Life of Well-Being, Wisdom, and Wonder Autora: Arianna ......A forma como medimos o sucesso está a...

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FICHA TÉCNICA Título original: Thrive — The Third Metric to Redefining Success and Creating a Life of Well-Being, Wisdom, and Wonder Autora: Arianna Huffington Copyright © 2014 by Arianna Huffington Tradução © Editorial Presença, Lisboa, 2015 Tradução: Ana Cristina Pais Capa: Catarina Sequeira Gaeiras/Editorial Presença Composição, impressão e acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda. 1. a edição, Lisboa, maio, 2015 Depósito legal n. o 391 880/15 Reservados todos os direitos para a língua portuguesa (exceto Brasil) à EDITORIAL PRESENÇA Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730‑132 BARCARENA [email protected] www.presenca.pt

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FICHA TÉCNICA

Título original: Thrive — The Third Metric to Redefining Success and Creating a Life of Well-Being, Wisdom, and Wonder

Autora: Arianna HuffingtonCopyright © 2014 by Arianna HuffingtonTradução © Editorial Presença, Lisboa, 2015Tradução: Ana Cristina PaisCapa: Catarina Sequeira Gaeiras/Editorial PresençaComposição, impressão e acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda.1.a edição, Lisboa, maio, 2015Depósito legal n.o 391 880/15

Reservados todos os direitospara a língua portuguesa (exceto Brasil) àEDITORIAL PRESENÇAEstrada das Palmeiras, 59Queluz de Baixo2730 ‑132 [email protected]

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Índice

Introdução ............................................................................ 13

Bem -Estar ............................................................................. 33

Sabedoria .............................................................................. 123

Deslumbramento .................................................................. 179

Generosidade ........................................................................ 227

Epílogo ................................................................................. 261

Apêndices .............................................................................. 265

Agradecimentos .................................................................... 283

Notas .................................................................................... 287

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Introdução

Na manhã de 6 de abril de 2007 eu estava caída numa poça de sangue no chão do escritório de minha casa. Ao cair, a minha cabeça embateu na esquina da secretária, fazendo -me um corte no olho e fraturando -me a maçã do rosto. Tinha desmaiado de exaustão e privação do sono. Em consequência do meu desmaio, dei por mim a andar de médico em médico, a fazer ressonâncias magnéticas, TAC e ecocardiogramas, para saber se havia algum problema subjacente para além da exaustão. Não havia mas, na realidade, as salas de espera dos consultórios foram bons lugares para me interrogar a mim própria sobre a vida que eu levava.

Fundámos o The Huffington Post em 2005, e passados dois anos estávamos a crescer a um ritmo impressionante. Eu aparecia na capa de revistas e fora escolhida pela revista Time como uma das 100 Pessoas Mais Influentes do mundo. Porém, após a minha queda, fui forçada a perguntar a mim mesma «Será que o sucesso é isto?», «Seria esta a vida que eu queria?». Trabalhava dezoito horas por dia, sete dias por semana, a tentar construir um negócio, expandir a nossa área de atuação e atrair investidores. Mas apercebi -me de que a minha vida estava fora de controlo.

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Segundo as bitolas tradicionais do sucesso, que se centram no dinheiro e no poder, eu era muito bem -sucedida. Contudo, não levava uma vida bem-sucedida de acordo com qualquer defini-ção razoável de sucesso. Sabia que alguma coisa tinha de mudar radicalmente. Não podia continuar por aquele caminho.

Foi um aviso clássico. Olhando para trás para a minha vida, outras vezes houve que me deviam ter deixado de sobreaviso, porém tal não aconteceu. Desta vez sim e fiz muitas mudanças na forma como vivo a minha vida, incluindo adotar práticas diárias para me manter no bom caminho — e longe das salas de espera dos consultórios médicos. O resultado é uma vida mais realizada, que me dá espaço para respirar e uma perspetiva mais profunda.

Este livro foi idealizado enquanto tentava reunir todos os conhecimentos que adquirira sobre o meu trabalho e a minha vida durante as semanas que passei a escrever o discurso que ia dirigir às alunas finalistas de 2013 da Smith College. Como tenho duas filhas na faculdade, levo estes discursos muito a sério. É um momento muito especial para as alunas que se for-mam — uma pausa, uma espécie de parêntesis no tempo após quatro (ou cinco, ou seis) anos de aprendizagem e crescimento contínuos e imediatamente antes do início de uma vida adulta passada a evoluir e a aplicar todos esses conhecimentos adqui-ridos na prática. É um marco único na sua vida — e durante quinze minutos, mais coisa menos coisa, sou alvo de toda a atenção das finalistas. O desafio é dizer alguma coisa que esteja à altura da ocasião, algo que seja útil durante um período de novos começos.

«Tradicionalmente, é suposto os oradores nas cerimónias de fim de curso», disse eu às finalistas, «dizerem às alunas que se formam como saírem para o mundo e subirem a escada do sucesso. Porém, em vez disso, quero pedir -vos que redefinam o sucesso. Porque o mundo para onde se dirigem precisa deses-

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peradamente disso. E porque estão à altura do desafio. A vossa educação na Smith College deixou bem claro que têm direito a ocupar o vosso lugar no mundo onde quer que queiram que esse lugar seja. Podem trabalhar em qualquer área e podem che-gar ao topo de qualquer área. No entanto, o que vos peço que façam não é simplesmente ocupar o vosso lugar no topo do mundo, mas sim mudar o mundo».

