Lester Brown Plano b 2.0

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  • PLANO B 2.0

  • EarthPolicy Institute,WashingtonDCwww.earth-policy.org

    CmaraMunicipal deTrancoso, Portugal

    TribunalEuropeudoAmbiente,Londreswww.eeft.org/eeft.html

    Fundao para asArtes, Cincias eTecnologias -Observatriowww.asa-art.com/facto.html

  • PLANO B 2.0Resgatando um Planeta

    sob Stress e umaCivilizao em Apuros

    Lester R. Browntraduo: Emanuel Cerveira Pinto

    Earth Policy Institute

    Tribunal Europeu do Ambiente

    Cmara Municipal de Trancoso

    Fundao para as Artes, Cincias e Tecnologias -

    Observatrio

  • Copyright 2006 by Earth Policy Institute

    Copyright desta edio Cmara Municipal de Trancoso, Tribunal Europeu doAmbiente, Fundao para asArtes Cincias e Tecnologias - Observatrio

    Os direitos autorais dos textos de introduo so reservados aos seus respectivosautores.

    Impresso em Portugal, 2006

    capa: de Emanuel Dimas deMelo Pimenta, 2006, utilizando imagem de pormenor daabbada da Capela Sixtina (1508-1512), A Criao de Ado, de MichelangeloBuonarroti e fragmentos da partitura virtual da composio musical intitulada VAC(1994), de sua autoria.

    Primeira Edio em Lngua Portuguesa

    Traduo: Emanuel Cerveira Pinto

    Conselho Editorial: Emanuel Dimas de Melo Pimenta eAntnio Cerveira Pinto

    A marca Earth Policy Institute est registada sob o US Patent e Trademark Office

    As opinies expressas neste livro so dos seus autores e no representamnecessariamente aquelas do Earth Policy Institute, daCmaraMunicipal de Trancoso,da Fundao para as Artes, Cincias e Tecnologias - Observatrio, ou do TribunalEuropeu do Ambiente, dos seus directores, adminsitradores, funcionrios oucolaboradores, ou mesmo dos seus fundadores.

    Aarte final deste livro ficou a cargo da ASAArt and Technology, de Londres.

    Brown, Lester Russel, 1934 -Plano B 2.0: Resgatando um planeta sob stress e uma civilizao em apuros

    1. Poltica Ambiental - Aspectos Econmicos. 2. Recursos Naturais - Gesto. 3.Desenvolvimento Econmico -Aspectos Econmicos.

  • Lester Brown conta-nos como construirum mundo mais justo e salvar o planeta

    de mudanas climticas numaforma prtica e directa.Deveramos todos seguir

    os seus conselhos

    Bill Clinton

  • O artista Alemo Joseph Beuys costumava dizer que ovalor que damos a uma coisa, a uma obra de arte por exemplo,nadamais que a energia nela acumulada. Essamisteriosa ener-gia era, para ele, a ateno, a dedicao conferida pelo actohumano. Sabemos bem o que ele defendia, todos os dias, emnosso quotidiano, quando diferenciamos at mesmo osmais sim-ples objectos.

    Segundo o seu pensamento, esta edio do PLANO B2.0 estaria plena de energia. Apesar da total falta de recursos,gradualmente, as pessoas foram envolvendo-se nela, de formagratuita e generosa, tornando-a possvel.

    Cabe agradecer o inestimvel apoio da INAPA Portu-gal Distribuio de Papel SA, que gentilmente ofereceu opapel para esta edio; INOVAArtes Grficas, que ofereceua impresso e a tinta; ASAArt and Technology, de Londres,pelas artes finais e divulgao; aoAntnio Cerveira Pinto, que,para alm de ter indicado a obra para traduo e ter feito todosos contactos iniciais com o Earth Policy Institute de Washing-ton, no apenas acompanhou o processo de publicao, comotambm contribuiu com a sua sempre dedicada e criteriosa su-perviso; ao Earth Policy Institute e a Lester Brown pelacedncia dos direitos de autor para esta edio; Reah JaniseKauffman pela sua ateno e entusiasmo; Cmara Munici-pal de Trancoso e, em especial, ao seu presidente, Dr. JlioSarmento, sem cujo apoio esta edio seguramente no teriasido possvel.

    Mgica onda que sedimenta a esperana num futuromaisseguro para toda a Humanidade.

    Fundao para as Artes, Cincias e TecnologiasObservatrio

    2006

  • Contedo

    Breve introduo por Jlio Sarmento 13SimbiosePlanetriaporEmanuel Pimenta 15FuturoAnteriorporAntnioCerveira Pinto 21

    Sobre oAutor 27Prefcio por Lester Brown 29

    1. Entrando numMundoNovo 37A Natureza do Novo Mundo 39Aprendendo com a China 44Aprendendo com o Passado 47As Polticas Emergentes da Escassez 50Obtendo o Preo Certo 52Plano B - Um Plano de Esperana 54

    I. UMACIVILIZAOEMAPUROS

    2. ParaAlm do Pico do Petrleo 59O Prximo Declnio do Petrleo 60A Intensidade do Petrleo nos Produtos Alimentares 65A Queda da Taxa de Cmbio Trigo-Petrleo 69Alimentos e Combustveis Competem pela Terra 71As Cidades e os Subrbios Depois do Pico do Petrleo 78O Mundo Depois dos Picos do Petrleo 80

  • 3. Emergncia da Falta degua 85O Abaixamento dos Nveis Freticos 87Rios que Secam 95Lagos que Desaparecem 96Agricultores em Perda Face s Cidades 98A Escassez Atravessa as Fronteiras Nacionais 101Uma Economia de Bolha Alimentar 103

    4.TemperaturasmaisAltas e Subida doNvel doMar 105O Aumento da Temperatura e os Seus Efeitos 107O Efeito da Produo Agrcola 111Reservatrios no Cu 114Gelo que Derrete e Mares que Sobem 116Tempestades Mais Destrutivas 123Subsidiando a Alterao Climtica 127

    5. SistemasNaturais emStress 129Diminuio das Florestas: os Custos 130Solo que se Perde 135Pastos que se Deterioram 138Desertos que Avanam 141Bancos de Pesca em Colapso 144Plantas e Animais que Desaparecem 148

    6. Sinais Precoces doDeclnio 153O Nosso Mundo Dividido Socialmente 154O Crescente Desafio Sade 158A Economia do Desperdcio em Apuros 164Conflitos da Populao e dos Recursos 166Refugiados do Ambiente no Horizonte 171Estados Falhados e Terrorismo 175

  • II. ARESPOSTA- PLANOB

    7. Erradicando a Pobreza, Estabilizando a Populao 181Educao Bsica Generalizada 183Estabilizando a Populao 187Melhor Sade Para Todos 191Controlar a Epidemia do HIV 195Reduzindo os Subsdios e as Dvidas da Agricultura 198Um Oramento para a Erradicao da Pobreza 201

    8. Restaurando aTerra 205Protegendo e Restaurando as Florestas 206Conservando e Reconstruindo os Solos 214Satisfazendo as Necessidades de gua da Natureza 218Regenerando os Bancos de Pesca 220Protegendo a Diversidade de Plantas e Animais 223O Oramento de Restaurao da Terra 225

    9.AlimentarBemSeteMilMilhes 231Repensando a Produtividade da Terra 232Aumentando a Produtividade da gua 236Produzindo Protenas de Forma Mais Eficiente 240Novos Sistemas de Produo de Protenas 245Descer na Cadeia Alimentar 249Aco em Muitas Frentes 252

    10.EstabilizandooClima 255Aumentando a Produtividade Energtica 258Dominando o Vento 261Carros Hbridos e Energia Elica 267Convertendo a Luz do Sol em Electricidade 270Energia da Terra 275Reduzir Rapidamente as Emisses de Carbono 278

  • 11. ConcebendoCidades Sustentveis 283A Ecologia das Cidades 286Redesenhando o Transporte Urbano 289Agricultura na Cidade 294Reduzindo o Consumo de gua Urbana 298O Desafio dos Guetos Urbanos 302Cidades para Pessoas 304

    III. UMANOVAEEXCITANTEOPO

    12.Construindo umaNovaEconomia 311Mudando os Impostos 313Mudando os Subsdios 319Eco-Rotulagem: Votando com as Nossas Carteiras 322Uma Economia de Novos Materiais 326Novas Indstrias, Novos Postos de Trabalho 333A Revoluo Ambiental 336

    13. PlanoB:Construindo umFuturoNovo 339Ouvindo os Sinais de Despertar 341Uma Mobilizao de Tempo de Guerra 345Mobilizar Para Salvar a Civilizao 347Um Apelo Grandeza de Esprito 354Voc e Eu 358

    RecursosAdicionais 363

    As notas deste livro esto disponveis emhttp://www.earth-policy.org/Books/PB2/pb2notes.pdf

  • O Municpio de Trancoso associa-se primeiraedio em lngua Portuguesa da notvel obra do Pro-fessor Lester Brown, com o claro propsito de contribuirpara a divulgao de uma das mais lcidas reflexesintelectuais do nosso tempo acerca das ameaasambientais que pairam sobre o planeta, e a necessidadeemergente de polticas que apontem caminhos novos eajudem a construir um mundo melhor.

    Jlio SarmentoPresidente da Cmara Municipal de Trancoso

    Portugal, 2006

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  • Simbiose Planetria

    O imperativo da metamorfose deve exigir que os universos mi-neral e orgnico tornem-se Mente com a sua mais avanadaforma, como a verdadeira e vvida memria de si mesma,

    nenhum detalhe ignorado. O resgate total da totalidade da evo-luo, um estado de ressurreio.

    Paolo Soleri

    Contrariamente ao que geralmente se diz, desdehmuito as questes ambientais tm exercido um imen-so fascnio sobre o ser humano. Diz-se que ter sidouma reaco emergncia das primeiras cidades, hmais de dez mil anos, em pleno Neoltico, que ter pro-duzido a ideia de paraso palavra que surge do Persaparidaiza, significando recinto do senhor... e que seriaum jardim.

    Algum tempo mais tarde, em cerca de 2.700 anosantes da era comum, surgem naMesopotmia, mais pre-cisamente em Ur, os primeiros decretos legais que seconhece destinados especificamente proteco dasflorestas que ainda no tinham sido destrudas.

    Os Gregos encantaram-se com aqueles magnfi-cos parasos artificiais designados pelo paridaiza etransformaram a expresso Persa em paradeisos. A pa-

  • lavra Grega transformou-se, quase sem alteraes, noLatim paradisus, que passou a ser usada para traduzirlivremente o Hebraico edhem que era o jardim ondeAdo e Eva teriam vivido, no texto Bblico, em perfeitaharmonia com aNatureza. EmHebraico, edhem signifi-ca simplesmente deleite.

    O deleite implica o envolvimento sensorial direc-to e acstico, em termos lgicos, da pessoa com o am-biente. a escala tribal.

    Na misteriosa e encantadora ndia, em 256 a.C. olegendrio rei Ashoka estabelecia o Edital dos Sete Pi-lares, um dos quais protegia especificamente os maisdiversos tipos de animais como papagaios, patos selva-gens, morcegos, para alm de vrios tipos de peixes,tartarugas e formigas entre outros.

    Em RomaAntiga, as crticas poluio do ar e poluio sonora eram comuns e encontravam repercus-so no grande poeta Horcio quando dizia da fumaa,da prosperidade e do rudo de Roma....

    Muito mais tarde, j nas fronteiras doRenascimento, cunhado pela fuso do papel e do alfa-beto fontico, Petrarca anunciava uma nova era. Do altodo Monte Ventoso, escrevia uma tumultuosa carta aoseu grande amigo Dionisio da Borgo San Sepolcro ondedestilava o seu espanto e atordoamento face ao indiv-duo que ele subitamente descobria em si mesmo, face comunidade que tornava-se pequena e distante vista doalto do monte.

