LIDERANÇA DO ENFERMEIRO NO CONTEXTO HOSPITALAR ... · ministração, o pessoal será ... Tecer...

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LIDERANÇA DO ENF ERM EIRO NO CONTEXTO HOSP ITALAR - expectativas do pessoal auxiliar * Maa Auxiliadora Trevizan ** Il Ama Costa Mendes * * Miyeko Hayashida ** * Cristina Maa Galvão * * * * RESUMO - Esta pesquisa focaliza a liderança como recurso fu ndamental para o enfermeiro que exerce funções admi nistrativas e teve como objetivo v erificar e analisar, à luz das Teorias Gri d, o estilo de liderança i dealiza do para o enferm ei- ro, pelo pessoal auxiliar. A co leta de dados se process ou através da aplicaçã o d o Instrumento Grid & Liderança em Enfermagem: comporta mento ideal. Pe la aná lise dos da dos foi possrvel c onluir que o pessoal auxiliar t em expectativa d e ter com o Irde r um enferm eiro qu e adote o estilo gerencia l 9,9. ABSTRACT - This study focuses leadership as a fun damental r esourc e for the nurses ex erting adminis tra tive functio ns. Its aim was to verify and analy se by the light of the Grid Theori es, th e style of l ead ership the a ssistant personnel idealize d for nurses. The data collectio n has been conducted usi ng the Grid Instrume nt & Leadership in Nursing: ideal b ehavior. Analysing th e data it was possible to conclude that as si stant personn el expects to hav e as leaders nurs es who adopt the managing s tyle 9.9 , INTRODUÇÃO A tafa da Administração, sob o ponto de vis Com a contribuição d ciências do coma- de seu conceito tradicional, é ordenar, sistemaar e mento, um novo panora pas a influenciar signifi- disciplinar a energia humana, direcionando-a única e cavamente a teoria administrava. Em doncia, a exclusivente pa os objetivos da orgização. Pro- pair da dácada de cinquenta desenvolve uma nova postas neste sendo for minuciosante elaborad conceão de admistração, fundentada no com- e enféca e ardosente denfendid r Taylor, portento huo n organizões. Fayol e Weber atvés do Movimento da Adminis- Os resultados extraídos de estudos n so- tração Cienfica, da Teoria da Gerência Administra- ciais e comportentais têm desafiado proposições va e do Modelo Burocrático, sפcvente, cons- tradicionais sobre a natureza do homem e sobre tuindo- sim, na Teoria Clássica da área. funções da administração. Dessa conceão inovado- A, conceão desta teoria convencional, no que ra, oriunda das ciênci comportentais constatou-se tange ao פssoal, foi descrita r MACGRE GOR 5 que a tarefa da Administração alterou e se ampliou. como se segue: "I ) com relação ao pesso, esse pro- S ua teração é muito m traduzida r CHIA- cesso consiste em dirigir e movar os esforços dos VENATO' quando diz que: "A Teoria Y denvol- trabhados, controlar seu modo de agir e modific ve um eslo de administração muito aberto e dini- seu comrtento para que ajuste necessidades co, extramamente democrático, através do qual admi- da orgação; 2) sem essa intervenção ativa da ad- ntrar é um processo de criar ounidades, libertar ministração, o פssoal rá passivo - até mesmo resis- potencidades, remover os obstáculos, encorajar o tente - pa com as exigências organizions. Os crescimento dividu . " trabhadores, portanto, devem r פrsuadidos, puni- Quanto à sua ampação, agora compete à Admi- dos, compensos, controlados - su atividades de- nistrão ppiciar um ambiente que facite às פssoas ve ser digid. É esse o paפl da administração, tto o cce de seus objetivos individuais, direcionar o na direção dos subchefes, como dos trabalhadores". esforço humano para a consecução dos objevos or- Embuda nesta conceão está a crença na natu- ganizacionais e procurar, através da pcipação e do re indolen do homem comum - trabha o mo compmisso de todos, a integrão entre os objevos possível, na sua fta de bição e sponbilidade, individus e os organizacionais. na sua indiferença nessidades organizacions, na BENNIS2 entende que estas exigências, apa- sua pouca inteligência, na sua osição à mudança e na rentemente incompatíveis, podem ser satisfeit sul- sua nessidade de r conduzido. taneamen ,e representam o maior desafio para o ad- * Pmio Edi Magals Fenkel - 12 lug - 422 Congo B i1e de Enfeagem - Natal - RN ** Enfeeira Profeor-Asciado ola de Enfeegem de Rlbeo Preto-USP , _ *** Enfermeira, Técnico Superior Especialido de Aio ao Eino e à Pesquisa da Escola de Enfeagem de Rlbeo P- to-USP . , * * * * Enfeeira, Auxiliar de Ensino da Eola de Enfeagem de Ribeio Preto-USP R. Br. Enfe., Bfiia, , (1): 55-59, jJmar. 1991 55

