

material aqui analisado.

1- Prepare seu português: 10 dicas para você aumentar o domínio do idioma e melhorar

sua comunicação desde já.

2- 7 Pecados no trabalho: Erros de redação nas empresas que podem atrapalhar sua

carreira e seu desempenho profissional.

3- Para reescrever sua carreira: As 15 maiores dificuldades com o idioma que

incomodam os profissionais do mercado que lotam cursos de reciclagem.

4- O valor do idioma: Responsável por 17% do PIB, quinta língua mais falada do

planeta ganha vigor com projeção internacional do Brasil.

Para melhor organizar e desenvolver proposta deste trabalho, optamos por dividi-lo da

seguinte forma: uma introdução breve para situar o leitor quanto à natureza do trabalho a ser

desenvolvida, três capítulos e uma seção em que são feitas as considerações finais.

O segundo capítulo, tendo como título: GÊNEROS TEXTUAIS: ASPECTOS

HISTÓRICOS , que apresentaremos o caminho percorrido por Platão, Aristóteles, Mikhail

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Bakthin, Antônio Marcuschi, para construir a ideia de gênero. O percurso é feito buscando a

construção deste conceito desde a Antiguidade até a contemporaneidade.

No terceiro capítulo, intitulado CONSTRUÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL

DO SUJEITO NO DISCURSO DA REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA, discutiremos a

caracterização do discurso no espaço empresarial a respeito da competência comunicativa do

profissional. A partir de uma análise de reportagens contidas em diferentes edições da revista

Língua Portuguesa, faremos um levantamento da formação discursiva, que veicula neste tipo

de mídia, sobre o perfil de profissionais em diferentes áreas de atuação.

E no quarto capítulo, PERFIL PROFISSIONAL NAS REPORTAGENS DA

REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA buscaremos

investigar a construção discursiva nas reportagens, sempre voltadas para o contexto

empresarial, que utilizaram as modalidades da linguagem verbal e visual. Observaremos os

modos como tal produção associa a imagem da variante padrão ao perfil profissional exigido

pelas empresas.

Para finalizar, fazemos as últimas considerações, nas quais apresentamos o resultado

do que foi proposto como problemática do nosso trabalho. Entendemos que os resultados

desta pesquisa apontam para leituras que sinalizam comportamentos ideológicos veiculados

em tais matérias, nas quais a imagem do profissional de uma dada empresa metominiza a

imagem da própria instituição. Encontramos informações, nos textos estudados, que estão

organizadas sob algumas formações discursivas que traduzem ora a supremacia de uma

variante linguística, ora a falta de domínio linguístico por parte de alguns leitores ou

profissionais.

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2 GÊNEROS TEXTUAIS ASPECTOS HISTÓRICOS

2.1 A noção de gêneros textuais no contexto literário

Conforme definição do dicionário Aurélio (1999, p. 980), a palavra gênero é

originária do latim genus ou generum que indica qualquer agrupamento de indivíduos,

objetos, fatos ou ideias que tenham caracteres comuns. Massaud Moisés no Dicionário de

termos literários (2004, p. 196), apresenta uma definição semelhante a do dicionário Aurélio:

“Lat. ٭generum, por genere, de genus, eris, linhagem, espécie, família, raça”. Diante das

definições acima, é possível observar que de maneira geral, a raiz da palavra é a mesma.

Entretanto, encontrando diferenciações quanto às definições que a palavra recebeu ao longo

do tempo.

Encontramos ainda no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de Antônio

Houaiss (2004, p. 1441) a seguinte definição para gênero literário:

LIT em teoria literária, cada uma das divisões que englobam obras de características similares [Inicialmente tripartite e já objeto de estudos de Platão e Aristóteles, é com o Romantismo que os estudos sobre os gêneros alcançam maior divulgação, sendo tb. Divididos em três: lírico, épico e dramático; no entanto, o problema da classificação dos gêneros permanecem com o aparecimento, p. ex., da narrativa, atualmente considerada como um gênero proveniente, segundo alguns, do desenvolvimento do gênero.].

Pretendemos, neste capítulo, percorrer o caminho trilhado pela noção de gênero, desde

a Antiguidade Clássica, que tem como principais representantes os filósofos gregos Platão e

Aristóteles, até a contemporaneidade. Para tanto, são utilizadas informações da história da

Retórica e da Teoria Literária, que apresentaram os primeiros rudimentos a respeito dos

gêneros que hoje conhecemos. Dos estudos contemporâneos, buscamos as contribuições dos

teóricos Bakhtin e Marcuschi e de outros teóricos que, como este último, buscaram

fundamentos na teoria bakhtiniana dos gêneros.

Sob a perspectiva dos estudos dos gêneros textuais na Antiguidade Clássica, é salutar

dizer que na Grécia Antiga, no período compreendido nos séculos VI ao IV a.C. em que o

mundo grego atingiu seu apogeu político, social, artístico e intelectual, a palavra gênero

passou por diferentes acepções, que se pode notar em diferentes registros históricos.

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O século V a.C. foi o período de grandes mudanças e desenvolvimento para a Grécia.

Neste período Péricles (soldado, orador e estadista), subiu ao poder, dando ao governo

ateniense um caráter democrático. Segundo C. M. Bowra (1969, p. 116), Atenas “era

governada pelos seus oradores. Péricles se tornou seu chefe porque era o melhor orador”.

Dentre outras providências, Péricles criou tribunais populares, em que decisões importantes

eram tomadas em Assembleia aberta a todos os cidadãos atenienses, sem distinção de classes,

desde que estes fossem do sexo masculino.

Conforme C. M. Bowra (1969, p. 101-102), o sistema de governo adotado pela Grécia

era democrático e, portanto, qualquer cidadão era igual em direito. A democracia que reinava

em Atenas demonstrava que cada indivíduo falava por si, contrariando as democracias

representativas em que um fala em nome de muitos.

A Assembléia de Atenas era aberta a todos os cidadãos do sexo masculino, independentemente de renda ou de classe. [...].Reunia-se quarenta vêzes por ano [...]. Em teoria, qualquer participante da Assembléia podia falar sobre o que quisesse, contanto que despertasse interêsse. (Idem, p. 101). Atenas era uma democracia verdadeira, pois ali cada homem falava por si mesmo. [...]. Todo cidadão ateniense tinha o direito de participar da vida pública da sua cidade, e a consequência lógica era que todos deviam ter voz ativa no governo. (Idem, p. 102).

Em meio a essas mudanças no campo político-social, as letras e as artes ganham maior

importância. Ciência e filosofia caminham juntas em algumas áreas. Os estudiosos começam

a questionar as explicações sobre as histórias da mitologia. Utilizando a razão, elaboram

explicações a respeito dos fenômenos naturais, da vida, da morte, do homem. As ciências

como Filosofia, História, Matemática, a Medicina se firmam neste período.

Esse contexto, de grande efervescência política, artística, social, cultural, intelectual,

possibilitou as primeiras reflexões e sistematização dos gêneros nos campos da literatura e da

oratória. No que diz respeito ao campo da oratória, que reflete a arte do bem falar, da

argumentação e do convencimento, temos o desenvolvimento da retórica, a qual contemplava

a arte da persuasão por meio do debate de ideias.

A primeira referência de que temos conhecimento a respeito dos gêneros, está na

Retórica de Aristóteles. Antes, porém precisamos entender o contexto histórico-social que

envolve o surgimento dos gêneros.

Assim, como em qualquer outra arte, a retórica ganhou várias definições ao longo do

tempo, mas tomemos como definição, “a arte de persuadir” pelo discurso de (Reboul 2004,

XIV). Na antiga Grécia, tendo o povo direito de participar ativamente de um governo já

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consolidado, era necessário ter a habilidade de se expressar de maneira elegante, fazer

argumentação convincente e, por conseguinte, prender a atenção da plateia. Certamente,

muitos oradores elaboraram regras, tratados a respeito da retórica. Todavia, Aristóteles (384

a.C. – 322 a.C.) foi o responsável pela consolidação dos fundamentos da retórica.

Sistematizou e distribuiu os gêneros de discurso retórico em três classes: o jurídico, o

deliberativo e o epidítico ou demonstrativo.

Reboul (2004, p. 45), definiu os gêneros propostos por Aristóteles da seguinte forma:

o jurídico tem como platéia o tribunal; o deliberativo a Assembléia e o epidíctico ou

demonstrativo possui os espectadores, que são todos os que assistem a discursos muito bem

elaborados.

Os atos dos três discursos não são os mesmos. O judiciário acusa (acusação) ou defende (defesa). O deliberativo aconselha ou desaconselha em todas as questões referentes à cidade: paz ou guerra, defesa, impostos, orçamentos, importações, legislação (cf.1359 b ). O epidíctico censura e, na maioria das vezes, louva ora um homem ou uma categoria de homens, como os mortos na guerra, ora uma cidade, ora seres lendários, como Helena... (op cit, p. 45).

Vejamos a seguir a definição dos gêneros proposta por Aristóteles, conforme a análise

de Edna Guedes (2008, p. 31):

O gênero judicial (genus iudiciale) tinha o seu local privilegiado no tribunal; gênero deliberativo ou político (genus deliberativum) era praticado na ágora – a praça pública; e o gênero epidíctico ou demonstrativo (genus demonstrativum) empregava-se em reuniões, elogiando ou censurando uma pessoa.

Para Aristóteles, a arte do discurso pode ser aplicável a qualquer assunto. O orador

prepara seu discurso de acordo com o auditório a que vai se dirigir.

Pode-se dizer que no período clássico, o sistema governamental estava intimamente

relacionado à questão dos gêneros textuais. Os filósofos desenvolviam reflexões sobre

assuntos políticos e sociais que, de alguma forma, contemplavam as questões literárias e da

linguagem.

Trazendo a discussão para o campo da literatura, Platão (filósofo e matemático do

período clássico, na Grécia Antiga), apresentou fundamentação e sistematização numa

perspectiva de tripartição a respeito dos gêneros literários. De acordo com a concepção de

Angélica Soares (2005, p. 9):

Platão (cerca de 428 a.C. - 347 a.C.), no livro III da República (394 a.C.), nos deixou a primeira referência, no pensamento ocidental, aos gêneros literários: a comédia e a tragédia se constroem inteiramente por imitação, os ditirambos apenas pela exposição do poeta e a epopéia pela combinação dos dois processos.

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Sob o ponto de vista do teórico Aguiar e Silva (1979: 203-204), Platão adotou três

divisões dentro da poesia: poesia mimética1 ou dramática, a poesia não mimética ou lírica e a

poesia mista ou épica. Essa foi a primeira referência no intuito de teorizar sobre os problemas

relativos aos gêneros literários.

A partir desses conceitos elaborados por Platão, de acordo com Angélica Soares,

Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), “ao guiar-se por preocupações de ordem estética, recusa a

hierarquia platônica, apresentando na Poética uma nova percepção do processo da mimeses

artística”.

Ainda sob o mesmo ponto de vista de Aguiar e Silva (op cit, p. 203-204) “A Poética

de Aristóteles constitui a primeira reflexão profunda acerca da existência e da caracterização

dos gêneros literários e ainda hoje permanece como um dos textos fundamentais sobre esta

matéria”.

Dessa forma, percebemos que desde a Antiga Grécia, tanto com as reflexões de

Aristóteles, quanto com as reflexões de Platão, a noção de gênero sempre esteve associada às

práticas sócio-comunicativas. Sem dúvidas, Aristóteles foi responsável por instituir os

princípios a respeito dos gêneros literários, posteriormente outros autores debruçaram-se

sobre os estudos relativos a essa temática já tão discutida na antiguidade, mas sempre

recorrendo à teoria primeira deste filósofo.

Conforme Aguiar e Silva (op cit, p. 206), um dos autores que também merece

destaque nesse campo é Horácio (65 a.C. – 8 a.C.). Este autor escreveu a Epistula ad

Pisones, obra na qual desenvolveu alguns preceitos de grande relevância para a evolução do

conceito de gêneros literários, principalmente na poética e retórica dos séculos XVI, XVII e

XVIII.

Leal de Matos (2001, p. 31), afirma que, de modo geral, pode-se perceber que no

período medieval, as ideias literárias possuem a presença marcante de Horácio e alguma

influência de Platão e/ou dos neo-platônicos. Horácio não formulou uma classificação dos

gêneros. Formulou a regra da unidade de tom, que defende a separação rígida dos diversos

gêneros. Segundo ele o poeta deveria evitar qualquer hibridismo2 entre os gêneros.

Aguiar e Silva (1979, p. 206-2067) afirma que:

1 Mímese – Entre todos, o conceito de imitação é o mais antigo; tanto quanto sabemos, tem origem nas obras dos grandes da Antiguidade: Platão e Aristóteles; e, mais tarde, é também tratado por Horácio. Desde logo constitui um conceito muito debatido e questionado. (MATOS, 2001, p. 23). 2 Língua ou palavra resultante da mistura dos vocabulários de duas ou mais línguas e/ou da interpenetração de sintaxes provenientes de línguas distintas.” (HOUAISS, 2004, p. 1526).

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O poeta deve portanto escolher, conforme os assuntos tratados, as convenientes modalidades métricas ou estilísticas, de maneira a não exprimir um tema cômico num metro próprio da tragédia ou, pelo contrário, um tema trágico num estilo pertencente à comédia: singula quoeque locum teneat sortita decentem (v.92), isto é, que cada assunto, que cada gênero ocupe o lugar que lhe é devido.

Angélica Soares (2005, p.11), define os preceitos horacianos da seguinte forma:

Na arte poética horaciana, a Epistulæ ad Pisones (Carta aos Pisões), incluem-se algumas reflexões sobre os gêneros literários e ressalta-se a questão da adequação entre o assunto escolhido pelo poeta e o ritmo, o tom e o metro, considerando-se que só pode ser tido como poeta aquele que sabe respeitar o domínio e o tom de cada gênero literário. Pela unidade de tom não era admissível que se exprimisse, por exemplo, um tema cômico no metro próprio da tragédia.

Ainda conforme Soares A. (2005, p.11-12), durante a Idade Média não houve grandes

discussões a respeito dos gêneros literários. Houve o acréscimo de novos conteúdos. A poesia

trovadoresca recebe sistematizações rigorosas e Dante Alighieri, autor da Divina Comédia,

traz uma referência importante à questão dos gêneros: “classifica os gêneros em nobre, médio

e humilde, situando-se no primeiro a epopeia e a tragédia, no segundo a comédia (também

diferenciada da tragédia pelo seu final feliz) e no último a elegia3”.

No século XVI, período renascentista, a partir da Poética, de Aristóteles, houve um

intenso movimento de teorização literária (AGUIAR E SILVA 1979, p. 207). Muitas obras

teóricas nasceram neste período, no qual houve muitos debates em torno da noção de gêneros,

mas ainda no campo literário.

A bipartição proposta por Aristóteles, poesia dramática e poesia narrativa, já não era

suficiente para classificar novas criações, e foi inserido um novo gênero à antiga

classificação: o gênero lírico. A partir dessa inserção, os gêneros passaram novamente a ter

natureza tripartida: poesia dramática, épica e lírica.

Aguiar e Silva (1979, p.208) define essa tripartição da seguinte forma:

Na poesia dramática, segundo admitiam em geral as poéticas do século XIX, integravam-se as obras que representavam sem que a pessoa do poeta interviesse; na poesia lírica, incluíram-se aquelas obras em que a pessoa do poeta narrava as coisas acontecidas e sobre elas discorria, não figurando nelas mais do que as reflexões do próprio poeta; a poesia épica era uma espécie mista resultante das duas anteriores, na qual falava alguma vezes o poeta e outras vezes falavam as personagens por ele introduzidas.

3 Lat. Elegia, do gr. Elegia, canto fúnebre; pranto. (MOISÉS, 20114 p. 137) Composição poética, na literatura grega e latina, composta geralmente de hexâmetros e pentâmetros alternados. Pequena composição poética, consagrada a luto ou mágoas. Sentimento de dó. Canto triste.

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No século XVII, a noção de gênero horaciana seguida no período renascentista

mantém-se. As obras precisavam seguir um esquema rígido de normas para que fossem uma

perfeita imitação e muito mais valorizada.

Na segunda metade do século XVIII, o movimento romântico rompe o espírito de

rebeldia contra as regras teóricas clássicas dos gêneros literários. Cada obra criada deveria ser

vista de modo individual, único. As regras clássicas eram consideradas absurdas, porque os

românticos carregavam a bandeira da liberdade de criação.