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  • Imagem que seria fabulosamente sublimada porShakespeare, no Rei Lear, quando Edgar diz ao cegoGloucester Vinde, sir, este o lugar. Ficai quieto.Como horrvel e como entontece lanar os olhos que-las profundezas! Os corvos e as gralhas que por l voamso do tamanho de besouros; meia encosta algumest pendurado a colher uvas que horrvel ofcio! Di-ria que no maior que a sua prpria cabea. Os pesca-dores que agora caminham pela praia parecem ratos...No vou olhar mais. Receio que a vertigem ou algumaperturbao na vista faa-me cair de cabea para bai-xo.

    Shakespeare lanava no texto, como contedo, anova tecnologia que surgia aquilo que desenharia asociedade visual dos sculos seguintes.

    Para o universo visual, mecnico e literrio o am-biente no mais o envolvimento total que projectou apalavra edhem, nem o deleite que levou o Rei Ashoka aproteger vrias espcies de animais, ou mesmo aquiloque levou Horcio a tratar da prosperidade, da poluiosonora e do ar como signos da urbis. Uma urbis aindano suficientemente visual para ser plenamente divididaem departamentos.

    Omundo da literatura e da viso divide, seleccio-na e classifica tornando o ser humano em algo dife-rente de onde est, em todos os sentidos. Mas issoacontece enquanto um fenmeno localizado, individual.Para a viso, raramente h grandes e complexas totali-dades, mas bolses de totalidade, peas completas,

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  • departamentos de um sistema maior como o mecanis-mo de um relgio.

    Desencadeado pelo Sputnik em 1957, e mais es-pecialmente aps a dcada de 1970, o ambiente globalfoi tornando-se, gradualmente, no principal objecto domundo depois que os sistemas planetrios de teleco-municao tornaram o planeta Terra no seu prprio con-tedo, smbolo.

    a que surge James Lovelock e a hiptese deGaia tomando a Terra como um superorganismo, ex-presso tomada da genial Lynn Margulis. Hiptese du-ramente criticada por Richard Dawkins e Ford Doolittle,para quem o facto das mutaes evolutivas acontece-rem em termos locais e individuais condenaria a hipte-se de um planeta vivendo sob um processo dehomeostase global.

    Foi necessrio um processo de profundadesencarnao, primeiro com o telefone, depois com ardio e a televiso, para que o planeta se tornasse, eletodo, num smbolo, em algo destacvel, tangvel, algoseparado de ns, como determinaria a cultura literria,aqui tambm tornada contedo de uma nova explosocivilizatria.

    Isto porque o mundo visual tornou-se contedodo universo virtual. Assim, mesmo lidando com o pla-neta como um todo, muitas pessoas ainda defendemtratar a Terra como um conjunto de departamentos es-tanques, isolados uns dos outros.

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  • Normalmente no percebemos como isso acon-tece. Somos iludidos pelo nosso pensamento, que como conhecemos. Ou seja, aquilo que conhecemos a nossa forma de conhecer.

    Por essa via, vamos lidando com smbolos e ar-ticulando elaboraes metafricas de todo tipo, acredi-tando estarmos tratando da coisa em si.

    Mas, a coisa em si somos ns.

    Assim, a ideia de Margulis emerge com todo ovigor sob uma nova lgica, segundo a qual o princpiodo terceiro excludo, defendido por Aristteles, deixade fazer sentido. Somos e no somos tudo confluin-do para uma verdadeira simbiose planetria, tudointeragindo todo o tempo, como H. G. Wells to habil-mente intuiu na Guerra dos Mundos.

    O Tribunal Europeu do Ambiente visa a questoambiental como elemento antropolgico, cultural e to-tal. No mais as estratgias visuais, nem as antigas es-truturas tribais. Uma abordagem transdisciplinar,descontnua e permanentemente criativa.

    Foi assim que o artista e pensador, crtico domundo, Antnio Cerveira Pinto, sugeriu a traduo pela primeira vez para a lngua Portuguesa da clebreobra de Lester Brown PLANO B 2.0. Uma indicaomais que apropriada de um livro que tem girado o mun-do, provocando todo o tipo de discusses.

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  • 20Antnio Cerveira Pinto tem dedicado parte dos

    ltimos anos permanente reflexo acerca dos destinosplanetrios. Uma das suas obras mais interessantes nes-se sentido O Grande Esturio, em Lisboa que jprevia, desde a sua origem, muitas das ideias defendi-das por Lester Brown.

    Esta edio histrica do PLANO B 2.0 apenasfoi possvel pelo apoio, sempre entusistico, do Dr. J-lio Sarmento, Presidente da Cmara Municipal deTrancoso.

    E , tanto para o Tribunal Europeu do Ambientecomo para cada um de ns, um momento de excelnciaquando podemos reflectir livremente sobre as ideias deLester Brown.

    Um momento de liberdade e descoberta, confe-rindo a cada ser humano a responsabilidade de dese-nhar mudanas num mundo em permanente metamor-fose.

    Emanuel Dimas de Melo PimentaTribunal Europeu do Ambiente

    Londres 2006

  • Futuro anterior

    Foi depois de ler, em 2002, Beyond the Limits(1992), de Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows eJrgen Randers, os mesmos que em 1972 publicaramLimits to Growth sob o patrocnio do Clube de Roma,cuja edio actualizada viria a ler em 2004, que o meuesprito entrou em alerta laranja relativamente aos hori-zontes do nosso futuro colectivo. As leituras sobre estetema sucederam-se e no pararam mais: o clebre epremonitrio relatrio de M. King Hubbert NuclearEnergy and Fossil Fuels (1956), The Long Emergency,de James Howard Kunstler (2005), Peaking of WorldOil Production: Impacts, Mitigation and RiskManagement, de Robert L. Hirsch (2005), Collapse,de Jared Diamond (2005) e Plan B 2.0, de Lester R.Brown (2006)...

    Calcula-se que a populao mundial crescer emduzentos anos (1850-2050), perodo que correspondegrosso modo durao da era industrial, de 1,26 paracerca de 9,1 mil milhes de habitantes. Esta explosodemogrfica, que acabar inevitavelmente por regredir,entrou a partir da dcada de 70 do sculo 20 num qua-dro ecolgico ameaado pela escassez de vrios facto-res essenciais sua prpria curva de crescimento: gua

  • potvel, gua para regar os cultivos destinados ali-mentao (mas tambm produo de bio-combust-veis!), terra arvel, combustveis fsseis baratos (car-vo, petrleo, gs natural) e boa parte dos metais quealimentaram at hoje o nosso hiper-desenvolvimento:ferro, cobre, alumnio, nquel, estanho, zinco, prata, pla-tina e ouro. Por outro lado, o crescimento actual gerauma poluio letal, sobretudo nos pases emergentes eem vias de desenvolvimento, de que a tonelagem deresduos txicos dificilmente reciclveis e as emissesde carbono para a atmosfera so dois alarmantes indi-cadores. Do ponto de vista do paradigma actual dodesenvolvimento (crescimento contnuo do PIB, con-centrao financeira e globalizao), estamosmergulha-dos numa crise energtica e num dilema sem preceden-tes.

    As energias renovveis de que se tem faladomui-to ultimamente (elica e solar) so caras, tendo umEROEI (Energy Return On Energy Invested) relativa-mente baixo, ou mesmo negativo, razo pela qual tmdependido de subsdios estatais em todo o mundo. Omais provvel que estes custos venham a ser suporta-dos pelo consumidor atravs de adicionais s facturasque lhe so apresentadas. Por outro lado, o aumento daprocura e a diminuio-encarecimento das reservas decombustveis fsseis (sobretudo lquidos), no s ele-var os respectivos custos, como continuar a repercu-tir este encarecimento nos custos de produo das pr-prias energias e combustveis alternativos, deitando por

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  • terra a possibilidade de encontrarmos uma alternativaefectiva (em termos de quantidade, qualidade, potenci-al, versatilidade e preo) ao uso do petrleo, do gsnatural e das centrais hdricas e nucleares na produode energia. No nos esqueamos que 50-60% do petr-leo consumido no mundo vai direitinho para o sectordos transportes. Seja como for, pela via da expansodas energias renovveis, complementando, mas nuncasubstituindo, pelo menos para j, as no-renovveis,assistiremos a um aumento acentuado e contnuo dopreo dos combustveis, sejam eles quais forem. Aconsequncia deste aumento progressivo do preo daenergia ser a inflao e o aumento das taxas de juro emtodo o mundo. A que se seguir inevitavelmente a des-truio de muitas economias nacionais e privadas, de-crscimos dramticos do consumo e do emprego e umadiminuio acentuada da procura de energia. S nosabemos quanto que tudo isto vai custar em vidashumanas.

    No outro extremo do dilema temos a criao edesenvolvimento de novas modalidades de energia nu-clear: reactores de quarta gerao (Gen IV), cujas pri-meiras verses comerciais podero funcionar a partirde 2030, e centrais de fuso nuclear, cujo primeiro reac-tor experimental dever prestar provas em 2016. Tudosomado, pode dizer-se que uma nova alternativa nucle-ar, mais segura e de altssimo rendimento, poderia co-mear a substituir as actuais centrais nucleares a partirde 2050, perfilando-se assim esta forma de energia hiper-tecnolgica como o elo de continuidade entre a civiliza-

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  • o carbnica e a civilizao nuclear. Sucede porm,que esta alternativa, em vez de empurrar a humanidadepara uma espcie de idade mdia tecnolgica, corre orisco de acelerar ainda mais o processo de exaustodos recursos disponveis, a no ser que at l consiga-mos resolver o problema demogrfico (sobretudo emfrica e na sia), o problema da fome e o problema dapoluio, revertendo de vez o paradigma econmicoactual. Por fim, no que alternativa nuclear (GEN IV ede fuso) se refere, apenas produzir electricidade, noresolvendo o problema da infinidade de produtos deri-vados do petrleo e do gs natural absolutamente es-senciais ao actual estilo de vida dos pases: combust-veis lquidos, plsticos, pesticidas e fertilizantes, tintas,vernizes, decapantes e remdios, entre outros.

    Para alm da emergncia energtica que acaba-mos de descrever sumariamente, num tom mais dram-tico que o de Plano B 2.0 (que , antes de mais, umdesafio criatividade e uma aposta na sobrevivncia danossa civilizao), as alteraes climticas que tm vin-do a ser detectadas pela esmagadora maioria dos ob-servadores cientficos de todo o mundo ameaam lan-ar o planeta Terra num perodo de aquecimento glo-bal-arrefecimento local catastrfico. Apossibilidade deum colapso da civilizao, precedido de crisesenergticas agudas, de crises sociais gravssimas, decrises militares brutais, de uma recesso econmicamundial de longa durao, da queda em domin dossistemas financeiros e da paralisia de boa parte das ci-

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  • dades e redes urbanas existentes deixou de ser um ce-nrio de fico cinematogrfica. Todos os ingredientesda tragdia esto j no terreno. Haver um Plano B?

    O livro de Lester R. Brown uma excelente eurgente resposta a esta pergunta. Por isso recomendei asua traduo para a lngua portuguesa ao Emanuel Dimasde Melo Pimenta, assim que aceitei colaborar com elena organizao do Encontro As Origens do Futuro, doTribunal Europeu do Ambiente, que ter lugar emTrancoso no ms de Outubro de 2006.

    Antnio Cerveira Pinto2006

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  • Sobre o Autor

    Lester R. Brown Presidente do Earth Policy Institute,umaorganizaono lucrativade investigao interdisciplinar basea-da emWashington, D.C., fundada por si em 2001. O objectivo doEarthPolicy Institute fornecer umaviso da economia sustentveldo ponto de vista ambiental e um roteiro para chegar at l.

