*Letras Taquarenses Nº 56 * Antonio Cabral Filho - Rj
-
Upload
antonio-cabral-filho -
Category
Documents
-
view
43 -
download
0
Transcript of *Letras Taquarenses Nº 56 * Antonio Cabral Filho - Rj
HAICAIS
Pequeninas flores
E o amarelo-limão.
A cidra no pé.
Manoel F. Menendez – SP
Ainda está verde
Doce de cidra esquecido
Na velha dispensa.
Neide Rocha Portugal – PR
Festa no arraial!
No dia seis de janeiro,
Reisado na rua.
Humberto Del Maestro – ES
Na estrada sem luz
Caminhão segue viagem
Ao clarão da lua.
Renata Paccola – SP
Robalo difícil,
De ser apanhado no anzol,
Acabou na rede.
João Batista serra-Ce
Sol bebendo orvalho,
Após noite de esplendor,
Dia do Arquiteto.
Fernando Vasconcelos – Pr
Venta... leve é o sol.
Um menino solta pipa
Sem usar cerol.
Nilton Manoel – SP
Caminho do mar:
A navalha no meu rosto,
Corta que nem gelo.
Trilha do mosteiro:
O andarilho vai convicto,
Buscar paz de espírito.
Vai de galho em galho,
Pára, olha, me vigia:
Esquilo mineiro...
Cai um temporal
Sobre o calor de domingo:
São águas de março.
Chove em Parati:
Mil peixinhos vêm à tona,
Provar outras águas.
Antonio Cabral Filho - RJ
TROVAS
Cheirosa qual um jasmim,
Ela mal pisa no chão,
Mas pisa ao passar por mim,
Com força, meu coração.
João Batista Será – CE
A vida com seus mistérios,
Mostra-nos e muito bem,
Que no poder, homens sérios
São sérios se lhes convém.
Nilton Manoel – SP
Vida feliz, meu amor,
É a vida dos meus cansaços
Que nascem do meu labor
E vão morrer nos seus braços.
Eno Teodoro Wanke – RJ
Dê-se ao jovem liberdade
Para sem medo ele ousar.
- É no ardor da mocidade
Que o sonho aprende a voar.
A. A. de Assis – Pr
Fico olhando o teu aprumo.
És linda e jovem demais...
E eu sou um barco sem rumo,
Sem mais direito ao teu cais.
Humberto Del Maestro – ES
É teu sonho inatingível?
Basta que creias somente.
Não existe o impossível
Pra Deus e o poder da mente.
Jessé Nascimento – RJ
Vem chegando a primavera,
Os jardins ficam floridos...
Almas cheias de quimera
E corações coloridos.
Henny Kropf – RJ
De um amigo, sempre escrevo
Um pouquinho a cada vez,
Na pedra, o bem que lhe devo,
Na areia, o mal que me fiz.
Renata Paccola – SP
Urubu sobre o telhado
E voando abertamente
Ficou muito bem olhado
Pelo suspiro da gente.
Franc Assis Nascimento - Go
Quando vi a nossa foto
Desgastada na gaveta,
Vi nascer um terremoto
Neste inóspito poeta.
Olivaldo Júnior - SP
Poluição é o nosso ocaso...
No ar, os danos afligem:
Chaminés lançam descaso
Tampando o sol com fuligem.
Eliana Ruiz Jimenez - SC
Saudade, ponte estendida
Entre o passado e o presente.
E o tempo – rio da vida,
A correr eternamente.
Franklin Coutinho - Rj.
Quando, manhã, bem cedinho,
Abrindo os olhos desperto,
Através do teu carinho
Vejo logo um céu aberto.
Walter Siqueira - Rj
Ano VIII nº 56 Junho 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho
Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected]
http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC
Nem sempre o cabelo branco
Reflete a sã consciência,
Por trás dum sorriso franco
Há muita maledicência.
Arlindo Nóbrega – SP
Caminhando contra o vento,
Como dizia o cantor,
Pensei em breve momento
Que felicidade é AMOR.
Osael de carvalho – RJ
No retrato na parede
Vejo teu belo semblante,
Vai matando a minha sede
Do teu olhar cativante.
Ivone vebber – RS
Seja casada ou solteira,
Seja velha ou rapariga,
Toda mulher janeleira
Tem um vergão na barriga.
&
Custou-te lutas cruentas,
Muita dor e sofrimento,
Essa grinalda que ostentas
No dia do casamento.
Pedro Giusti - Rj
Em 25 de Abril
Portugal respira fundo,
Manda à puta que pariu
Salazar e todo o mundo.
