Língua e Literatura: diálogos contemporâneos · Almir Grigorio dos Santos (PUC-SP) • Uma...

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XXI Mostra de Pós-graduação em Letras Universidade Presbiteriana Mackenzie Câmpus Higienópolis Língua e Literatura: diálogos contemporâneos 04 e 06 de outubro de 2017 Programação completa Caderno de resumos

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XXI Mostra de Pós-graduação em Letras Universidade Presbiteriana Mackenzie

Câmpus Higienópolis

Língua e Literatura: diálogos contemporâneos

04 e 06 de outubro de 2017

Programação completa Caderno de resumos

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CORPO DIRETIVO DA UPM Chanceler: Rev. Dr. Davi Charles Gomes Reitor: Prof. Dr. Ing. Benedito Guimarães Aguiar Neto Vice-Reitor: Prof. Dr. Marco Tullio de Castro Vasconcelos Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Paulo Batista Lopes Coordenador Geral da Pós-Graduação: Profa. Dra. Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira Pró-Reitor da Graduação e Assuntos Acadêmicos: Profa. Dra. Marili Moreira da Silva Vieira Pró-Reitor de Extensão e Educação Continuada: Porf. Dr. Jorge Alexandre Onoda Pessanha Diretor do Centro de Comunicação e Letras: Prof. Dr. Marcos Nepomoceno Duarte Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras: Profa. Dra. Regina Helena Pires de Brito Coordenador de TCC e Pesquisa – CCL: Profa. Dra. Isabel Orestes Silveira COMISSÃO CIENTÍFICA Profa. Dra. Ana Lucia Trevisan Profa. Dra. Aurora Gedra Ruiz Alvarez Prof. Dr. Cristhiano Aguiar Proa. Dra. Diana Luz Pessoa de Barros Profa. Dra. Elaine Cristina P. Santos Profa. Dra. Gloria Carneiro do Amaral Profa. Dra. Helena Bonito Pereira Prof. Dr. José Gaston Hilgert Prof. Dr. João Cesário Leonel Ferrari Profa. Dra. Maria Helena de Moura Neves Profa. Dra. Maria Lúcia Vasconcelos Profa. Dra. Maria Luíza Guarnieri Atik Profa. Dra. Marisa Philbert Lajolo Profa. Dra. Marlise Vaz Bridi Profa. Dra. Neusa Barbosa Bastos Profa. Dra. Regina Helena Pires Brito Profa. Dra. Ronaldo Batista Profa. Dra. Vera Lucia Harabagi Hanna COMISSÃO ORGANIZADORA DA XXI MOSTRA Profa. Dra. Ana Lúcia Trevisan Profa. Dra. Aurora Gedra Ruiz Alvarez Profa. Dra. Glória Carneiro do Amaral Profa. Dra. Vera Lucia Harabagi Hanna André Vinícius Lopes Coneglian (Discente) COMISSÃO EXECUTIVA DA XXI MOSTRA Prof. Dr. Cristhiano Aguiar Prof. Dr. José Gaston Hilgert Barbara Baldarena Morais (Discente) Elise Mascarenhas Nakandlakal (Discente) Felipe Vivian Goulart (Discente) Fernanda Reis (Discente) Graciene Silva Siqueira (Discente) Rodrigo de Freitas Faqueri (Discente) Thiago Blumenthal (Discente) Vanessa Maria da Silva SECRETARIA PPGL Ana Carla Ferreira da Silva

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Programação geral 04 de outubro 8h15 às 10h15 – Mesas temáticas (Local: Prédio 48) 10h15 às 10h30 – Intervalo 10h30 às 12h30 – Mesas temáticas (Local: Prédio 48) 14h – Conferência de abertura (Local: Auditório do RW) “O teatro no teatro de Pirandello”, Eduardo Tolentino (Diretor do Grupo Tapa) 16h10 às 17h30 – Mesas temáticas (Local: Prédio 48) 17h30 – Lançamento de livros (Local: Auditório do RW) 06 de outubro 8h15 às 10h15 – Mesas temáticas (Local: Prédio 48) 10h – III Concurso de Redação ‘Elisa Guimarães’ Conversa com Pedro Bandeira – premiação das redações (Local: Auditório do RW) 14h às 15h15 – Mesas temáticas (Local: Prédio 48)

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Programação das mesas – QUARTA-FEIRA (04/10)

8h15 às 10h15

Estudos sobre construção e representação de identidades

Coordenador: Prof. Vera Hanna Local: Prédio 48, sala 211

Trabalhos • Ideologia e processo eleitoral: o ethos feminino Patricia Mafra (PUC-SP) • Estereótipos no discurso humorístico: o caso dos

evangélicos Rafael Prearo Lima (UNESP/Rio Preto) • Instagram e o estereótipo feminino no dia

internacional da mulher em 2017 Patrícia de Jesus Menino (UPM) • Do outro lado do Atlântico: questões de identidade

e relações de afetividade com a língua cabo-verdiana

Marcella Iole da Costa (UPM)

Discursos e mitos Coordenador: Prof. Marisa Lajolo Local: Prédio 48, sala 212

Trabalhos

• A intertextualidade em Sete anos de pastor Jacobina Servia

Anna Gabriela Gaudêncio Silva (UPM) • A cosmogonia nas Crônicas de Nárnia: a

reatualização mítica na literatura infanto-juvenil Carmem Medeiros Lima (UPM) • Sobre os ombros de gigantes: releituras do mito de

Orion e Cedálion Edmundo Gomes Junior (UPM) • Comédia dos enganos: um estudo sobre a peça

Anfitrião ou Júpiter e Alcmea, de Antônio José da Silva

Eduardo Neves da Silva (USP) • Os ritos de iniciação e suas releituras: uma

possível análise da obra Batismo de sangue Fernanda Reis da Rocha (UPM)

Discursos literários contemporâneos I Coordenador: Prof. Ana Lucia Trevisan Local: Prédio 48, sala 308

Trabalhos • Os lugares hostis no romance Eu receberia as

piores notícias dos seus lindos lábios Gisele Mortazo Felício (KSU) • As relações de tensão entre narrador e autor em

Pierrô da caverna Juliana Pires Fernandes (UNIFESP) • Rascunhos de uma pesquisa em torno da literatura

brasileira contemporânea e de suas fotografias Renan Augusto Ferreira Bolognin

(UNESP/Araraquara) • A turma da rua quinze: Marçal Aquino para

jovens leitores Silva de Paula Bezerro (UPM) • O uso da linguagem coloquial na autoficção Thais Chauvel (USP)

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Programação das mesas – QUARTA-FEIRA (04/10)

8h15 às 10h15

Estudos em lexicogramática Coordenador: Prof. Ronaldo Batista Local: Prédio 48, sala 309

Trabalhos • Metáfora e metonímia em locuções causais,

condicionais e concessivas André Vinicius Lopes Coneglian (UPM) • A subjetivização na polissemia de “coxinha”: uma

abordagem sob a visão da Linguística cognitiva Beartiz Daldosso Felippe (UNIFESP) • Acessibilidade referencial em narrativas escritas

destinadas ao público infantil Elise Mascarenhas (UPM) • A organização referencial no texto infantil No

meio do caminho de Alvinho tinha uma pedra... Luciana Ribeiro de Souza (UPM) • O estudo do infinitivo flexionado e o parâmetro do

sujeito nulo em cartas dos séculos XVIII, XIX e XX

Sarah Cristina Silva Leite Vargas (UNIFESP)

Estudos em Historiografia linguística Coordenador: Prof. Neusa Bastos Local: Prédio 48, sala 310

Trabalhos • Gramática metódica da língua portuguesa:

continuum gramatical Alexandre José Silva (PUC-SP) • A escrita missionária no século XVI: estratégia de

manutenção e continuação da missão jesuítica no Brasil

Almir Grigorio dos Santos (PUC-SP) • Uma gramática anônima do século XVIII sobre a

língua geral do Brasil Cristiano Silva Jesuita (PUC-SP) • José de Alencar e a brasilidade: uma leitura

historiográfica Marcelo dos Santos Carneiro (PUC-SP) • O Marquês de Pombal no governo português e seu

envolvimento com a questão educacional por meio de O verdadeiro método de estudar, de Luis Antônio Verney

Ivelaine de Jesus Rodrigues (PUC-SP)

Estudos de múltiplas modalidades e linguagens Coordenador: Prof. Cristhiano Aguiar Local: Prédio 48, sala 312

Trabalhos • Linda ex: um estudo sobre a interdiscursividade

presente na publicidade Alexandre da Silva Carvalho (UPM) • Linguagens verbais e pictóricas: aproximações

teóricas entre Bakhtin e Dewey Diogo Souza Cardoso (UPM) • Falácia e atitude responsiva no anúncio

publicitário Amante pulando a janela – paixões perigosas

Regiane Apolinario Roskowinski (UPM) • Lugares interincompreensivos e ambivalentes em

anúncios publicitários que topicalizam a sexualidade

Ricardo Celestino (PUC-SP) • Uma tipografia vale mais do que mil palavras? O

dialogismo no contexto tipográfico William Takenobu Akamine (UPM)

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Programação das mesas – QUARTA-FEIRA (04/10)

10h30 às 12h30

Discursos literários do século XIX (I) Coordenador: João Leonel Local: Prédio 48, sala 211

Trabalhos • Eufóricas arcadas, melancólicos modernos: os

românticos paulistas e as práticas da cultura letrada no século XIX

Caique Franchetto (UNIFESP) • Dor, significação e negritude em Cruz e Sousa Cristiano Lima de Araújo Reis (UPM) • Diálogo com a tradição e afirmação autoral em

Meu conto de Maupassant, de Monteiro Lobato Priscila Fernandes Balrini (UPM) • O grotesco na configuração do romance

homoerótico brasileiro Ricardo Pereira Souza (UPM)

Formação e prática docente Coordenador: Prof. Maria Lucia Vasconcelos Local: Prédio 48, sala 212

Trabalhos • Exercício de linguagem: o ethos discursivo e a

competência discursiva na prova de linguagens, códigos e suas tecnologias do ENEM

Beatriz Silva Rocha (USP) • Língua materna: perspectivas de ensino Damares Souza Silva (PUC-SP) • Os professores de língua portuguesa e os novos

letramentos no desenvolvimento da pedagogia do digital proposta pela educação linguística

Nívea Eliane Farah (PUC-SP) • A pedagogia de projetos como alternativa para

retomada de valores: Projeto Abrindo os olhos Ana Lúcia Macedo Novroth (UPM) • Gêneros textuais no ensino médio: práticas

pedagógicas e formação de professores Mônica do Socorro de Jesus Chucre Tatiana da

Conceição Gonçalves (IECTEA)

Discursos literários contemporâneos II Coordenador: Prof. Maria Luiza Atik Local: Prédio 48, sala 308

Trabalhos • Elementos góticos em The infernal desire

machines of doctor Hoffman Emannuel Gonçalves Gomes (UNIFESP) • 1984 e o sujeito fragmentado: uma perspectiva

sobre o duplo Hadassa Gringnani Golze (UPM) • Zlata: a escrita de si como refúgio, Juliane Emiliano (Fac. Dom Domênico) • A desconstrução do vampiro através da obra What

we do in the shadows Patrícia Hradec (UPM) • O epistológrafo personagem: o olhar dos editores

sobre as Cartas de Álvares de Azevedo Vanessa Neri Rodrigues (UNIFESP)

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Programação das mesas – QUARTA-FEIRA (04/10)

10h30 às 12h30

Estudos do texto e do discurso Coordenador: Prof. Gaston Hilgert Local: Prédio 48, sala 309

Trabalhos • O gênero “edital de fomento à pesquisa”: a

apresentação de uma proposta de pesquisa Betânia Felipe Soares (UPM) • O cotidiano e o fim de um tempo: marcas de

expressividade sonoro-lexical em Alberto Pucheu Elke Rrgina Grcia Rigoli (UNICSUL) • O processo de revisão e reescrita na otimização do

ensino de produção textual no ensino fundamental Fernanda Pereira Penedo Taveira (PUC-SP) • Estudo diacrônico e discursivo dos termos

“lusofonia” e “lusófono” em dicionários portugueses e brasileiros

Karine Teresa dos Santos Silva (UPM; FECAP)

Literatura francesa Coordenador: Prof. Gloria Amaral Local: Prédio 48, sala 310

Trabalhos • O pequeno príncipe: definição de público a partir

da materialidade Bruna Parrella Brito (UPM) • Vida e obra de Balzac, por Paulo Rónai Regina Cibelle de Oliveira (USP) • A consciência espacial e do amor em Proust: um

recorte Thiago Blumenthal (UPM) • O belo em Baudelaire e sua relação com a

modernidade Wagner Tavares (UNIFESP)

Discursos literários Coordenador: Prof. Helena Couto Pereira Local: Prédio 48, sala 312

Trabalhos • Terra sonâmbula e sua construção narrativa Camila Concato (UPM) • O ideário literário de Graciliano Ramos nas

Cartas e sua leitura do modernismo Cícera Jessiane Lins dos Santos (UNIFESP) • A meta-memória na obra Baú de ossos, de Pedro

Nava Fabio Takyi Iwasa (UNIFESP)

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Programação das mesas – QUARTA-FEIRA (04/10)

16h10 às 17h30

Literatura e outras linguagens Coordenador: Prof. Maria Luiza Atik Local: Prédio 48, sala 211

Trabalhos • “Quem vive, quem morre, quem conta a sua

história?”: o dialogismo do musical Hamilton Fernanda da Cunha Correia (UPM) • Ler e jogar: a experiência de descobrir narrativas Heloisa Antoniolli Marino (UPM) • Um estudo sobre adaptações do texto bíblico de

Josué 2:1-4: Raabe, a história de fé de uma prostituta

Leni Soares Vieira Fernandes (UPM) • As estratégias narrativas em God f war Luciano Aparecido Bordes Almeida (UPM)

Materiais didáticos e prática educacional Coordenador: Prof. Ronaldo Batista Local: Prédio 48, sala 212

Trabalhos • Desafios da educação à distância: distancia

transacional no material didático (por um discurso com mais pontes e menos muralhas)

Mônica Maria Penalber de Menezes (UPM) • The undergraduate students’ comick books

creative writing development in English as second language

Carlos Eduardo de Araujo Placido (USP) • Teaching English as a foreign language: a

importância da inserção de materiais autênticos no ensino significativo da língua inglesa em uma abordagem comunicativa

Juliana Cordeiro Viana (UPM) • A presença social, cognitiva e de ensino e a

formação de uma comunidade virtual de aprendizagem na disciplina língua espanhola de um curso de Letras

Gloria Teresita Acosta Tripani (USP)

Ensino de leitura e literatura Coordenador: Prof. Aurora Gedra Alvarez Local: Prédio 48, sala 308

Trabalhos • Mistérios de Lygia Fagundes Telles: proposta de

sequência didática para a leitura de contos de mistério

Gisele Maria Souza Barachati (UPM) • The English through literature: promovendo a

leitura em aulas de língua inglesa na educação básica

Katarine Almeida de Lima (UPM) • O papel do ensino da leitura literária em língua

estrangeira e o audiovisual Lucília Souza Lima Teixeira (USP) • Práticas de leitura: um olhar para o discurso’ Rudiney Soares de Souza (PUC-SP) • A leitura, a literatura, o ensino de leitura:

reflexões Orivaldo Rocha da Silva (UPM)

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Programação das mesas – QUARTA-FEIRA (04/10)

16h10 às 17h30

Discursos literários do século XIX (II) Coordenador: Prof. Marlise Bridi Local: Prédio 48, sala 309

Trabalhos • O alienista: materialidade no texto de Machado de

Assis Humberto Luiz Dias (UPM) • Machado de Assis: folhetins e leitores Juliano Zanco Lenne da Silva (UPM) • Três perspectivas do dialogismo no conto Adão e

Eva, de Machado de Assis Miguel Graciano Silva da Costa (UPM)

Estudos em Análise do discurso I Coordenador: Prof. Maria Helena M. Neves Local: Prédio 48, sala 310

Trabalhos • A importância da argumentação nos estudos

críticos do discurso Douglas Rabelo de Sousa (USP) • Uma análise discursiva na propaganda da cerveja

Devassa James Fabian Ciardullo (PUC-SP) • O discurso das torcidas e dos terreiros Jonatas Eliakim D’Angelo de Oliveira (PUC-SP) • Comentários on-line: diálogo ou violência? Renata Nobre Tomás (PUC-SP)

Práticas educacionais e as tecnologias Coordenador: Prof. Maria Lúcia Vasconcelos Local: Prédio 48, sala 312

Trabalhos • Análise de prática de uso de sistemas de produção

e de visualização de informação como estímulo aos multiletramentos na educação básica

Jorge Ferreira Franco (UPM) • A internet no contexto educacional: um olhar

específico para os textos virtuais na educação básica

Sarah Jimena Moreno de Paula (UPM) • O uso de córpus on-line para a elaboração de livro

didático: o caso do sistema Mackenzie de ensino Andréa Geroldo dos Santos (USP) • A educação de jovens e adultos na aprendizagem

de língua portuguesa sobre o gênero discursivo verbo-visual crítico utilizando uma abordagem bakhtiniana

Neide Silvestre (UNICSUL)

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Programação das mesas – SEXTA-FEIRA (06/10)

8h15 às 10h15

Educação e fronteiras culturais Coordenador: Prof. Vera Hanna Local: Prédio 48, sala 307

Trabalhos • El español no está lejos de aquí: na era da globalização onde entra o ensino de

língua estrangeira? Bárbara Baldarena Morais (UPM) • ‘Ensino bilíngue’ e bilinguismo: uma vantagem real? Regina Paula Ambrogui Avelar (UPM) • A diversidade cultural no ensino de espanhol como língua estrangeira Bruna de Souza Silva (USP) • Iniciação aos estudos culturais e o ensino de língua estrangeira: fronteiras Vânia Maria Colaço Silva (UPM)

Discursos literários contemporâneos III Coordenador: Prof. Ana Lúcia Trevisan Local: Prédio 48, sala 308

Trabalhos • A violência e a representação feminina no romance gráfico El ala rota Amanda Monteiro Belon Fernanes (UNIFESP) • Questões estruturais em Un tal Lucas: o jogo da língua e da forma Lucas Fernando Ribeiro Jukenevicius (UNESP/Assis) • Presépolis: identidade e diáspora Vanderson Fernandes dos Santos (UPM) • Inundação: um conto de Mia Couto percorrendo a cronotopia de Bakhtin Vânia Maria Colaço Silva (UPM) • Mito e (pré)conscientização em Uma xícara e um destino, de Elisa Lispector Thiago Cavalcante Jerônimo (UPM)

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Programação das mesas – SEXTA-FEIRA (06/10)

8h15 às 10h15

Estudos em Análise do discurso II Coordenador: Prof. Neusa Bastos Local: Prédio 48, sala 309

Trabalhos • Heterodiscursividade e memória da língua: tensões dialógicas em torno da

variante “nós pega o peixe” Elvis Lima de Araujo (UNIFESP) • Representações discursivas da mulher no discurso do presidente Michel

Temer Larissa Reis Matoso (UNICSUL) • Impeachment Dilma Rousseff: uma análise retórica sobre o argumento do

golpe Leonardo Tavares (PUC-SP) Mariano Magri (PUC-SP) • Representações discursivas do sujeito manauense e da cidade de Manaus no

discurso publicitário Lorena Maria Nobre Tomás (PUC-SP)

Estudos em Análise do discurso III

Coordenador: Prof. Maria Helena M. Neves Local: Prédio 48, sala 310

Trabalhos • Mulher Maravilha: cultura e ideologia Silvana Parrella Brito (UPM) • No princípio era o verbo, fez-se a linguagem e criou-se o discurso Marta Silva Souza (UNIFESP) • O imperialismo linguístico (re)velado Carla Abreu de Pointis (UPM) • A representação das emoções do personagem George na adaptação fílmica de

Single man Victor Matheus da Costa (UPM)

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Programação das mesas – SEXTA-FEIRA (06/10)

14h00 às 15h15

Escritoras do século XX Coordenador: Prof. Marlise Bridi Local: Prédio 48, sala 307

Trabalhos • Água viva e o ritmo em prosa: implicações analíticas André Matos de Oliveira (UNIFESP) • Travessia e transgressão na obra O amante, de Marguerite Duras Fabiana Fanganiello (UNIFESP) • A obra de Virginia Woolf na pós-modernidade Luis Antônio Soares da Silva (UPM) • Em torno da recepção de O lustre, de Clarice Lispector Mariangelo Alonso (USP) • Clarice Lispector: jornalismo e literatura Thiago Cavalcante Jerônimo (UPM)

Linguagem teatral Coordenador: Prof. Gloria Amaral Local: Prédio 48, sala 308

Trabalhos • A intertextualidade em A era do rádio – saudades do Brasil Fabrizzi Matos Rocha (UPM) • Shakespeare no teatro do pós-guerra britânico: Bingo, de Edward Bond, e a

relação arte-sociedade Jonathan Renan da Silva Sousa (USP) • Uma análise da letra de Dentist, do musical Little shop of horrors (1986) Natalia Aymi Yamaguti (UPM) • A crítica de Arthur Miller às eras Regan e Bush Jr.: duas comédias políticas

no coração do neoliberalismo Thiago Russo (USP) • Dois modelos de romance em A cada da cabeça de cavalo, de Teolinda

Gersão Orivaldo Rocha da Silva (UPM)

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Programação das mesas – SEXTA-FEIRA (06/10)

14h00 às 15h15

Estudos de língua falada Coordenador: Prof. Gaston Hilgert Local: Prédio 48, sala 309

Trabalhos • Construção conjunta e multimodalidade: ações investigadas a partir de

interações envolvendo um sujeito autista Douglas Vidal Santiago (UNIFESP) • As reações às manifestações de impolidez em embates do Supremo Fabiana Portela de Lima (UPM) • Ninguém fala assim! Realidade e idealização na representação da fala

espontânea Felipe Vivian Goulart (UPM) • Os diferentes graus de atenuação revelados em operações metaenunciativas no

discurso falado Lara Orleques de Almeida (UPM)

Estudos em Semiótica discursiva Coordenador: Prof. Aurora Gedra Local: Prédio 48, sala 310

Trabalhos • Elementos de interação e visibilidade na rede social Facebook: reflexões

sobre a axiologização dos valores Adalberto Bastos Neto (UPM) • Uma análise semiótica do plano de aula disponível online Ana Carolina Cortez Noronha (USP) • O Caderno de Língua Portuguesa e Literatura da Escola Estadual Paulista e

os estudos de literatura Ivan de Azevedo Antunes Corrêa (UPM) • Redes de relacionamento e a busca de afetividade instantânea: uma análise

semiótica Roseli de Lourdes Gomes (UNISA) • A interdiscursividade no discurso de Michel Temer: um estudo sobre a

representação feminina no dia internacional da mulher Maisa Tuasca (UPM)

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Resumos Estudos Linguísticos

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Estudos em semiótica discursiva

Elementos de interação e visibilidade na rede social Facebook: reflexões sobre a axiologização dos valores

Adalberto Bastos Neto (UPM)

O advento da internet não foi isento de transformações na vida cotidiana das pessoas. Em duas décadas, o funcionamento de inúmeras práticas sociais tornou-se bem diferente. Por exemplo, locomover-se pelas cidades, mesmo que desconhecidas, não oferece mais o risco de se perder, pois os smartphones levam à palma da mão os mapas e os melhores caminhos; não é mais necessário esperar o horário de programas de TV, pois as pessoas têm acesso a incontáveis vídeos que podem ser acessados onde e quando preferirem; ouvir música não demanda mais os obstáculos da aquisição de uma mídia física, uma vez que praticamente todo o acervo musical da humanidade pode ser encontrado para download ou acessado em serviços de streaming. Dentre os diferentes domínios de uso da internet, um considerável destaque incide sobre as redes sociais. Ao conectar milhares de pessoas produtoras de conteúdo, essas redes assumiram uma forma de disseminação viral de informação e notícia, em que as mensagens são compartilhadas num tempo muito rápido e numa ampla abrangência espacial. Na internet, tudo pode ser visto por todos. Aliás, na rede, ser visível significa, de fato, existir, e quanto mais forem as visualizações, mais positivamente os discursos serão sancionados. É olhando para esse contexto social de onde emerge uma sociedade conectada, que pretendemos analisar, dentro da base teórica da semiótica francesa, a maneira pela qual os regimes de visibilidade e interação dos discursos veiculados na rede social Facebook são capazes de (re)orientar alguns valores e o modo de circulação desses valores.

