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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Psicologia Programa de Pós-Graduação em Psicologia
RELATÓRIO REUNI 2011.2
Levantamento das necessidades relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem envolvendo os graduandos da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Departamento de Psicologia – UFSC
Dezembro de 2011
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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Psicologia Programa de Pós-Graduação em Psicologia
RELATÓRIO REUNI 2011.2
Levantamento das necessidades relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem envolvendo os graduandos da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC)
Beatriz Schmidt Emanuelle de Paula Joaquim Fabiani Cabral Lima
Fernanda Ax Wilhelm Flora Moura Lorenzo Flávia Trento Rost
Gabriel Gomes de Luca Ingrid Agassi Laila Priscila Graf
Luana dos Santos Raymundo Maria Fernando Diogo Scheila Girelli
Sílvia Patricia Cavalheiro de Andrade.
Bolsistas REUNI vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC
Cláudia Basso
Doutoranda do Pós-graduação em Psicologia, colaboradora voluntária do Projeto
Profª. Drª. Marúcia Patta Bardagi
Coordenadora do Projeto
Profª. Drª. Maria Aparecida Crepaldi
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC
Departamento de Psicologia – UFSC
Dezembro de 2011
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1. INTRODUÇÃO
Este relatório refere-se à descrição das atividades realizadas no semestre 2011.2
pelo grupo de bolsistas Reuni do Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Os bolsistas
do Programa de Pós-Graduação em Psicologia estão vinculados a um projeto cujo objetivo
principal é prestar atendimento psicopedagógico aos estudantes de cursos de graduação da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), além de desenvolver um trabalho de
articulação entre os coordenadores de cursos e serviços de atendimento estudantil da
Universidade.
Mediante pesquisa realizada no ano de 2010 pelos bolsistas, foram identificados
cursos nos quais há maior índice de evasão, reprovação por frequência insuficiente e
reprovação com frequência suficiente. Os cursos identificados foram: (1) Zootecnia, (2)
Ciência e Tecnologia Alimentar, (3) Engenharia de Alimentos, (4) Química, (5) Ciências da
Computação, (6) Engenharia Eletrônica, (7) Engenharia Elétrica, (8) Engenharia de
Produção e Sistemas, (9) Física e (10) Matemática. No primeiro semestre de 2011, os
coordenadores e os bolsistas Reuni dos cursos identificados foram entrevistados com o
objetivo de caracterizar a percepção dos mesmos com relação aos índices de evasão e de
reprovação. A partir das informações fornecidas por coordenadores e bolsistas, após a
análise dos materiais coletados, algumas estratégias de intervenção psicológica juntos aos
estudantes de cursos de graduação da UFSC foram estabelecidas.
Os altos índices de evasão, de reprovações por frequência suficiente e de
reprovações com frequência suficiente indicaram que há problemas com relação ao
contexto de ensino e de aprendizagem na universidade. Alguns desses problemas referem-
se à falta de compatibilidade entre as expectativas que os estudantes tinham com relação ao
curso e a constatação da realidade a que ele se refere ao ingressar no mesmo, aos problemas
econômicos, sociais e organização pessoal em relação aos estudos. Com as análises, foi
possível também identificar a existência de problemas relacionados com a capacidade dos
estudantes lidarem com o novo contexto do ensino superior. Devido aos diferentes
procedimentos de organização de ensino no âmbito da graduação e de uma universidade
pública federal, foram observados indicativos de que os estudantes podem não estar
preparados para lidarem com as “novas” exigências desse contexto.
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Ao ingressar no ensino superior, os estudantes deparam-se com novas exigências
com as quais não estavam habituados (Teixeira, 2002). De acordo com o autor, é necessário
que os estudantes adaptem-se ao novo contexto de exigências acadêmicas, vocacionais e
sociais. O novo meio que o estudante passa a frequentar e com o qual precisa lidar é
diferente do contexto do ensino médio. Os aspectos de integração ao grupo e desempenho
acadêmico são fundamentais, especialmente entre os alunos ingressantes. Pereira (2004)
ressalta que o estudante precisa sentir-se parte do novo grupo para consolidar sua
identidade profissional. Isso possibilita que o estudante faça uma associação entre o curso,
os colegas, a instituição e a profissão que seguirá futuramente. Bardagi (2007) afirma,
ainda, que a percepção dos estudantes acerca de seu desempenho acadêmico como ruim ao
comparar-se com os colegas pode gerar insegurança com relação as suas competências.
As atividades realizadas pelo grupo de bolsistas Reuni de Psicologia neste semestre
foram as seguintes:
1.1. Capacitação dos bolsistas Reuni de Psicologia para condução das Oficinas de
Organização e Métodos de Estudo
Os bolsistas Reuni entrevistados informaram que percebem, em geral, que os
estudantes tem um repertório incompatível com o grau de exigência do ensino superior. É
comum que os estudantes apresentem dificuldades para estudar. Nesse sentido, uma das
propostas de intervenção realizadas no semestre 2011.2 foi a realização de oficinas de
organização e métodos de estudo, tendo em vista promover o aprimoramento do repertório
de estudo dos estudantes dos cursos de graduação da UFSC. Para isso, os bolsistas Reuni
do Programa de Pós-Graduação em Psicologia passaram por uma capacitação para
ministrar essas oficinas.
As oficinas de capacitação foram coordenadas pela professora Marucia Bardagi em
colaboração com os professores Leandro Oltramari, Marivete Gesser e Adriano Nuernberg,
integrantes do Laboratório de Psicologia Escolar e Educacional, vinculados ao Curso de
Psicologia. Todos os encontros tiveram uma duração média de quatro horas e foram
realizados nas dependências do Serviço de Atendimento Psicológico (SAPSI) da UFSC.
As reuniões que configuraram a capacitação foram realizadas no formato de oficinas
temáticas e tiveram como foco as questões indutoras: caracterização do aluno com
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dificuldades de aprendizagem; relação desempenho acadêmico X desempenho profissional;
a intervenção no contexto das dificuldades de aprendizagem no ensino superior;
instrumentalização psicoterápica no trabalho com grupos; ansiedade de avaliação; técnicas
de organização e métodos de estudo e relação entre motivação e desempenho.
Além disso, durante os encontros, foram realizadas discussões a fim de definir a
estrutura das oficinas “Organização e Métodos de Estudo”, iniciadas em outubro de 2011.
Desta forma, à medida que os professores discorriam sobre uma determinada temática, o
grupo procurava pensar de que maneira esta temática poderia contribuir no trabalho com os
alunos participantes das oficinas. Este espaço permitiu que se construísse coletivamente
uma proposta de intervenção com temas norteadores definidos nas capacitações.
Dentre as decisões tomadas nesses encontros citam-se a opção pelo
desenvolvimento do trabalho de coordenação das oficinas em duplas compostas pelos
bolsistas do grupo REUNI, o número mínimo e máximo de participantes por oficinas, a
quantidade de horários disponibilizados para os encontros, o local, os meios de divulgação
das oficinas, o período de inscrição, a data de início, o número total de encontros, a
periodicidade, a duração de cada encontro, a configuração da ficha de inscrição e o
processo de acolhimento dos alunos inscritos, e a supervisão das atividades realizadas pela
dupla bolsista durante a realização das oficinas pelos professores que participaram da
capacitação. Os encontros e as temáticas são descritos a seguir:
• Módulo I (19\08) – professora Marúcia: desempenho acadêmico e aspectos
vocacionais;
• Módulo II (29/08) – professor Adriano: dificuldades na aprendizagem, principais
aspectos, rede de apoio institucional, como fazer encaminhamentos;
• Módulo III (09\09)– professora Marivete: estrutura da oficina, questão de vínculos,
trocas entre os participantes;
• Módulo IV (16\09) – professor Leandro: instrumentos de organização do estudo, de
tempo, ferramentas para superação de dificuldades.
No primeiro encontro, coordenado pela Professora Marúcia trabalhou-se a temática
da “necessidade de maior conhecimento sobre o comportamento vocacional dos alunos da
UFSC durante o período da formação superior”. Segundo ela, esse período é suscetível de
vivências de crises vocacionais na medida em que ocorrem experiências de confrontação
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com a realidade ocupacional, a consolidação da identidade profissional, a elaboração de
projetos profissionais futuros, entre outras. Dessa forma, possíveis dificuldades para
elaborar essas vivências costumam acarretar uma busca por aconselhamento de carreira
(cujos serviços têm recebido cada vez mais clientes universitários), um aumento nos índices
de insatisfação com a universidade e a evasão escolar. Foi realizada a apresentação de um
seminário sobre perfil do aluno universitário, diferenciando-o do aluno do ensino médio.
Num segundo momento, ela propôs exercícios de grupo (dinâmicas) que poderiam ser
utilizadas durante os atendimentos aos alunos com dificuldade de aprendizagem da UFSC,
exercícios que objetivavam diagnosticar, de uma forma lúdica e interativa, como o aluno
encontra-se em relação a suas escolhas em geral.
No segundo encontro, o professor Adriano Henrique Nuernberg problematizou com
o grupo REUNI a questão do diagnóstico da dificuldade de aprendizagem, alegando que
muitas vezes recai apenas sobre o aluno, como resultado da relação do sujeito com o
conhecimento, ignorando seu envolvimento com as relações sociais e institucionais.
Segundo o Professor Adriano, é a concepção sobre o sujeito humano e sobre as dificuldades
de aprendizagem que determinam nossas estratégias de intervenção no contexto
institucional do ensino superior. Devemos ter um olhar crítico para as concepções que
julgam que o aluno adulto está “pronto” e que ele tem autonomia “natural” para o seu
processo de aprendizado. Dentre muitos aspectos institucionais que devemos considerar na
complexidade do processo ensino-aprendizagem, encontram-se, por exemplo, a lógica de
funcionamento das instituições de ensino que, muitas vezes, valoriza muito mais a
produção científica do professor do que sua prática docente. Além disso, há uma falta de
espaços coletivos de convivência no campus da UFSC e de uma política eficiente de
acolhimento deste aluno, o que pode representar uma barreira para a consolidação do
vínculo do aluno com a instituição. Concluímos nesse encontro, que o trabalho do grupo
REUNI tem fundamental importância para conhecermos a demanda e características dos
alunos a fim de empreendermos ações de maior escopo, de caráter institucional e não
apenas individual, buscando acionar uma rede maior de apoio ao aluno. Os protocolos de
atendimento (individual e coletivo) do grupo REUNI, portanto, devem permitir coletas de
dados abrangentes das múltiplas dimensões que constitui o processo de ensino
aprendizagem na instituição de ensino superior.
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No terceiro encontro, nos capacitamos para construirmos uma proposta de oficina
com a Professora Marivete Gesser. Discutimos os aspectos éticos e políticos das dinâmicas
de grupo, os passos fundamentais para serem adotados nas oficinas, com base nos objetivos
identificados com os alunos. Segundo a Professora Marivete, deve-se considerar que cada
participante possui diferentes histórias, constituídas por atravessamentos de gênero, raça,
classe social, geração e religião. Assim, no planejamento de cada encontro, é preciso
considerar as individualidades presentes, evitando a estereotipa e a cristalização de papéis.
