Leonor Vaz - Travessa do amor

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Travessa do amor avenida do coração … Disciplina: Português Professora: Elisabete Miguel Trabalho de: Leonor Vaz n.º 15 10.º ano Turma F Ano lectivo de 2011-2012 Escola Artística António Arroio

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INACABADO - Leonor Vaz, 10.º ano, n.º15, turma F, Escola Artística António Arroio - Disciplina de Português - Professora Eli

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Page 1: Leonor Vaz - Travessa do amor

Travessa do amor avenida do coração …

Disciplina: Português

Professora: Elisabete Miguel

Trabalho de: Leonor Vaz

– n.º 15 – 10.º ano – Turma F

Ano lectivo de 2011-2012

Escola Artística António Arroio

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ÍNDICE

Introdução

Amar!

Este inferno de amar

Não te amo

Eu ontem vi-te...

Uma amiga

Canção 6 (in "Tristes cantigas de amor")

o teu amor, bem sei, é uma palavra musical

Procuro-te

Não posso adiar o amor

Canção

Ódio?

Amor que morre

Amor

Amor

Soneto de amor

Eu cantarei de amor tão docemente

Quando o amor morrer

Ninguém meu amor

As vezes em sonho triste

Pelo sonho é que vamos

Sítios

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INTRODUÇÃO

Este trabalho visa concretizar a proposta de atividade feita no âmbito da

disciplina de português, na área da poesia.

Escolhi o tema do “Amor” porque corresponde ao maior desafio das

pessoas enquanto seres humanos. Esta opção também teve em atenção o

facto de existir uma imensidade de autores que abordaram o assunto o que

permitiu encontrar uma grande quantidade de textos para trabalhar.

A busca de poemas foi feita maioritariamente através da Internet,

procurando diversificar autores e tipos de abordagem sem qualquer atitude

preconceituosa.

Espero que no final não fiquemos a saber nada sobre o assunto pois que

amor deve ser mais emoção do que razão (?)

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Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-se ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca, Charneca em Flor

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Este inferno de amar

Este inferno de amar - como eu amo!

Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?

Esta chama que alenta e consome,

Que é a vida - e que a vida destrói -

Como é que se veio a atear,

Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,

A outra vida que d'antes vivi

Era um sonho talvez... - foi um sonho -

Em que paz tam serena a dormi!

Oh! que doce era aquele sonhar...

Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso

Eu passei... dava o sol tanta luz!

E os meus olhos, que vagos giravam,

Em seus olhos ardentes os pus.

Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;

Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garrett, Folhas Caídas

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Não te amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.

E eu n'alma tenho a calma,

A calma do jazigo.

Ai! Não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.

E a vida - nem sentida

A trago eu já comigo.

Ai, não te amo, não!

Ai! Não te amo, não; e só te quero

De um querer bruto e fero

Que o sangue me devora,

Não chega ao coração.

Almeida Garrett, Folhas Caídas

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Eu ontem vi-te...

Eu ontem vi-te...

Andava a luz

Do teu olhar,

Que me seduz

A divagar

Em torno de mim.

E então pedi-te,

Não que me olhasses,

Mas que afastasses,

Um poucochinho,

Do meu caminho,

Um tal fulgor

De medo, amor,

Que me cegasse,

Me deslumbrasse

fulgor assim.

Ângelo de Lima, Poesias Completas

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Uma amiga

Aqueles que eu amei, não sei que vento

Os dispersou no mundo, que os não vejo...

Estendo os braços e nas trevas beijo

Visões que a noite evoca o sentimento...

Outros me causam mais cruel tormento

Que a saudade dos mortos... que eu invejo...

Passam por mim... mas como que têm pejo

Da minha soledade e abatimento!

Daquela primavera venturosa

Não resta uma flor só, uma só rosa...

Tudo o vento varreu, queimou o gelo!

Tu só foste fiel - tu, como dantes,

Inda volves teus olhos radiantes...

Para ver o meu mal... e escarnecê-lo!

Antero de Quental, Primaveras Românticas

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Canção 6

Não me peças mais canções

Porque a cantar vou sofrendo;

Sou como as velas do altar

Que dão luz e vão morrendo.

Se a minha voz conseguisse

Dissuadir essa frieza

E a tua boca sorrisse!

Mais sóbria por natureza

Não a posso renovar

E o brilho vai-se perdendo...

— Sou como as velas do altar

Que dão luz e vão morrendo.

António Botto, As Canções de António Botto

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o teu amor, bem sei, é uma palavra musical

o teu amor, bem sei, é uma palavra musical,

espalha-se por todos nós com a mesma ignorância,

o mesmo ar alheio com que fazes girar, suponho, os epiciclos;

ergues os ombros e dizes, hoje, amanhã, nunca mais,

surpreende o vigor, a plenitude

das coxas masculinas, habituadas ao cansaço,

separamo-nos, à procura de sinais mais fixos,

e o circuito das chamas recomeça.