    H cerca de 30 anos, Brown esteve entre os pioneiros naconcepo do desenvolvimento ambiental sustentvel, usando actu-almente este conceito no seu projecto de eco-economia. Fundadore foi Presidente doWorldwatch Institute durante os primeiros 26anos. Ao longo de uma carreira que comeou com a produo agr-cola de tomate, Brown foi autor ou co-autor de inmeros livros erecebeumais de 20 graus honorrios. Os seus livros esto editadosemmais de 40 idiomas.

    Brown umMacArthurFellow e recebeu umgrande nme-ro de prmios e distines, incluindo o Prmio para oAmbiente dasNaes Unidas em 1987, aMedalha de Ouro doWorldWide Fundfor Nature em 1989, e o Blue Planet Prize em 1994 pelas suascontribuies excepcionais para a soluo dos problemas do ambi-ente global. Em 1995, a publicaoMarquis Whos Who, na suadcima quinta edio, seleccionou Lester Brown como um dos 50americanosmais importantes.Mais recentemente foi-lhe atribuda aMedalhaPresidencial de Itlia e oPrmioBorgstrm, pelaRealAca-demia Sueca daAgricultura e Florestas, e foi nomeado professorhonorrio daAcademiaChinesa dasCincias. LesterBrownvive emWashington,D.C.

  • Prefcio

    O Plano A, business as usual, mantm o mundo num caminhoambiental que est a conduzir ao declnio econmico e a um even-tual colapso. Se a nossa meta assegurar o progresso econmi-co, no temos alternativa seno colocarmo-nos num outro cami-nho o Plano B. Esta a razo pela qual escrevi o Plano Boriginal, em 2003.

    H muitas razes para termos actualizado e expandido estaedio de 2003, apresentando o Plano B 2.0.Amais importan-te que ainda no h uma conscincia suficientemente difundidae partilhada de que temos que construir uma nova economia e,ainda menos, uma viso sobre como ser essa economia. O ob-jectivo deste livro fazer uma defesa convincente da necessida-de de construir a nova economia, dar uma viso mais detalhadasobre como ela ser e oferecer um roteiro que nos indique ocaminho para l chegar.

    H muitas outras razes para esta nova edio. Um, h no-vas provas seguras de que o modelo econmico ocidental nofuncionar com a China. Dois, o fornecimento cada vez maisescasso de petrleo levanta novas e inquietantes questes quemerecem ateno. Trs, uma vez que a pobreza no pode sererradicada se os sistemas naturais de apoio continuarem a dete-riorar-se, inclumos tambm aqui um oramento de restauraoda Terra em complemento do oramento de erradicao da po-breza includo na primeira edio. Quatro, os avanostecnolgicos dos ltimos anos perspectivam novas e excitantespossibilidades de inverter as tendncias ambientais que esto a

  • 30pr em causa o nosso futuro. E, cinco, queramos simplesmentefazer uma nova edio devido inesperada resposta entusisti-ca que a primeira teve.

    Para desenvolver o primeiro destes pontos, a China j al-canou os Estados Unidos no consumo dos recursos mais bsi-cos. Entre os principais bens essenciais do sector alimentar (grose carne), do sector energtico (petrleo e carvo) e da econo-mia industrial (ao), a China j est frente dos Estados Unidosno consumo de todos menos do petrleo.

    Que acontecer se a China alcanar os Estados Unidos noconsumo per capita? Se a economia da China continuar a cres-cer 8 por cento ao ano, o seu rendimento per capita atingir onvel actual dos EUA em 2031. Se assumirmos que os nveis deconsumo per capita chins em 2031 sero os mesmos que osdos Estados Unidos hoje, ento a populao de 1.450 mil mi-lhes de habitantes prevista para o pas consumiria uma quanti-dade de gros igual a dois teros da colheita mundial actual, oseu consumo de papel seria o dobro da actual produo mundiale o consumo de petrleo seria de 99 milhes de barris por dia muito acima da produo mundial actual de 84 milhes de bar-ris. Omodelo econmico ocidental no poder funcionar na Chi-na. Nem funcionar na ndia, que em 2031 se prev que venha ater uma populao ainda maior que a da China, nem para osoutros trs mil milhes de pessoas dos pases em vias de desen-volvimento que tambm sonham o sonho americano. E numaeconomia mundial cada vez mais integrada, onde todos os pa-ses competem pelo mesmo petrleo, gros e recursos minerais,o modelo econmico existente tambm no funcionar para ospases industrializados. Aeconomia baseada nos combustveisfsseis, centrada no automvel e no desperdcio, temosdias con-tados.

    Relacionado de perto com o crescimento do consumo derecursos na China est a situao, em rpida mudana, do pe-trleo e as novas questes que isso levanta. Por exemplo, temo-nos vindo a preocupar h muito com o efeito da subida dos pre-os do petrleo nos custos da produo alimentar, mas o efeito ainda mais preocupante na procura de bens essenciais alimen-

  • 31tares. Uma vez que praticamente tudo o que comemos pode serconvertido em combustvel automvel, quer em destilarias deetanol quer em refinarias de biodiesel, os preos altos do petr-leo esto a abrir um novo e vasto mercado para os produtosagrcolas. Os compradores de bens essenciais para os produto-res de combustveis esto a competir directamente com a inds-tria alimentar pelos fornecimentos de trigo, milho, soja, cana-de-acar e outros produtos alimentares. De facto, os super-mercados e as estaes de servio competem agora pela obten-o dos mesmos bens essenciais.

    O preo do petrleo est a determinar o preo da alimenta-o simplesmente porque se o valor para combustvel de um bemessencial exceder o seu valor para a alimentao, ento essebem ser convertido em combustvel. medida que cada vezmais destilarias de etanol e refinarias de biodiesel so construdas,os proprietrios afluentes de automveis deste mundo estaro acompetir com os pobres do mundo pelos mesmos bens essenci-ais.

    No Plano B original, tnhamos um oramento para erradicara pobreza, mas se os sistemas ambientais de suporte da econo-mia entrarem em colapso, a erradicao da pobreza no serpossvel. Se as terras de cultivo estiverem em eroso e as colhei-tas a diminuir, se os nveis dos lenis freticos estiverem a bai-xar e os poos a secar, se as terras de pasto se estiverem atransformar em desertos e o gado estiver a morrer, se os bancosde peixe estiverem em colapso, se as florestas estiverem a enco-lher, e se o aumento das temperaturas estiverem a queimar ascolheitas, um programa de erradicao da pobreza por muitobem que seja concebido e implementado no ter sucesso.

    Por esta razo, acrescentmos um oramento de restaura-o da Terra para recuperar a sua sade produtiva da e viabilizaro oramento para a erradicao da pobreza. Ele inclui os custosde proteger e restaurar solos, florestas, terras de pasto e bancosde peixe ocenico, para alm da conservao da diversidadebiolgica no planeta. Tambm contempla a necessidade de pa-rar o avano dos desertos que ameaa deslocar milhes de pes-soas.

  • 32E finalmente, as boas notcias e outra razo para actualizar

    o Plano B so que as novas tecnologias do uma esperanaquanto forma como lidar com os crescentes desafios com quenos deparamos na frente ambiental. Por exemplo, os avanosnos carros hbridos a gasolina e electricidade e na concepo deturbinas elicas criaram as condies para a evoluo de umanova economia do combustvel automvel. O uso de hbridos agasolina e electricidade com uma bateria extra de armazenamentocom capacidade de ligao rede elctrica permite-nos fazerdeslocaes de automvel em distncias curtas essencialmente base de electricidade. Se combinarmos isto com o investimen-to em parques elicos para fornecer electricidade barata rede,podemos fornecer, em grande medida, energia aos automveiscom energia do vento. Usar electricidade barata gerada pelo ventopara recarregar as baterias durante as horas de menor consumode electricidade custa o equivalente gasolina a 50 por galo!Este apenas um exemplo das possibilidades para construirmosuma nova economia que possa sustentar o progresso econmicoe, ao mesmo tempo, poupar dinheiro, reduzir a dependncia dopetrleo e reduzir as emisses de carbono.

    Tambm nos inspirmos para o Plano B 2.0 com a respostaextraordinria que teve a primeira edio. Olhando para a nossabase de dados de vendas vrios meses aps a publicao, veri-ficmos quemuitas pessoas que tinham encomendado inicialmenteuma cpia voltaram a encomendar 5, 10, 20, at 50 ou maiscpias para oferecerem a colegas, a lderes de opinio, lderespolticos e outros.

    Em resposta a isto, formmos uma Equipa do Plano B compessoas que encomendaram 5 ou mais cpias. Essa equipa temagora cerca de 650 pessoas. Ted Turner, que comprou 3.569cpias para distribuir a Chefes de Estado, ministros, CEOs dasempresas da Fortune 500, Congresso dos EUA e outros, foi de-signado capito da equipa. Com a Equipa do Plano B agora cons-tituda, na altura em que surge esta reviso expandida, contamosaumentar o seu nmero de membros de modo a que em brevehaja milhares de pessoas a promover activamente este plano parasalvar a nossa civilizao.

  • 33H uma crescente onda de pblico preocupado com a direc-

    o que o mundo leva e uma crescente conscincia de que te-mos que mudar o rumo. O aumento do preo do petrleo e acrescente competio por este recurso esto a alimentar estapreocupao. O mesmo acontece com as vrias manifestaesda alterao climtica, tais como a fuso do gelo e o aumento donvel do mar. Quando o furaco Katrina deixou no seu rasto umaconta de 200 mil milhes de dlares quase sete vezes mais quequalquer outra tempestade anterior isso enviou uma mensa-gem para o mundo inteiro.

    o aumento da preocupao pblica que em breve podecomear a virar o processo de criao de polticas na direcocerta, uma direco que ponha o mundo num caminho ambientalque sustente o progresso econmico.

    Pode ser feito o download gratuito deste livro a partir donossoWeb site. Para obter autorizao para imprimir ou extrairpartes do manuscrito, contactar Reah Janise Kauffman no EarthPolicy Institute.

    Lester R. BrownOutubro de 2005

    EarthPolicy Institute1350ConnecticutAve. NWSuite 403Washington, DC 20036

    Telefone: +1 202 496-9290Fax: +1 202 496-9325E-mail: [email protected] site:www.earthpolicy.org

  • Plano B 2.0

  • 1Entrando num Mundo Novo

    A economia global est a ter um crescimento para alm do que aTerra pode suportar, levando a nossa civilizao do incio do sculovinte e umpara umponto cada vezmais perto do declnio e do pos-svel colapso. Enquanto nos preocupamos com relatrios de ganhostrimestrais e como crescimento econmico em cada ano que passa,perdemos a perspectiva da dimenso que adquiriu a empresa huma-na face aos recursos daTerra.H um sculo, o crescimento anual daeconomiamundial eramedido numa escala de grandeza demilmi-lhes de dlares. Hoje medido emmilhares demilhes de dlares.

    Como resultado, estamos a consumir recursos renovveis a umavelocidade superior que levam a regenerar-se.As florestas esto aencolher, as pastagens a deteriorar-se, os nveis freticos a afundar-se, os stocks de pesca esto em colapso, e os solos em eroso.Estamos a usar o petrleo a um ritmo que nos deixa pouco tempopara planear para alm do pico do petrleo. E estamos e emitir paraa atmosfera gases que provocam efeito de estufamais rapidamentedo que a natureza os consegue absorver, criando as condies paraumaumento da temperatura daTerramuito para almdoque algumavez aconteceu desde que a agricultura comeou.

  • 38Acivilizaodo sculovinte eumno aprimeira a seguir numa

    direco econmica que no ambientalmente sustentvel.Muitascivilizaesanteriores tambmseencontraramemapurosambientais.Como JaredDiamond nota emCollapse: How Societies Choose toFail or Succeed, algumas conseguiram mudar de rota e evitar odeclnio econmico.Outras no. Estudamos os locais arqueolgicosdos Sumrios, dosMaias, da Ilha de Pscoa e de outras civilizaesantigasquenoconseguiramfazerosajustamentosnecessrios a tem-po.1

    Felizmente, est a nascer um consenso entre cientistas sobre aslinhasmestras dasmudanas necessrias. Se queremos umprogres-so econmico que seja sustentvel, temos que substituir a economiabaseada em combustveis fsseis, centrada no automvel, e de des-perdcio, por umnovomodelo econmico. Emvez de se basear emcombustveis fsseis, a nova economia ser alimentada por fontesabundantes de energia renovvel: elica, solar, geotrmica, hdrica ebiocombustveis.