&
Amizade não tem preço
Nem é presente que enjeito,
É sempre mais que mereço
E guardo aqui bem no peito.
&
Lua de sangue ou vermelha
Não traz-me revelação,
Pois em nada se assemelha
Com a minha revolução.
&
Nenhum eclipse de sangue
Ofusca meu horizonte,
Em nada me faz exangue
Até que meu sol desponte.
Antonio Cabral Filho – RJ
CÉREBROS
TRANSISTRIZADOS
Cadê o controle remoto
Do meu pensamento?
Será que eu perdi
Ou esqueci na loja
De propósito?
Ou é o meu pensamento
Quem controla
O remoto
Controle remoto!?
Malungo Poeta - Pe
AVISO AOS MARGINAUTAS
Deus não está. Saiu para jantar
Curtindo uma de poeta
Marginal – sem métrica, sem
Rima , sem rumo, devidamente
Liberto de compromissos
Com toda a humanidade
E com a comunidade estelar.
Deus duvidou: ser ou não ser
Um poeta marginal?
E saiu abraçado com
Um soldado, não se sabe
Se do bem ou do mal,
Cambaleando,
Embriagado de verdade.
ILMA FONTES – SE
QUEM?
Tudo é cru e tudo universo
Mais se renova do que parece?
Não o real o que enxergamos?
O mais está sempre mais longe?
Sinal mais longe,
mais que o som,
então: quem disse
de cada coisa
o verdadeiro nome?
ARICY CURVELLO – ES
ESTABILIDADE
Vivemos como casal:
Você trabalha demais,
Me sustenta,
Proíbe isso e aquilo,
Exige a casa arrumada,
Quer almoço à uma hora,
O jantar às sete e meia,
Sobremesas variadas...
Com teus caprichos concordo,
E por vingança, te engordo...
LEILA MÍCCOLIS – RJ
SANGUE NAS RETINAS
Não era vampiro
Nem assassino contumaz,
Mas emanava sangue
De seus olhos...
ANTONIO CABRAL FILHO
SOBRE AS HORAS
Enquanto barcos singram
Os mares – baleias na
Esperança de peixes – calmo,
Contrói o Tempo teias
E ruínas – febre, traição,
Morte e vilania – na boca
Insone da noite
Mastigando o dia
TANUSSI CARDOSO – Rj
MÃE
A claridade da manhã
Desenhava o horizonte
Como um sorriso de mãe
ANTONIO LUIZ LOPES – SP
DAS CARÍCIAS
Minha mão
Percorre teu corpo
Como água seguindo o rio,
Encontrando emoções,
Encontrando sentimentos.
WALMOR DS COLMENERO
MEMORABILIA 6
Donanja faz café
Numa tarde de maio
Benze portais ergue
Os santos do fim do mundo
: chamas para as quais
Serão levados a pé
Sobre milênios de milhos
Todos os tontos
Sem fé
Iacyr Anderson Freitas - Mg
CONTINUA NA PRÓXIMA
O seriado que eu vivi
Não teve fim,
Acabou,
Continua na próxima semana
Com a dor que
Ficou
MOACY CIRNE – RN
CAMINHADA
Quando me sentarei contigo
Na ternura das coisas justas
E tu me envolverás
Em teu perfume selvagem
E violento?
Quando te darei de presente
Minha alma inquieta?
José Jackson Sampaio – Ce
CAMINHOS
O teu sonho criou asas
E voou...voou...voou...
Para um lugar de magia.
E tão contente tu estavas
Que tua vida brilhou
No esplendor
De um novo dia.
E quando tu retornaste
Tudo ficou diferente
A vida mudou de cor.
Em tudo, pois, triunfaste
Ao seguires para sempre
Os caminhos do amor.
Auri Antonio Sudati – RS
POÉTICA
Não sei dizer palavras
Dúbias. Meu sermão
Chama ao lobo verdugo
E ao cordeiro irmão.
JOSÉ PAULO PAES –SP
SEM SENTIDO
Talvez a vida melhore
Se a fé de que tanto se fala
Vier a entrar nesta sala
E, para sempre, se instalar.
Pensando se vai por aí
Ou se fica mesmo aqui,
Sonhando se voa no ar,
Chorando se molha o sofá,
Morrendo se chega ao céu,
Vivendo se sofre a granel.
Eita vida complicada!
Vida inútil e sem sentido
Que faz todo mundo igual
Na hora do adeus final.