Mais uma vez recorrendo aos estudos de Soares A. (2005, p. 14), neste período, surgiu

a defesa do hibridismo dos gêneros, proposta por Victor Hugo, no ‘Prefácio’, do Cromwell

(1827). Segundo Victor Hugo (apud SOARES, idem, ibdem), a vida é mistura do belo com o

feio, do riso com a dor, do grotesco com o sublime e, dessa forma se uma obra precisa

corresponder a uma classificação rígida e que leve em consideração somente um desses

aspectos, ela se torna artificial e distante da realidade.

Segundo A. Soares (2005, p. 14), na segunda metade do século XIX, Brunetière,

crítico e professor universitário francês, influenciado pelo naturalismo e positivismo,

defendeu a ideia de que os gêneros literários possuíam vida própria e estavam sujeitos a

fatores como momento histórico, social, raça.

Assim, por exemplo, o romance teria nascido da epopéia ou da canção de gesta e, por sua vez, se transformaria em várias espécies (de aventura, épicos, de costumes...), que sucederiam temporalmente. Pela lei de permanência do mais forte, a tragédia clássica teria desaparecido ante o drama romântico. Como as substâncias vivas, o gênero nasceria, cresceria, alcançaria sua perfeição e declinaria para, em seguida, morrer (SOARES A., 2005, p. 15).

Diante das discussões sobre os gêneros, é possível dizer que os gêneros literários são

ilimitados, e podem sofrer transformações e se adaptarem conforme a necessidade linguística

e literária do período.

2.2 Gêneros textuais na contemporaneidade

Até o século XIX, as discussões em torno dos gêneros estavam associadas à literatura,

mas na primeira metade do século XX, o assunto começou a ser visto sob nova perspectiva: a

linguística. Mikhail Bakthin (1895), teórico russo, estudioso do campo da linguagem e da

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literatura, foi o primeiro a utilizar a palavra gênero num sentido mais amplo, incluindo a

questão discursiva, que envolve os textos utilizados nas situações de comunicação do dia a

dia.

Para Mikhail Bakthin (1997), a comunicação verbal se realiza por meio de algum

gênero. Nessa perspectiva de língua, o próprio autor afirma:

Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. (BAKHTIN, 1997, p. 158).

Partindo desse pressuposto, no processo de interação social, a língua se materializa de

diversas formas e nas mais variadas situações através de textos orais ou escritos e, portanto,

estes textos estão inseridos em alguma categoria de gênero. Atualmente, “gênero é facilmente

usado para referir uma categoria distinta de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com

ou sem aspirações literárias”, (SWALES apud MARCUSCHI, 2005, p.147).

Seguindo essa concepção de língua como atividade social e histórica, buscamos

entender a discussão sobre os gêneros, na atualidade, utilizando as contribuições teóricas dos

autores: Mikhail Bakthin, iniciador dessa vertente de estudos e Marcuschi, estudioso que

utiliza postulados bakhtiniano em seus trabalhos.

Se na Antiguidade Clássica os gêneros estudados pela Retórica e pela Literatura

possuíam características mais ou menos definidas, atualmente, já não se observa mais este

comportamento. O conceito de gênero perpassa a classificação antiga de algo pré-definido

para assumir uma natureza híbrida, segundo a Linguística. A natureza híbrida dos gêneros é

discutida por muitos autores, entretanto, utilizaremos as concepções de Antonio Marcuschi

(2008) em nossa discussão sobre o assunto.

Quanto à questão de definição dos gêneros, há algo importante a pontuar: os gêneros

podem assumir funções diferentes de acordo a necessidade. Um artigo de jornal pode assumir

um formato de poema sem, no entanto, deixar de ser um artigo em que emita uma opinião,

apresentando, o que A. Marcuschi (2005, p.30) chama de “configuração híbrida”. Ulla Fix

(1997:97 apud A. Marcuschi, 2005, p. 31) utiliza a expressão “intertextualidade inter-

gêneros”, para explicar essa natureza híbrida de um gênero.

A. Marcuschi não acredita ser uma tarefa simples definir um gênero. O fenômeno da

hibridização é algo complexo de se resolver. “A questão central não é o problema de

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nomeação dos gêneros, mas a de sua identificação, pois é comum burlarmos o cânon de um

gênero fazendo uma mescla de formas e funções” (A. MARCUSCHI, 2008, p. 164).

Para se referir a essa mescla de gêneros, pode-se denominá-la de intertextualidade

intergenérica. O autor supracitado (2008) propõe chamar essa denominação pessoalmente de

intergenericidade, que, sob sua perspectiva, é a que mais explica o fenômeno, já que há uma

relação entre um gênero e outro, e para a ocorrência do fenômeno, essa é a condição.

Os gêneros textuais que serviram de modelo literário e deram lugar a amplas

discussões ao longo do tempo, hoje, não podem mais permanecer da mesma forma já que se

sabe que os gêneros textuais possuem caráter flexível e variável. “Assim como a língua varia,

também os gêneros variam, adaptam-se, renovam-se e multiplicam-se”. (op. cit., p. 16). Ainda

conforme o referido autor, o estudo dos gêneros não pode ser concebido como modelo

estanque, nem estruturas rígidas, mas sim como formas culturais e cognitivas de ação social

que são materializadas particularmente na linguagem e, portanto, como “entidades

dinâmicas”.

São inúmeras as atividades humanas, assim, é compreensível que a quantidade de

gêneros também seja incontável. As demandas atuais nos processos da comunicação exigem a

ampliação de possibilidades de uso da língua, que é consolidada em forma de enunciados oral

ou escrito. E levando em conta essa natureza dinâmica dos gêneros, não há dúvidas de que a

questão terminológica acaba ganhando bastante destaque devido às dúvidas frequentes que

surgem sobre o assunto.

As dúvidas mais comuns estão entre os termos gêneros textuais e tipos textuais. A

distinção entre eles é necessária, e fará com que entendamos mais facilmente essas categorias.

Do ponto de vista de A. Marcuschi (2005, p. 22-23), tipo textual serve para se definir uma

espécie de sequência teoricamente definida pela “natureza linguística” de sua composição.

Já os gêneros textuais seriam “os textos materializados que encontramos em nossa

vida diária, e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,

propriedades funcionais, estilo e composição característica.” (idem ,ibdem, p. 22-23).

Como exemplos de gêneros textuais temos: carta, bilhete, romance, reportagem

jornalística, receita culinária, e-mail, aulas virtuais, dentre outros vários gêneros. Para melhor

visualização, utilizaremos o quadro abaixo:

Tabela 1 – Tipos Textuais e Gêneros Textuais

TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS

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constructos teóricos definidos por propriedades

linguísticas intrínsecas;

realizações linguísticas concretas definidas por

propriedades sócio-comunicativas;

constituem sequências linguísticas ou sequências

de enunciados e não são textos empíricos;

constituem textos empiricamente realizados

cumprindo funções em situações comunicativas;

sua nomeação abrange um conjunto limitado de

categorias teóricas determinadas por aspectos

lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo

verbal;

sua nomeação abrange um conjunto aberto e

praticamente ilimitado de designações concretas

determinadas pelo canal, estilo, conteúdo,

composição e função;

designações teóricas dos tipos: narração,

argumentação, descrição, injunção e exposição

exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta

comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula

expositiva, reunião de condomínio, horóscopo,

receita culinária, bula de remédio, lista de

compras, cardápio, instruções de uso, outdoor,

inquérito policial, resenha, edital de concurso,

piada, conversação espontânea, conferência, carta

eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais etc.

www.proead.unit.br/professor/linguaportuguesa/arquivoc/textos/generos_textuais_definicoes_funcionalidades.rtf apud Torga e Cavalcante Filho, 2011, p. 237. Acessado em 19/01/2012 às 00:58.

Vale lembrar que, como a relação entre os textos e as atividades sociais é responsável

pela infinidade de gêneros existentes, fazer um levantamento das suas características comuns

não é fácil. Mikhail Bakthin (1997, p. 218), ciente das dificuldades que envolvem essa

classificação dos gêneros propôs que estes fossem divididos em gêneros primários e gêneros

secundários.

Os gêneros primários são aqueles utilizados nas situações do dia-a-dia, adquiridos nas

relações e experiências diárias. Já os gêneros secundários, fazem parte de uma situação de

comunicação mais complexa e mais organizada.

Gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gêneros secundários, transformam-se dentro destes e adquirem uma característica particular: perdem sua relação imediata com a realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios - por exemplo, inseridas no romance, a réplica do diálogo cotidiano ou a carta, conservando sua forma e seu significado cotidiano apenas no plano do conteúdo do romance, só se integram à realidade existente através do romance considerado como um todo, ou seja, do romance concebido como fenômeno da vida literário-artística e não da vida cotidiana. (op cit, p. 281).

Dessa forma, entende-se que tanto os gêneros primários quanto os gêneros secundários

utilizam-se de enunciados verbais como matéria prima. A diferença está no grau de

complexidade e elaboração em que um e outro se apresentam.

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Mikhail Bakthin (1997, p. 281) também destaca que os gêneros não ocorrem de forma

aleatória, dada a sua relação com as atividades sociais. Eles possuem uma relativa

estabilidade, pois apesar de apresentarem aspectos que os tornam reconhecíveis, podem

mudar ao longo do tempo, histórica e socialmente.

Durante o processo de sua formação, esses gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros primários (simples) de todas as espécies, que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea. (BAKTHIN, op cit, p.281).

Como exemplo dessas transformações sócio-históricas temos a carta, o bilhete, a

reportagem, a bula, o manual de instruções, entre outros, os quais não permanecerão como os

vemos hoje, assim como nem sempre foram dessa forma atual.

A linguagem é instrumento do qual nos servimos para transmitir o que pensamos e

sentimos, é um poderoso meio de transmissão e de aquisição de conhecimentos. Nesse

sentido, a linguagem faz parte do conjunto de elementos formadores do processo da

comunicação, seja esta verbal, escrita, visual, ou quaisquer outras. A utilização dos diversos

elementos que compõem a comunicação junto aos diversos fatores que podem ocorrer neste

processo entre os indivíduos, pode influenciar positiva ou negativamente, tanto quanto,

também podem facilitar ou dificultar o entendimento da informação que se quer passar.

Diante disto, a título de análise em nosso trabalho monográfico, utilizaremos o gênero

reportagem, com a pretensão de apresentar, no terceiro capítulo, a caracterização do discurso

no espaço empresarial, apontando a formação discursiva d a revista Língua Portuguesa em

relação à concepção da variante culta e a construção discursiva da imagem de profissional

apto a engessar ou estabelecer-se no mercado de trabalho. A partir de uma análise de

reportagens contidas em diferentes edições desta revista, discutiremos os tópicos

anteriormente citados, cujo foco estará centrado na perspectiva teórica da Análise do

Discurso. No quarto capítulo, pretendemos analisar os elementos verbais e não-verbais que

compõem o discurso utilizado nas reportagens da revistas em questão.

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3 CONSTRUÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO SUJEITO NO DIS CURSO

DA REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA

3.1 Gênero reportagem

Os gêneros discursivos são muitos. Como já citados anteriormente, as charges, a carta,

o jornal, entre outros, encontramos em nosso cotidiano. Os gêneros discursivos não aparecem

apenas sob a forma de textos escritos, são apresentados tanto utilizando-se da modalidade

verbal quanto da modalidade não-verbal (imagens), ou de ambas. Daí, pode-se dizer que há

gêneros textuais, orais, imagéticos e híbridos.

Lemke (1998, p. 47 apud OLIVEIRA 2011, p. 51) afirma que “as representações

verbais e visuais co-evoluíram histórica e culturalmente, para se complementarem

mutuamente, coordenando-se entre si”. Trata-se, então, do que se pode chamar de textos

multimodais, isto é, o fato de as linguagens visuais e verbais coexistirem numa experiência de

cooperação ou de simultaneidade. Sobre essa questão, Oliveira (2011, p.51) diz: “faz com que

os textos sejam percebidos como construtos multimodais e a escrita será apenas um dos vários

modos de representar a mensagem. Dessa forma, a multimodalidade é uma representação em

que estão envolvidos no processo tanto palavras quanto imagens e sons. Certamente, as

imagens em um texto não são meros enfeites, são partes construtiva dele.

Dionisio (2005, p.159 apud OLIVEIRA 2011, p. 51) destaca que “imagem e palavra

mantêm uma relação cada vez mais próxima, cada vez mais integrada”. As relações entre

imagem e palavra devem ser vistas como relações complementares. O verbal utiliza-se do

imagético e vice-versa. Para Walty, Fonseca e Cury (apud OLIVEIRA 2011, p. 90), “colocar

imagem e escrita em campos opostos e excludentes é, no mínimo, ingenuidade, já que mesmo

a nossa revelia, tais códigos se encontram em constante interação”. Imagem e palavra

convivem em perfeita harmonia: interagem-se, completam-se, esclarecem-se.

O gênero reportagem, como gênero jornalístico, utiliza tanto a linguagem verbal

quanto imagética. A imagem é um recurso utilizado para atrair o leitor e, de certa maneira,

uma estratégia para reforçar, ou mesmo complementar a informação. Assim, pode-se dizer

que se trata de um gênero híbrido.

Neste capítulo, pretendemos discutir sobre o gênero reportagem, tendo como recorte o

material coletado na revista Língua Portuguesa, edições 51, 63, 72 e 77, em que buscaremos

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investigar a construção discursiva no contexto empresarial, na qual subjazem as imagens de

língua e sujeito, avaliando os modos como tal produção associa a imagem da variante padrão

ao perfil profissional do indivíduo exigido pelas empresas.

Vale ressaltar que o gênero reportagem utiliza além da linguagem verbal, elementos

visuais, intencionalmente para chamar a atenção do leitor. Portanto, as imagens atreladas às

reportagens também serão analisadas no capítulo IV, porque entendemos que elas também

fazem parte do texto. Imagem e palavra caminham juntas, e no gênero escolhido como foco

do nosso trabalho, é ainda mais relevante por se tratar de um gênero jornalístico.

Para A. Marcuschi, (2008, p. 161), “os gêneros são atividades discursivas socialmente

estabilizadas que se prestam aos mais variados tipos de controle social e até mesmo ao

exercício de poder. Pode-se, pois, dizer que os gêneros textuais são nossa forma de inserção,

ação e controle social no dia-a-dia”. O autor traz, desse modo, a discussão sobre os gêneros

textuais como forma de interação social.

O dicionário Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa (1999 p.

1746) nos apresenta a seguinte definição para o termo reportagem:

Jorn. Atividade jornalística que ger. Compreende a cobertura de um acontecimento, a análise e a preparação do texto final a ser entregue à redação. [diversamente] da notícia (g. v.), a reportagem pretende esgotar o acontecimento, suas causas e consequências, e estimular debate sobre o mesmo. 2 Jorn. O texto publicado resultante de reportagem.

No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa de Antônio Houaiss (2004, p. 2431)

encontramos uma definição semelhante à do dicionário Novo Aurélio Século XXI: 1

atividade jornalística que basicamente consiste em adquirir informações sobre determinado

assunto ou acontecimento para transformá-las em noticiário. 2 o resultado desse trabalho

(escrito, filmado, televisionado), que é veiculado por órgãos da imprensa 3 função, serviço de

repórter; a classe dos repórteres.

Nesse sentido podemos depreender que o objetivo da reportagem é expandir os fatos

para colocar o leitor diante de uma visão de maior e, também, de melhor alcance das notícias

com maiores informações. Mas sem esquecer, a reportagem possui um caráter especulativo

que exige do leitor plena consciência de seus posicionamentos diante dos assuntos tratados,

para que este leitor tenha a possibilidade de assumir uma posição crítica com relação ao que

foi exposto.

A reportagem é uma tentativa de racionalizar a notícia elevando-a a um papel de testemunha ocular dos fatos na mesma medida em que age como o narrador

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onisciente, vendo todos os ângulos possíveis de um fato, criando impressões, dando voz a outros e deixando reverberar em si textos oriundos de fontes ecléticas, criando, em fim, uma rede de informações que auxiliam uma crítica mais fiel do leitor. (SANTOS, 2009, p. 23).

Rodrigues (2010, p. 15) apresenta o gênero reportagem como: um gênero jornalístico,

que exige muita atenção ao ser elaborado, pois, a reportagem trata os fatos de uma forma mais

completa.

Gênero jornalístico considerado de mais difícil desenvolvimento, a reportagem aprofunda os aspectos necessários para a produção de uma mensagem jornalística. Se na notícia são necessários cuidados com averiguação de fontes, edições e formulações textuais, a reportagem requer o dobro de atenção, por se tratar de uma maneira mais completa de tratar os fatos.