    Em vez de se centrarem em torno dos automveis, os futurossistemas de transportes seromuitomais diversificados, comempre-go generalizado de carris leves, autocarros e bicicletas, a par doscarros.O objectivo sermaximizar amobilidade, no a propriedadedeumautomvel.

    A economia de desperdcio ser substituda por uma economiaabrangente de reutilizao e reciclagem. Produtos de consumo, des-de carros a computadores, sero concebidos de modo a poderemser desmontados empeas e completamente reciclados. Produtos dedesperdcio, como embalagens de bebidas individuais, deixaro deser usados.

    As boas novas so que j podemos ter algum vislumbre, aqui eali, de como esta nova economia ser. Temos as tecnologias para aconstruir incluindo, por exemplo, carros hbridos a gasolina e elec-tricidade, torres aerogeradoras de ltima gerao, frigorficos alta-menteeficientes e sistemasde irrigaodeconsumoeficientedegua.

    Podemos ver, tijolo a tijolo, como construir a nova economia.

    Plano B 2.0

  • 39Com cada parque elico, painel solar, instalao de reciclagem depapel, trilho de bicicletas e programade reflorestao, ficamosmaisperto de uma economia que possa sustentar o progresso econmico.

    Se, pelo contrrio, permanecermos nomesmo caminho econ-mico, a pergunta a fazer no ser se a deteriorao ambiental condu-zir aodeclnioambiental,mas sim,quando.Nenhumaeconomia, pormais desenvolvida tecnologicamente que seja, pode sobreviver aocolapso dos seus sistemas de suporte ambiental.

    ANatureza doNovoMundo

    Entrmos recentemente num novo sculo, mas estamos tambm aentrar numnovomundo emque as colises entre as nossas necessi-dades e a capacidade da Terra para as satisfazer esto a tornar-seacontecimentos dirios. Pode sermais uma onda de calor de gravesconsequncias nas colheitas,mais uma aldeia abandonada devido invaso das dunas de areia, oumais um aqufero que secou. Se noagirmos rapidamente para inverter as tendncias, estes eventos apa-rentemente isolados tornar-se-o cada vezmais frequentes, aumen-tando de nmero e combinando-se para determinar o nosso futuro.

    Recursosque se acumularamao longodeumaquantidadeenormede tempogeolgico esto a ser consumidos apenas no tempode umavidahumana.Estamosaultrapassar limitesnaturais quenopodemosver e a violar prazos que no conseguimos reconhecer. Estes prazoslimite, determinados pela natureza, no so politicamente negoci-veis.

    Anatureza temmuitos limites quedescobrimosapenasquando j demasiado tarde. No nosso mundo acelerado, apenas descobri-mos que os ultrapassmos depois de o termos feito, restando poucotempo para ajustes. Por exemplo, quando excedemos a pesca sus-tentvel num banco de peixe, os stocks comeam a diminuir. Umavez ultrapassado este limiar, temos um tempo limitado para arrepiarcaminho e aliviar o esforo de pesca. Se no o fizermos neste prazo,a capacidade de alimentar as populaes onde a pesca j no vi-vel diminui, e esta entra emcolapso.

    Entrando num Mundo Novo

  • 40Sabemos a partir de civilizaesmais antigas que os indicadores

    principais de declnio econmico foram de carcter ambiental, noeconmico. Primeiro foram-se as rvores, depois o solo e, finalmen-te, a prpria civilizao. Para os arquelogos, esta sequncia de-masiadofamiliar.

    Anossa situao bastantemais inquietante porquepara almdadiminuio das florestas e da eroso dos solos, temos que lidar comabaixamentodosnveis freticos, comondasde calor de severos efei-tos nas colheitas, stocks de peixe em colapso, desertos em expan-so, pastos emdeteriorao, bancos de coraismoribundos, glaciaresque se derretem, mares que sobem, tempestades mais poderosas,espcies em extino e, em breve, fontes de petrleo que se esgo-tam.Embora estas tendncias ecolgicas destrutivas sejamevidentesh j algum tempo, e algumas tenhamsido invertidas ao nvel nacio-nal, nenhumao foi escala global.

    A verdade que omundo est no que os ecologistas designampormodo almdos limites-e-em colapso.Aprocura excedeu in-meras vezes no passado a produo sustentvel dos sistemas natu-rais. Agora, pela primeira vez, isso est a acontecer escala global.As florestas esto a ver diminuir a totalidade da sua rea escalamundial. O colapso nos stock de peixe espalha-se por toda a parte.As pastagens esto a deteriorar-se em todos os continentes. Os n-veis freticos estoabaixar emmuitospases.Asemissesdedixidode carbono (CO2) excedem, por toda a parte, a capacidade da suaabsoro e processamento pelo ambiente.

    Em 2002, uma equipa de cientistas liderada por MathisWackernagel, que dirige actualmente oGlobal Footprint Network,concluiuqueasprocuras colectivasdahumanidadeultrapassaramporvolta de 1980 a capacidade regenerativa da Terra. O seu estudo,publicado pelaU.S. National Academy of Sciences, estimou que asprocuras em 1999 excederam essa capacidade em 20%. Esta dife-rena, que cresce cerca de 1%ao ano, agoramuitomaior. Estamosa satisfazer as procuras actuais delapidando as riquezas naturais daTerra e criando as condies para o declnio e colapso.2

    Numa abordagem bastante engenhosa para calcular a presenafsica humananoplaneta, PaulMacCready, fundador ePresidente daAeroVironment e criador do primeiro avio a energia solar, calculou

    Plano B 2.0

  • 41o peso de todos os vertebrados existentes na terra e no ar. Ele refereque quando a agricultura comeou, os humanos e o seu stock deanimais de criao e domsticos emconjunto constituammenos de0,1 por cento do total. Hoje, estima que este grupo constitua 98 porcento da biomassa vertebrada total da Terra, restando apenas 2 porcento para a poro selvagem, que inclui todos os veados, bois-ca-valos, elefantes, grandes gatos, pssaros, pequenosmamferos, etc.3Osecologistas estomuito familiarizadoscomofenmenoalmdoslimites-e-emcolapso.Umdos seus exemplos favoritos comeouem1944, quando aGuardaCosteira introduziu 29 renas na ilha remotade St. Matthew, no Mar de Bearing, para servirem de reserva ali-mentar aos 19homens que ali operavamumaestao.Depois do fimdaSegundaGuerraMundial, umanomais tarde, a base foi encerradae os homens deixaram a ilha. Quando o bilogo doU.S. Fish andWildlife Service, DavidKline visitou St.Matthew em1957, desco-briu umapopulao emexpansode1.350 renas que se alimentavamde ummanto espesso de lquenes que cobria a ilha de 332 quilme-tros quadrados. Na ausncia de quaisquer predadores, a populaoestava em exploso. Por volta de 1963, tinha atingido 6.000 unida-des. Regressado aSt.Matthewem1966, descobriu uma ilha cobertade esqueletos de rena e nomuitos lquenes.Apenas 42 renas tinhamsobrevivido: 41 fmeas e ummacho nomuito saudvel. No haviaanimais jovens.Porvoltade1980, as renas restantes tinhammorrido.4

    Como as renas na ilha de St. Matthew, tambm ns estamos aconsumir em excesso os nossos recursos naturais. Ultrapassar os li-mites leva, por vezes, ao declnio e, outras vezes, ao colapso comple-to. Nem sempre claro qual destes acontece. No primeiro, sobrevi-ve um remanescente da populao ou actividade econmica numambiente de recursos depauperados. Por exemplo, medida que abase dos recursos ambientais da Ilha de Pscoa, no Pacfico Sul, sedeteriorou, a populao declinou de ummximode 20.000 pessoas,h alguns sculos, para uma populao actual de menos de 4.000.Emcontraste, a populaodeVikings, daGronelndia, com500anosde existncia, entrou emcolapsonos anos1400, desaparecendocom-pletamente face adversidade ambiental ento verificada.5

    Desde 2005, cerca de 42 pases tm populaes que estabiliza-ramoudiminuram ligeiramente como resultado da quebra das taxas

    Entrando num Mundo Novo

  • 42de natalidade.Mas agora, pela primeira vez, os demgrafos esto aprojectar decrscimos populacionais nalguns pases devido ao au-mento das taxas demortalidade; entre esses pases esto oBotswana,o Lesoto, a Nambia e a Suazilndia. Na ausncia de umamudanaacelerada para ummodelo de famlias pequenas, esta lista de pasespoder crescer bastante nos prximos anos.6

    Asmais recentes projeces demogrficas de nvel mdio dasNaesUnidas apontampara umaumento da populaomundial de6,1milmilhes em 2000 para 9,1milmilhes de pessoas em 2050.Masum tal aumento parece altamente improvvel, se considerarmosa deteriorao dos sistemas de suporte da vida actualmente emcursona maior parte do mundo. Ser que no alcanaremos os 9,1 milmilhesporqueseremoscapazesdeerradicarapobrezaglobal ebaixaras taxas de natalidade?Ou antes por no o conseguirmos fazer e astaxas de mortalidade comearem a subir, tal como j acontece emmuitospases africanos?Enfrentaremos, assim,dois grandesdesafiosurgentes: reestruturar a economia global e estabilizar a populaomundial.7

    Ao mesmo tempo que os sistemas econmicos de suporteambiental se deterioram, omundo est a extrair petrleo com totalimpunidade.Reconhecidos gelogos pensamque a produo de pe-trleo pode atingir o seu pico em breve e comear a diminuir. Estacoliso entre a sempre crescente procura do petrleo e os recursosfinitos daTerra no seno a ltima de uma longa srie de colises.Embora ningum saiba quando se atingir o pico da produo depetrleo, o fornecimento j inferior procura, conduzindo subidados preos.8

    Neste novomundo, o preo do petrleo comea a estabelecer opreo dos alimentos, no tanto devido aos custos crescentes do com-bustvel para a agricultura e indstria alimentarmasmais porquequa-se tudo o que comemos pode ser convertido em combustvel paracarros. Neste novo mundo de preos altos do petrleo, os super-mercados e as estaes de servio competiro por preos de benscomo o trigo, milho, soja e cana-de-acar. O trigo que vai para omercado pode ser convertido empo para os supermercados ou emetanol para as estaes de servio. O leo de soja pode ir para asprateleiras dos supermercados ou para as estaes de servio para

    Plano B 2.0

  • 43ser usado como biodiesel. De facto, os donos dos 800 milhes decarros existentes nomundo iro competir pelos recursos alimentarescomos 1,2milmilhes de pessoas que vivemcommenos de 1 dlarpor dia.9

    Confrontados com uma to insacivel procura de combustvelpara automveis, os agricultores iro querer devastar cada vezmaisas florestas tropicais que ainda existem para produzir cana-de-a-car, palmeiras, e outras culturas de alta rentabilidade para produode fuel.Esto j emmovimentomilhesdedlares de capital privadonesta direco. De facto, o preo crescente do petrleo est a gerarumanova e enorme ameaa para a diversidade biolgica daTerra.medida que aumenta, a procura de bens agrcolas est a fazer virar ofoco das preocupaes do comrcio internacional do objectivo tra-dicional de assegurar o acesso aosmercados para o de assegurar oacesso aos fornecimentos. Os pases fortemente dependentes daimportao de cereais para a alimentao comeamagora a preocu-par-se com a possibilidade dos compradores para as destilarias decombustvel poderemoferecermais dinheiro pelos fornecimentos.medida que a segurana face ao petrleo se deteriora, tambm asegurana alimentar se deteriora.

