Liderança, Comando e Escolha Intelectual

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Liderança, comando e escolha intelectual Em países como o Brasil, em que iniciativas são altamente dependentes das habilidades dos empreendedores em superar a falta de recursos disponíveis e conviver com alta incidência de obstáculos, a liderança é escolha e desafio, talvez aquele mais prontamente acessível para uma carreira de sucesso por ser o desenvolvimento intelectual potencialidade de todo ser humano. Ovídio Mendes - CEO da metodologia.inf.br, Advogado e Professor Universitário Em uma canção conhecida no cenário internacional e denominada "Nevermind", o autor Leonardo Cohen canta: "Our law of peace / Which understands / A husband leads / A wife commands". Seu sentido em português é "Nossas normas sociais / entendem / Um marido lidera / Uma esposa comanda". Talvez reflexivamente você tenha discordado do posicionamento com o seguinte questionando "Por que o homem lidera? Por que não a mulher?" e julgado o autor tendencioso.

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Em países como o Brasil, em que iniciativas são altamente dependentes das habilidades dos empreendedores em superar a falta de recursos disponíveis e conviver com alta incidência de obstáculos, a liderança é escolha e desafio, talvez aquele mais prontamente acessível para uma carreira de sucesso por ser o desenvolvimento intelectual potencialidade de todo ser humano.

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Liderança, comando e escolha intelectual

Em países como o Brasil, em que iniciativas são altamente dependentes das habilidades dos empreendedores em superar a falta de recursos disponíveis e conviver com alta incidência de obstáculos, a liderança é escolha e desafio, talvez aquele mais prontamente acessível para uma carreira de sucesso por ser o desenvolvimento intelectual potencialidade de todo ser humano. Ovídio Mendes - CEO da metodologia.inf.br,

Advogado e Professor Universitário

Em uma canção conhecida no cenário internacional e denominada "Nevermind", o

autor Leonardo Cohen canta: "Our law of peace / Which understands / A husband

leads / A wife commands". Seu sentido em português é "Nossas normas sociais /

entendem / Um marido lidera / Uma esposa comanda".

Talvez reflexivamente você tenha discordado do posicionamento com o seguinte

questionando "Por que o homem lidera? Por que não a mulher?" e julgado o autor

tendencioso.

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Mas calma! "Marido" e "Esposa" são arquétipos, ou modelos de comportamentos

que se encontram profundamente arraigados na cultura. Por representarem

modelos comportamentais, não apresentam conotação com gênero. Embora em

português a palavra "marido" seja masculina e "esposa" feminina, esta é uma

questão de estrutura da linguagem pois, como pode ser percebido, no verso em

sua versão original existe uma única preposição ligada às duas palavras e é

neutra (A husband / A wife).

Independente de questões culturais, o interesse aqui é nas características dos

arquétipos, quais sejam a liderança e o comando com previsibilidade nos

resultados. Essas características adquirem sentido e riqueza extraordinárias no

mundo contemporâneo, como discutiremos a seguir.

Para entendermos objetivamente a diferença conceitual entre liderança e

comando, imaginemos o seguinte cenário: João e Maria desenvolvem atividades

conjuntas na mesma empresa e têm prazos precisos para as entregas. Os traços

psicológicos de João focam a ação, o movimento, o "fazer". Já Maria prioriza o

domínio das particularidades que, bem planejadas, permitem o melhor dos

resultados para suas execuções. Ela é uma teórica e perfeccionista. Ambos

possuem senso de responsabilidade e procuram atender as expectativas do

cliente, mas entram em atrito frequentemente devido às suas concepções

divergentes sobre o "certo".

O chefe de ambos é uma pessoa pragmática: entende que prazos devem ser

cumpridos e que questões subjetivas, como os traços psicológicos de João e

Maria, ou características gerais e estáveis da personalidade que guiam

sistematicamente os comportamentos, não podem interferir na qualidade e no

cronograma de trabalho.