Nesse contexto, ainda recorrendo aos estudos de Rodrigues (2010, p. 15), podemos

tomar como reportagem a ação de reportar:

Reportar é o ato que permite ao jornalista cumprir a função de intermediar os fenômenos sociais e sociedade. Posição em que os jornalistas produzem as informações que permitem uma construção discursiva acerca dos diversos acontecimentos que as rodeiam.

Segundo Pedro Celso Campos (Professor da Unesp-Bauru, SP, no site observatório da

imprensa, p. 4, acessado em 15/04/2012):

A reportagem é sempre um gênero informativo acrescido de interpretação e opinião. De acordo com o assunto tratado, poderá ser também um texto recreativo, pois a crônica social, a crônica esportiva, o texto cultural também podem ter a forma de reportagem. O que caracteriza a reportagem é a quantidade de dados nela contidos a partir do trabalho de campo. [...] é praticamente impossível produzir uma grande reportagem sem árduo trabalho externo, de rua. Daí vem a riqueza de dados da reportagem. É ela que sustenta o jornalismo naquilo que ele tem de melhor.

O gênero reportagem, segundo Santos (2009, p. 21) ensaiou seus primeiros passos na

década de 20 do século XX, ligado à revista semanal. A revista Time, criada nos Estados

Unidos inspirou o surgimento de várias outras revistas em várias partes do mundo. No Brasil

inclusive temos a revista Veja que surgiu em 1968, quando a reportagem se destacou como

novo gênero, que começava a ser visto como um novo formato jornalístico. “Não se trata tão -

somente de um estilo de escrita, mas também, de um novo gênero que carrega a filosofia de

um jornalismo, preocupado com a informação como um todo, preocupado em constituir uma

história da notícia.”

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Ainda, segundo a autora supracitada, para produção de uma reportagem, alguns pontos

são relevantes para compreensão de sua forma: o primeiro deles é o contexto, que exige de

quem escreve uma consciência ampla da rede de acontecimentos envolvidos no assunto

tratado. Outros tão importantes quanto o primeiro são: os antecedentes, a projeção, o perfil e o

suporte. Cada um desses pontos inter-relacionados constitui o que se conhece por

reportagem.

Quanto aos antecedentes (ou variação dos antecedentes), faz-se necessário uma

investigação maior dos fatos, para que se conheça a raiz do problema, e assim dar

continuidade ao processo de elaboração da reportagem.

Já à projeção, trata do momento de verificação do alcance futuro do que vai ser

elaborado, hipoteticamente. Outro ponto, e não menos importante, é o perfil, quando o fato

ganha caráter humanizado, ou seja, quando o fato se materializa.

O suporte é o veículo pela qual o assunto vai ser desenvolvido/veiculado e de certa

forma, a definição do público alvo.

No que diz respeito à questão do suporte de gêneros textuais, A. Marcuschi (2008, p.

174), a partir das contribuições do autor Dominique Maingueneau (2001: 71 apud A.

MARCUSCHI, 2008), questiona sobre o papel do suporte na relação com os gêneros.

A ideia central é que o suporte não é neutro e o gênero não fica indiferente a ele. Mais ainda estão por ser discutidos a natureza e o alcance dessa interferência ou desse papel. Uma observação preliminar pode ser feita a respeito da importância do suporte. Ele é imprescindível para que o gênero circule na sociedade e deve ter alguma influência na natureza do gênero suportado. Mas isso não significa que o suporte determine o gênero e sim que o gênero exige um suporte especial.

Ainda que para o autor supracitado os estudos e as discussões a respeito do suporte

dos gêneros estejam em andamento, mesmo ele declarando sua insegurança a respeito desta

questão, nos apresenta uma definição para suporte de gêneros.

[...] entendemos aqui como suporte de um gênero um locus físico ou virtual como formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto. Pode-se dizer que o suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto. (idem, ibdem, p. 174, grifo do autor).

Diagrama representativo para observação do processo discursivo (A. MARCUSCHI

(2008, p. 177):

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Figura 1 – Diagrama Processo Discursivo

Para entender melhor o que representa o diagrama acima, tomemos como exemplo de

suporte o outdoor, o qual A. Marcuschi (2008, p. 176) define como “um suporte público para

vários gêneros, com preferência para publicidades, anúncios, propagandas, comunicados,

convites, declarações, editais” (grifo do autor). Se o suporte é o meio pelo qual se fixa e

mostra um texto, ou seja, a forma de circulação do texto escrito/oral, o outdoor pode ser

considerado um suporte preferencialmente da esfera comercial e política para exposição

visual de textos.

Na opinião de Santos (2009, p. 21-22), os meios de circulação das reportagens podem

ser tanto os jornais, quanto as revistas, rádio, televisão e “recentemente o livro (levanta de

maneira mais expressa o fato)”.

Assim como afirma o autor A. Marcuschi (2008, p. 173-174), que a discussão sobre a

questão do suporte dos gêneros textuais encontra-se em andamento e expõe a sua insegurança

para discorrer sobre o assunto, também nos deparamos com a dificuldade em encontrar

material (teórico) para dar conta do termo na perspectiva de gênero textual enquanto um

construto sociocultural.

. De acordo com Bronckart (1999, 2004, 2005 apud BONINI 2006, p.348-349), os

conhecimentos constituídos sobre os gêneros estão sempre correlacionados às representações

que temos sobre as situações sociais diversas em que atuamos. E é com base nesses

conhecimentos que o produtor “adota” ser o mais adequado a determinada situação.

Vale lembrar que a reportagem utiliza tanto elementos verbais quanto não verbais, e

dessa forma, pode ser considerada como gênero multimodal. Os gêneros discursivos

estabelecem relações através dos textos, veículos de sua mensagem, produzindo significados.

JORNALISMO [Domínio discursivo]

IDEOLOGIA DOS EUA [Formação] discursiva]

NEW YORK TIMES

[órgão, instituição]

JORNAL [suporte]

REPORTAGEM JORNALÍSTICA

[gênero]

NARRAÇÃO... [Sequências tipológicas]

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Materializados através da linguagem verbal e/ou não-verbal, trazem em seu bojo o arranjo das

cores, formas e tipo de papel no texto escrito. Gestos, entonação de voz, expressão facial e

corporal no texto oral. A essa relação entre as linguagens verbal e não-verbal, denominamos

multimodalidade.

Apesar de só, recentemente, os estudos linguísticos focarem suas pesquisas no

fenômeno da relação entre os recursos verbais e visuais utilizados na elaboração de textos,

este fenômeno sempre ocorreu e de forma bastante natural, desde o surgimento da escrita. Se

analisarmos a trajetória desses estudos, é possível percebermos que, quando este assunto

estava em pauta, ora a discussão era sobre os recursos verbais, ora sobre os recursos visuais,

sem estabelecer nenhum tipo de ligação entre eles. No entanto, hoje sabemos que ambos os

recursos, andam, na maioria das vezes, juntos. Veremos esta relação entre os recursos verbais

(escrita) e visuais (imagens) no capítulo IV deste trabalho.

3.2 Perfil Profissional X Língua Portuguesa

A revista Língua Portuguesa, é uma publicação mensal da Editora Segmento, que

procura colocar em discussão temas importantes a respeito do vernáculo em seus vários

aspectos, utilizando-se do gênero reportagem. A sua publicação atende aos leitores

profissionais da área educacional e também aos empresários, profissionais de diversas áreas

de atuação e estudantes interessados em atualizar/ampliar seus conhecimentos.

O nosso interesse pelo tema deste trabalho monográfico, abordado pela revista

supracitada, surgiu a partir da leitura de reportagens que levantam as discussões sobre a

importância do domínio da língua materna, na sua variante culta. O referido periódico dá

relevo a esta variante, de modo que faz o leitor compreender quão grande é a importância

desta variante para que se possa conseguir uma vaga no mundo do trabalho, mudar de função

e/ou se manter num emprego. O nosso foco de estudos a partir das análises dessas

reportagens, é observar de que forma ocorre a construção do perfil profissional no discurso da

revista Língua Portuguesa.

A revista Língua Portuguesa, tem publicado várias reportagens, nas quais apresenta a

discussão sobre a importância do domínio da Língua Portuguesa em sua variante culta. O

tratamento dado à norma culta da língua apresenta esta variante como fator decisivo na hora

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da seleção para um novo emprego, ou bom desempenho das funções de quem já está

empregado.

Com relação ao conhecimento maior da língua materna, cabe-nos questionar como no

contexto da revista Língua Portuguesa, a formação discursiva sobre o domínio da variante

culta da língua contribui para a construção de uma imagem sobre o perfil profissional, bem

como para a imagem da empresa?

No mundo moderno, no qual a única certeza é a mudança, o conhecimento passou a

ser uma fonte segura de vantagens competitivas não apenas no ambiente profissional, mas na

sociedade como um todo. Nesse contexto, podemos dizer que o conhecimento passou a

ocupar uma posição essencial no desenvolvimento das forças produtivas e sócio-

comunicativas da sociedade.

A sociedade contemporânea, centrada na valorização do conhecimento, exige

profissionais que aprendem rápido, e que sabem aprender, tornando-os ativo na construção do

seu desenvolvimento profissional e/ou pessoal no processo sócio-comunicativo. Desse modo,

a comunicação é um ato fundamental para as relações sociais, sejam estas familiares,

religiosas, de amizade, profissionais ou sociais. No ambiente profissional, há uma exigência

maior do aprimoramento da comunicação, porque apresentar o domínio da língua materna (na

sua variante culta), para a maioria das empresas, faz toda diferença entre os profissionais.

No “antigo” mercado de trabalho, em algumas grandes empresas, havia uma pessoa,

exclusivamente, responsável por elaborar cartas, apresentações, relatórios, comunicados,

dentre outros. Atualmente, todos esses documentos podem ser elaborados pela maioria do

funcionário dentro de uma empresa. Razão pela qual as empresas buscam desde as entrevistas

até o período de experiência, profissionais habilitados para determinadas funções e com

conhecimento mais amplo da Língua Portuguesa, e com uma capacidade comunicativa.

No contexto no qual estamos inseridos, o envio e recebimento de informações em

grande velocidade, permite o envio, por exemplo, de um e-mail em nome da empresa ou do

chefe para dezenas de pessoas ligadas às diversas atividades da empresa na qual se trabalham.

Sobre esse assunto, a professora de português e uma das proprietárias da Companhia de

Idiomas, empresa especializada em tradução, consultoria e ensino de São Paulo, Lígia Velozo

Crispino, na reportagem da revista Língua Portuguesa, intitulada, Pecados corporativos: Os

problemas de escrita nas empresas que podem tornar a comunicação um inferno; afirma

que:

O e-mail se consolidou como uma ferramenta de comunicação corporativa, mas também é um documento que, na maioria das empresas, ficará arquivado por muito tempo, um registro de erros. Por isso, é preciso que as pessoas dediquem uma

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especial atenção a essa modalidade de interação. (Lígia Veloso Crispino, Língua Portuguesa, Nº 52, 2010, p. 28).

Portanto, os profissionais não podem e não devem escrever de qualquer maneira.

Precisam estar conscientes de que há uma linguagem adequada a determinados contextos, e

que existem regras a serem aplicadas a cada situação de comunicação. Logo, a utilização ou

não destas regras, podem ser tanto fator de sucesso quanto de fracasso para a imagem

profissional deste indivíduo dentro e fora da empresa em que trabalha, bem como para a

imagem da empresa.

Há problemas clássicos de língua portuguesa que prejudicam a comunicação de um profissional dentro da empresa [...]. A língua é viva e está em constante mudança. Estudar português é um eterno desafio. Metade de suas chances de conseguir uma promoção ou ser o escolhido em um processo seletivo está concentrada nas habilidades comunicativas que você possui, daí a importância de desenvolvê-las. (Lígia Veloso Crispino, Língua Portuguesa, Nº 52, 2010, p. 33).

O domínio da língua materna, no mercado de trabalho atual é, portanto,

imprescindível, mesmo para funções que não necessitem trabalhar diretamente com leitura e

escrita de documentos. Em áreas como a de construção civil, os operários não precisam

escrever, mas precisam seguir regras, instruções, entender sinalizações, comandos que vão

exigir deles um mínimo de domínio da leitura, para que compreendam as informações. Diga-

se o mesmo para as áreas de manutenção, higienização, lavanderia, portaria, segurança, copa,

cozinha, serventes, entre outras.

[...]. Mas sindicatos, empresas e o governo estão preocupados não só com esse tipo de formação aos trabalhadores, mas com o uso de uma ferramenta antiga e aparentemente muito mais simples: a linguagem. A mudança no perfil laboral torna cada vez mais importante que um profissional, mesmo em atividades de baixa complexidade, tenha capacidade de compreender com clareza as instruções que recebe, transmitir suas experiências aos colegas e relatar as situações que enfrenta aos seus superiores hierárquicos. (Leonardo Fuhrmann. Língua Portuguesa, Nº 72, 2012, p. 23).

Nos últimos anos, a importância da leitura tem representado como um ponto de

relevância nas empresas, isso se deve, provavelmente, a dois fatores: o primeiro diz respeito à

crença de que quem lê mais, escreve e fala melhor. Outro, ao fato de que ser leitor, representa

uma imagem de sujeito “cult”, informado, inteligente, o que, por conseguinte, se estende à

imagem da empresa.

Contrariando esta perspectiva, Magda Soares entende que, em contextos mais amplos,

contextos de interações sociais diversas devem existir motivo, significação para aprender a ler

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e a escrever. Segundo a referida autora (2006, p. 38), “a hipótese é que aprender a ler e a

escrever e, além disso, fazer uso da leitura e da escrita transformam o indivíduo, levam o

indivíduo a outro estado ou condição sob vários aspectos: social, cultural, cognitivo,

linguístico, entre outros”.

Na reportagem de Leonardo Fuhrmann No canteiro de Obras (Língua Portuguesa Nº

72, 2012, p. 22), tem no subtítulo a seguinte afirmação: “Empresas e organizações começam a

perceber que a qualificação profissional em língua portuguesa é tão importante quanto a

especialização tecnológica”. A informação contida nesta parte do texto nos reporta ao ponto

que temos tomado como uma tônica nas reportagens da revista: a necessidade de

conhecimento da língua portuguesa na sua variante culta.

A partir das informações das reportagens em análise, empresas alegam que

profissionais com habilidades comunicativas desenvolvidas, domínio da língua materna em

sua variante culta nas modalidades escrita e oral, possuem maior desenvoltura, principalmente

para cargos mais elevados nas empresas.

A crescente valorização do domínio do idioma no mercado de trabalho vem sendo apontada por diferentes indicadores. Em 2007, uma pesquisa realizada pela Johnson O' Connor Research Foundation em conjunto com um doutor em linguística, Paul Nation, professor da Victoria University of Wellington, na Nova Zelândia, comprovou que o uso eficiente da língua influi na carreira profissional. Segundo o estudo, feito em 39 empresas americanas, a chance de ascensão profissional está diretamente ligada ao vocabulário que a pessoa domina. Quanto maior seu repertório, mais competência e segurança ela terá para absorver ideias e falar em público. (Adriana Natali, Língua Portuguesa, Nº 63, 2011, p. 37).

Nessa reportagem de Adriana Natali (op cit, p. 36), cujo título é: A carreira nas

alturas, e subtítulo: Dificuldades com o idioma passam a incomodar cada vez mais os

profissionais do mercado, que lotam cursos de reciclagem em português e comunicação,

a autora apresenta uma discussão acerca da questão da dificuldade na formação dos

profissionais, no que diz respeito à Língua Portuguesa. Segundo a autora, por conta desta

dificuldade, surgiram diversos cursos com o objetivo de intensificar no campo de reciclagem

em português nas escolas de idiomas e nos cursos de graduação para pessoas oriundas do

mundo dos negócios.

O que antes era restrito a profissionais de educação e comunicação, agora já faz parte da rotina de profissionais de várias áreas. Para eles, a língua portuguesa começa a ser assimilada como uma ferramenta para o desempenho estável. Sem ela, o conhecimento técnico fica restrito à própria pessoa, que não sabe comunicá-lo. - Embora algumas atuações exijam uma produção oral ou escrita mais frequente, como docência e advocacia, muitos profissionais precisam escrever relatório, carta,

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comunicado, circular. Na linguagem oral, todos têm de expressar-se de forma convincente nas reuniões, para ganhar respeito e credibilidade. Isso vale para todos os cargos da hierarquia profissional - explica Maria Helena Nóbrega, professora de língua portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da USP. (Adriana Natali, Língua Portuguesa, Nº 63, 2011, p. 36-37).