A reação emotiva ao discurso fez -me perceber o quão gene-ralizado é o desejo entre muitos de nós de redefinir o sucesso e o que significa ter «uma boa vida».

«O que é ter uma boa vida?» é a pergunta que os filósofos fazem desde a Grécia Antiga. Mas a dada altura pusemos de lado a questão e desviámos a nossa atenção para quanto dinheiro conseguimos ganhar, o tamanho da casa que podemos comprar e até onde conseguimos subir na carreira. São questões legítimas, especialmente numa altura em que as mulheres ainda estão a tentar conquistar um lugar igual à mesa. Mas, como acabei por descobrir a duras penas, estão longe de serem as únicas questões que importam para criar uma vida de sucesso.

Ao longo do tempo a noção de sucesso da nossa sociedade foi reduzida ao dinheiro e ao poder. Na verdade, atualmente, sucesso, dinheiro e poder tornaram -se praticamente sinónimos nas cabeças de muita gente.

Esta ideia de sucesso pode resultar — ou pelo menos parecer resultar — a curto prazo. Mas a longo prazo, o dinheiro e o poder por si só são como um banquinho com duas pernas: durante algum tempo ainda nos equilibramos nele, mas acabamos por cair. E há cada vez mais pessoas — pessoas muito bem -sucedidas — a cair.

Portanto, o que eu disse às finalistas da Smith College foi que a forma como definimos o sucesso não é suficiente. E já não é sustentável: nem para os seres humanos nem para as sociedades. Para vivermos a vida que realmente queremos e merecemos, e não apenas a vida com que nos conformámos, precisamos de

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uma Terceira Métrica1, uma terceira medida do sucesso que vai além das duas métricas de dinheiro e poder, e que consiste em quatro pilares: bem -estar, sabedoria, deslumbramento e genero-sidade. Estes quatro pilares correspondem às quatro secções que constituem este livro.

Primeiro, o bem -estar: se não redefinirmos o que é o su cesso, o preço que pagamos a nível da saúde e do bem -estar conti-nuará a subir, como descobri na minha própria vida. Quando abri os olhos, vi que esta nova fase da minha vida estava em sintonia com o Zeitgeist, o espírito dos nossos tempos. Todas as conver-sas que tinha pareciam acabar por redundar nos mesmos dilemas que todos nós enfrentamos — o stresse do excesso de afazeres, de trabalho e de ligação nas redes sociais, e de pouca ligação com nós próprios e uns com os outros. O espaço, os intervalos, as pausas, o silêncio — aquelas coisas que nos permitem regenerar e recarregar baterias — tinham desaparecido da minha própria vida e da vida de muita gente que eu conhecia.

Queria -me parecer que as pessoas que estavam verda-deiramente a prosperar na vida eram aquelas que tinham arranjado espaço para o bem -estar, a sabedoria, o deslumbra-mento e a generosidade. Foi assim que nasceu a «Terceira Métrica» — a terceira perna do banquinho que era viver uma vida de sucesso. O que começou pela redefinição do meu rumo na vida e das minhas prioridades permitiu -me assistir a um despertar que está a acontecer a nível global. Estamos a entrar numa nova era. A forma como medimos o sucesso está a mudar.

E já não era sem falta — sobretudo para as mulheres, uma vez que há cada vez mais dados que indicam que o preço da atual falsa promessa de sucesso é já mais elevado para as mulheres do que é para os homens. As mulheres que ocupam

1 A avaliação do desempenho é medida, quanto à sua eficácia e eficiência, através de um conjunto de indicadores que se denominam «métricas». (NT )

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cargos desgastantes têm um risco acrescido de doenças car-díacas de quase 40 por cento, e uma propensão 60 por cento maior a terem diabetes. Nos últimos trinta anos, enquanto as mulheres registavam grandes progressos no local de tra-balho, os níveis de stresse declarados pelas próprias subiram 18 por cento.

As que começaram agora a trabalhar — e as que ainda não começaram — já estão a sentir os efeitos. Segundo a Associa-ção Americana de Psicologia, a geração do milénio encabeça a tabela relativa aos níveis de stresse — mais do que a geração do baby boom e a «terceira idade», que foi como o estudo apelidou as pessoas com mais de sessenta e sete anos.

A cultura ocidental do trabalho — exportada para muitas outras partes do mundo — é praticamente alimentada pelo stresse, pela privação do sono e pelo esgotamento profissional. Eu tinha ficado frente a frente — ou, melhor dizendo, frente ao chão — com o problema quando desmaiei. Ao mesmo tempo que o stresse debilita a nossa saúde, a privação do sono que muitos de nós expe-rienciam ao esforçar -se para serem os primeiros no trabalho está a afetar profundamente — e negativamente — a nossa criatividade, a nossa produtividade e a nossa tomada de decisões. O naufrágio do Exxon Valdez, a explosão do vaivém espacial Challenger e os aci-dentes nucleares em Chernobyl e Three Mile Island foram todos, pelo menos em parte, causados por privação de sono.