Uma análise semiótica do plano de aula disponível online

Ana Carolina Cortez Noronha (USP)

O plano de aula é um documento pertencente à esfera escolar e que, como característica nova, apresenta-se disponível online, compartilhado em sites por professores e outros profissionais ligados à educação. Trata-se de um instrumento de trabalho que expressa as concepções teóricas que sustentam as atividades docentes. Por espelhar essa concepção do professor sobre a organização e o desenvolvimento da aula, esse documento foi escolhido por nós como corpus de investigação como modo de entendimento do processo de transmissão e construção de conhecimento pertinentes à nossa cultura e à nossa sociedade que acontecem dentro da escola. Pensa-se um professor que busca um plano de aula online como um sujeito que busca entrar em conjunção com um objeto valor que lhe dará a competência necessária para realizar uma performance, neste caso, “uma boa aula”. O plano de aula online deve, portanto, possuir elementos que levem o professor a crer que aquele planejamento resultará em uma aula que levará os alunos a um querer-saber e ou a um querer-fazer. Em sua concepção semiótica, a competência é uma competência modal, que pode ser descrita como uma organização hierárquica de modalidades: um querer-fazer ou um dever-fazer regem ou um poder-fazer ou um saber-fazer. O sujeito performante (aquele que realiza comportamentos programados), para agir, precisa antes possuir ou adquirir a competência necessária. Este apresentação tem por objetivo apresentar partes da análise em andamento para nossa pesquisa de doutorado sobre o plano de aula disponível online, tendo por base teórica a semiótica de origem greimasiana.

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O Caderno de Língua Portuguesa e Literatura da Escola Estadual Paulista e os estudos de literatura

Ivan de Azevedo Antunes Corrêa (UPM)

O “Caderno do Aluno de Língua Portuguesa e Literatura” (2014-2017) é o material didático oficial da rede estadual paulista. Ele é dividido em séries e volumes e foi organizado especialmente para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio. Ao partir da análise discursiva francesa para analisar o texto de apresentação do “Caderno do Aluno de Língua Portuguesa e Literatura” para a 1ª série, do Ensino Médio, volume 1, o presente trabalho seleciona, analisa e discute os textos literários motivadores de atividades relacionadas à literatura presentes no volume e busca compreender as estratégias discursivas implementadas pelo enunciador do texto de Apresentação e das atividades de literatura do interior do material para persuadir o aluno do Ensino Médio sobre a importância do estudo de Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica.

Redes de relacionamento e a busca de afetividade instantânea: uma análise semiótica

Roseli de Lourdes Gomes (UNISA)

Com a Web 2.0, houve a difusão das redes sociais e, com elas, desenvolveram-se os sites de relacionamento e suas redes. Esse fenômeno midiático e tecnológico continua transformando as relações humanas, especialmente as afetivo-amorosas. Este artigo pretende, como objetivo geral, discutir a afetividade nas redes sociais de relacionamento contemporâneas, com base no estudo de caso da rede Par Perfeito – que é atualmente a maior rede de relacionamento no mercado brasileiro. Como objetivos específicos, visamos, em primeiro lugar, analisar semioticamente as narrativas de apresentação dos inscritos do sexo masculino na faixa etária acima de cinquenta anos, utilizando três perfis recortados da rede social selecionada; em seguida, compreender, por meio das categorias discursivas mais recorrentes nos filtros elaborados pelos inscritos, o que eles mais buscam e, por fim, debater a forma como as categorias discursivas mais recorrentes e as narrativas depreendidas dos perfis contribuem para a formação de uma afetividade instantânea. Como arcabouço teórico, utilizaremos a semiótica da Escola de Paris, em particular Greimas e Courtés (2008) e Greimas e Fontanille (1994). Como prevê a semiótica, o plano do conteúdo é tripartido em nível fundamental, narrativo e discursivo, e, como metodologia, exploraremos esses níveis para apreendermos as oposições mínimas de sentido, a narratividade e as categorias discursivas, bem como as modulações passionais mais recorrentes dos perfis selecionados sobre o critério da pertinência. Como resultados parciais, verificamos existirem perfis enunciados mais passionais e mais passionalizados, isto é, a paixão construída a partir do enunciador e a paixão construída a partir do enunciatário. Palavras-chave: afetividade; rede de relacionamento; semiótica.

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Estudos em Historiografia linguística

Gramática metódica da língua portuguesa: continuum gramatical

Alexandre José Silva (PUC-SP)

A Gramática Metódica da Língua Portuguesa, obra de Napoleão Mendes de Almeida, suscitou uma grande questão: uma vez que as concepções gramaticais de outros autores foram apresentadas, analisadas e utilizadas, será que o compêndio do proeminente autor transita entre o descontinuum e o continuum gramatical? Ao nos debruçarmos sobre a obra, analisando de que modo um determinado saber linguístico é interpretado e analisado no decorrer do tempo, o referencial teórico utilizado foi o da História das Ideias Linguísticas. Para tal empreitada, foi imprescindível buscar na própria Metódica referências que pudessem confirmar que o trabalho de Napoleão Mendes de Almeida reflete o continuum gramatical. Destarte, o diálogo com autores utilizados como referência, caso, por exemplo, de Jerônimo Soares Barbosa, Ernesto Carneiro Ribeiro e, principalmente, Eduardo Carlos Pereira foi fundamental. Por fim, o estudo corroborou a ideia de continuum gramatical, evidenciando marcas da tradição, fato percebível nas muitas referências a autores que o antecederam.

A escrita missionária no século XVI: estratégia de manutenção e continuação da missão jesuítica no Brasil

Almir Grigorio dos Santos (PUC-SP)

O tema deste trabalho é A Escrita Missionária no Brasil do Século XVI: Estratégia de Manutenção e Continuação da Missão Jesuítica no Brasil. A pergunta que orienta o estudo é: podemos afirmar que os padres da Companhia de Jesus ao redigirem suas cartas utilizavam recursos linguísticos como estratégia para a manutenção e continuação da missão jesuítica no Brasil, ou seja, é possível verificar a existência de indícios desses elementos nas cartas escritas pelo padre José de Anchieta? Por meio das correspondências, os jesuítas informavam, aos superiores, o andamento das missões. Muitas não foram publicadas, e as que o foram passaram por manipulação antes de serem enviadas à Europa (SERAFIM LEITE, 1954). Em 1553, o padre Anchieta chega ao Brasil. Conhecedor da língua latina e portuguesa foi encarregado pelo padre Manuel da Nóbrega de escrever “Cartas” que seriam enviadas aos superiores. Em face dessa situação, nosso principal objetivo é verificar os recursos linguísticos utilizados pelos jesuítas como estratégia para a manutenção e continuação da missão no Brasil, tendo como base teórica os estudos sobre as cartas jesuíticas propostos por Hansen (1995) e Pécora (2001). Com base nesses estudos sobre a estrutura das cartas jesuíticas, fizemos a análise do corpus, cujos resultados mostram recursos e elementos linguísticos para a continuação e manutenção da missão no Brasil nas Cartas Jesuíticas escritas pelo padre José de Anchieta.

Uma gramática anônima do século XVIII sobre a língua geral do Brasil

Cristiano Silva Jesuíta (PUC-SP) No processo de conversão dos gentios e de gramatização das línguas “exóticas” os missionários Jesuítas produziram uma grande variedade de formas textuais: cartas, vocabulários, catecismos, dicionários e gramáticas. De toda essa produção, só nas últimas décadas o trabalho linguístico dos missionários vem sendo redescoberto e rediscutido. Assim, para contribuir com o estudo da produção linguística missionária no Brasil, propomos analisar um manuscrito anônimo produzido no século XVIII (1750) sobre a língua geral do Brasil. A

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obra permite observar o missionário imerso no dilema entre descrever a língua falada no cotidiano das missões ou seguir a norma antiga presente nos textos impressos.

José de Alencar e a brasilidade: uma leitura historiográfica

Marcelo dos Santos Carneiro (PUC-SP) O século XIX foi um momento de busca pela afirmação da cultura brasileira em desapego a cultura de Portugal, pois com sua recente independência, os intelectuais brasileiros, incentivados pelas políticas de estímulo à cultura, promovidas pelo Imperador D. Pedro II, passaram a procurar temas que melhor representassem o Brasil e o povo brasileiro. Com a língua e a literatura não foi diferente. Escritores, filólogos, gramáticos e intelectuais expunham suas ideias em calorosos debates em torno da nacionalização da língua. Foi nessa época em que o escritor José de Alencar acreditou na inserção de vocábulos encontrados na língua dos nativos como proposta de renovar a Língua Portuguesa utilizada no Brasil. A escolha do tema é de suma importância tendo em vista a crise cultural que passa o país, em meio à globalização, sendo que o trabalho proporciona a reflexão sobre a formação linguístico-cultural do brasileiro. Assim, o objetivo geral deste trabalho é mostrar que José de Alencar propôs uma mudança no Português brasileiro por meio da inclusão de novos vocábulos retirados das línguas indígenas, e o objetivo específico é analisar trechos retirados de algumas de suas obras evidenciando o “tupinismo” como peculiaridade que diferencia o português brasileiro do português europeu. A metodologia é a historiografia linguística pautada na obra de Koerner (2014) que nos apresenta três princípios. As informações sobre o autor e a época em que viveu, relevantes ao trabalho, serão vistos em Elia (2003), Candido e Castelo (1992), Coutinho (2004), Magalhães Júnior (1970) e Rodrigues (2001).

O Marquês de Pombal no governo português e seu envolvimento com a questão educacional por meio de O verdadeiro método de estudar, de Luis Antônio Verney

Ivelaine de Jesus Rodrigues (PUC-SP)

Portugal, na segunda metade do século XVIII, passava por uma complicada situação política – enfraquecimento do poder real, má administração das riquezas conquistadas por meio das expedições além-mar, entre outros – e por uma acentuada mudança na administração pública. Viajado e inteirado das tendências modernas que nasciam em outros países da Europa, o Marquês de Pombal trouxera para a corte portuguesa novas propostas que seriam desenvolvidas em sua administração, baseadas nos ideais iluministas – não com o objetivo anti-histórico e irreligioso seguido na França, mas centrado em um pensamento progressista, reformista, nacionalista e humanista. Tomando como embasamento teórico a História das Ideias Linguísticas, a partir dos postulados de Sylvain Auroux – definição puramente fenomenológica do objeto, neutralidade epistemológica e historicismo moderado – e com o objetivo de fazer um arrolamento das principais colaborações do Verdadeiro Método de Estudar na reforma imposta pelo Marquês de Pombal, foi feita uma relação entre as propostas de Luis Antônio Verney e as determinações do Marquês de Pombal acerca da educação. Após a análise, constatou-se que a reforma no ensino foi bastante significativa para a modernização educacional que instruía e qualificava o aluno para os interesses civis e políticos e que continuaria a se desenvolver durante o reinado de D. Maria I.

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Estudos em Análise do discurso I

A importância da argumentação nos estudos críticos do discurso

Douglas Rabelo de Sousa (USP) O seguinte trabalho tem por objetivo explorar a convergência dos Estudos Argumentativos junto aos Estudos Críticos do Discurso tanto teórica como analiticamente. Para a discussão das vertentes da Teoria da Argumentação que dialogam com os Estudos Críticos do Discurso, lançaremos mão dos trabalhos de Freeman (2011); Hart; Cap (2014) e Reisigl (2014). Em relação à parte analítica, investigaremos um conjunto de três textos – que dialogam entre si – sobre a temática da imigração a partir da ótica da dita direita política brasileira. O primeiro consiste no vídeo de Olavo de Carvalho “Leandro Narloch e o Politicamente Correto”, publicado no YouTube; o segundo, no artigo de opinião, “O erro de Olavo de Carvalho sobre a imigração” de Leandro Narloch, publicado em 9 de dezembro, no blog da VEJA; e o terceiro, no editorial “O erro de Leandro Narloch sobre a imigração” do Diário da insurgência, também de 9 de dezembro, todos de 2015. A análise será embasada, em termos macroestruturais e esquemáticos, pela Pragmadialética (Eemeren, Houtlosser e Snoeck-Henkemans, 2007) e, em termos funcionais, pelo Modelo Toulmin (Toulmin, 1958; Toulmin; Rieke; Janik, 1978; Gonçalves-Segundo, 2016) .A partir da estruturação funcional e da depreensão dos esquemas/estratégias argumentativas, apresentaremos uma análise crítico-discursiva baseada em Fairclough (2003), Gonçalves-Segundo; Zelic (2016) e Van Dijk (2015) que nos permitirá discutir a pertinência dos estudos macroestruturais, funcionais e esquemáticos da argumentação para o estudo crítico-discursivo das representações e das ideologias no âmbito da imigração.

Uma análise discursiva na propaganda da cerveja Devassa

James Fabian Ciardullo (PUC-SP) Este trabalho tem como tema: Uma Análise Discursiva na Propaganda da “Cerveja Devassa”. Procuramos aqui responder às seguintes questões: o que é Ethos Discursivo, bem como o que é Enunciado Destacável. E, por conseguinte, como ambos agem no anúncio em questão, a fim de persuadir o público-consumidor, levando-o, consecutivamente, à aquisição do produto veiculado. Afinal de contas, diante dessa competitiva indústria, os propagandistas, cada vez mais, fazem uso de recursos verbo-visuais, isto é, de uma linguagem multimodal e criativa, visando à atenção e interesse do consumidor em potencial e, dessa forma, buscando sobressair-se perante a concorrência. Não obstante isso, verificamos também a relação das cores com o exame proposto. Objetivamos, portanto, investigar a eficácia discursiva na propaganda escolhida, através desses subsídios. A presente pesquisa é de abordagem qualitativa e, quanto aos procedimentos, bibliográfica, embasada nos autores: Carrascoza (2003), Charaudeau (2008), Maingueneau (2008, 2011, 2014, 2015), Reboul (1975), entre outros. Já o corpus de análise é composto de um anúncio da “Cerveja Devassa”, cuja protagonista é a cantora Sandy. Verificamos, com essa apreciação, que os elementos verbo-visuais, em conjunto, exercem um papel fundamental na transmissão e eficácia da comunicação comercial. E a análise do Discurso, com suas categorias, contribui muito para este universo propagandístico. Por fim, quanto à avaliação aqui sugerida, poderemos realizá-la em outras propagandas e, até mesmo, ampliá-la. Palavras-chave: análise discursiva; propaganda; verbo-visual.

O discurso das torcidas e dos terreiros

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Jonatas Eliakim D’Angelo de Oliveira (PUC-SP)

O campo de futebol comporta o simulacro da guerra. Nele, batalhões se alinham em defesa de valores de grupo que remontam aos defendidos pelos heróis clássicos da epopeia homérica, por outro lado, nos terreiros de Umbanda, os médiuns também, a sua maneira, se alinham para combater uma guerra individual. Considerando a ausência de pesquisas linguísticas que tratem, nas perspectivas da Análise do Discurso, dos gêneros de discurso Gritos de torcida de futebol e Pontos de Umbanda, propomos abordá-los, neste trabalho, a fim de ressaltar suas especificidades e as relações que esses gêneros estabelecem entre si no processo de construção da identidade do herói moderno. Iremos analisar, na perspectiva da Análise do Discurso francesa, a partir de Maingueneau, como se constituem os gêneros discursivos para compreender melhor os efeitos de sentido decorrentes dessas práticas sociais, pois toda manifestação verbal organiza-se, inevitavelmente, em algum gênero.

Comentários on-line: diálogo ou violência?

Renata Nobre Tomás (PUC-SP) Ao pensarmos em casos de violência, acionamos estereótipos que nos conduzem mais comumente a algumas modalidades, como agressões e assassinatos. Há nessa concepção, entretanto, uma visão que não contempla os estados de violência, ou seja, aqueles em que há dominação sem o dano físico. Considerando que a violência também pode se materializar na e pela linguagem, objetivamos analisar os estados de violência presentes nos comentários de jornais digitais. Para tanto, selecionamos duas notícias publicadas no dia 8 de março de 2017 e seus respectivos comentários acerca do pronunciamento do presidente Michel Temer por ocasião do Dia Internacional da Mulher. Selecionamos: 1) a matéria do jornal O Globo “Temer diz que mulheres analisam melhor preço de supermercado” e seus 48 comentários; 2) a matéria do jornal Folha de S. Paulo “‘Tenho convicção do que a mulher faz pela casa', diz Temer no Dia da Mulher” e seus 60 comentários. Embasamo-nos nos estudos que tratam sobre estados de violência/violência simbólica, dentre os quais Michaud (1989), Dias (2008) e Bourdieu (2016). A presente pesquisa, cujo enfoque é a perspectiva discursiva, pretende contribuir com estudos sobre as diferentes modalidades de violência, mais especificamente a violência que se materializa pela linguagem e tem se naturalizado no espaço destinado à interação de leitores do jornalismo on-line. Com a análise do corpus, verificamos que o discurso da violência foi recorrente nos comentários, ora desqualificando a figura do idoso ora a da mulher.

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Estudos em análise do discurso II

Heterodiscursividade e memória da língua: tensões dialógicas em torno da variante “nós pega o peixe”

Elvis Lima de Araujo (UNIFESP) Esta pesquisa busca demonstrar como as vozes sociais flagradas na cadeia comunicativa discursiva construída em torno de “Nós pega o peixe” participam da construção de uma memória do português brasileiro. O recorte temporal remete ao ano de 2011, quando o livro didático “Por uma Vida Melhor”, desenvolvido para a modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos – EJA, chegou às escolas públicas brasileiras apresentando uma proposta de descentralização verboideológica evidenciando a língua em uso. O objeto então investigado é a atualização da potencialidade semântica do elemento linguístico “Nós pega o peixe”. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental com análise de materiais da mídia digital veiculados em jornais online, blogs e portais de notícias que versam em torno da polêmica gerada a partir da presença da citada variante num livro didático de língua portuguesa. O embasamento teórico se instaura a partir do pensamento bakhtiniano através da Teoria Dialógica do Discurso. Parte-se da ideia de que o discurso se constitui na perspectiva da existência do “outro” e se materializa ideologicamente através de relações axiológicas que envolvem alteridade, reiteração e identificação entre seus interlocutores. São premissas para esta proposta de investigação, as ideias de que a língua funciona na relação entre forças centrípetas e centrífugas (valores e vozes sociais) e de que a contemporaneidade tem passado por constrangimentos que demandam um redesenho dessas forças e, com isso, trazido novas forças mediadas pela internet. Espera-se que esta pesquisa contribua na compreensão de fenômenos discursivos em novos contextos de interação. Palavras-chave: heterodiscursividade; memória da língua; mídia digital; forças centrípetas e centrífugas.

Representações discursivas da mulher no discurso do presidente Michel Temer

Larissa Reis Matoso (UNICSUL) A presente pesquisa tem como objeto de investigação o discurso político do Presidente da República Federativa do Brasil, Michel Temer, mais precisamente, seu discurso proferido na cerimônia de comemoração do Dia Internacional da Mulher, em 8 de Março de 2017, no Palácio do Planalto - DF. Este trabalho, que pretende contribuir com a compreensão sobre o poder impresso nas unidades discursivas, a partir dos valores éticos e estéticos, procura compreender como Michel Temer representa discursivamente as mulheres brasileiras e as relações construídas entre o locutor, seus interlocutores e o objeto de seu discurso. Esta análise, que se encontra situada no quadro teórico da Análise Dialógica do Discurso, tem como base os pressupostos de discurso e ideologia de Bakhtin e do Círculo e de Berti-Santos (2012) sobre valores éticos e estéticos. A realização deste estudo se justifica na necessidade de analisar a identidade feminina que é estabelecida no discurso político presidencial, a fim de observar se são elaborados novos papéis da mulher ou se são reforçados os valores de uma sociedade patriarcal. Palavras-chave: análise dialógica do discurso; discurso político; ideologia; identidade da mulher; ético e estético.

Impeachment Dilma Rousseff: uma análise retórica sobre o argumento do golpe

Leonardo Tavares (PUC-SP) & Mariano Magri (PUC-SP) Esta comunicação está situada na área da Nova Retórica e tematiza o discurso político na atualidade. A problemática envolvida compreende a antifonia dos discursos proferidos no Senado Federal no dia do

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julgamento do impeachment da ex-presidente da República Dilma Vana Rousseff. A pesquisa realizada fundamenta-se nos teóricos da retórica, especialmente em Perelman-Tyteca e Reboul e tem por objetivo geral contribuir com os estudos da antifonia nos discursos políticos. São objetivos específicos: a) demonstrar as estratégias discursivas para invalidar o discurso do opositor; b) mostrar que o discurso é uma prática de sobrevivência no campo político. O procedimento metodológico é qualitativo com base teórico-analítica. O corpus selecionado é o material produzido e publicado pelo Senado Federal com todos os pronunciamentos dos senadores e advogados das partes (acusação e defesa), no período de 25 a 31 de agosto de 2016. Os resultados obtidos, ainda provisórios, fazem parte de uma dissertação de mestrado em andamento. Contudo, a pesquisa permite algumas considerações: a) todo argumento pode ser invertido, produzir outro ponto de vista e, dessa forma, projetar outra realidade; e b) argumentos em favor de “golpe” estão atrelados às paixões, e não fundamentados em aspectos legais. As conclusões, até então, permitem-nos dizer que os discursos políticos sustentam-se, sobretudo, por estratégias retóricas ligadas ao pathos e por mecanismos de constituição do verossímil como recurso de manutenção do poder. Palavras-chave: antifonia; nova retórica; discurso político.

Representações discursivas do sujeito manauense e da cidade de Manaus no discurso publicitário

Lorena Maria Nobre Tomás (PUC-SP)

Este artigo tem por objetivo investigar a representação discursiva do sujeito manauense e da cidade de Manaus em um discurso publicitário publicado no jornal A Crítica. A amostra está composta por um anúncio publicado no dia 23 de outubro, de 2010, véspera do aniversário da cidade. Para a realização deste trabalho, fundamentamo-nos na Análise do Discurso (AD), mais especificamente na perspectiva enunciativo-discursiva, conforme proposta por Maingueneau (1997, 2008a, 2008b, 2015). A análise está, portanto, assentada nos pressupostos teórico-metodológicos dessa disciplina, que tem se mostrado um poderoso dispositivo de leitura, inclusive de gêneros multimodais. Nossas principais categorias de análise são: interdiscurso, gênero de discurso e cenografia. Dada a condição interdisciplinar da AD, fazemos uma aproximação com os Estudos Culturais a fim de situarmos o conceito de identidade e o de cultura, que são relevantes para a temática aqui investigada. Para tanto, recorremos aos estudos de: Williams (2011), Hall (2011 e 2014) e Bauman (2005 e 2013). Das condições sócio-históricas de produção do discurso, destacamos o campo do discurso publicitário, o mídium em que o anúncio foi publicado e alguns dados históricos da cidade de Manaus. A análise do discurso publicitário possibilitou-nos a identificação das seguintes representações discursivas do sujeito manauense e de Manaus: cidade acolhedora, moderna; povo acolhedor e sempre feliz, de cultura flexível. Esse discurso insere-se na lógica da globalização e da modernidade líquida, como proposta Bauman (2005 e 2013), na qual são valorizados os padrões de uma cultura globalizada, “moderna” e de uma identidade flexível, fluida. Palavras-chave: análise do discurso; gênero publicitário; representação identitária.