Nesta perspectiva de capacitação e qualificação de profissionais, no que diz respeito ao

domínio da Língua Portuguesa em sua variante culta, é possível perceber uma repercussão

tão grande, que hoje existem empresas especializadas para oferecer cursos de “Português

Empresarial” para os profissionais interessados em ampliar seus conhecimentos nesta área.

Apresentamos em anexo, imagens de empresas que oferecem este tipo de serviço, inclusive

com investimentos em propagandas e sites, com o objetivo de atrair alunos interessados nessa

modalidade de investimento profissional/pessoal.

Observa-se que as reportagens da revista Língua Portuguesa, apresentadas neste

trabalho, trazem informações diversas para quem almeja adentrar ou permanecer no mercado

de trabalho. Os textos debatem o que até bem pouco tempo não era tão cobrado e,

principalmente, discutido no mercado de trabalho: o domínio da variante culta da língua

portuguesa como fator decisivo no momento da contratação. Todo o processo de análise do

perfil profissional do candidato tem início em observações feitas no processo seletivo, a partir

das quais, o profissional do setor de RH da empresa, avalia por meio da entrevista, a

competência comunicativa do candidato à vaga, e esses fatores podem ser decisivos no

momento da contratação.

A competência comunicativa garantiria potencial para ampliar a “empregabilidade” de um profissional. Desde o processo de seleção, as empresas buscam pessoas que saibam comunicar-se com clareza e poder persuasivo. Nas dinâmicas de grupo, além de habilidade de relacionamento e liderança, os selecionadores verificam a capacidade comunicativa do candidato. . (Adriana Natali, Língua Portuguesa, Nº 63, 2011, p. 37-38).

Nessa perspectiva, a maior exigência, atualmente, para se conseguir uma vaga no

mercado de trabalho não é necessariamente saber desempenhar uma função atribuída, mas,

sobretudo, dominar a Língua Portuguesa na sua variante culta. Para que o profissional possa

apresentar suas habilidades, competências e qualificação com o objetivo principal de alcançar

uma vaga no mercado de trabalho é preciso que ele busque o aprimoramento de sua

habilidade comunicativa, no sentido de utilizá-las de maneira mais fluída, que lhe permita se

apropriar da língua materna, utilizando os recursos que esta lhe oferece sem maiores

problemas.

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Na reportagem, intitulada No canteiro de obras, escrita por Leonardo Fuhrmann,

veiculada por meio da revista Língua Portuguesa, o autor aborda a questão do domínio da

língua materna em sua variante culta, para os profissionais da área de construção civil. O

autor da reportagem afirma que os profissionais desta área, da categoria dos operários,

necessitam compreender normas de segurança no trabalho, avisos, instruções técnicas e outras

regras importantes relacionadas ao seu ambiente de trabalho.

Para compensar a falta de pessoal com um nível maior de escolaridade nessas

áreas/categorias algumas empresas têm diminuído as exigências na hora da contratação, e

passaram a investir na qualificação desses profissionais no próprio ambiente de trabalho,

oferecendo aprimoramento da educação básica.

Valéria Fernandes, diretora de Recursos Humanos da Even, diz que a construtora decidiu, desde 2007, investir no desenvolvimento dos profissionais por conta do alto índice de analfabetos funcionais e da falta de oportunidade para o estudo regular. Por isso, passou a dar aulas nos canteiros de obra. Ela destaca que a empresa percebeu que o baixo nível de escolaridade afeta a comunicação, dificultando a compreensão das informações. - È importante que o trabalhador saiba ler e, principalmente, entender sinalizações de segurança, instruções técnicas e outros conteúdos de rotina da obra – explica. (Leonardo Fuhrmann. Língua Portuguesa, Nº 72, 2011, p. 23).

A elevada taxa de analfabetismo, ainda faz parte da realidade de muitos países,

inclusive o Brasil. Marcados com o estigma do analfabetismo, essa forma extrema de

exclusão educacional caracterizada como analfabetismo funcional, muitos brasileiros ao

tentarem conseguir uma vaga no mundo do trabalho, esbarram em novas exigências no

mercado trabalhista. As inovações tecnológicas exigem do trabalhador, no mínimo,

conhecimento básico para manusear determinadas máquinas ou aparelhos e leitura de

informações para segurança da empresa em que trabalha e sua própria segurança no

desempenho de suas funções profissionais.

Para a UNESCO (Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações

Unidas), o analfabetismo funcional tem a seguinte definição:

Toda pessoa que sabe escrever seu próprio nome, assim como lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, porém é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, impossibilitando seu desenvolvimento pessoal e profissional. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocar idéias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas. (Andréia Cristina Sória Prieto. http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo, acesso em 21/06/2012 às 01:56)

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Conforme informações da Declaração Mundial sobre Educação para Todos

(UNESCO, ED/90/CONF/205/1, 1998), documento elaborado na Conferência Mundial sobre

Educação para Todos, realizada na cidade de Jomtien, na Tailândia, em 1990, cerca de “930

milhões de adultos são analfabetos, e o analfabetismo funcional é um problema significativo

em todos os países industrializados ou em desenvolvimento”.

No Brasil, aproximadamente 75% das pessoas com idade entre 15 e 65 anos não

possuem aptidões para ler, escrever e calcular plenamente. Esse assunto tem grande

repercussão nos meios de comunicação social, que a mídia televisiva discute o assunto em

rede nacional, como se pode coferir na reportagem intitulada Apenas 25% dos brasileiros

são plenamente alfabetizados, apresentada pelo Jornal Nacional, exibida na edição do dia

09/05/2011 às 21:52.

A taxa de analfabetismo funcional é de 28%, apesar de ter caído entre 2001 e 2009. Desses, mais da metade estudou até a quarta série e 24% concluíram o ensino fundamental, na oitava série.

Hoje, essa limitação compromete a produtividade mesmo em profissões que não exigem tanta qualificação: “Ele realmente tem alguma dificuldade em ler um projeto, ler algum aviso no próprio canteiro e executar sua tarefa”, explica Agnaldo Holanda, diretor de obra. Educação é o que dá a base para um crescimento sólido. A construção de um país com oportunidades para todo mundo depende do alicerce firme do conhecimento. E esse é um dos grandes nós do Brasil. Só um em cada quatro brasileiros de 15 a 64 anos pode ser considerado plenamente alfabetizado. E o primeiro passo para enfrentar o problema é o diagnóstico. Há dez anos, um grupo de pesquisadores bate de porta em porta para saber o nível de alfabetização dos brasileiros. (JORNAL NACIONAL, edição 09/05/2011).

O resultado é que após o aprimoramento na formação da educação básica para

profissionais de diversos setores do mercado de trabalho, os trabalhadores, passam a

apresentar melhor produtividade, além de desenvolver habilidade para interpretar as

informações e dados necessários para sua própria segurança e dos outros no ambiente de

trabalho.

Para a professora da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Maria Clara di Pierro, especialista em educação de jovens e adultos, o problema da falta de habilidade dos trabalhadores para tarefas do mercado de trabalho não é um problema apenas do Brasil, e inclusive foi tema de uma conversão da OIT (Organização Internacional do Trabalho). - Estamos em uma fase do conhecimento tecnológico que exige mais das pessoas do que algumas habilidades específicas. O mercado não tem mais o mesmo espaço para atividades simples e repetitivas - analisa. . (Leonardo Fuhrmann. Língua Portuguesa, Nº 72, 2011, p. 25).

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A reportagem Pecados corporativos, escrita por Lígia Velozo Crispino, traz

abordagem voltada para a importância da boa comunicação dentro do ambiente de trabalho. A

comunicação é um ato diário e acaba fazendo muita diferença em um lugar onde, saber

utilizar bem as palavras, adequando-as ao contexto, pode levar o trabalhador tanto ao sucesso

quanto ao fracasso.

Sendo assim, os profissionais que trabalham nos diversos setores empresariais,

precisam ter um cuidado especial com a gramática, a ortografia, pontuação e acentuação o

vocabulário, a entonação nas modalidades escrita e oral, pois tanto sua imagem quanto a

imagem da empresa podem ser comprometidas. Afinal saber escrever “corretamente”, de

alguma forma, traz status, e demonstra que a pessoa tem nível cultural elevado, no que diz

respeito ao domínio da variante culta da Língua Portuguesa.

Prepare seu português, é mais uma das reportagens da revista Língua Portuguesa

que discute a importância do domínio do idioma para garantir uma vaga no mercado de

trabalho ou permanecer nele. Segundo a reportagem, o profissional precisa estar atento à

escrita das palavras, o uso correto da gramática, pontuação e, por isso, é necessário investir

em si mesmo para crescer em sua carreira profissional.

O desempenho no próprio idioma em diferentes situações formais é, em geral, tomado como diapasão de outros atributos da pessoa. Se somos descuidados com o português, no que mais seremos descuidados? Se alguém fala comigo de forma truncada, pode errar em outros momentos do nosso relacionamento. A expressão em língua portuguesa pode não se limitar a um decorar de regras gramaticais – sua premissa está em mostrar vossa versatilidade comunicativa e nossa capacidade de tirar de letra os diversos contextos em que nos metemos. Saber português significa trabalhar melhor, namorar melhor, interagir melhor. (Luiz Carlos Pereira Junior, Língua Portuguesa, Nº 51, p. 26).

Essa preocupação a respeito da importância da comunicação, do conhecimento, da

qualificação profissional com relação às habilidades comunicativas dos profissionais para o

mercado de trabalho, vem sendo discutidas em vários meios de comunicação, tais como

jornais, revistas, rádios, TV, como podemos observar, em mais uma reportagem, apresentada

no Jornal Bom Dia Brasil da emissora Rede Globo, edição do dia 18/04/2012 às 08hs30,

intitulada Pesquisa revela que candidatos perdem vaga por erros de português:

O resultado de uma pesquisa, em São Paulo, mostra mais uma vez as deficiências da educação no Brasil. O português está derrubando muita gente na hora da contratação. Está faltando o básico, o português nosso de cada dia. Todo mundo se preocupa em fazer um curso de inglês ou de informática, mas, na hora de preencher uma ficha, ou mesmo fazer uma redação, aparece cada absurdo de candidatos que acabaram de sair da faculdade.

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Nota-se nas reportagens analisadas, obtidas da revista Língua Portuguesa, que o

discurso está sempre chamando a atenção para a cobrança, que os mais diversos setores do

mercado de trabalho fazem quanto à necessidade de aprimoramento da capacidade de

comunicação e domínio da língua materna. Segundo o conjunto de reportagens analisadas, o

bom profissional precisa ser aquele que utiliza muito bem as regras da língua materna e sabe

se expressar sem deixar lacunas. O profissional não deve se preocupar apenas em

desempenhar sua função, ele precisa acompanhar o ritmo do novo mercado de trabalho,

exigente e dinâmico.

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4 PERFIL PROFISSIONAL NAS REPORTAGENS DA REVISTA LÍNGUA

PORTUGUESA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA

Se observarmos as transformações e influências que a sociedade tem sofrido desde o final

do século XX até o início deste século, será possível constatar que vários fatores contribuíram

para mudanças no cenário político, econômico, cultural e social. O destaque maior é o

desenvolvimento científico e tecnológico. Estes acontecimentos provocaram a quebra dos

antigos modelos de produção, no qual o trabalhador apenas executava atividades, do começo

ao fim de sua vida economicamente ativa, de forma mecânica, como bem ilustra a crítica

apresentada no filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin (1936).

A presença da ciência e da tecnologia nas empresas como conhecimentos necessários

para a otimização da produção, tem pouco a pouco substituído a mão de obra industrial, por

atividades que exigem um perfil de profissional intelectual, isto é, que têm capacidade de usar

as ideias, o pensamento para solucionar problemas. O profissional que executava o trabalho

de forma mecânica, cujo corpo (força física) era o principal instrumento a ser utilizado nas

tarefas das empresas, perdeu espaço para um modelo de profissional que precisa, além do

corpo, ter um bom desempenho linguístico.

O filme “Tempos Modernos” retrata essa forma mecânica de trabalho, em um cenário

urbano no qual havia exigências, por parte dos patrões sobre os empregados, para a

produtividade. A consequência desse modo de produção foi a desvalorização não apenas

profissional, mas também sócio, econômica e cultural do indivíduo.

As mudanças supracitadas na estrutura da sociedade favoreceram o surgimento de um

novo regime chamado capitalismo. Este regime é caracterizado por uma espécie de mercado

de trocas. Os primeiros mercados de trocas eram feitos de acordo com a necessidade das

pessoas (senhores/patrões). Este tipo de comercialização foi bastante utilizado durante o

modelo de organização política e social praticado na Idade Média denominado feudalismo.

Na chamada sociedade feudal havia uma divisão hierárquica: Nobreza (senhores

feudais), Clero (membros da igreja católica) e as camadas menos favorecidas que eram os

servos e artesãos. Nesta época, era praticado o escambo, atividade “comercial” em que os

membros da classe dos menos favorecidos recebiam utensílios e alimentos em troca do seu

trabalho. A produção de bens para o consumo acontecia em escala reduzida. Diferente dessa

primeira ideia que se tinha notícia, o mercado capitalista passou a produzir em excesso e em

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larga escala. Esta nova forma de produção exige a presença de uma relação baseada na

existência de uma força dominante e uma força dominada.

No modelo econômico do capitalismo (considerando aqui a concepção clássica de capitalismo, tal como ele foi compreendido pelas teorias marxistas), as relações de produção implicam divisão de trabalho entre aqueles que são donos do capital e aqueles que vendem a mão-de-obra. Esse modo de produção é a base da sociedade capitalista (MUSSALIM, 2006, p. 103-104).

Com as mudanças ocorridas no mundo de trabalho atual, o mercado trabalhista não

comporta mais a forma de trabalho mecânico praticada, como foi mencionado nos parágrafos

supracitados. Desse modo, fez-se necessário a introdução de um modelo de produção mais

flexível, isto é, ao empregado para quem não era concedido tempo para o estudo e para a

qualificação, passou-se a considerar a formação profissional como fator decisivo para a sua

manutenção no quadro de funcionários das empresas.

A partir daí, duas perspectivas nas formas de organização do mundo empresarial

foram notadas: um grande número de empresas começou a oferecer cursos de capacitação

profissional, de formação básica, e passou também a exigir melhor domínio da Língua

Portuguesa. Por conseguinte, formação básica, técnica e superior, bem como o domínio da

variante culta da língua materna passaram a ser critérios utilizados para seleção, contratação

e/ou conservação de um profissional no ambiente de trabalho.

Na base organizacional, verificamos que, na seleção de trabalhadores e/ou

permanência destes em determinada função, passou-se a exigir além de experiências

profissionais anteriores, saberes escolarizados para cada função e/ou cargo a ser exercido

pelos profissionais das diversas áreas. Quanto às formas de trabalho, podemos destacar que o

modelo fabril, centrado no maquinário, que exigia mão de obra menos intelectualizada,

mudou com o surgimento de novas tecnologias e passou a exigir mais dos operários, como

por exemplo, a capacidade de adaptação a novas situações. Além do aperfeiçoamento de sua

mão-de-obra, conhecimento maior da língua materna para compreensão da linguagem

utilizada em seu espaço de trabalho, dentre outros.

A exigência do conhecimento maior da língua materna para melhor compreensão e

utilização da linguagem no espaço de trabalho, tornou-se assunto para discussão em vários

meios de comunicação, como: a televisão, o jornal, as revistas especializadas. De acordo com

os estudos teóricos de Eni Orlandi (1999, p. 26), pode-se dizer que:

Compreender é saber como um objeto simbólico (enunciado, texto, pintura, música etc) produz sentidos. É saber como as interpretações funcionam. Quando se interpreta já se está preso em um sentido. A compreensão procura a explicação dos

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processos de significação presentes no texto e permite que se possam “escutar” outros sentidos que ali estão, compreendendo como eles se constituam.

Nunca se falou tanto sobre a importância do conhecimento e o funcionamento da

língua materna como um ponto decisivo na hora da contratação e/ou manutenção de um

funcionário em determinada função.

