LÍNGUA MATERNA CASA COMUM

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No Dia Internacional da Língua Materna  Teresa Cadete  Pág. 1 de 2 in PÚBLICO de 21 de Fevereiro de 2014  No Dia Internacional da Língua Materna: o sustentável peso da língua, casa comum  Teresa Rodrigues Cadete, Professora da FLUL e presidente do PEN Clube Português Quem passar pelas bandas da Cidade Universitária, por exemplo para se dirigir à zona das piscinas ou à Faculdade de Ciências contornando pelo poente a Aula Magna e a Faculdade de Letras, deparará com um curioso letreiro adicionado ao conhecido sinal de trânsito proibido: “EXETO UNIVERSIDADE.” Que quererá dizer esta mensagem e a quem se destina ela? Talvez a estudantes inseridos no programa Erasmus ou a professores visitantes, que comunicam nas aulas na língua de Shakespeare e que agradecerão que lhes indiquem uma saída do labiríntico campus ao fim de um dia de aulas? Mesmo com uma letra trocada, em princípio entendese.  Ou haverá aqui outras razões e significações que toda a razoabilidade desconhece? Coloquemos algumas hipóteses absurdas. Por exemplo: talvez a confecção do letreiro tenha sido entregue a alguém que se excedeu na aplicação do programa Lince, austero depurador das facultatividades previstas no Acordo Ortográfico de 1990, ou, conspirativamente, a alguém empenhado em mostrar a absurdidade de um desacordo que nunca cessará de dividir a população falante, escrevente e pensante, a menos que seja suspenso por decisão sensata, pragmática e soberana? Ou, ainda e algo simploriamente, terá porventura alguém mais lincesco que o Lince e, em dúvida quanto à pronúncia correcta da palavra EXCEPTO, resolvido cortar empiricamente o C e o P, por assim dizer deitando fora a criança com a água do banho?  Esta foto nada mais faz do que documentar a premente necessidade de dizer: alto e para o baile. Sim senhores, para e não pára. Entremos no baile porque se o quisermos parar até os acordistas serão levados a recorrer ao acento que o Acordo Ortográfico (AO) quer eliminar. Entremos no baile mandado das falácias dos defensores do AO, que têm vindo a desmoronarse uma por uma mas que persistem em manter uma língua nadamorta e desacreditada no contexto das línguasirmãs. Não  no âmbito da lusofonia, ela (o “acordês) se ultrapassada pelo brasileiro de circulação ligeira e sensual, que goza de um maior número de falantes.  Entremos no baile dessa língua que se queria uniformizada; e que vemos? Uma pista vazia, comprovadamente abandonada pelos brasileiros desde a audiência dos linguistas Ernâni Pimentel e Pasquale Cipro Neto na AR em 27.11.2013. Uma pista onde nunca as outras comunidades lusófonas, africanas, asiáticas e oceânicas puseram os pés. Uma pista onde alguns acordistas desesperados tentam acertar um passo manco, tropeçando nos buracos deixados Entremos no baile mandado das falácias dos defensores do AO, que têm vindo a desmoronarse uma por uma mas que persistem em manter uma língua nadamorta e desacreditada no contexto das línguasirmãs. 

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"No Dia Internacional da Língua Materna: o sustentável peso da língua, casa comum", Teresa Cadete. PÚBLICO, 21 de Fevereiro de 2014

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No Dia Internacional da Língua Materna – Teresa Cadete – Pág. 1 de 2 

in PÚBLICO de 21 de Fevereiro de 2014  

No Dia Internacional da Língua Materna: o sustentável peso da língua, casa comum  

Teresa Rodrigues Cadete, Professora da FLUL e presidente do PEN Clube Português

Quem  passar  pelas  bandas  da  Cidade Universitária,  por  exemplo  para  se  dirigir  à  zona  das piscinas ou à Faculdade de Ciências contornando pelo poente a Aula Magna e a Faculdade de Letras, deparará com um curioso  letreiro adicionado ao conhecido sinal de  trânsito proibido: “EXETO UNIVERSIDADE.” Que quererá dizer esta mensagem e a quem se destina ela? Talvez a estudantes  inseridos  no  programa  Erasmus  ou  a  professores  visitantes,  que  comunicam  nas aulas na língua de Shakespeare e que agradecerão que lhes indiquem uma saída do labiríntico campus ao fim de um dia de aulas? Mesmo com uma letra trocada, em princípio entende‐se.  

Ou haverá aqui outras razões e significações que  toda  a  razoabilidade  desconhece? Coloquemos  algumas  hipóteses  absurdas. Por exemplo: talvez a confecção do  letreiro tenha  sido  entregue  a  alguém  que  se excedeu  na  aplicação  do  programa  Lince, austero  depurador  das  facultatividades previstas  no  Acordo  Ortográfico  de  1990, ou,  conspirativamente,  a  alguém empenhado  em mostrar  a  absurdidade  de 