Araci Barreto – RJ
IN NATURA
A maçã do rosto
A batata da perna
A planta dos pés
A raiz dos cabelos
Delmo Fonseca – RJ
Canção Daquele Agosto
Drummond
Mineiro velho
Quando o teu barco de palavras
Te levou
De volta ao não-sei-onde
Ficou, num jardim triste,
Despetalada
A rosa do teu povo
E bem no meio do caminho
A eterna pedra
Tumular
Sergio Correa M. Filho-Rj
POEMAS
Quando aquela mãe chorou
Ela soube que não haveria
Deus que pudesse atendê-la
Na face da terra.
&
A criança faminta
Procurou socorro
Junto aos pais.
Foi espancada
E atirada
Porta a fora.
&
A velha viu-se perdida
Em sua velhice.
Esperou
Que filhos viessem
Em seu socorro.
Djanira Pio – SP
AMANHECE
Orvalho cai
Gotas de mel
Em teus lábios
De rosa
Eu beija-flor
Sugo-te
O doce
Faço-te prosa
Semíramis Reis – RJ
A INSPIRAÇÃO
Existe uma palavra
Que muita gente já ouviu,
Mas nunca tentou ver
Se a tinha na hora certa:
A inspiração. Ela é breve,
Curta e interessante,
Tão curta,que quando eu
Comecei a escrever
Esse comentário,
Estava com bastante inspiração
E agora, estou sem nenhuma
Pra continuar...
Érica Chlamtac – RJ
SALDO ESCASSO
Após devorar
A sagrada esperança
De Agostinho Neto,
Com gosto de suor africano
Explorado em solo brasileiro,
Regada a muito café
E mergulhado em insônia,
Vou passear no quintal
Ver se colho um poema
Ou o sal da escassez.
NOITE
Depois de trabalhar
O dia inteiro
A noite fica exausta
E se dependura
Lá do céu sobre nós
E dorme como os morcegos...
É por isso que acordamos
Chamuscados de escuridão.
METAPOÉTICA
De tanto
Alavancar o poema
Acabei pavimentando
O verso
E instalando a poesia
Sempre no ponto final.
COMPLEXO DE KAFKA
Não fossem os calafrios
Da pobre coitada mãe
Que vivia em panos quentes
Pra manter seu pai
Em banho-maria
Teríamos mais psicanalistas
Tentando livrar as pessoas
Dos estados parasitários
E Kafka transformado
em barata.
LARGO DA BATALHA
Já diz tudo
O nome do local
Que nos lembra
Algo longe
Transido de combates
E ainda agora
Nos seus arredores
Chegam avisos da pólvora:
Seguem escaramuças
Por seu corpo escarpado,
Todo respingado de rubro.
PONTO CEM RÉIS
Não sei quantos reis
Passaram por este ponto
E não sei ainda
Se era sem réis
Caso houvesse pedágio
Transitar livremente.
ENQUETE
O vovô anarquista
Perguntou para o netinho
Se acreditava em Papai Noel:
- Por quê, vai me dar presente?
Inquiriu o garoto, todo serelepe,
Enquanto o avô confabulava
Com seus bigodes:
- Que menino materialista!
ANTI GULLAR
Inútil a luta corporal
Sem poemas concretos
Sobre romances de cordel
A sós dentro da noite veloz
Pra cometer poema sujo
E acender uma luz no chão
Em plena vertigem do dia
Causar crime na flora
E sair por aí fazendo barulhos
Com muitas vozes
E argumentação contra
A morte da arte
Pleno de antologias...
HORA DA RVOLUÇÃO
É hora da revolução!
É hora da revolução!
Não! Não é nenhum
Sinal dos tempos
Nem devido à queda
De algum ditador.
É que eu vi
Um homem no ônibus
Lendo o Manifesto Comunista.
PRÊMIO JUSTO
Corredor polonês
Só para o maldito inventor
Do corredor polonês,
Que eu fui.....
CACETE BAIANO
Depois de apanhar
Até gato morto miar,
Por dizer gracinhas
Para a menina dos olhos
Do paizão ciumento,
Diz que ganhou
O maior cacete baiano.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Eu sei que o boca-a-boca
É a melhor propaganda,
Mas não adianta resmungos
Nem choro pelos cantos.
Só devolvo o beijo
Que te roubei dormindo,
Se vieres tomá-lo
Boca-a-boca...
DEUSES DE PAUPÉRIA
Era uma cidade
Fundada por ATA
E lá estava escrito:
Artigo Único -
Aqui todos somos felizes,
Pela graça dos deuses.
E todos tudo fazem
Para o bem de todos.
§ Único – Revogam-se
as disposições em contrário.
Antonio Cabral Filho – RJ