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L IDERANÇA DO E N FERMEIRO N O C O N TEXTO HOS PITA LAR - expectativas do pessoal auxi l ia r *

Maria Auxiliadora Trevizan * * Isabel Amélia Costa Mendes * * Miyeko Hayashida *** Cristina Maria Galvão ****

RESUMO - Esta pesqu isa focal iza a l i d e rança como rec u rso f u ndamenta l para o enferme i ro q u e e x e rce funções adm i n i s t rat i vas e teve como obje t ivo ver i f i car e ana l i sar , à l u z das Teor ias G r i d , o est i lo d e l i derança idea l i zado para o e nfe rm e i ­ro , p e l o pessoa l a u x i l i a r . A coleta d e d a d o s se p ro c e s s o u at ravés da ap l icação do I n strume nto G r id & L id e rança em E nfermag e m : com portamento i dea l . Pe la aná l i se dos dados fo i pos s rv e l con l u i r q u e o pessoa l au x i l i a r tem expectat iva de te r como I rde r um e nferm e i ro q u e adote o est i lo g e re n c i a l 9 , 9 .

ABSTRACT - T h i s s t u d y foc u ses lead e r s h i p a s a fundamenta l re sou rce fo r t h e n u rses exert ing adm in i strat ive fu nct ion s . I ts a i m was t o ver i fy and a n a l y s e b y t h e l i gh t of the G rid T heor ies , the s t y l e of lead e r s h i p the a s s i stant person n e l i dea l i zed for n u rs e s . T h e d ata co l lect ion h a s bee n co n d u cted us ing the G rid I n st rument & L eade rsh ip i n N u rs i n g : idea l behav ior . A n a l y s i n g the data it was pos s i b le to conc lude that a s s i stant perso n n e l e x pects to have as leaders n u rses who adopt the manag ing sty le 9 . 9

, I NTRODUÇÃO

A tarefa da Administração, sob o ponto de vista Com a contribuição das ciências do comporta-de seu conceito tradicional, é ordenar, sistematizar e mento, um novo panorama passa a influenciar signifi-disciplinar a energia humana, direcionando-a única e cativamente a teoria administrativa. Em decorrência, a exclusivamente para os objetivos da organização. Pro- partir da dácada de cinquenta se desenvolve uma nova postas neste sentido foram minuciosamente elaboradas concepção de administração, fundamentada no com-e enfética e ardorosamente denfendidas por Taylor, portamento humano nas organizações. Fayol e Weber através do Movimento da Adminis- Os resultados extraídos de estudos nas áreas so-tração Científica, da Teoria da Gerência Administrati- ciais e comportamentais têm desafiado as proposições va e do Modelo B urocrático, respectivamente, consti- tradicionais sobre a natureza do homem e sobre as tuindo-se assim, na Teoria Clássica da área. funções da administração. Dessa concepção inovado-