Finalizamos essa reunião exercitando um roteiro estrutural para o planejamento das oficinas
compreendendo: a) A definição do tema e da análise da demanda; b) Pré-análise e escolha
do “foco” e “temas geradores”; c) O enquadre; d) Planejamento flexível com um momento
de quebra-gelo, um momento intermediário com atividades variadas visando a reflexão e
elaboração do tema trabalhado e um momento de sistematização e avaliação do trabalho do
dia.
O quarto e último encontro foi conduzido pelo Professor Leandro Castro Oltramari
e teve como temática “métodos de organização dos estudos”. Neste dia, tivemos contato
com a operacionalização de algumas técnicas de leitura, de construção de resumos e
sínteses do conteúdo estudado, de organização de tarefas, exercícios para manter o foco de
atenção nos estudos e técnicas de gerenciamento de tempo. Segundo o Professor Leandro é
possível, através de algumas orientações técnicas, que o aluno perceba que ele pode
conseguir vencer os desafios das mais diversas disciplinas ampliando a confiança e a
atitude frente ao estudo.
É importante destacar que o desenvolvimento de técnicas de estudo é uma das
ferramentas disponíveis para que os alunos possam melhorar seu rendimento acadêmico
mas não deve ser visto como saída milagrosa para os problemas acadêmicos. Isso porque, o
desempenho acadêmico possui vários fatores determinantes tanto subjetivos como a relação
que o aluno desenvolve com o conhecimento, sua motivação para os estudos, ansiedade
frente a avaliações, enfrentamento a frustrações e objetivos tais como ambiente de estudos,
situação financeira e alimentação.
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1.2. Oficinas de Organização e Métodos de Estudo
Fichas de inscrição preenchidas nas entrevistas de triagem:
Com o objetivo de adaptar as oficinas de organização e métodos de estudo às reais
necessidades dos alunos, os bolsistas REUNI vinculados ao Projeto realizaram entrevistas
de triagem. Essas entrevistas ocorreram durante os dias 26e 30 de setembro, das 14hs às
17hs, e no dia 29 de setembro, das 9hs às 12hs, perfazendo um total de quatro períodos
disponibilizados para o procedimento. Os acadêmicos interessados em participar nas
oficinas eram recebidos pelos bolsistas REUNI no SAPSI e, naquela ocasião, respondiam a
algumas perguntas que haviam sido previamente formuladas, a fim de melhor caracterizar
os participantes e suas necessidades vinculadas ao processo de ensino-aprendizagem. Os
resultados obtidos com base nas entrevistas de triagem serão apresentados a seguir.
Compareceram ao SAPSI 37 alunos interessados em participar das oficinas. Desses,
21 eram do sexo feminino e 16 do sexo masculino. A média de idade dos participantes foi
de 25 anos (DP= 8,54), sendo a mínima 17 e a máxima 45 anos. Com relação ao estado
civil, a maioria dos alunos (31) declarou-se solteiro, ao passo que três eram casados e dois
divorciados. No que diz respeito ao local de moradia, as respostas foram as seguintes:
reside com amigos (16); pais (8); sozinho (5); namorado(a) (3); cônjuge (2); cônjuge e
filhos (2); e família ampliada (1). Os locais de procedência mais prevalentes foram Santa
Catarina (21); São Paulo (7); Paraná (3); e Rio Grande do Sul (3).
A maioria dos alunos interessados nas oficinas cursava os períodos inicias da
graduação. A fase mais prevalente foi a 2ª, com oito acadêmicos, seguida pela 1ª, pela 4ª e
pela 6ª fase, com cinco acadêmicos cada qual. O curso que contou com o maior número de
alunos nas entrevistas de triagem foi o curso de Química, com quatro interessados, seguido
por Direito, Ciências Econômicas e Serviço Social, com três acadêmicos cada qual. Os
demais cursos e o número de alunos que compareceu às entrevistas de triagem são
apresentados na Tabela 1.
Com relação à forma de ingresso na UFSC, 20 alunos ingressaram por intermédio
do vestibular universal, 16 por política de cotas e um por transferência externa. Para 31
pessoas o curso realizado no momento da entrevista de triagem consistia na sua primeira
opção no vestibular. Apenas um dos entrevistados referiu já haver efetuado trancamento.
Ademais, constatou-se também que, em 13 casos, o aluno havia realizado outra graduação,
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sendo que em apenas um desses casos o curso foi concluído. No que diz respeito ao modo
como souberam das oficinas, 28 acadêmicos afirmaram ter tomado conhecimento da
atividade por e-mail, cinco por indicação de um professor, três por meio de cartazes
afixados no campus da UFSC e um por intermédio da PRAE. Quando perguntados sobre a
sua situação de saúde, cinco entrevistados indicaram que realizam algum tipo de
tratamento, com utilização de medicação.
TABELA 1
Cursos de proveniência e número de alunos entrevistados na triagem
Curso de graduação Nº de alunos
Química 4
Direito 3
Ciências Econômicas 3
Serviço Social 3
Engeharia de Alimentos 2
Farmácia 2
Engenharia Mecânica 2
Relações Internacionais 2
Agronomia 2
Administração 2
Psicologia 1
Nutrição 1
Enfermagem 1
Sistemas de Informação 1
Educação Física 1
Letras Espanhol 1
Letras Alemão 1
Ciências Sociais 1
Engenharia Elétrica 1
Engenharia de Controle e Automação 1
Zootecnia 1
Odontologia 1
Total 37
No concernente às disciplinas que apresentam maiores facilidades no processo de
ensino-aprendizagem, a maior parte dos alunos listou disciplinas vinculadas à área de
ciências humanas. Em contrapartida, quando questionados sobre disciplinas que apresentam
maiores dificuldades, houve destaque para a área de ciências exatas. Nesse sentido, foram
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contabilizadas nove referências com relação às disciplinas de Cálculo, cinco em Física,
cinco em Matemática, três em Química e duas em Geometria Analítica. Dois alunos
também referiram apresentar dificuldades na área de humanas.
Com relação ao motivo pela busca das oficinas, a maioria dos alunos referiu o
desejo de aprender a organizar melhor o processo de estudar, sendo exemplos de respostas
classificadas nessa categoria os seguintes: dificuldades para organizar o tempo (10), melhor
organização dos estudos (8) e necessidade de aprender a se disciplinar (3). Além disso,
alguns alunos referiram que buscaram as oficinas em virtude de problemas de focalização
da atenção (4), por conta do baixo desempenho acadêmico (3), com o intuito de maximizar
o seu rendimento (3) e de buscar equilíbrio entre vida acadêmica e vida pessoal (2).
Execução das Oficinas de Organização e Métodos de Estudo:
Os bolsistas Reuni vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia foram
divididos em duplas ou trios e desenvolveram um trabalho de apoio aos estudantes de
graduação por meio de oficinas intituladas “Oficina de organização e método de
estudos”. Foram efetuados quatro grupos de oficinas, no espaço do SAPSI, atendendo o
total de__ estudantes. Cada uma dessas oficinas teve cinco encontros, com a carga horária
total de 15 horas. Em geral, as temáticas dos encontros eram referentes à integração e
apresentação, trajetórias acadêmicas, planejamento e organização do tempo de estudo,
reflexões sobre métodos de estudo e modos de implementar melhorias no aprendizado e no
cotidiano educacional, planejamento do futuro educacional. Juntamente com esse trabalho,
os bolsistas Reuni, avaliando a necessidade, também efetuavam encaminhamentos a outros
serviços de atendimento social ou psicológico.
Cada grupo de oficina seguiu uma sequência básica, determinada em conjunto pela
coordenação e pelos bolsistas, contudo os encontros tiveram dinâmicas diferentes,
elaboradas pelos coordenadores de cada grupo. Para fins desta exposição, optamos por
apresentar uma síntese geral sobre a condução das oficinas, apontando algumas dinâmicas
particulares para ilustrar o processo. A Tabela 2 contém os horários, período, número de
participantes de cada oficina e local. Em seguida, realizamos uma síntese dos temas
abordados e o processo conduzido nas oficinas.
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TABELA 2
Oficinas de Organização e Métodos de Estudo
Primeiro encontro
O objetivo do primeiro encontro foi conhecer integrantes do grupo; identificar
expectativas dos integrantes do grupo em relação à realização das oficinas; constituir
vínculos com o grupo; e estabelecer um contrato de trabalho com o grupo (questões
relativas ao sigilo, a assiduidade e a pontualidade). Foram realizadas atividades de
apresentação e levantamento das expectativas dos participantes. O primeiro grupo realizou
uma explicação sobre a importância de administrar funcionalmente o tempo e instruções
Oficina Horários Período Participantes Local Responsáveis Material utilizado
1 Quinta-feira,
das 08:00 às
10:00 horas
06 de
outubro a 03
de novembro
de 2011
Entre 4 e 5
partipantes
Sapsi Emanuelle
Joaquim, Ingrid
Agassi e Sílvia
Patricia Cavalheiro
de Andrade
Folhas com instruções relativas aos encontros, cartões com figuras diversas, folhas A4, canetas, quadro negro e giz
2 Sexta-feira,
das 14:00 às
16:00 horas
07 de
outubro a 11
de novembro
de 2011
Entre 2 e 6
participantes
Sapsi Fabiani Cabral
Lima e Laila
Priscila Graf
Papel branco, papel colorido, lápis, caneta esferográfica, canetas coloridas, caixa de sapato.
3 Segunda-feira
das 14:00 às
16:00 horas
03 de
outubro a 31
de outubro
de 2011
Entre 6 e 9
participantes
Sapsi Fernanda Ax
Wilhelm e Luana
dos Santos
Raymundo
Netbook com caixa de som, datashow, papel colorido, canetas coloridas, balões, músicas, envelopes com papel de carta, objetos diversos (relógio, esponja, celular, álbum para fotos, bola de tênis, óculos, calculadora, dicionário etc), cola bastão, cartões com figuras de aprendizagem, bombons, timer de cozinha.
4 Quinta-feira
das 15:10 às
17:10 horas
06 de
outubro a 03
de novembro
de 2011
Entre 3 e 5
participantes
Sapsi Cláudia Basso
Beatriz Schmidt
Flora Lorenzo
Folhas A4 coloridas, canetas coloridas, alfinetes de segurança, cronogramas semanais, imagens de revista, textos de revistas, lápis de cor.
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sobre como preencher tabela de diagnóstico do tempo (fornecida pelas mediadoras). Já o
terceiro grupo realizou a dinâmica da rede (apresentar-se e jogar o novelo de lã para o
colega, formando uma rede, simbolizando a interconexão entre os membros do grupo) e a
apresentação através de objetos.
O quarto grupo aplicou a técnica “as três características”. Os participantes se
organizaram em duplas, de acordo com as suas características (indicadas nos cartões
preenchidos por cada um), para iniciar as conversas que culminaram nas apresentações dos
membros das duplas. Após as apresentações, prosseguiu-se para a segunda técnica, a dos
“quatro quadrantes”, sobre dificuldades que podem apresentar os estudantes universitários.
Em virtude do término do tempo da oficina, a técnica foi interrompida no quadrante
“social” (primeiro quadrante), com o intuito de ser retomada no encontro seguinte.