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Estudos em análise do discurso III

Mulher Maravilha: cultura e ideologia

Silvana Parrella Brito (UPM) O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise das coerções sociais e ideológicas implícitas na imagem da Mulher Maravilha. Serão analisadas as cores e a influência no período histórico que surgiu. A personagem dos quadrinhos Mulher Maravilha foi criada em 1941 pelo psicólogo William Marston, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o objetivo de fortalecer a figura da mulher norte-americana. “O personagem com o qual nos identificamos ao ler uma história em quadrinhos, não apenas possui um valor, como também nos passa vários outros de contrabando” (DORFMAN, Ariel; JOFRÉ, Manuel. Super-Homem e seus amigos do peito. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, p. 98). Somente os homens iam para a guerra e com a saída deles faltava mão de obra nas indústrias, principalmente na indústria bélica, então as mulheres passaram a ser recrutadas para o trabalho, por isso era preciso fortalecê-las. Segundo Marx e Engels em a Ideologia Alemã a linguagem e o pensamento não são realidades autônomas, mas sim expressões da vida real; sendo, portanto, vinculados à vida social. Devemos notar que, por meio do discurso dos super-heróis, há uma forma de ver o mundo, exprimir pensamentos, falar do mundo externo e agir sobre ele. A Mulher Maravilha fez sucesso entre as mulheres por causa de sua força e poder para enfrentar seus inimigos, mas fez sucesso também entre os homens por causa de sua sensualidade.

No princípio era o verbo, fez-se a linguagem e criou-se o discurso

Marta Silva Souza (UNIFESP) As igrejas estão, cada vez mais, ocupando espaço na programação televisa brasileira. Elas são proprietárias de canais ou alugam horários para exibição de seus programas a fim de entrar na competição pela maior audiência. A priori, conseguir maior número de telespectador pode levar ao aumento do número de seus fiéis. Para isso, o enunciador se vale de estratégias discursivas que, de algum modo, cria uma aproximação entre o que é dito e as necessidades do outro. Pensando nisso, a partir dos estudos da análise do Discurso de linha Francesa, esta comunicação propõe uma análise linguística e discursiva de enunciados produzidos em um programa transmitido na TV aberta, a saber, o Fala que eu te escuto. Objetivamos verificar os mecanismos de linguagem utilizados na construção dos discursos a partir das cenas enunciativas, o que permitirá a construção ethos discursivo do enunciador e apresentar os possíveis efeitos de sentidos desses discursos. Nos pautaremos nas reflexões sobre discurso, ethos discursivo e cenas da enunciação de MAINGUENEAU (1997, 2004, 2008, 2010, 2015), os estudos sobre comunicação de massa e mídia de MORIN (1997) e CHARAUDEAU (2006), e na relação entre mídia e formação discursiva de FONSECA (2007) GREGOLIN (2009), BARBERO (2009).

O imperialismo linguístico (re)velado

Carla Abreu de Pointis (UPM) Ao longo da História da humanidade, as línguas têm servido como ferramenta de expansão imperial. O Império Britânico teria como responsabilidade, segundo sua autodeterminada incumbência, impor aos “selvagens” sua civilização, cujo elemento fundamental era, evidentemente, a língua. A teoria do imperialismo de Galtung prevê seis classes de imperialismo que estão mutuamente interligadas – sendo a língua uma sétima classe, que perpassa todas as dimensões que compõem o imperialismo como conceito geral, constituindo, então, o

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imperialismo linguístico. O imperialismo linguístico da língua inglesa padrão – uma variedade de Linguicismo – pode ser definido como um conjunto de ideologias, estruturas e práticas que são utilizadas para legitimar, realizar e produzir uma divisão desigual de poder, tanto material quanto imaterial, entre diferentes grupos linguísticos. Há uma oposição, entretanto, ao domínio da língua inglesa, advinda de diversas esferas, em particular, dos povos colonizados. Os manifestantes reconhecem as evidências do imperialismo linguístico e da dominação, e imbuem-se de um desejo de combatê-los, devido à conscientização dos mecanismos de imposição de uma uniformidade linguística que visa a entorpecer manifestações culturais heterogêneas, tanto intelectual quanto espiritualmente. Estudos empírico-metodológicos sobre a ideologia dos colonizadores e a conscientização dos colonizados acerca dos assuntos endereçados ao ‘Terceiro Mundo’ levam à compreensão quanto ao papel que a linguagem desempenha ao internalizar as normas do colonizador, levando ao desenraizamento cultural pertinente ao universo do dominado. A fim de compreender as relações entre língua e colonialismo, é necessário que se apresente uma definição coerente que diferencie língua e dialeto em relação ao poder social.

A representação das emoções do personagem george na adaptação fílmica de a Single man

Victor Matheus da Costa (UPM)

Neste trabalho tratamos da adaptação do romance A single man, escrito por Christopher Isherwood (1964), para o filme, dirigido por Tom Ford (2009). O objetivo deste trabalho é observar os recursos midiáticos utilizados para representar as emoções do protagonista George. Para tanto, analisamos uma sequência de cenas intitulada, no roteiro (FORD; SCEARCE, 2009), Carlos, escolhida devido sua relevância na expressão das emoções. Quanto à narrativa, acompanhamos um dia na vida de George, um professor de Literatura Inglesa numa universidade em Los Angeles, desempenhando suas atividades rotineiras. No entanto, descobrimos aos poucos, por meio de flashbacks e fluxos de consciência, sua grande fonte de sofrimento. No presente da narrativa, George já vem tentando sobreviver há algum tempo e, neste dia específico, ele sente como se não tivesse mais forças para continuar. Neste ponto estão ancoradas todas as emoções sentidas por ele ao longo do dia, fazendo-nos compreender que o personagem enxerga tudo com atenção especial, dotando de novas sensações e novas significações o que passa despercebido cotidianamente. Para a análise, tomamos como base teórica os estudos de adaptação (HUTCHEON, 2006; MCFARLANE, 2004), questões estéticas próprias do discurso cinematográfico (AUMONT, 2008; VANOYE, 2013; XAVIER, 2008) e o conceito de cinematic heterotopia (BURGIN, 2006). Metodologicamente, contextualizamos brevemente as duas obras, descrevemos e analisamos o filme cotejando-o com trechos adaptados do romance e concluímos apontando os recursos mais relevantes mobilizamos na representação das emoções, como zoom e saturação das cores, por exemplo, e finalmente, refletindo sobre as implicações na interpretação da obra.

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Estudos em lexicogramática

Metáfora e metonímia em locuções causais, condicionais e concessivas

André Vinicius Lopes Coneglian (UPM) Neste trabalho propõe-se discutir o estatuto categorial das tradicionalmente chamadas locuções conjuntivas, que são aquelas formadas por uma base lexical e uma partícula subordinativa, como é o caso de visto que, já que, se bem que, ainda que, entre outras. No português brasileiro, o esquema sintático que permite essas formações é bastante produtivo, principalmente para locuções que compõem a zona semântica das causalidades, que abriga relações de causalidade, de condicionalidade e de concessividade. Discute-se, especificamente, o modo pelo qual o significado dessas locuções surge. Por um lado, há autores que argumentam a favor de processos metafóricos e metonímicos na composição do significado dessas conjunções, ficando a cargo da partícula subordinativa o estabelecimento de tal significado (por exemplo, Barreto, 1999); por outro, há os autores que assumem uma completa indisociabilidade entre base lexical e partícula subordinativa (por exemplo, Moraes, 1976). Essas duas visões são reinterpretadas, neste trabalho, à luz da teoria da Gramática Cognitiva (LANGACKER, 1987, 1991), como composicionalidade e analisabilidade, respectivamente. A operacionalização dessas duas questões passa pela formação de mapas semânticos das locuções da zona de causalidades. Palavras-chave: locuções conjuntivas; composicionalidade; causalidade; condicionalidade; concessividade.

A subjetivização na polissemia de “coxinha”: uma abordagem sob a visão da linguística cognitiva

Beatriz Daldosso Felippe (UNIFESP)

Esta pesquisa tem por objetivo apresentar um estudo detalhado sobre a polissemia, fenômeno de associação de dois ou mais sentidos a uma única forma linguística, da palavra “coxinha” dentro do ambiente político atual. Sob o viés da linguagem e da cognição propõe-se analisar o desenvolvimento e compreender o significado da palavra “coxinha”, a partir das manifestações populares ocorridas em 2013, pela via da subjetivização, que é caracterizada como um processo de mudança semântica, conceito funcionalista proposto por Traugott e absorvido pela Linguística Cognitiva. Nessa teoria, metáfora, metonímia (que podem atuar juntas dentro da perspectiva da Linguística Cognitiva) e a subjetivização, são processos que constituem a polissemia, fenômeno de caráter onomasiológico, uma vez que se parte do sentido experiencial para o sentido abstrato e que recebe da Linguística Cognitiva amento condizente com o modelo radial de categorização. A polissemia terá enfoque no âmbito da morfologia por se tratar de uma palavra no diminutivo. Este trabalho dispõe a uma análise da polissemia na palavra “coxinha”, a partir da hipótese de que a subjetivização tem papel preponderante sobre a metáfora e a metonímia. Palavras-chaves: polissemia; metáfora; metonímia; subjetivização.

A acessibilidade referencial em narrativas escritas destinadas ao público infantil

Elise Nakladal de Mascarenhas Melo (UPM) Este trabalho investiga os fatores intervenientes na acessibilidade de referentes (ARIEL, 2016 [1990]) em narrativas escritas destinadas ao público infantil. O conjunto do córpus é composto por dois livros ilustrados publicados na coleção Penguin Young Readers: Frances Hodgson Burnett´s The Secret Garden, destinado ao leitor em transição; e Lewis Carroll´s Alice in Wonderland, destinado ao leitor fluente. Adicionalmente,

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comparam-se os resultados com o exame do texto original Alice´s Aventure in Wonderland (CARROLL, 2009 [1865]). Os resultados obtidos na verificação dos fatores intervenientes na acessibilidade de referentes revelam, para a posição de A (sujeito de verbo transitivo), a preferência pelo substantivo próprio nos casos de intervenção negativa dos fatores “distância”, “competição”, “saliência” e “unidade” na acessibilidade referencial, dado que esse marcador de acessibilidade, operando em conjunto com a ilustração, na qual se evidenciam os traços descritivos do referente, configura-se como um acesso imediato do leitor à entidade referenciada. Para a posição de O (objeto direto), observa-se a preferência pelo sintagma nominal nucleado por substantivo comum nos casos de intervenção negativa dos quatro fatores na acessibilidade referencial, porquanto o objeto direto, em princípio, não se constitui como Tópico, requerendo, portanto, para a interpretação satisfatória do leitor, uma expressão referencial informativa. E afinal, para ambas as casas sintáticas (A e O), observa-se o uso de referente expresso por pronome predominantemente nos casos de intervenção positiva dos quatro fatores na acessibilidade referencial, dado que esse marcador de acessibilidade recupera um antecedente por remissão textual, dificultando o acesso da criança à entidade referenciada. Palavras-chave: gramática funcional; Tópico discursivo; acessibilidade referencial.

A organização referencial no texto infantil No meio do caminho de Alvinho tinha uma pedra...

Luciana Ribeiro de Souza (UPM)

Este trabalho objetiva, com apoio da teoria funcionalista da linguagem, especialmente Halliday e Matthiessen (2004), Dik (1997) e Neves (2004; 2005; 2007; 2010; 2012), verificar o modo de organização do fluxo referencial no texto infantil “No caminho de Alvinho tinha uma pedra...”, de Ruth Rocha (2004), ilustrado por Cláudio Martins. Para não multiplicar variáveis, o foco desta análise está fixado nos referentes que categorizam ou rotulam as personagens da trama discursiva (em particular o protagonista). Nesse caso, interessa observar o modo de construção dos processos de identificação e de descrição das personagens no fluir do texto, o que pode ser remetido ao modo de construção dos sintagmas que preenchem as casas referenciais: sintagma nominal, pronome, ou zero (NEVES, Inédito). Objetiva-se especificamente examinar: (a) o grau de descrição do objeto de discurso ativado, visto em relação com o tipo de elemento linguístico usado no processo referencial; b) a relação estabelecida entre o texto verbal e o texto imagético, quanto à organização referencial. A análise deste texto permitiu verificar: (i) a manutenção do referente alternada pelo uso do nome próprio e pelo uso dos sintagmas nominais de núcleo comum (que vão construindo as identificações internas ao texto); (ii) a diferente condução no estabelecimento da cadeia referencial quando o que está em análise é um texto com ilustrações. Palavras-chave: referenciação; grau de identificação referencial; relação entre o verbal e o imagético.

O estudo do infinitivo flexionado e o parâmetro do sujeito nulo em cartas dos séculos XVIII, XIX e XX

Sarah Cristina Silva Leite Vargas (UNIFESP) O objetivo deste trabalho é discutir sobre o comportamento dos infinitivos flexionados dos séculos XVIII, XIX e XX por meio do Parâmetro do Sujeito Nulo e do conceito de Tradições discursivas. O presente estudo apresenta uma análise sobre o infinitivo flexionado dos séculos XVIII, XIX e XX sob uma perspectiva diacrônica. Por meio do estudo dos infinitivos flexionados (MAURER Jr., 1968; PIRES, 2006; SALLES, 2006; MODESTO, 2011) e de estudos de sintaxe diacrônica (KROCH, 1989), foram analisadas ocorrências do fenômeno em destaque em textos do português paulista dos séculos mencionados a partir do parâmetro do sujeito nulo (RAPOSO, 1987; MARINS, 2009). O enfraquecimento da flexão dos verbos no português brasileiro é crescente (GALVES, 1993), contudo o infinitivo flexionado contraria essa perda de flexão, sendo utilizado mesmo na escrita em contextos em que não está prevista sua ocorrência (CANEVER, 2012). Nos textos paulistas, contudo, observamos os contextos de presença dos infinitivos, sua presença, crescimento e, no último século, uma presença mais restrita, se opondo a uma tendência verificada em textos mais recentes. Por

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meio do estudo da teoria do Caso (CHOMSKY, 1986; VERGNAUD, 2008 [1977]), do Parâmetro do Sujeito Nulo e do conceito de Tradições Discursivas (Cf. KOCH, 1997; KABATEK, 2006) foram analisados trechos de cartas, a fim de entendermos o processo de enfraquecimento da flexão no português brasileiro.

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Estudos de língua falada Construção conjunta e multimodalidade: ações investigadas a partir de interações envolvendo um sujeito

autista

Douglas Vidal Santiago (UNIFESP) O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é descrito clinicamente como uma patologia que afeta o desenvolvimento neurocognitivo e compromete em graus e formas distintos o engajamento do sujeito na construção conjunta da atenção, das ações e na participação em interações sociais (Lai, Lombardo & Baron-Cohen, 2014). Esta pesquisa visa analisar a forma como se organizam do ponto de vista estrutural as ações de colaboração e construção da atenção conjunta envolvendo um sujeito autista e o que elas podem nos indicar sobre questões mais gerais relacionadas ao TEA e suas implicações para a interação cotidiana. Para isso, trabalhamos com um estudo de caso cujos dados são extraídos do corpus CELA – Corpus para Estudo da Linguagem no Autismo (Comitê de Ética em Pesquisas da Universidade Federal de São Paulo, CEP 0052/2015 e CEP 1172/2016). O CELA refere-se às interações de uma criança autista, cujo pseudônimo é Luiza, no período em que este sujeito participante tinha de 10 a 12 anos. Em sua constituição final, o corpus tem aproximadamente 6h de gravações selecionadas sob critérios: qualidade; aprovação dos participantes; viabilidade para a realização de transcrições e análises multimodais. Os dados foram transcritos conforme apresentados em Mondada (2012, 2016) adaptados da notação de Jefferson (1984). Nesse estudo focamos em abordagens que enfatizam os aspectos pragmáticos da linguagem e destacamos as produções verbais, bem como o uso de gestos como formas linguísticas simbólicas que devem ser compreendidas e significadas nos momentos em que Luiza assume papel de sujeito na linguagem e se constitui como falante.

As reações às manifestações de impolidez em embates do Supremo

Fabiana Portela de Lima (UPM) Este trabalho destina-se a analisar manifestações de impolidez linguística sob a perspectiva do destinatário, ou seja, analisar o comportamento do destinatário frente a atos ameaçadores a sua face e os reflexos deste comportamento no desenvolvimento da interação. Neste trabalho, são analisadas reações às manifestações de impolidez registradas em embates ocorridos entre ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) durante o julgamento do caso do “mensalão” em 2012. Esta análise é realizada com base nos estudos de impolidez linguística desenvolvidos por Culpeper (2003). Segundo o estudioso, há duas possibilidades de reação a um ato ameaçador, manter-se em silêncio e responde-lo, acatando ou combatendo-o. A exemplo dos estudos desenvolvidas pelo linguista, no corpus deste trabalho não foram registrados silêncios diante das manifestações de impolidez, tampouco essas foram recebidas passivamente pelos destinatários, todas foram respondidas defensiva ou ofensivamente contribuindo para manutenção dos embates.

Ninguém fala assim! Realidade e idealização na representação da fala espontânea

Felipe Vivian Goulart (UPM) No decorrer das últimas décadas, os estudos da oralidade têm oferecido à comunidade científica uma descrição detalhada da maneira como a comunicação oral funciona (Preti, 2003, 2011; Preti e Urbano, 1990; Leite e Callou, 2002; Tarallo, 1983, 2007; Harvie, 1998; Chafe, 1980, 1994; Ilari e Neves, 2008). Com resultados que frequentemente indicam a existência de uma diferença entre a forma como as pessoas acreditam falar e a forma

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como elas falam de fato, esse ramo da linguística já reuniu diversos dados relacionados às especificidades fonéticas, morfossintáticas e discursivas da língua falada. Com base nesse banco de informações, parece exequível a tarefa de selecionar uma variedade linguística e verificar até que ponto ela se aproxima ou se distancia daquilo que os linguistas vêm demonstrando ser a língua falada real. É esse o objetivo deste trabalho, sendo as variedades linguística selecionadas: (i) a língua falada em filmes, seriados, novelas e afins, isto é, a fala da ficção audiovisual; (ii) a língua falada em pegadinhas e em outros gêneros supostamente não roteirizados. Tendo como principal referência de fala espontânea e pouco monitorada as amostras de interação do corpus de Iboruna, pretende-se determinar até que ponto pretensas representações da fala espontânea realmente a representam e, com isso, obter pistas quanto aos traços que denunciam a artificialidade de uma produção roteirizada.

Os diferentes graus de atenuação revelados em operações metaenunciativas no discurso falado

Lara Oleques de Almeida (UPM) O presente estudo tem por objetivo estudar o fenômeno pragmático-linguístico das interações faladas, a fim de descrever e analisar as estratégias discursivas de atenuação linguística manifestadas por meio de procedimentos de natureza metaenunciativa do tipo não-coincidências do discurso consigo mesmo. Em outras palavras, investigamos o modo como essas expressões produzem efeitos de atenuação (mitigação da força ilocucionária do ato de fala) nos enunciados quando a voz do outro aparece de forma explícita na superfície do discurso do falante ao fazer uma reflexão ou um comentário sobre o seu próprio dizer (metaenunciação). O objetivo específico deste trabalho é verificar os graus de atenuação revelados nessas expressões metaenunciativas em interações face a face sob a perspectiva da Linguística Interacional e da Teoria da Enunciação. O corpus de análise está composto por 90 expressões presentes em 47 inquéritos DID (Diálogos entre Informante e Documentador) selecionados do Projeto NURC/RJ (Norma Urbana Culta da cidade do Rio de Janeiro) e a abordagem metodológica é eminentemente qualitativa, sem desconsiderar a quantitativa quando esta auxilia a interpretação dos dados e indica tendências. As análises realizadas apontam para os seguintes resultados: 1) a maior ou menor determinação do enunciador instaurado pelo falante em seu discurso (o segundo enunciador) não interferiu no grau de atenuação da expressão; 1.1) este foi determinado pela maior ou menor ocultação/exibição do eu enunciativo; 2) a maioria das expressões apresentam elevado grau de atenuação; 2.1) algumas expressões compostas por formas pronominais apresentaram um menor grau de atenuação por compartilharem a autoria do dizer do falante com o segundo enunciador.

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Estudos sobre construção e representação de identidades

A interdiscursividade no discurso de Michel Temer: um estudo sobre a representação feminina no dia internacional da mulher

Maísa Tuasca (UPM)

A presente pesquisa tem como objeto de investigação o discurso político do Presidente da República Federativa do Brasil, Michel Temer, mais precisamente, seu discurso proferido na cerimônia de comemoração do Dia Internacional da Mulher, em 8 de Março de 2017, no Palácio do Planalto - DF. Este trabalho, que pretende contribuir com a compreensão sobre o poder impresso nas unidades discursivas, a partir dos valores éticos e estéticos, procura compreender como Michel Temer representa discursivamente as mulheres brasileiras e as relações construídas entre o locutor, seus interlocutores e o objeto de seu discurso. Esta análise, que se encontra situada no quadro teórico da Análise Dialógica do Discurso, tem como base os pressupostos de discurso e ideologia de Bakhtin e do Círculo e de Berti-Santos (2012) sobre valores éticos e estéticos. A realização deste estudo se justifica na necessidade de analisar a identidade feminina que é estabelecida no discurso político presidencial, a fim de observar se são elaborados novos papéis da mulher ou se são reforçados os valores de uma sociedade patriarcal. Palavras-chave: análise dialógica do discurso; discurso político; ideologia; identidade da mulher; ético e estético.

Ideologia e processo eleitoral: o ethos feminino

Patrícia Mafra (PUC-SP) O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão acerca da propaganda Justiça Eleitoral – ramo especializado do Poder Judiciário, que aborda a participação da mulher na política. Essa propaganda foi veiculada, nacionalmente, nos meios de comunicação de massa, televisão e internet, a partir do segundo trimestre do ano de 2016 – ano de eleições municipais no Brasil. Temos como objetivo geral analisar o ethos discursivo feminino, considerando as particularidades da propaganda política da Justiça Eleitoral. Como objetivos específicos, temos a análise da constituição do ethos feminino no campo discursivo político em um processo eleitoral e como o uso da ideologia do feminino busca garantir a construção de efeitos de sentido para a adesão do coenunciador. Para tanto, usaremos como base teórica a Análise do Discurso de linha francesa nos pressupostos teóricos de Maingueneau (2004) e Pêcheux (1990).

Estereótipos no discurso humorístico: o caso dos evangélicos

Rafael Prearo Lima (UNESP/Rio Preto) Este trabalho, ancorado nos princípios teórico-metodológicos da Análise de Discurso de linha francesa (AD), tem como objetivo investigar o funcionamento de estereótipos de evangélicos brasileiros da atualidade por meio do discurso humorístico, justificando a escolha do humor pelas representações exageradas e caricaturais comumente presentes nele. Oriunda das Ciências Sociais, a partir dos estudos de Lippmann (1922), a noção de estereótipos é explicada por Amossy e Herschberg-Pierrot (2001) como esquemas culturais preexistentes e representações cristalizadas indispensáveis para a vida em sociedade, através das quais é possibilitado a cada indivíduo filtrar a realidade de seu entorno. Essas representações são fictícias, não por serem “mentirosas”, mas por expressarem um imaginário socialmente construído que recorta e simplifica a realidade à medida que adere

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ao processo de generalização e de categorização. A partir disso, discutiremos como é possível analisarmos estereótipos por meio de pontos de contato dessa noção com a AD, como nas noções de memória discursiva (FOUCAULT, 1969; COURTINE, 2009); cenas da enunciação, mais especificamente, nas cenas de fala validada (MAINGUENEAU, 2008, 2010, 2013), ethos discursivo (MAINGUENEAU, 2008, 2010, 2013) e simulacro (MAINGUENEAU, 2008; POSSENTI, 2010). Por entendermos que os estereótipos não são delimitados pelos gêneros, mas que circulam por eles, selecionamos como corpus de análise diferentes gêneros do discurso humorístico (piadas, charges, tirinhas) em que os evangélicos são representados.