A , concepção desta teoria convencional, no que ra, oriunda das ciências comportamentais constatou-se tange ao pessoal, foi descrita por MACGREGOR 5 que a tarefa da Administração se alterou e se ampliou. como se segue: " I) com relação ao pessoal, esse pro- Sua alteração é muito bem traduzida por CHIA -cesso consiste em dirigir e motivar os esforços dos VENATO' quando diz que: "A Teoria Y desenvol-trabalhadores, controlar seu modo de agir e modificar ve um estilo de administração muito aberto e dinâmi-seu comportamento para que se ajuste às necessidades co, extramamente democrático, através do qual admi-da organização; 2) sem essa intervenção ativa da ad- nistrar é um processo de criar oportunidades, libertar ministração, o pessoal será passivo - até mesmo resis- potencialidades, remover os obstáculos, encorajar o tente - para com as exigências organizacionais. Os crescimento individual • . • " trabalhadores, portanto, devem ser persuadidos, puni- Quanto à sua ampliação, agora compete à Admi-dos, recompensados, controlados - suas atividades de- nistração propiciar um ambiente que facilite às pessoas ve ser dirigidas. É esse o papel da administração, tanto o alcance de seus objetivos individuais, direcionar o na direção dos subchefes, como dos trabalhadores". esforço humano para a consecução dos objetivos or-

Embutida nesta concepção está a crença na natu- ganizacionais e procurar, através da participação e do reza indolente do homem comum - trabalha o núnimo compromisso de todos, a integração entre os objetivos possível, na sua falta de ambição e responsabilidade, individuais e os organizacionais. na sua indiferença às necessidades organizacionais, na BENNIS2 entende que estas exigências, apa-sua pouca inteligência, na sua oposição à mudança e na rentemente incompatíveis, podem ser satisfeitas simul-sua necessidade de ser conduzido. taneamente ,e representam o maior desafio para o ad-

* Prêmio Edith Magalhães Fraenkel - 12 lugar - 422 Congresso B�i1e�ro de Enfermagem - Natal - RN ** Enfermeira Professor-Associado da Escola de Enfermegem de Rlberao Preto-USP , _

*** Enfermeira, Técnico Superior Especializado de Apoio ao Ensino e à Pesquisa da Escola de Enfermagem de Rlberao Pre-

to-USP . , * * * * Enfermeira, Auxiliar de Ensino da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP

R. Bras. Enferm., Brasfiia, 44 ( 1): 55-59, janJmar. 1991 55

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ministrador. Se este entendimento, do qual compartilhamos, é

sólido e legítimo, a questão é encontrar um recurso que torne possível a sua correspondência nas práticas. Acreditamos que esse recurso seja a liderança.

�cerca da Liderança do Enfermeiro no Ambito Hospitalar

Tecer considerações sobre liderança do enfermei­ro no contexto hospitalar, implica em retroceder um pouco na história em busca da apreensão de fatores que têm determinado a necessidade deste profissional preparar-se para a prática da liderança.

As três décadas que se seguiram à 2! Guerra Mundial, representam um período marcado por mu­danças aceleradas em todas as áreas da enfermagem, inclusive a relacionada à atuação de líderes - apesar de ainda hoje se lastimar na profissão a falta de liderança.

Em virtude da aplicação do método funcional ao serviço de enfermagem, houve necessidade de organi­zar o pessoal para que as tarefas pudessem ser execu­tadas o mais eficientemente possível, e o enfermeiro tornou-se o líder nesses grupos.

Segundo relato de YURA ' 2 os enfermeiros realmente conscientizaram-se da necessidade de pre­paro adicional em liderança, logo que lhes foram atri­buídas maiores responsabilidades pela administração da assistência de enfermagem; na década de cinquenta foi focalizado o preparo dos enfermeiros para posição de supervisor, administrador ou gerente. Até então, a maior parte dos comportamentos de liderança empre­gados por esses profissionais tinha sido aprendida no trabalho, por tentativa e erro.

Assim, as habilidades de liderança necessárias ao enfermeiro expandiram-se para abarcar responsábili­dades multifacetadas de coordenação de número cres­cente de pessoal ligado à saúde, com ampliados níveis de preparo. Em sociedade mais desenvolvidas, o ritmo de mudança se faz de forma mais acelerada, onde as expressões enfermeiro-Hder e liderança em en­fermagem são usadas com muita freqüência.