E no inverno de 2013, o descarrilamento fatal de um comboio da Metro North — quando William Rockefeller, o maquinista, adormeceu aos comandos em pleno percurso — concentrou a atenção de todo o país nos perigos que a privação do sono representava para todo o setor dos transportes. Tal como afirmou John Paul Wright, maquinista de uma das maiores companhias de transporte ferroviário de mercadorias do país, «O prin cipal problema dos trabalhadores ferroviários é a fadiga, não o salário. Somos muito bem pagos. Mas sacrificamos o corpo

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e a mente para trabalhar as longas horas que são neces sárias para ganhar esse dinheiro, já para não falar da elevada taxa de divór-cio, da automedicação e do stresse».

A título de exemplo, mais de 30 por cento da população nos Estados Unidos e no Reino Unido não dorme o suficiente. E não é só a tomada de decisões e a função cognitiva que são prejudi-cadas. Até mesmo traços que associamos à nossa personalidade e aos nossos valores são afetados por carência de sono. De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Militar de Investigação Walter Reed, a privação do sono reduz a inteligência emocio-nal, a autoestima, a assertividade, o sentido de independência, a empatia para com os outros, a qualidade das relações inter-pessoais, o pensamento positivo e o controlo de impulsos. Na realidade, a única coisa que o estudo constatou melhorar com a privação do sono foi o «pensamento mágico» e a crença na superstição. Por isso, se se interessa pela arte da adivinhação, vá em frente e faça noitadas. Quanto ao resto de nós, temos de redefinir aquilo a que damos valor e mudar a cultura do trabalho de modo a que trabalhar até altas horas da noite e andar exausto sejam estigmatizados em vez de elogiados.

Na nova definição de sucesso, criar e tomar conta do nosso capi tal financeiro não é suficiente. Temos de fazer tudo ao nosso alcance para proteger e estimar o nosso capital humano. A minha mãe era perita na matéria. Ainda me lembro, tinha eu doze anos, de um homem de negócios grego muito bem -sucedido ter ido jantar a nossa casa. Tinha um ar abatido e exausto. Mas quando nos sentámos para jantar, contou -nos que as coisas lhe estavam a correr muito bem. Estava radiante com um contrato que acabara de ganhar para construir um novo museu. A minha mãe não ficou impressionada. «Não me interessa se o teu negó-cio vai de vento em popa», disse -lhe ela sem papas na língua, «não estás a tomar conta de ti. O teu negócio até pode ter excelentes resultados, mas tu és o teu capital mais importante.

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Há limites para o quanto podes levantar da conta bancária da tua saúde, mas tu continuas a fazê -lo. Podes ir à falência se não fize-res rapidamente alguns depósitos.» E, com efeito, passado pouco tempo, o homem teve de ser levado de urgência para o hospital para fazer uma angioplastia de emergência.

Quando incluímos o nosso próprio bem -estar na nossa definição de sucesso, outra coisa que muda é a nossa relação com o tempo. Agora existe inclusivamente uma expressão para designar a noção ansiosa que temos de que nunca há tempo suficiente para o que queremos fazer: «fome de tempo». Sempre que olhamos para o relógio parece ser mais tarde do que pensá vamos. Pes soalmente sempre tive uma relação muito tensa com o tempo. O Dr. Seuss resumiu -a lindamente: «Como é que ficou tão tarde tão depressa?», escreveu ele. «A noite chega antes da tarde. O mês de dezembro chega antes de junho. Meu Deus, como o tempo voou. Como é que ficou tão tarde tão depressa?»

Soa -lhe familiar?E quando levamos uma vida de fome de tempo constante,

privamo -nos da capacidade de experimentar outro ele mento--chave da Terceira Métrica: o deslumbramento, o nosso entu-siasmo e deleite perante os mistérios do universo, bem como perante as ocorrências quotidianas e os pequenos milagres que preenchem a nossa vida.

Outro dos dons da minha mãe era ficar continuamente encan-tada com o mundo que a rodeava. Quer estivesse a lavar pratos ou a dar de comer às gaivotas na praia ou a repreender homens de negócios que trabalhavam demais, mantinha o sentimento de deslumbramento com a vida. E sempre que eu me queixava ou estava aborrecida com alguma coisa na minha vida, o conselho da minha mãe era invariavelmente o mesmo: «Querida, muda de canal. Tu é que tens o comando na mão. Não voltes a ver o mesmo filme mau e assustador.»

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Bem -estar e deslumbramento. Ambos são fundamentais para criar a Terceira Métrica. E depois há o terceiro pilar indispen-sável para redefinir o sucesso: a sabedoria.

Em qualquer canto do mundo para onde olhemos, vemos líderes inteligentes — na política, nos negócios, nos meios de comunicação — tomar decisões terríveis. O que lhes falta não é QI, é sabedoria. O que não é de admirar: nunca foi tão difícil recorrer à nossa sabedoria interior como agora, porque para tal temos de nos desligar de todos os nossos aparelhos omnipresen-tes — as nossas engenhocas, os nossos ecrãs, os nossos meios de comunicação social — e voltar a ligar -nos connosco mesmos.