Instagram e o estereótipo feminino no dia internacional da mulher em 2017

Patrícia de Jesus Menino (UPM) Este artigo visa compreender como os estereótipos da figura feminina, no que diz respeito ao papel que esta representa na sociedade, encontram-se presentes nas campanhas publicitárias veiculadas na internet atualmente. Fizemos uma breve análise linguística com o intuito de investigar quais concepções de ideologia estão presentes nas relações dialógicas inscritas nestes discursos, e a partir disto, avaliar de que forma as estratégias de construção de sentido estão presentes no conteúdo verbo-visual postado. Na era da internet, a principal característica do discurso publicitário presente nas timelines das redes sociais é a possibilidade de segmentação da mensagem e falar quase que diretamente com sua audiência procurando estabelecer criar uma atmosfera de conversa entre conhecidos. A comunicação direcionada a cada fatia do público-alvo traz o efeito de personalização, mas será que os anunciantes conseguem elaborar discursos realmente democráticos e livres dos estereótipos. Ou será que apenas dizem o que cada um prefere ouvir e acabam por se contradizer em um discurso macro. A partir desta problemática, buscamos o pensamento do círculo de Bakhtin, e seu conceito de dialogismo, como linha condutora deste estudo. E, como objeto de análise, selecionamos as campanhas publicitárias das empresas Casas Pernambucanas e Renner veiculadas na rede social Instagram, em celebração ao Dia Internacional da Mulher por se tratarem de duas marcas populares de moda varejo que embora conversem com outros públicos se consolidaram através do discurso com o público feminino. Palavras-chave: estereótipos; discurso publicitário; imagem da mulher; dialogismo.

Do outro lado do Atlântico: questões de identidade e relações de afetividade com a língua cabo-verdiana

Marcella Iole da Costa (UPM)

Considerando a língua como um dos importantes fatores para a construção da identidade, o artigo aborda os pontos relevantes dessa construção, mostrando de que maneira a língua funciona como um elemento significativo de manifestação da identidade, tanto em seu conceito mais voltado ao indivíduo, como na manifestação da identidade nacional, por meio da análise de depoimentos de um cabo-verdiano residente no Brasil exibido no documentário Do Outro Lado do Atlântico, com roteiro e direção de Daniele Ellery, lançado no Brasil em 2017. Para tanto, são feitas breves considerações sobre o conceito de identidade (com base em BRITO; HANNA, 2010), bem como o de lusofonia (com base em BASTOS; ARAKAKI, 2016 e FIORIN, 2006) pois trata-se da relação entre a língua portuguesa e o crioulo cabo-verdiano. Para que essa relação possa ser ainda melhor compreendida, é feita também uma breve contextualização histórico-linguística de Cabo Verde, com destaque para a formação e uso do crioulo cabo-verdiano, hoje em dia também chamado de língua cabo-verdiana.

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Estudos de múltiplas modalidades e linguagens

Linda ex: um estudo sobre a interdiscursividade presente na publicidade

Alexandre da Silva Carvalho (UPM) Com o surgimento e popularização da Internet, surgiu também uma nova possibilidade de apresentar produtos e serviços aos consumidores que usam essa ferramenta. De modo particular, nos últimos anos, os canais digitais de empresas diversas têm se firmado como porta para apresentação de seus produtos em campanhas cada vez mais bem direcionadas, ou seja, campanhas que focam em públicos específicos e que interessam, particularmente, à empresa que é a anunciante. O presente estudo examinará a peça publicitária LINDA EX, da perfumaria brasileira O Boticário, tendo presente o arcabouço teórico proposto por Mikhail Bakhtin no tocante ao Dialogismo e à Interdiscursividade. O filme publicitário que foi tomado para esta análise tem formato documental e acompanha três mulheres que estão prestes a assinar o divórcio. A perfumaria O Boticário se coloca ao lado dessas mulheres como sua “melhor amiga” e, mesmo que o sonho de um casamento eterno não tenha dado certo, elas – as que assinarão o divórcio – permanecerão lindas, embora na condição de ex-esposas. Os efeitos propostos pela campanha – Linda Ex – são de aproximação, cumplicidade e estímulo. Como um discurso não se faz sozinho, vemos que, inicialmente, a campanha nos induz a considerar o casamento como uma instituição sólida e duradora para, em seguida, desconstruir essa ideia e mostrar que a vida de uma mulher que está prestes a se separar pode seguir em frente sem problemas que a impeça de continuar sendo linda, ou seja, ter sua dignidade assegurada e, com isso, refazer a própria vida.

Linguagens verbais e pictóricas: aproximações teóricas entre Bakhtin e Dewey

Diogo Souza Cardoso (UPM)

Neste estudo, procurar-se-á refletir sobre a filosofia da linguagem, tanto em relação ao verbal quanto ao pictórico, aproximando os postulados de Bakhtin (2015, 2014) e Dewey (2010). O principal intuito, aqui, é demonstrar ao leitor como a Análise Dialógica do Discurso, que, aliás, é a base epistemológica deste estudo, não é uma teoria estranha no universo das artes plásticas, demonstrando assim diversas similaridades ideológicas com escritos referentes à filosofia da arte, principalmente, por meio da obra de Dewey (2010) intitulada A arte como experiência. Nessa obra, publicada pela primeira vez em 1934, fato este que torna Dewey contemporâneo a Bakhtin, certos termos como o agente e o meio revelam possibilidades de aproximação com algumas ideias do Círculo Bakhtiniano. E com essa aproximação, explorar conceitos bakhtinianos como o dialogismo, o excedente de visão e a exotopia. Também, como base, há outros autores como: Brait (2005), Faraco (2009) MIOTELLO (2005) Perniola (1998) Aldrich (1969) e Gardiner (2007). Fazer da filosofia de Bakhtin um instrumento de análise para uma obra de arte, por exemplo, uma pintura, possibilita que haja uma reflexão sobre conceitos do universo da filosofia da arte, servindo, aliás, como alicerce teórico para análises cujo corpus é verbo-visual, ou seja, corpus no qual imagem e palavra interagem em um mesmo corpo discursivo.

Falácia e atitude responsiva no anúncio publicitário Amante pulando a janela – paixões perigosas

Regiane Apolinário Roskowinski (UPM) Dentro do trabalho do professor de Língua Portuguesa, encontramos uma diversidade de gêneros discursivos quem devem ser trabalhados junto aos alunos. Desses gêneros, podemos destacar o anúncio publicitário, que

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nem sempre é trabalhado de forma adequada ou mesmo que proporcione base aos alunos para que façam uma análise mais aprofundada e crítica, identificando o que realmente está por trás do anúncio. Assim, o presente artigo tem como objetivo analisar os elementos falácia e atitude responsiva do gênero discursivo anúncio publicitário, utilizando o anúncio “Amante pulando da janela – Paixões Perigosas”, do canal Investigação Discovery, veiculado em mídia social. Tal campanha foi selecionada devido ao sucesso da estratégia inicial utilizada pela empresa, que fez uso de falácia para chamar a atenção dos prováveis consumidores, fazendo com que a campanha se tornasse viral mesmo antes do vídeo oficial ter sido veiculado no Youtube. Este estudo é relevante pois a maioria das pessoas, incluindo alunos de Ensino Fundamental e Médio, apresenta dificuldades na identificação das características e intenções dos anúncios publicitários e até mesmo em reconhecer que se tratam de anúncios. Conclui-se que é possível analisar mais profundamente os anúncios publicitários e estender essa análise para o contexto escolar, visando desenvolver o olhar crítico dos alunos.

Lugares interincompreensivos e ambivalentes em anúncios publicitários que topicalizam a sexualidade

Ricardo Celestino (PUC-SP) Nossa pesquisa contribui para os estudos da Análise do Discurso e tem como tema o estudo dos efeitos de sentido presentes em anúncios publicitários que topicalizam a diversidade de gênero. Como amostra de nossa pesquisa, selecionamos um anúncio publicitário da Boticário, realizado em 2012, na ocasião de comemoração ao dia dos namorados. Nele identificamos marcas de um corpo estranho enunciado que possibilita observamos uma polêmica interincompreensiva fruto de seu lugar ambivalente na sociedade. A amostra selecionada serve de ponto de partida para refletirmos acerca da heteronormatividade, enquanto formação discursiva constitutiva dos discursos de anúncios publicitários, que propõe uma resposta exorcizante a um tema tão complexo na vida social cotidiana: a sexualidade. Como aporte teórico de nossa pesquisa selecionamos a noção de interincompreensão proposta por Maingueneau (2008) que observa que a prática enunciativo-discursiva incide em ecos polêmicos fruto do diálogo que um discurso proporciona a uma memória de outros discursos com posicionamentos divergentes ou convergentes aos enunciados desenvolvidos. Também destacamos a importância dos estudos de Bauman (1999), em suas reflexões acerca da ambivalência, que incide na possibilidade de conferir a um objeto ou evento da sociedade mais de uma lógica racional. Consideramos que toda prática discursiva sofre pela limitação semântica fruto de seu lugar de fala, o que culmina em uma interação enunciativa a qual aquele que é tematizado não pertença em sua totalidade a nenhuma das restrições estabelecidas a cada lugar institucional de fala que se aproprie de seu corpo.

Uma tipografia vale mais do que mil palavras? O dialogismo no contexto tipográfico

William Takenobu Akamine (UPM) Este artigo tem a finalidade de apresentar o dialogismo intrínseco existente na conjunção da materialidade da palavra com o design gráfico na produção de sentidos de enunciados de peças publicitárias. A fundamentação teórica deste estudo sustenta-se nas contribuições dadas por Mikhail Bakhtin e por seu Círculo. Como se sabe, a leitura tradicional, elaborada pela convergência da oralidade para a escrita, perdura há séculos, demonstrando sua importância para a construção dialógica de informar e de comunicar ao leitor. A linguagem verbo-visual de sua parte, também permite essa leitura da produção contextual e tem adquirido significativa relevância na atualidade. O uso da tecnologia tem favorecido a propagação desses textos, devido à necessidade de uma comunicação imediata. Dispositivos como os smartphones permitem a divulgação massiva dessas informações geradas para o olhar dos novos leitores, que usualmente desejam a rápida disseminação e absorção de informação. Os textos precisam ser criativos e concisos, para que a comunicação proposta não seja prejudicada. Existem, então, recursos no texto para torná-lo mais atrativo neste universo cada vez mais competitivo. Para examinar como a linguagem verbo-visual trabalhada pelo designer gráfico se articula na criação desses

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mecanismos de expressão, serão analisados textos publicitários, levando-se em consideração a configuração metodológica empregada e os recursos de verbo-visualidade eleitos para a construção do sentido. Palavras-chave: dialogismo; publicidade; lettering; design; verbo-visualidade.

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Estudos do texto e do discurso

O gênero “edital de fomento à pesquisa”: a apresentação de uma proposta de pesquisa

Betânia Felipe Soares (UPM) A comunicação tem o objetivo de apresentar uma proposta de análise do gênero edital, com base nas reflexões teóricas desenvolvidas por Bakthin sobre “Os gêneros do discurso”. Segundo o autor, nos comunicamos, falamos e escrevemos, por meio de gêneros do discurso. Para Bakhtin os gêneros do discurso resultam em formas-padrão relativamente estáveis de um enunciado, determinadas sócio-historicamente. Os gêneros dependem da natureza comunicacional, da troca verbal, o que lhe permite distinguir duas grandes categorias de base: os “gêneros primários” e os “gêneros secundários”. Outros estudos do Círculo acrescentam para a concepção de gênero fundamentando-se na ideia de que a linguagem se materializa através de enunciados concretos, articulando “interior” e “exterior”. Tendo em vista as considerações de Bakhtin sobre o gênero edital, este estudo será sobre os editais de fomento à pesquisa, que são documentos formais e institucionais de grande circulação nas Universidades, emitido por agências de fomento ou fundos de pesquisa com a finalidade do financiamento da pesquisa brasileira, esta modalidade de edital possui muita credibilidade no meio acadêmico. Considerando a importância deste tipo de comunicação, pretendemos refletir sobre a presença do conceito bakhtiniano, nas categorias, na finalidade e nas características, do gênero do edital, como por exemplo, o estilo, o uso do padrão culto da linguagem, os procedimentos, a formalidade, a impessoalidade, a objetividade, a padronização e o constante uso de argumentatividade nos textos dos editais. Palavras chave: gêneros do discurso; edital; Bakhtin.

O cotidiano e o fim de um tempo: marcas de expressividade sonoro-lexical em Alberto Pucheu

Elke Regina Garcia Rigoli (UNICSUL) Este trabalho tem por objetivo analisar a expressividade resultante do imbricamento entre os níveis lexical e sonoro que se apresenta no corpus selecionado, buscando desta forma observar a construção dos sentidos oriunda do entrelaçamento desses níveis. O material escolhido para este estudo foi o poema Short Time, de autoria do carioca Alberto Pucheu, e que faz parte da coletânea de poemas e crônicas intitulada Mais cotidiano que o cotidiano, publicada no ano de 2013. Nessa obra, o autor apresenta uma série de poemas que retratam cenas do dia a dia dos cidadãos, bem como algumas crônicas em que figuram a mesma temática. O poema, composto de 35 versos em uma única estrofe, descreve a efemeridade da vida, utilizando metáforas relativas a temas como o fim do mundo e catástrofes etc. Percebe-se ainda uma sonoridade que sugere a harmonia imitativa dos sons relativos ao contexto mencionado. Isso posto, será feita uma análise que contemplará as estilísticas da palavra e do som, demonstrando-se os níveis lexical e sonoro como caminhos possíveis para o desenvolvimento de uma leitura proficiente e resultante construção dos sentidos presentes na tessitura textual. Os critérios adotados para o desenvolvimento desse estudo seguem os pressupostos da metodologia bibliografia e o eixo teórico da Estilística Estrutural, dando-se ênfase para a palavra e o som, pautando-se em autores como Levin (1975), Martins, (2012), Riffaterre (1973), dentre outros. Este trabalho compõe os estudos em andamento do Projeto de Pesquisa Estilística e Ensino, inserido no Grupo de Pesquisa Estudos Estilísticos, da Universidade Cruzeiro do Sul.

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O processo de revisão e reescrita na otimização do ensino de produção textual no ensino fundamental

Fernanda Pereira Penedo Taveira (PUC-SP) A escrita, desafio atual em todas as instituições de ensino, tem muitas vezes desestimulado o aluno a aprender e se aprimorar nesta tarefa. Embora as atividades propostas sejam frequentes nas escolas, o que se observa ainda são alunos com muitas dificuldades para realizar tal tarefa, ou por insegurança ou por ainda não ter a competência linguística para produzir textos com sentido e clareza. Mediante esta realidade a responsabilidade em orientar e mediar o ensino de produção de textos recai sobre o professor de Língua Portuguesa, que geralmente em sua proposta didática inclui a produção de textos com regularidade para fins de correção e avaliação do aluno, não deixando claro para o aluno os reais objetivos e fins específicos ao solicitar uma produção. Apenas na instituição de ensino é que o estudante passa a adquirir habilidades e competência para bem escrever. Com muita prática o próprio aluno será capaz de analisar e perceber suas dificuldades escrita. Com base em especialistas que priorizam a revisão e a reescrita como papel fundamental no processo de escrita, será realizada uma explanação da função de cada atividade com vistas a ampliar e contribuir com a formação do profissional que trabalha a produção de textos em sala de aula.

Estudo diacrônico e discursivo dos termos “lusofonia” e “lusófono” em dicionários portugueses e brasileiros

Karine Teresa dos Santos Silva (UPM; FECAP)

Este trabalho se insere no grupo de pesquisa CILL (Cultura e Identidade Linguística na Lusofonia), da Universidade Presbiteriana Mackenzie, coordenado pelas Profas. Dras. Neusa Bastos e Regina Brito, e é resultado de um subprojeto voltado à pesquisa de dicionários como fontes historiográficas. Partimos da noção atual do termo lusofonia, desenvolvida a partir da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), de 1996, igualmente presente no Dicionário Temático da Lusofonia (CRISTÓVÃO, 2015). O objetivo do subprojeto em referência é estudar os termos lusofonia e lusófono em dicionários de Portugal e do Brasil, a fim de levantar os sentidos constantes nas diferentes definições ao longo do tempo, tanto dentro do mesmo dicionário quanto entre os diversos dicionários. Para tanto, utilizamos como referencial teórico a Historiografia Linguística e os Estudos Lusófonos, o que nos auxiliou a selecionar dicionários em ambos os países que fossem representativos nas respectivas sociedades no sentido de serem amplamente utilizados nos âmbitos educacionais e tidos como referências pela população. Neste trabalho específico, trataremos de um dos dicionários que compõem o nosso corpus de análise, a saber, o Dicionário da Língua Portuguesa/Porto Editora (Portugal), na versão tradicional, bem como na versão eletrônica. A abordagem será, portanto, contrastiva, a fim de estabelecer uma comparação nos âmbitos diacrônico e discursivo entre a definição atual dos termos e as registradas nas diferentes edições dos dicionários selecionados. As análises parciais indicam que os sentidos presentes no conceito atual de lusofonia são discursiva e semanticamente distintos dos sentidos construídos nas definições do dicionário português.

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Resumos Ensino de Língua e Literatura

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Ensino de leitura e literatura

Mistérios de Lygia Fagundes Telles: proposta de sequência didática para a leitura de contos de mistério

Gisele Maria Souza Barachati (UPM) O tema central deste trabalho é a apresentação de uma proposta de sequência didática de leitura de Contos de Mistério, tomando-se o conto As formigas, de Lygia Fagundes Telles, como texto de análise. A sequência didática apresentada surgiu da necessidade de se desenvolver habilidades de leitura em grupos de alunos de 7º e 9º anos, em escolas públicas municipais de uma cidade do interior de São Paulo, que apresentavam defasagem de aprendizagem em conteúdos relacionados à leitura, para o ano escolar no qual estavam inseridos. A sequenciação do ensino aqui apresentada baseia-se numa perspectiva sociocognitiva de leitura, desenvolvendo-se a partir de quatro procedimentos didáticos que vão desde o levantamento de conhecimentos prévios dos alunos acerca do gênero de texto e contexto sócio-histórico de produção da obra, até a leitura aprofundada e crítica do conto. Foi possível observar, ao término da sequência, nas unidades escolares onde foi aplicada, um maior interesse da maioria dos alunos pela leitura de contos de mistério, bem como o desenvolvimento de habilidades de leitura essenciais à interpretação de qualquer texto.

The English through literature: promovendo a leitura em aulas de língua inglesa na educação básica

Katarine Almeida de Lima (UPM) Ainda que saibamos que o ensino de Língua Inglesa é norteado por quatro habilidades (listening, reading, speaking e writing), é fato que a atual estruturação do conteúdo programático da disciplina na Educação Básica prioriza tópicos que dão ênfase a aspectos puramente estruturais da língua. Considerando, porém, que o domínio de uma língua estrangeira engloba também preceitos históricos, sociais e culturais, e pensando no efetivo engajamento linguístico do alunado - conceito amplamente discutido e defendido nos PCN de língua estrangeira - nossa pesquisa almeja viabilizar o estudo específico e direcionado da competência de leitura em sala de aula, de modo a promover o ensino de Língua Inglesa por meio da Literatura, exaltando, além da própria materialidade linguística do idioma, os infinitos aspectos culturais que o circundam. Trata-se de um trabalho que busca a criação de propostas pedagógicas e a consequente realização de aulas mais prazerosas, dinâmicas e desafiadoras aos educandos, as quais propiciem um aprendizado efetivo, plural e significativo de Inglês no âmbito do ensino regular brasileiro. Pretende-se, igualmente, apresentar caminhos de aproximação entre Língua e Literatura, áreas correlatas e interdependentes, mas que são, não raro, distanciadas na escola, e evidenciar, ainda, o ganho que o uso da última trará para a formação cidadã dos estudantes, que tornar-se-ão seres pensantes e atuantes na sociedade da qual são parte integrante. Para tanto, apoiar-nos-emos nos pressupostos teóricos fornecidos por Brown (2007), Nunan e Carter (2001), Mishan (2003), além dos principais documentos que regem a Educação brasileira atual.

O papel do ensino da leitura literária em língua estrangeira e o audiovisual

Lucília Souza Lima Teixeira (USP)

Esta comunicação propõe refletir sobre o papel da leitura de textos literários no ensino de línguas estrangeiras, considerando o panorama da contemporaneidade, onde vemos, cada vez mais, o ensino servindo meramente aos anseios do mercado. Muitos autores, como Sartre (1948), Eco (2002) e Todorov (1987), tentaram definir a

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literatura ou dar-lhe noções e características. Hoje, em tempos em que a literatura e a artes, muitas vezes, são consideradas inúteis, faz-se necessária uma revisão desses conceitos e noções, como propõe Perrone-Moisés (2016) ao se referir às mutações da literatura. Em uma época em que não há como ignorar os avanços tecnológicos e aparatos eletrônicos, debate-se sobre a incorporação dos suportes audiovisuais no ensino da leitura de literatura. Essas imagens, vídeos, filmes, reportagens, áudio-books, quadrinhos, canções, podem ajudar o aluno de língua estrangeira, funcionando como uma abertura para a leitura do texto literário em geral, mas principalmente os escritos em uma língua estrangeira, onde não apenas os sons e estruturas são diferentes, mas também elementos culturais e referenciais. A sala de aula dever ser um espaço de troca de leituras e interpretações, ratificando a importância da subjetividade e da experiência por meio de leituras partilhadas, onde há espaço para diferentes representações de mundo. Jouve (2012), Petit (2012) e Detambel (2015) nos mostram como a leitura de literatura permite construir, consertar e até mesmo curar o mundo interior e libertá-lo.

Prática de leitura: um olhar para o discurso

Rudiney Soares de Souza (PUC-SP)

O presente trabalho tem por tema o estudo sobre prática de leitura sob a perspectiva da Análise do Discurso (AD) e propõe, portanto, discutir de que modo a AD, nas abordagens de Maingueneau, pode propiciar meios de trabalhar a leitura em aulas de Língua Portuguesa, examinando diferentes discursos em circulação na nossa sociedade. Para tanto, selecionamos dispositivos de análise, tais como condições sócio-históricas, ethos discursivo e interdiscurso, que nos permitem observar como os sentidos são construídos na enunciação e não nos espaços vazios do texto, ou seja, atravessados por outros discursos e por suas implicações e impactos, os textos, como práticas discursivas, podem ser ressignificados, apesar dos eventuais sistemas de restrição de seu sentido. Assim, pretendemos instrumentalizar os professores para que, por meio da perspectiva discursiva, valorizem o sujeito-aluno e otimizem sua ação em sala de aula. Palavras-chave: prática de leitura; discurso; ethos; interdiscurso.

A leitura, a literatura, o ensino de literatura: reflexões

Orivaldo Rocha da Silva (UPM)

O objetivo deste trabalho é o de propor um percurso reflexivo que parta do ato e da importância da leitura, e que chegue ao ensino e mais especificamente ao ensino de literatura, examinando e buscando discutir a crise instalada no que diz respeito à disciplina literária e sua crescente desvalorização sob o ponto de vista dos currículos, tanto os dos cursos de Letras quanto os da Educação Básica, sobretudo no nível do Ensino Médio. Utilizamos, para tanto, algumas das abordagens freirianas, especificamente as que dizem respeito ao ato de ler, associando-as ao pensamento de Antonio Candido, expresso no artigo “O direito à literatura” (2011). É possível, nesse caso, aproximar a visão de Freire e a de Candido: o primeiro fixa-se na concepção de leitura como uma prática de estar no mundo, de intervir e de interagir no mundo e que antecede, inclusive, a leitura da palavra escrita e o segundo, enfatizando a literatura, posiciona-a como um bem incompressível e que corresponde “a uma necessidade universal” (CANDIDO, 2011, p. 176), logo, também pensando na disciplina literária como um instrumento que possibilita uma prática de intervenção no mundo. Nos dois casos, parece viável considerar que tanto a leitura quanto a literatura devem fazer parte dos chamados bens incompressíveis e devem ser colocados como parte integrante e inalienável dos direitos humanos.

