LÍDER DO FUTURO

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Em meio às atuais dificuldades ministeriais, pastores buscam maneiras para formar uma geração de líderes engajados e prontos para o futuro Líder do futuro POR VINÍCIUS CINTRA Um levantamento da Global Ac- tion constatou que 62% dos pasto- res que ministram em congregações pelo mundo afora não tem formação em seminários ou treinamentos pastorais. Há tempos outra pesquisa feita pelo jornalista Oswaldo Paião, da Abba Press & Sociedade Bíbli- ca Ibero-Americana, concluiu que 50,68% dos pastores nunca tinham lido a Bíblia por completa. Resulta- dos como estes nos dão dimensões de como e em quais condições atua a liderança evangélica. Com baixa qualificação e a realidade que pres- siona gestores com respostas rápi- das, sem perder o caráter ético, es- pecialistas em liderança traçam um perfil das características que esse líder do futuro deve ter e que forma a Igreja pode auxiliar na formação dos mesmos. O primeiro ponto que evidencia um líder é a cobrança e a pressão constante. Quem vive unicamente do ministério sofre com a pressão de fazer crescer a Igreja. Tem o de- safio de ser líder espiritual, gestor administrativo, figura motivacional e ainda deve ter tempo para ser cha- ve de uma família. Neste emaranha- do, ainda há a cobrança com uma pregação cristocêntrica sem desvios teológicos. O resultado? Pastores cada vez mais estressados como uma pesquisa do Instituto Francis Schaeffer de Desenvolvimento de Liderança Eclesiástica (FASICLD – Francis A. Schaeffer Institute of Church Leadership Development), que relatou que 80% se sentem desqualificados, 70% lutam contra a depressão e 50% deles pensariam deixar o ministério. Professor Gretz, escritor, profissional focado em motivar li- deranças, crê que a atual liderança não é trabalhada, ainda nos semi- nários, para administrar conflitos. Para ele a melhor maneira de for- mar uma nova geração, que saiba lidar com que é ensinado nas esco- las, com a realidade dos púlpitos, é inserir disciplinas comportamen- tais nos cursos de teologia. “A li- derança administrativa nas igrejas poderá tornar-se cada vez melhor à medida que todos se empenharem, para que o trabalho em equipe seja aprimorado e os líderes aprendam a trabalhar com prazos e responsabi- lidades”. Josué Campanhã, presidente da Sepal (Servindo Pastores e Líderes) argumenta que os pastores e ges- tores têm boa vontade para fazer a obra com excelência, no entanto, falta-lhes capacitação. “O cresci- mento da igreja tem feito com que eles cuidem mais do urgente e não do importante. Por outro lado, a falta de programas práticos de trei- namento em áreas estratégicas da igreja tem contribuído para uma li- derança superficial e emergencial”. À frente da Sepal a edição 2012 do congresso reuniu dois mil pasto- res e líderes, que puderam durante cinco dias receberam capacitação sobre as mais diversas áreas: ad- ministrativa, teológica, espiritual. Uma injeção de ânimo a quem con- LIDERANÇA 22 Ética cristã • 2012

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Pastores buscam maneiras de formar líderes engajados e prontos para o futuro

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Em meio às atuais dificuldades ministeriais, pastores buscam maneiras para formar uma geração de líderes engajados e prontos para o futuro

Líder do futuro

Por Vinícius cintra

Um levantamento da Global Ac-tion constatou que 62% dos pasto-res que ministram em congregações pelo mundo afora não tem formação em seminários ou treinamentos pastorais. Há tempos outra pesquisa feita pelo jornalista Oswaldo Paião, da Abba Press & Sociedade Bíbli-ca Ibero-Americana, concluiu que 50,68% dos pastores nunca tinham lido a Bíblia por completa. Resulta-dos como estes nos dão dimensões de como e em quais condições atua a liderança evangélica. Com baixa qualificação e a realidade que pres-siona gestores com respostas rápi-das, sem perder o caráter ético, es-pecialistas em liderança traçam um perfil das características que esse líder do futuro deve ter e que forma a Igreja pode auxiliar na formação

dos mesmos.O primeiro ponto que evidencia

um líder é a cobrança e a pressão constante. Quem vive unicamente do ministério sofre com a pressão de fazer crescer a Igreja. Tem o de-safio de ser líder espiritual, gestor administrativo, figura motivacional e ainda deve ter tempo para ser cha-ve de uma família. Neste emaranha-do, ainda há a cobrança com uma pregação cristocêntrica sem desvios teológicos. O resultado? Pastores cada vez mais estressados como uma pesquisa do Instituto Francis Schaeffer de Desenvolvimento de Liderança Eclesiástica (FASICLD – Francis A. Schaeffer Institute of Church Leadership Development), que relatou que 80% se sentem desqualificados, 70% lutam contra a depressão e 50% deles pensariam deixar o ministério.