um  des‐acordo  que  nunca  cessará  de  dividir  a  população  falante,  escrevente  e  pensante,  a menos  que  seja  suspenso  por  decisão  sensata,  pragmática  e  soberana?  Ou,  ainda  e  algo simploriamente,  terá  porventura  alguém mais  lincesco  que  o  Lince  e,  em  dúvida  quanto  à pronúncia correcta da palavra EXCEPTO, resolvido cortar empiricamente o C e o P, por assim dizer deitando fora a criança com a água do banho?  Esta  foto nada mais  faz do que documentar a premente necessidade de dizer: alto e para o baile. Sim senhores, para e não pára. Entremos no baile porque se o quisermos parar até os acordistas  serão  levados  a  recorrer  ao  acento que o Acordo Ortográfico  (AO) quer eliminar. Entremos no baile mandado das falácias dos defensores do AO, que têm vindo a desmoronar‐se uma  por  uma  mas  que  persistem  em  manter  uma  língua  nada‐morta  e  desacreditada  no contexto das línguas‐irmãs. Não só no âmbito da lusofonia, ela (o “acordês) vê‐se ultrapassada pelo brasileiro de circulação ligeira e sensual, que goza de um maior número de falantes.  Entremos no baile dessa  língua que  se queria uniformizada;  e que  vemos? Uma pista  vazia, comprovadamente  abandonada  pelos  brasileiros  desde  a  audiência  dos  linguistas  Ernâni Pimentel  e  Pasquale  Cipro  Neto  na  AR  em  27.11.2013.  Uma  pista  onde  nunca  as  outras comunidades lusófonas, africanas, asiáticas e oceânicas puseram os pés. Uma pista onde alguns acordistas desesperados  tentam  acertar um passo manco,  tropeçando nos buracos deixados 

Entremos no baile mandado das falácias dos defensores do AO, que têm vindo a desmoronar‐se uma por uma mas que persistem em manter uma língua nada‐morta e desacreditada no contexto das línguas‐irmãs. 

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pelas letras que deixam a descoberto, como num espaço sem letreiros nem bússolas, a falta de orientação que é dada por  séculos de história e  geografia.  E é  assim que nos damos  conta, nesse  descampado  linguístico,  do  absurdo  de  um  “porquessinismo”  que  manda  escrever “Egito”  e  egípcios,  “exceto”  e  mentecapto,  “caráter”  e  característica.  Facultatividades?  O contexto decide? Ah mas não era suposto que o AO acabasse com os alegados elitismos das pessoas que pretendem  simplesmente  transmitir  toda  a herança  linguística  greco‐latina, dos docentes  que  encaram  de  peito  firme  a  complexidade  de  todas  as  línguas  porque  se enquadram  numa  família  etimológica?  Aos  alegados  desfavorecidos  é  então  servido  um grafolecto que faz cada aluno pensar duas vezes como pronuncia para escrever, se não tem um computador à mão – e que faz aos aprendentes de uma  língua estrangeira dar erros atrás de erros,  como  “diretion”,  “concetion”,  “excetion”?  A  leveza  do  “acordês”,  com  que  somos confrontados  todos  os  dias,  tornou‐se  num  estendal  de  horrores  que  nos  entram  pela  casa dentro. Que  fazer,  se quiseremos manter as boas práticas  comunicacionais que estabelecem uma ponte harmoniosa  com as outras  línguas europeias, que  têm  como um  livre‐trânsito na casa comum greco‐latina?  No  passado  mês  de  Setembro,  a  Assembleia  Geral  do  PEN  Internacional  aprovou  por unanimidade,  em  Reiquejavique,  uma  segunda  resolução  sobre  a  Língua  Portuguesa, apresentada  pelo  Comité  de  Tradução  e  Direitos  Linguísticos  e  apelando  às  autoridades competentes no sentido de (e passo a citar)  — Tomarem  medidas  imediatas  para  permitir  a  reposição  do  Português  Europeu  nos documentos  e  trâmites  oficiais  e  nas  escolas.  Esta  herança  cultural  comum  deveria  ser respeitada  de  acordo  com  a  Constituição  Portuguesa,  com  inteira  liberdade  face  a  qualquer interferência política;  — Terem em conta, ao longo deste processo, as opiniões de especialistas da língua, bem como as  opções  de  escrita  de  escritores  e  tradutores  portugueses,  e  garantirem  que  os  editores renunciam a impor condições que são abusivas e restritivas face à criação literária.  O resultado da votação pode ser considerado uma vitória de Pirro. Pela segunda vez  (face ao ano anterior), colegas anglófonos, francófonos e hispanófonos vieram perguntar como tinham os escritores e a população em geral permitido que tais mutilações da  língua não só tivessem ocorrido mas que se mantivessem para além de um tempo limitado de experimentação e sem obrigatoriedade.  Ainda  tenho  presentes  as  palavras  da  colega  do  centro  belga  francófono: “J’aimerais signer avec les deux mains!”  Fica  a  pergunta:  até  quando  permitiremos  que  tal  violência  sobre  o  uso  da  nossa  língua  se mantenha,  rotulando  com  uma  inadmissível  menoridade  mental  os  jovens  que  teriam alegadamente a lucrar com a “simplificação” da grafia e a quem é roubada a pertença à família linguística  geográfica  e  histórica?  Até  quando  seremos  confrontados  com  “exetos”  –  como convites a abandonar a nossa casa comum? ______________________________________ Publicado na Biblioteca do Desacordo Ortográfico em 21 de Fevereiro de 2014 http://www.jrdias.com/acordo-ortografico-biblioteca.htm Subscreva a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico http://ilcao.cedilha.net/docs/ilcassinaturaindividual.pdf