    Com o recuo do papel do petrleo, tambm o processo daglobalizaoser invertidode formasignificativa.Comaviragemparao petrleo durante o sculo passado, a economia da energia tornou-se cadavezmais globalizada, comomundoadepender pesadamentede umamo cheia de pases noMdioOriente para o fornecimentode produtos energticos.Agora, neste sculo, comomundo a voltar-se para ovento, clulas solares e energia geotrmica, assistimos a umprocesso de localizao na economiamundial da energia.

    Aglobalizao da economia alimentarmundial tambmser in-vertida medida que o preo do petrleo aumenta o custo do trans-porte internacional de alimentos. Em resposta, a produo alimentare o seu consumo tornar-se- mais localizada, conduzindo a dietasmais baseadas emalimentos produzidos localmente e na suadisponi-bilidade sazonal.

    Omundoest confrontado comaemergncia deumageopolticada escassez, que j altamente visvel nos esforos daChina, ndia eoutros pases emdesenvolvimento para garantir o acesso aos forne-

    Entrando num Mundo Novo

  • 44cimentosdepetrleo.No futuro, vamosquerer saberquemteracessono s ao petrleo do Mdio Oriente, mas tambm ao etanol doBrasil e aos cereais daAmrica doNorte.As presses sobre a terrae fontes de gua, actualmente j excessivas namaior parte domundo,intensificar-se-o namedida em que a procura de biocombustveissubir. Esta geopoltica da escassez umamanifestao antecipadadacivilizao emmodo de alm dos limites-e-em colapso, muito semelhana daquela que emergiu nas cidadesMaias que competiampor alimentos nos anos de declnio daquela civilizao.10

    No preciso ser ecologista para ver que se as tendnciasambientais recentes continuarem, a economia global acabar por sedesmoronar.No de conhecimento que temos falta. Est na ordemdodia saber se os governos nacionais conseguemestabilizar a popu-lao e reestruturar a economia antes que o tempo se esgote.

    Olhar para o que acontece actualmente na China ajuda-nos aperceber a premncia de agir rapidamente.

    Aprendendo comaChina

    Hmuitos anos que os ambientalistas apontam os EstadosUnidos,onde 5 por cento da populao mundial consome quase um terodos recursos terrestres, comoomaior consumidormundial de recur-sos. Embora isso fosse verdade por algum tempo, no o mais.AChina substituiu os EstadosUnidos como lder no consumo dos re-cursos bsicos.11

    Dos cinco bens bsicos, alimentares, energticos e industriais cereais e carne, petrleo e carvo, e ao o consumonaChina eclip-sou o consumo americano de todos, excepto o petrleo. A Chinalidera no consumo dos cereais, com 380milhes de toneladas em2005 contra 260milhes dos EstadosUnidos. Ds trs principais ce-reais, a China lidera o consumo de trigo e arroz e apenas est atrsdos EstadosUnidos nomilho.12Embora comer hambrgueres sejaumelementodefinidor do estilo devidadosEUA, em2005, o consu-mo de 67milhes de toneladas de carne naChina est acima das 38milhes de toneladas consumidas nosEstadosUnidos.EnquantonosEUAo consumo de carne est distribudo de forma bastante equili-brada entre carne de vaca, porco e aves, na China o porco dominatotalmente. Na verdade, s na China existem actualmente metade

    Plano B 2.0

  • 45dos porcos domundo.13

    No caso do petrleo, os Estados Unidos estavam ainda solida-mente frente em2004, consumindo trs vezesmais do que aChina 20,4milhes de barris por dia versus 6,5milhes de barris.Mas ouso do petrleo pelos EUA apenas cresceu 15 por cento entre 1994e 2004, enquanto naChinamais que duplicou.Tendo recentementeeclipsado o Japo como consumidora de petrleo, aChina est ago-ra logo atrs dos EstadosUnidos.14

    OconsumodeenergianaChina inclui obviamente tambmocar-vo, que fornece cerca de dois teros da energia do pas.Aqueimaanual da China de 960milhes de toneladas excede facilmente os560 milhes de toneladas nos Estados Unidos. Com este nvel deutilizao do carvo e comouso de petrleo e gs natural tambmacrescer rapidamente, apenas uma questo de tempo at que asemisses de carbono na China igualem as dos Estados Unidos. Omundo ter dois grandes pases a conduzir amudana climtica.15

    O consumo de ao daChina, um indicador bsico do desenvol-vimento industrial, actualmentequaseduasvezes emeiaodosEsta-dosUnidos: 258milhes de toneladas contra 104milhes, em2003.Como incremento da construo civil na actual fase de desenvolvi-mento da China, edificando centenas demilhar de fbricas e altosprdios para apartamentos e escritrios, o consumo de ao subiu anveis nuncavistos emnenhumpas.16

    Nos bens de consumo, aChina lidera no nmero de telemveis,aparelhos de televiso e frigorficos. Os EstadosUnidos ainda lide-ram no nmero de computadores pessoais, embora provavelmenteno pormuito tempo, e de automveis.17

    O facto da China ter ultrapassado os EstadosUnidos no consu-mo de recursos bsicos autoriza-nos a colocar a seguinte questo. Ese aChina apanhar os EstadosUnidos no consumo per capita? Se aeconomia daChina continuar a crescer a um ritmo de 8 por cento aoano, em 2031 o consumo per capita atingir o nvel verificado nosEstadosUnidos em2004. Se formosmais alme assumirmos que ospadres de consumo da afluente populao chinesa em2031, entocifrada em1,45milmilhes, vo ser aproximadamente similares aosdos americanos em2004, obteremos uma resposta inquietante paraa nossa questo.18

    Entrando num Mundo Novo

  • 46Ao ritmo actual de consumo de cereais nos EUAde 900 quilos

    per capita, incluindoouso industrial, o consumode cereais daChinaem2031 ser aproximadamente igual a dois teros da colheitamun-dial actual. Se o consumo de papel per capita na China atingir em2031 o nvel americano actual, isto traduzir-se- em305milhes detoneladas de papel o dobro da produo actual de 161milhes detoneladas. L se vo as florestasmundiais. E se o consumode petr-leo per capita atingir em 2031 o nvel do dos Estados Unidos, aChina estar ento a usar 99milhes de barris de petrleo por dia.Omundo produz actualmente 84milhes e pode no ser capaz de pro-duzirmuitomais. Isto ajuda a explicar porque que o rpido cresci-mento do consumodepetrleonaChina est j a contribuir para umasituao de escassez.19

    Consideremos agora os automveis. Se aChina algumavez tivertrs carros para cada quatro pessoas, como tm actualmente os Es-tadosUnidos, a sua frota totalizar1,1milmilhesdeveculos,muitomais do que a actual frota mundial de 800 milhes. Ter estradas,auto-estradas e estacionamentos para uma frota destas requereria apavimentaodeumarea similar ocupadapela cultura do arroz naChina, o seuprincipal alimento.20

    Ainevitvel concluso a tirar face a estas projeces que noh recursos suficientes para a China alcanar os nveis de consumodosEUA.Omodelo econmico ocidental a economia baseada emcombustveis fsseis, centrada no automvel, e de desperdcio nopoder funcionar para os 1,45milmilhes de pessoas na China em2031. Se no funciona para a China, tambmno funcionar para andia, onde as projeces mostram que em 2031 ter mesmomaispessoas que aChina.Nemfuncionar para os outros 3milmilhes depessoas dos pases em vias de desenvolvimento, que tambm so-nhamoAmericandream.Enumaeconomiamundial cadavezmaisintegrada, onde todos os pases competem em toda a parte pelosmesmos recursos omesmopetrleo, cereais eminrios demetal omodelo econmico existente no funcionar nem para os pasesindustrializados.21

    Plano B 2.0

  • 47Aprendendo comoPassado

    Acivilizao do sculo vinte e umno a primeira a encarar a pers-pectiva deumdeclnio econmico induzidopor razes ambientais.Aquesto saber como vamos responder. Semdvida, temos nossadisposio umpatrimnio nico um registo arqueolgico que nosmostra o que aconteceu a civilizaes anteriores que entraram emapuros ambientais e no conseguiramdar uma resposta.

    Como JaredDiamond salienta emCollapse, algumas das socie-dades antigas que estiveram em situao de apuro ambiental conse-guirammudaras suascondutasao longodo tempo,evitandoodeclnioe o colapso. H seis sculos atrs, por exemplo, os Islandeses aper-ceberam-se de que o excesso de gado nas pastagens verdes dasterras altas estava a conduzir a uma grande perda de solo numa reacaracterizada por solosmuito poucoprofundos.Emvezdeperderemas terras de pastagem e enfrentarem o declnio econmico, os agri-cultores juntaram-se para determinar qual o nmero de ovelhas queas terras altas podiam aguentar e, de seguida, impuseramquotas en-tre si, preservando assim as suas pastagens e evitando aquilo a queGarrettHardin chamoumais tarde a tragdia dos comuns22

    Os Islandeses compreenderam as consequncias do excesso degado nas pastagens e reduziram o nmero de ovelhas para umnvelque podia ser sustentado.Ns compreendemos o resultado de quei-mar combustveis fsseis e do consequente acumular deCO2na at-mosfera.Ao contrrio dos Islandeses que conseguiram restringir onmerode cabeas de gado, ns no conseguimos restringir as emis-ses de CO2.

    Nem todas as sociedades foram to bem sucedidas como osIslandeses, cuja economia continua a produzir l e a prosperar.Aantiga civilizao sumria doquartomilnio a.C. era umacivilizaoextraordinria, tendo evoludomuito para almdequalquer outra ata existente. O seu sistema de irrigao cuidadosamente concebidodeuorigemaumaagriculturamuitoprodutiva,permitindoaosagricul-tores a obteno de um excedente, o que veio a suportar a formaodas primeiras cidades.Gerir o sistema de irrigao requeria uma or-ganizao social sofisticada.Os sumrios tiveramas primeiras cida-des e a primeira lngua escrita, a escrita cuneiforme.23

    Entrando num Mundo Novo

  • 48Foi definitivamente uma civilizao extraordinria, mas havia

    uma fraqueza na concepodo seu sistemade irrigao, a qual veio areflectir-se no fornecimento alimentar.Agua que se acumulava amontante das barragens construdas noEufrates era desviada para asterras de cultivo atravs de uma rede de canais que funcionavamporgravidade.Algumagua era usadapelas sementeiras, algumaevapo-rava-se, e alguma infiltrava-se no solo. Nesta regio, onde o escoa-mento do subsolo era fraco, a infiltrao lenta provocou a subida donvel fretico.Quando a gua comeou a subir para nveis a centme-tros da superfcie, comeou a evaporar-se para a atmosfera, deixan-do para trs sal. Como tempo, a acumulao do sal na superfcie dosolo baixou a produtividade.24

    Coma acumulao de sal e a diminuio das produes de trigo,os sumriosmudaram para a cevada, uma plantamais tolerante aosal. Esta medida adiou o declnio sumrio, mas tratava apenas dossintomas e no da causa da queda da produo das sementeiras.Com a continuao da concentrao de sal, as produes de cevadadiminuram tambm.Aconsequente diminuio do fornecimento dealimentosminou os fundamentos econmicos desta grande civiliza-o antiga.Comodeclnio da produtividade da terra, tambma civi-lizao entrou emdeclnio. 25

    O arquelogo Robert McC. Adams estudou a rea da antigaSumria na plancie aluvial do rio Eufrates, agora uma zona vazia edesolada, fora das fronteiras de cultivo. Ele faz a seguinte descrio:dunas desordenadas, diques de canais hmuito sem uso emontesde destroos de antigos agrupamentos habitacionais oferecem ape-nas algumrelevo incaracterstico.Avegetao esparsa, e emmuitasreas quase totalmente ausenteNo entanto, em dadomomentonaHistria, aqui existiu o centro, o corao damais antiga e letradacivilizaourbanadomundo.26