Para ser franca, não é algo que me ocorra naturalmente. A última vez que a minha mãe se zangou comigo antes de morrer foi quando me viu a consultar o e -mail e a falar com os meus filhos ao mesmo tempo. «Odeio fazer várias coisas ao mesmo tempo», disse ela com uma pronúncia grega que põe a minha a um canto. Por outras palavras, estar ligado de uma forma superficial ao mundo inteiro pode impedir -nos de nos ligarmos profundamente àqueles que nos são mais próximos — incluindo nós mesmos. E é aí que reside a sabedoria.

Estou convencida de duas verdades fundamentais sobre os seres humanos. A primeira é que todos temos dentro de nós um centro de sabedoria, harmonia e força. Esta é uma verdade que todas as filosofias e religiões do mundo — sejam elas o Cristia-nismo, o Islamismo, o Judaísmo ou o Budismo — reconhecem de uma maneira ou de outra: «O reino de Deus está dentro de si». Ou, como disse Arquimedes: «Deem -me um ponto de apoio e eu levantarei o mundo.»

A segunda verdade é que todos nos vamos desviar desse ponto vezes sem conta. A natureza da vida é essa. Na verdade, podem ser mais as vezes que estamos fora da rota do que as que estamos na rota. A questão é quão depressa podemos regressar a esse centro de sabedoria, harmonia e força. É nesse lugar

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sagrado que a vida de luta se transforma em graça, e subitamente enchemo -nos de confiança, independentemente dos obstáculos, dos desafios ou das desilusões que encontremos pelo caminho. Tal como Steve Jobs declarou no seu agora lendário discurso de fim de curso em Stanford: «Não podemos unir os pontos olhando em frente: só os podemos unir olhando para trás. Por isso temos de confiar que os pontos de algum modo se irão unir no nosso futuro. Temos de confiar em alguma coisa — na nossa intuição, no destino, na vida, no carma, seja lá o que for. Esta abordagem nunca me deixou ficar mal e fez toda a diferença na minha vida.»

A nossa vida têm um propósito, mesmo que por vezes não nos seja evidente e mesmo que os maiores pontos de viragem e desi-lusões só façam sentido em retrospetiva, e não quando os esta-mos a viver. Portanto, mais vale vivermos a vida como se — tal como afirmou o poeta Rumi — tudo estivesse a nosso favor.

Porém, a nossa capacidade de voltar regularmente a esse lugar de sabedoria — à semelhança de muitas outras capaci-dades — depende do quanto praticamos e da importância que lhe atribuímos na nossa vida. E o esgotamento profissional torna muito mais difícil lá chegar. Num artigo de opinião publicado no jornal The New York Times, Erin Callan, ex -diretora financeira do Lehman Brothers, que deixou o banco alguns meses antes de este declarar falência, escreveu sobre as lições que aprendera com o esgotamento que sofrera: «O trabalho sempre esteve em primeiro lugar, antes da minha família, dos amigos e do casa-mento — que chegou ao fim somente alguns anos mais tarde.»

Ao olhar para trás, apercebeu -se de quão contraproducente o excesso de trabalho fora. «Acredito agora que podia ter chegado a uma posição semelhante com, pelo menos, uma versão melhor de vida pessoal», escreveu ela. Na realidade, trabalhar até ao ponto de exaustão não foi apenas mau para ela a nível pessoal. Foi igualmente mau, sabemos agora, para o Lehman Brothers,

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que já não existe. Afinal, a função da liderança é ser capaz de ver o icebergue antes de este atingir o Titanic. E quando estamos esgotados e exaustos, é muito mais difícil ver claramente os peri-gos — ou as oportunidades — que temos pela frente. E é essa a correlação que temos de começar a fazer se quisermos acelerar a mudança da forma como vivemos e trabalhamos.

Bem -estar, sabedoria e deslumbramento. O último elemento da Terceira Métrica do sucesso é a vontade de darmos algo de nós, movidos pela nossa empatia e compaixão.

Os Pais Fundadores da América pensavam tanto ou tão pouco na ideia da busca da felicidade que até a consagraram na Decla-ração de Independência. Porém, a noção que tinham deste «direito inalienável» não implicava a busca de novas maneiras de nos entretermos. Para eles a felicidade advinha de nos sentirmos bem por fazermos o bem, de sermos uma parte produtiva de uma comunidade e contribuirmos para o seu bem maior.

Existem muitos dados científicos que demonstram inequi-vocamente que a empatia e a prestabilidade aumentam o nosso próprio bem -estar. É assim que os elementos da Terceira Métrica do sucesso se tornam parte de um ciclo virtuoso.

Se tivermos sorte, temos um momento «gota de água» antes de ser tarde demais. Para mim, foi desmaiar de exaustão em 2007. Para o crítico gastronómico do New York Times, Mark Bittman, foi verificar obsessivamente o correio eletrónico através do tele-fone de bordo num voo transatlântico, o que o levou a confes-sar: «Chamo -me Mark e sou viciado em tecnologia». Para Carl Honoré, autor de O Movimento Slow: Como um Movimento Global Está a Desafiar o Culto da Velocidade, foi contemplar «histórias de embalar de um minuto» para o filho de dois anos de modo a poupar tempo. Para o CEO da AETNA, Mark Bertolini, foi um acidente de esqui que lhe partiu o pescoço e acabou por o levar às práticas rejuvenescedoras do ioga e da meditação. Para Pat Christen, presidente da HopeLab, foi a constatação alarmante