A revista Língua Portuguesa, é um desses meios de comunicação, cujas matérias têm

tratado desta temática. Alguns periódicos desta publicação despertaram nosso interesse, por

apresentarem várias reportagens com “dicas” para pessoas das mais diversas áreas de

trabalho. A referida revista também traz informações sobre a importância de dominar o

vernáculo para aqueles candidatos que precisam se preparar para garantir a tão sonhada vaga

no mercado de trabalho, e também para aqueles profissionais que já estão atuando e precisam

se atualizar quanto às tendências mercadológicas.

Nossa pretensão, para este capítulo, é fazer uma investigação, à luz dos pressupostos

teóricos da Análise do Discurso, a respeito da construção discursiva sobre a importância do

uso da Língua Portuguesa, em sua variante culta, para a formação profissional. Vale

ressaltar que seguiremos as tendências da linha francesa da Análise do discurso (doravante

AD).

A Análise do Discurso, como seu próprio nome indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento (ORLANDI, 1999, p. 15). Na análise do discurso, procura-se compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história (Idem, Ibidem, p. 15).

Sabe-se que a Análise do Discurso, na França, teve início no final da década de 60, e

seu principal articulador foi o filósofo francês Michel Pêcheux (1938 -1983).

Finalmente, e isto é o mais importante, podemos reconhecer nos estudos e pesquisas sobre o discurso uma filiação específica que teve como um dos seus fundadores Michel Pêcheux e que se desenvolveu mantendo consistentemente certos princípios sobre a relação língua/sujeito/história ou, mais propriamente, sobre a relação língua/ideologia, tendo o discurso como lugar de observação desta relação. E aí podemos falar de como os estudos e pesquisas da análise de discurso, dessa filiação, se constituiu com sua especificidade no Brasil, na França, no México, etc., tendo no Brasil um lugar forte de representação (ORLANDI, 2007, p. 76)4.

4 ORLANDI, E. A análise de discurso em suas diferentes tradições intelectuais: o Brasil (UNICAMP). In: Freda Indursky, Maria Cristina Leandro Ferreira (orgs.). Michel Pêcheux e a análise do discurso: uma relação de nunca acabar. São Carlos. Claraluz, 2007.

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A AD não se limita apenas na análise de regras gramaticais da língua, tem-se a

preocupação com elementos externos à língua, como: históricos, sociais, culturais, religiosos,

ideológicos, essenciais em qualquer abordagem discursiva. Assim, o sujeito analisador deve

possuir um saber linguístico, além ter conhecimento dos aspectos sócio, econômico, cultural e

ideológicos relacionados ao objeto da sua análise, ou seja, os elementos que refletem a

produção do seu discurso.

Sobre o processo de produção do discurso, Michel Pêcheux (1997, p. 75)5 propõe

“designar por meio do termo processo de produção o conjunto de mecanismos formais que

produzem um discurso de tipo dado em ‘circunstancias’ dadas”.

- o estudo da ligação entre as "circunstâncias" de um discurso — que chamaremos daqui em diante suas condições de produção — e seu processo de produção. Esta perspectiva está representada na teoria linguística atual pelo papel dado ao contexto ou a situação, como pano de fundo específico dos discursos, que toma possível sua formulação e sua compreensão [...] (Op cit, p. 75, grifo do autor).

A importância em adquirir o domínio da Língua Portuguesa, na sua variante culta,

como fator decisivo para formação do perfil profissional do sujeito, nos leva a perceber que a

língua, apesar de ser a mesma gramaticalmente, se analisada do ponto de vista discursivo, não

é a mesma. Por assim dizer, a língua, ao ser usada em um dado discurso, pode sofrer

interferências externa, no que diz respeito às posições sócio, econômica, cultural e ideológicas

de um determinado grupo social.

Falaremos de formação ideológica para caracterizar um elemento (este aspecto de luta nos aparelhos) suscetível de intervir como uma força em confronto com outras forças na conjuntura ideológica característica de uma formação social em dado momento; desse modo, cada formação ideológica constitui um conjunto complexo de atitudes e de representações que não são nem ‘individuais’ nem ‘universais’ mas se relacionam mais ou menos diretamente a posições de classes em conflito umas com as outras (PÊCHEUX, 1997, p. 166, grifo do autor)6.

O corpus a ser analisado foi retirado da revista Língua Portuguesa, da qual serão

analisados os artigos: Prepare Seu Português, Pecados Corporativos, A Carreira nas

Alturas e No Canteiro de Obras, das seguintes edições de Nº 51, 52, 63 e 72,

5 PÊCHEUX, Michel. [1969]. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, Françoise; HAK, Tony (orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 3. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1997, p. 61-161. 6 PÊCHEUX, Michel; FUCHS, Catherine. [1975]. A propósito da Análise Automática do Discurso: atualização e perspectivas. In: GADET, Françoise; HAK, Tony (orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1997. p. 163-252.

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respectivamente. Buscaremos investigar a construção discursiva e ideológica nas referidas

reportagens, sempre voltadas para o contexto empresarial, nas modalidades da linguagem

verbal e visual, observando os modos como tal produção associa a imagem da variante culta

da língua materna ao perfil profissional exigido pelas empresas.

Cabe-nos informar que o sentido de formação discursiva e formação ideológica aqui

tomados, é o mesmo apresentado por Fernanda Mussalim (2006, p. 124-125): formação

ideológica é a relação entre os discursos e formação discursiva, é “o lugar onde se articulam

discurso e ideologia”. Ainda conforme a autora, a especificidade da Análise do Discurso é “o

estudo das relações entre condição de produção dos discursos e seus processos de

constituição” (op. cit., p. 114).

Sucintamente, poder-se-ia dizer que a AD de "primeira geração”, aquela dos fins dos anos 60 e início da década de 70, procurava essencialmente colocar em evidência as particularidades de formações discursivas (o discurso comunista, socialista, etc.) consideradas como espaços relativamente auto-suficientes, apreendidos a partir de seu vocabulário. A AD de segunda geração, ligada às teorias enunciativas, pode ser lida como uma reação sistemática contra aquela que a precedeu (MAINGUENEAU, 1997, p. 21).

Todo processo discursivo, utiliza-se da linguagem, em que os atos desta linguagem são

quase sempre repletos de uma carga de intencionalidade, ou seja, há uma tentativa de

persuasão, de convencimento por parte do locutor com relação ao seu interlocutor. Desse

modo, pode-se dizer que as palavras por si só não expressam sentido nelas mesmas, na

verdade esse sentido é derivado das formações discursivas. Diante disto, pode-se concluir que

tudo o que se diz, tem sempre um traço de ideologia. Então, “o discurso se constitui em seu

sentido porque aquilo que o sujeito diz se inscreve em uma formação discursiva e não outra

para ter um sentido e não outro” (ORLANDI, 1999, p. 43).

Consequentemente, podemos dizer que o sentido não existe em si mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico em que as palavras são produzidas. As palavras mudam de sentido segundo as posições daqueles que as empregam. Elas “tiram” seu sentido dessas posições, isto é, em relação às formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem (ORLANDI, 1999, p. 42).

Os discursos apresentados nas edições em questão da revista Língua Portuguesa, na

perspectiva da AD demonstram que o domínio da Língua Portuguesa é tão importante

quanto à especialização tecnológica para a qualificação de profissionais para atuação no

mercado de trabalho atual. Ainda que, por vezes, fica expresso nas entrelinhas dos discursos

veiculados na referida revista as formações discursivas, tanto quanto as formações

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ideológicas, no que diz respeito à relevância da Língua Portuguesa para a construção da

imagem do perfil profissional exigido por esse novo mercado de trabalho, a partir das

convicções sócio, econômicas e culturais de determinados grupos sociais.

A revista Língua Portuguesa foi escolhida como material para esta discussão, por ser

um veículo de grande circulação no país, voltado para um o público atuante no ensino de

Língua Portuguesa, profissionais das diversas áreas do mercado empresarial, bem como para

as pessoas que desejam entender melhor o funcionamento da língua materna e estudantes de

modo geral.

4.1 Prepare seu português7

Começamos nossa análise pelo título da reportagem da edição Nº 51: Prepare seu

português. Primeiro, associamos o verbo preparar à questão do trabalho. No Dicionário Novo

Aurélio (1999, p. 1631), preparar tem a seguinte definição: “[..] 2. Planejar com antecedência;

premeditar: o inimigo prepara um ataque. [...] 4. Favorecer o aparecimento ou a evolução de;

promover, provocar, fomentar: o militarismo prepara a guerra.” (grifo do autor). O

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001, p. 2289), apresenta a definição a seguir:

[...] 4 t.d. por em condições adequadas para (alguma coisa posterior) <p. um paciente para cirurgia> <p. os cabelos de uma cliente para a pintura> 5 t.d. e pron. ensinar ou estudar com alguma finalidade; educar(-se), habilitar(-se) <p. alunos para a prova> p. –se para o concurso> <p. –se para a vida religiosa> (grifo do autor).

Diante das definições propostas pelos dicionários supracitados, concluímos que:

“preparar” significa se organizar para enfrentar algo. Nesse caso, o que vai ser enfrentado é a

língua materna, identificada na expressão “seu português”.

Vestergaard (2004, p. 48), define a linguagem verbal da seguinte forma: “sempre que

dizemos alguma coisa, temos que escolher entre as formas de tempos e conjugações de que a

língua dispõe (“encontra”, “está encontrando”, encontrou-se”, tinha-se encontrado” etc.)”.

Neste sentido, podemos afirmar que na referida matéria, o uso do verbo no imperativo

segue a regra da linguagem de propaganda, fazendo assim, um apelo para que o leitor que

esteja interessado em investir alto em sua capacitação profissional se sinta mais motivado.

7 Título da reportagem na revista Língua Portuguesa Nº 51, 2010, p. 26.

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Desse modo, deixa o leitor em estado de atenção. Devemos ressaltar que o próprio verbo na

sua forma imperativa afirmativa “prepare”, com intenção de ordem, alerta, já causa este

impacto.

Provavelmente, a formação ideológica apresentada nas entrelinhas desta reportagem

pelo redator, é o posicionamento de profissionais da área de Língua Portuguesa e, portanto,

a reportagem reflete posicionamentos de pessoas desta área. “[...] boa parte de nossas

atividades discursivas servem para atividades de controle social e cognitivo. Quando

queremos exercer qualquer tipo de poder ou de influência, recorremos ao discurso”. (A.

MARCUSCHI, 2008, p. 162).

A modalidade particular do funcionamento da instância ideológica quanto à reprodução das relações de produção consiste no que se convencionou chamar interpelação, ou o assujeitamento do sujeito como sujeito ideológico, de tal modo que cada um seja conduzido, sem se dar conta, e tendo a impressão de está exercendo sua livre vontade, a ocupar o seu lugar em uma ou outra das duas classes sociais antagonistas do modo de produção (ou naquela categoria, camada ou fração de classe ligada a uma delas) (PÊCHEUX, 1997, p. 165-166, grifo do autor)8.

Nessa perspectiva, a ideologia proposta pelo autor desta reportagem é a de que o

sujeito precisa ter certo domínio da língua materna para ser aceito em sociedade. Quanto aos

receptores/leitores, inseridos num contexto em que se valoriza a variante culta da Língua

Portuguesa, sendo esta o modelo que deve ser seguido, acabam por se convencer que

realmente necessitam de auxílio para o aperfeiçoamento, apropriação e domínio dessa

modalidade do vernáculo.

O subtítulo, apesar de ser apresentado em letra com uma fonte menor que o título, está

destacado em negrito e reforça a ideia do título e da própria reportagem: Dez cuidados

básicos para quem deseja aumentar o domínio do idioma e melhorar sua capacidade de

comunicação no ano que se inicia. Esta chamada tem por objetivo situar o leitor no assunto

a ser discutido no corpo da reportagem, a capacidade comunicativa dos profissionais. O

assunto é apresentado como sendo de grande relevância, além de deter o poder de decisão

sobre a pessoa responsável pelo recrutamento de candidatos a uma vaga no mercado de

trabalho.

Na perspectiva da Análise do Discurso, levando-se em consideração tanto o contexto

histórico, quanto social para a constituição do sentido, a reportagem elaborada e divulgada em

8 PÊCHEUX, Michel; FUCHS, Catherine. [1975]. A propósito da Análise Automática do Discurso: atualização e perspectivas. In: GADET, Françoise; HAK, Tony (orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1997. p. 163-252.

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janeiro, início do ano de 2010, considera-se propício o uso do título Prepare seu português.

Há uma formação ideológica que aponta algumas expectativas geradas na maioria das

sociedades, para as quais o início de cada ano, é o momento em que as pessoas estão em

busca de mudanças para sua vida pessoal, profissional, espiritual e social. Trata-se de uma

formação ideológica e discursiva, tendo em vista que a reportagem foi elaborada e publicada

um ano após o início da reforma ortográfica, período de transição para as novas regras

estabelecidas pelo novo acordo ortográfico dos países que falam Língua Portuguesa.

No que diz respeito aos estudos teóricos sobre formação discursiva, Eni Orlandi (1999,

p. 43) diz que:

A noção de formação discursiva, ainda que polêmica, é básica na Análise de Discurso, pois permite compreender o processo de produção dos sentidos, a sua relação com a ideologia e também dá ao analista a possibilidade de estabelecer regularidades no funcionamento do discurso (Idem, p. 43).

Tão propício quanto o título foi a escolha do subtítulo, supracitado, no qual o editor

informa ao leitor que este vai encontrar uma “receita” para melhorar sua capacidade

comunicativa, e a quantidade de cuidados que ele vai precisar seguir para obter tal resultado.

A ideia da “receita” reforça a formação discursiva de que há um modelo a ser seguido.

Considerando que a formação discursiva “se define como aquilo que numa formação

ideológica dada – ou seja, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica

dada – determina o que pode e deve ser dito” (Op cit, p. 43), inegavelmente, por alegoria,

assim como a receita tem duas partes - uma da descrição dos ingredientes e outra do modo de

fazer - a língua também tem seus ingredientes e seus modos de uso. A este discurso subjaz a

concepção de que há um modo certo de combinar os elementos linguísticos para produzir o

modo certo de falar e escrever.

Há outra formação discursiva que pode ser depreendida da interpretação dos leitores: a

de que é preciso aprender a “receita” do bem falar e escrever. Daí, quem não aprende a

receita, não tem competência comunicativa, logo não está apto a uma vaga no mercado de

trabalho.

Enquanto a linguagem verbal utiliza-se dos diversos recursos linguísticos e técnicas de

apresentação do texto, na linguagem visual (a imagem) não precisa escolher tempos verbais.

A modalidade visual é atemporal.

Na imagem a seguir, não fosse o número referente ao ano de 2010, não saberíamos

dizer a que tempo ela se refere. As pessoas que aparecem na imagem nos trazem uma

informação de reforço do título e subtítulo da reportagem. O recorte nos remete a situação de

uma maratona, a largada de uma corrida, em que as pessoas estão preparadas para dar início.

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Todavia, nesta situação não é uma corrida ligada a atividade física, mas sim a corrida pela

busca de um “bom emprego”. Nesta corrida, quem estiver mais e melhor preparado, vence.

Pode-se observar que as pessoas na imagem acima, estão vestidas para um ambiente

de trabalho que nos remete a altos cargos. As roupas são formais. Tanto os homens quanto as

mulheres estão com vestimentas de executivos ou de algum ambiente de trabalho que exija

certa formalidade.

Figura 2 – Reportagem Prepare Seu Português/Edição Nº 51 - 1 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 51, 2010, p. 26.

A seta em sentido progressivo é outro recurso utilizado com o objetivo de reforçar a

mensagem. O tom laranja da seta não é meramente figurativo. Pode-se fazer uma leitura dessa

imagem, onde chama a atenção do leitor, pois além de ser uma cor forte, a cor laranja está

associada à criatividade e nos lembra também a cor do verão (calor, diversão, atitudes

positivas e liberdade).

Do ponto de vista da AD, em sua formação discursiva, neste texto, a cor laranja pode

ser entendida também como a cor da comunicação, do equilíbrio, da segurança, da confiança.

Basta observarmos que as pessoas que trabalham em áreas de riscos e ambientes de alta

periculosidade usam roupas na cor laranja ou com faixas luminosas também nesta cor. Vale

lembrar que as faixas de sinalização que indicam riscos também são desta cor. Assim, o leitor

deste texto precisa ter uma dimensão exata da importância de se preparar para as novas

exigências do mercado de trabalho atual.

Sobre a cor, Káthia da Motta Soares Ramos, em sua dissertação de mestrado (2008, p.