    O equivalente Sumria noNovoMundo a civilizaoMaiaque se desenvolveu nas terras baixas do que hoje a Guatemala.Floresceu a partir de 250 d.C. at entrar em colapso em 900 d.C.Comoos Sumrios, osMaias tinhamdesenvolvido uma agriculturasofisticada emuito produtiva, a qual se baseava em lotes elevados deterreno circundados por canais de fornecimento de gua.27

    Plano B 2.0

  • 49Tal como a Sumria, a queda dosMaias esteve aparentemente

    ligadaaumafalhano fornecimentodealimentos.Paraesta civilizaodo NovoMundo, foi a desflorestao e a eroso dos solos que en-fraqueceu a agricultura.Mudanas no clima podem tambm ter tidoumpapel.Aescassez de alimentos esteve aparentemente na origemdos conflitos internos entre as vrias cidadesMaias que competiampor comida. Hoje, esta regio est coberta por floresta, reclamadapela natureza.28

    Durante os ltimos sculos da civilizaoMaia, umanova socie-dade estava a evoluir na distante Ilha dePscoa, uma terra comcercade 166 quilmetros quadrados no sul do Pacfico, a uns 3.200 quil-metros a oeste da Amrica do Sul e 2.200 quilmetros da Ilha dePitcairn, a zona habitadamais prxima. Instalada em cerca de 400DC, esta civilizao floresceu numa ilha vulcnica comsolos ricos evegetao luxuriante, comrvores comcerca de 25metros de alturae troncos com2metros de dimetro.Os registos arqueolgicos indi-camqueos habitantes da ilha se alimentavamprincipalmente de pro-dutos domar, especialmente golfinhos ummamfero que s podiaser capturado com arpo emgrandes canoas que sulcavamomar.29

    A sociedade da Ilha de Pscoa floresceu ao longo de vriossculos, atingindoumapopulao estimada de 20.000pessoas.Como aumento gradual da populao, o corte de rvores excedeu a pro-duo sustentvel das florestas.As grandes rvores necessrias paraconstruir as robustas canoas acabarampor desaparecer, privando oshabitantesda ilhadoacessoaosgolfinhosediminuindodrasticamenteo seu fornecimento alimentar. O registo arqueolgicomostra que acerta altura aparecemmisturados ossos humanos comossos de gol-finhos, o que sugere uma sociedade desesperada que teve que recor-rer ao canibalismo.Hoje a ilha temuns 2.000 habitantes.30

    Umaquesto para a qual no h resposta sobre estas civilizaesantigas saber se elas tinham conhecimento daquilo que estava acausar o seu declnio. Ser que os Sumrios compreenderam que ocrescente aumento do sal, resultante da evaporao de gua, na com-posio do solo estava a reduzir as suas culturas de trigo?Se sabiam,

    Entrando num Mundo Novo

  • 50ser que foram simplesmente incapazes de obter o apoio poltico ne-cessrio para baixar os seus nveis freticos, tal como omundo hojese debate sem sucesso para baixar as emisses de carbono?

    Estas so apenas trs das civilizaes antigas que seguiram umcaminhoeconmicoque anaturezanopodia sustentar.Tambmnsestamos nomesmocaminho.Qualquer umadas vrias tendncias dedegradao ambiental poderia enfraquecer a civilizao como a co-nhecemos.Tal comoo sistema de irrigao, que definiu que a antigaeconomiaSumria tivesse uma falha, tambmo sistemade energia base de combustveis fsseis, define que a nossa economia possafalhar. Para eles foi a subida do nvel fretico que enfraqueceu a eco-nomia; para ns a subida dos nveis deCO2 que ameaa perturbaro progresso econmico. Emambos os casos, a tendncia invisvel.

    Quer tenha resultadoda acumulaode sal na terra de cultura, nocaso da Sumria, da desflorestao e eroso do solo, no caso dosMaias, ou da delapidao das florestas e perda de capacidade depesca em guas longnquas, no caso dos ilhus da Ilha de Pscoa, ocolapso destas civilizaes antigas parece ter estado associado aodeclnio do fornecimento alimentar.Hoje emdia, o acrescento anualdemais de 70milhes de pessoas a uma populao que ultrapassa 6milmilhes numa altura emque os nveis freticos esto a descer, astemperaturas a aumentar e os fornecimentos de petrleo vo embre-ve diminuir, sugere quemais uma vez voltar a ser o fornecimentoalimentar a ligao vulnervel entre o ambiente e a economia.31

    As Polticas Emergentes da Escassez

    Oprimeiro grande teste capacidade da comunidade internacionalpara gerir a escassez pode surgir com o petrleo ou com os cereais.No caso dos cereais, isso pode acontecer quando a China cujacolheita caiu cerca de 34milhes de toneladas, ou 9 por cento, entre1998 e 2005 se voltar para omercadomundial para fazer importa-esmacias de 30milhes, 50milhes ou possivelmente at 100milhes de toneladas de cereais por ano. Uma procura desta escalapoder rapidamente dominar os mercados mundiais. Quando istoacontecer, a China ter que olhar para os EstadosUnidos, que con-trolammais de 40 por cento dos cerca de 200milhes de toneladasde exportaesmundiais de cereais.32

    Plano B 2.0

  • 51Isto criar uma fascinante situao geopoltica.Mais de 1,3mil

    milhes de consumidores chineses, que tiveramumsuperavit comer-cial de 160milmilhes de dlares comosEstadosUnidos em2004 o suficiente para comprar duas vezes a produo americana decereais estaro a concorrer com os americanos pelos cereais dosEUA, levando ao aumento dos preos da alimentao neste pas.Numa situao destas, h 30 anos atrs, os EstadosUnidos simples-mente refrearamas exportaes.Mas aChina agora banqueira dosEstados Unidos, subscrevendo grande parte do deficit fiscal destepas com comprasmensais dos seus ttulos doTesouro.33

    Em anos prximos, os EstadosUnidos podero estar a carregarumoudois navios por dia comcereais para aChina. Esta longa linhade navios estendendo-se atravs do Pacfico, como um cordo um-bilical a fornecer nutrientes, ligar intimamente as duas economias.Gerir este fluxode cereais assimcomosimultaneamente satisfazer asnecessidades alimentares dos consumidores dos dois pases, numaaltura emque as destilarias de combustveis de etanol estaro a tomarpara si uma parte cada vez maior da colheita de cereais dos EUA,pode tornar-se um dos principais desafios de poltica externa destenovo sculo.

    A forma como omundo conseguir acomodar as vastas necessi-dades previstas de cereais, petrleo e outros recursos por parte daChina, ndia e outros pases emdesenvolvimento ajudar a determi-nar a forma como omundo vai lidar com as tenses associadas aofacto de se estar a crescer para alm das capacidades da Terra. Aforma como pases importadores e de baixos rendimentos vo lidarcom esta corrida pelos cereais tambmnos ir dar alguma informa-o sobre a futura estabilidade poltica. E, finalmente, a resposta dosEUA crescente procura de cereais por parte daChina, que elevaros preos da alimentao para os consumidores americanos, ir di-zer-nos bastante acerca da capacidade dos pases para gerir as pol-ticas emergentes da escassez.

    O riscomais iminente o da entrada daChina nomercadomun-dial, combinada com o crescente desvio da utilizao de produtosagrcolas para biocombustvel, elevar de talmodo os preos dos ce-reais quemuitos pases importadores e de baixos rendimentos, emvias de desenvolvimento, no consigam importar cereais emquanti-

    Entrando num Mundo Novo

  • 52dade suficiente. Isto, por sua vez, poderia conduzir escalada dospreosda alimentaoe instabilidadepoltica aumnvel quepertur-baria seriamente o progresso econmico global.

    As civilizaes antigas que seguiram por numa via econmicaambientalmente insustentvel fizeram-noemgrandemedidade formaisolada.Masna economiamundial dehoje, cadavezmais integrada einterdependente, se tivermosqueenfrentar umdeclnio civilizacional, em conjunto que o faremos. Os destinos de todos os povos estointerligados. Esta interdependncia s pode ser gerida embenefciode todos se reconhecermos que a expresso no interesse nacionalest emmuitos aspectos obsoleta.

    Obtendo o PreoCerto

    A questo com que se deparam os governos a de saber se conse-guem responder de forma suficientemente rpida para evitar as ame-aas de catstrofes iminentes.Omundo temumapequenamaspreci-osa experincia na resposta degradao dos aquferos, ao aumentodas temperaturas, expanso dos desertos, fuso das calotes degelo polar e diminuio da oferta de petrleo. Estas novas tendn-cias colocaro desafios totais capacidade das nossas instituies elideranas polticas. Em tempos de crise, as sociedades s vezes tmumNero como lder e s vezes tmumChurchill.

    O desafio central, a chave para construir a nova economia, pr omercadoacontar averdade ecolgica.Aeconomiadisfuncionalde hoje foi moldada com preos de mercado distorcidos que noincorporam custos ambientais. Muitos dos nossos problemasambientais so o resultado de severas distores demercado.

    Uma destas distores tornou-semuito clara no vero de 1998quando o vale do rio chinsYangtze, onde habitam 400milhes depessoas, foi destrudo por uma dasmaiores inundaes da histria.Os estragos de 30milmilhes de dlares excederamo valor da pro-duo anual de arroz daChina.34

    Depois de vrias semanas de inundaes, o governo de Pequimanunciou emmeados deAgosto a proibio do corte de rvores nabaciadoYangtze. Justificouaproibio referindoqueas rvoresplan-tadas valiam trs vezesmais do que as rvores cortadas.Os servios

    Plano B 2.0

  • 53de controlo de inundaes prestados pelas florestas eram trs vezesmais valiosos que a madeira das rvores. De facto, o seu preo demercado baixou para cerca de um tero!Comesta anlise, ningumpodia justificar economicamente o corte de rvores na bacia.35

    Uma situao semelhante existe com a gasolina. Nos EstadosUnidos, o preo da gasolina nas bombas estava umpouco acima dos2 dlares por galo emmeados de 2005.Mas isto reflecte apenas ocusto de extrair o petrleo, refin-lo para gasolina e fornec-la nasestaes de servio. No inclui os custos dos subsdios fiscais in-dstria do petrleo, tais como o crdito para a escassez de petrleo,os subsdios extraco, produo e uso do petrleo, os custos desade no tratamento de doenas respiratrias, que vo da asma aoeczema, e,mais importante, os custos da alterao climtica.36

    Se estes custos, que em 1998 o International Center forTechnology Assessement calculou em cerca de 9 dlares por galodagasolina queimadanosEstadosUnidos, fossemacrescentados aos2 dlares de custo da gasolina por si s, os automobilistas pagariamnas bombas cerca de 11 dlares por galo. Encher um depsito de20 gales custaria 220 dlares. Na verdade, queimar gasolina temum alto custo, apesar domercado nos dizer que ela barata, o queconduz a graves distores na estrutura da economia. O desafio aosgovernos incorporar esses custos nos preos de mercado, calcu-lando-os de forma sistemtica e incorporando-os na forma de umataxa sobre o produto para assegurar que o seu preo reflecte todosos custos para a sociedade.37

    Se aprendemos alguma coisa nos ltimos anos que os sistemascontabilsticos que no reflectem a verdade podem sair caros. Siste-mas de contabilidade que no funcionamcorrectamente e deixamoscustos fora dos livros levaramalgumas dasmaiores empresas ban-carrota, custando as poupanas de uma vida, as reformas e os em-pregos amilhes de pessoas. Preos distorcidos domercadomundi-al que no incorporamgrandes custos na produo de vrios produ-tos e na oferta de servios podem ser aindamais custosos. Eles po-dem levar bancarrota global e ao declnio econmico.