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de que, por causa da sua dependência da tecnologia, «deixei de olhar os meus filhos nos olhos». Para Anna Holmes, fundadora do sítio Jezebel, foi ter chegado à conclusão de que o negócio que fizera consigo própria lhe tinha custado um preço muito elevado: «Percebi que “OK, se trabalhar a 110 por cento obtenho bons resultados. Se trabalhar um pouco mais, obtenho resultados ainda melhores”. A contrapartida desse sucesso teve, no entanto, repercussões pessoais. Nunca descontraía... Estava cada vez mais ansiosa... Não só publicava de dez em dez minutos durante doze horas seguidas, como também trabalhava duas horas e meia antes de iniciarmos as publicações e pela noite dentro para me preparar para o dia seguinte.» Decidiu por fim deixar a página. «Demorei mais de um ano a descomprimir... um ano até me concentrar mais em mim própria do que no que acontecia na internet.»

Desde o meu momento «gota de água», tornei -me evange-lista da necessidade de nos desligarmos da nossa vida continua-mente online e restabelecermos a ligação connosco próprios. Esse princípio orientou a filosofia editorial subjacente às vinte e seis secções Estilo de Vida do HuffPost nos Estados Unidos, nas quais promovemos as diversas formas de tomarmos conta de nós e levarmos uma vida equilibrada e centrada, ao mesmo tempo que fazemos uma diferença positiva no mundo. Como o HuffPost se está a espalhar pelo mundo, estamos a incorporar esta prio-ridade editorial em todas as nossas edições internacionais — no Canadá, no Reino Unido, em França, em Itália, em Espanha, na Alemanha, bem como no Japão, no Brasil e na Coreia do Sul.

Lembro -me como se tivesse sido ontem: tinha vinte e três anos e andava em digressão a promover o meu primeiro livro, The Female Woman, que inesperadamente se tornara um best--seller internacional. Estava no meu quarto num qualquer hotel da Europa. O quarto podia ser uma natureza morta mag-nificamente arranjada. Havia rosas amarelas na escrivaninha, chocolates suíços junto à cama e champanhe francês no gelo.

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A única coisa que se ouvia era o crepitar do gelo à medida que este derretia lentamente em água. A voz na minha cabeça era muito mais ruidosa. «Is that all there is?» Como um disco ris-cado, a famosa pergunta feita por Peggy Lee (para quem tem idade suficiente para se lembrar) repetia -se no meu cérebro, privando -me da alegria que esperara encontrar no meu sucesso. «Is that really all there is?» Se isto é «viver», então o que é a vida? Será que o propósito da vida é só o dinheiro e o reconhe-cimento? De uma parte de mim, lá do fundo — da parte de mim que é filha da minha mãe — veio um rotundo «Não!» É uma resposta que me afastou, de forma gradual, porém, firme, das ofertas lucrativas de discursar e escrever uma e outra vez sobre o tema da «mulher feminina». Em vez disso, fez -me dar o pri-meiro passo de uma longa viagem.

A minha viagem desde aquele primeiro momento de reconhe-cimento de que não queria viver a minha vida confinada ao que a nossa cultura definia como sucesso esteve longe de ser uma linha reta. Por vezes foi mais uma espiral, com muitos revezes quando dava por mim apanhada precisamente na roda -viva que eu sabia que não ia levar à vida que mais queria.

Tal era a atração das primeiras duas medidas, mesmo para alguém tão abençoada como eu por ter uma mãe que viveu uma vida baseada na Terceira Métrica antes sequer de eu saber o que era a Terceira Métrica. É por isso que este livro é para mim uma espécie de regresso a casa.

A primeira vez que vivi em Nova Iorque na década de 80, estive presente em almoços e jantares com pessoas que tinham alcançado as duas primeiras métricas do sucesso — dinheiro e poder —, mas que ainda procuravam algo mais. Na falta de uma linhagem real na América, elevámos a reinos principescos os maiores campeões do dinheiro e do poder. Uma vez que nos dias que correm não se sobe ao trono devido ao berço em que se nasceu, mas sim devido aos sinais exteriores de sucesso, sonha-

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mos com os meios através dos quais poderemos ser coroados. Ou talvez seja a constante expetativa, incutida em nós desde a infância, de que por muito humildes que as nossas origens pos-sam ser, também nós podemos concretizar o sonho americano. E o sonho americano, que foi exportado para todo o mundo, é atualmente definido como a aquisição de coisas: casas, carros, barcos, aviões a jato e outros brinquedos de adulto.

Julgo, no entanto, que a segunda década deste novo século é já muito diferente. Há, naturalmente, ainda milhões de pessoas que equiparam sucesso a dinheiro e poder — que estão deter-minadas a nunca sair desse ramerrão não obstante o preço em termos de bem -estar, relações e felicidade. Ainda há milhões de pessoas que aguardam desesperadamente pela promoção que se segue, pelo próximo dia em que ganhem o tal milhão de dóla-res que acham que vai satisfazer a ânsia de se sentirem melhores consigo próprias, ou calar o seu descontentamento. Porém, quer no Ocidente quer nas economias emergentes, há cada vez mais pessoas que reconhecem que tudo isto não passa de becos sem saída: que estão todos a correr atrás de um sonho desfeito. Que não nos é possível encontrar a resposta apenas na nossa atual definição de sucesso porque — como disse certa vez Gertrude Stein a propósito de Oakland — «Não existe lá nada».