Na América Latina existe uma forte tendência de incorporação dessas expressões na linguagem de nossa profissão. Cada vez mais a necessidade de preparo de enfermeiros para liderança vem sendo reconhecida atualmente no Brasil. No início da década de cinquen­ta ficou mais evidente essa preocupação, que pode ser ilustrada pelas seguintes palavras de PINHEIR07:

"As nossas enfermeiras, mal deixam os bancos escolares, assumem cargos de responsabilidade: ou vão tomar conta de uma enfermeira, onde o cuidado de cabeceira é quase todo dado por auxiliares e atenden­tes, ou vão para a saúde pública, na maior parte das vezes fazer supervisão de visitadoras, ou vão para es­colas ensinar estudantes. Estarão elas apresentando uma eficiência satisfatória? Estarão produzindo como esperavam nos seus sonhos de estudantes? Sabemos n6s e sabem elas que não: logo que começam a traba­lhar estão inseguras e essa insegurança reflete no seu trabalho e na sua atitude. Quantas vezes os malentim­didos com os chefes de serviço, os médicos e outros elementos da equipe, não provêm dessa insegurança, ou, em certos casos, da falsa segurança que é pior ain­da. Queixamo-nos da falta de prestígio da enferma­gem: 'ela é real em todas nós lhe sentimos os efeitos;

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Mas não será uma das causas a ineficiência de muitas das nossas diplomadas? E a quem cabe a responsabili­dade de mudar essa situação, senão a nós mesmas? A pessoa que é realmente competente no seu campo impõe-se aos companheiros de trabalho, prestigiando desse modo a sua pr<jfissão. Praparemos, pois, as nos­sas enfermeiras para exercerem não apenas aquelas funções que o currículo americano, ou o canadense, ou o inglês aconselham; aquele preparo é básico e é indis­pensável para qualquer cargo que venham a ocupar,

I mas preparemo-Ias também para a nossa realidade I brasileira, isto é, para a posição de liderança que elas \ irão assumir".

A despeito da exposição pertinente e convincente da referida autora, podemos dizer que o tema deixou de ser focalizado nas publicações da enfermagem bra­sileira durante, pelo menos, três décadas; o que se ve­rifica é que em algumas publicações ele apenas apare­ce sutilmente abordado, subsidiando aspectos da ad­ministração em enfermagem.

Recentemente TREVIZAM e MENDES ' o enfó­caram o papel do enfermeiro-líder como fonte central de comunicação, e posteriormente TREVIZAN " fo­calizou a liderança como recurso fundamental para o enfermeiro que exerce funções administrativas, real­.çando o significado do seu exercício por esse profis­sional.

Com a finalidade de mais uma �ez expressar nos­sa convicção da necessidade de incorporação da lide­rança na prática assistencial do enfermeiro, temos com este estudo o objetivo de verificar e analisar - à luz das Teorias Grid - o estilo de liderança ideaIizado para o enfermeiro pelo pessoal auxiliar.

Embasamento Teórico : O G rid Gerencial

Da convergência de conclusões de várias pesqui­sas sobre liderança, conduzidas em universidades ame­ricanas, surgiu o Grid Gerencial proposto por BLA ­KE e MOUTON3 . Estes autores fundamentam sua teoria de estilos de liderança em duas dimensões: orientação para produção e orientação para pesaoes.

O Grid é representado por duas escalas de nove pontos que indicam os graus de interesse por essas duas dimensões. Dessa forma, há 8 1 combinações possíveis entre as orientações para produção e pes­soas. Dentre essas combinações, a Teoria Grid deter­mina a identidade de cinco estilos essenciais: 9.1; 1 .9; 1 . 1 ; 5.5 e 9.9. onde o número 1 significa orientação mínima, o número 5 significa onentação média e o número 9 orientação máxima.

Aos diferentes estilos Grid subjaz formas distin­tas de utilização do poder, ou da hierarquia, pelos ad­ministradores na busca de produção com e mediante as pessoas.