Segundo encontro
O primeiro grupo avaliou o diagnóstico do tempo realizado na semana; identificou a
quantidade média de horas utilizadas para realizar atividades semanais; avaliou a
adequação entre as atividades realizadas e a média de horas destinada para cada uma delas;
e avaliou a possibilidade de alterar a quantidade média de horas utilizadas para cada
atividade. Foi realizada uma exposição oral sobre as descobertas dos participantes com
relação a utilização do tempo a partir do diagnóstico realizado e sugestões sobre como
administrar o tempo de forma funcional (por parte dos integrantes do grupo e das
coordenadoras). Ao final foi solicitado que os estudantes listassem as atividades relativas
ao curso de graduação que necessitam realizar durante a próxima semana em folha
fornecida pelas coordenadoras do grupo, explicitando que essa lista seria utilizada nas
atividades da próxima oficina.
O segundo grupo optou pela dinâmica da trajetória sócio-profissional baseado nos
estudos de Soares (2002), na qual o acadêmico deveria escrever sua trajetória profissional e
acadêmica e relacionar com os cursos e as vivências atuais na educação. Cada participante
indicou suas dificuldades e facilidades em relação aos estudos e suas estratégias de
superação, tal como os modos de entrada no vestibular da UFSC. O terceiro grupo optou
por trabalhar pré-conceitos sobre o processo de ensino-aprendizagem, o significado do
desempenho acadêmico, o papel do professor e do aluno na graduação, da formação
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profissional através de músicas, dinâmicas e dramatizações. Foi sugerido aos alunos que,
durante a semana, fizessem uma pergunta para o professor em sala de aula e observando a
reação do professor, dos colegas e do próprio comportamento durante o processo, afim de
relatar no próximo encontro suas percepções.
O quarto grupo deu continuidade à atividade dos “quatro quadrantes” referente aos
aspectos “institucional”, “desempenho acadêmico” e “vocacional”, cujo objetivo foi
caracterizar e analisar conjuntamente as necessidades de cada participante em relação a
cada um desses aspectos. Na sequência foi realizada uma atividade de preenchimento de
um cronograma semanal de cada participante, onde indicaram os períodos dos dias e da
semana que se dedicam a cada tipo de atividade. Além do preenchimento, cada cronograma
foi discutido coletivamente e foram feitas observações em relação à distribuição do tempo
pouco favorável à melhora de seus desempenhos acadêmicos. Foi também avaliado em
grupo possíveis alterações na distribuição do tempo de cada um.
Terceiro encontro
O primeiro grupo objetivou identificar procedimento dos estudantes para listar
atividades que necessitam realizar. Foi discutido um modo de fracionar atividades
volumosas em pequenas atividades, passíveis de execução em tempo disponível para
realizá-las. Foi solicitado que os estudantes listassem as atividades relativas ao curso de
graduação que necessitavam realizar para a semana seguinte, utilizando o procedimento
explicitado durante a oficina, em folha fornecida pelas coordenadoras.
O segundo grupo teve como objetivo efetuar a organização dos estudos a partir da
construção de uma agenda semanal, conforme Soares (2002). Esta técnica constituiu na
organização de um calendário semanal de atividades e a inclusão de períodos de estudo.
Esse trabalho foi importante no sentido de desconstruir paradigmas em relação aos estudos.
O terceiro grupo trabalhou as vivências que os alunos trouxeram na semana anterior (sobre
a interação professor-aluno) e trabalhou a dinâmica dos cartões de aprendizagem (com a
colaboração da professora Joselma Frutuoso), na qual em duplas um aluno ensina e o outro
aprende.
No quarto grupo solicitou-se, em um primeiro momento, que os participantes
realizassem um inventário pessoal e circunstancial sobre os fenômenos inibidores
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(dificultadores) e os fenômenos deflagradores (facilitadores) do processo de estudar. Após,
os participantes compartilharam o que "obtiveram" individualmente, possibilitando espaço
de trocas de experiências. Na sequência, prosseguiu-se para a segunda atividade, referente
ao quadro de horários de estudo. Ao final do encontro as coordenadoras entregaram uma
lista com os fatores inibidores mais comuns do processo de estudar e estratégias para lidar
com eles.
Quarto encontro
O primeiro grupo teve como objetivo avaliar a eficácia do procedimento utilizado
para elaborar listas de atividades; identificar aspectos que constituem a “concentração”;
maximizar formas de “concentração” nos estudos e identificar comportamentos necessários
para ler textos acadêmicos com eficácia. Foi realizada uma exposição oral sobre as
facilidades e as dificuldades ao elaborar lista de atividades utilizando procedimento
explicitado na terceira oficina e solicitado que os estudantes lessem um texto durante a
semana utilizando o procedimento explicitado durante a oficina. Os estudantes receberam
uma folha contendo os “passos” que necessitam executar para “ler com eficácia”.
O segundo grupo optou por dividir os estudantes em duplas para discutir um caso
hipotético de aluno com dificuldades (um estudante com dificuldade de escrever seu projeto
de TCC; outro que havia reprovado em uma disciplina e estava com dificuldades
novamente; e um estudante com dificuldade de conciliar seu tempo de estudo e lazer). Foi
solicitado que eles elaborassem sugestões para cada caso. Os casos foram discutidos
posteriormente e foram passadas dicas específicas para cada situação baseadas em
bibliografia especializada. Espontaneamente os alunos solicitaram um debate sobre uso e
abuso de drogas. O debate iniciou no quarto encontro e teve seu término no quinto
encontro.
O terceiro grupo utilizou duas técnicas no quarto encontro: a dinâmica da agenda, na
qual é solicitado que os alunos destaquem com cores diferentes atividades referentes a
estudo, lazer, hábitos de alimentação, hábitos de sono, etc., debatendo sobre a experiência;
e a Técnica Pomodoro, explicada com o uso de Power point. O quarto grupo iniciou as
atividades examinando as alterações que os participantes realizaram em seus cronogramas
semanais e discutindo os avanços e dificuldades que enfrentaram para aplicá-los. Na
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sequência foi realizada uma discussão acerca de alguns procedimentos úteis à concentração
e compreensão de textos, como a definição prévia do objetivo de leitura e a formulação de
perguntas acerca de aspectos relacionados ao objetivo de leitura e às características do
texto. Foi realizada primeiramente uma discussão coletiva para que os participantes
indicassem os recursos que já utilizavam para aprimorar a leitura e, na seqüencia,
apresentados os procedimentos. Não houve tempo para aplicação da atividade prática, que
foi realizada no encontro seguinte. Por fim, realizou-se uma atividade relacionada a
estratégias de memorização, especificamente um jogo da memória das profissões.
Quinto encontro
O objetivo do primeiro grupo neste encontro foi aprofundar a discussão sobre
aspectos que constituem a “concentração” e identificar comportamentos necessários para
ler textos acadêmicos com eficácia. Foi realizada uma discussão entre os integrantes do
grupo e as coordenadoras sobre “concentração”, a partir de perguntas apresentadas pelas
coordenadoras. Ao final foram entregues fichas de avaliação das oficinas para os
participantes e as coordenadoras agradeceram a participação dos alunos nas oficinas. O
segundo grupo trabalhou alguns métodos de memorização e relaxamento e, também,
encerrou a discussão sobre uso e abuso de entorpecentes, trabalhou estereótipos e
preconceitos existentes com relação aos usuários. Também foram entregues fichas de
avaliação das oficinas.
Neste último encontro, o terceiro grupo trabalhou uma dinâmica de auto-
conhecimento visando identificar a predominância de canais sensoriais de aprendizagem
(auditiva, visual, cinestésica) e abordou a questão dos hábitos de leitura. Também foram
entregues fichas de avaliação das oficinas, juntamente com um “brinde afetivo”. O quarto
grupo finalizou as atividades de leitura orientada e de procedimentos de memorização por
meio de atividades práticas. A atividade de leitura foi realizada por meio de uma discussão
prévia relembrando o que fora discutido na semana anterior e, na sequência, foi solicitado
que os participantes, antes de lerem o texto, elaborassem objetivos de leitura e formulassem
perguntas orientadoras para atingi-los. Após a realização da atividade houve uma discussão
acerca das estratégias utilizadas por cada um e das contribuições dos procedimentos para o
aprimoramento da leitura. A atividade de memorização foi realizada por meio da
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apresentação de uma sequência de imagens e solicitação de nomeação das mesmas, após o
término da exposição. Foram discutidas também as estratégias de cada participante e, em
conjunto, identificadas estratégias eficazes. Ao final foram preenchidas as fichas de
avaliação e realizado seu compartilhamento coletivo, situação em que cada participante deu
sua opinião, bem como cada uma das psicólogas.
Fichas de avaliação das oficinas:
Após a realização dos cinco encontros de cada uma das oficinas, foi solicitado aos
participantes que preenchessem fichas de avaliação das atividades das quais haviam
participado para que seus dados sirvam ao aprimoramento das oficinas que serão oferecidas
nos próximos semestres. Os aspectos avaliados nas fichas de avaliação foram: a) Tempo de
duração de cada oficina; b) Quantidade de encontros; c) Conteúdo trabalhado; d) Recursos
utilizados; e) Desempenho das facilitadoras; f) Atendimento aos objetivos iniciais; g)
Aspectos positivos; e h) Aspectos negativos. Além da avaliação desses aspectos, foi
solicitado também que os participantes realizassem sugestões ao aprimoramento das
atividades.
Dos 38 inscritos nas oficinas, 23 participaram das atividades oferecidas, seis
participaram somente de dois encontros e oito não participaram. Dos 23 alunos que
frequentaram com assiduidade as oficinas, 17 responderam a ficha de avaliação. O tempo
de duração de cada oficina (aspecto a), que consistiu em duas horas, foi avaliado como
suficiente por 16 respondentes e insuficiente por um, cuja sugestão foi de acréscimo de
meia hora a cada encontro. A quantidade de cinco encontros (aspecto b) foi avaliada como
adequada/suficiente por nove respondentes, excessiva por um e insuficiente por sete.
Dentre os participantes que consideraram insuficiente ou excessiva a quantidade de
encontros, um sugeriu a diminuição para três encontros, quatro sugeriram a quantidade de
oito encontros, um participante sugeriu uma quantidade entre oito e dez encontros, uma
sugestão referiu-se à realização das oficinas durante um semestre inteiro e, ainda, houve
uma sugestão para que o número de encontros fosse definido conforme a melhora de
desempenho dos participantes.
As categorias de avaliação dos itens “conteúdo trabalhado” (aspecto c), “recursos
utilizados” (aspecto d) e “desempenho das facilitadoras” (aspecto e) foram “ótimo”, “bom”,
17
“regular” e “péssimo”. O conteúdo trabalhado nas oficinas foi considerado “ótimo” por
nove respondentes e “bom” por oito; os recursos utilizados foram avaliados como “ótimo”
por sete respondentes e “bom” por dez; e o desempenho das facilitadoras foi considerado
“ótimo” por 11 respondentes e “bom” por seis.
Para a avaliação do aspecto f, “Atendimento aos objetivos iniciais”, foi novamente
solicitado que os participantes explicitassem os motivos que os fizeram procurar as
oficinas. Dentre as respostas apresentadas, houve prevalência de referências à necessidade
de aprender a organizar melhor o processo de estudar (5) e o tempo dedicado a esse
processo (6), do mesmo modo que os dados obtidos nas fichas de inscrição para as oficinas.