Há cada vez mais estudos científicos e estatísticas sobre a saúde que demonstram que a forma como temos andado a condu zir a nossa vida — aquilo a que damos prioridade e aquilo a que damos valor — não está a resultar. E há cada vez mais mulheres — e homens — que se recusam a engrossar a lista de baixas. Em vez disso, estão a reavaliar a sua vida, a procurar pros perar ao invés de terem meramente sucesso com base na forma como o mundo mede o sucesso.

As conclusões mais recentes da ciência provam que o stresse ex cessivo e o esgotamento profissional têm repercussões tremendas quer na saúde pessoal de cada um quer no nosso sistema

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de saúde. Investigadores da Carnegie Mellon University consta-taram que entre 1983 e 2009 se registou uma subida dos níveis de stresse na ordem dos 10 a 30 por cento e que foi transversal a todas as categorias demográficas. Níveis mais elevados de stresse podem provocar maior número de casos de diabetes, de doenças cardíacas e de obesidade. Segundo os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças, três quartos da despesa de saúde americana destinam -se ao tratamento dessas doenças crónicas. O Benson -Henry Institute for Mind Body Medicine no Massachusetts General Hospital estima que entre 60 e 90 por cento das consultas médicas se des-tinem a tratar distúrbios relacionados com o stresse. Enquanto isso, recentemente no Reino Unido o stresse estabeleceu -se como a principal causa de doença em toda a nação. Tal como explicou Tim Straughan, diretor executivo do Centro de Informação sobre Cuidados de Saúde e Cuidados Sociais: «É lícito presumir que o stresse e a ansiedade são problemas que resultam na ida ao con-sultório de um clínico geral e não na ida ao hospital. No entanto, os nossos números indicam que todos os anos surgem milhares de casos em que doentes que sofrem de stresse ou ansiedade são hospitalizados em Inglaterra.»

O stresse que sentimos afeta igualmente as nossas crian-ças. Com efeito, os efeitos do stresse nas crianças — mesmo no útero — apareceram em destaque na revista da Academia Americana de Pediatria. Como afirmou Nicholas Kristof no The New York Times: «Sinais de um ambiente hostil ou indi ferente inundam um bebé, ou mesmo um feto, de hormonas de stresse como o cortisol de uma forma que pode afetar o metabolismo corporal ou a arquitetura do cérebro. O resultado é as crianças por vezes ficarem permanentemente afetadas. Mesmo muitos anos mais tarde, na idade adulta, têm maior probabilidade de sofrer de doenças cardíacas, obesidade, diabetes e outros males físicos. Têm igualmente maior probabilidade de ter dificuldades na escola, ter mau feitio e problemas com a lei.»

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Uma das razões que invocamos para deixar o stresse aumentar na nossa vida é não termos tempo para cuidar de nós próprios. Estamos demasiado ocupados a correr atrás do fantasma de uma vida bem-sucedida. A diferença entre o aspeto desse sucesso e o que verdadeiramente nos faz prosperar nem sempre é clara enquanto andamos na nossa vida. Torna -se, porém, muito mais óbvia quando fazemos uma retrospetiva. Já reparou que, quando morremos, os nossos elogios fúnebres homenageiam a nossa vida de maneira muito diferente daquela como a sociedade define o sucesso?

Na verdade, os elogios fúnebres refletem muito a Terceira Métrica. Mas, embora não seja difícil viver uma vida que inclua a Terceira Métrica, é muito fácil não o fazer. É fácil deixarmo -nos consumir pelo trabalho. É fácil permitirmos que as obrigações profissionais nos sufoquem e esquecermos as coisas e as pessoas que realmente nos sustêm. É fácil deixarmos que a tecnologia nos absorva numa existência perpetuamente acelerada e ansiosa. É, efetivamente, fácil não percebermos qual é o verdadeiro objetivo da nossa vida mesmo quando estamos a vivê -la. Até que deixamos o mundo dos vivos. Um elogio fúnebre é muitas vezes o primeiro registo formal do que foi a nossa vida — o documento que está na base do nosso legado. É a forma como as pessoas nos lembram e como perduramos nas mentes e nos corações dos outros. E é muito revelador o que não ouvimos nos elogios. Quase nunca ouvimos coisas como:

«O ponto mais alto da sua vida foi quando foi promovido a vice -presidente sénior.»

Ou:«Aumentou a quota de mercado da sua empresa várias vezes

durante o seu mandato.»Ou:«Nunca parava de trabalhar. Almoçava à secretária. Todos

os dias.»

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Ou:«Nunca conseguiu ir aos jogos da Liga Infantil do filho por-

que tinha sempre de analisar mais uma vez os números.»Ou:«Embora não tivesse amigos verdadeiros, tinha seiscentos

amigos do Facebook, e todas as noites respondia aos e -mails que tinha na caixa de entrada.»

Ou:«Os seus diapositivos do PowerPoint eram sempre meticulo-

samente preparados.»Os nossos elogios são sempre sobre outras coisas: o que de-

mos, como nos relacionávamos, o quanto significávamos para a nossa família e os nossos amigos, pequenas atenções, paixões antigas e as coisas que nos faziam rir.