é um país subtil, o olho franco das mulheres,

há nos passeios garrafas com leite apenas cinzento,

os teus pais disseram: o melhor de tudo é ser engenheiro,

morrer de casaco, com todas as pirâmides acesas,

viajar de navio de buenos aires a montevideu.

esta é a viagem que não faremos nunca, soltos

na minuciosa tarde dos lábios,

ágil pobreza.

permanentemente floresce o horizonte em colinas,

os animais olham por dentro, cheios de vazio,

como um ladrão de pouca perícia a luz

desfaz devagarmente os corpos.

ele exclama: quando me libertarás da tosca voz dormida,

para que seja

alto e altivo o coração das coisas? até quando aguardarei,

no harmonioso beliche, que a tua visão cesse?

António Franco Alexandre

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Procuro te

Procuro

E não te encontro

Olho

Mas não te vejo

Grito

Mas não me ouves

Amo-te

Mas não sabes

E procuro

Continuo a procurar-te

Talvez um dia

Consiga encontrar-te

Onde eu não espero,

Consiga ver te

Onde não te vejo,

Quero chorar

Mas não consigo

Quero ir contigo

Até onde quiseres

Mas amar-te

Quero que sejas meu

Que me pertenças

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Como ninguém até agora me pertenceu

Tu és a sombra que me segue

Tu és a recordação

O amor e a preocupação

Tu és a luz que me encadeia

Tu és o frio que me gela

Que me faz sofrer

Mas não te consigo esquecer

Tu estás em mim

Mas não te sinto

Tu tiras-me o pensamento

Nem dona dele sou

Ele foge constantemente para ti para a tua imagem

Para o meu sentimento

Procuro-te

Mas não te acho

Vejo-te

Mas não me vês

Grito

Sem saber porquê

Faço e aconteço

Mas no entanto

Não te esqueço

(Desconheço a autoria.

Encontrei, manuscrito, num antigo caderno de apontamentos.)

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Não posso adiar o amor

Não posso adiar o amor para outro século

Não posso

Ainda que o grito sufoque na garganta

Ainda que o ódio estale e crepite e arda

Sob montanhas cinzentas

E montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço

Que é uma arma de dois gumes

Amor e ódio

Não posso adiar

Ainda que a noite pese séculos sobre as costas

E a aurora indecisa demore

Não posso adiar para outro século a minha vida

Nem o meu amor

Nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa, Viagem através duma nebulosa

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Canção

Tinha um cravo no meu balcão;

veio um rapaz e pediu-mo

– mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;

veio um rapaz e pediu-mo

– mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,

só não dei o coração;

mas se o rapaz mo pedir

– mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas

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Ódio?

Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,

Se tanto bem lhe quis no meu passado,

Se o encontrei depois de o ter sonhado,

Se à vida assim roubei todo o encanto...

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto

Turva o meu triste olhar, marmorizado,

Olhar de monja, trágico, gelado

Como um soturno e enorme Campo Santo!

Ah! nunca mais amá-lo é já bastante!

Quero senti-lo d’outra, bem distante,

Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,

Mágoa de o ter perdido, amor ainda.

Ódio por ele? Não... não vale a pena...

Florbela Espanca, Livro de Soror Saudade

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Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!

Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,

Ceguinha de te ver, sem ver a conta

Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...

E outro clarão, ao longe, já desponta!

Um engano que morre... e logo aponta

A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver

São precisos amores, pra morrer,

E são precisos sonhos pra partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso

Fazer do amor que parte o claro riso

De outro amor impossível que há-de vir!

Florbela Espanca, Reliquiae

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Amor

Aqueles olhos aproximam-se e passam.

Perplexos, cheios de funda luz,

doces e acerados, dominam-me.

Quem os diria tão ousados?

Tão humildes e tão imperiosos,

tão obstinados!

Como estão próximos os nossos ombros!

Defrontam-se e furtam-se,

negam toda a sua coragem.

De vez em quando,

esta minha mão,

que é uma espada e não defende nada,

move-se na órbita daqueles olhos,

fere-lhes a rota curta,

Poderosa e plácida.

Amor, tão chão de Amor,

que sensível és...

Sensível e violento, apaixonado.

Tão carregado de desejos!

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Acalmas e redobras

e de ti renasces a toda a hora.

Cordeiro que se encabrita e enfurece

e logo recai na branda impotência.

Canseira eterna!

Ou desespero, ou medo.

Fuga doida à posse, à dádiva.

Tanto bater de asas frementes,

tanto grito e pena perdida...

E as tréguas, amor cobarde?

Cada vez mais longe,

mais longe e apetecidas.

Ó amor, amor,

que faremos nós de ti

e tu de nós?

Irene Lisboa

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Amor

Amor, amor, amor, como não amam

os que de amor o amor de amar não sabem,

como não amam se de amor não pensam

os que de amar o amor de amar não gozam.