No estilo 9. 1 ocorre a união da orientação máxi­ma para a produção com a orientação mínima para as pessoas. A preocupação do administrador é obter o máximo de produç�o; assim, ele conduz o trabalho de forma a propiciar um mínimo de interferência das pes­soas.

O estilo 1 .9 reune a orientação lnrnima para a produção e a orientação máxima pata as pessoas. A ênfase dada aqui se relaciona ao estabelecimento de sentimentos positivos entre colegas e �ubordinâdos.

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A posição 1,1 associa a orientação mínima tanto para a produção como para as pessoas, e neste sentido, o gerente que adota este estilo se preocupa em realizar apenas o mínimo tanto para a produção como para as pessoas, e neste sentido, o gerente que adota este esti­lo se preocupa em realizar apenas o mínimo necessário para se manter na organização.

No estilo 5,5 há uma combinação de orientação mediana para a produção e para as pessoas. O admi­nistrador busca um desempenho satisfat6rio da orga­nização através de um equilíbrio entre as metas da produção e a conservação da moral das pessoas.

Na posição 9,9 existe a coligação da orientação máxima para a,produção com a orientação máxima pa­ra as pessoas. E caracterizada pela gerência em equipe, procurando alcançar resultados excelentes através da participação, envolvimento e compromisso.

2 METODOLOGIA

O trabalho foi realizado em quatro unidades de internação de um hospital-escola: médica, cirúrgica, pediátrica e ginecoI6gico-obstétrica.

A amostra foi constituída por 69 servidores lota­dos nessas quatro unidade de internação, sendo 36 atendentes e 33 auxiliares/técnicos de enfermagem, representando 53% daqueles em exercício no período da coleta de dados.

A técnica utilizada para a coleta de dados consis­tiu na aplicação do Instrumento Grid & Liderança em Enfermagem: comportamento ideal, de TREVI­ZAN 11. Este instrumento contém 25 proposições, ou seja, é composto por cinco proposições referentes a cada Teoria Grid.

Aos sujeitos investigados foi solicitado que pre­enchessem o instrumento, tomado por base um estilo de conduta desejável para o enfermeiro, segundo sua pr6pria expectativa.

3 RESULTADOS: ANÁLISE E DISCUSSÃO

Para a análise dos dados foram atribuídos os va­lores 4, 3, 2 e 1 às quatro alternativas de resposta de cada proposição, respectivamente: totalmente desejá­vel, desejável, indesejável e totalmente indesejável.

Em seguida, as 25 proposições foram classifica­das e agrupadas segundo cada estilo gerencial Grid. Este agrupamento permitiu a construção de uma ficha para cada sujeito, na qual constavam os valores por ele atribuido em cada proposição, por estilo. Assim, obte­ve-se um total de pontos para cada estilo, em cada um dos sujeitos que, para efeito de análise, foram dividi-

dos por categoria: atendentes e auxiliares/técnicos de enfermagem.

Para os atendentes o estilo Grid 9,9 é o que obte­ve o maior número de pontos, indicando ser este o es­tilo gerencial que mais esperam do enfermeiro. Desta forma, o estilo Grid 9,9 é indicativo de ser totalmente desejável para a maioria dos atendentes, enquanto que os estilos 5,5 e 1,9 apresentam-se como desejáveis e os estilos 9,1 e 1,1 como indesejáveis, tendendo para totalmente indesejáveis.

Estatisticamente este resultado é confirmado quando, através da análise de variância, se verifica que os atendentes, ao responderem sobre o estilo de lide­rança desejável para o enfermeiro, fazem diferença significativa entre os cinco estilos.

Também o grupo constituído por técnicos e auxi­liares de enfermagem aponta o estilo 9,9 como o mais idealizado para o enfermeiro; os estilos 5,5 e 1,9 são desejáveis ao enfermeiro na opinião desses profissio­nais, enquanto que os estilos 9,1 e 1,1 são indesejá­veis. A análise de variância mostrou que os técnicos e auxiliares de enfermagem estabelecem igualmente di­ferença significativa entre os estilos de liderança idea­lizada para o enfermeiro.