Este chefe comanda, mas não lidera. Comanda porque emite diretrizes e foca os

resultados, sem preocupação pela otimização na utilização dos talentos que tem

a seu dispor. Fosse ele um líder, valorizaria e saberia como harmonizar as

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características pessoais de João e Maria. Incentivaria a harmonização das

características individuais com as responsabilidades profissionais e concentraria

o planejamento minucioso sob responsabilidade de Maria e a execução do

planejado sob responsabilidade de João, mas com um elemento adicional: João,

pela verificação empírica, apontaria possíveis falhas no planejamento de Maria e

esta, pela validação regular, identificaria possíveis falhas na implementação do

trabalho de João, evitando eventuais retrabalhos.

O chefe é um conteúdo para o arquétipo com característica de comando. As

habilidades do chefe podem ser estimuladas e racionalmente treinadas para

desenvolvimento, pois existem regras e sequencias claras que conduzem à sua

implementação com sucesso. As abordagens atuais sobre governança

corporativa, como COBIT, CMMI, ITIL, ISO e PMBOK são, essencialmente, modelos

de comando. Suas regras objetivam resultados precisos, embora requeiram algo

que o arquétipo não menciona, que são ambientes estáveis e disponibilidades de

recursos. Mas o quê importa aqui é a ideia geral, abstrata.

O líder possui os atributos de comando, mas alia a estes uma escolha pessoal

essencial, que é o altíssimo nível de desenvolvimento intelectual, ou cognitivo.

Líderes percebem claramente que o desenvolvimento da inteligência pode ser

estimulado, mas depende primordialmente da dedicação, esforço e visão de

mundo pessoal. Ser líder é uma escolha em que o aprendizado não é concebido

como relação dual entre sujeito e conhecimento; pelo contrário, é um processo

de transformação em que o sujeito "luta" com o conhecimento para deste

apropriar-se pela transformação de suas estruturas neurológicas e internalizá-lo

como Saber. Ao transformar o conhecimento em saber, o sujeito modifica seus

traços psicológicos e reinventa-se enquanto pessoa. O Conhecimento é

significado; o Saber é sentido.

Existe um outro elemento de natureza social que integra a personalidade de um

líder. Ele não analisa contextos unicamente por seu ponto de vista particular. Ele

desenvolve constantemente a habilidade de focar cenários pelas crenças

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daqueles que estão com eles envolvidos na atividade profissional, pois sabe que,

nesse cenário, a experiência é, necessariamente, de natureza coletiva. Este

comportamento é tão importante que, diferentemente do Brasil, muitos países

incluem o serviço voluntário nos currículos educacionais com o objetivo de

compartilhamento de percepções sociais.

Exemplos atuais de líderes podem ser encontrados no mundo dos negócios, em

muitas empresas de influência global. São pessoas que, por suas concepções de

mundo, não se intimidaram com desafios e construíram organizações com sólidas

reputações.

Também encontramos organizações que, com eficientes modelos de comandos e

em ambientes propícios, se desenvolveram e são economicamente eficientes.

Qual, então, a diferença entre uma empresa que repousa na liderança e outra

que repousa na efetividade do comando? Fundamentalmente, a abundância dos

recursos disponíveis e na "amigabilidade" do ambiente para o

empreendedorismo.

Em países como o Brasil, em que iniciativas são altamente dependentes das

habilidades dos empreendedores em superar a falta de recursos disponíveis e

conviver com alta incidência de obstáculos, a liderança é escolha e desafio,

talvez aquele mais prontamente acessível para uma carreira de sucesso por ser

o desenvolvimento intelectual potencialidade de todo ser humano. No ambiente

educacional, deveria ser elevada à condição de recurso humano imprescindível à

geração de oportunidades que alterem os rumos de situações julgadas

insuficientes para o bem estar social. Pense nisso e, talvez, você venha a tomar a

decisão de reinventar-se como líder.