36) apresenta uma informação importante para nosso trabalho:

Há uma enorme energia que vem das cores e que influencia nosso estado de espírito, pois tem efeito sobre o nosso humor. Contudo, as cores podem, também, transmitir ideias ou conceitos. [...] Quando associada a uma idéia, numa determinada circunstância, a cor funciona como um símbolo. Na nossa cultura temos diversos exemplos muito conhecidos, como:

Branco se iguala à paz, pureza Vermelho representa perigo, paixão, revolução Preto representa luto

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Amarelo representa atenção Rosa remete ao sexo feminino (para os bebês) Azul remete ao sexo masculino Violeta lembra quaresma, paixão de Cristo.

Na imagem anterior, nota-se a preocupação com o recurso visual, em que há a junção

de duas imagens formando uma só imagem. Essa é uma vantagem oferecida pelo sistema

digital, em que as novas tecnologias permitem que se criem imagens perfeitas, bem próximas

da realidade a partir de uma formação fotográfica mais símbolos, definindo assim, um novo

modo de criação imagética, ou seja, a imagem híbrida.

A fotografia é dominada pelo elemento visual em que interatuam o tom e a cor, ainda que dela participem a forma, a textura e a escala. Mas a fotografia põe diante do artista e do expectador o mais convincente simulacro da dimensão, pois a lente, como o olho humano, vê, e expressa aquilo que vê em uma perspectiva perfeita. (DONDIS,1997, p. 216)

O uso das figuras no discurso jornalístico, neste caso a reportagem, não possui apenas

caráter ilustrativo da informação verbal. As figuras ou fotos têm a capacidade de influenciar o

leitor a decidir pela leitura, ou não, de um determinado texto.

Abordando o assunto discutido nesta reportagem, Prepare seu português, com uma

maior amplitude, a revista Língua Portuguesa apresenta aos leitores, como bem preconiza o

subtítulo da referida reportagem, 10 cuidados essenciais os profissionais que deseja

melhorar e aumentar a capacidade comunicativa de profissionais, utilizando a

modalidade culta da Língua Portuguesa.

Em função disto, analisaremos cada um desses cuidados, observando a interação entre

a linguagem escrita e visual. Texto e imagem se complementam para produzir melhor

compreensão do assunto abordado nesta reportagem.

O primeiro cuidado abordado pela reportagem é quanto à sintaxe. O leitor precisa ser

cauteloso até quando relata algo sobre suas atividades extras profissionais, afinal o uso correto

dos tempos e modos dos verbos precisa ser “impecável”. Uma linguagem sem tropeços9 é

sinônimo de propriedade da língua materna em sua modalidade culta. Subentende-se a partir

daí, que o indivíduo terá habilidades e competências para fazer uma boa representação da

empresa na qual ocupa ou ocupará uma determinada função.

Todo o discurso contido na imagem a seguir, levando em consideração a interação

discursiva entre texto e imagem, está voltado para a preparação do português, como sugerido

9 Expressão usada no artigo Prepare seu português, para representar erros cometidos com frequência por profissionais das diversas áreas. (Língua Portuguesa, 2010, p. 27).

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no título da reportagem. A discussão acerca do uso adequado das normas que regem a língua

portuguesa ocupa toda a reportagem.

Do ponto de vista da Análise do Discurso, não devemos menosprezar “a força que a

imagem tem na constituição do dizer. O imaginário faz necessariamente parte do

funcionamento da linguagem. [...] assenta-se no modo como as relações sociais se inscrevem

na história e são regidas, em uma sociedade como a nossa por relações de poder” (ORLANDI,

1999, p. 42).

Figura 3 – Reportagem Prepare Seu Português/ Edição Nº 51 - 2 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 51, 2012, p.26- 27.

Esta reportagem chama a atenção dos profissionais, de diversas áreas, para o cuidado

que estes devem ter com o uso das palavras, quanto à concordância tanto na escrita quanto na

oralidade. Abaixo quadro ilustrativo identificando, quanto ao uso da variante culta, desvios

frequentes na sintaxe.

Tabela 2 – Desvios Frequentes na Sintaxe

O TROPEÇO A EXPLICAÇÂO O CORRETO

"Há" dez dias "atrás" eu estava no Nordeste.

Redundância. "Há" e "atrás" têm a mesma função de indicar passado na frase.

"Há dez dias eu estava no Nordeste" ou "Dez dias atrás eu estava no Nordeste"

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Entre "eu" e você. Depois de preposição (no caso, "entre"), usa-se "mim" ou "ti".

Entre "mim" e você.

Preferi sair da cidade "do que" ficar.

Prefere-se sempre uma coisa "a" outra. Preferi sair "a" ficar.

A guia era "meia" boba. "Meio", como todo advérbio, não varia (não vai para o plural nem muda de gênero).

"meio" boba

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 51, 2010, p. 27.

Entende-se que o uso equivocado de palavras e/ou expressões na elaboração de um

texto, pode levar o indivíduo a situações embaraçosas durante sua apresentação, seja esta oral

ou escrita. Portanto, o profissional deve está atento e adquirir o hábito de revisar seus textos,

buscando corrigir possíveis falhas, baseando-se nas regras gramaticais e ortográficas da

Língua Portuguesa.

Os pés calçados em sapatos femininos de cores fortes e vivas agregam à imagem a

ideia da preocupação com a coerência diante do uso correto das cores e palavras dentro de um

texto, para uma visão agradável e o entendimento pelo público leitor, obedecendo aos padrões

da modalidade culta da língua. Na perspectiva da Análise do Discurso, percebe-se na

interação texto e imagem, uma formação ideológica de que a mulher é mais cuidadosa, mais

preocupada com a imagem que o homem. Por isso, os pés que aparecem pressupõem pés

femininos, calçados em sapatos também femininos. Observa-se ainda a presença marcante da

imagem da seta e números (ano) em sentido progressivo, o que pressupõe a busca pelo

conhecimento e crescimento profissional.

Ainda na referida reportagem, o segundo cuidado está ilustrado pela imagem de uma

prancheta. São apresentadas sugestões quanto ao cuidado com a ortografia. Mais uma vez a

imagem está associada à linguagem verbal. A prancheta é utilizada para servir de apoio no

momento da escrita. Há a presença de um lápis, representando a matéria prima indispensável

na escrita (salvo textos digitados). E também a imagem de uma mão, destacando o dedo

polegar, que dá a ideia de sustentação.

Além do mais, o foco no dedo polegar, que representa a marca digital, é indicado

como referência da identidade do indivíduo, como também representa a assinatura (escrita)

das pessoas que fazem parte da categoria considerada analfabeta. Devemos considerar ainda a

importância fundamental do dedo polegar em nossas atividades comum do dia a dia, cujo

apoio permitido pelo movimento deste dedo é imprescindível no manuseio de objetos, como

segurar os talheres, por exemplo, e em alguns movimentos.

Por tudo isso, é possível concluir que a associação da imagem do polegar juntamente

com a prancheta nesta reportagem, também não é meramente ilustrativa, há um efeito

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discursivo aí produzido. Tem-se, portanto, as seguintes formações ideológicas: a língua como

identidade de uma nação, a variante culta da Língua Portuguesa como sustentação e

consequentemente o caminho para ascensão para a vida profissional, social, econômica e

cultural do sujeito, além da ideia de superioridade da escrita sobre a fala.

Observa-se também a seguinte formação discursiva: valorização da linguagem escrita

em detrimento da linguagem falada, enaltecendo as pessoas que sabem ler e escrever bem, ou

seja, dando relevo às competências comunicativas nas modalidades oral e escrita do

indivíduo. Como se pode observar na imagem abaixo, há um cuidado com a utilização dos

elementos visuais agregados a linguagem verbal.

O discurso desta reportagem possui uma combinação de recursos verbais e não-verbais

que procuram convencer o leitor a seguir uma “receita” para conseguir crescer em sua vida

profissional. Para alcançar este objetivo, são utilizados elementos como as cores e imagens;

fontes de tamanhos variados, frases curtas, linguagem de fácil compreensão, mas, nem por

isso, sem clareza e concisão.

O próximo cuidado apresentado nesta reportagem é quanto aos vícios de linguagem.

Estes vícios não agradam aos ouvidos de “leitores exigentes”.

Figura 4 – Reportagem Prepare Seu Português/Edição Nº 51 - 3 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 51, 2010, p. 28-29.

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O terceiro cuidado, com o título férias para as muletas, alerta para o cuidado que se

deve ter no que diz respeito ao uso de expressões caracterizadas como vícios de linguagem,

tais como: “("entende?", "veja bem!", "como eu estava falando" etc.)” (Luiz Carlos Pereira

Junior, Língua Portuguesa, Nº 51, 2010, p. 28). O uso demasiado dessas expressões, como

afirma o autor da reportagem, “acabam por produzir ruídos na comunicação quando usados a

todo instante, de forma indiscriminada, não raro destoando do contexto em que são usados e

sempre truncando ou simplificando em demasia o que expressamos” (Luiz Carlos Pereira

Junior, Língua Portuguesa, Nº 51, 2010, p. 28-29).

A imagem de uma pessoa no topo, aparentando estar próximo ao céu, erguendo duas

muletas como quem está se livrando delas, leva ao leitor o sentido de libertar-se de uma coisa

ruim, que poderá lhe causar transtornos no futuro, ou seja, tropeços10 na sua oratória. Esta

imagem reforça o subtítulo da dica e do conteúdo da reportagem, comece o ano sem os

cacoetes linguísticos que atormentam ouvidos e leitores exigentes, pois os vícios de

linguagem utilizados na oratória de um profissional causam má impressão da sua imagem a

seus ouvintes. Logo, afetará também a imagem da empresa que este representa.

Quanto ao quarto cuidado, a matéria apresenta em negrito a expressão: regra simples

para evitar decorebas. Como se pode observar na imagem apresentada, o assunto principal é

o uso da crase. O texto escrito é separado em duas partes pela imagem da letra “a” com crase,

no meio da imagem. A letra aparece em tom azul-água, aparentando uma textura de água.

Nas páginas 30 e 31, desta reportagem, são apresentadas os cuidados de número 5, 6, e

7, conforme imagem abaixo:

No cuidado de número cinco, permanece o modelo de apresentação das dicas: a

chamada em tom de laranja e subtítulo em negrito. Quanto ao conteúdo, destaca-se o “falar

bem”, como necessidade para que o indivíduo consiga estabelecer uma boa comunicação, a

adequação vocabular, e o contexto da fala. Além do discurso, aparecem dois interlocutores,

um de frente para o outro com uma peça de quebra cabeça entre a boca dos dois. A peça do

quebra-cabeça denota justamente o assunto abordado no subtítulo: Ao conversar, é preciso

adaptar-se ao nível de formalidade e reduzir a resistência da plateia à sua opinião, isso

quer dizer, a adaptação do sujeito ao contexto que ele está inserido no momento da sua fala,

para que se faça entender a mensagem recebida pelo seu interlocutor.

Não é novidade que há uma dificuldade para grande parte da população escrever um

texto. A tão temida redação faz parte dos exames pelos quais os candidatos a uma vaga de

10 Expressão usada no artigo Prepare seu português, para representar erros cometidos com frequência por profissionais das diversas áreas. (Língua Portuguesa, 2010, p. 27).

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emprego precisam ser submetidos. No cuidado de número seis, aparecem várias maçãs na cor

verde, indicando o passo a passo para obter sucesso nessa situação. Entretanto, na ponta

direita da imagem há uma maçã na cor vermelha.

No que diz respeito à imagem a seguir, em uma dada formação discursiva, a presença

das maçãs, nas cores verde e vermelha, pode sugerir a aquisição de conhecimento, haja vista

que essa fruta aparece nas sagradas escrituras como a responsável por “abrir os olhos“ de

Adão e Eva. Aqui a maçã está ligada a um alerta para a aquisição de conhecimento, ou como

sendo o conhecimento o objeto do desejo. Um detalhe que deve ser observado é a presença da

imagem de uma mão ao alcance, não por acaso, da maçã vermelha. Aqui, mais uma vez, a cor

chamando à atenção do leitor, neste caso a cor vermelha, que a autora Kátia de Matos Soares

ramos (2008) associa a essa cor a representação do “perigo”. Como sinalização o vermelho

significa “pare”. Por assim dizer, analisando mais uma possibilidade de formação discursiva

a partir desta imagem, veremos a descrição de como escolher os argumentos “certos” na hora

de organizar o texto. A autora deixa claro que se a escolha dos argumentos e vocabulário for

inadequada ao que se pretende anunciar ao leitor, essa atitude pode comprometer de forma

considerável a imagem do profissional e da empresa.

Figura 5 – Reportagem Prepare Seu Português/Edição Nº 51 - 4 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 51, 2010, p. 30-31.

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O sétimo cuidado, está relacionado à escrita de redação. A clareza é um ponto de

grande importância para que o texto elaborado possa ter um bom entendimento, bem como

preconiza o subtítulo desta dica: erro de português também ocorre porque não

conseguimos nos fazer compreender.

O tom em azul celeste como pano de fundo da diagramação das imagens e texto

apresentados para o cuidado sete nos remete a ideia de liberdade e fluidez, bem como de

transparência. A leveza das nuvens também está ligada a clareza da escrita. A imagem ao lado

do texto possibilita o entendimento de céu claro, céu azul; céu com tempo límpido e ótimo

para voar; céu com ótima visibilidade; tempo ótimo, descortinando a visão. O texto pode ser

escrito ou dito com clareza, para conseguir fácil entendimento. Deve ser coeso e coerente,

mesmo tendo o autor utilizado uma linguagem mais rebuscada.

A criatividade, como oitavo cuidado, está representada pela imagem de uma lâmpada.

Recorrente como metáfora visual que simboliza o surgimento de ideias, o conhecimento, o

ícone representa bem o que está escrito no subtítulo desta dica: ninguém nasce criativo, mas

pode desenvolver estratégias que melhoram seu texto. O objetivo é mostrar ao leitor que

ter ideias e utilizá-las de forma criativa faz toda diferença nas atividades de sua

profissão/função dentro da empresa em que trabalha ou pretende trabalhar.

Figura 6 – Reportagem Prepare Seu Português/Edição nº 51 - 5

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 51, 2010, 32-33.

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O nono cuidado, chama a atenção para um ponto que estudiosos da linguística

consideram relevante para a comunicação; a escrita na era da internet.

Em certo sentido, pode-se dizer que, na atual sociedade da informação, a Internet é uma espécie de protótipo de novas formas de comportamento comunicativo. Se bem aproveitada, ela pode tornar-se um meio eficaz de lidar com as práticas pluralistas sem sufocá-las, mais ainda não sabemos com isso se desenvolverá (A. MARCUSCHI, 2005, p. 13-14, Grifo do autor). O impacto das tecnologias digitais na vida contemporânea está apenas se fazendo sentir, mas já mostrou com força suficiente que tem enorme poder tanto para construir como para devastar (Idem, Ibidem, p. 13-14).

A imagem do monitor de computador com uma mão que salta de dentro dele e, ao

mesmo tempo, segura uma etiqueta com dicas de informação sobre a concisão de textos

escritos no ambiente virtual, ocupa o centro das duas páginas. Esta diagramação do texto

verbal e visual sugere a importância do cuidado com a escrita neste ambiente.

O texto da matéria apresentada como subseção “o zelo independe do meio” aponta

para a necessidade de o funcionário atentar para o fato de fazer uso da modalidade padrão da

língua, pois qualquer um pode ser solicitado a enviar uma mensagem eletrônica em seu

ambiente de trabalho, mesmo não tendo obrigação de fazê-lo, e por isso este profissional deve

está preparado para o desafio da escrita.

Aqui se percebe uma formação ideológica apresentada (sutilmente) no discurso da

revista Língua Portuguesa. Nas palavras do seu editor Luiz Costa Pereira Junior, responsável

pela redação da referida revista, há o discurso no qual o autor enfatiza que a língua escrita é

soberana, em seus mecanismos de funcionamento. Tais mecanismos precisam ser seguidos

para se conseguir reconhecimento, respeito, credibilidade no ambiente de trabalho e, por

conseguinte, na sociedade. O autor evidencia que o uso da linguagem escrita de “maneira

correta” induz ao leitor a pensar que o sujeito do discurso (redator) tem competências

comunicativas desenvolvidas.

Já o décimo cuidado “revisar o próprio texto”, mostra ao leitor que além de seguir

todas as outras dicas, é muito importante revisar o que se escreve. Conforme mostra a

reportagem, representada pela imagem de um pincel de corretivo, a atitude de revisão da

escrita evita as possibilidades de mal entendidos nos textos e ajuda corrigir as falhas de

ortografia, gramática e até mesmo quanto ao próprio assunto abordado na mensagem que se

pretende escrever.