As demais categorias e quantidades de indicações dessas categorias foram: necessidade de
aprender a se disciplinar (3); problemas de focalização da atenção (3); baixo desempenho
acadêmico (2); maximizar o seu rendimento (2); e incentivo à permanência no curso (1). 11
respondentes da avaliação das oficinas consideraram que seus objetivos iniciais foram
atendidos e seis consideraram que foram atingidos em parte.
As respostas apresentadas pelos participantes em relação aos “aspectos positivos”
(aspecto g) das atividades realizadas nas oficinas se referiram a cinco propriedades dessas
atividades ou dos produtos por elas gerados: “procedimentos utilizados pelas facilitadoras”;
“promoção de autoconhecimento”; “conforto durante a realização das atividades”; “técnicas
apresentadas”; e “trabalho em grupo”. Os aspectos dos “procedimentos utilizados pelas
facilitadoras” indicados como positivos foram: forma de organização do conteúdo (reflexão
dos aspectos pessoais e psicológicos, técnicas de estudo, organização do tempo e como
lidar com tais dificuldades); a apresentação tanto da prática quanto da teoria; forma de
abordagem voltada a demandas do grupo/reflexão (3); reflexão sobre os métodos praticados
e a possibilidade de melhorá-los; “dialogicidade”, horizontalidade e ausência de hierarquia;
simpatia das facilitadoras, fator que ajuda a compreender os conteúdos programados;
criatividade; e o fato de não terem sido atividades cansativas.
Os aspectos indicados pelos participantes como referentes à “promoção de
autoconhecimento” consistiram na consideração de que “forças e fraquezas” se tornaram
conhecidas pelos alunos por meio das atividades e de que a forma como alguns assuntos
foram abordados serviu ao desenvolvimento do autoconhecimento. Os aspectos positivos
relacionados ao “conforto durante a realização das atividades” foram: descontração da
18
oficina; clima; ambiente tranqüilo e acolhedor (limpo e arejado) (2). Em relação às
“técnicas apresentadas”, algumas foram salientadas como aspectos positivos das oficinas:
“técnica do Pomodoro” (2); diagnóstico do tempo (2); método de leitura/entendimento de
textos (2); dinâmicas de concentração; jogo de lógica; teste para identificar tipo de
memória; métodos de estudo; procedimentos para minimizar/administrar o tempo;
atividades de leitura de textos; atividades relacionadas à identificação da importância da
organização do tempo; e quebra de tarefas. De maneira mais genérica, foi também indicada
a realização de “dinâmicas/técnicas” (4) como um aspecto positivos das oficinas.
Por fim, a propriedade “trabalho em grupo”, indicada pelos participantes, foi
avaliada positivamente nas respostas que indicam suas vantagens: diálogo estimulante nos
encontros e no grupo (2); percepção de que outras pessoas passam por situações
semelhantes; participação dos alunos; realização de atividades em grupo; conhecimento da
experiência de outras pessoas.
As respostas apresentadas pelos participantes em relação aos “aspectos negativos”
(aspecto h) das atividades realizadas nas oficinas foram: realização de poucos encontros
(2); rapidez no tratamento dos temas em função do tempo; falta de tempo para a prática dos
conteúdos/conceitos/métodos de estudos; forma expositiva de tratar de alguns temas, fator
considerado prejudicial à atenção de todos os participantes; poucos métodos para estudar;
demora para a promoção de aprendizagens de técnicas de estudo; pequena quantidade de
exercícios práticos de resumos; baixa assiduidade dos participantes; e características dos
assentos disponíveis na sala (almofadas), considerados desconfortáveis à realização das
atividades em comparação com sofás ou cadeiras.
Como sugestões ao aprimoramento das oficinas para que os objetivos iniciais dos
participantes sejam contemplados com maior eficácia, foram apresentadas: realização de
mais encontros (4); apresentação de maior quantidade de procedimentos de estudo e leitura
(2); combinação de atendimentos individuais com atendimentos grupais (2); divulgação aos
participantes de algumas características em relação aos assuntos abordados; continuação do
processo reflexivo por meio da realização de mais encontros; recomendações de mais dicas
de leitura, vídeos e palestras sobre técnicas de estudo, concentração e gestão do tempo,
talvez em formato de lista com sugestões/bibliografia (2); disponibilidade de mais horários
para a participação das oficinas, inclusive noturno; aprofundamento maior aos conteúdos
19
apresentados; proposição de uma estrutura de oficinas conforme número de encontros e
necessidades (Ex: I introdução; II conceitos, técnicas e métodos de estudo; III
sistematização - exercícios e práticas dos conteúdos; IV socialização - espaço para
trocas/interatividade); realização de mais exercícios práticos; apresentação de mais relações
entre os novos métodos e experiências do dia a dia; e estabelecimento de metas para cada
um dos integrantes no encontro de encerramento das atividades, seguido de um reencontro
após um mês para verificação do sucesso de cada um no cumprimento de suas metas e de
alguns encontros subsequentes para avaliação e aprimoramento da aplicação realizada por
cada participante.
Além das sugestões indicadas nas fichas no espaço a elas reservado, houve a
indicação de outras propostas na seção referente ao atendimento ou não dos objetivos
iniciais dos participantes. Foram elas: discussões dos temas “mapas mentais”,
“memorização”, “inteligência” e “capacidade de raciocínio” durante os encontros;
apresentação de mais exemplos de métodos de estudos; desenvolvimento mais direto de
métodos de estudo; maior frequência de exercícios práticos, especialmente de métodos de
estudo e memorização; exame e feedbacks da organização do tempo dos participantes.
1.3. Devolutiva aos coordenadores e bolsistas Reuni entrevistados no semestre 2011.1
Esta atividade se caracterizou como uma atividade complementar a das oficinas no
sentido de efetuar a articulação entre os coordenadores de curso, os cursos de graduação, os
serviços da Universidade de atendimento aos estudantes, com o projeto desenvolvido pelos
Bolsistas Reuni da Psicologia.
Aos bolsistas Reuni entrevistados durante o semestre 2011.1, a devolutiva dos
resultados obtidos foi feita por meio de e-mails individuais. Já com os coordenadores, os
bolsistas Reuni da Psicologia que os entrevistaram no semestre de 2011.1, realizaram um
contato primário por meio de emails. Os procedimentos para entregar o relatório e
apresentar a análise dos dados obtidos em 2011.1 variam para cada coordenador de curso.
Em alguns casos não foi possível o encontro entre bolsista Reuni da psicologia e o
coordenador e os relatórios foram deixados no escaninho de cada coordenador. Em dois
casos o relatório foi entregue pessoalmente aos coordenadores dos cursos de graduação de
20
Física e de Engenharia de Produção e Sistemas. Houve casos em que os relatórios foram
enviados por e-mail ao coordenador. Vale ressaltar a importância dessa devolutiva e dessa
articulação entre bolsistas Reuni de diferentes cursos de pós-graduação e coordenadores de
curso para a ampliação do projeto e para avaliação do mesmo.
1.4. Revisão de materiais bibliográficos para utilização nas Oficinas de Organização e
Métodos de Estudo
Foi feita a busca e a seleção de fontes de informação para orientar o planejamento e
o desenvolvimento das oficinas de organização e métodos de estudo pelos bolsistas REUNI
responsáveis pela sua coordenação. A partir do objetivo das oficinas de aprimorar o
repertório de estudo dos graduandos da UFSC e da identificação de necessidades variadas
dos alunos nelas inscritos em relação ao aperfeiçoamento desse repertório foram
selecionadas fontes de informação referentes, de modo geral, a: 1) planejamento da
realização das atividades de estudo, que envolve listar atividades de estudo e outros tipos de
atividades a serem feitas, estabelecer prioridades a partir de avaliação da utilidade e da
urgência de cada atividade, estabelecer horário e duração para a realização de cada
atividade, etc.; 2) características do ambiente de estudo que facilitam o “estudar” com boa
qualidade, como boa iluminação, boa ventilação, ausência de ruídos excessivos e realização
do estudo em cadeiras e mesas em vez de em camas ou sofás; e 3) métodos ou
procedimentos de estudo que aumentam a probabilidade de que esse seja de boa qualidade,
que diz respeito à identificação do objetivo de estudar algo, à realização de esquemas e
resumos durante o estudo e ao modo de elaborá-los, a condições ou características de
leitura facilitadoras do destaque de informações relevantes de textos e do entendimento
daquilo que é estudado, à realização de intervalos durante o estudo, etc.
Os textos selecionados como fontes de informação e disponibilizados para os
bolsistas coordenadores das oficinas de organização e métodos de estudo foram:
1. Santos, W. D. R. dos (2003). Capítulo 8: Tempo de estudo. Tudo o que você precisa
saber sobre como passar em provas e concursos e nunca teve a quem perguntar. 13 ed. Rio de Janeiro: Impetus.
21
2. Santos, W. D. R. dos (2003). Capítulo 9: Como montar seu quadro horário. Tudo o que
você precisa saber sobre como passar em provas e concursos e nunca teve a quem
perguntar. 13 ed. Rio de Janeiro: Impetus.
3. Santos, W. D. R. dos (2003). Capítulo 10: Técnicas de estudo. Tudo o que você precisa
saber sobre como passar em provas e concursos e nunca teve a quem perguntar. 13 ed. Rio de Janeiro: Impetus.
4. Santos, W. D. R. dos (2003). Capítulo 12: Ambiente de estudo e alimentação. Tudo o
que você precisa saber sobre como passar em provas e concursos e nunca teve a quem
perguntar. 13 ed. Rio de Janeiro: Impetus.
5. Santos, W. D. R. dos (2003). Capítulo 19: Leitura otimizada. Tudo o que você precisa
saber sobre como passar em provas e concursos e nunca teve a quem perguntar. 13 ed. Rio de Janeiro: Impetus.
6. Botomé, S. P. (1979). Questões de estudo: uma condição para instalar discriminação de aspectos importantes de um texto. Revista Psicologia. São Paulo: Copy Service Reproduções Gráficas SC Ltda.
7. Cantalice, L. M. de. Ensino de estratégias de leitura. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) [online]. 2004, vol.8, n.1, pp. 105-106. ISSN 1413-8557. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-85572004000100014.
8. Soubhia, Z.; Ruffino, M. C. Estratégias de estudo. Semina: Ci. Biol./ Saúde, Londrina, v. 13(2): pp. 123-128, jun. 1992.
9. Neves, H. G.; Mascarenhas, S. A. do N.; Fernandes, F. S. Avaliação do planejamento de estudos de universitários da UFAM e UEA (Humaitá-AM/Brasil). Actas do X
Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009. ISBN- 978-972-8746-71-1. http://www.educacion.udc.es/grupos/gipdae/congreso/Xcongreso/pdfs/t9/t9c304.pdf
22
1.5. Caracterização de atividades de acolhimento aos calouros realizadas na UFSC
Outra atividade realizada pelos Bolsistas REUNI do Programa de Pós-graduação em
Psicologia consistiu em caracterizar atividades de acolhimento aos calouros realizadas por
diferentes instâncias da UFSC. Fazer o levantamento das atividades de acolhimento aos
calouros justifica-se como de grande importância ao Projeto dos bolsistas Reuni do
Programa de Pós-graduação em Psicologia estão realizando, tendo em vista que o principal
objetivo além de mapear as dificuldades no processo de ensino aprendizagem, é diminuir os
índices de evasão e reprovação. Nesse sentido, as atividades de acolhimento constituem
uma atividade na trajetória acadêmica, uma vez que elas tendem a contribuir para diminuir
o impacto de diferentes tipos de problemas na formação dos estudantes universitários,
auxiliando-os a utilizar diferentes estratégias de enfrentamento.
