*LETRAS TAQUARENSES Nº 59 Setembro 2014 * Antonio Cabral Filho - Rj

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HAICAIS Névoa esbranquiçada Cobre a orla da praia Inverno no litoral. Cida Micossi SP Vento frio, aonde Quer ir? Instala-se, hirto, Num talo de grama. Érico Veríssimo RS Tombam metralhas, Vicejam flores verdes! Brilho de prata! Maria José Dias - ?? Roda de crianças: Gafanhoto seguro Pelas pernas. Manoel F. Menendez SP Dessas flores murchas, Se entorno a água do vaso, Virão novas flores. Neide Rocha Portugal PR Logo após a chuva, Um momentinho de sol. Varais enfeitados. Humberto Del Maestro ES Traçando no céu O desenho de uma cruz, Andorinhas partem. Renata Paccola SP Robalo difícil De ser pescado de anzol, Acaba na rede. João Batista serra-Ce Tremelica a folha: Na folhagem atrás de casa, Borboleta pousa. Olivaldo Junior SP Na história, o grito Lá nas margens do Ipiranga... Hoje só detrito. Eliana Ruiz Jimenez SC Pássaro azul, Na contenção do seu vôo, Sobra perspicácia. Na manhã de domingo, Passeio a colher flores: Só trouxe gardênia. Aí vem setembro: Crianças querem saber Quando é Cosme-e-Damião. Tapete de cores Para alguma santidade: Paineiras floridas. Sanhaço perscruta, Silente, meu mamoeiro: Tem mamão devês. Caminho do mar: A navalha no meu rosto, Corta que nem gelo. Trilha do mosteiro: O andarilho vai convicto, Buscar paz de espírito. Vai de galho em galho, Pára, olha, me vigia: Esquilo mineiro... Cai um temporal Sobre o calor de domingo: São águas de março. Chove em Parati: Mil peixinhos vêm à tona, Provar outras águas. Antonio Cabral Filho RJ TROVAS Felicidade, um evento, Uma graça fugidia... Como lufada de vento, Passa por nós, algum dia! Fernando Vasconcelos Pr Desse jeito, esperneando, Considero-te a criança, Que sempre tenta chorando Quando o que quer não alcança João Batista Serra CE As guerras, fome, violência, Descontrole universal, São tragédias sem clemência, Desrespeitando o NATAL. Elza Meireles Chola SP Dê-se ao jovem liberdade Para sem medo ele ousar. - É no ardor da mocidade Que o sonho aprende a voar. A. A. de Assis - PR Raia o dia, terno e lindo, Piam na mata, nambus, E o sol acorda sorrindo Dentro de um ninho de luz. Humberto Del Maestro ES Se a tua cruz é pesada, E vives só de lamento, Hás de encontrar pela estrada Outros com amis sofrimento. Jessé Nascimento RJ A lenda de Cantagalo, Encontro mui benfazejo: Do belo canto do galo Com o nome do lugarejo. Henny Kropf RJ Ano VIII nº59 Setembro 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected] http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

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HAICAIS

Névoa esbranquiçada

Cobre a orla da praia –

Inverno no litoral.

Cida Micossi – SP

Vento frio, aonde

Quer ir? Instala-se, hirto,

Num talo de grama.

Érico Veríssimo – RS

Tombam metralhas,

Vicejam flores verdes!

Brilho de prata!

Maria José Dias - ??

Roda de crianças:

Gafanhoto seguro

Pelas pernas.

Manoel F. Menendez – SP

Dessas flores murchas,

Se entorno a água do vaso,

Virão novas flores.

Neide Rocha Portugal – PR

Logo após a chuva,

Um momentinho de sol.

Varais enfeitados.

Humberto Del Maestro – ES

Traçando no céu

O desenho de uma cruz,

Andorinhas partem.

Renata Paccola – SP

Robalo difícil

De ser pescado de anzol,

Acaba na rede.

João Batista serra-Ce

Tremelica a folha:

Na folhagem atrás de casa,

Borboleta pousa.

Olivaldo Junior – SP

Na história, o grito

Lá nas margens do Ipiranga...

Hoje só detrito.

