Orientação espacial Álan Crístoffer Gabriel Cabral Rafael Cabral.
Letras Taquarenses Nº 61 * Antonio Cabral Filho - Rj
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HAICAIS
Andorinhas chegam,
Em revoada na praça:
Chão fertilizado.
Manoel F. Menendez – SP
Há pouco chovia –
Agora apenas o vento
É dono da rua.
Humberto Del Maestro – ES
Flores de café
Se desprendem com o vento,
Cobrindo o gramado.
Renata Paccola – SP
Dessas flores murchas,
Se entorno a água do vaso,
Virão novas flores.
Neide Rocha Portugal – PR
Sertão nordestino,
Fogueiras, fogos, bebidas...
Noite de São João.
João Batista serra-Ce
Pássaro azul,
Na contenção do seu vôo,
Sobra perspicácia.
Na manhã de domingo,
Passeio a colher flores:
Só trouxe gardênia.
Aí vem setembro:
Crianças querem saber
Quando é Cosme-e-Damião.
Tapete de cores
Para alguma santidade:
Paineiras floridas.
Sanhaço perscruta,
Silente, meu mamoeiro:
Tem mamão devês.
Caminho do mar:
A navalha no meu rosto,
Corta que nem gelo.
Trilha do mosteiro:
O andarilho vai convicto,
Buscar paz de espírito.
Vai de galho em galho,
Pára, olha, me vigia:
Esquilo mineiro...
Cai um temporal
Sobre o calor de domingo:
São águas de março.
Chove em Parati:
Mil peixinhos vêm à tona,
Provar outras águas.
Antonio Cabral Filho – RJ
TROVAS
Felicidade, um evento,
Uma graça fugidia...
Como lufada de vento,
Passa por nós, algum dia!
Fernando Vasconcelos – Pr
Desse jeito, esperneando,
Considero-te a criança,
Que sempre tenta chorando
Quando o que quer não alcança
João Batista Serra – CE
Dê-se ao jovem liberdade
Para sem medo ele ousar.
- É no ardor da mocidade
Que o sonho aprende a voar.
A. A. de Assis - PR
Raia o dia, terno e lindo,
Piam na mata, nambus,
E o sol acorda sorrindo
Dentro de um ninho de luz.
Humberto Del Maestro – ES
Se a tua cruz é pesada,
E vives só de lamento,
Hás de encontrar pela estrada
Outros com mais sofrimento.
Jessé Nascimento – RJ
A lenda de Cantagalo,
Encontro mui benfazejo:
Do belo canto do galo
Com o nome do lugarejo.
Henny Kropf – RJ
Não confies no destino,
Pois na última viagem
Não vale o desatino,
Bondade vira passagem.
Osael de Carvalho – RJ
Brigar com gente de saia,
Foi coisa que nunca fiz,
É tudo rabo de arraia,
Padre, mulher e juiz.
Arlindo Nóbrega – SP
Eu velejo mar adentro,
Sem temer a tempestade,
Indo em busca do meu centro
A toda velocidade.
Ivone Vebber – RS
Nesta pedra está gravada
Toda a minha emoção
De saber que não sou nada
Além de mera ilusão.
Silvério da Costa – SC
Urubu sobre o telhado
E voando abertamente
Ficou muito bem olhado
Pelo suspiro da gente.
Franc Assis Nascimento - Go
Ao brincar com seu cabelo
E puxar o seu vestido,
Vento sede a um sexy apelo
E revela ter crescido.
Olivaldo Júnior – SP
Ano VIII nº61 Nov/Dez 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho
Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected]
http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC
Ando de pé por prazer,
De ônibus por vaidade,
Mas de pé consigo ver
A sujeira da cidade.
Gilson de Abreu Marinho – RJ
As lágrimas, pra quê servem,
Além de molhar a face?
Pra demonstrar alegria
Ou pra chorar de saudade.
Cida Micossi – SP
Desperto e ainda indolente,
Tenho teu corpo abraçado,
Pois sonhando no presente,
Vivo este amor do passado.
Fernando Câncio Araújo – CE
Eis um fato que deplora
Meu coração rico e nobre,
Muito rico sempre explora
O trabalho do mais pobre
Renato Báez – MS
Quando Mãe Eva, imprudente,
Provou, também, da maçã,
A serpente foi semente
Das gerações do amanhã.