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Práticas educacionais e as tecnologias

Análise de prática de uso de sistemas de produção e de visualização de informação como estímulo aos multiletramentos na educação básica

Jorge Ferreira Franco (UPM)

A cultura de digitalizações de conteúdos e interações dos indivíduos com variados sistemas de produção e de visualização de informação (SPVI) impacta a vida cotidiana dos cidadãos (NRC, 2016; NASEM, 2017). Além disso, leis e propostas de adaptações curriculares (BRASIL, 1996; B823p BRASIL, 1998; MEC, 2016) propõem uma Educação na qual as e os cidadãos possam se aprimorar intelectualmente e como força de trabalho, por exemplo, com base no uso de SPVI e linguagens hipermidiáticas (GEROIMENKO; CHEN, 2005; PAPERT, 2008; MEC; 2016) para estimular multiletramentos (GRIM, 2013) e aprender a pensar de maneira transdisciplinar (BRASIL/MEC, 2016). Com suporte de pesquisa com características bibliográfica e etnográfica, de modo qualitativo, este trabalho analisa um uso de técnicas de SPVI relativas às linguagens hipertextuais da internet e ambientes digitais tridimensionais (3D), no ensino fundamental, como uma forma de estimular letramentos digital e visual, e habilidades cognitivas como as de resolver problemas, ler, escrever, pesquisar, pensar transdisciplinar e espacialmente, e comunicar dos indivíduos. Impactos identificados nesta análise são que é possível: aprender maneiras colaborativas de refletir sobre e ler a palavra e o mundo durante atividades de ensino e de aprendizagem (FREIRE, 2016; SENGE, 2012); usar SPVI acessíveis da internet, na produção de conteúdo gerado pelo usuário, de modo integrado com a aplicação de conceitos científicos de um dado currículo, através de aplicar uma inter-relação entre língua materna, estrangeira, geometria e matemática na produção de um script e sua consequente representação simbólica em tempo real (FRANCO, 2016 a, b; FRANCO; LOPES, 2012); e contribuir com reflexões teórico-metodológicas e sobre práticas de uso de SPVI na formação continuada de educadores e educandos (MEC, 2016).

A internet no contexto educacional: um olhar específico para os textos virtuais na educação básica

Sarah Jimena Moreno de Paula (UPM) A Língua Portuguesa constitui ferramenta de comunicação utilizada por seus falantes em contextos múltiplos de interação, abrangendo universos educacionais, acadêmicos, profissionais, pessoais e sociais como um todo. Nesse sentido, insere-se também na internet, meio difusor de conteúdo, cuja utilização é recorrente na vida da população brasileira e, portanto, de adolescentes e jovens da Educação Básica. Assim, para que o falante seja estimulado, no âmbito educacional, a expressar-se e a absorver as informações e os conceitos com os quais tem contato no ambiente virtual de maneira consciente, cidadã e crítica, o presente trabalho propõe experiências pedagógicas que proporcionam aos educandos a vivência, a compreensão e o domínio do idioma de modo a contemplar, no estudo textual, manifestações verbais e sincréticas existentes no mundo globalizado da atualidade, em uma comparação entre publicações impressas e virtuais do gênero jornalístico notícia. Para isso, as práticas e os conteúdos apresentados têm como fundamento a realidade escolar do Instituto de Educação José de Paiva Netto, escola localizada em São Paulo/SP, Brasil, que utiliza, como ferramenta pedagógica de ensino, o Método de Aprendizagem por Pesquisa Racional, Emocional e Intuitiva (MAPREI), conjunto de estratégias que considera a formação integral dos educandos e promove, entre outros aspectos, o protagonismo dos estudantes na construção do saber.

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O uso de córpus on-line para a elaboração de livro didático: o caso do sistema Mackenzie de ensino

Andréa Geroldo dos Santos (USP)

Este trabalho, recorte de nossa pesquisa de Doutorado, tem como objetivo descrever como livros didáticos para o ensino de inglês para o Fundamental II e Ensino Médio, do Sistema Mackenzie de Ensino (SME) – patrocinado pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie, têm sido elaborados com base nos princípios da Linguística de Corpus, e publicados desde 2011. Os livros didáticos se valem da observação de corpus - mais especificamente, de linhas de concordâncias retiradas do corpus COCA, para apresentar e praticar tanto tópicos lexicais quanto gramaticais, de acordo com o que é postulado por: Abordagem DDL (Johns, 1991); o uso de concordâncias para o ensino (Berber Sardinha 2004; Gavioli 2005; Tribble and Jones 1997); o uso dos “três I’s” - Illustration, Interaction and Induction (Carter and McCarthy, cf. Xiao and McEnery, 2005); Modelagem (Carter 1998). Esses livros também se apoiam em unidades e capítulos temáticos e no uso de textos autênticos para fornecer input lexical e cultural. Tais textos autênticos são analisados na ferramenta intitulada "Word and Phrase.Info" (do corpus COCA, disponível on-line), em relação à frequência de palavras e possíveis colocações. Todavia, tal abordagem não é comum no mercado editorial dedicado ao ELT, muito menos no Brasil, onde a maioria do material para o ensino de inglês ainda favorece: a) os textos pedagógicos, criados pelos autores; b) apresentação de listas de palavras; c) regras gramaticais apresentadas de modo mecânico, sem indução. Em vista disso, para que os livros do SME sejam bem sucedidos, a pesquisadora sentiu a necessidade de ministrar cursos de capacitação para os professores do SME, com foco na apresentação de noções básicas da Linguística de Corpus e sobre como usar o corpus COCA. A educação de jovens e adultos na aprendizagem de língua portuguesa sobre o gênero discursivo verbo-

visual crítico utilizando uma abordagem bakhtiniana

Neide Silvestre (UNICSUL) Estudo incide sobre a temática da leitura e escrita, precisamente, sobre a formação crítico leitor dos alunos da EJA sob uma visão bakhtiniana pensando-se nas contribuições do verbo-visual para leitura, reflexão crítica a ser desenvolvida nos alunos, com a finalidade de, posteriormente, possibilitar a inserção de um cidadão crítico capaz de atuar e influenciar a sociedade em que atua. Para abordar a verbo-visualidade, buscam-se fundamentos em teóricos como Bakhtin (1992, 2000, 2004) e em autores como Brait (2000, 2001 e 2005), Berti-Santos (2º12, 2014, 2016) Puzzo (2012, 2015) entre outros, imbricadas com a teoria de ensino- aprendizagem proposta por Vygotsky (2005). A formação do leitor crítico por meio da utilização do verbo-visual pode contribuir para o entendimento do enunciado concreto, facilitar o processo de constituição de sentidos e auxiliar na produção de enunciados diversos nos diferentes contextos sociais. Estudo aplica-se a alunos da modalidade EJA em um 1º Ano do Ensino Médio de uma escola pública do município de São Paulo. O processo inclui várias competências e habilidades. Os objetivos são analisar as contribuições do verbo visualidade que se encontram no material didático da EJA para formação leitora reflexiva, a aplicação dessa linguagem nos diversos gêneros discursivos, possibilitando a atuação de maneira mais plena e favorável no mundo do trabalho e social desses alunos.

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Formação e prática docente

Exercício de linguagem: o ethos discursivo e a competência discursiva na prova de linguagens, códigos e suas tecnologias do ENEM

Beatriz Silva Rocha (USP)

O objetivo desta apresentação é expor um fragmento de análise, composto por um enunciado extraído da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias do Exame Nacional do Ensino Médio, doravante ENEM. O enunciado compõe o corpus de pesquisa que tem como objetivo geral propor, a partir de uma perspectiva discursiva, uma investigação sobre a construção do ethos discursivo do enunciador da prova de Linguagens, códigos e suas tecnologias do ENEM explicitando os mecanismos linguístico-discursivos responsáveis pela construção do ethos discursivo na prova e, assim, investigar as possíveis relações com as diferentes competências discursivas –enciclopédica, linguística e genérica- exigidas do candidato. O corpus de pesquisa é composto por 5 (cinco) enunciados da prova de Linguagens, códigos e suas tecnologias da edição de 2016 e 5 (cinco) enunciados da prova de 1998. A pesquisa assume os pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso, tal como vem sendo desenvolvido por Dominique Maingueneau (2004; 2008a; 2008b; 2012; 2015) a fim de embasar os conceitos de discurso, ethos discursivo, gênero discursivo e competência discursiva. A análise do ethos do enunciador da prova de Linguagens, códigos e suas tecnologias se volta para a descrição das cenas enunciativas. A pesquisa se vale da abordagem qualitativa, uma vez que se procura, a partir do levantamento bibliográfico e análise textual-discursiva, verificar a constituição do ethos do enunciador da prova e as competências discursivas requeridas do candidato. O problema de pesquisa se concentra em demonstrar como os procedimentos linguísticos e discursivos são utilizados para a construção da imagem do enunciador através da prova, e desta forma, investigar como esse ethos depreendido leva o candidato a demonstrar diferentes competências discursivas, evidenciando dessa forma, a relação entre a linguística e ensino; compreendendo os efeitos de sentido criados através da linguagem. Palavras-chave: ethos; competência discursiva; discurso; ENEM; língua portuguesa.

Língua materna: perspectivas de ensino

Damares Souza Silva (PUC-SP) O tema deste estudo está centrado no ensino da língua, tendo como base os estudos de Vygotsky e a teoria da Transposição Didática de Chevallard. O objetivo da investigação é refletir a respeito das possíveis contribuições que os estudos de Vygostky (1984) e de Chevalard (1991) podem oferecer às práticas de ensino da língua. Partimos dos seguintes princípios: o aluno pode aprender e aprofundar seus conhecimentos sobre a língua, por meio da mediação do professor, articulando aspectos de sua vivência em sociedade com novos conceitos ; o professor é capaz de apreender conceitos atualizados desenvolvidos no espaço acadêmico e, em posse do referido arcabouço teórico, ser autor da sua prática de ensino da língua portuguesa, convertendo a teoria em prática à medida que lhe seja garantido o acesso direto ao conhecimento teórico atualizado acerca do ensino da língua. Concluímos que os estudos de Vygotsky e Chevallard não só podem servir de base para o ensino da língua materna como também remetem à necessidade de aprofundar estudos onde o ensino da língua possa dialogar com as teorias da educação e de outras áreas, tal como a filosofia, para que assim tanto o docente quanto o discente possam, em conjunto, elaborar o processo de ensino e aprendizagem da língua materna.

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Os professores de língua portuguesa e os novos letramentos no desenvolvimento da pedagogia do digital

proposta pela educação linguística

Nívea Eliane Farah (PUC-SP)

O tema desta apresentação é o processo de ensino e aprendizagem da leitura e da produção textual para o desenvolvimento das competências leitora e escritora dos estudantes em aulas presenciais de Língua Portuguesa. Como os contextos virtuais geram novas situações comunicativas, é necessário pensar nos novos letramentos. O objetivo geral é desenvolver um estudo sobre a influência das novas tecnologias e a contribuição do uso delas. Este trabalho de pesquisa se justifica, uma vez que no século XXI, diante das novas tecnologias, ler e escrever devem continuar sendo considerados saberes necessários. Será utilizada a concepção de Pedagogia do Digital, proposta pelo Grupo de Educação Linguística (GPEDULING) da PUC-SP. Optou-se pelo estudo de caso, como estratégia de pesquisa e intenciona-se verificar se o uso das tecnologias digitais pode facilitar a compreensão de leitura do texto e se o uso de materiais multimídia pode favorecer o ensino e a aprendizagem. Palavras-chave: novos letramentos; pedagogia do digital; educação linguística.

A pedagogia de projetos como alternativa para retomada de valores: Projeto Abrindo os olhos

Ana Lúcia Macedo Novroth (UPM) Em todos os setores da atividade humana, o desenvolvimento de atividades baseadas em projetos é uma

prática cada vez mais comum, envolve as mais diversas áreas do conhecimento e surge, em geral, de um problema, de uma necessidade, de um desafio ou de uma oportunidade. Essa característica faz dos projetos uma alternativa a ser considerada no âmbito educacional, com o propósito de construir o conhecimento, desenvolver habilidades e competências, possibilitando ao aluno uma aprendizagem contextualizada e significativa. No entanto, a grade curricular e o tempo reduzido da aula podem dificultar o desenvolvimento de atividades interdisciplinares que impliquem aprendizagens extraclasse, tornando a prática de projetos pedagógicos, muitas vezes, inviável. O intento desta comunicação é propor a leitura dos paradidáticos como meio de favorecer projetos inter e transdisciplinares, uma vez que, na maioria das instituições, tais leituras já constam no planejamento anual. Há de se considerar, ainda, que a escola desempenha uma função social, uma vez que o educando, ao interagir com o grupo e com os professores, desenvolve valores como respeito, solidariedade e cooperatividade, à medida que se vê como parte integrante e importante desse processo, socializando seus conhecimentos e suas experiências. Tais considerações são importantes pois, entre os objetivos presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) encontram-se, além de outros, “compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais”. Deste modo, a leitura de paradidáticos pode servir de vetor para se levar a cabo os objetivos mencionados. Para tanto, sugere-se a leitura do livro O grande desafio, de Pedro Bandeira, editado pela Saraiva, que servirá de base ao projeto “Abrindo os olhos” cujo propósito é a sensibilização dos alunos no que concerne ao valor do ser humano, independentemente de qualquer restrição física e/ou intelectual a ele imposta. Por meio dessa sugestão, intenta-se a suscitação de outros projetos que despertem o debate e a reflexão, preparando indivíduos capazes de lidar com as diversidades e as diferenças de forma responsável e ética. Palavras-chave: projetos pedagógicos; leitura; paradidáticos; ética.

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Gêneros textuais no ensino médio: práticas pedagógicas e formação de professores

Mônica do Socorro de Jesus Chucre Tatiana da Conceição Gonçalves (IECTEA)

A sociedade atual se constitui como um universo multimodal, em que diversos sistemas de signos se entrelaçam para o estabelecimento de ações e relações humanas expressas por meio de diversas linguagens. Assim, surgem novas maneiras de ler, interpretar e produzir gêneros textuais. A partir desse referencial, pretendemos apresentar resultados de uma pesquisa realizada no contexto do Programa de Pós-graduação em Educação Agrícola da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que objetivou mapear e analisar criticamente conhecimentos e práticas pedagógicas de professores de Língua Portuguesa do Instituto Federal do Amapá, Brasil. A pesquisa de cunho qualitativo aconteceu durante os meses de fevereiro a junho de 2014 e se centrou na aplicação e posterior análise de atividades de interpretação de gêneros textuais, em duas turmas, uma do 1º ano e outra do 4º ano do Ensino Médio, ambas do Curso Técnico Integrado em Mineração do Instituto Federal do Estado do Amapá. Considerando-se as características da Instituição em questão e tendo em vista que seu alunado circula por diversos contextos sociais, acreditamos que o contato com vários gêneros se constitui numa estratégia que possibilitará ao estudante aprimorar sua competência linguístico-discursiva para fazer uso diversificado da língua em produções tanto orais como escritas. Assim, o estudo aqui apresentado buscou, por meio da pesquisa qualitativa, estabelecer relações entre o modelo teórico que consubstanciou este trabalho e as observações e análises realizadas no âmbito do Instituto, a partir de um trabalho pedagógico com gêneros textuais em sala de aula. Palavras-chave: gêneros textuais; ensino médio; práticas pedagógicas.

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Educação e fronteiras culturais

El español no está lejos de aquí: na era da globalização onde entra o ensino de língua estrangeira?

Bárbara Baldarena Morais (UPM)

Esse trabalho busca reconhecer e incorporar o ensino de línguas em uma perspectiva ampla, incluindo o desenvolvimento histórico-cultural que se instaura na Pós-Modernidade; reiterar a importância do ensino/aprendizado do espanhol no Brasil diante do contexto globalizado, mundial e intercultural em que se vive; tratar das mudanças que envolvem os últimos anos e as possíveis consequências das mudanças que virão no contexto político-metodológico educacional brasileiro e analisar a base educacional em países que já aderiram às novas medidas educacionais comparando com os problemas enfrentados no Brasil. Entre tantos autores selecionados como referencial teórico para o desenvolvimento desse estudo se destacam: Néstor García Canclini (1990, 1995, 1999a, 1999b, 2007, 2008), Renato Ortiz (2003, 2006, 2011), Vilson J. Leffa (1999, 2006, 2012, 2016), Stuart Hall (2000, 2006, 2011, 2013), María Teresa Celada (2000a, 2000b, 2002, 2005, 2010), Neide M. González (2000), Gilberto Freyre (1975), Maria A. A. Celani (2008), Andrea Silva Pontes (2013) e, claro, os documentos e leis que regem a política educacional brasileira: PCN (1998), BNCC (2017), LDB (1996), Lei nº 13.415, entre outros. A motivação dessa pesquisa se mantém em entender e preparar os alunos não para o mundo em que vivem hoje, mas para o mundo em que viverão amanhã e para esse princípio, a pergunta que norteia a construção teórica e análise crítica é o que as novas políticas públicas do ensino brasileiro contribuem no aprendizado de Língua Estrangeira – Espanhol?

‘Ensino bilíngue’ e bilinguismo: uma vantagem real?

Regina Paula Ambrogui Avelar (UPM)

É sabido que em Ciências busca-se investigar um objeto com a finalidade primeira de que os resultados obtidos refutem ou reiterem o paradigma vigente, não havendo a preocupação de se obter verdades absolutas, já que estas não existem. Os paradigmas são vigentes até que um novo trabalho científico tenha argumentações e resultados consistentes para propor um novo paradigma que seja aceito pela maioria da comunidade científica, vigente, por sua vez, até que um próximo passe pelo mesmo processo. Os paradigmas, ou em uma forma mais simplificada e bem reduzida, as ideias defendidas pelos cientistas, por vezes extrapolam as fronteiras da Ciência e atingem o senso-comum, nem sempre com seus teores inalterados. Há países em que o ensino de línguas estrangeiras se dá de forma concomitante com a língua materna, formando cidadãos bilíngues ou trilíngues desde a mais tenra idade. Tais culturas podem ter impulsionado investigações científicas do sistema cognitivo destes falantes, gerando questões generalizadas, como a que indaga se o ensino de uma língua estrangeira juntamente com a materna causa atrasos na alfabetização; ou ainda se os falantes bilíngues têm vantagens - cognitivas, sociais, econômicas ou todas - em relação aos falantes monolíngues. O paradigma do bilinguismo trazer algum possível benefício ou o contrário disso para o falante tramita entre o senso-comum dos cidadãos e nas perguntas de pesquisa investigadas pelos cientistas, jornalistas e pensadores. Há um complexo jogo de entrelaçamento entre as ideias do senso-comum e da Ciência de tal maneira emaranhadas que não conseguimos saber qual ideia veio primeiro, se a ideia/paradigma vigente na Ciência ou a do senso-comum. Alguns teóricos utilizados nessa reflexão sobre os paradigmas do ‘Ensino Bilíngue’ e do bilinguismo são as dos cientistas Rajagopalan (2009), Bruin (1999-2012), Grosjean (1982 & 2008), Bijeljac-Babi’ C (2010) e Clark (2000), e de jornalistas como Konnikova (2015) e Bhattacharjee (2012). Todos eles pesquisaram a temática do bilinguismo ser uma vantagem/desvantagem ao longo da História, e como cada um é proveniente de um país e cultura distinta, suas visões (científicas ou leigas) nos fazem ter uma visão um pouco mais ampla de como o tema é abordado; nos fazem entender quais pontos são comuns e quais são distintos nas maneiras dos pesquisadores e de outros profissionais verem e tratarem a ideia. Encontramos na literatura uma tendência na crença de haver na

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memória coletiva e na mídia uma predisposição para avaliações positivas do bilinguismo. Essa problematização nos leva a questionar: se isso for um fato não haveria nenhuma vantagem real em se formar cidadãos bilíngues? Não seria o bilinguismo uma vantagem social e/ou econômica já que o paradigma da vantagem cognitiva parece estar por cair?

A diversidade cultural no ensino de espanhol como língua estrangeira

Bruna de Souza Silva (USP)

Este estudo nomeia-se “A diversidade cultural no ensino de espanhol como língua estrangeira: análises e reflexões sobre a presença da cultura nos livros didáticos Entre líneas, Cercanía e Por el mundo en español e de algumas aplicabilidades em centros de línguas contemporâneos”, e foi desenvolvido a partir de apontamentos realizados em um projeto de iniciação científica da Faculdade de Ciências e Letras de Assis vinculado ao Programa de Iniciação Científica Sem Bolsa (PIBIC – ICSB). A pesquisa intenciona prioritariamente refletir sobre o desafio da pluralidade de culturas no ensino de E/LE (Espanhol como língua estrangeira) e a maneira como o componente cultural é integrado e abordado em livros didáticos brasileiros, bem como a sua relação com as práticas sociais. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, cujos dados serão analisados com a aplicação dos procedimentos da Análise de Conteúdo. Assim, espera-se discutir e pensar a respeito da formação de instrumentos/caminhos para o ensino de línguas estrangeiras no Brasil – nesse caso, o espanhol –, com consciência crítica não somente a respeito de uma abordagem intercultural, mas também considerando os usos e as vivências de sujeitos contemporâneos e de suas sociedades.

Iniciação aos estudos culturais e o ensino de língua estrangeira: fronteiras

Vânia Maria Colaço Silva (UPM)

Viver o global não significa desconsiderar as fronteiras, e sim, compreendê-las. O professor tem sempre o desafio de manter-se atualizado frente às perenes mudanças que rondam as atividades humanas e, para o professor de língua estrangeira (LE), isso não é novidade: o ensino é continuamente reavaliado, melhorado e atualizado, sendo, a cultura, essencial em tal processo. Os Estudos Culturais surgem no contexto da sala de aula de várias formas: seja porque o aprendizado de uma língua pressupõe o conhecimento de sua cultura, ou porque – mais do que nunca – há miscigenação entre os povos, promovendo o encontro dos mais diversos saberes, costumes e hábitos. A globalização ativa a interculturalidade e provoca o surgimento de pensamentos que contradizem a ideia de hegemonia. Aquele que sai de sua terra natal, ou aquele que está inserido (independente do motivo) em situações entre-espaços, passa a pertencer não mais a si, mas ao mundo, entre as fronteiras, entre o lá e o aqui, ele sempre enfrentará os sentimentos contraditórios que acompanham esse caminhar. Nesse tocante, buscamos ponderar sobre as fronteiras culturais a serem enfrentadas pelo professor de LE no universo da globalização, onde culturas misturam-se e chocam-se, onde questões como pertencimento, identidade cultural e hibridismo são pronunciadas das formas mais variadas e, por vezes, sem que o professor esteja preparado para tal. Palavras-chave: estudos culturais; ensino de língua estrangeira.

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Materiais didáticos e prática educacional

Desafios da educação à distância: distancia transacional no material didático (por um discurso com mais pontes e menos muralhas)

Mônica Maria Penalber de Menezes (UPM)

No contexto da Educação a Distância (EaD) é importante reconhecermos a linguagem como ferramenta capaz de ir além de somente organizar a informação necessária à formação à do aluno. O ponto de partida para essa reflexão é a existência de uma preocupação, não com a distância geográfica, típica da EaD, mas com uma distância pedagógica e psicológica, denominada de Distância Transacional, muito comum nessa modalidade de ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva, considerando que o discurso é uma situação comunicativa, em um contexto específico e diz respeito a quem fala, para quem fala e por que fala, procuramos analisar se o discurso presente no material didático disponibilizado ao aluno, contribui para uma relação de proximidade, minimizando, assim, a Distância Transacional. Sabemos que o discurso está relacionado a um sujeito, em um tempo e em um espaço, e implica um destinatário e uma relação estabelecida entre eles, ou seja, o discurso é interativo. E isso posto, muito tem a contribuir para a interação entre aluno e material didático. Com base nesses princípios, este trabalho propõe-se a analisar o tipo de discurso presente no material didático, utilizados em cursos de graduação, na modalidade a distância, e investigar de que forma esse discurso pode contribuir para minimizar a Distância Transacional. Consideraremos em nossa análise os pressupostos teóricos da análise do discurso francesa a partir das concepções apresentadas por Maingueneau. Palavras-chave: ead; linguagem; discurso; distância transacional; interação; material didático.

The undergraduate students’ comick books creative writing development in English as second language

Carlos Eduardo de Araujo Plácido (USP) The elaboration of comic books in English as a second language (ESL) classes may be a very useful tool to help ESL students develop their linguistic, textual and artistic skills. However, the comic books creative writing in English has not been extensively researched in Brazil. In fact, it has not received proper attention from the academia (McCloud, 1993; Wright, 2001; Liu, 2004; Baker, 2011; Yildirim, 2013). For these reasons, the main objectives of this research were to investigate if comic books creative writing classes may indeed help students develop (Vygotsky, 2004; 2007) their creative writing texts and how they may be developed. The data were collected in an extracurricular creative writing course which took place in the University of São Paulo (USP). This course was taught based on the Vygotskian sociocultural theory (Vygotsky, 2004; 2007; Lantolf & Thorne, 2007; Lantolf & Poehner, 2014). All the students were female and Languages and Literature undergraduate. The ultimate results indicated that all the participating students developed their creative writing texts. Their development was verified in three distinctive moments of the extracurricular course. In the first moment, the researcher noticed that their concepts about comic books were all broadened. In the second moment, he identified that the students elaborated more complex creative writing texts. In the last moment, they could use the English language more proficiently. In addition, all the participating students expressed to be more confident in creating multimodal texts. Keywords: comic books; creative writing; sociocultural theory.