Podemos observar ainda, o uso recorrente de verbos tanto no modo imperativo

afirmativo quanto no imperativo negativo: “verifique”, “corrija”, “evite”, “faça”, “não

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desvie”, “não insista”, “não omita”, entre outros. Se relacionarmos estes três últimos cuidados

com o título dessa reportagem, notaremos que um verbo no imperativo afirmativo abre a

reportagem: “prepare” e as formas negativas finalizam a reportagem.

Notamos ao longo da matéria, que os cuidados passam a ter “status” de conselho.

Compreendemos a partir dessa premissa, que o discurso subjacente realiza-se da seguinte

forma: “prepare-se, (não faça isso ou aquilo), se não...”.

4.2 Pecados corporativos11

Quando alguém folheia uma revista ou até mesmo um livro, alguns textos vêm

acompanhados de imagens de acordo com o assunto que está sendo abordado. Certamente, o

leitor observa a imagem antes do texto. Essa atitude é inconsciente, em qualquer leitor.

Como se pode observar, por exemplo, a imagem abaixo ocupa uma página inteira da

reportagem, o que nos leva a refletir a respeito da intenção do autor.

Figura 7 – Reportagem Pecados Corporativos/Edição Nº 52 - 1 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 28-29.

11 Título da reportagem na revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 28.

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O fato que primeiro chama a atenção do leitor dessa reportagem, edição 52/2010 da

revista Língua Portuguesa, é a imagem de um homem vestido de terno, a expressão facial

com um olho fechado e outro aberto, vermelho, bem como os pequenos chifres também

vermelhos, testa franzida, sobrancelha alçada, sugerindo a expressão de maldade, e remetendo

à representação do diabo (figura que simboliza o mal), ou Lúcifer, personagem bíblico que

pertence a um espaço chamado “inferno”, que representa o lugar onde o mal reside.

Na página anterior a da imagem do homem, o autor apresenta o título, destacando-o

com letras grandes e em negrito. O subtítulo tem aqui o objetivo de explicar o título: “os

problemas de escrita nas empresas que podem tornar a comunicação profissional um

inferno” . Pode-se inferir que a imagem de um homem com chifres vermelhos na cabeça,

atrelada à reportagem, é uma alegoria na comparação feita no subtítulo da matéria, ao expor

que a falta de habilidades com a boa comunicação dentro do espaço empresarial, gera

problemas catastróficos, desastrosos para a imagem do redator e, consequentemente, para as

empresas.

Uma segunda análise da imagem, agora relacionando-a com o título, pode-se

compreender que o homem está trajando um terno, remete a um ambiente empresarial, talvez

seja este homem um executivo. Normalmente, as pessoas desse setor precisam se apresentar

vestidas de maneira formal. O pecado, os problemas da escrita, ou seja, o não conhecimento

do funcionamento da língua materna, na modalidade culta, pode levar o profissional a muitos

problemas de comunicação dentro do ambiente de trabalho.

Os profissionais precisam estar atentos e bem preparados para os desafios de “ler e

escrever bem”, ou seja, devem buscar melhorias contínuas quanto a sua oralidade e escrita.

Aqui se verifica uma formação discursiva do editor, em que a não melhoria (o não

aperfeiçoamento) no uso da Língua Portuguesa, na sua variante culta, tanto na oralidade

quanto na escrita, resultará, em o profissional não obter sucesso em sua carreira profissional.

Já a aquisição desse conhecimento dignifica não apenas a vida profissional do sujeito,

como também a sua vivência na sociedade. Analisando uma formação discursiva, agora

voltada para o ponto de vista do entendimento do público leitor, o sujeito deve ter suas

habilidades comunicativas desenvolvidas, nas modalidades oral e escrita, ou seja, necessitam

da competência do saber se expressar publicamente, com clareza, não fugindo coesão e

coerência.

Lìgia Velozo Crispino, a autora dessa reportagem, é professora de Português e uma

das proprietárias da Companhia de Idiomas, empresa especializada em tradução, consultoria e

ensino de idiomas em São Paulo. Especialista na área de Língua Portuguesa, ela tem ciência,

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de que a falta de conhecimento sobre a língua materna tem chamado muito a atenção das

empresas, que ao procurar um funcionário que domine as regras da língua escrita não tem

obtido muito sucesso.

Figura 8 – Reportagem Pecados Corporativos/Edição nº 52 - 2

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 30-31.

Outro ponto importante que a autora chama atenção é a intensificação da leitura.

Segundo Lígia Velozo Crispino (2010), a leitura ajuda a melhorar o uso correto das regras

gramaticais. O conhecimento das regras gramaticais, pontuação, acentuação, uso da crase,

ortografia, torna a escrita mais fácil e esclarece dúvidas quanto ao uso de alguns verbos que

causam confusão no momento do seu uso.

A reportagem pontua a importância de possuir um vocabulário amplo, diversificado e

de qualidade, para que o candidato a uma vaga possa ocupar um cargo de nível mais elevado

dentro de uma empresa, além de contribuir para a aquisição de conhecimentos variados.

A imagem do homem vestido de terno e com chifres na cabeça aparece mais uma vez,

na imagem acima, desta vez com os dentes cerrados indicando certa irritação. Isso nos leva a

associar essa irritação com a falta de entendimento de redações empresarial por causa dos

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“equívocos frequentes da comunicação empresarial”, como afirma Lígia Velozo Crispino

(2010) nesta reportagem.

A imagem abaixo nos traz a ideia de que as pessoas não sentem prazer em ler.

Algumas pessoas leem somente por obrigação. Observando o texto que está associado à

imagem, a expressão facial do homem, na foto, denota o descontentamento, o desconforto

causado pela ideia que se tem do hábito de ler.

Figura 9 – Reportagem Pecados Corporativos/Edição nº 52 - 3

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 30-31.

Não menos importante para esta análise, é observar na imagem abaixo o destaque para

o tamanho das mãos, visivelmente, dando a impressão de estar maior que a cabeça. Isso se

deve ao fato da importância da leitura para que se tenha uma boa escrita e uma boa oratória.

A autora ainda apresenta vários pontos, de maneira sintetizada por meio de pequenos

textos apresentados separadamente em quadros, no que diz respeito aos deslizes cometidos na

escrita dentro das empresas. Sem uso de tantas imagens como na edição anterior analisada,

certamente, pelo tom mais sério ou cômico, impresso nas linhas desta reportagem. E talvez

isso tenha a ver com o público para o qual se destina o assunto abordado nesta reportagem.

Enquanto a primeira reportagem analisada, intitulada Prepare seu português vem

constituída de muitas imagens, dando uma leveza ao texto, apesar da seriedade do assunto, a

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reportagem Pecados corporativos, foi adotada uma postura com menos leveza, a medida que

a autora utiliza imagens fortes, com o propósito de transmitir também um tom ainda mais

sério, observado até pela escolha das cores, verde com fundo branco, além de poucas imagens

e textos curtos apresentados separadamente em quadros.

Por esta razão, julgamos importante destacarmos aqui, alguns dos equívocos que

atrapalham a comunicação empresarial, dos quais também estão destacados na imagem que

antecede a este parágrafo especificamente nas páginas 30-33, associados ao título da

reportagem em análise, Pecados Corporativos:

� O uso equivocado dos verbos “haver” e “fazer", os quais conforme as regras

gramaticais, quando usados no sentido de “existir” e “ocorrer”, os respectivos

verbos tornam-se impessoais, ou seja, não devem ser flexionados.

O verbo haver, usado no sentido de existir apresenta a mesma forma no singular e no

plural, pois não possui sujeito, por isso não varia.

Tabela 3– Desvios Frequentes na Sintaxe

EQUIVOCADO CORRETO Houveram muitas chuvas no mês de novembro. Houve muitas chuvas no mês de novembro. Haviam muitas pessoas na palestra. Havia muitas pessoas na palestra.

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 30-31.

O verbo fazer quando designa tempo ou fenômenos da natureza, também não tem

sujeito, portanto, é invariável, e é igual no singular e no plural.

Tabela 4 – Desvios Frequentes Uso Verbo “Fazer”

EQUIVOCADO CORRETO Fazem quatro meses que trabalho aqui. Faz quatro meses que trabalho aqui. Fazem anos que não a vejo. Faz anos que não a vejo.

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 30-31.

� O cuidado com o uso equivocado da crase pode evitar grandes constrangimentos.

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Conforme as regras gramaticais, a crase não ocorre: antes de palavras masculinas;

antes de verbos, de nomes de cidade que não utilizam o artigo feminino, de pronomes

pessoais e de expressões com palavras repetidas (dia a dia).

Tabela 5 – Desvios Frequentes Uso da Crase

Ocorre a crase sempre que, ao substituir a palavra feminina por uma masculina, parece a combinação ao.

"Amanhã iremos ao colégio." = "Amanhã iremos à escola."

Se vou a e volto da, crase há. "Se vou à biblioteca e volto da biblioteca." Se vou a e volto de, crase pra quê? “Se vou a Goiania e volto de Goiânia.”

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 30-31.

� Problemas e dificuldades quanto a concordância de sujeito e verbo:

Tabela 6 – Desvios Frequentes Concordância Verbal

EQUIVOCADO CORRETO

Aconteceu muitos casos de reclamação de clientes. Aconteceram muitos casos de reclamação de clientes.

Segue os documentos necessários para o cadastro Seguem os documentos necessários para o cadastro

Ocorreu nos meses de agosto e setembro sérias crises econômicas.

Ocorreram nos meses de agosto e setembro sérias crises econômicas.

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 32-33.

� Atenção redobrada com a pontuação, pois a pontuação tem o poder de mudar

completamente o sentido da oração:

Tabela 7 – Desvios Frequentes com Uso da Pontuação

EQUIVOCADO CORRETO

Foram apresentadas na última reunião, duas soluções para este problema.

"Foram apresentadas, na última reunião, duas soluções para este problema". Ou: "Foram apresentadas na última reunião duas soluções para este problema."

Nós obedecemos incondicionalmente, ao código de conduta da empresa.

"Nós obedecemos, incondicionalmente, ao código de conduta da empresa." Ou: "Nós obedecemos incondicionalmente ao código de conduta da empresa."

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 52, 2010, p. 32-33.

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4.3 A carreira nas alturas12

Na próxima imagem, que abre a reportagem da edição 63, da revista Língua

Portuguesa, a primeira impressão é a de estarmos abaixo das duas pessoas que aparece na

foto. Essa sensação está intrinsecamente associada ao título, A carreira nas alturas.

Nesta reportagem, a cor das letras do título é branca e não preta como nas reportagens

anteriores. A forma de apresentação da matéria traz ao leitor a leveza de estar no alto através

das cores azul, como pano de fundo da foto, representando o céu e o branco nas letras, mais

uma vez, remete às nuvens.

Figura 10 – Reportagem A Carreira nas Alturas/Edição Nº 63 - 1 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 63, 2011, p. 36.

No subtítulo: Dificuldades com o idioma passam a incomodar cada vez mais os

profissionais do mercado, que lotam cursos de reciclagem em português e comunicação,

podemos compreender o porquê do uso da cor vermelha na lateral da reportagem e nas

12 Título da reportagem na revista Língua Portuguesa Nº 63, 2011, p. 36.

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chamadas dos pequenos textos da página ao lado: a cor no tom forte e chamativo do

vermelho, expressa tom de alerta para o leitor, para as dificuldades com a língua materna que

se tornam a cada dia mais visíveis.

A frase que dá início ao texto desta reportagem, “A água está nos joelhos dos

profissionais do mercado”, confirma o tom de alerta trazido pela cor vermelha utilizada no

layout da primeira página. Esse tom de alerta está presente em toda a reportagem. As

chamadas para pontos em que o profissional precisa melhorar estão todos destacados em

vermelho.

Na imagem a seguir, bem como na imagem anterior, é apresentada a forma como foi

disposto o conteúdo da reportagem. Além das chamadas em vermelho na forma de círculo,

estas contêm a numeração dos pontos abordados em forma de textos curtos, e ainda acima dos

números, aparece a palavra “erro”, o que chama ainda mais a atenção do público leitor.

Figura 11 – Reportagem A Carreira nas Alturas/Edição Nº 63 - 2 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 63, 2011, p. 38-39.

Na imagem acima, observa-se que no canto inferior direito, aparece a imagem de

quatro bonecos, montando peças de um quebra cabeças em linha progressiva, onde, no topo

um dos bonecos aparece com um megafone, representando o poder da fala, o perfil para

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liderança. Sabe-se que para montar um quebra cabeças a pessoa passa por vários momentos de

dúvidas e incertezas na hora de fazer o encaixe de alguma peça dependendo do nível de

dificuldade do jogo, e o jogador precisa ter certa agilidade, raciocínio lógico para encaixar

corretamente as peças e dar forma a imagem que foi dividida em pequenos pedaços.

O progresso na carreira profissional é represento no quebra cabeças como crescimento

profissional no que diz respeito à aquisição do conhecimento. Ter habilidades e competências

na escrita e na oralidade faz com que o profissional realize suas atividades profissionais com

agilidade e confiança. E sabemos que a agilidade supera a força física.

Os textos apresentados nas imagens da reportagem Carreira nas Alturas, bem como

nas imagens anteriores na análise das reportagens Prepare seu Português e Pecados

Corporativos, reforça a importância da linguagem nas modalidades oral e escrita para a

carreira profissional do sujeito. Nesta reportagem, a autora Adriana Natali, discute sobre o uso

das regras gramaticais, assim como verificamos na análise das reportagens supracitadas.

Figura 12 – Reportagem A Carreira nas Alturas/Edição Nº 63 - 3

Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 63, 2011, p. 40-41.

Além de discutir sobre a sintaxe, ortografia, vícios de linguagem, oratória, técnicas de

redação, clareza, criatividade, concordância, pontuação, na reportagem Carreira nas Alturas,

a autora discute também os seguintes assuntos: prolixidade, queísmo, gerundismo, regência, e

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pronomes. O autor esclarece em cada tópico, respectivamente, sobre a necessidade de se

trabalhar com a elaboração de discursos, orais e escritos, de maneira concisa e objetiva. Evitar

a utilização dos verbos no gerúndio, além do uso excessivo dos “que” em períodos curtos.

Cuidados com a mistura de regência verbal nos textos informativos, e também com a má

colocação dos pronomes oblíquos nos textos.

A imagem de uma pessoa usando fone e microfone, aparentando está em uma sala de

telemarketing, vem reforçar ainda mais a importância da língua portuguesa na sua variante

culta, visto que o instrumento principal do profissional de telemarketing é a linguagem na

modalidade oral. Por isso, o profissional desta área deve investir no conhecimento do

vernáculo, objetivando a boa comunicação com pessoas pertencentes aos diversos níveis

escolares, culturais e sociais.

Na última página desta reportagem são apresentados dois dos equívocos mais

cometidos pelos profissionais do setor empresarial: “problemas de pontuação, principalmente

da vírgula” e “falta de revisão do que escreve”. Observe que no décimo quinto erro

apresentado nesta reportagem, novamente aparecem os bonecos e as peças de quebra cabeças.

Figura 13 – Reportagem A Carreira nas Alturas/Edição Nº 63 - 4 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 63, 2011, p. 42.

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Para se compreender melhor esta representação basta associar esta imagem aos tópicos

tratados na reportagem. Os assuntos relacionados ao funcionamento da língua materna são

como um quebra cabeças, daí a intenção dessa imagem aparecer para fechar a reportagem.

4.4 No canteiro de obras13

Ao folhear a revista, a primeira coisa que nos chama atenção é essa imagem com

vários trabalhadores do setor da construção civil. O título tem uma interação perfeita com a

imagem. Mas qual a inter-relação entre essa reportagem e Língua Portuguesa? O subtítulo

tem o objetivo de situar o leitor nessa reportagem: empresas e organizações começam a

perceber que a qualificação profissional em língua portuguesa é tão importante quanto a

especialização tecnológica.

Figura 14 – Reportagem No Canteiro de Obras/Edição Nº 72 - 1 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 72, 2011, p. 22-23.

13 Título da reportagem na revista Língua Portuguesa Nº 72, 2011, p. 22.

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Essa reportagem, diferentemente das analisadas anteriormente, não apresenta dicas

quanto ao uso da Língua Portuguesa para o público leitor. Leonardo Fuhrmann, autor desta

reportagem, apresenta dados de pesquisas realizadas no Brasil14, no que diz respeito às

necessidades das organizações empresariais investirem na qualificação profissional em

Língua Portuguesa para seus funcionários, com o objetivo de melhorar não só o aprendizado

e a imagem dos seus funcionários, mas principalmente, a imagem de sua empresa.