    Entrando num Mundo Novo

  • 54Plano B UmPlano de Esperana

    Apesar da situao extremamente inquietante comque estamos de-frontados, h muitos aspectos que nos podem dar esperana. Emprimeiro lugar,praticamente todasas tendnciasambientaisdestrutivasso da nossa prpria responsabilidade. Todos os problemas que en-frentamos podem ser encarados usando tecnologias j existentes. Equase tudooque temos de fazer para redireccionar a economiamun-dial para uma rota ambientalmente sustentvel j foi feito por umoumais pases.

    Podemos ver os componentes do Plano B a alternativa aosbusiness as usual nas novas tecnologias j existentes nomercado.Na frente energtica, por exemplo, uma torre aerogeradora de ltimagerao consegue produzir tanta energia comoumpoo de petrleo.Engenheiros japoneses conceberamum frigorfico fechado a vcuoque usa apenas um oitavo da energia dos frigorficos que eramcomercializados humadcada.Automveis hbridos a gs e electri-cidade, que gastam 4,35 litros aos 100 quilmetros, so duas vezesmais eficientes do que o veculomdio nas estradas.38

    Inmeros pases esto a apresentarmodelos dos vrios compo-nentes do Plano B.ADinamarca, por exemplo, obtm hoje 20 porcento da sua electricidade a partir do vento e planeia aumentar aproduo para 50 por cento em 2030. Igualmente, o Brasil est acaminho da auto-suficincia em combustvel de automveis. Cometanol altamente eficiente obtido a partir da cana-de-acar a forne-cer 40 por cento do seu combustvel para automveis em 2005, po-der pr de parte totalmente a gasolina dentro de alguns anos.39

    Com a alimentao, a ndia usando um modelo de pequenaescala na produo de leite que tem, como fonte de alimentao qua-se total, os resduos de colheitas mais que quadruplicou a sua pro-duo de leite desde 1970, ultrapassando os EstadosUnidos para setornar no lder mundial. O valor da produo de leite da ndia em2002 excedeu o da colheita de arroz.40

    Plano B 2.0

  • 55Noutra frente, avanos na cultura pisccola naChina, centrados

    no uso de umapolicultura de carpas ecologicamente sofisticada, tor-naram a China no primeiro pas em que a produo de peixe emaquaculturas excede a pesca ocenica. De facto, os 29milhes detoneladas de peixe de cultura produzidos na China em 2003 foramequivalentes a cerca de 30 por cento da capturamundial de peixe nooceano.41

    Vemos, nas montanhas reflorestadas da Coreia do Sul, a que que ummundo do Plano B se poderia assemelhar. Os 65 por centodaCoreia do Sul agora cobertos por florestas, outrora territrio ri-do, quase sem rvores, controlam as inundaes e a eroso do solo,devolvendo um alto grau de estabilidade ambiental aos camposCoreanos.42

    Os EstadosUnidos que colocaram fora de uso umdcimo dassuas terras de cultura, a maior parte altamente erosiva, e mudarampara formas de preparar a terra que a ajudam a conservar tmumareduo da eroso do solo de cerca de 40 por cento ao longo dosltimos 20 anos.Aomesmo tempo, os seus agricultores aumentaramemmais de umquinto a colheita de cereais.43

    Algumada lideranamais inovadora veio para as reas urbanas.Amesterdo desenvolveu umsistemade transporte urbano alternati-vo; hoje, 35 por cento das viagens dentro da cidade so feitas debicicleta. Este sistema amigvel de transporte reduziumuito a polui-o do ar e a congesto do trfego aomesmo tempo que oferece umexerccio dirio aos residentes da cidade.44

    No s esto a tornar-se disponveis novas tecnologias, mas al-gumas destas tecnologias podemser combinadas para criar soluestotalmentenovas.Automveishbridos agasolinaeelectricidadecomuma segunda bateria de armazenamento e capacidade de ligao rede elctrica, combinados como investimento emparques elicosque forneam electricidade barata rede, poderiam fazer comque amaior parte da nossa conduo diria pudesse ser feita base deelectricidade, ao custo da electricidade gerada pelo vento em horas

    Entrando num Mundo Novo

  • 56baixas, equivalente a 50 centavos de dlar por quase 4 litros de ga-solina.Aenergia do vento nacional pode substituir a importao dopetrleo.45

    Odesafio construir umanova economia e faz-lo velocidadede tempo de guerra antes que falhemos tantos prazos da naturezaque o sistema econmico comece a falhar. Este captulo introdutrioconduzacincocaptulosquesalientamosprincipaisdesafiosambientaisque se colocamnossa civilizao global.No seguimento destes, hsete captulos que apresentam o Plano B, que descreve para ondequeremos ir e oferece um roteiro para l chegarmos.

    Participar na construo desta nova economia do futuro exaltante. Igualmente exaltante a qualidade de vida que ela trar.Poderemos respirar ar puro.As nossas cidades seromenos conges-tionadas,menosbarulhentasemenospoludas.Vivernummundoondea populao estabilizou, as florestas se expandem e as emisses decarbonodiminuemumaperspectiva excitante.

    Plano B 2.0

  • IUMACIVILIZAOEMAPUROS

  • 2Para Alm do Pico do Pe-

    trleo

    Quando o preo do petrleo subiu acima dos 50 dlares por barrilno fim de 2004, omundo comeou a questionar-se sobre se os for-necimentosmundiais de petrleo so os adequados e, especifica-mente, sobre quando ser o pico da produo e o incio do seudeclnio. Os analistas esto longe de concordar sobre este assunto,mas alguns dos mais conceituados acreditam agora que o pico dopetrleo est iminente.1

    Opetrleomoldou a civilizao do sculo vinte e um, afectandotodas as facetas da economia, damecanizaodaagricultura ao trans-porte areo a jacto. Quando a produo comear a cair, isso ser umacontecimento econmicodepropores ssmicas quedar origemaummundomuito diferente daquele que nos habitumos a ver ao lon-go da nossa vida. De facto, quando os historiadores escreverem so-bre este perodo da histria, poderomesmo ter que distinguir entreantes do pico do petrleo (APP) e depois do pico do petrleo (DPP).

    O pico da produo de petrleo aproxima-se numa altura emque omundo se depara commuitos desafios, tais como o aumentodas temperaturas, o abaixamento dos nveis freticos e inmeras ou-tras tendncias ambientais negativas.Oajustamento diminuiodo

  • 60fornecimento de petrleo faz parte da necessidade dumareestruturao econmica que coloque a economia numcaminho deapoio ao progresso.

    OPrximoDeclnio do Petrleo

    As perspectivas em relao ao petrleo podem ser analisadas demuitasmaneiras.As companhias petrolferas, as consultoras e os go-vernos nacionais confiam essencialmente emmodelos de computa-dor para projectar a produo e os preos futuros do petrleo. Osresultados apresentados por estesmodelos variammuito conforme aqualidade da informao e o que neles assumido. Consideramosaqui vriosmtodos analticos.

    Uma abordagem utilizao da relao reservas/produo parase saber quais as tendncias da produo futura foi pela primeiravez feita h vrias dcadas pelo lendrioKingHubbert, umgelogodaU.S. Geological Survey. Dada a natureza da produo do petr-leo, Hubbert teorizava que a diferena de tempo entre o pico de no-vas descobertas e o pico da produo era previsvel.Ao notar que adescoberta de novas reservas nos Estados Unidos tinha atingido opico por volta de 1930, ele previu que o pico da produo de petr-leo dosEUAseria em1970.Acertou emcheio. Como resultado des-te exemplo e de exemplosmais recentes de outros pases, a base doseumodelo agora usada pormuitos analistas do petrleo.2

    Uma segunda abordagem, que separa os principais pases pro-dutores de petrleo em dois grupos aqueles onde a produo esta cair e aqueles onde est a subir bastante reveladora. Nos 23principais produtores de petrleo a extraco parece ter atingido opico em 15 e ainda estar a subir em 8. Os pases ps-pico vo dosEstados Unidos (o nico pas, para alm daArbia Saudita, que jextraiumais de 9milhes de barris por dia) eVenezuela (onde o picofoi atingido em1970) at aos dois produtores de petrleo doMar doNorte, ReinoUnido eNoruega, onde a produo atingiu o pico em1999 e 2000 respectivamente. A produo de petrleo dos EUA,que chegou ao seu pico ao atingir 9,6 milhes de barris por dia em

    Plano B 2.0

  • 611970, caiu para 5,4milhes de barris por dia em 2004 umdecrs-cimo de 44 por cento.Aproduo daVenezuela caiu 31 por centodesde 1970.3

    Os oito pases pr-pico so dominados pelosmaiores produto-resmundiais, aArbia Saudita e a Rssia que, noOutono de 2005,esto a produzir aproximadamente 11milhes e 9milhes de barrispor dia. Outros pases comumgrande potencial de aumento da pro-duo so o Canad, em grande medida, devido s suas areias dealcatro, e o Kazakisto, que ainda est numa fase de desenvolvi-mento dos seus recursos petrolferos. Os outros quatro pases pr-pico so aArglia,Angola, China eMxico.4

    Amaior dvida em relao a estes oito pases aArbia Saudita.Tecnicamente, a sua produo chegou ao pico em1980quando atin-giu 9,9milhes de barris por dia e a sua extraco actual est cercade 1 milho de barris por dia abaixo disso. Inclui-se no grupo depases onde a produo est em crescimento apenas na base dasafirmaes dos responsveis sauditas segundo as quais o pas podeproduzir muitomais. No entanto, alguns analistas duvidam que ossauditas possamaumentar a extracomuito para almda sua actualproduo.Alguns dos seus poos de petrleomais antigos esto bas-tante deteriorados, e est por provar que a extraco emnovos cam-pos venha a chegar para mais do que apenas compensar as perdasverificadasnos antigos.5

    Esta anlise vai ao ponto de tentar saber se, nos oito pases pr-pico, a produo ir de facto aumentar o suficiente para compensar odecrscimo dos 15 pases onde a produo chegou ao pico. Emvo-lume de extraco, os dois grupos tmmais oumenos amesma ca-pacidade total de produo. No entanto, se a produo comear acair nalgum dos oito, isso pode fazer com que o nvel de equilbrioglobal tambmdiminua.6

    Uma terceira forma de equacionar as perspectivas de produode petrleo olhar para as aces embolsa dasmaiores companhiasde petrleo.Aomesmo tempoque algunsCEOsparecemmuito con-fiantes no crescimento da produo futura, as suas aces sugeremumavisomenos confiante.

    Para Alm do Pico do Petrleo

  • 62Umapequena evidncia disto est na deciso, por parte das prin-

    cipais companhias de petrleo, de investirem em fora na compradas suasprprias aces.AExxon-Mobile, por exemplo, comomaiorlucro trimestral de todas as empresas registadas - 8,4milmilhes dedlares no ltimo trimestre de 2004 investiu quase 10milmilhesdedlares para comprar devolta das suasprprias aces.AChevronTexacousou2,5milmilhes dedlares dos seus lucros para compraraces prprias.Compoucopetrleo por descobrir e a procuramun-dial a crescer rapidamente, as empresas parecem dar-se conta deque as suas reservas se iro tornar aindamais valiosas no futuro.7

    Directamente relacionada com este comportamento est a au-sncia de quaisquer aumentos substanciais na explorao e desen-volvimento em2005,mesmoquando os preos do crude semantmbem acima dos 50 dlares por barril. Isto sugere que as empresasesto de acordo com os gelogos do petrleo que afirmam que 95por cento do petrleo existente nomundo j foi descoberto. Todo omundo foi j sistematicamente pesquisado e experimentado, diz ogelogo independenteColinCampbell. Oconhecimento geolgicodesenvolveu-se enormemente nos ltimos 30 anos e agora quaseimpossvel pensar que haja ainda grandes reservas por descobrir.Isto tambm quer dizer que ir ser necessria muita e dispendiosaexplorao e perfurao para encontrar os restantes 5 por cento.8

    Esta diminuiodas reservas muito evidente na relao entre asdescobertas de petrleo novo e a produo das principais compa-nhias de petrleo. Entre as que relataram que a sua produo depetrleo de 2004 excedeu em muito as novas descobertas esto aRoyalDutch/Shell, aChevronTexaco e aConoco-Phillips.O essen-cial que as reservas de petrleo das principais empresas esto adiminuir todos os anos. Numa escala global, o gelogo WalterYoungquist, autor deGeoDestinies: The InevitableControl of EarthResourcesOverNations and Individuals, nota que em2004omundoproduziu 30,5mil milhes de barris mas descobriu apenas 7,5 milmilhes de barris de petrleo novo.9

    Plano B 2.0

  • 63A influncia que mais difcil demedir na produo de petrleo

    dos prximos anos aquilo que eu chamo psicologia da deteriora-o.Uma vez que as empresas de petrleo ou os pases exportado-res se apercebam que a extraco est a chegar ao seu pico, elescomearo a pensar seriamente em como esticar as suas reservasremanescentes.medidaque se torne claro quemesmoumpequenocorte na produo pode fazer com que o preomundial do petrleoduplique, o valor a longo prazo do seu petrleo tornar-se- muitomaisbvio.