Professor Gretz, escritor, profissional focado em motivar li-deranças, crê que a atual liderança não é trabalhada, ainda nos semi-nários, para administrar conflitos. Para ele a melhor maneira de for-mar uma nova geração, que saiba lidar com que é ensinado nas esco-las, com a realidade dos púlpitos, é inserir disciplinas comportamen-tais nos cursos de teologia. “A li-derança administrativa nas igrejas poderá tornar-se cada vez melhor à medida que todos se empenharem, para que o trabalho em equipe seja aprimorado e os líderes aprendam a trabalhar com prazos e responsabi-lidades”.

Josué Campanhã, presidente da Sepal (Servindo Pastores e Líderes) argumenta que os pastores e ges-tores têm boa vontade para fazer a obra com excelência, no entanto, falta-lhes capacitação. “O cresci-mento da igreja tem feito com que eles cuidem mais do urgente e não do importante. Por outro lado, a falta de programas práticos de trei-namento em áreas estratégicas da igreja tem contribuído para uma li-derança superficial e emergencial”.

À frente da Sepal a edição 2012 do congresso reuniu dois mil pasto-res e líderes, que puderam durante cinco dias receberam capacitação sobre as mais diversas áreas: ad-ministrativa, teológica, espiritual. Uma injeção de ânimo a quem con-

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vive com a realidade não tão fácil do campo missionário.

Para a geração do futu-ro, lembra Campanhã, é preciso mentoria e acima de tudo exemplo de caráter. “As estruturas acabam, mudam, morrem, são substituí-das, mas os discípulos continuam, adaptam-se, e prosseguem em fa-zer novos discípulos a fi m de levar a mensagem do evangelho ao futu-ro”, declara.

O exemplo é o caminho indi-cado pelo reverendo presbiteria-no Hernandes Dias Lopes. Só uma liderança comprometida servirá de exemplo a um novo rebanho de ovelhas. “A vida do líder é a vida da sua liderança enquanto os pecados do líder são os mestres dos peca-dos. Os pecados do líder são mais graves por ter um conhecimento maior. Mais hipócritas por con-denar em público e o praticar em segredo. Mais danosos por atingir mais pessoas ao cair, portanto, a

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neira dos líderes mais experientes ajudarem os líderes mais jovens é através de uma vida irrepreensí-vel e de uma ação efi caz”, enfatiza Hernandes.

DiFicuLDaDEs EM Encontrar VocacionaDosEncontrar líderes, gente dis-

posta a servir, não é tarefa fácil. Mais do que isto, treinar esta mão de obra de acordo com a visão e missão da Igreja local é um desa-fi o. Agnaldo Machado, da Igreja Bíblica Manancial de São José dos Campos (SP) convive com esta re-alidade. “A gente não tem forma-ção com visão em liderança, isso é algo novo. Para ser um grande líder é preciso seguir o exemplo de Paulo, que com humildade in-fl uenciou e não se impôs. Mui-tas vezes o pastor não identifi ca o perfi l comum dos seus liderados e assim não consegue fazer as coisas acontecerem”, diz.

O líder do futuro deve saber trabalhar em equipe, ter olhar de águia para captar a qualidade que cada liderado e delegar funções. ‘É preciso descobrir as aptidões de cada colaborador, para colocar a pessoa certa no lugar certo. Todas as pessoas têm, no mínimo, uma aptidão, que é o seu ponto forte. Se algumas pessoas acham que sozi-nho se anda mais rápido é neces-sário lembrar que, estando juntos vamos mais longe’, defende Gretz.

Para quem pensa que o líder vem pronto, os pastores consul-tados indicam caminho contrário. Ele precisa ser preparado e isto em muito dos casos demanda tempo. “Não há líder pronto e acabado. Ninguém ostenta seu diploma nessa escola. Todo líder tem os pés de barro. Qualquer soberba revela uma fi ssura na armadura. Eric Fromm disse que há dois tipos de liderança: a liderança imposta e a adquirida. O lí-der não é aquele que se impõe como tal, mas aquele que con-

BiLL HYBELs DEsaFia, DurantE sEPaL, LiDEranÇa a MuDar o JoGo

O presidente da Willow Creek, pastor Bill Hybels, desafi ou aos mais de mil pastores que participaram do 39º Congresso Sepal, que aconteceu em Águas de Lindóia, a se revoltarem contra aquilo que nos incomoda. Com a mensagem ‘Santo Descontentamento’ Hybels pediu uma atitude diante das circunstâncias que nos deixa frustrado.