Então porque passamos tanto do pouco tempo que temos neste planeta concentrados em todas as coisas que o nosso elogio fúnebre nunca irá referir?

«Os elogios fúnebres não são currículos», escreveu David Brooks. «Descrevem o cuidado, a sabedoria, a autenticidade e a coragem da pessoa. Descrevem os milhões de pequenos juízos morais que emanam dessa região interior.»

E, no entanto, despendemos tanto tempo e esforço e energia nessas entradas dos currículos — entradas essas que deixam de ter qualquer importância assim que o nosso coração para de bater. Mesmo no caso de quem morre com entradas extraordinárias na Wikipédia, cuja vida era sinónimo de muitos projetos bem--sucedidos, os seus elogios concentram -se sobretudo no que fizeram quando não estavam a realizar coisas e a ter sucesso. Não estão sujeitos à nossa atual definição errada de sucesso. Veja -se o caso de Steve Jobs, um homem cuja vida, pelo menos como esta era vista pelo público, tinha que ver com criar coisas — coisas que eram, efetivamente, extraordinárias e revolucionárias. Mas quando a irmã dele, Mona Simpson, se levantou para lhe prestar home-nagem na missa de corpo presente, não foi nisso que ela se focou.

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Sim, falou sobre o trabalho dele e sobre a sua ética profis-sional. Mas falou nestas coisas sobretudo enquanto manifesta-ções das suas paixões. «Steve trabalhou no que amava», disse ela. O que realmente o movia era o amor. «O amor era a sua maior virtude», disse ela, «o seu deus dos deuses».

«Quando [o filho] Reed nasceu, começou a brotar e nunca mais parou. Era um pai físico para cada um dos filhos. Preo-cupava -se com os namorados de Lisa e com as viagens e com-primentos de saia de Erin e com a segurança de Eve ao pé dos cavalos que adorava».

E terminou acrescentando esta imagem comovente: «Ne-nhum de nós que esteve presente na festa de fim de curso de Reed irá alguma vez esquecer a imagem de Reed e Steve a dan-çarem um slow.»

A irmã dele deixou profusamente claro no seu elogio fúnebre que Steve Jobs era muito mais do que apenas o tipo que inventou o iPhone. Era um irmão e um marido e um pai que sabia qual era o verdadeiro valor daquilo que a tecnologia é capaz de nos distrair com tanta facilidade. Mesmo que criemos um produto icónico, que perdure na nossa vida, o que está mais presente na mente das pessoas mais importantes para nós são as memórias que construímos nas suas vidas.

No seu romance de 1951, Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar põe o imperador romano a meditar sobre a sua morte: «Enquanto escrevo, o facto de ter sido imperador afigura -se--me muito pouco importante.» O epitáfio de Thomas Jefferson descreve -o como «autor da Declaração de Independência Ame-ricana... e pai da Universidade da Virgínia». Não é feita qualquer referência ao facto de ter sido Presidente.

O velho adágio de que devemos viver cada dia como se fosse o último significa que não devemos esperar até a morte estar iminente para começar a dar primazia às coisas que realmente importam. Qualquer pessoa que possua um smartphone e uma

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caixa de entrada de e -mail cheia sabe que é fácil estarmos ocupa dos sem termos consciência de que estamos realmente a viver.

Uma vida que engloba a Terceira Métrica é uma vida que é vivida tendo em conta o nosso eventual elogio fúnebre. «Fico sempre aliviado quando alguém faz um elogio fúnebre e me apercebo de que o estou a ouvir», gracejou George Carlin. Podemos não ter possibilidade de assistir ao nosso elogio fúne-bre, mas na verdade escrevemo -lo constantemente, todos os dias. A questão é a quantidade de material que damos a quem profere o elogio para poder trabalhar.

No verão de 2013, o obituário de uma mulher de Seattle chamada Jane Lotter, que morreu de cancro aos sessenta anos, tornou -se viral. O autor do obituário foi a própria Jane.

«Uma das poucas vantagens de morrer de cancro do endomé-trio, estádio IIIC, grau 3, recorrente e com metástases no fígado e abdómen», escreveu ela, «é que temos tempo para escrever o nosso próprio obituário.» Depois de fazer um bonito e animado relato da sua vida, revelou que vivia de acordo com a verdadeira definição de sucesso. «Meus queridos Bob, Tessa e Riley», escre-veu, «Meus queridos amigos e querida família. Quão preciosos foram todos para mim! Conhecer e amar cada um de vós foi a história de sucesso da minha vida.»

Quer acreditemos na vida depois da morte — como eu — ou não, ao estarmos plenamente presentes na nossa vida e na vida de quem amamos, não estamos apenas a escrever o nosso pró-prio obituário, estamos a criar uma versão muito real da nossa vida depois da morte. É uma lição de valor inestimável — uma lição que tem muito mais credibilidade enquanto temos a sorte de estar saudáveis e ter a energia e a liberdade para criar uma vida com propósito e significado. A boa notícia é que todos nós ainda temos tempo para viver de acordo com a melhor versão do nosso elogio fúnebre.