Eliana Ruiz Jimenez – SC

Pássaro azul,

Na contenção do seu vôo,

Sobra perspicácia.

Na manhã de domingo,

Passeio a colher flores:

Só trouxe gardênia.

Aí vem setembro:

Crianças querem saber

Quando é Cosme-e-Damião.

Tapete de cores

Para alguma santidade:

Paineiras floridas.

Sanhaço perscruta,

Silente, meu mamoeiro:

Tem mamão devês.

Caminho do mar:

A navalha no meu rosto,

Corta que nem gelo.

Trilha do mosteiro:

O andarilho vai convicto,

Buscar paz de espírito.

Vai de galho em galho,

Pára, olha, me vigia:

Esquilo mineiro...

Cai um temporal

Sobre o calor de domingo:

São águas de março.

Chove em Parati:

Mil peixinhos vêm à tona,

Provar outras águas.

Antonio Cabral Filho – RJ

TROVAS

Felicidade, um evento,

Uma graça fugidia...

Como lufada de vento,

Passa por nós, algum dia!

Fernando Vasconcelos – Pr

Desse jeito, esperneando,

Considero-te a criança,

Que sempre tenta chorando

Quando o que quer não alcança

João Batista Serra – CE

As guerras, fome, violência,

Descontrole universal,

São tragédias sem clemência,

Desrespeitando o NATAL.

Elza Meireles Chola – SP

Dê-se ao jovem liberdade

Para sem medo ele ousar.

- É no ardor da mocidade

Que o sonho aprende a voar.

A. A. de Assis - PR

Raia o dia, terno e lindo,

Piam na mata, nambus,

E o sol acorda sorrindo

Dentro de um ninho de luz.

Humberto Del Maestro – ES

Se a tua cruz é pesada,

E vives só de lamento,

Hás de encontrar pela estrada

Outros com amis sofrimento.

Jessé Nascimento – RJ

A lenda de Cantagalo,

Encontro mui benfazejo:

Do belo canto do galo

Com o nome do lugarejo.

Henny Kropf – RJ

Ano VIII nº59 Setembro 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho

Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected]

http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

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Não confies no destino,

Pois na última viagem

Não vale o desatino,

Bondade vira passagem.

Osael de Carvalho – RJ

Pintei o sete contigo,

Na minha imaginação;

Agora, pra meu castigo,

Te tenho no coração.

Arlindo Nóbrega – SP

Eu velejo mar adentro,

Sem temer a tempestade,

Indo em busca do meu centro

A toda velocidade.

Ivone Vebber – RS

Nesta pedra está gravada

Toda a minha emoção

De saber que não sou nada

Além de mera ilusão.

Silvério da Costa – SC

Uma lágrima que escorre

Trás mil brilho à própria face,

Se a cada sonho que morre

Há um novo sonho que nasce.

Renata Paccola – SP

Urubu sobre o telhado

E voando abertamente

Ficou muito bem olhado

Pelo suspiro da gente.

Franc Assis Nascimento - Go

Ao brincar com seu cabelo

E puxar o seu vestido,

Vento sede a um sexy apelo

E revela ter crescido.

Olivaldo Júnior – SP

Quando, manhã, bem cedinho,

Abrindo os olhos desperto,

Através do teu carinho

Vejo logo um céu aberto.

Walter Siqueira – RJ

LONGA ESTRADA

Todo poeta

Tem a cabeça cheia

De letras,

Palavras, frases,

Pensamentos loucos,

Que tenta, com a mão,

Colocar no papel,

Na máquina de escrever,

No teclado do PC.

Porém, como é longa

E acidentada a estrada

Entre a cabeça e a mão

do poeta!

Araci Barreto – RJ

OCULTO

Visto ao longe

Sou nebuloso

Como alto da serra

Em dia cinza,

Coberto

Meu verde-mistério

Só pra quem vê de perto.

Marlos Degani – RJ

BLA-BLA-BLA

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Existe muita gente no senado

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Muita gente na

Câmara dos deputados

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Muita gente com fome

Sem casa

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

De dois em dois anos eleições

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Lírian Tabosa – RJ

POEMAS DO TOUCHÉ

Pássaros no ninho:

Novas vidas que iluminam

Os olhinhos do menino.