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Teaching English as a foreign language: a importância da inserção de materiais autênticos no ensino

significativo da língua inglesa em uma abordagem comunicativa

Juliana Cordeiro Viana (UPM)

A partir dos anos 1970, linguistas e estudiosos da área do ensino de línguas começaram a questionar a efetividade de um ensino fundamentado apenas no domínio do código linguístico, posto que seja possível dominar as regras formais de uma língua e, ainda assim, não saber utilizá-la em um contexto comunicacional real (RICHARDS, 2006, p. 03). Desse modo, abordagens mais tradicionais cederam espaço à Abordagem Comunicativa, que tinha como principal finalidade o desenvolvimento da competência comunicativa. A interação entre os aprendizes, para que haja troca de informações pertinentes ao aprendizado, é um dos pontos fundamentais que a distinguem, além das aulas centradas nos alunos, e a utilização de materiais autênticos, para que haja troca cultural, quebra de estereótipos e o conhecimento da língua em contexto. Esta pesquisa tem por objetivo contribuir para os estudos na área do ensino significativo da Língua Inglesa, evidenciando a importância da inserção de materiais autênticos, mais especificamente filmes, no conteúdo das aulas de língua estrangeira. Sendo assim, será apresentada uma proposta didático-metodológica, que viabilizará o contato dos aprendizes com os aspectos culturais e históricos inerentes à língua-alvo - a partir da utilização do filme Across the Universe (2007), como realia -, a fim de desenvolver a competência comunicativa e as habilidades de interpretação e compreensão textuais. Como arcabouço teórico valemo-nos nos conceitos de Hadley (2001); Hanna (2012); Mishan (2005) e Richards (2006). As presenças social, cognitiva e de ensino e a formação de uma comunidade virtual de aprendizagem na

disciplina língua espanhola de um curso de Letras

Gloria Teresita Acosta Tripani (USP) O objetivo de esta dissertação de Mestrado, defendida em 31 de agosto de 2017, foi investigar como os participantes de fóruns digitais desenvolvidos no ambiente virtual da plataforma Moodle, marcavam sua presença social, cognitiva e de ensino, favorecendo a formação de uma comunidade de aprendizagem. A fundamentação teórica segue três eixos: a) tecnologia e ensino, com base em estudos desenvolvidos por Levy (2014 [1999]), Castells (2003; 2013), Coll (2010), Prensky (2011), Rojo (2012), Braga (2013), Mayrink e Albuquerque-Costa (2015), Moran (2003; 2015); b) a formação crítico-reflexiva de professores para o uso de TIC, partindo das contribuições iniciais de Dewey (1938) e seus desdobramentos nos estudos de Schön (2000 [1998]), Freire (1987), Perrenoud (2008, [2002]), Liberali (2010) e Mayrink e Albuquerque-Costa (2015); c) o modelo proposto por Garrison e Anderson (2005), que definem a importância das presenças social, cognitiva e de ensino como base para a formação de comunidades de aprendizagem em contextos de interação online aliado ao entendimento de Vygotsky (1984) em torno da ideia de aprendizagem colaborativa por meio da interação com o outro. A pesquisa, de cunho etnográfico, seguiu a abordagem qualitativa-interpretativista. Os dados foram coletados ao longo do segundo semestre de 2015, no contexto da disciplina Língua Espanhola do curso de Letras de uma Universidade pública de São Paulo. Palavras chave: presença social, cognitiva e de ensino; comunidades virtuais de aprendizagem; ensino híbrido.

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Resumos Estudos literários

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Escritoras do século XX

Água viva e o ritmo em prosa: implicações analíticas

André Matos de Oliveira (UNIFESP) Com a leitura de Água Viva, de Clarice Lispector, foi possível observar que a obra apresenta rupturas em relação a formas mais tradicionais de narrativa, inserindo-se, nesse sentido, em uma tradição paralela de construção do romanesco, em que se entrecruzam elementos usualmente atribuídos à prosa e elementos usualmente atribuídos ao universo do poético. Em Água Viva, Lispector radicaliza seu estilo, adensando a exploração dos efeitos de uma escrita ritmada que parece oscilar entre a prosa e a poesia. Nesta obra, é possível constatar a grande incidência de vocábulos, símbolos, derivações, imagens ou estruturas dispersas ao longo do texto que problematizam a questão do ritmo. O objetivo central deste trabalho é analisar como as ocorrências das alusões ao ritmo, a elementos rítmicos e a imagens fins, assim como as operacionalizações de elementos rítmicos são fatores determinantes para a organização da narrativa, em Água Viva. Para tanto, propomos um estudo dos procedimentos que parecem pertinentes para a estruturação do texto a partir de elementos rítmicos e suas derivações. Neste processo, parece ser possível observar e recuperar, tanto na obra em questão quanto em outros escritos da autora, estruturas rítmicas e imagéticas que parecem compor seu projeto de criação. A partir dessas reflexões, pretendemos trazer à luz a discussão de outros aspectos presentes no livro, tais como: problematização dos gêneros literários, formalização do monólogo, recorrências temáticas e imagéticas, bem como o recurso ao fragmento como elemento compositivo do texto.

Travessia e transgressão na obra O amante, de Marguerite Duras

Fabiana Fanganiello (UNIFESP) A extensa obra de Marguerite Duras caracteriza-se pelo retorno a certos temas, fundamentais na sua literatura: a infância pobre na Indochina colonial do início do século XX, o triângulo amoroso, a melancolia, a morte, entre outros. Em O Amante (L’Amant), encontramos, em comunhão com esses temas, a repetição de uma cena a partir da qual se desenvolvem as lembranças narradas ao longo do texto: trata-se do encontro da narradora com seu futuro amante, durante uma travessia de balsa. Este trabalho tem como objetivo analisar os sentidos implicados na repetição dessa cena, com base na observação do movimento de travessia, que se realiza no espaço, no tempo, na memória e no próprio texto literário.

A obra de Virginia Woolf na pós-modernidade

Luis Antônio Soares da Silva (UPM) Uma das figuras mais proeminentes do modernismo (na Inglaterra) foi a escritora Virginia Woolf (1882-1941), cuja proposta de trabalho era a de escrever de forma diferente dos seus contemporâneos, penetrando o espaço da mente das personagens e registrando o pensamento em tempo real, iluminando a chama mais íntima que pisca suas mensagens através do cérebro, pois o ponto de interesse para os escritores modernos estava nos lugares escuros da psicologia. (WOOLF, 2003, p. 146). A autora inglesa escrevia sobre a condição humana, sobre a angústia do existir e as incertezas relacionadas à morte e à vida das pessoas de sua época.

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Em torno da recepção de O lustre, de Clarice Lispector

Mariangelo Alonso (USP)

A presente pesquisa de pós-doutorado pretende resgatar ensaios e artigos críticos acerca da recepção do romance O lustre, publicado em 1946 por Clarice Lispector. Embora seja constantemente comparado a Perto do coração selvagem, primeiro livro da autora, O lustre apresenta uma escrita complexa, ao contrário de uma escrita fluida e derramada, conforme apontado pela crítica de Álvaro Lins, Sérgio Milliet e Gilda de Mello e Souza, estudiosos que na ocasião do lançamento do romance e a partir de certa rigidez normativa o equipararam ao livro de estreia, contribuindo com a herança lacunar da crítica. Constantemente, os estudos atuais têm tomado por base a leitura canônica destes críticos, desconhecendo um grande número de outros textos que dão corpo à fortuna crítica do romance, os quais compõem o inventário de Clarice Lispector localizado na Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro. Tais textos apresentam outras leituras e vieses emitidos no calor do lançamento da obra e não foram resgatados pelos críticos na avaliação de O lustre. Assim, com base nas proposições críticas de Reynaldo Moura, Maurício Vasques, José João de Oliveira Freitas, Luiz Delgado, entre outros, procuraremos elucidar pontos cegos da crítica, relativizando algumas afirmações dos críticos canônicos ao procurarmos outros aspectos presentes na obra. Nossa proposta consiste basicamente no esclarecimento do lugar que O lustre ocupa no horizonte ficcional de Clarice Lispector.

Clarice Lispector: jornalismo e literatura

Thiago Cavalcante Jerônimo (UPM) Clarice Lispector ficcionista, autora de romances como A maçã no escuro (1961) A paixão segundo G.H. (1964), Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969), logrou uma fortuna literária de prestígio, seja nas livrarias nacionais ou internacionais, na Academia ou nos colégios, nos jornais ou redes sociais. A obra de Clarice, fragmentada ou não, passeia por todos os meios comunicativos, quer seja por aqueles que leem seus textos por gosto ou por tantos outros que leem por obrigação acadêmica. A hora da estrela (1977), último escrito lançado em vida pela autora, figurou por muitos anos como obra exigida nos principais vestibulares nacionais. Sabe-se da grande importância que o nome de Clarice Lispector representa no cenário literário brasileiro. A escritora surge no início da década de 1940, rompendo, já em seu romance de estreia, Perto do coração selvagem (1943), com a cristalização acoplada à produção ficcional brasileira àquela época. Poucos, no entanto, sabem como se iniciou a trajetória da autora na imprensa, isto é, a Clarice jornalista. Esta comunicação tem por objetivo expor traços dos diversos percursos de escrita que Clarice firmou no jornalismo brasileiro, seja utilizando os jornais e revistas como divulgadores de suas produções ficcionais, seja como repórter, colunista feminina, cronista e entrevistadora. Pontua-se que as diferentes escritas e as diferentes atividades da autora cruzam, em certa medida, com sua produção ficcional, ocorrências observadas nas pesquisas de Nádia Battella Gotlib, Teresa Monteiro e Aparecida Maria Nunes, produções que alicerçam o presente estudo. Desse modus operandi, como comum à Clarice, a escritora-jornalista subverte os gêneros literários dotando-os de novas significações. Palavras-Chave: Clarice Lispector; jornalismo; literatura; imprensa feminina.

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Discursos literários do século XIX (I)

Eufóricas arcadas, melancólicos modernos: os românticos paulistas e as práticas da cultura letrada no século XIX

Caique Franchetto (UNIFESP)

Percorrer a história literária do Brasil oitocentista é esbarrar nos tópicos do nacionalismo, liberalismo e outras contradições da modernidade. Esse discurso romântico-liberal francês circulava nos periódicos; nas instituições de ensino e de leitura, como bibliotecas, livrarias e gabinetes; nos cafés e tavernas, e constituem o espaço público do debate, representados pelos estudantes de Direito em São Paulo, os quais fizeram com que toda a cultura literária e acadêmica francesa fosse importada, adaptada e aplicada ao contexto local. Um exemplo notável é Álvares de Azevedo, cujos ensaios, nas revistas acadêmicas, compõem uma coletânea do que era lido e pensado por esses estudantes. Nos ensaios, Álvares expressa um discurso patriótico e acredita na Academia e nas sociedades secretas revolucionárias a “missão política” do desenvolvimento do “progresso” e da “civilização”; além de temas literários, como análises das obras de Sand e de Musset, levantando um vasto repertório de obras canônicas e de livros que, em sua época, eram lhe contemporâneas, como Byron, Shelley, Voltaire, etc. A partir do conceito de que as práticas de leituras dão-se pelas referências do que circulava nas instituições, nos jornais e tipografias, e o que era citado nas obras e nas críticas publicadas, o principal objetivo dessa pesquisa é verificar e analisar catálogos e almanaques de instituições de leitura paulistas do século XIX, discutindo o projeto de formação cultural de leitores e de seus acervos intelectuais nos espaços públicos de debate.

Dor, significação e negritude em Cruz e Sousa

Cristiano Lima de Araújo Reis (UPM) Embora saibamos que a negritude não deva ser marcada exclusivamente pelo espectro do sofrimento, sabemos que a dor se confunde com sua história. Desse modo, o presente trabalho, parte da pesquisa de doutoramento intitulada A estética da dor no discurso artístico da negritude, discute os processos constitutivos tanto da dor quanto da negritude na obra de Cruz e Sousa a partir da leitura do livro Evocações. Entendemos que o autor em questão, mesmo entendido como simbolista, extrapola os limites de tal estética ao instalar em sua obra um discurso constituído a partir do estatuto da dor, deixando de ser um simbolista “ortodoxo” ao estetizar sua própria condição de vida de modo que a escuridão que paira sobre seus poemas em prosa seja a um só tempo efeito do sombrio, traço particular do decadentismo, como também matéria-prima de uma identidade negra que se constrói ao longo de Evocações. Para tal percurso de análise buscou-se suporte na semiótica discursiva ou greimasiana por entendermos que esse seria o suporte teórico-metodológico que melhor responderia às exigências da pesquisa em questão uma vez que nossa preocupação é investigar os processos de constituição da dor e suas manifestações bem como da negritude como efeitos de sentido de um dado discurso, no caso, o discurso artístico propagado pela atormentada voz sousiana.

Diálogo com a tradição e afirmação autoral em Meu conto de Maupassant, de Monteiro Lobato

Priscila Fernandes Balrini (UPM) É justamente um ponto de interrogação o que acompanha o leitor do início ao fim da narrativa Meu conto de Maupassant, de Monteiro Lobato. O título ressoa como uma charada que é preciso decifrar para passar ao

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próximo nível de fruição e interpretação. A sensação é de que o autor parece querer confrontar o leitor, às portas do oráculo, para que este examine sua relação e comprometimento com a leitura. Ao mesmo tempo, assinala, com o uso do pronome “meu”, que esta viagem de descoberta também se vincula a uma afirmação autoral, em diálogo direto com o leitor, chamado a preencher lacunas e mirar os pontos luminosos escondidos nas dobras do texto. Nosso intuito, neste trabalho, é investigar se Lobato lança mão de artifícios de nomeação, de autocategorização, ao optar pelo título Meu conto de Maupassant, para pôr em xeque a opinião de parte da crítica de que seu trabalho passa por uma simples “imitação” do estilo de Maupassant. Para este fim, tomamos por base metodológica a noção de sistema literário, desenvolvida por Antonio Candido, que configura a articulação de três componentes literários para a definição da literariedade de uma obra, a saber: autor, obra e leitor. Nesta análise, trabalharemos sob a égide dos três aspectos, ainda que de passagem, partindo do pressuposto de que a observação dessas entidades indissociadas possa ser importante para a experimentação de nossa hipótese.

O grotesco na configuração do romance homoerótico brasileiro

Ricardo Pereira Souza (UPM) A apresentação consiste num estudo em andamento sobre a configuração do relacionamento homoerótico nos romances Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha, da estética realismo/naturalista, e Em nome do Desejo (1983), de tendência moderna, de João Silvério Trevisan. Por meio do diálogo, entre os dois romances de temporalidade opostas percebe-se a utilização a permanência da estética do grotesco na estruturação e composição das narrativas ao descrever os relacionamentos homoeróticos. De maneira geral, o grotesco caracteriza-se como algo que destoa da representação de normalidade social e contrapõe ao modelo clássico de representação, uma vez que seu conceito é o oposto do belo e da perfeição, denotando um valor negativo de representação na ficção ao descrever, no caso em estudo, o homoerotismo visto como afronta à heterossexualidade, modelo de vivência e relação conjugal, legitimada pela sociedade heteronormativa. Desse modo tanto o romance naturalista quanto o romance moderno são estruturados de modo grotesco ao representar as relações entre iguais, o enredo de forma trágica, o espaço de modo sombrio e a personagem de modo híbrida. Além, do grotesco, teorizado por Bakhtin (2013), destacam como fundamentações teóricas o dialogismo para mostrar que a linguagem está impregnada por relações dialógicas (Bakhtin, 1997) e o homoerotismo, forma de relacionamento erótico entre pessoas do mesmo sexo independentemente das configurações histórico-culturais (Costa, 1992). Palavras-chave: bom-crioulo; em nome do desejo; grotesco; homoerotismo; dialogismo.

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Discursos literários do século XIX (II)

O alienista: materialidade no texto de Machado de Assis

Humberto Luiz Dias (UPM) Uma análise da materialidade do texto de Machado de Assis em O Alienista, a partir dos estudos realizados sobre leituras e leitores na literatura, considerando as perspectivas usuais, as estruturas, críticas e diferentes teorias que remetem a um processo analítico que envolve as formas de interação, as passagens do texto, a mediação, áreas de interesse e o embasamento a partir de estudos teóricos realizados por autores reconhecidos no âmbito literário, observando o favorecimento da inclusão dos leitores e o desenvolvimento dos fatores que refletem em outras versões do texto, tais como o surgimento de paratextos, as diferentes formas de quadrinizações, o teatro e outras manifestações literárias. O diálogo com o leitor, a mediação e as transformações sociais, permeiam o trabalho direcionado ao elo estabelecido na relação autor, obra e público.

Machado de Assis: folhetins e leitores

Juliano Zanco Lenne da Silva (UPM) O presente trabalho objetiva a investigação da constituição do Sistema Literário Brasileiro do século XIX, buscando entender a relação autor/obra/leitor, no qual jovens autores publicavam em folhetins seus primeiros escritos. Vamos nos limitar a percorrer os caminhos de Machado de Assis, autor com uma bibliografia vasta e alvo de muitas pesquisas, o que não limita as possibilidades de novas investigações, principalmente, quando analisamos os folhetins em que circulavam suas obras. Assim, o corpus, deste trabalho, é formado por textos não só de ficção publicados em folhetins, mas também dos diversos gêneros textuais que os constituíam, pois acreditamos que podem fornecer informações importantes sobre o momento da produção literária. Entre eles: A Estação, periódico feminino quinzenal de moda, no qual Machado de Assis colaborou por dezenove anos, entre 1879 e 1898; A Semana, periódico semanal com publicações aos sábados de 1885 a 1985, que divulgava textos de autores renomados e de novos talentos. Como suporte teórico, recorremos a Candido (2002 e 2006); a Teixeira (2010); Chartier (2014), entre outros. A investigação à A Estação, possibilitou-nos perceber que, possivelmente, os textos publicados por Machado de Assis, nesse veículo, teriam um público “certo”: o feminino. Já em A Semana, descobrimos que o folhetim promovia Plebiscitos literários, nos quais os leitores do jornal respondiam a questões sobre suas preferências literárias e que Machado de Assis sempre estava entre os melhores, na opinião dos leitores “comuns” desse folhetim.

Três perspectivas do dialogismo no conto Adão e Eva, de Machado de Assis

Miguel Graciano Silva da Costa (UPM) Este trabalho abordará o dialogismo no conto “Adão e Eva”, de Machado Assis, sob três perspectivas: o dialogismo que se dá na interação verbal das personagens, a qual, segundo Bakthin, constrói-se a partir da contraposição entre o “eu” e o “outro”, e no conto em questão é marcada pelos discursos polêmicos socialmente construídos dos pontos de vista masculino e feminino; o dialogismo entre o conto e o texto bíblico, com a citação da passagem bíblica que relata a criação do mundo, porém com uma nova versão, segundo a qual o mundo teria sido criado pelo Diabo, tendo Deus apenas interferido nesta criação para equilibrar o resultado; e o dialogismo entre o enunciador e o leitor, o qual se consolida na relação que se estabelece entre o sujeito da enunciação (o narrador) e o enunciatário (leitor), tendo como ponto de interação os referentes do enunciador e

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do enunciatário, ou seja, o conhecimento que tanto um como outro têm da passagem bíblica, ainda que as versões sejam polêmicas. Os conceitos de intertextualidade e interdiscursividade também serão abordados. O conto “Adão e Eva” foi publicado originalmente em 1896, no Rio de Janeiro, por Laemmert & C. Editores, compondo a obra que tem como título “Várias histórias”.

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Discursos literários contemporâneos (I)

Os lugares hostis no romance Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

Gisele Mortazo Felício (KSU) Numa pequena cidade do Pará, repleta de garimpeiros, comerciantes inescrupulosos, prostitutas e assassinos de aluguel, um fotógrafo se envolve com a misteriosa e sedutora mulher de um líder religioso. A análise do espaço no romance Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino, explora os espaços hostis pensando na teoria de Marc Augé. Em Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade, o autor (2010) analisa a relação entre o homem e o espaço que o cerca afirmando que vivemos em tempos de produção de não-lugares, os quais não podem ser definidos como relacionais, históricos ou identitários. Augé relaciona o surgimento dos não-lugares aos efeitos da supermodernidade. O lugar antropológico é o espaço existencial, o lugar da memória, o espaço em que as experiências foram vivenciadas. Diferentemente do não-lugar que se caracteriza antes de tudo como local de passagem, tal como uma estrada ou um caixa eletrônico. A supermodernidade é marcada pelos excessos e pela superexposição do ser humano a rápidas mudanças tecnológicas e físicas fazendo com que as pessoas acabem ficando mais tempo do que deveriam ou desejariam dentro dos não-lugares, todavia, o não-lugar pode ser transformado em lugar pela intervenção de cada indivíduo. No romance Eu receberia... podemos afirmar que os espaços construídos pelo narrador são todos espaços transitórios e, portanto, não-lugares que revelam também o estado psicoemocional de cada personagem e do próprio narrador.

As relações de tensão entre narrador e autor em Pierrô da caverna

Juliana Pires Fernandes (UNIFESP) De acordo com o teórico Wayne Booth, o autor implícito funcionaria como “o alter ego do autor”, que utiliza, dentre suas máscaras, a persona do narrador como mais um recurso utilizado dentro da obra. Sendo assim, o narrador estaria à serviço do autor implícito, como mais uma estratégia de persuasão. A grosso modo, essa relação implicaria no que Booth chamará de “retórica da ficção”, investigação importante para a escritura desse trabalho. Tendo em vista essa discussão, a visão do autor não se limitaria ao olhar estreito do narrador personagem, pelo contrário, as limitações e tensões entre as instâncias estariam permeadas de sentido. Partindo desses aspectos abordados, principalmente no âmbito das instâncias narrativas, foi possível analisar o conto “Pierrô da Caverna”, presente no livro O cobrador (1979), de Rubem Fonseca. Por meio da diferenciação entre autor, narrador e personagem, realizou-se uma investigação do modo como se relacionam essas instâncias, tendo em vista, principalmente, a construção do narrador personagem e o envolvimento desse com a literatura, apreendendo limitações, contradições e tensões nessa complexa rede de encadeamentos. Posto isso, procurou-se descobrir quais significados são possíveis de serem atribuídos a esse modus operandi presente na construção ficcional, ao passo que essas contradições e tensões não seriam obra do acaso ou da falta de cuidado, mas sim resultado de um complexo projeto literário.

Rascunhos de uma pesquisa em torno da literatura brasileira contemporânea e de suas fotografias

Renan Augusto Ferreira Bolognin (UNESP/Araraquara) Esta comunicação apresentará esboços de minha pesquisa de doutorado. Circunscrita no grupo de pesquisa “Literatura e Tempo Presente” - liderado pelas profas dras Rejane Cristina Rocha e Juliana Santini – objetivo

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demonstrar mediante os romances Nove noites (2004), de Bernardo Carvalho; Divórcio (2013), de Ricardo Lísias; e do romance gráfico Rememberanças da menina de rua morta nua, de Valêncio Xavier, e as fotografias trazidas em suas narrações, qual(is) o(s) sentido(s) sociopolítico pode(m) ser depreendido(s) na relação construída entre a fotografia e a literatura brasileira contemporânea. Para levar a cabo estas análises, questiono o(s) porquê(s) da existência destes diálogos entre fotografia e literatura ao embasar este trabalho nos conceitos de inespecífico e de campo expansivo, de Florência Garramuño (2014); na filosofia desconstrucionista de Jacques Derrida (1997); e nos questionamentos políticos da arte através de Jacques Rancière (2009). Como hipóteses concernentes à minha pesquisa e que serão postas à mesa nesta proposta de comunicação, tratarei as seguintes: i. Este diálogo inespecífico entre literatura e fotografia concerne a modificações dos procedimentos de representação da literatura; e ii. A inserção de fotografias no corpo da narrativa tem como finalidade criticar os paradigmas dos sistemas axiológicos da sociedade Ocidental. Com a soma de ambas as hipóteses, esta comunicação tratará o diálogo inespecífico percebido na aliança dos textos literários analisados e de suas fotografias como um questionamento a respeito dos protocolos de inteligibilidade e de visibilidade concernentes a cada arte e, obviamente, à uma fatura política intrínseca a este diálogo (RANCIÈRE, 2012).