Esta reportagem discute pontos importantes, em que o mercado de trabalho atual

sinaliza ser necessário a adaptação por parte dos profissionais e das empresas. No primeiro

ponto, denominado “saber é trabalhar”, o autor traz a informação referente a taxa de

desemprego que tem diminuído, apesar de muitos trabalhadores ainda não estarem

qualificados profissionalmente para ocupar o cargo. Outra informação é que as empresas

enfrentam a dificuldade de não encontrar mão-de-obra qualificada.

O segundo ponto, “Trabalhar o saber”, informa que a falta de mão-de-obra qualificada,

falta de profissionais com experiência na função e a deficiência na formação básica dos

candidatos, tem forçado empresas do setor da construção civil a investir em recursos para

formação dos seus funcionários no que diz respeito à educação básica. Neste discurso, a

formação ideológica do saber ler e escrever corretamente representa a busca pela aquisição e

aperfeiçoamento do conhecimento.

Em outras palavras, os profissionais desta área, bem como de quaisquer outras, devem

se atentar quanto à sua capacidade de interpretação no que se refere as informações recebidas

em seu ambiente de trabalho, visto que, “o fato mesmo da interpretação, ou melhor, o fato de

que não há sentido sem interpretação, atesta a presença da ideologia. [...] e, além disso, diante

de qualquer objeto simbólico o homem é levado a interpretar, colocando-se diante da questão:

o que isso quer dizer?” (ORLANDI, 1999, p. 45).

O terceiro ponto, “O saber trabalhar”, sinaliza, também, a importância de o trabalhador

saber ler e escrever corretamente para que eles possam compreender as sinalizações de

segurança, instruções e outros pontos importantes dentro do seu ambiente de trabalho. A

formação discursiva encontrada é a de que o sujeito do contexto atual necessita desenvolver

sua capacidade comunicativa tanto na oralidade quanto na escrita, pois ele está inserido em

14 Pesquisa realizada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), e pela Fundação Dom Cabral, sobre o desemprego e a carência de profissionais no Brasil. O resultado da pesquisa apontou que o desemprego era de aproximadamente 17,9% em 2005 e fechou em 11,9% em 2010. Quanto à carência de profissionais, levou-se em conta profissionais dos níveis técnico, operacional, estratégico e tático, em que apontou em 49% falta de experiência na função e 42% deficiência na formação básica dos candidatos. (revista Língua Portuguesa, nº 72, 2011, p. 23).

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um mundo “dominado” pela linguagem. E ainda há também uma formação ideológica que

valoriza a linguagem escrita em detrimento da linguagem falada.

Quanto à “escolaridade”, é um tema bastante discutido na atualidade e também é

destaque nesta reportagem. A matéria nos fornece dados15 da baixa escolaridade e a qualidade

de ensino dos brasileiros em relação a outros países. Esta reportagem traz informações de que

com a descoberta do pré-sal, as empresas petrolíferas criaram cursos de qualificação desde o

ano de 2003. As empresas precisaram investir em seus funcionários porque com a carga

horária de trabalho e outros afazeres de suas vidas pessoais, esses funcionários não teriam

condições de voltar à escola. Assim o Prominp16 oferece cursos de qualificação para os

profissionais dos níveis de ensino básico, médio, técnico e também superior.

Figura 15 – Reportagem No Canteiro de Obras/Edição Nº 72 - 2 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 72, 2011, p. 24-25.

15 Dados fornecidos pelo pesquisador Paulo Roberto Cobucci, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) (Língua Portuguesa Nº 72, 2011, p. 24). 16 Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e gás) (Língua Portuguesa Nº 72, 2011, p. 24).

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Outro ponto abordado nesta reportagem é quanto ao “aprimoramento”. Percebemos

que dados de pesquisas17 são inseridos nesta reportagem, para dar respaldo a fala do autor.

São citadas importantes instituições e pessoas dessa área de pesquisa para validar o discurso.

O autor apresenta dados sobre o analfabetismo no Brasil, e o que tem sido feito em algumas

empresas para a redução desta taxa.

Para cerrar essa questão de aprimoramento o autor coloca a fala de uma professora da

Universidade de São Paulo:

Para a professora da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Maria Clara di Pierro, especialista em educação de jovens e adultos, o problema da falta de habilidade dos trabalhadores para tarefas do mercado de trabalho não é um problema apenas do Brasil, e inclusive foi tema de uma convenção da OIT (Organização Internacional do trabalho). - Estamos em uma fase do conhecimento tecnológico que exige mais das pessoas do que algumas habilidades específicas. O mercado não tem mais o mesmo espaço para atividades simples e repetitivas - analisa. (Leonardo Fuhrmann, 2011, p. 25).

A próxima imagem ocupa a parte superior do centro das duas páginas da reportagem

em análise:

Essa imagem confirmar o que a reportagem apresenta a respeito do investimento

disponibilizado por algumas empresas para formação básica no aprendizado da Língua

Portuguesa para os funcionários. Geralmente, os trabalhadores, após o expediente, têm duas

horas de aula para aprimorarem seus estudos.

Na “Preparação” é discutido o fato de o mercado de trabalho estar mais exigente, e

isso se deve ao surgimento de novas tecnologias. Consequentemente, as mudanças

tecnológicas aludem à necessidade de profissionais que estejam preparados para enfrentar

essa nova condição.

A imagem seguinte é de uma plataforma de petróleo: Plataforma offshore. Segundo a

reportagem, os administradores, perceberam a necessidade de investir na formação básica de

seus funcionários. O enquadramento da imagem abusa no uso do limite da página como forma

de permitir que o leitor faça a leitura das entrelinhas, a plataforma nos sugere que o mercado

de trabalho cresceu e precisa de pessoal qualificado para desempenhar funções que surgiram a

partir do desenvolvimento tecnológico.

O último ponto abordado é a “Evasão”. Faz parte da realidade das escolas

convencionais e não podia ser diferente nesses projetos dentro das empresas. A evasão dentro

17 Pesquisa realizada através do Instituto Paulo Montenegro, que há aproximadamente 10 anos criou o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), em parceria com a Ação Educativa. (Língua Portuguesa Nº 72, 2011, p. 24).

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dos projetos nas empresas está mais ligada a grande rotatividade do setor. Há muitas

transferências, o que de alguma forma faz com que alguns adultos deixem os estudos. Já que a

prioridade desses funcionários é conseguir os recursos necessários à sua sobrevivência os

estudos ficam sempre em segundo plano.

Figura 16 – Reportagem No Canteiro de Obras/Edição Nº 72 - 3 Fonte: Revista Língua Portuguesa Nº 72, 2011, p. 26.

Temos as seguintes formações discursivas aí sugeridas: a de que a escola é um lugar

desinteressante, que demora para trazer um retorno a quem se dedica; e que trabalhar é muito

mais importante. Para a maioria dessas pessoas não há como conciliar estudo e trabalho e uma

hora precisam escolher o que no momento é mais importante.

Na análise das reportagens apresentadas no corpus deste capítulo, foi possível

perceber que todo o discurso das reportagens está voltado para chamar a atenção do leitor

sobre a importância do conhecimento e domínio da língua materna em sua variante culta.

A primeira reportagem voltada para um público de jovens e adultos, prontos para

enfrentar o mercado de trabalho competitivo e com habilidade com a linguagem icônica,

trouxe a importância do aprimoramento da competência comunicativa utilizando uma

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linguagem mais informal. O termo “informal” aqui é tomado como uma linguagem que

mesmo escrita ou falada de acordo com o padrão da variante culta da língua, em alguns casos,

não expressa as informações de maneira clara e objetiva.

A segunda e terceira reportagem são mais direcionadas para o público das diversas

áreas profissionais, que precisam estar se atualizando, num processo de busca do

aprimoramentos de seus conhecimentos para representar bem a empresa em que trabalham. A

linguagem utilizada nessas reportagens assume um tom de maior discernimento quanto ao uso

das regras gramaticais da Língua Portuguesa na sua variante culta, apontando “equívocos”

comuns quanto ao uso de alguns elementos gramaticais.

A quarta reportagem chama a atenção dos empresários e executivos para a importância

de investimentos por parte das empresas na continuidade dos estudos de seus funcionários,

para capacitação e qualificação destes. Esta reportagem deixou claro que muitos funcionários

até tentam se dedicar aos estudos para melhorarem o seu desempenho no trabalho, mas

algumas vezes é preciso adiar devido às necessidades primárias de conseguir recursos para

sua própria sobrevivência. Algumas empresas têm colaborado para oferecer a oportunidade de

continuidade dos estudos a seus funcionários, embora, ainda um grupo pequeno adote essa

postura.

Ao longo desta análise, três palavras chamam a nossa atenção, pelo seu uso recorrente

nas três primeiras reportagens analisadas, nas edições de número 51/2010, 52/2010 e 63/2011:

“tropeço”, “equivocado” e “correto”. Uma observação a ser feita é que as duas primeiras

palavras podem se entendidas por eufemismo, utilizadas para suavizar o significado da

palavra erro. Diante disso, nos permite dizer, que se trata de uma formação discursiva que

valoriza a suavidade das palavras com o intuito de não “agredir” o outro apontando seu erro,

entretanto, não deixa de dizer que o outro errou em outras palavras. Nas palavras de Mussalim

(2006, p. 119) “[...] uma formação discursiva determina o que pode/deve ser dito a partir de

um determinado lugar social”.

Essa escolha nos faz lembrar que o sujeito não é livre para dizer o que quer, ele precisa

fazer escolhas daquilo a que se pretende escrever ou dizer e, essas escolhas estão ligadas a

formação ideológica que o guia constantemente numa dada sociedade.

Diante das considerações arroladas neste capítulo, não restam dúvidas quanto à

importância fundamental da necessidade de aprimoramentos da competência comunicativa,

no que diz respeito à linguagem nas modalidades escrita e oral da Língua Portuguesa, na sua

variante culta na hora de conseguir ou manter uma vaga de emprego no mercado de trabalho

atual.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As leituras exploradas durante as análises para elaboração deste estudo não foram

feitas no intuito de esgotar o tema. Embora, não haja como negar a multiplicidade de

interpretações possíveis de um mesmo assunto, sobretudo, se compreende que um tópico pode

ser lido de diferentes maneiras por várias pessoas. Ressaltamos, por isso, que as diversas

interpretações são concebidas a partir de seus posicionamentos ideológicos e seus

posicionamentos discursivos.

A realização deste trabalho de análise proporcionou momentos de aprofundamentos de

estudos a respeito do gênero reportagem, bem como dos elementos que fazem parte deste.

Além da análise dos discursos utilizados pelos autores em suas respectivas reportagens, para

atingir seus objetivos.

Entendemos que as edições das revistas analisadas constituem ferramentas valiosas na

veiculação de ideias de um grupo específico de pessoas, como por exemplo, professores e

pessoas da área de ciências humanas. E como todo discurso sempre traz uma carga ideológica,

foi possível perceber que o uso da linguagem verbal e da linguagem não-verbal utilizadas nas

reportagens analisadas, não foram escolhidos ao acaso, e possuem uma função no texto.

As escolhas feitas nesse gênero (reportagem), especificamente na revista em análise,

reforça a ideologia de que falar e escrever bem eleva o sujeito profissional, social, cultural e

economicamente. O sujeito deve estar sempre à procura de um reconhecimento, e como falar

e escrever bem dão a chance de o sujeito ter esse reconhecimento, ele, provavelmente, vai

observar as dicas fornecidas por um grupo de especialistas para obtenção do seu objeto de

desejo.

A propósito, nos discursos das reportagens analisadas neste trabalho, os autores

destacam a importância do domínio da Língua Portuguesa por parte dos profissionais, sem

distinção de cargos (executivos/operários) a serem exercidos numa empresa. O foco das

reportagens é incentivar a aquisição e/ou o aprimoramento do domínio da língua materna, em

sua variante culta, e ainda o desenvolvimento das competências comunicativas para qualquer

que seja a área de atuação a ser exercida por esses profissionais.

Além disso, a exigência do conhecimento da Língua Portuguesa, na sua variante

culta, no mercado de trabalho atual, faz com os profissionais caminhem em direção a uma

busca incessante para esse aprimoramento das competências sócio-comunicativas. Assim,

aumentarão as possibilidades de alcançar uma vaga neste mundo do trabalho, hoje tão

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competitivo, em que, quem detém o conhecimento maior, tem maiores e melhores chances de

uma boa colocação nesse espaço empresarial tão competitivo.

À medida que o tempo passa, “a forma-sujeito histórica que corresponde à sociedade

atual representa bem a contradição: é um sujeito ao mesmo tempo livre e submisso. Ele é

capaz de uma liberdade sem limites e uma submissão sem falhas: pode tudo dizer, contanto

que se submeta à língua para sabê-la” (ORLANDI, 1999, p. 50).

Em nossa vida diária estamos em contato com as mais diversas formas da linguagem e

nos mais diversos gêneros e tipos textuais. Em virtude das inúmeras atividades que

desenvolvemos, necessitamos constantemente ampliar as possibilidades de uso da língua. A

modalidade escrita, por exemplo, tem ocupado bastante espaço no contexto tecnológico que

estamos inseridos. Nesse espaço novo, ler e escrever bem e corretamente tem se tornado fator

de extrema importância, pois o indivíduo precisa estar preparado para ter acesso às facilidades

criadas, às novas funções no mercado de trabalho, dentre outros. Em todos os lugares somos

solicitados a utilizar nossa capacidade leitora da linguagem escrita e também da linguagem

icônica. São placas, informações, indicações, normas, e vários outros elementos utilizados

para facilitar nossa vida em sociedade. Nesse aspecto é possível perceber a importância da

linguagem escrita no contexto atual, mas sem colocá-la no lugar de superior a qualquer outra

modalidade da língua.

Na análise de uma reportagem de revista levamos em consideração que os signos

ideológicos fazem parte do texto e carregam em seu corpo o posicionamento de seu

enunciador. Ao entrar em contato com o posicionamento do leitor, as formações ideológicas

irão estabelecer um diálogo entre ideologias diferentes.

Nesta perspectiva, para compreender um discurso, é necessário buscar conhecimentos

externos, e não apenas a simples decodificação daquilo que é apresentado. Compreender o

que um autor escreve, “significa ver e compreender outra consciência” (Bakhtin, 1997, p.

338). Como na compreensão, existem duas consciências e dois sujeitos, diz-se que a

compreensão do discurso é sempre dialógica.

Em síntese, a propósito do que foi preconizado no início deste trabalho, apresentamos

no decorrer desta análise, as evidências de que determinadas escolhas linguísticas, sintáticas,

léxicas ou escolhas de imagens, são, realmente, utilizadas não apenas com a intenção de

convencer o leitor a respeito do tema apresentado. As escolhas também proporcionam a

interação entre as modalidades oral, escrita da língua e da linguagem visual, para que o leitor

tenha maiores possibilidades de interpretação do que está sendo apresentado. Ao mesmo

tempo, o jogo interativo das diferentes formas de linguagem reforça o posicionamento do

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sujeito num dado discurso a partir das formações discursiva e ideológica de determinado

grupo social.

Por assim dizer, almejamos que esta pesquisa possa contribuir para outras leituras a partir

da proposta apresentada neste trabalho. Levando em consideração que o material supracitado

da revista em questão seja objeto para continuação desta pesquisa, possivelmente, na

elaboração do nosso projeto para o mestrado.

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ANEXOS ANEXO A - Propaganda Curso Português Empresarial - 1

Fonte: http://www.treinarinformatica.com.br/curso_portugues_empresa_tecnico.php

Acesso em 20/06/2012, às 22:48

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ANEXO B- Propaganda Curso Português Empresarial - 2

Fonte: http://www.etiquetaempresarial.com.br/por1.asp Acesso em 20/06/2012, às 23:02

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ANEXO C - Propaganda Curso Português Empresarial - 3

Fonte: http://www.google.com.br Acesso em 20/06/2012, às 23:38

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ANEXO D – Capa revista Língua portuguesa, Edição Nº 51

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ANEXO E – Capa revista Língua portuguesa, Edição Nº 52

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ANEXO F – Capa revista Língua portuguesa, Edição Nº 63

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ANEXO G – Capa revista Língua portuguesa, Edição Nº 72

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ANEXO H – Autoria Artigo