GUERREIRA ILUMINADA

Aquém do escuro silêncio

Servido em redomas azuis;

No sorriso da guerreira

Brilha a lúcida trincheira

Em versos de ira e luz.

FRUTA

Eu te amo como quando

Saboreio as fruta madura,

Na cumplicidade da degustação.

Te amo como quando

Mordo com prazer.

Enterrando os dentes

Em polpas e fibras

Amparando o sumo

Na ponta da língua.

Amar

É a consistência da semente.

Gênese.

CHAMA

A saudade é azul...

Cinzentas

São as tempestades.

Que rabis na alma...

Antonio Luiz Lopes Touché – SP

SALDO ESCASSO

Após devorar

A sagrada esperança

De Agostinho Neto,

Com gosto de suor africano

Explorado em solo brasileiro,

Regada a muito café

E mergulhado em insônia,

Vou passear no quintal

Ver se colho um poema

Ou o sal da escassez.

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NOITE

Depois de trabalhar

O dia inteiro

A noite fica exausta

E se dependura

Lá do céu sobre nós

E dorme como os morcegos...

É por isso que acordamos

Chamuscados de escuridão.

METAPOÉTICA

De tanto

Alavancar o poema

Acabei pavimentando

O verso

E instalando a poesia

Sempre no ponto final.

COMPLEXO DE KAFKA

Não fossem os calafrios

Da pobre coitada mãe

Que vivia em panos quentes

Pra manter seu pai

Em banho-maria

Teríamos mais psicanalistas

Tentando livrar as pessoas

Dos estados parasitários

E Kafka transformado

em barata.

LARGO DA BATALHA

Já diz tudo

O nome do local

Que nos lembra

Algo longe

Transido de combates

E ainda agora

Nos seus arredores

Chegam avisos da pólvora:

Seguem escaramuças

Por seu corpo escarpado,

Todo respingado de rubro.

PONTO CEM RÉIS

Não sei quantos reis

Passaram por este ponto

E não sei ainda

Se era sem réis

Caso houvesse pedágio

Transitar livremente.

ENQUETE

O vovô anarquista

Perguntou para o netinho

Se acreditava em Papai Noel:

- Por quê, vai me dar presente?

Inquiriu o garoto, todo serelepe,

Enquanto o avô confabulava

Com seus bigodes:

- Que menino materialista!

ANTI GULLAR

Inútil a luta corporal

Sem poemas concretos

Sobre romances de cordel

A sós dentro da noite veloz

Pra cometer poema sujo

E acender uma luz no chão

Em plena vertigem do dia

Causar crime na flora

E sair por aí fazendo barulhos

Com muitas vozes

E argumentação contra

A morte da arte

Pleno de antologias...

HORA DA RVOLUÇÃO

É hora da revolução!

É hora da revolução!

Não! Não é nenhum

Sinal dos tempos

Nem devido à queda

De algum ditador.

É que eu vi

Um homem no ônibus

Lendo o Manifesto Comunista.

PRÊMIO JUSTO

Corredor polonês

Só para o maldito inventor

Do corredor polonês,

Que eu fui.....

CACETE BAIANO

Depois de apanhar

Até gato morto miar,

Por dizer gracinhas

Para a menina dos olhos

Do paizão ciumento,

Diz que ganhou

O maior cacete baiano.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Eu sei que o boca-a-boca

É a melhor propaganda,

Mas não adianta resmungos

Nem choro pelos cantos.

Só devolvo o beijo

Que te roubei dormindo,

Se vieres tomá-lo

Boca-a-boca...

DEUSES DE PAUPÉRIA

Era uma cidade

Fundada por ATA

E lá estava escrito:

Artigo Único –

Aqui todos somos felizes,

Pela graça dos deuses.

E todos tudo fazem

Para o bem de todos.

§ Único – Revogam-se

as disposições em contrário.

POEMINHO IDEOLÓGICO

Comunismo:

Você, foi-se....

Eu martelo,

Hasta la revolución !

Antonio Cabral Filho – RJ