    Aevidncia geolgica sugere que a produomundial de petr-leo chegar ao seu picomais cedo e nomais tarde.Matt Simmons,dirigente do banco de investimento de petrleo Simmons andCompany International e lder da indstria, afirma em relao aosnovos campos de petrleo: Os bons projectos acabaram-se. No umaquesto de dinheirose as empresas petrolferas tivessempro-jectos fantsticos, estariamadesenvolv-los.KennethDeffeys, umgelogomuito respeitado e antigo empregado da indstria de petr-leo, agora na Universidade de Princeton, diz no seu livro de 2005,BeyondOil, sou da opinio que o pico ocorrer no final de 2005 ounos primeirosmeses de 2006.WalterYoungquist eA.M. SamsanBakhtiari, daCompanhiaNacional de Petrleo Iraniana, ambos pro-jectam o pico do petrleo para 2007.10

    Sadad al-Husseini, recentemente retirado das suas funes deresponsvel da explorao e produo naAramco, a companhia na-cional de petrleo dos sauditas, analisou comPeterMaass, noNewYork Times, as perspectivas do petrleomundial. O seu tpico prin-cipal era que o novo petrleo tinha que ser suficiente para cobrirtanto o crescimento anual da procuramundial, de pelomenos 2mi-lhes de barris por dia, como o decrscimo anual da produo doscampos existentes, de cerca de 4milhes de barris por dia. comoprecisar de umanovaArbia Saudita de dois emdois anos, afirmouHusseini. No sustentvel.11

    Onde andam as empresas a procurar mais petrleo? Para almdopetrleo convencional, que pode ser facilmente bombeado para asuperfcie,hquantidadesenormesdepetrleoarmazenadasnasareias

    Para Alm do Pico do Petrleo

  • 64de alcatro, e pode tambm ser produzido a partir de rochassedimentares com petrleo. Os depsitos de areia de alcatro deAthabasca, emAlberta, Canad, podem totalizar 1,8 bilies de bar-ris.Deste total, no entanto, pensa-se quenomais de300milmilhespodem ser extrados.AVenezuela tambm temgrandes reservas depetrleoextrapesado, estimadasem1,2biliesdebarris.Talvezpossaser extrado um tero. Se o petrleo pesado daVenezuela for desen-volvido numa escala suficientemente grande, a sua produo podeexceder um dia o seu pico histrico de 1970. O petrleo em rochasedimentar concentradonoColorado,Wyoming eUtah, nosEstadosUnidos, tem tambmgrandes quantidades de querognio, uma subs-tncia orgnica que pode ser convertida em petrleo e gs.12

    Quanto petrleo ser economicamente vivel produzir a partirdas rochas sedimentares? Na dcada de 1970 os Estados Unidosempreenderamumesforo significativo para explorar o petrleo dasrochas sedimentares no declive ocidental dasMontanhasRochosasdo Colorado. Quando os preos do petrleo baixaram em 1982, aindstria de petrleo das rochas sedimentares entrou em colapso.AExxon abandonou rapidamente o seu projecto de $5milmilhes doColorado, e as restantes empresas embreve lhe seguiramos passos.Uma vez que este tipo de extraco requer vrios barris de gua porcada barril de petrleo produzido, a escassez de gua na regio podelimitar as possibilidades da sua retoma.13

    O nico projecto que se mantm o das areias de alcatro naprovnciacanadianadeAlberta.Esta iniciativa,que teve incionoprin-cpio da dcada de 1980, est nestemomento a produzir ummilhode barris de petrleo por dia, o suficiente para fornecer 5 por centodo consumo actual dos EUA. Este petrleo das areias de alcatro,contudo, no barato e espalha umadesordemambiental de grandespropores.Aquecer e extrair o petrleo das areias assenta no usogeneralizadodegs natural, cuja produo atingiu opiconaAmricado Norte.14

    Portanto, embora estas reservas de petrleo em areias de alca-tro e em rocha sedimentar possam ser grandes, desencadear a suaproduo umprocesso caro emoroso. Namelhor das hipteses, aexplorao das areias de alcatro e das rochas sedimentares poderapenas retardar o declnio da produomundial de petrleo.15

    Plano B 2.0

  • 65AIntensidade do Petrleo nos ProdutosAlimentares

    Aagriculturamoderna depende fortemente do uso da gasolina e dogasleo em tractores para lavrar, plantar, cultivar e colher.As bom-bas de irrigao trabalham a gasleo, gs natural ou electricidadegerada a partir do carvo.Aproduo de fertilizantes tambm deenergia intensiva: aminerao, fabrico e transporte internacional defosfatos e potassa, todas dependem do petrleo. O gs natural, noentanto, utilizado para sintetizar a amnia, constituinte bsico nosfertilizantes denitrognio.16 NosEstadosUnidos, ondea informaoacumulada fivel, o uso combinado de gasolina e gasleo na agri-cultura caiu do seu pontomais elevado de 7,7milmilhes de galesem 1973 para 4,6 mil milhes em 2002, um decrscimo de 40 porcento. Para se ter uma ideia geral da tendncia da eficincia do com-bustvel na agricultura dos EUA, veja-se a queda do nmero de ga-les usado por tonelada de cereais produzida, de 33 em 1973 para13 em 2002, um impressionante decrscimo de 59 por cento.17

    Uma razo para este facto est na mudana que foi feita paraprticas de cultivo de sementeira directa ou comuma lavramnimaem cerca de dois quintos das terras de cultura dos EUA.As prticasde sementeira directa so actualmente utilizadas emcerca de 95mi-lhes de hectares em todo omundo, quase todas concentradas nosEstados Unidos, Brasil,Argentina e Canad. Os Estados Unidos com25milhesdehectares comlavramnimaousemlavra liderameste campo, logo seguidos peloBrasil.18

    Enquanto o uso de gasolina e gasleo tem vindo a diminuir nosEUA, emmuitos pases em vias de desenvolvimento est a subir mesma velocidade com que se faz a mudana dos animais de tiropara os tractores. H uma gerao, por exemplo, naChina, as terrasde cultivo eram preparadas em grandemedida por animais. Hoje, amaior parte da lavra feita por tractores.19

    Os fertilizantes so responsveis pelo consumo de 20 por centoda energia agrcola consumida nos EUA. No resto domundo estenmero pode ser ligeiramente superior. Emmdia, omundo produz13 toneladas de cereais por cada tonelada de fertilizantes usada.Masistovariamuito entre pases. Por exemplo, naChina, uma toneladadefertilizante produz 9 toneladas de cereal, na ndia produz 11 tonela-das e nos Estados Unidos, 18 toneladas.20

    Para Alm do Pico do Petrleo

  • 66Aeficincia dos fertilizantes nosEUA alta porque os agriculto-

    res testam regularmente os solos para determinar com preciso asnecessidades de nutrientes das culturas e porque os EstadosUnidosso tambm os lderes na produo da soja, e a sementeira destaleguminosa fixaonitrogniono solo.Asoja, que rivaliza comomilhoem rea plantada nos Estados Unidos, normalmente cultivadarotativamente com omilho e, numamenormedida, com o trigo deInverno.Umavezqueomilho temumapetite voraz por nitrognio, oalternar da soja com o milho numa rotao de dois em dois anosreduz substancialmente as necessidades de fertilizaodomilho comnitrognio.21

    Aurbanizao aumenta aprocura dos fertilizantes.Comamigra-o rural para as cidades, torna-semais difcil reciclar os nutrientesdos dejectos humanos devolvendo-os ao solo.Alm disto, o cres-cente comrcio internacional de produtos alimentares pode separarpormilhares de quilmetros o produtor do consumidor, perturbandoaindamais o ciclo dos nutrientes. Os EstadosUnidos, por exemplo,exportam cerca de 80 milhes de toneladas de cereais por ano cereais que contm grandes quantidades de nutrientes bsicos paraplantas: nitrognio, fsforo e potssio.Aactual exportao emcursodestes nutrientes faria escoar a pouco e pouco a inerente fertilidadedas terras de sementeira dosEUAse os nutrientes no fossem repos-tos pela via qumica.22

    As exploraes agrcolas industriais, assimcomoas cidades, ten-demasepararoprodutordoconsumidor, tornandodifcil a reciclagemdos nutrientes.De facto, os dejectos animais contendonutrientes soumamais valia para os agricultores, mas tornam-se num problemapara as grandes exploraes pecurias, onde os custos do seu esco-amento somuitas vezes elevados. medida que o petrleo e, por-tanto, os fertilizantes se tornammais caros, a economia das explora-es agrcolas industriais pode tornar-semenos atractiva.

    A rega, outro grande sorvedouro energtico, gasta cada vezmaisenergia em todo omundo. Nos EstadosUnidos, quase 19 por centoda energia usada na agricultura usada no bombeamento de gua.Nos outros dois grandes produtores de alimentos China e ndia onmero semdvidamuitomaior, dadaa importnciaquea irrigaoassume nestes pases.23

    Plano B 2.0

  • 67Desde 1950, a rea irrigada nomundo triplicou, subindo de 94

    milhes de hectares para 277milhes em 2002.Alm disso, amu-dana das grandes barragens com sistemas de canais de irrigaopor gravidade, que dominou o terceiro quartel do sculo passado,para poos perfurados que retiram do subsolo os recursos de gua,fez tambmdisparar o consumode combustvel para irrigao.24

    Algumas tendncias, como amudana para o sistemade semen-teira directa, esto a tornar a agriculturamenos intensiva empetrleo.Mas o aumento da utilizao de fertilizantes, a disseminao dame-canizao das exploraes agrcolas e o abaixamento dos nveisfreticos esto a tornar a produo de alimentosmais dependente dopetrleo. Isto ajuda a explicar porque que os agricultores comeama envolver-se na produo de biocombustveis, tanto o etanol emsubstituio da gasolina como o biodiesel para substituir o gasleo.(O interesse renovado nestes combustveis analisadomais frenteneste captulo).

    Embora se d normalmentemais ateno energia usada na ex-plorao agrcola, esta apenas representa umquinto do total da ener-gia consumidano sistemaalimentar nosEstadosUnidos.O transpor-te, processamento, embalagem, comercializao e preparao dacomidanas cozinhas representa quasequatro quintos dautilizaodeenergianosistemaalimentar.Defacto,aminhacolegaDanielleMurraynotaquea economiado sistemaalimentar dosEUAutiliza tanta ener-gia como a que a Frana usa em toda a sua economia.25

    Os 14 por cento de energia usados no sistema alimentar paradeslocar asmercadorias do agricultor at ao consumidor mais oumenos igual a dois teros da energia usada para as produzir. E cercade 16 por cento da energia gasta no sistema alimentar usada noprocessamento enlatar, congelar, e secar alimentos de tudo, des-de o concentrado de sumo de laranja congelado at s ervilhas emlata.26

    Alimentos bsicos, comoo trigo, tm tradicionalmente sido des