Amor, amor, nenhum amor, nenhum

em vez do sempre amar que o gesto prende

o olhar ao corpo que perpassa amante

e não será de amor se outro não for

que novamente passe como amor que é novo.

Não se ama o que se tem nem se deseja

o que não temos nesse amor que amamos,

mas só amamos quando amamos o acto

em que de amor o amor de amar se cumpre.

Amor, amor, nem antes, nem depois,

amor que não possui, amor que não se dá,

amor que dura apenas sem palavras tudo

o que no sexo é sexo só por si amado.

Amor de amor de amar de amor tranquilamente

o oleoso repetir das carnes que se roçam

até ao instante em que paradas tremem

de ansioso terminar o amor que recomeça.

Amor, amor, amor, como não amam

os que de amar o amor de amar o amor não amam.

Jorge de Sena, Peregrinatio ad loca infecta

Page 21: Leonor Vaz - Travessa do amor

Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas,

Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,

Deixa cair as pálpebras pesadas,

E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,

Nossas línguas se busquem, desvairadas...

E que meus flancos nus vibrem no enleio

Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,

Nós trocaremos beijos e gemidos,

Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois...─ abre os teus olhos, minha amada!

Enterra-os bem nos meus, não digas nada...

Deixa a vida exprimir-se sem disfarce!

José Régio

Page 22: Leonor Vaz - Travessa do amor

Eu cantarei de amor tão docemente

Eu cantarei de amor tão docemente,

Por uns termos em si tão concertados,

Que dois mil acidentes namorados

Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,

Pintando mil segredos delicados,

Brandas iras, suspiros magoados,

Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto

De vossa vista branda e rigorosa,

Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto

A composição alta e milagrosa

Aqui falta saber, engenho e arte.

Luís de Camões

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Quando o amor morrer

Ao Manuel Torre do Valle

Quando o amor morrer dentro de ti,

Caminha para o alto onde haja espaço,

E com o silêncio outrora pressentido

Molda em duas colunas os teus braços.

Relembra a confusão dos pensamentos,

E neles ateia o fogo adormecido

Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido

Espalhou generoso aos quatro ventos.

Aos que passarem dá-lhes o abrigo

E o nocturno calor que se debruça

Sobre as faces brilhantes de soluços.

E se ninguém vier, ergue o sudário

Que mil saudosas lágrimas velaram;

Desfralda na tua alma o inventário

Do templo onde a vida ora de bruços,

A Deus e aos sonhos que gelaram.

Ruy Cinatti

Page 24: Leonor Vaz - Travessa do amor

Ninguém meu amor

Ninguém meu amor

ninguém como nós conhece o sol

Podem utilizá-lo nos espelhos

apagar com ele

os barcos de papel dos nossos lagos

podem obrigá-lo a parar

à entrada das casas mais baixas

podem ainda fazer

com que a noite gravite

hoje do mesmo lado

Mas ninguém meu amor

ninguém como nós conhece o sol

Até que o sol degole

o horizonte em que um a um

nos deitam

vendando-nos os olhos

Sebastião Alba

Page 25: Leonor Vaz - Travessa do amor

Às vezes, em sonho triste

Às vezes, em sonho triste

Nos meus desejos existe

Longinquamente um país

Onde ser feliz consiste

Apenas em ser feliz.

Vive-se como se nasce

Sem o querer nem saber.

Nessa ilusão de viver

O tempo morre e renasce

Sem que o sintamos correr.

O sentir e o desejar

São banidos dessa terra.

O amor não é amor

Nesse país por onde erra

Meu longínquo divagar.

Nem se sonha nem se vive:

É uma infância sem fim.

Parece que se revive

Tão suave é viver assim

Nesse impossível jardim.

Fernando Pessoa, Novas Poesias Inéditas

Page 26: Leonor Vaz - Travessa do amor

Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,

comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Haja ou não haja frutos,

pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.

Basta a esperança naquilo

que talvez não teremos.

Basta que a alma demos,

com a mesma alegria,

ao que desconhecemos

e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

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Imagem escolhida para o poema “ Procuro-te”

Page 28: Leonor Vaz - Travessa do amor

Para este dossiê usei os seguintes sítios:

http://arquivopessoa.net/textos/554

http://boticelli.no.sapo.pt/sebastiao_alba.htm

http://conhecer.no.sapo.pt/poesia1.htm

http://conhecer.no.sapo.pt/poesia19.htm

http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/03/04.html

http://issuu.com/eli364aa/docs/jorge_de_sena

http://luiz-vaz-de-camoes.blogspot.pt/

http://poediapoedia.blogspot.pt/2011/04/o-teu-amor-bem-sei-e-uma-palavra.html

http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/antero_quental/poetas_anteroquental_xv01.htm

http://portodeabrigo.do.sapo.pt/

http://www.teresa-souto.com/obras-publicadas/poemas-lingua-portuguesa.html

http://www.triplov.com/poesia/ramos_rosa/poemas/nebulosa.htm