Confrontando as médias obtidas nos diferentes estilos entre sujeitos de categorias distintas, observa­se através do teste t que não há diferença estatística. Estes dados estão demonstrados na Tabela 1 e permi­tem deduzir que tanto os atendentes como os auxilia­res/técnicos de enfermagem idealizam a liderança do enfermeiro sob a mesma 6tica, ou seja, desejam prefe­rencialmente, como lfder um enfermeiro que associe alta preocupação com a prestação de serviços a um in­teresse acentuado pelas questões individuais da equipe. (estilo 9,9).

Como segunda opção, ao apontarem o estilo 5,5, os sujeitos da pesquisa indicaram esperar que o enfer­meiro-lfder busque decisões viáveis, ainda que não se­jam as melhores, e que demonstre um equilfbrio na orientação para o serviço e para as pessoas; ao sele­cionarem o estilo 1,9 preferem que o enfermeiro te­nha uma preocupação mfnima com os serviços hospi­talares e uma preocupação máxima com as questões pessoais dos membros do grupo, bem como com ou­tros servidores do hospital. Inversamente, apontam como indesejáveis os estilos 9,1 e 1,1, o que significa que não esperam ter como lfder um enfermeiro alta­mente motivado pela prestação de serviços hospitala­res e pouco ou nada interessado para com as questões pessoais dos membros do grupo, e nem tampouco de­sejam que seu lfder apresente orientação mínima tanto para os serviços quanto para os membros da equipe.

R. Bras. Enferm., Brasflia, 44(1): 55-59,-janJmar. 1991 57

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QUADRO 1 _ D istribuição dos valores das médias e do teste entre grupos, segundo categoria fun­cionai e estilos gerenciais

�M PORT A M E N TO

" 1'� QO� ' .. -E S T I LOS X A T E N D E N T E

9 , 1 9,72 1 ,9 1 5,44 1 , 1 8,28 5,5 1 5,58 9 ,9 1 8,58

P 0,05

Abordando as influências e tendências dos diver­sos estilos Grid, B ARROS ' afmnou que "o cresci­mento e a progressiva complexidade das organizações, as restrições governamentais, a difusão da educação e da tecnologia, estão dificultando o exercício do estilo 9.1, e, juntamente com a crescente definição de políti­cas, 'normas e procedimentos mecanicistas, estão tra­zendo um expansão do estilo 5�5, principalmente nas grandes organizações de hoje. Mas a grande massa de problemas a que o 5.5 dá uma solução apenas superfi­cial, assim como sua excessiva adesão ao status quo e, por outro lado, o progressivo avanço das ciên­cias do comportamento, da educação, e dos sistemas de remuneração com base no mérito, estão levando vagarosamente a uma busca de padrões gerenciais me­lhores, de tipo 9.9".

Os resultados obtidos com esta presquisa parecem encontrar correspondência nos argumentos de B AR­ROS ' , e mostram indícios de que o pessoal auxiliar sente necessidade de que o enfermeiro mude o seu pa­drão de liderança, sugerindo como alternativa primor­dial o estilo 9,9. Não há dúvida de que para os estu­diosos e pesquisadores do tema, esse estilo se apresen­ta como sendo o melhor, uma vez que através do in­centivo ao envolvimento, à participação e ao compro­metimento, o líder procura concretizar, por meio do trabalho em equipe, o atendimento das necessidades organizacionais e pessoais.

Essa expectativa remete à reflexão sobre como as escolas estão preparando os enfermeiros para lideran­ça. Há um despertar para a necessidade e para a possi­bilidade deste preparo. Ilustração deste fato pode ser encontrada na literatura americana de enfermagem. SEIVWRIGHT", dentre outras, ressalta que existem enfermeiros ocupando posições de chefia sem que exi­bam compostamentos desejáveis de liderança, enquan­to que há enfermeiros que são líderes em potencial que, por várias razões, nunca alacançaram posições de liderança na hierarquia organizacional.