Durante a palestra AutoLiderança 360º graus, o conferencista usou exemplo de Neemias, Martin Luther King, Marinheiro Popeye e a Visão Mundial ao se referir a homens e entidades que foram provocados a mudar o mundo. Em sua pregação fez quatro observações. “Qualquer injustiça no mundo deveria incomodar os cristãos”, declarou. Mais adiante fez observações que todo pastor deveria mudar. “Se você não identifi cou o que te dá descontentamento, peça para Deus te mostrar. Quando descobrir volte-se para isto e combata. Este trabalho vai exigir muito, por isto não perca a esperança”, afi rmou. Usando exemplos, entre ele lembrou que o líder dá o tom emocional de seu grupo e desafi a o grupo a não perder o alvo.

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quista o respeito dos seus liderados pelo seu estilo de vida” enfatiza Hernandes Dias Lopes.

caPacitaÇÃo Para noVos E antiGos LíDErEsMuitas são as ferramentas para

formar o líder próximo do ideal. Seja por meio de seminários, no-vas literaturas ou inovações tecno-lógicas na prática do culto, mas é preciso cuidado para não deixar as escrituras e se perder ao ser condu-zido por ditames do pragmatismo. “O líder cristão é, sobretudo, um servo de Cristo. Quem serve a Deus não busca aplausos nem tem medo de críticas. Porque ele teme a Deus, não teme aos homens. Embora se utilize de todos os recursos moder-nos como facilitadores do seu tra-

balho, jamais se deixa governar por eles”, destaca Hernandes.

Lidar com apetrechos tecno-lógicos ajuda a gerir equipe como lembra Josué Campanhã, no entan-to, eles sozinhos não tem resultado. “Lembro-me de uma placa sobre o uso do datashow na universidade em que dei aula. Ela falava: Profes-sor, você é o show. Tem muita gen-te que tem todos os equipamentos disponíveis à mão, mas continua superfi cial em seu conteúdo, fraco em seu sermão e sem qualquer re-lacionamento com Deus que possa infl uir na vida das pessoas. A tec-nologia, a literatura e as ferramen-tas são acessórios para o ministério, a vida do líder é que é o ponto cen-tral”.

Hernandes Dias Lopes lembra

que o líder do futuro deve ser con-fi ável, íntegro e ao mesmo tempo amável. ”Como disse John Maxwell, liderança é, sobretudo, infl uência. Um líder cristão é alguém que in-fl uencia para o bem, pois é forjado pelo caráter de Cristo e proclama Cristo”, fala.

coMo a coMuniDaDE EVanGÉLica PoDE PrEssionar Para MELHor ForMaÇÃo Dos PastorEs E LíDErEs?

Teremos grandes avanços quando a comunidade evangélica em geral deixar de enfatizar apenas a pragmática eclesiástica e o misticismo e entender que sem preparo e conhecimento bíblico e teológico. As exigências hoje para ser pastor ou líder não são tão rigorosas, basta a pessoa ter alguma eloquência, saber fazer algumas coisas, ser agitador de

auditório e empreendedor. Já vi líderes que defendem a tese de que os seminários devem formar pastores e não teólogos. É possível formar médicos, sem Medicina? Formar engenheiros, sem matemática? Vejo aqui um anti-intelectualismo maléfi co.

Muitos LíDErEs cHEGaM ao sEMinÁrio coM ProBLEMas rEFErEntEs ao Ensino BÁsico (ProBLEMas DE intErPrEtaÇÃo, LEitura, Etc). coMo os sEMinÁrios PoDEM MuDar EstE QuaDro?

Chamamos isso de nivelamento. Os seminários necessitam desenvolver ações que venham a serem interfaces entre as condições de ingresso dos alunos e as condições ideais esperadas para que ele possa participar das aulas. Assim, cursos de extensão podem e devem ser oferecidos com esse fi m. Notamos que as defi ciências em geral no ingressante se localizam no conhecimento da língua nacional, cultura geral, conhecimento

bíblico e doutrinário e, algumas vezes, até mesmo difi culdades na vivência cristã e na conduta ética.

o Ensino À DistÂncia aJuDa ou atraPaLHa?

O ensino à distância no campo da formação ministerial é um bom recurso que pode facilitar a capacitação e recapacitação de futuros líderes ou mesmo os que já estão em atividade. Mas há disciplinas em que a modalidade à distância pode não funcionar adequadamente, como Homilética (Preparação e pregação de sermões e palestras), que exigirá a atenção de um tutor ou mentor. Mas, além disso, temos também a formação pessoal do aluno, que envolve a formação de seu caráter, formação na área emocional e relacional, por exemplo, que não tem como ser objeto desta modalidade de ensino. Nestes casos, há a necessidade do aluno estar ligado a um grupo e com a ação de mentoria.

‘Líder precisa ter preparo bíblico’ Lourenço Stelio rega, diretor da Faculdade Teológica Batista

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