Pedro Giusti – RJ
Olhai, racistas papalvos,
Das mães o exemplo de amor:
Seios negros, seios alvos
Dão leite da mesma cor.
Jacy Pacheco – RJ
Separou-se e...com mais pique
Justifica encabulada:
Marido que dá chilique,
Não consegue dar mais nada.
Maria Nascimento – RJ
OS ESPELHOS
Os espelhos que vivem em mim
Encontram nos seus olhos
O afeto, o silêncio
E a sinceridade.
Espelho
Minha imagem pelo ar,
Solto os impulsos
Nos fios de ternura
E me alimento dos desejos
Que moram em sua pele.
Luiz Fernandes da Silva - Pb
Primavera
Hibiscos vermelhos floridos
Pinhados de beija-flores.
Selmo Vasconcellos – RO
PAUTA
Solam guitarras
Sutis enlevos
Alcoóis
Ventríloquos
À meia voz flutuam
Inevitável silêncio
A sede e a fome sacio
Imaginária paisagem
Balem ovelhas ao longe
Incompleto
O meu nome balbucio
Dias semanas não sei
Quiprocós
Tartamudo repasso
Notas de uma canção
Hélvio Lima – MG
LONGA ESTRADA
Todo poeta
Tem a cabeça cheia
De letras,
Palavras, frases,
Pensamentos loucos,
Que tenta, com a mão,
Colocar no papel,
Na máquina de escrever,
No teclado do PC.
Porém, como é longa
E acidentada a estrada
Entre a cabeça e a mão
do poeta!
Araci Barreto – RJ
OCULTO
Visto ao longe
Sou nebuloso
Como alto da serra
Em dia cinza,
Coberto
Meu verde-mistério
Só pra quem vê de perto.
Marlos Degani – RJ
BLA-BLA-BLA
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Existe muita gente no senado
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Muita gente na
Câmara dos deputados
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Muita gente com fome
Sem casa
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
De dois em dois anos eleições
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Lírian Tabosa – RJ
POEMAS DO TOUCHÉ
Pássaros no ninho:
Novas vidas que iluminam
Os olhinhos do menino.
GUERREIRA ILUMINADA
Aquém do escuro silêncio
Servido em redomas azuis;
No sorriso da guerreira
Brilha a lúcida trincheira
Em versos de ira e luz.
FRUTA
Eu te amo como quando
Saboreio as fruta madura,
Na cumplicidade da degustação.
Te amo como quando
Mordo com prazer.
Enterrando os dentes
Em polpas e fibras
Amparando o sumo
Na ponta da língua.
Amar
É a consistência da semente.
Gênese.
CHAMA
A saudade é azul...
Cinzentas
São as tempestades.
Que rabis na alma...
Antonio Luiz Lopes Touché – SP
AMANHECE
Orvalho cai
Gotas de mel
De teus lábios
De rosa
Eu beija-flor
Sugo-te o
Doce
Faço-te prosa
Semíramis Reis – RJ
SALDO ESCASSO
Após devorar
A sagrada esperança
De Agostinho Neto,
Com gosto de suor africano
Explorado em solo brasileiro,
Regada a muito café
E mergulhado em insônia,
Vou passear no quintal
Ver se colho um poema
Ou o sal da escassez.
NOITE
Depois de trabalhar
O dia inteiro
A noite fica exausta
E se dependura
Lá do céu sobre nós
E dorme como os morcegos...
É por isso que acordamos
Chamuscados de escuridão.
METAPOÉTICA
De tanto
Alavancar o poema
Acabei pavimentando
O verso
E instalando a poesia
Sempre no ponto final.
COMPLEXO DE KAFKA
Não fossem os calafrios
Da pobre coitada mãe
Que vivia em panos quentes
Pra manter seu pai
Em banho-maria
Teríamos mais psicanalistas
Tentando livrar as pessoas
Dos estados parasitários
E Kafka transformado
em barata.
LARGO DA BATALHA
Já diz tudo
O nome do local
Que nos lembra
Algo longe
Transido de combates
E ainda agora
Nos seus arredores
Chegam avisos da pólvora:
Seguem escaramuças
Por seu corpo escarpado,
Todo respingado de rubro.
PONTO CEM RÉIS
Não sei quantos reis
Passaram por este ponto
E não sei ainda
Se era sem réis
Caso houvesse pedágio
Transitar livremente.