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Este livro pretende ajudar -nos a passar da fase em que sabemos o que fazer para a fase em que realmente o fazemos. Como eu muito bem sei, não é tarefa fácil. Mudar hábitos profun damente arraigados é particularmente difícil. E quando muitos desses hábitos são fruto de normas culturais profunda mente enraizadas, é ainda mais difícil. É este o desafio que temos pela frente para redefinir o sucesso. É este desafio que temos pela frente para tor-nar os princípios da Terceira Métrica parte do nosso quotidiano. Este livro fala sobre as lições que aprendi e os meus esforços para personificar os princípios da Terceira Métrica — um processo a que pretendo dedicar -me até ao fim dos meus dias. Reúne igual-mente os dados, investigação académica e achados científicos (alguns escondidos nas notas finais) mais recentes, que eu espero que convençam até o leitor mais cético de que a forma atual como vivemos a nossa vida não está a resultar e de que há formas cien-tificamente provadas de vivermos a nossa vida de maneira dife-rente — formas que terão um impacto imediato e mensurável na nossa saúde e felicidade. E, por último, como quero que seja o mais prático possível, incluí igualmente muitas práticas, ferramen-tas e técnicas diárias que são fáceis de incorporar na nossa vida. Estes três elementos são interligados por um objetivo comum: restabelecer a ligação connosco próprios, com os nossos entes queridos e com a nossa comunidade — numa palavra, prosperar.

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BEM ‑ESTAR

Durante muito tempo pareceu ‑me que a vida estava pres‑

tes a começar — a vida a sério. Mas havia sempre algum

obstáculo no caminho. Algo que era preciso ultrapassar

primeiro, algum assunto inacabado, alguma pena ainda

por cumprir, uma dívida para pagar. Então a vida come‑

çaria. Por fim dei ‑me conta de que esses obstáculos eram

a minha vida.

Fr. AlFred d’SouzA

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Um Novo Modelo: Chegou a Hora de Renovar a Arquitetura da Nossa Vida

Nada é tão bem-sucedido como o excesso, dizem -nos. Se pouco de alguma coisa é bom, mais deve ser melhor. Portanto, trabalhar oitenta horas por semana deve ser melhor do que trabalhar quarenta. E estar ligado 24 horas por dia, 7 dias por semana, atualmente é considerado um requisito básico de todos os trabalhos que merecem a pena — o que significa que sobre-viver com menos sono e fazendo mil e uma coisas ao mesmo tempo é um elevador expresso para o topo no mundo do traba-lho de hoje. Certo?

Está na hora de voltar a analisar estes pressupostos. Quando o fazemos, torna -se claro que o preço que estamos a pagar por pensar e viver desta forma é demasiado elevado e insustentável. A arquitetura de como vivemos a nossa vida está desesperada-mente a precisar de ser renovada e consertada. Aquilo a que realmente damos valor está dessincronizado com o modo como vivemos a nossa vida. E são urgentemente necessários novos modelos para reconciliar as duas coisas. Na obra Apologia de Sócra-tes da autoria de Platão, Sócrates define como missão da sua vida despertar os atenienses para a importância suprema de cuidarem das suas almas. O seu apelo intemporal para que nos liguemos a nós mesmos continua a ser a única maneira de qualquer um de nós prosperar verdadeiramente.

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Demasiados de nós deixamos a nossa vida — e, a bem dizer, as nossas almas — para trás quando vamos trabalhar. Este é o lema da secção Bem -Estar e, na realidade, de todo o livro. Tendo crescido em Atenas, lembro -me de ter aprendido na aula sobre os clássicos que, tal como dissera Sócrates, «A vida sem reflexão não vale a pena ser vivida». Para os Gregos a filosofia não era um exercício académico. Era uma forma de vida — uma prática diária da arte de viver. A minha mãe não andou na faculdade, mas ainda assim presidia a longas sessões na nossa pequena cozinha em Atenas em que se discutiam os princípios e os ensinamentos da filosofia grega para ajudar a orientar-me a mim e à minha irmã, Agapi, nas nossas decisões e escolhas.

A nossa atual noção de sucesso, em que nos mandamos para o chão, senão mesmo para a cova — em que trabalhar até à exaustão e ao esgotamento é considerado um ponto de honra —, foi instituída por homens, numa cultura de trabalho dominada por homens. Mas é um modelo de sucesso que não está a resultar para as mulheres e, a bem dizer, também não está a resultar para os homens. Se qui-sermos redefinir o significado do sucesso, se quisermos incluir uma Terceira Métrica no sucesso, além do dinheiro e do poder, terão de ser as mulheres a assumir a liderança — e os homens, libertos da noção de que o único caminho para o sucesso implica apanhar a Autoestrada do Ataque Cardíaco em direção à Cidade do Stresse, irão, agradecidos, juntar -se a elas quer no trabalho quer em casa.

Esta é a nossa terceira revolução feminina. A primeira revolu-ção feminina foi liderada pelas sufragistas há mais de cem anos, quando mulheres de coragem como Susan B. Anthony, Emme-line Pankhurst e Elizabeth Cady Stanton lutaram para conse-guir que as mulheres obtivessem o direito de voto. A segunda foi liderada por Betty Friedan e Gloria Steinem, que lutaram — e Gloria continua a lutar — para alargar o papel das mulheres na nossa sociedade e conceder -lhes pleno acesso às salas e cor-redores do poder onde as decisões são tomadas.

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