A caracterização das atividades de acolhimento aos calouros envolveu a construção
de uma revisão bibliográfica a respeito do processo de “adaptação e integração de
estudantes universitários” e das implicações desse processo na vida acadêmica e social dos
estudantes. A adaptação dos estudantes ao Ensino Superior e à vida universitária constitui
um dos objetivos das atividades de acolhimento aos calouros. A revisão de literatura a
respeito de processo teve o objetivo de avaliar as implicações dessas atividades na vida do
estudante universitário.
Responsabilidade institucional das organizações universitárias nos processos de adaptação e integração de estudantes universitários ao ensino superior
O ingresso no Ensino Superior tende a produzir múltiplas mudanças na vida dos
estudantes universitários, que nem sempre têm condições para comportarem-se de acordo
com as exigências apresentadas no novo contexto no qual se inseriram, tampouco
condições para desenvolvê-las. Tais mudanças envolvem aspectos acadêmicos, sociais,
institucionais, entre outros. O desenvolvimento de tais comportamentos, processo
costumeiramente denominado “adaptação” ou “integração ao Ensino Superior”, aumenta a
probabilidade dos estudantes universitários terem sucesso acadêmico e diminui o risco de
reprovações e evasão escolar. Mas, será que a adaptação ao ensino superior deve depender
23
apenas das condições que os estudantes universitários têm para aprender a apresentarem os
comportamentos necessários para lidar com as exigências do contexto no qual estão se
inserindo? Ou a própria organização na qual os estudantes se inserem, a universidade, tem
alguma parcela de responsabilidade no processo de adaptação do estudante universitário no
Ensino Superior?
Em literatura a respeito desse processo de adaptação, é enfatizada a necessidade das
organizações universitárias programarem atividades que aumentem a adaptação do
estudante a esse contexto. Tais atividades têm sido realizadas? E quais suas características?
Parte das atividades realizadas como meio para aumentar a adaptação do estudante
universitário ao Ensino superior consiste nas “atividades de acolhimento ao calouro”. A
partir disso, foi objetivo responder à pergunta: quais as características de atividades de
acolhimento ao calouro realizadas em uma universidade pública de um estado do sul do
Brasil?. Caracterizar tais atividades é um meio para proposição de um acolhimento
institucional a estudantes universitários.
O ingresso dos estudantes no Ensino Superior é acompanhado de muitas mudanças,
decorrentes de múltiplos aspectos, desde as diferenças entre o que é esperado do estudante
no ensino de nível médio e no ensino de nível superior, até mudanças relacionadas à fase de
vida na qual os estudantes se encontram. Em pesquisa realizada com o objetivo de
caracterizar o processo de “adaptação em jovens calouros”, Teixeira, Dias, Wottrich e
Oliveira (2008) entrevistaram 14 estudantes de diferentes cursos, com idades entre 18 e 22.
Os autores identificaram quatro categorias de aspectos a que os estudantes faziam
referência ao descrever seu processo de adaptação ao ensino superior: “saindo de casa”,
“ingressando na vida acadêmica”, “percebendo mudanças em si mesmo” e “adaptando-se
ao curso”. Tais aspectos indicam a multiplicidade de aspectos que envolvem o processo de
adaptação ao Ensino Superior. Essa multiplicidade é também destacada por Cunha e
Carrilho (2005), ao relatarem que “as dificuldades ao contexto universitário são de diversas
naturezas passando tanto pelas questões individuais dos alunos como também pelas novas
exigências acadêmicas e o novo ambiente, influenciando o desempenho e o
desenvolvimento psicossocial dos estudantes” (p. 217).
24
Em relação às mudanças relacionadas a nível pessoal, a saída de casa (processo que
ocorre com grande parte dos estudantes universitários) é considerada um processo
importante e impactante segundo os estudantes universitários entrevistados por Teixeira el
al. (2008). Segundo tais estudantes, sair de casa é considerado algo difícil, visto que a partir
desse momento eles estarão mais sozinhos que quando moravam com seus pais. Mas, tal
processo é também visto como algo que produz benefícios, uma vez que sair da casa dos
pais tende a aumentar a responsabilidade e o “senso de cuidar de si mesmo”. Teixeira et al.
(2008) também relatam que os estudantes universitários, ao saírem da casa de seus pais,
tendem a avaliar suas famílias de forma mais positiva, atribuindo maior importância às
ações de sua família do que antes de ingressarem na universidade. Os autores também
destacam outras implicações do processo de sair de casa, tais como tornar-se independente
dos pais, assumir tarefas cotidianas, arcar com as conseqüências dos próprios atos,
desenvolvimento de relacionamentos interpessoais, diminuição da timidez e
desenvolvimento do juízo crítico e de atitudes mais autônomas (Teixeira et al., 2008).
Na universidade, é menor o monitoramento e o interesse pela instituição em relação
ao estudante do que no ensino médio. Disso decorre, conforme Teixeira et al. (2008), um
aumento na expectativa relativa à autonomia apresentada pelo estudante em relação aos
seus estudos, à administração de seu tempo e em relação às decisões do estudantes acerca
de seu futuro profissional. Entre as mudanças que tendem a ocorrer no estudante
universitário ao ingressar no Ensino Superior em relação ao seu futuro profissional,
Teixeira et al. (2008) indicam que os jovens têm clareza de que suas ações no contexto
universitário tem implicações em seu futuro profissional, ainda que tal clareza varie muito
entre os estudantes. Os autores destacam também a necessidade dos estudantes
universitários aprenderem a lidar com frustrações em relação ao curso, tanto em relação às
disciplinas que o constitui, quanto ao seu próprio desempenho, indicando a probabilidade
de desamparo e evasão de curso caso tais frustrações não sejam devidamente superadas.
Os processos pelos quais o estudante universitário precisam apresentar, tais como
administrar seu tempo, estabelecer metas e estratégias para estudo e tomar decisões a
respeito de seu futuro profissional, entretanto, nem sempre são desenvolvidas. Tanto o
desenvolvimento de comportamentos que viabilizem ao estudante universitário comportar-
se de acordo com as características do novo ambiente no qual ele se insere, quanto o não-
25
desenvolvimento de tais comportamentos é multideterminado, envolvendo aspectos
pessoais, institucionais e externos à universidade (Feitosa, 2001; Cunha & Carrilho, 2005;
Bardagi, 2007; Teixeira et al., 2008; Carmo & Polydoro, 2010). Uma vez que o
desenvolvimento de tais comportamentos não é algo natural, é evidenciada a necessidade
de atividades institucionais que aumentem a adaptação do estudante universitário ao Ensino
Superior. Principalmente no primeiro ano de vida acadêmica, apontado por vários autores
como o período crítico de adaptação dos estudantes universitários ao Ensino Superior. Em
relação a esse período, Teixeira et al. (2008), por exemplo, destacam que os vínculos
afetivos parecem o aspecto mais importante da adaptação no primeiro ano após o ingresso
no Ensino Superior. Após, as responsabilidades acadêmicas vão adquirindo importância
gradualmente maior. Cunha e Carrilho (2005), por sua vez, também enfatizam o primeiro
ano do estudante universitário, indicando que é esse o período em que ocorre o processo de
“adaptação ao contexto universitário”, sob o risco de serem produzidas dificuldades
acadêmicas e pessoais, dificuldades relativas à decisões acerca da profissão e evasão
escolar, caso tal adaptação não aconteça.
Diversas variáveis interferem no processo de adaptação do estudante universitário
ao Ensino Superior. Algumas dessas variáveis aumentam a probabilidade do estudante
aprender a comportar-se de acordo com as exigências desse contexto. Outras variáveis,
obviamente, tendem a prejudicar o desenvolvimento desses comportamentos. Teixeira et al.
(2008) destacam que entre as variáveis que interferem no sucesso do processo de adaptação
do estudante universitário ao Ensino Superior, há variáveis que não são diretamente
relacionadas ao contexto acadêmico. Segundo os autores, as relações do estudante
universitário com seus pais, por exemplo, interferem na adaptação deles com a
universidade. Outras variáveis não diretamente relacionadas ao contexto acadêmico
consistem na situação financeira do estudante e em suas condições de moradia (Feitosa,
2001). Entre as variáveis diretamente relacionadas ao contexto acadêmico, Teixeira et al.
(2008) destacam a ausência de orientação acerca dos processos burocráticos universitários e
a própria mudança do grau de familiaridade com o ambiente (de um ambiente conhecido, a
escola, para um ambiente desconhecido, a universidade), que tendem a ser percebidos pelos
estudantes como “obstáculos” à sua adaptação.
26
Os vínculos afetivos com os colegas, as relações com os professores, a realização de
atividades extra-classes, o desenvolvimento de estratégias para lidar com frustrações são
outras variáveis que interferem no processo de adaptação do estudante universitário ao
Ensino Superior (Teixeira et al., 2008). Os autores consideram os vínculos afetivos como
essenciais para a adaptação. Acerca da relação com os professores, os autores destacam que
essa variável interfere na adaptação do estudante universitário ao Ensino Superior por meio
dos “planos” acadêmico e pessoal. O desempenho do professor em sala de aula constitui
uma das variáveis relacionadas à relação do estudante com o professor no plano acadêmico.
O interesse que os professores apresentam a respeito do desempenho do aluno, por sua vez,
corresponde a uma variável relativa à relação dos estudantes com os professores que
interferem no “plano” pessoal. Teixeira et al. (2008) enfatizam também que atividades
extra-classe também constituem aspectos relacionados à adaptação do estudante à
universidade, uma vez que a partir dessas atividades o estudante conhece outras realidades
(além da universitária) e aumenta o engajamento dos estudantes à vida acadêmica”.
Características dos comportamentos do estudante universitário também constituem
variáveis que interferem em sua adaptação ao Ensino Superior. Cunha e Carrilho (2005),
por exemplo, destacam que a qualidade dessa adaptação depende do repertório pessoal do
estudante e de características institucionais. Eles também destacam que o sucesso
acadêmico é relacionado tanto ao rendimento acadêmico quando ao desenvolvimento de
processos como estabelecer e manter relações sociais, construção de identidade e tomar
decisões acerca da carreira. As características dos comportamentos que os estudantes
universitários são capazes de apresentar também é uma variável indicada por Teixeira et al.
(2008) no processo de adaptação do estudante universitário ao Ensino Superior, ao
destacarem que, enquanto novos vínculos não são formados entre o universitário e a
universidade, o universitário tende a contar “apenas com seus próprios recursos
psicológicos e o apoio das redes formadas anteriormente ao ingresso na universidade
(outros amigos e família) para enfrentar eventuais dificuldades que possam surgir pela
frente” (Teixeira et al., 2008, p. 186).