A turma da rua quinze: Marçal Aquino para jovens leitores

Silva de Paula Bezerro (UPM) Uma obra literária passa por muitos caminhos até que o texto e o leitor se encontrem, seja por meio do papel, do áudio livro, do livro digital ou qualquer outro suporte. Dessa forma, e de acordo com o que propôs Antonio Candido (2000, p.23), a existência da literatura depende “de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns aos outros”. Além disso, sabemos que entre cada um desses três fatores existem mediações, isto é, elementos que favorecem a aproximação entre eles. É possível citar como exemplo: entre o autor e a obra há um editor e toda a produção do livro, entre o livro e o leitor existe a comercialização da obra e, entre o autor e o leitor temos a escola e o professor, as feiras de livros e outros. Com base no exposto, o objetivo desta apresentação é mostrar os elementos referentes à ideia de um sistema literário e algumas de suas mediações presentes na obra A turma da Rua Quinze (1989), primeira ficção publicada pelo escritor Marçal Aquino e responsável pelo seu primeiro sucesso como criador de histórias policiais.

O uso da linguagem coloquial na autoficção

Thais Chauvel (USP) A presente comunicação propõe abordar um fenômeno literário contemporâneo: a autoficção. Em seu mais recente livro intitulado Mutações da literatura no século XXI, a crítica Leyla Perrone-Moisés observa que “um dos problemas das laboriosas definições da autoficção é que elas deixam de lado o instrumento de toda literatura: a linguagem verbal” (PERRONE-MOISÉS, 2016, p. 207). Sendo assim, é possível avançar que a literariedade de uma escrita dita autoficcional reside na materialidade linguística do texto produzido, que merece, portanto, ser analisada de maneira mais detida. Ora, as descobertas linguísticas desenvolvidas ao longo do século XX demonstraram a impossibilidade linguísticas de nomear o real. Com efeito, a linguagem é um sistema de signos que representa a realidade, mas que não pode reproduzi-la fielmente já que o referente (o real) está fora da linguagem, que é, portanto, apenas um meio de representação convencional do real na sua ausência. O mesmo não ocorre, contudo, com a linguagem que pode ser reproduzida através da própria linguagem, tornando-se o único elemento de uma narrativa que pode ser retratado de maneira autêntica. É dentro dessa perspectiva que a comunicação pretende desenvolver uma análise do uso da linguagem coloquial em textos de autoficção. A hipótese sustentada aqui sugere que a intromissão da linguagem coloquial, seja por meio de

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diálogos reproduzidos o discurso direto, ou ainda através das expressões e gírias cotidianas, no texto literário visa reproduzir uma autenticidade discursiva, conferindo assim uma dimensão realista às obras. Para tanto, propõe-se realizar uma leitura analítica de excertos retirados de duas obras contemporâneas aclamadas pela crítica: O filho eterno, do brasileiro Cristóvão Tezza, vencedor do Prêmio Jabuti de 2008 na categoria Melhor romance, e En finir avec Eddy Bellegueule, publicado em 2014 na França que já foi traduzido em mais de vinte línguas até agora.

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Discursos literários contemporâneos (II)

Elementos góticos em The infernal desire machines of doctor Hoffman

Emannuel Gonçalves Gomes (UNIFESP) Ao longo de sua obra, Angela Carter (1940-1992) travou relações de intertextualidade com variadas tradições literárias. Tomando esse ponto de partida, em meu mestrado busco observar em The Infernal Desire Machines of Doctor Hoffman (1971) a confluência de dois diálogos recorrentes ao longo da produção da autora, aqueles com a ficção científica e com a literatura gótica. A presença de elementos do gótico no romance constitui a parcela central desta comunicação, baseada nos resultados parciais da pesquisa de mestrado ainda em desenvolvimento. O gótico não apenas é o gênero presente de forma mais constante nas obras de Carter, como também é, no caso de Desire Machines, o elemento fundamental na construção de um dos polos cuja oposição constitui a narrativa. Fornece, assim, uma porta de entrada para a compreensão das relações entre forma e temática, não só no romance aqui em questão como na obra carteriana como um todo.

1984 e o sujeito fragmentado: uma perspectiva sobre o duplo

Hadassa Gringnani Golze (UPM) O livro 1984, escrito por George Orwell, apresenta-se como um romance distópico que expõe uma sociedade futura, vivendo um regime totalitário em que os valores humanos sofrem uma inversão. Em meio à distopia do livro podemos extrair questões importantes acerca do indivíduo e sua sociedade. A literatura aborda as reflexões sobre identidade de diversas formas, dentre elas está o mito do Duplo. O mito questiona a essência do ser, instigando o conhecimento de si mesmo. Percebe-se que o romance de Orwell oferece em sua narrativa uma perspectiva sobre a fragmentação de um sujeito em outros, além de expor dúvidas sobre o que é real e o que é ilusão, assuntos que podem sobrevir à mente do homem que busca a afirmação de sua identidade. Partindo da noção que 1984 fala sobre o indivíduo submetido ao controle totalitário e que este indivíduo questiona sua identidade nesse sistema controlador, o objetivo deste trabalho é observar a formação do Duplo na obra por meio dos protagonistas Winston Smith e O’Brien. Para tanto, serão utilizados os estudos de Rosset (2008), Atik (2011) e Lamas (2004) , sobre o mito do Duplo na literatura e suas definições . Além disso, a análise da presença do Duplo na narrativa busca comprovar como o ambiente distópico da sociedade em que as personagens vivem contribui para a fragmentação do sujeito; busca-se valorizar outro aspecto de 1984 além da distopia, demonstrando a riqueza da obra ao explorar a temática do ser humano e sua individualidade.

Zlata: a escrita de si como refúgio

Juliane Emiliano (Fac. Dom Domênico) O presente trabalho pretende demonstrar como o elemento empírico encontra-se na obra Diário de Zlata - A vida de uma menina na guerra. Em seu diário, que inicia antes da guerra explodir em Sarajevo, Zlata Filipovic descreve o sofrimento vivido por ela, sua família e amigos por causa da guerra da Bósnia, que ceifou a vida de milhares de cristãos e mulçumanos, mulheres e crianças, uma vez que três grupos típicos da região: os sérvios cristãos ortodoxos, croatas católicos romanos e bósnios muçulmanos, iniciaram uma disputa étnica e territorial. Filipovic relata detalhes dos barulhos e destroços de ataques aéreos, nas páginas do seu diário, percebe que seus sonhos foram interrompidos, que o mundo não é mais o mesmo: sua escola fecha, falta luz, água, comida, para viver agora era necessário passar dias com pouco alimento, e muitas vezes, dentro de um porão escuro. E é por

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meio deste contexto de guerra civil, que se pretende abordar a função da literatura confessional, mais precisamente o diário, para um possível registro de fato histórico e como um refúgio para o ser humano, pois, a narrativa é um relato pessoal, e de acordo o escritor Philippe Lejeune o diário é uma prática e manter essa escrita é uma maneira de viver. Palavras-chaves: Zlata; diário; literatura; confissão; história.

A desconstrução do vampiro através da obra What we do in the shadows

Patrícia Hradec (UPM) O pseudodocumentário neozelandês What we do in the shadows (2014), escrito, dirigido e protagonizado por Jemaine Clement e Taika Waititi apresenta-nos diferentes figuras vampíricas. Analisaremos como ocorrem desconstruções bem como renovações dessas figuras ao longo da obra, além de verificar como a conceituação do neofantástico difundida por Jaime Alazraki (2001) se apresenta. O pseudodocumentário é uma obra de ficção que imita um documentário geralmente com o objetivo de confundir o espectador, também conhecido como mockumentary. Logo no início há uma explicação para a filmagem: devido ao Baile de Máscaras Profano (The Unholy Masquerade) em uma sociedade secreta na Nova Zelândia uma equipe de filmagem tem total acesso a um pequeno grupo dessa sociedade e documenta a rotina da casa de 4 vampiros nos meses que antecedem o baile. Viago, um dândi de 379 anos; Petyr, uma cópia do Nosferatu de Murnau com 8.000 anos; Deacon o mais novo dos vampiros com 183 anos e ligado em algum momento ao nazismo e Vladislav, uma cópia da figura histórica de Vlad Tepes com 862 anos. A obra permeia o mundo dos vampiros e dos humanos como uma realidade paralela entremeada de problemas domésticos e cômicos. A figura do vampiro deixa de ser apresentada em sua forma clássica, do vampiro sedutor, porém ameaçador e passa a ser vista sob novas perspectivas.

O epistológrafo personagem: o olhar dos editores sobre as Cartas de Álvares de Azevedo

Vanessa Neri Rodrigues (UNIFESP) Álvares de Azevedo, um dos cânones da literatura brasileira, viveu em um período de efervescência política, social, econômica e cultural da História do Brasil. A correspondência trocada com sua mãe, nesse período, constitui um conjunto importante de documentos não só para a possibilidade de compreendermos o autor como um homem social que teve suas trajetórias e vivências expressas em suas cartas, como também nos questionarmos sobre a importância da reunião, organização e publicação dessas correspondências. Tais cartas foram escritas entre os anos de 1840 e 1851, no deslocamento de Álvares de Azevedo entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. As correspondências foram compiladas na coleção da Biblioteca da Academia Paulista de Letras, organizada por Vicente de Azevedo, com o título de Cartas de Álvares de Azevedo. Contabilizando-se 67 cartas e 2 bilhetes, foram reunidas pela iniciativa de alguns dos alunos da então Faculdade de Direito do Largo São Francisco, por conta do imenso interesse de seu organizador em escrever sobre a história do poeta. Assim, pretendemos nos debruçar sobre as edições dessas cartas, bem como entender a percurso desses documentos, buscando identificar outras possíveis edições. Para tal, trabalhar com a figura do organizador, compreender a trajetória desses documentos e o seu contexto de publicação se faz essencial para esse trabalho. A partir dessa perspectiva que pretendemos desenvolver a presente pesquisa, tentando identificar quais as intenções que permearam a publicação dessas correspondências e as leituras que se estabeleceram sobre elas a partir de sua publicação.

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Discursos literários contemporâneos (III)

A violência e a representação feminina no romance gráfico El ala rota

Amanda Monteiro Belon Fernanes (UNIFESP) Ao ler um romance gráfico são duas as histórias que se constroem simultaneamente. Há a história construída através da linguagem literária, ao mesmo tempo em que a linguagem imagética conta também a história. E é através dessas duas histórias que Antonio Altarriba e Kim nos contam a história de Petra no romance gráfico El Ala Rota. Ao perder a mãe quando ainda era recém-nascida, Petra tem o braço quebrado por seu pai em um acesso de fúria ao saber da morte da esposa. Por ficar mal curado o problema, Petra perde a mobilidade do braço. Com a morte de seu pai, resolve ir para uma cidade maior trabalhar, lugar em que casa e constitui família. Cidade também que falece em uma casa de repouso. Apesar de a história ser sobre a vida de Petra, as fases de sua vida que separam os quatro capítulos da obra são marcadas pelos homens que passam por sua vida (o pai, o patrão, o marido e o namorado). As violências simbólicas não se restringem ao âmbito social da vida da personagem, mas também à forma como a própria historiográfica é construída, pois atende a uma demanda do leitor, uma expectativa, uma zona de conforto que é permitida pelos autores. Portanto, na obra é possível identificar duas formas de violência, a primeira delas é a violência física sofrida por Petra durante sua vida, a segunda é a violência da própria representação e construção dos estereótipos das personagens, que atende a uma demanda de mercado.

Questões estruturais em Un tal Lucas: o jogo da língua e da forma

Lucas Fernando Ribeiro Jukenevicius (UNESP/Assis) Julio Cortázar é um dos autores mais conhecidos da literatura mundial. Sua Obra Un tal Lucas (1979) foi um de seus últimos escritos e mesmo não alcançando pleno sucesso de crítica, resguarda as características da escrita magistral de Cortázar e seu estilo inconfundível. Já mais maduro, Cortázar constrói uma personagem também madura disposta a refletir sobre a vida, a arte, o idioma espanhol e as relações interpessoais. No interior dessa obra, uma mudança de paradigma modifica a escrita e passa a não mais espelhar Lucas em primeira pessoa, mas aborda de forma diferenciada os temas e os gêneros propriamente, demonstrando uma pseudo-separação entre esta e as partes anterior e posterior, ambas intituladas a partir do nome Lucas. Nesta obra, a forma fragmentada e aparentemente caótica esconde uma obra conectada, pensada de forma lógica e atada por sua personagem principal (e quase única), esse tal Lucas. A partir da ideia de digressão proposta por REIS, C.; LOPES, A. C. M. em seu dicionário, se fará uma leitura das partes e capítulos de Un tal Lucas como digressões atadas a um elo comum, ou ainda, rizomas que podem desprender-se de um todo, podem “vir a ser” de forma independente, mas amarradas a seu tronco comum.

Persépolis: identidade e diáspora

Vanderson Fernandes dos Santos (UPM) O presente trabalho tem por finalidade debater as questões identitárias presentes na graphic novel Persépolis, escrita e ilustrada pela autora de origem iraniana Marjane Satrapi. Partindo de tal reflexão, o estudo problematiza o potencial das graphic novels, segmento oriundo das histórias em quadrinhos, em tratar temas de relevância social, como é o caso da formação da identidade e da diáspora, assuntos intrínsecos ao contexto da modernidade tardia. Tendo como referências Stuart Hall, Anthony Giddens e Homi Bhabha, a pesquisa levanta

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conceitos sobre identidade e modernidade e analisa como essas concepções estão presentes na narrativa de Persépolis. Já a problematização concernente ao potencial das graphic novels como meio para a reflexão de conteúdos complexos partirá dos estudos realizados por Will Eisner, Scott McCloud, Waldomiro Vergueiro e Paulo Ramos. Corpus escolhido para a investigação, Persépolis narra a adolescência e a juventude da personagem Marji durante os anos da Revolução Cultural ocorrida no Irã, a partir do ano de 1979. Inserida num contexto conflituoso, onde os valores da família – progressista e aberta aos costumes ocidentais – não condiziam com aqueles defendidos pelo regime islâmico – conservador e recluso –, Marji inicia uma jornada de autodescoberta, onde questões políticas, religiosas e culturais entrarão em choque conforme a garota se desenvolve como indivíduo. Originalmente publicada em quatro volumes, no idioma francês, a graphic novel Persépolis foi bem recebida pela crítica e pelo público e ganhou uma versão cinematográfica em 2007.

Inundação: um conto de Mia Couto percorrendo a cronotopia de Bakhtin

Vânia Maria Colaço Silva (UPM) Este estudo propõe a aplicação do conceito de cronotopo, segundo o filósofo russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin, por meio de uma breve análise do conto Inundação do escritor moçambicano Mia Couto. Cronotopo, é o motivo literário que marcará e materializará determinado tempo e espaço do sujeito, sendo fundamental para conhecer a personagem e podendo funcionar como a oportunidade do sujeito de se transformar. Logo, mediante a marcação inerente do tempo-espaço, serão destacados, em meio às diversas metáforas utilizadas no conto, os cronotopos da soleira e da estrada. A soleira, o diálogo limiar, conduz à ideia de fronteira, separando o dentro do fora, como um momento do trânsito a caminho da lucidez. Da mesma forma, o cronotopo da estrada representa parte importante para a compreensão da complexidade da personagem e seus desfechos, pois é o local onde os acontecimentos se realizam, onde tempo e espaço fluem formando caminhos e, por fim, remete ao encontro do ser que fora transformado ao longo da narrativa. Diante destas categorias de tempo e espaço, Couto oferece um texto complexo, denso e intenso; porém, um texto que traz o leitor para a realidade da personagem, possibilitando o caminhar junto pela narrativa, desvelando os emaranhados do passado e o enfrentamento das fronteiras para um caminhar pleno e consciente em direção ao caminho de cada um.

Mito e (pré)conscientização em Uma xícara e um destino, de Elisa Lispector

Thiago Cavalcante Jerônimo (UPM)

Esta comunicação tem por objetivo identificar e analisar a presença de elementos pertencentes à mitologia grega no conto “Uma xícara e um destino”, de Elisa Lispector (1911-1989), utilizando-se de alguns conceitos acerca do mito, presentes no livro Mito e realidade, do crítico romeno Mircea Eliade, e a questão dialógica da eventicidade do ser proposta pelo pensador russo Mikhail Bakhtin. Busca-se averiguar, mediante análise de textos, de que forma Elisa Lispector reatualiza o mito de Antígona em contexto com sua protagonista, configurada nos decênios de 1960/1970, data da publicação de Sangue no sol, primeiro dos três livros de contos da autora. Em sua estreia como contista, Elisa reúne dezoito narrativas curtas em que mescla histórias com o foco narrativo tanto no homem como na mulher. As personagens elisianas são díspares, se analisadas quanto ao gênero (feminino e masculino). Sua autora ora privilegia as indagações concernentes à condição masculina, ora põe em relevo as vivências femininas; entretanto, o que há em comum em suas produções, seja em seus romances ou contos, é a constante indagação do ser diante das contrariedades que lhe são impostas no âmbito público e/ou privado, em sua vida social e/ou íntima. Ocorrência também materializada na produção do dramaturgo grego Sófocles, autor de Antígona.

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Discursos e mitos

A intertextualidade em Sete anos de pastor Jacob Servia

Anna Gabriela Gaudêncio Silva (UPM) O trabalho analisa comparativamente o soneto camoniano “Sete anos de pastor Jacob servia” e o capítulo 29 do livro de Gênesis, abordando o tipo de intertextualidade utilizada entre as obras. A partir de um quadro comparativo, ficarão claras as semelhanças e diferenças entre a narrativa e o soneto. Sabe-se que muitos autores se apropriam de textos ou ideias bíblicas na composição de suas obras. Nesta comunicação, destacaremos Luis Vaz de Camões (1524(?) – 1580), considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona. Será possível notar que o autor português se apropriou de uma narrativa de cunho religioso e modificou seu tema e gênero, aproximando de textos do período renascentista e trovadoresco, atribuindo à obra um caráter romântico, com personagens mais humanizadas. Observaremos também que, apesar da mudança da prosa para a poesia, o soneto possui características de uma narrativa como: narrador e personagem que se situam em um determinado tempo/espaço. Para a elaboração dessa pesquisa, utilizamos como referencial teórico obras dos seguintes autores: Massaud Moises, Benjamin Abdala Junior, Welton Pereira e Silva e Douglas Tufano para falar a respeito de Camões e o soneto; João Leonel e Julio Zabatiero na análise literária do texto bíblico.

A cosmogonia nas Crônicas de Nárnia: a reatualização mítica na literatura infanto-juvenil

Carmem Medeiros Lima (UPM)

O mito é uma história na esfera do sagrado que relata um acontecimento ocorrido in illo tempore sobre as façanhas dos entes divinos e sobre a existência da realidade que conhecemos. Dentro dessa realidade encontramos explicação para comportamentos humanos, para a origem e a finitude dos seres vivos ou não, para a organização da sociedade e do trabalho. A busca de modelos de verdade alcançam os narradores/escritores nas narrativas orais e escritas e o fascínio das figuras míticas atingem os leitores das mais diversas faixas etárias. Em uma delas, o público infantil e juvenil, analisaremos o mito da criação cristão e a forma como foi reatualizado a partir da identificação dos relatos cosmogônicos presentes na primeira narrativa escrita da obra As crônicas de Nárnia, de Clive Staples Lewis, intitulada O sobrinho do mago. Propomos analisar como são reatualizados o mito da criação, tendo como apoio teórico os ensinamentos de Mircea Eliade sobre o mito e os estudos de Junito de Souza Brandão acerca da mitologia grega. Observaremos que as reatualizações dos mitos judaico-cristãos e gregos serão construídas por meio de analogias, que se encarregarão de fazer a ponte entre o presente e o passado. Por fim, defendemos que o homem ainda utiliza-se dos mitos para buscar a própria origem.

Sobre os ombros de gigantes: releituras do mito de Orion e Cedálion

Edmundo Gomes Junior (UPM) A expressão latina nanos gigantium humeris insidentes, isto é, anões montados sobre os ombros de gigantes, é atribuída ao filósofo francês Bernard de Chartres (1130-1160) e foi popularizada por Isaac Newton pelo aforismo: "Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes" (1676). Através dessa máxima, ambos pensadores expressaram o quanto estudos anteriores permitiram que suas análises fossem além de seus precursores. O mito da criação da filosofia, o filius philosophorum, é simbolizado através do nascimento do gigante Orion, filho de três pais e geralmente mostrado carregando o pequeno Cedálion sobre seus ombros. Essa

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ekphrasis do gigante e do pequeno tem sido constantemente utilizada na literatura fantástica, em filmes, seriados e histórias em quadrinhos, dentre outras mídias. A relevância da figura do gigante para a ficção é tamanha que há um gênero específico de seriados japoneses denominado mecha, no qual, desde 1956, centenas de personagens foram criados. Para os fins desta pesquisa, restringiremos a análise às obras de ficção ocidentais, das quais elencamos personagens com essas características do romance Crônicas de Gelo e Fogo e do seriado televisivo Game of Thrones, das animações infantis da Hanna-Barbera e das histórias em quadrinhos da Marvel Comics. O objetivo desta pesquisa é analisar, pelo viés dos conceitos de intertextualidade desenvolvidos por Julia Kristeva (1974), aspectos em comum dessas representações, como elas manifestam os arquétipos junguianos da criança, a problemática do duplo e os efeitos de sentido gerados nessas narrativas.

Comédia dos enganos: um estudo sobre a peça Anfitrião ou Júpiter e Alcmea, de Antônio José da Silva

Eduardo Neves da Silva (USP) Este trabalho pretende desenvolver uma análise comparativa entre a “ópera” joco-séria Anfitrião ou Júpiter e Alcmena (1737), do comediógrafo luso-brasileiro Antônio José da Silva, e seus prováveis paradigmas intertextuais, a saber, Anfitrião (séculos III ou II a.C.), de Plauto; O auto dos Anfitriões (1587), de Luís Vaz de Camões; e Amphitryon (1668), de Molière. Como resultado parcial de nosso esforço analítico e interpretativo, pudemos comprovar a funcionalidade cênica e literária do fingimento na primeira peça em questão, relacionando tal recurso às dobras e redobras do Barroco. O fingimento encontra-se no cerne do próprio mito retomado pelos autores (Zeus toma a identidade de Anfitrião, e Mercúrio faz o mesmo com Sósia), mas Antônio José vai além de seus predecessores e acresce em sua tragicomédia outras mudanças de identidade: a deusa Juno, esposa de Júpiter, se transforma em Felizarda, e Íris se disfarça de Corriola. Além disso, a certa altura da trama, Juno fingirá ser uma princesa chamada Flérida, o que tornará a intriga do Anfitrião silviano cada vez mais complexa. A ação da peça segue duas linhas mestras: a que se refere à mitologia e a que diz respeito ao acréscimo levado a efeito pelo autor luso-brasileiro. Nota-se, portanto, que nesse caso as dobras e redobras das identidades das personagens se multiplicam de maneira quase vertiginosa, em grande medida devido ao fingimento em mise en abyme e à teatralidade bufoneada das peças de Antônio José da Silva.