Reconhce-se, assim, a importância de se preparar enfermeiros para liderança; além disso. verifica-se que na atualidade este preparo já é encarado como um processo viável.

58 R. Bras. Enfenn., Brasfiía, 44 ( 1): 55-59, janJmar. 1991

.. -I D E A L

-X T EC/AUX t

9,06 0,995 1 4,88 1 ,0 0 5

8,6 1 -0,6 1 3 1 5,48 0,1 7 0

J 1 7,67 1 ,544

Nesse sentido, MANFRED 6 propõe a lideran-' ça como processo que abarca diversos níveis de de­senvolvimento, tanto na dimensão indivudual, como na coletiva e tanto em aspectos conceituais como nos me­todol6gicos e operacionais, entendendo que "a partici­pação do enfermeiro é indispensável na tomada de de­cisões do governo local e na direção dos serviços de saúde da comunidade (centros de saúde, clínicas, hos­pitais e outros âmbitos nos quais se exerce enferma­gem)".

Segundo depoimento de TREVIZAN " , a valori­zação crescente da liderança como habilidade indis­pensável para o enfermeiro, implica necessariamente num novo posicionamento nas áreas de ensino e de serviço.

Nesse prisma fica configurada a responsabilidade das instituições de ensino e de serviços de saúde em oferecer aos alunos e aos nossos profissionais, oportu­nidades de treinamento e educação continuada em li­derança.

4 CONS IDERAÇÕES F I NAIS

Acreditamos que uma abordagem sobre liderança seja necessária em nosso meio, dado o entendimento de que sem devida competência gerencial possivel­mente os enfermeiros serão vítimas do status quo, das disfunções da burocracia e da decadência já des­critas por TREVIZAN9. Reconhecemos também que a competência em liderança favorece a inovação e, portanto, a implementação de mudanças tão necessá­rias à assistência de enfermagem.

Com essa perspectiva é que optamos por conhe­cer a visão dos subordinados sobre a liderança espera­da para o enfermeiro. Para isso, fizemos uso das Teo­rias Grid e, através de proposições formuladas segun­do cada uma delas, obtivemos dos atendentes, au JCilia­res e técnicos de enfermagem, subsídios quanto ao comportamento idealizado para o enfermeiro. A análi­se desses dados permitiram-nos concluir "ue tal'to os atendentes como os técnicos/auxiliares de enf(:nna­gem desejam preferencialmente um enfermeiro -líder que adote o estilo 9,9.

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A realização desta pesquisa propiciou-nos também a visão de que as Teorias Grid oferecem ao enfenneiro um referencial para a identificação das vá­rias alternativas de liderança, favorecendo a análise dos pontos positivos e negativos de cada estilo Grid, além de possibilitar ao profissional refletir e optar por uma delas.

Considerando que os liderados indicaram como

REFER ÊNCIAS B I BLIOG R Á F I CAS

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totalmente desejável o estil0 9.9, é possível que os en­fenneiros também possam ter como meta adotar este estilo, após estudo do conjunto Grid, uma vez que do ponto de vista da literatura também ele é o melhor.

Recomendamos, portanto, às instituições de ensi­no e de serviço de enfennagem que viabiliz.em aos graduandos o preparo e desenvolvimento de habilida­des de trabalho em equipe 9,9.

08 S EI VWRIGH T, MJ. - How to develop tomorrow's nur­sing leaders. /nt. Nurs. Rev., 35 (4): 99- 1 06, 1988.

09 TREVIZAN, M.A. - EnfeTT/Ulgem hospitalar: adminis­tração & burocracia. Brasflia: Editora UnB , 1988.

10 TREVIZAN, M.A. & MENDES, I.A.C. - O lfder como fonte central de comunicação. 1� Simpósio Brasileiro de Comunicação em Enfermagem. ANA/S, Ribeirão Preto, maio 1988. pp. 297-309.

1 1 TREVIZAN, M.A. - Liderança da enfenneiro: o ideal e o real no contexto hospitalar. Ribeirão Preto. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP. 1986, 166 p. Te­se de Livre-Docência.

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