Feitosa (2001), ao investigar variáveis que facilitam e dificultam o processo de
adaptação de estudantes universitários à vida universitária, revela a interferência de
variáveis “pessoais”, internas à universidade e externas a ela. Entre as variáveis pessoais, a
27
autora destaca a necessidade dos universitários manejarem instrumentos para sua vivência
acadêmica, atitude de iniciativa e responsabilidade com seus estudos. Em menor grau, a
autora também identificou a necessidade dos estudantes apresentarem certa habilidade
social, para lidarem com seus pares e professores. Teixeira et al. (2008) também fazem
referência às variáveis pessoais ao examinarem que o ingresso na universidade tende a
provocar desamparo, devido à necessidade do aluno lidar por conta própria com grande
volume de exigências, acadêmicas e administrativas, em relação às quais, às vezes, ele não
possui as informações necessárias. O vínculo dos estudantes com seus colegas constitui
outra variável determinante do processo de adaptação à universidade, facilitando tal
processo ao viabilizar o compartilhamento de expectativas, interesses e problemas; ou
dificultando-o, uma vez que a ausência de relações sociais entre os estudantes tende a
frustrar as expectativas deles em relação às mudanças na vida social após o ingresso na
universidade (Teixeira et al., 2008). Apesar de constituir um facilitador para o processo de
adaptação do estudante universitário ao Ensino Superior, o vínculo com colegas tende a não
constituir um apoio eficaz em momentos de dificuldades acadêmicas ou profissionais
(Bardagi, 2007).
Entre as variáveis internas à universidade que interferem no processo de adaptação
dos estudantes universitários ao Ensino Superior, Feitosa (2001) identifica o compromisso
da instituição com o processo de integração, o interesse e o envolvimento dos professores e
a influência de outros estudantes. A respeito do papel dos professores nesse processo,
Teixeira et al. (2008) indicam que o interesse dos professores em relação à aprendizagem
dos alunos parece funcionar como estímulo à adesão do estudante ao curso, enquanto o
desinteresse desestimula o engajamento dos calouros. Os autores também se referem ao
trote como uma experiência que aumenta o entrosamento dos estudantes universitários
recém-ingressos com outros estudantes, mais experientes, sem examinar suficientemente as
características a serem apresentadas por essa atividade. Segundo os autores, os “veteranos”
tendem a apresentar aos “calouros” diversas informações a respeito de professores e normas
da instituição. Os autores também enfatizam o acesso dos estudantes a informações
relativas à vida acadêmica, tais como informações relativas a “obtenção de documentos,
procedimentos de matrícula, uso de bibliotecas, restaurante universitário, localização das
28
unidades e serviços, normas da instituição” (Teixeira et al., 2008, p. 198), como uma
variável facilitadora desse processo.
Carmo e Polydoro (2010) realizaram pesquisa a respeito do processo de adaptação
de estudantes de um curso de graduação em Pedagogia ao Ensino Superior. Foram sujeitos
dessa pesquisa 68 estudantes ingressantes e concluintes de um Curso de graduação em
Pedagogia de uma universidade de São Paulo. Os estudantes responderam ao QVA (o
Questionário de Vivências Acadêmicas), uma escala com 170 itens do tipo likert a respeito
de variáveis pessoais, interpessoais, acadêmicas e institucionais do processo de adaptação
ao Ensino Superior. Os resultados do estudo possibilitaram revelar que os aspectos em
relação aos quais os ingressantes apresentaram maior dificuldade eram relacionados ao
bem-estar físico, bem-estar psicológico, envolvimento em atividades extracurriculares,
relacionamento com professores, gestão de recursos econômicos e ansiedade na avaliação
(Carmo & Polydoro, 2010). Cunha e Carrilho (2005) realizaram estudo a respeito do
processo de adaptação ao Ensino Superior com 100 alunos do primeiro ano do curso de
engenharia militar e, assim como Carmo e Polydoro (2010), também utilizaram o QVA
como instrumento de coleta de dados. Os aspectos em relação aos quais os estudantes
estavam mais adaptados consistia no relacionamento com colegas, adaptação ao curso e
desenvolvimento de Carreira. Já as bases de conhecimento para o curso e gestão do Tempo
consistiam nos aspectos em relação aos quais os estudantes apresentavam maiores
dificuldades (Cunha & Carrilho, 2005).
Quais as implicações do processo de adaptação dos estudantes universitários ao
Ensino Superior, para si e para a universidade na qual eles se inserem? Quais processos
tendem a ocorrer quando o estudante universitário se adapta a tal contexto? E quando isso
não acontece? Conforme Teixeira et al. (2008), integrar-se ao contexto de ensino superior
aumenta a probabilidade dos estudantes universitários aproveitarem as oportunidades
oferecidas pela universidade e a probabilidade de crescimento intelectual e profissional,
pelo menos em maior grau do que os alunos que apresentam mais dificuldades nessa
transição. Cunha e Carrilho (2005), por sua vez, destacam a influência das experiências
pessoais e acadêmicas do primeiro ano de curso superior no rendimento acadêmico dos
alunos. Além disso, há relação entre a vivência dos estudantes universitário e as decisões
29
que eles tomam a respeito de sua vida profissional (Carmo & Polydoro, 2010). O
estabelecimento de vínculos entre os estudantes facilita a adaptação, viabilizando o
compartilhamento de expectativas, interesses e problemas. A ausência de vínculos com
colegas, por sua vez, tende a frustrar o estudante universitário em relação às prováveis
mudanças em sua vida social após o ingresso no Ensino Superior (Teixeira et al., 2008).
O desempenho dos professores produz implicações no processo de adaptação do
estudante universitário no Ensino Superior. Quando o desempenho dos professores é
avaliado positivamente, é aumentada a probabilidade dos estudantes gostarem e
permanecerem no curso de graduação e engajarem-se nas atividades constituintes do curso.
Por outro lado, quando o desempenho dos professores é avaliado negativamente, tais
probabilidades são diminuídas (Teixeira et al., 2008). Os autores também destacam que
professores interessados na aprendizagem dos alunos favorecem a adesão dos alunos ao
curso, enquanto professores desinteressados na aprendizagem dos alunos desestimulam o
engajamento dos calouros. Outras implicações da adaptação ao Ensino Superior é
decorrente de atividades extra-curriculares, uma vez que a partir dessas atividades o
estudante conhece outras realidades além da universitária. (Teixeira et al., 2008). Carmo e
Polydoro (2010), por sua vez, enfatizavam que as experiências do primeiro ano após o
ingresso no contexto universitário são determinantes para o sucesso e a satisfação
acadêmica. Eles destacam que a falta de compromisso com o curso ou a carreira, o baixo
desempenho acadêmico aumenta a probabilidade de reprovação e até mesmo a evasão do
curso de graduação.
Entre as implicações negativas da falta de adaptação de estudantes universitários ao
Ensino Superior, há o provável desamparo, devido à necessidade do aluno lidar por conta
própria com grande volume de exigências, acadêmicas e administrativas, em relação às
quais, às vezes, o universitário não possui as informações necessárias (Teixeira et al.,
2008). As dificuldades e frustrações iniciais com o curso de graduação, com disciplinas que
o constitui e dificuldade para superar as exigências tende a produzir sentimentos de
decepção e pensamentos de evasão do curso de graduação, ainda que tais frustrações sejam
percebidas, por certos estudantes, simplesmente como desafios a serem superados (Teixeira
et al., 2008). Além disso, as exigências da universidade aos estudantes, sejam elas
burocráticas ou acadêmicas tendem a ser percebidas como muito bruscas, aumentando o
30
desamparo dos estudantes, o que revela o despreparo dos calouros para lidar com as
demandas e exigências (Teixeira et al., 2008). A alta percentagem de alunos que se evadem
dos cursos de graduação é outro problema (grave!) produzido, em certas ocasiões, por
desadaptação ao Curso de graduação e ao Ensino Superior (Carmo & Polydoro, 2010).
Como evitar as implicações negativas de processos como as dificuldades que os
estudantes universitários tem ao lidar com as mudanças produzidas a partir do ingresso no
Ensino Superior? Será suficiente deixar os alunos aprenderem a lidar com tais mudanças?
Ou a organização universitária tem responsabilidades em relação a esse processo? Ao
ingressar na universidade, é necessário que o estudante desenvolva diversos
comportamentos que viabilizem a ele lidar com as características desse novo contexto no
qual se insere. Tais comportamentos envolvem as responsabilidades de, em alguns casos,
morar sem os pais, organizar seu tempo e seus estudos, tomar decisões a respeito de seu
futuro profissional, administrar sua vida acadêmica, arcar com responsabilidades, superar
exigências acadêmicas, entre outros. Dependendo de seu histórico de vida, é provável que o
desenvolvimento de tais comportamentos não seja uma dificuldade para parte dos
estudantes universitários. Mas, e se tais comportamentos não forem desenvolvidos
“naturalmente”? Em literatura, é enfatizada a responsabilidade institucional que as
organizações universitárias têm em relação a condições que maximizem o desenvolvimento
desses comportamentos, que constituem o que é denominado “adaptação” ou “integração”
ao Ensino Superior.
Cunha e Carrilho (2005), por exemplo, destacam que cabe à universidade programar
ações que objetivem o desenvolvimento integral do estudante universitário e seu sucesso
acadêmico, entendendo que tal sucesso está relacionado tanto ao rendimento acadêmico
quanto ao desenvolvimento de processos como estabelecer e manter relações sociais,
construção de identidades e tomar decisões acerca da carreira. Os autores citam programas
de intervenção psicopedagógicas como exemplos de ações que aumentam a adaptação do
estudante universitário ao Ensino Superior e a probabilidade de sucesso acadêmico e
minimizam o impacto educacional da universidade nos estudantes. Teixeira et al. (2008)
também fazem referência à necessidade institucional das universidades na realização de
atividades que objetivem a adaptação do estudante universitário ao Ensino Superior, ao
indicarem que os resultados de sua pesquisa evidenciam “a importância que um contexto
31
acadêmico bem estruturado em termos de informação e apoio tem para uma boa adaptação
no início do curso” (p. 197). Os autores enfatizam a necessidade de na organização
universitária serem oferecidos “serviços especializados que possam dar atenção àqueles
estudantes que venham a se deparar com maiores dificuldades de adaptação, seja por
estarem longe da família, por não se sentirem eficazes para fazer amigos, por não
conseguirem se organizar para dar conta das exigências acadêmicas ou mesmo por
apresentarem outros problemas pessoais que possam interferir no seu funcionamento
cotidiano.” (Teixeira et al., 2008, p. 199)
A adaptação de estudantes universitários ao Ensino Superior envolve o
desenvolvimento de diversos comportamentos que viabilizam ao estudante lidar com as
características do novo contexto no qual ele se insere. Entretanto, por diversos motivos, o
desenvolvimento de tais comportamentos nem sempre acontece, diminuindo a
probabilidade dos estudantes terem sucesso acadêmico e profissional e aumentando a
probabilidade de reprovações e evasão escolar. A partir disso, é evidenciada a necessidade
de serem programadas, pelas organizações universitárias, ações que garantam a adaptação
dos estudantes universitários ao Ensino Superior, capacitando-os a lidar de maneira
produtiva e significativa com as características desse contexto. As “atividades de
acolhimento ao calouro” constituem uma das atividades a serem realizadas para produção
desses objetivos. Em uma universidade pública de um dos estados do Sul do Brasil, quais
são as características das “atividades de acolhimento aos calouros”?