Os ritos de iniciação e suas releituras: uma possível análise da obra Batismo de sangue

Fernanda Reis da Rocha (UPM) Para Eliade (1989, 1992, 2004) e Brandão (1986), os mitos seriam narrativas verdadeiras, transcorridas em um Tempo primordial e tendo como focos centrais seres sobrenaturais, que se preocupariam em explicar a Criação – seja do Mundo em si, de um objeto, de um costume ou instituição – e em expressar uma realidade em um plano absoluto e transcendental. Representações coletivas inerentes às culturas, tais relatos seriam vitais para o homem, uma vez que atribuiriam significação e complexidade a sua própria existência e ao mundo que o cerca, revelando condutas e modelos a serem buscados, internalizados e perpetrados. Já os ritos, na definição de Brandão (1986, p. 39), configuram-se como “a práxis do mito” ou ainda “[...] o mito em ação”, cuja principal função consistiria em aproximar o Homem da esfera do Sagrado e do transcendental, renovando e elevando-o. Frente à relevância, às inúmeras imagens e simbologias e ao caráter polivalente e reflexivo (ELIADE, 1992) evocados pelos mitos, artistas das mais variadas áreas realizam – consciente ou inconscientemente – leituras tradicionais ou transgressoras dessas narrativas e de seus rituais subsequentes. O presente trabalho propõe-se a analisar o livro Batismo de sangue (FREI BETTO, 2006), objetivando explicitar e debater de que modo os elementos centrais dos ritos de iniciação e da prática do batismo repercutem e desvelam-se nessa obra literária.

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Literatura francesa

O pequeno príncipe: definição de público a partir da materialidade

Bruna Parrella Brito (UPM) A obra Pequeno Príncipe caiu em domínio público no Brasil ano de 2015, quando completou 70 anos da morte de Antoine de Saint-Exupéry. Muitas editoras brasileiras correram para lançar suas edições em 1º de janeiro de 2015, a maioria com as aquarelas do autor e muitas com semelhanças com a edição da editora Agir, que aparecia sempre na lista dos livros mais vendido infanto-juvenis do site PublishNews. Este trabalho analisa a edição da obra O Pequeno Príncipe publicada pela Editora FTD, no ano de 2016, comparando-a com a edição da Editora Agir, que detinha os direitos de publicação desse livro desde 1952. Para tanto, vamos partir de algumas considerações de dois teóricos: Antonio Cândido e Gérard Genette. De Candido vamos utilizar o conceito de sistema literário. Do triângulo autor (“conjunto de produtores literários”) – obra (“um mecanismo transmissor”) – público (“conjunto de receptores”), elementos que formam a base dos sistemas, vamos nos concentrar no mecanismo transmissor, a materialidade das obras em questão. E de Gérard Genette o de paratextos textuais: paratexto textual é tudo o que acompanha o texto, podendo ser o que dá ao texto o formato de livro (seja impresso seja digital) ou o que ultrapassa o livro, como press releases, por exemplo. Aqui analisaremos os seguintes paratextos: capa, ilustrações, prefácio/posfácio e orelha.

Vida e obra de Balzac, por Paulo Rónai

Regina Cibelle de Oliveira (USP) No Brasil, a primeira edição completa da Comédia humana, de Honoré de Balzac, começou a ser publicada em 1948, pela editora Globo, com a colaboração do crítico húngaro naturalizado brasileiro, Paulo Rónai. Inicialmente, a editora propôs que o estudioso fizesse uma introdução geral, tratando da obra de Balzac como um todo. No entanto, Rónai fez um trabalho minucioso, organizando a Comédia humana em dezessete volumes e escrevendo uma introdução e várias notas para cada romance. A partir de então, o público brasileiro teve acesso não somente à obra completa do autor francês como também a uma das mais importantes edições da Comédia humana fora da França. Rónai era doutor em Filologia e Línguas Neolatinas e teve importantes trabalhos na área de tradução. Atuou como dicionarista, professor de latim, francês e italiano e foi autor de um método de latim. Além de organizar a Comédia humana, escreveu uma biografia de Balzac, que foi publicada no primeiro volume da obra, e reuniu alguns ensaios em um livro intitulado Balzac e a Comédia humana. Nesta pesquisa, faremos uma abordagem sobre a biografia de Balzac e o livro Balzac e a Comédia humana. Utilizaremos como base a edição de 2012, revista e ampliada, como intuito de observar a grande contribuição do crítico para os estudos balzaquianos no Brasil. Primeiramente, faremos uma breve contextualização do autor francês. Em seguida, apresentaremos o crítico Paulo Rónai e, por fim, observaremos detalhadamente como ele se aprofundou nos estudos sobre a Comédia humana, com base nos textos indicados.

A consciência espacial e do amor em Proust: um recorte

Thiago Blumenthal (UPM) As principais características do espaço proustiano – seus fenômenos e como eles são vivenciados em relação ao tempo pelo narrador e pelos personagens, em ocorrências distintas, a partir de fatores que os fazem surgir na narrativa – foram esmiuçadas ao longo do último século, desde a publicação do primeiro volume da Recherche, por diferentes linhas de pesquisa e distintos pensadores, críticos e estudiosos de sua obra, cada um ao sabor do

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seu tempo, vicissitudes e gostos. Um estudo cuidadoso desses aspectos, além de recuperar o imenso mosaico da fortuna crítica de Proust, lança luz a brechas interpretativas que podem gerar novas maneiras de leitura e de compreensão do autor. O que notamos é que tudo o que é descrito na obra se dinamiza e condiciona os passos do narrador. Seus vislumbres, seus passos, seu cotidiano, seus amores, suas frustrações se realizam enquanto exploração de um mapa, mental e real. Qualquer jornada empreendida pela memória, em Proust, pressupõe uma rota por esses mapas, não necessariamente com um sentido de localização ou direcionamento, mas de uma disposição de elementos narrativos que trabalham ora em confluência ora em divergência com essa cartografia, sensorial, a partir de determinada localização. Se é em certa transição psicológica rumo a novas cartografias e a novas formas de se contar uma história – e o que é a Recherche senão a tentativa de se contar uma história – Proust impõe, e propõe, talvez sem o saber, a celebração de um modo de leitura do mundo. Toda referência, inclusive a do desejo, se volta ao passado. Seguir adiante, em direção ao futuro, é como dirigir com um para-brisa todo coberto, apenas com o espelho retrovisor para nos guiar, esta parece ser a lição da Recherche. O destino de seus personagens, e daquele que conta toda a história mesmo, revela-se no olhar para trás, com as deformidades da estrada e com as variações de ângulo de visão que o espelho retrovisor nos mostra. O desejo em Proust se satisfaz na sua impossibilidade, seja pela figura da mulher amada – Gilberte, nos limites de Combray – seja pela inatingibilidade da arte, por exemplo na formosa igreja de Santo Hilário. Deste modo, e isto parece dar uma chave interpretativa bastante racional da obra, o conflito entre a precisão cartográfica e a imprecisão da memória se concretiza na escrita por uma falência do romance. Não no sentido de que sua obra não cumpriu sua função máxima, mas no sentido de que tudo o que se é contado fica sempre no meio do caminho. O que Proust, assim, problematiza, é a própria noção do romance como uma entidade homogênea que foge do controle daquele que o escreve e, internamente à obra, o narra. Quando Proust pondera que o homem só se dá conta de maneira integral de sua realidade externa na mudança de posição (a despedida de alguém, a passagem do trem pelas montanhas, o mar de Balbec e a janela de seu quarto), fica fácil notar o quanto esse movimento é capital para os sentidos entre mente e o espaço que ela (mente) consegue captar, em especial ao narrá-los. Esses locais estão perdidos, já não fazem mais parte do que o narrador chama de sua “realidade”, e portanto sem mapa, sem localização precisa na imensa organização de seu romance, entre amores, por exemplo. As mulheres amadas por Marcel ganham ou perdem o seu afeto a partir do momento em que este se desloca no espaço e no tempo.

O belo em Baudelaire e sua relação com a modernidade

Wagner Tavares (UNIFESP) A dificuldade em se definir a modernidade decorre, entre outros aspectos, das alternativas de recortes que se pode adotar para que seu critério seja estabelecido. Cronologia, espírito de uma determinada época e produção cultural são apenas alguns elementos que se destacam em uma legítima miríade de possibilidades.Uma breve consulta ao dicionário Aurélio retorna a seguinte informação para o verbete modernidade: “1 - estado ou qualidade do que é moderno. 2 - Coisa nova ou recente. 3 - modernice, modernismo. O que nos leva a examinar o sentido de moderno. Constatamos: 1. dos nossos dias; recente; hodierno. 2 - os homens de hoje.” Acerca desta dificuldade, comenta Compagnon: “Moderno, modernidade, modernismo: essas palavras não tem o mesmo sentido em francês, em inglês e em alemão; não remetem a ideias claras e distintas, a conceitos fechados” (COMPAGNON, 2014, p.5) exortando o leitor a poupar energias quanto à dissolução das contradições, uma vez que o espírito antagônico é parte essencial da modernidade em si. Baudelaire, indubitavelmente encarna o espírito da modernidade. Em sua versatilidade artística, debruça-se sobre questões estéticas e teóricas que virão a retroalimentar sua própria poesia posteriormente. Dentre tais contribuições, gostaria de destacar o ensaio baudelairiano intitulado O pintor da vida moderna (1863), que entre outras intuições acaba por realizar a emergência de um novo e moderno conceito de belo. Eis o que pretendemos investigar doravante.

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Discursos literários

Terra sonâmbula e sua construção narrativa

Camila Concato (UPM) Este trabalho tem como objeto de estudo a obra Terra sonâmbula, de Mia Couto, primeiro romance do autor, publicado em 1992. A história se passa durante a guerra civil de Moçambique e é construída com base em três personagens principais que circulam pelo país enquanto este é devastado pelo conflito bélico. O percurso de Tuahir, Muidinga e Kindzu é dotado de encontros com uma realidade sonâmbula, aquém de qualquer possibilidade de controle, porém em latência para a florescência do autoconhecimento. Tem-se como principal interesse neste trabalho analisar os elementos narrativos do romance, interpretando sua constituição sob a óptica da construção do romance moderno. As relações que se objetiva evidenciar, além daquelas de natureza estrutural, são as pertencentes à ordem conceitual como o realismo animista, mise en abyme, dentre outras, por meio do exame das construções da linguagem. A questão da oralidade, como inflexão narrativa na transferência da tradição, também é considerada dentro da estrutura. Lucien Dallenbach, Mikhail Bakhtin, Gaston Bachelard foram os teóricos usados como base para este estudo. Terra sonâmbula é um romance de pluralidades, onde diversas pequenas histórias revelam a grande história, combinando o presente desolador com a tradição ancestral e fazendo deste movimento um resgate identitário.

O ideário literário de Graciliano Ramos nas Cartas e sua leitura do modernismo

Cícera Jessiane Lins dos Santos (UNIFESP) Neste trabalho, buscamos realizar uma leitura singular do ideário literário de Graciliano Ramos durante o Modernismo a partir de seus testemunhos epistolares. Em cartas que perpassam as décadas de 20 e 30, esse romancista deixou registradas suas impressões e pressupostos judicativos em relação às formas de realização da literatura no país, tornando visível a existência de embates estéticos e ideológicos em campos então estreitamente vinculados: a arte e a política, indo de encontro a uma perspectiva de leitura harmônica e homogênea do movimento que teve seu marco na Semana de Arte Moderna de 1922, por, inicialmente, se contrapor à sua maneira de tratar a língua, a forma e o que veiculava, ou deixava de veicular, na literatura. As cartas evidenciam, além disso, aspectos relacionados à gênese literária de Graciliano Ramos, como o que considerava ser essencial em seu processo de escrita. Para realizar essa leitura, recorremos especialmente a materiais já publicados, constantes nos volumes Cartas ([1980] 2011) e Cartas inéditas de Graciliano Ramos a seus tradutores argentinos Benjamín de Gray e Raúl Navarro (2008).

A meta-memória na obra Baú de ossos, de Pedro Nava

Fabio Takyi Iwasa (UNIFESP) O presente trabalho tem por objetivo analisar as obras memorialísticas de Pedro Nava quanto à utilização da meta-memória em sua criação literária, o estudo de aspectos da criação artística proveniente da experiência pessoal, das lembranças, das memórias voluntárias e involuntárias, e o limite entre fatos, lembranças e ficção no discurso das memórias. O autor se inscreve no cânone literário brasileiro ao trazer muitas inovações e relevância ao gênero memorialista, não apenas focando-se em suas lembranças, mas utilizando-se de uma linguagem poética e plástica de quem viveu e conviveu com inúmeros indivíduos importantes no campo intelectual, artístico e político do eixo Belo Horizonte - Rio de Janeiro, principalmente entre os anos 1920 e

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1930, dos quais tratam as memórias. Segundo Cândido (1987) apesar das pessoas ainda não se habituarem a aceitar a sua eminência ou admitir que um livro de memórias possa ter a altura das grandes obras literárias, Pedro Nava é um dos grandes escritores brasileiros contemporâneos. Pretende-se uma reflexão interdisciplinar envolvendo não somente a teoria literária sobre gêneros textuais, mas suas conexões com a o processo criativo e narrativo, aspectos que deram forma à escrita única da obra de Nava, que trafega muito além dos limites do gênero memorialista.

Dois modelos de romance em A cada da cabeça de cavalo, de Teolinda Gersão

Orivaldo Rocha da Silva (UPM) O objetivo deste trabalho é o de destacar a presença, numa obra literária do século XX, de determinadas características típicas de um modelo anterior de romance que costuma ser reconhecido com a denominação de tradicional, além de refletir acerca daquilo que se obtém, como produto final, de certo caráter de hibridismo que se encontra no romance A Casa da Cabeça de Cavalo, da escritora portuguesa contemporânea Teolinda Gersão. Na obra em análise, publicada em 1995, são apresentadas e problematizadas questões nitidamente associadas ao século XX, quais sejam, as da dificuldade de se narrar uma história como tradicionalmente se realizaria e certo tratamento metalinguístico que se revela em mais de uma passagem. Numa casa há muito tempo fechada e na qual todos os seus habitantes já estão mortos, uma estranha reunião tem lugar e nela tais figuras invisíveis adquirem novamente presença a partir do momento que passam a contar histórias de terceiros ou histórias de suas próprias vidas. Num modelo de romance dito tradicional, a utilização de uma estrutura seriada que consiste em finalizar um segmento associando-o imediatamente ao segmento subsequente, típica dos romances de folhetim, empresta à matéria narrada certa linearidade, traço não significativo para um modelo de romance de período posterior. No entanto, é possível observar que tal recurso é utilizado também na obra de Teolinda em análise, embora a motivação para isso possa ser considerada distinta.

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Literatura e outras linguagens

“Quem vive, quem morre, quem conta a sua história?”: o dialogismo do musical Hamilton

Fernanda da Cunha Correia (UPM) Utilizando como base as ideias dialógicas trabalhadas pelo Círculo de Bakhtin, este artigo observará o dialogismo presente no espetáculo musical “Hamilton”, sucesso de público e aclamado pela crítica especializada em teatro musical, que está em cartaz na Broadway desde agosto de 2015 com sessões esgotadas. A peça musical foi, além disso, a grande vencedora das principais categorias da edição de 2016 da maior premiação do teatro norte-americano, o Tony, tais como melhor musical e melhor ator para Lin Manuel Miranda, idealizador do projeto e intérprete do protagonista. O musical faz uma releitura da biografia de um dos pais fundadores dos Estados Unidos, Alexander Hamilton, que atuou ao lado de George Washington na luta pela independência do país contra a Inglaterra e foi o responsável pela criação do sistema econômico de Wall Street, existente até hoje com poucas alterações. O espetáculo narra a trajetória de Hamilton utilizando músicas pop, hip-hop e um elenco que resgata vozes de negros e mulheres, compondo uma diversidade social e cultural colocada em cheque na sociedade americana dos dias de hoje. A análise se apoiará na relação entre a história real e a criação artística, por meio da análise das canções e da escolha do elenco e do cenário político do mundo atual.

Ler e jogar: a experiência de descobrir narrativas

Heloisa Antoniolli Marino (UPM)

A leitura e os jogos de vídeo games podem proporcionar a experiência de adentrar em diversos universos de ideias, viver mil vidas antes de se chegar ao fim, e percorrer os caminhos entre as linhas da história. Essa é a trajetória feita por cada leitor quando permite-se fazer parte de uma ou várias narrativas, assim como é possível pensar que um jogador também pode experimentar essa mesma sensação frente ao game. Partindo dessa premissa, o presente trabalho propõe abordar o papel do leitor frente ao texto e a ação do jogador diante do jogo eletrônico, ilustrando, assim, a maneira como cada um lê e interpreta as suas respectivas mídias. Dessa forma, para a base teórica serão utilizados os textos de Umberto Eco e Wolfgang Iser em que discutem a relação entre leitor e obra, mostrando uma possível adaptação de tais teorias igualmente para o papel do jogador. Portanto, a proposta é apresentar a interação entre texto e leitor, bem como entre o game e jogador, observando-se os artifícios que os sustentam para cumprir a urdidura dos enredos, a maneira como ocorre a relação de dependência entre a obra e jogo eletrônico com o leitor e jogador, e por fim, como cada um encontra os sentidos para andar nas trilhas de suas narrativas.

Um estudo sobre adaptações do texto bíblico de Josué 2:1-4: Raabe, a história de fé de uma prostituta

Leni Soares Vieira Fernandes (UPM) Pretendemos observar, neste estudo, algumas transposições midiáticas da narrativa bíblica de Josué 2.1-24: uma minissérie televisiva americana The Bible, uma aquarela de Jacques Tissot, a ilustração da narrativa por Gustave Doré e uma litografia de Marc Chagal. Primeiramente faremos uma análise do texto bíblico e, em seguida, estudaremos as adaptações comparando-as ao texto fonte. Verificaremos os pontos convergentes encontrados por linguagens tão distintas e como essas recriações se deram nas diferentes mídias.

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As estratégias narrativas em God f war

Luciano Aparecido Bordes Almeida (UPM) Uma história ao ser contada, não importa qual seja, naturalmente segue a maneira como o seu criador decidiu organizar os acontecimentos. Os personagens envolvidos nos eventos narrados, ao agirem e interagirem na narrativa, o fazem em um tempo e lugar, respondendo por um determinado contexto. Em God of war, essas categorias narrativas vinculam-se ao universo da mitologia grega, relida e atualizada nas narrativas dos games e dos romances. Cada um desses objetos estabelece o seu enredo e orienta-se por uma estrutura que atende às convenções e aos meios da mídia em que foram forjados, cada qual com específicas estratégias narrativas. As estratégias narrativas, que não apenas entretêm como também tornam a experiência prazerosa para o leitor-jogador, serão o ponto de partida deste estudo, cujo objetivo é examinar o planejamento e a coordenação das operações evolvidas na produção das narrativas que circunscrevem o universo do mito God of war. A perspectiva teórica é a da intermidialidade e nela se examina as estratégias narrativas vinculadas ao processo de transposição midiática. Esta pesquisa terá como corpus os games da saga God of war – partes 1, 2 e 3, assim como os livros, homônimos, volumes 1 e 2, cuja análise abarcará textos audiovisuais. Almeja-se uma pesquisa qualitativa de caráter interpretativo. A importância de realizar este estudo reside na contribuição que se pretende dar para o entendimento das estratégias narrativas que se encontram em mídias, como a digital e a impressa, que compartilham uma mesma história.

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Linguagem teatral

A intertextualidade em A era do rádio – saudades do Brasil

Fabrizzi Matos Rocha (UPM) Este trabalho pretende mostrar a forte presença da intertextualidade na obra teatral A Era do Rádio – Saudades do Brasil de Anamaria Nunes. A autora utiliza a intertextualidade para ilustrar um pouco da história da Rádio Nacional, uma época em que o rádio era o maior veículo de comunicação e entretenimento no Brasil. A fundamentação teórica desta pesquisa baseia-se nos estudos de Júlia Kristeva em sua obra Introdução à Semanálise (1974). E para que se possa reconhecer o texto de Nunes como uma sátira da era do rádio durante a década de 50, utilizamos a obra Uma Teoria da Paródia (1989) de Linda Hutcheon. Palavras-chave: intertextualidade; teatro; sátira.

Shakespeare no teatro do pós-guerra britânico: Bingo, de Edward Bond, e a relação arte-sociedade

Jonathan Renan da Silva Sousa (USP) Esta comunicação se propõe a esboçar uma análise da peça Bingo de Edward Bond (1973), a qual coloca em cena o dramaturgo britânico William Shakespeare diante do dilema dos cercamentos na Inglaterra elisabetana. Três panoramas norteiam a análise: o contexto sócio-histórico da peça, aquele da escrita da obra e o momento atual, que servem como propulsores para considerar o papel social e político das obras artísticas, da dramaturgia considerada moderna e daquela produzida no período pós-Guerra. Na peça, Shakespeare vivencia o choque entre o dever como cidadão e seus interesses particulares, isto é, o embate entre o individual e o coletivo. No entrecho, a manutenção do lucro de suas terras lhe é garantida, custando a expulsão de famílias, sua consciência e a culpa por sua omissão. Desse modo, discute-se o papel dos artistas e das próprias obras literárias diante da realidade material mais imediata da sociedade. Adicionalmente, é questionado o papel da literatura e da cultura, considerando-se que Bond utiliza não somente material shakespeariano, mas coloca o próprio bardo para debater o papel do dinheiro e sua correlação direta com a subsistência e a morte. Ao final, esta fala pretende instigar a reflexão sobre os possíveis usos que o cânone provê para discussões prementes como aquela proposta por Bond, dramaturgo preocupado com o caráter político do teatro e sua relação com a sociedade, cujos temas encontram surpreendente atualidade no contexto contemporâneo, especialmente nas problemáticas persistentes desde o pós-Guerra e que ainda demandam respostas e mudanças substanciais.

Uma análise da letra de Dentist, do musical Little shop of horrors (1986)

Natalia Aymi Yamaguti (UPM) Este trabalho acadêmico pretende usar como base as teorias criadas por Mikhail Bakhtin (ironia - sátira menipeia; dialogismo). A análise pretende explorar a comicidade sarcástica da letra da canção Dentist (escrita por Howard Ashman) que faz parte da película musical Little shop of horrors dos anos de 1980. A personagem que canta a melodia é Orin Scrivello (interpretado por Steve Martin no longa-metragem), um homem perverso que se deleita ao presenciar o tormento alheio. O filme baseado na peça musical homônima conta uma história com uma trilha sonora cheia de humor negro. A música escolhida para este estudo é um ótimo exemplo do que a obra cinematográfica representa. Nela o público conhecerá melhor quem é Scrivello: as maldades que ele já cometeu; quão graves elas são; a ligação próxima que tinha e ainda tem com sua mãe apesar desta já ter falecido; o porquê de ter escolhido a profissão de dentista e como, por meio dela, consegue satisfazer seu

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sadismo. Mesmo com as atitudes totalmente reprováveis da personagem e os assuntos de peso que a música apresenta, há certa leveza na obra pois ela é cômica. O que pode ser visto como uma excelente forma de abordar tais tópicos de uma maneira amena, divertida e, mais importante, sem deixar de manifestar suas críticas.

A crítica de Arthur Miller às eras Regan e Bush Jr.: duas comédias políticas no coração do

neoliberalismo

Thiago Russo (USP) O dramaturgo norte-americano Arthur Miller ficou conhecido por suas obras canônicas, todas com viés trágico, sendo ele um grande representante da tragédia liberal. Miller, no entanto, também escreveu comédias, que foram pouco ou nada estudadas dentro e fora dos Estados Unidos. Fazendo uma crítica feroz às Eras Reagan e Bush Jr., Miller faz um exame contundente do conservadorismo político e do individualismo promovidos pelo neoliberalismo nos anos em que Ronald Reagan fora presidente, criando uma tragédia farsesca (The Ride Down Mount Morgan, 1998); e faz uma importante sátira política (Resurrection Blues, 2002) em que o legado de Reagan (na Era Bush Jr.) se materializou fortemente com o Capitalismo Espetacular, desembocando posteriormente nas Guerras ao Iraque e ao Afeganistão. A apresentação buscará elucidar a relação dialética entre forma e conteúdo engendrada nas duas peças. Miller, criticando o imperialismo neoliberal promovido por Reagan e Bush Jr., que em grande medida celebrou a negação do passado e das ilusões futuras, permite-nos compreender a cultura de Facebook e de selfies que hoje nos cerca, e que é reflexo direto do vazio moral do estágio atual do American Dream em que o narcisismo tornou-se um elemento político letal. Ao analisar a crítica de Miller às políticas neoliberais e seus impactos no comportamento político-cultural do americano, enxergamos também que somos resultado direto deste processo.