ENQUETE
O vovô anarquista
Perguntou para o netinho
Se acreditava em Papai Noel:
- Por quê, vai me dar presente?
Inquiriu o garoto, todo serelepe,
Enquanto o avô confabulava
Com seus bigodes:
- Que menino materialista!
ANTI GULLAR
Inútil a luta corporal
Sem poemas concretos
Sobre romances de cordel
A sós dentro da noite veloz
Pra cometer poema sujo
E acender uma luz no chão
Em plena vertigem do dia
Causar crime na flora
E sair por aí fazendo barulhos
Com muitas vozes
E argumentação contra
A morte da arte
Pleno de antologias...
HORA DA RVOLUÇÃO
É hora da revolução!
É hora da revolução!
Não! Não é nenhum
Sinal dos tempos
Nem devido à queda
De algum ditador.
É que eu vi
Um homem no ônibus
Lendo o Manifesto Comunista.
CACETE BAIANO
Depois de apanhar
Até gato morto miar,
Por dizer gracinhas
Para a menina dos olhos
Do paizão ciumento,
Diz que ganhou
O maior cacete baiano.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Eu sei que o boca-a-boca
É a melhor propaganda,
Mas não adianta resmungos
Nem choro pelos cantos.
Só devolvo o beijo
Que te roubei dormindo,
Se vieres tomá-lo
Boca-a-boca...
DEUSES DE PAUPÉRIA
Era uma cidade
Fundada por ATA
E lá estava escrito:
Artigo Único –
Aqui todos somos felizes,
Pela graça dos deuses.
E todos tudo fazem
Para o bem de todos.
§ Único – Revogam-se
as disposições em contrário.
POEMINHO IDEOLÓGICO
Comunismo,
Você, foi-se....
Eu martelo,
Hasta la revolución !
Antonio Cabral Filho – RJ
MAIS TROVAS DO CABRAL
Não sinto nenhum perigo
Numa sexta-feira treze;
Minha jornada eu
prossigo
E meus amigos são treze.
&
Meu coração é um cofre
Carregado de troféus;
Ninguém sabe por que
sofre,
Mas seu amor anda ao
léu.
&
Futebol, mulher e pinga
Não discuto com
ninguém,
Pois lá na casa do Tinga
Todo mundo é de
ninguém.
&
Meu avô nunca foi rico
Mas não invejava nobre;
Diz que título de pobre
É nunca pedir pinico.
&
Dia 26 de Julho
É data muito bacana,
Pois El Che é meu
orgulho
Da revolução cubana.
&
Amor tem três
dimensões:
É pai, mãe e professor;
Mas pai, mãe, são
ligações,
Professor, só puro amor.
&
Te escrevi a zero três,
Respondeste a zero sete;
Não sou tipo que se mete
Onde tem bola da vez...
&
Vai sem olhar para trás
Quem acha que sempre
acerta,
Sem saber que a vida faz
Estoque de porta aberta.
&
Acordei Morubixaba
Bem disposto esta manhã
E sem ligar pra piaba,
Brinquei logo com a
cunhã.
&
Esqueça das horas
mortas,
Que o futuro se anuncia,
Pois tudo que mais
importa
É termos um novo dia.
&
Os poetas são
pescadores,
Que fazem do peito
lavra,
Tomam para si as dores
Do pescador de palavra.
0020
Os poetas são pescadores
Que fazem do peito mar,
Tomam para si as dores
De quem não sabe remar.
&
Pulsa lá nas profundezas
A flecha do olhar
sentido,
Que suspirava tristezas
Sem amor
correspondido.
&
Parabéns programadores
Pela data celebrada,
Mas 12e 13 são dores
Por tanta pule lavrada.
&
Nas profundezas do peito
Guardei as mágoas
sentidas,
E cuidei sempre com
jeito
Até serem esquecidas.
&
Amizade com poesia
São flores em nossas
vidas;
Desejo-lhes todo dia
Mil primaveras floridas.
&
Minha terra tem
palmeiras,
Disse o poeta a cantá-las;
Mas pra cantar as
palmeiras
Precisamos replantá-las.
&
Um raio de sol me guia
Por onde o amor impera,
Mostrando-me mais um
dia
Nos reinos da primavera.