Características de atividades de acolhimento aos calouros realizadas na UFSC
A caracterização das atividades de acolhimento considerou o contato com os
representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Centros Acadêmicos (CAs),
psicólogas da PRAE e PREG e o Programa de Ações Afirmativas. Os contatos foram
realizados presencialmente e por telefone. Em ambos os casos, foi utilizado como
instrumento de busca de informações um roteiro de perguntas semi-estruturado (Apêndice
A). De modo geral, as questões buscaram conhecer quem são os diferentes atores que
desenvolvem as atividades, as características das atividades (recursos, metodologia, tipos),
os objetivos de seu desenvolvimento, os meios de divulgação, a avaliação (potencialidades
e dificuldades encontradas) e sugestão de melhorias para o processo.
32
De acordo com as psicólogas da PRAE uma das primeiras atividades de
acolhimento se dá no ato da matrícula dos calouros, quando são entregues panfletos com
informações relacionadas a diversos tipos de serviços prestados pelas diferentes instâncias
da UFSC. Embora tenha intenção de aproximar os calouros do âmbito universitário,
avaliam que esta atividade tem o caráter mais informativo.
Nesse mesmo sentido a recepção aos calouros desenvolvida pela Reitoria é avaliada
pelos diferentes entrevistados como “distante” dos alunos. Esta atividade consiste em
palestras realizadas por diferentes pessoas, entre elas o Reitor da UFSC e alguns Pró-
reitores, aproximando-se mais de uma apresentação da UFSC e não exatamente de uma
atividade de acolhimento. Alguns representantes de CAs avaliam que estas atividades além
de se restringirem apenas ao caráter informativo, buscam mostrar somente os aspectos
positivos da Universidade.
Buscando pensar a Universidade de uma forma mais crítica, alguns CAs promovem
atividades que em seu conteúdo e metodologia proporcionam aos acadêmicos maior
integração e participação. Muitos incluem a apresentação do CA e DCE, tendo como
objetivo inserir o acadêmico no movimento estudantil, destacando sua importância para o
contexto da Universidade.
O DCE desenvolve atividades de acolhimento aos calouros na primeira semana de
inserção do aluno na Universidade. De modo geral, essas atividades são realizadas em
parceria com os CAs, incluindo diferentes recursos, metodologias e conteúdos, levando em
consideração as especificidades de cada curso envolvido. Todas as atividades são
planejadas e organizadas de modo a não se aproximarem do “trote sujo”, o qual já esteve
muito presente nas atividades de recepção aos calouros. O convite para participação nas
atividades de acolhimento é feito, geralmente, por meio das listas de emails, visita a sala de
aula e distribuição de cartazes nos corredores.
Algumas atividades de acolhimento são desenvolvidas a partir do Projeto CASA
(Centro Acadêmico da Saúde). Este Projeto é construído coletivamente por alguns CAs do
Centro da Saúde, e mais recentemente com os CAs do Curso de Serviço Social, Pedagogia
e Psicologia. Nem todos os CAs do Centro estão ativos, sendo que para a realização do
Projeto nestes Cursos, o Projeto passa por aprovação junto ao Conselho de Centro.
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Nesse Projeto, as atividades de acolhimento são pensadas a partir de questões que
atravessam o cotidiano Universitário, tais como: a reforma curricular, estrutura da
Universidade, movimentos sociais. As discussões giram em torno de conceitos que se
aproximam do currículo dos Cursos envolvidos, por exemplo: território, comunidade,
alimentação, processos de saúde/doença, políticas públicas. A metodologia adotada inclui a
discussão em pequenos grupos, a partir de estudos de caso. Posteriormente, são feitas
vivências e, no último encontro, que é coletivo, são socializadas os principais pontos
oriundos dos processos anteriores. As atividades do Projeto CASA são desenvolvidas na
quarta-feira, sendo que os demais CAs ligados ao CCS desenvolvem em um dos demais
dias uteis da semana.
No curso de graduação em Pedagogia as principais atividades de acolhimento aos
calouros destacadas foram: Rodas de Apresentação, Gincana e Sarau. Em relação à
primeira atividade, como o próprio nome anuncia, a dinâmica é feita em roda. Nela, cada
aluno se apresenta, dizendo seu nome, a cidade de onde veio e características do seu perfil.
O Sarau é desenvolvido no período noturno, nas dependências do Colégio aplicação. Seu
planejamento envolve professores e alunos veteranos. A atividade é desenvolvida a partir
da música, tendo como principal objetivo a integração. A Gincana é realizada de forma bem
descontraída e lúdica, a partir do uso de dinâmicas de grupo. Uma das atividades realizadas
é a pintura do rosto.
No curso de Psicologia as atividades acontecem durante uma semana, período
denominado “Semana do Calouro”. Nesse período são desenvolvidas várias oficinas que
tem como objetivo a apresentação e a socialização entre os acadêmicos e também a
inserção no contexto da Universidade. Dentre as atividades foram destacadas: Oficina de
Reich, Biodança, churrasco da amizade (realizado no bosque), Psiquinique e Hora Feliz.
Segundo a representante do CA, estas são desenvolvidas de modo lúdico, a partir da
música, dança, rodas de conversa etc. Além destas, que tem como foco a integração, são
desenvolvidas atividades de caráter mais informativo. Uma das atividades que tem este
intuito é a Gincana, sendo que as várias ações previstas envolvem pistas deixadas no
Campus, possibilitando ao acadêmico maior contato e conhecimento da estrutura física da
Universidade. Uma das atividades volta-se a ações beneficentes, de caráter social. Por meio
desta, é feita a doação de sangue, o qual é destinado ao Hospital Universitário.
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O CA de Psicologia também desenvolve atividades conjuntas com outros CAs da
Saúde, por meio do Projeto CASA, já descrito anteriormente. As atividades também se
estendem para fora do Campus da Universidade. Como exemplo, é realizada visita ao
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e contato com o coral da Instituição, o qual é
constituído por usuários do local.
As atividades de acolhimento realizadas pelo CA do Curso de graduação em
Arquitetura são desenvolvidas em parceria a outros cinco CAs, os quais envolvem os cursos
de Geografia, Serviço Social, Educação Física, História e Pedagogia. Tal atividade é
denominada de “Semana integrada aos calouros – UFSC mostra a tua cara”. Durante este
período, são desenvolvidas várias atividades de acolhimento aos calouros. Entre elas, a
“Gincana de reconhecimento crítico da UFSC”, mesas de debates e festa integrada.
Fazendo referência às duas primeiras, o representante destaca que existe uma preocupação
em desenvolver as atividades que mostrem a Universidade de forma crítica, objetivando
evitar a “propaganda” como entende que acontece nas atividades desenvolvidas pela
Reitoria já destacadas no início desta seção. A festa integrada representa simbolicamente a
finalização da recepção aos calouros e conta com a participação de bandas musicais e
atividades culturais.
Além dessas atividades, são desenvolvidas, em parceria com o PET, durante a
primeira semana de aula, intervenções em edifícios localizados no Centro Urbano de
Florianópolis. A temática que envolveu a última intervenção voltou-se a discussão da
especulação imobiliária urbana e suas conseqüências para o patrimônio histórico da cidade.
De acordo com o representante do CA de Arquitetura, o Manual do aluno é
considerado um importante instrumento informativo. Por meio deste o acadêmico tem
acesso a informações acerca do CA, Curso , currículo, publicações, estrutura física da
Universidade etc. O CA mantém atualizado um blog “calaufsc”, contendo informações
detalhadas sobre o desenvolvimento e resultado das atividades de acolhimento ao calouro.
No Curso de Engenharia de Aqüicultura destaca-se a participação de alguns
professores, os quais adquirem o papel de tutores ou mentores de algumas turmas. Tais
tutores ou mentores são professores referência aos alunos quando eles têm alguns tipos de
problemas relacionados a processos acadêmicos. Segundo as psicólogas da PRAE, a
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atividade tem sido avaliada como positiva, sendo perceptível o benefício que a implantação
dos tutores e mentores produziu em tal curso de graduação.
Geralmente as atividades dos CAs e DCE estão articuladas com as do PET, sendo
este responsável por apresentar as instâncias da Universidade, suas atribuições,
especialmente o que compete a Coordenação de Curso. Além disso, há participação no
planejamento, organização e desenvolvimento das atividades dos acadêmicos da 2ª fase dos
Cursos.
Na maior parte das vezes, os custos são bancados pelos próprios CAs, DCE, os
quais viabilizam por intermédio de recurso financeiro advindo da PRAE, que garante
materiais para as oficinas e ônibus para atividades fora do Campus. Além desses, outros
profissionais contribuem como voluntários com a realização das oficinas, especialmente as
de caráter cultural.
Além do que já foi exposto O Programa de Ações Afirmativas desenvolve algumas
atividades de acolhimento aos calouros. Uma delas refere-se ao momento de conferência da
auto-declaração, feita pelo acadêmico que ingressa na Universidade por meio da cota racial.
Nesse momento, quando o aluno for considerado “apto” a participar das ações afirmativas
por cota racial o Programa entrega aos contemplados panfletos com diversas informações.
Entre elas: o “Mapa do Campus”, informações a respeito de “Apoio Pedagógico”, resolução
relativa ao “Programa de Ações Afirmativas” e um panfleto com informações a respeito da
PRAE, do Serviço Social, Bolsa Permanência, Moradia estudantil e auxílio moradia,
restaurante universitário, isenção do pagamento de passe do RU, auxílio para material
didático e apoio pedagógico. Diversas informações destas são oferecidas aos demais
acadêmicos da UFSC, por meio das coordenações de curso de graduação. Outra iniciativa,
que está sendo desenvolvida pelo Programa em parceria com a TVUFSC, consiste na
produção de um vídeo no qual são apresentados os principais serviços que a UFSC oferece.
Uma das participantes entrevistadas avalia que o ato da matrícula é um momento
importante de acolhimento ao acadêmico. Diante disso e da constatação da dificuldade do
acadêmico em encontrar o local para matricular-se, sobretudo aqueles que são de fora da
cidade, uma das sugestões apontou para a criação de locais de referência para os calouros.
Segundo ela, é importante que o calouro, ao fazer matrícula, tenha a quem recorrer.
36
O Comitê de Acessibilidade também desenvolve atividades de acolhimento, sendo
estas direcionadas, especificamente, os alunos “deficientes”.
Dificuldades:
Durante a conversa com esses diferentes promovedores das atividades de
acolhimento, foi possível identificar algumas dificuldades. Dentre estas, destacam-se:
- Falta de recurso: as atividades são organizadas e desenvolvidas a partir das pessoas
envolvidas em CAs e DCE. Segundo alguns entrevistados, estas poderiam ser mais
diversificadas a partir de uma melhor estrutura de acolhimento, a partir de diferentes
recursos e metodologias caso houvesse maior incentivo financeiro.
- Falta ou pouco incentivo e apoio das coordenações dos cursos: algumas coordenações e
professores não liberam ou liberam em alguns dias os acadêmicos para participar das
atividades de acolhimento. O argumento é de que coincide o horário com o período de
aula. De outro lado, alguns CAs entendem que a coordenação do Curso também é
entendida como aliada. Entendem que nem sempre há aproximação do CA com
coordenação, através do que seria possível clarificar e defender a proposta de acolhimento,
destacando sua importância.
- A parceria com DCE não acontece com todos os CAs.
- Faltam informações integradas, de fácil acesso, a quem está realizando atividades de
acolhimento aos calouros;
- Os acadêmicos envolvidos no planejamento e organização das atividades de acolhimento
aos calouros não tem liberação das aulas.
- E alguns cursos, baixa adesão dos calouros, os quais ingressam na Universidade com a
idéia de “só vir para aula”, dando maior importância as atividades avaliativas, ou seja, que
vão gerar nota. Ou ainda, temem que as atividades de acolhimento seja o “trote sujo”.
- Renovação dos membros do CA, tendo em vista que periodicamente ingressam pessoas
que não possuem experiência na elaboração e desenvolvimento das atividades de
acolhimento.
De modo geral, foi constado que as atividades de acolhimento aos calouros, com
exceção a que é desenvolvida pela Reitoria, não são institucionais. Nesse sentido, as
psicólogas da PRAE destacam a importância de atividades de acolhimento se constituírem
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como algo permanente, para que ela não dependa de algumas pessoas que, muito
provavelmente, em breve deixarão de participar das instâncias que organizam tais tipos de
atividades.
Um dos participantes destacou a importância dos Centros de Ensino, em especial as
coordenações de Curso, atuar como promovedores e facilitadores das atividades de
acolhimento, tornando-se referência aos acadêmicos.
As características de atividades de acolhimento indicadas pelas pessoas
entrevistadas evidenciou que tais atividades favorecem o sentimento de pertencimento dos
calouros à Universidade, aspecto que influencia a permanência do acadêmico no espaço.
Além disso, essas atividades são também reconhecidas por amenizarem os índices de
abandono nas primeiras fases do Curso.
Atividades de acolhimento aos calouros realizadas na UFSC: onde é possível avançar?
Quais os aspectos das atividades de acolhimento aos calouros da UFSC que podem
ser aperfeiçoados? O primeiro aspecto que parece poder ser aperfeiçoado em relação a tais
atividades consiste no quanto tais atividades são institucionais. A instância da universidade
que realiza tais atividades são, predominantemente, os Centros Acadêmicos de diferentes
cursos de graduação. Se de um lado isso indica o grau de comprometimento de certos
alunos em relação aos seus colegas recém-ingressos à universidade, a realização de
atividades de acolhimentos pelos Centros Acadêmicos evidencia também o baixo grau de
institucionalização dessas atividades. Disso, podem decorrer alguns problemas, sobretudo
em relação à garantia de realização dessas atividades. É provável, por exemplo, que a partir
da troca de gestões nos Centros Acadêmicos ou a ausência de mobilização em Centros
Acadêmicos específicos, as atividades de acolhimento aos calouros não sejam realizadas.
Outro aspecto a ser examinado em relação às atividades de acolhimento
caracterizadas consiste em implicações dos objetivos que as orientam e das pessoas que as
organizam. Quando questionados a respeito dos objetivos de tais atividades, grande parte
dos representantes de Centros Acadêmicos entrevistados indicou que o objetivo dessas
atividades consistia na integração dos calouros entre si, na integração dos calouros com os
veteranos e na mudança de concepções que os calouros têm a respeito da vida universitária.
Tais objetivos são, sem dúvida, relevantes para os calouros, para a universidade e para os
38
cursos de graduação ao qual os estudantes pertencem. Entretanto, é possível que esses
objetivos não sejam suficientes para viabilizar a adaptação dos estudantes em relação a
alguns aspectos de sua vida universitária, em especial aquelas de caráter acadêmico.
Essa também pode ser uma implicação das atividades de acolhimento serem
realizadas pelas pessoas que compõem Centros Acadêmicos. Segundo Bardagi (2007), por
exemplo, os grupos sociais aos quais os estudantes universitários pertencem tendem a
constituir grupos sociais. A constituição de tais grupos é, obviamente, importante, uma vez
que eles consistem em uma importante variável para adaptação do calouro à vida
universitária e ao Ensino Superior (Feitosa, 2001; Cunha & Carrilho, 2005; Teixeira et al.,
2008; Carmo & Polydoro, 2010). Entretanto, segundo Bardagi (2007), dificilmente os
grupos sociais aos quais os estudantes participam constituem apoio em situações
acadêmicas, como notas baixas, problemas relativos a métodos de estudo, reprovações,
desmotivação em relação ao curso de graduação, entre outros. Problemas com esses
aspectos tendem a diminuir o sucesso acadêmico do estudante universitário e aumentar,
inclusive, a probabilidade de evasão dos cursos de graduação (Feitosa, 2001; Cunha &
Carrilho, 2005); Teixeira et al., 2008; Carmo & Polydoro, 2010). Nesse sentido, por mais
que as atividades de acolhimento realizadas pelos Centros Acadêmicos provavelmente
cumpram seus objetivos em relação à integração dos alunos e à mudança de concepções
que os calouros tem a respeito da vida universitária, é provável que tais atividades não
sejam suficientes para que os alunos que apresentem dificuldades acadêmicas desenvolvam
as condições necessárias para superá-las.
Outro aspecto relacionado ao fato das atividades de acolhimento realizadas na
UFSC não serem institucionais, e serem realizadas, predominantemente, pelos Centros
Acadêmicos, consiste na realização dessas atividades onde os Centros Acadêmicos as
realizam. Caso um curso de graduação não tenha alunos organizados em Centros
Acadêmicos e caso os Centros Acadêmicos não cheguem a realizar atividades de
acolhimento, parte (talvez, uma parte grande) dos alunos da UFSC não sejam “acolhidos”
por meio desse tipo de atividade. Disso decorre que os estudantes universitários dependam
apenas de suas próprias características para resolver eventuais problemas que tiveram ao
longo de sua vida universitária e superar dificuldades. Uma vez que nem sempre os
comportamentos que viabilizem a resolução de problemas e a superação de dificuldades na
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vida acadêmica são desenvolvidos (Teixeira et al., 2008), sem as atividades de acolhimento
é diminuída a probabilidade dos estudantes universitários desenvolverem os
comportamentos que os capacite a superar tais dificuldades e resolverem tais problemas.
Uma das alternativas para isso consiste na atividade indicada pelas psicólogas da
PRAE realizada pelo Curso de graduação em Engenharia de Aqüicultura. Nessa atividade,
organizada pela Coordenação do curso, alguns professores adquirem o papel de tutores ou
mentores dos alunos de certas turmas. Esses tutores constituem pessoas de referência aos
alunos quando eles apresentam problemas acadêmicos ou em relação à sua futura profissão.
Essa atividade parece ser complementar àquelas realizadas pelos Centros Acadêmicos.
Enquanto essas atividades têm por função prioritária integrar os alunos dos cursos de
graduação entre si e modificar a concepção que os estudantes recém-ingressos têm acerca
da vida universitária, a atividade de acolhimento realizada no Curso de graduação em
Engenharia de Aqüicultura tem por função aumentar a probabilidade dos alunos superarem
os problemas acadêmicos que surgirem ao longo de sua vida profissional.
A implementação de um programa institucional de atividades de acolhimento aos
calouros parece ser uma solução para que a) a maior parte dos estudantes universitários da
UFSC participem de atividades de acolhimento, b) a realização das atividades de
acolhimento sejam realizadas continuamente, sem depender exclusivamente das pessoas
que participem dos Centros Acadêmicos e c) a concretização de todos os objetivos das
atividades de acolhimento sejam produzidos por elas. A caracterização das atividades de
acolhimento já feitas na UFSC indica que já há na universidade um amplo sistema de
acolhimento aos calouros. Mas ele pode avançar ainda mais, caso tais atividades sejam
feitas de modo institucional. O resultado disso, em curto prazo, provavelmente será um
aumento da adaptação dos calouros à vida universitária e ao Ensino Superior. Em longo
prazo, o resultado disso talvez seja a diminuição dos índices de evasão da UFSC.
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Observações:
Além destas atividades, havia sido proposto para este semestre um treinamento dos
bolsistas REUNI de Programas de Pós-Graduação da UFSC que atuam com atividade de
apoio pedagógico, para instrumentalizá-los no trabalho com os alunos, potencializando os
resultados positivos já alcançados. Essa atividade, no entanto, não aconteceu devido ao fato
de os bolsistas REUNI da Psicologia terem se envolvido com as oficinas de organização e
método de estudos e no levantamento das atividades de acolhimento aos calouros. Tem-se o
objetivo de retomar esse treinamento para o próximo ano.
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Referências
Bardagi, M. P. (2007) Evasão e comportamento vocacional de universitários: estudo sobre
o desenvolvimento de carreira na graduação. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Carmo, M. C. do, & Polydoro, S. A. J. (2010) Integração ao Ensino Superior em um curso de Pedagogia. Psicologia Escolar Educacional, Campinas, 14(2). Cunha, S., & Carrilho, D. (2005). O processo de adaptação ao ensino superior e o rendimento acadêmico. Psicologia Escolar e Educacional, 9( 2), 215-224. Pereira, E. M. A. (2004). A percepção dos universitários sobre seus problemas. In: E. Mercuri & S. A. J. Polydoro (Eds.), Estudante universitário: Características e experiências
de formação. (pp.187-217). Taubaté, SP: Cabral Ed. E Livraria Universitária. Teixeira, M. A. P. (2002). A experiência de transição entre a universidade e o mercado de
trabalho na adultez jovem. Tese de Doutorado não publicada. Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS.
Teixeira, M.A. P, Dias, ACG, Wotrich, SH E, & Oliveira, AM Adaptação à Universidade em jovens calouros. Psicologia Escolar e Educacional, 12 (1).
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Apêndice A – Roteiro de perguntas para caracterização de atividades de acolhimento aos calouros da UFSC
Curso:
Entrevistado:
Data:
Modo da entrevista:
1. Quem são os organizadores da atividade de acolhimento?
2. Caracterize as atividades de acolhimento.
3. Há quantos semestres as atividades de acolhimento estão sendo realizadas?
4. As atividades de acolhimento acontecem em qual período (do semestre e da semana)?
5. Quais são os procedimentos para divulgar as atividades de acolhimento aos calouros?
6. Quais são as pessoas que participam como organizadoras das atividades de acolhimento?
7. Além dos calouros e dos organizadores, há outras pessoas que participam das atividades de acolhimento?
8. Qual a avaliação que você faz da adesão e participação dos calouros nas atividades de acolhimento?
9. Quais são os resultados esperados (ou os objetivos) das atividades de acolhimento?
10. Quais são os resultados das atividades de acolhimento?
11. Quais os aspectos das atividades de acolhimento que poderiam ser aperfeiçoados?
12. Quais são as dificuldades encontradas para a realização das atividades de acolhimento?
13. Quais são os apoios que os organizadores recebem para realização das atividades de acolhimento?
14. A Coordenação do curso de graduação incentiva as atividades de acolhimento? De que maneira?
15. Você conhece outros Centros Acadêmicos ou outras instâncias da UFSC que realizam atividades de acolhimento? Quais?